UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO
E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
O TEMPO E O ESPAÇO DA PSICOMOTRICIDADE NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: Liselotte Sachsse
Orientador
Prof. Maria Poppe
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Rio de Janeiro
2004
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
O TEMPO E O ESPAÇO DA PSICOMOTRICIDADE NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia ao Conjunto
Universitário Cândido Mendes como condição
prévia para a conclusão do Curso de Pós-
Graduação “Lato Sensu” em
Psicomotricidade.
Por: Liselotte Sachsse.
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DEDICATÓRIA
Dedico o presente trabalho a todas as
crianças com as quais tanto aprendi e que
me fizeram procurar respostas...
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RESUMO
A presente monografia aborda a psicomotricidade no trabalho
pedagógico, enfocando desenvolvimento psicomotor da criança, e sua relação com as
classes de educação infantil. Através de uma pesquisa bibliográfica, pode-se perceber
que o desenvolvimento psicomotor da criança e aprendizagem estão intimamente
ligadas. Atualmente encontramos nas escolas de educação infantil e nas primeiras
séries do ensino fundamental muitos alunos com bloqueios no âmbito motor,
cognitivo e social sendo que muitas vezes, esses decorrem diretamente de
dificuldades psicomotoras. Diante desse quadro, o trabalho busca uma reflexão sobre
a atividade psicomotora dentro da Educação Infantil.
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METODOLOGIA
Para a realização da presente monografia foi realizada uma pesquisa
bibliográfica, utilizando-se como fonte de consulta o referencial teórico de autores
como Fátima Alves, Pilar Arnaiz Sánchez, Marta Rabadán Martinez, Iolanda Vives
Peñalver e Jean Le Boulch, entre outros.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 08 CAPÍTULO I A PSICOMOTRICIDADE .......................................................................................... 12 CAPÍTULO II
O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA................................................................ 19
CAPÍTULO III A PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA.................................................................. 30 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 41 ÍNDICE ...................................................................................................................... 44 FOLHA DE AVALIAÇÃO ....................................................................................... 45
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INTRODUÇÃO
Todas as nossas emoções são expressas através dos movimentos corporais. O
corpo reflete tudo o que se passa conosco. Pode-se afirmar que a nossa ação é a
resposta mais fiel do que está se passando em nosso interior, físico e mental, e que o
corpo é comunicação pura, através do gesto e da ação. Quaisquer que sejam as
manifestações corporais, não há como se negar que se tratam de respostas cerebrais.
Ao movimentar-se as crianças expressam sentimentos, emoções, pensamentos...
Através do movimento a criança tem a possibilidade de ampliar tais
sentimentos, emoções e pensamentos fazendo um uso significativo de gestos e
postura corporais. O movimento não é apenas um deslocamento do corpo no espaço,
ao contrário é uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e
atuarem sobre o ambiente social, mobilizando as pessoas por meio de seu teor
expressivo. Piaget ( 1968 ), analisa a importância dos períodos de desenvolvimento
da criança, relacionando-os com a motricidade para o desenvolvimento da
inteligência.
Na medida em que nos desenvolvemos, nosso corpo manifesta diferentes
formas de movimentos: dos mais simples e involuntários aos mais complexos e
elaborados.
Os profissionais da área de educação que trabalham diretamente com as
crianças notam em suas diferenças aquelas que são tímidas, estabanadas, hipotônicas
ou desatentas, emocionalmente imaturas, tem defasagens na linguagem ou
articulação incorreta, “desastradas”, sentem dificuldade em determinadas tarefas
escolares como participar de jogos e etc. Isto geralmente ocorre quando a criança não
realiza os movimentos adequados, muitas derrubam os objetos por onde passam,
outras são lentas para realizar determinadas atividades. Imediatamente os docentes
afirmam que tal criança tem problemas psicomotores. Entretanto, é necessário que ao
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chegar a conclusão os profissionais tenham em mente as definições de
Psicomotricidade, compreendendo sua importância e aplicando na prática pedagógica
cotidiana uma Educação Psicomotora eficaz.
Durante o processo ensino – aprendizagem o professor deve observar os
alunos que apresentam dificuldades para segurar um lápis corretamente, que possuem
uma letra ilegível, que não manuseiam a tesoura com desenvoltura, que confundem
direita e esquerda, etc. Nesses casos a Psicomotricidade dá sua contribuição.
É importante ressaltar que existem alguns pré – requisitos, do ponto de vista
psicomotor, para que uma criança aprenda a ler e a escrever. Uma criança com
esquema – corporal mal trabalhado não coordena bem seus movimentos podendo ter
dificuldades na caligrafia; enquanto que a criança com problemas de estruturação
espacial pode apresentar dificuldades na discriminação visual, incapacidade de
orientar-se, sendo comum, por exemplo a confusão da letra "b" com a letra "p" ou o
número "6" com o número "9". Podendo ainda não ser capaz de organizar seu tempo,
pois não prevê suas atividades, demorando muito a realizar uma tarefa e não
conseguindo terminar outras.
Conforme os comentários acima, fatores ligados a motricidade podem se
tornar problemas de aprendizagem. Tendo em vista que as habilidades motoras
começam antes mesmo do indivíduo ser inserido no ambiente escolar, a fim de
trabalhar o indivíduo na sua globalidade é necessário uma observação contínua do
desenvolvimento da criança, pois muitas vezes se privilegia o aspecto cognitivo,
esquecendo o aspecto motor e a afetividade.
Aprender, portanto subentende a tomada de consciência do corpo na sua
totalidade. Cabe a nós, profissionais da área de educação, respeitar as limitações de
certas crianças e utilizar jogos e brincadeiras como estratégias para melhorar a
aprendizagem. Através dos jogos e brincadeiras e nas relações vividas é que a
criança adquire, assimila e constrói seu conhecimento.
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Na literatura usada na pesquisa os muitos especialistas e estudiosos do
comportamento infantil afirmam que na fase Pré – Escolar deve-se procurar ensinar
através da brincadeira, do movimento e da afetividade. Todavia, não basta ao
profissional de Educação Infantil saber elaborar ou mesmo aplicar atividades lúdicas
dirigidas ou não – é necessário que este profissional tenha total clareza acerca da
importância do lúdico e de suas implicações no processo de desenvolvimento
infantil.
“Brincando a criança pode tornar-se algo que não é, ou melhor,
que ainda não é (através da brincadeira a criança pode ser o que
quiser), agir com objetos substitutivos, interagir segundo padrões
não determinados pela realidade do espaço social em que vive e
ultrapassar os limites que lhe são apresentados”.
(PRADO,1999,p02).
É a partir da brincadeira, que a criança experimenta e vivencia situações da
vida real – o faz-de-conta é vital para o ser humano e é na fase pré - escolar que ele
mais se desenvolve. Daí a importância de se incentivar a imaginação sem impor
regras à fantasia. Através do movimento a criança conhece seu próprio corpo e se
expressa, lembrando que todo desenvolvimento do ser humano depende diretamente
da afetividade. Logo, é notório que na instituição de educação infantil, o ambiente
precisa ser propício para desenvolver o “faz – de- conta”, amplo para a evolução
ideal dos movimentos e saudável afetivamente a fim de incentivar a auto - estima das
crianças, fortalecendo assim sua autonomia.
Através do simples ato de brincar a criança cria e este criar permite uma
Pedagogia do Afeto na escola. Permite um ato de amor, de afetividade cujo território
é o dos sentimentos, das paixões, das emoções, por onde transitam medos,
sofrimentos, interesses e alegrias. Uma relação educativa pressupõem o
conhecimento de sentimentos próprios e alheios que requerem do educador infantil a
disponibilidades corporal e o envolvimento afetivo, como também, cognitivo de todo
o processo de criatividade que envolve o sujeito – ser - criança. Por esse motivo a
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presença de um adulto compreensivo e interessado é crucial nesta fase. A criança
constrói sua identidade através do olhar do outro, no caso, do professor, no momento
em que este se dispõe a se comunicar emocional, gestual e verbalmente com a
criança, sendo que assim sua movimentação, no início impulsiva e reflexa, alcança
aos poucos a autonomia
Como podemos auxiliar a criança em seu desenvolvimento? Como facilitar a
sua descoberta pela própria identidade ? Coma auxiliá-la a se tornar segura,
autônoma, criativa e curiosa por novos limites e forte o suficiente para transpor
dificuldades e frustrações? Enfim, de que maneira podem ser otimizadas as vivências
psicomotoras na Pré – Escola?
Nota-se que a psicomotricidade está ganhando cada vez mais espaço e
importância na Educação Infantil. Originalmente tinha seu campo de atuação na
terapia e reabilitação. Pelos êxitos alcançados nesta área surgiu o interesse de sua
aplicação na área da prevenção e foi vista a necessidade de seu uso no âmbito
escolar.
Em geral, vê-se que os docentes estão cientes da importância da atividade
psicomotora no desenvolvimento da criança, mas nem sempre há consenso sobre o
que ela efetivamente representa, como é seu olhar e seu agir sobre a criança. Ainda
há uma insegurança para autorizar uma liberdade de ação e um investimento
temporal. E, por vezes, ainda falta espaço e material adequado nas instituições
educacionais. Dessa forma, o presente estudo pretende ser mais um material de
apoio, uma fonte de referência aos educadores, objetivando: incentivar o uso efetivo
da psicomotricidade em classes de Educação Infantil; identificar a contribuição da
estimulação psicomotora nas classes Pré – Escolares; refletir sobre o educador /
psicomotricista e sobre o tempo e o espaço cedidos para a contribuição de um amplo
desenvolvimento e amadurecimento infantil.
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CAPÍTULO I
A PSICOMOTRICIDADE
1.1 Definição
Há uma vasta literatura sobre o tema em questão e diversas são as definições
encontradas de Psicomotricidade:
“Ciência que visa destacar a relação existente entre a motricidade,
a mente e afetividade, de maneira a facilitar uma abordagem global
da criança por meio de uma técnica.”
(De Meur; L. Staes,1989)
“Concepção psicopedagógica do movimento humano.”
(Vítor da Fonseca,1993)
“A psicomotricidade é a técnica ou grupo de técnicas que tendem a
interferir no ato intencional significativo, para estimular ou
modifica-lo, usando como mediadores a atividade corporal e sua
expressão simbólica. O objetivo, por conseguinte, é aumentar a
capacidade de interação do sujeito com o ambiente.”
(Gª Núñez y Fernández Vidal,1994)
“A psicomotricidade é um foco da intervenção educacional ou
terapia cujo objetivo é o desenvolvimento da capacidade motriz,
expressivas e criativas a partir do corpo, o que o leva centrar sua
atividade e se interessar pelo movimento e o ato, que é derivado da:
disfunções, patologias, excitação (estímulos) e aprendizagem.”
(Berruezo,1995)
“A psicomotricidade é uma disciplina
educativa/reeducativa/terapêutica. Concebeu como diálogo que
considera o ser humano como uma unidade psicossomática e que
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atua sobre sua totalidade por meio do corpo e do movimento no
ambiente, por meio de métodos ativos de mediação principalmente
corporal, com o propósito de contribuir a seu desenvolvimento
integrante”
(Muniáin,1997)
“A psicomotricidade é a posição global do sujeito. Pode ser
entendido como a função de ser humano que sintetiza psiquismo e
motricidade com o propósito de permitir ao indivíduo adaptar de
maneira flexível e harmoniosa ao meio que o cerca. Pode ser
entendido como um olhar globalizado que percebe a relação entre
a motricidade e o psiquismo como entre o indivíduo global e o
mundo externo. Pode ser entendido como uma técnica cuja
organização de atividades possibilite à pessoa conhecer de uma
maneira concreta seu ser e seu ambiente de imediato para atuar de
maneira adaptada.”
(De Lièvre y Staes,1992)
A partir das definições fica evidente que o termo psicomotricidade é
empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função
das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade,
sua linguagem e sua socialização. Psicomotricidade é a capacidade de movimentar-se
com intencionalidade, de tal forma que o movimento pressupõe o exercício de
múltiplas funções psicológicas, memória, atenção, raciocínio, discriminação, etc. O
estudo da psicomotricidade centraliza-se nos processos de controle do jogo de
tensões e desconcentrações musculares que, em última análise viabiliza o
movimento. Esse controle é estudado na sua relação como processos cognitivos e
afetivos. A compreensão dos processos de controle da motricidade é muito
importante para toda a prática pedagógica, voltada para a promoção do
desenvolvimento humano. Durante a infância ,a maior atenção deve ser dada a
aquisição das capacidades e do movimento.
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O desenvolvimento das chamadas capacidades ou qualidades físicas, nessa
faixa etária, não deve ser tomado como parâmetro para o planejamento de atividades
motoras por duas razões fundamentais:
a) O organismo infantil não responde da mesma forma que o adulto aos estímulos
promovidos por métodos de treinamento criados para o desenvolvimento de tais
capacidades - métodos estes baseados na manipulação de variáveis quantitativas.
b) A aquisição da capacidade de controle dos movimentos intencionais exige uma
grande diversidade de vivências motoras, com atenção a aspectos qualitativos, tais
como o ritmo, a coordenação, a descontração.
Assim sendo, a definição de alguns aspectos fundamentais do processo de
controle da motricidade pode orientar propostas de atividades adequadas ao
desenvolvimento da criança. Sendo assim, o desenvolvimento das capacidades
psicomotoras é de grande importância para a integração da personalidade, visto que
as dificuldades com o próprio corpo e com os movimentos afetam a segurança, a auto
- estima e influenciam todas as relações do indivíduo com seus semelhantes e com o
ambiente.
1.2 História
Dupré, em 1909, utilizou pela primeira vez tal termo quando introduziu os
estudos sobre a debilidade motora O termo Psicomotricidade, então, aparece a partir
do discurso médico, mais precisamente neurológico. Isto contribuiu para uma
abordagem da Psicomotricidade voltada para uma visão organicista que tem como
prioridade o estudo do movimento em si ( nesta abordagem, as atividades corporais
não mantinham nenhum vínculo com as atividades psicológicas ou intelectuais).
Somente no séc. XX a Psicomotricidade se estabeleceu como prática
independente. Perguntas relativas a contribuição das emoções e dos inúmeros tipos
de sensações no desenvolvimento corporal suscitaram interrogações sobre a forma
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de se pensar a Psicomotricidade. A dicotomização cartesiana de corpo e alma tornou-
se então alvo de especulações e questionamento: Qual a relação entre corpo e alma?
Porque diferencia-los?
Vários estudiosos contribuíram para a visão atual da Psicomotricidade. Sua
importância na construção histórica dos conceitos psicomotores são indiscutíveis. Os
trabalhos de Wallon, Gesell, Piaget e Ajuriaguerra são referências para todas as
pessoas que trabalham e/ou se interessam com educação psicomotora.
Wallon ressaltou a relação, o afeto e a emoção no desenvolvimento
psicomotor. Piaget destacou a relação evolutiva da Psicomotricidade com a formação
do pensamento cognitivo. Já as obras de Ajuriaguerra vem contemplar a questão
corporal em sua relação com o meio ambiente, mais especificamente no que diz
respeito à conscientização da criança em relação ao seu próprio corpo.
A Psicomotricidade atual encontra-se permeada por uma
interdisciplinaridade, onde linhas de análise diferenciadas se entrecruzam nas
práticas existentes. Práticas fundamentadas nas concepções psicomotoras existentes
tendem a considerar que os determinantes biológicos e culturais da criança
contribuem dialeticamente na construção do motor (corpo), da mente (emoção) e da
inteligência.
Os primeiros trabalhos realizados em Psicomotricidade tinham uma proposta
reeducativa. Elas tinham um caráter terapêutico, já que se preocupavam em reabilitar
funções psicomotoras que encontravam-se prejudicadas. Esta ação tinha como alvo
sujeitos que apresentavam déficits motores e cognitivos.
A educação psicomotora, preconizada por Jean Piaget aparece com a intenção
de estimular as crianças de forma adequada, em cada fase do seu desenvolvimento.
As práticas em Psicomotricidade se estabelecem não somente como uma reeducação
psicomotora mas também como uma educação psicomotora.
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Hoje a educação psicomotora é encontrada na pré - escola sendo utilizada
como atividade preventiva e de base. Ela está intrinsecamente ligada a capacidade de
aprender os conteúdos do período pré – escolar. Com ela a criança toma consciência
do seu corpo, da lateralidade, da sua situação e da situação de outros objetos no
espaço, do domínio temporal além de adquirir habilidades de coordenação de seus
gestos e movimentos.
1.3 As Vivências Corporais
A palavra corpo teve sua origem:
– Do sânscrito garbhas que significa embrião;
– Do grego kapós que significa fruto, semente, envoltura e, por último
– Do latim corpus que significa tecido de membros, envoltura da alma,
embrião do espírito.
O uso hábil do corpo foi importante na história da espécie durante milhares de
anos, atingindo o seu apogeu na cultura grega e no ocidente durante a era clássica.
Platão, importante filósofo grego professa uma concepção muito clássica do corpo,
em harmonia com a cultura tradicional da Grécia antiga. “O corpo é o meio para se
conhecer a realidade”.
A beleza da forma humana era enaltecida através da arte e do atletismo.
Havia a preocupação, nestas atividades, em desenvolver um corpo perfeito,
proporcional e gracioso em todos os seus movimentos, no seu equilíbrio e na sua
tonicidade.
No séc. XVII a dicotomização existente entre corpo e alma, foi estabelecida
por René Descartes. Na concepção cartesiana, presente ainda nos dias atuais, o corpo
seria algo externo não pensante. É o depositário da alma. A alma seria a substância
pensante por excelência. Para Descartes a alma não executa nenhum tipo de
participação naquilo que pertence ao corpo e vice-versa.
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As atividades de raciocínio e as atividades físicas são tradicionalmente
percebidas, em nossa cultura, de formas distintas e estanques. A valorização
demasiada das atividades mentais em detrimento das atividades físicas também é um
fenômeno ainda presente na civilização ocidental. Estudos psicológicos do
desenvolvimento humano demonstraram a importância do uso do corpo no
desenvolvimento cognitivo na criança. A partir de então a relação entre corpo e
mente vem sendo alvo de inúmeros estudos e indagações
Através do corpo a criança introduz sua comunicação com o meio, sendo sua
primeira forma de linguagem. É a linguagem da ação. Aos poucos a criança vai se
apropriando de seu corpo e aprendendo a usá-lo no seu dia-a-dia. Isso ocorre através
de conquistas sucessivas em relação ao seu espaço, seus movimentos, suas posturas,
seus gestos e seus tempos. No decorrer destes acontecimentos este corpo vai se
caracterizando e tornando-se uma espécie de identidade. O corpo torna-se meio para
a ação, para o conhecimento e para as relações. As experiências corporais interferem
na vida mental, afetiva e motora dos indivíduos. O corpo deve ser visto em sua
totalidade, pois nele se inscrevem todas as tensões e emoções que caracterizam a
evolução psicoafetiva de um sujeito.
O psicomotricista deve ser capaz de compreender o indivíduo a partir do seu
corpo, seus gestos, suas posturas e também do seu tônus muscular. É a atividade
tônica que permite as atitudes e as posturas. É através dela que a criança consegue
erguer-se e manter-se de pé. Ela serve de embasamento para a atividade motora.
A psicomotricidade é uma técnica em que se cruzam e se encontram
múltiplos pontos de vistas, a qual utiliza as aquisições de numerosas ciências
constituídas ( biologia, psicologia, psicanálise, sociologia e lingüística ). Entretanto,
além disso, é uma terapia. A “terapia psicomotriz” - segundo Dr. Jolivet - dispõe-se
a desenvolver as faculdades expressivas do indivíduo. Implica uma concepção
radicalmente nova do corpo e obriga a pensar as estruturas “psicossomáticas” em
novos termos: o lugar no imaginário, no conjunto de símbolos corporais, linguagem
do corpo. Não se trata de justapor a alma e o corpo, nem mesmo de sutilezas
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semânticas, mas de deslocar a problemática cartesiana e reformular as relações entre
a alma e o corpo, que toda a filosofia clássica coloca em mútua oposição, mesmo
quando afirma, por vezes, sua unidade.
Na prática, a psicomotricidade empenha-se em superar a oposição que o
homem é o seu corpo - mostra-nos ela - e não o homem e seu corpo. O homem é,
antes de tudo, um ser falante e, ao denominar-se ele fala de seu corpo: eis o que o
caracteriza. Em contrapartida, seu corpo fala por ele, até à sua revelia por vezes.
A reeducação psicomotora tem por objetivo desenvolver esse aspecto
comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de dominar
seu corpo, de economizar sua energia, de pensar seus gestos a fim de aumentar-lhes a
eficácia e a estética, de completar e aperfeiçoar seu equilíbrio. Isso pressupõe um ser
que se sente bem “dentro de sua pele”, um corpo cuja vivência não está sujeita ao
constrangimento, ao embaraço ou à vergonha.
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CAPÍTULO II
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Através do movimento a criança explora o mundo exterior e ao explorá-lo
vivencia concretamente experiências fundamentais para a construção de noções
básicas para o desenvolvimento intelectual, daí a importância da criança vivenciar o
concreto. É a exploração que desenvolve na criança a consciência de sua identidade e
do mundo que a cerca.
Anita Harrow afirma:
“O movimento é a chave da vida e existe em todas as formas com
que esta se apresenta. Quando o homem desempenha movimentos
intencionais ele está coordenando os domínios cognitivo,
psicomotor e afetivo”.(1983, p.18)
Já que o movimento está diretamente ligado a criança e é através dele que
ocorre sua comunicação com o mundo, organizando-se enquanto sujeito pensante e
atuante, participativo da Sociedade, torna-se importante conhecer e refletir acerca das
principais teorias de Desenvolvimento Infantil afim de praticarmos, em sala de aula
atividades que integrem de maneira adequada e eficaz os domínios: cognitivos,
psicomotor e afetivo.
Alves lembra que o desenvolvimento da criança, faz-se por impulsos locais,
de maneira não unitária, mas segmentar e diversificada. Portanto, é necessário levar
em conta as relações mantidas entre os diversos elementos do desenvolvimento; uma
aquisição rápida pode ser compensada por um atraso, progressos muito nítidos (no
andar) podem ser acompanhados de uma lenta evolução. Enfim, a evolução da
criança não se realiza de um modo regular e progressivo, mas um pouco como a
evolução histórica de toda a humanidade, por “saltos qualitativos” que se seguem a
períodos de lenta maturação. Logo, estudar sobre o desenvolvimento psicomotor da
criança é indispensável para se entender a Psicomotricidade.
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É importante ressaltar aos educadores de Educação Infantil que não é
indicado apressar etapas na evolução da criança. Deve-se aceitar o ritmo inerente a
cada criança, saber onde ela se encontra em seu desenvolvimento e acompanhá-la
lançando desafios.
Diversos autores buscaram esclarecer as etapas do desenvolvimento infantil.
Entre eles destaca-se Piaget, que defende o crescimento mental visto como uma
série de estágios, uma sucessão de novas estruturas ou organizações mentais.
2.1 Períodos de Desenvolvimento Infantil Segundo Piaget
Jean Piaget, psicológico suíço, estudou o desenvolvimento da inteligência, do
nascimento à maturidade do ser humano, analisando o evolução do raciocínio. Sua
teoria é formalmente chamada de epistemologia genética.
Piaget através de suas pesquisas concluiu que o conhecimento se forma e
evolui através de um processo de construção.
Segundo a teoria piagetiana é possível verificar que a criança aprende por si,
construindo e reconstruindo suas próprias hipóteses sobre a realidade que a cerca, e
que o erro em vez de denunciar uma não aptidão, é uma etapa necessária do processo
de construção do conhecimento. Assim, Piaget criou a Teoria dos Estágios a partir da
observação contínua dos erros das crianças. Tal teoria mostra os estágios do
desenvolvimento da inteligência.
Para Piaget os estágios e períodos do desenvolvimento caracterizam as
diferentes maneiras do indivíduo interagir com a realidade, ou seja, de organizar seus
conhecimentos visando sua adaptação, constituindo-se na modificação progressiva
dos esquemas de assimilação. Os estágios evoluem como uma espiral, de modo que
cada estágio engloba o anterior e o amplia. Piaget não define idades rígidas para os
estágios, mas sim que estes se apresentam em uma seqüência constante.
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Os estágios que atingem a faixa – etária das crianças em fase de Educação
Infantil são: Estágio sensório-motor e Estágio pré-operacional.
a) - Estágio Sensório – Motor
Atinge crianças de mais ou menos de 0 a 2 anos: a atividade intelectual da
criança é de natureza sensorial e motora. A principal característica desse período é a
ausência da função semiótica, isto é, a criança não representa mentalmente os
objetos. Sua ação é direta sobre eles. Essas atividades serão o fundamento da
atividade intelectual futura. A estimulação ambiental interferirá na passagem de um
estágio para o outro.
b) - Estágio Pré – Operacional
Atinge crianças de mais ou menos de 2 a 6 anos: a criança desenvolve a
capacidade simbólica; já não depende unicamente de suas sensações, de seus
movimentos, mas já distingue um significador (imagem, palavra ou símbolo) daquilo
que ele significa (o objeto ausente), o significado. Para a educação é importante
ressaltar o caráter lúdico do pensamento simbólico.
O jogo simbólico é a representação corporal do imaginário, e apesar de nele
predominar a fantasia, a atividade psicomotora exercida acaba por prender a criança
à realidade. Na sua imaginação ela pode modificar sua vontade, usando o "faz de
conta", mas quando expressa corporalmente as atividades, ela precisa respeitar a
realidade concreta e as relações do mundo real. Por essa via, quando a criança estiver
mais velha, é possível estimular a diminuição da atividade centrada em si própria,
para que ela vá adquirindo uma socialização crescente.
Na educação infantil, o raciocínio lógico ainda não é suficiente para que ela
dê explicações coerentes a respeito de certas coisas. O poder de fantasiar ainda
prepondera sobre o poder de explicar. Então, pelo jogo simbólico, a criança exercita
não só sua capacidade de pensar, ou seja, representar simbolicamente suas ações,
mas também, suas habilidades motoras, já que salta, corre, gira, transporta, rola,
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empurra, etc. Assim é que se transforma em pai/mãe para seus bonecos ou diz que
uma cadeira é um trem. Didaticamente devemos explorar com muita ênfase as
imitações sem modelo, as dramatizações, os desenhos e pinturas, o faz de conta, a
linguagem, e muito mais, permitir que realizem os jogos simbólicos, sozinhas e com
outras crianças, tão importantes para seu desenvolvimento cognitivo e para o
equilíbrio emocional.
Piaget descreve quatro estruturas básicas de jogos infantis, que vão se
sucedendo e se sobrepondo nesta ordem:
• Jogo de exercício;
• Jogo simbólico/dramático;
• Jogo de construção;
• Jogo de regras.
O valor do conteúdo de um jogo deve ser considerado em relação ao estágio
de desenvolvimento em que se encontra a criança, isto é, como a criança adquire
conhecimento e raciocina.
Este período caracteriza-se: pelo egocentrismo: isto é, a criança ainda não se
mostra capaz de colocar-se na perspectiva do outro, o pensamento pré-operacional é
estático e rígido, a criança capta estados momentâneos, sem juntá-los em um todo;
pelo desequilíbrio: há uma predominância de acomodações e não das assimilações;
pela irreversibilidade: a criança parece incapaz de compreender a existência de
fenômenos reversíveis, isto é, que se fizermos certas transformações, somos capazes
de restaurá-las, fazendo voltar ao estágio original, como por exemplo, a água que se
transforma em gelo e aquecendo-se volta à forma original.
Piaget (1976) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades
intelectuais da criança. Estas não são apenas uma forma de desafogo ou
entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e
enriquecem o desenvolvimento intelectual. Ele afirma:
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“O jogo é portanto, sob as suas duas formas essenciais de
exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da
real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento
necessário e transformando o real em função das necessidades
múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das
crianças exigem todos que se forneça às crianças um material
conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as
realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à
inteligência infantil.”.
(Piaget 1976, p.160)
Outro grande pesquisador que, como Piaget, desenvolveu trabalhos na área de
Psicologia Genética e se interessou pelo jogo infantil, foi Henri Wallon. Analisando
o estudo dos estágios propostos por Piaget, Wallon fez inúmeros comentários onde
evidenciava o caráter emocional em que os jogos se desenvolvem, e seus aspectos
relativos à socialização.
2.2 A Contribuição de Wallon
Henri Wallon, filósofo francês, na busca da compreensão do psiquismo
humano, tornou-se médico. Ao longo de sua carreira foi cada vez mais explícita a
aproximação com a educação. O sentido biopsicológico norteou toda sua obra. A
teoria walloniana partiu de experiências concretas vividas na guerra, onde estudou,
como médico, as perturbações nervosas e psíquicas ocasionadas por feridas do
cérebro e alterações emocionais. Acrescentando, também observações feitas em
crianças com anomalias psicomotoras e retardos.
Seus estudos englobam o movimento, a emoção, a personalidade e a
inteligência.
Henri Wallon, demostrou interesse pela infância como problema concreto
enfatizando a importância da escola que para ele, era obra fundamental da sociedade
contemporânea. Contribuiu muito ao romper com a compreensão fragmentada do ser
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humano, enfatizou ser o homem um corpo concreto, que interage num espaço físico e
cultural num tempo histórico.
Para Wallon a psicologia genética que parte da análise dos processos
primeiros e mais simples, pelos quais cronologicamente passa o sujeito, é a única
forma de não dissolver em elementos separados e abstratos a totalidade da vida
psíquica. Wallon propõe a psicogênese da pessoa completa, ou seja, o estudo
integrado do desenvolvimento. Considera que não é possível selecionar um único
aspecto do ser humano e vê o desenvolvimento nos vários campos funcionais nos
quais se distribui a atividade infantil (afetivo, motor e cognitivo).
Para ele o estudo do desenvolvimento humano deve considerar o sujeito
como “geneticamente social” e estudar a criança contextualizada, nas relações com o
meio. Wallon recorreu a outros campos de conhecimento para aprofundar a
explicação do fatores de desenvolvimento (neurologia, psicopatologia, antropologia,
psicologia animal). Para ele a atividade do homem é inconcebível sem o meio social;
porém as sociedades não poderiam existir sem indivíduos que possuam aptidões
como a da linguagem que pressupõe uma conformação determinada do cérebro,
haja vista que certas perturbações de sua integridade, privam o indivíduo da palavra.
Vemos então que para ele não é possível dissociar o biológico do social no homem.
Esta é uma das características básicas da sua Teoria do Desenvolvimento.
Henri Wallon reconstruiu o seu modelo de análise ao pensar no
desenvolvimento humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da
criança. Assim, o desenvolvimento da criança aparece descontínuo, marcado por
rupturas, retrocessos e reviravoltas, por contradições e conflitos, resultado da
maturação e das condições ambientais, provocando alterações qualitativas no seu
comportamento em geral. Nesse sentido, a passagem dos estágios de
desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por reformulação,
instalando-se no momento da passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a
conduta da criança.
25
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por
Galvão (1995) sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva:
Impulsivo - emocional - que ocorre no primeiro ano de vida. A
predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, às
quais intermediam sua relação com o mundo físico;
Sensório - motor e projetivo - que vai até os três anos. A aquisição da
marcha e da prensão, dão à criança maior autonomia na manipulação de objetos e na
exploração dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da função
simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-se ao fato da ação do pensamento
precisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental "projeta-se" em atos motores.
Como diz Dantas (1992), para Wallon, o ato mental se desenvolve a partir do ato
motor;
Personalismo - Ocorre dos três aos seis anos. Nesse estágio desenvolve-se a
construção da consciência de si mediante as interações sociais, reorientando o
interesse das crianças pelas pessoas;
Categorial - Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as
coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior;
Predominância funcional - Ocorre nova definição dos contornos da
personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação
hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.
Na sucessão de estágios há uma alternância entre as formas de atividades e de
interesses da criança, denominada de "alternância funcional", onde cada fase
predominante (de dominância, afetividade, cognição), incorpora as conquistas
realizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente, num permanente processo
de integração e diferenciação.
26
Wallon, deixou-nos uma nova concepção da motricidade, da emotividade, da
inteligência humana e, sobretudo, uma maneira original de pensar a Psicologia
Infantil e reformular os seus problemas. Através da Psicogênese da Pessoa Completa
Wallon procura explicar os fundamentos da psicologia como ciência, seus aspectos
epistemológicos, objetivos e metodológicos.
Admite o organismo como condição primeira do pensamento, pois toda a
função psíquica supõe um componente orgânico. No entanto, considera que não é
condição suficiente, pois o objeto de ação mental vem do ambiente no qual o sujeito
está inserido, ou seja, de fora. Considera que o homem é determinado fisiológica e
socialmente, sujeito às disposições internas e às situações exteriores.
2.3 O Papel dos Estímulos no Desenvolvimento da Criança
A evolução tônica do corpo da criança está indissociavelmente ligada aos
estímulos oferecidos pelo meio ambiente (incluindo-se neste momento a mãe, família
ou pessoas que exercem esta função). O equilíbrio entre a evolução corporal do
sujeito e os estímulos ambientais são a base do seu aprendizado.
Os estímulos podem ser :
– Proprioceptivos - sensações cinestésicas que nascem do corpo
– Exteroceptivos- são estímulos exteriores ao organismo que agem
sobre ele através de experiências sensitivas e sensoriais
– Interoceptivos- estímulos vindo das vísceras
A criança tende a responder tanto às perturbações interiores quanto as
exteriores. Há uma desequilibração e uma busca de novos meios para atingir
novamente o equilíbrio (reequilibração). É uma relação dialética onde estímulo, meio
e resposta vão se desenvolvendo gradativamente.
27
Nestes princípios estão estabelecidas as bases da educação psicomotora.
Entende-se que a educação psicomotora deve englobar diversas atividades oferecidas
as crianças de forma seqüencial observando a etapa de desenvolvimento em que elas
se encontram.
O primeiro aspecto a ser evidenciado na Educação Psicomotora é a formação
do EU: pois é através do nosso corpo que experimentamos, percebemos, sentimos,
conhecemos, nos comunicamos e nos relacionamos com o mundo exterior. Enfim
nosso corpo é o fato real de que estamos no mundo, nós somos através do nosso
corpo.
Tal experiência abrange os aspectos de Imagem, Conceito e Esquema
Corporal; Dominância Lateral ou Lateralidade objetivando atingir o despertar a si
próprio. Para tanto é necessário:
♦ Acesso à noção de espaço (estruturação espacial) : Espaço vivido (jogos) &
Espaço pensado (reflexão)
♦ Acesso à noção de tempo (orientação temporal): Tempo vivido (jogos) &
Tempos “pensados” (reflexão)
Toda e qualquer experiência de movimento acrescenta algo ao esquema
corporal. O trabalho psicopedagógico intencional para o desenvolvimento do
esquema corporal deve privilegiar a integração de sensações Tátil - Cinestésica,
Auditiva e Visual em relação ao corpo.
Nisto incluem-se as experiências relativas ao próprio corpo e a observação e
compreensão dos corpos e movimentos de outras pessoas. A organização das
sensações relativas ao próprio corpo em relação aos dados do mundo exterior implica
em duas orientações da atividade motora:
1) Atividade Tônica - voltada para o próprio corpo, desenvolvendo a auto
percepção.
28
2) Atividade Cinética - dirigida para o mundo externo, desenvolvendo a percepção
de si no meio.
Segundo Le Boulch: o esquema corporal é a organização das sensações
relativas ao seu próprio corpo em relação aos dados do mundo exterior.
A elaboração do esquema corporal, através do qual a criança adquire a
imagem, o uso e o controle do seu corpo, faz-se progressivamente, com o
desenvolvimento e o amadurecimento do sistema nervoso e é paralela à evolução
sensório motora. Do esquema corporal dependem o equilíbrio e a coordenação
motora, pois sem eles não poderíamos andar, sentar ou fazer qualquer movimento
sem cair.
Os aspectos do Esquema Corporal divide- se em 3 partes:
1) Diálogo Tônico - o tônus muscular e a mobilidade articular são aspectos
complementares e indissociáveis do Esquema Corporal e devem ser
trabalhadas sob forma de situações de contração e descontração do corpo
como um todo e de seus segmentos com os objetivos de adequar a tonicidade
do movimento e à imobilidade.
2) Jogo Corporal - é a maneira natural que a criança utiliza para aprimorar a
descoberta de seu eixo corporal, e para trabalhar a indiferenciação
segmentária e conseguir chegar ao controle de si mesmo.
3) Equilíbrio Corporal - é a capacidade de manter a estabilidade de corpo,
mesmo quando o centro de gravidade é desviado, com o objetivo de adaptar-
se às necessidades da bipedia em situações de deslocamento ou não, e em
posições ereta e sentada.
O esquema corporal está sempre em desenvolvimento, visto que inclui todas
as experiências vividas pelo sujeito que afetam seu corpo. Ele é a comunicação
consigo mesmo e com o meio. É fundamental reafirmar que os exercícios de
29
conscientização corporal devem estar presente em todo o processo de educação
psicomotora.
A criança de 0 a 2 anos delimita o seu corpo em relação ao mundo dos
objetos através da ação. Nesta fase é importante propiciar à criança situações que
levem a uma estimulação da coordenação motora global. Até os 5 anos os elementos
motores são dominantes. Ajuariaguerra destaca a prevalência dos elementos visuais
e topográficos através da aquisição da dominância lateral. O domínio do próprio
corpo se conquista a partir da tomada de consciência dos diferentes segmentos
corporais.
É importante a estimulação psicomotora do bebê desde o nascimento. A
ausência de estímulos pode paralisar a maturação e interferir na organização do
sistema nervoso, de maneira a ocorrer perda definitiva de funções inatas.
A faixa – etária dos 2 aos 5 anos é a época marcada pela aprendizagem
global e do uso de si mesmo. A preensão vai se especializando cada vez mais,
tornando-se associada a gestos e a locomoção encontra-se mais coordenada. A
motilidade e a cinestesia permitem uma utilização mais diferenciada e precisa do
próprio corpo. O psicomotricista deve buscar um enriquecimento dos movimentos e
percepções das crianças.
Nesta fase é importante estar estimulando:
- Equilíbrio
- Percepção do corpo e do espaço
- Coordenação olho - pé
- Coordenação olho - mão
- Exercícios de Pular e Sequenciar
- Movimentos Locomotores diversos
- Desenvolvimento das habilidades sociais
- Coordenação motora fina
- Desenvolvimento de habilidades por meio de jogos simples
- Coordenação corporal global
30
CAPÍTULO III
A PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA
J. de Ajuriaguerra ( 1974 ) afirma que o desenvolvimento da criança não
pode se fazer sobre a base de um número de estruturas anatômicas e de organizações
psicológicas que lhes são dadas ao nascer, assim sendo, concluímos que tais
estruturas e organizações não estão prontas ao nascimento, necessitando de uma
evolução por um processo de maturação sucessivo, e de facilitação ambiental, para
atingir os graus como atividade da vida da criança.
O organismo da criança não pode ser considerado puramente passivo,
sofrendo as leis da maturação e da experiência. A criança traz, em si, sua capacidade
de criar. Se muito precocemente , recria o mundo das coisas, da mesma forma, muito
procura atuar sobre este mundo.
Imaturidade da criança para a freqüência sistemática à escola, deficiências
sensoriais ou motoras, retardo mental, perturbações emocionais, carência de interesse
e motivação para aprender, níveis de exigência escolar ou familiar muito elevado,
métodos escolares inadequados, são fatores que influenciam a capacidade de
aprendizagem.
Como o princípio básico da psicomotricidade é a Unidade Mente - Corpo,
várias técnicas são integradas objetivando trabalhar o corpo, relacionando - o com a
afetividade, o nível de pensamento e de inteligência.
É indispensável educar movimento e mente, já que qualquer atitude mental
reflete no corpo. Exemplificando: quando há ansiedade, angústia, medo - o corpo
reage a tais sentimentos ficando rígido, trêmulo, descontrolado, etc. A partir do
momento em que a criança passa a dominar o uso do seu corpo, tende a se relacionar
melhor com as pessoas e o mundo à sua volta.
31
É importante e necessário que a criança amadureça não só em seu intelecto,
mas, também, em seu aspecto corporal e afetivo. Caso contrário pode apresentar
defasagens evidenciadas principalmente através de distúrbios psicomotores que
dificultam a sua integração com o meio e a formação de sua personalidade, o que
fatalmente ocasionará problemas escolares futuros.
Na Educação Infantil deve-se estimular a criança:
• a trabalhar com o corpo e percebê-lo interna e externamente;
• a tomar consciência dele como um todo que funciona integradamente;
• a sentir suas partes, dando ênfase a algumas delas conforme sua fase de
desenvolvimentos.
Considerada atualmente como ciência da educação, a psicomotricidade visa a
representação e a expressão motora do indivíduo utilizando seu psiquismo e mente.
Como diz Loureiro:
" É a neurociência dos anos 90 que estuda a interação equilibrada
dos aspectos neuromaturacionais: cognitivo-afetivo-motor na
otimização corporal" (apud Alves, 2003, p. 129)
3.1 A Importância do Lúdico
É primordial que a educação pelo movimento tenha um espaço reservado nas
escolas de Educação Infantil – sendo o lúdico um recurso útil para uma
aprendizagem psicomotora eficaz e significativa, se não for visto apenas como
simples entretenimento, mas como atividades que possibilitam a aprendizagem de
várias habilidades.
O lúdico, o brincar, o jogo, são agentes facilitadores para um trabalho
psicomotor, são recursos capazes de contribuir para o desenvolvimento das funções
cognitivas da criança, bem como fazer associação da atividade nervosa à cognição.
32
“A instituição escolar e familiar precisam considerar os
brinquedos, as brincadeiras e os jogos como fontes facilitadoras do
processo ensino – aprendizagem, isto porque, estas atividades
proporcionam à criança a adquirir conhecimentos e a desenvolver
potencialidades particulares. Durante a integração das atividades
lúdicas e físicas os movimentos têm sempre a função formativa e
social, influenciando o aspecto intelectual, físico – motor e o
psicoafetivo”( POMAR E NETO, 1999, p.180 )
O jogo ( palavra que se origina do vocábulo latino ludus, que significa
diversão, brincadeira ) é reconhecido como meio de fornecer à criança um ambiente
agradável, motivador, planejado e enriquecido, que possibilita a aprendizagem. Em
Psicologia, aprendizagem é o processo de modificação da conduta por treinamento e
experiência, variando da simples aquisição de hábitos à técnicas mais complexas. Por
desenvolvimento, a designação do ato de desenvolver, progredir, crescimento
paulatino. A brincadeira infantil é um importante mecanismo para o desenvolvimento
da aprendizagem da criança.
Durante muito tempo confundiu-se "ensinar" com "transmitir" e, nesse
contexto, o aluno era um agente passivo da aprendizagem e o professor um mero
transmissor. A idéia de um ensino despertado pelo interesse do aluno acabou
transformando o sentido do que se entende por material pedagógico. Seu interesse
passou a ser a força que comanda o processo da aprendizagem, suas experiências e
descobertas, o motor de seu progresso e o professor um gerador de situações
estimuladoras e eficazes. É nesse contexto que o jogo ganha um espaço como
ferramenta ideal da aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao interesse
do aluno. O jogo ajuda-o a construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece
sua personalidade e simboliza um instrumento pedagógico que leva o professor a
condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.
O ato de brincar oportuniza para a criança descobrir, formular e resolver seus
próprios problemas, através de experiências anteriores, as levando a examinar novos
33
materiais e recursos. Com a exploração e com esforços mentais da criança, em
observar, testar e experimentar, que o domínio é atingido.
Para despertar o interesse e a motivação, se faz necessário que o professor –
psicomotricista seja transparente em relação ao que espera da criança e que conheça
o material oferecido, afim de que o mesmo seja adequado a sua faixa etária.
Ao serem propiciadas as crianças situações para um brincar desafiador
apropriado, será assegurado e aumentará a aprendizagem potencial das crianças,
permitindo que estas desenvolvam estratégias de pensamento ativo de ordem
superior.
Afirma Moyles:
“A resolução de problemas associa o intelectual ao prático; ela
vincula habilidades e discussões. A resolução de problemas
associa o intelectual ao prático; ela vincula habilidades básicas e
habilidades de ordens superiores; ela vincula o ensino e a
aprendizagem; ela condiciona a direção à escolha,
essencialmente, ela vincula o brincar ao ”trabalhar”. ( Moyles,
2002, p.80 )
Será que a escola facilita o papel da educação psicomotora nos tempos atuais,
que seria construir pessoas plenas, priorizando o ser e não o ter , levando o aluno a
ser crítico e construir seu caminho?
O jogo de idéias, a brincadeira, nos leva a compreender alguns processos do
aprender. É cheio de significações onde a criança se expressa usando a linguagem do
movimento. Para tanto a relação professor / aluno é importante, é através dela que
flui a intimidade e a construção do saber de forma prazerosa.
As crianças em idade pré - escolar intercalam as atividades físicas ativas e
passivas, da maneira como seu corpo pede, como seu desenvolvimento necessita. A
criança possui um anseio natural para brincar, isto é, para aplicar seus poderes e
34
habilidades que desabrocham em uma crescente variedade de maneiras para explorar
a si própria e o ambiente em que vive.
Buhler (in Pikunas) enfatiza a "função prazer" que resulta de tal atividade e
também atua como estímulo. À medida que a criança desenvolve a linguagem e a
fantasia, a função prazer expande-se em alegria e prazer de projetar e criar.
Segundo Charlotte Buhler, "as crianças que brincam muito aumentam sua
futura criatividade - um traço cultural proeminente dos seres humanos". Para Freud, a
criança "leva sua brincadeira muito a sério e nisso empenha (ou expede?) uma
grande quantidade de emoção". E, de acordo com Erik Erikson, através do brincar, "a
criança organiza seu mundo interior em relação a seu mundo exterior. Aprendendo
novas modalidades de brincar, a criança avança sua prontidão para ingressar em
estados superiores de desenvolvimento". A engenhosidade da criança nas várias
atividades lúdicas aumenta sua realização e acrescenta muito a seu senso tanto de
identidade como de maestria (Erikson, in Pikunas).
Observando novamente a seqüência proposta por Piaget notamos, ainda, que
a criança, através do brincar, resolve problemas, desenvolve a linguagem e suas
relações pessoais. Através desta atividde, a criança é um agente ativo em seu próprio
desenvolvimento, construindo e adaptando-se ao ambiente ao modificar seus
esquemas básicos. As habilidades cognitivas da criança não só dependem do
conhecimento e perícia específicos, mas também do ambiente que facilitará o brincar
da criança.
3.2 O professor e a educação psicomotora na Educação Infantil
O Jardim de Infância é o primeiro degrau no longo percurso escolar.
Todos as etapas que seguem baseiam-se neste início. É, por muitas vezes, a primeira
instituição educadora que a criança experimenta e tem enorme importância nesta
etapa de sua vida. As vivências influenciam ou influeciarão todo o seu ser, sua futura
expressão corporal. É tão importante quanto a influência do meio familiar na qual
35
está inserida. Oferecer regularmente novos movimentos para um amplo exercício
corporal pode enriquecer ou ampliar as vivências feitas em casa.
"O papel do professor de pré-escola é, ao mesmo tempo
importante e difícil, pois esse educador lida com a criança no
processo inicial do desenvolvimento, em uma etapa básica da
formação de sua personalidade. A existência de muitos educadores
permite selecionar algumas recomendações que podem favorecer
o processo de aprendizagem dos pré-escolares. O professor
poderá, claro, enriquecer as sugestões oferecidas a partir da
consideração de sua realidade e da utilização de sua criatividade"
(Alves, 2003, p. 127).
O educador / professor psicomotricista deve estar suficientemente
preparado para que sua atuação junto à criança seja a melhor possível. Terá como
objetivo a formação de base da criança. Sua atenção está voltada para a educação do
corpo pelo movimento tendo pleno conhecimento das etapas do desenvolvimento da
criança até a fase escolar. Permite que a criança construa o seu conhecimento, a
acompanha em suas tentativas, olha, estimula, proteje e motiva, ajudando-a
eventualmente a organizar as vivências. Permite que a criança evolua
espontaneamente sem podá-la com seu “poder” de adulto. È na ação que a criança
constrói sua personalidade e seu conhecimento. Ela deve ser o agente, o sujeito da
ação. Nas interações com outras crianças surgem conflitos, diálogos, emoções,
reveses... A agressividade vivida com responsabilidade gera movimento, a frustração
experimentada indicará limites que sinalizam segurança e nova estruturação... Em
suma, uma dinâmica importante para a construção da personalidade e do
conhecimento.
O educador deve ter ampla formação pessoal tendo consciência de si
e de sua unidade psicosomática. Também boa formação teórica para que possa
interagir com a criança quando for solicitado, ajudar a dar sentido às ações que se
desenrolam e intervir quando for necessário. E deverá ter uma formação prática em
contato com as crianças e suas necessidades procurando sempre por atualização e
crescimento pessoal.
36
O educador deve ainda:
. ser observador
. garantir o respeito às normas e a segurança de todos,
. ser receptivo e ter empatia
. ser espelho e modelo,
. saber escutar e passar para o grupo o que for necessário (também
relativo às vivências)
. criar um ambiente acolhedor
. usar linguagem afetuosa e sincera
. saber valorizar progressos e regular conflitos
. favorecer repetições nas atividades introduzindo pequenas
modificações
. transmitir calma e confiança
“Quando o professor conscientizar-se de que a
educação pelo movimento é uma peça mestra da área pedagógico,
que permite à criança resolver mais facilmente os problemas atuais
de sua escolaridade e a prepara, por outro lado, para a sua
existência futura de adulto, essa atividade não ficará mais para
segundo plano. sobretudo porque o professor constatará que esse
material educativo não verbal, constituído pelo movimento é, pôr
vezes, um meio insubstituível para afirmar certas percepções,
desenvolver formas de atenção, pondo em jogo certos aspectos da
inteligência.” (Alves, 2003, pág.137)
37
3.3 O Espaço e o Ambiente para a Prática Psicomotora
A prática psicomotora educativo – preventiva deve realizar –se em
local amplo ( pouco mobiliado visando evitar que a criança se machuque ), ventilado
e claro de forma em que este seja o mais agradável, acolhedor e seguro possível. Ao
decorar o espaço onde as atividades serão praticadas o local onde serão colocados os
materiais úteis à prática devem ser cuidadosamente escolhidos. Um outro ambiente
reservado exclusivamente para as vivências psicomotoras ainda mais amplo e pouco
estruturado também é importante, pois nele a criança terá a oportunidade de construir
e organizar o seu próprio espaço.
Os materiais usados na prática psicomotora fazem parte das
estratégias e enriquecem as atividades facilitando e completando as ações das
crianças. Os materiais são diversificados, algumas vezes classificados pela
simbologia que evocam. Aqueles que se encontram na sala permanentemente,
chamados de materiais fixos, devem estar sempre disponíveis e visíveis. Já os móveis
as crianças solicitam ao adulto.
Os materiais usados para as atividades associadas ao prazer sensório –
motor costumam ser objetos duros e macios, grandes e acessíveis, como: plintos,
cavalos, estruturas fixas em forma de escadas, espelhos, quadros – negros, mesas,
colchonetes, almofadas de várias dimensões e formas.
Existem os materiais usados em determinados momentos de acordo
com os projetos de jogo que vão surgindo – estes podem ser móveis, estar guardados
ou recolhidos, o psicomotricista o solicita em função da atividade que se realizará.
São materiais que serão colocados à disposição das crianças sempre que a dinâmica
da sessão permitir. São materiais pequenos, duros ou macios, estáveis ou maleáveis,
em formato cambiante, como: bastões, pernas de pau, aros, bacias, bolas diversas,
panos, lenços, cordas, bichos de pelúcia, instrumentos musicais de percussão, entre
outros.
38
Ainda existem os materiais usados nas atividades de representação,
facilitando as produções distanciadas do movimento e do corpo. Estes os
especialistas recomendam que sejam utilizados em um segundo momento da sessão,
são: papéis de diferentes dimensões e texturas, lápis diversificados ( madeira, cêra,
hidrocor ), tesouras, cadernos, colas, Plastilina ou argila para modelagem, Madeiras
de diferentes tamanhos e formas para realização de construções, livros de história,
fantoches, jogos de mesa etc.
As músicas são pouco usadas na sala de psicomotricidade o são
somente em função de sinal, de alerta, de uma mudança de momento. Os ritmos e
músicas criados a partir dos instrumentos de percussão e das vozes das crianças são
vistos pelos educadores – psicomotricistas como mais interessantes e facilitadores
em momentos concretos.
A característica principal dos materiais usados nas práticas
psicomotoras é que estes não são figurativos, não servem para uma única ação, o
significado é dado por suas características físicas e, principalmente, pela ação da
criança, assim uma almofada pode ser um carro, uma parede, um cavalo, um
escudo...
Segundo Sanchéz ( 2003 ) os inícios e términos da sessão de
psicomotricidade, além do tempo de tirar o colocar os sapatos, devem ser bastante
reduzidos comparados com o tempo global: 3 minutos de início entre 5 a 7 minutos
de final em um sessão de 45 minutos. As crianças necessitam de uns 20 minutos para
experimentarem os materiais disponíveis na sala, aos poucos vão despertando o
interesse e surgem dinâmicas de jogo em grupos que os psicomotricistas apoiam e
reforçam, o que pode durar outros 20 minutos. Esses tempos servem de orientação e
variação segundo as características do grupo e o momento do ano letivo.
39
CONCLUSÃO
Concluimos com a pesquisa monográfica como é urgente oferecer aos
educadores das escolas públicas ou privadas, atendentes que são de crianças de
diferentes níveis sociais, subsídios teóricos que lhes possibilitam a compreensão das
relações entre a motricidade humana e os processos de aprendizagem, tanto no
âmbito das atividades predominantemente motoras como das atividades
predominantemente cognitivas; apresentando os caminhos mais eficazes para atender
problemas de prendizagem escolar e indicar as contribuições e o auxilio no
diagnóstico, itens que pertencem à área de atuação da psicomotricidade.
Todos os fatores ligados a motricidade podem se tornar problemas de
aprendizagem, essas habilidades motoras começam antes mesmo do indivíduo ir para
a escola. Para trabalhar o indivíduo na sua globalidade é necessário uma observação
contínua do desenvolvimento da criança, pois muitas vezes se privilegia o aspecto
cognitivo, esquecendo o aspecto motor e a afetividade. Aprender, portanto
subentende a tomada de consciência do corpo na sua totalidade.
Há muito tempo, nós educadores, nos preocupamos com o
desenvolvimento da psicomotricidade por perceber a sua importância no decorrer da
existência. Há quase unanimidade ao afirmar que o exercício físico é importante e
muito necessário para o desenvolvimento mental, corporal e emocional do ser
humano e em especial da criança. O exercício físico estimula a respiração, a
circulação, o aparelho excretor, além de fortalecer os ossos, músculos e aumentar a
capacidade física geral, dando ao corpo um pleno desenvolvimento.
Quanto a parte mental, se a criança possuir um bom controle motor,
poderá explorar o mundo exterior, fazer experiências concretas, adquirir várias
noções básicas para o próprio desenvolvimento da mente, o que permitirá também
tomar conhecimento de si mesmo e do mundo que a rodeia.
40
Emocionalmente, a criança conseguirá todas as possibilidades para
movimentar-se e “descobrir” o mundo, tornar-se feliz, adaptada, livre, socialmente
independente. É bom frisar que a criança percebe-se e percebe o mundo exterior
através do corpo e por ele se relaciona com os objetos e fatos. O seu comportamento
liga-se à ação corporal que abrange três noções: a do corpo, a dos objetos e a dos
demais corpos.
Cabe a nós profissionais da área de educação, respeitar as capacidades
das crianças e utilizar jogos e brincadeiras como estratégias para melhorar a
aprendizagem através das práticas psicomotoras.
“Toda a história e todo o saber da humanidade foram construídos em função do
corpo: a dor e o prazer são os fundamentos do pensamento”
(Rubem Alves)
41
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43
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Vives. A psicomotricidade na educação infantil uma prática preventiva e educativa.
Trad. Inajara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 2003.
VAYER, P. O Diálogo Corporal. A ação educativa para a criança de 2 a 5 anos. São
Paulo: Editora Manol
44
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS.................................................................................. 03 DEDICATÒRIA............................................................................................ 04 RESUMO..................................................................................................... 05 METODOLOGIA ......................................................................................... 06 SUMÁRIO................................................................................................... 07 INTRODUÇÃO........................................................................................... 08 CAPÍTULO I A PSICOMOTRICIDADE ............................................................................ 12
1.1 Definição .......................................................................................... 12 1.2 História ............................................................................................ 14 1.3 Vivências Corporais ........................................................................ 16
CAPÍTULO II O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA .................................................... 19
2.1 Períodos de Desenvolvimento Infantil segundo Piaget.................... 2.2 A Contribuição de Wallon ................................................................ 2.3 O Papel dos Estímulos no Desenvolvimento da Criança
20 23 26
CAPÍTULO III A PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA ...................................................... 30
3.1 A Importância do Lúdico ................................................................. 31 3.2 O professor na educação psicomotora ........................................... 34 3.3 O Espaço e o Ambiente na Prática Psicomotora............................. 37
CONCLUSÃO ............................................................................................. 39 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 41
45
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Projeto A Vez do Mestre
Pós - Graduação “Lato Sensu”
Título da Monografia:
“O TEMPO E O ESPAÇO DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL”
Data da entrega: _____/_____/______
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
___________________________________
Avaliado por: _______________________________ Grau ______________.
Rio de Janeiro, _____ de _______________de 2004.
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“É possível, através de uma ação educativa, a partir dos movimentos espontâneos
da criança e das atitudes corporais, favorecer a gênese da imagem do corpo, núcleo
central da personalidade.
Contudo, uma certa confusão reina atualmente no domínio da terminologia e da
formulação das finalidades em psicomotricidade. Diferenciamos, por nossa parte, a
educação psicomotora da terapia psicomotora. Estas duas atitudes correspondem a
necessidades diferentes.
A educação psicomotora concerne uma formação de base indispensável a toda
criança que seja normal ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade:
assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta possibilidades da criança e
ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com o
ambiente humano.
A terapia psicomotora refere-se particularmente a todos os casos-problemas nos
quais a dimensão afetiva ou relacional parece dominante na instalação inicial do
transtorno. Pode estar associada à educação psicomotora ou se continuar com ela.
Nos casos graves, a última hipótese parece preferível na medida em que o primeiro
tempo de ação terapêutica deverá se fazer fora de toda preocupação de
desenvolvimento funcional metódico.
Ao contrário, a reeducação psicomotora impõe-se nos casos onde o déficit
instrumental predomina, ou corre o risco de acarretar secundariamente problemas
de relacionamento."
Le Boulch
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