M a u r o C r u z
O Riacho Ilustrações de Lucas França
Juiz de Fora – 2000
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C957r Cruz, Mauro. O Riacho / Mauro Cruz; ilustrações de Lucas França. – Juiz de Fora: s.n., 2000. p.45; 170x240. ISBN 85-901755-1-0 1. Literatura Infantil. I. O Riacho CDD-028,5
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Mauro Cruz revive com seu O Riacho um tempo que todos nós, meninos do interior das Minas Gerais, conhecemos de cor e salteado. Um tempo onde se aprendia a nadar nos rios, subir em árvores e fazer nossos próprios brinquedos. Nossos riachos eram mares nunca d’antes navegados, nossas árvores, enormes castelos, moradas de fadas e gigantes. E nossos brinquedos, transportes para distantes galáxias, todos movidos pelo mais poderoso dos combustíveis; a imaginação!
Mary e Eliardo França
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CAPÍTULO I
Naquela tarde morna de primavera, as crianças não poderiam imaginar
que algo profundo e maravilhoso iria acontecer e mudar para sempre as suas vidas.
O quintal da casa era o seu mundo encantado. Cheio de velhas árvores frutíferas, goiabeiras, jabuticabeiras, ah, que delícia, cocos, mangas, ingás, laranjas, abius e mexericas, no quintal se podia brincar de Tarzan, pulando de galho em galho por toda sua extensão. Havia recantos, esconderijos, irregularidades do terreno e agrupamentos de vegetação, que faziam dele um mundo à parte. Um universo onde podiam correr livre a fantasia e o sonho. Bem ao fundo, fazendo uma curva em torno de uma frondosa mangueira, passava um riacho de águas transparentes. Perto da curva interna do pequeno riacho, havia uma grande pedra preta onde, quase sempre, as crianças sentavam-se para contarem estórias e imaginar e imaginar... Ali, naquele ponto, falavam de tudo olhando as águas correrem, pequenas folhas rodopiarem nas águas claras e as revoluções da própria água, batendo nos obstáculos do fundo, ou das margens.
Durante muito tempo, aquele pequeno rio escutara os sonhos, os anseios e as fantasias daquelas crianças e já nutria por elas um profundo e imenso carinho. Elas também, não só com o rio, mas com todo o ambiente em volta,
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sentiam uma intimidade e uma segurança quase paternas. À sombra da mangueira, no aconchego da pedra preta, e ao som e à companhia daquele pequeno riacho, elas embalavam seu mundo mágico e maravilhoso. Seus olhos brilhavam vendo e descrevendo batalhas, conquistas, princesas, feras e heróis. Revestiam-‐se de suas personagens e viajavam na intensa realidade dos sonhos.
Eram duas crianças alegres e felizes, naquele mundo todo seu. Silvia era uma extrovertida e alegre menina, a quem tudo encantava, desde o contorcer de uma minhoca na terra fofa do quintal, até o belo vestido de festa. Era travessa e comunicativa, conquistava tudo e todos com seu jeito fácil de falar e agir. Tinha um jeito próprio de liderar, sem magoar os colegas, e amava simples e profundamente a vida. Era difícil não se deixar contagiar pelo seu jeito forte, jovial e alegre. Seu irmão, Gustavo, um ano mais novo, tinha um personalidade bem definida, que contrastava um pouco com ela, mais dado a análises e posicionamentos filosóficos. Tinha uma facilidade imensa para compreender os intricados e difíceis problemas do relacionamento entre as pessoas. Era um apaixonado pela natureza, plantas, animais. Lia e conhecia tudo que se referisse aos bichos.
Ambos tinham nos olhos o brilho da fantasia e, como toda criança, encantavam-‐se com histórias, principalmente aquelas contadas à noite pelo seu pai ou sua mãe, antes de dormirem, quando já estavam de pijama sob as cobertas e os pais, sentados ao pé de uma cama ou outra de seus quartos, iam desfiando fantásticas e maravilhosas histórias.
Que coisa boa! Que delícia viajar ora com os olhos fechados, ora abertos, nas histórias contadas por um adulto, quando o sono está vem, não vem, vem, não vem!
Naquela tarde, como sempre, foram correndo, após os deveres da escola, brincar no quintal. Cerca de uma hora mais tarde, sentaram-‐se na pedra e começaram a falar de uma velha e estranha história que tinham ouvido na noite anterior:
—Você acha, Silvia, que pode mesmo ser verdade, que existe aquele lugar que papai contou?
— Não sei Gustavo, mas papai fala de um jeito que a gente fica mesmo acreditando.
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— Ele disse que até já fizeram um filme, que tem um livro e que muita gente acha que é verdade.
— Shangri-Lá... Ah! Como eu gostaria de morar lá! — É bobagem! Não existe — exclamou Gustavo. — Existe sim! — ouviram uma voz. — Quem disse isso, Gustavo? — Não sei. — Fui eu — ouviram de novo. — Eu quem? — perguntou Gustavo. — Eu aqui, ó. — Eu aqui, onde? Ah! Deve ser o Rafael, aquele danadinho escondido
por aí. — Mas não é a voz dele, Si. — Sou eu aqui, o Riacho, seus “bocozinhos”. — Uau! — gritaram já na preparação para fugirem de medo. — Não tenham medo, quero ser amigo de vocês. — Mas riachos não falam! — exclamou Sílvia. Gustavo, boquiaberto, quase não tinha condições de falar, mas já
acreditava. Ficaram os dois calados e petrificados enquanto o Riacho começava a falar sem parar.
— Há muito tempo que quero falar com vocês mas não tinha coragem. Venho há muito tempo escutando suas histórias e conhecendo vocês. Às vezes, ficava com a língua coçando de vontade de dizer alguma coisa, de acrescentar ou confirmar suas histórias, mas tinha medo. Não sei por que cargas d’água — expressão interessante para mim, não acham? — tive hoje esta coragem.
Os dois fizeram menção de sair, claramente amedrontados. — Não vão embora! Sei que vocês podem acreditar em mim. Sentem-se
aí, por favor. Os dois, como autômatos, obedeceram e com os olhos e bocas
abertas sentaram-‐se para escutar.
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— Muito bem — disse o Riacho —, vamos começar do princípio: a natureza é viva, cada um tem sua linguagem, os animais, as plantas, os minerais, enfim, cada grupo comunica-se à sua maneira, mas só alguns, poucos, podem entender a linguagem de outros grupos. Eu aprendi há muitos e muitos anos a linguagem dos homens. Sabe, muitas águas percorreram todo o mundo e por isso já vi muita coisa. Já fui chuva, poço, rio, mar, caixa d’água e um montão de outras coisas como aquário, escorrega, carro pipa etc., ando por todo o mundo. Passo no fundo das casas como aqui, vejo as crianças brincando, conheço peixes de todo tipo, a Europa, a China, a Índia, o Paquistão, o México, florestas, lagoas, montanhas, vales, lugares desconhecidos pelo homem, Nova York, Disney, Loch-Ness. Ah! conheço também Shangri-Lá.
— Shangri-Lá? — gritaram juntos os meninos. — Isso mesmo. Shangri-Lá. — Então é verdade! — disse Gustavo. — Que bom! — completou Silvia. — Conte-nos... A forma como o Riacho lhes falou foi tão tranquila e norma que
esqueceram-se de aquilo ser extremamente novo e diferente, e ativeram-se somente ao fato dele ter conhecido o lugar mágico da história — Shangri-Lá. Criança é assim mesmo!
— Que bom que vocês me ouviram! — o Riacho chamou-os à realidade.
— É mesmo! — exclamou Silvia. — Mas...engraçado, não tenho medo, parece que já nos conhecemos há muito tempo!
— E já mesmo! — disse o Riacho, fazendo uma cara de riso e felicidade.
— Eu adoro vocês! De tudo que já vi, como eu ia dizendo, o que eu mais gosto mesmo é de ficar ouvindo vocês dois conversando e contando histórias. Lembram-se daquela do vale dos dinossauros? Não, vocês falaram ilha dos dinossauros.
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— Parque dos dinossauros — disse Gustavo. — Isso mesmo, do filme Parque dos Dinossauros. Sabem, quase que
eu falei com vocês naquele dia, pois eu conheço um vale assim, cheinho deles. Tem de tudo quanto é bicho assim, até as plantas são diferentes destas daqui. Só nós, as águas, é que não mudamos, ou melhor, tem outras coisas também que são iguais lá, o céu, a terra, as pedras, mas o resto é tudo diferente. É igual ao filme que vocês falaram.
— Ei! Espera aí, você não vai parar de falar, não? Eu quero te perguntar uma coisa! — interrompeu Silvia.
— Claro, claro, esteja à vontade, desculpe. É que fiquei tanto tempo sem falar e só ouvindo vocês, que agora eu perdi o freio.
— Na verdade — começou ela —, eu quero mesmo é te confessar uma coisa. Eu também gosto muito de você. Sempre achei que você era diferente de outros rios e riachos por aí. Quando a gente nada em você suas águas são mais carinhosas, mais macias, e dão uma sensação de segurança. Que bom que você fala e é nosso amigo! Vou contar pra todo mundo!
— Opa! Espera aí! Não vai contar pra ninguém, não. Se você fizer isso, vão dizer que você é louca igual àquela história do Zé Orocó e da Rosinha. Lembram-se?
— Isso mesmo Silvia — atalhou Gustavo. — A gente não pode contar. Mas acho que pro papai e pra mamãe pode. Eles vão acreditar na gente e não nos vão achar loucos.
— Não sei não, hein — disse o Riacho. — Adulto é tudo igual, uns descrentes. Vamos fazer assim: primeiro a gente fica sem contar uns tempos. Depois vocês podem sondar para ver se contam pra eles. Que acham?
— Tá legal! Tá legal! — disseram mais ou menos juntos e numa excitação nova e maravilhosa; sentiram que aquele era mesmo um dia muito especial e que o que estava acontecendo era algo mágico.
A tarde já estava terminando e as primeiras sombras da noite já escondiam os contornos das coisas. Na casa, algumas luzes já estavam acesas e uma voz gritou pela janela da cozinha em direção ao quintal.
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— Silviaaaa! Gustavooo! Chega de brincar! Venham para casa! Os três ouviram e sentiram um calafrio, com medo de terem sido ouvidos
pela empregada. Contra a vontade, levantaram-se da pedra e foram despedindo-se.
— Olha, Riacho, como posso chamar você? — disse Sílvia. — Ora, me chame por Riacho mesmo, eu gosto! — Mas Riacho não é o seu nome — falou Gustavo. — Você não
tem um nome? — Em cada parte do mundo eu tenho um. Nesse livro, ainda não sei. Vamos esperar para ver se o autor vai querer colocar algum. Até ele decidir, me chamem de Riacho mesmo.
— Tá bom, — disse Gustavo. — Espero que ele não seja um chato, esse autor, e se escolher, que escolha um nome bem bonito.
— Sillviaaaa, Gustavooooooo! Como é, vocês vêm ou não? — ouviram mais uma vez a voz da empregada.
— Já estamos indo — respondeu Sílvia. — Bem, Riacho, temos de ir, mas amanhã a gente volta correndo e você vai contar-nos estas duas histórias verdadeiras. Tá bom?
— Claro, vamos conversar muito, agora que já começamos. Vou contar pra vocês milhões e milhões de casos e histórias.
— Tchau! — disse Gustavo. E foram saindo e olhando pra trás e dando adeus até chegarem na escada da casa, de onde não mais se podia ver o rio.
Chegaram em casa com cara de “cachorro que quebrou a panela”, como se tivessem “culpa no cartório”. É, criança não sabe mesmo mentir, entorta a boca, vira o olho e todo mundo percebe. A sorte é que a verdade era tão absurda para os adultos, que ninguém podia nem sequer imaginar o riacho falando. Assim, eles inventaram qualquer coisa para explicar aquelas caras e foram direto para o banho.
Naquela noite, os dois eram mais amigos do que nunca, pois tinham um segredo a partilhar, e que segredo!
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Não demoraram muito para fazer tudo e arranjarem um jeito de falar do Riacho. É que, após o retorno à casa, o banho e o jantar, o fato ocorrido, da conversa com o Riacho, deu um encontrão com a realidade e ficou ainda mais extraordinário. Eles precisavam falar a respeito. Era uma coisa que ia crescendo dentro deles e já estava quase saindo pela garganta. Se não falassem, iam explodir. Foram para a varanda e aí então desabafaram.
— Silvia, você viu que nós conversamos com o Riacho? — É mesmo, não estou nem acreditando! Que maravilha. Mas será
que não foi sonho, Guga? — Que sonho que nada, é verdade mesmo! Estou doido para voltar
lá amanhã. Vamos dormir para passar depressa. — Vamos! Mas, aquela noite não foi tranquila e, por todo o tempo, sonharam
com o Riacho. Ele também não conseguiu pregar o olho até de madrugada, excitado com a conversa com os garotos. Remexeu a noite toda suas águas, atrapalhando o sono dos peixes e das plantas ao redor.
Assim terminou aquele primeiro dia na vida dos três.
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CAPÍTULO II
Até o sol estava preguiçoso, naquela manhã de primavera! Uma névoa
fina ainda cobria os campos quando, espreguiçando-se todo, ele esticou seus raios que começaram a invadir este mundão. O Riacho sentiu um calorzinho gostoso daqueles primeiros raios do sol e foi abrindo devagarinho os olhos, ainda pesados da noite excitada e mal dormida. Na casa, as crianças eram despertadas pelo seu pai, de uma maneira típica que ele tinha:
— Vamos, vamos acordar! Os passarinhos já estão lá fora cantando, o sol já colocou seus dedinhos de fora, o mundo já acordou. A vida tá correndo e só vocês estão dormindo. Vamos lá! Vamos lá!
E dava beijos e puxões nos dois moleques, que riam e reclamavam. Tinha de falar sério, senão levavam na brincadeira e não levantavam mesmo.
— Agora chega, é de verdade, são seis e quinze, vão chegar atrasados. Levantando, levantando!
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E ia, então, tirando os cobertores. Aí não havia jeito, as crianças tinham mesmo que pular da cama e começar o dia. Quando se lembraram do que havia acontecido, despertaram de uma só vez, sem preguiça nem nada. Tiveram uma vontade danada de contar para o pai, mas aguentaram. Correram para o banheiro e subiram no vaso, para olharem pelo basculante o Riacho, lá no fundo do quintal. Que sensação gostosa! Tinham um novo velho amigo. Era o Riacho deles, que agora ganhara vida e personalidade. Foi tão bom olhar e vê-‐lo lá no fundo, tranquilo e amigo.
Será que ele falara mesmo, ou era só imaginação? pensaram. Ah, que vontade de ir lá agora mesmo e tirar isso a limpo. Hoje, outro dia, depois de terem dormido, a realidade é mais real. Se for verdade agora, será para sempre!
— Gustavo, vamos passar lá, rapidinho, só para falar com dia. — Vamos sim, mas temos de ter alguma desculpa, senão vão
desconfiar. — Diga que esquecemos nossos lápis no quintal e vamos pegar
agora. Assim, foram rapidinho para o café, coisa especial, pois, geralmente,
a mãe tinha de ficar chamando o tempo todo. Ela não ficou sem perceber, e foi dizendo:
— Eu hein! Estou sentindo cheiro de arte. Alguma coisa fez estes dois virem sem precisar chamar para o café. Boa coisa não será!
— O que é isso, mamãe? Se a gente não vem, reclama; se vem, reclama dobrado. Que coisa! — resmungou Silvia.
— É mesmo, gosta de pegar no pé, hein? —completou Gustavo. Também não esquentaram lugar à mesa, engoliram rápido e saíram
correndo. Mais um sinal, e Julieta, a empregada, acrescentou: — É mesmo! Tem alguma coisa no ar! Estes dois estão com algum
segredo. Quando viram que não podiam mais ser vistos, correram para o
Riacho e foram logo dizendo bom dia.
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— Bom dia! — respondeu ele, o que encheu seus corações de alegria, pois era a confirmação de tudo.
O Riacho também estava feliz e continuou. — Sabem, quase não dormi à noite. Fiquei só pensando na nossa
conversa. Estou muito feliz! — Nós também! — disse Gustavo. — É mesmo — falou Silvia. —Agora seremos amigos para sempre! — Vamos embora, Silvia. Olha, Riacho, depois da escola a gente volta,
tá bom? Agora, vamos rápido, para não chegarmos atrasados. E foram saindo para a escola, pelo portão do quintal, sem passar
pela casa. Estavam tão excitados, que o aproveitamento das aulas, naquele
dia, foi baixo. Ficavam só imaginando que bom era tudo aquilo e como eram felizes.
A tarde custou a chegar, isto é, a hora de poderem estar livres para brincar. Mas chegou, e eles, como dois passarinhos que, vendo a porta aberta da gaiola, batem asas em direção à liberdade, quase não acreditando que aquilo está acontecendo, saíram para o quintal em direção ao Riacho.
Já foram chegando e pedindo para que ele contasse aquela história da terra encantada, onde nunca ninguém ficava velho, doente e nem morria.
O Riacho queria falar dele mesmo, da amizade, do fato de terem conversado, saber algumas coisas particulares deles; perguntar alguns detalhes que sempre quis saber, como, por exemplo, que cor era a sala de aula, onde estava aquela boneca que a Silvia, muitas vezes, tinha trazido para brincar e, depois nunca mais trouxe; por que a Gabi, a Cíntia, o Paulo Henrique, Dudu, Marquinho, Pablo etc. não vêm sempre brincar aqui; enfim, coisas que ele queria saber quando ouvia os dois conversarem, mas que não podia perguntar. Agora podia, mas... paciência! Era melhor agradar os dois agora, matar a curiosidade deles e depois ir sabendo aos poucos.
Curiosidade de criança é fogo. Não dá trégua, parece que tem o “bicho carpinteiro”, como dizia minha avó.
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Então, foi logo começando: — Bem, se vocês querem tanto saber, então lá vai: há muitos e muitos
anos, num país muito distante daqui, no meio de uma cadeia de montanhas, talvez as mais altas do mundo, aconteceu um fenômeno, até hoje inexplicável. Essa cadeia de montanhas é tão alta e tão fria, que seus picos são eternamente gelados, e viver nessa temperatura é somente para poucos homens, alguns animais e pouquíssimas plantas.
Em um ponto dessas montanhas, formou-se um vale completamente
isolado, onde a temperatura e as condições climáticas são ideais, sem frio nem calor em excesso, um clima perfeito, no qual a vida pode tornar-se também perfeita. É uma dimensão talvez diferente, em que não há o tempo, pois lá pessoas e coisas não envelhecem, não adoecem e não morrem nunca. Há também uma sensação maravilhosa de felicidade no ar. Tudo resplandece e brilha irradiando alegria e felicidade.
Pode-se chegar lá somente por uma passagem secreta entre as montanhas, uma caverna escondida entre as geleiras e abismos em volta.
— E de avião, ou melhor, de helicóptero? — perguntou Gustavo.
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— Como eu disse, parece ser outra dimensão, porque o vale está aberto para o céu, se vê nuvens, pássaros, o sol e, no entanto, não se pode ver de cima, de avião.
— Como foi lá, heim? — perguntou de novo o abelhudinho do Gustavo, tentando “pegar” o Riacho.
— Gustavo, as águas têm seus segredos, e há coisas que até eu não sei direito com acontecem, mas todas as águas sabem deste lugar, pois somos uma só e lá estivemos e ainda estamos. E veja, nós também não envelhecemos. Às vezes eu fico pensando se não é porque passamos por lá. Bem, este é Shangri-Lá, o lugar mais lindo e encantado que vocês podem imaginar, com tudo colorido e lindo, sem tristezas, nem brigas, sem doenças, sem fome, sem poluição, sem nada de ruim.
— E tem escola, lá? —perguntou Silvia. —As crianças têm que estudar igual à gente?
— Bom, não é exatamente igual a aqui. As crianças brincam, cantam, aprendem e estão o tempo todo felizes. Mas dever de casa não tem, não.
— Puxa, que legal! — exclamaram juntos os dois. — A gente podia ir lá um dia. Não é? Nem que fosse só um tempinho
— disse Silvia. — É, o nosso autor podia fazer a gente ir lá! — pensou alto Gustavo. — Ou então trazer pra gente uma varinha mágica para irmos lá! —
falou Gustavo. — Mas como a gente vai pedir isso pro autor? — perguntou o Riacho. — Ah! Isso eu não sei, mas a gente pode tentar descobrir. Quem sabe
até o final do livro? Afinal, estamos apenas começando. Olha, são poucas páginas até agora.
E aquela discussão sem fim foi prolongando-se por horas, cada um dando mais asas à imaginação, libertada pela linda história verídica que o Riacho havia contado. Os três estavam tão envolvidos naquela conversa, que nem perceberam que toda natureza à sua volta os estava escutando.
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a velha mangueira havia, apesar da idade, curvado em sua direção para melhor ouvir. Inúmeros peixes do riacho estavam com a boca e os olhinhos abertos e os ouvidos atentos, sem perder uma palavra sequer. Tinham ouvido tudo e viajavam com eles na sua imaginação. Até a pedra preta acordou de seu sono pétreo e ficou na escuta. Havia umas plantinhas novinhas bem na margem do Riacho que deliciavam-se com aquilo e pareciam longe naquela viagem de sonhos. Aos poucos, os meninos foram sentindo o quanto é viva a natureza.
Estavam todos tão distraídos que não viram a noite chegar e envolvê-los com seu manto escuro e já bem frio àquela hora.
Quando despertaram daquela gostosa conversa, levaram um susto e, despedindo-se rápido, correram para casa. Estavam todos tão felizes que é melhor nem falar mais nada e passar para o outro capítulo.
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CAPÍTULO III Aquele riacho era um contador de histórias danado de bom, sô! Eta
lugar legal aquele, heim? Assim estavam pesando os meninos e locos para chegar a hora de ouvirem outra história. Hoje, com certeza, iriam mais cedo para ficarem mais tempo.
Assim estava o clima entre eles e, tão logo puderam, estavam correndo em direção ao Riacho. Foram chegando, já cumprimentando todo mundo, as pedras, as flores, os peixes, as árvores e até para o ar deram uma boa tarde.
O Riacho, todo contente, fazia circunvoluções com suas águas, remexendo-‐se todo. Terminados os cumprimentos, foi logo perguntando:
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— E aí! O que fizeram vocês? Aposto que estão doidinhos para
conhecerem aquele lugar, heim? Eu conheço vocês, são uns aventureiros, adoram essas coisas, não é? Mas hoje, se vocês quiserem, posso contar uma história muito perigosa. Um caso que aconteceu com um caçador na floresta. Mas, depois eu conto, viu? Já estou falando de novo sem parar. Nem deixei vocês responderem.
— Responder o que, mesmo? — disse Gustavo e imediatamente lembrou-se da pergunta. — Ah! Fizemos um montão de coisas, arrumamos a casa com a mamãe, estudamos e fomos ao mercado. Mas, agora você vai contar essa história.
— Espere um pouco, antes vamos conversar — disse o Riacho. — Não! Conta, conta — insistiu Sílvia. — É, conta agora e a gente conversa depois, tá bom? — disse Gustavo. Diante de toda aquela ansiedade e súplicas ele não teve outro jeito e
disse: — Tá bom! Tá bom! Então sentem-se aí que vou contar tudinho, com
todos os tin-tins. E começou: — Era uma vez um caçador que adorava passar o dia na floresta. Ele
saía cedinho de casa e à tardezinha voltava com uma porção de bichos diferentes, que ia logo entregando à sua mulher e dizendo:
— “Veja só mulher, vá preparando que vamos comer bem hoje”. Ele adorava aquilo e dizia não ter medo de nada, nem de bicho nenhum.
Gostava mesmo era de ir sozinho e dar tiros pra lá e pra cá, assustando a bicharada toda e matando alguns. Seu tio, Juquita, dizia-lhe sempre que aquela floresta era perigosa e que lá morava um monstro enorme, uma fera perigosa, metade homem, metade lobo. Tinha os olhos vermelhos que brilhavam no escuro igual a uma brasa, dentes enormes e garras afiadas. Tinha o corpo todo cabeludo e media mais de dois metros de altura.
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O caçador, Chico Dodó, dava gargalhadas e dizia que era doidinho para
encontrar com esse bicho. — Arranco a pele dele, tio, e trago para o senhor ver. Não vou gastar
nem bala com o danado. Vou pegá-lo a mão mesmo. — Cuidado Chico, não ria destas coisas! A floresta é cheia de segredos
e isso pode muito bem ser verdade. Não abuse. O Chico não ligava mesmo, e continuava a caçar sem medo. Um dia,
disse a sua mulher: — Olhe, Elza, os bichos aqui por perto estão rareando. Eu vou amanhã
lá do outro lado do vale. Vou procurar caça boa. Assim falou, assim fez. Saiu bem cedinho com uma mochila de comida,
um cantil grande com água e a espingarda nas costas. Colocou ainda uma boa faca no cinto junto com seu inseparável facão de caça, que mais parecia uma espada.
Andou mais de três horas atravessando o vale, até que chegou do outro lado, onde encontrou um rio largo e fundo. Queria atravessá-lo e foi então procurando rio acima um local mais estreito onde, pudesse passar com segurança. Com isso, distraiu-se e foi distanciando-se cada vez mais. Quando conseguiu atravessá-lo já era bem tarde. Embrenhou-se então naquela floresta totalmente nova e desconhecida. As árvores eram imensas! Tão altas que já não se podia ver o céu. As folhas encontravam-se e fechavam o teto da floresta. Procura daqui, procura dali e nada de bicho.
— Que coisa estranha! — pensou. — Como é que não tem bicho nenhum por aqui? Agora é que notei isso.
E foi andando, andando, quando de repente encontrou uma velha cabana abandonada. Resolveu então entrar para examinar. Achou tudo vazio. Sentiu então que estava cansado e resolveu comer alguma coisa. Abriu a mochila e comeu gostosamente um bom sanduíche que sua mulher havia preparado. Depois do lanche, recostou-se para descansar um pouco e então dormiu profundamente. Passaram-se horas... Já era mais ou menos meia-noite quando ele acordou sobressaltado com um barulho imenso vindo do fundo da floresta. Parecia que o mundo vinha abaixo. Uma coisa enorme vinha quebrando árvores, destruindo o mato baio e arrebentando os cipós. Chico
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Dodó levou alguns segundos para entender a situação e lembrar-‐se de onde estava. Pegou então a espingarda e preparou-‐se para atirar e matar o que quer que fosse. O barulho era de assustar qualquer um. Ele lembrou-‐se então da conversa do tio Juquita e começou a ter uma pontinha de medo.
Era exatamente isso. O bicho tinha sentido cheiro de gente e tinha vindo pronto para comer o Chico. Ele lembrou-‐se então que não tinha visto bicho nenhum na redondeza e que talvez tivessem fugido desse danado que vinha. Ao pensar nisso, ficou foi com muito medo mesmo e procurou um jeito de fechar a porta e as janelas da cabana correndo. Ficou com o olho grudado num buraco da porta, esperando aquele negócio horroroso que chegava. O barulho ia só aumentando e cada vez mais rápido o bicho chegava.
Quando de repente ele apareceu, a escuridão só deixava ver um vulto enorme e os dois olhos vermelhos brilhando. Chico começou a tremer e a rezar sem parar. Enviou a arma pelo buraco e deu um tiro pro lado do bicho. Aí é que o negócio ficou feio. O bicho começou a urrar e pular para a porta da cabana tentando arromba-‐la. Suas garras batiam contra a porta que quase vinha abaixo. Chico Dodó começou a chorar e a pedir a todos os santos que os salvassem, e que se isso acontecesse nunca mais iria caçar, nunca mais.
O bicho estava já derrubando a porta quando ele resolveu subir pela chaminé da cabana e rapidamente saiu no telhado. Foi a continha, pois o bicho jogou a porta no chão e entrou louco pela cabana procurando-‐o. Chico subiu numa árvore, por um galho que roçava o telhado, e quando já estava no tronco da árvore, cortou o galho com seu facão. O bicho, ao sair da cabana, tentou por muito tempo subir na árvore para pegá-‐lo. Ele atirou várias vezes, mas ou não acertava ou então o danado não morria, pois nada acontecia. Com o clarão do tiro conseguia ver melhor o bicho e ficava ainda com mais medo, tamanha a feiura dele. Isso durou toda a noite
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e só quando o dia começou a clarear é que ele foi embora. Chico Dodó ficou mais umas três horas tremendo na árvore até que ouviu vozes. Começou a gritar por socorro e viu chegar um grupo de uns dez homens liderados pelo seu tio Juquita, que tinha vindo procurá-lo. Desceu correndo da árvore e pediu para irem embora, dizendo que depois contava tudo. Queria mesmo era sair dali o mais rápido possível. Tinha visto a morte de frente. Quando chegaram em casa, contou tudo e prometeu que nunca mais iria para a floresta e muito menos caçar ou matar os bichos.
Quando o Riacho terminou, os dois meninos estavam totalmente envolvidos na história e quase nem conseguiam dizer nada. Passados alguns segundos, Gustavo perguntou:
— E o bicho, o que aconteceu com ele?
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— Não sei, mas acho que ainda está lá. Dizem por aí que muita gente já
o viu também depois disso. — E você, Riacho — disse Silvia. —Não o viu? Nunca passou por lá? — Sabe, Silvia, tem coisas que até eu tenho medo. Prefiro não ver e
nem saber. Cruz-‐credo!!! — É, esta história é mesmo de arrepiar! Eu me lembrei de uma que
a Aparecida, nossa cozinheira, dizia que um dia ia nos contar, lembra Silvia? Aquela que só podia contar depois da meia-‐noite, senão a gente criava rabo.
— Isso é bobagem, Gustavo — disse Silvia. — Não é verdade. — Sei não, heim! Também já ouvi dizer isso — disse o Riacho. — Mas você conhece, Riacho, esta história? —perguntou Silvia. — Conhecer, não conheço, mas já ouvi falar. — Ah! Que pena. Senão podia nos contar. E outra coisa, podia ser a
qualquer hora, por que como é que Riacho ia criar rabo? — Sei lá! Histórias desse tipo não quero nem saber —disse o
Riacho. Assim, ficaram mais um tempo conversando até que deu a hora de
ir para casa. Não esperavam o chamado. Bastou a noite começar que o medo daquela história, ainda fortemente presente neles, fê-‐los correr logo, logo.
— Tchau, Riacho, durma bem — disse Gustavo. — Tchau, um beijo — disse Silvia. E foram tirando o time.
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CAPÍTULO IV
A partir daquele dia, a amizade entre os três foi só aprofundando-se.
Além das histórias maravilhosas, dos papos descontraídos, das conversas imaginando coisas e situações, o Riacho, com sua experiência e conhecimento, passou até a ajudá-los com os deveres da escola. Eles passaram a gostar de geografia, ciências, matemática etc., pois o Riacho, para cada coisa contava uma história, lembrava um fato ou dava um exemplo concreto. Faziam rapidamente seus deveres, aprendiam mais e ainda sobrava mais tempo para brincarem e contarem histórias e mais histórias. Já estavam amigos de tudo que os rodeava naquele mágico quintal. Depois que o Riacho falou com eles, começaram a perceber a vida em tudo. Sentiam-se os meninos mais felizes do mundo. Que bom é ter amigos! E amigos assim, então, nem se fala!
Mas aquela história de Shangri-Lá não saía da cabeça dos dois e um dia voltaram a carga.
— Sabe, Riacho, não consigo esquecer Shangri-Lá — disse Gustavo. — A gente podia arrumar um jeito de falar com o nosso autor. Eu lembro-me de um livro, que o papai leu, que se chamava O Mundo de Sofia.
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É um livro de filosofia, em que a menina conseguiu comunicar-‐se com o seu autor. Será que isso é possível?
— Não sei Guga — disse Silvia. — Mas se é ele quem escreve, deve saber o que a gente está pensando e querendo. Eu dizer pra ele agora: Oi, seu autor, vê se leva a gente lá, por favor.
— Silvia, mas que doideira! —disse o Riacho. — Você falando com o autor! Personagens não falam com autores de livros! Afinal, nós somos apenas a sua imaginação.
— Espera aí! — disse Gustavo. — Mas você não é de verdade, Riacho? Olhe bem, suas águas molham a gente! Tem peixes e plantas vivas aqui! Tem ar, tem movimento, tem vida. Olhe a Silvia! — e cutucou a irmã com uma vara. Ela gritou e ele continuou. — Tá vendo, tem até dor! Somos de verdade.
— É...! — concordou o Riacho. Ficaram os três por algum tempo calados pensando. — Sabe? — disse Gustavo. —Eu também vou pedir para o autor. Olha
aqui, ô nosso autor, por favor, dê um jeito de levar-nos a Shangri-Lá! Estamos doidinhos para ir lá!
O Riacho convenceu-se e também pediu: — É, faça isso que a gente vai adorar, e aposto que os leitores também. Estavam naquilo quando de repente ouviram um estrondo forte e
levaram um susto. Era o autor, tentando colocar uma personagem de outro livro. Depois de tantos pedidos, ele resolveu atendê-los. Mas não é fácil! Tem de pedir permissão para o outro autor, perguntar se as personagens querem vir, e ainda dá este estouro quando elas tem de entrar no livro. Ah! Tem outra coisa, nem sempre acontece de dar certo. Às vezes, elas não conseguem entrar. Desta vez, por exemplo, só teve o estrondo e nada aconteceu. Os três ficaram assustados e não sabiam o que tinha acontecido. O autor, para não deixa-los igual a três bobocas, fez vir descendo pelo Riacho uma garrafa com uma mensagem dentro, explicando o que ele havia tentado fazer.
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A garrafa veio passando por eles, eles pegaram, leram e ficaram então
felicíssimos por dois motivos: o primeiro é que iam a Shangri-Lá, assim esperavam, e o segundo é que tinham conseguido se comunicar com o seu autor.
Depois de tanta emoção era melhor irem pra casa, comer alguma coisa, ver uma boa televisão e tirar uma boa noite de sono.
Despediram-se os três e os meninos foram embora.
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CAPÍTULO V
No outro dia, lá pelas quatro horas, os dois meninos ouviram de novo um forte estrondo, parecido com o do dia anterior. Todo mundo na casa também tinha ouvido e estava comentando o que poderia ser aquilo. Parecia barulho de trovão, mas não havia nem sinal de chuva , o céu estava claro e as nuvens altas e brancas.
Os dois trocaram um olhar de cumplicidade, deram um jeito de terminar voando os deveres e em quinze minutos estavam descendo aos pulos a escada para o quintal.
Estavam com o coração a mil e a boca seca de tanta emoção de poderem encontrar alguma personagem mágica, alguém conhecido dos livros, fosse quem fosse. Seria mesmo um milagre, uma coisa estupenda, sensacional, maravilhosa! Bem, não havia palavras capazes de descrever tamanha emoção. A distância da casa ao Riacho parecia ter triplicado pela ansiedade de chegar.
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De longe já avistaram alguém sentado na sua pedra preta conversando
com o Riacho. Aí mesmo é que criaram asas nos pés e em questão de segundos já estavam lá. Foram chegando e freiando, quase batendo na pedra. Ficaram com cara de bobocas, com a boca aberta, os olhos esbugalhados e com a respiração ofegante quando se viram cara-a-cara com um duende, de botas, chapéu, olhos amendoados e uma bela capa vermelha bordada de flores douradas. O Riacho, já todo dono da situação, pois havia ficado conversando bom tempo com ele, foi logo fazendo as apresentações.
— Olhe Zaap, aí estão eles, Sílvia e Gustavo. São dois meninos daqui ó! — e fez um gesto pegando na pontinha da orelha. Continuou: — E este é o Zaap. Ele acabou de chegar. Veio neste estrondo e agora está aqui no nosso livro, ou melhor, no nosso mundo.
Os dois apenas balançaram as cabeças concordando e nada disseram. Zaap, já mais experiente em livros e histórias, começou:
— Olá pessoal! É um prazer estar aqui. Sabe, viajar de um livro pra outro é tão legal quanto viajar pela imaginação. Só é mais barulhento.
Com isso, eles despertaram e Sílvia foi a primeira a falar: — Olá Zaap! Eu nunca pensei que isso pudesse acontecer. Eu nunca
podia imaginar que um dia fosse ver um duende de perto. Muito prazer! — e foi estendendo a mão.
O duende, muito sapeca, como é comum nos duendes, apertou a mão dela daquele jeito de garotão. Sabe, dando um tapa, uma rodada com a mão e depois apertando a ponta dos dedos.
Foi aí então que ela sentiu firmeza mesmo e foi ficando à vontade. Gustavo adiantou-se e também o cumprimentou com a mão. Sua
intenção era tocar no duende para ter a certeza de que aquilo tudo não era um sonho.
— Muito prazer! — disse e da mesma forma Zaap respondeu. Assim começou aquela amizade que não ia acabar mais entre eles,
Zaap, Gustavo, Sílvia e o Riacho.
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Zaap quis saber de tudo, pois seu autor só lhe havia dito que alguém pedira sua presença em outro livro, e que ele ira lá, onde seria informado pelo outro autor ou pelas personagens o que precisavam. Ah! e que levasse também o seu anel mágico para fazê-‐los viajar para outras terras. E era só isso. Agora esta ali e queria saber de tudo, tudinho mesmo, pois estava curioso.
Gustavo foi logo perguntando: — De que livro você é? — Sou de vários, meus amigos, cada hora estou num. Vivo mil
aventuras de milhares de autores. Eu estava distraído hoje na floresta quando ouvi uma voz me mandando vir para aqui ajudá-‐los, peguei meu anel, senti um puxão forte e um grande estrondo e num instante estava aqui.
— E você tem alguma coisa que possa levar-nos a Shangri-Lá? — perguntou Guga.
— Meu anel mágico, meu amigo! — e todo vaidoso mostrou o belo e reluzente anel com uma pedra que mudava de cor, do azul mais profundo ao vermelho mais encarnado. — Com este anel voaremos a qualquer parte do mundo.
— Que bom! — exclamaram juntos. Silvia e o Riacho. Os três então começaram a contar tudo, desde o dia em que o Riacho
falou com eles. Contaram sobre suas vidas, a amizade nascida entre eles e Shangri-Lá.
Zaap também ficou entusiasmado com a viagem e vibrava igualzinho aos três com a ideia de ir lá, pois era uma aventura nova para ele também. Alertou, porém, quanto a necessidade de preparativos, pois os meninos já queriam partir naquela hora. Advertiu-os quanto às possibilidades de caírem fora do lugar, das condições da volta e muitas outras coisas. Disse que talvez tivesse que voltar ao seu livro e aguardar um dia quando tivessem mais tempo, para não partirem., Quando falou no livro, os meninos perguntaram pelas outras personagens. Zaap foi descrevendo e nomeando – tinha Willow, Alice, a Fera, uma Cuca etc. O Riacho queria saber de tudo. Queria a história inteira.
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Sem essa de pedaços de história, ou só insinuações. Ele, quando contava, contava tudo, do princípio ao fim, e os meninos ainda queriam mais. Agora que eles tinham uma história que ele não conhecia, queriam ficar falando nomes e lugares sem lhe explicar!
— Assim não dá! Vamos contar tudo! — falou nervoso. Os três riram e Zaap decidiu contar pra eles toda a história.
Passaram assim todo o resto da tarde, o Riacho e os meninos deleitando-‐se com cada detalhe, cada palavra.
No final do dia, depois de muitas explicações e detalhes, voltaram a falar da viagem.
Zaap decidiu voltar ao livro e esperar pelo próximo sábado, quando teriam tempo de sobra para viajarem a Shangri-‐Lá. Esfregou o anel, disse uma palavra mágica e num segundo desapareceu, deixando os três com cara de espantados.
Eles ficaram ainda mais um pouco fazendo planos e comentando o ocorrido quando sua mãe gritou da janela chamando-‐os.
Despediram-‐se do Riacho e voltaram para casa. Era emoção demais! Puxa vida! Encontrar um duende em carne e
osso! Que inveja que a D. Tina, a professora, ia ter se soubesse! Ela era fã deles! Com a cabeça cheia de ideias e o coração rebentando de emoção, estavam confusos, sem saber o que era mais legal, planejar a viagem ou conhecer Zaap.
Neste clima de emoção intensa fizeram as coisas de rotina e foram dormir.
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CAPÍTULO VI
No outro dia era quarta-feira e, até chegar sábado, seus corações não iam aguentar. Até o Riacho estava impaciente e ansioso. Seu coração de água era mole e mais mole estava. Passaram aqueles dias numa agonia sem fim, torcendo para chegar a hora de viajarem. Na sexta-feira à noite, estavam tão excitados que todos perceberam.
— O que há com estes meninos? — perguntou a avó Zezé. — Não sei — disse a mãe. Eles estão assim há bastante tempo. Andam
cheios de segredinhos um com o outro, nem brigam mais, graças a Deus! — É, parecem mesmo muito felizes, nunca os vi assim! — exclamou a
avó. Eles haviam pedido à mãe para, no outro dia, almoçar no quintal, pois
estavam arrumando sua “caverna”, que ficava lá no fundo do quintal. Era um grande buraco entre umas pedras enormes, que a gente tinha de passar abaixado, mas lá dentro dava bem para ficar em pé e até cabiam umas cinco
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pessoas. Às vezes passavam horas na “caverna” ou “cabana”, como chamavam. Era um lugar também mágico para eles. Porém, depois da amizade com o Riacho, ainda não tinham voltado lá. Naquele dia, no entanto, essa era uma boa desculpa para ficarem fora de casa muito tempo e terem comida, sem ninguém notar. Estavam naquela hora na cozinha, preparando eles mesmo uns baitas sanduíches, biscoitos, doces, etc. que iam levar na viagem.
A espera da viagem era ao mesmo tempo difícil e deliciosa. Sabe, às vezes, os lugares são mais bonitos e interessantes quando pensamos neles, imaginamos antes de irmos, do que quando realmente lá estamos. Não sei se é o caso de Shangri-Lá.
Terminaram todos os preparativos e foram dormir. Estavam excitadíssimos! Sonharam toda a noite com a viagem e acordavam todo o tempo, com medo de perder a hora.
De madrugadinha, quando ainda nem tinha clareado, os dois ouviram o estrondo, pularam da cama, arrumaram-se rapidinho e desceram correndo as escadas rumo ao Riacho. Este também estava completamente transtornado. Até os peixes de suas águas, que de tudo sabiam, partilhavam aquela excitação. Ou melhor, todo o quintal sabia da interessante viagem. A galinhada toda, que já acorda mesmo cedo, naquele dia estava em peso na beira do Riacho e de olhos arregalados para ver a partida.
Zaap, que já havia chegado, conversava com o Riacho sobre como ele iria, pois sendo água não podia sair dali. Ao chegarem, inteiraram-se da conversa e ficaram tristes com este aspecto que não haviam pensado. Já iam desistindo da viagem quando o autor do livro interferiu, tendo uma ideia e mandando-a pela garrafa.
— Olhem, outra garrafa! — gritou Gustavo. — Traga-a pra cá — disse Zaap para o Riacho. E ele movimentou as suas águas para que a garrafa fosse até o alcance
das mãos deles. Eles imediatamente a pegara e leram: “Caros amigos, como seu autor, vou transformar o Riacho num menino.
É só ele se concentrar que parte de suas águas vai adquirir esta forma, um menino de água. Sua roupa será de água bem azul. Suas botas de água marrom escuro, e um belo chapéu de tirolez verde brilhante. Assim, sempre que ele for
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sair do seu leito poderá ter esta forma. O resto de suas águas continuará aqui dando vida às plantas e peixes. Aproveitem!”
Quando terminaram de ler, os três deram um grito de satisfação e olharam para o Riacho. Ele estava mudo, com a boca aberta e a cara de espantado. Foi mudando a expressão até cair na gargalhada. Nunca tinha ficado tão feliz. Apesar de percorrer o mundo todo, nunca tinha podido andar igual aos humanos. Começou a balançar toda a sua água numa alegria nunca vista. Tinha uma mamãe peixe, que acabara de dar a luz a uns trezentos peixinhos, que olhou para ele com a cara feia, pois ele estava espalhando seus filhos para todos os lados. O Riacho recompôs-se e conservando o sorriso pediu:
— Vamos logo pessoal, vamos partir já! Vou mostrar a vocês a terra dos sonhos, o paraíso. Vamos, vamos!
A animação era geral. Os três chegaram bem perto do Riacho e Zaap disse:
— Todos preparados? Vamos concentrar nossa imaginação em Shangri-Lá. Você, Riacho, pense mais forte, pois já esteve lá, e esfregou com força o anel.
Num instante, sentiram uma vertigem e tudo começou a rodar. Era como se tivessem entrado num túnel colorido que girava, girava e girava. De repente, tudo parou e os quatro viram-se num lugar totalmente diferente. A primeira coisa que olharam foi para o Riacho. Ele estava lindo. Era um belo menino todinho de água, tão diferente, parecia uma estátua de cristal, só que se mexia. Ele também ficou se olhando e se experimentando, mexeu com as pernas, os braços, tirou o chapéu, pegou em si mesmo e começou a pular de alegria. Ficaram ali entretidos com o novo Riacho e nem perceberam que uns meninos os estavam olhando. Um deles falou:
— Quem são vocês? Ainda não os conheço. Levaram um susto e o Riacho respondeu.
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— Somos do meu livro — O Riacho —, viemos conhecer Shangri-Lá. E vocês, quem são?
— Sou Luíza, este é o Vinícius, esse o Michel, aquela a Lívia, Antônio, Raquel e Leonardo. E este maior é....
— Fernando, eu sou o Fernandinho — falou o garoto. — Bem, e que lugar é esse? — perguntou o Riacho. — É Shangri-Lá? — É sim. Mas por que você assim? Parece uma estátua de cristal. Você
é de cristal? — quis saber o garoto maior. — E por que estão com este brilho em volta de vocês?
— Ei, espera aí! Uma pergunta de cada vez — disse Silvia. — Ele é o Riacho, nosso amigo que foi transformado num menino de água para poder vir aqui conosco.
— Riacho? — perguntou Leonardo com cara de espanto. — Como pode ser isso?
— É uma longa história —disse o Riacho. — Vamos contar pra vocês. E sentaram-se todos em uma grama macia e verde. Acima, um céu
resplandecente, e, em volta, uma sensação de leveza e felicidade que embriagava. Distraíram-se todos contando e ouvindo toda a história até aquele momento.
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CAPÍTULO VII
O Capitão sentiu naquele momento uma sensação estranha. Olhou para um lado, para outro e não conseguia definir aquela inquietação. Gritou pelo seu assistente:
— Rotondo, venha rápido aqui. Rotondo era um pobre diabo que adorava as maldades que seu patrão
fazia. Realizava-se em ajudá-lo a maltratar os outros e, juntamente com Dragão, o cachorro do Capitão, um buldogue feio e também maldoso, aprontavam mil e uma com meio mundo. Chegou ofegante e subalterno perto do capitão que, sentado na sua velha cadeira de encosto alto, batia na bota com o seu inseparável chicote de cabo de prata, onde havia esculpida uma cara de demônio com os dentes grandes saindo da bocarra.
O Capitão, com o vozeirão que fazia tremer a casa toda, foi dizendo: — Traga aqui o meu globo mágico, que alguma coisa está acontecendo. Rotondo trouxe cuidadosamente o globo de puro cristal e o colocou
numa mesa à frente do Capitão. Ele disse umas palavras mágicas e de repente uma fina névoa começou a envolver todo o ambiente. Ao mesmo tempo, uma
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luz começou a brilhar no globo e aos poucos a imagem dos garotos e do Riacho sentados na relva foi aparecendo. O Capitão deu um grito de entusiasmo e ficou pulando em volta do globo.
— Hoje é meu dia! Hoje é meu dia! — e continuou: — Miranda, Miranda, venha cá!
Miranda era sua mulher. Ela não gostava das maldades do Capitão, mas o que fazer? Quando podia tentava atrapalhar, ou melhor, ajudar as suas vítimas.
— Veja só aqueles garotos! Eles vieram com um duende e um anel mágico! Agora ele será meu. Vou toma-lo daqueles panacas.
O capitão era um homem grande com uma cara feia, sobrancelhas enormes e grossas entrando no olho. Tinha um nariz pontiagudo, como um bico de tucano. Uma cicatriz, feita por golpe de espada quando ele era mais novo, dava-lhe uma expressão de maldade. Vivia há mais de cento e cinquenta anos em Shangri-Lá e seu grande sonho era sair dali, e andar pelo mundo à caça de ouro e outras riquezas. A única forma de fazer isso e voltar era com algum tipo de mágica.
Em Shangri-Lá havia uma pedra enorme igual àquela do anel, uma pedra mágica que irradiava tudo aquilo, que dava aquele ar encantado e aquela felicidade sem igual. O diabo é que ninguém sabia onde ela ficava escondida. Só uma pessoa, o guardião da pedra, conhecia seu esconderijo, mas ninguém sabia quem era o guardião.
O Capitão já havia tentado descobrir inúmeras vezes com o seu globo mágico, mas a mágica da pedra era muito, mas muito maior que a de seu globo, e ele nunca nem chegou perto. Porém, agora que tinha visto aquele brilho mágico em volta dos meninos e por fim o anel com a pedra, iria toma-la deles, custasse o que custasse.
Chamou seu cão e o criado, pegou suas armas e saiu à procura dos meninos.
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CAPÍTULO VIII
Terminada a história, os meninos já tinham ficado amigos. Gustavo, curioso e lembrando-se da chegada, perguntou às crianças:
— Por que vocês falaram que a gente está com um brilho estranho? — Olha, não sei se vocês estão vendo, mas nós podemos ver um ligeiro
brilho em vocês, como se tivessem usado a magia da pedra? — falou Fernandinho.
— O que? — disse Zaap. — Como você sabe da minha pedra? Agora foi a hora das crianças contarem esta história para eles. Falaram
também do capitão e do perigo que corriam todos se ele tomasse - lhes o anel. Eles não se assustaram, pois não conheciam o Capitão, e pediram para ver Shangri-Lá. Saíram então felizes olhando tudo em volta. Tudo era lindo, resplandecente, com uma força de vida indescritível. As flores eram tão belas que davam até tonteira. O vento, o chão, o céu, tudo, tudo transmitia uma paz e uma sensação maravilhosa. Era impossível que ali houvesse alguém capaz de fazer alguma maldade. Mas havia o capitão...
Visitaram tudo, examinaram tudo, encontraram muita gente. Todos gentis, simpáticos e alegres.
Ficaram encantados com uma festa a que foram nos jardins do palácio do governador.
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Era inacreditável! Balas, bombons e pirulitos de todas as espécies,
cores e gostos e ainda um sorvete que ficava com o gosto que a gente queria. Era só fechar os olhos, imaginar firmemente e, quando abrisse, ele já tinha a cor e o gosto desejados.
Nossa! Isso era demais! Os meninos comeram, lamberam e empanturraram-‐se de tudo. O Riacho, que experimentara pela primeira vez todas estas guloseimas, não queria sair dali. Já estava ficando até deformado, com a barriguinha estufada de tanto comer. Estava com o rosto todo lambuzado de chocolates, cremes, açúcar e etc. Os meninos riam dele, mas também estavam da mesma forma. Eles queriam de todo jeito levar o sorvete mágico, mas isso era impossível. Ele só funcionava em Shangri-‐Lá.
Ficaram na festa um tampão. Roda-‐gigante, carroussel, barcos com pedalinhos, e até um minissubmarino tinha no lago para se brincar. Ah! Não havia mesmo nada igual! Só Shangri-‐Lá. Estavam felizes e maravilhados. Passaram algumas horas em êxtase.
Foram conhecer o governador Clóvis, que os recebeu e quis ouvir toda a história. Ele contou também uma história interessante de sua infância e ficou preocupado com o Capitão. Esqueceu-‐se porém de guardar para eles o anel e assim protegê-‐lo do malvado. Após saírem do palácio, estavam passeando pelo campo em volta quando ouviram um grito e deram falto do Gustavo. Ao mesmo tempo, ouviram uma voz forte e atrás deles apareceu o Capitão, dizendo:
— Entreguem-‐me o anel, ou não verão mais o seu amigo. Tentaram correr, mas Rotondo e o cão não deixaram. Zaap,
passando rápido, tirou o anel, estendeu-‐o e disse: — Eu te dou, se você nos entregar o Gustavo agora. Caso contrário, vou
jogá-lo no rio. — Espere — disse o Capitão, fazendo um sinal para o criado trazê-lo. Quando Gustavo chegou, Zaap fez um sinal para ele, jogou o anel
dentro do rio e todos saíram correndo. O Riacho deu uma piscada para o rio e imediatamente as águas
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esconderam o anel mágico. O Capitão, gritando, entrou no rio à procura dele: — Diabos! — esbravejava e, atolando-se na lama, procurava em vão. — Vai ver eles não jogaram. — disse Rotondo. — Foi só ilusão. Estes
pestinhas são espertos! — Pode ser — respondeu o Capitão. — Vamos atrás deles. Saíram correndo os três, o Capitão, Rotondo e Dragão. Os meninos
entraram numa cabana onde estavam outros meninos de Shangri-Lá. O Capitão, vermelho de raiva, gritou:
— Se não saírem agora, vou botar fogo nesta cabana. Eles, já sabendo de sua maldade, começaram a tremer de medo e
responderam que não tinham mais o anel. O Capitão não quis nem saber e começou a por fogo na cabana. A fumaça começou a sufocar as crianças e os pequenos começaram a chorar. Viram que iam mesmo morrer. De repente, o Riacho teve uma ideia. Chamou a todos e disse:
— Não tenham medo que vou tirar vocês daqui. Antes, porém, vamos enganar o capitão para ele pensar que morremos e não nos perseguir. Fiquem em silêncio.
Assim fizeram. Quando o Capitão não ouviu mais vozes nem choro, entrou na cabana enquanto os meninos saíam pelos fundos, protegidos por um túnel de água, que o Riacho fizera com seu corpo. Foi a continha de saírem. A cabana, com todo aquele fogaréu, desabou sobre o Capitão e virou uma fogueira só. Os meninos escaparam sem nenhum ferimento e emocionados abraçaram o Riacho, que estava morninho de tanto cercar o fogo. Foram para a cidade, contaram tudo ao governador, que mandou um monte de guardas ao local para prenderem o Capitão, se ele estivesse vivo.
De repente, aquela sombra de maldade que pairava sobre Shangri- Lá desapareceu e o encantamento e a felicidade aumentaram ainda mais.
Os meninos olharam as horas e viram que deviam voltar. Mas não queriam voltar tão cedo. Zaap deu a solução:
—Vamos fazer assim: eu vou deixar com vocês a metade do meu anel
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e, sempre que quiserem, poderão voltar a Shangri-‐Lá. — Por falar nisso — disse Silvia —, temos de busca-lo. — E se ele sumiu no rio? — perguntou Gustavo, preocupado. — Não se preocupem — disse o Riacho. — Ele está com as águas, isto
é, comigo. Emocionados, despediram-se de todos e foram para o rio pegar o anel. As crianças suas amigas e muitas outras foram acompanha-los até lá.
Eles foram os heróis do dia. Pegaram o anel e preparam–se para voltar. Zaap decidiu voltar dali mesmo para o seu livro. Dividiu o anel ao meio, deu uma parte para as crianças e ficou com a outra metade. Ensinou-lhes duas palavras mágicas e como usar o anel, e então esfregou o seu par ir embora. O estrondo aconteceu de novo e foi maior ainda, pois ele tinha de mudar de livro duas vezes.
As crianças assustaram-se e ficaram olhando admiradas. Agora era a vez dos três: Silvia, Gustavo e o Riacho. Firmaram o pensamento no quintal da casa, disseram as palavras e
esfregaram o anel. Deram adeus às crianças e sentiram de novo aquele turbilhão, como se estivessem rodopiado, rodopiando. Num segundo estavam no quintal e o Riacho com sua forma normal.
Haviam voltado!
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CAPÍTULO IX
Que aventura, aquela! Puxa vida, nunca mais iriam esquecer, tinha acontecido tanta coisa em tão pouco tempo que eles estavam até abobados. Até o Riacho estava meio tonto. Shangri-Lá, os meninos, Zaap, o Capitão, o fogo, o desabamento, nossa, era muita coisa!
A volta de Shangri-Lá, com a realidade do seu mundo, fez ainda mais espetacular o acontecido. Ficaram os três conversando sobre tudo até que a noite chegou e, mais uma vez, ouviram os seus nomes:
— Sílviaaa! Gustavooo! Vocês não enjoam deste quintal? Venham tomar banho. O jantar já vai ser servido. Vocês passaram o dia todo aí. Será que não se cansam de ficar neste quintal sem fazer nada? — chamava, da casa, Lena, sua mãe.
Os três deram uma risada gostosa e acharam que era mesmo hora de descansar.
Os meninos deram um beijo no seu grande amigo e ele lhes deu um abraço macio e molhado.
Subiram as escadas correndo para o banho. Assim foi por anos e anos a história dos três e, até hoje, se você
procurar, vai encontrá-los em algum lugar brincando, viajando e contando histórias maravilhosas.
FIM.
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