O ESTILO ROMÂNICO
Frontal da Diocese de Urgell, Museu de Arte da Catalunha, Barcelona
O trabalho nas oficinas da corte de Carlos Magno levou os artistas a superarem o
estilo ornamental da época das invasões bárbaras e a redescobrirem a tradição cultural e
artística do mundo greco-romano.
Na arquitetura esse fato foi decisivo, pois levou, mais tarde, à criação de um
novo estilo para a edificação, principalmente das igrejas, que recebeu a denominação de
românico. Esse nome foi criado, portanto, para designar as realizações arquitetônicas do
final dos séculos XI e XII, na Europa, cuja estrutura era semelhante à das construções
dos antigos romanos.
Arquitetura românica As características mais significativas da arquitetura românica são:
* abóbadas em substituição ao telhado das basílicas;
* pilares maciços que sustentavam e das paredes espessas;
* aberturas raras e estreitas usadas como janelas;
* torres, que aparecem no cruzamento das naves ou na fachada; e
* arcos que são formados por 180 graus.
A abóbada das igrejas românicas era de dois tipos; a abóbada de berço e a
abóbada de arestas.
A abóbada de berço era mais simples e consistia num semicírculo - chamado
arco pleno - ampliado lateralmente pelas paredes.
Abóbada de berço
Mas esse tipo de cobertura apresentava duas desvantagens: o excesso de peso do
teto de alvenaria, que provocava sérios desabamentos, e a pequena luminosidade
resultante das janelas estreitas; a abertura de grandes vãos era impraticável, pois estes
enfraqueceriam as paredes, aumentando a possibilidade de desabarem.
Por esses motivos, os construtores desenvolveram a abóbada de arestas, que
consistia na intersecção, em ângulo reto, de duas abóbadas de berço apoiadas sobre
pilares.
Abóbada de arestas
Com isso, conseguiram uma certa leveza e maior iluminação interna. Como a
abóbada de arestas exige um plano quadrado para apoiar-se, a nave central ficou
dividida em setores quadrados, correspondendo às respectivas abóbadas. Esse fato
refletiu-se na forma compacta da planta de muitas igrejas românicas.
Embora diferentes, esses dois tipos de abóbada causam o mesmo efeito sobre o
observador: uma sensação de solidez e repouso, dada pelas linhas semicirculares e pelos
grossos pilares que anulam qualquer impressão de esforço e tensão.
A primeira coisa que chama a atenção nas igrejas românicas é o seu tamanho.
Elas são sempre grandes e sólidas. Daí serem chamadas “fortalezas de Deus”.
Igreja de Santa Maria de Ripoll, Gerona
Como não havia grandes cidades no Ocidente, pois o centro da vida social havia
se deslocado para o campo, essas imensas igrejas eram erguidas em vilarejos calmos e
tranqüilos.
A explicação mais aceita para as formas volumosas, estilizadas, duras e
primitivas dessas igrejas é o fato de a arte românica não ser fruto do gosto refinado da
nobreza nem das ideias desenvolvidas nos centros urbanos. Trata-se de um estilo
essencialmente clerical, pois, com o enfraquecimento do poder do rei e o
desaparecimento de uma vida de corte, a Igreja tornou-se a única fonte de encomendas
de trabalhos artísticos.
A arte desse período passa, assim, a ser encarada como uma “extensão do
serviço divino (...) e uma oferenda à divindade”.
Durante a Idade Média, assim como hoje, havia muitas peregrinações a lugares
considerados santos. Muitas aldeias que ficavam na rota desses lugares construíram
igrejas para acolher os peregrinos, que tinham de percorrer longas distâncias até chegar
ao santuário desejado.
Dentre os lugares santos mais procurados estavam Jerusalém, onde Jesus Cristo
morrera; Roma, onde fica a sede da Igreja; e Santiago de Compostela, na Espanha, onde
se acredita que o apóstolo Tiago esteja enterrado.
A basílica de Saint-Semin, na cidade de Toulouse, era uma dessas igrejas de
parada obrigatória para os peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela.
Santiago de Compostela
Basílica de Saint-Semin
A planta dessa basílica corresponde a uma cruz com uma torre elevada no
cruzamento dos dois eixos.
Planta basílica de Saint-Semin
Para que os moradores da cidade pudessem assistir aos ofícios religiosos sem ser
perturbados pelos peregrinos que desejavam venerar as relíquias locais, a construção
dessa igreja apresenta importantes soluções arquitetônicas. Em torno da nave central foi
construído um corredor contínuo que também contorna num segmento curvo chamado
de ambulatório, o altar-mor. Esse corredor lateral e o deambulatório davam acesso às
capelas onde ficavam expostos os objetos sagrados e as relíquias que os peregrinos tanto
apreciavam, enquanto a nave central era ocupada pelas pessoas que desejavam apenas
assistir às cerimônias religiosas.
Numa época em que poucas pessoas sabiam ler, a Igreja recorria à pintura e à
escultura para narrar histórias bíblicas ou comunicar valores religiosos aos fieis. Um
lugar muito usado para isso eram os portais, na entrada do templo. No portal, a área
mais ocupada pelas esculturas era o tímpano, nome que recebe a parede semicircular
que fica logo abaixo dos arcos que arrematam o vão superior da porta.
Tímpano da Igreja La Madeleine
A arte românica do estilo de Cluny Em 910, foi fundada na cidade de Cluny uma abadia de beneditinos de onde
partiu um movimento de reforma que se estendeu por toda a cristandade nos séculos XI
e XII. No final do século XII, a congregação era constituída por mais de mil mosteiros,
espalhados por toda a Europa.
No final do século XVIII, a abadia - que tinha sido a maior igreja da Europa e
era sem dúvida uma obra-prima da arte românica - foi quase totalmente destruída, pouco
sobrando de seus edifícios e tesouros artísticos. Mas os religiosos da ordem de Cluny
desenvolveram muitas obras de arte que ainda podem ser apreciadas em seus mosteiros.
O mais característico do estilo cluniacense é o mosteiro de Saint-Pierre, em Moissac,
também no caminho para Santiago de Compostela.
A beleza das esculturas desse convento pode ser vista, por exemplo, nos capitéis
das colunas que cercam o claustro, decorados com folhagens, animais e personagens da
Bíblia. Encontra-se ainda em Saint-Pierre um dos mais bonitos portais românicos. O
grande tímpano, com um diâmetro de 5,68 metros, contém um conjunto de figuras
representando Cristo em Majestade, tal como é narrado por São João Evangelista, no
Apocalipse.
Claustro românico mosteiro saint-pierre
Tímpano românico mosteiro saint-pierre
Como o tímpano ê muito grande, os construtores da abadia colocaram uma
pilastra central, chamada tremzí, que divide a abertura da porta em duas partes iguais.
Essa pilastra também é decorada com esculturas representando animais e uma pessoa
descalça, identificada como o profeta Jeremias.
A arquitetura românica na Itália Diferentemente do resto da Europa, a arte românica na Itália não apresenta
formas pesadas, duras e primitivas. Por estarem mais próximos dos exemplos das
arquiteturas grega e romana, os construtores italianos deram às igrejas um aspecto mais
leve e delicado. Também sob a influência da arte greco-romana, procuram usar frontões
e colunas.
Um dos exemplos mais conhecidos dessa arte românica é o conjunto da catedral
de Pisa.
Conjunto da catedral de Pisa
Durante a Idade Média, os construtores italianos erguiam a igreja, o campanário
e o batistério como edifícios separados. Na catedral de Pisa, o edifício mais conhecido
do conjunto é o campanário, que começou a ser construído em 1174. Trata-se da famosa
Torre de Pisa, que se inclinou porque, com o passar do tempo, o terreno cedeu. O
elemento mais interessante dessa construção é a superposição de delgadas colunas de
mármore, que formam sucessivas arcadas ao redor de todos os andares do edifício.
O prédio da catedral, iniciado em 1063, tem uma planta em forma de cruz, com
uma cúpula sobre o encontro dos braços, A fachada da frente sugere a forma de um
frontão, que é uma característica dos templos gregos.
A Pintura Românica A pintura românica desenvolveu-se, sobretudo nas grandes decorações murais,
através da técnica do afresco (veja texto abaixo). Os pintores românicos não são, a rigor,
criadores de telas de pequenas proporções, mas verdadeiros muralistas. Essa
característica está ligada às formas da arquitetura, pois as grandes abóbadas e as
espessas paredes laterais com poucas aberturas criavam grandes superfícies, que
favoreciam a pintura mural.
Mural da Igreja de San Isidoro de Léon
Esses murais tinham como modelo as ilustrações dos livros religiosos, pois nessa
época era intensa nos conventos a produção de manuscritos decorados à mão, com cenas
da História Sagrada.
Para as igrejas e os mosteiros, geralmente eram escolhidos temas como a criação
do mundo e do homem, o pecado original, a arca de Noé, Cristo em majestade e os
símbolos dos evangelistas. Os motivos usados pelos pintores eram de natureza religiosa.
A pintura românica praticamente não registra assuntos profanos.
As características essenciais da pintura românica foram a deformação e o
colorismo. A deformação, na verdade, traduz os sentimentos religiosos e a interpretação
mística que os artistas faziam da realidade. A figura de Cristo, por exemplo, é sempre
maior do que as outras que a cercam. Sua mão e seu braço, no gesto de abençoar, têm as
proporções intencionalmente exageradas, para que esse gesto seja valorizado por quem
contempla a pintura. Os olhos eram muito grandes e bem abertos, para significar intensa
vida espiritual. O colorismo realizou-se no emprego de cores chapadas, sem
preocupação com meios-tons ou jogos de luz e sombra, pois não havia a menor intenção
de imitar a natureza.
Um exemplo muito característico desse tipo de pintura é o afresco pintado na
abside da igreja de San Clemente de Tahull, na Catalunha, Espanha. Denominado Cristo
em Majestade, esse mural tem no centro a figura de Jesus Cristo, cercado de anjos e dos
símbolos dos evangelistas.
Cristo em Majestade
Pintura “a fresco”: uma técnica antiga e
difícil de ser executada O termo “afresco”, hoje, é sinônimo de pintura mural. Originalmente, porém, era
uma técnica de pintar sobre a parede úmida. Vem dai o seu nome.
Nesse tipo de pintura, a preparação da parede é muito importante. Sobre a
superfície da parede é aplicada uma camada de reboco a base de cal, que, por sua vez, é
caberia com uma camada de gesso tina e bem lisa. E sobre essa última camada que o
pintor executa sua abra. Ele deve trabalhar com a argamassa ainda úmida, pois com a
evaporação da água, a cor adere ao gesso, a gás carbônico do ar combina-se com a cal e
a transforma em carbonato de cálcio, completando assim a adesão do pigmento a
parede.
O afresco se distingue das demais técnicas porque, uma vez seca a argamassa, a
pintura se incorpora ao reboco, tornando-se parte integrante dele. Nas outras técnicas, as
figuras pintadas permanecem como uma película aplicada sobre um fundo. Além disso,
como a parede deve estar úmida para receber a tinta, a camada de gesso é colocada aos
poucas. Assim, se alguma área já pronta não receber pintura, ela precisa ser retirada e
aplicada posteriormente.
Por esse motivo, observando um afresco de perto, podemos notar os vários
pedaços em que foi sucessivamente executado.
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