O EMPREGO DA CAVALARIA MECANIZADA BRASILEIRA EM AMBIENTE URBANO: ENSINAMENTOS COLHIDOS NO HAITI
Luiz Fernando Coradini
Carlos André Maciel Levy
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo destacar os principais ensinamentos colhidos para a Cavalaria Mecanizada Brasileira, fruto de sua atuação nos diversos contingentes da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH). A missão teve início em 1º de junho de 2004, com a aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, e se estende até os dias atuais. Desde o 1º Contingente Brasileiro da MINUSTAH há a participação de um Esquadrão de Fuzileiros Mecanizado (Esqd Fuz Mec), composto por elementos das Unidades de Cavalaria Mecanizada do Exército Brasileiro. Essa experiência tem se revelado rica em ensinamentos quanto ao emprego da subunidade e das frações mecanizadas, principalmente no tocante ao ambiente operacional urbano, em um cenário hostil em que, muitas vezes, foi necessário impor a paz. Palavras-Chave: Cavalaria Mecanizada, MINUSTAH, operações militares em ambiente
urbano, Haiti.
ABSTRACT: This paper aims to highlight the main lessons learned for the Brazilian Mechanized Cavalry, product of his performance in the various contingents of the UN Mission for Stabilization in Haiti (MINUSTAH). The mission started on June 1, 2004 with the sanction by the UN Security Council, and extends to the present day. Since the 1st Brazilian contingent of MINUSTAH there the participation of a Cavalry Squadron Mechanized, composed of Mechanized Cavalry Units of the Brazilian Army. This experience has proved rich in lessons about the use of mechanized subunit and fractions, especially with regard to operations in urban terrain, in a hostile scenario in which, often, it was necessary impose peace. Keywords: Mechanized Cavalry, MINUSTAH, military operations in urban terrain, Haiti.
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O EMPREGO DA CAVALARIA MECANIZADA BRASILEIRA EM AMBIENTE URBANO: ENSINAMENTOS COLHIDOS NO HAITI
A participação brasileira na Missão das Nações Unidas para a Estabilização
do Haiti (MINUSTAH) propiciou o emprego do maior contingente de Cavalaria no
exterior desde a 2ª Guerra Mundial (2ª GM), revelando-se uma experiência rica em
ensinamentos quanto ao emprego da subunidade e das frações mecanizadas,
principalmente no tocante ao ambiente operacional urbano, em um cenário hostil em
que, muitas vezes, foi necessário impor a paz.
Observa-se um crescente interesse pelo estudo de operações militares neste
tipo de ambiente, pois, nos conflitos mais recentes, verificou-se que o controle de
grandes áreas urbanas constitui-se em uma questão estratégica para a consecução
dos objetivos táticos e operacionais, uma vez que as cidades compreendem o
epicentro social, político, econômico e cultural de uma região. 1
Além disso, especialistas em tática e estrategistas políticos expressam uma
opinião comum ao afirmar que, na guerra do futuro, a maioria dos combates se dará
em teatros de operações urbanos.
Isso é justificável, pois o crescimento populacional e a franca expansão e
desenvolvimento das cidades, as transformam em objetivos capitais, capazes de
proporcionar consideráveis vantagens a quem os mantiver. A análise de conflitos
recentes como Beirute, Jerusalém, Chechênia, Grozny, Sarajevo, Kuwait e Bagdá,
confirmam essa assertiva.2
Portanto, como conseqüência natural do combate moderno, verifica-se que as
operações militares em áreas urbanas são uma necessidade, que trazem consigo
problemas com sérias implicações materiais, jurídicas, táticas e de opinião pública,
cuja inobservância poderá ser decisiva à força armada e ao país perante a
comunidade internacional. 1
Dessa forma, as experiências vividas por nossas tropas no Haiti estão sendo
muito úteis para o aperfeiçoamento de nossa doutrina, uma vez que o Brasil não é
empregado em combate real desde a 2ª GM.
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ANTECEDENTES
De 1º de janeiro de 1804, data de sua independência, aos dias atuais, o
Haiti vivenciou inúmeros conflitos internos que contribuíram para o agravamento
da instabilidade política e geraram uma atmosfera de conturbação da paz
social e de entrave ao desenvolvimento econômico do país. 3
No ano de 1994, o Conselho de Segurança (CS) da ONU autorizou o
desdobramento de uma força multinacional com cerca de 20 mil militares para
facilitar o retorno rápido ao poder das autoridades haitianas legítimas, promover a
segurança interna e a estabilidade do país e fomentar e garantir a implementação
do Estado de Direito.
No período de 1994 a 2000, apesar de avanços como a eleição democrática
de dois presidentes, o Haiti viveu mergulhado em crises. Devido à instabilidade,
reformas políticas profundas não puderam ser implementadas.
Nesse período, sucessivas missões da ONU estiveram presentes no Haiti a
começar pela MINUHA (Missão das Nações Unidas no Haiti), MANUH (Missão de
Apoio das Nações Unidas ao Haiti), MITNUH (Missão de Transição das Nações
Unidas no Haiti) e MIPONUH (Missão de Polícia Civil das Nações Unidas no Haiti). 8
A eleição parlamentar e presidencial de 2000 foi marcada pela suspeita de
manipulação pelo presidente Jean-Bertrand Aristide e seu partido. O diálogo entre
oposição e governo ficou prejudicado. Em 2003, a oposição passou a clamar pela
renúncia de Aristide. A Comunidade do Caribe, Canadá, União Européia, França,
Organização dos Estados Americanos e EUA, apresentaram-se como mediadores.
Entretanto, a oposição refutou as propostas de mediação, aprofundando a crise.
Em fevereiro de 2004, conflitos armados eclodiram em Gonaives, espalhando-
se por outras cidades nos dias subseqüentes. Gradualmente, os insurgentes
assumiram o controle do norte do Haiti. Apesar dos esforços diplomáticos, a
oposição armada ameaçou marchar sobre Porto Príncipe. Aristide deixou o País em
29 de fevereiro e asilou-se na África do Sul.
De acordo com as regras de sucessão constitucional, o presidente da
Suprema Corte, Boniface Alexandre, assumiu a presidência, interinamente. Boniface
requisitou, de imediato, assistência das Nações Unidas para apoiar uma transição
política pacífica e constitucional e manter a segurança interna. Nesse sentido, o
Conselho de Segurança (CS) aprovou o envio da Força Multinacional Interina (MIF)
que, prontamente, iniciou seu desdobramento, liderada pelos EUA. 9
4
Considerando que a situação no Haiti ainda constitui ameaça para a paz
internacional e a segurança na região, o CS decidiu estabelecer a Missão das
Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), que assumiu a
autoridade exercida pela MIF em 01 de junho de 2004.
Para o comando do componente militar da MINUSTAH (Force Commander)
foi designado o General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, do Exército Brasileiro.
O efetivo autorizado para o contingente militar foi de 6.700 homens, oriundos
dos seguintes países contribuintes: Argentina, Benin, Bolívia, Brasil, Canadá, Chade,
Chile, Croácia, França, Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Portugal, Turquia e
Uruguai. 9
A mais recente participação brasileira, iniciada em 2004, e estendida até os
dias atuais, encontra-se com o seu 13º Contingente em operações no Haiti.
A MINUSTAH caracteriza a maior participação brasileira em Missões de Paz
da ONU. Do início da missão brasileira até fevereiro de 2010, o efetivo militar
empregado vinha sendo, com pequenas variações entre os contingentes, o de um
batalhão quaternário do Exército Brasileiro acrescido de um Grupamento Operativo
do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil. Assim, cerca de 1.050 homens
compõem o efetivo do Batalhão Brasileiro de Infantaria de Força de Paz (B I F
Paz/Brazilian Battalion/ BRABATT) em Porto Príncipe, no Haiti. Desse efetivo, o
Exército Brasileiro possuía cerca de 850 homens e a Marinha do Brasil cerca de 200
homens. 3, 7
Além dessa tropa, o Brasil ainda participa da MINUSTAH com uma
Companhia de Engenharia de Força de Paz (Cia Eng F Paz).
Após o trágico terremoto que atingiu o Haiti em 12 de janeiro de 2010, foi
mobilizado o 2º Batalhão de Infantaria de Força de Paz (BRABATT2), sendo
constituído por 810 (oitocentos e dez) militares. 10
Em menos de um mês já estava com suas tropas chegando em solo haitiano.
Por levas, a partir de 10 de fevereiro o batalhão foi desdobrado em Porto Príncipe
para manter um ambiente seguro e estável, apoiar e desenvolver atividades de
assistência humanitária e apoiar a reconstrução das instituições do Haiti.
5
AMBIENTE OPERACIONAL
O Haiti é um país situado na América Central, banhado pelo Mar do Caribe,
que ocupa o terço ocidental da ilha Hispaniola (ou Ilha de São Domingos), possuindo
fronteira com a República Dominicana, a leste. O país possui uma superfície de
27.750 Km2 e sua capital é a cidade de Porto Príncipe. 4
Ele é uma ex-colônia da França, primeira república liderada por negros no
mundo e primeiro estado do Caribe a obter sua independência. Mas várias décadas
de ditaduras violentas e corruptas, como as de François “Papa Doc” Duvalier e de
seu filho, Jean-Claude, o “Baby Doc”, tornaram o país o mais pobre das Américas,
com uma população miserável e sem perspectivas.
Figura 1 – Mapa do Haiti 4
O terreno do Haiti consiste principalmente de montanhas escarpadas com
pequenas planícies costeiras e vales fluviais. O leste e a zona central é um grande
planalto elevado. A maior cidade é a capital, Porto Príncipe, com cerca de 2 milhões
de habitantes, sendo seguida por Cap-Haitien com 600 mil.
O Haiti encontra-se na placa Caribenha, que possui um pequeno tamanho
quando comparadas as placas Sul-americana e Norte-americana. Estas
"comprimem" a placa Caribenha e faz com que a região do Haiti se torne instável e
propensa a terremotos.
A cidade de Porto Príncipe caracteriza-se pela existência de uma grande
quantidade de favelas e de bolsões de miséria em seu interior. As favelas
6
apresentam construções de forma desordenada, com inúmeros becos e vielas, que,
por sua vez, também ramificam-se irregularmente, sem qualquer padrão definido. 5
ORGANIZAÇÃO DO ESQD FUZ MEC
O Esquadrão de Fuzileiros Mecanizado (Esqd Fuz Mec) integrante do
BRABATT é composto por cerca de 150 militares. Conta com 4 pelotões de fuzilieros
mecanizados (Pel Fuz Mec) e uma seção de comando. 5
Cada pelotão é composto por 3 grupos de combate mecanizados (GC Mec) e
um grupo de comando, todos embarcados em Viaturas Blindadas de Transporte de
Pessoal (VBTP) Urutu.
Ao todo, o Esqd Fuz Mec possui 16 VBTP Urutu, dois caminhões de 5 Ton,
uma viatura ½ Ton Land Rover e uma ambulância.
Figura 2 – Viaturas do Esqd Fuz Mec 5
O Pel Fuz Mec é constituído por 36 homens divididos em 3 GC e um Gp de
Cmdo, guarnecendo 4 VBTP Urutu. Todos os militares foram dotados de Pistola
9mm (Beretta ou Imbel) e Pára-FAL. Conduzia-se, também, armamento não letal,
como a espingarda Cal 12 (com munição de borracha) e o lançador de granadas M
600. Cada GC contava com um Sd Atirador, portando fuzil com luneta.
7
PRINCIPAIS MISSÕES EXECUTADAS
“Fomos ao Haiti achando que os inimigos seriam os ex-militares. Mas eram,
na verdade, as gangues. Havíamos nos preparado para uma missão militar, mas era
uma questão policial”, analisa um oficial que atuou no país. 13
Olhando em retrospectiva, o comandante das forças da ONU no Haiti de 2007
a 2008, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, divide a história da MINUSTAH em
dois momentos fundamentais. O primeiro, de 2004 a 2008, consistiu na luta contra
gangues que controlavam as favelas de Bel Air, Cité Militaire e Cité Soleil.
O objetivo era conquistar pontos estratégicos nas regiões e manter uma
presença ostensiva. Simultaneamente, houve uma investida para conquistar a
confiança da população. 13
Reduzida a violência, veio, então, a última – e mais decisiva – etapa,
intensificada a partir de 2008: o auxílio ao desenvolvimento e a reconstrução da
infraestrutura do país caribenho.
Dentre a gama de missões recebidas pelo Esqd Fuz Mec, podemos citar as
seguintes: patrulhamento em áreas de risco, ocupação de pontos fortes,
reconhecimentos, desaferramento de tropas engajadas, ocupação de posições
de bloqueio, vigilância de zona de ação, monitoramento de manifestações, escoltas
de comboios e autoridades, desobstrução de vias públicas e apoio às ações da
Polícia Nacional do Haiti, dentre outras. 5
Figura Nr 3 – Pel Fuz Mec realizando patrulha no Haiti
8
Desde o início das operações, uma das características do blindado – o
poder de choque – contribuiu para a atuação preventiva nas ruas de Porto Príncipe.
A ação dissuasória causada pela simples presença da VBTP colaborou para a
inibição de delitos e distúrbios, impondo respeito e arrefecendo ânimos.
Essa característica inerente à Cavalaria Mecanizada e Blindada foi
responsável também pelos bons resultados obtidos no monitoramento de
manifestações e no controle de distúrbios (aliado ao fato de o blindado propiciar
uma posição elevada de observação de multidões).
Em um ambiente de crescente hostilidade como o encontrado no Haiti,
principalmente a partir de meados de setembro de 2004, outra característica da
Cavalaria Mecanizada – a proteção blindada – destacou-se, sobretudo porque
possibilitava a realização de patrulhas em áreas de risco, operações de cerco tático
e incursões, minimizando o risco de exposição de militares.
A realização de operações de segurança de autoridades foi outra missão
executada com sucesso, como no caso do resgate do Embaixador francês em
agosto de 2004 e da visita do Secretário de Estado Norte-americano, Gen Colin
Powell, em novembro do mesmo ano. A blindagem da VBTP Urutu revelou-se
extremamente resistente aos impactos de armas leves (5,56mm, 7,62mm, etc).
Atuando em uma zona de ação que abrangia toda a região metropolitana de
Porto Príncipe, onde vários incidentes ocorriam simultaneamente, a mobilidade
da tropa mecanizada foi um fator determinante de êxito. Graças ao excelente
adestramento de motoristas e guarnições, os pelotões conseguiam locomover-
se com facilidade, apesar das distâncias, do trânsito caótico e dos bloqueios
realizados pelas forças adversas. As guarnições adquiriram grande experiência na
desobstrução de vias interditadas por barricadas, sem a exposição desnecessária da
tropa.
Em operações de cerco tático e de incursão, atuando em conjunto com a
UNPOL (Polícia das Nações Unidas) e com a Polícia Nacional Haitiana (PNH), os
blindados foram empregados ocupando posições críticas dentro de setores de
fundamental importância, fornecendo segurança às equipes encarregadas do
vasculhamento e de identificação de ameaças.
9
A ação de choque, a proteção blindada e a mobilidade, aliadas ao fato de que
as forças adversas não possuíam armas anticarro capazes de impactar as VBTP
Urutu, possibilitaram o emprego irrestrito da tropa mecanizada.
ENSINAMENTOS COLHIDOS
a. Emprego das VBTP
A VBTP Urutu mostrou ser eficiente e adequada às missões do Esqd Fuz Mec
empregado no Haiti. Entretanto, algumas modificações na estrutura da viatura
fizeram-se necessárias com o decorrer das operações.
Além das adequações operacionais para o emprego em ambiente urbano,
também houve a necessidade de adaptações técnicas na estrutura física dos
blindados. Dessa forma, a VBTP Urutu no Haiti incorporou três acessórios principais:
- a cabine de proteção blindada do motorista,
- a cabine de proteção balística do atirador da metralhadora; e
- a lâmina frontal para remoção de obstáculos, também conhecida como
removedora de barricadas ou limpa-trilho. 3
Figura 4 – VBTP Urutu adaptada 3
Sua proteção blindada mostrou-se eficiente para os calibres empregados pela
força adversa (F Adv), que na sua maioria era 5,56 mm. A blindagem mostrou-se
eficiente também para o calibre 7,62mm. 11
10
Figura 5 – Proteção blindada do motorista 11
Desde o 1° Contingente viu-se a necessidade da utilização de sacos de areia
para aumentar a área de proteção nas escotilhas, diminuindo o efeito dos estilhaços
e dos tiros diretos. Sua eficácia pôde ser testada em diversas oportunidades. 11
Figura 6 – Utilização de sacos de areia na VBTP 11
No tocante à manutenção, essas viaturas apresentaram confiabilidade ímpar,
tendo índices de indisponibilidade muito pequenos. Como referência disso, um
Urutu rodava cerca de 33 km/dia (aproximadamente 1.000 km/mês), enquanto que
no Brasil, nas unidades de origem, essa média é de cerca de 1 km/dia.
O maior problema residia na reposição de pneus. Em 6 (seis) meses de
operações do 1º Contingente foram perdidos 46 (quarenta e seis) pneus que
11
ficaram irrecuperáveis, rasgados, principalmente devido às ações de desbloqueio de
vias.
Figura 7 - Viatura Urutu realizando desbloqueio de via. 10
b. Emprego das Comunicações
Em relação às Comunicações, seu emprego revelou-se fundamental em todos
os níveis. Porém, em ambiente urbano, a comunicação em módulo FM tornou-se
muitas vezes ineficaz, até mesmo em pequenas distâncias, tendo sido a telefonia
celular amplamente utilizada.
As ligações entre as patrulhas e suas bases ou entre viaturas distantes mais
de 8 km eram realizadas por intermédio de antenas repetidoras, que possuíam
abrangência e canais pré-selecionados para cada sub-região de Porto Príncipe. 3
As ordens eram transmitidas via rádio, por intermédio de ordens
fragmentárias (O Frag), conforme preconizado pelo Centro de Instrução de
Blindados (CI Bld). 5
Foram necessárias adaptações nas antenas dos rádios, para sua melhor
utilização no interior de Cité Soleil, bem como houve a necessidade de revisão do
sistema de intercomunicação das viaturas. 13
As viaturas blindadas possuíam ainda um sistema de localização por satélite
que possibilitava ao C Com do Esqd Fuz Mec saber a posição exata do blindado em
qualquer ponto da Área Operacional de Responsabilidade (AOR) do batalhão. 3
12
c. Instrução e Adestramento
As guarnições dos blindados, provenientes de unidades de cavalaria
mecanizada, souberam tirar o máximo proveito das características do material em
todos os seus aspectos táticos, demonstrando a eficácia do adestramento executado
nas OM operacionais do Exército Brasileiro.
Como oportunidade de melhoria, verificou-se a necessidade do treinamento
dos motoristas em direção escotilhada (escotilha fechada), o que muitas vezes é
negligenciado nos exercícios. Da integridade física do motorista depende a
segurança de toda a guarnição. 5
A carência de motoristas, por vezes, apontou para uma apertada escala de
serviço. Dessa forma, identificou-se a necessidade de que outros militares, do
próprio GC, fossem também habilitados a dirigir blindados, uma vez que o intenso
ritmo de missões e o estresse resultante impunham uma demanda grande na escala
de condutores de VBTP.
d. Emprego Tático
A formação de forças-tarefa subunidade revelou-se bastante eficaz. A
situação demonstrou a aptidão dos Pel Fuz Mec para operações de combate às
forças adversas em cenário urbano. 14
Observou-se que os blindados transportavam a tropa com segurança e
ampliavam-lhe a capacidade de concentração e dispersão em curto espaço de
tempo, favorecendo seu emprego no local e hora que fosse mais adequada ao
cumprimento da missão. 14
Embora houvesse dificuldades e riscos, o patrulhamento a pé constituía em
um excelente complemento ao patrulhamento mecanizado, pois projetava a tropa no
interior da zona de ação, dificultando o homizio de forças adversas e restringindo-
lhes o movimento. 5
Além disso, o deslocamento a pé aumentava a visibilidade de nossos
soldados, contribuindo para o aumento da sensação de segurança da população
haitiana e para a obtenção de dados de inteligência necessários às operações
da tropa. 5
Durante os deslocamentos, para aproveitar melhor a proteção blindada das
VBTP, era utilizado o seguinte dispositivo: uma Vtr para realizar a segurança à
frente, outra para a retaguarda, mantendo-se a tropa a pé se deslocando entre as
13
Vtr, realizando a progressão ponto-a-ponto (uma técnica de progressão).
Permaneciam embarcados os atiradores de Mtr MAG, mais um militar por Vtr para
realizar a segurança das construções mais altas (lajes). 11
Figura 8 – Uso da proteção blindada das VBTP 10
É importante ressaltar que essas operações criaram condições para o
desenvolvimento de uma doutrina militar que contemplasse as técnicas de
intervenção de tropa em conflitos de baixa intensidade. Para tanto, cada contingente
vem apresentando significativa contribuição. 14
CONCLUSÃO
Este artigo teve por objetivo levantar os principais ensinamentos colhidos para
a Cavalaria Mecanizada Brasileira quanto à atuação em ambiente urbano, com base
na atuação de nossa tropa na MINUSTAH.
Como o assunto é extenso e ainda pouco explorado em nossa doutrina, não
se pretende, de forma alguma, esgotá-lo. Muitos outros aspectos cabem ser
estudados, bem como os aqui apontados, requerem aprofundamento, servindo de
estímulo para pesquisas futuras.
Além disso, como a missão ainda não tem um prazo definido para seu
término, novos ensinamentos estão sendo e ainda serão adquiridos pelas tropas que
constituem o Esquadrão Mecanizado no Haiti.
14
Buscou-se, antes de tudo, despertar o interesse de análise e de reflexão
sobre o emprego de frações de cavalaria mecanizada em operações urbanas – o
inexorável campo de batalha de nossos dias.
Em todos os depoimentos e experiências estudadas, observou-se que o Esqd
Fuz Mec tem sido uma peça de manobra fundamental para o Batalhão Brasileiro no
Haiti. Ele tem atuado como a ponta de lança nas diversas operações, destacando-se
pela sua Ação de Choque, Mobilidade, Flexibilidade e pelo seu grande poder
dissuasório.
Dessa forma, verifica-se que o emprego de blindados em missões dessa
natureza, além de factível, tornou-se imprescindível, conduzindo o pensamento da
Força Terrestre ao estabelecimento de uma doutrina de emprego atualizada e em
conformidade com o que é aplicado pelos demais exércitos.
AUTORES
Cap Cav Luiz Fernando Coradini. Possui os cursos de formação de oficiais de Cavalaria (AMAN, 2001); de especialização em Equitação, na Escola de Equitação do Exército (2008); realizou o Estágio Técnico de Leopard do CIBld (2005) e mestrado em Operações Militares (EsAO, 2010). Foi instrutor do Curso de Cavalaria da AMAN no período de 2005 a 2007. Atualmente está concluindo o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais na EsAO.
Maj Cav Carlos André Maciel Levy. Possui os cursos de formação de oficiais de Cavalaria (AMAN, 1995); de especialização em Educação Física pela Escola de Educação Física do Exército (1998); realizou o Estágio Tático de Blindados do CIBld (2005) e mestrado em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (2003). Atualmente é instrutor do Curso de Cavalaria da EsAO.
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REFERÊNCIAS
1. DOMINGUES, C. A.; SANTOS, F. S. Munições Especiais (inteligentes): uma concepção para o 2. DE ASSIS, I. U. Munições Especiais (inteligentes): uma concepção para o emprego da artilharia de campanha do Exército Brasileiro no combate em áreas urbanas. Dissertação (Mestrado em Ciências Militares) - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Rio de Janeiro, RJ, 2005. 3. PEIXOTO, R. A. A. Planejamento e Características do Emprego de Blindados na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti. Military Review. Julho-Agosto, 2009. 4. DOUGLAS. Mapa do Haiti. Disponível em: <http://www.sempretops.com/ informacao/mapa-haiti/>. Acesso em: 22 out 2010. 5. GEOVANINI, C. A. O Emprego do Esquadrão de Fuzileiros Mecanizado na Operação de Manutenção da Paz no Haiti. Military Review. Março-Abril, 2007. 6. BASTOS, E. C. S. Batalhão Haiti recebe novos veículos blindados de transporte de pessoal Urutu. Disponível em: < http://www.defesanet.com.br/ panoramahaiti/veiculos.htm>. Acesso em: 22 out 2010. 7. SANTORO, P. Jr. O Emprego do Pelotão de Fuzileiros Mecanizado na Garantia da Lei e da Ordem em Missões de Manutenção da Paz. Trabalho de Conclusão de Curso - Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Rio de Janeiro, RJ, 2008. 8. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Site da MINUSTAH. Disponível em: < http://www.un.org/spanish/Depts/dpko/minustah/>. Acesso em: 22 out 2010. 9. EXÉRCITO BRASILEIRO. Missão de Paz no Haiti. Disponível em: <http://www.exercito.gov.br/03ativid/missaopaz/minustah/bimg/banco.htm/>. Acesso em: 22 out 2010. 10. BRABATT. Site Soldados da Paz. Disponível em: <http://sangueverdeoliva.com.br/onu/>. Acesso em: 22 out 2010. 11. MEDEIROS, A. L. O Emprego do Pelotão de Fuzileiros Mecanizado no Haiti. Artigo para Revista do Exército Brasileiro, Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Rio de Janeiro, RJ, 2007. 12. PEREIRA, A. H. R. Haiti – Um retrospecto da participação do Brasil. Revista Sangue Novo, AMAN, Resende, RJ, 2007. 13. SIMON, R. Missão haitiana vira teste para Brasil. Disponível em: < http://www.forte.jor.br/2010/01/24/missao-haitiana-vira-teste-para-brasil/>. Acesso em: 22 out 2010.
16
14. GEOVANINI, C. A. Emprego de Blindados no Haiti – “Operação Liberté”. Revista Ação de Choque Nr 8, 2009.
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