ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
AT – 6 – HISTÓRIA MILITAR
MAUROCESARBARBOSACID
Rio de Janeiro 2016
O Chipre e sua importância geoestratégica durante a Guerra
Fria
RESUMO A ilha do Chipre é localizada no Mediterrâneo oriental, ao sul da Turquia. Possui uma
posição estratégica, entre três continentes (Europa, Ásia África), confirmada por diversas ocupações, que incluiu fenícios, egípcios, assírios, persas, gregos e romanos durante a Antiguidade. No século XVI entrou para a órbita otomana, passando à administração britânica em 1878. Dessas diversas ocupações, a ilha acabou composta por 70% gregos-cipriotas e 30% turcos-cipriotas. Nos anos 1930 começaram revoltas a favor de união com a Grécia. Em 1960, Chipre ganha sua independencia, ficando os britânicos com a soberania das bases de Akrotiri e Dhekelia. Em 1974, um golpe pró-Grécia depôs o governo legítimo cipriota, provocando a invasão da ilha pelos turcos, declarando defender os interesses dos turco-cipriotas. Até hoje o norte da ilha é ocupado militarmente pela Turquia.
Durante a Guerra Fria, Chipre foi utilizado como base de apoio para as ações das grandes potências. Os ingleses estavam perdendo todas suas colônias após a 2a Grande Guerra e precisava do petróleo vindo do Oriente Médio para sua reconstrução pós-guerra. Os Estados Unidos (EUA) tinham a ilha como melhor lugar para realizar o monitoramento de misseis da antigo União Soviética, podendo detectar um lançamento nuclear no momento que era realizado, sendo a manutenção da ilha vital para os interesses britânicos e americanos no Oriente Médio.
O objetivo do trabalho é apresentar um breve histórico deste país pouco conhecido no Brasil, para analisar sua importância específica durante a Guerra Fria, destacando a relevância da ilha como base de apoio para Grã-Bretanha e EUA.
O interesse pelo tema e a base inicial da pesquisa se deu por conta da experiência do autor como Observador Militar e Oficial de Ligação entre 2012 e 2013, além disso, aprofunda-se e em uma revisão bibliográfica em análises documentais e documentos oficiais da ONU da período.
Palavras-chave: Chipre, Guerra Fria, geopolítica, ONU, sociedade.
O CHIPRE E SUA IMPORTÂNCIA GEOESTRATÉGICA DURANTE A GUERRA FRIA
Mauro Cesar Barbosa Cid1
(ECEME/PPGCM)
1 INTRODUÇÃO
Chipre é uma pequena ilha no nordeste do Mediterrâneo. Com tamanho total de
9251 Km2, situa-se a 100 quilômetros a oeste da Síria, 60 quilômetros ao sul da Turquia e a
cerca de 320 quilômetros a leste da ilha grega de Rodes. Apresenta uma extensão de 227
km e 95 km de largura.
Devido a importante localização estratégica da ilha, o Chipre ao longo de sua história
foi parte de todos os império que controlaram o Levante2 - Assíria; Persa; o Império de
Alexandre, o Grande; Romano; Bizantino; Veneziano; Otomano e Britânico, passando
grande parte de sua existência sob domínio de potências3.
O presente artigo visa em um contexto histórico-militar, analisar a importância do
Chipre dentro da geopolítica mundial durante o período da Guerra Fria, destacando as
disputas internas das etnias existentes e concluindo sobre sua importância para o Brasil no
que tange seu posicionamento dentro das Nações Unidas e como liderança regional na
América do Sul. Durante a Guerra Fria, Chipre foi utilizado como base de apoio para as
ações das grandes potências, Grã Bretanha e Estados Unidos. A ilha foi vital para os
ingleses, que precisavam do petróleo vindo do Oriente Médio para sua reconstrução, já que
estavam perdendo todas as suas colônias após a 2a Grande Guerra. Os Estados Unidos
(EUA) tinham a ilha como melhor lugar para realizar o monitoramento de misseis da antigo
União Soviética, podendo detectar um lançamento nuclear no momento que era realizado.
O artigo é baseado na experiência do autor, Observador Militar e Oficial de Ligação
de setembro de 2012 a julho de 2013 na UNFICYP e em revisões bibliográficas em análises
documentais e documentos oficiais da ONU do período. 1Doutorando do programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, no Rio de Janeiro. Mestre em Operações Militares, Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, 2009. Bacharel em Ciências Militares, Academia Militar das Agulhas Negras, 2000. Observador Militar e Oficial de Ligação no Chipre (2012-2013). Participou em fevereiro de 2014 de reconhecimento junto ao Exercito Espanhol no Líbano (UNIFIL). 2Levante é um termo geográfico impreciso que se refere, historicamente, a uma grande área do Oriente Médio ao sul dos Montes Tauro, limitada a oeste pelo Mediterrâneo e a leste pelo Deserto da Arábia setentrional e pela Mesopotâmia. 3 Koremenos, Barbara. “Sustainable Peace Agreements in the Age of International Institutions: The Case of Cyprus.” In No More States? Globalization, National Self- Determination, and Terrorism, edited by Richard N. Rosecrance and Arthur A. Stein, 207-220. Lanham, MD: Rowman & Littlefield Publishers, Inc., 2006.
2 HISTÓRIA DO CHIPRE
2.1 Dominação estrangeira no Chipre
Em 1571, a ilha foi ocupada pelo império Turco Otomano, que permaneceu em seu
território por três séculos, trazendo consigo as minorias turcas e lançando as bases para os
futuros problemas da ilha. Ciente de suas debilidades e visando obter proteção contra uma
possível invasão Russa, os Otomanos arrendaram Chipre à Grã-Bretanha em 4 de Junho de
1878 durante o Congresso de Berlim4.
O primeiro-ministro britânico, Benjamin Disraeli, acreditava que a Grã-Bretanha tinha
adquirido um lugar a partir do qual os interesses da Grã-Bretanha poderiam ser
asseguradas. No entanto, essa previsão não se configurou, e o Chipre foi ofuscado pela
aquisição do Egito, que forneceu ao Império Britânico bases militares muito superiores. A
ilha tornou-se um grande prejuízo e de nenhum interesse5.
A partir de 1878, os líderes da Igreja Ortodoxa do Chipre, força sócio-política e
econômica mais poderosa da ilha, viu seus novos mestres coloniais como aliados em sua
busca por Enosis6. O desejo desenvolvido dentro da comunidade grego-cipriota foi resultado
direto da “consciência de pertencer a cultura e civilização grega"7, que foi mantido vivo pela
Igreja ao longo de trezentos e sete anos de domínio otomano do país. A crença de que a
Grã-Bretanha seria simpática ao desejo do Chipre de se unir a sua pátria-mãe estava ligada
ao fato dos britânicos terem apoiado a independência grega no começo do século XIX.
Em 1915, a Grã-Bretanha ofereceu o Chipre para a Grécia com a condição de que
este se tornaria seu aliado durante a Primeira Guerra Mundial. Rei Constantino, acreditando
que uma vitória alemã poderia ser provável, rejeitou a oferta8. Oito anos mais tarde, no artigo
20 do Tratado de Lausanne9, a República recém-fundada da Turquia renunciou qualquer
pretensão de soberania sobre Chipre em favor da Grã-Bretanha e dois anos depois a ilha foi
declarada colônia da coroa britânica. Chipre ficou inerte por vários anos e teve pouca
utilização militar durante a 2a Guerra Mundial.
4 Tocci, Nathalie and Tamara Kovziridze. “Cyprus.” In Europeanization and Conflict Resolution: Case Studies from the European Periphery, edited by Bruno Coppieters, et al., 89-133. Gent: Academia Press, 2004. 5 PRO: Foreign Office (FO) 371/130112, RGG1051/23G, ‘Policy on Cyprus’, Bermuda Conference, 21 March 6 Enosis refere-se ao movimento da população greco-cipriota para incorporar a ilha de Chipre à Grécia. 7 Holland, R., Britain and the Revolt in Cyprus, 1954-1959, (Oxford: Clarendon Press, 1998), 8 Storrs, R., Orientations, (London: Ivor Nicholson & Watson, 1937), p.542. 9 O tratado de Lausanne é um tratado de paz firmado em 24 de julho de 1923 que levou ao reconhecimento internacional da nova República da Turquia como sucessora do extinto Império Otomano e anulou o tratado de Sèvres, de 1920.
O confronto com o regime colonial foi iniciado pela EOKA10 (Ethniki Organosis
Kyprion Agoniston), liderado pelo General George Grivas, uma organização guerrilheira
grego-cipriota. Grã-Bretanha. No final do ano 1950, a Grã-Bretanha reajustou a sua política
imperialista e concordou com a independência da ilha. O líder grego-cipriota, arcebispo
Makarios III, aceitou a independência, ao invés do esperado Enosis. Os países "mãe",
Grécia e Turquia, envolveram-se diplomaticamente com a criação de uma Constituição para
a República independente do Chipre11.
2.2 A independência e a divisão das duas comunidades
A Constituição de 1960 foi um acordo extremamente complicado que não conseguiu
unir o governo e seu povo em uma nacionalidade cipriota unida. Em vez disso, seus
elementos reforçaram a separação das duas comunidades. A estrutura da presidência e
legislativo bicameral ajudou a acentuar as divisões culturais, definindo políticos, posições e
representações como turco-cipriota ou grego-cipriota12. Os turcos-cipriotas exigiram ser
reconhecidos como uma entidade igual ao lado da maioria grego-cipriota e querendo
também uma divisão correspondente do poder, a fim de proteger seus direitos e interesses
políticos. A fim de satisfazer estas exigências da Constituição, criou uma Presidência grega-
cipriota e uma Vice-Presidência turco-cipriota, com direito de veto. Além disso, o acordo
ditava que os turcos tivessem 30% de todas as posições no serviço público e 40% do
exército. Estes percentuais não refletiam o percentual demográfico do Chipre 13 . No
momento da independência em 1960, os turcos-cipriotas turcos compreendiam somente
18% da população e os gregos-cipriotas de 80%14.
A Constituição foi, portanto, concebida para a segurança dos direitos de grupo
étnicos, ao invés dos direitos individuais dos cipriotas e assim estabeleceu-se uma
constituição propensa a impasses15.
Um ponto importante sobre a Constituição de 1960 envolve os três tratados
importantes anexados ao acordo: Os Tratados do Estabelecimento, da Aliança e da
10 Organização Nacional de Combatentes Cipriotas. 11 Tocci, 66-67 12 Coufoudakis, Van, Cyprus: A Contemporary Problem in Historical Perspective, Minnesota Mediterranean and East European Monographs, Minneapolis, MN, 4. Toc 13 Lindley, Daniel, “Historical, Tactical, and Strategic Lessons from Partition in Cyprus, International Studies Perspectives, 2007, 229.
14 Tocci, 68. 15 Lindley, 224
Garantia. O Tratado do Estabelecimento criou as bases de soberania britânicas (SBA)16,
Episkopi e Dhekelia, áreas que permaneceriam sobre controle britânico.
O Tratado de Garantia visava "garantir a independência, a integridade territorial e a
segurança" da República do Chipre e evitar que as duas comunidades alcançassem Enosis
ou Taksim17. A parte fundamental deste Tratado é o artigo 4, que afirma que: "Cada um dos
três poderes se garantem o direito de tomar medidas com o único objetivo de restabelecer o
estado de coisas criadas pelo presente Tratado."18 Isto tornou-se fundamental em 1974,
quando a Turquia apoiou-se neste artigo para legitimar a sua intervenção militar e utilizar a
força. O Tratado de Aliança foi concebido como um pacto de defesa para manter a paz e a
segurança na ilha, permitindo a presença de tropas gregas, turcas e britânicas.
A Constituição de 1960 trouxe um fim à luta anti-colonial, mas não trouxe uma paz
permanente para a ilha. Os gregos cipriotas, sob a liderança do Presidente Makarios,
estavam descontentes com o acordo de independência tendo por ter sido imposta
externamente, sendo considerada uma traição à causa Enosis, fazendo concessões
generosas demais para o turco-cipriotas.19
Os turcos-cipriotas, liderados pelo Vice-Presidente Fazil Kutchuk, também estavam
descontentes com o acordo final e mantiveram-se preocupados com a segurança da
existência de sua comunidade e de seus direitos políticos. Esta insatisfação e a estrutura da
Constituição reforçou a divisão entre os dois grupos. Como resultado, os conflito entre
turcos e gregos-cipriotas continuaram a nível político com as duas comunidades se
esforçando para criar sua própria força policial, exército e serviço público. Além disso, as
duas comunidades não concordavam com as divisões dos impostos, os limites da
municipalidade da língua turca, ou o processo de confecção das leis dentro do legislativo.
Makarios começou uma campanha para construir apoio internacional para alterações
à Constituição cipriota através de visitas a países não-alinhados e soviéticos. Ele também
desenvolveu o apoio interno do partido comunista de Chipre, AKEL, que ganhou força nas
áreas rurais do país. Com esses movimentos aumentaram as preocupações dos EUA sobre
a influência soviética no Mediterrâneo Oriental.
16 Sovereign Base Areas (tradução livre do autor) 17 Era o objetivo dos turcos-cipriotas que apoiaram a divisão da ilha de Chipre em partes turcas e gregas, um conceito declarado em 1957 pelo Dr. Fazil Küçük. Os adeptos turcos da taksim acreditavam que a partição era a única maneira de garantir que Chipre teria sempre uma presença turca e para evitar a assimilação ou suposta limpeza étnica da população turca da ilha, devido à sua população de maioria grega. 18Carment Carment, David, et al. Who Intervenes? Ethnic Conflict & Interstate Crisis. Columbus, OH: The Ohio State University Press, 2006. 19 Tocci, 68
Em 30 de novembro de 1963, Makarios revelou sua proposta de alteração da
constituição. Seriam treze pontos para alterar a Constituição cipriota, baseados na real
divisão percentual da população. As alterações incluíram revisões controversas nas forças
armadas, forças policiais e os serviços públicos; a remoção do direito de veto do Presidente
e Vice-Presidente; a abolição dos municípios de língua turca. A Turquia, falando em nome
dos turcos-cipriotas, rejeitou as propostas e as tensões dispararam em toda a ilha20. Os
turcos-cipriotas deixaram o Governo em protesto e se agruparam em enclaves. Em 1 de
Janeiro de 1964, Makarios declarou que os tratados de Aliança e Garantia não eram mais
válidos21.
2.3 Aumento da Crise
No início de fevereiro de 1963, a situação na ilha havia se deteriorado e confrontos
entre as comunidades aumentaram em intensidade. Neste momento, os americanos e
britânicos começaram a discutir e apoiar as tentativas turcas para separar as duas
comunidades22. O secretário de Estado americano, George Ball e outras autoridades de
Washington elaboraram um plano de contingência que iria "permitir que a Turquia invadisse
Chipre e ocupasse uma grande área do norte da ilha ... para proteger os cipriotas turcos”
Esta invasão deveria ser cuidadosamente controlada, baseada no Tratado da Garantia,
sendo consistente com o direito da Turquia de proteger sua comunidade. Da mesma forma,
buscaria convencer Makarios a aceitar uma Força de Manutenção da Paz, constituído por
tropas dos Estados Unidos e Grã-Bretanha, que iria proteger a vida da minoria turca e evitar
um confronto armado com a Grécia23. No início de março, a ONU concordou em criar uma
Força de Manutenção da Paz das Nações Unidas (UNFICYP) "para preservar a paz e a
segurança internacional” 24 e que deveria "usar seus melhores esforços para evitar a luta e
contribuir para a manutenção da lei e da ordem para um retorno às condições normais."
Depois de negociações importantes, a força foi composta de tropas britânicas (2750),
canadenses (1000), filandesas (1000), suecas (1000), e dinamarquesas (1.000). Além disso,
20 O’Malley, Brendan and Ian Craig. The Cyprus Conspiracy: America, Espionage and the Turkish Invasion. New York: I.B. Tauris & Co Ltd, 1999. 21 Alan James, Keeping the Peace in the Cyprus Crisis of 1963-64 (New York: Palgrave, 2002), 68 22 O’Malley, 94
23 Mallinson, William. Cyprus: A Modern History. New York: I.B. Tauris & Co Ltd, 2005. Miller, James E. Foreign Relations of the United States, 1964-1968: Volume XVI, Cyprus; 24 Resolução 186 do Conselho de Segurança das Nações Unidas (S/5575), aprovada em 4 de março de 1964
essa mediação foi patrocinada pelas Nações Unidas e seria conduzida pelo Dr. Galo Plaza,
ex-presidente do Equador25.
As tensões entre as comunidades continuaram durante toda a primavera, apesar da
presença da UNFICYP. Em 1o de junho de 1964, Makarios declarou que todos os cipriotas
gregos entre as idades de dezoito e cinquenta estavam convocados para o serviço militar
obrigatório, a fim de criar uma nova Guarda Nacional. Turquia respondeu com os
preparativos para uma invasão em larga escala de Chipre. Em 5 de junho, no entanto, o
presidente dos EUA, Lyndon Johnson, enviou ao líder turco Ismet Inonu uma nota "brutal",
afirmando26.”
“Eu espero que você entenda que se a Turquia der um passo que resulte em uma intervenção soviética, sem o pleno consentimento e compreensão dos aliados, talvez os membros da OTAN tenham que considerar a obrigação de proteger a Turquia contra a União Soviética” 27
A carta convenceu Inonu a esperar 24 horas antes de iniciar um plano de
intervenção. Durante o intervalo, os acordos foram alcançados para começar conversações
entre os gregos e os turcos sem a participação de Makarios. A crise havia sido evitada.
As negociações começaram entre os gregos e os turcos, mas foi impossível de se
chegar a um consenso devido as posições polarizadas. Para piorar. No início de agosto, a
Guarda Nacional grego-cipriota atacou posições turcas-cipriotas e a ilha irrompeu em caos
mais uma vez. Dean Acheson, Secretario de Estado dos EUA, estava frustrado com a falta
de acordo e tentava utilizar a OTAN para pressionar gregos e turcos. Se essa tática
falhasse, os EUA insistiam que a luta deveria ser confinada à ilha, não envolvendo armas
norte-americanos, e não permitindo que a Grécia e a Turquia usassem a violência uns
contra os outros28.
O plano de contingência americano foi descrito como um fato consumado e como o
único caminho possível para alcançar a paz. Essa afirmação é baseada em uma nota de
uma reunião geral para o presidente Johnson antes de uma reunião do Conselho de
Segurança Nacional em 19 de agosto.29 Argumentam que o plano não foi utilizado em 1964
por causa da "preocupação com o perigoso rumo dos acontecimentos no Vietnã." Assim, a
25 James, Alan. Keeping the Peace in the Cyprus Crisis of 1963-64. New York: Palgrave, 2002. 26 James, Alan. Keeping the Peace in the Cyprus Crisis of 1963-64. New York: Palgrave, 2002. 27Letter from President Johnson to Prime Minister Inonu, via telegram, June 5, 1964, Papers of Lyndon B. Johnson, National Security File, Head of State Correspondence, Lyndon Baines Johnson Library, Austin, Texas. 28Stern, Laurence. The Wrong Horse: The Politics of Intervention and the Failure of American Diplomacy. New York: Times Books, 1977. 29Ball, George W., The Past Has Another Pattern (W. W. Norton, New York, 1982)
discussão da crise 1964 termina com a declaração ameaçadora que os "planos secretos
para dividir Chipre entre a Grécia e da Turquia, se necessário pela força, foram deixados na
prateleira por agora."30
Entre 1965 e 1966, Chipre experimentou um período de “paz instável” com as
negociações intercomunitárias progredindo lentamente. Os turcos-cipriotas continuavam a
operar sua própria administração fora do governo internacionalmente reconhecido da
República de Chipre. As duas comunidades estavam absolutamente divididas e a Green
Line 31 da UNFICYP estava porosa, e incidentes intercomunais poderiam facilmente
aumentar32.
A situação política na ilha piorou com o golpe militar na Grécia em 21 de abril de
1967. Assumiu o governo grego, George Papadopoulos, de extrema-direita que desenvolveu
uma postura agressiva e nacionalista na questão do Chipre. A situação da ilha recrudesceu
novamente depois que as forças gregos-cipriotas liderados por George Grivas lançaram
ataques em duas aldeias turcos-cipriotas, Ayios Theodoros e Kofinou, em novembro de
1967. Com o incidente, a Turquia voltou a mobilizar forças para uma intervenção. Os EUA
enviaram Cyrus Vance em uma missão diplomática para convencer a Turquia a recuar e
evitar a guerra no seio da OTAN. A Turquia exigiu a retirada de todas as forças gregas
superiores aos limites fixados no Tratado de Aliança, um total de 10.000 soldados, bem
como a remoção de Grivas. A Grécia concordou e a crise foi evitada, pelo menos naquele
momento33.
Em janeiro de 1966, o secretário Rusk renovou a recomendação dos Estados Unidos
que "neste momento, é necessário a retomada da mediação ativa da ONU". Assim, os EUA
acreditavam que a ONU deveria ser o principal mediador e a Enosis não seria uma opção
válida. 34 A Turquia, no entanto, não concordou com esta avaliação e, o novo ministro das
Relações Exteriores turco, Caglayangil, exigiu um envolvimento mais significativo dos EUA.
O Departamento de Estado, no entanto, respondeu com uma mensagem que se recusando
30O’Malley, 119 31 Linha que dividia as duas comunidades na cidade de Nicosia. Foi estabelecida pela primeira vez em 1964, quando o major-general Peter Young foi o comandante da Força de Paz britânico (um antecessor da atual força da ONU), criada na sequência da violência intercomunitária da década de 1960. Depois de estacionar suas tropas em diferentes áreas de Nicósia, o general desenhou uma linha de cessar-fogo em um mapa, que viria a ser conhecida como a "Linha Verde" 32Jon Calame and Esther Charlesworth, Divided Cities: Belfast, Beirut, Jerusalem, Mostar, and Nicosia (University of Pennsylvania Press, 2011) p133 33 Memorandum of conversation, DSCF, POL 27, NARA, MD. 34State Department to the Mission to the UN, teleg., January 29, 1966, DSCF, POL 27-14 CYP/UN, NARA, MD. This telegram was also sent to Athens, Ankara, Nicosia, London, and Paris
a endossar um envolvimento significativo EUA. Ball declarou: "O governo dos Estados
Unidos se solidariza com aqueles que sofrem dificuldades como resultado de condições
instáveis na ilha", e, "Os EUA estão seguindo de perto e incentivando os esforços de
representante do Secretário-Geral das Nações Unidas, Embaixador Bernardes, para gerar
uma melhoria as condições na ilha” 35.
As negociações não conseguiram atingir seus objetivos e a violência irrompeu
novamente em novembro de 1967. Em 17 de novembro, o presidente Johnson enviou uma
mensagem ao Arcebispo Makarios apelando para "fazer tudo dentro do poder de seu
Governo para reduzir a ameaça à paz que paira sobre região"36. Ele também enviou uma
mensagem semelhante à Caglayangil, que respondeu:
“A essa hora eu esperava que uma mensagem diferente proveniente de um país com o qual temos um destino comum... Eu esperava que, dada esta situação os nossos amigos americanos viriam e nos diriam que eles lamentam ter impedido uma iniciativa turca e iriam dizer: 'Agora a decisão é sua.'”37
A mensagem de Johnson não atendeu às expectativas turcas. Os turcos exigiram a
retirada imediata de todas as tropas gregas e os EUA enviaram o subsecretário de Defesa,
Cyrus Vance, para negociar um cessar-fogo a partir de 23 de novembro. Entretanto, Rusk
enviou um telegrama a todos os embaixadores envolvidos afirmando a preocupação com o
atrito entre membros da OTAN.
“Nós não precisamos pedir desculpas a qualquer um dos governos pela pressão para mantermos a paz. Nossa responsabilidade é assegurar que os interesses nacionais dos EUA.” 38
Rusk deixou claro que a estabilidade e a prevenção da guerra entre os aliados da
OTAN era o objetivo final.
Vance foi capaz de alcançar um cessar-fogo que envolveu a remoção de todas as
tropas gregas a partir de Chipre. O Departamento de Estado elogiou Vance por seus
esforços e afirmou que "sem a sua atividade, a Turquia estaria agora em guerra com a
Grécia." 39
A crise foi evitada e o cessar-fogo mantido. Em janeiro de 1968, os EUA começaram
a discutir sua estratégia para o Chipre, mais uma vez. Rusk recomendou que os EUA quer 35Memorandum of conversation, February 21, 1966, DSCF, POL 27, NARA, MD 36Memorandum of conversation, February 21, 1966, DSCF, POL 27, NARA, MD 37Turkey to State Department, teleg., November 18, 1967, ibid. 38State Department to Turkey, Greece, Cyprus, November 23, 1967, ibid. 39Summary Notes of the 578th Meeting of the National Security Council, November 29, 1967, National Security File, NSC Meetings File, Vol. 4, Lyndon B. Johnson Library, Austin.
fornecessem "um forte apoio para a mediação das Nações Unidas ... solução a longo
prazo." 40
À luz destas recomendações americanas, a proposta foi apresentada para uma
conferência entre Grécia, Turquia, gregos-cipriotas e representantes turcos-cipriotas. A
conferência tentaria discutir uma constituição viável para o Chipre.
2.4 A calmaria antes da crise
Presidente Richard Nixon que assumiu a presidência dos EUA em 1968 era um
fervoroso anticomunista. Ele normalizou as relações com a junta grega e restaurou a ajuda
militar ao país. A aproximação do presidente cipriota, Makarios, aos países não-alinhados e
aos soviéticos desagradavam Nixon e Kissinger, Secretario de Estado, que incentivavam o
afastamento do presidente Makarios. 41
Este período também é notável pelo o número de atentados a Makarios. O primeiro
incidente foi um ataque contra seu helicóptero pessoal em março de 1970, em que Stern e
Hitchens sugerem ter tido a participação da Central Intelligence Agency (CIA)42. O Arcebispo
conseguiu escapar do fogo ileso. Em 1972, um grupo de bispos da Igreja Ortodoxa Grega
exigiu a renúncia Makarios da Presidência, uma vez que entrava em conflito com as suas
funções eclesiásticas.
Mais duas tentativas foram feitas ainda naquele ano. A primeira teria sido organizada
pelo general George Grivas, enquanto a segunda, minas terrestres explodiram momentos
antes da passagem do carro do presidente. Estas tentativas de assassinato foram
creditadas a Junta Grega, através de seus oficiais na Guarda Nacional grego-cipriota.
Um mês depois, em junho de 1971, Makarios fez uma visita de oito dias à União
Soviética para ganhar ainda mais apoio à integridade territorial e independência de Chipre.
Enquanto isso, o general Grivas regressou ao Chipre, possivelmente com o apoio da junta
grega e começou a reorganizar as forças de EOKA em um novo grupo, EOKA-B. As
preocupações dos EUA sobre a influência comunista sobre Chipre já eram elevadas, mas
atingiram o seu pico no início de 1972, quando Makarios adquiriu uma quantidade
significativa de armas da Tchecoslováquia para sua força policial43.
40Rusk to Johnson, memorandum, January 17, 1968, DSCF, POL 27, NARA, MD 41O’Malley, 132 42Stern, 71 43HITCHENS, Christhoper, The Trial of Henry Kissinger, 87, Verso 2002, USA
O'Malley e Craig afirmam que os britânicos não estavam cooperando com os EUA
sobre suas instalações, particularmente durante a Guerra do Yom Kippur44. Na verdade, os
britânicos supostamente negaram a utilização do aeródromo em Akrotiri os EUA, a fim de
apoiar os israelistas. Além disso, O'Malley e Craig argumentam que os britânicos queriam
remover todas as forças militares de Chipre até julho de 1974, com base em informações de
um conselheiro político do Secretário do Exterior: "os americanos não podiam ter certeza de
que a Grã-Bretanha iria deixá-los usar as instalações de Chipre quando eles mais
precisavam”. Isto supostamente teria contribuído para as preocupações dos EUA sobre os
seus interesses estratégicos no Chipre e os convenceu da necessidade de um golpe militar
na Grécia bem como uma invasão turca na ilha para garantir seus interesses45.
2.5 O ano de 1974 – A invasão turca
O tumultuado ano de 1974 começou com a morte do lendário líder EOKA e EOKA-B,
George Grivas. Para complicar ainda mais a situação, as relações entre a Turquia e a
Grécia pioram devido a problemas de exploração do direito de exploração do petróleo e o
controle territorial das ilhas do Mar Egeu.
Após a série de tentativas de assassinato, em 1º de julho, Makarios tentou reduzir a
participação da Grécia no tamanho da Guarda Nacional. No dia seguinte, ele enviou uma
carta aberta ao impotente presidente grego, Phaedon Ghizikis, afirmando: "mais uma vez eu
senti...a mão invisível, estendida a partir de Atenas, procurando destruir a minha existência
humana". Makarios exigiu a retirada de todos os oficiais atenienses dentro da Guarda
Nacional. 46
Em 15 de julho, o palácio de Makarios em Nicosia foi atacado pela Guarda Nacional.
O presidente foi declarado morto e instalou-se um novo governo de Nicos Sampson. De
fato, Makarios tinha escapado para Paphos sendo levado para uma das SBA, Akrotiri. A
Royal Air Force (RAF) retirou-o da ilha e levou para Londres. Enquanto isso, a luta
espalhou-se por toda a ilha entre forças leais a Makarios e o Guarda Nacional. Os turco-
cipriotas imediatamente se preocuparam com a segurança de sua comunidade e pediram o
apoio da Turquia. Esta respondeu enviando seu líder, Bulent Ecevit, para Londres para
sugerir uma resposta militar combinada. O primeiro-ministro britânico, Wilson se recusou e
pediu conversações tripartidas enquanto ele enviava uma força-tarefa britânica para o
44 Conhecida como Guerra Árabe-Israelense de 1973 foi um conflito militar ocorrido de 6 de outubro a 26 de outubro de 1973, entre uma coalizão de estados árabes liderados por Egito e Síria contra Israel. 45HITCHENS, Christhoper, The Trial of Henry Kissinger, 87, Verso 2002, USA 46R.R. Denktash, The Cyprus Triangle (Winchester: Allen & Unwin Inc., 1982
Chipre. Kissinger enviou Joseph Sisco em 18 de julho como seu representante para tentar
negociações entre os gregos e turcos e evitar a guerra no seio da OTAN.
A Turquia invadiu a cidade portuária de Kyrenia em 20 de julho 1974 e assumiu o
controle da estrada Kyrenia-Nicosia, o que lhes permitiu conectar com o enclave turco-
cipriota na capital. Atrocidades foram relatados por ambos os lados e a luta se alastrou por
toda a ilha. Neste momento uma força-tarefa britânica chegou em Chipre apenas para
proteger suas bases e civis, mas não para impedir as ações militares turcos. A crise Chipre
havia chegado a um clímax violento.
Os EUA assumiram a liderança nos esforços diplomáticos para evitar a guerra. No
entanto, O’Malley e Craig argumentam que o cessar-fogo organizado por Kissinger que
impedia os militares turcos de ocupar mais do que uma pequena porção da ilha era na
verdade um tempo para os turcos reforçarem sua posição na ilha antes de iniciar a segunda
metade do plano de invasão. Segundo o escritor turco Mehmet Ali Birand, as forças turcas
tinham total controle sobre Kyrenia e um corredor que ligava diretamente aos bairros turco-
cipriota de Nicósia. 47
Em 23 de julho de 1974, Nicos Sampson renunciou ao cargo de presidente e Glafkos
Clerides tomou seu lugar. Os confrontos continuaram dentro de Nicosia ao longo da “Green
Line” estabelecido pela ONU que dividia as duas comunidades. Independentemente do
conflito, as negociações entre os gregos, turcos e britânicos iniciaram em 25 de julho. Os
EUA enviaram o secretário de Estado Adjunto para Assuntos de Internacionais, William
Buffum, como representante pessoal de Kissinger. O'Malley e Craig criticam Buffum e
Kissinger por sua "falha extraordinária em criticar a ação turca".48 As negociações falhavam
de forma contínua. Kissinger, por meio de chamadas de longa distância, conseguiu
intermediar um acordo que pedia a retirada de tropas turcas, uma paralisação na luta e a
criação de uma zona tampão das Nações Unidas.
A segunda rodada de negociações foi novamente marcada para o início de agosto.
As tensões continuavam devido ao movimento contínuo das tropas turcas e Makario,
mesmo no exílio, não aceitava nenhum tipo de divisão da ilha. Enquanto isso, Nixon
renunciou ao cargo em 9 de agosto para evitar impeachment por causa do escândalo
Watergate e Gerald R. Ford tornou-se presidente. Kissinger permaneceu com a nova
administração e desta vez enviou Arthur Hartman a Genebra como seu representante e
observador dos EUA. 49
47M.A. Birand, 30 Hot Days (Nicosia: K. Rustem and Bro. Publishers, 1985), 45. 48 O’Malley, 201 49 O’Malley, 201
As negociações não avançavam por causa de demandas frequentes do ministro dos
Negócios Estrangeiros turco, Turan Gunesh, para um acordo imediato, baseado na partição
e rumores de planos turcos para uma segunda invasão. O'Malley e Craig argumentam que
Kissinger negou a probabilidade de uma segunda invasão e "deixou claro que os Estados
Unidos estavam satisfeitos com garantias de Ecevit de contenção militar" 50 . Os EUA
impediram os britânicos de mover-se militarmente e impedir o controle militares turcos sobre
o território.
Apesar das negociações, os planos turcos de divisão da ilha continuavam. As
conversações ruíram quando em 13 e 14 de agosto as forças turcas começaram a se
mover. O'Malley e Craig argumentam que Kissinger agravou a situação, quando ele
declarou "a posição da comunidade turca no Chipre requer melhoria e uma proteção
considerável. Apoiamos um maior grau de autonomia para eles." 51
Em última análise, a Grécia não tinha forças para contrariar a operação turca. Os
turcos continuaram a avançar até ocuparem praticamente 1/3 da ilha, que abrangia toda a
sua parte norte. De acordo com O'Malley e Craig, os EUA influenciaram o movimento de
tropas turcas até uma determinada área. Isso mostra a influência que EUA foram capaz de
exercer, bem como o apoio aos movimentos de tropas turcas em áreas especificado.
Também citam que o colapso das negociação se deu por Kissinger ter apoiado os objetivos
turcos e recusado uma maior dissuasão militar inglesa na ilha. O plano de 1964
desenvolvido por Acheson foi concretizado, por meio das ações de Kissinger em 1974,
alcançando a partição desejada da ilha e proteção para as instalações e os interesses norte-
americanos na ilha. 52
3 IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DO CHIPRE DURANTE A GUERRA FRIA
3.1 Plano de Acheson
Antes de detalharmos a importância do Chipre durante a Guerra Fria é importante
falar do plano em que os americanos buscavam fazer valer seus interesses, o Plano de
Acheson.
Em 19 de junho, a CIA concluiu que, devido à hostilidade mútua entre as duas
comunidades cipriotas, uma solução baseada na cooperação entre eles poderia ser
excluída. Isso deixou a partição da ilha ou a anexação por parte da Grécia, com a Turquia a
ser compensado na forma de uma base militar, como as duas únicas possibilidades que,
com o apoio da Grécia e da Turquia, poderiam ser imposta para os cipriotas.
50 Hitchens, 97 51 Kyle, K., ‘The Cyprus Conflict’, The Minority Rights Group, 1983. 52 CIA: FOIA, Weekly Review, ‘Cyprus Dispute again moving into Diplomatic Arena’, 15 December 1967.
Fundamentalmente, a CIA acrescentou que ambas as soluções deveriam assegurar a
manutenção das bases britânicas e instalações dos EUA na ilha53. Um relatório anterior da
CIA manifestou preocupação com a segurança das instalações norte-americanas sobre
Chipre, que compreendia o posto de controle para as comunicações no Oriente Médio da
CIA, operando sob o disfarce de uma estação de retransmissão de rádio do Departamento
de Estado54.
Alguns historiadores apoiam a crença de que os EUA favoreciam a partição como
uma solução. O historiador Claude Nicolet faz o ponto de que a ideia principal fosse essa, a
ilha já teria sido dividida em 1960 entre a República de Chipre e Reino Unido55. Por razões
geopolíticas, Washington valorizada sua aliança com Ancara e via os turcos-cipriotas como
as vítimas, o que significava que algum tipo de concessão tinha de ser feito para Turquia56.
Com base nestas considerações, Dean Acheson, ex-secretário de Estado dos EUA e
autor da Doutrina Truman, formulou várias "soluções" para a crise no Chipre que além de
tudo, assegurava a neutralização política de Makarios e:
“...dividindo a ilha entre os gregos e turcos seria removido das esferas não-alinhados e possíveis influências comunistas, entrando assim na esfera OTAN. A Grã-Bretanha iria manter suas bases e os meios de comunicação dos Estados Unidos...”
O pensamento de Washington tinha mudado drasticamente. Os EUA acreditavam
que o pior cenário seria um estado unitário, pois isso significaria Makarios conseguir um
estado apoiado pela Rússia e Egito, e cairia rapidamente sob a influência do já poderoso
Partido Comunista do Chipre. 57.
Acheson teve o cuidado de não produzir planos concretos em forma escrita,
deixando assim certas questões deliberadamente ambíguas. Consequentemente, é
53 CIA: FOIA: Special National Intelligence Estimate, ‘The Cyprus Dispute’, 19 June 1964. 54 NARA: CREST: CIA Memorandum from the Director of Intelligence, ‘Threat of Renewed Violence and
Turkish Intervention’, 22 January 1964. 55 Nicolet, C., United States Policy Towards Cyprus, 1954-1974: Removing the Greek-Turkish Bone of
Contention, (Mannheim und Moehnsee: Peleus, Studien zur Archaeologie und Geschichte Griechenlands und
Zyperns, Band 9, Bibliopolis, 2001), p.293. 56 NARA: RG59, CFPF, 1964-1966, Political & Defense, Demonstration Riots, Cyprus, memorandum, from the
Assistant Secretary of State for Near Eastern and South Asian Affairs, Phillips Talbot to the Under-Secretary
‘Cyprus Solution – Tactics Toward Accomplishing Enosis or double Enosis’, 18 May 1964, in which Talbot
commented: ‘That double Enosis could not therefore be a lasting solution’. 57 CIA: FOIA, Weekly Review, ‘Cyprus Dispute again moving into Diplomatic Arena’, 15 December 1967.
impossível definir com precisão quais eram suas reais intenções58. Essencialmente, no
entanto, os planos de Acheson foram baseados na premissa de que a maioria da ilha
deveria se unir com Grécia, com uma concessão que seria feita para a Turquia sob a forma
de uma base militar. As negociações entraram em colapso quando a essência do primeiro
Plano de Acheson foi publicado pelo jornal grego Vima, afirmando que Atenas tinha a
intenção de rejeitar o plano59 que acabou sendo também rejeitado pela Turquia.
Neste interim, a violência intercomunitária entrou em erupção na ilha, quando as
forças gregos-cipriotas atacaram a comunidade turca-cipriota região de Kokkina e
Mansoura, na parte noroeste da ilha60. Alguns dias mais tarde, o Ministro de Relações
Exteriores, Spyros Kyprianou informou à embaixada dos Estados Unidos no Chipre que, em
face de uma outra ameaça turca, Nicosia tinha pedido auxílio a Moscou61.
No início de 1964, os formuladores de políticas dos EUA tinham elaborado um plano
semelhante em que a Turquia seria permitida invadir a península Karpas para desencadear
uma resposta grega, resultando em uma Enosis, com concessões para a Turquia. O plano
era apenas para ser usado caso Ankara não desistisse de usar a força militar. Uma vez que
ficasse claro que a Turquia iria tomar medidas militares, o embaixador dos EUA na Turquia,
informaria o Premier turco que ele poderia prosseguir com um "movimento cuidadosamente
controlado", ao invés de uma invasão militar em larga escala.
As razões para isso seria evitar uma retaliação grega, evitando uma guerra no seio
da OTAN e convencer a opinião internacional que a Turquia tinha invocado os seus direitos
ao abrigo do Tratado de Garantia.
Washington tentou atrasar os turcos por tanto tempo quanto possível. Uma vez que
eles já não podiam adiar uma operação militar turca, Ankara teria de ser informado sobre as
áreas predeterminadas que poderiam invadir, de modo a evitar conflito com os gregos. Foi
sugerido que a Turquia deveria “... desembarcar em Kyrenia, mantendo uma linha que ligava
Lefka e a metade norte da cidade fortificada de Nicosia.” 62
58 PRO: FO 371/174750, C1015/1361, ‘Washington talks: Cyprus’, British Assistant Under-Secretary of State
for Foreign Affairs, John Rennie to the Foreign Office, 17 April 1964. 59 PRO: FO 371/174754, ‘Moves to try and resolve Cyprus Problem’, memorandum from Richard Parsons at the
Central Department of the Foreign Office to Desmond Pemberton-Pigott at the Foreign Office, doc.1015/2030, 8
January 1965. 60 NARA: SDSNF, 1964-1966, POL 23-8, CYP, Box 2088, US Ambassador to Greece, Henry Labouisse to the
State Department, tel.171, 30 July 1964. 61 NARA: SDSNF, 1964-66, POL 23-8, CYP, Box 2089, tel.178, US Ambassador to Cyprus, Taylor Belcher to
the State Department, 6 August 1964. 62 NARA: SDSNF, 1964-1966, POL 23-8, CYP, Box 2089, US Ambassador to Cyprus, Taylor Belcher,
unnumbered telegram to the State Department, 9 August 1964.
Foi informado à embaixada britânica em Washington que o presidente Johnson
acreditava que, como reminiscência de eventos em Cuba, os técnicos russos estavam
prestes a instalar bases de mísseis superfície-ar no Chipre63.
Acheson recomendou que Washington deveria para de tentar promover um acordo
grego-turco no Chipre e concentrar a política dos EUA sobre a prevenção da ilha de se
tornar outra Cuba. 64Muitos em Washington acreditavam que Makarios seria o “Castro do
Mediterrâneo”.
3.2 Chipre e sua importância durante a Guerra Fria
A proximidade da África, Europa e Ásia e dos principais eixos de navegação do
mediterrâneo, tornam Chipre uma ilha estrategicamente muito bem posicionada, fazendo
com que sua posse e conquista fosse de extrema importância durante os séculos XVIII e
XIX. Com o fim da 2a Guerra Mundial e inicio da Guerra Fria a importância da ilha tornou-se
mais evidente dentro de uma estratégia global. Neste período, o petróleo passa a ter uma
importância muito grande para a Europa Ocidental e os EUA, ficando dependente desse
produto do Oriente Médio. A Grã-Bretanha abalada financeiramente, necessitava do
petróleo para a reconstrução do país e manutenção de seus interesses nacionais.
Em 1948, as tropas britânicas deixaram a Palestina e com a crise no Canal de Suez,
Chipre se transforma no novo Quartel-General Britânico no Oriente Médio, tornando-se
estrategicamente vital para os interesses britânicos. Além disso, existia uma ameaça muito
real de uma tomada comunista na Grécia e a possibilidade de uma invasão soviética no
Chipre aumentou ainda mais a importância da ilha65.
Como já mencionado, a importância estratégica da ilha para a Grã-Bretanha foi
crescendo com o passar do tempo e tornou-se uma peça chave para a política externa
inglesa no Oriente Médio, influenciado pelo interesse britânico “nas rotas comercias do
Oriente médio bem como os compromissos da Commonwealth no Canal de Suez” 66.
Durante este período, a economia inglesa estava em declínio e da redução da
presença militar em todo o mundo sob ordens do primeiro-ministro Harold Wilson irritou
líderes americanos. Isto incluiu o anúncio, em 1966, que a Grã-Bretanha estava reduzindo
suas forças no Chipre, Malta, Guiana e outras áreas do sudoeste da Ásia, como Cingapura
63PRO: PREM 11/4712, ‘Internal Situation, part 38’, tel.2938, Minister at the British Embassy in Washington,
Sir Denis Greenhill to the Foreign Office, 20 August 1964.
64 CIA: FOIA, Weekly Review, ‘Cyprus Dispute again moving into Diplomatic Arena’, 15 December 1967. 65 O’Malley, 140-141 66 Stephens, R., Cyprus: A place of arms, (London: Pall Mall Press, 1966), p.63.
e Malasia.67 Segundo O'Malley e Craig, isso "marcou o início do fim do papel da Grã-
Bretanha como potência militar em todo o mundo, e alertou os americanos para a
perspectiva de que um dia eles poderiam perder o uso das instalações de Chipre." 68
A preocupação americana foi agravada pela nova crise do Oriente Médio que incluiu
a nacionalização do Canal de Suez por Nasser e da Guerra árabe-israelense dos Seis Dias.
Os autores argumentam que a perda do Canal e do petróleo do Oriente Médio levou a um
aumento na crise econômica britânica e um corte de mais de 150.000 militares e civis, que
novamente enfureceu os americanos. 69
Os EUA como grande potência militar no pós-guerra tinham grandes preocupações
com o futuro da ilha. As aproximações de Makarios com os soviéticos levavam a uma
preocupação de uma tomada comunista na ilha devido ao enfraquecimento inglês na região.
Os americanos não queriam uma nova Cuba em uma das áreas mais complexas do mundo.
Essas preocupações eram motivadas pelo valor da ilha como uma base militar e de
inteligência no Mediterrâneo Oriental. Os EUA mantiveram instalações de comunicações na
ilha, sendo valiosas fontes de inteligência durante a Guerra Fria. Além disso a Grã Bretanha,
mantinha dentro da dissuasão nucleares, como parte do compromisso do CENTO70, quatro
esquadrões de bombardeiros médios na ilha71. Chipre era crucial para o apoio do mesmo e
para o uso eficaz das rotas aéreas. Sem Chipre, os ingleses teriam muita dificuldade
reforçar em as rota aéreas e perderia a capacidade de reforçar o Canal de Suez, ficando
vulnerável as restrições políticas72.
O fato da Grécia e a Turquia terem se tornado membros da OTAN tornou a situação
mais complicada. O Chipre tornou-se de interesse para os EUA na balança de poder nesta
parte estrategicamente importante do mundo. A realidade das comunidades cipriotas
adquiriu importância secundária devido aos interesses geopolíticos da Grã-Bretanha e dos
Estados Unidos. Não poderiam conceber que qualquer conflito entre Grécia e Turquia
enfraquecesse o flanco sudoeste da OTAN. 67 O’Malley, 123-124. 68 Foley, C., Legacy of Strife: Cyprus: From Rebellion to Civil War, (Baltimore: Penguin, 1964), p.87 69 O’Malley, 124. 70 A Organização do Tratado Central, (Central Treaty Organization), também conhecida como Pacto de Bagdá, foi uma aliança militar fundada em 1955 por Irã, Iraque, Paquistão, Turquia e Reino Unido, e desfeita em 1976. Tinha por objetivo evitar uma expansão soviética baseado na Política de Contenção de Keenan e nas Teorias das Fimbrias de Spykman 71 PRO: FCO 46/1017, ‘Importance of military facilities in Cyprus to the UK’, Chief of Staff Committee, Defence Policy Staff paper, ‘The strategic importance of Cyprus’, 24 September 1973. 72 PRO: DEFE 13/539, ‘Defence Expenditure Study No.3-CENTO & Cyprus in the mid-1970s’, doc.21, Assistant Under-Secretary of State (Policy), Ministry of Defence, F. Cooper, 13 June 1967.
Em 1968 foi celebrado um acordo que permitiu os EUA utilizarem as instalações de
comunicações na ilha. Eles afirmam que a CIA também foi autorizada a estabelecer os seus
próprios monitores de rádio nas SBA e construir antenas para a rede de inteligência dos
EUA73
No Chipre estavam localizadas instalações que de vigilância e a coleta de
inteligência que contribuíam para a avaliação dos EUA e da OTAN, ajudando a reduzir a
liberdade de ação das forças marítimas e aéreas russas. A importância das instalações era
tão grande que necessitavam das SBA para sua proteção. 74 O'Malley e Craig afirmam que
os EUA já tinha abandonado o conceito de Independência Garantida por um Chipre unido e
aceito que a Turquia poderia um dia ser autorizados a ocupar parte da ilha. 75
Os EUA tinham claros seus objetivos sobre a ilha:
“Um Chipre politicamente estável, ligando a Grécia, Turquia e Reino Unido, em uma relação de cooperação, disposto e capaz de resistir comunistas subversão e a disponibilidade contínua para o Ocidente das instalações militares britânicas no Chipre” 76
A manutenção sem entraves dos meios de comunicações era de vital importância
para os EUA. Os EUA operavam quatro centros de comunicação, um na própria Embaixada
Americana, dois de cada lado de Nicósia, pelo Yerolakkos e Mia Milea e o Serviço de
Informação de Transmissão que abrigava os principais posto de escuta no Oriente Médio da
CIA na costa norte de Chipre. 77
3.3 Participação brasileira no Chipre (UNFICYP)
A história da participação brasileira no Chipre começou em 1995, quando os
comandantes do Exército brasileiro e argentino chegaram a um acordo para enviar um
oficial e um suboficial às missões de manutenção da paz a ser realizada por cada país na
época. Em agosto de 1995 dois militares brasileiros integraram a Força Tarefa Argentina 5
na UNFICYP78.
73 FRUS, 1958-1960, Volume X, part 1, National Security Council Report: ‘Statement of US Policy toward Cyprus’, 6003, 9 February 1960, pp.819-828. 74 Holland, R., Britain and the Revolt in Cyprus, 1954-1959, (Oxford: Clarendon Press, 1998), p. 317. 75 O’Malley, 130 76 FRUS, 1958-1960, Volume X, part 1, National Security Council Report: ‘Statement of US Policy toward Cyprus’, 6003, 9 February 1960, pp.819-828. 77 PRO: FCO 9/1677, ‘Relations between Cyprus and US’, Counsellor at British High Commission in Cyprus, Derek Day to Richard Baker at the SED, FCO, WSC3/304/1, doc.9, 12 December 1973. 78BlueBeret,10Outubrode2001,ONU,Chipre.
Embora a participação brasileira na UNFICYP tenha começado em 1995, não foi a
primeira vez que um soldado brasileiro operou no Chipre. É um fato quase desconhecido,
mas nos primeiros dias da missão, o Brasil ofereceu uma contribuição relevante para o
estabelecimento das bases UNFICYP.
O General Paiva Chaves era o comandante da Força de Emergência das Nações
Unidas (UNEF), no Oriente Médio, quando os hostilidades atingiram um nível fora de
controle em 1964, o que levou Makarios pedir a presença das Nações Unidas em Chipre.
Naqueles dias extremamente tensos e incertos, quando a decisão de criar a missão já
tinham sido tomada, mas ainda não existia um comando operacional, o General Paiva
Chaves foi para Chipre79, a fim de ajudar com a sua experiência no enorme trabalho de se
estabelecer uma operação de manutenção da paz.
Durante seu tempo em Chipre Gen Paiva Chaves participou das conversações para
o estabelecimento da missão com o presidente Makarios e do Sr. Rauf Denktaş. Em 20 de
março de 1964, recebeu os primeiros soldados canadenses que chegaram no Chipre. Após
as chegadas do Gen Gyani, o primeiro Comandante da UNFICYP, estiveram juntos nas
negociações que foram realizadas no Ledra Palace.
4. CONCLUSÃO
Após a ocupação da turca em 1974, a zona sul da ilha permaneceu sob o controle
grego-cipriota, sendo reconhecido internacionalmente como a República do Chipre. Cerca
de 20 mil grego-cipriotas abandonaram o setor sob controle turco, que equivale a 40% da
ilha, no norte, e cerca de 50 mil turco-cipriotas saíram do sul para refugiar-se nessa área. A
partir de meados da década de 1980 iniciaram-se conversações acerca da reunificação,
embora nunca tenham tido sucesso.
Mais de 50 anos após a invasão da ilha, as conversações para reunificação
continuam. Em Novembro de 1983, os turcos proclamaram unilateralmente a “República
Turca do Chipre do Norte”, abrangendo toda a parte ocupado em 1974. Esse “novo” país
não é reconhecido pela comunidade internacional, sendo considerada inválida pelo
Conselho de Segurança da ONU.
A partir de 2001 os chefes das comunidades alcançaram um acorde de reabertura
das negociações de paz. Em abril de 2004, ocorreu um referendo sobre um plano
apresentado pelas ONU para reunificação da ilha (Plano Annan). A proposta foi rejeitada por
75,8% dos gregos-cipriotas, pois sentiram que o plano incorporava arbitrariamente muitas
79Report of the Security Council 16 july 1963-15 july 1964 General Assembly - Official records: 19thSessionSupplementno.2(a/5802)Unitednationsnewyork,1965.
exigências da Turquia. O Plano não era equilibrado e não correspondia às principais
preocupações com os temas da segurança, do funcionamento e da viabilidade da solução.
No dia 21 de Março de 2008, depois eleições, o novo presidente grego-cipriota,
Demitris Christofias, e o chefe turco-cipriota, Mehmet Ali Talat, concordaram de recomeçar
as negociações e decidiram de abrir um ponto de comunicação entre as duas partes, em
Ledra Street, no centro de Nicosia, a capital.
No 1 de Maio de 2004 a República de Chipre tornou-se membro de pleno direito da
União Europeia. A adesão à União Europeia foi uma escolha natural para Chipre, ditada não
só pela sua cultura, civilização e história, como pela sua perspectiva Europeia e adesão aos
ideais de democracia, liberdade e justiça.
A aplicação das leis e regulamentos da União Europeia encontra-se suspensa na zona sob
ocupação militar Turca, pendente da solução do problema da divisão da ilha. Entretanto, o
governo de Chipre, em cooperação com a Comissão da União Europeia, tem vindo a
promover acordos para facilitar o aumento de transações económicas entre as duas
comunidades e melhorar o nível de vida dos turcos-cipriotas.
Mesmo após a fim da Guerra Fria, Chipre não perdeu sua relevância estratégica
dentro da geopolítica mundial. Os EUA e Grã-Bretanha continuam usando sua posição
estratégica como base para apoiar suas ações no Oriente Médio. Vigilância aérea, missões
de reabastecimento e ataque aéreos na Guerra do Golfo de 1990, a Guerra da Líbia de
2011 e, mais recentemente, a guerra contra o ISIS, na Síria, tiveram como ponto de partida
o Chipre. As SBA estão sendo usadas para transmitir informações de inteligência para os
rebeldes sírios utilizando as aeronaves AWACS.
A Rússia tem buscado acordos bilaterais com o Chipre para poder usar,
militarmente, os portos e os aeroportos do país. No começo de 2015, Rússia e Chipre
anunciaram a assinatura de dez acordos. Foram assinados programas de cooperação na
área de combate o tráfico de drogas e terrorismo, de cooperação em ciência, educação e
cultura, cooperação científica e tecnológica. Além dois acordos militares relativos a
cooperação de defesa e de cooperação naval, o que causou uma reclamação pública por
parte dos americanos e britânicos. Os interesses russos estão interessados em um acesso a
um porto do Mediterrâneo e uma presença próxima as Bases inglesas80.
Não se pode deixar de lado o fato da Turquia querer entrar na União Europeia. A
ocupação de parte do Chipre pelos turcos tem impacto direto na questão de acesso à UE,
dando maior relevância a situação da ilha. A disputa pelo Chipre obriga a UE a congelar as
conversações, sendo que nenhum capítulo seria encerrado até ser tomada uma resolução.
A Comissão Europeia recusa-se a iniciar imediatamente as negociações para a adesão da 80MANKOFF, Jeffrey – Russian Foreign Policy. The Return of Great Power Politics, Maryland: Rowman & Littlefield, 2012, p. 33.
Turquia à CEE, citando, entre outros, o conflito com o Chipre deveria ser o primeiro objetivo
a cumprir para se iniciar as negociações de adesão. Trata-se de um problema grave e de
difícil solução, sendo essa solução necessária para o processo de adesão turca ter lugar.
Nas palavras de Jack Straw, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Britânicos, referiu é
impossível um membro não reconhecer outro dentro da União Europeia. Deixando limitado
as opções dos turcos. Além disso o Governo Cipriota ameaça vetar quaisquer negociações
e pedidos Turcos à UE se estes não reconheceram oficialmente a República do Chipre.
Outro fator da grande que aumenta a importância do Chipre no pós-Guerra Fria é a
confirmação de existência de uma grande jazida de gás em suas águas territoriais, abrindo
as portas para autossuficiência energética e com a intenção de tornar-se fornecedor da
União Europeia (UE). Neste sentido, o Governo cipriota, que assinou um convênio em 2010
com Israel para estabelecer a demarcação da fronteira marítima e das zonas econômicas
exclusivas de ambos Estados, não exclui a possibilidade de colaborar no setor energético
com o país vizinho. A Turquia não reconhece a a Zona Exclusiva Econômica do Chipre,
devido a partição da ilha, e se opõe a qualquer negociação do gás natural encontrado
enquanto a situação da ilha permanecer indefinido, ameaçando enviar navios de guerra se
Chipre continuar com a navegação.
Por fim, essa pequena ilha cobiçada internacionalmente tornou-se um centro regional
de negócios de importância crescente e um centro internacional de comunicações e
transporte.
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