UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH – I
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS
O APAGAMENTO DO –R EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: há influência da fala na escrita discente?
LORENA NASCIMENTO DE SOUZA RIBEIRO
Salvador
2013
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH – I
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS
O APAGAMENTO DO –R EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: Há influência da fala na escrita discente?
LORENA NASCIMENTO DE SOUZA RIBEIRO
Orientadora: Profa. Dra. Cristina dos Santos Carvalho
Salvador 2013
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Estudo de Linguagens
LORENA NASCIMENTO DE SOUZA RIBEIRO
O APAGAMENTO DO –R EM POSIÇÃO DE CODA SILÁBICA: há influência da fala na escrita discente?
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Estudo de Linguagens
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Profa. Dra. Cristina dos Santos Carvalho – UNEB/PPGEL (orientadora)
____________________________________________________________
Profa. Dra. Jacyra Andrade Mota – UFBA
____________________________________________________________
Profa. Dra. Norma da Silva Lopes – UNEB/PPGEL
Salvador 2013
FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
Bibliotecária: Jacira Almeida Mendes – CRB: 5/592
Ribeiro, Lorena Nascimento de Souza
O apagamento do -R – em posição de coda silábica: há influência da fala na escrita
discente? / Lorena Nascimento de Souza Ribeiro . – Salvador, 2013.
109f.
Orientadora: Cristina dos Santos Carvalho.
Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências
Humanas. Campus I. 2013.
Contém referências, apêndices e anexo.
1. 1. Sociolingüística. 2. Língua portuguesa - Variação. 3. Escrita. I. Carvalho, Cristina dos
Santos. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas.
CDD: 400
Dedico este trabalho ao Pai, Deus de Amor,
que atendeu sempre aos desejos do meu
coração e me deu forças para enfrentar as
tormentas do destino.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por tudo que tem operado em minha vida e por todas as pessoas que passaram ou estão junto a mim neste caminhar.
A Marcos Paulo, esposo fiel, companheiro devotado, escudeiro incansável.
À minha boneca Sofia e ao menino mais lindo do mundo, Daniel, por trazerem a alegria da esperança em dias melhores.
Às minhas bases, D. Heliana (mainha) e Milena (irmãe), por dizerem sempre a verdade, por mais dura que fosse.
A S. Antonio (painho) e aos meus irmãos, Elton e Junior, por todos os “quebra-galhos” e socorros.
Ao meu amigo e compadre Valter de Carvalho, pelo plantão 24 horas de apoio acadêmico e emocional.
Às professoras, Jacyra Mota e Suzana Cardoso, por mostrarem, na superfície estrelada das Letras, o fascinante mundo da Sociolinguística. Trarei sempre as senhoras no coração.
À minha primeira orientadora no PPGEL, Profa. Lígia Pellon, por instigar o questionamento sobre o meu objeto de pesquisa e, assim, fortalecer minha certeza de que queira muito estudá-lo.
À minha orientadora, Profa. Cristina Carvalho, por toda paciência, perseverança, e, sobretudo, pela profissional que jamais esquecerei.
Aos professores Rosa Helena Blanco e Gilberto Sobral, pelo apoio para minha permanência no PPGEL
Ao Prof. João Santana, meu orientador de tirocínio docente, um exemplo humano e profissional. Quando crescer, quero ser igual ao senhor.
A todos os meus professores do PPGEL, pelo turbilhão de teorias e visões novas sobre o velho mundo das Letras.
Aos meus colegas da UNEB pela companhia agradável e debates produtivos em aulas, em especial, a Eduardo Santos, pela amizade sincera e apoio inconteste.
Aos profissionais e alunos das escolas observadas nesta pesquisa, pelo abrir de portas para que uma estranha adentrasse seus mundos.
MENSAGEM
(Cidade Negra – Lazão, Da Gama, Rás Bernardo, Bino Farias)
É uma passagem esta vida.
É para você onde estiver
Esta mensagem.
É importante você ouvir.
Em meio ao maior sofrimento
Você encontra a chave da felicidade.
Ás vezes numa derrota você encontra
A chave da próxima vitória.
Deus é a vontade de estar feliz !
RESUMO
Diversos fenômenos de variação linguística presentes na fala, transpostos para
as produções escritas de alunos, têm sido colocados indistintamente como
erros de cunho ortográfico em muitas salas de aula. Esta realidade motiva o
presente estudo, haja vista a necessidade de trabalhos que sirvam de norte
para práticas docentes mais situadas no universo multifacetado da nossa
língua. Neste trabalho, é apresentado, à luz da Sociolinguística Laboviana, um
estudo dos usos dos róticos em 192 produções escritas de alunos de ensino
básico (5º e 9º anos do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio) das
redes pública e privada de ensino na cidade de Salvador. Concebendo a língua
como fruto das interações sociais, o estudo aqui realizado pretende verificar o
papel dos fatores sociais no fenômeno investigado, sobretudo o papel do grupo
social escolar no processo de aquisição da modalidade escrita da língua, por
vezes, divergente da modalidade oral do aluno. Ademais visa analisar como os
contextos linguísticos favorecedores da variação na fala estão presentes no
apagamento do –R em posição de coda na escrita desses alunos, observando
desta forma como a fala pode influenciar a escrita. Para tanto, foram
controladas três variáveis sociais (escolaridade, gênero/sexo e rede de ensino)
e oito variáveis linguísticas (gênero textual, extensão do vocábulo, contexto
precedente, contexto subsequente, modo de articulação do segmento
subsequente, ponto de articulação do segmento subsequente, sonoridade do
do segmento subsequente, classe morfológica do vocábulo). Os resultados
revelaram que, na escrita, o fenômeno é pouco presente e, à medida que o
aluno avança nas séries do ensino básico, a manutenção dos róticos em
posição de coda silábica é mais recorrente, evidenciando, deste modo, o papel
decisivo da escola como lugar de manutenção do padrão linguístico.
Palavras-chave: Sociolinguística. Variação Linguística. Escrita. Apagamento
dos róticos.
ABSTRACT
Several phenomena of linguistic variation present in speech, transposed the written production of students have been placed indiscriminately as stamp spelling errors in many classrooms. This scenario motivates the present study, given the need to work to serve the north to teaching practices located in more multifaceted universe of our language. This work is presented in the light of Labov’s Sociolinguistic, a study of the uses of rhotics in 192 written productions of basic school students (5th degree of elementary, 9th degree of middle school and 3rd year of high school) from public and private schools in city of Salvador. Understanding language as result of social interactions, this research intents verify the role of social factors on the phenomena approached , especially the role of the scholar social group on the way to acquisition of written language, sometimes, dissonant oral language modality. Moreover, aims to examine how the linguistic contexts favoring variation in speech are present in the deletion of the –R in coda position in the writing of these students, noting how this can influence speech writing. For this 03 social variables were controlled (education, gender / sex and education network) and 08 linguistic variables (genre, length of the word, the preceding context, context subsequent manner of articulation of the subsequent segment, pivot point subsequent segment, sonority segment subsequent morphological class of the word). The results revealed that, in writing, the phenomenon is hardly present, and as the student progresses in the series of basic education, the maintenance of rhotics in coda position is more applicant, showing thereby the decisive role of the school as a place to maintain the standard language. Key-words: sociolinguistics. Linguistic Variation. Writing. Deleting rhotics
LISTA DE QUADROS
Quadro 2 – Resumo da cronologia dos estudos sobre os róticos 53
Quadro 3 – Distribuição dos informantes nas células 59
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Dados gerais do corpus: presença x ausência do –R 75
Tabela 2 – O apagamento dos róticos na escrita e o contexto precedente 78
Tabela 3 – O apagamento dos róticos na escrita e a classe morfológica 79
Tabela 4 – O apagamento dos róticos na escrita e a rede de ensino 81
Tabela 5 – O apagamento dos róticos na escrita e a escolaridade 83
Tabela 6 – O apagamento dos róticos na escrita e a extensão do vocábulo 84
Tabela 7 – O apagamento dos róticos na escrita e o contexto subsequente 86
Tabela 8 – O apagamento dos róticos na escrita e o ponto de articulação do segmento subsequente
88
Tabela 9 - O apagamento dos róticos na escrita: análise dos fatores escolaridade e rede de ensino
91
Tabela 10 - O apagamento dos róticos na escrita: análise dos fatores rede de ensino e sexo/gênero
92
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Dados gerais do corpus: presença x ausência do –R 77
Gráfico 2 – O apagamento dos róticos na escrita e o contexto precedente 79
Gráfico 3 – O apagamento dos róticos na escrita e a classe morfológica 80
Gráfico 4 – O apagamento dos róticos na escrita e a rede de ensino 82
Gráfico 5 – O apagamento dos róticos na escrita e a escolaridade 83
Gráfico 6 – O apagamento dos róticos na escrita e a extensão do vocábulo
85
Gráfico 7 – O apagamento dos róticos na escrita e o contexto subsequente
87
Gráfico 8 – O apagamento dos róticos na escrita e o ponto de articulação do segmento subsequente
89
LISTA DE ABREVIATURAS
ALIPA – Atlas Linguístico do Pará
C – consoante
L.P.L.B. – Língua Portuguesa e Literatura Brasileira
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais
Projeto ALiB – Projeto Atlas Linguístico do Brasil
Projeto NURC – Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta
Projeto VARSUL – Projeto Variação Linguística na Região Sul do Brasil
V – vogal
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS 10
LISTA DE TABELAS 11
LISTA DE GRÁFICOS 12
LISTA DE ABREVIATURAS 13
INTRODUÇÃO 16
1 BASE TEÓRICA 23
1.1 A Sociolinguística Variacionista 23
1.1.1 A sociolinguística e o ensino de língua portuguesa 29
1.2 Oralidade e escrita: interrelações 35
1.2.1 O processo de aquisição de regras ortográficas 38
1.2.2 A escrita e a oralidade na sala de aula 41
2 ESTUDOS SOBRE OS RÓTICOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO 44
3 METODOLOGIA 57
3.1 A constituição do corpus e a seleção dos informantes 58
3.2 A observação e análise dos dados 60
3.2.1 Procedimentos metodológicos adotados 61
3.2.2 Variável dependente 61
3.2.3 Variáveis independentes 62
3.2.3.1 Variáveis linguísticas 63
3.2.3.1.1 Gênero Textual 64
3.2.3.1.2 Extensão do vocábulo 65
3.2.3.1.3 Contexto precedente 66
3.2.3.1.4 Contexto subsequente 67
3.2.3.1.5 Ponto, modo de articulação e sonoridade do segmento
subsequente
68
3.2.3.1.6 Classe morfológica do vocábulo 69
3.2.3.2 Variáveis extralinguisticas 70
3.2.3.2.1 Escolaridade 70
3.2.3.2.2 Gênero/sexo 71
3.2.3.2.3 Rede de ensino 72
3.3 A ferramenta de análise – Goldvarb X 73
4 ANÁLISE DOS DADOS 75
4.1 Distribuição das variantes no corpus 75
4.2 Variáveis selecionadas pelo programa Goldvarb X 77
4.2.1 Contexto precedente 78
4.2.2 Classe morfológica 79
4.2.3 Rede de ensino 81
4.2.4 Escolaridade 82
4.2.5 Extensão do vocábulo 84
4.2.6. Contexto subsequente 86
4.2.7 Ponto de articulação do segmento subsequente 87
4.3 Variáveis não selecionadas pelo programa Goldvarb X 89
4.4 Cruzamento de variáveis sociais 91
CONSIDERAÇÕES FINAIS 93
REFERÊNCIAS 96
APÊNDICE A – Propostas de produção textual apresentadas aos
alunos
101
APÊNDICE B – Chave de codificação 102
APÊNDICE C – Comparação entre rodadas realizadas 105
ANEXO A – informações sobre projetos elencados do capítulo 2
106
16
INTRODUÇÃO
Os avanços nos estudos linguísticos mostram que conceber a língua
como um sistema homogêneo é uma utopia, pois, em sendo esta uma
ferramenta de interação social, seu aspecto multifacetado reflete a diversidade
das relações humanas. Contudo, por mais evolução que o advento dos estudos
linguísticos de cunho social tenha trazido à sociedade, o que ainda se vê, em
muitas escolas, é um ensino pautado na repetição, que desconsidera e, muitas
vezes, estigmatiza, muitos dos usos correntes desses alunos. Concomitante a
esse confronto há os meios de comunicação, cada vez mais velozes e
ditadores, cujas “boas falas” são seguidas, criando novos usos, ressuscitando
alguns e marginalizando outros. Em meio a este palco de “luta”, vê-se, cada
vez mais, os alunos admitindo não dominar o português, chegando até a
considerar sua língua pátria mais difícil do que línguas estrangeiras. Em suas
mentes, a noção estigmatizadora de erro é uma constante, principalmente no
que tange à escrita.
O norteamento inicial do ensino de língua escrita, alicerçado em um
ensino tradicional, encara fatos fonéticos correntes e pouco estigmatizados
como desvios no homogêneo e imutável sistema linguístico.
A associação entre estrutura e homogeneidade é uma ilusão. A
estrutura linguística inclui a diferenciação ordenada dos falantes e
dos estilos através de regras que governam a variação na
comunidade de fala; o domínio do faltante nativo sobre a língua inclui
o controle destas estruturas heterogêneas.(WEINREICH; LABOV;
HERZOG, 2006, p. 125)
Cabe, nesta perspectiva, ao ambiente escolar a manutenção de um
padrão, distanciando seus alunos da “profanação” que a língua sofre em
ambiente de pouca escolaridade, gerando, destarte, inseguros indivíduos
“escreventes”, fazendo do ato de comunicar-se uma negação de sua própria
identidade. Analisar fala e escrita como lados opostos e concorrentes é,
realmente, um equívoco, pois se trata de manifestações de um único sistema, a
língua.
Não obstante, a escrita segue um padrão e é papel da escola auxiliar
seus alunos a internalizarem as normas que regem sua ortografia oficial. Neste
17
momento, cabe o questionamento: o que fazer diante de um aluno que escreve
fora do padrão da língua?
Antes de solucionar este ponto, deve o professor entender o porquê de
seu aluno escrever fora do padrão, perceber quais fatores levaram seu aluno a
esse “descaminho”, para que assim possa proporcionar em sua sala de aula
um ambiente verdadeiramente respeitoso, no qual seja passado um padrão
normativo da língua ao passo que não rotule o uso trazido por seus alunos.
Neste diapasão, ressalta Marchuschi:
Não importa se na modalidade escrita ou falada. Podemos observar
que a construção de categorias para reflexão teórica ou para
classificação são tanto um reflexo da linguagem como se refletem na
linguagem e são sempre construídas interativamente dentro de uma
sociedade.(MARCHUSCHI, 2007, p.35)
É neste contexto que se insere a pesquisa ora proposta: analisar o
fenômeno de apagamento dos róticos em coda silábica em final palavra na
escrita dos alunos soteropolitanos, tentando, assim, observar em que contextos
o cancelamento consonantal emerge.
De acordo com Simões (2006):
Há estruturas básicas da fonologia da língua que podem e devem ser
assentadas desde as primeiras séries do ensino fundamental, para
que o estudante obtenha ponto de partida para seu aperfeiçoamento,
fundamentando sua prática de usuário da língua com uma dose de
raciocínio linguístico (SIMÕES, 2006, p. 15)
Essas palavras servem de realce para a necessidade de estudos
linguísticos voltados para a orientação do trabalho do professor. Em algumas
situações do dia a dia em sala de aula, o docente de ensino básico, ao se
deparar com uma redação em que seu aluno escreve, apenas focaliza o “erro”,
sem se preocupar com o conteúdo informacional do enunciado. Tal prática
supervaloriza estruturas que, provavelmente, com o avanço do tempo de
escolarização, não se apresentarão tão constantes nos usos do aluno,
porquanto este tenderá a assimilar as diferenças entre o uso oral e escrito da
língua. Munir este profissional com estudos que observem a realidade de sala
de aula faz-se de importância ímpar para a luta contra uma escola
estigmatizadora e fadada ao fracasso.
18
(01) “ Plantar árvores, regar plantas, para de andar de carro e só usar
bicicleta e metror”
De igual modo – não obstante a necessidade de estudos norteadores
para a prática docente no ensino básico – o estudo em questão justifica-se,
primordialmente, por seu caráter investigativo da realidade linguística
soteropolitana, somando-se a seus antecessores para o delineamento da
realidade linguística brasileira.
Na fala, é predominante a ausência do –R em posição final de vocábulo,
principalmente na forma do infinitivo verbal e vocábulos monossilábicos
(CALLOU; MORAES; LEITE, 1996; OLIVEIRA, 1999; MOTA e SOUZA, 2009;
entre outros), fato evidenciado também em posição medial, sobretudo em
vocábulos de uso mais corrente (NASCIMENTO; RODRIGUES; CUNHA, 2006;
GOMES, 2006; BRANDÃO, 2008, entre outros). Assim, após análise de
estudos anteriores sobre este processo de variação, idealiza-se a possibilidade
de observar a influência desta fala na escrita dos indivíduos. Pretende-se
então, neste trabalho, verificar se, tal evento, comum e não marcado na fala,
será encontrado, também na escrita, ratificando a hipótese de influência da fala
na escrita, sobretudo nos indivíduos com menor tempo de escolarização e
aqueles de acesso restrito à leitura, diferenciando-os daqueles pertencentes a
uma classe social mais próxima da cultura formal e escolarizada.
Assim, a presente pesquisa, ao analisar os registros escritos de
estudantes soteropolitanos, objetiva identificar os possíveis contextos
linguísticos e extralinguísticos motivadores da realização ou do apagamento do
rótico em coda silábica em final de palavra na escrita de estudantes.
Como aporte teórico, o presente estudo assenta-se nas ideias
preconizadas pela Sociolinguística Laboviana de cunho quantitativo (LABOV,
2008 [1972]; WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, entre outros), nos estudos
que vêm sendo chamados de Sociolinguística Educacional (BORTONI-
RICARDO, 2004, 2005, entre outros) e nas contribuições dos estudos em
Fonologia, mais especificamente no estudo da sílaba (COLLISCHCONN, 1996,
entre outros).
A dinâmica da Linguística se constitui no fato de que as línguas
humanas não são estáticas, elas se alteram continuamente no tempo, de forma
19
lenta, sem que os falantes percebam o complexo jogo da mutação. Deste
modo, nos últimos tempos, esta ciência apresenta-se como objeto de interesse
de muitos pesquisadores que buscam estabelecer relações da língua e suas
múltiplas funções com uma sociedade cada vez mais heterogênea e
diversificada.
Um dos caminhos seguidos pela Linguística está na abordagem
sociolinguística que objetiva processar, analisar e sistematizar o universo
aparentemente “caótico” da língua falada. Assim, pode-se entender que a
Sociolinguística é uma área dentro da Linguística que teve início com William
Labov, linguista norte-americano que principiou a “Teoria da Variação”:
O modelo de análise proposto por Labov apresenta-se como uma reação à ausência do componente social no modelo gerativo (...) [ele] voltou a insistir na relação entre língua e sociedade e na possibilidade, virtual e real, de se sistematizar a variação existente e própria da língua falada.(TARALLO, 2007, p.07).
A perspectiva laboviana busca entender a língua em seu contexto social
– as regras de inserção e as variações sociais expressivas – como elemento
prático, baseado em uma metodologia própria. A Sociolinguística analisa os
aspectos sociais com o intuito de compreender melhor o funcionamento das
línguas, pois ela tem a heterogeneidade como foco, a qual permite a variação
linguística.
Em contrapartida, há alguns teóricos que entendem que a variação é
apenas um acidente e não uma característica essencial das línguas. A
Sociolinguística tenta provar que a variação é essencial à própria natureza da
línguas humanas, é o produto do uso. Tal pensamento ganha forma nas
palavras de Weinreich, Labov e Herzog (2006) quando defendem que:
Um linguista que exclui fatores sociológicos teria de lidar com o
inglês nova-iorquino como um feixe de dialetos separados que
fortuitamente estão mudando em paralelo, ou, desprezando a
diferenciação socioeconômica, considerá-lo como um objeto único
caracterizado por intensa varaiação livre. Qualquer das atitudes, no
entanto, o privaria da explicação mais óbvia para o comportamento
da maioria – o fato de que a mudança se origina no subgrupo de
20
posição mais elevada. E seguramente o comportamento de cada
classe nos diversos estilosnão é uma alternância indiferente entre
estilos aleatórios: o cartáter de (r) como traço de prestígo é
confirmado por toda a rede de disparidades estilísticas e
sociais.(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 117-8)
A partir deste pressuposto, a investigação da linguagem no contexto
social é necessária a fim de encontrar respostas para os problemas que
emergem da variação inerente ao sistema linguístico. A título de ilustração,
pode-se citar o reflexo da variação linguística em sala de aula. Hoje, muitos
educadores ainda não sabem agir diante dos chamados “erros de português”.
Por isso, Bagno (2007), afirma que:
[...] devemos prestar toda a atenção possível ao que está
acontecendo no espaço pedagógico em termos de discriminação,
desrespeito, humilhação e exclusão por meio da linguagem. É
inadmissível, nos dias de hoje, que o modo de falar de uma pessoa
continue sendo usado como justificativa para atitudes
preconceituosas e humilhantes. (BAGNO, 2007, p.27)
Esses “erros” são simplesmente diferenças entre as variedades da
língua, que, com frequência, se apresentam no domínio do lar, em que
predomina uma cultura de oralidade, em relações permeadas pela
informalidade e em culturas de letramento, como a cultivada na escola.
E é no momento que o aluno usa uma regra não-padrão que as
variantes se justapõem em sala de aula, como demonstram os exemplos 02 e
03:
(02) “Vemos meios de economizar, recicla, não polui.” (aluna 5º ano –
rede particular)
(03) “Sua atitude pode nos prejudica” (aluna 9º ano – rede pública)
De acordo com a linguística moderna, é necessário estar atento às
diferenças de culturas que o aluno representa e a da escola. Assim, deve o
educador encontra formas efetivas de conscientizar os educandos sobre estas
diferenças.
21
[...] uma das principais tarefas da reeducação sociolinguística é elevar a auto-estima linguística das pessoas, mostrar a elas que nada na língua é por acaso e que todas as maneiras de falar são lógicas, corretas e bonitas.(BAGNO, 2007, p.36)
Todos falam “a mesma língua”, porém apresentam traços que ora os
caracterizam (particularizam), ora os agrupam, mostrando, assim, que a língua
falada vive a história de cada falante, variando no tempo e no espaço. Essas
variações, se rechaçadas pela norma culta, estigmatizam; caso contrário, se
legitimadas, passam a ser cultas. As línguas variam, tanto em sua forma falada
quanto em sua forma escrita. A esse respeito Marchuschi (2007) afirma:
O interessante nesta perspectiva é que a variação se daria tanto na
fala como na escrita, o que evitaria o equívoco de identificar a língua
escrita como a padronização da língua, ou seja, impediria identificar a
escrita como equivalente a língua padrão, como fazem os autores
situados na perspectiva da dicotomia estrita.(MARCHUSCHI, 2007,
p.32
A escrita se encontra em um estado normatizado, sujeito às regras
estabelecidas. Surge o grande desafio do educador: tratar a influência da fala
na escrita, como meio de evitar estigmatizações, propiciando ao aluno a
possibilidade de inserção numa sociedade como a nossa atual.
Desta forma, esta pesquisa segue seu curso, tendo por desafio observar
os usos linguísticos nos registros de estudantes ao longo do ensino básico,
possibilitando a interessados em prática pedagógica debates para aplicações
práticas para seus frutos, visando, assim, contribuir para o trabalho de
docentes de Língua Portuguesa e, por conseguinte, para a democratização do
ensino da língua materna no país, numa atitude pedagógico-inclusiva.
O trabalho que ora se delineia apresenta a seguinte forma
organizacional:
O capítulo inicial da presente pesquisa, Base teórica, apresenta a
seguinte formatação: inicialmente, aborda-se o norte principal deste estudo,
cujos pressupostos teóricos e metodológicos se orientam pela Sociolinguítica
Variacionista; e em seguida, trata-se dos processos de relações entre as
modalidades falada e escrita da língua, mostrando que a oralidade e escrita
como interrelações.
22
Em continuidade ao delineamento da pesquisa, tem-se o segundo
capítulo Estudos sobre os róticos no Português Brasileiro. Nele contemplam-se,
em ordem cronológica, as pesquisas que antecederam a esta, visando
esquematizar os principais contextos favorecedores do apagamento dos róticos
na fala brasileira.
Com o fito de refazer o caminho percorrido ao longo do presente estudo,
o texto segue com a apresentação da Metodologia adotada para dar conta do
objetivo principal da pesquisa. Nesta etapa, apreseentam-se a constituição do
corpus, a seleção dos informantes, a observação e análise dos dados e a
ferramenta de análise – Goldvarb X.
Em sequência ao curso da pesquisa, há o capítulo Análise dos dados.
Neste capítulo, expõe-se a distribuição geral das variantes no corpus, e
analisam-se os contextos favorecedores do fenômeno foco do estudo por meio
da observação das variáveis (não) selecionadas pelo programa Goldvarb X.
Por fim, traçam-se as Considerações finais, resumindo-se os prinicipais
resultados, dialogando-se com o “já dito” em pesquisas anteriores e apontando-
se possíveis encaminhamento. É necessário ressaltar que o estudo não se
finda. As reflexões aqui apresentadas não têm a pretensão de ser axiomas,
mas sim o prosseguir de um caminho, uma vez que “Fino, estranho, inacabado
é sempre o destino da gente” (João Guimarães Rosa).
23
1 BASE TEÓRICA
A pesquisa aqui retratada orienta-se pelos pressupostos teóricos da
Sociolinguística Variacionista propostos por William Labov, cuja base encontra-
se na observação do caráter multifacetado da língua propiciado pelas relações
sociais, adotando, para tanto, a observação, descrição e interpretação do
comportamento linguístico do ser humano enquanto ser social.
É mister ressaltar que, para melhor investigação do objeto desta
pesquisa, somaram-se à Teoria Variacionista Laboviana os estudos que vêm
sendo denominados de Sociolinguística Educacional (BORTONI-RICARDO,
2004, 2005; GARRÃO NETO,2009; PILOTO; GORSKI, 2003).
1.1 A Sociolinguística variacionista
O homem, há muito tempo, busca compreender-se. Assim, uma vez a
língua sendo meio de expressão do indivíduo em suas relações sociais, a
busca por essa compreensão da essência humana dá-se, também, no campo
dos estudos da linguagem. De igual modo, também há muito remontam as
indagações do homem quanto ao caráter multifacetado da língua. Tais
afirmações encontram lastro em diversos textos, inclusive os datados antes da
Era Cristã, a exemplo do diálogo platônico “Crátilo”. Neste escrito filosófico, o
mestre Sócrates debate com Hermógenes a origem dos nomes, a partir de um
oráculo feito por Crátilo a Hermógenes, cujo tema é a origem e significado dos
nomes. Ao longo do debate, Hermógenes revela sua observação quanto às
variações que ocorrem na língua, no momento em que afirma a Sócrates que:
"também vejo, às vezes, cada uma das cidades atribuindo nomes distintos às
mesmas coisas, tanto os gregos diferentemente de outros gregos, quanto estes
dos bárbaros".
O texto aqui tomado como gatilho para discussão não objetiva o estudo
da língua em si, contudo configura-se como importante exemplo de como o
entendimento da língua é ímpar para a compreensão do homem enquanto
indivíduo perante a sociedade. E é justamente nesta perspectiva social que se
inserem os estudos sociolinguísticos, cuja base teórica encontra-se na
concepção de língua sob a ótica social, como bem sinalizam Cezario e Votre:
24
Para essa corrente, a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação. (CEZARIO; VOTRE, 2009. p. 141)
É possível perceber o debate quanto ao caráter social da língua desde o
início do século passado nas considerações do linguista francês Antoine Meillet
em seu artigo “Comment les mots changent de sens”, no qual, sob a influência
do pensamento Durkheimiano, apresenta uma visão diferenciada de estudo da
língua, definindo-a como um fato social, diferentemente da visão científica
dominante de sua época, o estruturalismo.
Para melhor compreensão do pensamento estruturalista, segundo
Weedwood (2002), faz-se necessária a análise separada de suas duas
vertentes: a europeia e a americana. O estruturalismo europeu tem como
marco inicial a publicação do Curso de Linguística Geral de Ferdinand
Saussure, no qual, sob a influência das ideias de Humboldt, discorre sobre a
estrutura do sistema linguístico a partir de dicotomias: langue (totalidade de
regularidades e padrões de formação que subjazem de um enunciado) x parole
(comportamento linguístico que designa os enunciados reais). Desta forma, o
estruturalismo europeu, representado pela Escola de Praga e pela Escola de
Copenhague, é um termo que se refere à visão de que existe uma estrutura
relacional abstrata subjacente e esta se distingue dos enunciados reais.
Compartilhando uma série de características do estruturalismo europeu, tem-se
o estruturalismo americano, preconizado por Franz Boas (1858-1942), Edward
Sapir (1884-1939) e Leonard Blomfield (1887-1949). Este último adotou
explicitamente uma abordagem behaviorista do estudo da língua, eliminando
toda referência a categorias mentais ou conceituais. Outro aspecto
característico da vertente americana do estruturalismo está na tentativa de
formulação de uma série de “procedimentos de descoberta”, os quais poderiam
ser aplicados mais ou menos mecanicamente a textos e poderiam gerar uma
descrição fonológica e sintática apropriada da língua dos textos.
Assim, uma vez visualizada a atmosfera científica vivenciada por Meillet,
é possível perceber a grande importância de seus estudos para essa nova
visão do elemento social como parte atuante nas mudanças de uma língua,
25
comungada, anos depois, com Labov quando expõe, no capítulo O estudo da
língua em seu contexto social, em Padrões Sociolinguísticos:
As questões teóricas a serem levantadas também farão parte da categoria da linguística geral. Estaremos preocupados com as formas das regras linguísticas, sua combinação em sistemas com o tempo. Se não houvesse necessidade de contrastar este trabalho com o estudo da língua fora de seu contexto social, eu preferiria dizer que se trata simplesmente de linguística.(LABOV, 2008 [1972], p.216)
A partir das colocações de Meillet, “surge assim, desde o nascimento da
linguística moderna, em face de um discurso de caráter estrutural e insistindo
essencialmente na sua forma da língua, outro discurso que insiste em suas
funções sociais” (CALVET, 2002. p. 17).
Um passo importante no desenvolvimento desta então nova visão da
língua data de 1964, mais precisamente em um congresso na Universidade da
Califórnia – Congresso de UCLA –, organizado pelo linguista William Bright.
Nesta ocasião, cunhou-se o termo Sociolinguística, tendo por fruto dos debates
ali realizados a publicação do livro intitulado “Sociolinguistics”. Entre os
estudiosos deste marcante evento para os estudos sociolinguísticos, estão
Bright, Dell Hymes, William Labov, John Gumperz, Einar Haugen, John Fisher,
José Pedro Rona, entre outros. É necessário destacar a importância deste
congresso para a consolidação dos estudos da área, sobretudo no que se
refere às dimensões da Sociolinguística, tema introdutório de “Sociolinguistics”,
em que Bright define e caracteriza a área, além de pontuar o papel da
Sociolinguística em relacionar as variações linguísticas em uma comunidade às
distinções inerentes à estrutura da sociedade.
Também no início da década de 1960, há um grande passo nos estudos
sociolinguísticos com a análise do falar dos habitantes da ilha de Martha’s
Vineyard (1963). Em sua dissertação de mestrado, cujo objetivo foi estudar a
frequência e distribuição das variantes fonéticas dos ditongos /ay/ e /aw/ nas
diversas regiões, faixas etárias, grupos profissionais e étnicos dentro da ilha
americana, localizada no estado de Massachusttes, William Labov concebe a
vertente quantitativa da Sociolinguística – também conhecida como Teoria da
Variação ou Sociolinguística Variacionista – e constrói uma metodologia em
26
que os dados linguísticos são passíveis de sistematização e análise. Assim, o
autor mostra, por meio da observância de dados estatísticos, a necessidade
dos habitantes mais velhos da ilha em intensificar a pronúncia local como
reflexo de uma reação a fortes mudanças sociais decorrentes da ocupação do
território por veranistas e, destarte, evidencia o fato de a língua ser um fator de
identidade social.
Outro estudo de suma significância para o avanço metodológico dos
estudos sociolinguísticos foi desenvolvido por Labov, em sua tese de
doutoramento. Nele, o estudioso analisa a estratificação social do inglês nova-
iorquino (1966) a partir da análise do fenômeno de presença e ausência da
consoante pós-vocálica -R em falas de vendedores de três lojas de
departamentos subdivididas em status superior, médio e inferior, intentando,
assim, mostrar como o falar destes profissionais revela-se em consonância à
estratificação social dos seus locais de trabalho. Além do estrato social das
lojas e, por conseguinte, de seus funcionários, Labov também analisou outras
variáveis de cunho social atuando na variação foco do estudo tais como a raça
e a ocupação de seus informantes.
Neste diapasão, ao sinalizar o papel dos fatores sociais no processo de
variação da língua, Labov estabelece um modelo teórico-metodológico de
descrição e interpretação de fenômenos linguísticos, ou seja, um modelo que
estuda a língua em uso nas comunidades de fala, focando a atenção em um
tipo de investigação em que aspectos linguísticos e sociais encontram-se
correlacionados.
Os objetivos basilares da Sociolinguística Variacionista são
estabelecidos tendo como ponto de partida a ideia de heterogeneidade da
língua e da sociedade e podem ser resumidos em analisar e legitimar variantes
usadas numa comunidade de fala e compreender a relação entre variação e
mudança linguísticas. Assim, a partir da Sociolinguística, tem-se a ênfase ao
caráter multifacetado da língua e sua constante mutação, consoante às
mudanças do meio social em que se insere:
Os procedimentos da linguística descritiva fundamentam-se na
concepção de que a língua é um conjunto estruturado de normas
27
sociais. No passado, foi útil considerar que tais normas eram
invariáveis e compartilhadas por todos os membros da comunidade
linguística. No entanto, as análises mais detalhadas do contexto
social em que a língua é utilizada vieram demonstrar que muitos
elementos da estrutura linguística estão implicados na variação
sistemática que reflete tanto a mudança no tempo quanto os
processos sociais extralinguísticos. (LABOV, 2008 [1972]. p 12)
Assim, neste cenário de evolução nos estudos linguísticos, surge o
modelo teórico variacionista proposto por Labov, o qual, como exposto
anteriormente, é orientado pela relação entre a língua e sociedade, insistindo
na possibilidade de sistematizar a variação linguística. Nesta perspectiva, além
de regras categóricas, há, no sistema linguístico, regras linguísticas variáveis,
uma vez que o favorecimento de uma forma dá-se pelas circunstâncias
linguísticas e não linguísticas apropriadas à aplicação de uma regra específica.
Deste modo, afirma-se que a língua é passível de variação e que um mesmo
vocábulo ou construção pode ser realizado de formas diversas, que a teoria
laboviana define por variantes linguísticas.
A Sociolinguística Variacionista tem por objeto de estudo a variação e a
mudança da língua no contexto social da comunidade de fala. O estudioso
dessa corrente de estudos linguísticos vê a língua como dotada de
“heterogeneidade sistemática”, elemento importante na identificação de grupo e
na demarcação de diferenças sociais na comunidade:
A mudança aparece primeiramente como um traço característico de
um subgrupo específico, sem atratir a atenção particular de ninguém.
À medida que avança dentro do grupo, ela pode também se difundir
para fora, numa onda, afetando primeiramente os grupos sociais mais
próximos do grupo de origem. Inevitavelmente, o traço linguístico fica
associado com as características expressivas do grupo de origem,
seja qual for o prestígio ou outros valores sociais associados a tal
grupo pelos demais membros da comunidade de fala (LABOV, (2008
[1972], p. 366)
Como tratado anteriormente, a língua não é propriedade do indíviduo e
sim um bem social. Deste modo, Labov, a partir da crença em um novo modelo
de fazer Linguística, estuda empiricamente as comunidades de fala. De acordo
com Labov (2008 [1972]), o sociolinguistica concorda que a produção e
interpretação de um usuário da língua não são o lugar primário da investigação,
28
nem unidade finais de análise, mas os componentes usados para construir
modelos de nosso objeto primário de interesse: a comunidade de fala.
Deste modo, configura-se a Sociolinguística como a ciência que estuda
a estrutura e evolução da língua em seu contexto social da comunidade,
evidenciando seu aspecto multifacetado: a heterogeneidade linguística. Labov,
ao tratar de heterogeneidade linguística, suscita a reflexão a seguir:
Seria apropriado perguntar, neste momento, quais são as propriedades mais úteis de uma variável linguística para servir de foco para o estudo de uma comunidade de fala. Primeiro, queremos um item que seja frequente, que ocorra tão reiteradamente no curso da conversação natural espontânea que seu comportamento possa ser mapeado a partir de contextos não-esturuturados e de entrevistas curtas. Segundo, deve ser estrutural: quanto mais integrado o item estiver num sistema amplo de unidades funcionais, maior será o interesse linguístico intrínseco do nosso estudo. Terceiro, a distribuição do traço deve ser altamente estratificada: ou seja, nossas explorações preliminares devem sugerir uma distribuição assimétrica num amplo espectro de faixas etárias ou outros estratos ordenados da sociedade. (LABOV, (2008 [1972], p. 26)
Assim, a variação sistemática é um caso de modos alternativos de dizer
a mesma informação, sendo esses modos portadores do mesmo significado
referencial. Nesta perspectiva, dois enunciados que se referem ao mesmo
estado de coisas, com o mesmo valor de verdade compõem variantes de uma
mesma variável. A Sociolinguística, cuja gênese está nos estudos de Labov,
configurou-se como sinônimo do estudo da variação e mudanças linguísticas.
Como já mencionado, os primeiros trabalhos de Labov baseiam-se na
proposta de correlacionar os padrões linguísticos variáveis a diferenças
paralelas na estrutura social em que falantes estão inseridos. Investigando
variáveis fonológicas, tais como a centralização dos ditongos /ay/ e /aw/ e o
apagamento dos róticos, o autor constata uma forte ligação entre a
estratificação social dos falantes e seus usos linguísticos diferenciados.
A Teoria da Variação rompe com a dicotomia sincronia/diacronia de
Saussurre aproximando-as e correlacionando variação e mudança: “Afinal de
contas, para que os sistemas mudem, urge que eles tenham sofrido algum tipo
de variação.” (TARALLO, 2007, p. 25). A conjunção entre sincronia e diacronia
permite que o enfoque não seja o de mudanças abruptas ou etapas estáticas.
Pode-se dizer que, “a partir de tais e tais características estruturais e de tais e
29
tais condições de funcionamento, o sistema, quase que preditivamente,
caminhou na direção X e não na direção Y” (TARALLO, 2007, p.26). Assim
sendo, é basilar a ideia de que:
Fatores linguísticos e sociais estão intimamente inter-relacionados no desenvolvimento da mudança linguística. Explicações confiadas a um ou outro aspecto, não importa quão bem construídas, falharão em explicar o rico volume de regularidades que pode ser observado nos estudos empíricos do comportamento linguístico. (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 126)
Por meio do estudo da variação, é possível captar a direção e algumas
generalizações acerca da mudança. De acordo com Faraco (2005), a mudança
não se refere à troca direta e abrupta de um elemento por outro, mas envolve
sempre uma fase de concorrência. Da variação entre duas formas para a
codificação de uma mesma função/significação, uma pode se fixar na função
tornando a outra obsoleta, embora nem sempre seja esse o caso.
1. 1.1 A Sociolinguística e o ensino de Língua Portuguesa
É inconteste o fato de que a língua, apesar de tantas mudanças sociais
vivenciadas pela sociedade brasileira nas últimas décadas, ainda se configura
como um profícuo veículo de exclusão social posto que esta, na condição de
bem cultural, revela-se como um importante indicador da estratificação social.
Além do desenvolvimento científico e tecnológico no país, os estudos
sociolinguísticos adquiriram, ao longo dos anos, importância política, sobretudo
para a educação nacional, mais especificamente, para as políticas de ensino
da Língua Portuguesa. Analisando uma outra realidade sociocultural, tem-se o
pensamento de Silva-Corvalán (2001), que reforça o valor de tais estudos para
a educação como um todo:
La amplia gama de estudios sociolingüísticos realizados en los
últimos treinta años dan prueba de la validez e importancia de la
sociolingüística en el campo de la educación. (SILVA-CORVALÁN,
2001.p.26)1
Têm-se no Brasil, como marco deste destaque, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) em que, repetidas vezes, encontram-se
1 A ampla gama de estudos sociolinguísticos realizados nos últimos trinta anos dão prova da
validade e importância da Sociolinguística no campo da educação.(tradução nossa)
30
referências a conceitos oriundos da nova mentalidade presente no pensamento
da nossa sociedade, resultante do entendimento sobre o vernáculo propiciado
pelos estudos de diversidade linguística. Nos dias atuais, contudo, a educação
nacional enfrenta um grande desafio: transpor o conhecimento científico de
modo efetivo e eficaz para o cotidiano da sala de aula. Nesta linha de
pensamentos, tem-se a contribuição dos PCN , que defendem que:
(...) não são os avanços do conhecimento científico por si mesmos que produzem as mudanças no ensino. As transformações educacionais realmente significativas — que acontecem raramente — têm suas fontes, em primeiro lugar, na mudança das finalidades da educação, isto é, acontecem quando a escola precisa responder a novas exigências da sociedade. E, em segundo lugar, na transformação do perfil social e cultural do alunado: a significativa ampliação da presença, na escola, dos filhos do analfabetismo — que hoje têm a garantia de acesso mas não de sucesso — deflagrou uma forte demanda por um ensino mais eficaz. (BRASIL, 1997. p. 21)
Na mesma linha desta latente inquietação evidenciada no texto dos
PCN, Bortoni-Ricardo, ao tratar sobre “O Estatuto do erro na língua oral e na
língua escrita”, enfatiza o papel singular do professor na necessária mudança
das práticas de sala de aula:
[...] é nossa tarefa na escola ajudar os alunos a refletir sobre sua língua materna. Essa reflexão torna mais fácil para eles desenvolverem sua competência e ampliarem o número e a natureza das tarefas comunicativas que já são capazes de realizar, primeiramente na língua oral e, depois, também, por meio da língua escrita. A reflexão sobre a língua que usam torna-se especialmente crucial quando nossos alunos começam a conviver com a modalidade escrita da língua. (BORTONI-RICARDO, 2013)
Em meio a tantos questionamentos e apreensões, há a vertente
educacional dos estudos sociolinguísticos, na qual é possível observar as
implicações que diversos fenômenos analisados exercem no processo de
ensino e aprendizagem de língua materna, em especial nas séries do ensino
fundamental. Tais estudos pretendem contribuir ainda mais para a melhoria da
qualidade do ensino, uma vez que pesquisam a realidade linguística dos
usuários da língua, os alunos, entrelaçando, em suas análises, fatores internos
à língua (fonologia, morfossintaxe, semântica) e fatores externos à língua
(sexo, faixa etária, situação econômica, cultural, entre outros).
Para uma melhor compreensão do processo de variação linguística,
Bortoni-Ricardo (2004) define três contínuos: contínuo de urbanização,
31
contínuo de oralidade-letramento e o contínuo de monitoração-estilística. Este
modelo de descrição revela-se importante para um melhor entendimento dos
aspectos que caracterizam a variação linguística. Nesta pesquisa, recorre-se
aos contínuos de oralidade-letramento e monitoração-estilística. No primeiro
caso, pretende-se observar o comportamento linguístico dos indivíduos que
contribuíram para a formação do corpus analisado, uma vez que se levam em
conta eventos de comunicação mediados pela escrita e eventos marcados pela
oralidade sem influência direta da escrita, acreditando-se, destarte, que o
primeiro tipo de evento apresenta traços da oralidade, uma vez que a língua
falada é mais corrente nas atividades cotidianas. No segundo caso, objetiva-se
aferir a oscilação entre usos linguísticos mediante a mudança no grau de
formalidade do registro, seja este espontâneo ou mais formal, apresentando os
primeiros uma interação maior com a língua falada.
Outro aspecto interessante, sinalizado por Bortoni-Ricardo (2004), é a
classificação das regras fonológicas que caracterizam o português brasileiro
em: traços descontínuos - variações marcadas socialmente, configurando-se,
assim, como traços mais fáceis de serem substituídos nos usos dos alunos
com o processo de escolarização; e traços graduais – regras variáveis sem
distinção social e geográfica, as quais exigem do docente uma atenção maior
posto sua ausência de estigmatização. Conhecedor destes aspectos que
propiciam a variação nos usos linguísticos dos alunos, cabe ao professor
estabelecer estratégias que possibilitem ao aluno a apreensão da variante-
padrão e reconhecer os usos fora do padrão, mostrando-lhe estes com
cuidado sem humilhá-lo, conscientizando-o, assim, sobre as diferenças
linguísticas que permeiam as relações sociais. Neste universo dos estudos
sociolinguísticos, o presente trabalho insere-se por meio da observação de
registros escritos de estudantes soteropolitanos (em diferentes séries, gêneros
textuais e natureza de instituições). Espera-se, assim, verificar em que medida
o processo de enfraquecimento consonantal dos róticos em posição de coda
silábica em final de palavra está presente na escrita dos alunos e – ainda que
subsidiariamente, já que não se trata de um estudo em Linguística Aplicada –
fomentar o debate entre docentes de língua portuguesa sobre melhores
estratégias de apreensão do padrão linguístico.
32
O ensino de Língua Portuguesa é por si só uma questão paradoxal,
como bem sinalizam Guy e Zilles (2006), uma vez que, diferentemente do
ensino da Matemática em que o aluno chega ao ambiente escolar com
conhecimentos rudimentares, o docente de Língua Portuguesa encontra um
aluno proficiente na língua, principalmente a variedade linguística de sua
comunidade. Assim, inicia esse embate entre culturas docente e discente,
posto que, como sinaliza Bortoni-Ricardo (2004), em muitos casos, há um
distanciamento na relação professor x aluno em sala de aula, mais
precisamente, nos usos linguísticos de professor x usos linguísticos de alunos.
Destarte, o estudo sobre a relação entre os usos da língua padrão aos quais os
alunos são expostos na escola e a variedade da língua que trazem consigo
apresenta-se como ferramenta singular para minimizar tal conflito.
Uma reflexão bastante interessante sobre o papel do ensino de língua
portuguesa frente às demandas geradas pelas variedades dialetais
encontradas no ambiente escolar está no texto de Piloto e Gorski (2003). As
autoras analisam quatro pontos relativos à relação ensino x diversidade
linguística:
(i) o problema da escola brasileira, que não tem se mostrado
competente para as camadas mais populares, gerando, assim, o
fracasso escolar e, por conseguinte, acentuando as
desigualdades sociais;
(ii) o preconceito linguístico, que impõe a variedade padrão,
desprezando a variedade linguística trazida pelo aluno com seus
“erros” de fala e escrita;
(iii) as relações de comunicação linguística em condições
sociais concretas como mercado linguístico - retomando o
pensamento de Bourdieu - , pois veem-se muitas crianças
silenciadas e suas produções escritas reduzidas ao mínimo
possível para não se exporem a comentários como “erro
ortográfico”, “pobreza de vocabulário”, “falta de sentido”.
33
(iv) a inserção de diferentes indivíduos pertencentes a níveis
sociais dos mais variados com o advento da democratização do
ensino e, como consequência, a absorção de acentuadas
diferenças dialetais, as quais geram problemas, pois que são
consideradas errôneas.
Piloto e Gorski (2003) finalizam suas observações mostrando a
importância da postura docente frente a esta problematização. Cabe ao
professor conhecer a realidade sociocultural e econômica de seus alunos antes
de trabalhar em sala o padrão da língua.
Ainda em reflexão sobre o padrão linguístico e a configuração social,
Marchuschi (2007) afirma que:
A língua, seja na sua modalidade falada ou escrita, reflete, em boa
medida, a organização da sociedade. Isso porque a própria língua
mantém complexas relações com as representações e as formações
sociais.(MARCHUSCHI, 2007, p.35)
Silva-Corvalán (2001) também trata desta relação língua x sociedade,
sobretudo quanto à importância do conhecimento do vernáculo para a relação
professor e aluno, quando expõe que:
Ninguna variedad de lengua es menos lógica o más simple que otra,
sino sencillamente diferente. Para tanto, es absolutamente necesario
comprender y conocer las formas vernaculares ya que ignoralas
puede causar conflictos graves entre profesor e alumno. (SILVA-
CORVALÁN, 2001. p. 28)2
Desta forma, o docente não exporá seus alunos a uma situação
constrangedora diante de seus colegas, pois, em seu processo avaliativo
(consciente das variações presentes na fala discente), a correção motivará
esses alunos a encontrarem naturalmente, também, seus erros.
Outro aspecto a ser observado é a diferença entre a postura dos
professores frente ao desempenho do aluno em atividades de oralidade e
escrita. A noção de erro atrelada aos usos da língua oral já não é comum nos
discursos dos profissionais de educação e em documentos oficiais ou textos 2 Nenhuma variedade da língua é menos lógica ou mais simples que outra, mas simplesmente
diferente. Para tanto, é absolutamente necessário compreender e conhecer as formas vernaculares já que ignorá-las pode causar graves conflitos entre professor e aluno. (tradução nossa)
34
sobre o ensino de língua; a exemplo, têm-se os PCN, em que situações de fala
em que variantes não-padrão da língua são reveladas são consideradas como
fato social. Contudo, a noção de erro na escrita é bastante forte, até mesmo
pelo fato de se tratar de um rompimento com um código, bem como havendo
um forte componente de avaliação social, dado o caráter negativo da avaliação
de erros ortográficos.
Assim, faz-se necessária a configuração fixa e pré-ordenada da escrita,
uma vez que:
Na modalidade escrita, a variação não está prevista quando uma língua já venceu os estágios históricos da sua codificação. A uniformidade de que a ortografia se reveste garante sua funcionalidade. Toda variação fonológica de um discurso oral (inclusive e principalmente a de natureza regional) se reduz a uma ortografia fixa e invariável, cuja transgressão não é uma opção aberta para o usuário da língua. Assim, o texto escrito pode ser lido e entendido por falantes com os mais diferentes antecedentes regionais. (BORTONI-RICARDO, 2004, p.273)
Portanto, cabe ao professor diferenciar a origem de erros ortográficos se
estes são próprios da natureza arbitrária do sistema de convenções da escrita
ou se são transposições dos hábitos da fala para a escrita (BORTONI-
RICARDO, 2005. p.54). Firma-se, neste cenário, a cogente necessidade de
estudos sociolinguísticos em sala de aula, visando sobremaneira ao auxílio às
práticas pedagógicas para que não mais sejam permitidas, em ambiente
escolar, práticas de preconceito, o que deveras serve como fomentador para os
elevados índices de evasão nas escolas brasileiras.
Discussão similar encontra-se em Garrão Neto (2009). O autor debate a
importância da aplicação dos estudos sociolinguísticos em sala de aula,
ajudando o professor de língua materna a reconhecer e a legitimar a
diversidade linguística. Ao tratar da variação linguística em sala de aula, o autor
salienta que:
Um professor de língua materna não atento pode perpetuar
preconceitos, no lugar de combatê-los. Caberá, primordialmente ao
professor de língua materna, não só apresentar ao discente
mecanismos para que ele possa melhor usufruir da própria língua,
mas também apresentá-lo, de forma legítima, às variações regionais
e sociais encontradas no Brasil. Desse modo, o ensino da gramática
deve estar subjugado a uma ampla percepção, por parte dos alunos,
do que vem a ser, de fato, uma língua. Deve-se apresentar a língua
35
como um organismo vivo, que se modifica constantemente
justamente pelo uso que, portanto, não pode ficar alheio aos estudos
de gramática. (GARRÃO NETO, 2009, p. 88)
O autor argumenta sobre o ensino de gramática prescritiva e sua
defasagem cuja previsão baseia-se na aquisição de estruturas não mais usuais
na fala de grande parte da população. Para concretizar seu argumento, mostra
uma série de ambientes fonéticos e sintáticos em desacordo com o que o
professor de língua materna ensina em sala de aula. Entre os diversos
exemplos em ambiente fonético explanados pelo autor, encontra-se a
tendência à omissão do -r final do infinitivo dos verbos (fazer/fazê). Finalizando
o debate, Garrão Neto (2009, p.91) ratifica a importância dos estudos em
Sociolinguística na formação docente para " banir as considerações que
reduzem toda questão linguística aos rótulos 'certo' e 'errado'", faltando apenas
a prática dessa discussão, ou, como coloca o autor, resta ao docente "pôr a
mão na massa".
Neste universo de vozes sobre a realidade do ensino brasileiro, suas
dificuldades, processos, produtos, a presente pesquisa insere-se, pretendendo
contribuir para fortalecer o discurso do respeito à diversidade e servir de mais
um alicerce para o trabalho docente consciente e empenhado em dissipar as
mazelas do sistema de ensino.
1.2 Oralidade e escrita: interrelações
Refletir sobre o papel da oralidade e da escrita nas práticas sociais deve
ser o ponto de partida para o pensamento docente, e mais ainda, para o
repensar de sua prática pedagógica. Muitas vezes, a falta de entendimento das
relações e influências dessas duas formas de apresentação da língua gera
uma série de equívocos nas aulas de língua portuguesa, sobretudo no
processo de avaliação do aluno. Marchuschi (2007, p. 17) assinala que
“oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias,
mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas linguísticos”,
possibilitando a ambas a construção de textos coesos e coerentes, bem como
36
a exposição de variações de cunho estilísticos, sociais e dialetais. A exemplo,
tem-se – como observado no presente trabalho – a prática comum de
generalizar erros decorrentes de regras fonológicas categóricas e/ou variáveis
como próprios da natureza arbitrária do sistema de convenções da escrita
(Bortoni-Ricardo 2005, p.54). Diante de tais reflexões, é válido ressaltar que
não se intenta, com isso, abandonar a notificação de tais variações na escrita,
mas sim, fazer com que o aluno as perceba e entenda os limites que o texto
escrito lhe impõe e as adequações que este carece ter.
Scliar-Cabral (2003) apresenta diferenças entre o sistema verbal oral e
escrito: linguagem oral dá-se espontaneamente desde que haja traços de
humanização, enquanto a linguagem escrita, por ser uma invenção, sua
aprendizagem se dá de forma intensiva e sistemática na maioria dos casos.
Não obstante, a autora sinaliza propriedades partilhadas pela fala e escrita: (i)
meio de comunicação verbal – tanto o sistema oral quanto o sistema escrito
servem à função comunicativa, de modo que ainda que uma mesma palavra
possa ser reproduzida de formas diversas, consoante à variedade
sociolinguística do indivíduo que a produz, os demais indivíduos da
comunidade entendem a mensagem oral. De igual modo ocorre com o registro
escrito, por mais diversificado que este seja, sua funcionalidade permanece
inalterada pelos valores atribuídos aos signos linguísticos pelos membros da
comunidade linguística; (ii) retificação – configura-se como atividade de
conceituar, possibilitando a reflexão tanto na modalidade oral quanto na escrita;
(iii) metalinguagem – ambos os sistemas servem-se como instrumento de
reflexão sobre a própria língua; (iv) transmissão cultural – tanto a língua falada
quanto a língua escrita servem como veículo de transmissão cultural, sendo a
escrita um registro que não permite distorções e a fala um meio comum de
transmissão do conhecimento por várias gerações; (v) funções expressiva e
estética, destacando-se a língua falada pela presença de elementos como a
expressão facial, corporal e modulações da voz; (vi) articulações –
característica que garante produtividade e criatividade à linguagem; (vii)
produtividade – diferentes combinações de poucas unidades garantem a
construção contínua de novas informações; (viii) retroalimentação total –
habilidade que permite ao usuário da língua refletir sobre o que fala ou escreve.
37
O cotidiano em sala de aula deve ser encarado pelo docente, sobretudo
no caso específico dos pensamentos aqui elencados, como um constante
desafio, cujas certezas devem ser frequentemente questionadas e o olhar novo
sobre o já conhecido mundo mostra-se como estratégia singular de renovação.
Assim, ao corrigir uma produção escrita do aluno, o professor não deve se
restringir ao ato único de podar os erros ortográficos, mas marcá-los, quando
houver, sem perder de vista o processo de construção do conhecimento
daquele indivíduo e a importância do desenvolvimento da habilidade
comunicativa para seu crescimento enquanto ser social. Mais especificamente
no que tange ao tratamento da inteferência da fala na escrita, é válido destacar
as palavras de Marchuschi (2007) como balizador para esse novo olhar
docente:
Minha posição é a de que fala e escrita não são propriamente dois
dialetos, mas sim duas modalidades de uso da língua, de maneira
que o aluno, ao dominar a escrita se torna bimodal. (MARCHUSCHI,
2007, p.32)
Auxiliar o aluno neste processo de apreensão desta modalidade da
língua, a escrita, é papel do professor e seu exercício exige consciência da
realidade sociocultural do aluno e, principalmente, das desastrosas
consequências geradas por uma prática de ensino-aprendizagem alicerçada no
preconceito linguístico.
Isto posto, na etapa que se segue, serão aventados estudos sobre a
organização da ortografia de língua portuguesa, para que, em momento
seguinte, seja possível observar como tal organização é apreendida pela
criança ao longo do processo de aquisição da língua escrita. Deste modo,
pretende-se reforçar o diálogo de que, em diversas situações de sala de aula,
“erros” de ortografia, ou “erros” de escrita, em verdade, devem ser concebidos
como interações da fala na escrita, sendo que tais interações tendem a sofrer
decréscimo com o avançar da escolarização do indivíduo, sobretudo se aliado
a este desenvolvimento estejam ações pedagógicas que proporcionem ao
educando uma visão crítica de seus usos linguísticos, como pontuado por
Simões:
A apropriação da leitura e da escrita, pela criança em especial, é um processo de alto grau de complexidade e requer do professor
38
competência técnico-pedagógica específica, para que as dificuldades possam ser minimizadas. (SIMÕES, 2006, p.16)
Assim sendo, para aprofundar o debate sobre a escrita e oralidade o
presente capítulo discorrerá, inicialmente, sobre observações acerca do
processo de aquisição de regras da ortografia oficial, para, por conseguinte,
apresentar algumas análises referentes à escrita discente.
1.2.1 O processo de aquisição de regras ortográficas
O poeta Carlos Drummond de Andrade sintetiza brilhantemente a
dificuldade encontrada pelo indivíduo ao adentrar no universo escolar nos
primeiros versos do poema Aula de Português: “A linguagem/ na ponta da
língua/ tão fácil de falar / e de entender” x “A linguagem/ na superfície estrelada
de letras/ sabe lá o que ela quer dizer”. O aluno, para o poeta, vê-se diante de
duas vertentes da linguagem, a primeira já conhecida e sob seu domínio, uma
vez que esse se comunica com eficácia em suas práticas cotidianas; já a
segunda revela-se como um mistério, um caminho que não se apresenta linear;
em verdade, para muitos, é um labirinto cheio de armadilhas, as quais, se não
devidamente alertadas por quem o conduzirá nesta etapa da vida, serão um
forte motivo para seu fracasso escolar e, por conseguinte, não aceitação social,
dada a importância desta forma de linguagem, como indica Marchuschi:
Ela [a escrita] se tornou um bem social indispensável para enfrentar o dia-a-dia, seja nos centros urbanos ou na zona rural. Neste sentido, pode ser vista como essencial à própria sobrevivência no mundo moderno. Não por virtudes que lhe são imanentes, mas pela forma como se impôs e a violência com que penetrou nas sociedades e impregnou as culturas de um modo geral. (MARCHUSCHI, 2007, p. 16-17)
Assim, tem-se início uma reflexão sobre o processo de aquisição de um
sistema de escrita ortográfica no qual nem sempre há uma equivalência entre
fonema e grafema, ainda que o modelo alfabético, inicialmente, intente ser
fonético, ou seja, procure representar os sons da fala, exatamente como
pronunciado.
Kato (2010), em seu trabalho No mundo da escrita, afirma que a função
da escola é introduzir a criança no mundo da escrita, tornando-a um cidadão
39
funcionalmente letrado, sendo a norma-padrão – preconizada nas gramáticas e
manuais –, ou língua falada culta – utilizada por inidvíduos de escolaridade de
nível superior – uma consequência do letramento proporcionado pelas práticas
escolares. Ainda refletindo sobre a aquisição da escrita e suas dificuldades, a
pesquisadora assinala que:
a língua oral muda e a escrita é conservadora, o que acarreta um afastamento gradativo entre as duas. Quando a motivação vai deixando de existir, o que resulta é um misto de relações motivadas e arbitrárias. (KATO, 2010. p. 19)
Pensando acerca das ideias de Kato, surge o debate sobre essa
arbitrariedade da escrita, em que ocorre e em que medida dificulta a
aprendizagem da língua escrita, bem como o que deve fazer o professor diante
de tal situação.
Frente ao debate anteriormente posto, surgem as reflexões sobre o
sistema ortográfico do português brasileiro e a importância de sua
compreensão para a prática pedagógica.
O trabalho de Lemle (1982) revela-se como uma importante fonte de
estudo sobre a aquisição da ortografia do português brasileiro, ao caracterizar
três tipos de correspondências entre o sistema fonológico e ortográfico,
propondo, assim, uma ordem de aquisição ortográfica, a qual serviria para
orientar a prática pedagógica do alfabetizador: correspondências biunívoca
entre fonemas e letras; correspondência de um para mais de um, determinadas
a partir da posição; relações de concorrências. A autora caracteriza os erros
encontrados na escrita infantil como falhas de primeira (repetições, omissões
e/ou na ordem das letras; falhas decorrentes da forma das letras; falhas
decorrentes da incapacidade de classificar algum traço distintivo do som),
segunda (a escrita como uma transcrição fonética da fala) e terceira (trocas
entre letras concorrentes) ordens.
A autora destaca que, ao final de cada etapa da alfabetização, a
arbitrariedade do sistema de escrita traz inúmeras dificuldades de emprego das
formas padrão das palavras a todos os indivíduos, dependendo do grau de
escolarização, apresentando um grau maior de dificuldade aqueles que são
iniciantes no mundo da escrita.
40
Inspirado em Lemle (1982), Morais (1995; 2003) agrupa as regras da
ortografia do português brasileiro em quatro blocos: correspondências
fonográficas regulares de tipo biunívoco; correspondências regulares
contextuais; correspondências fonográficas do tipo regular morfológico;
correspondências fonográficas do tipo irregular. O primeiro grupo de regras,
segundo Morais, é aquele em que um fonema é sempre representado por um
grafema, e esse grafema só representa um único valor sonoro: o do fonema em
questão. O segundo grupo proposto pelo autor é formado por casos cujo
contexto determina qual grafema compete à notação do fonema, podendo o
valor sonoro ser representado por um ou mais grafemas. No terceiro grupo, são
levados em consideração aspectos ligados à categoria gramatical da palavra,
estabelecendo, assim, a regra. Ressalta-se, nesse grupo, o fenômeno em foco
na pesquisa que ora se delineia, posto que o autor indica o fenômeno de
variação do cancelamento do segmento consonantal, ratificando que – não
obstante sua ausência na fala – na forma verbal apresentada, o rótico deve ser
grafado, dada a indicação da categoria gramatical em questão, qual seja, os
verbos no infinitivo. Com essa observação, o autor ratifica a importância do
docente de língua portuguesa compreender tais regras de escrita, a fim de
traçar mais conscientemente suas estratégias de aula, sobretudo, em seu
processo de avaliação. Por fim, Morais expõe o grupo de correspondências
fonográficas de tipo irregular. Este grupo é formado por todos os casos em que
a norma estabelece formas únicas autorizadas, sem que haja princípio gerativo
que permita ao usuário decidir qual será o grafema adequado entre dois ou
mais grafemas que, consoante o sistema alfabético da língua, podem
representar um ou uma sequência de fonemas.
Faraco (2005) enfatiza que a língua portuguesa tem uma representação
gráfica alfabética alicerçada em uma memória etimológica. Essa estratégia
toma como critério, para determinar a forma gráfica de algumas palavras, não
apenas as unidades sonoras que as compõem, mas também sua origem.
Assim, na língua portuguesa, a correspondência som e letra não será uma
constante, havendo um grande número de palavras cuja ortografia foi fixada
arbitrariamente. Para tanto, é significante reforçar a prática pedagógica
pautada em estratégias que auxiliem o aluno a compreender e memorizar esse
sistema arbitrário.
41
A consciência dos processos envolvidos no momento de aquisição da
língua escrita deve ser assunto de primeiro ordem na agenda do professor de
língua portuguesa, sobretudo para uso nos momentos de avaliação das
produções escritas de seus alunos. O aluno, ao enveredar pelo mundo “letrado”
apresentado pelo professor, vê-se diante não apenas de uma nova forma de
comunicação mas de um mundo realmente novo e, por vezes, distante do seu
original. A noção desses processos e possíveis problemas dessa caminhada é
estratégia necessária e enriquecedora da prática docente.
1.2.2 A oralidade e a escrita na sala de aula
Para melhor entendimento sobre os reflexos de fenômenos de variação
inerentes à fala – como o apagamento dos róticos - na escrita, faz-se
necessário, nesta etapa de estudo, observar estudos pautados na relação fala
x escrita.
Em seu trabalho sobre oralidade e escrita, Fávero e Andrade e Aquino
(2009) afirmam que, ao tratar de fala e escrita, é necessário lembrar que estão
sendo trabalhadas duas modalidades pertencentes ao mesmo sistema
linguístico, observando, é claro, diferenças estruturais geradas pelo modo de
aquisição, condições de produção, transmissão e recepção e nos meios
através dos quais os elementos de estrutura são organizados.
Na seara de pesquisas empíricas sobre a influência da fala na escrita, há
inicialmente a pesquisa de Câmara Jr. que, em 1957, analisou a produção
escrita de 62 alunos de um colégio carioca, visando identificar os erros
ortográficos cometidos com mais frequência, sendo estes produtos de
realizações linguísticas utilizadas pelos alunos observados, sobretudo em
ambiente familiar. Este estudo revelou variações de cunho fonético,
morfológico e sintático na escrita, mostrando, assim, tendências de usos já
observadas na língua oral do Rio de Janeiro. Dentre os fenômenos
observados, o autor registra como principais alterações fonéticas encontradas
nas produções escritas analisadas:
42
debilidade do acento tônico quando o vocábulo se acha no interior de um
grupo de força;
tendência a anular-se a oposição entre [e] e [i], bem como [o] e [u] em
posição pretônica;
tendência a nasalizar a sílaba simples i-;
redução sistemática do em- inicial a in-;
certa tendência a nasalizar [i] ou [u] tônicos finais;
anulação da oposição entre ditongo [ou] e [o] fechado;
tendência à vocalização do [l] velar pós-vocálico;
precariedade do [r] e do [l] intervocálicos em contato com o [i];
tendência à omissão do [s] e do [r] finais.
Assim como Câmara Jr. – que pontua o último fenômeno analisado
como uma tendência típica na linguagem coloquial do Rio de Janeiro –, o
presente trabalho parte da premissa de que, sendo este um evento bastante
comum na fala soteropolitana, já estudado em corpus de fala (OLIVEIRA, 1999;
MOTA; SOUZA, 2009), também poderá ser observada a variação em foco na
escrita dos estudantes soteropolitanos, sobretudo naqueles com menor tempo
de escolarização, buscando, destarte, evidenciar, tal qual o trabalho de Câmara
Jr, uma interferência da língua oral no registro escrito desses indivíduos.
Um trabalho que entrelaça ensino de língua escrita e Teoria da Variação
é o de Mollica (2003). Neste estudo, a autora volta-se para a influência de
fenômenos de variação na língua falada em textos escritos de alunos,
sobretudo a escrita inicial:
Vale assinalar antecipadamente que, em certos casos, observa-se um isomorfismo perfeito língua coloquial/produção textual de iniciantes. Isto prova pelos índices de registro dos segmentos travadores que se apresentam equiparados às realizações da fala: unidades vocabulares maiores costumam ter os segmentos finais cancelados por exemplo. (MOLLICA, 2003,p. 27)
43
O estudo de Mollica (2003) volta-se para o cancelamento do rótico em
posição medial e final de palavra na escrita de estudantes das séries iniciais do
estado do Rio de Janeiro, por meio da aplicação de um teste de
preenchimento, no qual as crianças completam lacunas em frases seguindo
ícones. A pesquisadora analisou algumas variáveis no teste: nível de
escolaridade, sexo, idade, extensão do vocábulo, precedência do segmento,
classe de palavras e tonicidade. A pesquisa teve como meta responder aos
questionamentos: (i) A manifestação de alguns fenômenos que acontecem na
fala começa, na escrita, por itens ou por contextos?; (ii) Como aproveitar
pedagogicamente as descrições científicas dos estudos realizados sobre a
língua falada?; (iii) O aluno, quando monitorado, consegue um melhor
desempenho na escrita?
Após análise dos dados, ficou evidenciado que o cancelamento do rótico
encontra-se em estágio avançado em contexto final, sendo a recuperação do
segmento na escrita mais difícil, o que demonstra a necessidade de estratégias
de ensino mais reforçadas.
A pesquisa de Mollica (2003) reforça o estudo ora executado como um
possível instrumental na formação docente, uma vez que foi observada maior
frequência do cancelamento consonântico na escrita dos grupos cujos textos
foram produzidos sem sinalização do fenômeno em foco por parte dos
professores, evidenciando, assim, a importância da intervenção consciente do
docente neste processo.
Deste modo, uma vez explicitados alguns dentre inúmeros trabalhos
sobre as interações fala x escrita, emerge, sob influência do posicionamento de
Marchuschi (2007), a ideia de que, para o professor, o que deve ser priorizado
em sala de aula são os usos da língua e as adequações destes às práticas
cotidianas dos indivíduos, posto que “(...) as línguas se fundam nos usos e não
o contrário”, devendo o trabalho pedagógico voltar sua atenção às motivações
que geram os temidos desvios na escrita dos alunos.
44
2. ESTUDOS SOBRE OS RÓTICOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
No universo dos estudos sociolinguísticos, as pesquisas sobre os róticos
do português brasileiro já somam muitas décadas. A extensão temporal pela
qual resistem os estudos deste fenômeno linguístico – apagamento x
manutenção do /R/ – permite ao capítulo que se inicia o delineamento
cronológico dos estudos sobre o apagamento dos róticos em posição de coda
silábica, com especial enfoque ao contexto de final de vocábulo, transcorrendo
assim, desde os estudos iniciais (CALLOU; MORAES; LEITE,1996) até estudos
mais recentes (COSTA, 2010, HORA; PEDROSA; CARDOSO, 2010), todos
baseados nos pressupostos da Sociolinguística Variacionista.
A presente cronologia inicia-se no ano de 1996 com o trabalho dos
pesquisadores Dinah Callou, João Moraes e Yonne Leite, que objetivava
delimitar áreas dialetais no Português Brasileiro. Os autores, examinando 30
(trinta) inquéritos do tipo diálogo entre informante e documentador e diálogo
entre dois informantes pertencentes ao Projeto de Estudo da Norma Urbana
Culta (Projeto NURC), levantaram um total de 4.334 ocorrências do uso dos
róticos, tanto em posição medial, quanto em posição final de vocábulo,
inicialmente, analisando-as sem distinguirem os dados quanto à posição dos
róticos na sílaba. Nesta etapa da pesquisa, entre as variantes observadas a
partir da análise do corpus (vibrante apical múltipla, vibrante uvular, fircativa
velar, fricativa laríngea, vibrante aplical simples, retroflexa e zero fonético)
foram registrados, com maiores índices de ocorrência, o uso da vibrante apical
simples (32%), o zero fonético (26%) e a fricativa laríngea (21%). Diante da
possibilidade de os dados estarem mascarados, em etapa seguinte, os autores
fracionaram as ocorrências, analisando dados dos róticos em posição medial
de palavra e dados em posição final de palavra. Nesta segunda etapa da
pesquisa, ficou evidenciado que, entre as capitais, Salvador possuía o maior
índice de apagamento do –R em posição final de palavra e Porto Alegre, o
menor índice da ausência deste segmento consonantal, bipartindo o país em
norte (ausência do segmento) e sul (presença do segmento). Quanto às
variáveis linguísticas, a ausência dos róticos está atrelada aos seguintes
contextos: vogais não arredondadas, contexto subsequente iniciado por outra
consoante e classe morfológica (verbos). Dois anos depois, em 1998, estes
45
mesmos pesquisadores retomaram suas reflexões sobre os róticos no
Português Brasileiro, desta vez analisando, exclusivamente, o fenômeno na
fala carioca, com o intuito de observar o estágio final de enfraquecimento, cuja
consequência é a simplificação silábica, o padrão silábico CV (consoante-
vogal), e de verificar se este processo é uma variação estável ou se há uma
mudança em curso. Para tanto, foram analisados três conjuntos de dados do
Projeto NURC, coletados nas décadas 1970 e 1990, realizando observação por
meio de estudo em painel e um estudo de tendência. Assim, entre os fatores
linguísticos, a classe morfológica foi o primeiro selecionado pelo pacote de
programas VARBRUL, com maior incidência de apagamento em verbos no
infinitivo, e na primeira e terceira pessoas do futuro do subjuntivo. Já
observando-se a classe morfológica dos nomes, o apagamento é praticamente
nulo em monossílabos. Os resultados revelaram ainda que o apagamento tem
sido considerado um caso de mudança de baixo para cima que já atingiu seu
limite, revelando-se uma variação estável.
Em 1999, tomando como base os dados do Projeto NURC na cidade de
Salvador, mais uma vez, o estudo dos róticos vem à baila com o trabalho de
Josane Oliveira, intitulado “O apagamento do /R/ implosivo na norma culta de
Salvador”. Em sua dissertação de mestrado, a autora compara os dados da
fala de Salvador com a fala carioca (CALLOU, 1987). Para esta análise, foram
utilizados 16 (dezesseis) inquéritos do NURC dos tipos elocução formal e
diálogo entre dois informantes. Analisando o panorama geral do fenômeno,
foram levantadas 7.933 ocorrências de manutenção dos róticos e 4.878 de
apagamento. Em consonância com os dados de Callou (1987), a posição final
de palavra favorece o apagamento (0,94 nos dados entre as elocuções e 0,93
entre os diálogos). O contexto subsequente (consoantes alveolares), a vogal
precedente (vogal posterior [u]) e a tonicidade (sílaba pretônica) são os
principais contextos favorecedores para o processo de apagamento do /R/. Em
contrapartida, foi observado pouco apagamento em nomes, sendo tal
fenômeno em posição final de palavra favorecido pelas seguintes classes
morfológicas: numeral, conjunção e verbo nas elocuções formais e conjunção,
verbo e preposição nos diálogos entre informantes. Em sua conclusão, a autora
sinaliza a evidência de uma mudança em progresso em relação ao uso dos
róticos na fala soteropolitana.
46
No início deste século, no ano de 2001, há a inserção de um estado do
norte do país (Pará), com a dissertação de mestrado de Marilúcia Oliveira. A
autora, analisando o falar na cidade de Itaituba, observou o comportamento da
vibrante em posição de coda, em corpus coletado a partir da metodologia do
Atlas Linguístico do Pará (ALIPA), por meio da análise de 35 (trinta e cinco)
relatos de experiência de informantes de fala urbana da cidade de Itaituba.
Após tratamento dos dados, foram selecionados como fatores relevantes para
o fenômeno em foco: classe de palavras (verbos), dimensão vocabular
(monossílabos desfavoreceram a variação e os polissílabos favoreceram).
Entre as variáveis sociais, a escolaridade e o gênero feminino se mostraram
como fonte de manutenção do segmento consonantal; já com o fator renda,
observou-se que falantes de renda média favoreceram o apagamento e os de
renda baixa inibiram-no. Um dado interessante, na pesquisa, é a negação de
uma das hipóteses iniciais do trabalho, segundo a qual as consoantes fricativas
estariam como um dos contextos favorecedores do apagamento, contudo, este
tipo de segmento inibiu o apagamento, contribuindo, assim, para a manutenção
dos róticos. O estudo é finalizado com a afirmação de que o fenômeno é muito
produtivo e que toma lugar das demais variantes encontradas no corpus.
Retomando sua pesquisa com dados do NURC nas capitais brasileiras,
os professores Dinah Callou, João Moraes e Yonne Leite, em 2002, trazem ao
cenário dos estudos sociolinguísticos uma análise do processo de
enfraquecimento consonantal do português brasileiro, com enfoque nas
variáveis extralinguísticas sexo, faixa etária e origem geográfica do falante.
Após análise pelo pacote de programas VARBRUL, foram selecionados os
fatores sexo e idade, sendo observadas realizações para o segmento
consonantal em foco desde a vibrante múltipla alveolar até o zero fonético,
caminhando-se assim para a formação de um padrão silábico CV. Quanto ao
comportamento dos róticos na fala culta das cinco capitais analisadas, ficou
notório que: na cidade de Porto Alegre, há um padrão de mudança em curso
nas falantes do sexo feminino; em São Paulo, há o uso categórico do segmento
consonantal em posição posterior por falantes do sexo feminino com idade
entre 36 e 55 anos; nas capitais nordestinas, foi observado um forte processo
de posteriorização deste segmento consonantal em posição de coda silábica,
sobretudo, e em consonância com a cidade de São Paulo, na fala de mulheres
47
da segunda faixa etária. Assim, pela distribuição deveras restrita dos róticos
como vibrante uvular e fricativa velar, os autores julgam haver uma isoglossa
dividindo as cidades de Salvador, Recife e Rio de Janeiro das outras duas
capitais.
A região sul do Brasil destaca-se pelo número de trabalhos cujo objeto é
o estudo dos róticos: em 2002, há o trabalho de Valéria Monaretto, no qual se
estuda a fala capital gaúcha em três épocas distintas, por meio da análise de
dados do Projeto NURC nos anos de 1970 e Projeto Variação Linguística na
Região Sul do Brasil (VARSUL) nos anos de 1989 e 1999. Ao comparar os
dados da década de 70 e do final dos anos de 1990, a autora verificou o
aumento do apagamento do rótico, estando este em um processo de
crescimento, substituindo o tepe, variante típica do Sul do país, aproximando,
assim, o falar de Porto Alegre dos demais dialetos brasileiros em que o
fenômeno está em estágio avançado. A queda do segmento consonantal ficou
evidenciada por três fatores: posição do segmento na palavra (posição final de
palavra), verbos e processo de implementação (jovens utilizando mais que os
mais velhos).
Na linha de análise do panorama nacional do comportamento da
consoante pós-vocálica, há, em 2006, o trabalho das pesquisadoras Tiana
Nascimento, Deisiane Rodrigues e Claudia Cunha, cujo corpus é formado por
dados de atlas regionais. As autoras, seguindo a metodologia da geo-
sociolinguística, objetivaram descrever a pluralidade de variantes por meio das
quais o /R/ se manifesta. Após análise de 6.406 ocorrências, colhidas em oito
atlas linguísticos (Atlas Linguístico do Amazonas, Atlas Prévio dos Falares
Baiano, Atlas Linguístico de Sergipe, Esboço de um Atlas Linguístico de Minas
Gerais, Atlas Linguístico-sonoro do Pará, Atlas Linguístico da Paraíba, Atlas
Linguístico do Paraná e Atlas Linguístico-etnográfico da Região Sul do Brasil),
foram evidenciados como contextos favorecedores do apagamento dos róticos
em posição de final de palavras os grupos de fatores: contexto antecedente
(vogal alta anterior não-arredondada com peso relativo de 0.96), região (Minas
Gerais com peso relativo de 0.97), contexto subsequente (posição final
absoluta com peso relativo de 0.53) e dimensão do vocábulo (dissílabos com
peso relativo de 0.92).
48
Em 2006, Christina Gomes investigando a variação linguística como
fator inerente ao sistema linguístico e sua ocorrência também presente no
processo de aquisição da linguagem, além dos modelos da Linguística
Probabilística e da Fonologia de Uso, observou a aquisição da estrutura
silábica com -R em posição de coda em um grupo de crianças da cidade do Rio
de Janeiro. Ainda que de forma inicial, em virtude do número reduzido de
informantes (08 crianças) e tempo de entrevistas (média de 40
minutos/entrevista), a autora mostrou que os percentuais levantados em sua
pesquisa, de cunho preliminar, evidenciam o apagamento da consoante em
sílaba final de verbos, em todas as amostras, independente da idade da
criança. A autora considerou, ao final do texto, que a distribuição da ausência e
presença de -R em posição de coda revela a incorporação da variante mais
frequente na comunidade de fala. O estudo de Gomes (2006) motivou a
continuidade da hipótese de influência da fala na escrita, posto que a escrita,
como anteriormente visto, desenvolve-se em contexto formal e em estágio
posterior à aquisição da fala. Uma vez sendo evidenciada na oralidade a
escolha do falante, em consonância à realidade vivenciada em sua
comunidade, pelo apagamento do segmento consonantal em posição de coda,
em nítida preferência pelo padrão CV, desde sua aquisição, é destarte
esperado que, em sua escrita, este padrão tão cedo adquirido esteja presente.
Em 2008, Sílvia Brandão, somando cariocas e indivíduos nativos de
outras regiões fluminenses, analisou o comportamento dos segmentos
consonânticos /R/, /S/, /L/ em posição de coda. Para tanto, utilizou corpus
constituído por 78 inquéritos realizados em 13 comunidades das Regiões Norte
e Noroeste daquele estado com informantes analfabetos ou escolarizados até a
antiga quarta série do ensino fundamental (atual quinto ano), divididos em três
faixas etárias (18-35 anos, 36-55 anos e 56 anos em diante). Quanto ao
comportamento dos róticos em posição de coda na fala fluminense, o
apagamento mostrou-se, segundo a pesquisadora, bastante significativo, com
regra de 78% de aplicação e input de 0,85, tendo por contextos favorecedores
do apagamento em posição de final de palavra a classe morfológica (verbos no
infinitivo) e a faixa etária (informantes mais jovens). Comportamento díspare foi
observado em posição medial, havendo a observância de realização do
49
segmento consonantal, caracterizado contudo pelo polimorfismo de
realizações.
Em 2008, Valéria Monaretto retoma o estudo, desta vez com a
pesquisadora Cláudia Brescancini, analisando o comportamento da vibrante na
região sul do país. Para tanto, as pesquisadoras confrontam dados de
pesquisas realizadas nos três estados da região, em 12 cidades do banco de
dados do Projeto VARSUL. Após confronto dos trabalhos dos diferentes
pesquisadores estudados, as autoras traçam um panorama do comportamento
da consoante vibrante na fala sulista: em posição de coda, é possível identificar
um percentual aproximado de 24% de apagamento; na posição final de
palavra, o apagamento mostra-se mais evidente, ao passo que, em posição
medial, a realização do tepe é mais observada. Outro dado relevante apontado
nesta análise está no condicionamento favorecedor da ausência do rótico em
posição de coda: o comportamento dos verbos, com alta taxa de apagamento,
diferenciando-se, assim, dos não-verbos; na fala dos mais jovens, é
evidenciada a ausência da vibrante. Ainda em análise do comportamento da
variável, a classe morfológica (não-verbos), a extensão do vocábulo
(monossílabos) e a localização do /r/ (sílaba átona) destacaram-se como
fatores desfavorecedores desta variação. E, em 2009, traçando um perfil da
vibrante na região sul, Monaretto objetivou esboçar um panorama da vibrante
no português do sul do país, utilizando, para tanto, estudos já realizados
acrescidos de dados do projeto VARSUL até então não analisados.
Preliminarmente, a análise dos novos dados do projeto VARSUL sinalizou a
variável classe morfológica como significativa para o apagamento, sendo este
exclusivo da posição de coda. Neste trabalho, há um enfoque maior para as
possibilidade de variação na articulação dos róticos e sua distribuição na região
sul do país.
Em 2009, há o estudo de Tiana Nascimento, com sua dissertação de
mestrado cujo objetivo é analisar três munícipios fluminenses, a saber,
Petrópolis, Itaperuna e Parati. A autoria utilizou como corpus 18 entrevistas,
divididas em questionário fonético-fonológico e temas para discurso
semidirigido do questionário do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (Projeto
ALiB), em indivíduos selecionados consoante a metodologia de trabalho deste
Projeto. Analisando os dados, a pesquisadora verificou que, no questionário
50
fonético-fonológico, houve um total de 81% de apagamento, tendo por fatores
relevantes para a variação a localidade (Parati) e classe gramatical (verbos no
inifinitivo); os nomes também obtiveram um índice de apagamento do
segmento consonantal bastante significativo, atingindo o índice de 75%. Os
dados do discurso semidirigido revelaram o zero fonético em quase a totalidade
das ocorrências, com um percentual de 97%, tendo por contextos
favorecedores a vogal antecedente (anterior alta), a classe gramatical (verbos
no infinitivo) e localidade (Parati, único fator extralinguístico selecionado).
Assim, neste estudo, verificou-se a franca tendência ao cancelamento do –R
em posição externa.
Também, em 2009, há o estudo de Adilson Toledo, que, utilizando como
instrumento de coleta de dados os questionários do Comitê do Projeto ALiB,
retomou a análise da fala sulista, neste caso, mais especificamente, da
comunidade de fala da cidade de Paranaguá no litoral do Paraná. Este
trabalho, além da descrição das variantes encontradas, traz como diferencial o
estudo das crenças e atitudes dos indivíduos pesquisados, frente ao fenômeno
estudado. Analisando uma amostra a partir de entrevistas com seis nativos de
Paranaguá (três homens e três mulheres) e quatro migrantes de duas outras
regiões, o autor, ressalvado o fator de constituição não homogênea da
amostra, indica como fatores favorecedores do apagamento do -R em coda
silábica externa os seguintes: o nível de escolaridade e contexto de uso, pois,
consoante outras observações encontradas nesta seção em pesquisas com
outros corpus e em outras localidades, indivíduos com tempo de escolarização
maior e expostos a contextos de comunicação mais formais mantiveram a
realização da vibrante na posição final de palavra. Quanto ao grupo de fatores
linguísticos, o pesquisador sinaliza que, dada a brevidade da análise e a
constituição do corpus, faz-se necessária uma pesquisa mais exaustiva para
apontar caminhos condicionados por este grupo de fatores.
Em 2009, há ainda o trabalho que motivou esta pesquisa, com o estudo
de Jacyra Mota e Lorena Souza. Neste trabalho, as autoras analisaram o
apagamento dos róticos em posição final e medial de vocábulo, tendo por base
inquéritos experimentais do Projeto ALiB realizados na cidade de Salvador nos
anos de 1999 e 2005. No corpus utilizado, foram encontradas 1.569
ocorrências (953 em posição final de vocábulo e 616 em posição medial)
51
obtidas pela análise de 16 (dezesseis) entrevistas, construídas consoante os
critérios metodológicos do Projeto ALiB. Analisando separadamente os dois
contextos de apagamento, foi constatado que o fenômeno se mostra mais
profícuo em posição final de palavra (89,82%), tendo por seleção de fatores
motivadores a dimensão do vocábulo (trissílabos e polissílabos), classe
gramatical (verbos) e contexto subsequente (vogal). Quanto aos fatores
sociais, o trabalho, assim como em tantos outros, indicou a variação como não
estigmatizada uma vez que a recorrência ao apagamento é perceptível tanto na
fala dos indivíduos com nível fundamental de ensino como nos indivíduos com
nível superior de ensino. Ainda que diminuto, o fenômeno em posição medial
de vocábulo (9,59% das ocorrências), as autores visualizaram como
favorecedores do apagamento as variáveis contexto subsequente (segmentos
consonantais /v,z,s/ e como fator social o nível de escolaridade (fundamental).
As autoras concluem suas observações indicando uma mudança em direção à
sílaba aberta do tipo CV, padrão visto também em outras consoantes na
mesma posição silábica (coda).
Em 2010, Ana Brustolin foca seus estudos no estado de Santa Catarina.
Para tanto, utiliza um corpus de fala espontânea gravado em estúdio
(constituído por 04 (quatro) indivíduos do sexo/gênero masculino, nativos de
Florianópolis e que viveram de forma ininterrupta até pelo menos os 14
(catorze) anos na cidade, divididos em 02 (dois) níveis de escolaridade,
fundamental (séries iniciais) e superior). De posse do referido material, a autora
visa analisar o comportamento dos róticos na ilha de Santa Catarina,
destacando as diferentes realizações do segmento fônico foco do estudo. A
pesquisadora identificou a realização dos róticos em posição de coda (contexto
medial e final de palavra) nas seguintes formas variantes: tepe alveolar,
fricativa glotal, fricativa velar e apagamento, sendo esta última a variante mais
produtiva na fala florianopolitana. Observou o apagamento mais recorrente em
contexto final de palavra. Quanto aos fatores favorecedores do apagamento,
tem-se o contexto subsequente (final absoluto), número de sílabas, vogal
anterior (vogal central baixa, média anterior fechada e alta anterior). Na análise
social, a pesquisadora indicou a possibilidade de o fenômeno em causa não
ser estigmatizado, visto que os dois grupos de estrato social apresentaram o
mesmo índice de apagamento.
52
Também em 2010, Demerval da Hora, Juliene Pedrosa e Walcir Cardoso
refletiram sobre a constituição das consoantes pós-vocálicas (líquidas /l,r/;
nasal /N/; fricativa coronal /s/) no português brasileiro, vislumbrando se essas
estão em posição de coda ou se, em verdade, estão em onset com núcleo não
preenchido foneticamente. Analisando diversos trabalhos de base
sociolinguística, os autores observaram o comportamento variável das
consoantes em análise, apresentando-se como semivocalização, o
enfraquecimento, a palatalização e o apagamento. Por meio do confronto de
trabalhos anteriores, focados em apenas uma consoante, os autores visaram à
análise do comportamento desses segmentos de forma conjunta, tendo por
base a posição desses na sílaba, para assim analisar o comportamento destas
consoantes no corpus do Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba
(Projeto VALPB). Os autores dividiram o grupo de consoantes pós-vocálicas
em consoantes ocupantes da posição de coda (líquidas) e consoantes em
posição de onset de núcleo foneticamente vazio (fricativa coronal). A partir
desta divisão, observaram a extrema debilidade da posição de coda, tendo
como consequência a mitigação do segmento ocupante desta posição, seja por
meio do apagamento ou a busca pelo padrão CV a partir do preenchimento do
núcleo antes vazio foneticamente.
Ainda em 2010, em sua dissertação de mestrado, Geisa Costa
direcionou seus esforços para a relação fala x escrita, observando o
apagamento do /R/ em um grupo de alunos (18 estudantes, com faixa etária
entre 08 e 13 anos, a partir do segundo ano do ensino fundamental) de uma
escola pública da cidade de Catu, interior da Bahia. Inicialmente, a
pesquisadora realizou entrevistas com os indivíduos, contudo essas não foram
quantitativamente analisadas, haja vista o apagamento se apresentar
categórico na fala dos entrevistados. Desse modo, foram utilizados testes para
observar as variantes foco do estudo na escrita dos alunos (teste da lacuna e
ditado de palavras e frases). A autora verificou, em seus dados, que o
fenômeno estudado é condicionado tanto por fatores estruturais quanto por
fatores sociais: no primeiro caso, inserem-se a extensão da palavra
(polissílabos), contexto antecedente (vogais altas) e grau de familiaridade com
o vocábulo (palavras menos familiares); no segundo caso, incluem-se o fator
escolaridade – já que, em ambos os contextos analisados (posição final e
53
medial de palavra), observou-se uma grande redução do apagamento na
passagem da segunda para a terceira série – e o gênero/sexo (meninas
apagam menos que os meninos). Ao fim, a autora sinalizou o papel da
escolarização na aquisição do padrão escrito da língua (50% manutenção para
o final de verbos e 66% para o final de nomes).
Com o fito de revisitar e comparar, de forma suscinta, os estudos acima
elencados, e, mais especificamente, as variáveis selecionadas em cada
pesquisa, segue quadro resumitivo da cronologia exposta:
Autor/ano Origem dos
informantes
Contextos favorecedores do
apagamento do -R
CALLOU;MORAES;
LEITE
(1996)
São Paulo,
Porto Alegre,
Salvador, Rio
de Janeiro e
Recife
Classe morfológica (verbos)
Contexto antecedente (vogais
não arredondadas)
Contexto subsequente
iniciado por outra consoante
CALLOU;MORAES;
LEITE
(1998)
Rio de Janeiro
Classse morfológica (verbos
no infinitivo)
Dimensão vocabular
(apagamento quase nulo em
monossílabos)
OLIVEIRA
(1999) Salvador
Contexto subsequente
(consoantes alveolares)
Contexto antecedente (vogal
posterior [u])
Tonicidade (sílaba pretônica)
OLIVEIRA
(2001) Itaituba
Classe de palavras (verbos)
Dimensão vocabular
(monossílabos
desfavoreceram a variação e
os polissílabos favoreceram)
Renda (apagamento maior
em indivíduos de renda
54
média)
CALLOU;MORAES;
LEITE
(2002)
São Paulo,
Porto Alegre,
Salvador, Rio
de Janeiro e
Recife
Sexo (mulheres)
Faixa etária (35-55 anos)
MONARETTO
(2002) Porto Alegre
Classe morfológica (verbos)
Faixa etária (jovens utilizando
mais que os mais velhos).
NASCIMENTO;
RODRIGUES;
CUNHA
(2006)
Amazonas,
Bahia, Sergipe,
Minas Gerais,
Pará, Paraíba,
Paraná e
Dimensão vocabular
(dissílabos)
Contexto antecedente (vogal
alta anterior não-
arredondada)
Região (Minas Gerais)
Contexto subsequente
(posição final absoluta)
BRESCANCINI;
MONARETTO
(2008)
Porto Alegre,
Flores da
Cunha,
Panambi e São
Borja.
Florianópolis,
Blumenau,
Chapecó e
Lages. Curitiba,
Londrina, Irati e
Pato Branco
classe morfológica (verbos no
infinitivo)
faixa etária (informantes mais
jovens)
NASCIMENTO
(2009)
Petrópolis,
Itaperuna e
Parati
Classe gramatical (verbos no
infinitivo)
Contexto antecedente
(anterior alta)
55
Localidade (Parati).
TOLEDO
(2009) Paranaguá
Classe gramatical (verbos)
Nível de escolaridade e
contexto de uso (indivíduos
com tempo de escolarização
maior e expostos a contextos
de comunicação mais formais
mantiveram a realização da
vibrante na posição final de
palavra)
MOTA; SOUZA
(2009) Salvador
Classe gramatical (verbos)
Dimensão vocabular
(trissílabos e polissílabos)
Contexto subsequente (vogal)
BRUSTOLIN
(2010) Florianópolis
Dimensão vocabular
Contexto subsequente (final
absoluto)
Contexto antecedente (vogal
central baixa, média anterior
fechada e alta anterior)
COSTA
(2010) Catu
Dimensão vocabular
(polissílabos)
Contexto antecedente (vogais
altas)
Grau de familiaridade com o
vocábulo (palavras menos
familiares)
Quadro 02: Resumo da cronologia dos estudos sobre os róticos
Tomando o pensamento do escritor britânico C. S. Lewis “Mera mudança
não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e continuidade, e
onde não há continuidade não há crescimento.”, o estudo que se apresenta ao
longos destes capítulos, intenta dar prosseguimento aos estudos do
56
comportamento dos róticos em posição de coda silábica à luz da Teoria da
Variação e do estudo da sílaba, possibilitando assim a continuidade e, por
conseguinte, o crescimento do cenário de estudos sobre a realidade linguística
do português brasileiro.
57
3 METODOLOGIA
Com o fito de analisar a influência da fala na escrita, foi constituído para
o presente estudo um corpus de língua escrita. O capítulo que se inicia intenta
delimitar os procedimentos metodológicos adotados pela pesquisa ora
apresentada, expondo, para tanto, a definição das variáveis que se supõem
importantes para a seleção do apagamento dos róticos em posição de final
absoluto de sílaba, ou seja, final de palavra na escrita de estudantes do ensino
básico oriundos das redes pública e particular de ensino na cidade de
Salvador.
Como já tratado, a presente pesquisa foi executada sob o modelo
teórico-metodológico da Sociolinguística de cunho variacionista, conhecido
também como Sociolinguística Laboviana ou Sociolinguística Quantitativa,
buscando, assim, identifcar os contextos linguísticos e sociais que justificam os
usos encontrados em relação ao objeto de estudo.
As variáveis, ou grupo de fatores, foram estabelecidas a partir de
estudos realizados anteriormente, cujos corpora, unica ou majoritariamente,
contituem-se com dados de língua falada, buscando, assim, a delimitação dos
fatores preponderantes para o apagamento do segmento consonântico
estudado na fala do Português Brasileiro (CALLOU; MORAES; LEITE, 1996;
OLIVEIRA, 1999; OLIVEIRA, 2001; CALLOU; MORAES; LEITE, 2002;
MONARETTO, 2002; NASCIMENTO; RODRIGUES; CUNHA, 2006; GOMES,
2006; BRANDÃO, 2008; MOTA e SOUZA, 2009; MONARETTO, 2009;
TOLEDO, 2009; BRUSTOLIN, 2010; HORA; PEDROSA; CARDOSO, 2010;
COSTA, 2010).
Deste modo, a variável dependente - apagamento e presença do rótico -
foi cruzada com as demais varáveis (independentes – de cunho linguístico e
extralinguístico), e, fazendo uso do método estatístico de estudo, por meio do
programa Goldvarb X, geraram-se, destarte, os resultados quantitativos em
relação aos dados coletados para que, em etapa seguinte, sejam devidamente
interpretados e confrontados com os achados dos estudos que antecedem este
ora apresentado.
58
3.1 A constituição do corpus e a seleção dos informantes
O corpus, base de análise desta pesquisa, como explicitado
anteriormente, é constituído por produções escritas de alunos de 03 (três)
escolas das redes pública e privada da cidades de Salvador, mais
precisamente, 192 (cento e noventa e duas) produções escritas.
Para tanto foram apresentadas às escolas (inicialmente à direção ou
coordenação pedagógica) duas propostas distintas de produção textual: uma
carta cujo tema era a narrativa de um período de férias e uma dissertação cujo
tema era a preservação da natureza (Apêndice A). A aplicação dessas
propostas deu-se por meio dos professores regentes das disciplinas de Língua
Portuguesa, Produção Textual e/ou L.P.L.B. das turmas. Em momento prévio,
houve uma conversa com o professor sobre a pesquisa, sendo explicado
apenas que se tratava de uma pesquisa para análise de gêneros textuais na
escola, não sendo mencionado o objeto de estudo, para minimizar quaisquer
influências do docente na escrita de seus alunos. Tal procedimento foi adotado
consoante às orientações de Tarallo:
Seja qual for a comunidade, seja qual for o grupo, jamais deixe claro que seu objetivo é estudar a língua tal como é usada pela comunidade ou grupo. Se você inadvertidamente o fizer, ou mais grave ainda, se o fizer conscientemente, é muito provável que o comportamento de seus informantes – já prejudicado pelo uso do gravador e por sua presença – se altere ainda mais, e a pesquisa, consequentemente, se torne ainda mais enviesada. Procure, portanto, colocar ao informante os objetivos de sua pesquisa fora do campo da linguagem. Lembre-se também de que, sendo a língua propriedade do grupo estudado, seus informantes poderão se sentir ameaçados e embaraçados. (TARALLO, 2007, P. 27)
Posteriormente, foram entregues aos docentes os envelopes contendo
cópias das propostas – em número sempre superior ao pretendido para a
pesquisa, cerca de 20 (vinte) produções por turma – para que, assim, em data
marcada, fosse realizada a recolha das produções. Em algumas turmas, o
docente utilizou a proposta para atividades cotidianas, sendo devolvido nestes
casos, um número de produções superior às cópias entregues.
A seleção dos informantes para esta pesquisa teve por critério a faixa
etária dos alunos compatível com o previsto para série: 5º ano do ensino
59
fundamental (10 anos), 9º ano do ensino fundamental (14 anos) e 3º ano do
ensino médio (17 anos), descartando-se, assim, as turmas de alunos
repetentes, bem como os alunos adiantados nas turmas observadas. Ainda
com vistas à análise de fatores extralinguísticos e linguísticos, os indivíduos
foram agrupados obedecendo aos critérios de sexo/gênero, rede de ensino e
grau de formalidade do registro escrito.
Conforme a discriminação acima exposta, os grupos de informantes
foram equitativamente distribuídos em 24 células, contendo 05 produções
escritas em cada célula, conforme o quadro 01:
SERIE CARTA DISSERTAÇÃO
feminino masculino feminino masculino
5º ANO (ensino
fundamental)
rede particular
08 08 08 08
rede pública
08 08 08 08
9º ANO (ensino
fundamental)
rede particular
08 08 08 08
rede pública
08 08 08 08
3º ANO (ensino médio)
rede particular
08 08 08 08
rede pública
08 08 08 08
TOTAL DE PRODUÇÕES SELECIONADAS: 192
Quadro 03: Distribuição dos informantes nas células
A seleção das escolas, duas particulares e uma pública (situadas em
diferentes pontos da cidade), obedeceu ao critério de rede de ensino (pública
ou privada), valendo-se da disponibilidade e diligência de professores da área
para aplicação das propostas de produção textual.
Por razões éticas, mantêm-se omitidos os nomes das escolas,
professores e alunos envolvidos no presente trabalho, não obstante pelo
primordial motivo de que este trabalho não objetiva o estudo da língua utilizada
por um determinado indivíduo (idioleto), e sim, usos linguísticos de grupos
sociais os quais estes indivíduos representam, a saber a escrita discente
soteropolitana.
60
A escolha das séries, 5º e 9º anos do ensino médio e 3º ano do ensino
médio, objetivou traçar um perfil dos estudantes ao final dos ciclos do ensino
básico – ensino fundamental I (5º ano), ensino fundamental II (9º ano) e ensino
médio (3º ano) – para que assim seja possível analisar a influência do fator
escolaridade nos usos linguísticos dos indivíduos analisados.
Como corpus da pesquisa, foram utilizadas 192 produções textuais (96
cartas e 96 dissertações), distribuídas equitativamente entre as 06 turmas
observadas (03 em escolas da rede pública e 03 em escola da rede particular).
3.2 A observação e análise dos dados
Para a observação dos dados levantados e, por conseguinte, para o
desenvolvimento do estudo aqui apresentado, tomaram-se por base os
pressupostos teórico-metodológicos da vertente quantitativa dos estudos
sociolinguísticos. O trabalho de pesquisa sob a ótica desta vertente pauta-se
na crença de que toda variação é condicionada por fatores sociais e/ou
linguísticos, uma vez que a heterogeneidade linguística é ordenada, sendo,
assim, está passível de descrição por regras. Tais regras poderão favorecer ou
desfavorecer, variavelmente e com pesos específicos, as variantes usadas em
cada contexto analisado, sendo chamadas de regras variáveis,
proporcionando, desta forma, a possibilidade de identificar uma série de
categorias independentes (variáveis independentes) que motivarão a
ocorrência de uma determinada variante.
Tendo por base, então, a metodologia da Sociolinguística Quantitativa,
foram adotadas variáveis linguísticas e sociais para a observância do
comportamento do segmento consonantal foco deste estudo. Estas variáveis
foram analisadas por meio do programa computacional Goldvarb X. Para tanto,
alguns procedimentos metodológicos foram adotados, fazendo-se necessária,
em continuidade a este capítulo (explanados nos próximos subitens), sua
descrição a fim de que os resultados desta pesquisa revelem-se como
consequência de uma postura metodológica apropriadamente rígida, não
sendo permitidas distribuições e condutas dessemelhantes.
61
3.2.1 Procedimentos metodológicos adotados
Após coleta das produções dos alunos, deu-se início ao tratamento do
corpus seguindo as etapas a seguir listadas:
(i) leitura de todo o material para triagem das redações;
(ii) triagem do material: descarte das produções cujo texto possuia
sérios problemas de coesão e/ou coerência, caligrafia ininteligível
e pouco rendimento (produções com número inferior a 10 linhas
para a 5º ano e 15 linhas para os 9º e 3º anos);
(iii) releitura das produções selecionadas e marcação das ocorrências
de vocábulos foco da pesquisa (palavras finalizadas por –r);
(iv) tabulação das ocorrências, facilitando, assim, a verificação das
inter-relações nos dados observados;
(v) codificação das ocorrências;
(vi) submissão dos dados codificados ao programa Goldvarb X;
(vii) análise qualitativa e quantitativa dos dados.
Para a codificação das ocorrências (etapa 5), fez-se necessária a
definição das variáveis independentes (possíveis fatores condicionadores da
variação em estudo) em função da variável dependente da pesquisa.
3.2.2 Variável dependente
Tomando por base a ideia de concorrência de variantes na constituição
de uma variável, como sinaliza Tarallo (2007, p.02), tem-se o conceito de
variável dependente por diferentes formas de usos da língua cuja eleição por
uma ou outra depende de determinados ambientes. Assim, no estudo dos
róticos em posição de coda silábica em final de palavra na escrita de
estudantes soteropolitanos, tem-se como esquema de variável dependente:
< r >
Ø
R
62
Com base no esquema supracitado, a variável dependente pode se
apresentar como a realização do segmento consonântico (04) ou seu
apagamento (05). Tais comportamentos podem ser visualizados nos exemplos:
(04) “ (...) precisa pensar em melhor atitudes” (aluno 5º ano – rede pública) (05) “Vou te conta como foram minhas férias” (aluno 5º ano – rede
particular)
Neste trabalho, entende-se por conceito de apagamento o seguinte:
Fenômeno fonológico em que um segmento consonantal ou vocálico é cancelado. Utiliza-se o símbolo Ø para indicar que houve o cancelamento ou o apagamento da vogal ou da consoante. Apagamento é sinônimo de cancelamento e queda. (...) O apagamento de consoantes ocorre, tipicamente nas bordas das palavras ou em encontros consonantais. Por exemplo, [a’mo] para amor ou [‘livu] para livro. O apagamento equivale ao fenômeno de lenição, ou seja, de enfraquecimento consonantal, em grau máximo (SILVA, 2011, p. 59-60)
Em que pese a recorrência (ainda que não quantitativamente observada)
dos casos de hipercorreção3, ou seja, os casos em que as formas linguísticas
escolhidas pelo aluno foram além do ponto estabelecido pela variante de língua
que este tem como meta, produzindo, assim, uma versão que não existe no
padrão, a exemplo:
Dado o foco da pesquisa e por falta de tempo hábil para o devido
tratamento, estes dados não foram considerados. Sem embargos, dada a
reincidência de tal estratégia em diversas produções escritas no corpus
estudado, tais casos sugerem-se muito profícuos, podendo deste modo dar azo
a pesquisas ulteriores.
3.2.3 Variáveis independentes
Tem-se por variáveis independentes o conjunto de fatores que podem
influenciar um determinado fenômeno em variação. Como trata Mollica (2007,
3 “Amigo, você estar bem? Espero que sim.” (aluno 9º ano – rede pública)
63
p.11), estas variáveis são parâmetros reguladores dos fenômenos variáveis,
que podem condicioná-los positiva ou negativamente, agindo simultaneamente
e emergindo de dentro ou de fora dos sistemas linguísticos.
Para a análise aqui proposta foram elencadas, a partir da observação
dos contextos selecionados, pelo pacote programa VARBRUL, em estudos
anteriores com corpus de fala, as seguintes variáveis linguísticas e
extralinguísticas:
1. Grupo de fatores linguísticos:
a) Gênero Textual
b) Extensão do vocábulo
c) Contexto precedente
d) Contexto subsequente
e) Modo de articulação do segmento subsequente
f) Ponto de articulação do segmento subsequente
g) Sonoridade do segmento subsequente
h) Classe morfológica do vocábulo
2. Grupo de fatores extralinguísticos:
a) Escolaridade
b) Gênero/sexo
c) Rede de ensino
3.2.3.1 Variáveis linguísticas
Nesta etapa da pesquisa, serão listados e explicitados os grupos de
fatores internos cujas características repousam no ambiente linguístico.
Intenciona-se, assim, perceber quais os condicionamentos de natureza
linguística significativos para o apagamento dos róticos em coda silábica, visto
que alguns processos de variação linguística são condicionados pelo ambiente
estrutural em que determinadas variáveis se encontram. Assim, para o estudo
aqui apresentado, observaram-se como variáveis de natureza linguística os
seguintes parâmetros: gênero textual, extensão vocabular, contexto
64
precedente, contexto subsequente, modo de articulação do segmento
subsequente, ponto de articulação do segmento subsequente, sonoridade do
segmento subsequente e classe morfológica do vocábulo.
3.2.3.1.1 Gênero textual
Uma hipótese levantada no início desta pesquisa está relacionada ao
ambiente de formalidade que um determinado gênero textual pode incutir a seu
redator. Desta forma, similarmente a pesquisas com dados de fala, nas quais
há simulação de situações de fala mais formal ou mais relaxada, como em
entrevistas com questionários fonético-fonológicos e temas para discurso
semidirigido, foram pensados para esta pesquisa dois ambientes de escrita,
para observação de dois níveis de formalidade nos registros coletados:
a) Maior formalidade através de textos dissertativos (dissertação sobre
preservação ambiental), por tratar-se de um gênero textual comumente
utilizado em exames seletivos;
(06) “Tem várias maneiras de praticar a sustentabilidade” (aluna do 9º
ano – rede pública)
É mister justificar que o termo “dissertação” aqui trabalhado refere-se ao
gênero textual e não ao tipo textual, já que se assume para tal denominação a
perspectiva de Marchuschi (2007), que considera gênero textual como textos
materializados, frutos de trabalho coletivo, que fazem parte do cotidiano e que
apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição característica, ordenando, assim,
as atividades comunicativas do dia a dia e sendo, portanto, eventos textuais
altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Neste trabalho, há a referência,
assim como Souza (2007), ao termo dissertação como gênero textual
pertencente ao domínio discursivo escolar, sendo este um objeto de ensino
essencialmente da produção escrita, respondendo, assim, ao propósito de
desenvolvimento da competência comunicativa do aluno.
65
b) Menor formalidade através de textos epistolares (carta a um amigo
relatando o período de férias), por tratar-se de um gênero mais utilizado
para comunicação entre amigos e familiares, configurando-se assim
como um ambiente de escrita menos formal.
(07) “(...) vai acontece por causa...” (aluna do 3º ano – rede pública)
Assim, intenta-se, com a análise desta variável, verificar se os registros
escritos em ambiente menos formal fazem uso de estruturas típicas da fala, no
caso em estudo, se nos textos epistolares haverá maior incidência de
apagamento dos róticos.
3.2.3.1.2 Extensão do vocábulo
Como já exposto no capítulo “Estudos sobre os róticos no português
brasileiro”, em estudos anteriores, ficou evidenciado que a dimensão do
vocábulo é um importante fator no processo de apagamento dos róticos em
posição de coda silábica; a exemplo, podem-se citar: o trabalho de Callou,
Moraes e Leite (2002), no qual se constatou a relevância desta variável para o
apagamento, sendo este mais favorecido em nomes trissílabos (0,61) e
polissílabos (0,64); e o trabalho de Mota e Souza (2009), em que também se
observou a influência da dimensão vocabular para o fenômeno, sendo os
contextos de tríssilabos (96%) e polissílabos (92%) bastante produtivos.
Assim, espera-se que, como nos corpora de fala estudados, o
apagamento seja mais recorrente em vocábulos mais extensos e a
manutenção seja uma constante em monossílabos. Deste modo, compõem o
grupo de fatores em questão palavras:
a) monossílabas
(08) “... lixo ser jogado na rua” (aluno do 5º ano – rede particular)
b) dissílabas
(09) “tem que para com isso” (aluno do 5º ano – rede particular)
c) trissílabas
66
(10) “... tem várias maneiras de pratica a sustentabilidade” (aluno do 3º
ano – rede pública)
d) polissílabas
(11) “As atividades sustentáveis são pensar no futuro,(...) e utiliza bem o
recurso ” (aluno do 3º ano – rede pública)
3.2.3.1.3 Contexto precedente
Outro fator bastante relevante em estudos anteriores é a influência que o
segmento vocálico da sílaba analisada exerce sobre consoante em posição de
coda, evento comum em análises de cunho fonético. Callou, Moraes e Leite
(2002) constataram, em seu estudo com dados do NURC, que a vogal central
anteposta ao rótico propicia seu apagamento (0,57); posteriormente, o trabalho
de Nascimento, Rodrigues e Cunha (2006) também observaram o contexto
precedente como favorecedor do apagamento, contudo, neste estudo, a vogal
que se revelou mais produtiva para a variação foi a vogal alta anterior não-
arredondada (0,96).
Deste modo, há aqui a intenção de perceber o nível de influência que as
vogais precedentes exercem no apagamento ou manutenção dos róticos no
corpus de escrita aqui estudado. Como se trata de um corpus de escrita, sem
análise prévia da fala dos indivíduos analisados, o elenco de 07 (sete) vogais
orais tônicas do Português Brasileiro foi reduzido a 05 vogais, as quais são
ortograficamente representadas por a, e, i, o ,u:
a) vogal alta anterior “i”
(12) “(...) preciso senti na pele o problema” (aluno do 3º ano – rede
privada)
b) vogal anterior média “e”
(13) “... algo fácil de compreende e ser praticado” (aluno do 9º ano –
rede pública)
c) vogal central baixa “a”
(14) “Quando corta plante de novo” (aluna do 9º ano – rede pública)
67
d) vogal posterior média “o”
(15) “(...) e espalha o espírito do amo.” (aluno do 5º ano – rede pública)
e) vogal alta posterior “u”
(16) “(...) tur o trivela.” (aluna do 3º ano – rede particular)
3.2.3.1.4 Contexto subsequente
Neste grupo de fatores, pretende-se analisar a presença ou ausência de
elementos linguísticos dispostos à direita da ocorrência analisada, ou seja o
contexto seguinte ao vocábulo em estudo. Tem-se por contexto a ideia do
ambiente em que são definidas as condições ou locais estruturais em que um
fenômeno acontece (SILVA, 2011, p. 80); no presente caso, há as condições
posteriores ao fenômeno em foco, na tentativa de visualizar se a realização de
um fonema posterior ao rótico analisado ou sua ausência revela-se influente no
processo de apagamento em estudo. A exemplo da relevância da escolha
desta variável, tem-se o trabalho de Mota e Souza (2009), o qual, entre outras
variáveis estudadas, teve o contexto subsequente como fator selecionado,
sendo as vogais favorecedoras do apagamento. Neste trabalho, serão
analisados os contextos de:
a) Vogal
(17) “tive que viaja outra vez sozinha” (aluna do 3º ano – rede pública)4
b) Consoante
(18) “(...) vai joga pilhas de resíduos” (aluno do 9º ano – rede particular)
c) Pausa
(19) “(...) tem um amor para recorda” (aluna do 3º ano – rede particular)
Seguindo o trabalho de Mota e Souza (2009), uma das hipóteses
norteadoras desta pesquisa repousa na ideia de que, em contexto subsequente
formado por um segmento vocálico, observa-se com maior facilidade o
4 Nos exemplos, em relação ao contexto subsequente, optou-se por destacar também a letra que representa
o fonema que está sendo ilustrado.
68
apagamento do –R, pois há neste contexto uma busca pelo padrão silábico CV
(consoante – vogal).
3.2.3.1.5 Ponto, modo de articulação e sonoridade do segmento subsequente
Uma vez levantada a influência do segmento consonântico subsequente
como possível agente no processo de variação investigado, faz-se necessária
a análise da caracterização deste segmento, para assim, examinar seu (i)
ponto de articulação, (ii) modo de articulação e (iii) sonoridade.
a) Ponto de articulação ou lugar no trato vocal definido a partir da posição
do articulador ativo em relação ao articulador passivo. Para a presente
pesquisa, as consoantes encontradas entre as ocorrências catalogadas
foram divididas em:
- Bilabial
(20) “Destruir minha vontade” (aluna 3º ano – escola pública)
- Labiodental
(21) “po favo pare (...)” (aluna 5º ano – escola publica)
- Alveolar
(22) “Com o passar do tempo (...)” (aluno 5º ano – escola particular)
- Velar
(23) “(...) nunca força coisa alguma (...)” (aluno 3º ano – escola pública)
b) Modo de articulação é forma de obstrução do ar no trato vocal durante a
produção de um segmento consonântico. Assim, há neste estudo, como
maneiras de articulação analisadas:
- Oclusiva
(24) “O luga dela deve ser (...)” (aluno 9º ano – escola particular)
- Fricativa
69
(25) “Eu sei que se sustentável é se uma pessoa que se sustenta”
(aluna 5º ano – escola particular)
- Nasal
(26) “É preciso senti na pele os erros (...)” (aluna 5º ano – escola
particular)
- Lateral
(27) “Por causa de está lá com eles.” (aluno 3º ano – escola particular)
c) Sonoridade, tem-se nesta variável a análise da vibração (segmento
vozeado) das pregas vocais durante o processo de produção de um
segmento consonântico ou sua não vibração (segmento desvozeado).
(28) “Ser consciente e agi de forma (...)” (aluna 9º ano – escola pública)
(29) “(...) vai acabar sendo melhor” (aluna 9º ano – escola particular)
Foi observado em estudos anteriormente publicados que, de modo geral, os
trabalhos com corpus de fala têm apresentado as três variáveis ora
apresentadas de forma amalgamada, contudo ao ser aplicada tal estatégia ao
corpus de escrita utilizado nesta pesquisa, não houve seleção, por parte do
programa Goldvarb X, da variável em questão, evidenciando, assim a
neutralidade da junção destes elementos. Deste modo, optou-se por analisá-los
isoladamente.
3.2.3.1.6 Classe morfológica do vocábulo
Esta variável mostrou-se bastante produtiva, em trabalhos anteriores; a
exemplo, tem-se o trabalho de Mota e Souza (2009) em que foi possível
perceber a relevância deste grupo de fatores para o apagamento do segmento
70
consonântico, devido à frequência de apagamentos observados sobretudo em
palavras pertencentes à classe morfológica dos verbos. Destarte, tomando a
produtividade dos verbos no fenômeno analisado e observações em pesquisas
anteriores, as ocorrências levantadas no corpus em análise foram subdivididas
entre duas grandes classes morfológicas:
a) Verbos
(30) “Não senti passar o tempo.” (aluna do 9º ano – rede particular)
b) Não verbos
(31) “(...) o prasê de conhecer uma cidade...” (aluno do 5º ano – rede
pública)
3.2.3.2 Variáveis extralinguísticas
Para uma pesquisa que se fundamenta em uma teoria que se volta para
o estudo dos processos de variação e mudança linguísticas correlacionados
com os fatores sociais, a observância das variáveis extralinguísticas é de
significativa importância.
Deste modo, nesta etapa do texto, serão relacionados os grupos de
fatores sociais utilizados: escolaridade, gênero/sexo e rede de ensino.
3.2.3.2.1 Escolaridade
O grupo de fatores escolaridade apresenta-se como uma das variáveis
de maior relevância para este trabalho, uma vez que, consciente do papel da
escolarização no comportamento linguístico do aluno, espera-se que, à medida
que o aluno avance nas séries do ensino básico, o número de ocorrências de
apagamento diminua, como pontua Votre (2007, p. 54): “O ensino produtivo
cumpre sua missão quando o aluno busca identificar-se com grupos detentores
de formas de prestígio, procurando apropriar-se dessas formas, como capital
simbólico”.
Contudo, ainda que diminuta, haja vista o papel de controle e imposição
da variedade padrão da língua, tendo na escola “uma força corretiva e
71
unificadora da língua” (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 23), espera-se encontrar,
nos três níveis estudados, a variação aqui estudada uma vez que as condições
gerais de qualidade da educação no Brasil revelam-se – apesar dos esforços
empreendidos por governos municipais, estaduais e federais para o acesso à
educação – longe do esperado frente ao avanço econômico das últimas
décadas5:
Pode-se representar a força padronizadora da língua-padrão por um vetor que se denominará vetor de assimilação. (...) Opõe-se a essa força outro vetor, o da manutenção das variedades não-padrão, que se apóia principalmente em fatores de natureza psicossocial (...) Na situação brasileira, encontra-se a mesma força padronizadora representada pelo vetor de assimilação. Entretanto, o principal fator que se lhe contrapõe parece ser o acesso restrito à língua-padrão. (BORTONI-RICARDO, 2005 p. 23)
Seguindo o pressuposto de que, no ambiente escolar, tem-se foco maior
no canal da escrita, e a produtividade do ensino concretiza-se pela aquisição
de novos hábitos linguísticos, a incorporação de novos modos de dizer e
escrever, sempre com ênfase nos modos prestigiados de comunicação
(VOTRE, 2007, p. 53), o corpus deste estudo subdividiu seu grupo de
informantes consoante às três séries que configuram três importantes estágios
da educação básica, não obstante os três grandes instrumentos de avaliação
aplicados em cada um desses estágios: Provinha Brasil, Prova Brasil e ENEM.
Assim, em relação à variável escolaridade, são fatores controlados nesta
pesquisa:
a) Quinto ano do ensino fundamental (antiga 4ª série);
b) Nono ano do ensino fundamental (antiga 8ª série);
c) Terceiro ano do ensino médio.
3.2.3.2.2 Gênero/sexo
É notória e devidamente marcada em diversos trabalhos em
Sociolinguística em corpus de fala, tanto a diferença de uso entre homens e
5 Dados divulgados pela Revista Escola, na matéria “O acesso à escola melhorou. O desafio,
agora, é a qualidade”. Disponível em:< http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/avaliacao/acesso-escola-melhorou-desafio-agora-qualidade-618018.shtml>. Acesso em: 20 jan.2013
72
mulheres, quanto, sobretudo em estudos mais recentes, a proximidade de usos
entre homens e mulheres. Nesta perspectiva, indaga-se a esse ponto da
pesquisa: haveria relevância do fator gênero também na escrita? O
comportamento de homens e mulheres sinalizados em trabalhos anteriores,
observados no capítulo “Estudos sobres os róticos no português brasileiro” se
evidenciará também na escrita entre alunos e alunas?
Contudo, se faz necessário registrar que, nesta análise, pretende-se
apenas indicar um comportamento e não taxá-lo, haja vista que, em se tratando
de corpus no qual não é possível estudar a variável em questão conjuntamente
com a variável faixa etária, seria no mínimo imprudente caracterizar condutas
baseadas na concepção de gênero/sexo:
[...] qualquer explicação acerca do efeito da variável gênero/sexo requer uma certa cautela, vistas às peculiaridades na organização social de cada comunidade linguística e às transformações sofridas por diversas sociedades no que se refere à definição dos papéis feminino e masculino. A esse respeito a interação entre gênero/sexo e a variável idade fornece alguns elementos de reflexão. (PAIVA, 2007, p. 41)
3.2.2.2.3 Rede de ensino
A discussão sobre a diferença na qualidade de ensino e, por
conseguinte, no perfil do corpo discente entre rede pública e rede privada de
ensino é muito recorrente, sobretudo quando analisados instrumentos de
avaliação de caráter nacional, a exemplo o ENEM. Para ilustrar tal
posicionamento, tem-se o trecho de uma matéria veiculada em meio eletrônico
no final do ano de 2012, logo após a divulgação dos resultados do ENEM
realizado naquele ano:
Cresceu a diferença no desempenho entre alunos das redes privada e pública na redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, em 2011, estudantes particulares tiveram nota média de 623,13, em comparação com 506,31 dos concluintes do ensino médio das escolas públicas. A discrepância cresceu 56%, chegando a 116,82
73
pontos, isso em relação ao ano anterior, em que o índice chegou a 74,95.
6
Assim, objetiva-se, com a análise desta variável, verificar a possível
diferença no comportamento linguístico entre estudantes oriundos das redes
privada e pública, a fim de verificar se os estudantes da rede privada utilizam,
com mais frequência, a variante padrão como tem sido difundido em meios de
comunicação e senso comum de nossa sociedade.
3.3 A ferramenta de análise – Goldvarb X
A pesquisa aqui apresentada, como já exposto em capítulos anteriores,
encontra suporte no modelo teórico-metodológico da Sociolinguística
Laboviana, cujo método de procedimentos7 é o estatístico.
Assim, como ferramenta metodológica utilizada pela Sociolinguística, o
programa Goldvarb X apresenta-se como instrumento de importância ímpar
para a análise de dados, assegurando, destarte, uma análise estatística
rigorosa.
O Goldvarb X permite ao pesquisador, segundo Guy e Zilles (2007,
p.73), apreender a sistematicidade, o encaixamento linguístico e social e a
eventual relação com a mudança linguística. Assim, o Goldvarb X manifesta-se
como ferramenta ideal, uma vez que se preocupa com uma descrição
estatística que seja capaz de sistematizar as variáveis e seus fatores de
influência, sejam internos ou externos ao sistema linguístico. Essa análise
multivariada permite a investigação de situações em que a variável linguística
foco de análise é influenciada por vários elementos do contexto, ou seja,
múltiplas variáveis independentes.
O pacote de programas Varbrul – cujos primeiros usos em
microcomputadores tipo IBM datam de 1988, período de implementação por
Pintzuk – possui hoje uma versão mais atualizada e inovadora, o Goldvarb X,
6 Dados publicados em: 07/12/2012. Disponível em:<
http://www.agora.uol.com.br/saopaulo/ult10103u1197415.shtml. Acesso em 20 jan. 2013 7 Tem-se aqui por método de procedimentos as etapas mais concretas da investigação, com
finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos, (LAKATOS, 2009, p. 106)
74
escolhido como ferramenta de análise, que amalgama em um só programa os
demais programas formadores do pacote inicial.
Não obstante o importante suporte de análise, faz-se necessário ratificar
o imprescindível papel do pesquisador, posto que os números sem um olhar
interpretativo, aqui, seriam meros dados estatísticos. É mister que o
pesquisador, de posse destes percentuais e pesos relativos levantados pelo
Goldvarb X, processe os dados informados, cruzando todas as variáveis
planejadas para a pesquisa e, assim, observe os grupos de fatores que
influenciam ou não influenciam o fenômeno em causa.
O tratamento de dados através do Goldvarb X exige que o pesquisador,
em seu universo de variáveis, estabeleça códigos para cada fator constituinte
dos grupos de fatores estudados, para que estes sejam cruzados com a
variável dependente (também codificada) e assim sejam gerados os números
do corpus analisado com seus percentuais de ocorrência e pesos relativos.
Para a presente dissertação, uma vez utilizado o programa Goldvarb, também
foram atribuídos códigos para cada fator exposto anteriormente, cuja listagem
encontra-se no apêndice do texto (Apêndice B – Chave de codificação).
75
4 ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo, serão apresentados os resultados quantitativos obtidos a
partir da análise das ocorrências levantadas dos textos de alunos do ensino
básico da cidade de Salvador, a fim de se observar o apagamento dos róticos
em posição de coda silábica. Os resultados aqui exibidos são frutos de
diversos processamentos estatístico-probabilísticos, visando dar conta da
explicação possível para a variação linguística do fenômeno ora estudado, visto
que:
Um código ou sistema é concebido como um complexo de
regras ou categorias inter-relacionadas que não podem ser
misturadas aleatoriamente com as regras ou categorias de outro
código ou sistema (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 104)
4.1 Distribuição das variantes no corpus
As análises estatísticas são denominadas de rodadas, já que os programas
utilizados realizam leituras das informações de cima para baixo e de baixo para
cima, cruzando ou não todos os grupos de fatores aventados para a pesquisa.
Assim, inicialmente, buscou-se a frequência das ocorrências encontradas
nas 192 redações coletadas, as quais perfizeram um total de 1587 ocorrências,
distribuídas nas duas variantes selecionadas, apagamento (13,1%) x
manutenção do rótico (86,9%) em posição de coda silábica em final de palavra,
conforme se vê na tabela 1.
Tabela 1 - Dados gerais do corpus: presença x ausência do –R.
Variantes Nº %
Apagamento do –R 208 13,1
Manutenção do –R 1379 86,9
TOTAL 1587
Os percentuais iniciais deste estudo revelam um dado interessante:
consoante diversos autores elencados ao longo do texto (COSTA, 2010;
76
HORA; PEDROSA; CARDOSO, 2010, entre outros) , ainda que presente a
variação nas produções observadas, há a indicação de que a escrita continua
como instrumento de manutenção dos padrões linguísticos. Contudo, não se
objetiva aqui restringir a escrita a um mero instrumento de repressão do
processo de variação linguística, pois o presente estudo comunga, entre as
tendências de estudos das relações fala x escrita sinalizadas por Marchuschi
(2007), com a perspectiva variacionista a qual:
Trata do papel da escrita e da fala sob o ponto de vista dos processos
educacionais e faz propostas específicas a respeito do tratamento da
variação na relação entre padrão e não-padrão linguístico nos
contextos de ensino formal.[...] O interessante nesta perspectiva é
que a variação se daria tanto na fala como na escrita, o que evitaria o
equívoco de identificar a língua escrita como a padronização da
língua, ou seja, impediria identificar a escrita como equivalente a
língua padrão, como fazem os autores situados na perspectiva da
dicotomia estrita.(MARCHUSCHI, 2007, p.31-2)
No gráfico 1, é possível observar a recorrência das variantes estudadas,
explicitando, assim, os percentuais de presença e manutenção do rótico nos
1.587 vocábulos analisados:
Gráfico 1 - Dados gerais do corpus: presença x ausência do –R.
77
Observando o gráfico 1, tornam-se de mais concreta visualização as
afirmações dos parágrafos iniciais sobre a distribuição geral das variantes no
corpus. Entre as 1587 ocorrências de vocábulos cujas sílabas finais são
travadas pelo rótico, contrariamente a diversos trabalhos com língua falada,
86,9% das ocorrências apresentaram a manutenção do segmento
consonântico e apenas 13, 1% destas indicaram uma possível influência da
língua falada por meio do apagamento do –R em posição de coda em final de
palavra. Tais dados levam a considerar o papel da escola nos usos linguísticos
dos indivíduos, bem como suscitam o pensamento de que a modalidade oral da
língua, na amostra analisada, não exerce tanta influência na modalidade
escrita.
4.2 Variáveis selecionadas pelo programa Goldvarb X
Primeiramente, fez-se necessária a exclusão do fator vogal alta posterior,
pertencente ao grupo de fatores contexto precedente, por causar nocaute8 nos
resultados obtidos através do Goldvarb. Deste modo, a tabela 1, a qual exibe
os dados gerais do corpus, apresenta um total de ocorrência (1.587) diferente
das demais tabelas (1.586). Realizada esta modificação, procedeu-se com a
rodada para obtenção dos dados numéricos, sendo escolhidos os grupos de
fatores, listados segundo ordenamento do programa na rodada selecionada:
(i) Contexto precedente
(ii) Classe morfológica
(iii) Rede de ensino
(iv) Escolaridade
(v) Extensão do vocábulo
(vi) Contexto subsequente
(vii) Ponto de articulação do segmento subsequente
8 Segundo Guy e Zilles (2007, p. 158), “nocaute, na terminologia de análise do Varbrul, é um
fator que num dado momento da análise, corresponde a uma frequência de 0% ou 100% para um dos valores da variável dependente”.
78
4.2.1 Contexto precedente
A primeira variável selecionada como favorecedora do apagamento na
escrita foi o segmento vocálico que antecede o rótico, isto é, o núcleo da sílaba
em que o rótico ocupa a posição de coda. Os resultados obtidos para essa
variável estão registrados na tabela 2.
Tabela 2 – O apagamento dos róticos na escrita e o contexto precedente.
Contexto precedente
Significância = 0.049 Apl./T. %
P.R.
vogal anterior alta 47/199 23,6 0.69
vogal central baixa 145/803 18,1 0.62
vogal anterior média 13/359 3,6 0.28
vogal posterior média 3/222 1,3 0.24
TOTAL 208/1586
Os dados da tabela 2 sinalizam que a vogal anterior alta (32) demonstrou
um maior apagamento do –R, com um peso relativo de 0.69, seguida da vogal
central baixa (33) com peso relativo de 0.62. Já o segmento vocálico menos
favorecedor da variação foi a vogal posterior média (34), com peso relativo de
0.24.
(32) “(...) for dormi, ao sair desligar a luz” (aluna 9º ano – escola
pública)
(33) “Vai usa para reutilizar e muitos (...)” (aluno 3º ano – escola
pública)
(34) “Ao mecher no computador desligue” (aluno 5º ano – escola particular)
Para uma melhor visualização dos dados, há, no gráfico 2, a disposição do
comportamento das vogais em posição de núcleo de sílaba travada por um
rótico: vogal anterior alta (23,6%), vogal central baixa (18,1%) e com
percentuais menores a vogal anterior média (3,6%) e a vogal posterior média
(1,3%). Resultados similares, quanto ao comportamento da referida vogal,
encontram-se em Cunha, Rodrigues e Nascimento (2006) com a indicação da
79
vogal anterior não-arredondada [i], com um peso relativo de 0.96 e em Costa
(2010), em que a vogal [i] revelou-se como terreno profícuo ao apagamento do
-R em final de verbos, apresentando peso relativo de 0.64.
Gráfico 2 - O apagamento dos róticos na escrita e o contexto precedente.
4.2.2 Classe morfológica Confirmando a hipótese inicial levantada para a variável classe
gramatical, em que o cancelamento do segmento em análise seria mais
frequente em verbos, no corpus, o apagamento revelou-se produtivo mais na
classe dos verbos apresentando peso relativo de 0.57, conforme se vê na
tabela 3, vale ressaltar que, consoante observações de Callou, Moraes e Leite
(1996), o comportamento constatado na classe dos verbos, dá-se, sobretudo,
no infinitivo verbal.
Tabela 3 - O apagamento dos róticos na escrita e a classe morfológica
Classe morfológica Significância = 0.049
Apl./T. % P.R.
Verbos 204/1327 15,4 0.57
Não-verbos 4/260 1,5 0.17
TOTAL 208/1587
A tabela 3 evidencia, então, o comportamento dos verbos análogo aos
estudos com corpus de língua falada, perfazendo um total de 15,4% de casos
80
em que ocorreu o apagamento do -R (35), com peso relativo de 0.57, frente a
apenas 1,5% de apagamento em vocábulos classificados como não verbos
(36), com peso relativo de 0.17.
(35) “Vai prejudica somente aqueles menos preparados” (aluna 3º ano –
escola pública)
(36) “O ser humano precisa (...)” (aluna 3º ano – escola pública)
A distribuição dos dados pode ser melhor visualizada no gráfico 3.
Gráfico 3 - O apagamento dos róticos na escrita e a classe morfológica
Oliveira (2001) também teve, em seu trabalho, o grupo de fatores classe
morfológica selecionado, apresentando peso relativo de 0.56:
Os resultados referentes à classe de palavras confirmaram o que
tradicionalmente se comenta a respeito do comportamento da
variável (r) nos verbos. Os resultados nos dizem que é nele que se
processa o maior índice de apagamento. Tradicionalmente, o verbo
tem sido uma das classes de palavra na qual mais ocorre o
apagamento. (OLIVEIRA, 2001. p. 54)
Outras pesquisas, como as de Callou, Moraes e Leite (1996) e
Monaretto (2002) também comungam da seleção da variável classe gramatical
como contexto favorecedor do processo de apagamento dos róticos.
81
Os dados de escrita ora apresentados indicam a classe de palavras dos
verbos também como ambiente favorecedor do processo de apagamento
consonantal. Tal observação leva à crença de que, ainda que pouco observada
a variação na escrita, quando esta ocorre, comunga de contextos
favorecedores na fala.
4.2.3 Rede de ensino
A tabela 4 apresenta os resultados para a variável rede de ensino.
Tabela 4 - O apagamento dos róticos na escrita e a rede de ensino.
Rede de ensino Significância = 0.049
Apl./T. % P.R.
Pública 117/693 16,9 0.59
Privada 91/894 10,2 0.42
TOTAL 208/1587
Como vislumbrado no início do trabalho, os alunos pertencentes à rede
pública de ensino demonstram maior recorrência à estratégia de apagamento
dos róticos em seus textos, com peso relativo de 0.59, enquanto a escrita dos
alunos da rede particular de ensino apresentaram um índice de apagamento de
0.42.
Silva-Corvalán (2001) posiciona-se em relação à importância dos
estudos sociolinguísticos frente à realidade linguística dos alunos e a
metodologia de ensino do padrão linguístico:
Si la escuela se propone como objectivo mantener la variedad no
estándar junto con la enseñanza del estándar, es necesario, por
tanto, motivar al niño a adquirir esta última, sin criticar ni emitir juicios
negativos hacia la variedad familiar y comunitaria que el niño usará
más frecuetemente fuera de la escuela. En cuanto a metodología, es
interesante observar que los educadores han adoptado técnicas
empleadas en la enseñanza de una lengua extranjera y han
empezado a aplicarlas en la enseñanza de variedades de la misma
lengua: técnicas de comparación, identificación de semejanzas y
diferencias, ejercicios de repetición y completación, etc.9 (SILVA-
CORVALÁN, 2001. p.32)
9 Se a escola propõe como objetivo manter a variedade não padrão junto com o ensino do padrão
linguístico, é necessário, para tanto, motivar o aluno a adquirir esta útlima, sem criticar, nem emitir
82
O gráfico 4 apresenta a diferença entre alunos oriundos da rede privada
e alunos da rede pública.
Gráfico 4 - O apagamento dos róticos na escrita e a rede de ensino.
Os resultados ilustrados no gráfico 4, reforçam o pensamento de que há
diferença no comportamento linguístico entre alunos conforme a rede de ensino
de origem, bem como suscita a necessidade de trabalhos voltados à
observação do comportamento destes alunos, buscando, a partir de uma maior
consciência da realidade destes, a elaboração de práticas pedagógicas que
diminuam esta diferença.
4.2.4 Escolaridade
Os dados relativos à variável escolaridade, expostos na tabela 5,
demonstram um dado social de extrema relevância para a pesquisa: a força da
escolarização no processo de aquisição do padrão ortográfico oficial.
juízos negativos à variedade da família e da comunidade que o aluno utilizará mais frequentemente
fora da escola. Enquanto metodologia, é interessante observar que os educadores optam por técnicas
empregadas no ensino de uma língua estrangeira e começam a aplicá-las no ensino de variedades da
mesma língua: técnicas de comparação, identificação de semelhanças e diferenças, exercício de
repetição e complementação, etc. (tradução nossa)
83
Tabela 5 - O apagamento dos róticos na escrita e a escolaridade.
Escolaridade Significância = 0.049
Apl./T. % P.R.
5º Ano do Ensino Fundamental 106/627 16,9 0.56
9º Ano do Ensino Fundamental 64/530 12,1 0.51
3º Ano do Ensino Médio 38/430 8,8 0.38
TOTAL 208/1587
Com base na tabela 5, verifica-se, então, o decrescente uso da variante
não-padrão consoante o avanço do tempo de estudo do indivíduo: os
estudantes do 5º ano do ensino fundamental encontram-se em um extremo,
com o peso relativo de 0.56 para a regra de aplicação e os estudantes que
estão finalizando o ensino básico, cursantes da 3ª série do ensino médio,
apresentam peso relativo de 0.39. Tal observação concretiza-se na
configuração do gráfico 5.
Gráfico 5 - O apagamento dos róticos na escrita e a escolaridade.
O comportamento distinto entre os alunos das três séries analisadas
nesta pesquisa dialoga com o posicionamento de Bortoni-Ricardo (2004) no
que tange aos conceitos de identificação da diferença e a conscientização da
diferença. Ao perceber a regra de uso, sobretudo de verbos no infinitivo e suas
formas flexionadas (em 3ª pessoa do singular), o aluno consicentiza-se de que,
ainda que não pronunciada a consoante, esta faz parte da constituição da
84
palavra que ora é utilizada. Convém, no entanto, reafirmar, mais uma vez, o
papel do mestre neste processo:
Da perspectiva de uma pedagogia culturalmente sensível aos
saberes dos alunos, podemos dizer que, diante da realização de uma
regra não padrão pelo aluno, a estratégia da professora deve incluir
dois componenentes: a identificação da diferença e a conscientização
da diferença. A identificação fica prejudicada pela falta de atenção ou
pelo desconhecimento que os professores tenham a respeito daquela
regra. Para muitos professores, principalmente aqueles que têm
antecedentes rurais, regras do português próprio de uma cultura
predominantemente oral são ‘invisíveis’, o professor as tem no seu
repertório e não as percebe na linguagem do aluno. (BORTONI-
RICARDO, 2004. p. 42)
Tal afirmação, somada aos dados levantados nas produções observadas
nesta pesquisa, reforça a necessidade de formação docente mais consciente,
não apenas dos processos de variação linguística, mas da estrutura
organizacional da língua como um todo, neste caso, dos processos fonológicos
suscitíveis na língua.
4.2.5 Extensão do vocábulo
Os dados exibidos na tabela 6 mostraram-se produtivos para o processo
de cancelamento do segmento consonântico em foco nas palavras trissílabas
(37), polissílabas (38) e dissílabas (39), com pesos relativos respectivos de
0.57, 0.57 e 0.55. Contrariamente, observa-se o comportamento dos vocábulos
monossílabicos (40), que apresentaram peso relativo de 0.27, ratificando a
crença de que, quanto menor o vocábulo, maior a manutenção de seus
elementos.
Tabela 6 - O apagamento dos róticos na escrita e a extensão do vocábulo.
Extensão do vocábulo Significância = 0.049
Apl./T. % P.R.
Trissílabos 74/396 18,7 0.57
Polissílabos 21/144 14,6 0.57
Dissílabos 106/709 15,0 0.55
Monossílabos 7/338 2,1 0.27
TOTAL 208/1587
85
(37) “Pode derruba sua moradia” ( aluno 9º ano – escola pública)
(38) “Para o homem desenvolve melhores práticas (...)” (aluna 3º ano –
escola particular)
(39) “Assim vamos todos morre.” (aluna 5º ano – rede pública)
(40) “Rir de novo” (aluno 9º ano – escola particular)
Assim como ocorreu nos dados analisados nesta pesquisa, a extensão
do vocábulo mostrou-se como fator relevante para o processo de apagamento
nos usos linguísticos de indivíduos da cidade de Salvador no trabalho de Mota
e Souza (2009), cujos dados revelaram maior incidência do apagamento em
vocábulos trissílabos.
Similarmente ao ilustrado no gráfico 6, há, na análise de dados em
Costa(2010), resultado semelhante em relação ao comportamento
desfavorecedor do apagamento em monossílabos:
Já nos vocábulos constituídos apenas por uma sílaba, houve uma
regra contrária, no sentido da preservação do segmento /R/ no final
das palavras, independentemente da classe gramatical, como é
possível notar nos pesos relativos baixos para a supressão do
segmento em final de verbos e nomes: 0.19 e 0.14 respectivamente.
(COSTA, 2010. p. 109)
Gráfico 6 - O apagamento dos róticos na escrita e extensão do vocábulo.
86
Posição parecida é vista em Callou, Leite e Moraes (2002, p.480): “Nos
dois casos de apagamento, em monossílabos, o /r/ nunca se encontra em final
absoluto e o contexto é o mesmo, embora em informantes distintos: mar e...”.
Esse resultado soma-se aos já vistos: embora ínfima a variação na escrita,
quando esta aparece nos textos dos alunos, apresenta-se em contextos
similares aos vistos em pesquisas anteriores com corpus de fala.
4.2.6. Contexto subsequente Conforme exposto na tabela 7, no corpus estudado, foi possível observar
que o contexto de pausa (41) favoreceu o apagamento dos róticos com peso
relativo de 0.63, ao passo que o segmento vocálico (42) não favoreceu a
variante não padrão, apresentando peso relativo de 0.47, junto ao contexto de
consoante (43) com peso relativo de 0.48.
Tabela 7 - O apagamento dos róticos na escrita e o contexto subsequente
Contexto subsequente Significância = 0.049
Apl./T. % P.R.
Pausa 38/224 17,0 0.63
Consoante 94/781 12,0 0.48
Vogal 76/582 13,1 0.47
TOTAL 208/1587
(41) “(...) não deveria existi” (aluna 3º ano – escola particular)
(42) “(...) viver em um mundo melho” (aluno 3º ano – escola particular)
(43) “(...) devemos mudar nossas ações” (aluno 3º ano – escola pública)
Comportamento parecido pode ser observado com os dados
apresentados por Brustolin (2010). A autora sinalizou que, na fala do
indivíduos nativos de Florianópolis, tem-se por um dos contextos favorecedores
ao apagamento dos róticos o contexto subsequente final absoluto.
87
Os dados que ora são explanados, tanto na tabela 7, quanto no gráfico
7, indicam como contexto favorecedor do apagamento a pausa com percentual
de 17% e peso relativo de 0.64, ao passo que um segmento consonântico
nesta mesma posição desfavorece a variação, posto que nas ocorrências
levantadas, dos vocábulos com o –R apagado em posição de coda silábica,
apenas 12% eram seguidos por palavra iniciada por consoante.
Assim, através da análise do gráfico 7, é possível visualizar os
comportamentos opostos de pausa, de um lado, e consoante e vogal, do outro,
em relação à variação de uso dos róticos em posição de coda silábica em final
de palavra:
Gráfico 7 - O apagamento dos róticos na escrita e o contexto subsequente
4.2.7 Ponto de articulação do segmento subsequente
Esta pesquisa difere das demais em que são utilizados corpora de língua
falada, entre outros aspectos, pelo caminho percorrido quando analisadas as
variáveis relacionadas ao segmento consonântico subsequente. De modo
geral, os trabalhos com corpus de fala amalgamam as variáveis ponto de
articulação, modo de articulação e sonoridade do segmento subsequente. Tal
estratégia foi seguida no presente estudo, contudo, quando amalgamadas
(primeiramente com a junção de ponto, modo de articulação e sonoridade; em
88
seguida apenas o ponto e modo de articulação), a variável resultante não foi
selecionada pelo programa Goldvarb X, fazendo, assim, necessária uma nova
rodada com as três variáveis analisadas separadamente. Assim, houve uma
pequena mudança, com a seleção da variável ponto de articulação. Vale
ressaltar que as demais variáveis selecionadas e anteriormente expostas não
sofreram alteração (vide quadro comparativo das rodadas em Apêndice C).
A tabela 8 expõe os dados relativos ao apagamento dos róticos da
variável ponto de articulação, sendo evidenciada a influência das consoantes
labiodentais (44) no processo de apagamento do –R, com peso relativo de
0.74, seguida das consoantes alveolares (45), com peso relativo de 0.53,
bilabiais (46) com peso relativo de 0.52. Em posição contrária, desfavorecendo
o apagamento encontram-se as consoantes palatais (47), com peso relativo de
0.37:
Tabela 8 - O apagamento dos róticos na escrita e o ponto de articulação do segmento subsequente.
Ponto de articulação Significância = 0.049
Apl./T. % P.R.
Labiodentais 6/28 21,4 0.74
Alveolares 46/364 12,6 0.53
Bilabiais 29/205 14,1 0.52
Palatais 13/184 7,1 0.37
TOTAL 208/1587
(44) “Vai acaba ficando” (aluna 5º ano – escola pública)
(45) “Devemos cuida do meio ambiente” (aluno 5º ano – escola
particular)
(46) “Não toma banho por muito tempo” (aluno 5º ano – escola
particular)
(47) “ele nunca vai tomar jeito na vida” (aluna 3º ano – escola pública)
89
Assim, pela observação do gráfico 8, é possível visualizar maior
influência das consoantes labiodentais no fenômeno de apagamento dos
róticos nas produções escritas analisadas:
Gráfico 8 - O apagamento dos róticos na escrita e o ponto de articulação do segmento
subsequente.
Ao observar os dados do gráfico 8, bem como os dados da tabela 8,
ficam evidentes os extremos de comportamento entre as consoantes
labiodentais com 21,4% do total de ocorrências de apagamento do –R em
posição de final de sílaba e as consoantes palatais com 7,1% de cancelamento
do rótico.
4.3 Variáveis não selecionadas pelo programa Goldvarb X
O que fazer com os grupos de fatores não selecionados, ou seja, com
aqueles que, na amostra utilizada, não revelaram comportamento atuante na
variação foco de estudo? Desprezá-los, pois não revelam nada significativo?
Apresentá-los para, em alguns casos, revelar uma visão inicial equvicada do
fenômeno a ser analisado? Guy e Zilles (2007) também levantam
questionamentos semelhantes e em resposta afirmam:
De fato, raramente é justificável simplesmente esquecer ou não
mencionar resultados sem significância.(...) Primeiro, é importante
lembrar que a falta de significância de uma relação ou efeito é, em si,
90
uma descoberta, uma evidência, uma resposta às perguntas do
pesquisador!(...) O segundo ponto a lembrar nesses casos é que há
vários motivos que determinam um resultado sem significância. (GUY;
ZILLES, 2007. p.214-5)
Dessa forma, seguem os grupos de fatores não selecionados pelo
programa Goldvarb X no corpus de língua na modalidade escrita utilizado nesta
pesquisa:
(i) Gênero/sexo
(ii) Gênero textual
(iii) Modo de articulação do segmento subsequente
(iv) Sonoridade do segmento subsequente
O primeiro grupo não selecionado é de cunho social, gênero/sexo. Nos
dados examinados na pesquisa, do total de 208 vocábulos que apresentaram o
apagamento, 101 de 772 foram em produções escritas por alunas e 107 de 815
por alunos, com percentuais idênticos 13,1% de apagamento do -R e 86,9% de
manutenção. Estes resultados evidenciam um fato bastante significativo, pois
indicam uma proximidade de usos linguísticos entre indivíduos independente se
são do gênero/sexo masculino ou feminino. Este comportamento de
proximidade entre alunas e alunos é discutido em Paiva (2007):
Transformações na organização social podem estar subjacentes à
neutralização do efeito da variável gênero/sexo nas faixas mais
jovens da população. A aproximação do comportamento linguístico de
falantes mais jovens pode ser um reflexo de que, nessa faixa etária,
reconfigura-se a atuação do homem e da mulher na sociedade, com
diluição das fronteiras entre papéis femininos e masculinos. (PAIVA,
2007. p.41)
O comportamento da variável gênero textual demonstrou-se adverso à
crença inicial da pesquisa, uma vez que, em corpus de fala, o grau de
formalidade de fenômenos como o trabalhado, em boa parte dos casos,
influencia os usos dos indivíduos. Contudo, nos dados do corpus de língua
escrita utilizado, não houve diferença significativa entre os níveis de
formalidade proposto: as dissertações coletadas apresentaram um percentual
91
de 12,9%, com dados muito similares (97 de 750 ocorrências de apagamento)
e as cartas obtiveram um percentual de 13,3% de apagamento.
Tal cenário leva, também, a um repensar na metodologia utilizada e não,
necessariamente, ao simples descarte desta variável. Deste modo, é
importante uma redefinição de trilhas em trabalhos futuros, talvez com a
mescla de outras técnicas de coleta de dados como o ditado de palavras e
frases e o teste de lacunas utilizados em outras pesquisas, tais como em
Mollica (2003) e Costa (2010).
Os dois últimos grupos de fatores não selecionados pelo programa
Golsvarb X – modo de articulação e sonoridade do segmento subsequente –
estão atrelados a o outro grupo selecionado, o ponto de articulação do
segmento subsequente. Como já exposto, foi feita uma rodada com estas três
variáveis amalgamadas, contudo a variável originada desta junção não foi
selecionada, descartando-se, assim, a rodada “amalgamada”. Ainda em
continuidade, na análise dos segmentos consonânticos subsequentes, foi
realizada a junção dos grupos de fatores ponto e modo de articulação, contudo,
tal estratégia não logrou êxito, mantendo-se a seleção de variáveis inicial.
Tal situação suscita a necessidade de uma provável ampliação de
corpus, visto que, diferentemente de alguns estudos com corpus de fala, a
variável consoante subsequente não foi selecionada. Com tal ampliação, será
possível visualizar se houve uma alteração nos resultados por uma limitação do
corpus ou se esta mudança se deu pela alteração na modalidade da língua,
evidenciando, adversamente à proposta inicial da pesquisa, um afastamento
dos registros escritos dos orais.
4.4 Cruzamento de variáveis sociais
Com vistas a uma análise mais estreita do condicionamento dos fatores
sociais frente ao fenômeno em foco, foram analisados conjuntamente os
seguintes grupos de fatores: escolaridade e rede de ensino; rede de ensino e
sexo/gênero, cujos dados encontram-se organizados nas tabelas 9 e 10.
Tabela 9 - O apagamento dos róticos na escrita: análise dos fatores escolaridade e rede de ensino.
REDE DE
ENSINO
5º ANO
FUND.
9º ANO
FUND.
3º ANO
E.M.
92
APAGAMENTO -R PARTICULAR
15% 6% 7%
MANUTENÇÃO –R 85% 94% 93%
APAGAMENTO -R PÚBLICA
20% 12% 9%
MANUTENÇÃO –R 80% 88% 91%
Observando os dados da tabela 9, confirma-se o papel da escolarização
na aquisição do padrão linguístico, uma vez que, independente da origem dos
alunos, estes tendem a utilizar cada vez mais o padrão da língua com o
avançar de seus estudos. Mais especificamente, os discentes apresentam, nos
5º e 9º anos do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio, os índices de
manutenção de –R: 85%, 94% e 93% na rede particular e 80%, 88% e 91% na
rede pública, respectivamente.
Não obstante, é válida a observação de que, ainda que pouca, há a
diferença de uso do –R quando observados alunos das mesmas séries nas
duas redes de ensino.
Outra observação interessante tem-se pela análise conjunta dos fatores
sociais rede de ensino e sexo/gênero, conforme demonstrado na tabela 10.
Tabela 10 - O apagamento dos róticos na escrita: análise dos fatores rede de ensino e sexo/gênero
.
REDE DE ENSINO ALUNOS ALUNAS
APAGAMENTO -R PARTICULAR
10% 10%
MANUTENÇÃO –R 90% 90%
APAGAMENTO -R PÚBLICA
18% 13%
MANUTENÇÃO –R 82% 87%
Os indivíduos oriundos da rede privada de ensino não apresentaram
diferença nos uso dos róticos em suas escritas, sendo observados exatamente
os mesmo percentuais tanto para o apagamento (10%), quanto para a
manutenção do segmento consonântico (90%). Este comportamento não foi
observado na rede pública de ensino, uma vez que, entre os dados analisados,
foi evidenciada uma diferença, ainda que diminuta, nos usos: a escrita das
alunas é mais próxima da escrita padrão (com 87% de manutenção do –R) do
que a dos alunos (com 82% de manutenção do –R) no que tange ao segmento
consonântico foco desta pesquisa. Tal diferença de comportamento suscita o
93
aprofundamento da análise, uma vez que o grupo de fatores rede de ensino
quando analisado conjuntamente com o grupo sexo/gênero configura-se como
um ponto de identificação e diferenciação desses indivíduos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa foi alicerçada na metodologia da Sociolinguística
Laboviana com o intuito de analisar o comportamento dos róticos na posição de
coda silábica em final de palavras, nas produções escritas de estudantes do
ensino básico das redes pública e privada na cidade de Salvador.
O estudo aqui exposto mostrou que a variante não padrão, ou seja, o
apagamento do segmento consonântico, contrariamente aos dados em corpora
de língua falada, é pouco frequente na escrita dos alunos observados.
Quanto aos grupos de fatores propostos para análise dos contextos
favorecedores do apagamento dos róticos na escrita, foram selecionados pelo
programa Goldvarb X:
a) Contexto precedente
b) Classe morfológica
c) Rede de ensino
d) Escolaridade
e) Extensão do vocábulo
f) Contexto subsequente
g) Ponto de articulação do segmento subsequente
As variáveis contexto precedente, classe morfológica, extensão
vocabular e contexto subsequente evidenciam que, apesar de pouco
observadas na escrita, as ocorrências de apagamento na escrita seguem,
assim como esplanado no quadro 2 - Resumo da cronologia dos estudos sobre
os róticos, os mesmos contextos linguísticos que as ocorrências observadas
em corpora de fala. Desta forma, ainda que diminuta, é possível perceber que
há influência da fala na escrita discente, bem como pontuado no início deste
trabalho.
94
Mollica (2003, p.51-2) chama atenção para a necessidade de os
professores estarem atentos ao fenômeno de apagamento dos róticos no
contexto de coda silábica em final de palavra, já que “[...] os problemas não são
sanados até 4ª série”. Os resutados da presente pesquisa ratificam tal posição,
pois à medida em que a análise, independente da rede de ensino de origem do
aluno, avançou nas séries do ensino básico, as ocorrências de apagamento
diminuíram.
Ao confrontar os trabalhos anteriores, cujo objeto de estudo é os róticos
em coda silábica, verificou-se a junção das variáveis ponto, modo de
articulação e sonoridade do segmento subsequente como estratégia para
delineamento de contexto favorecedor do cancelamento do –R. Tal artifício não
logrou êxito, no corpus utilizado nesta pesquisa, como pode ser observado no
confronto das rodadas (vide Apêndice C). Não obstante, a seleção, pelo
programa Goldvarb X, da variável ponto de articulação do segmento
subsequente suscita a ideia de que se faz necessária a ampliação do corpus;
assim, com o aumento no número de ocorrência, talvez seja possível recorrer à
amálgama dos grupos de fatores para uma possível visualização dos contextos
favorecedores do fenômeno na fala no corpus de escrita.
Dentre as variáveis extralinguísticas que fizeram parte da análise aqui
exposta, foram selecionadas: rede de ensino e escolaridade. A primeira
variável confirma a diferença no comportamento entre estudantes consoante e
escola que estudam, particular ou pública. Esta constatação reforça a
necessidade, não apenas de pesquisas que retratem a realidade vivenciada em
sala de aula, mas a efetiva aplicação de políticas públicas que minimizem esta
diferença que, inicialmente, apresenta-se em ambiente escolar, e com o
avançar do tempo, aparta os indivíduos no mundo do trabalho. A segunda
variável ratifica uma das hipóteses de maior relevância para a presente
pesquisa, reforçando afirmações como a de Votre (2007. p. 54) em que o
ensino mostra-se produtivo ao passo que o aluno apropria-se das formas do
padrão da língua como capital simbólico.
Continuando com o detalhamento da análise, tem-se entre as variáveis
não selecionadas pelo programa Goldvarb X, o destaque para o grupo de
fatores gênero textuai que, contrariamente à hipótese inicial, não se revelou
favorecedor do apagamento do -R. Diante disto, é possível refletir sobre a
95
estratégia de coleta de dados, fato que suscita uma possível junção da
estratégia utilizada com outras, a exemplo das estratégias utilizadas por Mollica
(2003) e Costa (2010), teste de lacunas e ditado de frases. Desta forma,
poderá ser mais viável a análise dos graus de formalidade frente ao uso dos
róticos na escrita discente. Outra possível estratégia que surge diante deste
entrave é a formação de corpora de fala e escrita do mesmo grupo discente
para uma análise mais aprofundada da relação fala x escrita.
Refletindo o pensamento do ensaísta irlandês, George Bernard Shawm
– “A ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros dez.” –,
este trabalho encontra sua pausa. Nesta dissertação, não se encontram
afirmações inquestionáveis, tampouco verdades absolutas, mas sim, o início de
um caminhar. O que se objetivou, ao longo destas laudas, foi o começo de um
traçado sobre o que, e sobretudo, por que a escrita foge, em algumas
situações, aos padrões ortográficos e aproxima-se dos usos da fala. Também
se pretendeu fornecer material de debate para profissionais do ensino, uma vez
que, da discussão aqui feita, surge a inquietação e desta as mudanças. E a
língua, como reflexo do próprio ser humano, mostra, ao longo de tantos
séculos, que mudar é indispensável.
96
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação
linguística. São Paulo: Parábola Editorial: São Paulo, 2007.
BAGNO, Marcos. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro.
São Paulo: Parábola Editorial, 2009
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a
sociolinguistica na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós chegemu na escola, e agora? São
Paulo: Parábola, 2005.
BORTONI-RICARDO. O Estatuto do erro na língua oral e na língua escrita.
Disponível em:< http://www.stellabortoni.com.br/. Acesso em: 25 mar. 2013.
BRANDÃO, Sílvia Figueiredo. Variação em coda silábica na fala popular
fluminense. Revista da ABRALIN, v. 7, n.1, p.177-89, jan./jun. 2008.
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa. Secretaria de
Estado de Educação. 2001.
BRESCANCINI, Cláudia; MONARETTO, Valéria Neto de Oliveira. Os róticos no
sul do Brasil: panorama e generalizações. Signum: Estud.Ling., Londrina,
n11/12, p. 51-66, dez.2008.
BRUSTOLIN, Ana Kelly Borba da Silva. Ilha de Santa Catarina rodeada por róticos. Letra Magna, ano 06, n. 12, 1º sem. 2010.
CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à Fonética e à Fonologia. 10 ed. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
CALLOU, Dinah; MORAIS, João; LEITE, Yonne. Apagamento do /R/ final no
dialeto carioca: um estudo em tempo aparente e em tempo real. D.E.L.T.A., vol.
14, 1998, p. 61-72.
CALLOU, Dinah; MORAIS, João; LEITE, Yonne. Processo(s) de enfraquecimento consonantal no português do Brasil. In: ABAURRE, Maria Bernadete. (Org.). Gramática do português falado. vol VIII: novos estudos descritivos. Campinas: Editora da UNICAMP, 2002, p. 537-555.
CALLOU, Dinah; MORAIS, João; LEITE, Yonne.Variação e diferenciação dialetal: a pronúncia do /r/ no português do Brasil. In: KOCH, Ingedore G. Villaça. (Org.). Gramática do português falado. vol VI: desenvolvimentos. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996, p. 465-494.
CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. Tradução de
Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2002.
CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Erros escolares como sintomas de tendências
linguísticas no português do Rio de Janeiro. In: UCHÔA, Carlos Eduardo
Falcão (Org.). Dispersos de Mattoso Câmara Jr. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
97
CASTILLO, Ataliba Teixeira de. Variação dialetal e ensino institucionalizado da língua portuguesa. In: BAGNO, Marcos (Org.). Linguistica da norma: edições Loyola, 2002, p. 27-35.
CEZARIO, Maria Maura; VOTRE, Sebastião. Sociolinguística. In:
MARTELOTTA, Mário Eudardo (Org.). Manual de Linguística. 1. ed. São Paulo:
Contexto, 2009.
COLLISCHCONN, Gisela. A síliaba em português. In BISOL, Leda (org.).
Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 1996, p. 95-126.
COSTA, Geisa Borges. O apagamento do rótico em coda silábica na escrita de
estudantes catuenses. 2010. 141 f. Dissertação (Mestrado em Letras e
Linguística) Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA,
2010.
CRYSTAL, David. Dicionário de linguística e fonética. trad.e adap. Maria Carmelita Pádua Dias. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2000.
FARACO, Carlos Alberto. Escrita e alfabetização. 7ª Ed. São Paulo: Contexto,
2005.
FARACO, Carlos Alberto. Norma-padrão brasileira: desembaraçando alguns nós. In: BAGNO, Marcos (Org.). Linguistica da norma: edições Loyola, 2002, p. 37-60.
FÁVERO, Leonor Lopes; ANDRADE, Maria Lúcia C. Z. O.; AQUINO, Zilda G.
O. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 7.ed. São
Paulo: Cortez, 2009.
GARRÃO NETO, Ernani. A Sociolinguística. In: MOLLICA, Maria Cecília.
Linguagem para formação em Letras, Educação e Fonoaudiologia. São Paulo:
Contexto, 2009. p.83-92
GNERRE, Maurizio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
GOMES, Christina Abreu. Aquisição do tipo silábico CV(r) no português
brasileiro. Scripta. Belo Horizonte, v.9, n. 18, p. 77-90, 1º sem. 2006.
GUY, Gregory R.; ZILLES, Ana M. S. O ensino da língua materna: uma
perspectiva sociolinguística. Revista Calidoscópio, vol 4, nº 1, p. 39-50, jan/abr
2006.
GUY, Gregory R.; ZILLES, Ana M. S. Sociolinguística quantitativa: instrumental
de análise. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
HERNANDORENA, Carmen Lucia Matzemauer. Introdução à teoria fonológica. In BISOL, Leda (org.). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996, p. 9-83.
HORA, Dermeval da; PEDROSA, Juliene Lopes Ribeiro; CARDOSO, Walcir.
Status da consoante pós-vocálica no português brasileiro: coda ou onset com
98
núcleo não preenchido foneticamente. Letras de Hoje. Porto Alegre, v. 45, n.1,
p. 71-9, jan./mar. 2010.
KATO, Mary. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguistica. 7 ed. São
Paulo: Ática, 2010.
LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. tradução Marcos Bagno, Maria
Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de
Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática, 1982.
MARCHUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de
retextualização. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2007.
MOLLICA, Maria Cecília. Da linguagem coloquial à escrita padrão. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003.
MOLLICA, Maria Cecília. Fundamentação teórica: conceituação e delimitação. In MOLLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza (orgs.) Introdução à sociolinguística: o tratamento da variação. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2007. p.09-14.
MOLLICA, Maria Cecília. Variação, mudança e escrita.In: CARDOSO, Suzana
(Org.). Diversidade linguistica e ensino. Salvador: EDUFBA, 1996, p.159-164.
MONARETTO, Valéria N. A vibrante pós-vocálica em Porto Alegre. In: BISOL, Leda; BRESCANCINI, Cláudia (Orgs.). Fonologia e variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002, p. 253-268.
MORAIS, Artur Gomes de. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática,
2007.
MORAIS, Artur Gomes de. Ortografia: este peculiar objeto de conhecimento. In:
MORAIS, Artur Gomes de (Org.) O aprendizado da ortografia. 3 ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2003. p. 07-19.
MORAIS, Artur Gomes de. Representaciones infantiles sobre la ortografia del
portugués. Tese de Doutoramento. Universidade de Barcelona. Espanha, 1995.
MOTA, Jacyra; SOUZA, Lorena. Estudo de fatos fônicos em inquéritos
experimentais do ALiB: o apagamento dos róticos em coda silábica. In:
GÄRTNER, Eberhard; SCHÖNBERGER, Axel (Edd.). Estudos sobre o
português brasileiro. Francofurti Moenani: Valentia, 2009.
NASCIMENTO, Tiana A. M. Os róticos na fala de tres municípios fluminenses: Petrópolis, Itaperuna e Parati. 2009. 128 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2009.
NASCIMENTO, Tiana A. M.; RODRIGUES, Deisiane; CUNHA, Claudia de Souza. A vibrante em coda silábia nos atlas regionais do Beasil. In: CUNHA,
99
Claudia de Souza (Org.). Estudos geo-sociolinguisticos. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
NETO, Ernani Garrão. A Sociolinguística. In: MOLLICA, Maria Cecília.
Linguagem para formação em Letras, Educação e Fonoaudiologia. São Paulo:
Contexto, 2009. p. 83-92.
OLIVEIRA, Josane Moreira de. O apagamento do /R/ implosivo na norma culta de Salvador. Dissertação de mestrado. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1999.
OLIVEIRA, Marilúcia Barros de. Manuntenção e apgamento do /R/ final de
vocábulo na fla de Itaiuba. Dissertação de mestrado. Belém: Universidade
Federal do Pará, 2001
PAIVA, Maria da Conceição de. A variação gênero/sexo. In MOLLICA, Maria
Cecília; BRAGA, Maria Luiza (orgs.) Introdução à sociolinguística: o tratamento
da variação. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2007. p.33-42.
PILOTO, Maria Carolina; GORSKI, Edair. A linguagem na escola: a valorização
das diferenças dialetais para uma real democratização do ensino. Iniciação
Científica, CESUMAR, vol. 05, n. 02, p. 125-9, jul-dez. 2003.
PLATÃO. Crátilo. Disponível em:<
http://www.acropolis.org.uy/Investiga_y_Comparte/Biblioteca_Virtual/Platon/Plat
on%20-%20Cratilo.pdf>. Acesso em 20 out. 2012.
PRETI, Dino. Estudos de língua oral e escrita. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. Org. por Charles Bally e
Albert Sechehaye, colaboração de Albert Riedlinger. Trad. Antonio Chelini,
José Paulo Paes e Isidoro Blikstein. 7ª Ed. São Paulo: Cultrix, 1975.
SCHARDOSIM, Chris Royes; TROMBETTA, Naissara. Fonologia: breve
histórico dos estudos no Estruturalismo e Gerativismo. E-scrita. Nilópolis, v. 3,
n. 2, mai.- ago.2012.
SCLIAR-CABRAL, Leonor. Princípios do sistema alfabético do português do
Brasil. São Paulo: Contexto, 2003.
SILVA, Thaïs Cristófaro. Dicionário de Fonética e Fonologia. São Paulo:
Contexto, 2011.
SILVA-CORVALÁN, Carmen. Sociolinguística y pragmática del español.
Washington D.C.: Georgetown Press, 2001.
SIMÕES, Darcília. Considerações sobre a fala e a escrita: fonologia em nova
chave. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
SOUZA, Edna Guedes de. Dissertação: gênero ou tipo textual? In: DIONÍSIO,
Ângela Paiva; BESERRA, Normanda da Silva. Tecendo textos: construindo
experiências. 2.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007, p. 163-83.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguistica. 8 ed. São Paulo: Ática, 2007.
100
TOLEDO, Adilson do Rosário. A realização dos róticos em coda silábica na
cidade de Paranaguá litoral do Paraná. Signum: Est. Ling., Londrina, v. 12, n.1,
p.403-422, jul.2009.
TRASK, R.L. . Dicionário de linguagem linguística. trad. Rodolfo Ilari; revisão técnica Ingedore Villaça Koch, Taïs Cristófaro Silva. 3. ed.Sã Paulo: contexto, 2011.
VOTRE, Sebastião Josué. Relevância da variável escolaridade. In MOLLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza (orgs.) Introdução à sociolinguística: o tratamento da variação. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2007. p.51-57.
WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
WEINREICH; LABOV; HERZOG. Fundamentos empíricos para uma teoria da
mudança linguística. trad. Marcos Bagno. Sâo Paulo: Parábola Editorial, 2006
101
APÊNDICE A - PROPOSTAS DE PRODUÇÃO TEXTUAL APRESENTADAS AOS ALUNOS
PROPOSTA – CARTA (TEXTO MENOS FORMAL)
Escreva a um(a) amigo(a) um texto narrando como foram suas últimas férias:
PROPOSTA – DISSERTAÇÃO (TEXTO MAIS FORMAL) A partir da análise da ilustração acima, escreva um texto mostrando sua opinião sobre este problema que nossa sociedade vive atualmente.
102
APÊNDICE B – CHAVE DE CODIFICAÇÃO
VARIÁVEL DEPENDENTE
o Presença do –R = S
o Ausência do –R = N
VARIÁVEIS INDEPENDENTES – EXTRALINGUÍSTICAS
1 Escolaridade
5º ANO EF = 5
9º ANO EF = 9
3º ANO EM = 3
2 Gênero/sexo
FEMININO = F
MASCULINO = M
3 Rede de ensino
PARTICULAR = a
PÚBLICA = u
VARIÁVEIS INDEPENDENTES – LINGUÍSTICAS
4 Gênero textual
CARTA = C
DISSERTAÇÃO = D
5 Extensão do vocábulo
MONOSSÍLABO = 1
DISSÍLABO = 2
TRISSÍLABO = 3
POLISSÍLABO = 4
103
6 Contexto precedente
VOGAL BAIXA = a
VOGAL MÉDIA ANTERIOR = e
VOGAL ALTA ANTERIOR = i
VOGAL MÉDIA POSTERIOR = o
VOGAL ALTA POSTERIOR = u
7 Contexto subsequente
VOGAL = V
CONSOANTE = C
PAUSA = P
8 Modo de articulação do segmento subsequente
FRICATIVAS = 5
OCLUSIVAS = 6
NASAIS = 7
LATERAIS = 8
AFRICADAS = 9
9 Ponto de articulação do segmento subsequente
BILABIAIS = B
LABIODENTAIS = L
ALVEOLARES = A
PALATAIS = P
10 Sonoridade do segmento subsequente
VOZEADO = &
DESVOZEADO = $
105
APÊNDICE C - COMPARAÇÃO ENTRE RODADAS REALIZADAS
RODADA SELECIONADA PARA ANÁLISE
Groups selected while stepping up: 6 11 3 1 5 7 9 Best stepping up run: #56 Run # 56, 354 cells: Convergence at Iteration 7 Input 0.069 Group # 1 -- 5: 0.568, 9: 0.516, 3: 0.383 Group # 3 -- a: 0.424, u: 0.597 Group # 5 -- 3: 0.578, 2: 0.558, 4: 0.575, 1: 0.272 Group # 6 -- i: 0.697, a: 0.629, o: 0.246, e: 0.281 Group # 7 -- C: 0.484, V: 0.470, P: 0.630 Group # 9 -- B: 0.528, A: 0.530, P: 0.371, L: 0.744 Group #11 -- V: 0.576, W: 0.173 Log likelihood = -522.860 Significance = 0.049
RODADA AMALGAMADA Groups selected while stepping up: 6 11 3 5 1 7 Best stepping up run: #49 Run # 49, 244 cells: Convergence at Iteration 7 Input 0.071 Group # 1 -- 5: 0.567, 9: 0.517, 3: 0.393 Group # 3 -- a: 0.422, u: 0.601 Group # 5 -- 3: 0.575, 2: 0.580, 4: 0.624, 1: 0.224 Group # 6 -- i: 0.736, a: 0.619, o: 0.224, e: 0.300 Group # 7 -- C: 0.479, V: 0.473, P: 0.641 Group #11 -- V: 0.569, W: 0.198 Log likelihood = -365.007 Significance = 0.044
Tem-se por rodada amalgada a resultante do processo de junção dos grupos
de fatores 8, 9 e 10, respectivamente conforme chave de codificação: modo de
articulação, ponto de articulação e sonoridade do segmento subsequente em
um único grupo, consoante subsequente.
106
ANEXO A – INFORMAÇÕES SOBRE PROJETOS ELENCADOS DO
CAPÍTULO 2
O Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta no Brasil (Projeto
NURC) teve início em 1969 e vem se desenvolvendo em cinco cidades
brasileiras — Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Objetiva descrever os padrões reais de uso na comunicação oral adotados pelo
estrato social constituído de falantes com escolaridade de nível superior. [...] A
introdução do Projeto no Brasil foi por iniciativa de Nelson Rossi, Professor
Catedrático de Língua Portuguesa da Universidade Federal da Bahia, em
proposta apresentada ao IV Simpósio do PILEI, no México/1968, tendo sido ele
o seu primeiro coordenador nacional e coordenador do Projeto NURC/SSA até
a sua aposentadoria. O Projeto NURC tem caráter conjunto e coordenado e se
pauta pelos mesmos princípios metodológicos nas cinco cidades. Os
informantes são dos dois gêneros, distribuídos por três faixas etárias — I-25 a
35, II-36 a 55 e III-de 56 em diante —, e nascidos na cidade objeto de estudo,
na qual devem ter permanecido pelo menos três quartas partes de sua vida. O
corpus constituído em cada cidade compreende três diferentes categorias de
texto: elocuções formais (EF), diálogos entre informante e documentador (DID)
e diálogos entre dois informantes (D2).
(FONTE: disponível em:<http://twiki.ufba.br/twiki/bin/view/Alib/AlibNurc>.
Acesso em: 15 nov. 2012)
O ALIPA é um projeto de pesquisa ligado ao laboratório de linguagem da
Universidade Federal do Pará. Esse projeto tem por objetivo a construção do
Atlas Geo-Sociolinguístico do Pará, e, nesse sentido, vem se desenvolvendo
estudos a fim de identificar, analisar e mapear a variação liguística do
português falado no Estado. Integrando a dimensão social, que permitirá
melhor compreender os mecanismos internos envolvidos na variação (fonética,
107
morofssintática e lexical). Dividiu-se o Estado em 57 pontos de inquérito que
foram agrupados em 06 (seis) mesorregiões [...]. Esses pontos de inquérito
foram divididos em duas áreas de pesquisa: urbana e rural. A pesquisa urbana,
feita em 10 cidades (Abaetetuba, Altamira, Belém, Bragança, Breves, Cametá,
Conceição do Araguaia. Itaituba, Marabá e Santarém), envolve a coleta de 42
narrativas (gravdas em fita cassete) referentes a uma amostra de 42
informantes por cidade. A pesquisa rural, de cunho dialetológico, abrange
cinquenta pontos geográficos. Em cada ponto são entrevistados 04 informantes
estratificados da seguinte forma: sexo (2 homens e 2 mulheres); idade (2
informantes entre 18-30 anos e 2 entre 40-70 anos); escolaridade (todos
escolarizados até a 4ª série). Nessas entrevistas são aplicados, seguindo a
tradição dialetológica, dois questionários: um geral para todas as localidades e
outro específico para aspectos ligados à região investigada. Até agora já foram
coletados os dados da área urbana, e os da área rural ainda estão em fase de
conclusão de coleta.
(Disponível em: < http://www.ufpa.br/alipa/>. Acesso em: 15 nov. 2012)
O Projeto VARSUL (Variação Linguística na Região Sul do Brasil) tem por
objetivo geral a descrição do português falado e escrito de áreas
socioculturalmente representativas do Sul do Brasil. Conta com a parceria de
quatro universidades brasileiras: Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Universidade Federal
de Santa Catarina e Universidade Federal do Paraná. O projeto constitui-se de:
Banco de Dados VARSUL (formado por 288 entrevistas de zonas urbanas, o
Banco VARSUL está distribuído igualmente entre quatro cidades de cada um
dos três estados da região Sul do Brasil: Rio Grande do Sul (Porto Alegre,
Flores da Cunha, Panambi e São Borja), Santa Catarina (Florianópolis,
Blumenau, Lages e Chapecó) e Paraná (Curitiba, Pato Branco, Londrina e
Irati). Trata-se de um banco de dados linguísticos e socioculturais para estudos
de fonologia, morfologia, sintaxe, léxico e discurso.), Amostra Digital VARSUL
(Formada por trechos de áudio (entre 5 e 15 minutos de fala), a Amostra Digital
108
VARSUL constitui-se de 40 entrevistas: 24 das capitais do Sul do Brasil (8 de
cada capital), 8 do Banco Monguilhott e 8 do Banco Brescancini e Valle - os
dois últimos, representativos de zonas não urbanas de Florianópolis.) e Banco
de Dados Diacrônico (Formado por textos de fontes diversas, o banco de
dados diacrônico conta com documentos de cartórios, de arquivos públicos e
privados, bem como com textos de jornais do Sul do Brasil, cartas pessoais e
peças de teatro, representativos da escrita catarinense, parananense e gaúcha
dos séculos XIX e XX, disponibilizados nos formatos .pdf e .html.).
(Disponível em:< http://www.varsul.org.br/>. Acessado em: 15 nov. 2012)
O Projeto Atlas Linguístico do Brasil - ALiB é um projeto um caráter
nacional, tendo dentre outros objetivos descrever a realidade linguística do
Brasil, oferecendo aos estudiosos de língua portuguesa e pesquisadores de
áreas afins base para uma melhor interpretação do caráter multidialetal do
nosso país. O trabalho concerne na realização e estudo dos inquéritos feitos
em localidades previamente estabelecidas. Esses inquéritos são realizados
com informantes nativos da localidade escolhida, somando um total de 08 nas
capitais de Estado e 04 nas demais cidades, distribuídos em duas faixas
etárias, a primeira compreendendo dos 18 aos 30 anos e a segunda dos 50
aos 65 anos, contemplando ambos os sexos. Quanto à escolaridade, ficou
estabelecido que os informantes tenham cursado, no máximo, até a 4ª série do
antigo primário, e apenas nas capitais há a seleção de 04 informantes de nível
universitário. A realização do inquérito é dividida em questionário fonético-
fonológico, questionário morfossintático, questionário semântico-lexical,
questões de pragmática, metalinguísticas e discurso semidirigido.
(Disponível em:< http://twiki.ufba.br/twiki/bin/view/Alib/WebHome>. Acessado
em: 15 nov. 2012
109
O Projeto VALPB – Variação Linguística no Estado da Paraíba surgiu em
1993. O Projeto pretendeu desenvolver, a partir do corpus coletado, o perfil
linguístico do falante da Paraíba, em seus aspectos fonológicos e gramaticais.
O corpus, vem, porém, transcrito em escrita convencional, o que exige que o
pesquisador ouça o material gravado. Os informantes do Projeto VALPB estão
organizados consoante grupos sociais: sexo (masculino, feminino); faixa etária
(15 a 25 anos, 26 a 49 anos, mais de 50 anos) e anos de escolarização
(nenhum, 1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 11 anos e mais de 11 anos).
(Disponível em:<
http://www.cchla.ufpb.br/proling/index.php/component/content/article/13/177-
laboratorios-oficinas-e-demais-instalacoes->. Acessado em: 15 nov. 2012)
Top Related