Notíciasnauguramos uma nova diretriz. Criamos um espaço de debate acerca da formação psicanalítica nos Institutos do Brasil. Observamos que nossos Institutos se organizaram, há mais de meio século, com muitas semelhanças. Contudo,
cada um mantém uma particularidade que os diferencia, singularizando-os. O ABP Notícias continua alimentando este tema com trabalhos do Instituto de Psicanálise de Campo Grande, Aloysio D’Abreu e Maria Inês Escosteguy Carneiro. Além disso, a ABP organizará em agosto, pela primeira vez, uma reunião de Institutos, em Porto Alegre, incrementando, com esta iniciativa, o debate entre os Institutos. Esta será uma das pautas do Congresso de Berlim em 2007, visando avaliar os chamados três modelos da IPA. O ABP Notícias, através dessa iniciativa, procura investir na troca de idéias que sustentam a formação dos futuros analistas, visando as novas gerações de pensadores da psicanálise, bem como, de Instituições Psicanalíticas voltadas para o futuro.Acrescentamos artigos sobre Investigação em Psicanálise, com o trabalho de José Carlos Calich e o de Jair Escobar, que abre uma janela para ampla troca de opiniões sobre a Profissionalização do psicanalista. O ABP Notícias já abordou estes instigantes temas, entretanto, pretendemos continuar estimulando o debate pela importância do tema.
Boa Leitura, uma abraço.Leonardo A. Francischelli
Carta do editor
A violência e o ser humano
Azul - Pantone 273
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Ano X • Nº 30 • Rio de Janeiro • Agosto 2006
Associação Brasileira de Psicanálise
ABP promoverá censo (Pág. 17)
ABP estimula debate sobre formação psicanalítica
Os institutos de formação psicanalítica no Brasil , que
trabalham há mais de meio século, têm pontos de con-
vergência e, também, suas especificidades, o que os
diferencia. Algumas dessas posições estão apresentadas
neste número com colaborações do Instituto de Mato
Grosso do Sul e do Rio de Janeiro. O assunto será deba-
tido em agosto em Porto Alegre e é pauta do Congresso
de Berlim, em 2007, que avaliará os três modelos da
IPA. (Págs. 7 a 13)
À procura do inconscienteTudo aquilo que o ser humano não consegue ver, tende a ser colocado em questão, em dúvida. Entramos no terreno delicado de que tudo é relativo. É o caso do objeto do interesse da psicanálise, o inconsciente. Por isso, a pergunta que surge de tempos em tempos: Por quê a psicanálise? José Carlos Calich dá uma respos-ta, explica o processo, contextualiza o tema e mostra a sua evolução nesta primeira parte de seu trabalho. (Págs. 5 e 6)
As grandes cidades brasileiras têm mostrado uma rotina de violências pessoais e coletivas, que levam os psicanalistas a se preocuparem com as consequências deste quadro crítico sobre o processo de formação e desenvolvimento do ser humano. Para o psicanalista Pedro Gomes, presidente da ABP, há nos dias de hoje um mundo de seres, cujo empobrecimento da estrutura mental impede o desenvolvimento da capacidade de lidar com os próprios afetos e com as realidades interna e externa. O resultado seria a barbárie. (Pág.19 )
Rio sedia I Encontro de Psicanálise de Crianças e AdolescentesAs quatro Sociedades do Rio de Janeiro filiadas
à IPA se reuniram e organizaram o I Encontro de
Psicanálise de Crianças e Adolescentes, com o apoio
da ABP e da Fepal. O evento, que terá convidados de
outros Estados e do exterior, será realizado de 7 a 9 de
setembro no Instituto de Psiquiatria da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. (Pág. 14)
A diretoria da ABP, junto com Conselho Científico e a Comissão Organizadora, já está entrando
na fase final da preparação do XXI Congresso Brasileiro, que será realizado entre 9 e 12 maio
de 2007, em Porto Alegre, e que terá como tema central “Prática Psicanalítica-Especificidade,
Confrontações e Desafios”. Colabore e participe. (Pág. 17)
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XXI Congresso Brasileiro em preparação
Qual é o status do psicanalista ?
A resposta é pensada no artigo de Jair Escobar, que vem estudando esse ques-tionamento e discute os quatro eixos em que se apresenta o problema, pas-sando pela formação do psicanalista e pela forma de atendimento. (Pág. 20)
Comitê da IPA aprova projeto da ABP (Pág. 17)
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de PsicanáliseCarta do Presidente
Expediente
Conselho DiretorPresidente Pedro GomesSecretário Cláudio RossiTesoureiro Rosa Maria Carvalho Reis
Conselho de Coordenação Científica Diretora Telma Gomes de Barros CavalcantiSecretária Rosangela de Oliveira Faria
Conselho Profissional Diretor Jair Rodrigues EscobarSecretário Sylvain Nahum Levy
Depto de Publicações e Divulgação Diretor Leonardo A. FrancischelliSecretário Sergio NickSecretária auxiliar - PoA Augusta G. Heller
Diretora da Comissão de Relações Exteriores Leila Tannous GuimarãesDiretor Superintendente Sergio Antonio Cyrino da CostaSecretárias Administrativas Lúcia Lustosa Boggiss e Renata Lang Marcel
Editor da Revista Brasileira de Psicanálise Leopold NosekEditora Associada Maria Aparecida Quesado Nicoletti
DelegadosLuis Carlos MenezesMaria Olympia FrançaAlexandre Kahtalian
Carlos Roberto SabaJane KezenFernanda de Medeiros Arruda MarinhoRuggero LevyJair Rodrigues EscobarAlirio Torres Dantas JúniorMaria Eunice Campos MarinhoRosaura Rotta PereiraBruno Salésio da Silva FranciscoAna Rosa Chait TrachtenbergLeonardo A. FrancischelliJosé Cesário Francisco JúniorPedro Paulo de Azevedo OrtolanCíntia Xavier de AlbuquerqueJosé Vieira Nepomuceno FilhoLeila Tannous GuimarãesEdnéia Albino Nunes CerchiariJosé Alberto ZusmanCláudio Tavares Cals de OliveiraCláudio José de Campos FilhoSergio Antonio Cyrino da Costa
Conselho CientíficoAlan Victor MeyerAna Cláudia ZuanellaEdnéia Albino Nunes CerchiariFlávio RoithmannJosé Carlos ZaninLuciano Wagner Guimarães LírioLuiz Marcírio Kern Machado
Maria Aparecida Duarte BarbosaMaria Helena Rego JunqueiraMiguel MarquesSérgio Cyrino da CostaSergio Lewkowicz
Conselho ProfissionalHumberto Vicente de AraújoJair Rodrigues EscobarJosé Alberto FlorenzanoJosé Luiz MeurerLeila Tannous GuimarãesLores Pedro MellerMarina MassiMiriam Fichman FainguelerntNeilton Dias da SilvaPaulo Cesar LessaSergio Antonio Cyrino da CostaSylvain Nahum Levy
EdiçãoJLS Comunicação & AssociadosEditor José Luiz SombraRedatora Carolina HilalRepórter Anabelly Pontes
Projeto Gráfico e DiagramaçãoInterface Designers - Sérgio Liuzzi Amanda Mattos
ste é o nosso segundo número do ABP Notícias em nossa gestão. Inicialmente agradeço todas
as manifestações e elogios dos colegas pelas mudanças tanto estética, como de conteúdo em
nosso jornal, iniciado no número anterior.
Quanto ao I Congresso Luso Brasileiro de Psicanálise realizado em Lisboa nos dias 29 e 30 de maio, foi um
absoluto sucesso. Os trabalhos apresentados foram de nível muito elevado. A participação dos brasileiros foi
muito destacada, inclusive recebemos cartas de colegas portugueses, elogiando-nos e querendo conhecer e
participar mais da ABP. Ficou decidido o II Congresso em novembro de 2007 no Brasil.
Quanto à questão da profissionalização, o conselho Profissional, está tomando providências para o
encaminhamento da questão. Vamos realizar uma pesquisa sobre o Perfil do Psicanalista Brasileiro.
O resultado será muito útil para ver que caminho seguiremos. Ainda, neste ponto, com a aprovação
da Assembléia de Delegados de 20 de maio passado, contrataremos um advogado que nos auxiliará
juridicamente.
Tivemos no dia 17 de julho o Conselho de Presidentes, que contou com a presença do dr. Juan Pablo
Jimenez, candidato a Presidente da FEPAL. Na conversa, muito boa, ele nos falou de sua plataforma de
trabalho e ouviu muitas sugestões para compor o seu programa de trabalho.
Por fim, a organização do XXI Congresso Brasileiro de Psicanálise, em Porto Alegre, de 9 a 12 de maio.
Encontra-se bem adiantada e a programação científica já está quase toda pronta. Em breve os colegas
tomarão conhecimento do programa.
Pedro Gomes
EPedro GomesPresidente da ABP
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de Psicanálise
No último dia 16 de junho, o Departamento de Publicações da
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SBPRP) realizou
entrevista com o dr. José Américo Junqueira de Mattos. Estiveram
presentes na conversa: Guiomar Papa de Morais, dr. Alexandre Martins
de Mello e dr. Pedro Paulo Ortolan, além de uma convidada, Cecília
SBPRP entrevista
Perfil
José Américo
Barretto Dias. O dr. Junqueira foi o primeiro analista a praticar a
psicanálise nesta cidade. Teve em sua história a experiência de análise
com o dr. Wilfred Bion. O tema da conversa foi a formação da SBPRP
e a trajetória pessoal e profissional do psicanalista.
O senhor veio, em 1972, para Ribeirão Preto, e possibilitou que
essa cidade tivesse a psicanálise como praticamos, ou seja, quatro
sessões semanais. O que ocorreu em seguida?
Em seguida, juntamente com outros profissionais da área, os quais
estavam fazendo formação na Sociedade de São Paulo, entre eles dr.
David Azoubel, dra. Lenise Azoubel, dra. Maria da Conceição Costa, e um
pouco mais tarde, Suad de Andrade, constituímos um grupo de estudo
de psicanálise. Esse grupo foi a pedra fundamental para a implantação
de nossa sociedade como componente da IPA. Neste grupo, tínhamos
reuniões semanais, alternadamente, na casa de cada um de nós; onde
estudávamos psicanálise tanto em seus aspectos teóricos quanto na
discussão de seminários clínicos.
Em 1983 fui designado analista didata da SBPSP e, em 1985, foi o dr. David
Azoubel. Isso possibilitou que Ribeirão Preto tivesse analistas didata, ou seja,
os candidatos se analisavam em Ribeirão Preto e tinham o curso teórico em
São Paulo. Após todas estas vicissitudes, pedimos a IPA nossa constituição
como Grupos de Estudos. Fomos atendidos e, para isso, vieram o Sponsoring
Committee, com o objetivo de analisar as condições de cada um de nós
e, secundariamente, as de Ribeirão Preto. Assim, estávamos, nós e ela,
compatíveis com a criação de um Grupo de Estudos. Fomos aprovados!
Um outro aspecto fundamental para formação de analistas no interior foi à
institucionalização da Análise Concentrada, em 1968, para atender a minha
necessidade de morando em Marília, fazer minha formação em São Paulo.
Junqueira
Assim, estava instituída a Análise Concentrada, e eu seu pioneiro. Porém,
não bastou que ela fosse institucionalizada em São Paulo. Anteriormente
ao Congresso de Barcelona, o dr. Joseph Sandler, então presidente da IPA,
em sua visita ao Brasil, ao saber da difusão da Análise Concentrada pelo
interior, disse que isso não era psicanálise. Um impasse foi criado desde
que, nesta ocasião, mais de uma centena de candidatos já faziam Análise
Concentrada. Portanto, estávamos correndo o risco de todas essas análises
não serem consideradas.
Em seguida, tivemos o Congresso Internacional de Barcelona no qual este
assunto esteve na pauta a ser revolvido. Nessa ocasião, já escrevera meu
trabalho sobre Análise Concentrada, o qual foi publicado na Revista Brasileira
de Psicanálise. Depois de traduzido, foi publicado em livro lançado durante
o Congresso: The Perverse Transference & Other Matters. Esse trabalho teve
uma repercussão muito grande e foi o fator, talvez o mais importante, para
a aprovação da Análise Concentrada.
Estávamos assim, com o maior instrumento para que a psicanálise não
ficasse limitada somente às capitais, mas, também, em cidades do interior.
Usando a metáfora do maior cajueiro do mundo, que se encontra em Natal.
Ali, por uma peculiaridade singular, seus galhos enterram-se, surgem outros,
do qual brotam outros, e outros mais... É assim, por exemplo, que temos
aqui uma didata que mora em São José do Rio Preto-SP; breve teremos em
Uberaba-MG e Franca. Outro fator que assinalaria foi a construção de nossa
bela e confortável sede – a qual nos dá, também, uma identidade social.
José Américo JunqueiraMembro Efetivo da SPBRJ
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de PsicanálisePerfil
Passados tantos anos, como é que o senhor vê ou avalia esse
processo?
Foi um processo coeso de muito trabalho, de muita persistência, e de
muito amor à psicanálise. Digo mesmo que se não houvesse essa união,
respeitando as diferenças entre cada um de nós, esse grupo inicial não se
teria formado. Fica aí nossa experiência para os grupos que desejam se
criar no interior.
O senhor vê alguma peculiaridade regional em nossa Sociedade?
O que nos marcou foi, inicialmente, pertencermos a São Paulo - até que
se criasse o Grupo de Estudos aqui. Apenas um exemplo: nossos estatutos
foram inspirados nos estatutos da Sociedade de São Paulo. Ainda mais,
como os mais antigos membros daqui são, igualmente, didatas ou membros
da SBPSP, há um intercâmbio muito proveitoso para ambas as Sociedades.
Qual a sua visão da psicanálise hoje em Ribeirão Preto, a psicanálise
se apresenta diferente do que foi no passado? A respeito das
perspectivas futuras, o Sr. poderia tecer algumas conjecturas?
Bom, é uma pergunta que abrange muitos pontos. No passado, havia um
interesse muito grande por psicanálise – o que não existe mais. Como tudo,
estamos, também, em um processo de transformação; este é tão rápido que
às vezes não nos damos conta dele. Houve um declínio acentuado de pessoas
interessadas em analisar-se. O que existe hoje, em sua maioria, são formas
alternativas de terapia; ou, na melhor das hipóteses, uma psicoterapia que
não passa, a meu ver, de um inteligente aconselhamento.
Muitas pessoas o admiram pela defesa da re-análise? Quais
parâmetros o Sr. usa para reconhecer essa necessidade?
Bem, o parâmetro mais é o de constatar pontos seus cegos, angústias,
depressões, fundamentalmente a dor psíquica – a que cada um de nós
está sujeito. Freud, ele mesmo, já nos aconselhava a fazer re-análise a cada
cinco anos - acho que isso seria um pouco de exagero; no entanto, temos
que conservar nossa mente - nosso instrumento de trabalho - em boas
condições de funcionamento, para fazer face a este turbilhão de mudanças
que a vida nos revela.
E em relação ao futuro?
Como eu vejo no futuro? É uma situação muito abrangente dada a
complexa natureza de nossas mentes. E mais, como desde os primórdios
de nossa existência, e até mesmo antes de nascermos, estabelecemos um
relacionamento afetivo com a mãe; modelo esse que perdurará pelos anos a
fora. Essa relação afetiva é fundamental para o estabelecimento de relações
emocionais entre as pessoas, e a análise se fundamenta nesta relação
emocional entre analista e analisando. Assim, sejam quais forem os métodos
de tratamento divisados no futuro para o tratamento das, assim chamadas,
psicoses ou neuroses, sejam eles farmacológicos ou quaisquer outros, eles
jamais substituirão o vínculo entre analista e analisando. É por isto, penso
eu, que a análise sempre existirá. Mais importante ainda, a análise é à busca
da verdade. Em outras formas de terapia nem sempre a busca da verdade
é o objetivo primordial. Portanto, acho que a perspectiva para a psicanálise
seja aqui em Ribeirão Preto, no Brasil ou no mundo inteiro é de que ela está
em busca da verdade. E, se nós nos ativermos a ela, penso eu, a psicanálise
sobreviverá. Dessa forma, o maior inimigo que temos contra a psicanálise
reside nos próprios analistas.
O Sr. é conhecido como um analista cujo referencial teórico central
é a obra de Bion. Como foi no início da Psicanálise em Ribeirão
Preto a inserção das idéias de Bion?
Bion teve uma influência na formação da Psicanálise de Ribeirão Preto
dada à imensa influência que ele teve, e tem, na Sociedade de São Paulo. O
legado de Bion em São Paulo, através de conferências e supervisões que ele
ministrou; sem contar seus livros que tiveram, e têm, uma grande circulação
entre nós. Assim a força de suas idéias foi trazida, por nós, para Ribeirão
Preto onde são estudadas e discutidas – curso sobre a Obra de Bion é aqui
tão importante quanto o estudo da Obras de Melanie Klein.
Para terminar, o quê o Sr. achou da experiência de fazer análise
com Bion?
Novamente, é muito difícil de transmiti-la. Bem, conheci nele uma pessoa
bondosa, séria e profundamente atenta a tudo o que dizia. Apesar de fazer
interpretações às vezes de uma simplicidade desconcertante, elas só eram
possíveis pela sua capacidade extraordinária em observar e interrogar.
Isso nos levava a novos horizontes nunca terminados. Apesar de ser uma
pessoa muito culta - tinha conhecimento de latim, grego, etc. Ele passeava
pela literatura, pelos clássicos. Por exemplo: fazia, dentro do contexto da
sessão, citações de Shakespeare, o que me dava a impressão de conhecer
sua obra profundamente - sentia que tinha com ele um vínculo muito
forte e profundo. Agora, o que acho também interresante é que durante a
análise esquecia-me de que era um gênio. Penso mesmo que ele nunca se
considerou como tal.
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de Psicanálise
Investigandoo invisível
Artigo
Toda vez que a humanidade se depara com algo que lhe é invisível,
as certezas se relativizam. E este é o caso do objeto de interesse da
psicanálise, o inconsciente, o que contribui à constante pergunta:
“Por quê a psicanálise?”
Uma resposta simplificada poderia ser: porque precisamos de um
esquema criterioso, abrangente, com possibilidades de ser expandido
e com utilidade clínica (dentre outras inúmeras aplicações do
modelo psicanalítico) para pensar algo que percebemos como nosso,
mas nos é invisível: nosso mundo inconsciente com sua complexa
constituição.
Um resumo sobre a hipótese central contemporânea a respeito do
inconsciente poderia ser formulado nos seguintes termos: para nos
tornarmos humanos, utilizamos elementos biológicos, culturais, nossa
apreensão da realidade e nossa história pessoal para criarmos uma
rede invisível de elementos que fazem nossas experiências emocionais
terem significado para nós. Isto instrumenta nossa função de sujeitos
reflexivos e permite que tenhamos intimidade e individualidade, com
nossas vivências particulares contrastando e interagindo com as
experiências externas, gerais e universais. Estes significados motivam
e dão vitalidade a nossas percepções e sentimentos, a uma parte
importante de nosso comportamento e a nossas relações conosco
mesmo e com os demais. As tramas e nós desta imensa rede, quando
não convenientemente entrelaçados, causam-nos e, aos outros,
sofrimentos, podendo nos conduzir a sintomas e algumas doenças.
Como investigarComo investigamos algo que é invisível? A humanidade sempre
esteve às voltas com aquilo que lhe é invisível e continuamente
ocupada com sua investigação, é parte de nossa natureza.
Olhamos o mundo e a nós mesmos, com a curiosidade necessária
para imaginarmos para que serve, o que tem dentro, como é feito
ou o que podemos fazer com isso. Para exercer essa capacidade
temos que suportar saber que não conhecemos. Se não suportamos,
diremos de várias formas ‘não me interessa’, ‘para que saber isso?’ ou
“isso é igual ao que já conhecemos”, jogando fora à curiosidade.
Quando suportamos a incerteza, podemos imaginar, intuir e por
aí começa nosso contato com o invisível, com o desconhecido.
Construímos um esquema mental de como concebemos
imaginariamente o que pode ser aquilo e vamos avaliando a utilidade
de nossa conjectura.
Para exemplificar, tomemos alguns modelos construídos sobre
o sistema solar: Em tempos milenares, os egípcios imaginavam
que a terra fosse plana, apoiada sobre enormes pilares. Os hindus
acreditavam também num plano, porém, apoiado em enormes
elefantes, que por sua vez se apoiavam sobre o casco de uma
tartaruga gigantesca que estaria sobre uma serpente descomunal.
Qualquer movimento destes animais provocaria terremotos e quem
chegasse ao final do plano, cairia. Enquanto os barcos não iam longe
e não havia como perceber as inúmeras implicações destas teorias,
imaginava-se o “invisível” utilizando “o visível”, “o conhecido”, e
esses esquemas tiveram sua utilidade.
A evoluçãoNo momento em que os barcos foram mais longe, desaparecendo
progressivamente e voltando do horizonte, ao mesmo tempo em
que foram feitas novas observações sobre vulcões e terremotos,
da relação da terra com o sol e outros planetas, os esquemas não
tiveram mais a mesma serventia. Alguém percebeu, que deveriam
José Carlos CalichMembro Associado da SPPA
(Parte I)
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de PsicanáliseArtigo
existir curvaturas e imaginou-se que o sol e os planetas giravam
em torno da terra. Conhecimento após conhecimento, esquema após
esquema, com idas, vindas e saltos, chegamos a uma esfera, achatada
nos pólos, parte de um sistema solar, que por sua vez é parte de uma
galáxia. Mas surgiram inúmeras novas indagações.
Ainda que, como esquema, a noção de “plano” pudesse ser “útil” para
distâncias muito pequenas, como explicação do campo gravitacional, dos
abalos sísmicos ou dos sistemas solares, os pilares, elefantes, tartarugas e
serpentes tiveram seu poder preditivo e explicativo muitíssimo reduzido.
A persistência das questões de
como a terra se sustenta no ar,
como mantém a relação fixa com o
sol, com outros planetas e estrelas,
levou a novas investigações, novas
imaginações, novos esquemas,
conhecimentos que foram se
somando. No momento em que a
humanidade estava culturalmente
preparada, consolidaram-se as
hipóteses que teorizavam sobre a
força da gravidade e sobre a órbita
da terra em torno do sol, que
puderam ser extremamente úteis para nossos avanços tecnológicos.
Porém, a primeira, tomando-a como exemplo, teve de ser considerada
incompleta, quando novas especulações e novas variáveis, levaram
à concepção da teoria da relatividade, que também começa a ser
considerada incompleta, e assim seguimos.
A conclusão é que, temporariamente úteis, nossos esquemas, em
todas as áreas do conhecimento, estão sempre em avaliação e sendo
completados ou substituídos. E, para os investigadores, aqueles
que se ocupam com a validação dos modelos, é fundamental poder
entender qual a abrangência de determinado esquema, qual a sua
utilidade e quais os limites de sua proposição.
E a psicanálise?E a psicanálise? A psicanálise surgiu no momento em que o espírito
cultural da humanidade estava de certa forma preparado para pensar
nas transformações que ocorriam em nosso psiquismo e que nos
colocavam como sujeitos individuais, com subjetividade, paradoxos
e incertezas. Os primeiros modelos foram sendo sucessivamente
completados ou substituídos por outros e destes movimentos
surgiram as chamadas escolas da psicanálise.
Por que uma escola não substitui, então, a anterior? Por motivos diversos.
Além de lidar com o invisível, a psicanálise lida com o imaterial em
interações que envolvem inúmeras
variáveis, a maioria delas também
invisíveis e imateriais. Ainda que
seu objeto seja baseado em parte
no corporal, que é material, e
também no cultural-ambiental,
estes são transformados em um
outro tipo de elemento, imaterial,
nossos elementos psíquicos. Por
terem essas características, até
mesmo suas dimensões são difíceis
de serem imaginadas e vários
esquemas têm sido pensados,
desde a primeira grande investigação, realizada por Freud.
Os vários esquemas têm utilidades clínicas distintas, poderes explicativos
e preditivos diferentes, portanto níveis de abrangência diferentes, mas
muito difíceis de serem dimensionados e mensurados. Além disso,
envolvem questões de políticas institucionais, vaidades pessoais,
mercado de trabalho, como em todas as outras áreas do conhecimento.
Os modelos psicanalíticos não poderiam ser mais simples? E a
aceitação do modelo psicanalítico em nosso momento cultural
atual? Como ter certeza do que é invisível e imaterial?
A parte II segue no próximo número do ABP Notícias.
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de Psicanálise
O Instituto de Psicanálise
da SPMS vem debatendo
os aspectos da formação
psicanalítica em reuniões
regulares, para as quais todos
os membros da sociedade são
convidados a participar.
Estas reuniões, além de serem
um espaço para refletirmos
sobre a formação e a
identidade do psicanalista, nos
têm oferecido subsídios para
melhorarmos efetivamente
nosso programa integral de
formação, incluindo, não só,
os três vértices clássicos da
formação como também o
vértice institucional, ou seja,
das relações entre membros
e candidatos e a instituição,
que consideramos como parte
integrante do programa de
formação em nosso instituto.
O trabalho de pesquisa, como
instrumento de formação,
tem recebido especial atenção
dentro do instituto.
Formação Psicanalítica
Optamos por apresentar aos
colegas algumas sínteses
dos nossos encontros como
forma de reflexão. Por ser
um trabalho muito extenso
(originalmente 26 páginas, que
foram resumidas em 5), vamos
apresentá-lo em duas partes
no ABP Notícias.
A seleção
Nos encontros sobre seleção,
os debates foram intensos.
Como incentivo, escolhemos
apresentar aos participantes
do encontro as seguintes
leituras: 1) as normas que
regem a seleção de candidatos
para a formação que constam
do Regulamento Interno do IP;
2) um documento que orientou
nossa primeira seleção; e 3)
a leitura da carta resposta
enviada ao dr. Javier Garcia
(Co-Chair para a América
Latina do Comitê de Educação
da IPA) sobre os Dilemas na
Formação Psicanalítica.
A formação psicanalítica
Destas reuniões saíram alguns
pontos que consideramos
norteadores para ampliarmos
futuras discussões: 1. o
pretendente deve ter um
evidente interesse pela
psicanálise (demonstrado em
seu currículo, nas entrevistas
e na carta de intenções); 2.
o pretendente deve ter um
interesse no seu próprio
mundo interno (demonstrado
por psicoterapias ou análises
anteriores ao pedido para a
formação); 3. o pretendente
deve ter experiência clínica
comprovada; �. o pretendente
deve ter informações
realísticas sobre os custos de
uma formação psicanalítica
(custos pessoais, financeiros,
disponibilidade de tempo,
etc.); 5. considerando que a
seleção inicial é um ponto
de partida importante, deve-
se procurar no candidato
sua disponibilidade interna
e externa para esse custoso
Instituto de Psicanálise da SPMS
(Parte I)
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Associação Brasileira de Psicanálise
9
Associação Brasileira de PsicanáliseFormação Psicanalítica
processo de formação de identidade. Esta seleção será seguida
ao longo da formação pelas avaliações continuadas.
Nos encontros sobre o currículo de formação algumas questões
foram destacadas e discutidas: 1. Até que ponto é conveniente
uma ênfase na formação teórica sobre outros aspectos, ou seja,
qual é o valor da teoria na formação de um analista? A questão nº
1 foi considerada como provocativa. Lembrando o tripé clássico
da formação, os participantes invocaram o preconceito anti-
intelectual que considerara a teoria como a perna mais curta,
e demonstraram preocupação quanto à idéia tão difundida que
um analista não deve contaminar sua escuta ou empatia com
aspectos racionais teóricos levando, por extensão, à “conclusão”
que então não seria preciso integrar a prática com a teoria
psicanalítica.
Considerou-se que essa distorção poderia dar suporte à crença
que não é preciso estudar para ser um analista, bastando ser
“bem” analisado para ser um bom analista e/ou fazer uma “boa”
supervisão, tendo-se garantida a transmissão privilegiadamente
por identificação de um modelo, supostamente ideal.
Outras concepções
2. Na formação analítica é benéfico que os candidatos tenham
contato com varias concepções teóricas? Ou é melhor que se
relacionem em maior profundidade com uma delas? 3. A liberdade
de formar consiste em criar e oferecer diversas formações para
a prévia escolha do candidato? �. É possível haver um ensino
orientado ou não orientado no Instituto, ou seja, não promover
doutrinação?
As questões 2, 3 e � foram consideradas como aparentadas,
tendo o grupo enfatizado que a liberdade de formar deveria
passar também por uma não formatação de idéias teóricas e
assim, um modelo de currículo que privilegiasse o estudo do
pensamento de diversos autores psicanalíticos teria mais chance
de permitir ao candidato desenvolver uma visão crítica das
diversas abordagens contemporâneas, promover um pensamento
próprio que embase sua práxis, privilegiar o hábito de questionar
e discutir as diferenças conceituais, buscando assim minimizar
o efeito doutrinário de autores ou de professores carismáticos,
para que ele possa vir a escolher bem e viver segundo regras
éticas em sua instituição.
Conceitos básicos
5. Será que se poderia conceber a partir de uma posição
sistemática, não doutrinária, que há conceitos fundamentais
que são balizadores da clínica e que poderiam até ter
equivalências em outras linguagens teóricas? A questão nº 5 foi
rapidamente discutida, tendo resposta consensual afirmativa
sem aprofundamento, lembrando-se que os conceitos básicos
psicanalíticos podem ser observados em todas as correntes
psicanalíticas apesar de suas diferentes nominações.
6. Deve o Instituto confiar que a síntese própria que venha a
emergir do candidato será reconhecida em sua prática como
psicanálise standard ao final de sua formação? 7. Como avaliar o
grau de adesão ou compromisso do corpo docente para a plena
realização de um currículo adotado? Como e quando avaliar sua
eficácia no candidato? As questões 6 e 7 foram muito discutidas
sem, é claro, apresentar soluções mágicas. O grupo considera
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de Psicanálise Formação Psicanalítica
da psicanálise desde o seu início com Freud é a fidelidade às
idéias psicanalíticas, ou a um grupo de idéias. Embora a análise
didática seja vista por alguns como não sendo uma análise
real, pois o desejo seria uma submissão à Instituição, outros
a consideram como a única verdadeira, na crença de que os
didatas dariam a melhor análise pela esperada capacidade de
transmissão do método.
Postura ética
Disto concluímos que um dos aspectos fundamentais é a
manutenção do desejo de se conhecer (o amor pela verdade que
Zimerman aponta), ou seja manter o desejo de se analisar, mesmo
dentro de uma regulamentação. Uma forma também de avaliar
as capacidades descritas por Zimermman seria pela observação
do comportamento do analista dentro da instituição: postura
ética, sua participação institucional, capacidade de suportar
diferenças e também lidar com as lutas de poder de maneira
mais construtiva.
É importante também que o analista demonstre interesse e desejo
em transmitir o conhecimento psicanalítico, é impensável que
alguém venha exercer a função didática sem ter compromisso
com a transmissão da psicanálise dentro e fora da instituição
psicanalítica. Portanto, é fundamental um tempo de maturação
pessoal e institucional para a aquisição da função didática, no
aspecto da análise de candidatos, além de alguns requisitos
teóricos e clínicos que poderão ser observados pela apresentação
de trabalhos que possam ser discutidos entre os pares, e também
na lida institucional. Para exercer a função didática, o analista
deve ter um compromisso interno com a instituição, ser capaz
de fazer reparações, lidando bem com as diversidades teóricas.
da maior relevância a permanente discussão dos parâmetros
de avaliação continuada dos candidatos em formação, assim
como de todo o corpo docente. O IP apresentou no último Pré-
Congresso Didático Brasileiro um trabalho sobre os desafios
enfrentados pelo IP sobre o que se deve avaliar, como e quando,
numa formação como a nossa.
Análises didáticas
Na discussão sobre a análise didática, mais do que pensar sobre
a questão do poder do analista didata, decidimos privilegiar os
seguintes aspectos: quais são os critérios para que um analista
possa ser considerado como alguém capacitado para exercer a
função didática? Em que a análise didática se diferencia de uma
“outra” análise? Partindo destas duas perguntas discutiram-
se as condições necessárias para ser um bom analista que
são destacadas por David E.Zimerman (1999), embasadas nos
postulados teóricos de Bion.
Então, nos perguntamos: 1. Como podemos reconhecer estas
capacidades? 2. De que maneira alguém que deseja exercer a
função didática pode demonstrar estas capacidades? 3. De que
maneira estas capacidades podem ser transmitidas e aprendidas,
sobretudo se considerarmos que o inconsciente é um saber
que trabalha sem mestre? �. De que maneira os Institutos de
psicanálise poderão reconhecer que um analista pode conduzir
a análise dos candidatos em formação? Independentes do nome
que se dê ao analista que analisa candidatos, ou se a análise de
candidatos tenha ou não um nome diferente.
Estes pontos são extremamente complexos, mas observamos
em nossas discussões o seguinte: um dos aspectos fundantes
A parte II segue no próximo número do ABP Notícias.
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de PsicanáliseFormação Psicanalítica
Freud, desde os princípios do movimento psicanalítico, preocupava-
se com a formação de psicanalista. Em 1925, no Congresso de
Bad-Homburg, Max Eitingon apresentou um modelo para uma
uniformização da formação de psicanalistas. Modelo este aceito e
seguido, até os nossos dias, pelas sociedades pertencentes à IPA.
O modelo de Eitingon tem como base que a formação psicanalítica
não deve ser realizada por iniciativa particular e, sim, por sociedades
que ficariam responsáveis pela aceitação de candidatos e de todo
processo de formação, dentro do modelo tripartido: análise pessoal,
supervisões e formação teórica. 1
Devemos acrescentar que desde a apresentação de Eitingon em 1925,
apesar de sua aceitação, o modelo vem sofrendo críticas, mudanças
e adaptações. Em 1975, após as dissensões da Sociedade de Paris que
levaram à criação da Sociedade Francesa, a IPA estabeleceu em seu
Código de Procedimentos os “Padrões e Critérios Para a Qualificação
e Admissão Como Membro da IPA”, numa tentativa de padronizar a
formação psicanalítica em todas as sociedades membros. Para permitir
que as sociedades francesas, bem como a uruguaia, permanecessem
na IPA, foi a aprovado que estas sociedades estariam excluídas destas
exigências. Deve-se realçar que, antes de 1975, as exigências de
aceitação e formação estavam a critério das sociedades. 2
Esta padronização, através do modelo apresentado em 1975, mostra-
se com diferentes interpretações entre as sociedades membros,
podendo-se afirmar que, no seio da IPA, não existem duas sociedades
que tenham idênticos modelos de formação, podendo variar nos
critérios de admissão, no estabelecimento de currículos, nas formas de
supervisões e até mesmo nos critérios sobre a análise pessoal.
A busca do consensoSucessivos grupos de estudos e reuniões têm sido organizados, em
várias ocasiões, com o intuito de discutir esta questão, mas fracassam,
sempre, ao tentarem chegar a uma conclusão comum. Ao consultarmos
os “reports” das reuniões realizadas pela Federação Européia de
Psicanálise, em 1992, sobre “Setting”, fica evidente a dificuldade de
chegar a um acordo sobre certos pontos. Apenas para exemplificar: um
Modelos de Formação Psicanalítica, idas e vindas.
grupo argumentava que um número menor de sessões seria a melhor
indicação para pacientes muito dependentes, enquanto outro argumenta
que, nestes casos, um maior número de sessões seria a indicação mais
adequada. Alguns defendiam a importância da regressão no processo
analítico, enquanto outros a contra-indicavam, vendo-a como elemento
de infantilização e criador de dificuldades para o paciente.
Em 1999, na Reunião de Presidentes Latino-Americanos, em
Montevidéu, foi aprovada a moção de que se enviasse à direção da
IPA uma petição para ser considerada a necessidade das Sociedades
componentes terem a autonomia de introduzir flexibilidade em seus
“standard” de formação, como já havia sido feito, anteriormente, com
algumas sociedades.
Grupos de discussãoNão podemos deixar de mencionar a 10ª Conferência de Analistas
Didatas realizada em Nice, em julho de 2001, onde, além de terem sido
apresentados importantes trabalhos sobre a formação de psicanalistas,
formaram-se grupos para discussão deste tema. Como em ocasiões
anteriores não houve acordo, fazendo aumentar a sensação de que
apesar da lógica e coerência das argumentações apresentadas pelas
diferentes correntes, esta é uma questão que envolve muito mais
posições emocionais do que científicas.
A IPA formou sucessivos comitês com o intuito de estudar este
assunto. Foram criados: COMPSED, cujo chair foi Jacqueline Amati-
Mehler, TRAMPE, tendo como chair Ekkehardt Gatting, e o Comitê
de Educação coordenado por Sara Zac de Fils. As conclusões destes
comitês mostraram-se conflituosas em muitos pontos. 3
No Congresso de New Orleans (200�) o Education Stander Document foi
alvo de fortes discussões e controvérsias no Board, com forte oposição
por parte de alguns europeus e norte americanos, que se opunham à
possibilidade da análise de candidatos poder ser realizada três a cinco
vezes por semana.
Após longas e duras discussões, foi aprovado com pequena margem de
votos, “in principle”, a existência de diferentes modelos, e que a freqüência
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de Psicanálise Formação Psicanalítica
de sessões não deveria ser
considerada independentemente
do modelo de formação, e que se
deveria criar um Grupo de Trabalho
para estudar os modelos existentes.
Foi criado, então, o Working Group
on Education Procedures (EPWG),
tendo como coordenador Robert
Pyles, cujo objetivo foi apresentar,
no Congresso do Rio de Janeiro
(2005), um levantamento sobre os
diferentes modelos de educação
psicanalítica adotados pelas 66
organizações constituintes.
Três modelosNo Congresso do Rio, este comitê
apresentou, como conclusão, que
os vários modelos de educação
adotados poderiam ser resumidos
a três: Eitingon, Francês e
Uruguaio. Naquela ocasião,
foi discutida a necessidade de
que se aclarasse as principais
características de cada um deles.
Criou-se um novo Comitê de
Educação para que os estudasse,
objetivando elucidar e salientar
as principais características de
cada um deles, sem com isto fazer
um detalhamento minucioso,
não se atendo aos aspectos que
diferenciassem o mesmo modelo,
quando adotado por diferentes
sociedades.
Este comitê, tendo como chair
Shmuel Erlich, tomou, como
critério, nortear-se por quatro
parâmetros: 1-A coerência
intelectual subjacente em cada
modelo. 2- A filosofia da educação
psicanalítica (como a educação
psicanalítica, comprometida
com uma especialização, deve
ser conduzida, isto é: quais os
requisitos exigidos em termos
de admissão, imersão, avaliação,
qualificação, etc.) 3-Como o
processo psicanalítico se insere
dentro da educação psicanalítica
(o lugar do processo analítico
dos candidatos na educação,
com sua maior ou menor
independência). �-Preferências
de um aprofundamento sobre
uma única ou poucas escolas,
orientações teóricas, autores,
etc., ou uma visão mais ampla,
superficial ou não, de várias
orientações teóricas, escolas,
autores, etc.
Novas propostasA tarefa realizada por este comitê
já foi concluída e apreciada pelo
Comitê Executivo, o qual apresentou
propostas a serem discutidas na
próxima reunião do Board em fins
de julho de 2006. Este trabalho
realizado pelo Comitê de Educação,
bem como as discussões no Board,
deverão ser enviados às Sociedades
para a apreciação.
Como podemos ver, o tema é
complexo e de difícil solução.
Esta sendo proposto a criação
de um grupo que faça uma
pesquisa sobre a maior ou
menor eficiência de cada modelo,
o que haveria de dar um
maior suporte científico nas
decisões a serem tomadas. Esta
pesquisa é também geradora de
polêmicas, com posicionamentos
contrários, argumentando sobre
as dificuldades de sua realização,
ou até mesmo sobre sua
inviabilidade. Deverá, também,
ser tomado em consideração os
altos custos de tal empreitada.
Concluindo, podemos afirmar que
o ponto central de todo este longo
e sinuoso processo é a procura de
respostas para a pergunta: Qual é a
experiência ou experiências ótimas
e possíveis para a capacitação de
um psicanalista?
Aloysio Augusto d’AbreuMembro efetivo da SBPRJ
1 Para maiores esclarecimentos sugerimos a leitura de “Preliminary discussion of the question of analytical training”, Bulletin of IPA, sept. 3,1925. 2 Dados obtidos através de correspondências de Álvaro Rey de Castro.3 Dados obtidos através de correspondências de Álvaro Rey de Castro.
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Associação Brasileira de Psicanálise
Sobre as razões para uma psicanálise de sessões freqüentes
Formação Psicanalítica
O texto psicanalítico sempre despertou interesse e fascínio e a partir
de Freud desdobramentos importantíssimos acrescentaram-se a esse
belo saber, que como conhecimento é de fácil acesso. Entretanto, a
confusão entre saber e prática clínica e seus diferentes objetivos parece
ter aumentado, o que se justificaria tratando-se de equívocos leigos.
Com freqüência, brilhantes conferencistas, que conhecem o texto
psicanalítico, encantam multidões com verve e elegância. Não são
clínicos, mas com estes passam a ser confundidos. Receio que as
sociedades psicanalíticas, supostamente guardiãs da prática e suas
principais divulgadoras como teoria, por contingências atribuídas apenas
às circunstâncias da contemporaneidade, inclusive as econômicas,
corram o risco de se equivocar em relação à própria psicanálise.
A tradição mantém a psicanálise viva e renovável: a psicanálise não é
forte porque se renova, ela se renova porque sua tradição é forte. O
academicismo cada vez mais presente nas sociedades, a princípio,
não é bom, nem ruim, pois o saber é sempre bem vindo e necessário.
Parece mesmo haver uma tendência mundial nesse sentido, e vários
psicanalistas de renome pertencem às academias. Mas há conseqüências,
se o academicismo se transformar em cantos de sereia.
A primeira conseqüência seria a abolição de diferenças: necessidade se
iguala a desejo, pertencimento se equipara à hierarquia, flexibilização se
transforma em oficialização e saber reduz-se a conhecimento. Minimiza-
se a experiência emocional da análise como o motor que impulsiona
a busca do conhecimento numa formação, onde deveria ser diferente
daquele meramente acadêmico.
A análise pessoalA análise pessoal, num contexto assim, equiparar-se-ia a um ítem de
conhecimento psicanalítico, não mais uma experiência transformadora
que marcará toda a vida. As várias categorias que deverão existir numa
Sociedade, para crescimento dela mesma, diluem-se, borram-se, e todos
passam a ser colegas, não no sentido amistoso e respeitoso que deve
haver entre membros, mas alimentando um discurso perverso e sedutor
que obscurece a todos, onde tudo é transformado na questão disso ou
daquilo, gerando não esclarecimentos, mas discussões estéreis.
A principal vítima é a prática clínica e a maneira como é transmitida
aos candidatos. Refiro-me, especificamente, a pouca importância atual
da prática psicanalítica de sessões freqüentes. Reconheço que existe o
que se convencionou chamar de tendência mundial de flexibilização,
embora discorde das motivações que parecem patrociná-la, e que não
desejo aqui discutir.
Podemos, é verdade, compreender do lugar do psicanalista (essa frase é
bastante comum hoje em dia) qualquer fato, situação ou mesmo associação
de um paciente. Os psicanalistas deveriam estar mais convictos de que o
inconsciente, com suas regras funcionais que implicam em mecanismos
defensivos poderosíssimos, todos eles patrocinados pela angústia, (e
isso não varia, qualquer que seja a teoria do psicanalista), dentro de um
processo de análise, deverão ser aos poucos desvendado em busca de uma
mudança psíquica, que será o objetivo principal a ser atingido.
A interpretação Através da interpretação, que é o instrumento da transferência, uma
nova compreensão poderá surgir para os enganos no entendimento e na
experimentação da própria vida mental. Considerando fundamentalmente
a resistência, essas mudanças passarão por questionamentos, medos e
dúvidas, e a cada aproximação de algo novo as defesas surgem como
proteção, mesmo que enganosa.
Portanto, o psicanalista deveria saber quanto de esforço e investimento
são solicitados da dupla para uma pequena mudança psíquica, e
como a pouca freqüência contribui para o aumento da resistência
e recrudescimento das defesas; sendo o analista integrante desse
processo, sua angústia é reeditada a cada sessão, é parte dela, condutora
e esclarecedora da contratransferência.
É possível que seja esta a principal razão, que o discurso perverso
esconde, para que tanta polêmica seja erguida em relação às múltiplas
sessões. Comprometemo-nos com nossos pacientes em tratá-los,
Maria Inês Neuenschwander Escosteguy CarneiroPsicanalista Didata da SBPRJ
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Associação Brasileira de Psicanálise Formação Psicanalítica
deveríamos ter clareza sobre o que ofereceremos como tratamento.
Não somos seres “moralistas”, e sim éticos. Não temos soluções
mágicas, sugestões condutoras, promessas vãs a oferecer. Temos o
nosso compromisso de suportar o contato com o que nos trazem de
mais precioso: o mundo interno.
Esse contato é mobilizador, instigante, ansiogênico. Um psicanalista que tem
a experiência de análise viva, atuando dentro de si, dificilmente discordaria
da importância das sessões múltiplas. Caso suas experiências com pacientes
não lhes tenham trazido alívio e compreensão (o que é bastante possível),
além de contenção de suas angústias, e tenham sido mesmo transformadas
em idealizações de uma situação analítica, da qual não possuem a experiência
emocional, poderá ocorrer que tal idealização o leve a desejar uma análise
mágica, salvadora, de uma ou duas vezes por semana.
A análise mágica Uma análise fictícia , enfim, onde não haveria necessidade de algo além
de uma reestruturação egóica ou readaptação menos tensa ao mundo,
sem angústia e sem mudanças internas, o que pode ser terapêutico, mas
não psicanalítico. As alegações e justificativas, todavia, passam a ser
num outro patamar, o das necessidades factuais do mundo rápido em
que vivemos, onde as pessoas não desejam mais se conhecer para viver
melhor, e sim, aproveitar com o máximo prazer o bônus sem o ônus,
sem falar da realidade econômica adversa, que compromete, é verdade,
a renda nos consultórios, mas não justificam essas explicações.
Todos os analistas que se mantêm funcionando como tal, precisam
fazer concessões de honorários. Se não tiverem bem claras razões e
motivações, poderão cair nas falsas argumentações acima, ou ainda
noutras, tais como “nada prova que muitas vezes por semana é a única
forma de se entrar num processo analítico”, “as novas metapsicologias
estão mudando o objetivo da análise”, etc.
Penso que esse argumento desmancha-se em si mesmo: se, em
alguns casos, a dupla paciente/analista não funciona nem com cinco
vezes por semana, muito menos funcionará com uma ou duas. Quem
verdadeiramente passou por um processo analítico, que dele se
beneficiou e conhece suas vicissitudes, simplesmente sabe, através da
experiência emocional, que faz diferença, sim, o número de sessões.
Entretanto, não é vetado o direito de atender pacientes que procuram
apenas um auxílio psicoterápico. O que não deveria, a meu ver, jamais ser
feito, é apresentar tais atendimentos como se análise fossem, falseando
a realidade do que seja um processo analítico detalhado, intenso.
Periodicidade idealOu, ainda, criando uma otimização oficial para uma análise de três vezes
por semana, quando sabemos perfeitamente que três vezes é o mínimo
aceitável quando, por exemplo, os analistas de crianças se deparam com
o séquito de atividades que acompanham os pequenos pacientes.
Ou com adultos que têm as viagens semanais como parte indispensável
no trabalho: todos esses casos, exceções. Um fato, um filme, um
acontecimento, ou mesmo uma sessão de psicoterapia podem ter
compreensão psicanalítica, mas psicoterapia, compreensão psicanalítica
e processo psicanalítico são coisas distintas. O parece, mas não é,
caracterizaria não apenas uma prática ruim, mas principalmente falsa.
Tratar de alguém quatro ou cinco vezes por semana não é apenas uma
exigência residual de uma época romântica, ou autoritária, quando às
vezes seriam imposições, e não uma questão técnica importante. Com
pesar, constato que hoje em dia damos pouca importância às nossas
tradições; sendo as diferenças abolidas paulatinamente, as múltiplas
sessões seriam aspecto totalmente irrelevante, e com os dias contados
para deixar de existir.
É, realmente, difícil encontrar quem se disponha a deixar-se penetrar por
um processo longo e intenso, mas reparador. Três vezes por semana já
parece demais! Lamentavelmente, esse enfoque vem tomando vulto nas
Sociedades. Devemos discuti-lo à exaustão e com sinceridade, antes de
“oficializá-lo”. De minha parte, mantenho a convicção de que as sessões
múltiplas são o que de mais verdadeiro podemos oferecer àqueles que
nos concedem o privilégio de tratá-los em psicanálise.
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de PsicanáliseNotícias e Programação
I Encontro de Psicanálise de Crianças e AdolescentesAs quatro sociedades do Rio organizam evento, com patrocínio da ABP e FEPAL
Nos próximos dias 7, 8 e 9 de setembro acontecerá importante
evento psicanalítico no Rio de Janeiro, o primeiro do seu porte no
meio: o “I Encontro de Psicanálise de Crianças e Adolescentes do
Rio de Janeiro”. O encontro conta com o apoio da ABP e da FEPAL,
e seu tema central é “A Intervenção Psicanalítica na Infância,
Adolescência e Família Hoje”.
O evento terá a participação de experientes profissionais da área,
não apenas do estado do Rio, mas também convidados de São
Paulo, Uruguai e Venezuela e acontecerá no Instituto de Psiquiatria
da UFRJ. É uma realização conjunta das quatro sociedades locais
filiadas à IPA, cada uma com seus representantes na Comissão
Organizadora, coordenada pelo dr. Paulo Bianchini.
Pela SPRJ participam Rosa Sender Lang, Vanja Rodrigues de
Mattos e Verônica Portella Nunes; pela SBPRJ, Carlos Tamm Lessa
de Sá, Eliane Pessoa de Farias, Geny Talberg e Maria da Conceição
Moraes Davidovich; pela AP Rio3, Dagmar Wunderlich D’Ângelo
e Neilton Dias da Silva; e pela APERJ, Maria de Fátima de Salles
Freire e Rosane Friedman Sigres.
O principal objetivo deste evento é reunir psicanalistas e profissionais
de áreas afins para aprofundar a investigação e a compreensão da
intervenção psicanalítica na infância e adolescência e nos grupos
familiares, tendo como princípio que o ato psicanalítico é uma
intermediação que visa promover o acesso ao mundo simbólico,
condição indispensável para o desenvolvimento de sujeitos autônomos,
capazes de uma interação criativa e crítica com o meio social.
Os instrumentos da psicanálise podem nos ajudar a fazer face aos
desafios de um mundo que ameaça a constituição do psiquismo
com a desvalorização da subjetividade e da singularidade que
aparece por exemplo na resposta unicamente medicalizante aos
conflitos da infância.
Não podemos correr o risco de uma acomodação situada entre
a perplexidade e a impotência ante a deterioração dos vínculos
pessoais, familiares e sociais, com o aumento e a banalização
concomitantes da violência, da delinqüência e de patologias como
a adição a drogas, os distúrbios alimentares, o autismo infantil e
as psicoses.
Neste ano de 2006 comemoram-se os 150 anos do nascimento
de Freud, que chamou a atenção, já no início do século passado
para o mal-estar na civilização moderna. Acreditamos ser este um
momento mais do que propício para a criação de um espaço de
debate e a troca de experiências sobre as diversas modalidades de
intervenção psicanalítica no âmbito privado e institucional.
Entrevista com a Comissão Organizadora*
1. O que levou o Rio de Janeiro a realizar um evento científico sobre infância e adolescência?
O Rio de Janeiro vem sendo um dos palcos de graves problemas sociais que vimos enfrentando no nosso país e na América Latina de um modo geral. A compreensão psicanalítica de que é nos primórdios da vida que se define a identidade do sujeito e suas possibilidades de interação social nos alerta para as graves conseqüências da incidência desses problemas nas nossas crianças. Cada vez mais torna-se evidente a impossibilidade de se pensar o homem, os grupos, as nações, isoladamente do seu contexto. Tudo o que nos cerca, de um modo ou outro também nos forma. Há várias décadas, Karl Abraham já tinha previsto que o futuro da psicanálise estaria na análise de crianças. Embora esta tenha se desenvolvido consideravelmente no nosso meio, há muito pouca troca de experiência e reflexão sistematizada sobre a área. Esperamos que esse evento possa contribuir para
uma evolução nesse sentido.
2. Qual a importância de termos as quatro sociedades cariocas reunidas em um só evento científico?
Por razões históricas, ao contrário por exemplo de São Paulo, que congrega os analistas ligados à IPA em uma grande sociedade, no Rio de Janeiro, como em outras cidades, os analistas se dividiram, inicialmente em duas, e hoje em quatro sociedades. Assim como muitas vezes a separação favorece famílias em conflito, acreditamos que hoje essas sociedades, cada uma com seu perfil, possam se relacionar cientificamente. Este evento pretende ser uma prova disso, favorecendo que os membros de cada sociedade conheçam o trabalho de analistas das outras, e congregando todos os analistas de crianças e/ou adolescentes das quatro sociedades para trocarem experiências, inclusive com a participação dos analistas que venham de outros estados, além dos convidados da América Latina e de São Paulo que virão sob os auspícios
da FEPAL, bem como o colega de São Paulo cuja vinda receberá o auxílio da ABP.
3. O que os levou a escolher a intervenção psicanalítica como tema do Encontro, que abrange uma série de itens de relevância para este campo?
De Melanie Klein e Anna Freud para cá, a área da análise de crianças e adolescentes foi uma das que mais se desenvolveu no nosso campo, deixando no entanto a instituição psicanalítica algo perplexa com esses avanços. Os critérios da própria formação dos analistas de crianças e/ou adolescentes são muito variáveis, nem sempre bem sustentados teoricamente, e com freqüência não correspondem à realidade dos consultórios. Os desenvolvimentos técnicos que apontam para a necessidade de repensar a técnica, com uma maior flexibilização do setting, têm gerado um enriquecimento da área, com reflexos no aumento da compreensão do desenvolvimento emocional e dos quadros psicopatológicos, da eficácia no atendimento a casos graves, inclusive em instituições. É importante que a IPA e as sociedades filiadas não fechem os olhos para essa evolução. Com freqüência colegas vem trabalhando de modo extremamente perspicaz e criativo com crianças e adolescentes, no silêncio dos seus consultórios, do que só sabemos por eventuais conversas ou encontros. Este evento pretende ser um estímulo para que todos elaborem as reflexões a partir da sua clínica e dividam com os colegas suas percepções. É a partir do conhecimento assim adquirido, em sintonia com nossa observação do mundo que nos cerca, que podemos contribuir, pelo nosso vértice, para a sensibilização das famílias e dos grupamentos
sociais quanto aos cuidados e à atenção necessários à infância e adolescência.
4. Qual a expectativa dos organizadores quanto à mesa organizada com o apoio da FEPAL?
Embora este evento seja organizado pelas quatro sociedades cariocas filiadas à ABP/FEPAL/IPA, nossa intenção é que ele seja o menos paroquial possível. Estamos, nós do Rio de Janeiro, tomando uma iniciativa que esperamos que frutifique, gerando outros encontros desse tipo. Esperamos, portanto, que a mesa com colegas de São Paulo, da Venezuela e do Uruguai contribua para ampliar o intercâmbio
entre os analistas de criança brasileiros e os nossos colegas latino-americanos.
5. Quem são os convidados para o Encontro?
Entre os psicanalistas convidados para o Encontro contamos com Johanna Trip, membro efetivo da Associação Venezuelana de Psicanálise além de psicóloga escolar, que apresentará um trabalho onde explora o interessante tema de uma “função analítica” que estaria presente em diferentes níveis nos indivíduos, antes mesmo de um processo analítico. Exemplificará com a sessão de um menino de sete anos. Stella Yardino, analista didata da Associação Psicanalítica do Uruguai, nos falará sobre os efeitos da violência familiar e social no processo de subjetivação da adolescência.A FEPAL ainda apoiará a vinda da experiente analista de crianças de São Paulo Teresa Haundenschild. A ABP nos ajudará a trazermos o Professor Roosevelt Cassorla, de Campinas, figura já conhecida entre nós por seus trabalhos em psicose e psicossomática, e que nos falará sobre o processo do “enactment” na adolescência. Teremos ainda, como convidados, David Léo Levisky, de São Paulo, e Nara Caron e José Ottoni Outeiral, do Rio Grande do Sul. Alguns desses analistas, paralelamente aos trabalhos que irão apresentar, coordenarão supervisões clínicas coletivas, estas restritas aos participantes do evento que sejam psicanalistas membros da FEPAL, para preservação do sigilo clínico.O evento contará também com convidados de destaque em outras áreas relacionadas à infância e adolescência, que lhe darão um caráter multidisciplinar , como o pediatra Lauro Monteiro, presidente
da ABRAPIA, e o sociólogo Luis Eduardo Soares, para nos falar sobre a questão da violência .
* Entrevistador: Sergio Nick, secretario do departamento de Publicações e Divulgação da ABP
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Associação Brasileira de Psicanálise Notícias e Programação
SPR homenageia Escobar
Em agosto, haverá a visita da dra. Marilia Eisenstein (França) e uma Jornada sob o tema “Retornar e recordar: entre veredas do mito e da ciência”, com Marilza Saviolli, filósofa, e Sonia Curvo Azambuja, psicanalista. Ainda no eixo teórico, no dia 30, outra palestra: “Recordar, Repetir e Elaborar no pensamento kleiniano” com Elias Rocha Barros. Na área clínica, haverá discussão de material oriundo do Grupo de Estudos sobre Distúrbios Alimentares.
Em setembro, ocorrerá o III Simpósio de Educação Médica, Psicanálise e Psicologia da Saúde, em parceria com IPEMPSI e Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês. O tema será “Medicina contemporânea: Humanidade e Tecnologia” Eixos: Vínculo Resiliência e Tecnologia”, nos dias 7, 8 e 9.
Nos dias 11,12 e 13, visita de César Botella ( Paris ). Já o eixo teórico será no dia 27 com “Recordar, Repetir e Elaborar” na obra de Winnicott, com Orestes
Forlenza Neto. O eixo clínico terá como base material proveniente do Grupo de Estudos sobre Freud.
Em outubro, o eixo teórico ocorrerá no dia 18 em cima de “Recordar, Repetir e Elaborar” no pensamento de W. R. Bion, com Antônio Sapienza. Já o eixo clínico gira em torno da discussão de caso, com material oriundo do Grupo Conversas Psicanalíticas. Além disso, no dia 21, haverá a Jornada sobre A vida científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
Em novembro, haverá no dia 11 jornada sobre Objetividade e Subjetividade na prática psicanalítica. O eixo teórico será “Recordar, Repetir e Elaborar e as Neurociências”, com Yusaku Soussumi. Já o eixo clínico ocorrerá em torno da discussão de material clínico oriundo do Grupo de Estudos sobre Relação Mente Corpo. Além disso, haverá uma videoconferência, com James Grotstein.
SBPSP traça programação científicaA programação da Diretoria Científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise de S.Paulo ( SBPSP ) foi elaborada a partir de dois eixos: teórico - conceitual, composto de Conferências e Jornadas e clínico, com discussão de casos do Centro de Atendimento Psicanalítico ou dos diversos Grupos de Estudo.
Agenda do NP de MaceióO Núcleo Psicanalítico de Maceió promoveu em junho o I Simpósio de Psicanálise: de Freud e Bion – A expansão da Psicanálise. O palestrante foi o psicanalista e médico David Zimerman. No ciclo Psicanálise e Cinema, foi exibido o filme Simplesmente Amor, com comentários da psicóloga e candidata da SPR, Silvana Barros.Em julho, no dia �, houve a apresentação de um trabalho teórico-clínico sobre o tema “Os lugares comuns: da sexualidade na educação infantil. A palestrante foi a psicanalista e psicóloga Maria da Conceição Aciole Paixão. No ciclo Psicanálise e Cinema foi apresentado o filme Quero ser John Malkovich, com comentários da psicóloga Ludmylla da Rocha França de Almeida
A Sociedade Psicanalítica de Recife, junto com a sociedade civil, homenageou o psicanalista Antônio Carlos Escobar, vítima da violência em dezembro de 2005, com a criação de um Instituto – IACE, que tem o seu nome. O Instituto não tem fins lucrativos. Entre suas finalidades, tem o papel de exigir dos nossos governantes que reformulem e implantem de forma efetiva políticas públicas de segurança que causem impacto no problema da criminalidade, da violência e da insegurança em Pernambuco.O IACE está formado por diversas comissões, promove encontros semanais para estudar, pesquisar, conhecer os problemas da violência, suas causas, fatores e condicionantes, assim como sobre soluções viáveis no enfrentamento ao problema da violência urbana. Desta forma, tenta-se desenvolver algumas idéias de Escobar que se encontram em seu último trabalho, publicado na revista da SPR: Psicanálise em Revista, vol. �, nº 1, 2006. Em um outro evento realizado, houve o lançamento do Prêmio Antonio Carlos Escobar, que vai contemplar com R$ 5.000,00 o melhor projeto sobre alternativas para segurança pública. Mais informações: www.iace-pe.com.br
Estão sendo organizados a XI Jornada de Psicanálise e o VII Encontro de Psicanálise da Criança e do Adolescente, que serão realizados entre 31 de agosto a 2 de setembro. O tema central da Jornada será “A Conflitiva dos Vínculos”. Inscrições e Informações na SPR; fones: 81-3228.1756 e 3226.0�62 - [email protected]
NPA promove eventos O Núcleo Psicanalítico de Aracaju (NPA) recebeu no dia 1� de julho a visita de Ivanise Fontes, doutora em psicanálise pela Universidade Paris VII, pós-doutorada pela PUC-SP e autora do livro “Memória Corporal e Transferência”, para uma conferência aberta, seguida de debates com os membros do NPA e do público presente. O evento foi realizado no auditório principal da Sociedade Médica de Sergipe.Além disso, o NPA está preparando um grande evento que se estenderá durante todo o mês de setembro, em homenagem aos 150 anos de Sigmund Freud e aos 10 anos do Núcleo de Aracaju. Serão realizadas duas exposições: “Psicanálise & Modernismo” e “Museu Imagens do Inconsciente”, com painéis, documentos, fotografias e obras de arte. Durante todo o mês de setembro também será realizada a VII Jornada de Psicanálise de Aracaju e o VI Encontro de Psicanálise da Criança e do Adolescente, com conferências e mesas redondas em que participarão diversos convidados de outras sociedades. Apresentações artísticas contribuirão para o enriquecimento cultural do evento. Maiores informações através do telefax (79) 32�6-5729 ou do e-mail: [email protected]
NPG promove VI JornadaDando prosseguimento à sua programação, o Núcleo de Psicanálise de Goiânia está organizando sua VI Jornada a realizar-se no dias 22 e 23 de setembro próximo. Contará com a participação de grandes mestres nacionais: Suad Haddad de Andrade (SBPSP), David E. Zimerman (SPPA), José O. Outeiral (SBPRJ), José V. Nepomuceno Filho (SPB) e os convidados Tânia Rivera, professora da UnB, e o advogado e filósofo Sérgio Paulo Rouanet.
SPPA promove exemplo multidisciplinar- A SPPA e o Memorial do Rio Grande do Sul comemoraram os 150 anos do nascimento
de Freud, com uma exposição e debates sobre a interação entre psicanálise e o cinema,
artes plásticas e literatura. Foram realizadas em maio as conferências “Psicanálise e
Filosofia: uma relação ambivalente”, pelo prof° Sérgio Paulo Rouanet, e “O valor de ter
medo”, ministrada pelo psicanalista italiano, dr. Stéfano Bolognini.
- Como preparação do VIII Simpósio de Psicanálise da Infância e Adolescência,
em 30 e 31 de maio e 6 e 7 de junho, ocorreu a II Oficina para Pais, Educadores e
Profissionais da Saúde, com o tema “E ainda se brinca?”. Entre 8 e 10 de junho, em
sintonia com o próximo Congresso da IPA, o Simpósio abordou “Brincar, Repetir
e Elaborar”. O evento teve como convidado especial o psicanalista da Associação
Psicanalítica do Uruguai, Álvaro Nin.
- A Sociedade prepara uma série de atividades para debater “O Método Psicanalítico”
sob o ponto de vista das teorias de Freud, Klein, Winnicott e Bion. No primeiro evento,
nos dias � e 5 de agosto, participará o dr. Abel Fainstein, Analista da Associação
Psicanalítica da Argentina, para debater o método analítico sob a ótica de Freud.
- Nos dias 13, 1� e 15 de setembro, a SPPA recebe o dr. César Botella, psicanalista da
Sociedade Psicanalítica de Paris. Botella fará conferências “Sobre a figurabilidade”
e “Sobre a análise de pacientes borderline”, além de supervisão de casos clínicos.
Winnicott em Buenos AiresO XV Encontro Latino-Americano sobre Winnicott será realizado em Buenos Aires,
nos dias 2� a 26 de novembro, organizado pela APA. Haverá video-conferência com
André Green. Informações no site www.joseouteiral.com (home).
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de PsicanáliseNotícias e Programação
A SBPRJ sempre incentivou a realização de atividades envolvendo diferentes
segmentos da sociedade , principalmente através de parcerias estabelecidas
com ONGs. Neste contexto, em 2005, a instituição promoveu a transformação
do Projeto Comunidade, instituído há 10 anos, em Programa de Psicanálise
e Interface Social -PROPIS- que, alem de incluir as parcerias de cunho social,
pretende organizar e promover a reflexão em torno do tema.
A formulação do PROPIS surgiu da constatação de que o sujeito de sofrimento
contemporâneo difere do sujeito de sofrimento dos séculos XIX e XX, impondo
a criação de instrumentos de intervenção para atender pessoas de diferentes
segmentos sociais que nos endereçam diferentes demandas dentro e fora dos
nossos espaços clínicos. Os fundamentos teóricos psicanalíticos, apreendidos em
seu rigor e riqueza, constituem a base da pesquisa, por modalidades de atuação,
dos psicanalistas nesses novos cenários.
O PROPIS nasce em circunstâncias favoráveis de alinhamento com propostas da
atual direção da IPA, com o tema central do XXVI Congresso da FEPAL e com as
comemorações de 150 anos do nascimento de Freud, cujo legado inclui a tradição
de pesquisa e o encorajamento para que os psicanalistas exerçam parcerias com
outros saberes e em diferentes esferas sociais.
APRio 3 destaca comunhão societáriaAs quatro sociedades psicanalíticas do Rio de Janeiro deram início a um programa de coordenação científica de seus eventos. O projeto conta com a participação da ABP. O primeiro destes eventos ocorreu na RIO 3, onde o dr. Waldemar Zusman, presidente de honra da entidade, apresentou o esboço inicial de um trabalho intitulado “As vertentes psicanalíticas da comunhão”. O evento teve o caráter de “oficina de trabalho” e esteve aberto à participação livre para discutir e improvisar sobre o tema.
As demais sociedades já começaram a enviar seus convites e suas programações mensais e o intercambio poderá se expandir a outros estados, contando com o apoio da ABP e até da FEPAL. Programação
Em abril, houve sessão clínica: Caso de uma criança tratada dos 16 meses aos 5 anos na “Unité de Soins Spécialisés pour Jeunes Enfants” - Centro Alfred Binet - Paris. Psicoterapia Psicanalítica Precoce. A convidada foi Marthe Barraco. Em maio, houve a apresentação de trabalho de Maria Christina Monteiro Cardoso, Membro Titular da APRIO 3, sobre As resistências no processo psicanalítico, com ilustrações clínicas para comentários e discussões. Ainda em maio, ocorreu a apresentação de trabalho de José Carlos Zanin, Membro Titular da APRIO 3, sobre Crises de interrupção no processo psicanalítico. Em junho foi agendada reunião aberta ao público em geral, com palestrantes de outras disciplinas, além da psicanálise, sobre o tema Envelhecimento. Houve também evento especial em comemoração aos “150 anos do nascimento de Sigmund Freud”, com uma programação organizada pelos departamentos científicos das quatro sociedades do Rio de Janeiro.
Em julho dia 6, retomou-se as reuniões internas. O primeiro encontro foi a apresentação da palestra “O paciente regressivo: possibilidades de comunicação”, com Vera Antunes.
SBPRP recebe visitas internacionaisA Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SBPRP) recebeu a visita internacional do dr. Theodore Jacobs, que é analista didata da Sociedade de Psicanálise de Nova York e membro da Associação Psicanalítica Americana. O dr. Jacobs promoveu atividades científicas com os membros e candidatos da instituição. No dia 1º de junho foi realizado reunião científica fechada aos membros, candidatos e pré-candidatos, na qual o dr. Jacobs apresentou seu trabalho “Reflections on the Goals of Analysis and the Process of Change”, tendo como comentaristas as psicanalistas Maria Auxiliadora Campos, Rachel Barbosa Lomônaco Beltrame e Rosângela de Oliveira Faria. Já no dia dois de junho, foi realizada a V Jornada Psicanálise no Divã, na qual o o membro da APA apresentou seu trabalho “On Unconscious Communication and Covert Enactments: Some Reflections on Their Role in the Analytic Situation”, tendo como comentaristass as psicanalistas Ana Rita Nuti Pontes e Beatriz Troncon Busato Bestetti. Nos dias 11 e 12 de agosto SBPRP receberá outra visita internacional, a dra. Marilia Aisenstein, da França.
IPA visita SPMSA Sociedade Psicanalítica de Mato Grosso do Sul (SPMS) participou do I Congresso Luso-Brasileiro realizado em Lisboa pela Associação Brasileira de Psicanálise (ABP) e Sociedade Psicanalítica de Portugal (SPP). A dra. Leila Tannous Guimarães e a dra. Ednéia Cerchiari representaram a sociedade no evento.Nos dias 22, 23 e 2� de setembro vai acontecer o V Simpósio de Psicanálise do Mato Grosso do Sul, organizado pela ABP em parceria com a sociedade. O tema será “Psicanálise: 150 anos da herança de Freud”. Já nos dias 3, � e 5 de novembro, a Comissão de Liasion da IPA visitará a Sociedade.O Departamento de Assistência Psicológica realizou o seu primeiro encontro no dia 20 de maio. O tema base foi “Resistência”. Foi apresentado um caso clínico e a psicóloga Gleda Brandão Araújo coordenou a discussão.
SBPdePA debate infância e adolescência Depois das homenagens aos 150 anos de Freud e de participar do I Congresso Luso-
Brasileiro de Psicanálise, em Portugal, SPBdePA, dirigida por Ana Rosa Trachtenberg,
através de seu Núcleo de Infância e Adolescência (NIA) programou para o segundo
semestre a continuidade do Ciclo NIA - 2006: “Quem são os novos ídolos das crianças
e adolescentes” em forma de mesas-redondas temáticas para as datas de: 5 de agosto:
“Futebol, uma Paixão Adolescente?” ; 2 de setembro: “Música, o que toca o mundo
adolescente?”; e 7 de outubro: “Mídia, o adolescente consumidor ou consumido?”
. O NIA segue dando seqüência ao Seminário Teórico-Clínico com o dr. Asbed
Aryan ( da ApdeBA e coordenador de Crianças e Adolescentes da FEPAL) sobre:
“Patologias da Adolescência e a Psicanálise Atual - Teoria e Técnica”. Os próximos
serão dia 15 de setembro e 17 de novembro.
Em outubro ocorrerá a IV Jornada do NIA com o tema “Limites e Desafios da
Técnica Analítica com Adolescentes: na clínica atual como isso funciona ?. Para
os dias 20 e 21 de outubro. Estão convidados o dr. Carlos Moguillansky - Analista
Didata e presidente da APdeBA, para dar conferências e supervisionar material
clínico de um paciente adolescente.
- A Comissão Científica promove em agosto a “Noite Fepal” onde serão apresentados
três trabalhos aceitos para o Congresso Fepal 2006. Em setembro será apresentada
tese de mestrado da dra. Patrícia Goldfeld e haverá Diálogos Psicanalíticos com o
psicanalista Heitor de Paola, da SPRJ. Em outubro haverá apresentação do trabalho
denominado Psicanálise e Poder, de autoria do dr. José Luiz Petrucci, e no dia 11
de novembro será realizada a Jornada da Sociedade. Tendo como convidado o
psicanalista Luiz Carlos Menezes, l presidente da SBPSP.
SBPRJ estimula reflexão e integração social
SPPel comemora 150 anos de Freud
No dia 9 de junho, a instituição promoveu conversas com psicanalistas, que contou a
presença dr. Bruno Salésio da Silva Francisco, membro Didata da SPPel, que apresentou
“A Cultura Brasileira e o Desenvolvimento da Psicanálise”; o dr. José Luiz Meurer,
membro Didata da SPPel, que falou sobre “Aspectos da Vida e da Obra de Sigmund
Freud”. A coordenação ficou a cargo da dra.Rosaura Rotta Pereira. Já no dia 30, houve
conferência do dr. Oscar Paixão Carrera Junior, membro Didata da SBPRJ, sobre “O
Legado de Freud – Conceitos fundamentais”. E, no último dia 1 de julho, o dr. Oscar
Paixão Carrera Junior falou sobre “O Complexo de Édipo na obra de Freud”.
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de Psicanálise Diretoria, Conselhos e Comissões
Congresso Luso – Brasileiro é sucesso. 2007 é no Brasil.
Nos dias 29 e 30 de maio deste ano, membros da diretoria da ABP e
representantes de suas federadas participaram de I Congresso Luso-Brasileiro
de Psicanálise, em Lisboa. O tema do Congresso “Contribuições Clínicas
e Construtos Teóricos na Prática”- Navegar é preciso, Viver não é Preciso”,
contribuiu para dar ao evento um foco centrado nas questões atuais sobre
a importância e especificidade da psicanálise em nossos dias. Ao mesmo
tempo este tema imprimiu uma roupagem poética, inspirada nos versos de
Fernando Pessoa, que tão bem traduzem a subjetividade do ser humano e a
experiência analítica.
O evento, considerado histórico pelos partiicpantes, reuniu analistas brasileiros
e portugueses em torno da psicanálise e serviu para resgatar, ressignificar e
fortalecer vínculos pré-existentes desde os primórdios da nossa história. Em
mesas redondas e discussões clínicas, teve lugar um intenso e rico intercâmbio
de idéias acerca de temas relevantes da teoria e prática analítica. Os temas
cultura luso-brasileira e desenvolvimento da psicanálise no Brasil e em
Portugal foram compartilhados e possibilitaram o conhecimento da história,
características e contexto atual do cenário psicanalítico de cada país.
Os laços estabelecidos durante a organização do evento, reforçados na
convivência durante o encontro, bem como o êxito alcançado, contribuíram
para a proposta conjunta de realização do próximo encontro em 2007, no
Brasil. Este fato possibilitará dar continuidade ao projeto iniciado na gestão
anterior, sob a presidência do dr. Carlos Gari, que tornou possível a realização
deste I Congresso.
Profissionais e estudantes lusitanos que estiveram presentes ao evento
têm, através de correspondências, manifestado interesse em nossas
publicações psicanalíticas e querem informações sobre o movimento
psicanalítico brasileiro.
Eventos CompartilhadosA Direção Científica da ABP, no comprimento de suas funções e dando
continuidade à proposta de Eventos Compartilhados, já deu início aos
trabalhos de organização do próximo Congresso Luso-Brasileiro, numa ação
conjunta com a Diretoria de Relações Exteriores e a Diretoria da Sociedade
Portuguesa de Psicanálise.
Em 2007 teremos ainda a realização do Evento Brasil-Argentina, cuja proposta
já foi aceita, pelos presidentes das Sociedades Argentinas. Esta iniciativa,
que pretende expandir-se a outros países, contará com a participação de
representantes das federadas da ABP.
Como foi anteriormente informado, a idéia da realização desses eventos
é possibilitar que a produção brasileira possa ocupar espaços ainda não
conquistados e se fazer presente no cenário psicanalítico, para além das
nossas fronteiras. Com esse objetivo os Eventos Compartilhados serão
realizados a cada ano em um país com a participação de trabalhos de
colegas dos distintos países, contribuindo assim para o acesso à produção
científica e experiência clínica de colegas de outros países. Este intercâmbio
certamente irá contribuir para o enriquecimento da psicanálise em nosso
país e fortalecimento de nossas entidades psicanalíticas.
Capsa aprova projeto da ABP
O Comitê da IPA, The Analytic Practice and Scientific Activities Committee
(Capsa), aprovou projeto desenvolvido pela ABP para a realização da
Conferência Internacional de Clínica Psicanalítica, que terá a participação
dos seguintes convidados estrangeiros: Owen Renik (EUA), Vincenzo
Bonaminio (Itália) e César Botella (França). O evento, que terá como tema
central Prática Analítica – Singularidade & Diversidade, irá ocorrer no
Rio de Janeiro, nos dias 23 a 25 de novembro de 2006, contando em sua
organização com o apoio das Sociedades do Rio e a participação efetiva de
representante das federadas.
A Direção Científica fará contato com todas as Sociedades, visando o
planejamento, a participação e difusão deste evento. Em breve, estará disponível
para as Sociedades referências profissionais e dados sobre a produção
científica dos convidados e outras informações acerca do evento.
RBP terá humor como tema
A Revista Brasileira de Psicanálise (RBP) terá como tema o
humor em seu volume �0, número �. A publicação está com
lançamento previsto para dezembro. O editor da publicação,
Leopold Nosek, pede colaborações, lembrando aos autores que
os trabalhos devem seguir as normas que se encontram no final
da Revista. Data de entrega: 30 de setembro de 2006.
XXI Congresso Brasileiro em fase final de preparação Nos dias 9 a 12 de maio de 2007, psicanalistas brasileiros, membros da
ABP e candidatos dos Institutos das Sociedades componentes têm um
encontro marcado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Trata-se do XXI
Congresso Brasileiro de Psicanálise, que terá como tema central “ Prática
Psicanalítica – Especificidade, Confrontações e Desafios”. O evento
está em fase final de preparação, dela participando a diretoria da ABP,
juntamente com o Conselho Científico e as Comissões Organizadoras.
O local escolhido segue o movimento de sediar o Congresso nas
diferentes regiões onde a psicanálise tem prosperado e gerado
Sociedades Componentes da ABP, FEPAL e IPA. O Rio Grande do Sul,
de onde saiu o primeiro analista brasileiro a assumir a presidência da
IPA, tem se mostrado solo fértil para a produção e desenvolvimento do
pensamento e prática da psiquiatria e psicanálise, desde os primeiros
tempos da Psicanálise no Brasil. A qualidade das contribuições teórico-
técnicas de psicanalistas gaúchos revela a seriedade e o compromisso
com a psicanálise e sua expansão.
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de PsicanáliseDiretoria, Conselhos e Comissões
Um encontro em Lisboa 66º Congresso de Psicanalistas de Língua Francesa
A participação no 66º Congresso de Psicanalistas de Língua Francesa
foi realmente um encontro em Lisboa com pessoas agradabilíssimas,
extremamente calorosas e gentis, além é claro de altamente preparadas
cientificamente.
Este congresso é realizado anualmente, um ano em Paris e outro em
alguma capital européia de língua latina. É um evento de alto nível
científico que este ano teve como tema central “As relações de objeto
e modelos da pulsão”. Havia nitidamente uma proposta de articular a
teoria das relações de objeto, especialmente a partir das contribuições
de Bion e Winnicott, com a metapsicologia freudiana.
A dinâmica destes encontros contribui para que eles atinjam a
profundidade antes mencionada. Existem habitualmente dois relatórios
oficiais que são distribuídos em diversas sociedades européias, mas
também de outras latitudes, sendo, portanto, estudados previamente
pelos participantes. Assim, durante os quatro dias do encontro o tema
é exaustivamente debatido.
Há que destacar que, como seria de se esperar, entre os participantes
– em geral pessoas altamente preparadas – encontram-se expoentes
da psicanálise mundial. Este ano, apenas para citar alguns, estavam
além do Presidente da IPA, Cláudio Eizirik, André Green, César Botella,
Antonino Ferro, Marília Aisenstein, Raymond Cahn e outros.
Mas o que merece ser destacado foi a participação dos brasileiros neste
evento, fato sublinhado diversas vezes pelos organizadores. Estavam
presentes 29 colegas do Brasil, com participações no evento de diversas
formas. Os presidentes da SBPSP, Luiz Carlos Menezes, da SBPRJ, Jane
Kezen, e da SPPA, Ruggero Levy, foram oficialmente recepcionados e
convidados a sentarem na mesa de abertura. Esteve também presente
o Presidente SBPRP, José Cesário Francisco Júnior.
A manhã de sexta-feira foi aberta com a participação científica de
Cláudio Eizirik, Presidente da IPA, expondo o tema “Relações de objeto
e a psicanálise hoje”. A seguir, o colega Luiz Carlos Menezes (SBPSP) foi
debatedor da apresentação de Teresa Flores, juntamente com Antonino
Ferro (SPI). A colega Luciane Falcão (SPPA) foi uma das tradutoras ao
português dos relatórios oficiais. A simpatia e o esforço para fazer os
psicanalistas brasileiros sentirem-se em casa foi realmente admirável
e digno de gratidão.
O desejo de todos que participaram neste congresso foi, imagino, o de
estar novamente presente nas suas próximas edições. Por isso, colegas
franceses, até breve ou tout à l’heure.
ABP promove censoNa medida em que a psicanálise se expande no Brasil, a
Associação Brasileira de Psicanálise tem diversificado as
suas funções, passando a atuar também na solução de
problemas que afetam o interesse das Sociedades.
Conhecer o profissional atuante no Brasil para que este
possa ser devidamente representado e atendido pelas
atividades propostas pela ABP é tarefa importante no
desenvolvimento e crescimento de nossa Associação.
Assim, a Associação Brasileira de Psicanálise, no intuito de
melhor conhecer seu quadro de associados está buscando
informações sobre a realidade de cada um dos associados às
suas filiadas, conhecendo melhor sua formação, titulação,
eventuais funções acadêmicas e opinião.
A busca destas informações constitui-se em um processo
de pesquisa, usualmente chamado de censo, que visa o
levantamento de dados de toda a população específica,
neste caso, os associados das filiadas a ABP.
Gostaríamos, portanto, de convidá-lo a participar desta
iniciativa respondendo (e reenviando) o questionário
disponibilizado. Ressaltamos que as informações fornecidas
são anônimas e sigilosas na sua individualidade. Após a coleta
e análise de dados, os resultados gerais serão disponibilizados
para que todos possam discutir e compartilhar opiniões.
Ruggero Levy Presidente da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre
É possível psicanálise de tempo limitado?A resposta está no livro “Psicoterapia Psicanalítica Breve”, do dr.
Theodor S. Lowenkron, coordenador da Comissão de Pesquisa
e Universidade da ABP, que está sendo relançado em segunda
edição, revisada, pela editora Artmed. A primeira edição foi
publicada em 1993.
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Associação Brasileira de Psicanálise
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Associação Brasileira de Psicanálise
A violência nossa de cada dia
Pedro Gomes Presidente da ABP
Diretoria, Conselhos e Comisssões
Recentemente a cidade de S. Paulo parou. O crime organizado
demonstrou sua força e as vidas, o ir e vir dos cidadãos ficaram em
questão. No Rio de Janeiro o cenário não é muito diferente. Todo dia
há tiroteios e confrontos e a população tem medo de sair de casa,
refugiando-se atrás de altas grades e muros eletrificados. A violência
de nossas cidades torna todos nós vítimas em potencial e reféns de um
estado de ameaça e medo. Conscientes de nosso dever ético enquanto
psicanalistas e comprometidos com a dignidade da condição humana,
registramos a nossa grande preocupação com as conseqüências
nefastas do contexto social atual, que incidem sobre o processo de
formação e desenvolvimento do homem.
Sabemos da importância de um ambiente empático e sustentador que
vá apresentando o mundo à criança de maneira gradual, de acordo
com seu estágio de desenvolvimento e respeitando as características
que traz dentro de si. O contato precoce com uma realidade que lhe é
indiferente, a falta de respostas sintonizadas com as necessidades e os
estados afetivos de um ser ainda frágil, dificultam o estabelecimento
daquilo que é mais próprio da condição humana: a sua capacidade
de simbolizar (de pensar), fundamental para a subjetivação do eu.
Assim, ao invés de agir criativamente sobre o mundo, a partir de uma
consciência de si mesma e dos outros enquanto distintos e ao mesmo
tempo semelhantes, a criança que foi desassistida emocionalmente
apenas reagirá impensadamente à realidade que a cerca, com toda
a força, descontrole e instabilidade dos afetos primitivos, não
transformados ou sublimados.
Exemplos trágicos dessa situação são observáveis diariamente nas ruas
das principais cidades do país. Um exemplo destacável foi o episódio
em que jovens de uma favela do Rio de Janeiro ajudaram a atear fogo
num ônibus, matando e ferindo seus passageiros. O desabafo da policial
que investigava o crime, ao afirmar, em entrevista aos noticiários de
televisão, a impossibilidade total de comunicação entre dois mundos
inteiramente diferentes – o dela e o da jovem – ilustra a consternação
de todos frente à gravidade do assunto.
Entendemos que a pobreza por si só não implica em desamparo
emocional, visto que é freqüente a manifestação de solidariedade
humana entre as camadas pobres da população. A questão preocupante
é a propagação de uma ideologia que privilegia os interesses do
mercado, em detrimento das necessidades básicas do ser humano,
tanto concretas como emocionais.
O homem, atualmente, vem sendo utilizado para servir aos interesses
econômicos não ocupando, como deveria ser, a posição de alvo de
seus investimentos. Dentro dessa lógica, os indivíduos, privados de
participar da cadeia produtiva e de consumo, tendem a se sentirem
excluídos. Vemos assim surgirem gerações que se multiplicam formando
uma espécie de “mundo a parte”, como foi citado pela policial. Um
mundo de seres cujo empobrecimento da estrutura mental impede
o desenvolvimento da capacidade de lidar com os próprios afetos e
com a realidade interna e externa, levando-os a praticar atos cuja
denominação mais adequada seria barbárie.
Independentemente de orientações político-partidárias, nós
psicanalistas apoiamos todos aqueles que lutam para que o ser
humano seja colocado no lugar que lhe é devido: como centro principal
de nossa atenção e do nosso trabalho. Queremos um mundo onde a
solidariedade seja possível, um mundo onde o ato de ajudar o próximo
não tenha que ser evitado pelo medo de ser assassinado. A nossa
responsabilidade como psicanalistas é trabalhar no sentido do resgate
da subjetividade e da saúde emocional do indivíduo. E como cidadãos
não podemos nos furtar a investir na luta pelo respeito à dignidade e
a preservação da vida humana.
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Associação Brasileira de Psicanálise
N
A questão do exercício profissional da Psicanálise
Cultura
Jair EscobarDiretor de Exercício Profissional da ABP
os últimos anos tem havido um questionamento importante a respeito do exercício da psicanálise
como atividade profissional. Há quatro eixos de interesse, a grosso modo, onde se registram as
maiores discussões em relação a esta temática. Alguns são favoráveis a regulamentação, outros a
regulação ou auto-regulação, e alguns a uma equivalência a titulações universitárias de pós-graduação, como
mestrado ou doutorado.
Com estas quatro alternativas pode se constatar que a questão é complexa e, além destas, devem existir
outras possibilidades. A preocupação com este tema surge na medida em que há uma demanda da população
em relação a ABP, solicitando informações a respeito de formação psicanalítica e de orientações a respeito
de atendimentos que são ditos psicanalíticos, mas com evidente falta de ética e má prática.
Recebemos de oito a dez e-mails por semana com esse tipo de solicitação o que evidencia nossa
representatividade e responsabilidade junto à população. Outro fato também preocupante é o do
constante assédio de entidades, ditas psicanalíticas, junto aos órgãos públicos, buscando a criação de
Conselhos regionais ou federais de psicanálise. Em relação a este último tópico é importante destacar
que só após intensa mobilização da ABP é que foi possível a retirada, junto ao Congresso Federal, de
projeto de lei que criava o Conselho Federal de Psicanálise.
A possibilidade de criação de tal conselho, que era iniciativa de entidade religiosa sem nenhuma vinculação
com a psicanálise, mobilizou algumas entidades psicanalíticas nacionais e, desta movimentação, surgiu o
movimento “Articulação de Entidades”, com o qual a ABP se mantém vinculada, estabelecendo planos de
atuação. Sabemos que a questão do exercício profissional da psicanálise é bastante complexa e delicada
e mesmo no âmbito da ABP há diferentes posicionamentos.
Sabendo-se dessa complexidade é que as diretorias anteriores e a atual vêm estabelecendo algumas
medidas.Através de discussões nos conselhos de presidentes e profissional da ABP decidiu-se pela
contratação de escritório de advocacia com o objetivo de realizar estudo técnico e jurídico-legal a respeito
do tema. Após a realização desse trabalho planejamos um amplo debate nas diferentes instâncias da ABP,
para que tenhamos as melhores condições no estabelecimento do possível ordenamento da questão.