número temático
Turismo e Património
A Revista EXEDRA, propriedade da Escola Superior de Educação de Coim-bra, (ESEC) assume-se, tal como a eti-mologia do seu nome, como um espaço de encontro e conversa entre homens e mulheres de saber. Pretende servir a sociedade e a cultura portuguesas através da promoção do intercâmbio científico, académico e artístico entre instituições e elementos representantes da comunidade educativa nacional e internacional.
A EXEDRA aceita trabalhos académi-cos originais(1), sendo os artigos publi-cados, da exclusiva responsabilidade do (s) seu (s) autor (es).
Os trabalhos situam-se nas áreas cientí-ficas da Educação/Formação, das Artes e Humanidades, da Comunicação e das Ciências Empresarias sob a forma de artigos, revisões de investigação e de críticas de literatura, sínteses, estudos de caso, comentários e ensaios.
Os artigos enviados pelos seus autores à EXEDRA serão objecto de apreciação, numa primeira fase, pelo Director e Conselho Científico da Revista e, numa segunda, serão alvo de avaliação por dois “referees” independentes e sob a forma de análise “duplamente cega”. Neste caso, a aceitação de um e a re-jeição de outro obrigará a uma terceira consulta.
A Revista EXEDRA publica números genéricos e temáticos.
número temático
Turismo e Património
Corpo Editorial
DirectorAna Maria Sarmento Coelho
Conselho CientíficoPedro Balaus Custódio - Educação/FormaçãoMaria Cláudia Perdigão Andrade - Comunicação e Ciências EmpresariaisFrancisco Rúbio - Artes e Humanidades
Comissão editorialJosé Pacheco (CIC/NDSIM)Margarida Paiva Oliveira (CDI) Carla Matos Dias (CDI)
Produçãoedição online - José Pacheco (CIC/NDSIM) - Carla Matos Dias (CDI) logo - Agostinho Franklim Carvalho/Pedro Coutinho
projecto gráfico - Agostinho Franklim Carvalho/José Pacheco
Ficha TécnicaEXEDRA: Revista Científica
Publicação electrónica semestral da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra
Periodicidade: Semestral
ISSN 1646-9526 versão impressa
CopyrightA reprodução de artigos, gráficos ou fotografias da Revista EXEDRA só é permitida com autorização escrita do Director.
Contactos e endereço para correspondência e envio de artigos:EXEDRA: Revista Científica
Escola Superior de Educação de Coimbra
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3000-329 Coimbra - Portugal
Tel: +351 239793120 - Fax: +351 239 401461
www.exedrajournal.com
Maria do Rosário Castiço de CamposEditorial / Coordenadora do nº temático
Adília AlarcãoSobre património ainda não foi tudo dito?
Sandra CarvãoTendências do turismo internacional
Vítor AmbrósioTurismo religioso – construção de Itinerários
Nuno Martins / Cláudia CostaPatrimónio, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável. Parques
temáticos vs parques patrimoniais
Alexandra Rodrigues Gonçalves O museu como pólo de atracção turística
Francisco SampaioA gastronomia como produto turístico
Paulo Sérgio PaisViagem medieval em Terra de Santa Maria
Maria do Rosário Castiço de CamposA Feira Medieval de Penela no âmbito das dinâmicas de promoção turística do
município
07
09-16
17-32
33-50
51-76
77-118
119-134
135-140
141-150
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Missão e Objectivos
A Revista EXEDRA, propriedade da Escola Superior de Educação de Coimbra, (ESEC)
assume-se, tal como a etimologia do seu nome, como um espaço de encontro e conversa
entre homens e mulheres de saber. Pretende servir a sociedade e a cultura portuguesas
através da promoção do intercâmbio científico, académico e artístico entre instituições e
elementos representantes da comunidade educativa nacional e internacional.
A EXEDRA aceita trabalhos académicos originais(1), sendo os artigos publicados, da exclusiva responsabilidade do (s) seu (s) autor (es). Os trabalhos situam-se nas áreas científicas da Educação/Formação, das Artes e Humanidades, da Comunicação e das Ciências Empresarias sob a forma de artigos, revisões de investigação e de críticas de literatura, sínteses, estudos de caso, comentários e ensaios.
Os artigos enviados pelos seus autores à EXEDRA serão objecto de apreciação, numa primeira fase, pelo Director e Conselho Científico da Revista e, numa segunda, serão alvo de avaliação por dois “referees” independentes e sob a forma de análise “duplamente cega”. Neste caso, a aceitação de um e a rejeição de outro obrigará a uma terceira consulta.
A revista Exedra publica números genéricos com numeração sequencial de acordo com a sua periodicidade semestral e números temáticos extra-numeração.
Forma e preparação de manuscritos
Os trabalhos podem ser escritos em português, espanhol, francês e inglês no formato
Word, em Arial, corpo de letra 12, com duplo espaço, não devendo ultrapassar as 40
páginas A4 (3 cm de margem). As notas, de fim de página, em Arial 10 com um espaço
entre linhas, deverão figurar no final do trabalho. As figuras (em formato jpg, png, ou
gif) no corpo do texto devem aparecer em numeração árabe pela ordem de apresentação
do texto, com título curto na parte inferior e, a negrito, em Arial 10. Os quadros deverão
ser incluídos no corpo do texto com título curto na parte superior, a negrito, em Arial 10,
espaço simples e no mesmo formato das figuras.
Os artigos devem ter um título conciso, ser acompanhados de um resumo de
1000 caracteres, incluindo espaços, em Arial 10, espaço duplo, em português e em
inglês, acompanhados das respectivas palavras-chave (4 a 6). Os artigos devem ainda
ser acompanhados da identificação do (s) autor (es) (nome, morada, mail e filiação
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exedra • suplemento de turismo • 2010
institucional).
Na primeira página do artigo (capa) deverão constar o título do artigo, o(s) nome(s)
do(s) autor(es) (excluindo graus académicos), a filiação institucional, a morada e o mail.
Deve também ser indicada em qual das áreas científicas da revista o manuscrito se insere:
Educação/Formação, Artes e Humanidades ou Comunicação e Ciências Empresarias.
Referências bibliográficas
A lista de referências bibliográficas deverá ser incluída no final do texto, em Arial
10. No caso de mais de três autores devem ser todos indicados (não utilizar a expressão
“et al”). A lista deverá ser organizada por ordem alfabética dos apelidos dos autores
obedecendo ao formato dos seguintes exemplos:
a) Livro: Bandura, A. (1977). Social learning theory. Oxford: Prentice-Hall.
b) Referências de artigos on-line: Kuhn, P.S. (1987). Alternative paradigms.
Journal of Teaching, 34 (3), 7-56. Consultado em Janeiro 2005, htpp://www.apa.org/
journals/kuhn.html
c) Capítulo de livro: Hughes, D. & Galinsky, E. (1988). Balancing work and family
lives: research and corporate applications. In A. E. Gottfried & A. W. Gottfried (Eds),
Maternal employment and children’s development (pp. 233-268). New York: Plenum.
d) Artigo: Hoyt, K. B. (1988). The changing workforce: a review of projections from
1986 to 2000. The Career Development Quarterly, 37, 31-38.
Para esclarecer os casos não considerados nestes exemplos, os autores deverão
consultar as normas de publicação da American Psychological Association (APA), última
versão.
Citações
As citações deverão ser apresentadas com indicação de autor, data e localização
(página).
Submissão de artigos para publicação
A submissão de artigos para a EXEDRA deverá ser efectuada via e-mail, anexando o
ficheiro contendo o manuscrito em processador de texto Microsoft Word (*.doc) com as
figuras e quadros numeradas de acordo com o formato solicitado
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exedra • suplemento de turismo • 2010
editorial
Este número temático da revista Exedra, intitulado Turismo e Património, reúne,
maioritariamente, um conjunto de comunicações apresentadas no II Ciclo de Palestras
de Turismo, que, organizado pelo curso de Turismo da Escola Superior de Educação de
Coimbra (ESEC), decorreu entre os dias 23 de Abril e 28 de Maio de 2008.
A relevância actual do turismo é inquestionável. Os proventos directa e indirectamente
gerados pelo sector ocupam uma posição de destaque nas economias de muitos países,
representando o turismo, em Portugal, uma das principais fontes de receitas, como o
comprova o facto de, em 2004, ter totalizado 11% do Produto Interno Bruto (PENT:
2007).
No entanto, apesar do potencial de oportunidades proporcionado por esta fonte de
recursos, o certo é que a dependência exagerada do sector em relação a determinadas
regiões (Algarve, Lisboa e Madeira) e a “elevada sazonalidade” dos fluxos turísticos
(PENT: 2007) se têm vindo a constituir como uma fonte de novos desafios, para os
quais é necessário encontrar novas políticas ou soluções. Deste ponto de vista, o
desenvolvimento de ofertas turísticas associadas ao património, à história e à cultura em
geral têm vindo a ser crescentemente assumidas como alternativas de novos produtos
turísticos com elevado potencial para a dinamização do sector e, sobretudo, para o
combate às debilidades detectadas, desde que se preservem alguns dos valores básicos
das economias actuais, tais como os valores da sustentabilidade, da qualidade ou da
diferenciação.
Ponderados estes pressupostos, o principal objectivo agregador dos textos que agora
se publicam foi o de proporcionar a apresentação de algumas análises sobre a relevância
progressiva do Turismo Cultural e, em sequência, abrir o debate sobre as políticas de
valorização, animação e dinamização do património associadas ao sector do Turismo em
Portugal.
Neste sentido, além de dois artigos de enquadramento no âmbito do Património e do
Turismo, um com o tema “Sobre património ainda não foi tudo dito?” (Adília Alarcão)
e um outro sobre “Tendências do turismo internacional” (Sandra Carvão), integram-se,
neste volume, um artigo com o título “Turismo religioso – construção de itinerários”
(Victor Ambrósio); um artigo sobre “Património, paisagens culturais, turismo, lazer e
desenvolvimento sustentável” (Nuno Martins e Cláudia Costa); um outro sobre “O museu
como pólo de atracção turística” (Alexandra Rodrigues Gonçalves); um artigo com o tema
“A gastronomia como produto turístico” (Francisco Sampaio); e um texto sobre a “Viagem
medieval em Terra de Santa Maria” (Paulo Sérgio Pais), que anualmente se realiza em
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Santa Maria da Feira. Por fim, apresenta-se um artigo, organizado especificamente para
este número temático, sobre a “A Feira Medieval de Penela no âmbito das dinâmicas
de promoção turística do município” (Maria do Rosário Campos), onde se pretende
evidenciar a relevância progressiva do turismo nas políticas de desenvolvimento local.
Para concluir, uma palavra de agradecimento a todos quantos contribuíram para a
realização do II Ciclo de Palestras de Turismo da ESEC, de que salientamos a Câmara
Municipal de Penela, bem como para a edição dos textos que agora se apresentam.
Maria do Rosário Castiço de Campos
(Responsável do Curso de Turismo (2005-2009), Coordenadora do II Ciclo de
Palestras de Turismo da ESEC)
Nota:
PENT- Plano Estratégico Nacional do Turismo: para o desenvolvimento do turismo em Portugal (2007). Lisboa: Ministério da Economia e da Inovação, Turismo de Portugal, I.P., Consultado em 14 de Novembro de 2009, http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/conhecimento/planoestrategiconacionaldoturismo/Anexos/PENT_VERSAO_REVISTA_PT.pdf
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Adília Alarcão • Sobre Património ainda não foi tudo dito?
N º t e m á t i c o - T u r i s m o e P a t r i m o n i o
Sobre património ainda não foi tudo dito?
Adília Alarcão
Ex-Directora do Museu Monográfico das Ruínas de Conímbriga e Museu Nacional de Machado de Castro
Resumo
A recente explosão de iniciativas propatrimoniais, muitas vezes incompetentes ou orientadas por interesses egoístas, e o crescimento das indústrias do turismo de lazer e do turismo cultural têm gerado numerosos efeitos negativos no campo social e sobre a preservação do próprio património.
Através da formação de técnicos, políticos e cidadãos, mais esclarecidos no domínio patrimonial, a Escola pode desempenhar um papel único na prevenção de tais efeitos.
Palavras-chave
Património, Passado, Turismo, Mediador.
Abstract
The recent explosion of initiatives in the area of cultural heritage, often incompetent in themselves or orientated by personal interests, together with the growth in leisure and cultural tourism has given rise to numerous negative consequences in the social domain and in the preservation of heritage itself.
Through the training of technicians, politicians and citizens more enlightened in the field of heritage, the School can fulfill a unique role in the prevention of such consequences.
Key-words
Heritage, Past, Tourism, Mediator.
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
O título desta palestra coloca uma pergunta à qual eu responderia: penso que sim,
mas nem tudo o que foi dito – e há textos notáveis, de reflexão e até de premonição – tem
sido suficientemente consciencializado, discutido e assumido, seja ao nível individual ou
colectivo.
Por isso se justificam iniciativas periódicas como esta que proporcionam e incentivam
o pensar em grupo. Sobretudo porque uma escola é como a natureza, todos os anos se
renovam.
Do que é património toda a gente tem uma ideia mais ou menos concreta, mais ou
menos abrangente. Todos sabemos que a palavra tem raiz latina (pater) e designa algo
mais ou menos valioso que se herda/lega, se compra/aliena.
Qualquer das palavras herança, legado, compra, alienação aponta para o passado.
Com efeito, só se pode herdar ou legar, comprar ou vender, algo que preexiste a cada um
desses actos.
Podemos, assim, tomar como ponto de partida da nossa reflexão sobre património
que ele é sempre passado mais ou menos distante.
Isso explica que a atitude espontânea das pessoas (enquanto indivíduos, grupos ou
nações) face ao património cultural seja, em regra, variável com a idade.
Os jovens estão naturalmente mais interessados pelo presente/futuro do que pelo
passado, seja em relação à arte, à história, à arquitectura, à literatura, às pequenas coisas
do quotidiano. Assim se compreende a relativa indiferença com que os testemunhos
materiais do passado foram, em geral, tratados ao longo dos tempos.
Não podemos esquecer que o passado entendido e sentido como uma entidade
abstracta corresponde a um conceito ainda recente – “um artefacto do presente”
(Lowenthal, 1985: p. xvi).
Até à idade moderna, o passado convivia com as pessoas numa relação quase orgânica,
em que os antepassados, com todo o seu legado cultural (e não apenas o genético)
reviviam em cada nova geração.
Pelo contrário, as novas nações têm, como os indivíduos jovens, tendência para
rejeitar o passado. Nesse aspecto, os EUA são paradigmáticos – o americano ideal tornou-
se um indivíduo emancipado da história (Lewis, 1995: p. 5), atitude, anseio muitas
vezes experimentado, mais recentemente, por outros povos e que uma das personagens
moçambicanas de Mia Couto traduzirá num grito inexcedível - «só um mundo novo nós
queremos: o que tenha tudo de novo e nada do mundo» (Couto, 1990: p. 165).
Contudo, se a herança do passado é muitas vezes sentida como fardo e limitação
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Adília Alarcão • Sobre Património ainda não foi tudo dito?
ao presente/futuro, não é menos verdade que, simultaneamente, esse mesmo passado
respalda os indivíduos e as nações, dá-lhes confiança. Em momentos difíceis funciona
como âncora e certificado de identidade.
Não admira, portanto, que nos meados de Oitocentos a Europa exalte o passado
como em nenhum outro tempo e lugar acontecera e o conceito de património cultural
– tal como hoje o conhecemos – tenha tido então a sua origem. As profundas alterações
políticas, científicas, tecnológicas e sociais, sentidas no continente europeu (e às quais
aquilo a que poderemos chamar a redescoberta da África e da Ásia veio trazer novos
sobressaltos) criam o clima propício à exaltação das virtudes do campo, da agricultura,
da fé medieva, da virtus e dos cânones antigos da beleza.
A literatura, a música, a pintura ressumbram patriotismo e valores ideais. Os
monumentos arquitectónicos tornam-se símbolos por excelência do passado mitificado,
mas também as ruínas, a tradição oral, o costume, o folclore…
Acredita-se na inocência de tudo o que está intimamente ligado à terra, exalta-se
tudo o que é primitivo e autêntico. A pátina que cobre os monumentos e as estátuas, a
ruína, em suma, as marcas do tempo em qualquer objecto são apreciadas como prova de
autenticidade. A incompletude, a fragmentação tornam-se, no séc. XIX, uma verdadeira
virtude. Ao contrário do que sucedera desde o Renascimento, a partir de agora surge a
consciência de que acrescentar qualquer parte de uma escultura mutilada é criminoso.
John Ruskin, que tanto influenciará o debate sobre os limites do restauro das
antiguidades, defende que as grandes criações da humanidade têm um tempo de vida e
nada devemos fazer para lhe garantir “a aridez da imortalidade”.
Contudo, nos finais do século e, sobretudo, no seguinte, o interesse pelo património
acabaria por gerar uma consciência patrimonialista conservacionista, i. é., que visa a
conservação dos bens culturais e a sua salvaguarda.
A visão romântica, privilegiando o efémero, é ultrapassada pela visão positivista que
aposta na capacidade da ciência para dominar a matéria e prolongar a vida, tanto dos
seres vivos como dos inanimados.
Salvaguardar exige conhecimento prévio do objecto de defesa e cuidado. Assim, vemos
surgirem as grandes categorias patrimoniais (por sua vez subdivididas, dando lugar a
diversas áreas de investigação e intervenção): património cultural material e património
cultural imaterial; o primeiro, compreendendo património móvel e património imóvel, o
segundo abrangendo lendas, cantares, usos e costumes, música popular, língua, etc.
O património imóvel concerne o património construído e parte das obras que estão
nele integradas, nomeadamente esculturas, trabalhos de talha e pinturas (murais e
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
retabulares).
O património móvel inclui todos os objectos originais que constituam testemunho de
uma actividade humana particular (por ex., artística, artesanal, científica, agrícola).
A preservação, o restauro, a recuperação, a reabilitação dos bens patrimoniais geram
novos campos de saber especializado, quer ao nível teórico quer ao nível prático.
Paralelamente aos que tomam uma atitude puramente conservacionista, há os que
desenvolvem uma atitude criativa, tomando o património como ponto de partida para o
ensaio de novas linguagens e estéticas. Isto observa-se tanto no restauro como na obra
nova, seja ao nível do artesão ou ao nível do artista.
Ao longo do séc. XX, a consciência patrimonialista alarga-se e não para de
aprofundar-se. Deixa de ser apanágio de um grupo social para se tornar transversal
a toda a sociedade, em qualquer continente, e a 2ª Guerra Mundial, responsável pela
devastação massiva em muitas das principais cidades europeias, muito contribuiu para a
difusão dessa consciência.
A criação da UNESCO, em 1946, seguida do aparecimento de outros sub-organismos
internacionais especializados, como o ICOM e o ICOMOS, conduziram à produção de
suporte teórico, ao debate de ideias, à exigência profissional e ao estabelecimento de
regras de intervenção em todas as áreas patrimoniais, bem como ao incentivo à formação
das associações de defesa do património e ao desenvolvimento da investigação.
A par do legado cultural, resultante da actividade humana, também a natureza é
considerada um património que pode ser preservado e explorado para o bem comum
ou irreversivelmente delapidado. Assim se define o património natural, compreendendo
diversas categorias, objecto de legislação específica para defesa sua e do próprio homem,
quando se toma consciência de que a natureza não é apenas o cenário estético em que
nos movemos, mas também fonte de todos os recursos vitais.
Bens a defender, a usufruir, a explorar de mil maneiras, o património cultural e
natural entra a pouco e pouco na Escola (como objecto de estudo para os mais velhos,
como objecto de sensibilização para os mais novos) e invade as esferas da governação
local e central, já para garantir a sua preservação, já para atrair turismo e financiamento
ou, ainda, prestígio e poder.
Nos últimos 30 anos, assistiu-se em todo o mundo, a uma verdadeira explosão
de iniciativas propatrimoniais que, aliadas ao desenvolvimento e difusão das novas
tecnologias da comunicação, bem como ao alargamento do tempo de vida e do ócio, e à
necessidade de ocupá-los, conduziram à emergência das novas indústrias do turismo de
lazer e do turismo cultural.
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Adília Alarcão • Sobre Património ainda não foi tudo dito?
Em ambas, o património histórico (sobretudo o património construído) ocupa um lugar
de destaque. Sobre ele centram-se as atenções das entidades patrimoniais e turísticas,
de privados especializados nesses sectores, de políticos e governantes, o que levará Marc
Guilhaume a dizer, em 1980, que “os governos dos países ocidentais enriqueceram o seu
arsenal de propaganda com um novo artifício: a política do património” (Guilhaume,
2003: p. 40).
Com tudo o que isso acarreta de bom e de mau, o património usado como mais-
valia económica e política deixou de ser apanágio do Ocidente, pois a receita conquistou
rapidamente todos os continentes, tornando-se um dos muitos fetiches do mundo
global.
Quando não alicerçada em bases conceptuais largamente debatidas e experimentadas,
a ânsia de proteger, restaurar e rendibilizar (cultural e/ou economicamente) um bem
patrimonial pode conduzir aos piores resultados.
Aliás, mesmo quando patrimonialmente acertadas, muitas medidas de salvaguarda
geram efeitos sociais negativos que, em última análise, se voltam contra o próprio
objecto de protecção. Encontram-se exemplos concretos em muitos lugares classificados
(em especial aldeias e centros históricos) que a intervenção artificializou, já porque os
submeteu a normas de reabilitação e uso padronizadas, já porque conduziu à prática de
preços especulativos, determinados pelo estatuto social que o prestígio (bem explorado)
do “antigo” traz ao edificado novo (ou renovado). Por consequência, muitos destes
lugares acabam por ser abandonados pelos seus naturais entrando em dramática agonia
ou pura alienação.
Como exprimiu Françoise Choay, numa frase lapidar, “ao tornar-se histórica, a cidade
perde a sua historicidade” (Choay, 1992: p. 148). Eu diria que, pelo menos, interrompe
brutalmente o seu curso natural.
Os efeitos sociais de uma política patrimonialista exagerada, pouco atenta aos
hábitos e anseios dos cidadãos facilmente conduz ao que Kevin Walsh chamou a
“patrimonialização do espaço” e à destruição do “sentido de lugar” (Walsh, 1992: p. 145),
originando os “não lugares” de que hoje tanto se fala.
Por seu turno, a globalização amplifica esta perda de identidade, porquanto é
sinónimo do suceder simultâneo, da equivalência das ofertas culturais, da uniformidade
dos produtos, dos gostos e das emoções, da tirania do “pronto a…”, finalmente, de um
certo aborrecimento difuso que embota a sensibilidade do viajante.
Como ultrapassar esta realidade de que se tem consciência mas ainda parece estar
em curva ascendente? Como contrariar a necessidade mórbida de correr atrás do
desconhecido pelo desconhecido, do exótico pelo exótico?
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
Investir mais em conhecimento e educação, em formas criativas de comunicação e
projectos de verdadeira utilidade pública, poderá ser uma resposta adequada.
Uma resposta que passa necessariamente pela Escola, a todos os níveis. Sobretudo
porque dela saem os decisores políticos, os técnicos que aconselham, que preparam ou
aplicam leis e programas, aqueles que concebem os projectos turísticos, os que gerem
museus, os que exercem a mediação entre o património e os seus visitantes.
A todos compete assegurar que o património não se reduza a objectos e edifícios; aos
mediadores, em especial, compete ajudar a descobrir os valores nele contidos.
Muitas pessoas entendem que a interpretação do património (móvel ou imóvel) dá
dele uma visão sempre mais ou menos distorcida, mas todos sabemos quanto ajuda a
usufruir um monumento ou um sítio ou uma colecção, se deles tivermos uma informação
inteligente, motivadora.
Para tanto é indispensável que os mediadores juntem a uma boa técnica de
comunicação, a força da empatia e o exemplo contagiante de quem sabe questionar e
responder com paixão.
Esse é o sentido da belíssima frase de Julian Spalding, a propósito do papel mediador
da instituição museológica: “Hoje os museus são dinossauros; necessitam de evoluir para
pássaros” (Spalding, 2002: p. 63).
Bibliografia
Choay, F. (1992). L’allégorie du patrimoine. Paris: Ed. Seuil.
Couto, M. (1990). Cada homem é uma raça. Lisboa: Ed. Caminho.
Guillaume, M. (1980). La politique du patrimoine. Paris: Ed. Galilée. (Trad. port. A
política do património. Porto: Campo das Letras. 2003).
Lewis, R. W. B. (1955). The american adam. innocence, tradegy and tradition in the
nineteenth century. Chicago: University of Chicago Press.
Lowenthal, D. (1985). The past is a foreign country. Cambridge: University Press. (Reed.
1986, 1988, 1990, 1993, 1995).
Morris, W. (1978). Cause for wonder. Lincoln: University of Nebrasca Press.
Spalding, J. (2002). The poetic museum. Reviving historic collections. Munich/London/N.
York: Prestel Verlag.
Wash, K. (1992). The representation of the past. London/New York: Routledge.
15
Adília Alarcão • Sobre Património ainda não foi tudo dito?
Correspondência
Adília Alarcão
Rua do Castelo, 2
3230-085 Espinhal
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
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Sandra Carvão • Tendências do turismo internacional
N º t e m á t i c o - T u r i s m o e P a t r i m o n i o
Tendências do turismo internacional
Sandra Carvão
Organização Mindial do Turismo - OMT
Resumo
As perspectivas de futuro do turismo mundial, incluindo a sua contribuição para o desenvolvimento económico e social, são cada vez mais importantes. Existe um volume significativo de procura estimulada pelo aumento do rendimento disponível, das motivações para viajar, do crescimento exponencial dos mercados emergentes acompanhado pelo crescimento continuado dos mercados tradicionais, das mudanças demográficas, sociais e tecnológicas, da diversificação de destinos e da crescente liberalização do sector. O turismo internacional moveu em 2007 quase 900 milhões de turistas (733 mil milhões de dólares de receitas em 2006). As previsões a longo prazo publicadas pela Organização Mundial de Turismo (OMT) indicam que o número de turistas internacionais será de 1.6 mil milhões em 2020, o que implica uma taxa de crescimento anual da ordem dos 4%. A previsão indica que os destinos de África, Ásia e Médio Oriente crescerão a taxas superiores à média, enquanto que as previsões para os destinos mais maduros da Europa e da América são de crescimento menor que a média.
Palavras-chave
Turismo internacional, Chegadas de turistas internacionais, Receitas por turismo internacional, Tendências de turismo, Previsões de turismo
Abstract
The future prospects for international tourism, including its contribution to economic and social development, are becoming increasingly important. There is a significant volume of demand stimulated by increasing disposable income, change in travel motivations, the exponential growth of emerging markets accompanied by continued growth in traditional markets, demographic, social and technological changes, the diversification of destinations and the increasing liberalization of the sector. In 2007 there were 900 million international tourist arrivals (733 billion US dollars in international tourism receipts in 2006). The long-term forecast published by the World Tourism Organization (UNWTO) indicates that the number of international tourists will be 1.6 billion by 2020, implying an annual growth rate of around 4%. The forecast indicates that Africa, Asia and the Middle East will grow faster and above the average, while the more mature destinations in Europe and America will grow below the world average.
Key-Words
International tourism, International tourist arrivals, International tourism receipts, Tourism trends, Tourism forecast
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
As perspectivas de futuro do turismo mundial, incluindo a sua contribuição para
o desenvolvimento económico e social, são cada vez mais importantes. Existe um
volume significativo de procura estimulada pelo aumento do rendimento disponível,
das motivações para viajar, do crescimento exponencial dos mercados emergentes
acompanhado pelo crescimento continuado dos mercados tradicionais, das mudanças
demográficas, sociais e tecnológicas, da diversificação de destinos e da crescente
liberalização do sector.
Turismo internacional: conceitos e indicadores base
Chegadas de Turistas Internacionais, 2006
VFA, saúde, religiao e outros
27%N.Esp.
6%
Laser e férias51%
Profis- sionais
16%
Fonte: OMT, 2008
De acordo com o Sistema de Estatísticas de Turismo e as Recomendações Internacionais
para as Estatísticas de Turismo de 2008 o turismo define-se como “a actividade de pessoas
que viajam para e permanecem em locais fora do seu ambiente habitual de residência
por menos de um ano consecutivo por motivos de lazer, negócios ou outro” (ver http://
unstats.un.org/unsd/tradeserv/IRTS%202008%20edited%20whitecover.pdf e http://
www.unwto.org/statistics/sts/description/sts.pdf).
De acordo com esta definição é importante ressaltar que o turismo integra motivos
diversos como sejam o lazer e as férias, mas igualmente motivos como a visita a familiares
e amigos (VFA), motivos profissionais, motivos de saúde ou religião, entre outros. Ao
nível internacional, dos cerca de 900 milhões de chegadas de turistas internacionais que
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Sandra Carvão • Tendências do turismo internacional
se registam anualmente, apenas cerac de 50% tem como motivação de visita as férias e
o lazer, enquanto cerca de 16% viaja por motivos profissionais e 27% por razões de VFA
ou outras.
Evolução do turismo internacional: de 25 milhões a quase mil milhões de turistas
em 60 anos
O turismo internacional moveu em 2007 quase 900 milhões de turistas (733 mil
milhões de dólares de receitas em 2006). O turismo internacional é assim, um dos
principais sectores de exportação ao nível global, representando cerca de 30% das
exportações mundiais de serviços, alcançando mesmo percentagens superiores a 50%
em países onde o turismo tem um papel económico muito mais importante como sejam
as ilhas.
A maioria das chegadas de turistas internacionais verifica-se em destinos da Europa
(54%), da Ásia (21%) e da América (15%). E tal como acontece a nível de chegadas de
turistas internacionais, as receitas geradas pelo turismo internacional encontram-se
igualmente concentradas nos destinos da Europa (51%), da Ásia (20%) e da América
(21%), que apesar de representar 15% das chegadas de turistas gera ainda cerca de 21%
das receitas.
Distribuição Regional em 2007
América142 milhões
15%África
44 milhões5%
Médio Oriente 46 milhões
5%
Ásia / Pacifico 185 milhões
21%
Europa480 milhões
54%
Fonte: Organização Mundial de Turismo (OMT), Abril 2008
20
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Criação de Riqueza
Asia / Pacífico
20%
América21%
África3%
Médio Oriente
4%Europa
51%
Receitas de turismointernacional, 2006
733 mil milhões de doláres
2.4 mil milhões de doláres por dia
Fonte: Organização Mundial de Turismo (OMT), Abril 2008
É importante realçar que, ao falar de turismo internacional, falamos essencialmente
de turismo intra-regional já que a maioria dos turistas internacionais que se registam
nas regiões mais visitadas são na verdade resultado do forte mercado intra-regional.
Ou seja, a grande maioria das chegadas internacionais registadas na Europa, na Ásia
ou na América têm como origem mercados emissores da própria região. Este valor é
particularmente importante na Europa onde cerca de 87% das chegadas têm como
origem um mercado emissor europeu. Por outro lado, tanto África como o Médio Oriente
são significativamente mais dependentes de mercados emissores de fora da sua regiao
como o sejam o mercado europeu.
21
Sandra Carvão • Tendências do turismo internacional
Origem do turismo internacionalChegadas de turistas por região de origem, 2006
87
78
73
46
46
12
48
52
25
20
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Europa
Ásia/Pacífico
América
Médio Oriente
África
Da mesma região De outras regiões Não especificado
Fonte: Organização Mundial de Turismo (OMT), Abril 2008
O turismo é igualmente um dos sectores mais dinâmicos a nível mundial. Entre 1950
e 2007, o turismo internacional, medido em chegadas de turistas internacionais, cresceu
a um taxa de 6.5% ao ano, atingindo cerca de 900 milhões. Esta tendência de crescimento
foi acompanhada pelo aumento do peso dos destinos asiáticos e a perda de quota por
parte de destinos americanos, e em menor medida, dos destinos europeus.
22
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Chegadas de turistas internacionais por região de destino, 1950 - 2007*
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1,000
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2007
*
milh
ões
Médio Oriente
África
Asia e Pacífico
América
Europa
Milhões de turistas internacionais
+6.5% / ano
25 milhões
898 milhões
Fonte: Organização Mundial de Turismo (Abril, 2008)
Assim, a Europa passou de uma quota de 58% do total das chegadas de turistas
internacionais em 1995 para 54% em 2007, ao mesmo tempo que os destinos asiáticos
passam de uma quota de 15% a um total de 22% em 2007, retirando assim a segunda
posição como região mais visitada à América, cuja quota do mercado global desceu de
20% em 1995 para 16% em 2007. Neste mesmo período, verificou-se um aumento das
quotas de mercado, que são comparativamente muito menos significativas, de África e
do Médio Oriente.
Esta evolução demonstra como o mercado se tornou mais complexo e competitivo. Os
destinos competem hoje em dia a nível mundial. Exemplo desse aumento de competência
é o número de destinos que têm vindo a emergir no mercado global. Se, por exemplo,
em 1950, os cinco primeiros destinos do mundo em termos de turistas internacionais
recebiam cerca de 70% do total de turistas mundiais, em 2006 essa percentagem desceu
para apenas 33%, o que significa que cada vez mais destinos lutam, de forma, eficaz, pela
atenção dos turistas internacionais.
No entanto, cerca 50% das chegadas de turistas internacionais assim como das
receitas geradas por turismo internacional ainda se encontram concentradas em dez
destinos. Na lista do principais destinos dominam França, Espanha e EUA.
23
Sandra Carvão • Tendências do turismo internacional
Chegadas de turistas int., 2006
58.5
51.1
49.6
41.1
30.7
23.6
21.4
20.3
20.2
79.1
0 20 40 60 80
FrançaEspanha
EUAChina
ItáliaRU
AlemanhaMéxico
AustriaFed. Russa
milhões
Principais Destinos MundiaisReceitas por turismo int., 2005
8 5.7
51 .1
42 .9
3 8. 1
33 .9
33 .7
32 .8
17 .8
1 6.9
16 .7
0 20 40 60 80 100
EUA
Espanha
França
Itália
China
RU
A lemanha
Austrália
Turqu ia
Austria
mil milhões de doláres
50% 47%
Fonte: Organização Mundial de Turismo (Abril, 2008)
Mercados emissores
No que se refere aos mercados emissores, a lista é dominada pelos mercados
tradicionais da Alemanha, EUA, Reino Unido, França e Japão. Mas merece destaque
a posição da China, 6º principal mercado do mundo em termos de gasto turístico no
estrangeiro, com 24 mil milhões de dólares gerados em turismo internacional em 2006.
É igualmente importante mencionar o crescimento dos mercados emissores emergentes
da Rússia e da Republica da Coreia, que ocupam as posições 9ª e 10ª respectivamente na
lista dos principais mercados emissores em termos de gastos em turismo estrangeiro.
24
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Gastos em turismo internacional, 2006
72.0
63.1
32.2
26.9
24.3
20.5
18.8
18.2
19.1
74.8
0 20 40 60 80
AlemanhaEUA
RUFrançaJapão
ChinaItália
CanadáFed. Russa
Rep. da Corea
mil milhões de doláres
Principais Mercados Emissores
51%
Fonte: Organização Mundial de Turismo (Abril, 2008)
Igualmente importante no momento de analisar os mercados emissores é analisar
os destinos principais de visita dos turistas desse mercado. Este factor é especialmente
importante no caso do mercado chinês, que recentemente tem sido considerado como
um dos principais mercados emergentes a nível mundial. Se bem se trata de um mercado
com um significativo crescimento nos últimos dez anos (quer em número de viagens
ao estrangeiro, quer de gasto em turismo internacional), é importante ressaltar que a
maioria dos 35 milhões de viagens com origem no mercado chinês têm como destino as
regiões administrativas especiais chinesas de Macau e Hong Kong, as quais recebem 70%
do total de saídas do mercado chinês.
Perspectivas de longo prazo: as previsões da OMT para 2020
As previsões a longo prazo publicadas pela Organização Mundial de Turismo (OMT)
indicam que o número de turistas internacionais será de 1.6 mil milhões em 2020, o
que implica uma taxa de crescimento anual da ordem dos 4%. A previsão indica que
os destinos de África, Ásia e Médio Oriente crescerão a taxas superiores à média,
enquanto que as previsões para os destinos mais maduros da Europa e da América são de
crescimento menor que a média.
25
Sandra Carvão • Tendências do turismo internacional
0
200
400
600
800
1,000
1,200
1,400
1,600
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
milh
ões
Médio Oriente
África
Asia/Pacífico
América
Europa
Actual Previsões
898 mn
1 bn
1.6 bn
Chegadas de Turistas Internacionais, 1950-2020Situação Actual e Previsões Turismo Visão 2020
Fonte: Organização Mundial de Turismo (OMT), Abril 2008
No que se refere aos principais destinos mundiais, as previsões são de que a China
ocupe em 2020 o primeiro lugar como destino mais visitado do mundo, retirando essa
posição à França.
26
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Principais Destinos Mundiais, 2020….
1 China2 França3 EUA4 Espanha5 HK (China)6 RU7 Itália8 México9 Fed. Russa10 Rep. Checa
13010610274575452494844
7.82.33.52.67.12.13.43.66.84.0
País
Turistas(million)
Cresc.(%)
Fonte: Organização Mundial de Turismo (OMT), Abril 2008
Apesar destas previsões serem publicadas em finais de 90s (tendo como base de
previsão o ano 1995), o desenvolvimento posterior do turismo internacional prova que a
longo prazo esta previsão é ainda válida já que a periodos de menor crescimento, como o
verificado entre 2001 e 2003, seguem-se períodos de crescimento acima da média como
tem sido o caso da curva de crescimento entre os anos 2004 e 2007 (+4.4% ao ano).
27
Sandra Carvão • Tendências do turismo internacional
International Tourist Arrivals
0200400600800
1,0001,2001,4001,6001,800
1995 2000 2005 2010 2015 2020
milhõ
es
Prev isões Turismo Visão 2020Tendência Actual 1995-2007
1.0 mil m.
898 m.
1.6 mil m.
Tendência Actual vs. Previsões Turismo Visão 2020Mundo
536 m.
Fonte: Organização Mundial de Turismo (OMT), Abril 2008
No que se refere às previsões efectuadas para os destinos turísticos individuais
verifica-se, no entanto, que o desenvolvimento actual varia de forma mais significativa
face às previsões iniciais. De entre os pincipais destinos para 2020, destacam destinos
como Espanha, Itália, França, Rússia ou Hong Kong (China) que cresceram àté á data
por cima das previsões. Pelo contrário, destinos como os EUA, o México ou o Canadá
(estes dois últimos com grande dependência do mercado emissor dos EUA), apresentam
um crescimento muito menor que o previsto.
28
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Chegadas de Turistas Internacionais
7.8
3.52.6
2.1
3.4 3.6
6.8 7.1
3.6
8.6
1.5
4.8
2.63.2
0.5
7.3 7.2
0.7
2.3 2.5
0
2
4
6
8
10
12
China França EUA Espanha Itália RU México Fed.Russa
HK(China)
Canadá
Varia
ção
(%)
Previsões Turismo Visão 2020
Tendência Actual 1995-2006
Tendência Actual vs. Previsões Turismo Visão 2020Principais Destinos Mundiais
Fonte: Organização Mundial de Turismo (OMT), Julho 2008
Tendências globais com impacto no turismo internacional
- Economia: O crescimento económico é um dos factores que maior impacto tem no desenvolvimento do turismo internacional. Em geral, o crescimento das chegadas de turistas internacionais segue a tendência que se verifica ao nível do crescimento económico mundial (PIB). É por importante para seguir o desenvolvimento do turismo internacional, seguir de perto todos os indicadores económicos globais como o crescimento do PIB, as taxas de câmbio, as taxas de juro, ou a inflação.
- Demografia: No que se refere às tendências ao nível demográfico há que considerar três aspectos principais que devem ter-se em conta em termos de planeamento estratégico de marketing e desenvolvimento de produto:
O envelhecimento da população e o consequente aumento dos turistas sénior. Neste •
âmbito, é importante ter em conta que o actual segmento sénior não é, e não se comporta,
no entanto como os seniores da geração anterior;
A mudança na composição das famílias com o aumento do número de solteiros, de famílias •
monoparentais e de agregados familiares alargados com a incorporação de avós;
O aumento dos fluxos migratórios que tem levado a um aumento significativo do tráfego •
de turistas por motivos de visitas a familiares e amigos (esta tendência tem sido ainda
favorecida pela expansão das companhias low cost e consequente diminuição do custo
29
Sandra Carvão • Tendências do turismo internacional
do transporte aéreo).
- Tecnologia: O desenvolvimento tecnológico tem influenciado o sector do turismo de uma forma sem paralelo noutros sectores. A expansão das tecnologias da informação e comunicação (TICs) no sector trouxe uma nova dimensão ao mercado global das viagens. Permitiu ao cliente ter acesso a serviços que antes não tinha e como tal este paasou a ter maior domínio do processo de decisão e compra. As TICs estão hoje em todas as etapas do processo desde a procura de informação até à partilha das recordações de viagens, possível através do desenvolvimento da Web 2.0.
- Sustentabilidade: Existe uma crescente consciência ambiental que se reforçou ainda mais no seguimento dos debates sobre a mudança climática. Apesar de que, de momento, a maioria dos consumidores ainda não incorpora estas preocupações na sua decisão de compra, é um facto que entre duas ofertas muito semelhantes o factor sustentabilidade pode ser um valor acrescentado e determinar a competitividade do produto. Mais importante ainda é a crescente consciência de turistas, gestores de destinos e empresas no que se refere à incorporação de práticas de desenvolvimento sustentável na actividade turística.
- Segurança: O turismo tem sofrido nos últimos anos um número crescente de ameaças (terrorismo, ameaças sanitárias e desastres naturais), factores que levaram a um aumento da preocupação pela segurança e à implementação de medidas de segurança que contrariam de alguma forma a tendência anterior de uma crescente facilitação das viagens (não significa que esta não continue a existir como prova o caso do espaço Schegen e outros).
- Parcerias público-privado: Outra tendência com impacto directo no sector do turismo tem sido o aumento da cooperação público-privado em áreas como o desenvolvimento de produto, marketing, vendas e gestão de destinos.
- Mercados emergentes: O crescimento da economia mundial tem sido nos últimos anos resultado do forte desenvolvimento dos mercados emergentes como a Índia, a China e a Rússia. Este crescimento levou ao aumento da classe média com poder de compra e rendimento disponível para viajar, numa primeira fase dentro do seu país, numa segunda fase na sua região e posteriormente noutras regiões. Esta tendência é particularmente clara nos mercados emissores asiáticos.
- Transporte: A área do transporte, e em particular no que se refere ao transporte aéreo, mudou significativamente nos últimos anos o panorama do turismo internacional. A crescente liberalização do transporte aéreo e a expansão das companhias aéreas low cost levou a uma diminuição significativa do custo das
30
exedra • nº temático - Turismo • 2009
viagens aéreas, factor que impulsionou o aumento de short-breaks e alterou padrões de consumo.
- Consumidor: Todas as tendências anteriores mudaram o comportamento do consumidor que é hoje em dia ‘hiper-informado’ e sabe o que quer e como o pode obter da melhor forma.
De um mercado de produtores a um mercado de consumidores Maduro e experiente que sabe o que quer e o que pode conseguir Busca flexibilidade e conveniência Menos fiel
Um novo consumidor
Tendências de consumo turístico: novos produtos, novos destinos, novas técnicas
de marketing, novo consumidor...
O mercado turístico está em constante mudança. Várias tendências podem ser
identificadas. De entre elas destacam-se:
o aumento das comunidades: comunidades de interesses, de actividades e comunidades •
online;
o crescente nível de especialização quer da procura, quer consequentemente da oferta;•
a procura do bem estar, quer físico com o desenvolvimento da procura/oferta de productos •
wellness, quer psicológico, de que se são exemplo os retiros de yoga;
a procura da complementaridade que se verifica em todas as opções de viagens (e.g. férias •
de praias complementadas com actividades de natureza, etc);
o aumento das viagens “tailor-made” facilitadas pelo conhecimento do consumidor •
e a facilidade dada por Internet de comprar serviços diversos e compor o próprio
31
Sandra Carvão • Tendências do turismo internacional
“package”;
a procura do autêntico e a recusa do artificial levam ao desenvolvimento de destinos •
novos e produtos em que o consumidor pode ter acesso a produtos autênticos da cultura
local como o sejam a gastronomia;
o novo luxo: o conceito de luxo tem vindo a mudar. Luxo mais que uma limusina, um •
hotel de 5* e um restaurante sofisticado é o acesso a algo que é único e exclusivo;
o melhor de dois mundos, em que se combina por exemplo um safari em África com a •
melhor oferta de alojamento;
conhecimento: tal como há uma procura crescente por uma experiência autêntica do/s •
destino/s, existe igualmente uma procura crescente de experiências que representem
para o turistas uma possibilidade e aumentar e expandir os seus conhecimentos;
em suma, o consumidor já não procura um produto, mas sim uma expêriencia em todas •
as suas componentes (visão holística).
Bibliografia
Organização Mundial de Turismo, UNWTO. Tourism highlights 2007. Madrid: OMT,
http://unwto.org/facts/menu.html.
Organização Mundial de Turismo, UNWTO. World tourism barometer. Madrid: OMT,
http://unwto.org/facts/menu.html
(números anteriores disponíveis online).
Organização Mundial de Turismo. Tourism market trends, world overview and topics, 2006
Ed. Madrid: OMT.
Organização Mundial de Turismo. Tourism 2020 vision. Madrid: OMT.
Organização Mundial de Turismo. Tourism 2020 vision, Europe. Madrid: OMT.
Correspondência
Sandra Carvão
Capitan Haya, 42
28020 Madrid
32
exedra • nº temático - Turismo • 2009
33
Vítor Ambrósio • Turismo religioso – construção de itinerários
N º t e m á t i c o - T u r i s m o e P a t r i m o n i o
Turismo religioso – construção de itinerários
Vítor Ambrósio
Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril
Resumo
O artigo explora um itinerário turístico para um grupo de peregrinos estrangeiros em território nacional, servindo de base para a compreensão e reflexão sobre a necessária articulação entre os itinerários turísticos e as especificidades de certos grupos de turistas.
No itinerário/programa relevam-se: as técnicas necessárias para a construção de um itinerário turístico; a identificação e a selecção dos prestadores de serviços; a orçamentação dos serviços que compõem um pacote turístico.
Palavras-chave
Turismo religioso, Programa/itinerário
Abstract
The article explores a tourist itinerary in Portugal for a group of foreign pilgrims. The proposed itinerary is the basis for understanding and reflecting on the close interrelationship between the tourist routes and the characteristics of specific tourist segments.
The proposed itinerary/program covers: the techniques needed for designing a tourist itinerary; the identification and selection of service providers; the budgeting of services comprised in the package.
Key-words
Religious tourism, Program/itinerary
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
Introdução e metodologia
O itinerário turístico/programa a propor tem como pressuposto o pedido de um
operador turístico germânico a uma agência de viagens nacional de incoming.
A resposta ao solicitado deve ter em conta as especificidades do grupo, as suas
necessidades, durante a estada em Portugal, e o orçamento/preço final a ser apresentado
em pax1/DBL e em pax/SGL.
No que respeita às informações fornecidas (por parte do operador alemão), sabe-se
que se trata de um grupo fechado constituído por 33 católicos (os participantes conhecem-
se mutuamente), liderados pelo padre da sua paróquia. Chegarão ao aeroporto de Lisboa,
no dia 07 de Outubro de 2009, no voo TP553, proveniente de Munique (Alemanha), às
08H25, e partirão do mesmo aeroporto, no dia 13 de Outubro de 2009, no voo TP552,
com destino a Munique (Alemanha), às 19H05.
Pretendem: ser acompanhados por um guia-intérprete nacional, desde a chegada até
à partida; ter o mesmo autocarro e motorista durante todo o programa; ficar alojados
02 noites em Lisboa e 04 em Fátima, em hotéis de 3 estrelas, contemplando 10 duplos/
twins (TWN), 04 duplos/doubles (DBL) e 05 individuais/singles (SGL); viajar em regime
de pensão completa/full board (FB); conhecer o património natural e construído, nas
áreas de abrangência de Lisboa e Fátima, considerando no preço final os ingressos dos
locais a visitar; prever a reserva de espaços/igrejas para celebrar, diariamente, o serviço
religioso (de preferência em templos com um significado espiritual específico); recitar o
terço todos os dias (contabilizar cerca de meia hora e, quando possível, aproveitando as
viagens em autocarro); participar nas cerimónias de 12/13 de Outubro.
Tendo por base os itens acima listados, construiu-se um itinerário que observasse
tanto as exigências dos clientes como os aspectos técnicos inerentes a este tipo de
viagens, como seja um comfort stop, no mínimo, de duas em duas horas.
Cada dia de itinerário/programa é apresentado com a descriminação do horário,
respeitando os cálculos necessários para estabelecer os tempos de trajecto em autocarro,
deslocações a pé, visitas de monumentos, almoços, entre outros.
35
Vítor Ambrósio • Turismo religioso – construção de itinerários
Descrição diária do itinerário/programa para um grupo organizado de peregrinos
estrangeiros
1.º Dia (quarta-feira) – Cristo-Rei e Lisboa Ocidental (Belém)
08H25/09H25 – Chegada ao Aeroporto da Portela do Voo TP553 (Munique/Lisboa) e formalidades de Desembarque.09H25/10H00 – Trajecto Aeroporto/Hotel Roma.10H00/10H30 – Check-in no Hotel Roma.10H30/11H00 – Trajecto Hotel Roma/Cristo-Rei.11H00/12H00 – Paragem no Cristo-Rei (vista panorâmica) e Celebração Religiosa.
Cristo-Rei (Lisboa)
12H00/12H30 – Trajecto Cristo-Rei/ Belém – Restaurante Caseiro.12H30/14H00 – Almoço.14H00/14H15 – Trajecto Restaurante/Torre de Belém.14H15/14H30 – Paragem na Torre de Belém.14H30/14H35 – Trajecto Torre de Belém/Padrão dos Descobrimentos.14H35/14H50 – Paragem no Padrão dos Descobrimentos.
Torre de Belém (Lisboa) Padrão dos Descobrimentos
(Lisboa)
14H50/15H00 – Deslocação até ao Mosteiro dos Jerónimos.15H00/15H45 – Visita da Igreja e Claustros do Mosteiro dos Jerónimos.15H45/16H00 – Deslocação até ao Museu dos Coches.16H00/16H30 – Visita do Museu dos Coches.16H30/16H45 – Deslocação até aos Pastéis de Belém.
Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa)
36
exedra • nº temático - Turismo • 2009
16H45/17H30 – Comfort Stop nos Pastéis de Belém (com reserva de mesas).
Pastéis de Belém (Lisboa)
17H30/18H00 – Trajecto Belém/Hotel.19H30/20H00 – Recitação do Terço (em sala reservada no hotel para o efeito).20H00 - Jantar no Hotel.
Hotel Roma (Lisboa)
2.º Dia (quinta-feira) – Lisboa Oriental e Sintra/Cabo da Roca/Cascais
08H30/09H00 - Panorâmica de Lisboa (Av. da Liberdade/Rossio/Praça do Comércio/Largo do Chafariz de Dentro).09H00/09H20 – Visita de Alfama (subindo em direcção ao Castelo).09H20/09H30 – Paragem no Miradouro das Portas do Sol.
Alfama (Lisboa)
37
Vítor Ambrósio • Turismo religioso – construção de itinerários
09H30/09H45 – Deslocação até ao Castelo de São Jorge.09H45/10H30 – Visita do Castelo de São Jorge e Comfort Stop.
Vista do Castelo de São Jorge (Lisboa)
10H30/10H45 – Deslocação até à Sé de Lisboa.10H45/11H10 – Visita da Sé de Lisboa (com destaque para a Capela Baptismal onde se crê que terá sido baptizado Santo António).
Sé (Lisboa)
11H10/11H15 – Deslocação até à Igreja de Santo António.11H15/12H15 – Visita da Igreja, da Cripta (lugar de nascimento do Santo) e Celebração Religiosa.
Igreja Santo António(Lisboa)
12H15/12H30 – Deslocação até o Restaurante Leão d’Ouro, ao Rossio (atravessando a Baixa Pombalina).12H30/14H00 – Almoço.14H00/14H45 – Trajecto Rossio/Sintra.
Rossio (Lisboa)
38
exedra • nº temático - Turismo • 2009
14H45/15H45 – Visita do Palácio da Vila e Comfort Stop (possibilidade para provar a doçaria típica: queijadas e travesseiros).
Palácio da Vila (Sintra)
15H45/16H25 – Trajecto Sintra/Cabo da Roca.16H25/16H45 – Paragem no Cabo da Roca (oportunidade para obter o Diploma que certifica ter estado no ponto mais ocidental da Europa Continental).
Cabo da Roca (Sintra)
16H45/17H15 – Trajecto Cabo da Roca /Cascais (com passagem pelo Guincho).17H15/17H30 – Paragem para fotos junto à Cidadela.17H30/18H30 – Cascais/Hotel (via Av. Marginal).
Vista da Cidadela (Cascais)
19H30/20H00 – Recitação do Terço (em sala reservada no hotel para o efeito).20H00 – Partida para Nocturna de Fados.20H00/20H30 – Panorâmica de Lisboa à Noite e trajecto até ao Bairro Alto (Largo Trindade Coelho).
Praça do Comércio (Lisboa)
39
Vítor Ambrósio • Turismo religioso – construção de itinerários
20H30/20H45 – Deslocação até à Casa de Fados Adega Machado.20H45/23H15 – Jantar com animação de Fados e Folclore.23H15/23H30 - Deslocação da Casa de Fados Adega Machado até ao Largo Trindade Coelho.23H30/24H00 – Trajecto Bairro Alto/Hotel.
Noite de Fados (Lisboa)
3.º Dia (sexta-feira) - Óbidos, Santarém, Tomar e Fátima
08H30/09H30 – Trajecto Lisboa/Óbidos.09H30/10H30 – Visita de orientação e tempo livre em Óbidos.
Vila de Óbidos (Óbidos)
10H30/11H15 – Trajecto Óbidos/Santarém.11H15/11H30 – Deslocação até à Igreja de Santo Estêvão (Santíssimo Milagre).11H30/12H30 – Visita e Celebração Religiosa.12H30/12H45 – Deslocação até ao Restaurante Taberna do Quinzena.12H45/14H15 – Almoço.14H15/15H30 – Passeio em Santarém (incluindo a visita das Portas do Sol, Igreja da Graça, Igreja de Marvila, a passagem pela Torre das Cabaças, Igreja de São João de Alporão, Sé e Mercado Municipal).
Igreja Santíssimo Milagre (Santarém)
Vista das Portas do Sol (Santarém)
40
exedra • nº temático - Turismo • 2009
15H30/16H30 – Trajecto Santarém/Tomar.16H30/17H45 – Visita do Convento de Cristo e Comfort Stop.
Convento de Cristo (Tomar)
17H45/18H30 – Trajecto Tomar/Fátima - Cova da Iria (com recitação do terço).18H30/18H45 – Paragem no topo da esplanada do Santuário (explicação sucinta sobre o significado e localização dos recursos com significado religioso).
Santuário de Fátima (Fátima/Ourém)
18H45/19H00 – Deslocação até ao Hotel.19H00/19H15 – Check-in no Hotel Cinquentenário.19H45/21H00 – Jantar no Hotel.21H30/22H30 – Rosário e Procissão das Velas.
Hotel Cinquentenário (Fátima/Ourém)
4.º Dia (sábado) - Fátima
08H30/10H30 – Via-Sacra (em oração), incluindo paragem nas XV Estações, na Capela de Santo Estêvão, nos Valinhos e na Loca do Anjo.
Valinhos (Fátima/Ourém)
41
Vítor Ambrósio • Turismo religioso – construção de itinerários
10H30/11H00 – Deslocação dos Valinhos até Aljustrel (localidade onde viveram os pastorinhos) e Comfort Stop.11H00/12H00 – Visita da Casa de Francisco e Jacinta Marto, da Casa de Lúcia dos Santos e do Poço do Arneiro.
Poço do Arneiro (Fátima/Ourém)
12H00/12H15 – Trajecto Aljustrel/Fátima (a velha).12H15/12H45 – Visita da Igreja Paroquial e do Cemitério (onde estiveram sepultados Francisco e Jacinta). 12H45/13H00 – Trajecto Fátima/Cova da Iria.13H00/14H30 – Almoço no Hotel.15H00/16H00 – Missa na Capelinha das Aparições.
Igreja Paroquial (Fátima/Ourém)
Capelinha das Aparições (Fátima/Ourém)
16H00/18H30 – Tempo Livre (possibilidade de comprar e benzer objectos religiosos). 18H30 - Rosário na Capelinha das Aparições.19H45/21H00 – Jantar no Hotel.21H30/22H30 – Rosário e Procissão das Velas.
Pagamento de Promessas (Fátima/Ourém)
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
5.º Dia (domingo) – Coimbra
08H00/09H15 – Trajecto Fátima/Coimbra.09H15/10H15 – Visita e Celebração Religiosa na Igreja do Carmelo de Santa Teresa (última morada da Irmã Lúcia).10H15/10H30 – Trajecto Carmelo/Universidade.
Igreja do Carmelo (Coimbra)
10H30/11H45 – Comfort Stop e Visita da Universidade (Biblioteca, Capela de São Miguel e Sala dos Capelos).11H45/12H00 – Deslocação até à Sé Velha.
Universidade (Coimbra)
12H00/12H20 – Visita da Sé Velha.12H20/12H45 – Deslocação até ao Restaurante Dom Pedro.12H45/14H15 – Almoço. 14H15/14H30 – Deslocação até à Igreja de Santa Cruz.14H30/15H00 – Visita da Igreja e Claustros de Santa Cruz.
Sé Velha (Coimbra) Igreja Santa Cruz
(Coimbra)
15H00/15H30 – Trajecto Igreja de Santa Cruz/Igreja de Santo António dos Olivais (local onde o Santo terá vivido como eremita).15H30/16H00 – Visita da Igreja de Santo António dos Olivais.16H00/16H15 – Trajecto Santo António dos Olivais/Igreja de Santa Clara-a-Nova.
Igreja Santo António dos Olivais (Coimbra)
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Vítor Ambrósio • Turismo religioso – construção de itinerários
16H15/17H00 - Visita da Igreja de Santa Clara-a-Nova (destaque para a urna que contém o corpo da Rainha Santa Isabel) e Comfort Stop.17H00/18H15 - Trajecto Coimbra/Fátima (com recitação do terço).19H45/21H00 – Jantar no Hotel.21H30 – Procissão das Velas e do Santíssimo (às quintas).
Igreja Santa Clara-a-Nova (Coimbra)
6.º Dia (segunda-feira) - Alcobaça, Nazaré e Batalha
09H00/09H30 – Trajecto Fátima/Batalha.09H30/10H30 – Visita do Mosteiro da Batalha e Comfort Stop.10H30/11H15 – Trajecto Batalha/Nazaré (Sítio).
Mosteiro da Batalha (Batalha)
11H15/12H00 – Visita e Celebração Religiosa na Igreja da Nossa Senhora da Nazaré.12H00/12H20 – Visita da Ermida da Nossa Senhora da Nazaré e tempo livre para fotos.12H20/12H45 – Deslocação/Trajecto no Ascensor até à Praia.12H45/14H45 – Almoço no Restaurante São Miguel e tempo livre.
Vista do Sítio (Nazaré)
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
14H45/15H15 – Trajecto Nazaré/Alcobaça.15H15/16H15 – Visita do Mosteiro de Alcobaça e Comfort Stop.
Mosteiro de Alcobaça (Alcobaça)
16H15/17H15 – Trajecto Alcobaça/Fátima (com recitação do terço).19H45/21H00 – Jantar no Hotel.Celebrações nocturnas de 12/13 de Outubro.
Celebrações Nocturnas (Fátima/Ourém)
7.º Dia (terça-feira) - Cerimónias de 13 de Outubro
Cerimónias de 13 de Outubro (Fátima/Ourém) Cerimónias de 13 de Outubro (Fátima/Ourém)
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Vítor Ambrósio • Turismo religioso – construção de itinerários
Cerimónias de 13 de Outubro (Fátima/Ourém)
Toda a Manhã - Celebrações de 13 de Outubro.13H30/15H00 - Almoço no Hotel.15H30/16H45 – Trajecto Fátima/Aeroporto da Portela.16H45/17H30 – Check-in no Voo TP552 (Lisboa /Munique).19H05 – Partida do Voo TP552.Fim dos Serviços.
Cerimónias de 13 de Outubro (Fátima/Ourém)
Cerimónias de 13 de Outubro (Fátima/Ourém)
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
Propostas de orçamentação
O itinerário turístico/programa proposto respeita integralmente o pedido feito pelo
operador alemão, nomeadamente, ao nível do alojamento (duas pernoitas em Lisboa
e quatro em Fátima, em hotéis de 3 estrelas), viajar em regime de pensão completa/
full board (FB), conhecer o património natural e construído, nas áreas de abrangência
de Lisboa e Fátima, a reserva de espaços/igrejas para celebrar, diariamente, o serviço
religioso (de preferência em templos com um significado espiritual específico), recitar o
terço todos os dias (contabilizar cerca de meia hora e, quando possível, aproveitando as
viagens em autocarro), participar nas cerimónias de 12/13 de Outubro.
No que respeita ao orçamento, a apresentar ao agente alemão, deverão contemplar-
se todas as prestações de serviços, desde o momento em que o grupo chega a Portugal,
até ao momento em que deixa o país, uma vez que as reservas das passagens aéreas serão
feitas pelo operador alemão.
Retomando o programa, tem de se equacionar a lista dos prestadores de serviços, a
contactar, e anotar os respectivos honorários/pagamentos a efectuar pela obtenção dos
serviços requeridos.
No pacote em questão tem de se somar: o preço do autocarro (incluindo neste as
portagens e as despesas do motorista); os honorários do guia e respectivas despesas;
as refeições nos diferentes restaurantes; os ingressos nos monumentos. O resultado,
atrás obtido, é dividido pelo número de participantes, no caso apresentado, trinta e três,
adicionando-se, diferenciadamente, o preço dos hotéis/por pax – ou seja, tendo em conta
se o alojamento é em SGL (preço unitário), ou em DPL/TWN (preço a ser dividido por
duas pessoas).
Já sabendo qual o preço por pax em DPL e em SGL, acrescenta-se a comissão da
agência nacional e envia-se o orçamento ao operador alemão.
No caso de este sugerir hipóteses para a redução do preço final, a solução mais
indicada é propor que os programas do segundo, quinto e sexto dia sejam vendidos como
excursões independentes/opcionais. Assim sendo, estipulava-se um preço de base para
o programa do primeiro, terceiro, quarto e sétimo dia, podendo o cliente completar o
pacote consoante os seus interesses e disponibilidade financeira.
Discussão/sumário
A partir da exposição feita e considerando a construção de itinerários/programas,
por parte de agentes de viagens, pode afirmar-se que estes operacionais têm de possuir
os instrumentos e conhecimentos necessários que lhes permitam a conceptualização de
47
Vítor Ambrósio • Turismo religioso – construção de itinerários
diferentes tipos de itinerários, indo de encontro aos desejos expressos pelos clientes.
Neste processo é indispensável privilegiar os aspectos relacionados com a análise
crítica dos itinerários existentes no mercado, de forma a apresentar propostas com valor
acrescido.
No que respeita aos desafios da concorrência, é imprescindível apresentar orçamentos
competitivos, devendo estes salvaguardar o correcto levantamento e selecção dos
prestadores de serviços, privilegiando-se, sempre que possível, a qualidade.
Bibliografia
Imagens
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Notas1 Designação de pessoa no âmbito do mercado turístico.
50
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Correspondência
Vítor Ambrósio
Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril
Av. Condes de Barcelona 2769-510 Estoril
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Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
N º t e m á t i c o - T u r i s m o e P a t r i m o n i o
Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável. Parques temáticos vs parques patrimoniais
Nuno Martins
Escola Superior Artística do Porto (ESAP)APD-PPM, Associação de Projecto e Desenvolvimento do Parque Patrimonial do Mondego. Cláudia Costa
APD-PPM, Associação de Projecto e Desenvolvimento do Parque Patrimonial do Mondego. Gabinete de investigação em Geografia da Saúde, Departamento de Geografia - Universidade de Coimbra
Resumo
O artigo foca algumas diferenças entre os conhecidos Parques Temáticos e os chamados Patrimoniais, estabelecendo critérios que facilitem a compreensão da dicotomia em jogo. A discussão terá como marco de referência os novos paradigmas - económicos, sociais e ambientais– bem como a experiência, em curso, de concepção de um parque patrimonial (PP) em Portugal. Como conclusão, reinvindicam-se os PP’s como instrumentos de projecto e gestão do território adequados a um desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave
Parques temáticos, Parques patrimoniais, Industrias do entretenimento, Património cultural, Paisagens culturais, Turismo cultural
Abstract
The aim of the research is to clarify the differences between well known theme parks and so-called heritage parks, by establishing criteria to understand the dichotomy. The discussion will take place in a framework of new social, economical as well as the environmental paradigms and will have as reference the own experience, in progress, of the conception of one heritage park. As main conclusions we can confirm that heritage parks are appropriate instruments for sustainable development and landscape management.Keywords
Key-Words
Theme parks, Heritage parks, Entertainment industries, Cultural heritage, Cultural landscapes, Cultural tourism
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
1. Introdução
Habituada a lucros astronómicos, à medida que afloraram os primeiros sinais
de saturação do mercado, a indústria do entretenimento, dominada pelas grandes
corporações, começou a dar sinais de mudança nas estratégias adoptada para os
chamados parques temáticos.
De facto, durante largo período, sobretudo a partir da década de cinquenta os parques
temáticos tornaram-se um produto sem rival no mercado do lazer, espécie de fonte
inesgotável de lucros. Os anos noventa haveriam de trazer, contudo, uma aparentemente
imprevista perda de público e consequente quebra acentuada de receitas, a qual chegou
a colocar em causa a viabilidade económico-financeira de parques emblemáticos, como
os da Disney. O caso talvez mais mediático, foi o da Eurodisney-Paris, envolvido em
processos de despedimento em larga escala e para o qual chegou mesmo a equacionar-se
o encerramento definitivo.
Face a este cenário ameaçador as majors não tardaram em reagir, abrindo novos
parques com temas novos, ou reformulando os antigos, procurando, sem prejuízo da
tónica colocada no divertimento, aproximar ambos das culturas locais e dos respectivos
valores patrimoniais das comunidades onde se inserem. Esta inflexão táctica parece estar
a dar os resultados esperados, tendo permitido relançar os parques de primeira geração e
a afirmar, mais ou menos rapidamente, novos parques.
Malgrado o êxito financeiro alcançado, cabe dizer, do ponto de vista sociocultural, que
este habilidoso piscar de olhos ao património não consegue ocultar a assimetria latente
entre parques temáticos e os chamados parques patrimoniais, estes sim firmemente
vinculados aos recursos patrimoniais locais.
Constata-se com demasiada frequência que aos olhos dos cidadãos (local ou turista,
nacional ou estrangeiro, estudantes e até mesmo professores) parques temáticos e parques
patrimoniais tendem a confundir-se, como se se tratassem do mesmo tipo de espaços
de ócio. Talvez esta confusão se deva às semelhanças de nomenclatura e à inexistência
de regimes jurídicos próprios. Importa, portanto, clarificar esta diferença entre um e
outro tipo de parque, estabelecendo critérios que de futuro facilitem o discernimento
da dicotomia que, defendemos, estar aqui em jogo. Procurando abrir caminho nesta
abordagem comparativa, pesquisam-se, dentro do quadro europeu, padrões de
distribuição geográfica de ambos tipos de parques, ao mesmo tempo que se assinalam
os diferentes impactos associados, sobretudo os impactos ambientais e socioculturais
adversos.
Adicionalmente, colocam-se um conjunto de questões às quais se pretenderá dar
resposta neste artigo: os parques temáticos e os parques patrimoniais apresentam-se
53
Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
com os mesmos critérios de sustentabilidade? Há um preço a pagar pelo êxito económico
dos parques temáticos? Os parques patrimoniais apresentam-se como alternativas
sustentáveis de revalorização ambiental e revitalização socioeconómica das paisagens
culturais?
Enunciados os objectivos e temas que irão ser discutidos na presente investigação,
resta acrescentar que esta discussão se fará à luz dos novos paradigmas – económicos,
sociais, ambientais e institucionais e que terá como referência a experiência prática,
própria, e em curso, da concepção e promoção de um parque patrimonial fluvial na
região centro de Portugal.
Como conclusão, reivindicam-se, em detrimento dos parques temáticos, os parques
patrimoniais como instrumentos de projecto e gestão do território adequados ao
desenvolvimento sustentável. Esta opção reveste-se de particular importância quando se
trata de intervir em territórios com determinadas especificidades: forte interioridade e
grande afastamento de áreas metropolitanas; presença notável de valores patrimoniais;
paisagens dotadas de grande valor cénico ou de conjuntos de vestígios históricos
relacionados com antigas actividades laborais; áreas que apresentam acentuado declínio
social e económico e onde coexistam áreas de mais forte sensibilidade ambiental; e,
sobretudo, aqueles territórios onde todos estes rasgos acima enunciados coincidam e se
acumulem. Estes territórios, ou paisagens culturais, apresentam-se como especialmente
vocacionados para a implementação de parques patrimoniais.
2. Dois tipos de parques; definição e conceitos
2.1. Parques temáticos
Ainda que os primeiros exemplos datem do fim do século do XIX, e se situem nos
Estados Unidos, é comum ler-se que o primeiro parque temático propriamente dito
abriu ao público na Califórnia, em 1955 e foi mesmo o paradigmático Disneyland. Desde
então, a indústria dos parques temáticos tem tido um crescimento exponencial tanto nos
EUA como em todo o mundo, tanto em número de novos parques como no número de
visitantes (Clavé, 1999).
Os parques temáticos são empreendimento de grande escala que utilizam temas
diversos, ancorados no imaginário colectivo, adoptando como estratégia de mercado
o estímulo da actividade turística. Por norma estes parques são concebidos com
base num conceito que conjuga a fantasia e a ilusão de um novo mundo. Observa-se
também que estes parques apostam numa forte identidade corporativa e implantam-se
em áreas extensas e bem delimitadas, na qual “a realidade deve parecer um sonho e o
sonho realidade” (Dybedal & Engebretsen, 1996; Zuchi & Barleto, 2002). Assim, a partir
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
de uma temática singular, os parques temáticos convidam o visitante a uma fuga da
rotina através de uma viagem virtual a um mundo imaginário ou a um cenário histórico
cuidadosamente recriado, sempre a pensar nas crianças, o seu principal público -alvo.
A implementação de um parque temático começa, porém, na caracterização social,
económica, urbanística e comercial, da cidade e região onde pretende construir-se já
que uma boa localização é um factor crítico (Clavé, 1999). Segue-se, como em qualquer
investimento, a análise da viabilidade económico-financeira e jurídica do projecto e,
posteriormente, a compra de equipamentos, funcionalmente sofisticados e fazendo uso
de tecnologia de ponta; quase sempre importados, (Zuchi & Barleto, 2002).
Tendo em conta o enorme fluxo de visitantes que suscitam, os parques temáticos
exigem serviços e infra-estruturas, contribuindo deste modo para o incremento das
vias de circulação e infra-estruturação do espaço público na sua envolvente, como
contrapartidas para o licenciamento.
Diversos são os factores a ter em consideração na hora de decidir a instalação de um
parque temático (Luque, 2004). Como já se referiu, a localização é determinante. Como
o número de visitantes de um parque temático é necessariamente muito elevado, devido
à escala do investimento, costumam ser implantados em áreas periféricas de grandes
cidades e dentro de áreas metropolitanas. Prevê-se que o turista viaje no máximo duas
horas para se deslocar até o parque (Clávé, 1999) e tem-se em consideração o facto de os
visitantes, na sua maioria, deslocarem-se a estes parques em pequenos grupos (em média,
quatro ou cinco pessoas), em que metade são crianças. De facto, a principal motivação é a
possibilidade de oferecer novas experiências às crianças, sendo que muitos apenas visitam
um parque por ano mas visitam o mesmo parque várias vezes. Além disso, a maioria dos
visitantes que estão em viagem, pernoitam num estabelecimento do município e visitam
outras atracções que fiquem próximas do parque (Dybedal & Engebretsen, 1996).
Os parques temáticos são assim empreendimentos de animação turística inspirados
em algo histórico, cultural, etnográfico, lúdico ou ambiental, característico ou não do
local em que se insere, que ampliam a oferta ao nível do lazer, nas suas funções de
recreação, divertimento e pedagogia, de uma região. De facto, num estudo realizado
na Noruega, verificou-se que o aspecto da aprendizagem é cada vez mais considerado
pelos visitantes na escolha por estes locais (Dybedal & Engebretsen, 1996). Este tipo de
parques está também muito ligado ao conceito de “locais de consumo”. Por exemplo,
Finn e Erdem (1995) analisaram o desenvolvimento de “mega-centros comerciais”, como
atracções turísticas e a combinação do conceito de “ir às compras” com o de parques
temáticos, como um factor importante no desenvolvimento do turismo urbano.
Podemos agrupar os vários parques temáticos de acordo com os temas em torno dos
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Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
quais se baseia a sua criação e organização: de carácter histórico (Camelot, Inglaterra),
baseados em personagens míticos ou de fantasia (Asterix, França), de carácter natural
(SeaWold, EUA), concentrados nos multimédia e nas novas tecnologias (Futuroscope,
França), baseados na geografia e civilizações passadas (Port Aventura, Espanha), baseados
na indústria cinematográfica (Universal Studios e Diysney, EUA), associados a um produto
particular (Opel Livre, Alemanha) ou baseados no desporto (Parc del Barça, Espanha).
2.2. Parques patrimoniais
O conceito nasce quase em simultâneo na Europa, com a recuperação da cidade da
indústria do algodão de New Lanark e nos Estados Unidos, com a criação do do Parque
Nacional do Carvão, ambos datados de 1972. Mas foi sobretudo na América com a
seguinte renovação da Company Town de Lowell, ainda nos anos setenta, que a recuperação
das chamadas áreas patrimonais (assim declaradas pelo Congresso Americano) ganha
expressão graças às políticas oficiais da administração e à entrada em vigor de legislação
protectora (Frencham, 2005). A operacionalização destas políticas ficou desde muito cedo
entregue ao National Park Service (NPS) – agência federal criada em 1916 - que haveria
de promover e gerir centenas de parques, sobretudo ao longo dos anos oitenta e noventa,
a maior parte deles tematicamente relacionados com a história da América (Frencham,
2005). Através da reconstituição da narrativa de como se ergueu a nação americana,
num trabalho em que se aliam estudos científicos, preservação natural e patrimonial
e intuitos lúdicos, pedagógicos e turísticos, o NPS vem impulsionando a recuperação
social e económica de áreas em perda ou em risco, de Company Towns, as infraestrutruras
do caminho-de-ferro desactivadas, de sítios arqueológicos a reservas naturais.
Por seu lado, na Europa, nos anos setenta assiste-se a um crescente interesse por
recuperar e patrimonializar estruturas físicas abandonadas ou em decadência ligadas a
actividades laborais. Foram os casos da pesca na Escandinávia, ou das minas como em
França, tomando-se em ambos a designação de ecomuseus (Rivière, 1976).
Conotável com o movimento ideológico da nova museologia (Unesco, 1973) este
novo conceito supera o de espaço expositivo de tradição neo-clássica e traduz a ideia
de um museu voltado para a comunidade. Em harmonia com os ecossistemas naturais e
humanos em que se insere, o ecomuseu pode desdobrar-se em vários pólos, espalhados
pelo próprio cenário histórico, cenário que se pretende musealizar de modo interactivo.
Para os efeitos da nossa argumentação, áreas patrimoniais ou ecomuseus adquirem
um significado semelhante: o de revalorização e revitalização de paisagens culturais,
urbanas ou rurais; o de repensar o território tomando como eixo do projecto os recursos
patrimoniais. Um dos aspectos mais inovadores constitui a visão holística, compreensiva,
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
do conceito de património, que passa a englobar tantos os valores materiais como
imateriais, incluindo, neste último campo, as tradições orais, bem como aspectos do
quotidiano, os velhos ofícios, a memória colectivas, as lendas e os mitos...
Após estudar mais de cinquenta operações de reabilitação patrimonial de escala
territorial, tanto nos EUA como na Europa, um grupo de investigação resultante de
uma parceria entre o Massashussets Institute of Technology e a Universidad Politecnica de
Catalunya, optou por agrupá-las, renomeando-as agora de parques patrimoniais, conceito
mais abrangente que permite sintetizar a ideia de uma área tratada com um “planeamento
de base patrimonial” (Sabaté, 2004, Frenchman, 2005; Shuster, 2004; Bustamonte, 2004;
Casas, 2004; Lista, 2004). Desta investigação resultou um conjunto de conclusões que
marcam as conquistas alcançadas pelos parques patrimoniais e que lhes indiciam um
futuro promissor enquanto instrumentos de projecto e gestão territorial caldeados com
princípios de um desenvolvimento sustentável. Destas conclusões, ou lições, que é como
alguns dos seus autores lhes chamam, importa aqui reter aquelas que apoiam a tese da
adequabilidade da figura de parque patrimonial para dar resposta à demanda de muitas
das nossas comunidades que outrora viveram dias de prosperidade e hoje se encontram
mergulhadas em acelerado declínio económico e preocupantes crises identitárias.
Uma das lições é a de que os parques patrimoniais revelam-se um conceito inovador
de preservação cultural, ao incorporar-lhe uma componente propositiva, tomando os
valores patrimoniais como activos a partir dos quais de podem vir a obter benefícios
económicos.
Outra lição, não menos relevante, diz respeito ao facto de os parques patrimoniais
alicerçarem toda a sua estratégia na valorização dos recursos endógenos e no envolvimento
dos stakeholders. Os estudos referidos confirmam que o primeiro e talvez mais importante
passo para inverter cenários em crise consiste em reforçar a auto-estima das populações
autóctones. Com efeito, os parques patrimoniais mais bem sucedidos são marcados por
processos bottom-up, contando desde o início com a partipação dos chamados grassroots,
os amantes do território que se resistem a abandoná-lo e que se interessam, com espírito
de militância, pelo seu futuro.
O retrato, ainda que breve, dos parques patrimoniais, não fica completo se não se
fizer a ligação deste modelo de gestão territorial aos temas da paisagem e ao tema do
turismo.
A própria definição de parque patrimonial, segundo os seus principais estudiosos
remete de imediato para a noção de paisagem cultural. Introduzida por diversos
geógrafos franceses e alemães do final do século XIX, adquiriu grau de maturidade e
progressiva autonomia disciplinar a partir do trabalho do professor norte-americano da
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Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
Universidade de Bekerley, Carl Sauer, considerado ‘o pai da geografia cultural’. No seu
livro “ A Morfologia da Paisagem” (1925), afirma, “a Paisagem Cultural é criada por um
grupo cultural a partir de uma paisagem natural. A cultura é o agente, a área natural é o
meio, a paisagem é o resultado”. Deste modo Sauer vincula definitivamente a paisagem
à acção humana, podendo entender-se a paisagem cultural como o registo desta acção
sobre o território natural.
Os parques patrimoniais assumem este legado cultural da paisagem, bem como
reflectem, na sua concepção, as preocupações das linhas de investigação focadas nas
transformações da paisagem e respectivos impactos ecológicos. Ao conjugarem valores
naturais e artificiais; ao resgatarem espaços tradicionais e antigas actividades, ao
reencontrarem o ancestral equilíbrio entre homem e natureza, os parques patrimoniais
a assumem o repto lançado por proeminentes precursores da ecologia da paisagem:
o de tornar as estruturas construídas em elementos de valorização e continuação dos
processos naturais (Hough, 1995).
Em relação ao tema turístico, cabe salientar a aproximação dos parques patrimoniais
aos interesses e preferência dos turistas, sem prejuízo de manterem-se fiéis ao rigor
histórico, à autenticidade e à participação comunitária. Num projecto em curso na
região centro de Portugal, o Parque Patrimonial do Mondego (Martins & Costa, 2008),
a combinação de sistemas de informação geográfica com um guia inteligente ( gerado a
partir de um website e accionado por dispositivos móveis, tecnologia wireless e sistemas
de navegação GPS) cria um interface de comunicação com o visitante que amplifica a
experiência turística (Ryan, 1998). Estudos preparatórios deste projecto mostraram
também como os parques patrimoniais apostam fortemente na imagem, no marketing e
na internet como meios de posicionamento enquanto destino turístico (Martins & Costa,
2008).
Pese embora venham dando provas enquanto atracções turísticas, apresentando
volume de entradas e receitas muito interessantes e com curvas de crescimento
estáveis, os parques patrimoniais não constituem, pela sua natureza, genuínos projectos
turísticos.
A marca do parque patrimonial é, em definitivo, a da afirmação identitária através
da valorização dos recursos patrimoniais. Museus ou ecomuseus, hotéis e alojamentos,
roteiros turísticos, bem como outras infraestruturas e serviços turísticos, que captam
e fidelizam os turistas e, finalmente, os próprios turistas, chegam a seguir, no fim do
processo. Às vezes demoram mesmo anos a chegar em quantidades expressivas, o que
não impede que se possam vir a alcançar números surpreendentes. Assim o confirmam
parques patrimoniais consolidados tanto nos EUA como na Europa, com números de
visitantes a atingirem, ao final de cinco ou dez anos, as centenas de milhares de visitantes,
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
e a alcançarem muitas das vezes mesmo o meio milhão de visitantes, como acontece no
Parque Nacional de Lowell City e em Lackuana, nos EUA, e no Emsher Park e no Ecomusee
Creuzot-Montceau-Les Mines, na Europa.
Quando falamos de parques patrimoniais falamos de uma forma concreta de
conversão de turismo cultural em produto turístico. No caso português estes produtos
estão explicitados no Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT) como potencial
serviço a disponibilizar aos turistas (Ministério da Economia e da Inovação, 2006). Com
referência directa aos parques patrimoniais, o produto em questão é o touring cultural
e paisagístico, produto esse que, segundo dados mais recentes, apresenta taxas de
crescimento das mais elevadas (entre 5 e 10%) em comparação com outros produtos
turísticos1, bem como uma penetração de Norte a Sul do país que é também das mais
elevadas. Ou seja, os parques patrimoniais inserem-se num segmento de mercado
turístico em franca expansão.
Vale também a pena assinalar que o turismo cultural e ecoturismo são muito menos
afectados pelo fenómeno da sazonalidade do que, por exemplo, o turismo balnear,
apresentando uma distribuição mais equilibrada de entradas de turistas ao longo do ano.
Para além disso, duma forma geral, constituem modalidades turísticas que requerem
menos urbanização, menos edificação e menos infra-estrutura viária, logo, pressupõem
menores impactos ambientais adversos
Podemos assim afirmar que os parques patrimoniais enquadram-se, indirectamente,
na lógica do chamado turismo sustentável, aquele que observa os conhecidos princípios
da sustentabilidade2.
3. Alguns casos de referência
3.1. Parques temáticos
Disseminados um pouco por todo o mundo, os parques temáticos mais conhecidos
mundialmente são os do Grupo Disney, quer os localizados nos EUA quer o construído
mais tarde em Paris. Este não é o único caso de um parque “franchisado” fora de portas:
o enorme êxito do Parque Temático Legoland, em Bilund, na Dinamarca, levou também
a empresa a abrir parques semelhantes, primeiro em Inglaterra (Windsor) e depois na
Califórnia (Carlsbad).
Na Península Ibérica contam-se algumas dezenas de parques temáticos. Em Espanha
destacam os importantes Port Aventura (Salou), o Mini-Hollywood (Almeria) e o Parque
da Warner (Madrid).
Em Portugal, numa escala bastante menor, merece referência o Bracalândia, um
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Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
parque familiar situado em Braga que se intitula “o maior parque de diversões de
Portugal”, ocupando uma vasta área onde alternam os equipamentos de diversão – mais
de 20 -, e os espaços verdes. Em Santa Maria da Feira, o Visionarium evoca o espírito
inovador dos navegadores portugueses. Em Coimbra o Portugal dos Pequenitos apresenta
miniaturas de edifícios, monumentos de Portugal e de antigas colónias portuguesas,
assim como casinhas típicas de cada região, construídas numa escala adaptada às
crianças. Em Albufeira, o Zoomarine é um parque oceanográfico de entretenimento
educativo, de animação e de lazer. Na Quarteira, o Aquashow assume-se como o maior
parque aquático de Portugal. De frisar que a distribuição geográfica não se limita aos
principais aglomerados urbanos (Lisboa e Porto) ou turísticos (Algarve), apesar de se
verificar alguma espacialização quando analisada a distribuição por categoria.
Numa pesquisa efectuada por Santos (2009) a 35 parques temáticos em Portugal – os
quais foram catalogados em parques históricos, de fantasia e aventura, de carácter natural
e os de Ciência e Tecnologia – verificou-se que os parques temáticos de carácter Natural
são os de maior impacto e têm uma projecção transversal (25). Tratam-se de parques
impulsionados por uma tentativa de regresso à natureza e às cidades-jardim. De seguida
estão os parques temáticos de Ciência e Tecnologia (8), na sua maioria relacionados com
a descoberta do desconhecimento ou dos elementos naturais. Os parques de Fantasia e
Aventura são aqueles que têm uma maior vertente lúdica e economicista (7), estando
situados em áreas turisticamente influentes. Por último temos os parques temáticos
históricos que são apenas 4 em Portugal, apesar do passado histórico nacional e de
determos um considerável património imaterial.
3.2. Parques patrimoniais
O sector dos parques patrimoniais apresenta, em Portugal, até ao momento, uma
fraca expressão. Apesar de Portugal dispor de três paisagens culturais inscritas na lista
de Património Mundial da Humanidade da UNESCO – Sintra, Vinhas dos Açores e o
Alto Douro Vinhateiro – nenhuma delas está a ser gerida com recurso a um instrumento
integrado e operativo, como seria o caso de um parque patrimonial.
Para se dar um exemplo da dificuldade quase endémica em Portugal gerir as suas
paisagens e o seu património, recordemos o processo que resultou na inscrição do Alto
Douro Vinhateiro e que suscitou, depois de diversas hesitações, a elaboração de um plano
intermunicipal, figura do nosso ordenamento jurídico raras vezes utilizada. O plano foi
elaborado como resultado das exigências da UNESCO, que recomendou à comissão de
candidatura uma planificação integrada do território (Curado, 2003). Depois de várias
vicissitudes, o plano foi feito, aprovado e publicado, contudo, passados já vários anos,
na prática mal se reconhece a sua implementação. Aparentemente as paisagens do
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
Douro continuam a ser geridas de modo desarticulado e, para não ir mais longe, as rotas
turísticas têm fraca visibilidade e uma previsível baixa rentabilidade. Nos últimos anos
tem vindo a ouvir-se cada vez mais vozes de descontentamento dos residentes, que ficam
literalmente a ver passar os barcos de turismo, repletos de turistas que vão e voltam, às
vezes no mesmo dia, limitando-se a visitar uma ou outra quinta de vinho do Porto, onde
por vezes fazem uma refeição, e que pouco ou nada acrescentam às populações locais,
nem financeiramente, já que as receitas são recolhidas pelas companhias e agência de
promoção turística sediadas na cidade do Porto, nem ao nível das trocas interculturais
e da partilha, pois mal chegam a contactar com elas. Apesar de algumas experiências e
investimentos bem conseguidos, como a Quinta da Casa Amarela e a Quinta da Pacheca
(Lignon-Darmaillac, 2008), que merecem registo, é consensual que falta ainda muito
por fazer e por explorar no alto Douro Vinhateiro. A ideia de que falta um instrumento
agregador, quer ao nível do projecto do território, do marketing e do desenho de rotas
turísticas, quer ao nível da gestão, parece ganhar consistência à medida que aumenta a
concorrência de outras regiões vinícolas nos países vizinhos, como la Rioja ou a região da
Alsacia (Lignon-Darmaillac, 2008).
Este exemplo do Douro, aqui analisado de forma simplificada, e sem referência à
intricada rede de jurisdição territorial que tradicionalmente bloqueia a operatividade
do planeamento em Portugal, serve também para colocar a nu as fragilidades do nosso
sector turístico, bem como as ineficiências na gestão das paisagens, mesmo nos casos
em que está acima de qualquer dúvida o respectivo valor patrimonial. Este exemplo
confirma a desadequação do quadro normativo do ordenamento face ao desenvolvimento
local, salientando-se a ausência de instrumentos de gestão territorial que viabilizem a
preservação activa e a revitalização social e económica das paisagens culturais.
À falta de experiências consolidadas de parques patrimoniais em Portugal
apresentam-se duas, uma em fase de implementação, e outra em fase de projecto; a
primeira assemelha-se a um parque patrimonial pela sua natureza, pelo seu vínculo aos
recursos locais e pela vontade em proporcionar serviços educativos, de lazer e de turismo.
A segunda vem ganhando forma através de um aturado trabalho pluridisciplinar e filia-se
em experiências bem sucedidas de parques patrimoniais, atendendo às lições aprendidas
com estes parques e aos estudos sobre eles realizados ( já aqui referidos).
O Parque Mineiro da Cova dos Mouros, localizado em Vaqueiros, no Algarve, surgiu
de uma velha mina de cobre e ouro. Proporciona um circuito pedestre em redor das
antigas minas, além de reconstituições históricas, desde há 5 mil anos até ao início do
século XIX. Neste passeio, o visitante, pode ainda conhecer uma aldeia primitiva e um
forte, datados de 2500 A.C..
O Parque Patrimonial do Mondego (PPM), localizado entre o Porto da Raiva-
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Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
Penacova (Norte de Coimbra) e a Figueira da Foz, propõe-se revalorizar e revitalizar
uma paisagem cultural que é parte de duas regiões - Baixo Mondego e Pinhal Interior
Norte -, as quais ocupam 4679Km2 e têm 478.885 habitantes, correspondendo ao PPM
uma área de 281,93Km2 (6%).
O PPM aposta num conceito de património abrangente e inclusivo, o que implica,
desde logo, o envolvimento das comunidades autóctones, de modo a tornar a reabilitação
da paisagem num projecto colectivo. Por esta razão foi já iniciado um Fórum Local junto
das populações ribeirinhas (trabalho executado com a colaboração de estudantes e
professores da Escola Superior de Educação de Coimbra). Propondo um novo mapa do
território, dinâmico e flexível, conformado por um conjunto criteriosamente seleccionado
de recursos patrimoniais e de centros de interpretação e ecomuseus, a oferta do PPM
toma forma através de um sistema integrado de roteiros, os quais são simultaneamente
pedagógicos, lúdicos e turísticos.
O conceito-chave para ler o território do PPM é o de paisagem cultural - a que assinala
as marcas da acção humana, sobretudo as marcas das actividades laborais. A exemplo de
outros parques designados como fluviais (Casas, 1999; 2004), o trabalho de investigação
que conduziu ao projecto do Parque Patrimonial do Mondego parte da hipótese da
persistência do rio como matriz geográfica e cultural do território.
O conhecimento da paisagem cultural pressupõe uma muito especial atenção
ao património intangível, que é porventura aquele sobre o qual dispomos de menos
informação. A reinterpretação da paisagem cultural passa pelas recolhas etnográficas,
por ver e ouvir as populações locais, descobrir os últimos representantes de um saber
consuetudinário.
A investigação em curso para o Mondego terá como um dos seus outputs um mapa-
síntese com delimitação da área de intervenção, sinalização de um conjunto de recursos
patrimoniais e de centros de interpretação e o desenho de roteiros.
3.3. Distribuição de parques temáticos e patrimoniais na União Europeia
Existem na Europa 1001 parques temáticos - desde zoos, parques de diversões,
aquaparques, espaços naturais e aquários. A França é a campeã de parques temáticos
(420), seguida pelo Reino Unido (103). Por outro lado, existem pelo menos 25 parques
patrimoniais; a maioria deles na Alemanha (7), Espanha (6) e Reino Unido (5).
Em média existe 1,7 parques temáticos por cada milhão de habitantes, enquanto que
apenas se registam 0,04 parques patrimoniais por cada milhão de habitantes. Dispondo
de um tão elevado número de parques, é normal que a França seja o país com mais parques
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
por habitante: 6,5 parques / milhão de habitantes, praticamente todos temáticos.
Analisando a figura 1, verifica-se uma relação directa entre a população de um país e
o respectivo número de parques, principalmente temáticos. A Alemanha, França, Reino
Unido e Espanha concentram 45,5% da população europeia e 69% dos parques (708).
Figura 1. População e parques por tipologia e por país europeu.Fonte: Eurostat; InfoParks.
Quadro 1. População e número de parques por país Europeu.
País
PopulaçãoPIB per capita
Parques Temáticos
Parques Patrimoniais
Parques Temáticos
Parques Patrimoniais
Total (2009)(EU-27=100) (2008) Total Total
Rácio por 1.000.000 habitantes
Bélgica 10.750.000 113.9 39 3,6 0
Bulgária 7.606.551 40.2 0,0 0
Rep. Checa 10.467.542 80.1 0,0 0
Dinamarca 5.511.451 118.4 34 6,2 0
Alemanha 82.002.356 116.1 88 7 1,1 0,09
Estónia 1.340.415 68.2 0,0 0
Irelanda 4.450.014 136.6 8 1,8 0
Grécia 11.260.402 93.9 7 0,6 0
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Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
Espanha 45.828.172 103.4 53 6 1,2 0,13
França 64.350.759 107.4 420 1 6,5 0,02
Itália 60.045.068 100.5 81 3 1,3 0,05
Chipre 796.875 94.7 0,0 0
Letónia 2.261.294 55.8 0,0 0
Lituânia 3.349.872 61.1 1 0,3 0
Luxemburgo 493.500 271.4 2 4,1 0
Hungria 10.030.975 62.8 1 0,1 0
Malta 413.609 75.5 1 2,4 0
Holanda 16.485.787 135.0 33 1 2,0 0,06
Áustria 8.355.260 123.2 16 1,9 0
Polónia 38.135.876 57.6 1 0,0 0
Portugal 10.627.250 75.5 45 2 4,2 0,19
Roménia 21.498.616 45.8 2 0,1 0
Eslovénia 2.032.362 90.7 0,0 0
Eslováquia 5.412.254 71.9 0,0 0
Finlandia 5.326.314 115.1 12 2,3 0
Suécia 9.256.347 121.5 24 2,6 0
Reino Unido 61.634.599 117.2 103 5 1,7 0,08
Croacia 4.435.056 63.1 0,0 0
Turquia 71.517.100 45.5 0,0 0
Islândia 319.368 119.8 0,0 0
Liechtenstein 35.589 0,0 0,0 0
Noruega 4.799.252 190.2 13 2,7 0
Suiça 7.701.856 141.6 17 2,2 0
Total 588.531.741 0 1001 25 1,7 0,04
Fonte: Eurostat; InfoParks.
Uma vez que a maioria dos parques são geridos por grandes companhias, poder-se-ia
supor uma correspondência entre o PIB per capita de cada país e o número de parques
(figura 2). No entanto, tal não é perceptível na análise realizada, uma vez que a escala
europeia uniformiza a falta de equidade territorial de indicadores como a população e a
riqueza. Para que se tenha uma ideia, aponte-se o caso do Luxemburgo que sendo o país
europeu com o PIB per capita mais alto apresenta apenas dois parques temáticos3.
É também de referir que é nos países onde o processo de industrialização foi mais
precoce e mais intensivo onde encontramos maior concentração de parques patrimoniais.
Tal facto explica também a predominância, nestes parques, dos temas industriais.
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
Figura 2. Produto Interno Bruto per capita e parques por tipologia e por país europeu.Fonte: Eurostat; InfoParks.
4. Avaliação da sustentabilidade e do desempenho ambiental, social e económico
O turismo é, muitas vezes, criticado pelos impactos socioculturais negativos que causa
nas comunidades locais, principalmente nas de menor dimensão e nas mais tradicionais
(OMS, 1993). No entanto, o impacte dos parques, temáticos ou patrimoniais, é distinto,
tanto no território em que se insere como no envolvimento com a comunidade local,
encerrando em si próprio os factores que distinguem ambos os tipos de parques (quadro
2).
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Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
Quadro 2. Caracterização geral dos parques temáticos e dos parques patrimoniais.
Áreas de análise
Parâmetros de análise
Parques Temáticos Parques Patrimoniais
Temas, publico alvo e comunidade
Temas para abordagem
Espacializa a fantasia e o ludismo.
Espacializa a história e a identidade local.
Destinatários
Orientado para o turismo de massas e de mercado.
Procura turistas culturais e oferece os produtos touring cultural e paisagístico, turismo de natureza e turismo rural.
Tipo de culturaUtiliza a cultura popular transnacional (ex.: Disneylândia).
Espectaculariza a cultura local. Fabrica natureza ou cultura para ser vista.
Participação da comunidade
Nula. Forte. Normalmente o envolvimento com a comunidade local acontece desde o arranque e mantêm-se constante
Estudos locais
Nulos ou superficiais, o suficiente para criar um pano de fundo histórico nostálgico e embevecedor
Promoção do estudo da História local das transformações das paisagens culturaisCriação de unidades de investigação e de centros de centros de interpetação
Interacção Turistas / Residentes
Nula ou muito rara, limtando-se a relações comerciais e de serviços.
Elevada, podendo envolver acções de educação ambiental e patrimonial e a participação em actividades do quotidiano.
Ligações institucionais
Apenas para efeitos de licenciamento.
Forte. Em geral, as instituições locais de administração, educação e património associam-se.
Funções, modelos, gestão e impactos
Relação com os espaços de exibição e produção
Conflitos com os museus. Não se articula com qualquer tipo de produção local.
Integra os já existentes e propõe novos, bem como ecomuseus e centros de interpretação e de difusão e produção cultural e científica.
Modelo de referência
Centros Comerciais. Parque naturais e ecomuseus.
Sustentabilidade
Forte impacto ecológico (medido em emissões de CO2), desde a construção ao uso e ao desmantelamentoProdução desmesurada de resíduos.Gasto energetico excessivo e com base a combustveis fósseis
Baixo impacto ecológico, dado que assenta na reutilização de infra-estructuras e edifícios pre-existentes.Produção mínima de resíduos.Gasto energetico moderado; incentivo á utlização de energias renováveis
Propriedade e gestão
Privados, Grandes corporações.
Tem, geralmente, carácter comercial e privado ou semi-publico.
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
Áreas de análise
Parâmetros de análise
Parques Temáticos Parques Patrimoniais
Localização e infraestrutras
Localização
Periferia urbana, próximo a grandes infra-estruturas rodo e ferroviárias.
Variável, do centro urbano até às paisagens que circundam as cidades ou acompanham os rios.
Factores de Localização
Terrenos baratos e a acessibilidade.
Presença de valores naturais e culturais, capacidade de carga e mobilidade.
Nº vistantes Milhões. Dezenas ou centenas de milhares.
Afectação das infra-estruturas locais
Melhoria de infra-estruturas rodoviárias no local de implantação, embora possa significar uma sobrecarga em epoca alta.
O numero moderado de visitantes e a baixa sazonalidade não obrigam a grandes investimentos, os quais canalizam-se, para a recuperação e reactivação de meios e vias de transporte antigas e tradicionais.
(Continuação)
Modelo de Gestão
OrigemParques de Atracções. Recuperação de áreas industriais
e mineiras desactivadas ou em declínio.
Promotores e capital de investimento
Privado, de risco, de grandes corporações.
Parcerias publico-privados, fundos de cooperação e incentivos publicos,Administrações locais e regionais e pequenos e médios investidores locais.
Marketing
Agressivo, incluindo uso dos media, de escala global.
Moderado, com forte recurso a publicidade institucional e mais recentemente, à internet; escala regionmateriais
Dimensões imateriais
Dimensões do lazer presentes *
Recreio e Diversão Recreio, Diversão e Desenvolvimento
Dimensão do antropológica do lugar **
Não lugares; ligados a um mundo provisório, apenas criam contratualidade solitária
Lugares antropológicos, identitários, relacionais e históricos; criam sociabilidade
Fonte: Elaboração propria, a partir de Braun, 1999/2000; Ferreira, 2005; Sabaté, 2004; Bustamonte, 2004; Clavé, 1999; Dumazedier 1997, Augé, 1994.* Na acepção de Dumazedier. ** Na acepção de Marc Augé.
Comparando a integração paisagística de dois parques, um temático - o Port Aventura
– e um patrimonial - o Parc Agrari Del Baix Llobregat -, verifica-se que o primeiro surge
como um elemento novo, artificial, delimitado, de escala indiferente à morfologia da
paisagem em que se localiza, forçadamente apenso a esta e desligado da sua evolução.
Por seu lado, o segundo ganha forma através da incorporação de elementos da paisagem
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Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
pré-existentes – caminhos antigos, terrenos agrícolas, unidades fabris, moinhos, canais
e outros caminhos de água - confundindo-se com os seus rasgos mais significativos e
assimilando as suas transformações (figuras 3 a 6).
Figura 3. Exemplo de um Parque Temático. Port Aventura, Espanha.Fonte: www.GoogleEarth.com
.Figura 4. Exemplo de um Parque Patrimonial. Parc Agrari Del Baix LLobregat, Barcelona Fonte: www.GoogleEarth.com.
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
Figura 5. Exemplo de um mapa de um Parque Temático. Bracalândia, BragaFonte: www.pensarpenafiel.blogspot.com.
Figura 6. Exemplo de um mapa de um Parque Patrimonial. Parque Patrimonial do Mondego, Coimbra – Figueira da Foz | Fonte: www.parquepatrimonialmondego.com/.
A grande maioria dos estudos aos parques temáticos foca-se nos impactos positivos
no emprego, receitas, desenvolvimento local e crescimento da economia local (Braun,
1999/2000). De facto, estes geram receitas bastante elevadas e têm um investimento em
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Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
infra-estruturas e novas atracções também bastante elevado (quadro 3).
Quadro 3. Impactos dos parques temáticos e dos parques patrimoniais
Parques Temáticos Parques Patrimoniais
Impactos Ambientais
Positivos
Empreendedores turísticos investem em medidas de protecção da natureza.
Recuperação de áreas degradas ou contaminadas. Criação de planos e programas de preservação e valorização de paisagens culturais; Convívio directo e respeituoso com a natureza
Impactos Económicos
Positivos
Aumento do rendimento dos habitantes; Criação de empregos; Modificação positiva da estrutura económica; Industrialização básica da economia regional; Crescimento da economia local.
Criação de empregos e de oportunidades para a criação de pequenos negócio; Modificação positiva da estrutura económica; Crescimento sustentado da economia local.
Negativos
Custos de oportunidade; Dependência excessiva do turismo; Inflação e especulação imobiliária; Sazonalidade da procura turística; Modificação negativa da estrutura económica; Necessidade de novas Vias de acesso; Acidentes.
Custos de oportunidade. Periodo de retorno dos investimentos bastante dilatado -Dificuldade em rentabilizar antigas actividades de forte carácter tradicional e identitário.
Impactos Socio-culturais
Positivos
Modificação positiva da estrutura social; Melhoria provisória da qualidade de vida para alguns estratos sociais mais baixos e sem qualificações (emprego precário)
Modificação positiva da estrutura social; Aumento dos níveis culturais e profissionais da população; Valorização do artesanato; Valorização da herança cultural; Orgulho étnico; Valorização e preservação do património histórico. Envolvimento directo das comunidades. Melhoria da qualidade de vida e aumento auto-estima-confiança-.
Negativos
Alterações na moralidade; Movimento intenso; Conflitos; Prostituição; Crime; Descaracterização do artesanato; Vulgarização das manifestações culturais; Arrogância cultural; Destruição do património histórico. Massificação da cultura.
Movimento intenso.Descaracterização de algumas tradições e lugares e bens ou serviços por adaptação ao turismo e para ir de encontro ao interesse dos visitantes.
Fonte: Elaboração propria, a partir de Braun, 1999/2000; Ferreira, 2005; Sabaté,2004; Bustamonte,2004; Clavé, 1999.
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
No entanto, comparando as receitas de um parque temático e os gastos dos visitantes
na área do parque, verificou-se que, enquanto que num parque onde a maioria dos
visitantes está numa viagem de três a mais dias, este é duas vezes superior àquele, num
parque em que a maioria dos visitantes está ali apenas por um dia é menos de metade
o gasto realizado pelos visitantes nas infra-estruturas existentes em redor do parque
(Dybedal & Engebretsen, 1996; Braun, 1999/2000). Por estarem associados ao conceito
de “locais de consumo”, os parques temáticos são também um factor importante no
desenvolvimento urbano (Finn & Erdem, 1995). Nesse sentido, ao nível do emprego,
os benefícios gerados pelos parques temáticos não são negligenciáveis, dado o grande
número de postos de trabalho directos e indirectos que criam. Contudo, há que
não esquecer que se trata, na sua maioria de emprego precário e sazonal, aceite por
estudantes (Dybedal & Engebretsen, 1996; Clavet, 1994). Convém ter também presente
que mesmo os bens de consumo são, na sua maior parte importados (Clavet, 1999) e
os lucros gerados, como vão parar às mãos das grandes corporações, proprietárias dos
parques, são encaminhados para outros destinos, distantes.
5. Análise comparativa, quantitativa e qualitativa entre as duas tipologias
quanto à sustentabilidade e ao turismo
Como Perret e Teyssansier (2001) referem, o turismo sustentado deve ter em conta
três dimensões: 1) preservação dos recursos, 2) desenvolvimento local e 3) ética –
retorno/partilha.
Um pouco por todo o mundo, mas particularmente no espaço europeu, a revitalização
económica de áreas em declínio passa, em boa medida, pela aposta no lazer. Neste campo
registamos, por um lado, a proposta massificadora, estereotipada e consumista oferecida
pelos parques temáticos - e que tem nos parques da Disney o seu paradigma.
Embora geradores de receitas avultadas, os parques temáticos acarretam impactos
ambientais importantes. Estes começam no momento da preparação do terreno, com
os gigantescos movimentos de terra, e prolongam-se durante a exploração do parque,
devido ao elevado consumo que lhe está associado, com a consequente produção de
resíduos e de emissões com gases de efeito de estufa.
Por outro, temos os parques patrimoniais, iniciativas calcadas na cultura autóctone, na
paisagem e nos recursos endógenos. Neste contexto, eco-museus e parques patrimoniais
têm vindo a assumir-se como estratégias de desenvolvimento sustentável à escala local
e regional.
Os parques temáticos revelam ser projectos de curto horizonte temporal, dissociados
da cultura, dos recursos patrimoniais, dos agentes económicos e das comunidades
71
Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
locais. Projectos autónomos e centrados em si próprios, auto-suficientes, excluem uma
qualquer visão territorial estratégica e estão claramente dominados por preocupações
economicistas.
Por seu lado, os parques patrimoniais apresentam-se como projectos duradouros,
integrados em uma visão de desenvolvimento local e regional. Revelam-se também como
figuras agregadoras dos recursos patrimoniais locais, os quais toma como activos para um
novo impulso económico. Projectos capazes de promover a valorização dos ecossistemas
e a biodiversidade, bem como a coesão social, através do forte envolvimento dos
stakeholders, os parques patrimoniais actuam como motores da economia de escala local
ou regional, através da criação de parcerias público-privadas e de ligações institucionais
sólidas.
Com respeito ao turismo, os parques patrimoniais constituem-se, até por definição,
em atracções de primeira linha, captando turistas culturais e eco-turistas, em número
moderado e que, por norma, consomem menos e actuam de modo mais responsável,
gerando menores impactos ambientais e sociais adversos.
Ainda que ambos parques temáticos e patrimoniais actuem por vezes, forçosamente,
na mesma área de negócio - o lazer - se retomarmos o já clássico axioma de Dumazedier
sobre ”as dimensões do lazer”, a dicotomia entre uns e outros parques apresenta-se
com extraordinária clarividência. À primeira das dimensões, o recreio, e à segunda, o
divertimento, ambas bem exploradas nos parques temáticos, os parques patrimoniais
juntam a terceira, a do desenvolvimento, assumindo-a, isso sim, como um repto. Note-se
que não estamos a referir-nos a um desenvolvimento económico, o qual obviamente,
também está presente nos projectos de parques temáticos. Trata-se, na acepção de
Dumazedier (1977) de um “desenvolvimento da personalidade”, ou seja, do indivíduo.
Através de uma “participação social mais alargada”, este liberta-se de amarras práticas
e técnicas e sente-se encorajado a adoptar uma atitude mais crítica. Actualizando e
complementando, tanto quanto possível, as palavras de Dumazedier, acrescentaríamos:
uma atitude mais responsável. Assim às preocupações pessoais de aprendizagem ao
longo da vida (Dumazedier, 1977) compete ao indivíduo, no quadro do exercício do lazer,
adicionar as preocupações com a preservação do ambiente, das paisagens culturais e da
coesão da sociedade em que se insere.
Neste palco de inquietações, neste teatro em que encena o desenvolvimento do
território e das transformações das paisagens, os papéis desempenhados por parques
temáticos e parques patrimoniais são necessariamente antagónicos. Para melhor
exprimir esta ideia, pensemos que nos acontece com relação aos personagens rivais de
um filme ou de um romance que acompanhamos, em que, sentindo-nos atraídos por
ambos, hesitamos antes de nos inclinarmos para um ou para o outro, mesmo sabendo
72
exedra • nº temático - Turismo • 2009
que só um deve prevalecer, só um nos pode satisfazer o desejo de justiça. Também
com relação a parques temáticos e parques patrimoniais não podemos nem devemos
confundi-los, sobretudo naquilo representam para nós e para a nossa sociedade, para
a nossa economia local, e para o nosso ambiente, ainda que ambos nos transmitam e
proporcionem momentos de prazer, baseados na recreação e no divertimento.
6. Conclusões e perspectivas
Os parques patrimoniais representam hoje em dia o que de mais avançado se pode
fazer ao nível da gestão das paisagens culturais, paisagens vivas e evolutivas, como lhes
chama a UNESCO, apresentando ferramentas de trabalho que propiciam novas opções,
de longa duração para áreas em declínio mas que se apresentam repletas de valores
patrimoniais.
Da análise do panorama português, verificamos que o território nacional, em termos
de escala, de autenticidade cultural, em termos de infra-estruturas aero-portuárias, e face
à políticas oficial de apoio ao produto turístico touring cultural e paisagístico, apresenta
um clara vocação para a criação e difusão de parques patrimoniais, em detrimento dos
parques temáticos.
Uma outra conclusão a que se chega, tanto pela revisão da literatura, como pelos
dados recolhidos e pela experiência própria em curso, é de que estes dois tipos de
parques não pertencem à mesma família, pese embora partilhem o termo parque. Dito
de outra forma, parques temáticos e parques patrimoniais não constituem alternativas
de ocupação territorial para o mesmo tipo de problemas ou ambições, pelo que não se
verificam casos em que os promotores tenham que fazer uma escolha entre estes dois
tipos de parques. Confirma-se também que os benefícios que se podem extrair de um e de
outro não são coincidentes nem comparáveis. Idêntico raciocínio pode ser aplicado aos
aspectos negativos que podem sobrevir. Assim, as receitas no curto prazo, dos parques
temáticos, ainda que volumosas, não justificam os impactos adversos correspondentes,
ao passo que a vindicação aos recursos patrimoniais locais patenteada pelos parques
patrimoniais pode não assegurar uma resposta suficiente ao problema do desemprego e
fazer face, em tempo útil, às deprimidas economias locais.
Haverá que, portanto, em cada caso, ponderar os prós e os contras, sendo certo
que a presença de parques temáticos e parques patrimoniais não se apresenta como
incompatível, tal como não é incompatível co-existirem shopping centers e museus ou
eco-museus, com tudo o que a analogia possa ter de forçado.
Mais do que uma discussão algo redundante e previsível sobre qual tipo de parque nos
dá mais lucros ou mais educação ambiental e patrimonial, o que parece estar em causa
73
Nuno Martins & Claudia Costa • Património, paisagens culturais, turismo, lazer e desenvolvimento sustentável
é: qual a palavra de confiança, que nível de autonomia queremos dar às comunidades
locais? E, concomitantemente, qual o sinal sobre onde estamos a investir os nossos
recursos e sobre os recursos que estamos a valorizar lhes queremos transmitir; que
testemunho, que herança cultural lhes queremos deixar?
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Notas1 Embora o PENT não faça qualquer referência a eles, segundo a Organização Mundial de Turismo, os Parques Temáticos apresentam-se como um dos segmentos de mercado mais importantes no âmbito do turismo de natureza e ao turismo cultural (OMT, 2000).2 É necessário ter em conta o reduzido tamanho deste país, bem como a sua forte acessibilidade com relação aos países vizinhos, factores que certamente também explicam o por que ser “menos
apetecível” para as grandes companhias.
Correspondência
Nuno Martins
Escola Superior Artística do Porto (ESAP)
Lar de S. Domingos, 80
4050-545 Porto
Cláudia Costa
Rua Pedro Rocha, 7, 2º,
3000-300 Coimbra
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
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Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
N º t e m á t i c o - T u r i s m o e P a t r i m o n i o
O museu como pólo de atracção turística1
Alexandra Rodrigues Gonçalves
Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo - Universidade do Algarve
Resumo
As funções tradicionais do património cultural estão a ser reinventadas e hoje os visitantes esperam experimentar o património. Por sua vez, os museus, não raramente promovem actividades turísticas que estão na base de economias locais e regionais. Na actualidade, os turistas representam uma parte importante das visitas aos museus, assumindo nalguns casos uma percentagem expressiva do seu público. No entanto, a relação entre os museus e o turismo possui pontos de conflito.
A discussão sobre os museus, o turismo e o seu território parte de uma clarificação do conceito de museu actual e da emergência de novos paradigmas na sociedade, aos quais o museu do futuro não poderá ficar indiferente. Consciente dos desafios desta relação procura-se demonstrar com este trabalho que existem benefícios claros resultantes de uma aproximação entre estes campos.
A partilha de conhecimento entre estes dois poderes – o turismo e os museus – será fundamental para o diálogo entre estas áreas.
Alguns autores argumentam que existe em curso um processo global de homogeneização em face da estandardização de ofertas entre diferentes destinos turísticos, pelo que, se estabelece como essencial o estímulo à diversidade cultural, que as abordagens mais próximas do território e dos seus recursos tendem a evidenciar.
O trabalho empírico desenvolve-se em torno dos 4 museus do Algarve que integram a Rede Portuguesa de Museus.
Palavras-chave
Gestão do património cultural, Turismo e território, Museus e experiência turística.
Abstract
Museums and patrimony are being reinvented and visitors expect to experiment the cultural heritage. Frequently, museums promote tourist activities that are central to local and regional economies development. Nowadays tourists are an important share of the total museum visitors, becoming in some cases a major percentage of its public. Nonetheless, the relationship between museums and tourists has some points of conflict. The discussion between museums, tourism and the territory departs from
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
the meaning of the present museum definition and of the emergence of new society paradigms to which the future museum can’t stay indifferent. Aware of the challenges of this relationship this research tries to show that are mutual benefits arising from a closer relation between both domains.
The share of knowledge between these two powers – the tourism and the museums – will be fundamental to the dialogue of these areas.
Some authors defend that there is an ongoing process of cultural homogenisation due to the standardization of the offers between different tourist destinations. That is why it is essential to stimulate the cultural diversity that those strategies near to the territory and to its resources tend to better evidence.
The empirical work is centred in the 4 museums of the Algarve that integrate the National Museum Network.
Key-words
Heritage management, Tourism and territory, Museums and the tourist experience
Introdução2
A cultura assume-se cada vez mais como uma forma de lazer, como uma opção de
ocupação de tempos livres, à disposição de uma sociedade mais instruída e com mais
rendimento disponível. Assiste-se a uma consciência mais generalizada da importância
da cultura como factor de desenvolvimento das sociedades. Por outro lado, a visão de
que a arte e a cultura se constituem como um domínio do bem-estar público também
está ultrapassada.
Regra geral, os profissionais do turismo não possuem um conhecimento aprofundado
de gestão do património cultural e por sua vez, os responsáveis pelo património cultural
encontram em vários documentos internacionais (Cartas, Declarações, Convenções)
algum suporte à gestão sustentada destes locais, com benefícios para a cultura e o
turismo. O turismo assume um papel associado à transformação, ao desenvolvimento,
ao marketing e à orientação do produto, enquanto que a gestão do património cultural é
a proprietária dos bens, assumindo a responsabilidade de os gerir e de evitar os impactes
negativos resultantes da sua visitação.
Nos últimos 20 anos, tem-se assistido a um aumento exponencial de projectos
culturais, pela proliferação de festivais e encontros artísticos, mas também ao início
da construção de espaços qualificados para a acção cultural: bibliotecas, cine teatros,
auditórios, anfiteatros, centros culturais, museus.
A organização institucional da cultura e do património difere de país para país e
79
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
tende a reflectir as diferentes tradições administrativas, bem como as realidades sociais
e políticas.
A cultura tem ganho uma dimensão estratégica e os museus, não raramente
promovem actividades turísticas que estão na base de economias locais e regionais.
A discussão sobre os museus, o turismo e o território parte de uma clarificação do
conceito de museu actual e da emergência de novos paradigmas na sociedade, aos quais
o museu do futuro não pode ficar indiferente, sobretudo, como forma de potenciar a sua
atracção junto do público turista, mas também se se pretende afirmar como equipamento
de lazer. Consciente dos desafios desta relação procura-se demonstrar com este trabalho
que resultam benefícios claros resultantes de uma aproximação entre estes campos.
A partilha de conhecimento entre o turismo e os museus será fundamental para
o diálogo entre estas duas áreas e o seu sucesso dependerá da discussão conjunta de
formas de trabalho em equipa.
Neste artigo, um dos assuntos discutidos é a função do museu. Outros aspectos
incluem: o museu como produto turístico; a relação entre museus, território e experiência
turística; os museus, o turismo e a comunidade local; a gestão e o marketing dos museus;
e as estratégias com vista ao desenvolvimento dos museus como atracções turísticas.
Alguns autores argumentam que existe em curso um processo global de homogeneização
em face da estandardização de ofertas entre diferentes destinos turísticos, pelo que, se
estabelece como essencial o estímulo à diversidade cultural, que as abordagens mais
próximas do território e dos seus recursos tendem a evidenciar.
O reconhecimento da importância da sustentabilidade cultural já foi apreendido pelo
turismo cultural e os agentes do turismo estão hoje conscientes que o futuro da indústria
turística depende da protecção dos recursos ambientais, patrimoniais e culturais de cada
região.
A importância de planear o turismo com base nos recursos culturais e naturais
do território, as necessidades de cooperação entre os agentes dos vários domínios,
a emergência de novos consumos turísticos e a inovação na gestão dos espaços
museológicos, são alguns dos tópicos mais relevantes a abordar. No final, desenvolve-se a
análise empírica aplicada ao território do Algarve, cujos resultados se espera contribuam
para um alargamento da discussão ao nível nacional.
80
exedra • nº temático - Turismo • 2009
1. O problema de investigação e a metodologia
Este trabalho centra-se numa avaliação do museu enquanto equipamento ao
dispor do turista e representação da cultura e da identidade de um território, ou de
uma comunidade. A discussão da temática “Museus, Turismo e Território” emerge
como problemática de interesse relacionada com a investigação de Doutoramento
em desenvolvimento com o tema: “A cultura material, a musealização e o turismo: a
valorização da experiência turística nos museus nacionais.”, mas também de outros
trabalhos de investigação desenvolvidos no âmbito da temática do turismo cultural.
1.1 Objectivos e técnicas de investigação
No decurso da revisão de literatura efectuada, determinou-se como problema
de investigação: Como podem os museus tornar-se atracções turísticas principais?.
Outras questões emergiram da recolha de informação secundária e de outras leituras
complementares, que contribuíram para a definição dos seguintes objectivos principais:
Caracterizar a actual relação entre os museus e o turismo.•
Determinar o actual modelo de gestão do museu. •
Analisar o potencial de utilização dos museus como recursos turísticos.•
Apresentar e discutir propostas de desenvolvimento dos museus como pólos de atracção •
turística a partir de uma base territorial (Algarve).
A recolha de informação secundária também se determinou essencial para a
caracterização do panorama museológico actual em Portugal (estatísticas oficiais
de visitantes, estudos de públicos) e para a definição do “estado da arte” em relação
aos estudos aplicados ao turismo cultural e, em particular, aos museus e turismo
(documentação de organismos internacionais, estudos e investigação publicada a nível
internacional, documentação dos organismos nacionais, tais como da Rede Portuguesa
de Museus e do Instituto dos Museus e da Conservação, estudos e trabalhos desenvolvidos
no território nacional).
Por sua vez, a informação primária que se apresenta resulta da combinação de várias
técnicas de recolha e análise de dados:
1. Entrevista exploratória semi-estruturada – para avaliar como perspectiva o/a responsável pelo museu o relacionamento entre o museu e o turismo; tendo utilizado a análise de conteúdo como técnica para o tratamento da informação obtida;
2. Questionário técnico – desenvolvimento de uma ficha do museu que acrescenta à ficha do museu da Rede Portuguesa de Museus, elementos identificados pela autora como essenciais para o turismo e o turista (enquanto público do museu).
81
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
3. Observação participante – no sentido de avaliar algumas das questões referidas nas entrevistas e verificar constrangimentos e potencialidades resultantes do caso de cada museu em particular.
4. Análise textual a partir da recolha de casos de estudo, internacionais e nacionais.
Acrescer que a análise de conteúdo é um dos métodos de análise utilizados em
metodologias qualitativas e pressupõe, no caso das entrevistas, a transformação dos
registos orais em textos que se codificam, criando categorias a partir da leitura, que têm
por base a relevância da taxonomia na sua relação com o enquadramento empírico de
onde emergem, o que envolve reflexão e o questionar das categorias e códigos a partir do
contexto real (Jennings, 2005).
Optou-se por uma utilização de metodologias diversas porque possibilita uma
maior riqueza da informação recolhida e, em simultâneo, uma confirmação (ou não)
da investigação qualitativa baseada na entrevista semi-estruturada. Esta abordagem
insere-se nas novas tendências do paradigma do relativismo que defende que as técnicas
de investigação e de análise de dados devem ser seleccionadas e combinadas em face
dos objectivos da investigação. A entrevista semi-estruturada possibilita a manutenção
de um tipo de conversação com um grau de profundidade relativa e menor grau de
subjectividade que numa entrevista não estruturada (Jennings, 2005).
No conjunto desenvolveram-se quatro entrevistas (Albufeira, Faro, Portimão e
Tavira) junto dos responsáveis dos museus do Algarve (integrados na Rede Portuguesa
de Museus), entre Agosto e Outubro de 2007, tendo determinado sete pontos de reflexão,
em torno das quais se desenvolveu a entrevista. Na análise empírica do panorama
museológico regional e da sua relação com o turismo serão também utilizados alguns
dos resultados do inquérito por questionário administrado junto de 60 residentes de Faro
entre Outubro e Novembro de 20063.
O trabalho resulta de uma abordagem regional fragmentada (pois integra apenas
os quatro museus do Algarve, da Rede Portuguesa de Museus) mas considera-se que as
mesmas questões de investigação são facilmente transpostas para uma qualquer realidade
geográfica (quer outra região, quer âmbito nacional) porque os seus fundamentos teóricos
têm uma base internacional. Certamente outras tendências poderão ser identificadas se
a investigação assumir um âmbito mais alargado, enriquecendo os contributos para a
definição de novos modelos de gestão e de planeamento dos museus.
82
exedra • nº temático - Turismo • 2009
2. Enquadramento conceptual – museus, turismo e território
Conforme referido e sistematizado na Figura 1, a temática apresenta dois tipos de
inter relações chave que se propôs analisar, que constituem: por um lado, a relação dos
museus com o território e a comunidade que nele vive; e por outro lado, a relação entre
museus e turismo. Identificam-se igualmente alguns pontos de contacto e de conflito,
procurando apontar acções e estratégias de cooperação que estão a emergir nos domínios
dos museus e do turismo.
A actividade turística utiliza a singularidade e as especificidades dos locais como
forças principais de atracção dos destinos. O turismo por sua vez, tem-se relacionado
com o património cultural concebendo uma grande variedade de produtos culturais,
contudo, esta relação nem sempre tem sido equilibrada. Entre os benefícios mais
destacados emergem os recursos económicos e financeiros que o turismo pode gerar
para a conservação e preservação do património cultural (McKercher e du Cross, 2002;
Russo e Van der Borg, 2002).
A sociedade actual enfrenta novos desafios que têm determinado o crescimento de
uma visão sustentável, assente na valorização e preservação de recursos endógenos, que
por sua vez, tem contribuído para que o património cultural assuma maior importância
enquanto factor de desenvolvimento local e regional (Gonçalves, 2003; Herbert, 1995;
Hernández e Tresseras, 2001; Nuryanti, 1996).
Turismo
Território Museu
Comunidade
Turismo
Território
Turismo
Território Museu
Comunidade
Figura n.º1 – Base conceptual Fonte: autora, 2007
Contudo, a utilização do património cultural pelo turismo revela-se ainda um assunto
com alguma sensibilidade (Herbert, 1995). O património cultural pode ser concebido
83
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
como um recurso principal para a comunidade, o que exige uma utilização equilibrada.
Neste contexto, os museus são parte de uma unidade global e parceiros privilegiados,
no diálogo entre passado e futuro, todavia, na actual sociedade do lazer, disputam o
nosso tempo livre com um cada vez maior número de atracções.
Existe uma extensa literatura disponível associada às questões do património
cultural e do turismo que se procuram sistematizar nos vários quadros incluídos neste
ponto. Destacam-se as diferenças de estrutura, objectivos, agentes envolvidos, utilização
dos bens e organismos que os representam (vide McKercher e du Cros, 2002 e 2006).
Algumas interacções positivas também já foram apontadas:
A cultura e o turismo começam a definir objectivos económicos em conjunto, como •
resultado dos benefícios mútuos já identificados.
O processo de transformação dos recursos culturais em produtos turísticos pode •
constituir-se como um incentivo para revitalizar a identidade cultural da comunidade.
O património cultural contribui para um ambiente favorável para a incubação e •
desenvolvimento de projectos turísticos, que podem criar condições para a inovação e
diversificação dos produtos turísticos e dos destinos, respondendo a novas necessidades
do mercado turístico (Jansen-Verbeke e Lierois, 1999).
O turismo com base no património cultural é mais do que a observação da
arquitectura, da história ou da natureza. É verdade que é relativamente fácil promover
o património cultural através de apresentações descontextualizadas e sem significado
(ou com adulteração desse significado) (Phelps, 1994) e caberá sobretudo a cada local
a responsabilidade de apresentar e interpretar o seu património, para o seu público,
através dos seus artefactos.
Ashworth relembra algumas especificidades que interessa considerar relativa à
natureza dos recursos culturais:
1. A enorme heterogeneidade de produtos e serviços culturais que se oferecem aos turistas.
2. A natureza do conceito de cultura confere-lhe alguma ubiquidade, pois todos os locais têm uma história e um passado. É difícil definir estratégias assentes em recursos culturais e patrimoniais naqueles locais que não reúnam condições de verdadeira distinção.
3. Os produtos e serviços culturais possuem uma grande variedade de utilizadores para além dos turistas e servem uma grande variedade de funções para além do turismo.
4. O turismo utiliza com frequência recursos culturais que não foram produzidos para o mercado turístico, e que são de propriedade e gestão de pessoas que são indiferentes, ou até hostis ao mercado turístico (Ashworth, 1995).
84
exedra • nº temático - Turismo • 2009
É expectável que a integração com sucesso do desenvolvimento turístico numa
comunidade, dê melhores resultados do que a imposição do turismo como modelo de
desenvolvimento de forma não relacionada.
Os residentes são parte do produto turístico e o facto de se apelar à participação
da comunidade local no projecto de desenvolvimento turístico contribui para uma
redução dos impactes negativos (Timothy e Boyd, 2003). O envolvimento dos residentes
no planeamento dá às comunidades a oportunidade de participar na forma como o seu
património cultural é protegido e mostrado aos turistas. O que por sua vez, pode contribuir
para o aumento do orgulho e sentimento de pertença (McArthur e Hall, 1993).
As comunidades receptoras têm reagido de forma diferente ao desenvolvimento do
turismo, variando as suas respostas em função do nível de desenvolvimento do turismo,
mas também conforme os interesses dos grupos (Costa e Ferrone, 1995). As comunidades
raramente possuem uma visão uniforme do turismo, e as reacções podem ir do suporte
entusiástico ao seu desenvolvimento, como à total oposição. Quanto maior envolvimento
da comunidade for promovido no processo de planeamento e desenvolvimento do
turismo, maiores garantias de aceitação, sucesso e sustentabilidade terá o projecto
do seu desenvolvimento (Butler, 1999). De facto, o relacionamento que se estabelece
entre as comunidades receptoras e o turista é em regra superficial e breve, assentando
maioritariamente em objectivos comerciais (Holloway, 1998).
A investigação identificou outros efeitos positivos do turismo, tais como: as
trocas culturais, a revitalização de tradições locais, o aumento da qualidade de vida, a
melhoria da imagem da comunidade, o aumento do sentimento de lugar. Como factores
determinantes das percepções e das atitudes dos residentes em relação ao turismo, os
autores apontam os factores económicos e sociais, o tempo de residência na área e a
dependência económica do turismo (Besculides et al., 2002).
A conclusão comum aos estudos em geral, consiste na necessidade de envolver
as comunidades locais no processo de planeamento e desenvolvimento do turismo,
pois apenas pela participação activa da comunidade local se poderá conseguir que o
património cultural produza benefícios económicos e sociais reais (Besculides et al.,
2002; Hampton, 2005).
No entanto, os debates associados à relação do turismo na gestão e planeamento
do património cultural transcendem largamente a questão da participação activa das
comunidades. No Quadro 1 procura-se sistematizar alguns desses tópicos de debate mais
correntes sobre a gestão do património cultural e turismo.
85
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
Quadro n.1- Debates correntes na gestão do património cultural e turismo
Debates correntes na gestão do património cultural
Descrição
Musificação-banalização das cidades
Património como mero cenário preparado para consumo turísticoModelos estereotipados de renovação urbana-» operações de ‘clonagem’ + monofuncionalização de alguns sectores urbanos
Contaminação arquitectónica
Construção das infra-estruturas turísticas -» integração entre as infra-estruturas turísticas e a envolvente (em particular das características do meio natural)Urbanização sem respeito pelas áreas naturais ou históricas
Competição pelo espaço /desertificação do centro histórico/tercearização e gentrificação
Expulsão dos antigos moradores + aumento acentuado dos preços dos terrenos e imobiliária Tercearização da área – concentração de actividade comercialGentrificação – reconquista da área por classes sociais mais elevadas
Perda de autenticidade/Commodification
«Aculturação»- comercialização da cultura; alterações na cultura receptora e na identidade local pela assimilação da cultura do turistaInteresses económicos – manipulação de tradições e costumes para entretenimento
Património e Identidade Segundo alguns autores “descoberta” de um património pode significar a morte de uma identidade, dado que, a “patrimonialização” representa a introdução de mutações na identidade. Diz respeito ao medo de que a cultura local assimile as influências da cultura dos turistas que é mais preponderante sobre as tradições, valores e costumes nas chamadas sociedades tradicionais, mas também a necessidades decorrentes do desenvolvimento da actividade turística, de fornecer aos turistas as comodidades a que estão habituados nos seus países de origem e de instituições que têm a responsabilidade de fornecer as imagens e as narrativas associadas a esse património, não incluírem nas suas narrativas todo o património, sobretudo dos grupos étnicos minoritários.
Sustentabilidade do Turismo Cultural e capacidade de carga
‘Super-povoamento’ de muitos locais históricos -» deterioração física (e.g. Veneza, Bruges, Florença)Maximização da utilização/congestionamento
Fonte: Gonçalves, 2003 (a partir de Barré, 1995; Bianchini e Parkinson, 1993; Bourdieu, 1979, Bourdieu e Darbel, 1991; Misiura, 2006; Peixoto, 2004; Prentice, 1993a e 1994; Richards e Bonink, 1995; Richards, 1996 ;Silberberg, 1995; Smith, 2003; Van der Borg e Costa, 1993).
Na discussão sobre as divergências e convergências entre os agentes do turismo, os
responsáveis pelo património cultural e a comunidade local, a Comissão Australiana do
Património Cultural reconhece que muitos locais patrimoniais são altamente valorizados
86
exedra • nº temático - Turismo • 2009
pelas comunidades locais e regionais, que se constituíram como as suas principais
protectoras.
As comunidades desejam desenvolver o turismo, mas também proteger a sua
privacidade, e preocupam-se com os efeitos que o turismo pode trazer, pelo que apontam
como fundamental que se: estabeleçam as necessidades, os interesses e aspirações da
comunidade local na fase de pré-planeamento; tenham em consideração as sensibilidades
culturais ou religiosas associadas ao uso e apresentação do local patrimonial; identifiquem
e consultem os líderes da comunidade local; apresente a perspectiva da comunidade
local; analisem formas da população local ter um papel activo na gestão e operação da
atracção turística (“os amigos do património”; acções de voluntariado; “story telling”;
visitas guiadas; entre outros); procurem maximizar os benefícios para a comunidade
local e reduzir ou evitar os impactes negativos (AHC, 2004).
Inskeep 4 (1994) apontava como formas de evitar os impactes negativos derivados
do turismo e de potenciar o desenvolvimento do turismo cultural: proporcionar
oportunidades para intercâmbio cultural entre comunidade local e turistas (interacção);
assegurar o acesso à cultura por parte das comunidades locais; preservação dos estilos
arquitectónicos locais; preservar a autenticidade das artes locais e dos festejos culturais;
proteger e apoiar os métodos de produção cultural locais; favorecer a criação de centros
culturais locais integrando espaços de exposição e de espectáculos; e quando necessário,
prevenção das visitas a espaços religiosos e a cerimónias onde os impactes possam ser
menos positivos1.
Uma nova mentalidade tem vindo a emergir baseada no desenvolvimento e na
implementação de estratégias de marketing que garantam padrões de qualidade que
não afectem os objectivos sociais do património cultural, ou que possibilitem que os
lucros comprometam a sua existência (Izquierdo e Samaniego, 2004). Mas outras visões
subsistem como é o caso de Desvallées que é muito crítico à acção do turismo associando-a
à “mercantilização” dos museus, pois considera que se verifica um consumo excessivo
dos bens das colecções, mas também dos bens patrimoniais que permanecem in situ e
fala em massificação:
“ (…) tem[-se] assistido aos biliões investidos para transformar estes locais culturais em supermercados do objecto patrimonial. Certamente que os nossos museus precisavam de rejuvenescimento; mas permitiu-se que os mercadores entrassem no templo. Conservaram o seu público fiel de intelectuais, de quadros e de classe média que visitam pelo menos uma exposição por ano (…) e a frequência familiar aumentou ligeiramente passando de 19% a 25% no decorrer dos últimos dez anos; no entanto, globalmente, em lugar de passar de um não-público a um público de proximidade, passou-se a um público de superfície, ou
87
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
seja o dos turistas, os quais segundo o programa dos operadores “fazem o Louvre numa hora” visitando sobretudo a Samotrácia5 e a “Monalisa” e constituem 25% dos visitantes deste museu e mais de metade nos museus paisienses.” (Desvallées, 2003: 54-55).
No entanto, no decorrer do artigo o autor relembra que não só ao turismo deve ser
apontado o perigo de comercialização, mas também ao mercado das artes e acusa o
museu de utilizar uma linguagem inacessível à maioria das pessoas.
Internacionalmente tem vindo a ser promovida alguma reflexão sobre o conceito
de museu e a sua evolução, e defende-se hoje que os museus combinem o seu objectivo
social – de instituições guardiãs de memórias, com responsabilidades na preservação
de um património, na investigação e na educação – com outro tipo de actividades de
promoção desses objectivos, com a concepção e implementação de estratégias de
marketing, que não comprometam a sua existência (Kotler e Kotler, 1998; Izquierdo e
Samaniego, 2004), e que gerem impactes económicos positivos para as comunidades e
para o próprio museu (McLean, 1997; Reussner, 2003).
Para uma melhor compreensão do contexto cultural e da evolução do museu através
do tempo apresenta-se a definição de museu.
2.1 A definição de museu
O papel do museu na actual sociedade encontra-se em acesa discussão, reconhecendo-
se de forma crescente que o conceito “tradicional” de exposição e de museu está em crise e
declarando-se a necessidade do museu se tornar mais dinâmico e competitivo, procurando
uma ligação mais estreita e participada com a sociedade, utilizando um discurso mais
comercial, mas sem que se distancie das missões de “conservação e conhecimento da
arte” (Martos e Santos, 2004:86). Os museus são, ou deviam ser “espelhos da sociedade”,
do seu desenvolvimento e da sua cultura, do passado e do presente. As alterações
resultantes da evolução da sociedade determinaram que o conceito de museu tradicional
se tornasse obsoleto (McLean, 1987).
Nos anos 60 o museu era um “templo de cultura” e as suas paredes eram opacas.
No século XX a cultura democratizou-se e o interesse público pelos museus cresceu
e diversificou-se. Hoje, o museu é um instrumento educacional capaz de promover o
reconhecimento de novos patrimónios (ex. do património industrial, onde se insere o
caso do novo Museu Municipal de Portimão).
O conceito de museu do ICOM (International Council of Museums) também tem sido
frequentemente redefinido e adaptado à realidade: “A museum is a non-profit making,
permanent institution in the service of society and of its development, and open to the
88
exedra • nº temático - Turismo • 2009
public, which acquires, conserves, researches, communicates and exhibits, for purposes
of study, education and enjoyment, material evidence of people and their environment.”
(ICOM Statutes, 1989, article 2, paragraph I). Esta definição foi adoptada em Haia, na
Holanda em 1989, tendo sido revista em 1995 e novamente em 2001. Como se pode
verificar, as referências à aquisição e à conservação permanecem prioritárias sobre as
questões de educação e de entretenimento.
As funções principais de qualquer museu são: identificar, recuperar e reunir grupos
de objectos e de colecções; documentá-los; preservá-los; estudá-los; apresentar ou
expor esses objectos ao público em geral; e interpretá-los ou explicá-los (Hernández e
Tresseras, 2001). As primeiras funções são as mais tradicionais e historicamente as mais
reconhecidas, constituindo-se as restantes como a que estão mais associadas ao público
e às dimensões sociais da gestão do património cultural.
A questão do uso social do património cultural ganhou maior relevância a partir
de 1920-30’s, pela tomada de consciência de que a perda de ligação com o contexto
de produção e uso desse património significaria a perda do seu significado. Qualquer
colecção ou museu só pode ser explicado através da sua história (Hernández and
Tresseras, 2001). Foi neste período que os responsáveis pelos museus se tornaram mais
sensíveis aos desejos e motivações da procura e se demonstraram mais abertos a uma
interacção entre protecção, difusão e estudo. Datam deste tempo as primeiras grandes
exposições temporárias, as visitas escolares, e os primeiros departamentos pedagógicos, e
educativos dos museus. São introduzidos novos sistemas de exposição e de apresentação
das colecções e surgem os primeiros estudos de públicos. Contudo, o período de Guerra
instalou uma crise na museologia internacional e só em 1984 com a “Declaração do
Québec” se reafirmou a importância da função social do museu (ICOM, 1989).
Outro conceito apresentado pela primeira vez no referido documento foi o da
“Museologia Activa” que envolve o desenvolvimento das pessoas e das comunidades pela
sua associação a projectos futuros dos museus, com o objectivo principal de contribuir
para um sentimento de orgulho local e contribuir para a prevenção da destruição das
identidades culturais. É nos anos 80 com a emergência dos “turismo de massas” que os
locais patrimoniais começam a assumir o papel de atracções, sendo nos anos 90 que o
edifício do museu perde ênfase e ganha maior relevância a possibilidade de transferir
temporariamente as exposições para fora dos museus (Boniface e Fowler, 1993; Garcia,
2003; Hernández e Tresseras, 2001; Misiura, 2006).
Em Portugal, segundo o conceito de museu adoptado e introduzido na Lei-Quadro dos
Museus Portugueses, um museu é: “uma instituição de carácter permanente, com ou sem
personalidade jurídica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que
lhe permite: a) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-
89
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
los através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação,
interpretação, exposição e divulgação com objectivos científicos, educativos e lúdicos; b)
Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção
da pessoa e o desenvolvimento da sociedade.” (Lei n.º47/2004 de 19 de Agosto).
Este conceito aproxima-se da definição do ICOM e introduz, pela primeira vez, a
necessidade de se possuir uma “colecção visitável”, bem como um processo de credenciação
dos museus, para que tenha lugar o reconhecimento oficial da qualidade técnica desse
museu (requisitos e processo encontram-se regulamentados pelo Despacho Normativo
n.º3/2006 do Ministério da Cultura e foram publicados em Diário da República, I Série-B,
Nº 18 de 25 de Janeiro de 2006).
2.2 A gestão e o marketing aplicado aos museus
Regra geral, as definições de museu centram-se mais no lado da produção do que
no da procura, demonstrando-se uma abordagem de consumo numa fase incipiente,
associando-se a um entendimento de espaço público (ou semi-público). Numa visão pós-
moderna do papel do museu é referida a importância dos serviços educativos e culturais,
assim como, a importância de incluir cinemas, teatros, bibliotecas especializadas,
bons bares e restaurantes, novos espaços comuns, criando uma oferta diversificada e
complementar, que possa dar origem a permanências mais longas e agradáveis naquele
espaço (Quadro 2).
Quadro n.º 2 – Dimensões do museu em face do tipo de gestão/direcção
Product/service dimensions
Emphasis of custodialmanagement
Emphasis of marketingmanagement
Education Value and importance inaesthetic termsMaintained, designed forpreservation of collections
Relevance to visitorsCreate impact, differentiation,visitor-friendly environment
Accessibility Standard opening hours, limited proximity of customers to some valuable collections
Proactive staff-visitorinteractions and proximityencouraged
Communication Predominantly passiveobservation encouragedStandardisedmessages/attention,impersonal approach, littleattempt to involve visitors
Visitors participate inexperienceMore individualisedmessages/ attention. Personalapproach and emotionalinvolvement of visitors
Fonte: Gilmore e Rentschler, 2002:757
90
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Alguns museus colocam a ênfase da sua actuação nas actividades tradicionais de
investigação e nas colecções. Não recorrem por isso a consultores, não analisam o
mercado, não fomentam as visitas ou as doações/mecenato. Os museus mais modernos
são geridos com um enfoque empresarial: centram-se na promoção de programas
criativos, preocupam-se com gerar fundos através de exposições temporárias; donativos;
festas; entre outras. Estes museus acentuaram nas suas políticas e na sua programação a
participação do público. Para tornar o museu mais acessível a uma audiência mais ampla
e atrair em particular aqueles visitantes que não iriam ao museu tradicional, promovem
um crescente número de eventos de grande alcance. Os museus estão a adoptar uma
orientação para o mercado (Gilmore e Rentschler, 2002) e querem oferecer experiências
excitantes (Kirshenblatt-Gimblett, 1998).
De acordo com Izquierdo e Samaniego (2004) o êxito do museu requer a utilização de
uma combinação de estilos apresentados no Quadro 2, colocando uma ênfase crescente
na abordagem empresarial. Todavia, o museu vê a sua gestão restringida por um conjunto
de factores de diferente natureza, onde se incluem questões financeiras, administrativas
e legais, que por vezes, se tornam inibidoras da introdução de alguma flexibilidade
(Martos e Santos, 2004). Inserem-se também no sector “não lucrativo”, o que dificulta
uma atitude mais orientada para o mercado e desempenhos de qualidade.
Weil aponta quatro factores principais para a avaliar qualidade da acção do museu:
possuir uma missão claramente definida (que se perpetue, mas que seja exequível); ter
capacidade em termos de recursos (fiscais, físicos e humanos); avaliar a eficácia global
do museu (se o museu fez a diferença; se produziu impacto junto da audiência desejada);
e medir a eficiência (a utilização racional e equilibrada dos recursos) (Weil, 2002). O
elemento relativo à eficácia, é o mais difícil de avaliar, porque nos sectores considerados
não- lucrativos, o rendimento gerado ou a recuperação dos gastos não são os indicadores
que se costuma considerar.
Admite-se que não é fácil introduzir e aplicar os conceitos e os modelos dos negócios
lucrativos, no sector dos museus, e que poderão resultar daqui alguns pontos de conflito
com o turismo. Contudo, o museu que no futuro deseje desenvolver uma programação
que obedeça a padrões de qualidade e ombrear com outras ofertas de lazer terá que
promover uma análise: do mercado; da concorrência; do consumidor; e dos canais de
distribuição (Weil, 2002).
Só será possível definir a estratégia se se conhecerem as audiências. Os museus
possuem uma crescente diversidade de programação dirigida a diferentes audiências
(Garcia, 2003; Kotler e Kotler, 1998). O marketing é importante porque permite ao museu
91
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
confirmar a sua missão e dar uma resposta eficiente aos seus públicos, na medida em
que através das suas técnicas são identificados: o perfil do visitante; o mercado em que
o museus opera; o potencial de desenvolvimento dos principais segmentos do mercado e
as estratégias com vista a aumentar a base dos consumidores, bem como de atracção de
novas audiências.
No caso Português, os museus têm uma capacidade de gestão reduzida salvo os casos
em que se constituem como entidades privadas autónomas – a sua estrutura orgânica
difere pouco de região para região, e os seus meios humanos e os recursos económicos
são estabelecidos fundamentalmente em função dos gastos com o pessoal, dos gastos
correntes para o funcionamento dos serviços, e do plano de actividades aprovados
pela entidade que tem a tutela. Por exemplo, as receitas provenientes das entradas nos
museus da administração central, bem como das vendas nas suas lojas não revertem
a favor do orçamento do próprio museu, mas são reintegrados a nível central. Uma
capacidade de gestão tão limitada dificulta a afirmação do museu enquanto instituição
dinamizadora de uma acção cultural e social em torno do espaço em que se desenvolve
a sua actividade. Também se verifica uma grande diversidade de tipologias de museus
e das suas tutelas que conduzem a formas e a situações de gestão orçamental muito
díspares, não correspondendo em muitos casos a orçamentos autónomos do museu, mas
dependentes de entidades que lhes são exteriores (Serra, 2007).
A maioria dos museus também não tem procurado integrar a sociedade civil no seu
projecto e o tecido social tem em regra uma participação de espectador em face da acção
promovida pelos museus.
Verifica-se um crescimento das expectativas da parte dos visitantes e consumidores
em relação ao facto da experiência no museu incluir mais diversão e envolvimento. Sabe-
se que os mecanismos interactivos e a oferta de outros serviços de lazer de qualidade
como o merchandising, comércio e restauração, aumentam a notoriedade dos museus,
bem como alargam o seu mercado de acção. Algumas organizações têm apostado numa
gestão do tipo “best value”, recrutando pessoal com as competências necessárias para
gerar novas fontes de financiamento e manter as qualidades competitivas (Lennon e
Graham, 2001, dão o exemplo do Museu de Ciência de Londres).
A venda livre dos bens declarados de interesse cultural encontra-se fortemente
restringida em muitos países pela legislação nacional, pelo que, os museus possuem um
número de peças elevado em reserva, que consideram sem grande valor, mas que por
vezes, o seu empréstimo ou o seu intercâmbio podem contribuir para a valorização do
espólio.
Em regra, os museus em função da sua inserção territorial, possuem um maior
92
exedra • nº temático - Turismo • 2009
número de peças de determinadas civilizações que, podem não existir noutros países ou
noutros territórios e pelo intercâmbio podem dar a conhecer em outros museus, outras
culturas. No caso Europeu, Martos e Santos (2004) falam na partilha desse património
como forma de contribuir para um maior conhecimento da história europeia, propondo
a criação de uma “Rede de Museus de Civilização Europeia” no âmbito da Comissão
Europeia. Por outro lado, o empréstimo temporal destes objectos “não expostos” a outras
instituições, permitiria a rentabilização desse património, e até estar na base de novas
aquisições, pelas receitas que daí podem advir.
Os museus actuais procuram uma renovação e adaptação ao visitante (Izquierdo
e Samaniego, 2004). A monitorização dos visitantes nos museus é uma das medidas
mais implementadas internacionalmente. Por exemplo, no Natural History Museum em
Londres, que recebe cerca de 1,7 milhões de visitantes ao ano, promoveu um processo
de reorganização, criando equipas de especialistas dedicadas a estudar os percursos e a
experiência do visitante. Conceberam ainda circuitos temáticos e orientam as visitas para
aqueles visitantes com tempo limitado (Garcia, 2003). Para estudar o perfil do visitante
e do “não visitante” implementaram inquéritos nos autocarros de Londres, entrevistas
pessoais e questionários aos visitantes dos museus. Outros autores propõem a adopção
do modelo de experiência interactiva (Interactive Experience Model) que pressupõe
cuidados acrescidos com elementos como o contexto físico – espaços para descansar/
sentar; legendagem e percurso (itinerário) (Falk e Dierking, 1992).
Uma recomendação chave será assim o desenvolvimento de estratégias de base
territorial. Propõe-se hoje uma alteração aos tradicionais discursos evolucionistas dos
museus e defende-se a introdução de uma organização museológica orientada para
correspondências e relações que possibilitem a abrangência de uma “multiplicidade de
histórias”, bem como, um maior “leque de possíveis interpretações” (Semedo, 2006).
Esta quebra com a organização clássica da exposição pode estar, no entanto, na base de
alguma desorientação.
O museu não deve ser um mero local onde estão depositados materiais que funciona
como centro de investigação e apenas pode ser visitado por uma minoria, mas deve
ser perspectivado como “um núcleo de projecção cultural e social, com uma contínua
e decisiva função didáctica, com uma aproximação viva à cultura.” (Martos e Santos,
2004:80).
Segundo Alice Semedo está-se a operar uma revolução e renovação dos museus que
coloca a “ênfase na promoção da experiência; [e] que revela novos horizontes éticos,
epistemológicos e estéticos. A procura de relevância fora dos seus contextos habituais é
sem qualquer dúvida, um dos eixos desta metamorfose museológica.” (Semedo, 2006:6).
As pessoas esperam hoje que a visita ao museu seja relaxante, divertida e que se traduza
93
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
num espaço de sociabilização, tal como em outros centros de lazer ou de educação. O
museu emerge num leque alargado de opções de lazer, pelo que, têm que se modernizar
para ir ao encontro de um mercado mais exigente e isso significa programas educativos
diferenciados e com propostas adequadas aos seus públicos mas também a necessidade
de melhorar as infra-estruturas do museu. Mas será que os responsáveis pela gestão do
museu são da mesma opinião?
Um estudo desenvolvido junto dos directores dos museus norte americanos6
demonstrava que as estratégias de marketing mais importantes que os directores
desejavam desenvolver eram: novas exposições para promover a repetição de visitas;
oferecer programas para diferentes visitantes; aumentar a reputação do museu pelo
reforço da publicidade, relações públicas e patrocínio. As estratégias menos apontadas
foram (ordem crescente de ponderação): estabelecimento de sucursais/secções noutros
locais para chegar a outras audiências; e pagar a uma agência de publicidade para
fortalecer a identificação/imagem do museu. O planeamento das exposições tinha em
conta sobretudo (ordem decrescente de importância): as necessidades de diferentes
grupos de visitantes; avaliar a orientação (ou não) da exposição para os visitantes;
preparar actividades interactivas para ir ao encontro dos estilos de aprendizagem dos
visitantes (Yeh e Lin, 2005). Verificou-se também que o peso das entradas de visitantes
no orçamento do museu já é substancial (segunda fonte principal de rendimento), mas
mais surpreendente foi que os directores dos museus evidenciaram que acreditam que os
meios de comunicação tradicionais, como a rádio, a TV, os jornais e as revistas são mais
eficientes, do que o e-mail ou a página on-line (Yeh e Lin, 2005).
Gostava de destacar a relevância dada pelos inquiridos à necessidade de possuir
actividades “hands-on”, do tipo ateliês, e uma loja, como formas de possibilitar uma
melhoria das experiências interactivas nos museus.
Quanto ao catering ou à inclusão de serviços de restauração no museu, Falk e
Dierking (1992) defendem que este serviço pode contribuir para melhorar a experiência
do visitante no museu e que até a preparação de pratos especiais que vão ao encontro
da exposição em curso, pode ser uma das formas de passar a mensagem do museu. É
inegável também o contributo que pode dar para o aumento das receitas do museu e, tal
como Yeh e Lin (2005) afirmam, ninguém conseguirá desfrutar de uma visita ao museu
se estiver com fome. Por sua vez, as sucursais são referidas por Kotler e Kotler (1998)
como forma de projectar a imagem dos museus noutros locais, o que pode contribuir
para a atracção de novos visitantes.
Hein (1998) afirma que a aprendizagem se deve constituir como a função principal
dos museus, todavia, há que acompanhar os novos processos de aprendizagem e adaptá-
los aos estilos dos tempos modernos: “Museums are extraordinary places where visitors
94
exedra • nº temático - Turismo • 2009
have an incredible range of experiences” (Hein, 1998:2). Yeh e Lin reconhecem que o
museu apresenta vantagens associadas às formas de aprendizagem informais e afirmam
“Learning in museums give visitors a self-directed learning opportunity to construct
personal learning atmosphere, scheduling, and content.” (Yeh e Lin, 2005:281). Mas
para que tal se verifique, será necessário que os museus acompanhem a sociedade e tal
como afirmava um dos directores que se entrevistou: “Não concebo que em minha casa
tenha por exemplo o acesso a determinadas tecnologias e que no museu não tenha – os
computadores, a informação via audiovisual, já há museus virtuais, já há museus com
interpretação interactiva.”7.
Não está em causa a discussão do museu como parque de atracções, mas a verdade
é que o museu é um espaço onde se contam histórias e hoje as pessoas esperam mais
do que a simples venda de uma mercadoria (i.e. o bilhete de entrada numa exposição),
procuram uma experiência (Quadro 3).
Quadro n.º 3 – A “experiência” como conceito económico
Evolução das abordagens económicas até ao presente
Commodities Goods Services Experiences
Seller Market User Client Guest
Buyer Characteristics Features Benefits Sensations
Fonte: Pine e Gilmore, 1999:6
Segundo Pine e Gilmore a experiência é criada quando: “a company intentionally
uses services as the stage and goods as props, to engage individual customers in a way
that creates a memorable event.” (Pine e Gilmore, 1999:11).
A experiência turística é por definição um processo subjectivo, daí que segundo
Ryan (1997) será fundamental o contexto da experiência, assim como os antecedentes
sócio-culturais. A intangibilidade do produto turístico conduz a uma identificação da
experiência turística como uma matéria de percepção (Fainstein e Gladstone, 1999).
Os analistas culturais enfatizam os efeitos da indústria turística sobre o espaço e
as referências simbólicas. A autenticidade é quase sempre uma referência obrigatória
quando se discute a experiência turística, considerada por inúmeros autores como questão
fundamental, numa análise desenvolvida por Judy Cohen (2002) sobre os trabalhos de
Dean MacCannell (1976), Daniel Boorstin (1987) e Umberto Eco (1983) a autora conclui
que nem sempre o turista tem como objectivo a procura de uma experiência autêntica e
caracteriza o turista pós-moderno: “(…) not so much a new type of animal, but rather a
95
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
decision-maker with a new array of options.” (Cohen, 2002:34).
Cohen argumenta que os turistas modernos não são diferentes daqueles de tempos
passados e que desde longa data que o turista procura minimizar o desconforto e os
riscos associados às viagens. Por sua vez, a “encenação da autenticidade” sobre a forma
de cerimónias, actividades e eventos tem sido vastamente disseminada e é hoje bastante
comum, ainda que criticada por alguns. Por seu lado, Smith (2003) considera que mais
importante do que discutir se a autenticidade é real ou encenada, será assegurar que as
comunidades locais se sentem confortáveis com o seu papel de actores e animadores do
turista.
Os recursos autênticos serão os locais, serviços ou eventos que reflectem o património
nacional, regional ou local. A autenticidade pode ser determinada com base em vários
critérios. O recurso pode até nem reter todas as características culturais relevantes, mas
deve reter todas as que se relacionam com a sua identidade histórica ou a sua relação
com a tradição cultural (Lord, 2002). Em suma, as experiências turísticas autênticas
serão aquelas com significado.
De acordo com McKercher e du Cros (2002) será ainda fundamental que se
identifiquem aqueles recursos que são realmente excepcionais e de valor único, e que
serão os responsáveis por atrair as pessoas ao destino.
Saliente-se uma vez mais, a importância de consultar os vários agentes dos dois
sectores para assegurar que se evitam conflitos. Todas estas reflexões são relevantes para
determinar o potencial de atracção do turismo por parte dos museus. Por outro lado,
deve existir a consciência que, regra geral, os museus possuem um grande potencial
de atracção turística, podendo constituir-se como contribuintes válidos e parceiros
principais do desenvolvimento do turismo cultural – na teoria e na prática (Benediktsson,
2004).
2.3 O museu como pólo de atracção turística
Os grandes museus da Europa são um importante factor de mobilização de pessoas,
sobretudo através das suas grandes exposições. Estes museus estão extremamente
interligados com a política da própria cidade – as decisões sobre as grandes exposições
na Holanda, por exemplo, não provêm do director do museu ou de um grupo de
conservadores, mas do departamento de marketing da cidade e da decisão colectiva de
um grupo de gestores para tentar aumentar as visitas. Este fenómeno teve início nos
anos 90 na Holanda, com as exposições de Van Gogh, tendo sido seguido no Reino Unido
e em França, e esteve na origem de centenas de milhares de visitas às cidades (Bellacasa,
1999).
96
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Para conseguir concretizar este tipo de iniciativas tem que se adaptar as estruturas
dos museus ao novo consumidor. Em Espanha procurou-se promover este tipo de
iniciativas através do Ano de Goya e do Ano de Velásquez, mas sem o sucesso desejado,
que se atribui ao descurar do aspecto da comercialização turística. Numa referência ao
caso Espanhol, o autor conclui que os grandes museus ainda não perceberam que têm
que possuir gestores e alterar a sua estrutura de gestão. Num grande número de museus
os horários não estão adaptados aos fluxos turísticos e encerram aos Domingos.
Bellacasa (1999) reconhece que o visitante contemporâneo necessita de: flexibilidade,
informação em vários idiomas, produtos comercializados pelo museu, realizar
actividades à volta das colecções. Em suma precisa de “viver o museu”, estabelecê-lo
como um marco da cidade e factor de desenvolvimento da mesma. Outros museus, como
o Museu do Louvre ou o Museu Britânico já introduziram a possibilidade de alugar salas
e outros espaços para jantares e para filmagens como forma de angariar mais recursos
financeiros.
Não chega possuir um legado histórico relevante, é necessário que exista uma acção
política para que o local possa atrair turistas e afirmar-se como destino de turismo
cultural. Será também fundamental envolver as populações e conseguir a participação
da administração pública nos diversos níveis.
O território é dinâmico e por vezes converte-se em museu, por sua vez, o museu
representa um espaço territorial, de expressão da história e arte de uma área geográfica.
Existe uma dialéctica entre ambos (Rocio, 2004). Os recursos patrimoniais possuem
uma forte ligação com o território que emerge como o espaço em que se desenvolveu a
actividade humana ao longo dos tempos. A protecção e a dinamização destes recursos
têm conduzido à procura de soluções que possibilitem um desenvolvimento sustentado
do potencial destes recursos, que terão estado na origem, em Espanha, dos parques
culturais e dos parques arqueológicos, por exemplo (Martos e Santos, 2004).
Compreende-se hoje que é necessário associar os vestígios arqueológicos e os
monumentos aos seus territórios, e por isso verifica-se uma crescente musealização “in
situ” e ao proliferar dos centros de interpretação. Contudo, não só nestes casos isso deve
acontecer. O museu pode encontrar a sua base territorial numa cidade e está-se perante
um museu de cidade, ou pode assentar numa área mais ampla, e aí assume-se como a
base da estratégia de actuação as várias áreas patrimoniais do património em que se
insere. Veja-se o caso do “Ecomuseu”, conceito desenvolvido em França tem por base o
interesse pela ecologia e etnologia (Martos e Santos, 2004)
Também a necessidade de tornar os vestígios compreensíveis conduziu a uma
tendência para não descontextualizar, na medida em que a sua manutenção no território
97
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
possibilita uma leitura do objecto no lugar de origem. Uma nova visão do território estará
nos fundamentos de um novo conceito de museu, com base territorial e participação
da comunidade.: “(…)los ecomuseos, los museus integrales y los museos institutos se
apresentan como modelos óptimos para el desarrollo de estas políticas patrimoniales.”
(Martos e Santos, 2004:92).
Quadro n.º 4 - Rota Romana Andaluza
Estudo de caso: Museu e Território – Rota Romana Andaluza (Ruta Bética
Romana)
Projecto de turismo cultural que procura valorizar o legado romano em torno da Via •
Augusta no seu trajecto Andaluz.
Foram os municípios que tiveram a iniciativa e que constituíram a organização de uma •
sociedade com os seguintes objectivos: colocar em valor este património; difundir esse
património; conservar o mesmo.
Integra património artístico, cultural, monumental, tradições e gastronomia em torno •
do legado romano da Via Augusta.
É parte do projecto europeu das vias romanas do Mediterrâneo.•
Transversalmente cada município organiza exposições itinerantes, produz guias, •
vídeos promocionais e outros materiais como moedas, jogos, etc.
Gerou emprego e dinamiza a economia assumindo a conservação do património em •
causa através de políticas integradas nos âmbitos do: urbanismo, da economia, do
meio ambiente, do turismo e da cultura.
O projecto exigiu o compromisso de vários níveis da administração, da comunidade e •
da Confederação de Empresários da Andaluzia, da Consejeria de Turismo da Junta da
Andaluzia e o apoio da Consejeria da Cultura.
Fonte: Rocio, 2004
Este projecto vai ao encontro do conceito de museu integral (conceito introduzido
pela UNESCO em 1972), um museu que desenvolve as suas funções tradicionais, mas
integra o desenvolvimento de políticas patrimoniais sobre um território, integrando toda
a população desse território na sua actuação, constituindo-se como “núcleo dinamizador
del desarrollo cultural y también económico de la zona” (Martos e Santos, 2004:74).
Um exemplo que os autores apontam é o de Aragón em que foi introduzido o conceito
de “parque cultural” que se assumem como instituições integradoras do património
histórico daquele território (Martos e Santos, 2004).
O total dos visitantes dos museus da Andaluzia em 2000 ascendeu a 1.222.283
visitantes, a que se acrescem 2.234.054 de visitantes da Alhambra, que representa quase
98
exedra • nº temático - Turismo • 2009
o dobro dos visitantes dos museus no seu conjunto. Só para registo a Andaluzia em 2000
recebeu 19.780.727 turistas (Martos e Santos, 2004), o que se significa que um número
elevado de turistas não visita qualquer museu.
Outro elemento interessante da região de Andaluzia tem que ver com o facto da
distribuição geográfica dos museus se encontrar muito concentrada em torno das 8 capitais
de província, que se constituem por sua vez, como aqueles locais de maior rentabilidade
económica e de maior fluxo turístico, pois são também as maiores aglomerações urbanas
(entre 20000 e 50000 habitantes). As zonas com mais de 2 museus ou até 5 museus são
as que constituem territórios e cidades com património de maior importância: Sevilha,
Cádis, Málaga, Granada, Córdoba, Huelva e Almeria encontram-se entre esses locais.
Se se pretender fazer uma análise paralela do caso do Algarve, verifica-se que os
quatro museus estudados (que integram a Rede Portuguesa de Museus) situam-se todos
nas cidades de maior dimensão populacional do Algarve, na faixa litoral e nas zonas
de maior afluxo turístico da região. Numa análise de dimensão nacional em 2002, dos
591 museus que integraram a Base de Dados do Observatório das Actividades Culturais,
apenas 6,9% se localizavam no Algarve (30,5% na zona de Lisboa e Vale do Tejo; 26,1%
no Norte; 19,8% no Centro; e 9,8% no Alentejo) (Lima dos Santos e Bairrão Oleiro,
2005).
Existe um número crescente de autores que defendem na sua investigação que
os museus se constituem como elementos principais de atracção de turismo cultural,
advindo daí possibilidades de desenvolvimento económico – local e regional – muito
positivas (Prieto et al., 2002), o que tem contribuído para a disputa que se vive entre as
cidades numa tentativa de conseguir possuir um museu emblemático, com projecto de
assinatura de um arquitecto de renome.8
Um outro caso que merece referência é da Escócia, onde desde 1999 foi criado um
Visitor Attractions Monitor (VAM) que recolhe e publica as estatísticas do sector das
atracções turísticas integrando os museus (Lennon e Graham, 2001). A perspectiva do
museu enquanto atracção turística não é ainda hoje pacífica e grande parte das galerias e
museus do Reino Unido são propriedade do sector público, de associações e de organismos
sem fins lucrativos. Já foram vários os autores que referiram a função comercial dos
museus, no lazer e no turismo (Ambrose, 1994), outros afirmaram a necessidade de uma
maior orientação para o mercado (Cossons, 1985), ou mesmo evidenciaram a necessidade
de uma revisitação dos objectos, procurando criar uma ligação com o presente (Hall,
1997) para se desenvolverem como locais competitivos (Lennon e Graham, 2001).
Na Escócia, a atitude perante o turismo tem permanecido ao longo dos tempos
quase imutável apontando-se como o turismo como responsável por tornar a história
99
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
em mercadoria (Hewison, 1987), mas uma orientação comercial emergente na política
pública levou a que se introduzissem padrões de excelência nas organizações de serviços
públicos. Alguns dos indicadores introduzidos nesta avaliação qualitativa foram:
padrões de desempenho, informação e abertura; consulta e escolha; cortesia e ajuda;
melhorias na qualidade do serviço; melhorias planeadas e inovação; com a centralidade
da avaliação colocada no cliente. As estatísticas já são utilizadas pelas atracções para
medir o seu desempenho relativamente aos seus concorrentes e alguns dos indicadores
incluem a monitorização do número de visitantes, a sua permanência média e a despesa
por visitante (Lennon e Graham, 2001).
Lennon e Graham (2001) apontam o desenvolvimento de novas estruturas, mais
flexíveis, tais como, o trabalho em rede, a colaboração ou a partilha de recursos como
medidas capazes de contribuir para uma maior eficácia das políticas, que levaria a
interpretações mais coerentes do património cultural e a um maior estímulo à procura.
Apontam três factores principais que têm dificultado uma maior orientação para o
mercado dos museus: resistências dos museus que aumentaram a sua dependência do
mecenato e tendem a aguardar um maior suporte das suas redes normais de financiamento
(sector público, fundações, voluntários); ausência por parte dos profissionais dos museus
das competências de gestão necessárias para lidar com as pressões financeiras, legais e
comerciais; as obrigações éticas do sector dos museus levam a que considerem prioritário
a noção de serviço público, pela protecção e preservação do seu legado para as gerações
futuras.
Estão assim identificados exemplos de esforços internacionais no sentido de tornar os
museus espaços atractivos e atracções de lazer competitivas. Tal como afirma Silberberg
(1995) a relação que se estabelece entre os museus e os locais históricos, e o turismo tem
de deixar de centrar-se “No que é que podes fazer por mim?” e reflectir uma abordagem
do tipo “O que posso fazer por ti?”. Entre algumas das políticas e práticas que os museus
podem adoptar Silberberg refere:
Ajudar os hotéis a definir • packages de fim-de-semana para ultrapassar o problema
frequente das quebras nas taxas de ocupação.
Ajudar a definir programas complementares de lazer para os acompanhantes dos •
participantes em congressos e seminários.
O bilhete de ingresso pode ser considerado como passe alargado de um dia e incluir •
descontos noutras atracções, ou na restauração local.
Definição de horários em coordenação com o comércio local (Silberberg, 1995).•
A investigação do museu actual inclui novas dimensões nomeadamente a
monitorização do seu desempenho em termos de expectativas e níveis de satisfação do
visitante com a experiência. Alguns países já incluíram na sua agenda política a melhoria
100
exedra • nº temático - Turismo • 2009
da qualidade das atracções culturais e patrimoniais, desenvolvendo mecanismos de
avaliação da qualidade. No caso Escocês, a estandardização dos processos de avaliação
da qualidade dos museus é assegurado pelo “MA’S Registration Scheme” (Museum’s
Association), que resultou de uma iniciativa conjunta em 1998, da Museum and Gallery
Commission (MGC) e do Museum Training Institute, (MTI) (Lennon e , 2001)9.
Da revisão de literatura sobre a gestão do museu resultam algumas propostas que se
sumariam como propostas para um novo modelo de gestão dos museus:
1 - O museu deve constituir-se como instituição semi-pública ou co-financiada, por fundações
públicas, consórcios, empresas públicas ou organismos autónomos.
2 - Os recursos devem ser atribuídos em função de critérios objectivos, tais como: número
de visitantes, qualidade da colecção, quantidade da colecção, superfície expositiva, plano
estratégico.
3 - Os recursos externos devem basear-se em: entrada de visitantes, patrocínio, exploração
de lojas.
4 - Introduzir dias de livre acesso: limitados a dias especiais e determinados grupos.
5 - Cooperação com outras instituições públicas (desde a administração central até aos
municípios).
6 - Concepção de sistema de museus bem vinculado à área geográfica.
7 - Evitar descontextualização das colecções, pelo contrário ligá-las à envolvente imediata.
8 - A política relativa aos museus deve interligar-se com outras políticas – meio ambiente,
obras públicas, educação e turismo – como instrumento de desenvolvimento local (Martos
e Santos, 2004; Serra, 2007).
Há que ter consciência que o visitante-turista (potencial ou efectivo) tem diferentes
tipos de necessidades de informação, que incluem a simples informação no local, mas
também informação mais complexa sobre os significados históricos e culturais do local
(interpretação) (Eagles et al., 2002).
Os museus devem dar resposta às necessidades de informação dos turistas, e a
informação mais elementar inclui: a lista e a descrição dos recursos patrimoniais e
culturais existentes; a sinalética direccional e referências para chegar ao local; os
horários de funcionamento e o preço de ingresso; as diferentes actividades disponíveis
no equipamento, entre outras. O principal benefício de fornecer um programa de
interpretação reside na capacidade de construir audiências que compreendem e apreciam
os recursos a ser visitados, o que também contribuirá para uma redução de impactes
negativos e atrairá maior suporte público para o local. Uma vez no museu, as necessidades
de informação tornam-se mais complexas e o visitante quererá obter informação mais
detalhada e que possibilite estabelecer um diálogo entre passado, presente e futuro.
Os museus e a museologia moderna têm que ser capazes de contribuir para um
101
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
diálogo interdisciplinar, em especial porque têm um importante contributo para dar no
campo da conservação e desenvolvimento sustentado do turismo cultural.
3. Análise empírica dos resultados
Uma breve contextualização do panorama museológico nacional dará lugar ao
panorama do Algarve, procurando descrever e analisar criticamente os resultados, com
base no enquadramento conceptual desenvolvido e das linhas orientadoras apontadas
para o museu do futuro.
3.1 O panorama museológico nacional
Em Portugal, foi com o trabalho conjunto do Observatório das Actividades Culturais
e do Instituto Português de Museus que se deu início a um estudo objectivo e profundo
do panorama museológico português entre 2000 e 2003, recentemente publicado (Lima
dos Santos e Oleiro, 2005) e que tem vindo a ser actualizado (Soares Neves e Alves dos
Santos, 2006).
Os primeiros passos no sentido de melhor se conhecer a realidade museológica
nacional datam de 1999 com o “Inquérito aos Museus em Portugal” desenvolvido pelo
Observatório das Actividades Culturais e pelo Instituto Português de Museus (Soares
Neves e Alves dos Santos, 2001). À data foram identificados 680 registos de museus
(tendo sido excluídos os núcleos dos museus polinucleados e os museus desactivados – em
projecto ou temporariamente fechados por obras). Desses 680 museus, foram recolhidas
530 respostas válidas, tendo-se incluído entre os inquiridos: os Jardins Zoológicos,
Botânicos, Aquários e Monumentos Musealizados (excluem-se os sítios arqueológicos e
as Reservas e Parques Naturais).
Em face dos dados disponíveis e apresentados no Gráfico 1, o número de museus
a funcionar em 31 de Dezembro de 2005 era de 1.018, o que representa um acréscimo
de 40% em relação a 1999. Foi nos museus com abertura esporádica que se verificou
maior crescimento. Salienta-se uma tendência crescente para a apresentação de novos
projectos de criação de museus, tendo sido identificados 326 em 2005 (o que representa
153% de crescimento em relação aos números de 2000), sendo a administração local a
grande responsável por estes novos projectos, e pela declaração de intenções de criação
de mais museus. Este movimento é alargado a todo o país, com menor incidência no
Alentejo.
102
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Nº de Museus (1993, 2000 e 2005)
260
728
1018
0
200
400
600
800
1000
1200
1993 2000 2005
Nº de Museus
Gráfico n.º 1 – Evolução do número de museus portuguesesFonte: Nabais, 1993; Soares Neves e Alves dos Santos, 2006
Ainda que seja mais reduzido o número de museus em situação de fecho, os
investigadores verificaram igualmente que entre 2000 e 2005 este número aumentou
substancialmente, o que explicam com base em: “problemas derivados do mau estado
das infra-estruturas onde estavam implantadas, ao desaparecimento da própria tutela
e (e mais comummente) a processos de reorganização do sector dos museus por parte
das tutelas.” (Soares Neves e Alves dos Santos, 2006:6). Também surgem algumas fusões
em unidades museológicas e alteração de funções de espaços até então consagrados à
exposição de colecções, como resultado sobretudo de novas “opções de gestão que visam
racionalizar o funcionamento de algumas unidades mais deficitárias.” (Soares Neves e
Alves dos Santos, 2006:6).
A administração local – as câmaras municipais -, mas também algumas empresas
municipais (fenómeno emergente à data de 2005), permanecem como a entidade
que mais museus tutela.. No que se refere ao tipo de museu, predominam como mais
representativos os museus de: Arte, Etnografia, Antropologia, Especializados e Mistos e
Pluridisciplinares, verificando-se uma redução mais significativa nos museus de Ciências
Naturais e de História Natural. A maior concentração geográfica de museus permanece
na região de Lisboa e Vale do Tejo, mas com uma perda de peso relativamente ao conjunto
do país, devido sobretudo ao ganho de peso relativo da região Norte. Em 2005 tem
também lugar uma redução no número de concelhos sem museu, sendo no continente,
onde é mais notório o aumento de concelhos com pelo menos um museu (Soares Neves e
Alves dos Santos, 2006). Em 2006, os museus do IPM (Instituto Português dos Museus)
103
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
atingiram mais de um milhão de visitantes, o que já não se verificava desde 2002 (IPM,
2006). Os meses de maior afluência foram o mês de Maio (162 234 visitantes), pois tem
lugar neste mês o “Dia Internacional dos Museus” e a “Noite dos Museus”, e o mês
de Agosto (130.385 visitantes). Segundo a informação do IPM este aumento abrangeu
museus de entrada gratuita e paga, bem como foi generalizado a todos os museus da
RPM (Rede Portuguesa de Museus) (IPM, 2006).
Quadro n.º 5 – Entidades proprietárias dos museus em Portugal
Museus - Entidade Proprietária Nº %
Instituto dos Museus e da Conservação (ex-IPM) 28 23,3
Direcção Regional da Cultura dos Açores 8 6,7
Direcção Regional dos Assuntos Culturais da Madeira 6 5,0
Administração Central 6 5,0
Administração Local 50 41,7
Empresas Públicas 2 1,7
Privados Associações Fundações Igreja Católica Misericórdias
5942
4,27,53,31,7
Total 120 100
Fonte: Rede Portuguesa de Museus, 2007 (http://www.rpmuseus-pt.org/Pt/html.index2.html)
Por sua vez, as “Estatísticas da Cultura, Desporto e Recreio – 2005”10 publicadas pelo
INE em 2006 evidenciam os seguintes resultados em relação aos museus em Portugal:
Museus, por tipologia: 20% eram Museus de Arte, 18% Museus Mistos e Pluridisciplinares •
e 13% de Museus de Etnologia e Antropologia; com igual percentagem foram identificados
os Museus de História e os Museus Especializados (9,5%), tendo sido a tipologia dos
Museus de Território a apresentar menor expressividade no conjunto geral dos museus
(2,5%).
Os museus considerados registaram em 2005 um total de 9,7 milhões de visitantes, dos •
quais 1,8 milhões foram no âmbito de grupos escolares (18%).
Os museus mais visitados foram: Monumentos Musealizados (27%), com uma média •
de 190 mil visitantes, Jardins Zoológicos, Botânicos e Aquários (27%), Museus de Arte
(15%).
Número médio anual de visitantes por museu: 34,1 mil pessoas.•
104
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Acervo: total de 22,2 milhões de objectos, predominando os objectos de filatelia e •
fotografia (52%). Os bens arqueológicos e os naturais não vivos representaram 18% e
11%, respectivamente.
Os museus com maior dimensão de acervo foram: Museus de Ciência e de Técnica (33% •
dos objectos); Museus Especializados (21%) e Museus do Território (14%) (INE, 2006).
Os vários estudos consultados fazem referência ao facto de um número cada vez
maior de entidades museológicas procederem ao registo do seu número de visitantes
anuais, contudo, em face da disparidade do número de museus auscultados em cada
investigação, é difícil estabelecer uma evolução das entradas de visitantes nos museus
portugueses, apontando a análise do Observatório das Actividades Culturais e do
Instituto Português de Museus publicada em 2005 para uma evolução positiva entre
2000 e 2002 (Gráfico 2).
Gráfico n.º 2 – Evolução dos visitantes nos museus portugueses
11.829.47912.963.695 13.609.609
1.860.679 2.187.027 2.239.439
02.000.0004.000.0006.000.0008.000.000
10.000.00012.000.00014.000.00016.000.000
2000 2001 2002
Nº de visitantes
Nº de visitantes escolares
Fonte: Lima dos Santos e Oleiro, 2005:61
Segundo informação actual prestada pela Rede Portuguesa de Museus (RPM), na
sua página da Internet, o número total de museus em Portugal aproxima-se dos 1000.
No entanto, alguns destes “museus” correspondem a colecções visitáveis, monumentos,
sítios ou até outras situações, facto associado à actual definição de Museu, conforme
a Lei Quadro dos Museus Portugueses. Destes 1000 apenas 120 integravam a Rede
Portuguesa dos Museus em Julho de 2007. Esta mesma Lei Quadro instituiu o processo
de credenciação para o reconhecimento da qualidade técnica do museu (Artigo 110º),
quanto à adesão à RPM é voluntária e pressupõe a resposta a um processo de candidatura,
de acordo com o Despacho Normativo n.º3/2006 de 25 de Janeiro.
105
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
Em 2007 foi criado o Conselho Nacional de Cultura (CNC) e constituída uma Secção
de Museus e Conservação (SMC), órgão responsável pela apreciação das candidaturas
à integração na Rede Portuguesa de Museus. Por sua vez, é da Ministra da Cultura a
decisão de credenciação do museu, que é tomada com base no relatório técnico elaborado
pelo Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) e mediante parecer da SMC do CNC.
Hoje, com a fusão de serviços esta credenciação foi transferida para uma divisão no seio
do próprio IMC.
Na página da Internet da Rede Portuguesa de Museus pode ler-se “A Rede Portuguesa
de Museus é um sistema organizado, baseado na adesão voluntária, configurado de forma
progressiva e que visa a descentralização, a mediação, a qualificação e a cooperação
entre museus.” (http://www.rpmuseus-pt.org/Pt/html/index2.html, 2007). Esta rede
pressupõe uma dupla funcionalidade e constitui-se como: rede de informação – possibilita
disseminação de informação e estimula a comunicação; e, rede física – permite a interconexão
entre museus e a qualificação de equipamentos.
No processo de candidatura à RPM há um conjunto de documentação que os museus
têm que entregar, contudo não existe referência no processo à necessidade de definição
estratégica da sua acção junto da comunidade, assim como, se refere a necessidade de
elaborar estudos de públicos sem que defina periodicidade dessa auscultação ou os meios
que a Rede coloca ao dispor para o efeito.
A partir dos estudos referidos, bem como de outros trabalhos sobre as práticas de
lazer e culturais dos portugueses, desenvolve-se a seguinte análise dos principais factores
positivos e negativos relativos aos museus portugueses:
106
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Quadro n.º 6 – Factores negativos e positivos da análise dos museus portugueses
Factores Negativos Factores Positivos
Estudos sobre as práticas culturais dos portugueses demonstram que a visita a museus é uma das práticas de lazer com menor frequência. Elevado peso da tutela pública: 60% dos museus pertencem à administração pública e nestes 40% são da administração local. Insuficiência de recursos informáticos. Cerca de 52% dos museus nacionais não possuem serviço educativo organizado (num total de 591 museus em 2002). Muitos não possuem serviço de acolhimento ou até folheto desdobrável.Aumento do número de museus fechados que se atribuem a: mau estado das infra-estruturas; desaparecimento da tutela; processos de reorganização do sector dos museus por parte das tutelas (fusões de unidades museológicas, alterações das funções do espaço até então consagrado à colecção, redistribuição dos acervos, entre outros).Alguma dificuldade em garantir de forma continuada os requisitos exigidos pelo processo de qualificação como museu, pela Lei Quadro dos Museus Portugueses. Enquadramento legal entrave à inovação, sobretudo ao nível das carreiras.Perda da especificidade das colecções pela integração de acervos com dificuldades de definição do seu corpo predominante (derivado sobretudo do alargamento do conceito de património).
Tendência crescente para a apresentação de novos projectos de criação de museus. Criação da Rede Portuguesa de Museus/ Inquérito aos Museus/Base de dados dos Museus. Esforço de requalificação museológica.Redução do número de concelhos sem museu e esbatimento da predominância geográfica dos museus na Região de Lisboa e Vale do Tejo. Exposições temporárias surgem como oportunidades de captação e alargamento de públicos, e como instrumento de promoção. Crescente interesse pela museologia e museografia. Projectos de investigação que reúnem parcerias interessantes: OAC, INE, IPM. Novos eventos: Comemorações do “Dia Internacional dos Museus” e “Noite dos Museus” tem vindo a funcionar com grande êxito. Roteiro dos Museus (120 museus da RPM). Algumas oportunidades para o sector podem resultar da dinâmica de crescimento dos museus. Nova Lei Quadro dos Museus e regime de credenciação pela Rede Portuguesa de Museus tornam mais rigorosas as condições de funcionamento e qualificação dos museus portugueses (existentes e novos).
Fonte: Autora, 2007 (a partir de Fortuna, 1995; Garcia, 2003; Lima dos Santos e Oleiro, 2005; Novais, 1997; Soares Neves e Alves dos Santos, 2001 e 2006).
O trabalho coordenado por M.ª de Lourdes Lima dos Santos e Manuel Bairrão Oleiro
(2005) apontam como uma conclusão principal a situação precária dos serviços educativos
dos museus portugueses, na medida em que apenas 48% dos museus nacionais possuem
serviço educativo.
A partir da análise de vários relatórios, estudos e trabalhos realizados torna-se
evidente que existe a necessidade de uniformização dos procedimentos metodológicos
para a recolha e análise comparativa dos dados em relação a vários aspectos dos museus,
com especial destaque para os números de visitantes e número de museus existentes.
107
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
3.2 O panorama museológico regional
Conforme referido, este ponto reflecte uma análise dos quatro museus da RPM no
Algarve – situados em Albufeira, Faro, Portimão e Tavira (os dois primeiros são museus
fundamentalmente arqueológicos, o Museu de Portimão baseia-se num património
industrial regional (a indústria conserveira) e pode-se classificar de sociedade, enquanto
que o Museu de Tavira ainda está a definir o programa museológico, mas integrará
também vestígios arqueológicos). Paralelamente, desenvolveram-se fichas técnicas, com
as características descritivas desses museus.
Em três dos quatro casos a resposta à entrevista semi-estruturada foi fornecida pelo
director/a do museu, tendo no caso do Museu Municipal de Albufeira sido respondida,
por escrito, pela Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Albufeira. Numa análise
empírica dos elementos que se consideram essenciais para uma abordagem dos museus
atractiva e orientada para os diferentes públicos, gostava de salientar os seguintes
aspectos dos museus do Algarve:
1. Localização – Em muitos equipamentos a sua localização é um dos primeiros elementos a
considerar no estudo de viabilidade do projecto. No caso dos museus esse elemento pode
não se constituir como fundamental, na medida em que o que está lá dentro determina-se
como um elemento principal da sua atractividade. No entanto, existem algumas questões
que se levantam. Em 3 dos 4 museus estudados teve lugar uma reabilitação de edifícios
antigos, que no caso de Faro era um antigo Convento e no caso de Tavira era um Palácio
(Albufeira, antigo edifício civil e anteriores instalações da Câmara), que no entanto,
permanecem com problemas de temperatura, humidades, luminosidade, limitação de
espaço e condições de exposição, bem como de acessibilidade a pessoas idosas ou de
pessoas com deficiência. O caso de Portimão é excepcional, pois o edifício era uma antiga
fábrica conserveira de sardinha pertencente à família Feu, que a autarquia adquiriu e
através de uma candidatura ao Programa Operacional da Cultura tornou possível uma
renovação e readaptação total às suas novas funcionalidade de futuro Museu Municipal
de Portimão (MMP). O MMP tem uma localização privilegiada junto ao rio, mas não
deixa de ter problemas de acessibilidade e estacionamento.
2. Colecções – O Museu Municipal de Albufeira (MMA) e o de Faro (MMF) apresentam como
exposições de referência as suas colecções permanentes de arqueologia, ainda que com
enfoque sem períodos diferentes. No caso de Tavira o projecto ainda está em construção,
ainda que tenha previsto integrar no seu pólo principal uma colecção arqueológica
(período Fenício e Islâmico) e se aponte para um modelo polinucleado de museu.
3. Horário – Os museus municipais de Albufeira e de Faro encerram à Segunda-Feira,
o de Tavira encerra ao Domingo, e o de Portimão encontra-se ainda em adaptação e
renovação, apontando como abertura ao público prevista para Abril de 2008. No MMF
existe uma diferenciação de horário entre Verão e Inverno, fechando mais tarde no
período de Verão.
4. Sites - Em todos os casos o museu disponibiliza a sua informação institucional através do
site da autarquia, o que não se demonstra adequado a um público não residente, pois
108
exedra • nº temático - Turismo • 2009
as páginas de Internet das autarquias encontram-se em Português e reflectem uma
abordagem puramente descritiva, informativa e institucional. O grafismo, os conteúdos,
a navegação é em qualquer dos casos descurada e centrada numa função informativa ao
público português.
5. Comunicação, Mediação e Interpretação – Muito centrada nas folhas de sala, legendagem,
brochuras e edição de catálogos em todos os casos. No caso do MMP está prevista a
introdução de áudio guias. Em Tavira também se espera poder integrar uma maior
dimensão audiovisual e meios de interactividade. No caso de Faro, uma das exposições
permanentes tem apenas uma folha de sala bilingue (Português/Inglês que tem que ser
devolvida à saída). Existe a possibilidade de visitas guiadas com reserva antecipada, mas
mais vocacionada para grupos escolares. Em Tavira, a autarquia possui uma avença com
uma guia que leva grupos de turistas a visitar o museu e faz com eles uma visita guiada
ao espaço.
6. Política de preços – O museu de Faro apresenta uma maior diferenciação de preços, com
os tradicionais descontos para jovens e reformados, e gratuitidade para visitas escolares,
mas com a inovação de aos Sábados a entrada ser gratuita para os munícipes. Em Tavira
a entrada é gratuita para os grupos escolares. Em Albufeira a entrada é gratuita para todo
o visitante.
7. Sinalética direccional – é má em todos os casos, sobretudo se pensarmos no turista
estrangeiro, pois encontra-se em português apenas. No caso de Tavira é dificultada pelo
facto de aparecer o nome antigo do edifício que é “Palácio Galeria” sem a correspondência
a Museu da Cidade ou Museu Municipal de Tavira. Com a aproximação pedonal ao local
tende a melhorar a sua sinalização.
8. Comunidade – No caso de Faro11, o plano de actividades anual do museu engloba um
Programa de Intervenção Comunitária, com um número muito razoável de iniciativas
que procuram atrair a comunidade a visitar e a participar no projecto do museu e possui
um projecto de investigação intitulado: “Identidade, espaço e comunidade”, associando
à dimensão cultural e social, a noção de espaço físico (de território). Também em Tavira
está em desenvolvimento um programa específico para levar os vizinhos do museu a
visitá-lo. O MMP tem em funcionamento um laboratório de conservação e restauro que
presta serviços gratuitos à comunidade.
9. Modelo de Gestão – no discurso patente entre os responsáveis dos museus entrevistados
parece emergir uma mudança de uma visão curatorial da gestão dos museus que se está
a orientar para uma crescente aproximação dos seus mercados, ainda que a integração
da comunidade no projecto do museu seja nos quatro museus a preocupação principal, e
o seu marketing se traduza fundamentalmente na sua função de comunicação e relações
públicas.
Quase todos os museus possuem um Conselho Científico, ou pelo menos um conjunto
de especialistas que contribuem para o projecto científico do museu (museológico
e museográfico). No caso de Faro, existe uma grande proximidade das associações
do concelho nomeadamente daquelas representativas de pessoas com necessidades
especiais, que procuram integrar no seu Programa Anual de Intervenção Comunitária.
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Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
Em Portimão é referida a possibilidade de criar o grupo dos “Amigos do Museu” e em
Tavira, recusa-se a ideia da comunidade ter assento num órgão consultivo, por falta d
conhecimento para avaliar as propostas científicas a integrar no projecto do museu,
referindo que essa participação poderá acontecer noutro tipo de órgão a definir, mas
também em seminários, encontros ou outro tipo de actividades em que faça sentido a
participação activa da comunidade. Em Albufeira a interacção com a comunidade faz-se
junto dos seus públicos escolares.
3.3 Análise crítica dos resultados da investigação
Uma análise particular dos resultados relativos aos museus RPM do Algarve, revelava
que:
1. Todos os museus possuem uma localização privilegiada no casco antigo das respectivas
cidades, o que resulta num contributo positivo para atracção histórica e cultural
da zona, mas como negativo tem associadas as dificuldades de acessibilidade e de
estacionamento.
2. Existe uma cumplicidade crescente entre os museus do Algarve, sobretudo ao nível das
equipas de direcção dos mesmos.
3. Todos possuem um serviço educativo e as visitas escolares assumem um papel relevante.
4. Existe uma tentativa de aproximação às comunidades residentes, que no caso de Faro
é bastante notória com o desenvolvimento de actividades inovadoras capazes de levar
pessoas ao museu que tradicionalmente não iriam. Alguns exemplos: Noite de Fados no
claustro; Baile de máscaras no Carnaval e Magusto no dia de São Martinho.
5. As equipas do serviço educativo não se encontram despertas para trabalhar o público
turista e excursionista como visitante que possui necessidades particulares.
6. Quase não existe qualquer tipo de contacto ou articulação com os agentes do turismo.
Existe vontade que essa relação se estreite no caso de dois dos museus, mas consideram
que no momento em que se encontram do projecto museológico seria prematuro.
7. Há uma ambivalência notória nos discursos dos entrevistados, deambulando as respostas
entre a opinião pessoal e a institucional, entre o ideal e o existente.
8. Propõem uma abordagem inovadora com base numa rede informal de museus do Algarve,
pretendem desenvolver a partilha de experiências (best practices), projectos conjuntos
num tipo de gestão circular em que seja possível manter e evidenciar as suas diferenças,
mas no seu conjunto reforçar uma identidade dos museus da região e assim a sua
competitividade como atracções culturais e patrimoniais.
9. O marketing destes museus tem-se restringido a acções de promoção e comunicação, ainda
que da abordagem referida no ponto anterior possam emergir novos olhares sobre os
instrumentos e técnicas que o marketing disponibiliza.
Todos os museus reconhecem a importância da necessidade de divulgar e promover
a sua actividade, possuindo no caso de Faro um “Boletim Informativo” mensal onde
110
exedra • nº temático - Turismo • 2009
divulgam as suas actividades para a comunidade e que enviam por correio electrónico
para os seus frequentadores mais assíduos.
Quando se pede aos responsáveis pelos museus do Algarve para definirem o museu
actual, o território emerge como um elemento principal da definição de museu: “(…) o
seu programa começa obviamente com a narração da inserção do museu no território,
na sociedade e na cidade (…); um museu que tem uma relação com a comunidade
muito interveniente, muito interactiva (…) (entrevista 1); “(…) a sua esfera de acção
é o território e não as colecções e que se integra na comunidade (…) (entrevista 2);
“(…) o discurso museológico da exposição permanente e das diferentes exposições
temporárias procuram evidenciar as especificidades do património local, bem como de
outros monumentos ou localidades do concelho(…)” (entrevista 3); “(…) museus virados
para os problemas da sociedade actual, para as nossas formas de viver, de sentir as coisas,
para os meios que utilizamos.” (entrevista 4).
O conceito de museu tradicional também aparece de forma unânime classificado
como um museu que funciona “numa perspectiva reactiva, pouco programada em termos
evolutivos dos seus espaços. É um museu auto-contemplativo.” (entrevista 1); “(…) é por
excelência estático, sem vida, amorfo em que a sua vida roda à volta das colecções que
alberga e onde o público a que se destina são especialistas (…), uma instituição virada para
dentro (entrevista 2); “nós sentimos quando visitamos (…) corresponde a uma visão de
épocas mais recuadas.” (entrevista 4); e esperam que o museu do futuro seja: “um espaço
de vida, de alegria, de abertura, onde se pode falar.” (entrevista 1); “(…)lugar de reunião,
de partilha, de tolerância.”, “(…) deve saber valorizar a identidade; construir memória;
trabalhar o território; legar patrimónios, ter como base a sociedade; formar públicos;
inserir-se na contemporaneidade.” (entrevista 2); “(…)o resultado de todo o contexto
social, político, económico e cultural do mundo (…), o futuro dos museus portugueses é
terem uma gestão semelhante à desenvolvida no sector privado (…)” (entrevista 3); “(…)
será uma instituição multifacetada, se calhar com valências que ainda não tem hoje.”
(entrevista 4). Também existem referência a uma maior autonomia na sua gestão, a
novos meios tecnológicos ao seu dispor e a uma crescente democratização da sua acção
cultural e dos seus públicos.
A relação dos museus com o turismo surge tipificada como positiva, mas embrionária,
sem que exista um diálogo permanente entre os diferentes agentes. Um dos entrevistados
reconhece que: “(…) aqui de facto nós estamos de costas viradas, cultura é cultura e
turismo é turismo e portanto começa logo por ai.” (entrevista 1).
Como primeiro projecto conjunto os quatro museus preparam-se para editar uma
publicação sobre a história dos seus edifícios.
111
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
Como conclusão gostava de afirmar que os museus devem procurar com as suas
equipas (que devem ser multidisciplinares), encontrar novas formas de atrair públicos
que se relacionem directamente aos seus territórios de fixação e às suas comunidades,
assim como, ter a preocupação de conhecer os seus públicos para melhor responder
às suas necessidades. Formas de gestão inovadoras, como as emergentes nos museus
do Algarve podem ser um caminho, mas cada museu deve procurar encontrar a sua
estratégia de diferenciação, mesmo que isso signifique a interacção com outras atracções
do seu território.
Os museus portugueses não fogem à realidade internacional encontrada nos estudos
consultados, e que os problemas que se colocam aos museus portugueses parecem ir
ao encontro das discussões que têm vindo a acontecer um pouco por toda a Europa,
mostrando-se a realidade norte americana mais díspar e com maior capacidade de
resposta à evolução e acompanhamento das mutações da sociedade. Conforme será
evidente uma análise mais detalhada ocorre ao nível do trabalho de campo desenvolvido
e da análise e interpretação dos dados recolhidos.
Verifica-se no entanto, que os estudos de públicos têm assumido um carácter pontual,
e que a preocupação dos serviços educativos está muito centrada nos públicos juvenis e
em alguns casos infantis.
A relação entre o turismo e a gestão do património cultural tem sido tipificada como
uma competição pelo uso do mesmo recurso, em vez de se caracterizar por uma cooperação
para alcançar objectivos de benefícios mútuos, obtendo-se como resultado negativo uma
excessiva atenção dada aos compromissos relativos aos valores da conservação por parte
do turismo. No caso do Algarve, esta relação “já é melhor, mas ainda não é de todo uma
relação muito aberta e directa.”.
Conclusão
Como tornar os museus importantes atracções turísticas de um território?
As sociedades – tal como todos nós – têm necessidades diversas e a receita de
equilíbrio entre as dimensões dos museus, do território e do turismo, podem não ter
uma resposta comum.
Os museus ainda que partilhem de uma imagem de marca comum – instituições
de prestígio e grande valor simbólico -, variam em diferentes aspectos, tais como o
tamanho, a natureza das suas colecções, o edifício onde estão localizados, em recursos
humanos e técnicos, e principalmente, em orçamento, e as suas colecções baseiam-se em
regra na cultura material das suas comunidades, pelo que, dificilmente qualquer teoria
112
exedra • nº temático - Turismo • 2009
de marketing pode ser transversalmente aplicada, na medida em que o museu se insere
numa comunidade e num território único, com os quais tem que dialogar para construir
os seus significados, pois só assim se poderá constituir como um museu de referência e
uma atracção turística.
É claro que o objectivo principal do museu continua a ser conservar e preservar; mas
o museu tradicional está ultrapassado, o público dos museus cresceu e diversificou-se;
emergiram novos tipos de museus: etnografia, folclore, museus da educação, museus de
sociedade; novos paradigmas museológicos: conservação in situ; reflectir as alterações
tecnológicas da sociedade (Parque La Villette em Paris); envolver a comunidade local
no projecto museológico e de conservação, encontram-se entre as alterações mais
assinaláveis. O museu da actualidade oferece exposições superpovoadas, vendem
catálogos a preços elevados e souvenirs na loja do museu, que se situa próxima da saída.
Estes museus apresentam uma frequência elevada de visitantes e promovem-se como
centrados nas audiências e na opinião pública.
Os museus enfrentam assim vários desafios, centrando-se esta análise na capacidade
de atrair mais visitantes, que passará pela adopção de uma gestão estratégica mais
orientada para o mercado e para as suas necessidades, para a manter a sua viabilidade
financeira, e em simultâneo cumprir com a sua função social, de instituições públicas.
Porém, verifica-se que existe um conhecimento muito incipiente do uso potencial dos
museus pelo turismo, e vice-versa, mas já se identificam benefícios claros que podem
resultar do desenvolvimento do turismo cultural associado aos museus.
O museu do futuro deve ser um espaço de reflexão, que se auto questiona
permanentemente e que por isso acompanha as dinâmicas do seu território e da sua
comunidade, tendo noção das suas limitações. Utilizando as palavras de um dos
entrevistados acrescenta-se, que o museu ideal se apresenta como aquele que “se abre a
360º graus sobre o seu território”.
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República - Iª Série-A.
Despacho Normativo nº3/2006 do Ministério da Cultura, estabelece o regime de
credenciação à Rede Portuguesa de Museus e o respectivo formulário de credenciação,
Diário da República – Iª Série-B.
Notas1 - Este artigo insere-se no âmbito do trabalho de investigação de Doutoramento em Turismo, sob o título “A valorização da Experiência Turística nos museus portugueses” a ser desenvolvido na Universidade de Évora, sob orientação do Professor Doutor Francisco Ramos e do Professor Doutor Carlos Costa (Universidade de Aveiro).2 - Uma parte substancial deste artigo foi apresentada sobre a forma de comunicação no I Congresso Internacional que decorreu em Peniche em Novembro de 2007, Escola Superior de Tecnologia do Mar/ Instituto Politécnico de Leiria, onde foi premiado com o 2º melhor trabalho de investigação.3 - Os inquéritos foram aplicados em 3 pontos principais da cidade: no Museu Municipal de Faro; na Biblioteca Municipal de Faro e na Baixa Comercial da cidade. O principal objectivo da investigação foi avaliar a relação existente entre o museu, a comunidade e o turismo. Foi desenvolvido um pré teste de 10 questionários junto de alunos do Curso Superior de Turismo da Universidade do Algarve. Os pré-requisitos definidos para responderem ao questionário foram: viver no concelho de Faro, ter mais de 15 anos e ter visitado o museu. Para o tratamento e análise dos dados estatísticos utilizou-se o SPSS (Statistical Package for Social Sciences).4 - Outras formas de fazer face aos riscos potenciais criados pelo turismo junto do património cultural incluem-se numa vasta revisão de literatura publicada na obra da autora: Gonçalves, A. (2003) A componente cultural no turismo urbano como oferta complementar ao produto sol e praia no Algarve. Lisboa, Instituto de Financiamento e Apoio ao Turismo/GEPE/Ministério da Economia.5 - Escultura grega que representa a deusa Atena Niké6 - Estudo conduzido a partir de uma população de 8000 museus dos EUA que são membros da Associação Americana de Museus, dos quais foi seleccionada uma amostra de 400 directores para responderem a um inquérito por correio. Os dados foram tratados em SPSS (Statistical Package for Social Sciences). (Yeh e Lin, 2005).
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Alexandra Rodrigues Gonçalves, Francisco Ramos & Carlos Costa • O museu como pólo de atracção turística
7 - Não se identifica o interlocutor por questão de confidencialidade das respostas (entrevista 3, Outubro de 2007). 8 - Refira-se o caso de Bilbau e do Museu Guggenheim, que nos dois primeiros anos de funcionamento recebeu mais de 2,5 milhões de visitantes. No primeiro ano de funcionamento (2001) o museu teve 1,36 milhões de visitantes, ficando em 2º lugar na tabela dos museus espanhóis mais visitados, a seguir ao Museu do Prado. A amplitude das transformações introduzidas em Bilbau em termos de imagem, fizeram do museu um ícone do renascimento urbano e da mediatização, que muitos outros programas de criação de “sucursais” têm procurado copiar. A Fundação Guggenheim estuda o desenvolvimento de novos museus, por exemplo, Hong Kong, Singapura e Guadalajara no México (Poulot, 2005).9 - Este Instituto em 1998 dá lugar a uma organização concebida para a formação e desenvolvimento de competências alargadas a todo o sector cultural e patrimonial, denominada Cultural Heritage Training Organization (CHNTO) (Lennon e Graham, 2001).10 - Consideraram um total de 285 museus.11 - No inquérito desenvolvido em Novembro de 2006 à comunidade, o MMF surge como o 3º recurso mais recomendado na visita a Faro e mais de 90% dos inquiridos apontam como expectativa de visita do turista ao museu: aprender sobre a cultura e história local.
Correspondência
M.ª Alexandra P. Rodrigues Gonçalves
Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo,
Campus da Penha, Estrada da Penha
8000 Faro
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
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Francisco Sampaio • A gastronomia como produto turístico
N º t e m á t i c o - T u r i s m o e P a t r i m o n i o
A gastronomia como produto turístico
Francisco Sampaio
Presidente da Região de Turismo do Alto Minho (RTAM)
Resumo
1. Turismo versus cultura – A Gastronomia é um discurso sobre o prazer da mesa. É
tributária da variedade e funde-se na escolha e na selecção. Parte integrante da
cultura, a Gastronomia implica amar e apreciar verdadeiramente boa comida e bom
vinho, dois dos prazeres da vida que, quando são sustentados por um bom serviço e
boa companhia, ajudam a proporcionar uma refeição, realmente fantástica. A sua
preservação e valorização deverão, pois, ser vistas como tão importantes como a de
qualquer outro elemento do património cultural. Vários estudos têm vindo a mostrar
que as mais recentes escolhas turísticas dão preferência ao Turismo Cultural incluindo
as experiências interculturais. É nestas experiências interculturais que o novo turista
(Séc. XXI), mantém a sua aposta. Isto é, já não basta apresentar o Inventário Turístico
tradicional – alojamento, alimentação e transporte (oferta tangível). O Século XXI
reclama novas emoções e novos afectos ligados à oferta intangível. É aqui onde entra
a nova Gastronomia como experiências únicas que são vividas, para além e dentro da
cultura, como mote de Produto Turístico – a Gastronomia Típica das nossas zonas rurais
(aldeias).
2. A gastronomia constitui-se como um recurso turístico primário; idem, como um
verdadeiro produto turístico, reclamando mesmo a sua autonomia. Os Domingos
Gastronómicos não necessitam de estar ligados a eventos para se constituírem como
principal motivo para uma deslocação turística. O Case Study desenvolvido pela
Universidade de Aveiro, confirma essa distinção pela sua atractibilidade numa época
baixa fazendo com que visitantes espanhóis e portugueses, de Madrid ou de Lisboa se
desloquem exclusivamente por ser um produto cultural (matérias-primas e receituários
tradicionais).
3. Os subsídios para a História da Alimentação da Euro Região Norte de Portugal / Galiza
iniciam-se a partir do primeiro contacto (anos 133 a.C) quando Decimus Junius Brutus com
o Cognome de “O Galaico” vem subordinar os Castrejos às Águias Romanas. A História da
Alimentação recebe influências da Grécia e de Roma passa por Suevos e Visigodos, pelas
Invasões Árabes, pela Reconquista, por uma vida medieval ligada a Castelos e Mosteiros,
pelas Descobertas e pelo aparecimento do Homem Novo do Renascimento e pelo Homem
Moderno e Contemporâneo.
4. Dos Receituários escolhidos (Festas Cíclicas / Ritos de Passagem / Refeições de Trabalho
– ritmos agrários, romarias), podemos caracterizar quatro tipos de cozinhas: cozinha
popular ou étnica; cozinha familiar, cozinha caseira, cozinha tradicional.
5. Também, não queremos virar as costas às Cozinhas Contemporâneas. Referimo-
nos, concretamente, às cozinha de autor, à cozinha histórica e à cozinha de fusão.
120
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Apresentamos uma proposta: a Nova Cozinha Atlântica que revela uma nova atitude,
um estado de espírito, uma mudança de mentalidades com uma obrigatoriedade: a de se
praticar ideias e conceitos inovadores, combinando a cozinha tradicional e regional com
a Escola e a Formação Profissional. Depois, a introdução de elementos de autor serão
sempre bem vindos.
Palavras-chave
Gastronomia, Turismo, Produto turístico, Turismo cultural, Turismo étnico, Ofertas tangível e intangível, Artes culinárias, Civilização castreja, Cozinha tradicional, Cozinha familiar, Cozinha caseira, Nova cozinha atlântica, Escola, Formação profissional, Dieta atlântica.
Abstract
1. Gastronomy versus Culture - Gastronomy is a dialogue about the pleasure of good food;
it is tributary of the variety and is based on choice and on selection. An important part
of culture, Gastronomy implies truly loving and enjoying good food and good wine, two
of lives pleasures, that when along with a good service and good company offer a really
fantastic meal. Its preservation and valorisation must be seen as much as important as
any other cultural patrimony. Several studies have shown that the most recent choices
done by tourists prefer Cultural Tourism including intercultural experiences. The new
tourist (21st Century) seeks these intercultural experiences. This means, that it is not
enough to offer the traditional Tourist Inventory - accommodation, food and transport
(tangible offer). The 21st Century demands new emotions and new emotions connected
to the intangible offer. This is were the new Gastronomy appears as unique experiences
that are lived beyond and inside culture as symbol of Tourist Product - the Regional
Gastronomy of our villages.
2. Gastronomy is established as a Primary Tourist Resource, idem, as an autonomous
product. Gastronomic Sundays do not need to be connected to events to be established
as a principal reason for a tourist trip. The case study developed by the University of
Aveiro, confirms this distinction by its attraction even during the low season bringing the
Spanish tourists and Portuguese, from Madrid or Lisbon to make a trip just for a cultural
product (products and traditional recipes).
3. The supports for the History of Food of the Euro Region North of Portugal / Galicia start
from the first contact in 133 a.C, when Decimus Junius Brutus the so called “O Galaico”
come to subordinate the Castrejos to Roman Eagles. The History of Food receives
influences from Greece and Rome, it passes though the Suebi and Visigoths, the Arab
Invasions, the Reconquest, through a medieval life connected to Castles and Monasteries,
the Discoveries and through the appearing of the New Men of the Renascence and
through the Modern Man and Contemporaneous.
4. From the Recipe Books chosen (Cyclic Festivals / Passing Rituals / Work Meals - agrarian
rhythms, pilgrimages) we may characterize four types of cuisine: ethnic and popular
cuisine, familiar cuisine, homemade cuisine, and traditional cuisine.
5. Also, we do not want to leave out the Contemporaneous Cuisine. We refer concretely, to
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Francisco Sampaio • A gastronomia como produto turístico
the author’s cuisine, historical cuisine and fusion cuisine. We presented the proposal at
the 4th National Congress of Gastronomy - Santarém 2005: the New Atlantic Cuisine
that reveals a new attitude, a state of mind, a change of mentality with the obligatoriness:
to practice innovating ideas and concepts, combining the traditional and regional cuisine
with Schools and Professional Training. After this, the introduction of author’s elements
will be welcome.
6. A trip through the Gastronomy of Entre Douro e Minho as also the Gastronomy of Galicia
tells us that the Gastronomy of the Euro region (Galicia / North of Portugal) is superior
by its excellency degree, reflecting exigency standards capable of revelling to the tourist
the identity of a destiny in the uniqueness composite of its geography, history and human
scenery.
Key-words
Gastronomy, Patrimony, Cultural tourism, Ethnic tourism, Intangible and tangible offers, Traditional flavours, Castro civilization, Traditional cuisine, Familiar cuisine, Homemade cuisine, New atlantic cuisine, School, Professional training, Atlantic diet
1. Turismo versus cultura
O grande dicionário da Língua Portuguesa (1981) descreve a Gastronomia como:
“a arte de cozinhar, de modo que se proporcione o maior prazer aos que comem; a
arte de regalar com bons acepipes, de comer bem, de saber apreciar os bons petiscos.
A Enciclopédia Britânica (citados por Richards G. 2002:3) define gastronomia como a
“arte de seleccionar, servir e saborear boa comida”. Para Alfredo Saramago (2002:15) a
Gastronomia é um discurso sobre o prazer da mesa, é tributária da variedade e funde-
se na escolha e na selecção. Parte importante da cultura, a Gastronomia implica amar
e apreciar verdadeiramente boa comida e bom vinho, dois dos prazeres da vida que,
quando são sustentados por um bom serviço e boa companhia ajudam a proporcionar uma
refeição realmente fantástica (Ckraknell e Nobis – 1985). A sua preservação e valorização
deverão pois ser vistas como tão importantes como a de qualquer outro elemento do
património cultural. Vários estudos têm vindo a mostrar que as mais recentes escolhas
turísticas dão preferência ao Turismo Cultural incluindo as experiências interculturais.
(C. Fernandes – XIV Congresso de Gastronomia do Minho – 2003:83).
Atracção turística cultural é já reconhecida pela Organização Mundial do Turismo
quando distingue os recursos como meios humanos, energéticos e materiais que uma
colectividade dispõe ou pode dispor. Tais recursos (incluindo a Gastronomia) são
considerados recursos turísticos a partir do momento em que são capazes de atrair
turistas tornando possível a actividade turística e satisfazem as necessidades da procura
(citado por Novais, 1997:32).
Fazemos assim a ligação entre a Gastronomia e o Turismo tal como defende Greg
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Richards (2001: 80) “uma grande parte da experiência turística é passada a comer ou a
beber, ou ainda, a decidir o quê e onde comer”.
A Oferta Turística é basicamente uma oferta de serviços e está sujeita à lei da
substituição, isto é, facilmente preterida em função de outros destinos turísticos. Daí
que um Destino Turístico é tanto mais capaz de atrair turistas conforme as respectivas
classificações de atracções o que vai influenciar o tipo de viagens, o número e o tipo do
alojamento turístico, a qualidade dos mesmos nas áreas naturais, edifícios históricos, os
santuários, os parques temáticos e, naturalmente, a Gastronomia.
Considerada ou não a Gastronomia como Produto Turístico, a verdade é que
Rosario Scarpato (2003:65) afirma que o “Turismo Gastronómico” é uma forma do
“Novo Turismo” adiantado por Poon (1993), um turismo mais flexível, segmentado,
diagonalmente integrado e ambientalmente consciencioso nos quais os turistas são mais
independentes e detém um maior grau de formação, buscando novas experiências, mais
aventura e divertimento. Azambuja (1999) elenca, além e dentro da cultura, como mote
de produto turístico, a Gastronomia típica das localidades.
Nas directrizes estratégicas para a Expansão Empresarial Ansoff (1965) as opções
de crescimento sistematizadas por Sharghnessy (1991:68), o desenvolvimento de novos
produtos e a sua diversificação obriga a um esforço de Marketing muito superior, já que os
mercados são ainda desconhecidos, quer a nível internacional, quer mesmo no mercado
doméstico de qualquer organização ainda não explorado por esta. Nas estratégias
oficiais para o Turismo Português (Livro Branco do Turismo (MCT / SET, 1991) onde
se apresentavam os vectores da estratégia do desenvolvimento do Turismo no ponto 6.
“Desenvolvimento da Oferta de Produtos Turísticos” a Gastronomia e Vinhos aparecem-
nos ligadas à criação de uma nova imagem turística associada ao conceito de “Portugal
– um País onde apetece viver” e não apenas passar férias; criação de uma imagem
múltipla (Portugal Pais de Contrastes, o campo, a praia, a cultura erudita e popular, a
alta qualidade o preço menos alto). Preocupação da diversificação e o porquê de aplicá-la
ao Turismo das Regiões de Turismo com a defesa do bem estar das populações residentes
e dos turistas, com a qualidade de vida, o equilíbrio ecológico, os recursos naturais, a
preservação dos ecossistemas e embora Sampaio (1994:62-63) considere que compete
ao ICEP a promoção global do País, defende a participação das Regiões de Turismo na
definição e elaboração dessas campanhas promocionais e na defesa e implementação de
novos produtos turísticos, entre os quais a Gastronomia e Vinhos.
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Francisco Sampaio • A gastronomia como produto turístico
2. Gastronomia versus identidade
Já o afirmamos - a Gastronomia Tradicional Portuguesa é um importante polo de
atracção dos fluxos turísticos. A Resolução do Conselho de Ministros nº96/2000 de 26
de Julho que afirma existirem “centenas de eventos promovidos anualmente no País,
por iniciativa das mais diversas entidades, frequentemente integrados em importantes
celebrações que constituem sempre verdadeiro polo de atracção para turistas nacionais
e estrangeiros” pode, conforme se pode ler na referida Resolução, a que a mesma seja
preservada, valorizada e divulgada (a Gastronomia Nacional) enquanto valor integrante
do Património Cultural Português.
Na mesma linha de pensamento, a FERECA, no seu IX Congresso que decorreu em
S. Salvador da Baía em 2003, reforçou a ideia que “é imprescíndivel que nas acções de
promoção turística no estrangeiro, a Gastronomia não seja esquecida”, sendo necessário
dar-lhe o devido relevo, como Produto Turístico, na certeza que poderá contribuir muito
mais para atrair turistas ao nosso País colmatando assim a Sazonalidade que desde o
Algarve ao Minho, cada vez se acentua mais. Também nos diversos Congressos realizados
pela Confraria dos Gastrónomos do Minho se vem afirmando: “da urgente necessidade
da criação de roteiros – tipo Domingos Gastronómicos - que pelo facto de se situarem na
chamada época baixa permitem combater a sazonalidade no Turismo do Alto Minho”.
3. Gastronomia versus autenticidade
No Inventário dos Recursos Turísticos da DGT (1991), a Gastronomia é considerada
como um recurso secundário ou complementar (ponto 5 – Actividades: Gastronomia e
Vinhos – pratos típicos, doçaria regional, vinhos regionais e queijos); circuitos turísticos;
compras; romagens. Infelizmente e ainda passados mais de 25 anos, a Gastronomia e o
Vinho continuam a ser classificados, segundo o Inventário dos Recursos Turísticos de
1991. Assim, a Gastronomia Tradicional Portuguesa é única e simplesmente classificada
como um recurso turístico primário quando ligada a festivais ou a concursos. De
facto e segundo a DGT, Gastronomia e Vinho por si só, não se constituem atracções
turísticas primárias. Daí que a Região de Turismo do Alto Minho, em 2001 (I Congresso
Internacional de Gastronomia e XII Congresso de Gastronomia do Minho) quando teve
entre nós o grupo de Investigação Internacional do Turismo da Associação ATLAS,
assim como especialistas da vizinha Galiza e Espanha, considerou-se ao abordar este
tema nos respectivos Congressos como sendo “pioneira na valorização da Gastronomia
Regional como um verdadeiro Produto Turístico”. Aliás, confirmado posteriormente
pelo Case Study efectuado pela aluna IVA Vinha do Departamento de Economia, Gestão
e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro e com a Orientadora Profª Elizabeth
Kastenholz em que nas conclusões (Domingos Gastronómicos) se refere o seguinte:
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O evento “Domingos Gastronómicos” (realizado entre Fevereiro e Maio de cada ano •
pela RTAM) constitui-se como um Recurso Turístico Primário, idem, como produto
autónomo.
Os Domingos Gastronómicos atraem visitantes espanhóis e portugueses com mais de 200 •
Km (ida e volta), como acontece com Algarve, Lisboa e Madrid.
Os Domingos Gastronómicos não necessitam de estar ligados a eventos para se •
constituírem como principal motivo para uma deslocação turística.
A Gastronomia e os Vinhos aparecem já no Relatório de Wolf Ollins’2004 Portugal •
Godeeper (ICEP - Sistema de Identidade do Turismo Português), com os seguintes
segmentos-alvo: Gastronomia/Vinhos; Arquitectura; História; Personalidades.
Nestes termos há que rectificar o Inventário da DGT - Inventário Português de Recursos •
Turísticos - que consideram a Gastronomia e Vinhos - como um recursos secundário ou
complementar.
4. Os Galaicos
A hostilidade sentida por Décimus Junius Brutus, no confronto com os Galaicos e,
mais para o centro de Portugal, os Astures, os Cantábros, os Vaceus ou os Lusitanos,
justificam na narrativa de fontes escritas o termos sido apelidados de “Bárbaros”, não só
pelo facto de, como refere Homero “não éramos comedores de pão” mas, também, por
desconhecermos o nome dos nossos Deuses, realizarmos sacrifícios humanos, no fundo
“um refúgio de bandidos de onde saiamos para incursões em campos já pacificados”.
O texto de Estrabão (Geografia) diz-nos quanto foi difícil a implantação da Civilização
Romana e quanto precária a sua penetração na Civilização Castreja:
- Todos estes habitantes da montanha são sóbrios: não bebem senão água, dormem no chão e usam cabelos compridos à maneira feminina, ainda que para combater os prendam com uma banda. Comem principalmente carne de cabra; a Ares sacrificam cabras e, também, cativos e cavalos; costumam fazer hecatombes de cada espécie de vítima, à maneira Grega e como dizia Pindaro emolam uma centena... em três quartas partes do ano os montanheses não comem senão belotas que secas e trituradas se moem para fazer pão o qual pode guardar-se durante muito tempo. Bebem zitos e o vinho, que escasseia, quando obtém o consomem em seguida nos grandes festins familiares. Em lugar de azeite usam manteiga.
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Francisco Sampaio • A gastronomia como produto turístico
Como viviam, então, os Castrejos?
Apesar de apelidados de “bandoleiros” por Estrabão e de fazermos a guerra a partir
dos montes (tipo guerrilha); apesar de não termos cidades como os Romanos o entendiam,
não era o povo “bárbaro”, como nos consideraram os cronistas romanos. Tinham hortas
e na floresta carvalhos, sobreiros e castanheiros; conheciam a agricultura e, nos currais,
havia cabras, ovelhas, cavalos e bovinos.
Assim, conheciam espécies de trigo, cevada, painço, ervilhas, favas, grão de bico,
castanha, bolotas, hortaliças, nomeadamente, os nabos e as couves, cerejas, frutos secos;
nos animais, podia escolher entre o porco, a cabra, o carneiro, os equídeos e os bovinos;
nos rios e no mar, lampreia, sável e salmão, trutas e bogas, pescada e congro, robalo,
pargo, dourada; finalmente, os mariscos com os crustáceos, as percebas e as santolas, as
ostras, a amêijoa, o berbigão, o mexilhão, as lapas e os búzios.
E como já referimos, e foi anotado por Estrabão: comem sentados em bancos de pedra,
construídos em redor das paredes, alinhando-se de acordo com a idade e a dignidade; os
alimentos circulam de mão em mão, bebem água e cerveja, vinho (só em grandes festins),
dançam os homens ao som da flauta e de trombetas, saltando alto e caindo de joelhos”.
5. Grécia e Roma. Suevos, Árabes, da Reconquista aos Descobrimentos
O que se passava na Antiga Grécia e em Roma? A comida dos Gregos e Romanos
era constituída por cereais, trigo, cevada, painço e derivados. Leite e queijo, elementos
indispensáveis aos cozinheiros romanos que os utilizavam como condimentos. Nas carnes,
o porco já era Rei. Os gastrónomos pagavam generosamente os recos que haviam sido
tratados a figos secos e vinho com mel, pois o fígado adquiria um tamanho monstruoso e
se convertia num manjar digno dos Deuses. Dos vegetais utilizados na culinária tinham
o grão, os tremoços, os rábanos, os nabos, o feijão, as ervilhas. Enchidos e fumados
curados ao fumo, toda a salsicharia (actual), era conhecida dos Romanos. Mas vai ser
nos peixes que Roma Antiga atinge o seu máximo em termos do requinte mastigativo.
Apício, o célebre cozinheiro romano, contemporâneo de Séneca, fundou uma Escola de
Hotelaria. Escreveu uma obra monumental em que recolheu a História da Alimentação
da sua época. Da sua obra fragmentada chegou-nos um livro de cozinha “Apicii Celli de
re coquinaria libri decem” e fragmentos de um outro onde se indicavam os peixes que
se capturavam nas águas do Mediterrâneo.
Com os suevos chega o arado quadrangular, instrumento potente, muitas vezes
provido de rodas que vai cavar as terras fundas (vessada), com quatro ou cinco juntas
de bois a puxá-lo, proporcionando assim uma lavoura fecunda que, desde essa época, se
mantém até aos nossos dias.
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Com os suevos chegou, também, o centeio da Europa Central, obrigando à primeira
grande transformação dos hábitos alimentares da população do Noroeste, permitindo o
fabrico de um pão mais barato, primeiro junto com o trigo, depois, com o milho quase
mil anos depois.
Nas Invasões Árabes e, sobretudo, durante o “ermamento”, árabes e os submetidos
moçarabes, utilizavam a rotação das colheitas: trigo, aveia e cevada; ervilha, feijão e
verduras; o terceiro ano sem cultivo (para recuperar). No ano seguinte, o ciclo agrário
iniciava-se pelas terras de pousio. A indústria da farinha ganha um incremento novo
com os moinhos de vento que se juntam às típicas azenhas nos cursos de água. Devido aos
árabes não comerem porco, era o “cordeiro”, o prato preferido, aliás, como os Judeus.
Com a Reconquista iniciada no Séc. XI e que se vai manter até finais do Séc. XIII,
a Idade Média foi decisiva para o desenvolvimento de uma nova sociedade construída
após o conturbado “Século do Ferro”, onde foi possível criar-se uma arte própria - o
Românico – uma filosofia e uma mística – Caminhos de Santiago – organismos sociais e
políticos que tiveram de se adaptar à sua complexa idiossincrasia. Reis, Nobres, Ricos
– Homens, filhos de Algo, Cavaleiros, Ingénuos (Homens Livres); servos (cozinheiros,
moleiros, pastores, carpinteiros), servos da gleba (adstritos às terras onde moravam e
com pagamentos em géneros das terras aforadas).
E a Gastronomia - tal qual a arquitectura românica tão apegada aos seus contrafortes,
cachorradas, torres sineiras obesas ligadas, ainda, a uma situação defensiva de cruzada,
viu aparecer a esbelteza dos ogivais, de colunas e rosáceas que inundam de luz uma
nova vida e uma nova esperança – deu Hossanas a um povo que viu, renascer das
cinzas, os grandes momentos da sua vida colectiva, dos seus rituais, dos seus mitos:
Natal, Entrudo, Páscoa, Santos Populares, Colheitas, Festas, Feiras e Romarias com
os manjares típicos dos Santos Patronos, assim como dos trabalhos de favor, feitos no
lugar e por vizinhos. Sinal que outros tempos estavam a chegar. Do Homem Novo com
as descobertas das Índias e dos Brasis, que permitiram contactos com novos Mundos.
Novas gentes, também, com as especiarias, novas plantas, os milhos, a batata e o arroz
que vão revolucionar toda a alimentação europeia.
6. A história da alimentação do Alto Minho versus receituário
A Confraria dos Gastrónomos do Minho assumiu desde 1984 o repto de trazer à luz a
História da Alimentação do Alto Minho, concretamente, dos Concelhos que enformam
a Região de Turismo. Uma opção de como deveríamos fazê-la poderia ser o resultado de
uma investigação que nos trouxesse todos os receituários:
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Francisco Sampaio • A gastronomia como produto turístico
Das • festas cíclicas (Natal, Ano Novo, Reis, Entrudo, Páscoa, Corpo de Deus, S. Martinho,
Santos);
Ritos de passagem (• nascimento, primeira-comunhão, comunhão-solene, namoro,
noivado, casamento, viuvez, mortório);
Refeições de trabalho• (ritmo agrário): vessadas, mondas, sachadas, arrigas do linho,
desfolhadas, espadeladas, malhadas, matança do porco, serões);
Romarias• (entre o altar e a mesa): Santo Amaro (enchidos e fumados); Entrudo – O Pai
Velho (cozido); Páscoa (Jantar da Cruz / Compasso Pascal / Lanço da Cruz – Lampreia);
S. João (Santos Populares / sardinha assada e cordeiro, etc.); S. João d’Arga (Cabrito);
S. Mamede (Mel); Senhora da Saúde (Solha – Lanhelas); S. Bartolomeu do Mar (Galo
Preto); Srª da Abonança (Peteiro da Santa); Srª da Peneda (Procissão de Mortos / Vivos);
Feira de Todos os Santos (Fiéis Defuntos) / Festa dos Pericos; S. Martinho (Castanhas e
Vinho); Srª da Conceição (Doçaria Popular); Natal (o célebre banquete Minhoto); Reis
(cozido - orelheira).
7. A boa mesa do Alto Minho
Todos estes aspectos nos pareceram importantes, sem contudo, me darem a sensação
que houvesse grandes novidades a trazer à História da Alimentação do Alto Minho. Daí
que a nossa proposta fosse diferente:
a) Recolha de receitas dos pratos mais característicos, (com a preciosa colaboração
das Técnicas das Delegações de Turismo), obtidos ao longo de muitos anos junto das
“velhas cozinheiras” do Alto Minho, onde amensandei já, um ror de vezes, e que fomos
reunindo numa pequena pasta de bonitas capas que é disputada em Congressos e Eventos
Gastronómicos (já na 5ª edição), dando origem,
b) Ao livro “A Boa Mesa do Alto Minho”, uma colectânea de receitas com assinatura de
“cozinheiras” e “donas” que décadas e décadas se dedicaram às artes culinárias de tachos
e panelas, deixando-nos agora na sua versão escrita toda a riqueza de uma tradição oral do
que de melhor temos sobre o receituário étnico, familiar, caseiro e tradicional minhotos,
proposta que assumimos nos livros e trabalhos de investigação com edições em espanhol,
francês e inglês e que passo a expor:
Cozinha popular ou étnica• : pratos da tradição antiga que não chegaram aos
restaurantes; cozinha de sentido etnográfico/folclórico que fazia parte da tradição
gastronómica quotidiana do passado e cuja vivência actual só existe em casos pontuais.
Receituário ancestral, de tradição oral (a perder-se), parte fundamental da nossa cultura
gastronómica e repartida pela geografia da região. Em resumo: hábitos alimentares dos
nossos antepassados cuja recuperação requer um trabalho de localização e investigação -
cozinha comunitária, da época: matança do porco, Consoada, cozinha do Entrudo, Jantar
da Cruz, arroz das lavradas ou arroz de Maio, bucho doce (Melgaço), afogado de cabrito,
sarapatel (Vila Mou), almoço e jantares de Baptizados, casamentos e missas novas e em
tempo, ainda muito recente, os jantares dos mortórios.
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
Cozinha familiar• : receitas de âmbito familiar, recitadas de cor, sem compromissos,
versátil, autónoma, com base nos produtos da “casa” (mimos da horta / quinteiro / corte).
Feita de muito amor aos tachos e panelas; alguidares e almofias de barros vidrados,
gamelas de pau, carretilhas de latão; a arte maravilhosa de desenhos feitos a fio de canela
- a canelografia. Sofre influências de aculturação (ex. bolo-rei trazido pelas moças
Minhotas criadas de servir em Lisboa).
Cozinha caseira• : é a soma da cozinha popular e familiar. É utilizada já na maior parte
dos restaurantes, sendo possível a sua recriação de modo a torná-la adaptável aos clientes
e gastrónomos (inovação na tradição). Cozinha de caseirices – feminina, ligada às raízes e
memórias da quinta e do folclore (os folares – as célebres roscas das Mordomas, o bate –
pão-de-ló das Romarias; o molho fervente que estruge na caçarola, de azeite fino, vinagre
de sete ladrões, cebola picada, dente de alho e o cheiro a pimenta).
Cozinha tradicional• : usa técnicas tradicionais com receitas mais elaboradas. Interpreta
a cozinha popular com as velhas tradições, os produtos endógenos locais e regionais,
inclusivé, as técnicas de elaboração das respectivas “funções”. Uma gastronomia sólida,
apoiada em sabores próprios de cada ingrediente. As receitas (com pelo menos cinquenta
anos de uma tradição oral viva e operante), são específicas e realçam os sabores do
produto. Muito profissional, masculina, satisfaz o consumidor e permite a convivência
e a confraternização.
Cozinhas contemporâneas
Mais três cozinhas surgem nos nossos dias a acrescentar às cozinhas étnica, familiar,
caseira e tradicional. São respectivamente, a cozinha de autor, cozinhas de fusão, a
cozinha histórica e a que definimos deste modo:
Cozinha de autor: • Privilegia outros produtos, testa outros paladares que não os da
tradição; a decoração torna-se numa arte de sedução em que a parte alimentar terá
que ser considerada sempre como um complemento ao refinar da apresentação. Rações
minimalistas, montagens e manipulações, delicadas e efémeras; surpresa do consumidor.
Reduz a confraternização para ser o espectáculo. O cozinheiro é mais estrela que o
cliente. Preços: o dobro. Tem clientela própria.
Cozinha histórica: • interpreta épocas da História, restituindo-lhe toda a sua dignidade
desde o trajo à confecção, aos alimentos da época, quiçá, os utensílios que eram utilizados
no tempo ou, mesmo, a sua não utilização: o saber comer “à mão”, como acontecia até
finais do Séc. XIII e que agora surge, sobretudo, na reconstituição das Ceias Medievais.
Cozinha de fusão – cozinha de influência contemporânea que tem por base
a globalização; propõe novas abordagens para produtos com história e tradição,
combinando dietas mediterânicas / atlânticas / asiáticas. Tal qual a cozinha de autor (os
olhos também comem), os pratos possuem uma apresentação lindíssima (verdadeiras
obras de arte), um génio, claro, com preços a condizer.
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Francisco Sampaio • A gastronomia como produto turístico
8. A minha proposta
Nível III - A inovação na tradição
Já vimos que na falta das velhas cozinheiras, mestras da cozinha étnica, familiar,
caseira e tradicional, resta-nos trazer as artes culinárias para as Escolas, e aqui residirá
sempre o quid da questão. Não poderemos deixar as Cozinhas Regionais (não vou
entrar aqui na questão por mim já levantada no XII Congresso de Gastronomia do
Minho, I Internacional - Esposende, 2001 - em que discutimos a Dieta Atlântica e a
Dieta Mediterrânica), sem uma aprendizagem garantida pelas Escolas ligadas à rede da
INFTUR, Profissionais e outros Centros de Formação, na certeza que cozinhar, além de
ser uma arte é, também, e em igual medida ciência e trabalho, o que obriga a acrescentar
nos curricula as cozinhas tradicionais.
Potenciar estas actividades com toda a sua transcendência social (Associações
Profissionais) e uma correcta projecção profissional (Estatuto) pode ser a condição
necessária para dar a volta ao problema.
9. Uma cozinha de emoções
Nível IV - Uma nova cozinha atlântica / Uma cozinha de emoções
Uma Atitude / Um Estado de Espírito / Uma Mudança de Mentalidades
Uma Cozinha de Emoções onde o CHEFE confecciona pratos ditos de “nova geração”,
cuja cozinha base é o receituário tradicional e os produtos de qualidade – DOP / IGP.
Daí que propusemos Superiormente (IV Congresso Nacional de Gastronomia / Santarém
/ 2004) que os Cozinheiros com o nível III possam frequentar o nível IV (agora da
responsabilidade dos Politécnicos, Escolas Profissionais e INFTUR) e onde aprenderiam
a:
Melhorar e incrementar as técnicas da cozinha ao vapor e ao vácuo e a elaboração de •
receitas a partir do uso e manejo das Novas Tecnologias;
Valorizar e compreender a importância de uma dieta saudável, utilizando produtos da •
temporada;
Praticar ideias e conceitos inovadores para a combinação de produtos alimentares (misto •
de emoções e sabores);
Aprender a combinar a cozinha tradicional e regional com a introdução de elementos de •
autor na Gastronomia;
Familiarização com os normativos do Sistema de Auto-Controlo (HACCP);•
Familiarização (mesas redondas, seminários e estágios) com especialistas estrangeiros e •
nacionais experts nesta Cozinha de Emoções.
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10. Galiza / fachada atlântica
Para uma carta gastronómica conjunta
Do mesmo modo como avançamos na Associação de Desenvolvimento do Turismo na
Região Norte (ADETURN) e com a TOURGALICIA, dentro da Comunidade de Trabalho
Norte de Portugal / Galiza, para a confecção de um mapa turístico Norte de Portugal
/ Galiza, que foi sucesso e praticamente já esgotou e em que foi necessário realizar
esforços para que as equipas de cartografia, sinalização turística, sinalização rodoviária,
ferroviária, etc, quer do Norte de Portugal, quer da Galiza, realizassem trabalho em
tempo útil, creio que, igualmente, e relativo à História da Alimentação, Gastronomia e
Vinhos, produtos certificados, muito há já feito no Norte de Portugal (Norte e Qualidade
– Universidade de Trás-Os-Montes, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de
Viana do Castelo, e na Galiza (Universidade de Santiago de Compostela – Instituto de
Investigação e Análise Alimentar – oferta de I + D) e que nesta proposta de confecção,
mercados e certificação da Dieta Atlântica, podiam ser englobados em parcerias
estratégicas de transferências de tecnologia, sabores e saberes. Em relação ao Minho
a Região de Turismo do Alto Minho já avançou com a respectiva Carta Gastronómica
tendo sido publicados “A Boa Mesa do Alto Minho” (colectânea de receitas tradicionais)
e, ainda, “Os Domingos Gastronómicos” (Em Busca de Uma Gastronomia Perdida) e,
ultimamente, uma pesquisa relativa à Gastronomia de Entre-Douro-E-Minho.
11. Conclusões
É nossa intenção reafirmar e provar, que existe um adjectivo “atlântico”:
a) Em contraponto à dieta mediterrânica, enquanto realidade geográfica com características
de agricultura de montanha (produtos hortícolas com ênfase especial para as brássicas),
abundância de pescados e mariscos; as raças autóctones – bísaro, barrosã, rubia galega,
ternera galega, Lacón Galego, minhota, cabrito do monte, cordeiro; fruta da época, peixes
e mariscos, algas e sal; leite e derivados; mel, pão de milho, batata da Galiza, vinhos
jovens (verdes) do Norte de Portugal, assim como da Galiza, D.O. Ribeiro, Valdeorras,
Rias Baixas, Monterrei, Ribeira Sacra; Aguardentes – D.E. Orujo de Galizia; Queijos –
D.O.P. Queixo Tetilla, Arzúa – Ulloa, Queixo de San Simón da Costa, Queixo de Cebreiro
e cidras. Partilhando condições edafo-climáticas que se espalham pela vizinha Galiza
(parceiro privilegiado neste projecto, assim como todo a fachada atlântica – Astúrias,
Cantábria, Pais Basco, Oeste de França, Sul de Inglaterra, Irlanda).
b) Falta-nos concertar a História da Alimentação da “velha” Galécia como Euro Região Galiza
/ Norte de Portugal. Os subsídios que apresentamos dizem-nos bem da sua pujança
cultural básica, concretamente, quando os conotamos através dos Séculos com a Cozinha
Popular ou Étnica, a Cozinha Familiar, a Cozinha Caseira e a Cozinha Tradicional,
131
Francisco Sampaio • A gastronomia como produto turístico
comuns em toda a EuroRegião. Também, não pretendemos continuar a apostar sempre
numa identidade e numa cultura que não crie pontes aos tempos actuais até porque
outras tecnologias, outras certificações transformaram a cozinha simples, sóbria, rica
de sabores fortes e pessoais como é a nossa cozinha étnica ou tradicional. Pretendemos,
também, inovar. Mas não iremos renegar o que é nosso, muito menos considerar a nossa
arte de bem comer antiquada, “fossilizada”. Ter uma nova Carta Gastronómica com
outras ofertas. Chamamo-lhe uma Nova Cozinha Atlântica. Uma Cozinha de Emoções
com novos sabores, novos afectos, mas sempre e, obrigatoriamente, com um fundamento
tradicional. Há identidades que é mister serem mantidas para se caracterizarem como
“referências” de uma oralidade de saberes culinários que foram transmitidos de geração
em geração. Responderemos sempre às seguintes questões: o que se come, quem come,
quando come, onde come e como se come.
c) Como já dissemos, Gregos e Romanos consideravam-nos Bárbaros (não éramos
comedores de pão) mas também, porque não fazíamos da comida um acto social, um
acto de civilização, um acto cultural. O homem civilizado, no conceito clássico, é aquele
que convive. O homem civilizado não come só. Plutarco diz mesmo: “Não nos sentamos
à mesa para comer, mas sim para comer juntos”. Assim o Simposium dos Gregos e o
banquete dos Romanos. Saber escolher as matérias autóctones e os cardápios que hão-de
manter a autenticidade e a memória desta nova cozinha. Receituários que na inovação da
tradição nos darão a honra de podermos equipararmo-nos a qualquer outra alta cozinha
seja de que País ou Região for. Uma cozinha de afectos voltada para os alimentos da zona
e do tempo (Paradigma do Território). Ligada às denominações de origem e agricultura
ecológica que, quer no Norte de Portugal, quer na Galiza se mantêm fiéis à Dieta
Atlântica. Até porque é falacioso dizer-se que teremos de negar a nossa oferta intangível
de convivialidades e de sonhos.
d) O novo turista dos nossos dias (já o dissemos) é curioso, explorador, aventureiro, amante
de emoções fortes. Mas é também arqueólogo. Sabe o que quer, onde vai, gosta de
pormenores. Compra livros, não é um turista seguidor, passivo. Por isso gosta de apreciar
as grandes Festas Gastronómicas (mais de 300 Festas Gastronómicas na Galiza – diremos
o mesmo no Norte de Portugal), muitas delas ligadas à cozinha étnica e popular e que hoje
já são consideradas como factores de atractibilidade e um verdadeiro produto turístico,
quer nacional, ou regional, ou mesmo localmente (animação de atracção). Porquê? Pela
expectativa criada ao consumidor final; por poder beneficiar na visita de uma experiência
étnica de festa gastronómica intimamente ligada aos valores de cada povo e de cada terra
com todo o intangível património histórico e natural que os rodeia.
132
exedra • nº temático - Turismo • 2009
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Correspondência
Francisco Sampaio
Castelo de Santiago da Barra
4900 360 Viana do Castelo
134
exedra • nº temático - Turismo • 2009
135
Paulo Sergio Pais • Viagem medieval em Terra de Santa Maria
N º t e m á t i c o - T u r i s m o e P a t r i m o n i o
Viagem medieval em Terra de Santa Maria
Paulo Sérgio Pais
Administrador ExecutivoFeira Viva, Cultura e Desporto, E.E.M.
Resumo
O presente artigo apresenta o projecto 13ª edição do evento “Viagem Medieval em Terra de Santa Maria”, principais moldes de organização, objectivos e consolidação do evento como um dos pontos diferenciadores do território. A Viagem Medieval em Terra de Santa Maria é um evento de recriação histórica que resulta da iniciativa conjunta de organização da empresa municipal Feira Viva, da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e da Federação das Colectividades de Cultura e Recreio do Concelho, que assumiu como palco o centro histórico da cidade de Santa Maria da Feira.
Palavras-chave
Viagem medieval, Recriação histórica, Santa Maria da Feira
Abstract
The present article introduces the project for the 13th edition of the event “Medieval Journey through the Land of Santa Maria”, its key organising components, objectives, and consolidation of the event as a distinctive feature of the region. The “Medieval Journey through the Land of Santa Maria” is an historical re-enactment event, and results from the joint initiative of the municipal company “Feira Viva”, the Municipality of Santa Maria da Feira, and the Federation of Associations for Culture and Entertainment of the Municipality. The historic centre of the city was chosen as the stage for this event.
Key-words
Mediaeval journey, Historical re-enactment, Santa Maria da Feira
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
A Viagem Medieval em Terra de Santa Maria conta já com 12 edições, caminhando a
passos largos para a 13ª edição.
Um projecto da responsabilidade e organização da Feira Viva, Cultura e Desporto,
E.E.M., tendo como promotor o município de Santa Maria da Feira, que conta já com uma
Menção Honrosa – Animação, dos Prémios Turismo de Portugal atribuída em 2007, na
3ª edição destes prémios, cuja entrega decorreu no Auditório II do Centro de Reuniões
da Feira Internacional de Lisboa (FIL), antes da abertura da BTL 2008.
Organizada com base num episódio histórico, que serve de tema a toda a resenha
histórica vivida ao longo dos dias de regresso ao passado, a Viagem Medieval em Terras
de Santa Maria tem seguido à risca o curso da História de Portugal e os seus episódios
mais emblemáticos.
A edição de 2008 revisitou o episódio da Rainha Santa Isabel e D. Dinis, seu marido,
baseada na imortal frase de defesa pelos mais fracos – “São rosas, Senhor, são rosas!”.
Ao longo dos dias da viagem vão sendo recriados momentos pelo centro histórico de
Santa Maria da Feira, onde centralizamos as recriações de episódios e toda a dinâmica
da época medieval, que acontece durante a Viagem. Todos os acontecimentos paralelos
têm por base uma organização espacial do mapa da cidade com as designações de cada
acontecimento ou centro de acontecimento que designamos por mapa da Viagem
Medieval.
Como se torna evidente, organizar um evento desta envergadura implica, acima de
tudo, organização e orientação, pelo que, a divisão escrupulosa de tarefas é uma das
chaves para o sucesso e para os níveis de satisfação que pretendemos atingir. Deste
modo, o organograma da Viagem Medieval em Terra de Santa Maria é uma estrutura sem
complexidades, onde as tarefas atribuídas a cada parcela estão bem definidas, o que reúne
condições para atingir objectivos num processo de causa/efeito. Da recriação histórica,
passando pela animação circulante, logística e ambientação voluntariado finanças,
associativismo, áreas temáticas, sponsorização, marketing e comunicação, acolhimento,
qualidade e higiene alimentar, transito e segurança, merchandising e avaliação, todas
estão sobre supervisão de uma comissão executiva que garante a sustentabilidade dos
procedimentos para atingir os objectivos da Viagem.
A recriação histórica como ponto central e mote para os acontecimentos dinâmicos
da viagem, funcionando como elemento diferenciador da mesma, acontece todos os dias
com a animação âncora em que cada dia é recriado um episódio, sendo que a mensagem
é constantemente reforçada pela repetição desta. É sob a égide dos responsáveis pela
recriação histórica que está obviamente, pela pertinência associada, todo o controlo de
conteúdos da Viagem.
137
Paulo Sergio Pais • Viagem medieval em Terra de Santa Maria
A animação circulante contou, na última edição, com 52 grupos de animação, 136
horas de animação durante todo o evento que incluem artes circenses, representações
de rua, música, dança e recriação de personagens medievais. O núcleo responsável pela
animação circulante tem também a responsabilidade da coordenação da mesma “on-
line”. Estes acontecimentos são como que calendarizados de forma a não haver animação
a decorrer em simultâneo mesmo que em lugares diferentes para que o público possa
tirar o máximo partido dos acontecimentos.
Por seu turno, a logística e ambientação está implicada no preenchimento dos
espaços e na montagem de estruturas e equipamentos que permitem a concretização
da Viagem. Em 2008 a Viagem Medieval contou com 23 tabernas, 6 restaurantes, 200
artesãos, mercadores e regatões. A cargo deste núcleo está ainda as áreas temáticas e a
ambientação da cidade, com a distribuição de pendões alusivos, por exemplo. A passagem
do ambiente dia/noite está também a cargo da logística e ambientação.
O Voluntariado na e para a Viagem é um nicho que assume uma importância cada
vez mais preponderante nesta organização, na última edição contamos com mais de 500
candidatos, com idade superior a 16 anos, de todas as idades e de vários pontos do país.
O processo de selecção e posterior formação dos seleccionados, incutindo o espírito e
filosofia da viagem implicam a instrução por diferentes áreas bem definidas.
As finanças são a pedra basilar dos acontecimentos em geral, sem vontade e orçamento
os eventos não seriam levados a bom porto. A Viagem Medieval contou com um
orçamento de 700 Mil euros, na sua última edição, dos quais 200 Mil são comparticipação
da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e 500 Mil são receita própria, proveniente
da concessão de espaços, sponsorização e ticketing das áreas temáticas em contraponto
ao não ticketing global do evento.
No contexto da dinâmica local que pretendemos estimular, o Associativismo assume
um lugar de cada vez maior destaque, contando com o envolvimento das associações
culturais e recreativas do concelho, já que, por exemplo, só estas podem concorrer às
tabernas, e ocupam um papel preponderante na animação âncora do evento.
As áreas temáticas são o ponto alto do evento já que são o corpo da Viagem Medieval.
O desenvolvimento de actividades medievais como a falcoaria, arraiais, jogos, torneios, e
a mística de locais como a floresta encantada e o sítio dos tormentos, o jardim das rosas,
à imagem da temática da edição 2008, fazem deste núcleo de áreas temáticas o corpo que
sustenta a alma do evento.
Assumindo um acordo pelo período 2008/2010 com a UNICER, a Sponsorização
do evento tem regras muito bem definidas e especificas. Com 8 pórticos de entrada
no espaço da Viagem Medieval, propriamente dita, nenhum tipo de publicidade entra
138
exedra • nº temático - Turismo • 2009
dentro dos pórticos, fora destes está a única instituição bancária parceira do evento, o
Crédito Agrícola.
Para a FEIRA VIVA, cultura e desporto, e.e.m., muito mais do que a promoção do
acontecimento Viagem Medieval, torna-se fulcral o conceito de que venham até nós
pessoas que conheçam e estejam informadas sobre aquilo que pretendemos ser e fazer,
visitantes que compreendam o espírito que nos move.
Em todo este enquadramento a Viagem vive com o Acolhimento como imagem de
marca, a recepção dos grupos de animação, seu acompanhamento, sob o mote de welcome
center, e a gestão de reclamações na última edição contamos com 1100 participantes
associados a este núcleo.
Os níveis de exigência, no que respeita à qualidade e higiene alimentar, são
rigorosíssimos, para certificarmos e fazermos cumprir à risca criamos um núcleo
que acompanha todos os procedimentos com fiscalização à abertura, com acções de
fiscalização bi-diária, registo de ocorrências e implementação de medidas.
Um projecto desta envergadura não poderia deixar de contar com um núcleo planeador
e gestor de trânsito e segurança, com 12 parques de estacionamento controlados;
segurança pública e privada; Bombeiros e polícia envolvidos desde a definição do lay-out,
dois postos de primeiros socorros em permanência e, nesta última edição, arrancamos
como projecto criança segura, programa em que, com a colocação de uma pulseira com
os dados dos responsáveis pela criança, permite mais rapidamente resolver uma situação
de perda da criança.
Num evento como este o principal merchandising centrou-se nos produtos mais
comercializados, sendo estes a louça alusiva a época medieval. Na edição 2008 contamos
com a abertura em Junho 08 da primeira loja exclusiva de trajes medievais, única no
país.
Finalmente, se sem antagonismo não há progresso, coube-nos criar uma comissão de
avaliação do evento com a realização de um Relatório da comissão executiva, com base
em inquéritos, clientes mistério, reclamações e sugestões e relatórios dos responsáveis
de área; e uma Communication performance por forma a conseguirmos perceber onde
chegamos e como chegamos. Neste sentido, foram analisadas 284 notícias sobre a
Viagem Medieval em Santa Maria da Feira, correspondendo a um impacto financeiro de
335.976€. As notícias veiculadas pela Imprensa foram essencialmente em meios locais,
regionais e de informação generalista nacional.
Deste modo, estamos prontos a detectar o que se fez de melhor e aquilo em que
poderemos melhorar para a edição Viagem Medieval em Terra de Santa Maria 2009.
Maximizando a espectacularidade e o rigor histórico.
139
Paulo Sergio Pais • Viagem medieval em Terra de Santa Maria
Correspondência
Paulo Sérgio Pais
Rua António Martins Soares Leite
Apt. 160 | 4524-909
Santa Maria da Feira
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exedra • nº temático - Turismo • 2009
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Maria do Rosário Campos • A feira medieval de penela...
N º t e m á t i c o - T u r i s m o e P a t r i m o n i o
A Feira Medieval de Penela no âmbito das dinâmicas de promoção turística do município
Maria do Rosário Castiço de Campos
Escola Superior de Educação de Coimbra – Instituto Politécnico
Resumo
A Feira Medieval que se realiza em Penela desde 1994 é, actualmente, um evento a salientar ao nível das recriações históricas.
A autarquia faz parte, desde 2007, da organização desta iniciativa, a par da Escola Básica Integrada Infante D. Pedro e da Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas Infante D. Pedro. O evento corresponde, presentemente, a uma das dinâmicas de promoção turística do concelho, como evidenciamos neste artigo.
Palavras-Chave
Recriação histórica, Património, Turismo cultural, Feira medieval, Feira franca
Abstract
The Medieval Fair of Penela created in 1994 is, nowadays, an important event concerning historical recreations.
Since 2007, the council participates in the organization of this fair, as well as the Escola Básica Integrada Infante D. Pedro and Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas Infante D. Pedro. Actually this event is one of the dynamics of tourist promotion of the local authorities, as we point out in this script.
Key-words
Historical recreation, Patrimony, Cultural tourism, Medieval fair, Free fair
142
exedra • nº temático - Turismo • 2009
Introdução
A recriação histórica de uma feira em Penela é indissociável da decisão tomada, em
1994, pelo corpo docente da Escola Básica Integrada Infante D. Pedro, em reconstituir
um acontecimento cuja antiguidade é atestada pelos documentos.
Sem deter as vantagens de um concelho de grande dimensão e sem apresentar
uma situação geográfica privilegiada, a autarquia de Penela tem aproveitado as mais
valias associadas às especificidades do concelho para desenvolver economicamente o
município, valorizando o seu património e promovendo a região ao nível do turismo
cultural, apostando estrategicamente em determinadas iniciativas, como é o caso da
Feira Medieval (1).
1. A feira na época medieval em Penela
A criação do município de Penela remonta a 1137, ao reinado de D. Afonso Henriques
(Arnault & Dias: 1983, 5). No concelho, a freguesia de S. Miguel é aquela que marca as
origens da povoação, já que a esta se associam o castelo que Fernando Magno povou em
1087 (Arnault & Dias: 1983, 5) e a Igreja de S. Miguel intramuros, igreja que se admite
ser aquela de que “fala o foral de 1137” (Arnault & Dias: 1983, 40). Mas a vila expande-
se extramuros surgindo “no «arrabalde» a Igreja de Santa Eufémia que existia, já, em
1254” (Nunes: 1997, 18). Ambas as paróquias, S. Miguel e Stª Eufémia, em 1708 detêm
180 fogos (Costa: 1708, 94). Possivelmente, para esse número de fogos e respectivos
moradores terão contribuído duas feiras que foram criadas localmente, na época
medieval, já que as mesmas surgem “para evitar que a vila se perdesse” devido à falta de
população local (Rau: 1983, 146).
Ambas foram criadas com o estatuto de feiras francas, sendo indissociáveis do Senhor
da Terra, o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra. Com efeito, D. Pedro “obteve de D.
Duarte carta em 6 de Dezembro de 1433 para mandar fazer [em Penela] feira franca
de três dias pelo S. Miguel [29 de Setembro]” (Rau: 1983, 145). Efectivamente, a feira
durava três dias, iniciando-se na véspera da festa do Santo e prolongando-se por um dia
depois da referida festa.
A 20 de Novembro de 1440, já Regente, D. Pedro passa nova carta de feira à vila de
Penela, determinando que se fizesse outra feira franca, anual, pelo dia de S. Sebastião ou
seja no dia 20 de Janeiro. Segundo Virgínia Rau, esta feira de S. Sebastião detinha todos
“os privilégios e franquias (…) idênticos aos que tinham sido outorgados para a feira
de S. Miguel” (1983, 145). Refira-se que em função de pedido explícito das populações
em cortes, o tempo de duração de ambas as feiras, no reinado de D. Afonso V, passa
a ser de seis dias. Por sua vez, quer a feira de S. Miguel, quer a de S. Sebastião, vêm
143
Maria do Rosário Campos • A feira medieval de penela...
a ser prolongadas para oito dias, no reinado de D. Manuel, a 6 de Janeiro de 1498 (2)
mantendo-lhes “todos os privilégios que gozavam anteriormente” (Rau: 1983, 146).
Mário Nunes afirma que a feira de S. Sebastião se extingue no século XVI (1997, 20),
perpetuando-se a de S. Miguel, que se realiza ainda hoje no concelho, sendo localmente
conhecida com a designação de “Feira das Nozes” É essa feira que se pretende reconstituir
com a recriação histórica da Feira Medieval de Penela.
2. A recriação histórica da feira medieval de Penela
Como já foi referido, a recriação de uma feira medieval em Penela remonta ao ano
de 1994, tendo estado na sua génese a comunidade escolar. Fazendo parte a dinâmica do
“Plano Anual de Actividades” da Escola Básica Integrada Infante D. Pedro (Nunes: 1997,
8), os professores da Instituição, mobilizaram, nessa altura, alunos e funcionários para
porem em prática a iniciativa. Para o efeito, foi necessário proceder à criação de vestuário
de acordo com o período histórico a retratar e deter os demais recursos necessários à
implementação da dinâmica.
O evento decorreu no castelo, sendo o dia escolhido, o dia 26 de Junho(3). As
circunstâncias, em especial o ritmo escolar, impuseram a escolha da data. A iniciativa
terá tido a adesão de cerca de três centenas de pessoas (4).
Subjacente à organização da Feira Medieval esteva a vontade de abrir a escola à
comunidade. A Câmara Municipal, disposta a que a acção se concretizasse, deu o seu
apoio financeiro, cobrindo possíveis prejuízos (5).
Em 1995, 1996, 1997, a reconstituição histórica torna a ter lugar detendo então o
apoio da Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas
Infante D. Pedro. Porém, a iniciativa vem a ser interrompida nos anos de 1998 e 1999.
Sob pena de se perder o evento, em 2000, a Associação de Pais e Encarregados de
Educação do Agrupamento de Escolas Infante D. Pedro, defendendo o interesse da
iniciativa ao nível da comunidade, decide chamar a si a organização da Feira Medieval.
A Escola Básica Integrada Infante D. Pedro passará, nessa altura, a dar o seu apoio à
dinâmica. A Câmara Municipal, por sua vez, continua a cobrir prejuízos financeiros.
Passando a organizar-se, a partir de então, de dois em dois anos, a Feira volta a realizar-
se em 2002.
Percebendo a necessidade de dar uma outra dimensão à iniciativa, a Associação de
Pais organiza uma candidatura da Feira Medieval de Penela ao projecto Leader. Onze
mil e quatrocentos euros foi o valor apresentado na proposta para a realização da Feira
Medieval de 2004. A Câmara Municipal de Penela disponibilizou, nessa altura, 5.000
144
exedra • nº temático - Turismo • 2009
euros. Com recursos mais avultados, a dinâmica, em 2004, ganhou outra dimensão.
Noticia o Público, reproduzindo a notícia da Agência Lusa, que “Trovadores, jograis
mercadores e saltimbancos regressam no fim-de-semana ao Castelo de Penela, no
âmbito da VII Feira Medieval que congrega milhares de pessoas da região” (2004, 55).
As expectativas tinham sido ultrapassadas. Ao apoio dado pela Câmara Municipal de
Penela, junta-se o Governo Civil de Coimbra, Juntas de Freguesia do Concelho, Região
de Turismo do Centro e Caixa Geral de Depósitos.
Em 2006 a Associação de Pais mantém-se a organizar o evento, assistindo-se a uma
reaproximação da Escola à iniciativa. A Câmara apoia o evento com 8.000 euros.
Se entre os anos de 2000 e 2006, a Feira Medieval de Penela se realizou de dois em
dois anos, a partir de 2007, começa a realizar-se anualmente, participando directamente
a Câmara Municipal na organização do evento. A partir de então, a Feira passa a
integrar-se na política de desenvolvimento do município e de promoção turística do
concelho. Nesse sentido, no ano de 2007, a Câmara disponibiliza uma quantia avultada,
17.000 Euros. No entanto, é de realçar que na organização da iniciativa o município tem
outros parceiros, nomeadamente, a Associação de Pais e Encarregados de Educação do
Agrupamento de Escolas Infante D. Pedro e a Escola Básica Integrada Infante D. Pedro.
Ainda que assumindo funções diferenciadas, os três parceiros procuram manter uma
posição de igualdade na organização da recriação histórica.
No triénio 2007 - 2009, apesar das adversidades ocorridas, a chuva, em 2008, e a
derrocada de um dos muros de sustentação do anfiteatro integrado no castelo, em 2009, a
Feira Medieval não deixou de se realizar, atraindo mesmo um grande número de pessoas.
Com efeito, se em 2007 se contabilizaram 2.750 pessoas, em 2008, ano em que a Feira
decorreu em dois fins-de-semana, foram contabilizadas 8.000 pessoas. Por sua vez, em
2009, organizando-se o evento entre a Praça da República e o castelo, dado o incidente aí
ocorrido, foram 6.850 o número de pessoas contabilizadas. De realçar que este número de
visitantes foi proporcionalmente superior ao de 2008, já que nesse ano, a Feira decorreu
em dois fins-de-semana e em 2009 apenas num. O desenrolar da dinâmica extramuros,
em 2009, ano em que se comemorou a XI Feira Medieval de Penela, traduziu-se assim
numa maior mobilização da população, tendo igualmente tido efeitos positivos ao nível
do comércio local, uma vez que dinamizou o “comércio tradicional da vila” que também
se associou à iniciativa (Alvarinhas: 2009, 21).
De salientar que na recriação histórica têm participado “cerca de 350 figurantes”
(Alvarinhas: 2009, 1). Conforme se noticia, “são grupos profissionais, mas, acima de tudo
e, na sua maioria, alunos, professores, pais e encarregados de educação das escolas de
Penela“ (Alvarinhas: 2009: 1). Refira-se que durante a Feira Medieval têm também lugar
recriações históricas e animações ao vivo alusivas à época medieval que, por exemplo,
145
Maria do Rosário Campos • A feira medieval de penela...
em 2008 se enquadraram nas temáticas “Penela no reino de Leão e Castela” e “Afonso
Henriques em Penela nas vésperas da tomada de Lisboa”. Paralelamente ao evento, têm
ainda ocorrido outras dinâmicas, como Workshops no Castelo dedicados a crianças, em
2007, ou um Ciclo de Conferências Medievais, em 2008.
Com a realização da Feira Medieval, a autarquia tem procurado dinamizar uma
“programação de qualidade superior”, tendo em vista dar à iniciativa “uma atractividade
turística de âmbito nacional” (Alvarinhas: 2009, 21).
3. A Feira Medieval de Penela no âmbito das dinâmicas de promoção turística da
autarquia
Desde que a autarquia participa directamente na organização da Feira Medieval,
o evento faz parte do plano estratégico do concelho designado “Plano Director -
Inovação, Competitividade e Empreendedorismo” (6). Esse plano tem uma configuração
particular, uma vez que supõe um conjunto de projectos mobilizadores e um barómetro
de indicadores tendo em vista a monitorização dos resultados que se vão atingindo.
Dentro desses projectos mobilizadores, encontra-se um relacionado com a valorização
do património.
Como afirma o Presidente da Câmara Municipal, o facto de Penela deter, no âmbito
do património histórico e arqueológico, um património diferenciador ancorado numa
“trilogia interessante”, o Castelo de Penela, o Castelo do Germanelo e a Villa Romana
e Museu do Rabaçal, tal facto proporcionou que se promovesse o referido projecto
mobilizador de valorização patrimonial, ligando-o ao turismo e ao desenvolvimento
económico do concelho. Para o efeito, foram tomadas várias iniciativas, como é o
caso da modernização do Posto de Turismo, com uma loja onde se divulgam produtos
agro-alimentares e o artesanato local, bem como a renovação ou mesmo criação de
merchandising específico da região. Por sua vez, a promoção de eventos que divulgam
o concelho, “um concelho diferenciador em determinadas áreas”, conforme refere o
Presidente da Câmara, levou a que a autarquia procurasse, também, dar maior visibilidade
e notoriedade a eventos já existentes, como é exemplo a Feira Medieval. Outros eventos
surgiram, entretanto, caso da “Feira de Produtos Endógenos e Gastronomia”, na qual se
valorizam produtos de carácter agro-alimentar e o “Penela Presépio”, evento que ocorre
em época natalícia e que “ajudou, claramente, a criar uma marca Penela mais forte”, como
salienta o Presidente da Câmara.
As iniciativas referenciadas procuram promover o concelho “no sentido de atrair
pessoas e visitantes” fomentando-se, desse modo, o comércio local e o turismo. No entanto,
fundamentalmente, o que se pretende com as diferentes acções é atrair investimentos de
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outra dimensão, concretizando-se assim, por essa via, o desenvolvimento económico do
município, principal objectivo a atingir com o plano estratégico em execução.
Conclusão
Face ao exposto, verificamos a relevância que detém no concelho de Penela a Feira
Medieval, enquanto recriação histórica.
Hoje, esse evento integra-se no plano estratégico do município, a par de outras
iniciativas igualmente consideradas relevantes.
Apostando no incremento do concelho e fomentando a auto - estima das populações,
a autarquia tem procurado desenvolver o território dando relevância às suas gentes e
às especificidades locais, potenciando assim os recursos do concelho e promovendo o
município ao nível do turismo.
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Anexo 1
Cartaz da I Feira Medieval de Penela que se encontra exposto na Escola Básica Integrada Infante D. Pedro.
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Bibliografia
Alvarinhas, M. (2009). Os povos que fizeram a história de Penela. Diário de Coimbra, 22
de Maio, 20-21.
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Lusa (2004). Trovadores e jograis na VII Feira Medieval de Penela. Público, 26 de Maio,
55.
Nunes, M. (1997). Penela medieval. Penela: Escola Básica Integrada Infante D. Pedro.
Rau, V. (1983). Feiras medievais portuguesas. Subsídios para o seu estudo. Lisboa:
Presença.
Fontes manuscritas
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Chancelaria de D. Manuel, Leitura Nova,
Livro I da Estremadura, fls. 132/132v, microfilme 997)
Fontes impressas
Costa, P. A. C. (1708). Corografia portugueza e descripçam topográfica do famoso reyno
de Portugal, com as notícias das fundaçoens das cidades, villas, lugares que contem,
varoens illustres, genealogias das famílias nobres, fundaçoens de conventos, catálogos
dos bispos, antiguidades, maravilhas da natureza e outras curiosas observaçoens.
Lisboa: Officina de Valentim da Costa Deslandes, Tomo IIº: pp. 94-96.
Notas(1) O nosso agradecimento ao Presidente da Câmara Municipal de Penela, Engº Paulo Júlio, pela informação que nos facultou. Agradecemos também a colaboração do Dr. Mário Duarte, Chefe de Divisão da Cultura, Turismo, Deporto e Juventude do Município de Penela.(2) ANTT, Chancelaria de D. Manuel, Leitura Nova, Livro I da Estremadura, fls. 132/132v..(3) Ver Cartaz - Anexo 1.(4) Informação facultada pelo Sr. José Maria das Neves, funcionário da Escola Básica Integrada Infante D. Pedro.(5) As informações que apresentamos sobre a Feira Medieval de Penela foram facultadas pelo Dr. Mário Duarte, tendo subjacente informação da Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento da Escola Básica Integrada Infante D. Pedro e da Câmara Municipal de Penela.(6) A informação apresentada neste capítulo foi-nos facultada pelo Presidente da Câmara Municipal de Penela.
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Correspondência
Maria do Rosário Castiço de Campos
Escola Superior de Educação de Coimbra
Praça Herois de Ultramar
3000-329 Coimbra
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