Museu Judaico Barros Basto: A Concepção de Coleção Visitável da Comunidade Israelita do Porto __________________________________________________________________________________________________________
FACULDADE DE LETRAS UNIVERSIDADE DO PORTO
Hugo Miguel Sacramento Vaz
2º Ciclo de Estudos (Mestrado) em Museologia
MUSEU JUDAICO BARROS BASTO
A Concepção de uma Coleção Visitável da Comunidade Israelita do Porto
2012
Orientador: Professor Doutor Armando Coelho Ferreira da Silva
Classificação: Ciclo de Estudos:
Relatório de Projeto:
Versão Definitiva
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DEDICATÓRIA
Aos meus pais
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RESUMO
Este trabalho pretende conceber um projeto para uma exposição visitável a
realizar na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, sede da Comunidade Israelita do Porto.
Para isso construiu-se de uma base teórica acerca da musealização da fé,
suportada por uma análise feita a algumas museografias concretizadas a museus e outros
pontos de interesse judaicos.
Posteriormente criaram-se alguns instrumentos básicos para definir o guião da
exposição, nomeadamente um regulamento do museu, a avaliação das necessidades e
expetativas dos públicos, os interesses da instituição e as particularidades arquitetónicas
e religiosas do edifício.
Suportado por uma extensa e atualizada bibliografia sobre a musealização da fé
e os possíveis temas a constar na coleção visitável que aqui se pretende conceber, este
relatório pretende descrever todas as etapas e decisões tomadas na prossecução do que
se propõe.
Palavras-Chave: Musealização da Fé – Judaísmo – Comunidade Israelita do Porto –
Sinagoga Kadoorie Mekor Haim – Coleção Visitável
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ABSTRACT
This work aims to design a project for an exhibition to be held in Kadoorie
Mekor Haim Synagogue, headquarters of Comunidade Israelita do Porto (Jewish
Community of Porto).
For this purpose was constructed a theoretical basis about musealization of faith,
supported by an analysis of some museums and other Jewish points of interest.
Subsequently were created some basic tools to set the script of the exhibition,
including a regulation for the museum, the assessment of needs and expectations of the
public, the interests of the institution and the architectural and religious particularities of
the building.
Supported by an extensive and updated bibliography about faith musealization
and about possible topics to be included in the visitable collection that is intended here
to design, this report seeks to describe all the steps and decisions taken in the pursuit of
what is proposed.
Keywords: Musealization of Faith - Judaism – Comunidade Israelita do Porto -
Kadoorie Mekor Haim Synagogue - Visitable Collection
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AGRADECIMENTOS
Gostaria de dirigir o meu agradecimento a algumas pessoas, sem as quais
ser-me-ia impossível concretizar este projeto:
Ao Senhor Professor Doutor Armando Coelho Ferreira da Silva, pelas orientações
eficazes que me proporcionou, pela confiança e pelo apoio em alguns momentos mais
apertados.
À atual Direção da Comunidade Israelita do Porto (CIP) nas pessoas do Senhor
Doutor Dale Jeffries e de sua mulher, a Senhora Doutora Dara Jeffries. Dirijo também
um agradecimento ao Senhor Emanuel Fonseca.
À Senhora Doutora Isabel Maria de Barros Teixeira da Silva Ferreira Lopes
(Vice-Presidente da CIP) a quem devo o voto de confiança que me deu, a
disponibilidade, a amabilidade, simpatia e, sobretudo, a ajuda na concretização deste
projeto.
À anterior Direção da Comunidade Israelita do Porto, nas pessoas do Senhor
Professor Doutor José António Ferrão Filipe e do Senhor Jorge Neves.
Ao Reverendíssimo Rabino Daniel Litvak, Rabino da CIP, por amavelmente me
responder às inúmeras questões que lhe coloquei.
Ao Senhor Doutor Hanno Loewy, Diretor do Museu Judaico de Hohenems, por
simpaticamente responder aos meus e-mails, auxiliando-me bastante em algumas
questões teóricas.
Aos Senhores Professores Doutores Martin Bellamy dos Museus de Glasgow; Crispin
Paine do Colégio Universitário de Londres; Eilean Hooper Greenhill, da Universidade
de Leicester; Richard Sandell, da Universidade de Leicester; e Simon J. Knell da
Universidade de Leicester, assim como aos Senhores Doutores Pilar Santillana Lópes,
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vii
do Museu Sefardita de Toledo; Janet Marstine da Universidade de Leicester; Eva
Koppen, coordenadora da Associação de Museus Judaicos Europeus (AEJM); e Ariane
Roura, secretária da Rede de Judiarias de Espanha – Caminhos de Sefarad; por
simpaticamente responderem às minhas mensagens auxiliando-me de uma forma ou de
outra.
Ao Senhor Doutor António Valente, do Centro de Estudos do Cemitério Judaico de
Faro; à Senhora Teresa Vasco da Sinagoga de Tomar; e à Senhora Ana Araújo da
Comunidade Israelita de Lisboa pela amabilidade em me receberem e responderem às
minhas perguntas.
À Senhora Professora Doutora Elvira Cunha de Azevedo Silva Mea, a grande
responsável pelo meu fascínio pelo Judaísmo, pelos Marranos e pela fantástica Obra de
Resgate protagonizada pela brilhante personalidade do Capitão Barros Basto. Pela sua
simpatia, ajuda em todos os momentos e atenção, um muito obrigado.
Agradeço, também, aos meus amigos por não me deixarem esquecer que tinha uma tese
para acabar e que nunca é tarde para trabalhar.
À minha família por todo o apoio proporcionado.
À minha segunda metade de alma pela companhia em importantes viagens, pelo
ânimo, pela compreensão e paciência.
E, por fim, o meu principal agradecimento vai para os meus pais e irmão, os baluartes
da minha vida e os maiores responsáveis pela concretização deste trabalho.
A todos, Muito Obrigado!
הדות הבר
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ÍNDICE
Pág.
Dedicatória______________________________________________________________ iii
Resumo__________________________________________________________________ iv
Abstract_________________________________________________________________ v
Agradecimentos__________________________________________________________ vi
Índice___________________________________________________________________ viii
Índice de Tabelas__________________________________________________________ ix
Índice de Figuras___________________________________________________________ ix
Siglas e Abreviaturas _______________________________________________________ xi
Introdução_______________________________________________________________ 1
Parte I – Enquadramento Teórico do Projeto ___________________________________ 5
1. A Musealização da Fé ________________________________________________ 6
2. Análise de Museografias Concretizadas e da Natureza das suas Coleções________
3. Algumas Considerações Conclusivas_____________________________________ 21
Parte II – O Projeto Museológico do Museu Judaico Barros Basto___________________ 39
1. Considerações Iniciais_________________________________________________ 43
2. Descrição dos Trabalhos Desenvolvidos___________________________________ 44
Considerações Finais_______________________________________________________ 50
Referências Bibliográficas___________________________________________________ 87
Apêndices
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ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 Tabela demonstrativa das Atividades do Projeto, da sua duração e relações__ 48
Tabela 2 Diagrama de Gantt do Projeto______________________________________ 49
Tabela 3 Relação entre a Lei-Quadro e o Regulamento do MJBB___________________ 74
Tabela 4 Temas a abordar no MJBB__________________________________________ 76
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 Vista do Cemitério Judaico de Faro 21
Figura 2 Pormenor de uma sepultura do Cemitério Judaico de Faro 21
Figura 3 Exterior do Museu Tahara do CHJF 22
Figura 4 Exterior do Museu-Sinagoga Isaac Bitton 23
Figura 5 À esquerda e à direita, pormenores das vitrinas presentes no Museu-
Sinagoga Isaac Bitton (CHJF) 24
Figura 6 À direita, Bimah do Séc. XIX que se encontra no Museu-Sinagoga Isaac
Bitton (CHJF). À esquerda simulação de um casamento judaico no mesmo
museu 25
Figura 7 Vista do interior da Sinagoga de Tomar / MLHAZ 27
Figura 8 Vista do interior da Sinagoga de Tomar / MLHAZ. Ao fundo o Ehal (Arca)
onde são guardados os Rolos da Torah 27
Figura 9 À esquerda e à direita, tecto e colunas da Sinagoga de Tomar / MLHAZ 28
Figura 10 Pormenor da Sinagoga de Tomar / MLHAZ: bilha de barro embutida na
parede 28
Figura 11 Pormenor de uma das vitrinas do MLHAZ 29
Figura 12 Exterior da Sinagoga Del Transito / MST 34
Figura 13 À esquerda, sala dos ofícios religiosos. À direita, pormenor do Ehal (Arca) 35
Figura 14 Jardim da Memória do MST 35
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Figura 15 Galeria/Balcão das Mulheres da Sinagoga Del Transito / MST 36
Figura 16 À esquerda e à direita, pormenores das vitrinas presentes no MST 37
Figura 17 Pormenor de uma vitrina do MST 38
Figura 18 Rede PERT-CPM do Projeto 48
Figura 19 Sinagoga Kadoorie Mekor Haim 54
Figura 20 Interior da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim 55
Figura 21 Fachada da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim 57
Figura 22 À esquerda, o Ehal (Arca) da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim. À direita, o
Balcão das mulheres onde é possível ver as inscrições hebraicas nos frisos
do varandim 60
Figura 23 Vista dos quatro cantos da Biblioteca (Sala Central) da Sinagoga Kadoorie
Mekor Haim 63
Figura 24 Vista da antiga sala de aula da Yeshivah (Sala Sul) da Sinagoga Kadoorie
Mekor Haim 64
Figura 25 Vista da Sala Norte, onde é possível observar algumas das vitrinas de acrílico (Sinagoga
Kadoorie Mekor Haim) 65
Todas as figuras apresentadas são da autoria do autor do presente Relatório de
Projeto.
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SIGLAS E ABREVIATURAS
CHJF – Centro Histórico Judaico de Faro
CIL – Comunidade Israelita de Lisboa
CIP – Comunidade Israelita do Porto
ICOM – International Council of Museums (Conselho Internacional de Museus)
MJBB – Museu Judaico Barros Basto
MLHAZ – Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto
MST – Museo Sefardí de Toledo (Museu Sefardita de Toledo)
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1
INTRODUÇÃO
O presente relatório de projeto – Museu Judaico Barros Basto, a Concepção de
uma Exposição Visitável da Comunidade Israelita do Porto –, desenvolvido no âmbito
do Mestrado (2º Cíclo) em Museologia pelo Departamento de Ciências e Técnicas do
Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tem por objectivo a
concepção de uma exposição visitável que sirva de base para a criação efetiva de um
Museu na Comunidade Israelita do Porto (CIP).
Este projeto surge da vontade da Comunidade Israelita do Porto (CIP) –
instituição alvo deste projeto – se assumir como uma instituição não só religiosa e
associativa como também cultural. De facto, apesar de existir, desde 2007, uma
exposição visitável na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim composta, sobretudo, por
documentação relativa ao seu maior impulsionador – o Capitão Arthur Carlos de Barros
Basto – e à sua Obra de Resgate, a mesma não se encontrava com uma boa articulação
objeto-conteúdo, acabando, a informação, por ser bastante parca e descontextualizada.
Portanto, surge, desta forma, uma excelente oportunidade para pôr em prática os
conhecimentos e competências adquiridos na formação académica e ao longo dos
últimos anos de investigação sobre museologia e sobre o Judaísmo. Embora a CIP seja
uma instituição comunitária religiosa e, portanto, pouco vocacionada para a gestão do
património cultural, não podendo fornecer os conhecimentos e a práticas que um estágio
profissional ou curricular poderia oferecer a nível da museologia e património,
representa, por outro lado, uma excelente oportunidade para construir um projeto do
princípio ao fim sem os vícios normais das instituições culturais já estabelecidas.
Assim, pretende-se com este relatório, demonstrar uma clara articulação teórico-
metodológica e, acima de tudo, uma evidente componente inovadora que não seria tão
facilmente exequível se se optasse por um relatório de estágio ou mesmo por mais uma
dissertação acerca da comunicação em museus, estudo de coleções, conservação
preventiva, etc.
Desta forma, pretende-se criar um projeto que, sustentado por bibliografia
própria e pelos conhecimentos e competências adquiridos na licenciatura e na pós-
graduação, equacione cientifica e tecnicamente os procedimentos museológicos postos
em prática, descrevendo detalhadamente os trabalhos efectuados e apresentando, no
final, uma crítica e conclusiva análise de todos os resultados alcançados.
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Antes de se proceder à construção do projeto museológico em si, criou-se uma
base teórica sustentada por bibliografia sobre a matéria e pela análise e crítica de
museografias concretizadas em museus judaicos ou outros locais visitáveis relacionados
com a cultura judaica. Estas ferramentas serão o ponto de partida para a concepção do
projeto museológico do museu da CIP, que se chamará Museu Judaico Barros Basto
(MJBB), numa clara homenagem ao fundador da CIP, o grande impulsionador da Obra
de Resgate.
Pretende-se criar, também neste trabalho, algumas ferramentas iniciais
imprescindíveis para concretização da exposição visitável. Assim, construir-se-á um
regulamento provisório que contenha alguns tópicos básicos orientadores de todo o
trabalho (sobretudo a Missão e Objectivos), assim como algumas luzes no que respeita
aos trabalhos futuros no Museu.
Um dos maiores desafios deste projeto é a imperativa necessidade de criar um
museu e a respectiva estrutura de forma a que nunca prejudique as principais
prioridades da CIP: o desenvolvimento religioso e comunitário/social dos seus
elementos.
Um outro desafio deste trabalho, não menos complicado de ultrapassar, prende-
se com as regras de elaboração do trabalho final de Mestrado, sobretudo, no caso deste
trabalho, a que diz respeito ao número máximo de páginas. Numa época em que
questionam os métodos de ensino, em que se alargam as noções de ciência, em que
caem as barreiras entre os diversos ramos do saber/conhecimento é, em certa medida,
curioso verificar que as regras da produção científica no âmbito dos Mestrados tendem a
ser constrangedoras, claustrofóbicas, impositivas, sem, na maioria das vezes, existir
uma justificação satisfatória para a existências de tais regras. De facto, esta regra
enquadra-se na perfeição no Processo de Bolonha onde prevalecem algumas
preferências em detrimento de outras: a quantidade sobre a qualidade, a forma sobre o
conteúdo, a normalização/estereótipo sobre a originalidade… Não obstante todos estes
constrangimentos, tentar-se-á, o melhor possível, desenvolver um bom trabalho.
O objectivo final será oferecer o presente projeto museológico à Direção da CIP
de forma a que esta o execute, tornando-se, desta forma, numa instituição de gestão de
património cultural mais firme e ativa, estando, portanto, associados uma missão e
respectivos objectivos que desenvolverão a sua importância social e cultural junto da
sociedade onde se insere.
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A primeira parte do presente trabalho além de apresentar o enquadramento
teórico do projeto aqui proposto, apresentará, numa segunda parte, exemplos nacionais
de museus, exposições visitáveis e locais judaicos de referência, além de um exemplo
de um museu estrangeiro. Essa apresentação demonstrará a pluralidade de locais de
interesse judaico possíveis de avaliar de forma a detectar os principais erros dos
mesmos, evitando-os neste projeto.
Na segunda parte do projeto proceder-se-á à construção, propriamente dita, do
projeto museológico para o Museu Judaico Barros Basto.
Apesar de a museologia e os museus terem que ver, essencialmente, com
coleções e seus objetos, este trabalho pretende dar mais ênfase à questão contextual
desses objetos, focando-se, sobretudo, nos textos que os acompanharão, portanto, os
principais motores informativos dos museus.
É importante referir, que o presente projeto não pretende a concretização da
exposição que exigiria mais do que um projeto ou, pelo menos, um projeto mais amplo.
Para isso seria necessário equacionar questões como o orçamento, o financiamento e o
estudo de mercado de forma a consultar vários fornecedores e avaliar a qualidade-preço
de todos.
Um outro motivo para a não concretização do projeto prende-se com o volume
de temáticas abordadas nesta exposição e o facto de a instituição alvo do mesmo não
ser, por definição, e até ao momento, uma instituição de carácter cultural. Assim, foi
necessário desenvolver todo um trabalho prévio de definição de vários conceitos e de
criação de diversas ferramentas por forma a que fosse possível realizar a exposição e
uma série de outras atividades no futuro. Infelizmente, o escasso tempo para
desenvolver um projeto mais alargado e quiçá concretizado, aliado à necessidade
constante de enquadrar teoricamente conceitos, inerente a qualquer trabalho académico,
não permitiu ir mais além.
Pretende-se, portanto, desenvolver um programa, guião e disposição (lay-out) da
exposição permanente do MJBB, tendo em consideração as coleções e os espaços
disponíveis para o efeito.
Hugo Miguel Sacramento Vaz
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PARTE I
Enquadramento Teórico do Projeto
The most obvious and important thing to be said about making histories
of religion in museums is that they don’t do it very often.
(O‟Neill, 1996: 188)
[…] who do museums listen to, how much respect should they show to
unpalatable views and which expressions of which faiths (and none) do
they represent? By whom are they advised and how much of the story gets
edited out?
(Reeve, 2012: 127)
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1. A Musealização da Fé
À medida que a sociedade ocidental se transforma num crescente “supermercado
religioso” os museus deverão ter um dever maior no que diz respeito à exibição da força
religiosa, sendo uma das formas nas quais a sociedade se reflete, celebrando as suas
crenças e atitudes (Paine, 2000: xiii).
Hanno Loewy (2012: 42), diretor do Museu Judaico de Hohenems, descreve a
ambiguidade entre o sagrado e o profano nos museus sobre religião, dizendo que os
museus ao transferirem para contextos seculares objetos produzidos para servirem
contextos de culto e de práticas religiosas, esses mesmos objetos passam a servir
funções profanas, o que aliás leva a uma discussão mais vasta entre o sagrado e o
profano que não se pretende desenvolver aqui.1
Loewy relata também o processo de secularização dos mosteiros e igrejas
iniciado no Século XVIII e a consequente transferência de muitos objetos cristãos
(obras de arte e artefactos religiosos) que serviram a narrativa cristã, sagrada, para a
custódia civil e, portanto, profana onde são considerados “herança cultural ”. Associado
a esta “profanação do sagrado” esteve a criação do “mito da nação” (Loewy:2012: 43),
assim como a chamada “crise de consciência europeia” que desaguaria no predomínio
da razão (e, consequentemente, do espírito enciclopedista e do colecionismo) sobre os
velhos conceitos tradicionais. Mais tarde, esses valores darão origem ao conceito de
museu público, aberto a todos (Alonso Fernández, 2006: 55-61). Já no Século XIX os
museus transformaram-se em “templos seculares do novo mito da cultura nacional e do
folclore local”, tendo todo este desenvolvimento chegado à “fábrica de construção de
identidade judaica” um pouco mais tarde, por volta de 1900 (Loewy, 2012: 43) ligado,
de certa forma, ao movimento Sionista.
É precisamente por volta desse ano que são criados os primeiros museus
judaicos como, entre outros, o de Viena (1895), Nova Iorque (1905), Praga (1906),
Budapeste (1909), Worms (1912), Berlim (1917), Frankfurte am Main (1922), Breslau
(1927) e Londres (1932) (Loewy, 2012: 45). Em Portugal seria em Tomar, no ano de
1939, que se criaria o primeiro museu judaico do país – Museu Luso-Hebraico Abraão
Zacuto –, na única Sinagoga medieval (construída de raiz) ainda existente.
1 Para uma análise acerca da dicotomia sagrado-profano ver, por exemplo: Eliade, 1958 e 2006,
Segalem:2000; Agamben, 2006; Di Nola, 1987; e Delgado, 1988.
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Este conjunto de museus “refletiam um [complexo] processo de transformação
do Judaísmo de uma tradicionalmente religiosa forma de vida até uma predominante
questão de identidade que se relacionava com uma séries de factores contraditórios,
como as expressões culturais, as tradições familiares e ligações, a reconstrução nacional
e até sonhos políticos utópicos” (Loewy, 2012: 45) que décadas mais tarde darão
origem à criação do Estado de Israel, como “lar nacional judaico”2.
Para Loewy (2012: 44), o espaço onde se inserem os museus judaicos apesar de
não serem definidos pela tradição judaica ou por judeus, constituem um local
privilegiado para a discussão acerca de “questões judaicas” conduzida por judeus ou
não-judeus, num desafio que constitui a verdadeira Diáspora e tudo o que ela simboliza.
O verdadeiro objectivo destes museus era, sem dúvida, guardar e expor uma tradição e
um património cultural que se consideravam universais, servindo, portanto, o “processo
de assimilação e integração” dos judeus nos seus “novos lares”, ou seja, nos diversos
países onde se encontravam desde o início da Diáspora. Na prossecução deste objectivo
foi obrigatória a criação de uma “ambivalência entre a aculturação e a nostalgia do
„outro/diferente‟ representada pelos artefactos culturais” (Loewy, 2012: 45), ou seja,
tentou-se manter nas populações judaicas a ideia de pertença às comunidades onde se
inserem e ao mesmo tempo a ideia de diferença, de um grupo com características
próprias, da “gente de nação” ou do “povo escolhido”, que se diferencia das demais
pessoas.
Após a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, os museus judaicos mudaram
de paradigma, interpretando a necessidade de recolher, salvaguardar e divulgar não só a
cultura material religiosa judaica como também todos os objetos relacionados com a
perseguição dos judeus e o anti-semitismo, por forma a preservar a memória de milhões
de judeus que pereceram às mãos do Nazismo e do Fascismo. Acerca desta mudança
Loewy (2012:46) defende que “os fragmentos das materialidades judaicas que
sobreviveram ao Shoah (Holocausto) tornaram-se relíquias do martírio, como se o
sacrifício da vida representasse o fim absoluto do mundo judaico antigo e a criação de
um novo” (Loewy, 2012: 46). Este novo mundo é o mundo já não de Diáspora, mas
antes um retorno às origens, em que os judeus reunidos num estado judaico, poderão,
em teoria, gozar de liberdade e paz sem nunca esquecer a sua história, o seu passado, os
seus sofrimentos.
2 Sobre as aspirações políticas de diversos grupo organizados de judeus, sobre a criação do
Estado de Israel e sobre a história do Estado Judaico até 1998, ver: Gilbert, 2009.
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Ainda assim, é preciso não esquecer os judeus que permanecem nos países “de
diáspora” que, apesar de manterem a noção de pertença a um grupo concreto,
“escolhido”, e de sentirem necessidade de preservar o património do seu povo, não
deixam de se sentir como cidadãos dos seus países e de, igual forma, sentirem
necessidade em preservar a sua identidade nacional.
Todo este desenvolvimento demonstra bastante bem a evolução que os museus
judaicos tiveram ao longo de mais de cem anos. Assim, nos anos 1960/70, também eles
foram confrontados com todos os novos paradigmas que se colocaram a propósito da
museologia. De facto, a “Nova Museologia” também obrigou muitos dos curadores de
objetos judaicos e, de uma maneira alargada, todos os curadores empenhados em
musealizar a fé ou as fés, a repensarem os seus processos de exposição,
contextualização, interpretação e divulgação.
Um outro tema, estreitamente relacionado com a musealização da fé judaica diz
respeito ao Shoah ou Holocausto. De facto, a morte de cerca de 6 milhões de judeus em
toda a Europa durante a Segunda Grande Guerra é um tema recorrente em muitos dos
museus relacionados com o Judaísmo. Dificilmente se traça a história judaica a partir de
Adão e Eva ou do patriarca Abraão sem falar, no fim, da “solução final judaica” e
posteriormente da criação do Estado de Israel. Este episódio negro da história da
Humanidade, além de merecer museus apenas dedicados a si – como o Museu Judaico
de Berlim, o Museu do Holocausto do Yad Vashem em Jerusalém, o Museu do
Holocausto em Nova Iorque ou em Las Vegas –, também merece, por norma, um
grande destaque nos museus judaicos em geral. A este propósito Reesa Greenberg
(2003), num texto sobre o Museu Judaico de Viena, afirma que depois do Holocausto,
os museus tradicionais não poderão manter-se iguais e “acima de tudo, o principal
interesse dos museus judaicos europeus do pós-1945, deverá ter que ver com o motivar
os seus visitantes a perguntar a si mesmos as questões certas” (Heimann-Jelinek citada
em Greenberg, 2003: 235) acerca do Holocausto. Muitos museus, na tentativa de
alcançar este objectivo, optam por criar exposições e até museus com uma forte
componente sensorial, em que os visitantes são levados a integrarem numa experiência
física que pretende representar várias emoções geradas com o Holocausto. Entre estes
museus encontram-se os já referidos Museu Judaico de Berlim (2000), uma obra do
arquitecto Daniel Libeskind e o Museu do Holocausto de Jerusalém. Outros museus,
procurando o mesmo objectivo, optam por usar instalações invulgares e um processo
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diferente de interação (usando, por exemplo, hologramas). Um exemplo deste tipo de
museus será o Museu Judaico de Viena (1998).
O filósofo A. C. Grayling detecta uma perigosa falta de razão no âmago da
crença religiosa, afirmando que a humanidade caminha para o fim dessa mesma crença
(2007 citado em Reeve, 2012: 126). Já a teóloga Karen Armstrong (2007 citado em
Reeve, 2012: 126), curadora do British Museum, pelo contrário, defende que apesar da
diminuição da importância da religião provocada pela secularização a partir do
Iluminismo, da racionalidade científica, e das condicionantes históricas que poderão ter
dado origem aos textos sagrados das diversas religiões, a humanidade está a assistir a
um retorno às convicções religiosas. Desta forma, segundo a opinião da autora, o facto
de nos museus a religião não ser tão abordada como seria de esperar mais não é que um
fenómeno passageiro, ainda que duradouro. A religião está a tomar uma posição cada
vez mais central e ativa na vida social e política das nações, que têm justificado as suas
ações com a religião e os seus textos sagrados.
Apesar dos diversos pontos de vista no que concerne à religião e à sua influência
na vida das pessoas, a verdade é que ainda existem bastantes grupos de pessoas que se
dizem religiosas e que gerem a sua vida conforme as suas crenças, além da própria
questão cultural e até, em alguns casos, nacional das religiões. De facto, é preciso não
olvidar que muitos grupos de pessoas, nomeadamente os judeus, mantêm uma
identidade e uma consciência de pertença a um determinado grupo muito fortes,
independentemente de praticarem ativamente a religião judaica ou não. Desta forma,
será necessário preservar essa mesma consciência identitária.
Um outro motivo que poderá justificar a relutância em criar museus de religião é
o facto de muitas vezes se recear a reação dos crentes que acabam por visitar museus
acerca da sua crença. Demonstrativo deste particular é o relatório de 2007 citado por
Reeve (2012: 128) – Teaching Emotive and Controversial History (T.E.A.C.H.) – onde
professores descrevem a sua preocupação acerca do ensino de tópicos relacionados com
determinadas religiões, que poderão ser mal interpretados pelos alunos que as
professam. São vários os relatórios britânicos que criticam estas limitações em
compreender as crenças, como refere Reeve no mesmo documento, e que se poderá
resumir na frase de Charlene Tan: “saber certos factos acerca de uma religião não é o
mesmo que apreciar a religião” (2008:185 citado em Reeve, 2012: 128).
Desta forma, será importante referir a opinião de Atul Shah que defende que a
eventual falta de fé dos museólogos poderá ser uma desvantagem na hora de apresentar
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e interpretar coleções ligadas a determinada religião. Shah sugere mesmo a consulta de
comunidades ligadas ao tema que se pretende expor, devendo-se avaliar o trabalho
desenvolvido pelos museólogos no sentido da “autenticidade” da apresentação e
interpretação e não no do “mérito artístico” (Shah, 2010 citado em Reeve, 2012: 128-
129).
No entanto, a autora esquece-se de que é impossível para um museólogo
desligar-se do background, da bagagem que possui, interpretando as coleções de forma
totalmente imparcial. Qualquer museólogo tende a fazer uso, muitas das vezes
inconscientemente, dos sistemas mentais que foi adquirindo ao longo da vida, de forma
a tentar justificar algo que poderá fugir ao seu domínio intelectual. Assim, deverá haver
espaço para avaliações da “autenticidade” interpretativa e expositiva, assim como do
“mérito artístico” dos museólogos. Deverá encontrar-se uma linha de contacto,
suficientemente harmoniosa entre estes dois pontos de forma a conferir ao museu
valores que de outra forma não se encontrarão presentes.
Apesar de toda esta questão, a verdade é que a discussão em torno da
musealização da religião e dos seus elementos não tem sido muito debatida, se
exceptuarmos autores como Reeve, Paine ou mesmo O‟Neill, assim como a
interessantíssima publicação Material Religion.
O primeiro destes autores, John Reeve (2012), num interessante texto intitulado
A Question of Faith: The museum as a spiritual or secular space, desenvolve as três
primeiras de quatro questões chave propostas por M. O‟Neill (2012 citado em Reeve,
2012: 128) relacionadas com conservadores/curadores de museus de objetos religiosos
ligados a instituições publicamente financiadas:
1. Como apresentar objetos num contexto cultural e religioso e se se deve
incluir pontos de vista dos crentes nas interpretações dos curadores;
2. Se os museus poderão promover a compreensão e respeito mútuos entre
pessoas de todos os credos e não uma apresentação própria de temas
relacionados com a religião;
3. Se os museus têm o dever de apresentar as histórias “destrutivas” da religião
assim como as suas contribuições positivas;
4. Como os museus poderão responder a lobbys fundamentalistas cada vez
mais virados para a legislação relacionada com os Direitos Humanos no
sentido de censurar os museus e os seus profissionais.
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Para O‟Neill é importante debater estas questões estreitamente relacionadas com a
sociedade pluralista em que vivemos, sendo necessário desenvolver respostas que
explorem a forma como os museus deverão responder às questões da religião e dos
credos na sociedade contemporânea. Então, Reeve, tenta responder às três primeiras
questões propostas por si, por forma a ajudar a produzir futuras exposições sobre
religião ou melhorar as já existentes.
Acerca da primeira questão, Reeve alerta para a possibilidade de um curador
adoptar uma posição mais segura de expor, fazendo uso da “neutralidade” ou da
“objetividade” na exposição de determinados objetos religiosos e temáticas associadas.
No entanto, o autor refere também, mais uma vez, a posição discordante de A. Shah que
afirma que essa “objetividade académica” e “neutralidade institucional” tornarão o ato
de expor e interpretar menos desafiante, provocando formas menos confortáveis de
interagir com as comunidades crentes e com a arte religiosa.
O texto aborda exemplos de exposições e museus em que os responsáveis
defendem não ser do dever dos museus a interpretação ou a procura de auxílio para
interpretar determinada religião. No entanto, ao apresentarem as coleções como “séries
de forma de arte distanciada” surgem reservas acerca da apresentação de determinadas
religiões (ainda praticadas) como sendo contemporâneas e, portanto, ativas quer hoje,
quer no passado. Esta insistência dos museus (nomeadamente de alguns dos maiores
museus do mundo como o Museu Britânico de Londres, o Museu do Louvre em Paris
ou o Museu Metropolitano de Arte em Nova Iorque) em usar uma “abordagem neutra,
estética e distanciada numa boa parte da arte religiosa ao contrário da apresentação, por
exemplo, de cerâmica, arquitectura ou arte e designe” (Reeve, 2012:129-130), não se
compreende, tendo estes museus o estatuto internacional que possuem. Infelizmente
pretendem jogar pelo seguro, não correndo o risco de inovar.
O autor encerra este tópico afirmando que “se uma galeria ou exposição não
fizer a ligação inicial e a interpretação para os visitantes, então estes construirão os seus
próprios significados apoiados em conhecimentos prévios, invenção, programação
educacional (se esta existir), guias, áudio-guias e websites – ou simplesmente desistem”
(Reeve, 2012: 130) o que poderá causar interpretações erradas e, eventualmente,
continuidade de preconceitos para com determinados grupos religiosos.
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Esta realidade descrita por Reeve está bem disseminada nos museus dedicados a
determinadas religiões em Portugal. De facto, quer os museus de arte sacra católica (os
museus sobre religião mais numerosos no país) quer os museus judaicos (ou exposições
visitáveis sobre o tema) apresentam precisamente esta característica estática e
descontextualizada, assim como uma grande relutância em recorrer às comunidades a
que se referem ou a autoridades teológicas dessas comunidades, “assumindo que os
visitantes sabem que questões colocar e onde encontrar respostas, sendo que se não
souberem o problema é claramente deles e nunca do museu” (Reeve, 2012: 130). Em
A segunda questão proposta por Reeve diz respeito ao entendimento mútuo e às
identidades diversas possíveis em exposições sobre religião.
Tony Bennett defende uma igualdade na representação museológica de todos os
grupos e culturas (Bennett, 1995 citado em Reeve, 2012: 132) e, consequentemente,
religiões. No entanto, a este propósito, Reeve (2012:132) fala das disparidades de
representação entre as várias religiões nos museus, afirmando que “algumas religiões
aparentam ser priorizadas e integradas nas narrativas museológicas ou agendas devido à
sua arte”, sendo algumas dessas formas de arte, também elas, priorizadas em detrimento
de outras, enquanto religiões com pouca cultura material e artística são, normalmente,
ignoradas ou secundarizadas. Este facto, apenas vem comprovar a “materialidade” dos
museus. Corroborando esta posição, o autor apresenta alguns exemplos dessa
desigualdade representativa em diversos museus, sobretudo nos maiores e mais
prestigiados (cf. Reeve, 2012).
É importante referir que as principais religiões não são, logicamente,
“monolíticas ao longo do tempo, espaço, gerações, sexos e classes sociais” (Reeve,
2012: 132), na medida em que a percepção e interpretação das religiões vai mudando,
fruto de uma heterogeneidade de factores. Esta posição tem suscitado iniciativas muito
bem conseguidas em museus, contrariamente à maioria das exposições sobre religião.
Destas exposições bem sucedidas com múltiplas vozes, posições e interpretações –
multi-voiced exhibitions – destaca-se, por exemplo, a exposição online „Sacred’3, da
British Library, onde o Judaísmo, o Cristianismo e o Islão são representados por
diferentes perspectivas e discutidas pelo filósofo ateísta Julian Baggini (Reeve, 2007 e
2012). Esta mesma exposição recorre também a vídeos que ilustram determinados ritos,
3 Exposição disponível em: http://www.bl.uk/onlinegallery/features/sacred/homepage.html
[Visualizado a 20 de Maio de 2012]
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que por sua vez são associados a objetos, assim como teve a colaboração de vários
grupos desde os próprios curadores, a intérpretes, passando por líderes e representantes
das religiões em questão e acabando nos patrocinadores e órgãos de gestão da própria
Biblioteca (Reeve, 2012: 136).
Reeve também refere outras exposições bem sucedidas desde o recurso a jovens
de diversas religiões na seleção de objetos e comentários para o Museu da Bíblia em
Amesterdão, a histórias bíblicas contadas por obras de artistas portadores de deficiência
mental (van der Meer, 2010 e Kiers, 2008 citados em Reeve 2012: 133).
A propósito dos significados espirituais e pessoais relacionados com a arte
religiosa para as comunidades de crentes, Irna Qureshi (2010, citado em Reeve, 2012:
133) relata o caso de um conjunto de mulheres islâmicas que ao visitarem exposições de
arte islâmica em Sheffield e Bradford, o encaram como um espaço sagrado, devido ao
facto de não terem outro termo de comparação para lidar com “algo islâmico”. Assim,
este conjunto de mulheres preparou-se para uma conexão espiritual comportando-se da
mesma forma que se comportariam se estivessem a entrar numa mesquita (cobrindo a
cabeça e descalçando-se). Além disso, as mulheres não reconhecem os objetos expostos
como tendo um valor artístico e estético, impondo os seus próprios significados, ou seja,
apreciando as coleções expostas do ponto de vista funcional e religioso apenas.
Este relato paradigmático poderá, perfeitamente, encontrar casos análogos em
algumas comunidades judaicas que visitem museus de arte judaica. Caso semelhante ao
que aconteceu na inauguração do Museu Judaico de Belmonte, em 2005, e em que a
população judaica da cidade a muito custo visitou o museu por entender que essa
instituição não era para eles, não era feita para eles, e não foi realizada a pensar neles.
Apesar do seu comportamento não ter sido semelhante ao grupo de islâmicas, a verdade
é que demonstraram (e ainda demonstram) uma certa reverência pelos objetos, e,
consequentemente, pelo local. Alguns chegam mesmo a cobrir a cabeça em sinal de
respeito4.
Desta forma, é possível concluir, com este relato, que “é evidente que a galeria
de arte Islâmica [e outras exposições também] necessita de se dirigir a diferentes
necessidades e expectativas, pretendendo-se conectar, não só com os públicos
frequentes/básicos, mas também especificamente islâmicos de diferentes gerações,
níveis de educação e que geralmente não vão aos museus” (Reeve, 2012: 133).
4 Este tema, não só associado à comunidade de Belmonte, mas a outras, daria um excelente
estudo no âmbito da sociologia e mesmo da psicologia.
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Reeve (2012:135) também refere a participação de oficiais religiosos e
representantes de diversos ramos das religiões Judaica e Cristã na abertura da Sacred
Silver and Stained Gallery do Victoria & Albert Museum. Muitos destes colaboradores
aconselharam os museólogos em diversos aspectos acerca do conteúdo, interpretação e
disposição.
Também no Horniman Museum de Londres, ao contrário do que acontece ainda
nos grandes museus da cidade como o British Museum ou o Victoria & Albert Museum,
os objetos religiosos artísticos são apresentados e definidos em diferentes tipos de
contextos culturais híbridos, como resultado da consulta de personalidades externas ao
museu (Da Silva, 2010 e Golding, 2009 citados em Reeve, 2012: 134).
No caso dos judeus seculares, não-religiosos ou não-praticantes (judeus que
apesar de serem reconhecidos como tal, não levam a cabo os rituais e muitas das normas
judaicas) a questão de como lidam com a sacralidade dos objetos expostos nos museus
não se aplica. No entanto, é necessário que sintam uma intimidade com os mesmo que,
no fundo, representam a cultura que preconizam.
Ainda a nível contextual e interpretativo, a Galeria Islâmica Addis do British
Museum, através do Visitor’s Guide to World Religions (Guia do Visitante para as
Religiões do Mundo), convida os visitantes a ler uma brochura com duplo entendimento
contextual acerca da exposição, antes de visualizar a exposição onde os objetos ainda
permanecem centrados unicamente em si mesmos e no seu valor como objetos (Reeve,
2006: 70-2 e Reeve, 2012: 133). Objectivo semelhante tem o livro que acompanha a
parte sul asiática do Museu das Civilizações Asiáticas de Singapura (Chin, 2010 citado
em Reeve, 2012: 134), que se apresenta como um “modelo de como uma coleção deverá
ser interpretada de forma acessível”, reflectindo um “forte propósito público, educativo
e historicamente artístico, combinando arte e fé, história da arte e etnografia, o antigo e
o moderno” (Reeve, 2012: 134).
Esta estratégia é uma excelente alternativa para os museus e galerias que não
disponham de recursos humanos, financeiros ou mesmo de tempo. Com ela poderão,
portanto, proceder a alterações no discurso expositivo sem gastos e esforços
demasiadamente elevados, embora a leitura de textos antes de visualizar uma exposição
não seja tão atrativa como se a contextualização e interpretação (ou interpretações)
estivessem já inseridas na própria exposição.
À semelhança do que aconteceu no primeiro ponto abordado, John Reeve
apresenta uma série exemplos de exposições “neutras, centradas nos objetos”, algumas
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“sem qualquer tipo de contexto nas práticas religiosas contemporâneas ou qualquer tipo
de esforço para prender o visitante sem ser pelo valor estético” dos objetos, sem
“provocar questões e evitando reações ” dos públicos que as visitam e “tratando as obras
de arte sagradas como caros tesouros isolados”.
Existem ainda casos de museus que providenciam espaços sagrados onde os
visitantes poderão usufruir dessas zonas e dos objetos expostos no sentido de
procederem aos seus cultos religiosos, como por exemplo, o espaço dedicado aos
cristãos da Etiópia do British Museum (Reeve, 2012: 135). De facto, apesar de pouco
numerosos, este tipo de exemplos têm crescido, assim como a interação entre os crentes
de determinada fé e os museus.
Acerca da terceira questão (e última discutida) exposta por Reeve – se os museus
têm o dever de apresentar as histórias destrutivas das religiões, assim como a suas
contribuições positivas –, o autor conclui que enquanto alguns museus apresentam
similitudes entre as religiões como as diferenças e conflitos, outros preferem escusar-se
de apresentar os pontos mais sombrios e menos positivos das mesmas, de forma a
assegurar financiamento, promover o senso de pertença (Reeve, 2012: 135-136) e evitar
polémicas indesejadas. Este particular é bem visível na já referida exposição Sacred do
British Library em que não se apresentam as “histórias destrutivas” do Judaísmo,
Cristianismo e Islão, preferindo dar ênfase ao que as três religiões têm em comum.
Apesar de se poder acusar a instituição de se auto-censurar e de ser desonesta, a verdade
é que as críticas positivas, quer públicas, quer da parte imprensa, revelam que terá sido a
melhor opção da Biblioteca, sobretudo como instituição pública que é (Reeve, 2012:
135). Assim, é possível ver os prós e contras da seleção de determinados temas
religiosos em museus. Se por um lado determinados temas poderão afastar alguns
visitantes, por outro a omissão desses temas poderá levar a acusações de parcialidade
museológica. No entanto, a missão e objectivos das instituições promotoras de
exposições acerca da religião deve ser fundamental para o desempate entre o mostrar ou
não mostrar essas questões mais complexas. Assim, uma instituição pública ou que
mantenha contacto com várias instituições ligadas a diversas religiões deverá não
hostilizar as diversas religiões de forma a manter boas relações com as diversas
instituições e a assegurar financiamento, como Reeve defende.
Por outro lado poderá ser objectivo de uma instituição abordar essas temáticas
mais problemáticas. A debater esses temas, dever-se-á fazê-lo de forma extremamente
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estudada e nada hostil, no âmbito de discussões e debates construtivos e saudáveis.
Existe a possibilidade de, para provocar uma reflexão crítica sobre alguns temas, haver
a necessidade de expor precisamente determinados aspectos ou histórias religiosas que
poderão deixar descontentes praticantes das referidas religiões ou credos. Um exemplo
original deste objectivo de debater um tema polémico foi o conseguido por Nuno
Coelho com a exposição interativa A Land Without People for a People Without Land /
Uma Terra sem Gente para Gente sem Terra sobre o conflito israelo-palestiniano e que
já teve exposta em vários países do mundo. A partir de cartazes gráficos interativos –
site specific –, convidou-se o público a colorir desenhos e resolver determinados
exercícios sobre as tensões sociais entre palestinianos e israelitas. A exposição,
construída num tom bastante crítico mas também irónico e recorrendo a uma linguagem
infantil, quis demonstrar, de uma forma muitas vezes bastante parcial, a opressão
israelita sobre o povo palestiniano. O próprio autor confirma que qualquer trabalho
apolítico é, ele próprio, portador de uma forte posição política, assumindo
completamente a sua parcialidade, mas justificando-se como artista que é. Esta nova
forma de abordar um tema que é, por vezes, bastante difícil de explicar, foi melhorada
num livro com o mesmo nome (Coelho e Kershaw, 2009), onde, além dos exercícios da
exposição em formato “de bolso”, os autores incluíram uma série de textos de diversos
colaboradores. Estes textos além de falarem do trabalho desenvolvido pelos autores,
demonstram também posições diversas sobre o tema abordado, conferindo à publicação
um verdadeiro cenário de discussão aberta, onde as várias posições são ouvidas (ainda
que de forma desequilibrada).
Em Portugal, a maioria dos museus relacionados com a religião são de arte sacra
cristã, à semelhança do que acontece no Ocidente (cf. O‟Neill, 1996; Reeve, 2012).
Estes museus ou galerias expõe as coleções sem qualquer contexto explicativo religioso,
focando as suas atenções no valor artístico e patrimonial dos objetos. Se por um lado
este facto é o reflexo da posição da maioria dos museus em relação ao património
material – em que os objetos valem por si mesmos, não sendo necessária qualquer
interpretação –, por outro, o facto de o Cristianismo ser a religião dominante no
Ocidente, com cerca de 2,1 mil milhões de praticantes estimados em todo o mundo
(O‟Brien e Palmer, 2007: 22-23) desencoraja, certamente, os museólogos a exporem a
arte e as alfaias religiosas num sentido explicativo da própria religião, da sua história,
costumes, crenças e dogmas, uma vez que estariam a expor informação que uma boa
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parte das pessoas já conhece (ainda que não domine). Assim, são raros os museus ou
exposições sobre temas ligados à religião que não saiam desta forma estática e nada
inovadora de expor. Em Portugal, um museu que muito recentemente veio dar um novo
fôlego à exposição de temas relacionados com o Catolicismo foi o museu virtual e
interativo Milagre de Fátima5, que com “conteúdos multimédia de última geração” e
“com recurso a imagens holográficas e vídeos estereoscópicos (3D)” demonstra uma
série de temáticas relacionadas com as Aparições de Nossa Senhora de Fátima em 1917
e com todos os acontecimentos a si relacionados (desde o enquadramento histórico até
às celebrações anuais deste acontecimento). Ainda assim, a grande maioria dos museus
fica-se pelas artes decorativas e arte sacra, sem, grande parte das vezes, expor ou
divulgar essa arte de forma contextualizada, limitando-se a apresentar uma pequena
legenda com o título e a data (quando se conhece) das peças apresentadas.
Regressando à questão material (coleções) dos museus, referida na segunda
questão de John Reeve, é importante afirmar que a definição que é apresentada na Lei-
Quadro dos Museus Portugueses sobre essa matéria, assim como a própria posição do
ICOM (Regulamento - definição de museu), são bem claras.
Nesta definição está subentendido que para um museu – e aqui se acrescenta,
para as exposições ou coleções visitáveis – ser entendido como tal, não necessita,
obrigatoriamente de coleções, pelo menos coleções nos moldes como a maioria as
entende. Ou seja, mesmo centros de interpretação, documentação e/ou investigação (em
que se presume que as coleções sejam as informações de que dispõem sobre
determinada tema) são considerados museus apesar da diferente natureza das coleções.
Reeve (2012: 137) refere a falta de sensibilidade dos museus para abordar de
forma igualitária todas a religiões, relegando para segundo plano as religiões que
carecem de objetos religiosos e artísticos e as religiões que apresentam temas religiosos
difíceis e polémicos de abordar. Apesar de excelentes exemplos bem sucedidos de
exposições equitativas, estas ainda rareiam.
A propósito da falta de objetos, umas das melhores formas de colmatar esta falha
é, sem dúvida, recorrer a equipamentos multimédia que, na obrigatoriedade de
apresentar determinados objetos, surge como a melhor forma (e também mais interativa)
5 Ver o site: http://www.omilagredefatima.com/ [Visualizado a 20 de Maio de 2012]
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de o fazer. Uma outra alternativa passa pela apresentação de placares com informação e
imagens pretendidas, cortejadas com vitrinas apresentando os objetos da coleção.
Se é vulgarmente aceite que a maior diferença entre os museus e outras
instituições com fins educativos é a presença de objetos na primeira, essa materialidade
no ensino é tida como a maior mais-valia dos museus e exposições. No entanto, cada
vez mais surgem museus sem coleções ou com coleções muito reduzidas. A propósito
da cultura, história e religião judaica é possível destacar o Museu Judaico de Berlim, o
Museu do Holocausto do Yad Vashem em Jerusalém ou ainda o Museu da Lembrança
em Los Angeles. Estes museus são verdadeiros paradigmas de museus como peças de
arte em si, que suscitam recordações, sentimentos e emoções devido à sua arquitectura e
estratégias comunicativas diferentes das dos demais museus, não sendo por isso menos
bem sucedidos na transmissão de informação e valores ao seu público (judaico ou não).
Mesmo no Museu Sefardi de Toledo as áreas relativas à Sinagoga del Transito e
ao Jardim da Memória são tidas como objetos museológicos por si só, assim como
muitos lugares de peregrinação que são “musealizados” de forma a receber visitantes,
como é o caso da Sinagoga de Tomar ou do Cemitério Judaico de Faro que mais à frente
serão descritos.
Hoje, ao falar-se de um museu, fala-se de um museu que vive no seu tempo e já
não de um “museu-templo” que apenas encerra dentro de si objetos de algum interesse
artístico ou histórico. O museu da atualidade (desde o reposicionamento das instituições
museológicas para com as questões sociais que os circundam dos anos 1970, e
sobretudo 1980), pelo menos assim se espera, é produto dos seus contextos sociais e
históricos, contextos esses que podem possuir um enquadramento comum a todos os
museus, mas que nunca deverão eclipsar o enquadramento de cada um deles. Cada vez
mais se desenvolve, com os discursos museológicos, o pensamento crítico das pessoas
que visitam exposições no sentido de “cultivar e educar” as gentes, tendo em vista uma
sociedade mais tolerante e produtiva intelectualmente.
A religião e a fé em determinadas crenças, são largamente ignoradas nos
museus. São pouquíssimos os museus no mundo, estruturados, dedicados à temática das
religiões num sentido geral e comparativo.
Uma outra questão que se levanta em relação à musealização da fé é a seguinte:
o que musealizar? Sé há quem defenda que musealizar a fé é bastante difícil, uma vez
que as religiões e crenças se baseiam não tanto em objetos, mas sim em dogmas,
escritos, conceitos, valores, relações pessoais e com o divino/sagrado; outros referem a
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prática como a principal forma de aprendizagem de uma religião, não tanto no sentido
das práticas éticas, mas sim através de um sem número de formas de arte (arte visual,
música e seus instrumentos, dança, teatro, etc.). Desta forma, dever-se-á dar às artes
uma grande importância no estudo da religião e, consequentemente, na musealização
dessa mesma religião (Hinnells, 1990), e não estuda-la somente do ponto de vista da
arte por arte, como já aqui foi referido.
Georg Schmid (1979) propõe uma distinção entre realidade religiosa, o lado
histórico e visível da religião (textos sagrados, objetos de culto, símbolos, rituais,
festividades, iconografia, etc.), e a realidade da religião, as realidades a que a “realidade
religiosa” nos reporta, os seus sentidos. Desta forma, num contexto museológico,
segundo o autor, apenas tem sentido e interesse mostrar estes dois conceitos juntos,
interligados, de forma a proporcionar aos visitantes de uma determinada exposição
religiosa estes dois sentidos. Claro está que é, de facto, um problema converter a
dimensão não material da religião em objetos materiais, mas é necessário estudar e
produzir algumas ferramentas que facilitem esta conversão.
Schmid, no mesmo texto, apresenta uma série de outros problemas no que
respeita à musealização da religião. Um desses problemas é a forma não satisfatória que
a exposição do sagrado e da morte pode provocar a alguns praticantes de determinada
religião. É, de facto, interessante para quem não conhece a realidade de certas religiões
poder entrar em contacto (ainda que de forma não total, como foi supra referido) com
outras crenças. Mas até que ponto é mais importante dar a conhecer estas realidades do
que preservar e respeitar certos costumes e tradições religiosas? Um exemplo
paradigmático é a exposição de corpos nos museus (por exemplo as múmias reais
egípcias). Esta ação é fortemente condenada por uma série de grupos religiosos que têm
como dogma a necessidade do descanso eterno dos cadáveres e não a sua musealização,
dizem os mesmos, sem respeito. Este tópico é bastante sensível para muitos, mas a
verdade é que sem a exposição de tais “objetos” uma parte importante da vida humana,
e que é tocada em todas as religiões do mundo, não é exposta, não dando, desta forma,
uma noção mais completa dos sentidos religiosos ao visitante que não os conhece.
Um outro problema levantado por Schmid é, em relação aos museus que
mostram várias religiões, a tendência, errada, que muitos curadores/museólogos têm
para fazer comparações diretas entre religiões. Cada religião tem os seus sistemas de
crenças, valores, símbolos e conceitos. E se realmente encontramos vários paralelismos
entre muitas das religiões (sobretudo aquelas que partilham a mesma génese, como é o
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caso das religiões Abrahanicas – Judaísmo, Cristianismo e Islão), outras não possuem as
mesmas analogias. Categorizar as religiões para depois preencher os campos com
tópicos pré-definidos não se coaduna com o próprio conceito de religião, nem mesmo
com o verdadeiro simbolismo que os objetos religiosos encerram.
Por fim, temos o caso dos museus onde se pretende expor várias religiões, em
que há sempre o perigo de sobrepor umas religiões a outras. Em geral, as religiões mais
“materiais” ou que fazem um maior uso da iconografia, assim como as religiões
universais (as mais praticadas no mundo), são as que mais encobrem as restantes – as
minorias – num contexto museológico/expositivo.
Já nos museus que dão exclusividade a uma religião ou Fé, os problemas de
sobreposição religiosa não existem, assim como mais facilmente se satisfaz as
comunidades que partilham a fé que é exposta, no que concerne ao respeito e tradição à
religião. Isto porque, por norma, nestes museus, é comum a equipa ser composta por
praticantes dessa religião, ou então possuem um ou mais coordenadores científicos
dessa mesma fé.
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2. Análise de Museografias Concretizadas e da Natureza das suas
Coleções
2.1. Centro Histórico Judaico de Faro
O Centro Histórico
Judaico de Faro (CHJF),
composto pelo Cemitério
Judaico de Faro (considerado
Imóvel de Interesse Público em
1978), pelo Museu-Sinagoga
Isaac Bitton e pelo Museu
Tahara, encontra-se na Rua
Leão Penedo, em Faro e
caracteriza-se por ser um dos
mais antigos vestígios materiais
da presença judaica em Portugal no período pós-expulsão/conversão de 1496.
De facto, a comunidade judaica de Faro, constituída por judeus sefarditas
oriundos de Gibraltar e do Norte de África que se vieram instalar em Faro no Século
XIX (muitos deles
descendentes de portugueses
que saíram do país após o
Decreto de Expulsão de
1496), era composta por
cerca de 60 prósperas
famílias6 e teve duas
sinagogas: uma na Rua
Manuel Belmarço e outra na
Rua Castilho7. Parte do
6 Informação disponível em: http://www.farojewishheritagecentre.org/community.html
[visualizado a 12 de abril de 2012] 7 Informação disponível no “Mapa de Faro” da autoria de António Alves Valente, guia e
promotor do Centro Histórico Judaico de Faro
Figura 1 – Vista do Cemitério Judaico de Faro
Figura 2 - Pormenor de uma sepultura do Cemitério Judaico de Faro
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mobiliário desta última encontra-se atualmente no Museu Sinagoga Isaac Bitton, no
interior do Cemitério Judaico.
Segundo o site oficial do CHJF, em 1851 o terreno do Cemitério Judaico de Faro
foi comprado por três das mais proeminentes figuras da “Pequena Jerusalém” como
também era conhecida a comunidade: Joseph Sicsu (Hazan/Cantor da Comunidade),
Moises Sequerra e Samuel Amram. O cemitério manteve-se ativo durante 94 anos,
tendo o primeiro enterramento acontecido em 1838 (o do Rabbi Joseph Toledano) e o
último em 1932 (de Abraham Ruah).
Após este período o vigor da comunidade começou a decrescer devido ao
envelhecimento dos seus elementos e à migração de muitos dos jovens. Atualmente são
muito poucos os descendentes das grandes famílias judaicas do Século XIX naquela
zona. Consequentemente, o próprio cemitério começou a deteriorar-se. Em 1980 foi
feito um inventário das sepulturas por Sam Levy, José e Lawrence Abecassis, tendo o
Rabino Abraham Assor traduzido as sepulturas do hebraico para o português.
Em 1984, o norte-americano judeu Isaac “Ike” Bitton e seu irmão Joseph, ao vir
a Faro conhecer o local onde a sua mãe nascera, deparou-se com o degradado estado do
cemitério. Mais tarde, quando regressaram a Faro, Isaac Bitton criou o Faro Cemetery
Restoration Fund Inc. de forma a devolver ao local a dignidade merecida. 50 mil
dólares foram confiados à Comunidade Israelita de Lisboa de forma a que se
procedesse, no futuro, ao restauro do cemitério. Mas só em 1992 é que um dos membros
da comunidade judaica de Faro – Ralf Pinto – contactou Bitton e apresentou os planos
de restauro que depressa foram aceites e postos em prática com o dinheiro depositado na
Comunidade de Lisboa (Pinto, 2000: 10-11).
Assim, a 16 de Maio de 1993 o
cemitério foi reinaugurado na
presença do então Presidente da
República de Portugal, Mário Soares.
A requalificação do local para
abertura ao público contou, entre
outros aspectos, com o restauro das
sepulturas, a pavimentação com
calçada portuguesa de todo o
cemitério e a transformação da casa da Figura 3 - Exterior do Museu Tahara
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Tahara (onde os corpos dos falecidos eram preparados para o enterramento – lavados,
purificados e vestidos, acompanhados de orações) em museu, ou mais propriamente, em
coleção visitável – Museu Tahara. Este museu passou a albergar uma série de objetos
relacionados com o Judaísmo, nomeadamente: representações de momentos litúrgicos
judaicos – o Bar Mitzvah, o Shabat, o Havdallah e o Brit Mila – recorrendo a
manequins vestidos conforme as ocasiões e aos objetos litúrgicos próprios; um
fragmento de uma Torah que foi salvo na Noite de Cristal (9-10 de Novembro de 1938)
oferecido pela Comunidade Judaica de Zurique em 1998; um conjunto de Katubot
(certidões de casamento); uma reprodução do primeiro livro impresso em Portugal – o
Pentateuco Hebraico de Samuel Gacon de 30 de Junho de 1487, atualmente na
Biblioteca Britânica em Londres (British Library); um conjunto de fotografias
relacionadas com Aristides de Sousa Mendes, membros proeminentes da comunidade
judaica de Faro, entre outros.
Em 2007, renomeou-se o conjunto Cemitério-Museu Tahara de Centro Histórico
Judaico de Faro e inaugurou-se um outro pequeno espaço criado ao lado da Casa da
Tahara para albergar parte do mobiliário da Sinagoga da Rua Castilho, n.º 4.
Denominado Museu Sinagoga Isaac Bitton, este edifício de madeira concentra no seu
interior a Bima, a Arca, o Shuppah e respectivo dossel e a Ner Tamid originais da
Sinagoga dos inícios do Século XIX. Além destes objetos, é ainda possível encontrar
uma placa negra de pedra com os Dez Mandamentos (oferecida pela Embaixada de
Israel em Portugal), uma representação – com manequins vestidos de maneira própria –
de um casamento judaico (noivos e rabino), diversos livros litúrgicos judaicos,
fotografias representativas de alguns actos religiosos e ainda alguns objetos litúrgicos e
ornamentais judaicos.
Figura 4 - Exterior do Museu-Sinagoga Isaac Bitton (CHJF)
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O cemitério, com cerca de 1000 metros quadrados circundados por um muro
branco de cerca de quatro metros de altura, contém 106 sepulturas, 71 das quais com
inscrições nas lajes de mármore branco (Pinto, 2000: 10). A este número dever-se-á
acrescentar uma outra sepultura (ainda sem laje) pertencente a Ralf Pinto (1939-2011) e
que teve a merecida autorização para ter a honra de ser enterrado no local pelo Faro
Cemetery Restoration Fund. devido ao seu empenho e dedicação na reabilitação do
Cemitério e na criação do Centro Histórico.
Figura 5 - À esquerda e à direita, pormenores das vitrinas presentes no Museu-Sinagoga Isaac Bitton (CHJF)
Segundo o seu site da Internet e os folhetos de divulgação por si distribuídos, o
Cemitério Judaico de Faro é tido como o primeiro vestígio judaico em Portugal após a
abolição da Inquisição. No entanto, a presença de túmulos judaicos nos Açores (S.
Miguel) poderão destronar esta pretensão.
No exterior, o seu portão de acesso ao cemitério é encimado pelo ano hebraico
de 5638 – equivalente a 1887 no calendário secular – que será o da construção dos
muros do cemitério. No jardim, além dos 18 ciprestes doados por Leonard Oblowitz e
plantados em 1993 (o primeiro dos quais por Mário Soares) em memória de Aristides de
Sousa Mendes (1885-1954), encontra-se também um monumento evocativo do
Pentateuco Hebraico de Gacon e um monumento de Fernanda Assis dotado de uma
réplica de uma pedra tumular com inscrições hebraicas (pertencente a Josef de Tomar,
falecido a 23 de Janeiro de 1315) descoberta em Faro em 1870 e levada para a Sinagoga
de Tomar em 1944.
Aberto todos os dias úteis da semana, o CHJF é de entrada gratuita e, segundo o
promotor/guia António Alves Valente, no decorrer do ano 2011, cerca de 3500 pessoas
visitaram o Cemitério e os Museus (na sua maioria estrangeiros e escolas).
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Os dois museus (assim denominados pelo CHJF) apresentam-se bastante
confusos e com os objetos demasiadamente amontoados (muitos deles sem a respectiva
legenda), sobretudo na Museu Tahara. Assim, apresentando menos objetos,
sistematizando a sua ordem espacial, e legendando os mesmos, informação seria mais
facilmente interiorizada pelos visitantes, além de que teriam uma noção mais exata dos
objetos que lá podem encontrar.
É interessante a criação de um ambiente de Sinagoga no Museu-Sinagoga Isaac
Bitton, que embora bastante pequeno, é bem demonstrativo – pelo mobiliário que
alberga – da Sinagoga do início do Século XIX que pretende recriar.
Figura 6 - À direita, Bimah do Séc. XIX que se encontra no Museu-Sinagoga Isaac Bitton (CHJF). À esquerda simulação de um casamento judaico no mesmo museu
Em suma, o CHJF tem na sua “coleção” de sepulturas o seu principal ponto de
interesse judaico. A maioria das pessoas que visitam o local demonstram especial
interesse pelo conjunto tumular do cemitério e a importância histórica que representa no
contexto do judaísmo português dos Séculos XIX e XX, sendo, portanto, esse mesmo
aspecto o que mais é utilizado na divulgação do CHJF e mais desenvolvido pelo seu
guia/promotor. No fundo, os dois pequenos “museus” são relegados para segundo plano
no contexto do Centro Histórico, dando-se a maior ênfase ao cemitério em si.
É importante referir que o CHJF possui também uma loja onde são vendidos
artigos relacionados com o Judaísmo, desde moedas, livros, DVDs, CDs, postais, pins e
Judaica. Segundo o seu promotor, é a venda destes artigos uma das fontes de
rendimento.
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Infelizmente não existem atividades de espécie alguma neste local, não se
explorando mais as diversas potencialidades que o espaço, a sua história e importância e
ainda as suas coleções encerram, além da própria divulgação deficitária.
2.2. Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto
O Museu Luso-Hebraico Abrão Zacuto (MLHAZ) encontra-se na Sinagoga de
Tomar, na Rua Dr. Joaquim Jacinto, na zona histórica de Tomar.
Os primeiros vestígios da comunidade judaica de Tomar encontram-se numa
lápide datada de 1315, descoberta em Faro, onde se faz referência do Rabi José de
Tomar. Em relação aos registos documentais, a primeira referência à comunidade
judaica em Tomar data de 1384, numa doação de D. João, Mestre de Avis (Tavares,
1992: I-II).
Mais tarde, surge a Judiaria de Tomar, criada no contexto do crescimento da
população judaica no local. A esta Judiaria, localizada na Rua Direita (atualmente Rua
Dr. Joaquim Jacinto, entre a Rua dos Moinhos e a atual Rua Direita) são posteriormente,
no Século XV, atribuídas algumas das regras discriminatórias existentes noutros pontos
do país, nomeadamente o fecho de portas desde o pôr do Sol até ao nascer do Sol
(Tavares, 1992: I).
Maria José Ferro Tavares (1992: III-IV), a propósito da população judaica neste
período, indica que seriam cerca de 150-200 os judeus residentes nesta comuna, tendo
esse número aumentado com a expulsão dos judeus de Castela e Aragão (1492) para as
cerca de 250-300 pessoas.
Em relação à Sinagoga de Tomar, construída em meados do Século XV no
centro da judiaria, portanto, dos inícios do período renascentista, foi construída de raiz
especificamente para servir de templo de culto, tendo servido, também, de tribunal,
escola e assembleia. Este facto demonstra precisamente a capacidade económica e
financeira desta comunidade8.
Após a expulsão dos judeus de Portugal, este imóvel foi transformado em prisão
e mais tarde em local de culto católico como Ermida de São Sartolomeu. Mais tarde, no
8 Informação disponível em: http://www.sinagogadetomar.com/ [visualizado a 25 de junho de
2012]
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Século XIX teve diversas funções, nomeadamente palheiro, adega e armazem. Só em
1920, aquando da visita de alguns elementos da Associação dos Arqueólogos
Portugueses, é que se tomou consciência do valor patrimonial do edifício, tendo-se
desencadeado um processo que culminou com a sua classificação como Monumento
Nacional em 19219.
Em 1923 foi comprada e
restaurada por Samuel Schwarz, o
responsável pela descoberta da
existência de criptojudeus (marranos)
em Belmonte, e que ofereceu a
sinagoga ao Estado Português em
1939 com a condição de aí ser
contruído o Museu Luso-Hebraico
Abraão Zacuto10
.
De planta quadrangular, a pequena sala de culto da Sinagoga de Tomar,
apresenta doze mísulas ou consolas – reapresentando as Doze Tribos de Israel –
colocadas na parte superior das quatro paredes e de onde partem as abóbadas com
arestas bem vincadas e que compõem
todo o tecto. Também apresenta
quatro colunas colocadas no centro
do recinto que, formando um espaço
tripartido, suportam as abóbadas.
Estas colunas (que possuem entre
quatro e cinco tambores cada uma),
além de serem compostas por bases
bem trabalhadas, apresentam capitéis
quadrangulares trabalhados com
elementos vegetalistas e geométricos.
9 Ver panfleto informativo disponível na Sinagoga de Tomar.
10 Abraham Bar Samuel Zacuto (1450-1522), nasceu em Salamanca tendo vindo para Lisboa
após o Decreto de Expulsão de Espanha em 1492. Aí desenvolveu um extenso trabalho relacionado com a
astronomia e a matemática. Das diversas obras que escreveu (genealogia, lexicografia e astrologia
médica), destaca-se a de astronomia Almanach Perpetuum escrito em hebraico. Após a expulsão dos
judeus de Portugal, foi para o norte de África, morrendo, mais tarde, em Damasco. (Rodrigues, 2009c:
549)
Figura 7 - Vista do interior da Sinagoga de Tomar / MLHAZ
Figura 8 - Vista do interior da Sinagoga de Tomar / MLHAZ. Ao fundo o Ehal (Arca) onde são guardados os Rolos da Torah
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Destes quatro capitéis apenas dois são iguais. Isto deve-se ao facto de os quatro capitéis
representarem as quatro matriarcas bíblicas, Sara, Rebeca, Lea e Raquel, sendo as duas
últimas irmãs (representadas pelos dois capitéis iguais).
Figura 9 - À esquerda e à direita, tecto e colunas da Sinagoga de Tomar / MLHAZ
É interessante verificar toda esta sala como um todo, em que os capitéis, as
mísulas e as arestas das abóbadas se conjugam no simbolismo de cada um desses
elementos arquitetónicos em representação de um todo, que neste caso seria a Nação
Judaica, o Povo Escolhido.
Esta sala possui, ainda, uma particularidade engenhosa: a presença de oito bilhas
de barro invertidas embutidas na parede (duas em cada um dos cantos da sala), e ligadas
à sala por um orifício feito na parede, de
forma a que o nível acústico fosse
melhorado, podendo os ofícios religiosos
ser ouvidos claramente em toda a sala e na
sala ao lado (de onde as mulheres
assistiam). Uma dessas bilhas (a que se
encontra do lado noroeste) pode ser
admirada, uma vez que foi aberto um
orifício de forma a coloca-la a descoberto.
Embora hoje a porta de entrada, quadrangular, esteja virada a norte, fazendo-se a
entrada pela Rua Dr. Joaquim Jacinto, a porta original desta Sinagoga encontra-se
virada a nascente. De facto, esta pequena porta gótica de arco quebrado, não se encontra
visível ao público pois encontra-se no interior de uma residência particular.
Figura 10 - Pormenor da Sinagoga de Tomar / MLHAZ: bilha de barro embutida na parede
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Em 1985, no âmbito de escavações arqueológicas realizadas na habitação
contígua sob a direção de Salete da Ponte, foi encontrado, além de alguns artefactos
cerâmicos e moedas datadas do Século XV, uma Mikve (tanque de água para os banhos
rituais judaicos). Estas promissórias escavações, no entanto, não foram continuadas,
tendo sido o seu espaço abandonado e não musealizado.
Esta falta de sensibilidade é bem visível, também, no próprio estado de
conservação do edifício. A pouca importância dada ao edifício e museu por parte do seu
proprietário – o Estado – é ainda mais notória ao se constatar que os recursos humanos
ligados a este espaço limitam-se a um casal de honrosos voluntários judeus – a família
Vasco – que fazem questão de todos os dias abrir a sala de orações ao público, tendo
ainda o cuidado de referir as particularidades arquitetónicas e simbólicas do mesmo aos
seus visitantes. A não existência de este casal condenaria, provavelmente, este espaço
ao abandono.
Hoje o MLHAZ apresenta uma coleção importante de epigrafia judaica,
nomeadamente lápides funerárias de várias partes do país. Todas estas lápides
apresentam a respectiva legenda e tradução. Recentemente, a Associação dos Amigos
da Sinagoga de Tomar11
(aparentemente o único organismo que colabora
verdadeiramente com o casal de zeladores), colocou três painéis informativos da autoria
de Esther Mucznik, onde são referidos, de forma bastante básica, alguns conceitos e
utensílios típicos judaicos e um
resumo da história judaica desta
cidade. Estes painéis, onde foram
incorporadas algumas vitrinas
com escasso objetos de culto
judaicos no seu interior, são a
única fonte de informação que o
museu dispõe (à exceção dos
zeladores, claro).
11
Associação criada a 28 de junho de 2011 com o objectivo de preservar a identidade religiosa
judaica, assim como restaurar e conservar os bens culturais associados à Sinagoga de Tomar.
Figura 11 - Pormenor de uma das vitrinas do MLHAZ
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À semelhança do que acontece no Cemitério de Faro, mais uma vez, a maioria
dos visitantes vem ver o edifício e não o seu conteúdo, que, aliás, é muito pobre. É a
arquitectura o grande protagonista, sendo o edifício o mais importante objeto
museológico.
Também possui uma pequena banca de artigos como postais e ímanes, sendo o
dinheiro da sua venda canalizado para a manutenção do próprio museu. Também se
verifica a ausência de eventos e atividades relacionados com o museu, de forma a
dinamizar o local.
2.3. Museu Judaico de Belmonte
O Museu Judaico de Belmonte, situado na Rua da Portela, em Belmonte, é um
museu municipal, sendo o museu judaico mais bem estruturado de Portugal.
De facto, este museu, inaugurado em 2005, pertence à Câmara Municipal de
Belmonte e foi criado para atrair o crescente turismo judaico à cidade que é tida como o
paradigma maior do fenómeno marrano e criptojudaico.
Com o objectivo de ser um espaço pedagógico e didático acerca da cultura do
povo judaico, o museu ilustra a história dos judeus em Portugal, o seu enorme
contributo cultural e as suas tradições e costumes.
Assim, este museu, “pretende constituir uma unicidade de documentação,
investigação, exposição e divulgação sobre o papel desempenhado pela comunidade
judaica local no contexto da história e da cultura do Judaísmo”, apresentando “uma
visão abrangente dos conteúdos do Judaísmo […] de que se sublinha a originalidade dos
seus símbolos” e onde se reserva a “musealização da história e antropologia cultural da
comunidade judaica local”, assim como “a sua singularidade, enquanto registo
excepcional de (sobre)vivência do Judaísmo face à aculturação religiosa imposta pela
„religião oficial‟” (Silva e Centeno, 2005: 10-11).
O museu, de três pisos, possui no seu primeiro a entrada. À direita desta entrada
encontra-se a receção e uma loja de venda de publicações, artigos de merchandising e
ainda alguns produtos Kosher. À esquerda da entrada encontra-se um auditório e as
escadas de acesso ao piso superior.
No segundo piso encontra-se a exposição permanente. Aqui, o percurso
expositivo parte de algumas materialidades históricas e arqueológicas (ou réplicas) para
Museu Judaico Barros Basto: A Concepção de Coleção Visitável da Comunidade Israelita do Porto __________________________________________________________________________________________________________
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explicar alguns marcos importantes da história dos judeus no mundo e em Portugal.
Este percurso é cortejado com alguns dos símbolos e objetos mais caraterísticos deste
grupo. De facto, esta primeira sala possui no seu centro vitrinas cilíndricas com
Menorot e Hanukiot, sendo numa das suas paredes dado destaque a uma Sepher Torah
(emprestada a título de depósito pela Comunidade Judaica de Belmonte). Na parede
oposta surge um memorial das vítimas da Inquisição, onde surgem os nomes de 220
vítimas do Tribunal do Santo Ofício, naturais da Beira Interior (44 de Belmonte).
Passando para a segunda sala é possível encontrar alguns objetos relacionados com o
culto judaico, sobretudo associados a etapas da vida e a solenidades judaicas (estes
demonstrados em pinturas/desenhos). Surgem também objetos relacionados com
algumas profissões e com a vida quotidiana, numa demonstração da importância dos
ofícios praticados pelos judeus (que, no entanto, eram também praticados por outros).
Aborda-se também o criptojudaísmo e algumas das suas práticas, essencialmente com
recurso, mais uma vez, de objetos por vezes sem a contextualização devida. Apenas um
corredor é dedicado à Obra de Resgate e ao seu grande impulsionador – o Capitão
Barros Basto.
No terceiro piso surge um espaço reservado às raras exposições temporárias e ao
Centro de Estudos Judaicos Adriano Vasco Rodrigues.
Em relação às coleções, os objetos que o museu apresenta, são de uma riqueza e
heterogeneidade bastante grande, destacando-se alguma Judaica anteriores ao Século
XX. Infelizmente, a maioria destes objetos encontram-se em depósito (empréstimo),
pertencendo na realidade à Família Carqueja Rodrigues. Este facto poderá deixar em
risco a sobrevivência do museu enquanto usufrutuário desta valiosíssima coleção, que,
por algum motivo, poder-se-á vir a ser privada de a disponibilizar ao público deixando
de ter a importância que tem neste momento.
Infelizmente, para aquele que se diz “o primeiro museu judaico de Portugal”,
provavelmente ignorando, esquecendo ou desvalorizando o Museu Luso-Hebraico
Abraão Zacuto, não aborda determinadas temáticas, como a Obra de Resgate e a
importância de Barros Basto, de uma forma tão visível e com a dimensão que outras
temáticas (menos importantes no contexto em que o museu foi construído) possuem.
Alguns desses temas apenas encontram a merecida importância no catálogo (Silva e
Centeno, 2005) e nos textos de diversos especialistas que este apresenta.
O facto de o museu de o museu verificar pontualmente incorporações de objetos
sem a devisda relação entre os mesmos e os conteúdos disponibilizados no museu
Museu Judaico Barros Basto: A Concepção de Coleção Visitável da Comunidade Israelita do Porto __________________________________________________________________________________________________________
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agravado pelo facto da descrição de alguns destes novos objetos museológicos não ter
qualquer base científica tem também agravado, mesmo a nível internacional, a imagem
da instituição.
Como ponto bastante positivo, o museu pauta-se por ser marcadamente design,
sendo dada bastante importância à componente estética e visual das coleções e dos
próprios espaços do museu. Desde as cores, às vitrinas, passando pelo destaque dado a
alguns objetos, toda a comunicação visual e atmosfera foi bem estudada pela equipa que
construiu este museu. No entanto, o museu apresenta-se estático, não havendo muitas
atividades a si relacionadas, verificando, também, a inexistência de um serviço
educativo ou mesmo de um site próprio. Este último aliado ao facto de não se puderem
fazer registos fotográficos ou de vídeo, leva a um afastamento de algum público devido
à fraca divulgação que é feita.
2.4. Sinagoga Shaaré Tikvá
Construída entre 1902 e 1904, a Sinagoga Shaaré Tikvá (Portas da Esperança)
foi a primeira Sinagoga construída de raiz em Portugal após o Decreto de Expulsão de
D. Manuel I. Da autoria de Miguel Ventura Terra, este templo religioso judaico
construído pela Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) foi classificado em 2002 como
Imóvel de Interesse Público.
O enfraquecimento e posterior abolição da Inquisição em Portugal proporcionou,
como já foi referido, a vinda de judeus sefarditas de Gibraltar e Marrocos. Os que se
instalaram em Lisboa criaram salas de oração em andares arrendados e nem sempre com
as condições próprias que o culto religioso judaico exige. Desta forma, e após várias
tentativas de se construir um edifício próprio para esse efeito (destacando-se as reuniões
de 1859 e de 1897), surge a possibilidade de se construir um templo religioso judaico
em Lisboa.
É precisamente no dia 23 de Agosto de 1901 que se assina uma escritura de
compra de um terreno na Rua Alexandre Herculano, apesar desta ter sido feita a título
particular e não em nome da CIL, uma vez que a existência legal desta apenas pôde ser
reconhecida após a implantação da República a 5 de Outubro de 1910.
A 25 de Maio de 1902 foi colocada a pedra fundacional pelos corpos dirigentes
da CIL, tendo o templo sido inaugurado no dia 18 de Maio de 1904.
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Destacam-se ainda importantes obras de recuperação nos anos de 1949 (sob a
direção do Arquitecto Carlos Ramos) e de 2004 (sob a direção do Arquitecto Ricardo
Gordon) (Mucznik, 2009c: 505-506).
De planta rectangular, esta Sinagoga, orientada num eixo este-oeste, possui
“fachada com embasamento, cunhais e cimalha lavrados em cantaria, e janelas de vão
curvo rasgadas nos corpos laterais. No vasto interior, com pilares e colunas de tipo
romano-bizantino definindo o eixo e sustentando as galerias, a iluminação faz-se através
das altas fenestrações da fachada, e de três grelhas vidradas no tecto”.12
A Sinagoga, de
rito ortodoxo, possui, também, uma galeria superior para as mulheres.
À semelhança do que acontece na Sinagoga do Porto, existem visitas guiadas à
Sinagoga Shaaré Tikvá por marcação, sendo o seu público maioritariamente composto
por escolas (a nível do Ensino Básico) e turistas (sobretudo judeus)13
. As visitas são
estruturadas pela guia e não obedecem a um programa prévio, ou guião de visita, sendo
as mesmas desenvolvidas em torno das questões colocadas pelos visitantes e do
interesse dos mesmos em determinado aspecto. Essencialmente fala-se das bases e
alguns elementos do Judaísmo ao público escolar e um pouco da história da CIL aos
turistas e judeus.
O percurso da visita limita-se à sala de orações, não havendo qualquer
documentação ou objetos expostos que o público visitantes possa ver, embora a criação
de uma pequena exposição onde conste alguma Judaica ou alguns documentos
importantes ligados à CIL tenha sido já equacionada14
.
Com o facto de a CIL ter estado associada à criação de praticamente todas as
comunidades judaicas do país, aliado ao facto de ter estado na linha da frente em
períodos apertados como o Holocausto, tendo tido uma importância vital para os
milhares de refugiados que passaram por Portugal numa tentativa de salvar as suas
vidas, era de esperar uma posição mais ativa de divulgação do Judaísmo português na
comunidade portuguesa.
12
Informação disponível no site do IGESPAR/Secretaria de Estado da Cultura:
http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/73570/ (visualizado a 25 de
Junho de 2012) 13
Informação fornecida pela pessoa responsável pelas visitas guiadas, a Senhora Ana Araújo. 14
Em conversação com a guia, foi possível tomar conhecimento da vontade de criação de um
museu, que infelizmente só não se concretiza devido à reticência, mais que compreensível, de algumas
famílias doarem alguns objetos de família ligados ao Judaísmo e que dariam uma exposição de um valor
artístico, histórico e simbólico elevado.
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Certo é que a CIL está quase sempre presente em diversas atividades de
divulgação e investigação relacionadas com as diversas temáticas judaicas (lançamento
de livros, documentários, conferências), no entanto era de esperar, do ponto de vista
cultural e turístico uma posição de maior destaque, mesmo a nível museológico, com a
criação de uma ou mais exposições onde conste a importância da CIL no contexto
sociopolítico do Século XIX e XX (e mesmo XXI). Assim, colocaria de lado a imagem
generalizada de uma comunidade discreta e fechada (o que, talvez, seja esse o
objectivo), e abrir-se-ia à população, ao debate, à discussão e à eliminação de
preconceitos e ideias falsas infelizmente presentes na mente de alguns portugueses.
2.6. Museu Sefardí de Toledo
Sem dúvida o mais bem desenvolvido e coerente museu (ou Coleção Visitável)
já descrito, o Museo Sefardí de Toledo (Museu Sefardita de Toledo) localiza-se na zona
histórica da Cidade de Toledo, em Espanha, no interior da Sinagoga del Transito
(atualmente, desativada).
Figura 12 - Exterior da Sinagoga Del Transito / MST
Esta sinagoga, uma das diversas sinagogas que Toledo possuía antes da expulsão
dos judeus em 1492, foi alvo de inúmeras intervenções a nível da conservação e
restauro, onde se pretendeu manter toda a beleza do período pré-expulsão (1492).
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Figura 13 - À esquerda, sala dos ofícios religiosos. À direita, pormenor do Ehal (Arca)
A nível expositivo, o MST desenvolve-se em dois pisos. No primeiro piso
encontra-se a entrada e a respectiva recepção, a partir de onde se tem acesso à sala dos
ofícios religiosos. Aqui são realizados eventos e atividades relacionadas com o museu,
sendo também aqui que se localizam as exposições temporárias quando as há.
A partir daqui, e seguindo
para norte, entra-se na primeira
sala de exposição onde são
abordadas as tradições do povo
judaico e as suas origens, na
segunda sala é dado aos visitantes
uma panorâmica geral da chegada
dos judeus à Hispânia
(Espanha/Portugal). A partir desta
sala é possível seguir para norte
onde se tem acesso ao Pátio Norte
ou Jardim da Memória onde foram colocadas lápides sepulcrais judaicas espanholas da
Idade Média e um muro com um poema em hebraico sobre a morte da autoria de Miosés
Ibn‟Ezra (Séculos XI-XII). A acompanhar cada sepultura encontra-se uma legenda das
suas inscrições, assim como alguns painéis informativos onde se aborda o tema da
morte no Judaísmo. Regressando ao interior do museu e saindo da segunda sala em
direção a este, entra-se na terceira sala onde se desenvolve o tema dos judeus nos
Reinos Cristãos (espanhóis), entre os Séculos XIII e XV. Aqui são referidas as diversas
judiarias existentes na época, as posições de destaque que alguns judeus tinham no
Figura 14 - Jardim da Memória do MST
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contexto político, social e económico da época, assim como as relações com a cultura
dominantes (cristã). Após esta sala é possível sair para o Pátio Este onde se encontra um
sítio arqueológico cujos trabalhos ainda não foram terminados e um espaço de descanso
ao ar livre, onde foram colocadas esculturas de arte contemporânea de autores judeus.
Seguindo para Sul volta-se a entrar no edifício do museu onde, na quarta sala, é
apresentada uma vitrina com alguns objetos relacionados com judeus sefarditas (de
origem peninsular) com um texto onde se explica a origem deste nome e o seu
significado. Daqui, sobe-se até à Galeria das Mulheres (onde, aquando do
funcionamento da Sinagoga, as mulheres assistiam aos ofícios religiosos) que apresenta
na quinta e última sala de exposição permanente do museu, as principais tradições e
objetos judaicos, nomeadamente o ciclo de vida judaico, o ciclo festivo judaico, entre
outras práticas e crenças.
Figura 15 - Galeria/Balcão das Mulheres da Sinagoga Del Transito / MST
Com recurso a textos informativos cortejados por objetos (originais ou réplicas)
demonstrativos de algum período histórico, acontecimento ou tradição judaicos, o MST
apresenta uma sequência expositiva pensada e lógica (ora cronológica ora temática),
onde também a questão estética e gráfica ajuda a incorporar as informações e a definir
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uma atmosfera agradavelmente nostálgica e mística que, aliás, caraterizam toda a
Cidade de Toledo.
Figura 16 - À esquerda e à direita, pormenores das vitrinas presentes no MST
É importante referir que este museu é público, usufruindo de um estatuto e de
algumas facilidades relacionadas com a incorporação de objetos no museu. De facto,
são vários os objetos originais pertencentes ao Estado espanhol que estão expostos no
museu, assim como alguns objetos pertencentes ao Estado de Israel que se encontram
em depósito no MST por período indeterminado, fruto, sem dúvida, de protocolos
diplomáticos firmados entre os dois estados.
O MST apresenta, também, um Guia (Museo Sefardí de Toledo, 2011)
extremamente bem desenvolvido, onde são abordados os aspectos aquitetónicos da
Sinagoga del Transito, as diversas etapas do Museu, assim como todas as temáticas
desenvolvidas no museu onde são também apresentados os objetos expostos. No fundo,
ao comprar o Guia “leva-se parte do Museu” também, pois, a nível informativo, o
museu apresenta pouco mais do que o Guia apresenta, o que contrasta com o Catálogo
do Museu Judaico de Belmonte que, como foi atrás referido, peca por o museu conter
muito pouca informação se comparado com o Catalogo (que chega a abordar temáticas
inexistentes no museu e que faria todo o sentido ser apresentado ao público
museologicamente).
Ao todo foram utilizadas 72 publicações para a construção do museu, que pela
sua dimensão, conseguiu tocar um grande leque de temas, apresentando textos
informativos não muito extensos, mas concisos e objectivos bem demonstrativos dos
temas que foram desenvolvidos.
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38
É de referir, ainda, que o Museu possui uma loja com dezenas de publicações
relacionadas com o Judaísmo, ora de divulgação, ora de teor científico e académico,
além de apresentar para venda imensos artigos de merchandising relacionado com o
museu e o Judaísmo.
O MST também é incansável na realização de eventos e atividades relacionados
com as temáticas que aborda na sua exposição permanente, promovendo vários eventos
mensais dirigidos a todas as faixas etárias, além de uma política de comunicação bem
definida e ativa, como no-lo comprovam as suas páginas da Internet e do Facebook.15
Em suma, o MST é sem dúvida, um exemplo das boas práticas museológicas e
de uma construção museográfica bem realizada, onde se abordam os temas a que
efetivamente se propuseram.
Figura 17 - Pormenor de uma das vitrinas do MST
15
Ver Site e Facebook do MST: http://museosefardi.mcu.es/ e
https://www.facebook.com/comunicacion.museosefardi [visualizados a 25 de Junho de 2012].
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3. Algumas Considerações Conclusivas
Conforme foi referido no primeiro capítulo, existem alguns exemplos de boas
práticas museológicas no que diz respeito à religião. John Reeve (2012: 137) resume-as
da seguinte forma:
Colaboração fecunda mas delimitada com os grupos religiosos; maior debate
aberto entre os museus e galerias acerca da natureza das interpretações religiosas:
parcerias educacionalmente sustentadas e programas patrocinados em vários media;
interpretações diversas nas exposições, publicações, websites e programas; capacidade
de resposta a debates públicos consciencializando-se do papel público do museu;
compromisso com a cultura contemporânea e as suas respostas à fé; constante estudo de
públicos.
No segundo capítulo e sem nunca esquecer as boas práticas enumeradas (e todo
o conteúdo do primeiro capítulo) foi possível avaliar os museus e outros locais de
interesse judaico, tentando-se perceber se os mesmos executavam ou não os exemplos
de boas práticas relacionados com a religião e os museus (ainda que a bibliografia
referida e analisada se relacionasse apenas com museus de religião públicos, mas que
aqui se pretende extrapolar).
Como foi possível ver, muitos museus optam por jogar pelo seguro, não
arriscando interpretações plurais das suas coleções ou que fugissem à normalidade. De
facto, e à semelhança do que acontece nos Estados Unidos (cf. Reeve, 2012: 137), os
museus e coleções visitáveis judaicos portugueses não abordam de uma forma profunda
a religião judaica nem mesmo a sua cultura e história. Pelo contrário, divulgam somente
alguns elementos básicos acerca destes temas, não os desenvolvendo nem mostrando
outras posições/interpretações.
Entre museus creditados, coleções visitáveis, até monumentos de interesse
histórico, cultural e simbólico, todos este locais têm em comum o facto de quererem
contar um pouco da história judaica em Portugal.
É inquestionável a importância histórica e cultural judaica em Portugal, e não é
de estranhar o crescente número de turistas e outros interessados em conhecer um pouco
melhor as temáticas relacionadas com o Judaísmo. Já aqui se explorou um pouco este
Museu Judaico Barros Basto: A Concepção de Coleção Visitável da Comunidade Israelita do Porto __________________________________________________________________________________________________________
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tema, mas resta referir, após a análise das museografias concretizadas desenvolvidas
anteriormente, algumas conclusões que servirão de ponto de partida para o projeto que
se pretende conceber.
Todos os locais aqui analisados são visitados maioritariamente por um público
em idade escolar (sobretudo a nível do Ensino Básico – 2º a 3º Ciclos), sendo seguidos
pelos turistas (maioritariamente judeus, maioritariamente estrangeiros). Assim, seria
importante dedicarem (já que não definem públicos prévios a quem as suas ações se
possam dirigir) a sua atenção a estes grupos na hora de divulgar a informação e as
materialidades de que são depositários. Muitos dos locais visitados mantêm-se estáticos
há muitos anos e alguns chegam mesmo a estar iguais ao dia em que foram inaugurados.
Seria importante reformularem a fundo as suas exposições dirigindo um discurso
estudado aos públicos que os costumam visitar.
Conforme referido no primeiro capítulo deste trabalho, também é importante um
museu ou local visitável judaico (musealizado ou não) ter no grupo de trabalho
elementos pertencentes a comunidades judaicas que os possam guiar em determinadas
questões. Assim como é importante ter nesse mesmo grupo de trabalho elementos que
não professem a fé judaica, para assim poderem contrabalançar algumas decisões,
nomeadamente na explicação de alguns conceitos que por serem considerados normais
nos judeus, são ignorados por estes.
O MLHAZ e a Sinagoga Shaaré Tikvá são três exemplos de pontos de interesse
onde a musealização, tratamento da informação e divulgação são da autoria exclusiva de
grupos ou pessoas judias não havendo, portanto, um contrabalanço.
No MJB, apesar de ter havido cooperação a nível institucional entre o Museu e a
Comunidade Judaica de Belmonte, a verdade é que o produto final carece de
informações consideradas importantes no âmbito da missão a que se propôs,
nomeadamente a Obra do Resgate.
Em relação à CIL, a única ligação com o público surge apenas com uma guia
que enumera algumas das especificidades judaicas, não havendo um estudo prévio
acerca dos públicos que virão, das suas necessidades e expectativas. O facto da guia ser
judia também condiciona e limita um pouco o discurso explicativo.
Em relação ao Museu Judaico de Belmonte e ao Museo Sefardi de Toledo estes
apresentam uma coleção bem organizada. Além do valor dos objetos, a museografia está
bastante coerente e organizada, refletindo-se o número de visitantes e no prestígio que
possuem.
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No entanto, poucos desses locais (muitos deles auto-denominados, erradamente,
de museus) mantêm uma política de desenvolvimento dos seus serviços e atividades
museológicos, do aumento e estudo das suas coleções, da análise das necessidades e
expectativas dos seus públicos (e até das próprias instituições, no sentido das suas
missões e objectivos) ou mesmo da própria divulgação.
Seria, primeiro que tudo, importante que estes locais de interesse se
consciencializassem muito bem dos seus papéis sociais, culturais e educativos e que,
muitos deles, começassem por construir as suas missões e objectivos, visto que
claramente não os possuem. Como instituições gestoras de património cultural que
afirmam ser, deveriam dedicar-se a encontrar claramente os caminhos que pretendem
seguir indo, também, ao encontro das necessidades e expectativas das comunidades em
que se inserem (pelo menos).
Visto o panorama nacional relativo ao património cultural e museológico
português, é possível traçar, agora, um retrato mais concreto e assertivo sobre o tema da
musealização da fé judaica em Portugal e, consequentemente, definir o melhor caminho
a seguir num novo equipamento cultural criado no Porto – o Museu Judaico Barros
Basto.
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PARTE II
O Projeto Museológico
do Museu Judaico Barros Basto
Museums have an obligation to recognize the legitimacy of many of the claims that faith groups
make upon them, where these do not unreasonably interfere with the cultural rights of others
[…] What museums cannot do is to cede open cultural space or the interpretation of collections
to the control of faith adherents.
(Anderson, 2012)
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1. Considerações Iniciais
Antes de iniciar a descrição dos trabalhos, urge apresentar algumas noções
básicas diretamente relacionadas com o projeto aqui descrito.
Segundo Victor Sequeira Roldão (2000: 8) um “projeto” é uma organização que
pretende o cumprimento de um objectivo. Assim, a sua existência perdura desde a
criação desse objectivo (ou objectivos) até à sua conclusão e caracteriza-se por ter um
carácter temporário, ter um início e fim definidos e obedecer, por norma, a um plano.
Na sequência do “projeto”, surge o conceito de “gestão de projetos” que se
caracteriza por ser um processo de planeamento, execução e controlo de um projeto
desde que é iniciado até que é finalizado. Desta forma, “o principal objectivo a atingir
na Gestão do Projeto é um produto final, com o melhor desempenho, numa perspectiva
dinâmica e flexível, ou seja, procedendo às alterações necessárias que se verifiquem
durante o avanço do mesmo projeto” (Roldão, 2000: 9).
Segundo o mesmo autor:
(…) a Gestão do Projeto forma um ciclo dinâmico que se inicia no Planeamento
com a fixação de objectivos, estabelecimento de recursos e definição de estratégias,
passando à Execução com afetação de recursos, gestão da execução e coordenação de
esforços e, finalmente ao Controlo com avalização de resultados, elaboração de
relatórios e resolução de problemas com eventual tomada de medidas corretivas.
Podendo ser aplicada a uma multiplicidade de objectivos, os projetos são a
melhor forma de estruturar um conjunto de atividades, cada qual com as suas tarefas, de
forma a chegar a uma meta bem definida.
Desta forma, pretendeu-se realizar um projeto de concepção de uma “coleção
visitável” (ver Lei Quadro dos Museus Portugueses), ou exposição visitável (como terá
mais lógica chamar), que poderá, eventualmente, no futuro, se constituir como museu
devidamente credenciado uma vez que apresenta um acervo composto por bem
materiais móveis (coleções/objetos) assim como por “testemunhos resultantes da
materialização de ideias” (nomeadamente documentação e publicações) e por “bens de
património cultural imóvel” (designadamente a Sinagoga Kadoorie Mekor Haim). A
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instituição, neste momento, apenas não cumpre, algumas das funções museológicas
designadas na Lei Quadro, devido à falta de recursos humanos e financeiros que
possibilitem, nomeadamente, conservar e interpretar de uma forma desejável o seu
acervo.
Uma exposição compreende, para Luís Alonso Fernández (2006: 208), um
processo composto por cinco fases de desenvolvimento: a concepção e objectivos; a
planificação ou programa; a produção e gestão do projeto; o desenho, instalação e
montagem; e a análise e avaliação. Estas cinco fases, que deverão ser coordenadas entre
si, devem expressar quatro conceitos básicos de um projeto expositivo como forma de
comunicação: o emissor, a mensagem, o receptor e a relação ou nível contextual.
Olhando para o modelo de Alonso Fernández é importante referir que este
projeto apenas contemplará a concepção e objectivos, a planificação e o desenho da
exposição, tendo, no entanto, os quatro conceitos base por si defendidos.
Um outro conceito que será importante descrever de forma prévia é o de
museografia (em contraste com o de museologia).
O ICOM (1970 citado em Alonso Fernández, 2006:34) define a museologia
como “a ciência do museu, que estuda a história e a razão de ser dos museus, a sua
função na sociedade, os seus sistemas peculiares de investigação, educação e
organização, relação que guarda com o meio ambiente físico e classificação dos
diferentes tipos de museus” e a museografia como “ a única técnica que expressa os
conhecimentos museológicos no museu. Relaciona-se, especialmente, com a arquitetura
e ordenação das instalações científicas dos museus”. Esta definição vai, aliás, no sentido
de uma anterior da autoria de Georges Henri Rivière, em que este define a museologia
como “a ciência que tem como objectivo estudar as funções e a organização dos
museus” e a museografia como “o conjunto das técnicas relacionadas com a
museologia” (UNESCO, 1958 citado em Alonso Fernández, 2006:34), tendo mais tarde
acrescentado que a “museografia era um conjunto de técnicas e práticas aplicadas ao
museu”.
Apesar destas definições, alguns autores desenvolveram, cada um à sua maneira,
o sentido destes termos. Mas seria interessante aqui deixar a opinião de Fernandéz
(2006: 34) que sintetiza esta problemática da seguinte forma: “a museografia move-se
no plano do prático e do concreto das ações” enquanto a “museologia, como ciência
teórica, normativa e de planeamento, move-se no plano da análise dos fenómenos
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museológicos, que é importante que se tenha presente para que evitem imprecisões e
equívocos”, acrescentando-se a posição de R. Rojas, J. L. Crespan e M. Trallero (Rojas
et al., 1973 in Alonso Fernández, 2006: 34):
“[a museografia é] a teoria e prática da construção dos museus, incluindo
aspectos arquitetónicos, de circulação e as instalações técnicas. Mas tudo isto, mais os
problemas relacionados com as aquisições, métodos de exposição, armazenamento de
reservas, medidas de segurança e de conservação, restauro e atividades culturais
projetadas a partir dos museus, constitui uma nova disciplina mais ampla que recebe o
nome de museologia”
Desta forma, uma das atividades deste projeto relaciona-se diretamente com o
conceito de museografia, como desenho de uma exposição, embora os métodos
expositivos a si associados se relacionem com o conceito de museologia como
disciplina teórica e de planeamento.
O presente projeto apenas conta com um elemento (o autor do presente Relatório
de Projeto) devido ao facto de o mesmo ter finalidades académicas. Ainda assim,
pretendeu-se a colaboração pontual de algumas pessoas, nomeadamente a propósito da
orientação académica/científica (o Senhor Professor Doutor Armando Coelho Ferreira
da Silva); da orientação em questões relacionadas com o Judaísmo e a ortodoxia
judaicas, assim como a propósito de informações relacionadas com a Instituição, o
edifício, o Capitão Barros Basto e com o acervo (Direção da Comunidade Israelita do
Porto e o Rabino Daniel Litvak); e do apoio prestado a propósito de informações acerca
de alguns museus judaicos e do tema da musealização da fé.
No processo de programação de um projeto, a construção de redes e a análise de
tempos é bastante importante. Assim, optou-se, pela elaboração de uma Rede PERT-
CPM (Programe Evaluation and Review Technique e Critical Path Method) para o
planeamento do projeto, uma vez que é um dos modelos mais claros e práticos,
permitindo avaliar o projeto e planifica-lo como um todo. Este modelo exige um estudo
cuidadoso das atividades e suas sequências, a determinação dos seus tempos e meios
necessários à execução, sendo necessário haver um conhecimento prévio e bastante
preciso acerca das atividades e suas tarefas (Roldão, 2000: 99-100).
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As Redes PERT16
e CPM17
são métodos que utilizam a programação recorrendo
a redes criadas após a definição da listagem de atividades do projeto, da construção da
rede (olhando para as suas relações de dependência) e a definição do caminho crítico
(linha temporal que não poderá ser ultrapassada).
Assim, “a noção de atividade pode compreender um trabalho qualquer a
executar, uma tarefa, uma operação, um processo ou um tempo de espera e, é definida
por dois acontecimentos que delimitam o seu início e o seu fim. A uma atividade real
associa-se sempre uma duração”, já os acontecimentos “não consomem nem tempo nem
recursos”, sendo que a “simbologia mais correntemente utilizada representa as
atividades por setas e os acontecimentos por círculos” (Roldão, 2000:100).
Para a estimativa do tempo necessário para desenvolver cada uma das atividades
do projeto utilizou-se o método intuitivo, ou seja, estimou-se, de uma maneira geral, o
tempo que, em princípio, levaria a concluir cada etapa.
Posto isto, foram decididas as seguintes atividades para o presente projeto, tendo
em consideração as etapas necessárias para a concepção de uma exposição desde a
definição inicial do conceito até a análise final do produto conseguido.
Assim, foi criada uma tabela a partir da qual foi criado o esquema da Rede
PERT-CPM [Ver Tabela 1].
Atividade Nome da Atividade Duração
(Meses)
Atividade
Precedente
A Definição do conceito do Projeto 1 -
B Identificação das especificidades da
Instituição 4 A
C Definição do carácter cultural e social
da Instituição 1 A
16
Desenvolvido em 1956 por Booz, Allen, Hamilton e pela Marinha Norte Americana. 17
Desenvolvido em 1957 por J. E. Kelly e Morgan Walrees.
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D Definição dos temas a constar na
exposição 1 B / C
E Construção de textos 4 D
F Recolha e análise de fontes e
bibliografia 3 D
G Seleção de objetos e imagens 1 D
H Museografia 1 E / F / G
I Análise final do projeto e elaboração
do relatório 1 H
Tabela 1 – Tabela demonstrativa das Atividades do Projeto, da sua duração e relações
Já o resultado do planeamento, e consequentemente da Rede PERT-CPM é o que
se apresenta de seguida:
Figura 18 - Rede PERT-CPM do Projeto
Como é possível verificar, existem algumas atividades paralelas. Relacionadas
com os acontecimentos estão quadrados indicativos do tempo utilizado (em meses) –
mínimo e máximo – até esse acontecimento. A azul está representado o caminho crítico,
composto pelas atividades que por serem mais demoradas que outras atividades
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iniciadas no mesmo acontecimento, permitem que estas últimas se possam atrasar até ao
limite máximo de tempo estipulado para a atividade do caminho crítico.
Uma outra forma, mais básica, de representação das etapas do projeto é o
Diagrama de Gantt [Ver Tabela 2], que não apresenta as interdependências entre as
atividades, logo, desconhece-se até onde uma atividade pode ser alargada, não
interferindo com o tempo disponível total para o projeto (demonstrado no caminho
crítico da Rede PERT-CPM).
Atividades Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Total
A 1
B 4
C 1
D 1
E 4
F 3
G 1
H 1
I 1
Tabela 2 – Diagrama de Gantt do Projeto
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2. Descrição dos Trabalhos Desenvolvidos
Neste capítulo serão referidas todas as atividades e suas tarefas que compõem o
presente projeto, sendo que ao longo das atividades serão descritos todos os trabalhos
desenvolvidos.
A) Definição do conceito do Projeto
Nesta primeira atividade criou-se o conceito base de todo o projeto. Com uma
Comunidade judaica organizada e pouco conhecida na Cidade do Porto é de estranhar o
facto de uma boa parte da população da cidade desconhecer a existência de tal
organismo religioso. Este facto, associado à ignorância que paira sob a grande parte da
população portuguesa acerca de temas relacionados com o Judaísmo é tanto mais
surpreendente se se verificar que pouca ou nenhuma informação há nos museus da
cidade ou em qualquer outras estruturas culturais do Porto acerca destas temáticas.
Desta forma, encetou-se conversações com a Direção da Comunidade Israelita
do Porto (CIP) de forma a que fosse possível chegar à melhor forma de aplacar, na
medida das possibilidades da Instituição, o desconhecimento sobre temas a si
associados.
As atenções, então, viraram-se para uma pequena exposição visitável que existe
em três salas da sede da CIP – a Sinagoga Kadoorie Mekor Haim – onde foram
colocados alguns textos e objetos acerca de temas relacionados com a Comunidade
Israelita do Porto e de Bragança (esta última já não existe), a Obra de Resgate, a
presença de refugiados no Porto, a reabilitação recente do Capitão Barros Basto pela
Assembleia da República, o Instituto Teológico Israelita do Porto e ainda algumas
publicações de Barros Basto. Apesar dos muitos visitantes da Sinagoga serem jovens
em idade escolar, a verdade é que a exposição não dedica qualquer atenção aos temas
ligados ao Judaísmo como religião e cultura, tendo surgido, portanto, a ideia de
reestruturar a exposição, torna-la mais acessível e confortável (a nível visual),
mitigando alguns dos seus problemas e lacunas.
Assim, pretendeu-se criar um organismo associado à CIP – O Museu Judaico
Barros Basto (MJBB) – que embora seja, segundo a Lei-Quadro dos Museus
Portugueses (artigo 4.º) uma coleção visitável, deve o título de “Museu” à facilidade
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comunicativa associada à expressão “museu judaico”, levando os futuros visitantes a
perceberem concretamente do que se trata e à homenagem que se pretende fazer à
personalidade mais importante ligada à CIP – Arthur Carlos de Barros Basto.
Este projeto, assim como todos os projetos do género, possuem um conjunto de
pontos fortes e pontos fracos que poderão beneficiar ou dificultar a missão e objectivos
do museu e, mais particularmente, da exposição permanente aqui idealizada.
Desta forma, os pontos fortes são:
A vasta documentação acerca da Comunidade Israelita do Porto, assim como o
vasto acervo relacionado com o Capitão Arthur Carlos de Barros Basto. A
propósito do segundo, é de destacar a estreita ligação que a família de Barros
Basto mantém com a própria CIP, o que facilita o acesso a muita documentação
e mesmo a alguns objetos pertencentes ao Capitão.
A possibilidade de se destacar, entre as demais instituições gestoras do
património cultural e documental judaico, em áreas como a investigação,
divulgação e, sobretudo, educação e civismo. Este ponto transmitirá uma
imagem de uma instituição aberta ao diálogo e, portanto, não tão afastada como
vulgarmente se consideram as comunidades judaicas. Este processo poderá
culminar numa mudança de mentalidades que se encontram pontualmente na
sociedade e que se pautam por um certo anti-semitismo, anti-judaísmo,
ignorância, entre aspectos menos positivas.
O colmatar da inexistência de um equipamento cultural no Porto (ou arredores)
relacionado com Judaísmo, a cultura judaica, e a história judaica
(nomeadamente no Porto), que tem trazido centenas de turistas à cidade (e
mesmo a Portugal) em busca de uma presença judaica que muitas vezes é difícil
de observar sem o devido acompanhamento de uma instituição preparada e com
credibilidade.
Estar associada a uma instituição de carácter religioso, articulada, ou com
facilidade em se articular, com instituições nacionais e internacionais na área da
religião judaica, cultura, património e investigação (uma rede não definida com
exatidão, mas existente18
).
18
Nomeadamente as restantes duas comunidades judaicas do país – Lisboa e Belmonte –, o
contacto com docentes e investigadores ligados a diversas universidades do país (sobretudo a Faculdade
de Letras da Universidade do Porto), relações com a Embaixada de Israel em Portugal e com outras
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Localização numa zona nobre, acessível e calma da cidade (com transportes
públicos próximos – autocarros e metro –, e local junto à Sinagoga onde é
possível estacionar camionetas); próxima de algumas Faculdades (Faculdade de
Arquitectura, Letras e Ciências da Universidade do Porto; Instituto Superior de
Administração e Gestão); de zonas comerciais (Rotunda e Avenida da Boavista,
Rua Júlio Dinis, Shopping Cidade do Porto); entre outros equipamentos
(Cinema Nun‟Álvares, Jardim Botânico/Casa Andersen, etc.).
Valor arquitetónico, histórico e simbólico do edifício – Sinagoga Kadoorie
Mekor Haim.
Já os pontos fracos são os que se seguem:
Inexistência de uma equipa própria no MJBB. Esta carência atual de um quadro
de empregados fixos e qualificados ligados ao MJBB (atualmente apenas se
verifica a colaboração de voluntários) poderá representar a estagnação do
desenvolvimento do MJBB.
O reduzido acervo de alfaias religiosas judaicas (Judaica), que poderia trazer
uma mais-valia ao museu, podendo-se, inclusive, apostar numa secção de artes
decorativas judaicas.
O facto de uma parte do acervo não pertencer à CIP, estando apenas à sua
guarda (depositando) e, portanto, sujeito a ser retirado.
Espaços expositivos reduzidos.
Inexistência de reservas com boas condições de conservação preventiva.
Problemas de acessibilidade (muitas escadas) e de adaptação a museu devido à
arquitetura do edifício.
Reduzidos recursos financeiros direcionados para o Museu, o que impossibilita a
alteração da categoria de Coleção Permanente para Museu, segundo a Lei-
Quadro dos Museus Portugueses19
.
O facto de os espaços expositivos encontrarem-se no interior duma Sinagoga
ativa e ortodoxa, devendo-se ter o máximo cuidado para não chocar com os
interesses da instituição, nomeadamente com as festividades e os dias de culto.
instituições culturais no país (Museu Judaico de Belmonte, Centro Histórico Judaico de Faro/Cemitério
Judaico de Faro, Sinagoga de Tomar/Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto; Rede de Judiarias de
Portugal – Rotas de Sefarad; e ainda relações com instituições culturais estrangeiras – YadVashem; etc.) 19
Embora os contornos desta alteração de estatuto não sejam bem definidos nesse diploma.
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B) Identificação das Especificidades da Instituição
Esta atividade, com a duração de três meses, pretendeu identificar as
particularidades da instituição através da concretização de algumas tarefas. Essas tarefas
tiveram, mais uma vez, a colaboração da Direção da CIP.
Desta forma, as tarefas executadas foram as seguintes:
1) Identificação da estrutura orgânica da CIP
A CIP é, perante a Lei Portuguesa, uma pessoa coletiva sem fins lucrativos e de
natureza, sobretudo, religiosa. Legalizada no Governo Civil do Porto a 1 de Agosto de
1923, após Arthur Carlos de Barros Basto – o seu fundador – ter entregado os
documentos relativos à sua legalização, datados de 27 de Julho do mesmo ano, sendo
legalizada a 1 de Agosto de 1923. Esta associação judaica tem como principal
finalidade, como está referido nos seus Estatutos, “praticar a religião israelita, fortalecer
a cultura hebraica a dar assistência moral, e tanto quanto possível, material aos seus
irmãos de fé” (Estatutos da Comunidade Israelita do Porto).
Atualmente, a CIP está sediada na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim (Fonte de
Vida) situada na Rua Guerra Junqueiro, número 340, na Freguesia de Massarelos,
Concelho e Distrito do Porto, tendo já passado por casas arrendadas: Rua Elias Garcia
(1923), Rua de Fernandes Tomás (1924, Rua do Bonjardim (1925), Rua do Poço das
Patas (1927) e Rua 5 de Outubro (1929) (Martins, 2006c: 51).
Com cerca de quarenta membros, esta comunidade independente organiza-se
numa estrutura comum a diversas organizações do género, possuindo uma Assembleia
Geral (órgão máximo composto por todos os associados) e respectiva Mesa, uma
Direção (órgão essencialmente executivo) e respectivos elementos e um Conselho
Fiscal, além de alguns grupos de trabalho específicos. Estes órgãos são eleitos pela
Assembleia Geral (conjunto de todos os associados). Religiosamente orientada pelo
Rabinato Central de Israel, esta congregação, apesar de ortodoxa, é composta de
elementos de diversos ramos do Judaísmo (Reformistas, Conservadores, Seculares).
Do ponto de vista museológico, a CIP, ao estar, cada vez mais, direcionada para
a componente cultural e educativa, tem vindo a desenvolver algumas atividades de
divulgação do Judaísmo, de Barros Basto e da Obra de Resgate. A principal atividade
realizada foi a exposição visitável que possui no seu 1º andar.
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2) Análise do Edifício – Um “Museu Monumento”
À semelhança do que acontece em alguns museus judaicos, nomeadamente o
Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto, na Sinagoga de Tomar (Portugal) e no Museo
Sefardí de Toledo, na Sinagoga del Transito (Espanha), a exposição visitável da CIP
encontra-se num edifício com uma enorme importância arquitetónica, histórica e
cultural – a Sinagoga Kadoorie Mekor Haim.
Figura 19 - Sinagoga Kadoorie Mekor Haim
A Sinagoga Kadoorie Mekor Haim encontra-se a uma latitude de
41º09‟21.50‟‟N., a uma longitude de 8º38‟13.45‟‟O., e a uma altitude, em relação ao
nível médio das águas do mar, de cerca de 75 metros.20
Encontra-se na bacia
hidrográfica do Douro.
Localizado na Rua Guerra Junqueiro, número 340, na Freguesia de Massarelos,
do Concelho e Distrito do Porto (Portugal), este edifício goza de uma relativa calma ao
situar-se numa artéria importante, mas com pouco trânsito, da malha urbana da cidade
do Porto. A existência de trânsito automóvel não muito intenso contrasta com o facto de
se situar bem próxima da Avenida da Boavista – uma das mais movimentadas artérias
da cidade. De uma maneira geral as vias de comunicação para se chegar ao edifício são
20
Coordenadas retiradas da aplicação Google Earth, a 04/01/2011.
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bastante boas: ruas largas e centrais, apesar de alguns acessos possuírem algum trânsito
automóvel sobretudo nas “horas de ponta”; passeios largos; e vários transportes
públicos e privados em seu redor (metros, camionetas e autocarros).
A calma zona urbana, é essencialmente residencial (vivendas), embora possua
alguns escritórios, assim como se situa bem perto de um cemitério (Cemitério de
Agramonte) e diversas faculdades, do Jardim Botânico do Porto/Casa Andresen, da
Casa da Música, do Centro Comercial Shopping Cidade do Porto, entre outros pontos
de referência, como já anteriormente foi referido.
Alguns dos equipamentos/edifícios sitos na mesma rua e que poderão ter algum
interesse aqui mencionar são: Cinema Nun‟Álvares, o Colégio Alemão do Porto, a Sede
Distrital do Partido Social Democrata e a Igreja do Santíssimo Sacramento.
A propósito da Sinagoga,
o seu projeto de construção foi
enviado e autorizado pela
Câmara Municipal do Porto em
1929, tendo a sua primeira pedra
sido colocada a 30 de Junho
desse mesmo ano. Após um
período mais parado nos anos
iniciais (devido à escassez de
verbas), nos finais de 1933 (com
a doação de 2000 libras por parte
da família Kadoorie) arrancam de novo as obras sob a orientação do arquitecto Augusto
dos Santos Malta e mais tarde, com a morte deste, do arquitecto Artur de Almeida
Júnior, tendo a inauguração do templo ocorrido a 16 de Janeiro de 1938. É importante
referir, ainda, a colaboração de Rogério de Azevedo a nível dos interiores, conforme no-
lo comprovam manuscritos (diários) do próprio Capitão Barros Basto.
A propósito da construção, Augusto dos Santos Malta descreve na Memória
Descritiva presente na Licença 477-1929/509 do Arquivo Histórico Municipal do Porto
o seguinte:
“Sendo o edifício de carácter religioso e associativo, procurou-se dar ao mesmo
essa característica instalando-se além da grande sala para exercício do culto, várias
Figura 20 - Interior da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim
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outras salas e gabinetes indispensáveis, não só à vida associativa da Comunidade, mas
ainda, para estudo e repouso nos dias de grandes solenidades. E, assim, no primeiro
pavimento, um pouco abaixo do nível do terreno, ficam os vestiários para homens, com
retretes, urinoes, etc.
No segundo pavimento, precedida dum grande vestíbulo que igualmente dá
acesso às escadas para os andares superiores, e ladeado por duas salas de espera, é
estabelecida a grande sala destinada aos atos de culto, com dois pequenos gabinetes ao
fundo para a guarda de alfaias religiosas; no 3º, destinado somente a senhoras, é
instalada, na ala Norte, uma pequena biblioteca, uma sala de estar, gabinete de toilete e
grande vestíbulo para acesso à galeria da sala do culto onde tem os seus logares e,
finalmente, no 4º pavimento, é instalada uma sala de reuniões da Comunidade com
várias salas anexas para Secretaria, gabinete de leitura e do Conselho Diretor da mesma;
tem ainda retretes, urinoes, um pequeno vestiário e um páteo para recreio.
O terreno em que assenta o templo é de saibro, suficientemente resistente para
suportar, sem quaesquer humidades excessivas ou outros defeitos que, de futuro,
venham a prejudica-la. O esqueleto de todo o edifício é de alvenaria de granito pouco
poroso para, posteriormente, ser revestido a argamassa de simento; na base das paredes,
sobre os alicerces, e ainda naqueles até 0,30 centímetros fóra da terra, é deitada uma
capa de asfalto para evitar infiltrações naturaes do terreno para o prédio.
Os pavimentos do rez do chão e subterraneo são de mosaico e, os restantes,
feitos em madeira.
Parte do interior é rebocado a argamassa idráulica com lambris de azulejo
cerámico e, o restante, rebocado e estucado a argamassa de cal e saibro e, cal e areia
fina.
A cobertura do edifício, feita em vários planos e terminada por uma série de
cúpulas semi-esféricas ou cilíndricas, é feita em beton de simento armado, de que
adiante se apresentam os cálculos respectivos.
As madeiras empregadas em portas exteriores e interiores, balaustradas,
escadas, etc., são todas de castanho ou madeira equivalente. As grades dos lanternins,
para iluminar a grande sala, são feitas de ferro forjado com vidros brancos e de côr.
Os pavimentos de todas as retretese urinoes são feitos com mozaico cerâmico;
as paredes que as dividem são feitas com tijolo assente em argamassa de simento e areia
e somente com a altura de 2,30 metros, de maneira a serem todas, e por dada grupo,
iluminadas e ventiladas por uma só janela suficientemente ampla; nas paredes assentar-
se-há uma faxa de azulejo. Terão para a limpeza, cada uma das bacias, um autoclismo e,
para os urinoes, em cada grupo, um depósito de louza para água, de descarga periódica e
automática, com capacidade de 20 litros aproximadamente. A ventilação é assegurada
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por um tubo de respiro de 10 centímetros de diâmetro, elevando-se 1 metro acima da
cobertura.
As águas pluviaes são tomadas em canos condutores de xapa de ferro zincada e,
trazidas ao solo, canalizadas para o aqueduto geral existente na rua.
Todos os trabalhos de madeira e ferro serão pintados convenientemente a tinta
de óleo para o seu embelesamento e conservação dos materiais em que são aplicados.
[…]”
Esta descrição do imóvel mantém-se, ainda hoje, atual, na medida em que as
poucas alterações feitas, já no fim dos anos 1980/inícios de 1990 (Pignatelli, 2008:
164), poucas transformações provocaram (pintou-se o edifício, envernizou-se as
madeiras, fez-se alguns reparos, modernizou-se os quartos de banho).
Assim, e como complemento à descrição supra citada, passar-se-á à
apresentação dos espaços que constituem o edifício.
Figura 21 - Fachada da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim
O templo israelita branco majestoso e belíssimo onde impera o betão armado, de
forma rectangular e caracteristicamente oriental (com cúpulas, terraço e ornamentações)
num estilo art déco, está inserido no centro de um terreno vedado por todos os lados
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com um muro de granito. Na fachada, de feição quadrangular, imperam as linhas rectas
cortejadas e adornadas por elementos triangulares e circulares. A parte superior do muro
é pintada de branco, estando encimada por grades de ferro pintadas de castanho. O
portão que dá para a rua (de ferro pintado também) possui duas portadas e dá acesso a
dois lances de escadas de pedra que levam até à porta principal que está ladeada por
mais duas portas pequenas. No piso entre os dois lances de escada encontra-se um
pequeno jardim (dividido em dois pelas escadas) com relva, duas palmeiras bastante
grandes (uma em cada lado) e alguns arbustos e flores. Neste mesmo piso, dos dois
lados do templo encontram-se dois corredores exteriores que dão acesso a cada uma das
duas portas das fachadas laterais do templo (uma de cada lado, que vão dar ao átrio
principal, no rés-do-chão), assim como, seguindo mais para a frente, às traseiras do
templo, onde se encontra um pequeno terraço.
No interior, é possível dividir o imóvel em dois blocos. No bloco oriental (as
traseiras do templo) é onde se situa a sala dos ofícios religiosos (embora também seja
usada para outras atividades como os concertos e as conferências). Este bloco possui
dois andares com soalho de madeira (o superior destinado às mulheres), altas janelas (do
rés-do-chão até ao 1º andar), cinco de cada lado, também em madeira que conferem
uma grande iluminação natural ao espaço. A parede ocidental, encontra-se a Arca –
Aron Kodesh ou Ekhal – onde se guardam os rolos da Lei – Sepher Torah) de madeira.
Com portas de madeira decoradas, cada uma com uma estrela de seis pontas, toda a
Arca é fantasticamente trabalhada e ornamentada em madeira, gesso e pedra (com a
predominância dos tons dourados, azuis e vermelhos). A ladear a Arca estão duas placas
de mármore onde foram inscritos em letras hebraicas douradas os Dez Mandamentos
(cinco de cada lado). Ainda na parte superior da Arca existem duas inscrições/
passagens do Tanack (a Bíblia Hebraica), também elas, em hebraico:
Escuta Israel! Adonai, é o nosso Deus, Adonai é Uno (Deuterónimo, VI, 4)
Eu, Eu sou Adonai e fora de mim não há salvador (Isaías, 43, 11)
Também nos frisos do varandim do balcão superior, ou Galeria das Mulheres
(Hazarah), que é trabalhado em madeira, apresenta as seguintes passagens:
Sereis para mim santos, porque Santo sou Eu, Adonai (Levítico, XX, 26)
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Santos sereis, porque Eu, Adonai, vosso Deus, sou Santo (Levítico, XIX, 2)
Amarás Adonai, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma e de todas as
forças (Deuterónimo, VI, 6)
E vós sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa (Êxodo, XIX, 6)
Adonai está com aqueles que O chamam e com os que O invocam com
sinceridade (Salmo, 145, 18)
Já nos frisos das paredes do balcão superior encontram-se as seguintes
passagens:
Mulher forte quem a achará? O seu valor excede o das pérolas (Provérbios, 31, 10)
O coração de seu marido está nela confiado que nada lhe faltará (Provérbios, 31, 11)
Ela lhe faz bem, e não mal todos os dias da sua vida (Provérbios, 31, 102)
Busca lã e linho, e trabalha com a indústria das suas mãos (Provérbios, 31, 13)
Ainda de noite se levanta e dá mantimento a sua casa e tarefas às suas servas
(Provérbios, 31, 15)
Prova se é boa a sua compra, e a lâmpada não se apaga à noite (Provérbios, 31, 18)
Estende a sua mão ao fuso e as palmas das suas mãos pegam na roca (Provérbios, 31,
19)
Abre a sua mão ao aflito e ao necessitado estende a sua mão (Provérbios, 31, 20)
Faz para si tapeçaria de linho fino e púrpura é o seu vestido (Provérbios, 31, 22)
(HA-LAPID, N.º 86, pp. 5-6)
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Figura 22 - À esquerda, o Ehal (Arca) da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim. À direita, o Balcão das mulheres onde é possível ver as inscrições hebraicas nos frisos do varandim
O mobiliário da sala é todo ele em madeira: assentos ao longo dos dois lados da
sala, armários e o bimah (plataforma elevada de madeira de onde é lida a Torah).
Também existe nesta sala a habitual Ner Tamid de metal, a Luz Eterna que
existe em todas as sinagogas junto aos Rolos da Torah.
Já o bloco ocidental (o da frente do templo) possui, além da cave e do rés-do-
chão (que fica num nível superior à rua, devido à escadaria exterior já descrita), mais
dois andares.
Na cave encontra-se, descendo um dos dois lances de escadas de acesso, um
pequeno átrio, uma cozinha, algumas divisões que servem de habitação ao Shamash e
sua família e ainda a Mikveh (balneário ritual de purificação que utiliza águas pluviais).
No rés-do-chão (onde se encontram as entradas para o edifício – a principal e as
laterais), ao entrar pela porta principal depara-se com o átrio de entrada, ladeado por
duas compridas salas (a Sala Barros Basto – da Direção; e a Sala Amílcar Paulo), cada
uma com um pequeno anexo para arrumos. Subindo duas escadas, e ultrapassando um
dos três arcos de acesso, chega-se a um átrio secundário que dá acesso aos dois lances
de escadas que permitem chegar à cave a ao 1º andar. À frente deste átrio encontram-se
as duas portas que dão acesso à sala dos ofícios, portanto, ao bloco ocidental.
Subindo as escadas, no 1º andar, além do átrio do piso (onde ocorrem os cursos,
a visualização de filmes, entre outras atividades) que dá acesso através de 3 portas à
zona do balcão – para as mulheres – da sala dos serviços religiosos (no bloco oriental),
encontram-se ainda as três salas onde se encontra o museu/biblioteca-arquivo que mais
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à frente será descrito com maior pormenor. Além destas divisões, ainda existe um
quarto de banho (misto, para os dois sexos) com duas cabines com retrete e um pequeno
lavatório exterior. Subindo o último lance de escadas encontra-se um pequeno átrio que
leva para uma série de divisões: um quarto com escritório em frente (de quem sobe as
escadas) e um corredor do lado esquerdo. Esse corredor dá acesso, do seu lado direito, a
duas portas que levam à sala de refeições comunitárias e a uma outra que leva ao terraço
externo, e do seu lado esquerdo dois quartos e a cozinha (com dois lavatórios,
frigorífico, armários, uma mesa, balcões de cozinha, e um grande fogão com forno). Ao
fundo encontra-se um quarto de banho equipado com banheira, lavatório e retrete. É
neste andar que o Rabino fica, aquando da sua presença na Sinagoga.
Para o acesso aos vários pisos existem dois lances de escadas no bloco ocidental
em cada um dos lados do edifício, desde a cave até o 1º andar. Aí, só o lado Norte
possui escadas de acesso. O corrimão é de ferro, pintado a prateado, possuindo Estrelas
de David e padrões geométricos ao longo do mesmo.
À exceção da cave, do piso térreo do bloco ocidental e dos acessos (escadas) que
são de cimento, todos os outros pavimentos são de madeira. E as várias e altas janelas
presentes ao longo de todo o edifício são de madeira pintada a prateado, formando
padrões geométricos triangulares.
Ao longo de grande parte do edifício são visíveis azulejos de faiança fina com
motivos de estilo árabe e português antigo. Apesar de alguns destes azulejos
encontrarem paralelos em Toledo (na Estação Ferroviária), a partir de documentação
presente no Arquivo da Comunidade Israelita do Porto foi possível, visualizando um
catálogo, localizar a Fábrica onde foram adquiridos os azulejos – Fábrica de Loiça de
Sacavém, cita na Rua dos Carmelitas, nº 40 (Porto).
Além dos serviços religiosos, várias outras atividades têm lugar no interior do
edifício, nomeadamente: reuniões administrativas da CIP, conferências, apresentações
de publicações, concertos musicais, cursos e, claro, visitas guiadas à Sinagoga e ao
museu/biblioteca. Com a devida autorização da Direção da Comunidade, também é
possível aceder ao arquivo situado na biblioteca (sobretudo para estudantes
universitários e investigadores da área).
Em relação ao estado de conservação dos espaços, de uma maneira geral todo o
edifício (e terreno circundante) está bem conservado, exceção feita a algumas
infiltrações bem visíveis quer no interior, quer no exterior do edifício.
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A nível do exterior, o jardim está bem tratado, os pavimentos e os muros sem
grandes problemas. Já nas grades e, sobretudo, no portão de entrada, verificam-se
grandes destacamentos da tinta. No exterior do edifício verifica-se um escurecimento da
tinta branca que cobre todas as paredes. Também são visíveis, em várias partes da
fachada, dejetos de pombas e gaivotas que, frequentemente, pousam nas palmeiras, no
telhado e em saliências da fachada.
Todas as madeiras do imóvel (portas, mobiliário, pavimentos) têm marcas de
galerias provocadas por pragas de caruncho. Em algumas das janelas e portas de acesso
às varandas (de madeira) é visível o destacamento de tintas e a dilatação das madeiras
(devido à humidade) o que leva a uma maior entrada de humidade, insectos e frio/calor.
Infiltrações e humidade provocaram também o enegrecimento e o destacamento da tinta
de algumas paredes e tectos (brancos) sobretudo no 2º e no 1º andar. Estes são, em
linhas gerais os grandes problemas do edifício.
Para uma melhor concretização e realização deste projeto seria necessário
providenciar algumas obras ao imóvel, algo que se encontra na eminência de acontecer.
Assim, é nesta eclética Sinagoga, que é considerada a maior da Península
Ibérica, que se encontra a exposição visitável que se pretende reestruturar, sendo de
máximo interesse aproveitar o privilégio que é estar neste edifício único em Portugal e
que poderia perfeitamente – como aconteceu com a Sinagoga Sharé Tikva (Lisboa) –
ser classificado como Imóvel de Interesse Público.
É preciso não esquecer ainda que é precisamente a Sinagoga o principal “objeto
museológico” da CIP.
3) Análise dos espaços a equacionar em termos museográficos
Será de seguida feita uma descrição da atual exposição visitável patente na CIP e
das três salas que irão compor a zona expositiva da futura exposição do MJBB.
Para aceder ao Museu/Biblioteca/Arquivo – espaço público de acesso controlado
– é necessário entrar do rés-do-chão e passar pelo átrio de entrada e pelo átrio principal,
subir as escadas e passar pelo átrio do 1º andar. Aí, uma porta dará acesso à primeira de
três salas que constituem o museu/biblioteca.
Esta primeira sala quadrangular (biblioteca), a maior das três (6,42 metros de
lado, ou seja, 41,22m2), dispõe de uma pequena varanda virada para a Rua Guerra
Junqueiro (para a entrada) à qual se tem acesso através das seis portas que fazem a
ligação entre o interior e o exterior. A toda a volta da sala encontram-se estantes de
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madeira quase até ao tecto (com as portas superiores com vidros e as inferiores
totalmente em madeira) adoçadas à parede. Aí estão guardados diversos livros sobre
vários temas (sobretudo temas relacionados com o judaísmo – religiosos ou históricos),
assim como várias outras publicações (sobretudo o jornal Há-Lapid) e parte do arquivo
da CIP desde a sua fundação, assim como todo o acervo documental da extinta
Comunidade Israelita de Bragança. Além destas estantes a sala ainda possui duas
secretárias (com cadeira), um cofre e duas poltronas. Enquanto uma secretária apresenta
três publicações oferecidas à CIP além de uma máquina de escrever (do Capitão Barros
Basto), a outra apresenta artigos de jornais relacionados com o processo de reabilitação
e de reintegração no Exército do Capitão, finalizado em 201221
.
21
Ver: “Relatório Final da Petição n.º 63/XII/1ª – Reintegração no Exército do Capitão de
Infantaria Arthur Carlos de Barros Basto, que foi alvo de segregação político-religiosa no ano de 1937” e
Melo, 2012.
Figura 23 - Vista dos quatro cantos da Biblioteca (Sala Central) da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim
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Na sala da esquerda (com 3,40m por 5,4m, ou seja, com cerca de 18,36m2) de
quem entra, (lado sul), encontram-se quatro pequenas carteiras escolares do início do
Século em madeira (com tampo móvel e bancos adoçados), assim como uma secretária
(para o professor), três mapas (do mundo e de Portugal, com as antigas Colónias), um
quadro de ardósia e mais duas secretárias (uma com um computador pessoal e scanner e
outra com publicações.
Figura 24 - Vista da antiga sala de aula da Yeshivah (Sala Sul) da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim
Já na sala da direita (norte) todo o espaço (com 3,40m por 7,65m, totalizando
26m2) é dedicado à exposição de algumas obras de teor religioso de Barros Basto (que
se encontram no tampo de uma pequena mesa de madeira), de documentos relacionados
com os refugiados da 2ª Guerra Mundial, do Instituto Teológico Israelita e do
Portuguese Marranos Committee (dispostos em cima de uma grande mesa rectangular e
tapados por três vitrinas de acrílico de 83 cm por 73 cm cada), de artigos publicados
pelo capitão e por máquinas de impressão de jornais (no topo de uma pequena mesa), e
de documentos relativos à Comunidade Israelita do Porto e Bragança, assim como
alguns boletins Ha-Lapid (no topo de uma secretária/escritório com tampos inclinados
móveis e tapados por vitrinas de acrílico de 60 cm por 63 cm). Alguns documentos
(pregados à parede) e uma cadeira de circuncisão encontram-se também neste
compartimento.
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Figura 25 - Vista da Sala Norte, onde é possível observar algumas das vitrinas de acrílico (Sinagoga Kadoorie Mekor Haim)
É de referir que todo o mobiliário das três salas (secretárias, mesas, armários e
cadeiras) é de madeira e data do início do Século XX (e dos fins do Século XIX).
A exposição visitável patente na CIP desde Dezembro de 2007, e que acabou de
ser descrita, não apresentava a mínima estrutura lógica de conteúdos, limitando-se
apenas a apresentar alguns objetos absolutamente descontextualizados, levando o
visitante a pensar que não houve um tratamento racional dos temas expostos, uma vez
que muitos destes não se articulam entre si.
O grande motivo para a referida inexistência de uma estrutura coesa
museológica, e até mesmo museográfica, prende-se com o facto de, até ao momento do
início do presente projeto, não existir uma Missão e Objectivos que conduzam o Museu
no sentido mais concreto e preciso, de forma a apresentar propostas coerentes e
perfeitamente transmissíveis a um alargado público visitante.
Resta referir que a apresentação apenas de alguns objetos e documentos – sem
informação a si associada – é tanto mais gravosa quando se verifica hoje uma clara
tendência para se deslocar a atenção das coleções para a comunicação. Mas neste caso
em particular, seria interessante encontrar um ponto de equilíbrio entre as duas, não
caindo em carências nem em excessos quer de objetos, quer de informação, como mais
à frente será abordado.
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4) Levantamento de Existências e caraterização do acervo disponível para o
desenvolvimento do Projeto
Por levantamento de existências entende-se a constatação dos objetos presentes
na CIP que possam ser incorporados na futura exposição visitável, ou seja, do acervo.
Por acervo (ou espólio) entende-se todo o conjunto de bens culturais móveis que
constituem o património cultural e documental da CIP.
Além de alfaias religiosas já não usadas e de alguns objetos relacionados com o
Capitão Barros Basto, foi revisto todo o arquivo da CIP, sobretudo aquele que se
relaciona com os refugiados, o Há-Lapíd, o Instituto Teológico Israelita do Porto, a
construção da Sinagoga e a Obra de Resgate.
Desta forma, poder-se-á dividir o acervo em duas grandes categorias: o acervo
documental (que é composto por documentos de vária ordem, livros, jornais e
fotografias) e os objetos museológicos.
Este último divide-se em três grandes grupos: as alfaias religiosas/Judaica
(composto por objetos de vários materiais – madeira, couro, corno de carneiro, tecido de
algodão, veludo, metal (ferro), etc.) e que são muito escassos; os objetos militares
(objetos de vários materiais, nomeadamente tecido, madeira, metal, vidro, papel, etc.); e
outros (mapas de tecido; o mobiliário de madeira das 3 salas de exposição – cadeiras,
mesas, carteiras e secretárias; um quadro de ardósia, e duas máquinas de tipografia).
O MJBB não segue o esquema de classificação das coleções museológicas
elaborado pelo Instituto Português de Museus, uma vez que este não prevê nesse
esquema algumas das particularidades dos objetos que o Museu possui, além de que o
reduzido acervo do Museu não o justifica.
C) Definição do carácter social e cultural da Instituição
Esta atividade, com a duração de um mês teve como finalidade a construção de
algumas ferramentas prévias imprescindíveis para a concepção de uma exposição.
Desta forma, estruturaram-se algumas tarefas que visaram, precisamente, aplacar
as carências que existiam na CIP a nível da sua posição perante a questão cultural,
didática e educativa.
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1) Os públicos: suas necessidades e expetativas
Apesar de só há muito pouco tempo haver registo de visitantes, foi possível
esboçar, ainda que genericamente, o número e de onde vêm. Desta forma, com
conversações com o anterior guia da Sinagoga – o Senhor Jorge Neves (antigo Vice-
Presidente da CIP) – foi possível chegar a algumas conclusões importantes.
Assim, entre Setembro e Junho, os grupos que mais visitaram a Sinagoga foram,
naturalmente, as escolas básicas. Estas visitas, maioritariamente organizadas no âmbito
da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), pretendiam, além de
mostrar uma realidade religiosa desconhecida por muitos dos alunos (aliás, a quase
totalidade), pretendia-se também incutir valores como a compreensão religiosa e a
tolerância ao diferente. Nos restantes meses são os grupos turísticos, aqueles que mais
visitam a Sinagoga. Com a análise dos dados fornecidos pelo anterior guia e com o
registo de visitantes (iniciado em Junho de 2012) foi possível chegar ao número médio
de 100 visitantes por mês.
Não se pretende, com a exposição desenvolvida, marginalizar nenhum grupo.
Obviamente, tendo por base os dados (muito parcos) acerca dos visitantes que no último
ano visitaram a Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, é possível enumerar os grupos de
visitantes que mais interesse têm em visitar a CIP.
Desta forma, os públicos potenciais gerais são os consumidores de turismo
judaico (maioritariamente judeus), como foi referido na primeira parte do presente
trabalho, as escolas do 2º ciclo ao ensino secundário (em disciplinas como História ou
Educação Moral e Religiosa Católica), estudantes universitários da área da história e da
religião (teologia, sociologia, psicologia, etc.) e o público sénior (muitas vezes inserido
em Universidades Sénior). Com uma divulgação adequada também será possível
despertar o interesse de pessoas que visitem os equipamentos culturais em torno da
Sinagoga, nomeadamente o Jardim Botânico do Porto/ Casa Andersen e a Casa da
Música.
A propósito do público escolar, esta tarefa também pretendeu definir claramente
em que disciplinas, e que pontos programáticos dessas disciplinas, é que surge a
possibilidade de introduzir temas relacionados com o Judaísmo.
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Procedeu-se, portanto, a uma avaliação do Programa de História do 3º Ciclo
(DGEBS, 1991) e ao Programa de História A – 10º, 11º e 12º Anos – Curso Científico-
Humanístico de Ciências Sociais e Humanas (Ministério da Educação – Departamento
do Ensino Secundário, 2002).
Desta forma, tentando-se ir ao encontro das necessidades e expetativas dos
alunos e das escolas, foram detectados pontos relacionados com o Judaísmo nos
programas de História do 7º e 8º Ano (Ensino Básico – 3º Ciclo) e nos de História A do
12º (Ensino Secundário).
Assim, os alunos do 7º Ano escolaridade poderão aprofundar o ponto 1.3
(„Contributos das Primeiras Civilizações‟) dos conteúdos programáticos do 3º Ciclo,
tocando conceitos/noções básicas como, por exemplo, o „Monoteísmo‟, „Poder
Sacralizado‟ e „Fonte Escrita‟, articulados com as crenças e tradições da própria
comunidade judaica.
Já os alunos do 8º Ano de escolaridade poderão aprofundar o ponto 5.2 („Os
Novos Valores Europeus‟) onde se inserem conceitos como „Inquisição‟ e „Cristão-
Novo‟.
Os alunos do 9º Ano de escolaridade terão a oportunidade de desenvolver os
pontos 10.2 („Entre a Ditadura e a Democracia‟) e 10.3 („A 2ª Guerra Mundial‟)
abordando-se, à semelhança do 12º Ano, conceitos como o „Nazismo‟, „Anti-
semitismo‟, „Fascismo‟ e „Genocídio‟, articulados com a posição da CIP durante a
Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo.
E com os alunos do 12º Ano de escolaridade, também poder-se-á abordar temas
relacionados com o ponto 2 („O agudizar das tensões políticas e sociais a partir dos anos
30‟) do Módulo VII („Crises, Embates Ideológicos e Mutações Culturais na Primeira
Metade do Século XX‟) do Programa definido pelo Ministério da Educação e Ciência,
desenvolvendo conceitos como „Totalitarismo‟, „Nazismo‟, „Anti-Semitismo‟,
„Genocídio‟ e „Holocausto‟, e que se articularão com o apoio que a CIP deu a centenas
de refugiados durante a Segunda Guerra Mundial, assim como o ataque de que o
fundador da Comunidade – Barros Basto – foi alvo durante o Estado Novo, por ser
judeu. Também poder-se-á desenvolver o ponto 1.3 („Permanência de Focos de Tensão
em Regiões Periféricos‟) do Módulo 9 („Alterações Geoestratégicas, Tensões Políticas e
Transformações Socioculturais no Mundo Atual‟) onde a questão do „Sionismo‟ e dos
conflitos israelo-árabes poderão ser abordados.
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Ainda no âmbito de disciplinas como Formação Cívica e Educação Moral e
Religiosa Católica (EMRC), poderão ser, também, realizadas visitas de estudo à
Sinagoga pois, dessa forma, é facilitado o diálogo inter-religioso e cultural, cultivando-
se o respeito pelo outro, inclusivamente por um grupo social minoritário, como são os
judeus.
Esta pequena proposta pretende apenas auxiliar os docentes, propondo-lhes uma
atividade diferente no âmbito dos programas que têm de lecionar. Com este desafio, os
conhecimentos adquiridos no âmbito das aulas poderão ser cortejados com esta
experiência “diferente” e complementar.
Existe um outro objectivo para este museu, diretamente relacionado com os
visitantes. De facto, todos os anos a CIP recebe visitantes não-judeus que, muitas vezes
após algumas reticências em se deslocar à Sinagoga do Porto, acabam por visita-la,
dizendo querer conhecer um pouco mais duma tradição, história, religião e cultura que
consideram sua. Muitos destes marranos procuram informação e chegam mesmo a
questionar o ingresso no Judaísmo, normalmente por causa de algum antepassado que
lhe transmitiu este “segredo”. Assim, o MJBB poderá, de forma articulada com
elementos da CIP, guiar e informar muitas dessas pessoas que se dirigem a si.
É também importante referir que os próprios manuais escolares e as Histórias
Gerais de Portugal abrem caminho para a concretização de uma exposição na CIP, na
medida em que apenas factos residuais acerca das comunidades judaicas em Portugal lá
aparecem.
De facto, Jorge Martins (2010a: 66-111), apresenta um estudo onde, após
analisar algumas das mais importantes Histórias de Portugal e alguns dos manuais
escolares de História de maior circulação, chega à seguinte conclusão:
A história dos judeus portugueses não tem merecido a devida atenção, quer das
sucessivas Histórias de Portugal, que, desde as “liberais” às “democráticas”, passando
pelas “republicanas” e pelas “salazaristas”, não reconheceram a real dimensão das
comunidades judaicas em Portugal desde os primórdios da nacionalidade; quer dos
manuais escolares, sucedâneos da historiografia oficial dos vários períodos, que
reproduzem a invisibilidade a que se condenou as vítimas da Inquisição. O próprio
tribunal do Santo Ofício foi obliterado dos programas escolares, porventura considerado
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violento de mais para as pobres mentes das criancinhas, como se a história devesse ser
tratada como um conto de fadas.
(Martins, 2010a: 102)
O autor ainda referiu o “legado semântico discriminatório que não foi ainda
totalmente banido, nem da língua corrente, nem dos dicionários”, sendo “isto que os
nossos estudantes do ensino básico e secundário podem aprender nos dicionários que
têm à sua disposição nas estantes das suas bibliotecas escolares” (Martins, 2010a:101).
Em suma, todos estes factores são demonstrativos da necessidade de reforçar a
oferta cultural e educativa em torno dos temas relacionados com o Judaísmo.
2) Definição de Missão e Objectivos da Instituição
Realizadas conversações com a Direção da CIP, foi possível traçar, em conjunto,
alguns pontos relacionados com os objectivos culturais e educativos da instituição. No
fundo procurou-se materializar a vontade da direção no que toca a este tema. Assim,
foram criadas e sugeridas propostas no âmbito deste projeto que, no futuro, se pretende
que sejam aceites pela Direção.
Fazendo uso da proposta de Atul Shah já referida na primeira parte deste
trabalho, na construção deste projeto apostou-se em diálogos frequentes com elementos
da Comunidade Israelita do Porto, assim como o seu Rabino – Rev. Rabino Daniel
Litvak. Desta forma, eliminam-se as “desvantagens” de um museólogo que não professa
a religião que pretende expor e interpretar, referidas pelo autor. Todo este processo é
facilitado com o facto de a exposição se encontrar sob a tutela de uma instituição ligada
à religião.
Mas também há desvantagens neste facto. A influência da direção da CIP e dos
seus membros em algumas matérias poderá influenciar algumas decisões, obrigando o
projeto a tomar outro rumo.
Apesar de, ao longo da construção deste trabalho não ter havido qualquer tipo de
problema nesta matéria, não quer dizer que no futuro, por razões que poderão surgir ou
mesmo como consequência da mudança de direção e de membros da Comunidade, não
possam haver interferências na conduta do museu, no que é exposto, na relação que se
tem com os visitantes, etc.
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71
Com as conversações com o Rabino da Comunidade, descartou-se a
possibilidade de colocação de um busto de Barros Basto no museu, pois este tipo de
homenagens deve ser evitado, afastando qualquer possibilidade de idolatria ou
representação tridimensional. Também se afastou a possibilidade de gravar alguns
ofícios religiosos, devido à proibição de uso de tecnologia no Shabat ou nas
solenidades22
.
Já a venda de artigos numa loja em dias que não sejam Shabat ou alguma
festividade religiosa é permitida, assim como, a possibilidade de construção de um
museu na Sinagoga, ou antes, em espaços que não sejam dedicados ao culto religioso,
não havendo qualquer inconveniente em expor alfaias religiosas judaicas no museu,
mesmo uma Sepher Torah.
Estes, aparentemente, pormenores, são bastante importantes no contexto de uma
instituição essencialmente religiosa, permitindo uma certa segurança na realização da
exposição.
Assim, a missão e objectivos da CIP caraterizam-se pela existência de três eixos
principais, a saber: o Judaísmo como religião, a história do Judaísmo, e a importância
histórica da Comunidade Israelita do Porto, da Obra do Resgate e do Capitão Arthur
Carlos de Barros Basto.
À Direção interessou, sobretudo, o último ponto, na medida em que pretende
divulgar temas diretamente relacionados com própria instituição, o seu fundador e a sua
Obra, sobretudo porque é depositária de um património, muitas vezes inexistente
noutros sítios, relacionado precisamente com esses temas.
Ainda assim, e tendo por base a tarefa anterior, definiu-se a Missão e Objectivos
do futuro museu/exposição, aliando-se quer o desejo da Direção, quer as necessidades e
expectativas dos alunos e escolas.
Desta forma a Missão da faceta cultural e educativa da CIP – o MJBB – é a que
se transcreverá:
O Museu Judaico Barros Basto tem como Missão a aquisição,
documentação, investigação, conservação e divulgação do património cultural
relacionado com o Judaísmo histórico, religioso, social e cultural e com a vida
22
Curiosamente ambas surgem no CHJF.
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72
e obra do Capitão Arthur Carlos de Barros Basto, promovendo, assim, o
conhecimento e fruição dos objetos, documentos e publicações de que é
depositário, tendo um papel social ativo no que diz respeito à educação cívica e
social.
Já os objectivos do MJBB são os seguintes:
a) Adquirir, documentar, investigar e conservar o acervo relativo ao Capitão Arthur
Carlos de Barros Basto e à sua Obra de Resgate;
b) Divulgar a vida e obra do Capitão Arthur Carlos de Barros Basto através de, pelo
menos, uma exposição permanente;
c) Adquirir, documentar, investigar, divulgar e conservar objetos, documentos e
publicações relacionados com a herança cultural judaica (sua história e
tradições);
d) Disponibilizar, aos interessados, toda a informação que a Comunidade Israelita do
Porto tenha em sua posse acerca de temas relacionados com o Judaísmo, a
Comunidade Israelita do Porto, o Capitão Arthur Carlos de Barros Basto e a Obra
de Resgate;
e) Promover, periodicamente, exposições temporárias sobre temas relacionados com o
Judaísmo;
f) Promover atividades didáticas e culturais, fomentando o conhecimento acerca do
Judaísmo e promovendo a inclusão social, o respeito por todos e a desmistificação
de ideias e preconceitos errados acerca dos judeus;
g) Dar a conhecer o edifício da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim – Sede da
Comunidade Israelita do Porto – e a sua importância histórica, arquitetónica e
simbólica.
Esta missão e estes objectivos são a base através da qual se poderá alicerçar o
desenvolvimento deste trabalho e a concepção de uma exposição permanente visitável
para o MJBB.
3) A construção do Regulamento do MJBB
Segundo o Código Deontológico para os Museus, do ICOM (2006), no seu
ponto 2.2, “todo o museu deve ter um regulamento escrito ou outro documento que
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defina claramente o seu estatuto jurídico, a sua missão, a sua natureza permanente de
organismo com fins não lucrativos, de acordo com as leis nacionais correspondentes. A
entidade responsável de um museu deve preparar e difundir uma declaração clara nas
suas metas, objectivos e política do museu, bem como o papel e composição da entidade
responsável”.
Assim, o objectivo desta terceira tarefa da terceira atividade, foi criar um
regulamento interno para o MJBB [Ver Apêndice 1], suportado pela Lei Quadro dos
Museus Portugueses, pelo Código Deontológico para os Museus (ICOM, 2006), pelas
Bases Orientadoras para a Elaboração do Regulamento Interno dos Museus Portugueses
(IPM, s/d.), pelo Regulamento da CIP e relacionada com as especificidades da CIP e
vontade da sua Direção (em reuniões realizadas com o Senhor Jorge Neves (ex Vice-
Presidente) e com a Senhora Doutora Isabel Ferreira Lopes (atual Vice-Presidente)).
Desta forma, para a elaboração da proposta de Regulamento consideraram-se os
seguintes pontos:
- Identificação e enquadramento orgânico do MJBB e da CIP
- Localização
- Missão
- Objectivos
- Logótipo (provisório)
- Horário de funcionamento
- Contactos
- Regime de entradas
- Direitos e deveres dos utilizadores
- Visitas
- Política de incorporação
- Política de documentação
- Acesso ao Arquivo e Biblioteca
Estes pontos foram divididos por seis capítulos, havendo, ainda, um preâmbulo
proposto no âmbito deste projeto, que pretende introduzir o restante documento.
Estes pontos pretendem, também, incluir-se nas matérias que deverão constar de
um regulamento, descritas no Artigo 53.º da Lei Quadros dos Museus Portugueses.
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Assim, apresenta-se de seguida uma tabela onde consta a relação entre as
matérias da Lei Quadro e os artigos do regulamento criado:
Relativamente à alínea “e) Gestão de recursos humanos e financeiros”, como foi
possível observar, o Regulamento aqui criado não contempla nenhum artigo. Isto deve-
se ao facto de tais funções serem da competência direta da Direção da CIP, não se
acrescentando nada a esse propósito.
Apesar desta ausência, o Regulamento obedece, de uma maneira geral, às
disposições da Lei nacional e das sugestões internacionais, apesar de o MJBB não ser
um museu, mas sim uma coleção/exposição visitável.
É preciso referir também que o Regulamento dispõe de dois anexos – uma ficha
de inventário predefinida para a inventariação das coleções da CIP e as respectivas
instruções. Estes dois documentos foram realizados tendo em consideração as Normas
Gerais de Inventário de Artes Plásticas e Artes Decorativas do IPM (2000).
Obviamente, devido à heterogeneidade dos objetos da CIP, foi necessário fazer
adaptações que possam abranger um maior número de tipos de objetos.
D) Definição de temas a constar na exposição
Com base na definição do carácter social e cultural da CIP, definidas na
atividade anterior, nomeadamente com a avaliação de públicos e, posteriormente, com a
Artigo 53.º da Lei Quadro dos Museus Portugueses Artigos do Regulamento Interno do MJBB
a) Vocação do museu 3.º
b) Enquadramento orgânico 1.º
c) Funções museológicas 4.º
d) Horário e regime de acesso público 6.º a 10.º
e) Gestão de recursos humanos e financeiros ---
Tabela 3 – Relação entre a Lei-Quadro e o Regulamento do MJBB
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regulamentação da Missão e Objectivos da instituição, foi possível definir com exatidão
os temas que deverão constar no MJBB.
É preciso, também, antes de mais, referir que esta decisão também esteve assente
nas conclusões tiradas das visitas que se efetuaram a alguns museus e locais visitáveis
relacionados com o Judaísmo, a saber:
- Museu Judaico de Belomonte
- Museo Sefardí de Toledo
- Sinagoga Sharé Tikvá (Comunidade Israelita de Lisboa)
- Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto (Sinagoga de Tomar)
- Centro Histórico Judaico de Faro (Cemitério Judaico de Faro)
Assim, com as visitas efectuadas pretendeu-se caracterizar as museografias
concretizadas nesses espaços (ver Parte I deste trabalho) e verificar quais os temas lá
abordados, de forma a não saturar, no MJBB, determinadas temáticas.
Devido ao facto de o MJBB dispor de apenas 3 pequenas salas onde poderão ser
colocados os objetos e os seus contextos informativos, não se vai poder desenvolver
muito as temáticas. Desta forma, textos mais pequenos e diretos serão suficientes para
informar os visitantes dos conteúdos que se pretende apresentar, não sendo maçador de
mais a visita ao museu (é preciso não esquecer que a maioria dos visitantes são crianças
em idade escolar, e, portanto, mais irrequietas e desinteressadas, sendo necessário
cativar a sua atenção) e inculcando o interesse nos temas (para que depois os possam
aprofundar).
Resta, portanto, referir os temas a abordar na exposição visitável do MJBB:
Temas gerais Público-alvo
privilegiado Justificação
Presença noutros
museus
Judaísmo (etapas da
vida de um judeu;
festividades; símbolos;
rituais; textos)
Público em idade
escolar (dos 6-18)
Público sénior (a partir
dos 55)
Apesar de quase todos os museus
abordarem este tema, a verdade é
que ele é imprescindível se se
pretende trazer um público
escolar pois é precisamente este
grupo que mais interesse tem em
conhecer as tradições e
Museu Judaico de Belomonte
Centro Histórico Judaico de
Faro
Museo Sefardí de Toledo
Museu Luso-Hebraico Abraão
Zacuto
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especificidades da religião judaica
História dos Judeus
(desde o período bíblico
até hoje)
Público em idade
escolar (dos 6-18)
Público sénior (a partir
dos 55)
Apesar de alguns museus
abordarem a história judaica, são
poucos os que exploram toda a
sua extensão
Museu Judaico de Belomonte
Museo Sefardí de Toledo
Judeus no Porto
Turistas
Público sénior (a partir
dos 55)
Este é um tema inédito nos
museus judaicos do país, havendo
pouca informação sobre o tema
---
Holocausto (definição
geral e refugiados em
Portugal)
Público em idade
escolar (dos 6-18)
Público sénior (a partir
dos 55)
Turistas
Tema difícil de encontrar em
museus judaicos em Portugal.
Mesmo na Europa é comum
existirem museus específicos para
este tema
---
Comunidade Israelita
do Porto (Sinagoga;
Obra do Resgate;
Marranismo; Instituto
Teológico Israelita)
Turistas
Público sénior
Tema por excelência da CIP,
devido ao facto de ser depositária
da maioria da documentação a si
relacionada
Museu Judaico de Belomonte
(de forma parcial)
Arthur Carlos de
Barros Basto (vida e
obra)
Turistas
Público sénior
Tema por excelência da CIP,
devido ao facto de ser depositária
da maioria da documentação a si
relacionada
Museu Judaico de Belomonte
(de forma parcial)
Tabela 4 - Temas a abordar no MJBB
É importante referir que apesar de alguns temas estarem presentes nos museus
indicados, a realidade é que poucos abordam as temáticas de forma tão completa como
o MJBB pretende abordar. Isso verifica-se nomeadamente a propósito da Obra de
Resgate e de Barros Basto que apesar de estar, hoje, presente no Museu Judaico de
Belmonte, só há pouco tempo viu um dos corredores ser ocupados com informação
relativa a esses temas. Apesar de se tentar transmitir uma informação básica aos
visitantes, a verdade é que muitos destes temas deveriam ser tratados de forma
exaustiva. No entanto, o reduzido espaço não permite que haja uma explanação
demasiadamente grande.
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Também urge deixar claro que os públicos-alvo mencionados na tabela anterior
são apenas aqueles que mais facilmente se identificarão com os temas a que se referem,
podendo, contudo, haver outros grupos de visitantes com interesse nesses conteúdos.
Assim, essa coluna deve ser entendida como uma mera proposta indicativa.
E) Construção de textos
Como foi referido na atividade anterior, os textos não deverão ser maçadores,
devendo pautar-se por uma linguagem fácil e acessível a todos (mais uma vez relembra-
se que a maioria dos visitantes são crianças), breve, concisa e direta.
É precisamente a produção dos textos [Ver Apêndice 2] um dos principais
objectivos do presente projeto, uma vez que estes são entendidos, aqui, como a principal
componente de contextualização de objetos e principal método de transmissão de
conteúdos e informação (e, provavelmente, o mais completo), sendo também um
método privilegiado de uma boa parte dos museus.
Desta forma, e com base nos resultados que foram sendo alcançados na atividade
F, os textos (conteúdos) foram sendo produzidos, tendo sido, posteriormente, reduzidos
de forma a serem incorporados nos placares expositivos finais.
Estes textos tiveram como base, como mais à frente se verá, a revisão e análise
crítica de extensa bibliografia atualizada sobre as diversas temáticas tendo sido, também
sustentada pelas fontes documentais disponíveis no Arquivo da CIP.
É importante referir que durante os textos não se escreverá a palavra “Deus”,
sendo esta substituída por “D‟us”, cumprindo, desta forma, um preceito religioso
judaico de não inscrever o nome divino em algo perecível.
Em relação a alguns os textos relacionados com a vida judaica, optou-se por
fazer uma pequena introdução acerca da etapa (cerca de um parágrafo), seguida dos
rituais marcantes do percurso de vida judaico, relacionados com as celebrações,
tradições e objetos a si relacionados.
Também não se desenvolveu mais a ação dos diplomatas portugueses nesta
secção por motivos espaciais, por ser ter procurado criar um texto mais abrangente e
porque outras instituições desenvolvem essas temáticas, nomeadamente o CHJF (com a
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homenagem que faz nos seus jardins) e o site/exposição virtual sobre Aristides de Sousa
Mendes23
.
Esta atividade relaciona-se diretamente com as atividades F e G, devendo ser
finalizada nunca antes da atividade F, embora possa iniciar-se mais cedo que esta.
F) Recolha e análise de informação
Entendida no conjunto das atividades E e G, com as quais deverá ser articulada,
a recolha e análise de informação acerca da musealização da fé (Parte I deste trabalho) e
dos temas a constar no MJBB caracteriza-se por ter sido um processo bastante
heterogéneo. De facto, a recolha de informação tomou a forma de investigação
bibliográfica (iniciada com as obras gerais até finalizar nas obras mais específicas);
investigação documental (recorrendo, essencialmente, ao Arquivo da CIP) e, como já
foi referido, à visita de alguns museus e contactos com os seus funcionários acerca de
algumas questões relacionadas com os mesmos (efetuados na atividade D) de forma a
conseguir alcançar alguns paralelismos com o MJBB.
Para chegar à informação, foram, portanto, realizadas, além dos contactos
diretos nos museus, algumas tarefas que serão expostas de seguida:
1) Realização de contactos
Nesta tarefa foram realizados contactos via e-mail para algumas pessoas ligadas
a universidade e museus que tenham desenvolvido algum trabalho sobre a musealização
da fé, preferencialmente sobre a musealização de património cultural judaico. Da teoria
até à prática, tentou-se obter informações e sugestões que pudessem ajudar a construir
este trabalho.
As respostas que se obterem remetiam, essencialmente, para algumas obras de
referência que, de outra forma, nunca teriam sido consultadas se não se tivesse optado
por esta tarefa.
Assim, das cerca de vinte instituições e pessoas contactadas, apenas as seguintes
replicaram:
23
Exposição disponível em: http://mvasm.sapo.pt/ [visualizado a 30 de Maio de 2012]
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Associação de Museus Judaicos Europeus (Association of European Jewish
Museums), na pessoa da Senhora Doutora Eva Koppen, que reproduziu as minhas
mensagens a alguns dos museus da associação;
Rede de Judiarias de Espanha – Caminhos de Sefarad (Red de Judiarías de
España – Caminos de Sefarad), na pessoa da Senhora Doutora Ariane Roura;
O Senhor Doutor Hanno Loewy, em representação do Museu Judaico de
Hohenems (Jüdisches Museum Hohenems);
O Senhor Professor Doutor Martin Bellamy, dos Museus de Glasgow
(Glasgow Museums);
O Senhor Professor Doutor Crispin Paine, da Faculdade Universitária de
Londres (University College London);
Os Senhores Professores Doutores Eilean Hooper Greenhill, Richard Sandell
e Simon J. Knell e a Senhora Doutora Janet Marstine, da Universidade de Leicester
(Leicester University).
Resta referir ainda que o Orientador deste trabalho – o Senhor Professor Doutor
Armando Coelho Ferreira da Silva – também contribui nesta fase como um dos
coordenadores do Museu Judaico de Belmonte.
2) Investigação bibliográfica e documental
Nesta tarefa pretendeu-se reunir o maior número de publicações de referência
possível sobre as matérias abordadas. Desta forma, foram realizadas pesquisas na
Biblioteca da CIP, na Biblioteca Central da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, na biblioteca particular do autor deste trabalho e na Internet. A partir dos livros
adquiridos foi possível estender o número de publicações a partir das referências
presentes nos mesmos.
A nível documental, todo o Arquivo da CIP foi lido (e organizado, de uma
maneira genérica), tentando-se definir quais os documentos de maior interesse para o
trabalho.
Uma outra fonte importantíssima de informação largamente usada neste trabalho
foi o jornal Ha-Lapid (O Facho) – Orgão da Comunidade Israelita do Porto. A partir
desta publicação (presente no Arquivo da CIP e na Biblioteca Central da Faculdade de
Letras) foi possível relacionar as diversas temáticas da exposição.
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Esta foi uma das mais morosas tarefas do projeto, mas também uma das mais
importantes na medida em que quase todo o projeto está sustentado nos resultados desta
mesma tarefa.
Resta apenas referir que, logicamente, nem todas as fontes e bibliografia
consultadas e analisadas contam deste relatório de projeto, tentando-se colocar apenas
que foram diretamente usadas no mesmo.
G) Seleção de objetos e imagens
Nesta atividade procedeu-se à seleção de objetos do acervo da CIP que possam
cortejar os textos apresentados nos painéis. Logicamente estes objetos terão que se
articular com os textos.
Optou-se por escolher os objetos que se encontravam em melhor estado, sendo
mais apelativos aos visitantes, e na ausência de mais do que um objeto de cada tipo (na
secção do Judaísmo), no único objeto existente.
Devido ao facto de haver objetos que deveriam constar na exposição, mas não
existem na CIP, sugere-se a aquisição dos mesmos por forma a enriquecer
materialmente a exposição.
Optou-se nesta exposição, incluir em cada um dos painéis informativos que
serão feitos (ver atividade seguinte) um exemplar do Há-Lapid referente ao tema que se
está a abordar, sempre que houver material para tal. Assim, os visitantes poderão ter
uma ideia da importância documental que representa este jornal no contexto da CIP e da
Obra do Resgate.
H) Museografia
Por museografia, e à parte da sua definição já aqui descrita, entende-se o
desenho da exposição a constar no MJBB. Desta forma, pretende-se, com esta atividade,
relacionar os espaços disponíveis para a exposição, equacionando as diversas opções
museográficas.
Como já foi referido, existem três espaços para albergar a exposição visitável e
as suas coleções. Cada uma dessas três salas têm uma particularidade própria que se
pretende aproveitar.
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Assim, a sala central, onde se encontra a Biblioteca e o Arquivo deverá manter-
se com essas mesmas funções, o que remeterá para o período de atividade do Instituto
Teológico Israelita (1929-1935, sendo que o mesmo só nos últimos anos foi transferido
para o local), onde a biblioteca era bastante frequentada pelos alunos.
Já a sala sul, do antigo Instituto Teológico do Porto, também deverá manter as
suas quatro carteiras, devendo ser-lhe acrescentadas as restantes duas (guardadas num
outro local), devendo manter-se, também, o quadro de ardósia, os três mapas e a
secretária do docente. Esta posição pretende recriar um pouco o ambiente do Instituto
aquando da sua existência nos anos 1930, um pouco ao jeito de uma “sala-museu”.
Desta forma, os visitantes mais jovens poderão contactar com recriação de uma
realidade escolar típica do início do Século XX e os mais velhos poderão relembrar-se
de mobiliário escolar que muitas vezes fizeram parte da sua infância. De facto, são
alguns os visitantes mais velhos que se deliciam ao visitar esta sala, relembrando os
seus tempos de meninice.
Por fim, a sala norte, será completamente transformada de forma a hospedar os
diversos painéis sobre o Tema do Judaísmo, da História Judaica, dos Judeus na Cidade
do Porto e do Holocausto. Assim, os painéis deverão ser colocados nas paredes livres.
Na concepção deste museu optou-se, a partir dos temas presentes, nomear as
salas da seguinte forma:
- Sala Central (Biblioteca) – Sala Barros Basto
- Sala Sul (antiga sala de aula) – Sala da Obra do Resgate
- Sala Norte – Sala do Judaísmo
Em relação ao percurso expositivo, não se pretendeu definir um aos visitantes
da exposição. Dentro das três salas de exposição, os visitantes deverão ter liberdade de
se deslocar para onde entenderem, excepto nas visitas guiadas que seguirão a linha de
condução criada por cada guia. A este propósito, Hanno Loewy (2012: 44) observa o
seguinte:
[os visitantes] “nem sempre seguem a ordem prescrita pelos curadores,
mas decidem os seus próprios movimentos no espaço expositivo, baseados em
diversos factores que os curadores nunca poderão controlar completamente,
como a atração pela beleza de diferentes objetos e a sua hierarquia subjetiva aos
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olhos dos visitantes, a forma como os visitantes se movem e o potencial de
comunicação deles (se fazem parte de um grupo, duma família, dum casal ou se
estão sós). E o que nós [curadores] aprendemos com eles é que tudo isto é um
processo criativo.”
Portanto, apesar do pequeno espaço, pretende-se que sejam os visitantes a criar
os seus circuitos, tirando o máximo de informações com os seus trajectos no interior do
museu.
Tendo em atenção a situação financeira da CIP e as particularidades do espaços
destinados à exposição, optou-se por idealizar uma exposição que recorra
essencialmente a painéis informativos. Estes painéis serão adossados, não de forma
intrusiva, de forma a preservar o local e a poder-se efetuar alterações aos painéis de
forma fácil, no futuro [Ver Apêndice 4].
Com base nas medidas efetuadas às salas, chegou-se ao desenho dos painéis
[Ver Apêndice 3]. Estes painéis serão, graficamente divididos por três cores.
Os painéis relativos ao Judaísmo religioso e histórico (da Sala do Judaísmo)
serão azuis. A cor azul remete para o logótipo oficial da CIP, além de representar a cor
utilizada geralmente na Talit.
Já os painés relativos a Barros Basto, à Obra do Resgate e à CIP serão
vermelhos. Esta escolha invoca o brasão de armas da Comunidade criado por Barros
Basto e descrito desta forma: “sobre campo de sangue, emerge dumas chamas uma torre
de prata tendo no seu eirado um candeeiro de ouro com 7 lumes” que mais não
representa a “fortaleza de Israel, de onde emane permanentemente a luz espiritual da fé
de Abraham, servindo de farol bendito para aqueles que, reconditamente, pelos vales e
pelos montes do norte de Portugal, ainda elevam em espírito e verdade, os seus louvores
e as suas preces a Adonai” (Há-Lapid, n.º 1).
Por fim, os painéis negros dedicados ao Holocausto, invocarão o luto pela morte
de cerca de 7 milhões de judeus.
A parte inferior destes painéis ficará vazia de forma a poder ser encostado, a
cada um dos painéis, as mesas existentes na Sinagoga. Assim, poder-se-á poupar alguns
recursos financeiros em vitrinas, mostrando, ao mesmo tempo, peças museológicas de
elevado valor artístico, como são algumas das mesas centenárias pertencentes à CIP,
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onde serão colocadas cartolinas acid free nos tampos. Como também foi referido,
algumas dessas mesas já possuem vitrinas (tampos acrílicos), que embora não se
caracterizem por ser a forma mais segura de proteger os objetos, a verdade é que estes
ficam protegidos dos organismos externos e de possíveis roubos (este último cortejado
com a presença constante de funcionários na sala). É necessário, porém, adquirir mais
vitrinas acrílicas de forma a poder-se tapar todas as mesas.
Já em relação às legendas dos objetos, preparou-se a descrição do rótulo que se
segue:
- Nome da peça
- Datação
- Proprietário
É importante referir ainda que cada uma das salas terá “folhas de sala” com a
tradução, em várias línguas (pelo menos em inglês, hebraico, espanhol e francês), dos
textos e legendas aí presentes, de forma a que os estrangeiros possam aceder à
informação disponibilizada.
I) Análise final do projeto e elaboração do relatório
Nesta última atividade foram revistas todas as etapas do projeto de forma a
analisar de forma conclusiva e crítica os resultados alcançados.
Na primeira parte deste trabalho, foi referido o desafio que seria associar o lado
artístico dos objetos religiosos – neste caso Judaica – ao seu lado religioso. Neste
projeto, o facto da maioria dos objetos expostos serem documentos ou publicações, tal
desafio não se aplica, pelo menos tanto quanto nos museus que apresentam
maioritariamente ou exclusivamente Judaica. Ainda assim, é pretendido, aqui, associar
as alfaias religiosas e outros objetos do quotidiano judaico aos ritos da própria religião,
nunca descurando o seu lado artístico. Assim, além da possibilidade dos visitantes
vislumbrarem o valor artístico e estético dos objetos expostos, também poderão
relaciona-los diretamente às práticas judaicas, obtendo informação básica e credível
relativa a cada um deles.
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No terceiro ponto abordado por Reeve (2012) e exposto na primeira parte deste
trabalho, o autor questiona se se deve ou não apresentar ao público o lado menos
negativo das religiões. No que diz respeito ao tema proposto neste trabalho – o
Judaísmo –, esses temas seriam, sem margem para dúvida, as duas destruições de
Jerusalém e do Templo, a diáspora, a escravatura no Egipto, a Inquisição, as leis de
pureza de sangue inicialmente judaicas e posteriormente cristãs-novas (embora não haja
uma relação direta e exata entre este grupo e os judeus em si, sobretudo da parte dos
cristãos-novos que efetivamente se converteram) e a Shoah ou Holocausto. Embora a
maioria dos museus certamente evitasse tocar em muitos destes aspectos da história do
Judaísmo, a função educativa que se pretende que o MJBB possua, impele a que estas
temáticas sejam incluídas a título de prevenção e educação de públicos (sobretudo os
visitantes em idade escolar).
Pretende-se, portanto, com a criação deste Museu celebrar a memória da
Comunidade Israelita do Porto e sua importância social desde a sua fundação em 1923.
Paralelamente pretende-se divulgar a cultura e história judaicas numa cidade que apesar
de muito dever a este grupo social (nomeadamente, antes da expulsão/conversão em
1496-7), pouco ou nada apresenta nos seus museus ou nas suas histórias sobre o tema. A
própria vida e obra do fundador da CIP tem uma enorme importância histórica apesar de
aparecer apenas residualmente na sociedade.
O espaço museológico definido para este museu, não pretende ser apenas um
espaço de reposição de coleções, mas antes um lugar onde os objetos expostos possam
ser contextualizados de forma a que os seus visitantes adquiram determinadas
informações e possam, eventualmente, desenvolver uma consciência crítica acerca dos
temas abordados. Com o crescente anti-semitismo (ou anti-judaísmo) um museu que
disponibilize um conjunto de informações sobre a cultura e religião judaica será uma
mais-valia social, na medida em que, na ausência de debate sobre o tema no percurso
escolar e académico dos estudantes em Portugal, as escolas e mesmo os encarregados de
educação poderão fornecer mais este conhecimento aos jovens.
Assim, esta disponibilização de património cultural, que de outra forma não
poderia ser acessado por outros, contribui largamente para uma educação informal, não
institucionalizada (pelo menos publicamente), promovendo uma construção de
tolerância, cidadania, investigação, crítica construtiva e conhecimento.
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Pretende-se informar e esclarecer os diversos públicos (não se exceptuando
ninguém) acerca dos temas trabalhados pelo MJBB, transmitindo-lhes valores como o
respeito e a inclusão social ao mesmo tempo que se divulga a importância da arte,
tradição, história e cultura judaica. Este objectivo acaba por ser, no fundo, um serviço
público, na medida em que a CIP chama a si uma responsabilidade social (muitas vezes
inexistente em organismos públicos) de educação de públicos. A viabilidade e
sustentabilidade financeira do MJBB também deverá ser assegurada, neste contexto.
A vantagem de criar atividades paralelas à exposição do MJBB, nomeadamente
criação de colóquios e exposições temporárias e a promoção de debates e publicações,
etc., pretende-se com objectivos que passam pela fidelização e cativação de públicos, a
promoção de uma estratégia de marketing e de divulgação a nível local mas também
nacional, estender a difusão dos conhecimentos que a instituição pode oferecer por um
maior número de pessoas aumentando a oferta de serviços oferecidos pela CIP, etc.
Algumas dessas atividades poderão passar pela promoção da discussão e debate
acerca de determinados temas acerca do Judaísmo histórico, cultural ou, até, religioso
de pessoas especializadas na matéria.
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3. Considerações Finais
Um dos grandes objectivos deste trabalho foi, de facto, construir um projeto
museológico tendo em consideração a natureza religiosa, social, comunitária, espacial,
financeira e cultural da instituição. E foi precisamente aqui que residiram os grandes
problemas que pautaram este trabalho: a pouca liquidez financeira, os impedimentos
inerentes a uma comunidade religiosa que se pauta pela ortodoxia, o reduzido número
de associados da Comunidade, o espaço reduzido, etc.
Daí ter-se deixado de lado, desde o início deste projeto, um trabalho que se
apresentasse como utópico ou dificilmente executável. O que aqui se propôs foi um
projeto concreto, pensado, estudado, feito “à medida” para a Comunidade Israelita do
Porto. Um projeto que pudesse ser integrado no edifício-sede da Comunidade – a
Sinagoga – e que se localizasse nas áreas previamente reservadas para o efeito.
Apesar de o projeto não passar, para já, de uma proposta, estando a sua
concretização dependente de uma série de factores totalmente alheios ao seu autor, a
intenção do mesmo é que seja realmente concretizado. Daí se ter posto de lado
elementos, cenários, expositores e materiais que dificultasse a sua concretização,
embora tal fosse mais prestigiante, atual e dinâmico (à cabeça as TIC).
No futuro será necessário desenvolver um estudo aprofundado das coleções
constantes na CIP, assim como estudos alargados de público de forma a traçar, com
ainda mais clareza e exatidão científica, as necessidades e expectativas todos os grupos
de visitantes possíveis.
Ao longo do amadurecimento da instituição dever-se-á repensar as exposições,
assim como as estratégias de comunicação com os públicos (quer inseridas nas próprias
exposições, quer no marketing e divulgação da própria instituição).
Pretende-se, também, no futuro, continuar o inventário, assim como o estudo
aprofundado das coleções constantes na CIP. A aquisição de novas coleções também
será uma mais-valia para a instituição e poderá, eventualmente, facilitar os objectivos e,
consequentemente, a missão do MJBB. A conservação preventiva das coleções, apesar
de no geral estarem salvaguardadas, deverá ser, no futuro, uma outra aposta da
instituição, podendo esta cooperar com instituições ligadas, precisamente, à conservação
e ao restauro.
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Embora o presente projeto não tenha incluído temas relacionados com a
conservação das coleções, o desenvolvimento do marketing do museu e a concepção de
formas de aumentar a acessibilidade dos conteúdos expostas a todos os grupos de
eventuais visitantes (nomeadamente pessoas portadoras de deficiência) – por motivos de
tempo e do número de páginas disponíveis para o presente trabalho –, no futuro, dever-
se-á apostar nestas áreas. A realização de muitas destas propostas permitirão à
instituição credenciar-se como Museu, podendo concorrer à Rede Portuguesa de
Museus, o que lhe dará um novo fôlego e, sem dúvida, muita experiência como
instituição gestora de património cultural.
Apesar de poder ter sido mais exaustiva do ponto de vista explicativo e do
recurso a textos sagrados, evitou-se com esta exposição, explicar em demasia a
complexidade dos rituais e tradições judaicos, por ter um carácter educativo dirigido,
sobretudo, a alunos do básico e do secundário.
Assim, prestou-se mais atenção aos conteúdos que se pretendem transmitir aos
diversos públicos visitantes e que contextualizarão toda a exposição, do que
propriamente aos objetos e seu respectivo estudo (i.e. estudo de coleções), que devido à
brevidade do tempo disponível e do tamanho máximo do trabalho, não foi possível
desenvolver.
Ou seja, no fundo, pretende-se criar uma ferramenta a partir da qual a CIP
poderá construir uma exposição pioneira.
Esta seria também a primeira exposição permanente a realizar-se numa Sinagoga
ativa, o que constitui um trabalho pioneiro que tem de estar bem fundamentado do
ponto de vista da ortodoxia judaica. Assim, além das recomendações de organismos
ligados à museologia como o ICOM e o IMC, é preciso ter em atenção um conjunto de
regras religiosas, além das contingências particulares da CIP, como comunidade, sendo
importante ter sempre presente os Estatutos e as exigências/diretrizes da Direção e do
Rabino.
Pretendeu-se, portanto, com este trabalho, fugir um pouco à normalidade e aos
típicos trabalhos académicos que se limitam a enumerar os regulamentos museológicos.
Aqui, será preciso lidar com a falta de recursos financeiros, a falta de recursos humanos,
a falta de espaço disponível para as exposições e as particularidade de uma casa
religiosa, onde apertadas regras religiosas imperam.
Seria também, no futuro, interessante assegurar parcerias com outras instituições
culturais, religiosas, de ensino, etc., de forma a potencializar a ação da instituição.
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Algumas dessas parcerias poderão passar pela Memoshoah24
, por vários museus
judaicos (ou mesmo a Associação do Museus Judaicos da Europa), por outras
instituições museológicas na Cidade do Porto (quer municipais, quer estatais como
museus, bibliotecas e arquivos), etc.
Como se referiu anteriormente, a exposição tem de estar assente na missão e
objectivos já definidos e tendo em vista as necessidades e expectativas dos grupos
visitantes. Assim, o objectivo fundamentalmente instrutor, educativo e informativo que
se pretende alcançar não se coaduna com uma mera apresentação descontextualizada de
objetos religiosos judaicos. Optou-se, portanto, por apresentar o mínimo de alfaias
judaicas – suficientes para enquadrar as práticas religiosas da religião – ao invés de
multiplicar os objetos levando à distração do objectivo educativo da exposição e
consequente afastamento da missão e objectivos da instituição.
Desta forma, termina aqui este trabalho, na esperança de que ele possa ser
melhorado e concretizado.
Hugo Miguel Sacramento Vaz
24
Acerca desta instituição ver: http://w3.memoshoa.pt/ [visualizado a 30 de Maio de 2012]
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Dicionário do Judaísmo Português. Lisboa: Editorial Presença. Pp. 341-343.
TAVARES, Maria de Fátima Amorim Nozes (2001). Ha-Lapid (O Facho): análise
do Órgão Oficial da Comunidade Israelita do Porto. Dissertação para a obtenção do
Grau de Mestre em História Contemporânea, apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto. Porto: Edição do Autor.
TAVARES, Maria José Ferro (1982). Os Judeus em Portugal no Século XV, Vol. I.
Lisboa: Universidade Nova de Lisboa.
TAVARES, Maria José Pimenta Ferro (1992). “A Judiaria de Tomar” in Simões, J.
M. Santos, Tomar e a sua Judiaria, Tomar: Câmara Municipal de Tomar.
TWORUSCHKA, Monika; TWORUSCHKA, Udo (2010) – Religiões do Mundo:
Judaísmo. Lisboa: Círculo de Leitores.
Museu Judaico Barros Basto: A Concepção de Coleção Visitável da Comunidade Israelita do Porto __________________________________________________________________________________________________________
102
Museu Judaico Barros Basto: A Concepção de Coleção Visitável da Comunidade Israelita do Porto __________________________________________________________________________________________________________
1
APÊNDICES
2
APÊNDICE 1 – Regulamento Interno do Museu Judaico Barros Basto
1
REGULAMENTO INTERNO DO
MUSEU JUDAICO BARROS BASTO
2
REGULAMENTO INTERNO DO
MUSEU JUDAICO BARROS BASTO
PREÂMBULO
A reabilitação do Capitão Arthur Carlos de Barros Basto, o grande responsável
pela criação da Comunidade Israelita do Porto e da Obra de Resgate, surge como o
ponto de partida para a consciencialização da necessidade de haver uma instituição de
gestão de património cultural que suprima o desconhecimento que existe, na maioria da
população portuguesa, acerca de temas como o Judaísmo, a importância histórica e
cultural judaica em Portugal e sobretudo a importância da obra do Capitão Barros
Basto – o Apóstolo dos Marranos – no contexto sociopolítico do Século XX.
Assim, a Comunidade Israelita do Porto, reiterando o desejo de se assumir
como uma instituição não só religiosa mas também cultural, sente a necessidade de
criar uma estrutura que tem como principais objectivos a educação de públicos no que
concerne às temáticas supra citadas, assim como a disponibilização, a investigadores,
da documentação de que é depositária.
É de grande importância a criação de uma estrutura cultural que, por estar
articulada com uma estrutura religiosa, terá uma posição privilegiada no combate ao
desconhecimento existente sobre a temática na nossa sociedade.
A Assembleia Geral da Comunidade Israelita do Porto, reunida a ?? de ??? de
2012, afirma a decisão de criar o Museu Judaico Barros Basto e aprova e decreta o
seguinte Regulamento Interno do Museu Judaico Barros Basto:
3
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
ARTIGO 1.º – (Identificação e Enquadramento Orgânico)
Por Museu Judaico Barros Basto entende-se o conjunto de objetos museológicos
expostos e em reserva na Comunidade Israelita do Porto e toda a informação a si
associada, inserida ou não nas exposições permanentes e temporárias.
Também o próprio edifício onde se insere – Sinagoga Kadoorie Mekor Haim – e
o Arquivo/Biblioteca da Comunidade Israelita do Porto fazem parte do Museu Judaico
Barros Basto, devendo, portanto, ser entendidos como um todo.
Desta forma, o Museu Judaico Barros Basto, cuja sigla oficial é “M.J.B.B.”, é
uma coleção visitável (Art. 4.º da Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto) que depende
directamente da Comunidade Israelita do Porto (C.I.P.), sendo sua unidade orgânica e
estando a sua administração a cargo dos órgãos de gestão dessa mesma Comunidade,
nomeadamente da MAHAMAD (Direção).
A Comunidade Israelita do Porto é uma pessoa colectiva sem fins lucrativos que
tem como principais objectivos “praticar a religião israelita, fortalecer a cultura hebraica
a dar assistência moral e, tanto quanto possível, material aos seus irmãos de fé”.
Serve, portanto, este documento para manifestar formalmente a intenção de criar
a instituição museológica supra referida.
ARTIGO 2.º – (Localização)
O Museu Judaico Barros Basto localiza-se na sede da Comunidade Israelita do
Porto (Sinagoga Kadoorie Mekor Haim) sita na:
Rua Guerra Junqueiro, 340
4150-386 Porto
Portugal
4
ARTIGO 3.º – (Missão)
O Museu Judaico Barros Basto tem como Missão a aquisição, documentação,
investigação, conservação e divulgação do património cultural relacionado com o
Judaísmo histórico, religioso, social e cultural e com a vida e obra do Capitão Arthur
Carlos de Barros Basto, promovendo, assim, o conhecimento e fruição dos objetos,
documentos e publicações de que é depositário, dispondo um papel social activo no que
diz respeito à educação cívica e social.
ARTIGO 4.º – (Objectivos)
São objectivos do Museu Judaico Barros Basto:
a) Adquirir, documentar, investigar e conservar acervo relativo ao Capitão
Arthur Carlos de Barros Basto e à sua Obra de Resgate;
b) Divulgar a vida e obra do Capitão Arthur Carlos de Barros Basto através de,
pelo menos, uma exposição permanente;
c) Adquirir, documentar, investigar, divulgar e conservar objetos, documentos e
publicações relacionados com a herança cultural judaica (sua história e
tradições);
d) Disponibilizar, aos interessados, toda a informação que a Comunidade
Israelita do Porto tenha em sua posse acerca de temas relacionados com o
Judaísmo, a Comunidade Israelita do Porto, o Capitão Barros Basto e a Obra
de Resgate;
e) Promover, periodicamente, exposições temporárias sobre temas relacionados
com o Judaísmo;
f) Promover atividades didácticas e culturais fomentando o conhecimento acerca
do Judaísmo e desmistificando ideias e preconceitos errados relacionados
com o tema;
g) Dar a conhecer o edifício da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim – Sede da
Comunidade Israelita do Porto – e sua importância histórica, arquitetónica e
simbólica.
5
ARTIGO 5.º – (Logótipo)
Inspirado no logótipo da Comunidade Israelita do Porto, foi desenvolvido,
também, um logótipo para o Museu Judaico Barros Basto de forma a que este
organismo possa ser visualmente identificado através dele.
O logótipo do Museu Judaico Barros Basto é o que a seguir se apresenta:
(Logótipo Provisório)
ARTIGO 6.º – (Horário de Funcionamento)
1. O Museu Judaico Barros Basto está aberto ao público de domingo a sexta-
feira, excepto se esses dias coincidirem com feriados nacionais e municipais ou
celebrações religiosas judaicas.
2. O Museu Judaico Barros Basto dispõe do seguinte horário nos dias em que se
encontra aberto:
domingo a quinta-feira: 9h – 19h
sexta-feira: 9h – 16h
3. Apesar do horário fixo referido no número anterior, é ainda possível visitar o
Museu noutros dias mediante marcação e confirmação da MAHAMAD (Direção)
através dos contactos referidos no artigo 7.º do presente regulamento.
4. A Biblioteca e o Arquivo da Comunidade Israelita do Porto também poderão
ser acedidos mediante marcação e confirmação da MAHAMAD (Direção) através dos
contactos referidos no artigo 7.º do presente regulamento, gozando do mesmo horário de
funcionamento.
6
ARTIGO 7.º – (Contactos)
Os contactos para as marcações de visitas ao Arquivo, à Biblioteca ou ao Museu
Judaico Barros Basto (nos dias em que este não se encontra aberto) ou para outros
assuntos relacionados com o Museu são os seguintes:
E-Mail: [email protected]
Telefone: +351 226 092 789
ARTIGO 8.º – (Regime de Entradas)
1. As visitas ao Museu Judaico Barros Basto estão sujeitas à compra de um
bilhete de ingresso cujo valor é o seguinte:
- Individual (maiores de 16 anos): 5,00€
- Crianças e Jovens até 16 anos: 2,00€
- Escolas (grupos a partir dos 50 alunos acompanhados por professores): 1€
2. Cabe à MAHAMAD (Direção) a revisão e actualização do preço do bilhete de
ingresso.
3. Cabe à MAHAMAD (Direção) as decisões relativas aos descontos assim
como às isenções de pagamento do bilhete de ingresso.
4. Todas as entradas no Museu e Arquivo/Biblioteca deverão ser registadas para
posterior tratamento estatístico, de forma a que se possa construir uma maior e melhor
percepção do público visitante.
5. A Comunidade Israelita do Porto tem o direito de não permitir a entrada de
um ou mais visitantes no Museu Judaico Barros Basto, se assim se justificar.
ARTIGO 9.º – (Direitos e Deveres dos Utilizadores)
1. Os visitantes têm o direito a:
a) Usufruir dos serviços disponibilizados no Museu;
7
b) Ser informados acerca do Regulamento do Museu e das regras da
Comunidade Israelita do Porto.
2. Os visitantes têm o dever de:
a) Aceitar e respeitar as regras da Comunidade Israelita do Porto, assim como as
regras constantes no presente Regulamento;
b) Aceitar e respeitar as indicações que lhe sejam dirigidas pelos funcionários do
Museu ou por qualquer membro da Comunidade Israelita do Porto;
c) Respeitar a santidade do local em termos de vestuário, linguagem e
demonstrações públicas de afecto;
d) Depositar sacos, guarda-chuvas ou outros objetos volumosos na recepção do
Museu;
e) Cumprir a sinalética do edifício;
f) Fazer um bom uso das instalações visitadas e da documentação
disponibilizada.
ARTIGO 10.º – (Visitas)
1. Todas as visitas, guiadas ou não, ao Museu Judaico Barros Basto serão
sempre acompanhadas por um elemento designado pela MAHAMAD (Direção).
2. As visitas guiadas ao Museu Judaico Barros Basto deverão ser solicitadas
previamente, de forma a estruturar, sempre que possível, um programa de serviço
educativo para cada visitante ou grupo.
3. As visitas serão direccionadas não só no sentido da missão e objectivos do
Museu como também no sentido das necessidades e expectativas de cada público
visitante, criando-se, desta forma, um ponto de contacto.
8
CAPÍTULO II
DAS INCORPORAÇÕES
ARTIGO 11.º – (Definição)
Por incorporação entende-se o acto de “integração formal de um bem cultural”
(n.º 1 do art. 13.º da Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto) no acervo do Museu Judaico
Barros Basto.
A incorporação poderá ser realizada através de compra, doação, legado, herança,
recolha, achado, transferência, permuta, afetação permanente, preferência ou dação em
pagamento.
ARTIGO 12.º – (Política de Incorporação)
1. As decisões relativas à incorporação de bens culturais no acervo do Museu
Judaico Barros Basto serão tomadas pela MAHAMAD (Direção) tendo sempre em
consideração os seguintes pontos:
a) Importância e coerência dos bens culturais incorporados no contexto da
missão e objectivos do museu;
b) Capacidade do museu, e das suas reservas, de albergar os bens culturais
incorporados, tendo em atenção o espaço disponível, a segurança e a
conservação futura desses mesmos bens.
2. A decisão de incorporar um bem ou bens culturais deverá ser acompanhada de
um documento escrito e assinado pela MAHAMAD (Direção) onde conste a
autorização da aquisição desses bens culturais, a sua identificação e o anterior
proprietário.
3. Nos casos em que seja possível deverá existir um título de propriedade legal
do bem ou dos bens incorporados.
4. Os bens culturais depositados no Museu Judaico Barros Basto, embora não
possam ser incorporados, gozarão de tratamento igual aos restantes bens culturais.
Nestes casos deverá ser firmado um contrato legal entre o Museu Judaico Barros Basto
9
(ou a sua tutela) e o proprietário ou proprietários dos bens depositados no museu, por
forma a garantir as condições concretas do depósito, nomeadamente do período de
permanência dos bens culturais no museu.
CAPÍTULO III
DA DOCUMENTAÇÃO
ARTIGO 13.º – (Definição)
A documentação (ou inventariação) caracteriza-se por ser “a relação exaustiva
dos bens culturais que constituem o acervo” (n.º 1 do art. 16.º da Lei n.º 47/2004 de 19
de Agosto) do Museu Judaico Barros Basto.
A documentação deverá incluir uma ficha de inventário museológico
devidamente preenchida (ANEXO A) e, sempre que se justifique, a documentação
prevista nos n.os
3 e 4 do artigo 12.º do presente regulamento.
ARTIGO 14.º – (Número de Inventário)
1. A todos os bens culturais incorporados deverá ser atribuído um número de
registo de inventário único e intransmissível.
2. O número de registo de inventário será associado ao respectivo bem cultural
da forma tecnicamente mais adequada.
3. Utilizar-se-á a seguinte forma de numeração de inventário: sigla do museu
(ponto) ano de inventariação (ponto) número de série (exemplo: MJBB.2012.1).
10
ARTIGO 15.º – (Ficha de Inventário)
1. Todos os objetos museológicos constantes no acervo do Museu Judaico
Barros Basto deverão ser obrigatoriamente objeto de elaboração da correspondente ficha
de inventário
2. Para o preenchimento das fichas de inventário museológico, deverão ser
seguidas as regras de procedimento para a inventariação do Museu Judaico Barros Basto
(ANEXO B).
3. Serão realizadas duas cópias digitais de segurança das fichas de inventário,
garantindo, assim, a protecção da informação no caso de perda das fichas originais que
ficarão no museu. Uma das cópias ficará na posse do NASSY da MAHAMAD
(Presidente da Direção da Comunidade Israelita do Porto) e a outra ficará na posse do
SEGAN da MAHAMAD (Vice-Presidente da Direção da Comunidade Israelita do
Porto).
CAPÍTULO IV
DO ARQUIVO E BIBLIOTECA
ARTIGO 16.º – (Identificação)
O Arquivo e Biblioteca da Comunidade Israelita do Porto fazem parte integrante
do Museu Judaico Barros Basto, partilhando com ele o mesmo espaço físico, a mesma
missão e objectivos.
ARTIGO 17.º – (Acesso)
O acesso à documentação do Arquivo e às publicações da Biblioteca do Museu
Judaico Barros Basto é livre e gratuito, sendo apenas necessária a autorização prévia da
MAHAMAD (Direção) conforme referido no n.º 4 do artigo 6.º do presente
regulamento.
11
CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
ARTIGO 18.º – (Casos Omissos)
A resolução dos casos não previstos no presente regulamento, assim como dos
casos de dúvida em relação ao seu conteúdo, estará a cargo da MAHAMAD (Direção).
12
ANEXO A
Ficha de Inventário do Museu Judaico Barros Basto
13
FICHA DE INVENTÁRIO
MJBB.2012._____ (fotografia)
N.º INV. FOTOGRÁFICO:
LOCALIZAÇÃO:
AUTOR:
IDENTIFICAÇÃO GERAL
INSTITUIÇÃO / PROPRIETÁRIO
SUPER-CATEGORIA
CATEGORIA
SUBCATEGORIA
DENOMINAÇÃO
TÍTULO
OUTRAS DENOMINAÇÕES
Nº DE INVENTÁRIO
Nº DE INVENTÁRIO ANTERIOR
DESCRIÇÃO
DESCRIÇÃO
REPRESENTAÇÃO
ICONOGRAFIA
INSCRIÇÃO
OUTRAS
PRODUÇÃO
AUTORIA
JUSTIFICAÇÃO/ ATRIBUIÇÃO
OFICINA / FABRICANTE
LOCAL DE EXECUÇÃO
TIPO
DATAÇÃO
ANO(S)
SÉCULO(S)
JUSTIFICAÇÃO DA DATA
INFORMAÇÃO TÉCNICA
MATÉRIA
TÉCNICA
DIMENSÕES
ALTURA (CM)
LARGURA (CM)
PROFUNDIDADE (CM)
PESO (GR)
OUTRAS DIMENSÕES (CM)
14
CONSERVAÇÃO
ESTADO
ESPECIFICAÇÕES
DATA
INTERVENÇÕES DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO
LOCAL
DATA DE SAÍDA
DATA DE ENTRADA
DESCRIÇÃO
ORIGEM
HISTORIAL
EVOLUÇÃO
OBJETOS RELACIONADOS
DENOMINAÇÃO
LOCALIZAÇÃO
N.º DE INVENTÁRIO
INCORPORAÇÃO
DATA DE INCORPORAÇÃO
MODO DE INCORPORAÇÃO
OUTROS DADOS
LOCALIZAÇÃO
LOCALIZAÇÃO
DATA
REGISTOS
TIPO DE REGISTO
LOCALIZAÇÃO
AUTOR
N.º DE INVENT. DO REGISTO
EXPOSIÇÕES
TÍTULO
LOCAL
DATA DE INÍCIO
DATA DE FIM
Nº CATÁLOGO
BIBLIOGRAFIA
PUBLICAÇÃO
DOCUMENTAÇÃO ASSOCIADA
TIPO
DESCRIÇÃO
VALIDAÇÃO
PREENCHIDO POR
DATA
ASSINATURA
– COMUNIDADE ISRAELITA DO PORTO –
SINAGOGA KADOORIE MEKOR HAIM – RUA GUERRA JUNQUEIRO, 340, 4150-386 PORTO
15
ANEXO B
Regras de Procedimento para a Inventariação
Neste anexo serão apresentadas as regras de procedimento para a inventariação do
acervo museológico do Museu Judaico Barros Basto.
Tendo por base as regras de inventariação propostas pelo IPM (2000), no que diz
respeito às normas gerais de inventário para as artes plásticas e artes decorativas,
apresentar-se-ão de seguida os tópicos a constar nas fichas de inventário do Museu
Judaico Barros Basto (que por ser tão heterogénea a propósito das formas e dos
materiais, apresentarão tópicos gerais, que, obviamente, não serão todos preenchidos em
cada objeto, e em alguns casos, em nenhum dos objetos).
IDENTIFICAÇÃO GERAL:
Instituição/Proprietário – identificação completa da instituição onde se encontra a
peça a inventariar e colocar em parêntesis o nome do proprietário do caso dos depósitos.
Super-categoria / Categoria / Subcategoria – Designa os agrupamentos (e seus
grupos e subgrupos) de objetos, tendo por base determinado tema, nomeadamente a
técnica, os materiais base, a funcionalidade, etc.
Segundo a informação disponibilizada pelo Matriz do IMC, a coleção de objetos
religiosos presente no Museu Judaico Barros Basto aqui estudada deveria ser inserida na
Super-Categoria “Etnologia” e na Categoria “Ritual”, o que, convenhamos, é
imensamente relativo. A título de exemplo será apresentada uma tabela com uma
classificação por categorias (baseada na função que os objetos possuem e no seu sentido
simbólico), e que será utilizada nos objetos museológicos relacionados com o culto
judaico:
Super-Categoria – Alfaias religiosas.
(objetos utilizados no âmbito de rituais ou práticas religiosas ou ainda em
contextos “seculares” a si associados).
Categoria – Judaísmo; Cristianismo; Islão; Budismo; Hinduísmo; Taoísmo, Confucionismo;
Jainismo; etc.
16
(aqui serão apresentadas as religiões ou fés em que se inserem contextualmente
os objetos ou alfaias religiosas)
Subcategoria – Uso Contexto Religioso (objetos usados aquando da prática de rituais
religiosos colectivos ou individuais); Uso Contexto Secular (objetos usados no dia-a-dia,
apesar de possuírem uma carga simbólica religiosa, ou estarem relacionados com determinada
religião, sendo usados pelos seus praticantes); Uso Contexto Misto (objetos usados nos dois
contextos já descritos); Decoração (objetos associados a uma religião ou credo, mas
desinvestidos de uma função prática); Celebração de Acontecimento (objeto comemorativo de
um acontecimento ligado a uma religião ou credo); Outros (objetos que não cabem em
nenhuma das subcategorias anteriormente descritas).
Denominação – Identidade estrita e inequívoca do objeto, tendo em conta a função do
mesmo e/ou o nome pelo qual é vulgarmente designado.
Título – Apresentação do título que alguns objetos possam ter. Este ponto pode
substituir a denominação ou com ela coexistir.
Outras Denominações – Outros nomes pelos quais o objeto também é conhecido.
Nº de Inventário – Número pelo qual os objetos foram inventariados. No caso do
Museu Judaico Barros Basto, uma vez que nunca se procedeu à numeração dos objetos,
deverá utilizar-se a seguinte forma de numeração de inventário: sigla do museu (ponto)
ano de inventariação (ponto) número de série (exemplo: MJBB.2012.1)
Nº de Inventário Anterior – Números de inventário anteriores ao que o objeto possui
neste momento (objetos que são incorporados e que vêm de outras entidades
museológicas).
DESCRIÇÃO:
Descrição – Aqui é feira uma descrição minuciosa do objeto inventariado, partindo do
geral para o particular.
REPRESENTAÇÃO:
Iconografia – Descrição de toda a iconografia (linguagem visual a partir de imagens)
que um objeto possa ter.
Inscrição – Apresentação de todas as inscrições presentes num objeto.
17
Outras – Apresentação de todas as outras formas de representação presentes num
objeto.
PRODUÇÃO:
Autoria – Todo e qualquer interveniente no processo de fabrico de um objeto, à
excepção das entidades colectivas. Apresentação do nome completo, se possível, e dos
pseudónimos (se existirem).
Justificação / Atribuição – Justificação da autoria do objeto (se este estiver assinado)
ou atribuição hipotética de um autor (recorrendo à comparação de tipologias, à
documentação associada, etc.).
Oficina / Fabricante – Local onde o objeto foi produzido (oficina, fábrica, etc.) –
produção colectiva.
Local de Execução – Campo de abrangência geográfica vasta em que foi efectuada a
produção do objeto.
Tipo – Apresentação da técnica utilizada para a produção do objeto (feito à mão,
impresso, etc.)
DATAÇÃO:
Ano(s) – Sempre que possível, registar o ano ou o período dentro do qual se
compreende o fabrico do objeto.
Século(s) – Sempre que possível, registar o século ou o período dentro do qual se
compreende o fabrico do objeto.
Justificação da Data – Se a datação estiver presente no objeto, a justificação fazer-se-á
com a localização no objeto. Caso não esteja, a justificação será proposta a partir da
semelhança com outros objetos e com base documental, referindo as fontes.
INFORMAÇÃO TÉCNICA:
Matéria – Neste campo deverá constar os materiais, meios e suportes utilizados no
fabrico do objeto.
Técnica – Regista-se neste campo todos os processos ou procedimentos utilizados na
construção do objeto.
DIMENSÕES:
18
Altura / Largura / Profundidade – Nestes tópicos serão sempre consideradas as
dimensões máximas dos objetos, devendo ser utilizada como unidade de medição os
centímetros (cm.). Em relação aos objetos bidimensionais, dever-se-á medir a altura e a
largura. Nos objetos tridimensionais, considerar-se-ão as dimensões lançadas pela
ordem seguinte: altura, largura e profundidade. Em relação aos objetos circulares ou
sub-circulares, utilizar-se-á o diâmetro, no campo “Outras Medições”, descrito mais à
frente.
Peso – Medido em gramas, poder-se-á, se se justificar, apresentar este valor.
Outras Medições – Além do diâmetro (expresso em centímetros) poderão ainda ser
apresentadas outras medições, tais como as escalas, os quilates, etc.
CONSERVAÇÃO:
Estado – Aqui será apresentado o estado de conservação do objeto. Para isso, utilizar-
se-ão os cinco graus de conservação propostos pelo Programa Matriz do IMC,
apresentados na seguinte tabela:
Muito Bom: Peça em perfeito estado de conservação.
Bom: Peça sem problemas de conservação (materiais estabilizados) mas que pode apresentar
alguma(s) lacuna(s) e/ou falha( s).
Regular: Peça que apresenta lacuna(s) e/ou falha(s) e que necessita de intervenções de
conservação e/ou restauro.
Deficiente: Peça em que é urgente intervir.
Mau: Peça muito mutilada que apresenta graves problemas de conservação.
Especificações – Aqui será apresentada a justificação da opção tomada no campo
anterior, atendendo às marcas de degradação do objeto.
Data – Apresentação da avaliação do estado de conservação.
INTERVENÇÕES DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO:
Local – Aqui será apresentado o local onde ocorreu a intervenção ao objeto.
Data de Saída – Data de saída do objeto da exposição ou da reserva, para ser
intervencionado.
Data de Entrada – Data de entrada do objeto na exposição ou na reserva, após ser
intervencionado.
19
Descrição – Descrição da intervenção ou intervenções feitas a nível da conservação e
do restauro. Deverá ser apresentado também o nome da ou das pessoas que procederam
à intervenção.
ORIGEM:
Historial – Aqui será descrito o percurso realizado pelo objeto desde que foi executado
(o seu contexto de criação e utilização), passando à sua condição de objeto
museológico, até ter chegado até onde chegou na actualidade.
Evolução – Descrição de alterações significativa da forma ou função original do objeto
e dos novos significados e funções.
OBJETOS RELACIONADOS:
Denominação / Localização / N.º de Inventário – Aqui serão salvaguardadas as
relações existentes entre o objeto inventariado e outros que, por qualquer motivo ou
circunstância lhe estão ou estiveram remotamente associados. Serão apresentadas as
denominações, as localizações e o n.º de inventário desses mesmos objetos.
INCORPORAÇÃO:
Data de Incorporação – Apresentação da data em que o objeto entrou na instituição
onde se encontra.
Modo de Incorporação – Modo como essa incorporação se deu: achado (descoberto),
aquisição (comprado), depósito (quando um objeto se encontra numa instituição que
não é a proprietária legal do mesmo, situação que pode ser de curta ou longa duração),
desconhecido, doação, legado, transferência, outros (permutado, criado, etc.).
Outros Dados – Apresentação de dados que complementem o campo anterior.
LOCALIZAÇÃO:
Localização – Local onde se encontra o objeto (instituição, sala, se em exposição ou
reserva).
Data – Data da última movimentação.
REGISTO:
Tipo de Registo – Tipo de registo do objeto (fotografia e seu tipo, filme, etc.).
Localização – Localização do registo efectuado ao objeto.
20
Autor – Nome do autor ou empresa que fez o registo.
N.º de Invent. do Registo – Apresentação do número do inventário do registo
efectuado, se for política da casa fazê-lo.
EXPOSIÇÕES:
Título / Local / Data de Início / Data de Fim – Aqui serão apresentados estes tópicos
no que concerne à presença do objeto inventariado em exposições.
N.º de Catálogo – Apresentação do número do objeto no catálogo da exposição (se
existir).
BIBLIOGRAFIA:
Publicação – Aqui será apresentada toda a bibliografia, devidamente referenciada, em
que o objeto inventariado aparece, ou então obras relacionadas com este tipo de objetos.
DOCUMENTAÇÃO ASSOCIADA:
Tipo – Apresentação de toda a documentação associada que, de algum modo, tenha sido
gerada pelo objeto museológico que está a ser inventariado, ou que nele se tenha
inspirado. Dever-se-á especificar qual o formato e/ou as características da
documentação associada.
Descrição – Deverá explicar qual a sua relação com o objeto em causa.
VALIDAÇÃO:
Preenchido Por / Data / Assinatura – Nome da pessoa que preencheu a ficha de
inventário, assim como a data desse preenchimento e a assinatura.
Bibliografia Fundamental:
IPM (2000) Normas Gerais de Inventário de Artes Plásticas e Artes Decorativas.
Direção de Serviços de Inventário / Instituto Português de Museus.
1
APÊNDICE 2 – Descrição dos Painéis Informativos
1
SALA DO JUDAÍSMO
Painel 1
Título JUDAÍSMO, JUDEUS E SEUS SÍMBOLOS
Texto Ao contrário do que acontece com outras religiões, o Judaísmo define como judeu
(hebreu ou ainda israelita) aquele que descende de uma mãe judia e que não professe
qualquer outra fé. Assim, todos aqueles que conseguirem traçar uma descendência
matrilinear até uma antepassada reconhecida como judia, poderão ser reconhecidos como
judeus. No entanto, as conversões são também aceites, apesar de este ser um processo
complicado que apenas é concluído após uma sólida formação, um teste e um rigoroso
exame dos motivos que levaram o candidato a querer abraçar esta nova religião.
O Judaísmo não se pauta pelo proselitismo (encorajamento das conversões) e é
entendido não só como uma religião, mas também como um conjunto de pessoas que
partilham uma história, uma cultura e uma forma de vida.
O seu princípio base é a unicidade absoluta de D‟us (monoteísmo), a quem
atribuem a Criação (do mundo e do Homem), reconhecendo-Lhe atributos como a
omnipresença, omnipotência e a omnisciência, e cuja identidade é tão sagrada que nem se
quer é escrito o Seu nome. Desta forma refutam completamente a idolatria.
Apesar de o Judaísmo ser considerado uma religião universal – cujo conteúdo se
aplica a toda a Humanidade –, existe, também, a noção do judeu e do não-judeu. Se os
judeus têm a obrigatoriedade de cumprirem todos os preceitos da religião (num total de
613), os não-judeus apenas têm de observar as 7 Leis de Noé:
1. Instituir um sistema judicial;
2. Proibição da blasfémia;
3. Proibição da idolatria;
4. Proibição do incesto e do adultério;
5. Proibição do homicídio;
6. Proibição do roubo;
7. Proibição de consumir uma parte de um animal vivo.
Existem alguns símbolos identitários associados ao Judaísmo. Dois dos mais
característicos são o Menorah e a Maguen David.
O Menorah, ou candelabro de sete braços, é um dos símbolos mais representativos
da religião judaica e dos judeus. Terá sido feito obedecendo a instruções de Moisés,
inspirado pela revelação divina, aquando da errância dos judeus pelo Deserto do Sinai.
2
Composto de uma haste de onde partem três braços de cada lado, este grande candelabro
de ouro possuía em cada um dos seus braços um recipiente onde era colocado óleo ritual
de forma a acender uma chama. O número de braços que possui é muitas vezes associado
ao Shabat (7º dia da semana) e às sete direções do mundo: este, oeste, norte, sul, cima,
baixo e a localização do Homem. Após a peregrinação pelo Deserto, o Menorah foi
transferido para Canaã sendo, posteriormente, colocado no Templo de Jerusalém. Com a
destruição do Segundo Templo de Jerusalém e a consequente transferência do Menorah
para Roma (episódio representado no Arco de Tito), passou a representar a identidade
judaica, estando, hoje, representado nos lares judaicos, assim como no selo do Estado de
Israel.
Já o Maguen David, ou Escudo de David (conhecido, erradamente, por Estrela de
David), caracteriza-se por ser o símbolo que, em todo o mundo, é mais associado aos
judeus. Formado por dois triângulos sobrepostos em posições inversas, este símbolo
representa os três grandes momentos da história judaica – Criação, Revelação e Redenção
–, assim como os três pilares da fé judaica – D‟us, Terra/Povo e Homem.
Tendo chegado a ser usado nas roupas dos judeus, como medida discriminatória,
Maguen David tornou-se, mais tarde, com o Movimento Sionista, o símbolo do
Movimento Nacional Judaico estando, actualmente, representado na bandeira nacional do
Estado de Israel.
Citações “Que quer dizer sentir-me judeu? Quer dizer sentir-me eu próprio. Uma pessoa
que vem de longe, que atravessou muitas vidas numa só e que sempre teve como ponto de
referência o ser judeu. Ser judeu quer dizer prestar atenção, fazer o melhor possível para
garantir alguma certeza a si mesmo e aos outros. Quer dizer saber ser olhado com
suspeita, com inveja ou com respeito excessivo, mas de qualquer modo como um perigo.
Ser judeu quer dizer ter de defender-se, tentar construir uma força interior para não ser
destruído. Ser judeu quer dizer ter a responsabilidade de levar para a frente a cultura de
um povo com mais de cinco mil anos de história e que ninguém ainda conseguiu, apesar
das muitíssimas tentativas, exterminar, mandar calar. Ser judeu é um exercício de
modéstia. É preciso saber a priori que nem tudo é acessível a um judeu, assim como a um
pessoa de cor, a um homossexual ou um cigano.”
(Alain Elkann (2004). Mitzváh. Lisboa: Cavalo de Ferro Editores. Pg. 15-16)
Imagens Imagem de Estrela de David; Imagem do pormenor do Arco de Tito
Objetos Peça de impressão com estrela; Menorah
Há-Lapid 3
3
Fontes e
Bibliografia
Attias e Benbassa, 2000: 212; Coelho e Centeno, 2005: 132 e 136; Cohn-Sherbok,
2009:28; Mucznik, 2009b: 296-298; Tworuschka e Tworuschka, 2010: 12-13; Elkann,
2004.
Painel 2
Título TANACK, TALMUD E O HEBRAICO
Texto A aprendizagem e o estudo constante são importantíssimos no Judaísmo, devendo,
sobretudo os rapazes, ser encorajados a dedicarem-se de forma intensiva ao estudo dos
textos religiosos.
Tanach, ou a Bíblia Hebraica, é uma abreviatura das três partes que compõe este
livro: Torah (os cinco livros de Moisés ou Pentateuco), Neviim (ou Profetas) e Kethuvim
(Textos). A mais importante destas partes é a Torah que quer dizer “instrução” ou “lei” e
é lida ao longo de um ano às segundas, quintas, sábados (Shabatot), dias festivos e jejuns
em público numa Sinagoga. Ao todo são 54 as partes – Parasha/Parashiot – lidas a partir
do Rolo da Torah (Sepher Torah) que é um pergaminho manuscrito em caracteres
hebraicos quadrados seguro por duas hastes.
Segundo os judeus ortodoxos estes cinco livros terão sido escritos por Moisés
após uma revelação de D‟us.
Os Livros que compõem a Torah são:
Génesis: onde se descreve a criação do mundo e do Homem, o pecado original, o
dilúvio de Noé, a destruição da Torre de Babel, o pacto entre D‟us e Abraão – e todos os
seus descendentes (Povo Escolhido) – e a história dos restantes Patriarcas – Isaac, Jacob,
Esaú e José;
Êxodo: onde são relatados os sofrimentos dos judeus ou israelitas (descendentes
de Israel ou Jacob) escravizados pelo Egito, a saída (êxodo) dos israelitas do Egito pelas
mãos de Moisés e a entrega das Tábuas da Lei (os Dez Mandamentos) no Monte Sinai;
Levítico: onde são descritos os requisitos culturais e regras de procedimento
moral dos israelitas;
Números: onde se relata a errância pelo deserto e as primeiras conquistas da
Terra Prometida (Canaã);
Deuterónimo: onde são descritos os últimos discursos de Moisés antes da sua
morte.
O Talmud é uma compilação de livros e ensaios com comentários acerca da
4
doutrina judaica, como resultado de muitas discussões em torno do Tanack. O Talmud é
composto pela Mishnah (que se subdivide em Halaca – mandamentos religiosos – e
Haggada – narrativas e considerações teológicas) e pela Guemara (síntese e conclusão da
Mishnah). O Talmud representa, no fundo, um conjunto de estudos, por vezes
contraditórios, acerca da Torah, mas que ajudam os judeus a entender e a discutir
questões em torno dos textos sagrados.
É em hebraico, a língua sagrada do Judaísmo, que os textos sagrados são escritos
e as orações proferidas. Para os judeus, terá sido esta a língua usada por D‟us na Criação
do mundo e aquela falada por Adão e Eva, sendo, também, a língua da Revelação. Esta
língua semita é composta por 22 letras e não possui vogais. Com a Primeira destruição de
Jerusalém e do Templo, o hebraico clássico caiu em desuso tendo sido substituído pelo
aramaico. Só no Século XIX é que a língua renasceu – o hebraico moderno – tendo-lhe
sido acrescentadas algumas alterações.
Citações “Tem direito, aquele que se lembra.”
Chaïm Weizmann (Primeiro Presidente do Estado de Israel)
Imagens Torah; alfabeto hebraico
Objetos Sefer Torah; Talmud
Há-Lapid -
Fontes e
Bibliografia
Blech, 2004: 73-137; Gaarder, 2007: 116-119; Rodrigues, 2009a e 2009b; Tworuschka e
Tworuschka, 2010: 22-25; Khân, 2012.
Painel 3
Título CRONOLOGIA DA HISTÓRIA JUDAICA
Texto CRONOLOGIA DO JUDAÍSMO
DATAS ACONTECIMENTOS
c. 2000 – 1750 a. E.
v. (antes da Era
vulgar)
Era dos Patriarcas (Abraão, Isaac e Jacob).
c. 1750 Jacob, José e sua família fixam-se no Egito.
Séculos XVII / XVI Domínio do Egito por parte da Dinastia asiática dos Hicsos (escravatura).
Séculos XIII / XII Êxodo do Egito, errância no Deserto do Sinai e Estabelecimento em Canaã. Era dos Juízes.
Século XI Instauração da Monarquia com o Reinado de Saul.
Século X Era do Rei David e da conquista de Jerusalém.
Era do Rei Salomão e da construção do Primeiro Templo.
c. 930 Morte do Rei Salomão e divisão do Reino: Judá (a Sul) e Israel (a Norte).
Meados Século IX Era dos Profetas Elias e Eliseu.
Século VIII Era dos Profetas Amos, Oseias, Miqueias e Isaías.
Finais Século VIII O Rei Ezequias de Judá procede a uma reforma do culto.
Finais Século VII Reformas do Rei Josías.
721 O Reino de Israel é invadido pelos assírios.
5
586 Deportação das Dez Tribos do Norte. Destruição do Primeiro Templo pelos Babilónios.
586 – 538 Exílio dos Judeus na Babilónia.
538 A Babilónia cai nas mãos dos Sírios. Regresso dos hebreus a Jerusalém e reconstrução do Templo.
Século V O escriba Ezra lidera um processo de renovação religiosa.
Séculos IV / III A Judeia cai na órbita, respectivamente, dos Impérios Persa, Macedónico e Egípcio.
198 A Judeia é conquistada pelos selêucidas.
164 Revolta dos Macabeus, que obtêm uma independência precária.
63 A Judeia torna-se parte do Império Romano.
37 a. E. v. – 4 e.
v.(Era vulgar) Reinado de Herodes. Reconstrução do Templo.
Século I Era dos fariseus, saduceus e essénios.
70 Destruição do Segundo Templo de Jerusalém durante a Guerra dos Judeus.
132 – 135 Rebelião de Simeão bar Kochba, que acaba por ser esmagada.
Finais Século II Criação da academia rabínica de Javneh.
Século III Compilação da Mishnah por Judá ha-Nasi.
Finais Século IV Compilação do Talmude de Jerusalém.
Século VI Compilação do Talmude da Babilónia.
c. 800 O Pacto de Omar regulamenta a vida dos judeus no Império Muçulmano.
Século IX / X As comunidades judaicas espalham-se pela Europa, Norte de África e Iraque.
Séculos X – XII Era de prosperidade dos judeus na Península Ibérica.
1096 Massacre dos judeus da Renânia durante a Primeira Cruzada.
Finais do Século XI Compilação dos comentários bíblicos de Rashi.
Meados do Século
XII O filósofo Maimónidas elabora o código da lei judaica.
1291 Expulsão dos judeus de Inglaterra.
A partir do Século
XIII Protecção dos judeus na Polónia.
Finais do Século
XIII Aparecimento do Zohar e da tradição mística da Cabala.
1492 Expulsão dos judeus do Reino de Leão e Castela (Espanha).
1496 Expulsão/Conversão dos judeus de Portugal. Emigração.
1506 Massacre de Lisboa.
1536 Surge o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição em Portugal.
1648 Massacre de Chmielnicki na Polónia / Lituânia.
Início do Século
XVIII Aparecimento do Hassidismo na Europa Oriental.
Meados do Século
XVIII Iluminismo Judaico com Moisés Mendelssohn.
Séculos XVIII / XIX Atribuição gradual de direitos civis aos judeus da Europa.
Século XIX Expansão do movimento da Reforma na Europa Ocidental e nos EUA.
1880 – 1920 Pogroms contra os judeus na Europa Oriental.
Emigração em massa para os EUA.
1896 Caso Dreyfus em França.
1897 Theodor Herzl convocao Primeiro Congresso Sionista na Basileia.
1904 Inauguração da Sinagoga Sharé Tikva, em Lisboa
1912 Legalização da Comunidade Israelita de Lisboa
1919 A Sociedade das Nações atribui ao Reino Unido a administração da Palestina.
1926 Legalização da Comunidade Israelita do Porto
1929 Criação do Instituto Teológico Israelita do Porto – Yeshivah Rosh Pinah
6
1938 Inauguração da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, no Porto.
1933 – 1945
Noite de Cristal na Alemanha.
Shoah / Holocausto
Apoio português a imigrantes e refugiados da 2ª Guerra Mundial
1948 Criação do Estado de Israel.
1989 Legalização da Comunidade Judaica de Belmonte.
1996 Inauguração da Sinagoga Beit Eliahu, em Belmonte.
Citações “Por ocasião do desaparecimento do Segundo Templo cerca de 70 da nossa era,
que o judaísmo rabínico foi confrontado com um terrível desafio: face à derrota militar, à
destruição do santuário de Jerusalém, à deportação para a Babilónia e à ocupação do
seu território pelas legiões romanas, este judaísmo rabínico foi obrigado a
«reposicionar-se» e a aprender a viver num meio estranho e por vezes bastante hostil.
Foi então que um erudito das Escrituras, de nome Samuel (III século E. v.) emitiu um
princípio suposto regular a coexistência entre um povo monoteísta e uma potência
ocupante pagã. Esse dictum intitula-se Dina de-Malkhut dina: a lei do reino é lei (que se
impõe a todos). Não é possível transgredi-la impunemente; convém, porém, limitar-lhe a
aplicação se ela voltasse a pôr em causa pontos fundamentais da essência do judaísmo.
Foi este sábio princípio que permitiu aos judeus atravessar séculos de anti-semitismo sem
grandes problemas e sem jamais renegar as suas doutrinas fundamentais...”
(HAYOUN, Maurice-Ruben (2007). O Judaísmo. Lisboa: Teorema. Pg. 150-
151)
Imagens Imagens de autos-de-fé;
Objetos
Há-Lapid 4; 98
Fontes e
Bibliografia
Attias e Benbassa, 2000; Blech, 2004; Gaarder et al., 2007; Cohn-Sherbok, 2009;
Tworuschka e Tworuschka, 2010: 14-15; Museo Sefardi Toledo, 2011; Hayoun, 2007;
Azevedo, 1975; Coelho, 1998; Coelho, 2002; Gilbert, 2011; Herculano, s/d; Marttins,
2006b; Olival, 2001; Saraiva, 1958; Saraiva, 1969; Paulo e Mea, 1981.
Painel 4
Título JERUSALÉM E AS ORAÇÕES
Texto Jerusalém é a principal cidade do Judaísmo e a cidade que nunca sai do pensamento
de um judeu, sobretudo durante as orações.
Conquistada pelo Rei David, que aí ergueu a capital do seu Reino, Jerusalém foi
também palco da construção do Primeiro Templo de Jerusalém mandado erguer pelo
Rei Salomão. Após a destruição deste Primeiro Templo pelos Babilónios (586 a.E.v.) é
construído o Segundo Templo pelo Rei Herodes que é, mais uma vez, destruído pelos
romanos (70 E.v.), iniciando-se, pouco depois, o exílio dos judeus e a sua dispersão pelo
7
mundo. Foi esta a cidade que D‟us escolheu para “estabelecer aí o Seu nome”, sendo que
os judeus nunca se poderão esquecer dela.
Hoje apenas ao Muro Ocidental desse Segundo Templo perdura – o Muro das
Lamentações – sendo, portanto, o local mais importante do Judaísmo. Milhares de judeus
de todo o mundo peregrinam até lá de forma a poderem rezar bem perto deste marco
histórico e simbólico da religião Judaica.
No Judaísmo o acto de orar é bastante importante uma vez que é o único meio de
contatar diretamente com D‟us. As orações podem ser individuais ou coletivas, sendo a
mais conhecida o Shema Israel (“Escuta, Israel! O Senhor é o nosso D‟us, o Senhor é
uno!”). Os judeus rezam três vezes ao dia: de manhã (shacharit), à tarde (mincha) e à
noite (maariv ou arvit) e usam o Sidur, o livro judaico de orações.
Durante as orações e quando entram na Sinagoga, os judeus costumam usar um
kippah (solidéu) mostrando o seu respeito para com D‟us. Os judeus mais ortodoxos
usam-no todo o dia. Também usam um xaile de orações com riscas pretas ou azuis nas
orlas chamado tallit, assim como duas pequenas caixas pretas quadradas de couro –
tefilim (filactério) – que deverão ser presas na parte superior do braço (menos usado) e na
testa, recorrendo a correias incorporadas no couro. No interior dessas caixas encontram-se
referências bíblicas do Livro do Êxodo e do Deuteronómio escritas em pergaminho
manuscrito. Alguns judeus usam ainda o tsitsit, que consiste numa franja ou borda presa a
um casaco por baixo da camisa.
Citações “Pálidos e curvados por uma existência inteiramente dedicada ao estudo, estes
velhos encarnavam a perpetuidade da presença judia em Jerusalém. Rabinos, talmudistas
ou doutores da lei, eles tinham sobrevivido de século em século, parcela quase ignorada
pela comunidade dispersa. Eles tinham prestado honras ao dia do Sabat e fixado todos os
actos das suas pobres vidas segundo os preceitos sagrados. Decoraram os versículos da
Torah e copiaram cuidadosamente os textos do Talmude os quais transmitiam de geração
em geração. Prostravam-se todos os dias diante do Muro das Lamentações implorando
ao D’us de Abraão o regresso do seu povo à terra de onde tinha sido expulso. Nunca tal
dia parecera tão próximo.”
(LAPIERRE, Dominique; COLLINS, Larry (2001). Oh Jerusalém. s.l.:
Bertrand Editora. Pg. 9)
Imagens Imagens de Jerusalém e do Muro das Lamentaçõese representações do Templo de
8
Jerusalém
Objetos Kippah; Tefilim; Sidur; Talit; Tsitsit
Há-Lapid 87
Fontes e
Bibliografia
Attias e Benbassa, 2000: 152-154; Blech, 2004: 312-325; Steinhardt, 2009c: 293-294;
Tworuschka e Tworuschka, 2010: 26-29; Lapierre e Collins, 2001
Painel 5
Título DO NASCIMENTO À MORTE – O Nascimento e a Infância
Texto No início do Genesis, D‟us ordena a Adão e Eva que se multipliquem. Esta
Mitzvah (mandamento) é uma obrigação que os judeus devem levar em consideração,
devendo, portanto, ter filhos.
É com um Mazal Tov (Boa Sorte) que é costume os judeus saudarem um
acontecimento, inclusivamente é costume dirigir esta expressão aos pais de uma criança
quando esta nasce.
Após o nascimento, todos os rapazes são circuncidados ao oitavo dia de vida
(salvo se este tiver algum problema de saúde que o impeça de o fazer na altura), numa
cerimónia designada por Brit Milá („Aliança da Circuncisão‟), um ritual iniciado com o
Patriarca Abraão como símbolo da Aliança entre D‟us e o Povo Escolhido. Nesta
cerimónia, o prepúcio do recém-nascido é cortado pelo mohel – um profissional treinado
para o fazer – dando-se o nome ao bebé. É comum o padrinho sentar-se numa cadeira alta,
própria, com o afilhado ao colo enquanto se procede a operação cirúrgica, devendo estar
também presentes, pelo menos, o pai e dez judeus homens maiores de idade (minyán). No
final o pai profere uma oração pedindo protecção para a mãe e o filho.
Também é frequente encontrar-se uma cadeira vazia na sala onde é feito este
procedimento – a Cadeira de Elias – pois, segundo a tradição, o Profeta Elias está
presente em todas as circuncisões, em que se renova a esperança da vinda do Messias.
As raparigas não são circuncidadas, no entanto, é-lhe atribuído o nome numa
cerimónia – Zeved Habat ou Simhat Habat (alegria da filha) – realizada no primeiro
Shabat após o nascimento, onde o pai participa nos ofícios religiosos e profere uma
bênção dirigida à mãe e à filha.
É comum, ao trigésimo dia de vida de um rapaz primogénito, o pai oferecer a um
Cohen (descendente da linha sacerdotal de Aarão, irmão de Moisés) um pagamento
simbólico (uma pequena quantia de dinheiro ou uma peça em prata) numa cerimónia
denominada por Pidyan Ha-Ben. Este ritual além de relembrar a última praga ocorrida no
Egito (a morte dos primogénitos egípcios enquanto os judeus foram poupados), tem a
objetivo de redimir o primeiro filho da função para que era designado originalmente – a
9
de sacerdote –, responsabilidade atribuída posteriormente aos Cohanim (plural de Cohen).
No Judaísmo a questão da educação é extremamente importante, sendo a
educação das crianças levada bastante a sério. Entre o lar e a sinagoga, as crianças
aprendem os valores humanos básicos, os fundamentos da religião, o hebraico e os textos
sagrados. Este processo prepará-los-á para a maioridade onde serão capazes de intervir
nos cultos religiosos públicos.
Citações
Imagens
Objetos Cadeira de Elias, material de circuncisão, livro de registo das circuncisões
Há-Lapid
Fontes e
Bibliografia
Attias e Benbassa, 2000: 184, 189; Blech, 2004: 205-241; Gaarder et al., 2007: 123-126;
Cohn-Sherbok, 2009: 91-97; Steinhardt; 2009a; Steinhardt; 2009b; Tworuschka e
Tworuschka, 2010: 42-49; Museo Sefardi Toledo, 2011: 172-181.
Painel 6
Título DO NASCIMENTO À MORTE – A Maioridade e a Vida Adulta
Texto Aos 13 anos os rapazes judeus atingem a idade adulta. No Shabat seguinte ao seu
aniversário é realizado o Bar-Mitzvá (filho do mandamento), em que o rapaz participa
pela primeira vez nos serviços religiosos, passando a contar para o minyan (quórum
mínimo de dez homens adultos judeus obrigatórios para a realização de orações públicas).
Posteriormente é comum a realização de uma festa oferecida pelos pais, de forma a
celebrar este etapa importante da vida judaica. É também a partir deste momento que
passam a usar as tefilin e o talit.
Em relação às raparigas, estas atingem a maioridade – Bat-Mitzvá (filha do
mandamento) – automaticamente ao completarem 12 anos. No entanto, recentemente, é
comum as raparigas participarem numa parte dos ofícios religiosos e de lhes ser oferecida
uma festa de comemoração além de poderem proferir algumas palavras aquando da
santificação do vinho do Shabat – o Kiddush.
A próxima grande etapa de um judeu é, sem dúvida, o casamento – Nissuín –, na
medida em que a família desempenha um papel bastante importante no Judaísmo.
Instituído por D‟us, o casamento é única forma de coabitação permitida, sendo o celibato
reprovado. Apesar de ser normal o casamento entre judeus, é cada vez mais frequente o
casamento misto (entre judeus e não-judeus).
No ritual judaico é frequente a mulher purificar-se antes do casamento na Mikvé
10
(tanque ritual de purificação composto por águas pluviais), preparando-se, desta forma,
para o casamento. No dia do enlace não é comum os noivos verem-se até à cerimónia,
assim como é normal ambos jejuarem. A cerimónia efectua-se sob um toldo ou dossel – a
Chupah – que simboliza o céu, assim como o novo lar que será formado e é iniciada com
a noiva a dar sete voltas ao noivo o que simboliza as sete vezes que surge na Torah
“quando um homem recebe uma esposa”, podendo, também, simbolizar o sétimo dia da
semana – o Shabat – ou ainda a captura de Jericó por Josué, em que este marchou por sete
vezes ao seu redor. O oficiante da cerimónia, geralmente um rabino, pronuncia sete
bênçãos enquanto os noivos partilham um copo de vinho (que simboliza a alegria e
contentamento) e, posteriormente, o noivo coloca o anel no dedo indicador da mão direita
da noiva. A aceitação, por parte da noiva, do anel expressa o seu consentimento. Mais
tarde é lido o contrato nupcial – o Ketubah – onde constam as obrigações matrimoniais do
marido para com a mulher, incluindo o apoio que este deve prestar à esposa em caso de
divórcio, salvaguardando-a. No final, o noivo parte um copo com o pé, relembrando,
desta forma, a destruição do Templo de Jerusalém, que nunca deverá ser esquecida.
Citações
Imagens
Objetos Lista de Bar/Bat Mitzvá; ketubah, lista de casamentos da Sinagoga, chupah, copo de
vinho, anel,
Há-Lapid
Fontes e
Bibliografia
Igual ao Painel 5.
Painel 7
Título DO NASCIMENTO À MORTE – A Morte
Texto Na tradição judaica, a crença numa outra vida após a morte está bastante
enraizada. Assim, a morte é a última grande etapa na vida humana, devendo ser tratada
com o máximo de respeito.
Na hora da morte ou no funeral os parentes mais próximos do defunto – filhos,
pais, irmãos e conjugues – costumam rasgar a própria roupa (Keriá) em representação
da dor, da angústia e da importância dada àquele membro da família. O corpo, que nunca
deverá ser deixado sozinho, é cuidadosamente preparado para o enterro, com a realização
da tahara (ritual de lavagem do corpo, corte de unhas e cabelo) após o qual se enrola o
corpo numa mortalha branca e limpa de linho ou algodão (Tachrichim), sendo
frequente, também, os homens serem enterrados com o seu talit. O enterramento deverá
ocorrer o mais rapidamente possível e o corpo deverá ser enterrado num caixão simples
11
(sem adornos) de madeira, evitando, desta forma, a ostentação dos ricos em relação aos
pobres. O caixão é enterrado enquanto são proferidas algumas orações em que se destaca
o Kaddish, uma oração de consagração do nome de D‟us em aramaico, recitada em
direção a Jerusalém. Uma lápide – Mazewa (marca) – é colocada sobre a terra que cobre
o caixão e pretende relembrar o defunto.
Após o enterro, os familiares deverão reservar um período de sete dias de luto –
Shivá – em que deverão permanecer num só local. Assim, todos aqueles que desejem
expressar as suas condolências poderão fazê-lo. Existe ainda mais duas etapas de luto: o
Sheloshim, que é o período de 30 dias após o Shivá, em que existem algumas restrições
especiais apesar do luto ser menos carregado; e o período de luto de onze meses que
serve para sustentar a tristeza dos enlutados e a consequente incapacidade de retomar, por
completo, o ritmo das suas vidas normais. Durante este período o Kaddish continua a ser
recitado diariamente.
Todos os anos os defuntos são recordados no aniversário hebraico da sua morte –
Yahrzeit – onde se mantém viva a memória dos que morreram acendendo-se uma vela
que arde o dia inteiro.
Não é costume os rituais fúnebres conterem flores, nem se quer nas sepulturas dos
defuntos. Nestas últimas é comum a colocação de pequenas pedras, demonstrando – com
um objecto duradouro e não efémero – respeito pelo falecido.
Citações
Imagens Imagens de túmulos com pedras e de uma Tahara.
Objetos Mortalhas, lista de falecidos, foto do túmulo de Barros Basto, livro Kadish.
Há-Lapid
Fontes e
Bibliografia
Igual ao Painel 5.
Painel 8
Título A SINAGOGA
Texto Mais do que um edifício, uma Sinagoga é, antes de mais, um conjunto de dez ou
mais homens judeus (maiores de idade) – um minyam. É com este conjunto de pessoas
que poderá ser realizado um culto público e consequentemente uma leitura pública da
Torah às segundas-feiras, quintas-feiras, sábados (Shabat) e alguns feriados religiosos.
Ainda assim, hoje, as comunidades judaicas juntam-se, nos seus cultos, num
edifício próprio para esse fim e que, geralmente, apresenta uma arquitectura bastante
característica, muitas vezes tentando reproduzir o destruído Templo de Jerusalém. Apesar
da função mais conhecida das Sinagogas ser o culto religioso, a verdade é que estes
12
edifícios possuem, na maior parte das vezes, outras funções, tais como a reunião dos
membros da comunidade, a discussão de ideias e o ensino.
Outras designações para Sinagoga são: Bêt Tefilá (Casa de Oração), Bêt Knesset
(Casa de Assembleia) e Bêt Midrásh (Casa de Estudo) ou Shul (Escola). Estas
designações são bem demonstrativas da pluralidade de funções que uma Sinagoga tem.
Estas Sinagogas não dispõem de altares nem de imagens religiosas, uma vez que
estas são proibidas. Desta forma, o principal ponto de uma Sinagoga é a Arca ou armário
que se guarda os rolos da Lei – a Sefer Torah. Esta Arca, ou Aron Kodesh (ou ainda
Helal), localiza-se invariavelmente na parede Leste da Sinagoga (na direcção de
Jerusalém) e é a partir daqui que a Torah é transportada, quando é lida, até a uma
plataforma – a Bimá – geralmente localizada no centro da sala de oração, demonstrando a
centralidade que representa na religião judaica e nos seus cultos. Nas suas portas também
é frequente encontrar uma Mezuzah, pequena caixa onde foi colocada uma passagem
bíblica em pergaminho e que é colocada no umbral da porta.
A Sefer Torah é feita em pergaminho e escrita à mão, não podendo conter
qualquer erro ou imperfeição. Presa a duas hastes geralmente de madeira, este precioso
objecto de culto é normalmente embrulhado em seda ou veludo ricamente trabalhados ou
numa caixa de metal. Quando é lida é costume utilizar-se um ponteiro com a forma de
uma mão com o dedo indicador esticado – o yod – mostrando, ao não tocar no texto
sagrado, o respeito devido.
Em frente à Arca é normal encontrar uma lamparina a arder – o nêr tamid (Luz
Eterna) – representando a luz com que D‟us guia e protege.
Nas Sinagogas ortodoxas as mulheres não participam nos serviços religiosos ao
lado dos homens, estando-lhes reservado um balcão superior ou uma ala separada por
uma divisória. Esta ala feminina é denominada por Ezrát Nashim.
Geralmente uma Sinagoga possui um Shamásh, que é quem cuida dos aspectos
práticos da vida da Sinagoga e supervisiona os serviços diários.
Citações
Imagens Ner Tamid; Sinagogas
Objetos Mezuzah; yod; pergaminho de uma Mezuzah
Há-Lapid
Fontes e
Bibliografia
Attias e Benbassa, 2000: 160 e 263; Blech, 2004: 149-155 e 300-310; Gaarder et al.,
2007: 120-121; Cohn-Sherbok, 2009: 80-81; Tworuschka e Tworuschka, 2010: 30-33 e
50-53; Museo Sefardi Toledo, 2011: 182
Painel 9
13
Título O SHABAT
Texto Para os judeus o Shabat é o dia de descanso, devendo reservar-se o dia à família,
oração e estudo da Torah. Ao observar o Shabat, os judeus relembram a conclusão, ao
sétimo dia, da Criação – o dia em que D‟us descansou – assim como relembram a
libertação da escravatura no Egito, às mãos de D‟us. Neste dia, que se inicia ao pôr-do-sol
de sexta durando até ao pôr-do-sol de sábado, são proibidas todas as actividades,
incluindo as actividades domésticas.
O ritual inicia-se na Sinagoga com uma oração – o Lecha Dodi (“Vem, meu
amigo”) –, referindo-se à maneira como é saudada uma noiva. É normal os judeus, neste
dia, cumprimentarem-se com um Shabat Shalom (Paz no Shalom). Aos sábados de
manhã é lida, entre outras leituras (salmos, cânticos e orações), uma passagem da Torah.
Aí, a Torah é retirada do Aron Kodesh e transportada até a Bimah, onde é elevada para
que todos a vejam, sendo lida por sete membros da Comunidade. É geralmente o Rabino
– oficiante e líder espiritual da Comunidade, sendo, muitas vezes, ele que dá formação
religiosa – que profere o sermão, onde interpreta a passagem lida da Torah. Em algumas
comunidades existe também o Hazan – o responsável pelo cântico litúrgico nos serviços
religiosos.
Em casa, é a mulher que abre o Shabat com o acender de duas velas, recitando
uma oração enquanto tapa os olhos com as mãos, louvando D‟us. Mais tarde o chefe de
família abençoa os filhos e a mulher, proferindo, de seguida, o Kidush, uma bênção de
santificação, sob um copo ou taça de vinho (um símbolo da alegria). São também
partilhados dois pães, a hala, um pão tradicional entrelaçado típico do Shabat que
simboliza as relações que o dia traz e que se encontravam tapados por um pano
(relembrando que no Shabat, durante a errância no Deserto, os judeus recebiam duas
vezes a ração ofertada nos restantes dias, por dádiva divina). É em tom festivo e alegre
que as refeições são realizadas, como reconhecimento da santidade do dia e das relações
familiares.
Citações
Imagens imagens dos ofícios e do Rabino
Objetos Livro do Kidush, pano, velas, pratos
Há-Lapid 124
Fontes e
Bibliografia
O mesmo do painel 8.
Painel 10
Título AS REGRAS DIETÉTICAS - KASHERUT
14
Texto Os judeus possuem disposições dietéticas precisas que deverão observar
rigorosamente. Estas disposições – as leis do Kasherut – definem se um alimento é puro
(Kasher ou Kosher) ou não (Treif).
As regras do Kasherut são dever das mulheres, sendo elas as responsáveis por
preserva-las no seio do seu lar.
Assim, não se poderá consumir, por exemplo:
- carne que não seja proveniente de animais ruminantes que possuam patas fendidas em
dois (como o porco, o camelo, o cavalo, o burro, o coelho, a lebre, etc.);
- aves predadoras e selvagens (como a águia, o falcão, o abutre, a avestruz, o papagaio, o
cuco, etc.);
- peixes que não tenham escamas e barbatanas e outros animais marinhos (descartando-se
o marisco, o polvo, as lulas, o tubarão, a baleia, a enguia, etc.);
- insetos, animais rastejantes, répteis (descartando-se as cobras, os lagartos, os ratos,
formigas, etc.)
- o leite e os ovos vindos de animais proibidos;
- comida que possua sangue ou vísceras (devendo abater-se os animais de uma forma
típica (com misericórdia), além da utilização de sal e água para retirar os restos de sangue
dos animais abatidos);
- pratos que misturem leite ou produtos lácteos com carne (sendo comum utilizar dois
conjuntos de louça: um para o leite e produtos lácteos e outros para a carne).
Os judeus mais ortodoxos, consideram ainda que além destas interdições, só
poderão consumir bebidas e alimentos produzidos por judeus, devendo os processos de
produção ser supervisionados por um Rabino.
Citações
Imagens Símbolos de alimentos Kasher; exemplos de refeições judaicas
Objetos
Há-Lapid
Fontes e
Bibliografia
Attias e Benbassa, 2000: 158-159; Blech, 2004: 256-265; Gaarder et al., 2007: 122;
Tworuschka e Tworuschka, 2010: 96-99
Painel 11
Título O ANO JUDAICO
Texto O calendário anual judaico é lunar e contem 354 dias, divididos por 12 meses de
29 ou 30 dias.
Os meses do ano judaico são os que se seguem:
15
Mês Judaico
(nome do mês + equivalência no calendário
secular + dias no mês)
Festividades
(nome das festividades + dias das mesmas)
Tishri (setembro-outubro) – 29 Rosh Ha-Shana (1-2); Yom Kippur (10); Sukot (15-22)
Heshvan (outubro-novembro) – 29 ou 30
Kislev (novembro-dezembro) – 29 ou 30 Hanuka (25-29 ou 30)
Tevet (dezembro-janeiro) – 30 Hanuka (continuação: 1-2 ou 3)
Shevat (janeiro-fevereiro) – 30
Adar (fevereiro-março) – 29 Purim (14 ou 14 de Adar II, na existência deste mês)
Nisan (março-abril) – 30 Pessah (15)
Iyar (abril-maio) – 29
Sivan (maio-junho) – 30 Shavuot (6-7)
Tamuz (junho-julho) – 29
Av (julho-agosto) – 30 Tis’a Be-Av (9)
Elul (agosto-setembro) – 29
Devido ao fato de algumas festividades judaicas estarem associadas a grandes
momentos da vida agrícola, é necessário preencher o desfasamento que existe entre este
calendário lunar e o calendário solar (ou secular). Assim, um décimo terceiro mês de 29
dias – Adar II (ou Adar Shení) – é acrescentado 7 vezes em 19 anos.
Os judeus estabelecem a data da Criação (com base nos textos sagrados) para
definir o ano em que se deve começar a contar o tempo. Assim, o primeiro ano judaico foi
em 3761 a. E. v. (antes da Era vulgar).
Citações
Imagens
Objetos Calendário judaico
Há-Lapid
Fontes e
Bibliografia
Atias e Bennassa, 2000: 51-52 e 272-277; Blech, 2004: 141-204; Gaarder et al., 2007:
126-128; Cohn-Sherbok, 2009: 86-91; Tworuschka e Tworuschka, 2010: 34-41; Museo
Sefardí Toledo, 2011: 182-188
Painel 12
Título AS CELEBRAÇÕES JUDAÍCAS - YAMIM NORAIM – Festas Solenes ou Dias
Temerosos
Texto Período de dez dias em que se busca o perdão pelos pecados, através do
arrependimento, auto-análise, reflexão sobre as próprias ações e tentativa de eliminar as
más ações.
Rosh Ha-Shana – Ano Novo Judaico
O Rosh Ha-Shana é o Ano Novo Judaico, o dia que celebra a Criação. Este dia
16
abre um período de dez dias de contrição onde D‟us julga s Sua Criação: a Humanidade.
É comum fazer-se tocar o Shofar – um corno de carneiro (evocativo do carneiro
que foi sacrificado por Abraão em lugar do seu filho, Isaac) – no ofício da Sinagoga,
incitando os fiéis a despertar e a voltar-se para D‟us, olhando para as suas ações e
arrependendo-se dos pecados praticados ao longo do último ano. À tarde é realizada a
cerimónia do Tashlick.
Yom Kippur – O Dia da Expiação
Neste dia, também conhecido como o Grande Perdão (o dia em que terminam os
“dias temerosos”), é realizado um jejum de vinte e cinco horas, sendo proibido ingerir
toda a comida e bebida, assim como ter relações sexuais, usar calçado de couro, tomar
banho, além das interdições próprias do Shabat. Na Sinagoga, todo o dia é dedicado à
oração e à mortificação, numa demonstração do seu arrependimento, de forma a pedir o
perdão divino. Este período também é reservado para as conciliações entre as pessoas.
A nível litúrgico, o Yom Kippur inicia-se com a recitação do Kol Nidrei (“todos os
votos”), onde os votos de carácter religioso desaparecem; à tarde é lido o Livro de Jonas
(que relata um arrependimento e um perdão); e à noite é terminada a liturgia com o
Nei’la, um ofício de encerramento.
O dia, assim como as suas obrigações, finaliza-se, mais uma vez, com o tocar do
Shofar.
Citações
Imagens Imagens das celebrações
Objetos Shofar
Há-Lapid
Fontes e
Bibliografia
Ver Painel 11.
Painel 13 e 14
Título AS CELEBRAÇÕES JUDAÍCAS - YAMIM TOBIM – Festas Maiores ou Dias Bons
Texto As festas maiores ou os Dias das Peregrinações, referem-se aos acontecimentos
históricos dos judeus, desde o Êxodo do Egito até à chegada da Terra Prometida. No
passado, nestas festas, muitos judeus peregrinavam até Jerusalém de forma a depositar
oferendas no Templo.
Pessach – A Páscoa Judaica
A Pessach (“passagem”) representa a saída dos judeus do Egito, às mãos de
17
Moisés (incumbido desta tarefa por D‟us) e, consequentemente, o fim da escravatura. Este
acontecimento, que se passou após a décima praga, enviada por D‟us contra o Faraó e o
seu povo, é uma das principais festividades judaicas. Em tempos bíblicos, como
agradecimento por D‟us ter poupado a vida dos primogénitos judeus na última praga (que
continham sangue de cordeiro na porta de forma a que a morte galgasse esses lares), era
costume haver um sacrifício de um cordeiro no Templo de Jerusalém.
Atualmente, durante os oito dias que antecedem a Pessach, é proibido haver pão,
fermento ou produtos fermentados dentro de casa. É comum haver neste período uma
limpeza geral nos lares judaicos de forma a eliminar qualquer vestígio do pão (mesmo as
migalhas) no interior dos lares. Esta obrigação representa a saída repentina dos judeus no
Egito, uma saída tão rápida que os pães não conseguiram fermentar.
Neste dia é praticado um ritual religioso especial que é realizado nos lares, sendo
frequente o uso de louça própria, de que se destaca o Keara (um prato tradicional usado
nesta festividade). Este ritual contém uma ordem própria, o Seder da Pessach, e é lido
uma parte do livro de orações, a Hagada. Alguns dos alimentos próprios desta cerimónia
são o vinho (cada pessoa deverá beber quatro copos, relembrando a alegria dos quatro
estágios de libertação dos judeus); pelo menos três Chag Matsot (ou pão ázimo, pão não
fermentado achatado, em memória dos três patriarcas: Abraão, Isaac e Jacob); carpas (um
vegetal verde semelhante à salsa que simboliza a Primavera e o renascimento); Charosset
(mistura entre maçãs cortadas, nozes, vinho e temperos que representam a argamassa feita
pelos judeus no Egito, enquanto escravos); Maror (ervas amargas, que simbolizam a
amargura da escravidão); Betsa (um ovo duro queimado, que simboliza o sacrifício feito
no Templo de Jerusalém), Zeroa (um osso queimado, símbolo do cordeiro pascal); água
salgada (símbolo das lágrimas dos antepassados no Egito); e o Copo de Elias (pois será
ele que, durante um Pessach, anunciará a chegada do Messias).
As crianças têm uma posição de destaque nesta festividade na medida em que é
normal serem incitadas a fazer perguntas e a participarem nas orações que acompanham a
Pessach.
Na Sinagoga, além de textos próprios é, também, lido o Shir Hashirim ou Cântico
dos Cânticos (uma dos cinco megilot – rolos).
Shavuot – A Festa das Semanas
No passado, nesta festividade, eram apresentados no Templo de Jerusalém, os
18
primeiros frutos colhidos.
Historicamente evoca-se, nesta festa, a entrega da Torah no Monte Sinai. É
tradição enfeitar as Sinagogas com ramos e arranjos florais recordando o momento em
que no Monte Sinai floresceu uma grande vegetação aquando da Revelação dos
Mandamentos a Moisés e aos judeus.
É costume na noite da véspera do Shavuot os judeus dedicarem-se absolutamente
ao estudo ou à recitação de textos bíblicos e na Sinagoga, no ofício da manhã, é lida a
passagem da Torah onde constam os Dez Mandamentos, assim como é lido o Livro de
Rute ou Meguiltt Ruth onde surge uma narrativa de uma conversão emblemática, na
época das colheitas.
Sukot – Festa das Cabanas
Celebrada durante oito dias, esta festividade comemora o período de errância dos
judeus pelo Deserto, após a saída do Egito. Durante este período de 40 anos habitaram em
tendas móveis e, para recordar este período difícil e a providência divina, é costume as
famílias judaicas, nesta data, construírem uma cabana ou tenda – uma Sukah – com, pelo
menos, três paredes e um tecto coberto de folhas e ramos. Durante a sua estadia no
deserto, D‟us alimentou este povo com alimento caído do céu e salvaguardou-o do calor.
Durante os oito dias de duração desta festividade, que lembra que D‟us está sempre
disposto a ajudar mesmo nos momentos mais complicados, é hábito os judeus mais
ortodoxos viverem nestas cabanas. É costume, no interior da Sukah, os judeus segurarem
e balançarem quatro espécies diferentes de plantas que crescem na Terra Santa (o seu
destino final), enquanto recitam uma bênção. Estas plantas são: a Lulav, um ramo de
palmeira; Arava, um ramo de salgueiro; Hadas, um ramo de murta; e Etrog, um fruto
cítrico semelhante ao limão.
Na Sinagoga é frequente a leitura do Eclesiastes (uma das cinco Megilot).
O último dia de Sukot é o Simchat Torah ou Alegria da Torah. É neste dia que,
geralmente, o ciclo anual de leitura da Torah nas Sinagogas termina e recomeça. A
celebração deste acontecimento é feita com danças com a Torah em redor dos braços,
com uma enorme alegria.
Citações
Imagens
Objetos Keara, Seder de Passah, meguila Ruth, copo de Elias; sukah
Há-Lapid
Fontes e Ver Painel 11.
19
Bibliografia
Painel 15
Título AS CELEBRAÇÕES JUDAÍCAS – Festa Menores
Texto Festividades que relembram feitos históricos do povo judaico e que merecem ser
recordadas. Ao contrário das festas anteriores, estas festas não se encontram descritas na
Torah. Ainda assim, e apesar de se relacionarem com acontecimentos mais recentes, são
bem demonstrativos da nacionalidade judaica.
Purim – A Festa das Sortes
A festa do Purim é considerada a festa do Exílio por excelência, ao serem
lembrados os tempos do exílio da Assíria com a leitura da Megilat Esther (Rolos de
Ester) nos serviços religiosos da noite e da manhã. Neste texto é relembrado o salvamento
miraculoso protagonizado por Esther e pelo seu primo Marduqueu, aquando da tentativa
do ministro assírio do Rei Assuero – Haman – exterminar os judeus do reino. No fundo,
aqui é recordada a sorte que, a qualquer momento, pode ser invertida a favor dos judeus.
A nível das festividades, neste dia, o vinho é tido como um dos protagonistas, na
medida em que se pretende dar ênfase à alegria. Também são típicas as trocas de comida
entre as famílias, os jogos, as peças de teatro de sátira, os bolos próprios e o barulho feito,
normalmente, pelas crianças que utilizam matracas enquanto dizem o nome de Haman.
Hanuka – Festa das Luzes
O Hanuka (“inauguração ou dedicação [do Templo] ”) é a festividade que evoca
por um lado o renascimento espiritual dos judeus e por outro a reconstrução nacional. De
facto, este período celebra a vitória dos macabeus (judeus) sobre os seleucidas
(helénicos), quando estes, numa demonstração de domínio e com coacção, profanaram o
Templo de Jerusalém, proibiram os cultos judaicos impondo sacrifícios pagãos. Esta
situação desencadeou uma revolta que resultou na independência política e na restauração
religiosa.
Segundo a tradição talmúdica, no momento em que se decidiu consagrar o Templo
de Jerusalém acendendo a sua Menorah, descobriu-se óleo consagrado que daria apenas
para um dia, mas que acabou por durar oito, o tempo suficiente para produzir mais óleo.
Relembrando este milagre, é costume, nas oito noites do Hanuka, os judeus acenderem,
junto às janelas, um candelabro de nove braços – o Hanukia. Assim, acende-se uma vela
20
(ou pavio mergulhado em óleo) no primeiro dia, duas no segundo e assim por diante até à
oitava noite (sempre da direita para a esquerda). O braço central, o nono, possui uma vela
auxiliar com a qual se acendem as restantes.
Nesta festividade onde as crianças são as protagonistas, é costume o ambiente ser
de festa, sendo frequente oferecer prendas às crianças. Muitas delas jogam com um
tradicional pião – o Sevivon ou dreidel – cujo corpo possui quatro faces onde estão
inscritas as letras hebraicas iniciais da frase um “grande milagre ocorreu lá”.
Citações
Imagens
Objetos Hanukiah, Megilat Esther; matracas;
Há-Lapid 96
Fontes e
Bibliografia
Ver Painel 11.
Painel 16
Título AS CELEBRAÇÕES JUDAÍCAS – Os Jejuns
Texto Além do jejum do Yom Kippur, é normal observarem-se os seguintes jejuns:
Tish’a Be-Av – o 9 do Mês Av
Neste dia, é realizado um jejum rigoroso (nos moldes do realizado no Yom Kippur)
que pretende recordar a destruição do Primeiro Templo de Jerusalém (em 586 antes da
Era vulgar) pelos babilónios e a destruição do Segundo Templo de Jerusalém (em 70 da
Era vulgar) pelos romanos. Além destes dois momentos, também estão associados a este
dia outros marcos históricos sombrios da história judaica de que se destacam as datas da
expulsão dos judeus de Inglaterra (1290), França (1394), Espanha (1492) e Portugal
(1496).
Nesta data é lida a Megilat das Lamentações embora se deva abster de ler a
Torah, sendo o único dia do ano em que isso acontece.
Jejuns Menores
Além dos jejuns do Yom Kippur e do Tish’a Be-Av, existem ainda mais cinco
jejuns menores onde é proibido o consumo de água e alimentos do alvorecer até ao
amanhecer. Recordando momentos importantes da história judaica, os cinco jejuns são:
- Jejum de Gedalia (3 de Tishri)
- Jejum do 10 de Tevet (10 de Tevet)
- Jejum de Esther (13 de Adar)
21
- Jejum dos Primogénitos (14 de Nisan)
- Jejum do 17 de Tamuz (17 de Tamuz)
Citações
Imagens
Objetos Megilat das Lamentações;
Há-Lapid
Fontes e
Bibliografia
Ver Painel 11.
Painel 17 e 18
Título SHOAH – HOLOCAUSTO
Texto O Holocausto ou Shoah (“catástrofe”) são os termos pelos quais se tornou
conhecido o genocídio de cerca de 5 700 000 judeus em toda a Europa, durante a
Segunda Guerra Mundial.
Este genocídio foi o culminar de um processo que se iniciou com um conjunto de
medidas discriminatória na Alemanha Nazi, com a chegada de Adolf Hitler ao poder em
1933. O auge deste processo acontece a partir de junho de 1941 quando, após a invasão da
URSS, se iniciou o fuzilamento em massa com o assassinato, por parte dos
Einsatzgruppen (Grupos Especiais), criados pelas SS, dos judeus em cada cidade
conquistada. Também nesse ano foram inaugurados os primeiros campos de extermínio
(até então apenas existiam campos de concentração): a maior ferramenta da “Solução
Final da Questão Judaica”. De facto, os judeus são forçados, numa boa parte da Europa
dominada pela Alemanha, a entrar em comboios apinhados e sem condições algumas de
higiene, sendo transportados até aos campos de extermínio onde são despidos, gaseados
até à morte e empilhados em valas comuns para mais tarde serem cremados em fornos
crematórios. Cerca de 3 860 000 de judeus foram assassinados desta forma horrível.
Devido ao facto de Portugal ter permanecido neutro na Segunda Grande
Guerra, vários milhares de judeus conseguiram refugiar-se neste país, para mais tarde
rumar a África e à América.
O maior pico de entrada de refugiados deu-se com a ocupação de Paris pelos
alemães, em junho de 1940, em que conseguiram entrar em Portugal milhares de judeus,
possuindo vistos de entrada em Portugal dados pelo cônsul português de Bordéus
Aristides de Sousa Mendes (mais tarde afastado do seu cargo por desobedecer às
diretrizes do regime que o impediam de passar vistos a quem não possuísse um visto de
país de destino, ou seja, de salvar vidas humanas).
22
É importante referir que a entrada de refugiados neste período foi bastante
dificultada, sendo as restrições à entrada no país tanto maiores quanto o número de
judeus que pretendiam utilizar Portugal como “plataforma de salvação”.
Num país ditatorial como era Portugal na altura, a António de Oliveira Salazar
não interessava a vinda de refugiados vindos de países mais desenvolvidos que pusessem
em causa as condições de vida dos portugueses e, sobretudo, que pusessem em causa os
valores e ideologias do Regime do Estado Novo.
Ainda assim, Portugal acabou por deixar entrar muitos dos refugiados, não tendo
perseguido os refugiados clandestinos/ilegais que foram sendo transferidos para as
designadas “zonas de residência fixa”, nomeadamente Ericeira, Estoril, Figueira da Foz
e Caldas da Rainha, onde foram acolhidos por portugueses hospitaleiros, sensíveis aos
seus dramas e sem atitudes anti-semitas.
A estadia destes refugiados era curta, podendo estar em Portugal apenas enquanto
aguardavam um transporte até um país de acolhimento/exílio. É este facto que
justifica a existência residual de refugiados em Portugal em 1944 (menos de mil).
Portugal permitiu também, devido à pressão feita pelos países Aliados e por
elementos influentes da Comunidade Israelita de Lisboa, a instalação de organizações
internacionais de auxílio aos refugiados. Entre estas organizações destacam-se a
Comassis (Comissão Portuguesa de Assistência a Judeus Refugiados), a JOINT
(American Jewish Joint Distribution Committee), o HICEM (anacrónico das três
organizações que a compunham: Hebrew Immigrant Aid Society, Jewish Colonization
Association e European Emigdirect) e a Secção de Assistência aos Refugiados da
Comunidade Israelita de Lisboa.
Uma outra organização que também auxiliou os refugiados foi a 6ª Secção –
Somekh Há-Golim ou Amparo dos Desterrados – da Comunidade Israelita do Porto,
onde a figura do Capitão Barros Basto muito se destacou. De facto, foram inúmeras as
cartas dirigidas ao Capitão e à Comunidade por refugiados que tentavam a todo o custo
entrar em Portugal, encontrando no Porto uma mão que os pudesse salvar neste momento
apertado. Ao todo, foram ajudados pela Comunidade do Porto mais de 200 famílias
judaicas (a maioria polacos). Quando chegavam ao Porto (muitos deles entrando
clandestinamente em Portugal através de Bragança, com a ajuda precisosa da
Comunidade Israelita de Bragança e dos seus membros), a maioria dirigia-se para
Lisboa onde estavam localizados os meios para poderem partir para outros países. Desta
23
forma, foi necessário haver uma grande articulação e cooperação entre as
organizações, auxiliando os refugiados a nível material, económico, médico, religioso
e ajudando-os a conseguir vistos e transportes para países de exílio, além de
resolverem toda uma série de problemas relacionados com as autoridades.
Ao todo, neste “crime contra a Humanidade”, onde pereceram cerca de dois terços
da população judaica na Europa, terão sido cerca de 100 000 os judeus refugiados a
passar por Portugal entre 1939-1945. Entre refugiados com vistos de passagem e os
refugiados clandestinos, todos eles depositaram em Portugal e nos portugueses a
esperança de poderem, mais uma vez na milenar história judaica, sobreviver.
Citações “Para que o Mal triunfe,
basta que os homens bons não façam nada.”
Edmund Burk (escritor e político irlandês do séc. XVIII)
Imagens Fotos de refugiados em Portugal
Objetos Cartas a pedir auxílio a Barros Basto, correspondência entre as organizações de apoio;
fichas acerca dos refugiados.
Há-Lapid 127; 104;
Fontes e
Bibliografia
Attias e Benbassa, 2000: 255-262; Pimentel, 2008; Milgram, 2010; Mucznik, 2009a;
Pimentel e Milgram, 2009; Cohn-Sherbok, 2009:69-73; Tworuschka e Tworuschka, 2010:
164-169; Mucznik, 2012; Arquivo da Comunidade Israelita do Porto
Painel 19-22
Título OS JUDEUS NO PORTO
Texto O primeiro local documentado onde os judeus se fixaram na Cidade do Porto foi a
antiga Rua das Aldas (actualmente Rua de Santana) no Período Medieval. Existe,
também, uma referência a uma Sinagoga suplementar extra-muros primitivos, na Rua da
Munhata (entre os Conventos de S. Domingos e de S. Francisco), actualmente Rua do
Comércio do Porto.
Mais tarde surgem, fora da Muralha Fernandina (Cerca Nova), duas outras
judiarias: uma em Gaia e outra em Monchique. A primeira localizava-se num local
conhecido por “Alto dos Judeus”, entre Gaia e Vila Nova e seria habitada principalmente
por armadores de barcos que mantinham relações comerciais com a França e outros
países, quanto à Judiaria de Monchique (Miragaia), também conhecida por Judiaria de
Baixo, apenas se sabe que alguns judeus lá viviam por volta de 1380. Já a Sinagoga desta
judiaria está bem documentada por uma epígrafe em granito em hebraico que refere a
inauguração do templo religioso em meados do Século XIV.
Seria apenas no fim do Século XIV que se criaria a mais conhecida judiaria do
24
Porto. É precisamente D. João I que em 1386 determina a concentração de todos os judeus
portuenses num único local da cidade. É o Concelho que destina a zona do Olival, no
interior da Cerca Nova (ou Muralha Fernandina) e portanto defendida de possíveis
ataques espanhóis, para ser o local da judiaria do Porto. Assim, a carta régia de 3 de
Março de 1388 (Coimbra) deu origem à Judiaria Nova do Olival com cerca de 1,8
hectares, ou seja, cerca de 4% da cidade na época. Esta nova judiaria, murada e com duas
entradas – uma junto à Porta do Olival (a Norte) e outra nas actuais Escadas da Vitória,
designadas no passado por Escadas da Esnoga (a Sul) – encontrava-se compreendida entre
as actuais Rua de Belomonte a Sul, a Rua das Taipas a Oeste e Noroeste, a
Cordoaria/Campo Mártires da Pátria a Norte e Rua dos Caldeireiros a Este. Em relação à
Sinagoga, são vários os autores que referem a sua localização sem, contudo, haver provas
documentais ou materiais que indiquem claramente onde se encontrava.
Em 1492 trinta ilustres famílias de judeus expulsos de Castela (após o Decreto de
Expulsão de Alhambra) encabeçados pelo Rabi Isaac Aboab instalaram-se precisamente
na Judiaria do Olival, por ordem régia de D. João II. Embora apenas pudessem
permanecer no país durante oito meses, a verdade é que conseguiram obter licença para
ficar em Portugal. A estas famílias juntaram-se mais tarde outras famílias exiladas,
aumentando o número de habitantes na Judiaria. Com a lei manuelina de 5 de Dezembro
de 1496 (Muge), os judeus foram expulsos do reino ou obrigados a converter-se para ficar
em Portugal. No Porto, com esta lei, alguns terão ido para fora (colónias portuguesas,
mediterrâneo e norte da Europa) mas a maioria terá ficado na Cidade pois “a presença dos
judeus não só não incomodou do ponto de vista religioso, mas onde, até social e
economicamente era desejada” e assim continuou a ser com os cristãos-novos, cujo
capital e negócios muito auxiliava esta cidade. Uma boa parte dos cristãos-novos
moradores no Olival (actuais Rua de S. Miguel e da Vitória), sobretudo os mais
endinheirados, mudou-se para a Ribeira de forma a poder impulsionar o comércio nessa
mesma zona. Mais tarde (1533-1534), junto da Câmara do Porto, pediram para voltar a
repovoar a Rua de S. Miguel, alegando que o preço dos alugueres era demasiado caro. No
entanto, não será difícil de adivinhar que o motivo verdadeiro que levou uma boa parte
destes cristãos-novos a querer repovoar a rua seria o de regressar ao lar dos seus
antepassados, os antepassados judeus que poderiam sê-lo livremente. Aí poderiam
preservar secretamente os cultos judaicos, fazendo com que algumas das suas casas se
constituíssem verdadeiros “santuários anti-cristo” contra a religião
25
dominante/dominadora. Para enganar a maioria cristã-velha e como forma de defesa, estas
famílias vão continuar a casar-se com famílias cristãs-velhas, vão cada vez mais ingressar
na vida sacerdotal/clerical cristã e vão contribuir financeiramente para as festas religiosas
(nomeadamente a festa/procissão do Corpo de Deus).
Mais tarde, surge o Tribunal do Santo Ofício em Portugal (1536) para pôr cobro às
heresias e apostasias praticadas nas diversas localidades, pelo menos essa era a grande
justificação da Igreja e do Rei.
Durante o período em que o Tribunal da Inquisição do Porto funcionou – 1541-
1546 (tendo estado activo apenas entre 1542-1544) –, os cristãos-novos, acusados de
judeus ou judaizantes, negavam as acusações e subvertiam de certa forma as regras do
Tribunal através da sua capacidade financeira e estatuto social. Desta forma, este período
apenas contou com dois autos-de-fé, um em 1543 e outro em 1544, junto à Porta do
Olival o que parece não ter afectado as relações entre judeus e cristãos.
No período seguinte (1547-1565) a cidade do Porto, inserida na Inquisição de
Lisboa, passa por “um período praticamente incólume”. Em 1565, o Porto passa a estar
inserido no Tribunal do Santo Ofício de Coimbra que protagonizou duas visitações – uma
em 1564-65 e outra em 1570. A primeira tinha como objectivo principal travar/apurar as
contestações às aplicações do Concílio de Trento que se faziam sentir. Com a segunda
visitação verificaram-se várias confissões relacionadas com pecados ditos menores, de
forma a apenas sofrer pequenas “sentenças simbólicas de penitências espirituais, sem
prisão e confisco de bens” o que possibilitava facilmente a fuga ou a continuação da
prática da sua proibida religião.
Mais tarde, é com as prisões da década de noventa (1590-91) que são iniciadas
com denúncias vindas de Trás-os-Montes, nomeadamente de Bragança, tendo sido presas
102 pessoas. O Perdão Geral de 1605 (onde os cristãos-novos pagaram 1.7000.000
cruzados – a comunidade portuense também contribuiu) veio interromper este perigoso
processo, além de que quatro anos antes tinham sido pagos 170.000 cruzados para que os
cristãos-novos pudessem emigrar.
Apesar de o Porto se ter debatido bastante para adquirir uma autorização régia para
emigrar, a verdade é que a grande maioria não o fez.
Mas é com a visitação inquisitorial surpresa de 1618 (de 30 de Março a 20 de
Julho), que grande parte dos cristãos-novos foram apanhados desprevenidos, sobretudo
pela forma como foi feito e pelas normas jurídicas em que se baseava. De forma a
26
eliminar os problemas que houve em todas as outras visitações, D. Sebastião de Matos de
Noronha faz a visitação ao Porto com algumas “novidades” no modo de gerir a mesma.
Realça o novo Regimento de 1613, em vigor, falando da obrigação de denunciar todas as
pessoas que não cumpram os preceitos exigidos, mesmo que apenas hajam suspeitas
resultantes de “alguma cousa de vista ou de ouvida”. Uma nova agravante do Regimento é
que os visitadores tinham liberdade plena para “julgarem localmente a gravidade dos
casos, de modo a poderem proceder à prisão imediata. Não obstante o próprio regimento
ser bastante pesado, a actuação do Santo Ofício serviu-se de próprias ilegalidades para
actuar, desde a tortura até à morte, ameaças, equívocos e pressas nas prisões, repetidos
confiscos de bens e até roubos. Mais uma vez são os conversos/‟judaizantes‟ os mais
atacados, que muitas das vezes “entravam cristãos e saiam judeus”, tamanha era a
violência no cárcere.
A propósito da forma como os portuenses actuaram perante o Santo Ofício neste
período (como já antes havia acontecido), estes, numa tentativa de se proteger e proteger
os seus, optam por confessar o menos possível e por aguentar a tortura de forma a evitar o
confisco de bens, enfrentando as prisões com frontalidade, calma e sem medo. As
acusações feitas, quando o processo está mais adiantado, recaem, por norma, nos presos,
ausentes e defuntos (como, aliás, é costume na Cidade do Porto quando ocorrem motins).
Outros permaneciam calados desde o início, julgando ser esta a melhor forma de acabar
com o „tormentos‟. Dentro do cárcere arranjam sempre forma de se comunicar entre si,
através das mais variadas artimanhas e muitas das vezes com o apoio dos mais baixos
funcionários da cadeia (nomeadamente os cozinheiros). Isto possibilitava aconselharem-se
mutuamente em relação aos processos, saber quem estava preso e quem foram os
denunciantes, de forma a apresentar contraditas (que no Porto são várias).
Após as detenções, os bens eram imediatamente confiscados e as pessoas divididas
entre o Tribunal de Lisboa e o de Coimbra.
Como resposta a toda esta conjuntura os critãos-novos preparavam um novo
perdão geral, elaborando vários memoriais acerca dos procedimentos da Inquisição, e
mesmo os presos tudo faziam para ultrapassar a situação elevando as suas vozes acerca da
violência e ilegalidade do funcionamento do Santo Ofício.
No fim, mais de uma centena e meia de pessoas com estatutos culturais e
socioeconómicos eminentes foram “tocados” pelo braço inquisitorial, o que vem
comprovar aquilo que já foi aqui dito: o Santo Ofício atacava os cristãos-novos mais ricos
27
e eruditos, aparentemente intocáveis. Esta visitação dilacerou bastante o sistema social,
económico e financeiro do Porto e das suas gentes, como, aliás, a própria Câmara do
Porto afirma em 1623.
Não é possível negar que muitos eram os criptojudeus existentes na cidade e que
muito provavelmente existiriam sinagogas clandestinas entre a Rua de S. Miguel e de
Nossa Senhora da Vitória. Existiriam nas ricas casas dos cristãos-novos muitas marcas de
Judaísmo e de contra-cristianismo, mesmo que fosse um Judaísmo já bastante
descaracterizado. Seriam, também, as pessoas de estratos socioculturais mais elevados
que mais acesso tinham a este culto/religião.
Recentemente, foi descoberto um Ehal (Arca onde é guardada a Torah) no n.º9 da
Rua de São Miguel, no Porto. Esta descoberta, veio trazer novas luzes sobre o
criptojudaísmo do pós-expulsão na Cidade do Porto.
Citações
Imagens Ehal da Rua de São Miguel; réplica da epígrafe encontrada em Monchique
Objetos
Há-Lapid 97
Fontes e
Bibliografia
Mea, 1979; Mea, 1996; Mea, 2002; Mea, 2004; Mea, 2009c; Sousa, 2000; Dias 2003;
Basto, 1929; Pereira, 1914; Paulo, 1956; Remédios; 1895; Moreno, 1985; Moreno, 1990;
Tavares, 1982
SALA DA OBRA DO RESGATE
Painel 1
Título SINAGOGA KADOORIE MEKOR HAIM
Texto A Sinagoga Kadoorie Mekor Haim (Fonte de Vida) – sede da Comunidade Israelita do
Porto – foi projectada por Augusto dos Santos Malta (e com intervenções posteriores de
Arthur de Almeida Júnior), tendo como colaborador a nível dos interiores e da decoração
o arquitecto Rogério de Azevedo.
Designada por “Catedral Marrana do Norte de Portugal”, este templo branco de betão
armado e estilo oriental, foi construído entre 30 de Junho de 1929 (colocação da primeira
pedra) e 16 de Janeiro de 1938 (data da inauguração).
Deve o seu nome Kadoorie ao facto de esta rica família britânica natural de Hong Kong
ter doado 5000 em 1933 para que fossem finalizadas as obras que estavam paradas. De
facto, Sir Elly Kadoorie e seus filhos, Horace e Lawrence, fizeram esta doação em
memória de sua mulher e mãe – a Senhora Laura Matos Moncada de descendência
portuguesa.
Esta Sinagoga de três pisos, cave com Mikvé (banho ritual) e jardim, albergou o Instituto
Teológico Israelita – Yeshivah Rosh Pinah –, assim como todos os serviços (secções)
28
relacionadas com a Comunidade Israelita do Porto.
Considerada a maior Sinagoga da Península Ibérica, o seu estilo eclético e majestoso
pretendeu, nas palavras de Barros Basto, “dar [aos marranos] uma alta conceção da
religião de seus pais”, evitando a inveja destes para com as monumentais igrejas
católicas.
Citações
Imagens
(provisório)
Objetos Fotos da construção da Sinagoga (6 fotos)
Há-Lapid 19; 83
Fontes e
Bibliografia
Há-Lapid, n.º 83, pag.4 (1938- Ano XII);
Painel 2
Título MARRANOS E A OBRA DE RESGATE
Texto A Obra de Resgate, idealizada pelo Capitão Barros Basto constitui-se como uma das
maiores empresas do judaísmo português, embora ainda pouco divulgada.
Com esta obra, Barros Basto, imensamente apoiado pela Portuguese Marranos
Committee de Londres (constituída pela Anglo-Jewish Association, Spanish and
Portuguese Congregation de Londres e a Alliance Israelite Universelle), pretendia trazer
para o judaísmo normativo os marranos, descendentes de judeus obrigados a
converter-se ao Cristianismo em 1496 pelo Rei D. Manuel I, e que, ultrapassando séculos
de perseguições da Inquisição, conseguiram passar a “crença de Moisés” às gerações
seguintes. Naturalmente, o judaísmo secreto que estas pessoas (sobretudo do interior norte
de Portugal) praticavam era já completamente descaracterizado, contendo bastantes
elementos cristãos, visto que a educação e os meios de comunicação com judeus
“oficiais” era absolutamente inexistente. Ainda assim, mantiveram-se “judeus no
29
coração”, nas palavras do Grande Rabino da Palestina, sendo somente isso que
interessava e que bastava para que a comunidade internacional apoiasse a sua
reintegração.
Este fenómeno, descoberto Samuel Schwarz, um judeu polaco, no início do Século XX,
e catapultado internacionalmente pelo investigador Cecil Roth, foi alvo de imensa
curiosidade por parte de judeus de todo o mundo e foi na Comunidade Israelita do Porto
que se depositaram a confiança e os meios para levar a Obra a bom porto.
Assim, Barros Basto, ou o “Apóstolo dos Marranos”, como também ficou conhecido,
encetou uma série de viagens a Trás-os-Montes e às Beiras de forma a resgatar os
marranos, distribuindo um jornal por si criado – o Ha-Lapid (o Facho), órgão de
comunicação da Comunidade Israelita do Porto. Ao todo foram criados 27 centros
marranos (entre juntas judaicas e comunidades legalizadas, destacando-se Bragança, a
mais duradoura).
Para este projeto destacam-se, ainda, as figuras de Paul Goodman e Lucien Wolf
(Portuguese Marranos Committee) e do Rabino norte-americano Sola Pool.
Em 1932 é criada a OMIR (Ordem dos Mensageiros Israelitas do Resgate), uma
associação que tinha por finalidade ensinar a religião judaica e seus fundamentos a
marranos; dar a conhecer ao grande público a excelência história dos judeus no contexto
mundial e português; e fomentar a ligação entre Portugal e as comunidades judaicas de
rito português espalhadas pelo mundo.
Uma outra ferramenta importante também foi criada para a concretização do resgate – o
Instituto Teológico Israelita (Yeshivah Rosh Pinah), ativo entre 1929-1935, este
instituto, composto por ensino liceal e educação judaica, tinha como objectivo formar
jovens marranos para serem guias das suas comunidades, pois por serem jovens, Barros
Basto acreditava que seriam mais permeáveis. Foram cerca de três dezenas de alunos que
passaram pelo Instituto.
Citações
Imagens Fotos de alunos do Instituto Israelita do Porto (4); fichas dos alunos,
Objetos
Há-Lapid 38;
Fontes e
Bibliografia
Ha-Lapid, n.º 69 (1935), Ano IX; Mea, 1998; Mea, 2009a: 284-285; Roth; 2001: 237-249;
Tavares, 2001;Martins, 2006: 35-66; Paulo, 1969; Paulo, 1985; Stuckzinsky, 2009.
Painel 3
Título CAPITÃO BARROS BASTO
Texto Arthur Carlos de Barros Basto (1887-1961), natural de Amarante e descendente de
30
Marranos, foi um herói da Primeira Guerra Mundial, tendo hasteado a bandeira
republicana nos Paços do Conselho da Cidade do Porto em Outubro de 1910. Devido às
suas heróicas ações foi galardoado com diversas medalhas de honra e mérito.
Barros Basto foi o criador da União dos Adueiros de Portugal, assim como o
Oryanismo (uma filosofia religiosa com bastantes elementos judaico e onde a atividade
física e intelectual são privilegiadas).
Mais tarde, deixa o Oryanismo e dedica-se inteiramente ao Judaísmo, entrando na Aliança
de Abraão em Tunes. Casa em 1921 com Léa Azancot, da Comunidade Israelita de
Lisboa e funda, no Porto, a Comunidade Israelita do Porto em 1923. A partir desta
instituição passa a dirigir a Obra do Resgate,
É de referir que Barros Basto chegou a ser professor na Faculdade de Letras do Porto e foi
autor de diversos artigos acerca do judaísmo, sendo, também, autor e diretor do
jornal Ha-Lapid.
Em meados dos anos 1930, Barros Basto é vítima de calúnias sob a forma de cartas
anónimas que o acusam de praticar atos imorais com os alunos da Yeshivah, o que
provocou um processo militar onde foi absolvido. No entanto, por interferência do
Ministro da Guerra, um órgão de apelo – o Conselho Superior de Disciplina – deliberou o
seu afastamento do Exército, antes do fim do anterior processo. Esta decisão, de 1937,
teve como fundamento o facto do Capitão assistir a circuncisões, ato considerado
desprestigiante para um oficial.
Apesar da sua desgraça, Barros Basto conseguiu ainda encontrar forças para prosseguir a
Obra do Resgate e, sobretudo, auxiliar muitos refugiados judeus vindos do leste
europeu aquando da Segunda Grande Guerra.
Só em 2012 é que a Assembleia da República reabilita a sua memória e honra,
deliberando, em Julho desse ano, a sua reintegração no Exército Português.
Citações
Imagens Fotografias do capitão e de sua família (3);
Objetos Máquinas de escrever, farda militar, condecorações, espada, tinteiro, selos,
Há-Lapid 25;
Fontes e
Bibliografia
Mea e Steinhardt, 1997; Mendes, 2007.
1
APÊNDICE 3 – Painéis Informativos (Provisórios)
2
APÊNDICE 3 – PAIN0,55 m EIS INFORMATIVOS
2 m
1,40 m
0,90 m
3
APÊNDICE 4 – Planta da Exposição
4
1º Andar da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim / Hugo M. Vaz 2012
5
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