MULHERES MUÇULMANAS: AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SIMBÓLICAS
SOB A ÓTICA DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
ADALGISA DA LUZ LONARDONI1
CLAUDIA PRIORI2
RESUMO: Este artigo aborda a participação das mulheres muçulmanas na sociedade, a relação
entre cultura islâmica, religião e política, dando ênfase na busca pela igualdade de gênero, premissa
essa ligada à questão dos Direitos Humanos Internacionais. Com isso, realizamos a discussão no
espaço escolar, promovendo a formação docente no intuito de ampliar o debate nas áreas do ensino
de História, Ensino Religioso e outras. A implementação pedagógica ocorreu no Colégio Estadual
Duque de Caxias – Ensino Fundamental e Médio, no município de Nova Olímpia – PR, com a
participação de professores e professoras, assim como de agentes I, totalizando 14 (catorze)
profissionais, no formato de grupo de estudos, em que utilizamos a metodologia de 8 (oito) encontros,
com explanação de vídeos, documentários, debates, recorte de textos, finalizando com a exposição
de cartazes informativos no combate à violência contra as mulheres. A realização desse trabalho
proporcionou reflexões acerca do tema, contribuindo para o diálogo e o respeito às diferenças sociais,
políticas e religiosas, chegando ao resultado de que a desigualdade entre homens e mulheres ainda é
muito presente em alguns países, especificamente nos de religião islâmica, alvo de investigação
dessa implementação, mas não apenas, e constatamos como o respeito à diversidade e a busca de
igualdade de gênero precisa ainda ser alcançada.
Palavras-chave: Islamismo. Mulheres. Relações de Gênero. História.
1. INTRODUÇÃO
A implementação pedagógica desenvolvida no Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), teve como tema “Mulheres Muçulmanas: as representações
sociais e simbólicas sob a ótica de profissionais da educação”, e foi desenvolvida no
Colégio Estadual Duque de Caxias – EFM, de Nova Olímpia/PR, e teve como
público alvo, professoras e professores de História, Ensino Religioso, Arte, Filosofia,
Sociologia, Geografia, Língua Portuguesa, Pedagogos (as) e ainda, de agentes I e II,
e professores (as) da rede municipal. Ao longo da implementação houve a
participação de quatorze (14) pessoas, desse total 11 (onze) eram professoras e
professores das seguintes disciplinas: Língua portuguesa, História, Geografia,
Educação Física, Ciências, e 3 (três) eram agentes de apoio nível I.
1 Professora PDE da rede pública do estado do Paraná. Graduada em História pela UNOESTE de
Presidente Prudente. Pós Graduada em Geociência Aplicada ao meio Ambiente e Educação
Especial. 2 Professora Adjunta do Curso de História e do Mestrado Profissional em Ensino de História (PROF
História), da Universidade Estadual do Paraná/Campus de Campo Mourão. Orientadora no Programa
de Desenvolvimento Educacional (PDE).
A condição das mulheres em países de religião islâmica constitui-se um dos
assuntos de muitas controvérsias no decorrer da história de um povo. No Ocidente
este tema está ligado a representações sociais estereotipadas do Islã e de fiéis
muçulmanos (as).
A luta pela igualdade de gênero – igualdade entre homens e mulheres – que
os países ocidentais buscam há anos, coloca a resistência cultural do mundo
islâmico no tribunal das nações em função de legislações que perpetuam a
desigualdade de gênero, submetem as mulheres a condições inferiores na
sociedade, pois recorrem a preceitos religiosos e regras morais que acabam
regendo as relações sociais e de gênero.
Na esfera privada e pública, especialmente mulheres de sociedades árabe-
mulçumanas, vivem em situação de subalternidade, com restritos direitos políticos e
civis, submetidas a um sistema patriarcal e religioso que regra seus modos de vida –
em alguns países islâmicos de forma mais intensa que outros - restringem espaços
que elas podem ocupar, legitimando situações de dominação masculina, violência e
exclusão social das mulheres.
O Islã é a religião que mais cresce no mundo, comportando entre os (as) fiéis
uma grande variedade étnica e cultural, e com especificidades dependendo do país
e do sistema político em vigência. Em sua origem possui grande afinidade com a
tradição judaica e cristã, contudo, conflitos territoriais e políticos acabaram
transformando essas afinidades em fontes de criações de imagens e estereótipos
negativos sobre a religião islâmica. A formulação de imagens negativas e
estereótipos se intensificaram no período das Cruzadas, entre os séculos XI e XIII,
os quais foram movimentos militares cristãos em sentido à Terra Santa com a
finalidade de ocupá-la e mantê-la sobre o domínio cristão.
O Islamismo foi difundido por meio do profeta Maomé e o seu crescimento
criaria grandes embates com o cristianismo. No final do século XI, a religião já havia
se tornado grande o suficiente para clamar por seus lugares sagrados, que, no
entanto, eram coincidentes com os lugares sagrados da cristandade. A cidade de
Jerusalém é o principal local sagrado para essas religiões monoteístas, assim como
para o judaísmo. A ocupação da cidade e das regiões próximas que compõem a
chamada Terra Santa foi motivo de muitos conflitos entre essas religiões na Idade
Média e ainda é uma das causas da instabilidade no Oriente Médio.
As Cruzadas, naquela época, eram denominadas de peregrinação ou de
guerra santa pela sociedade europeia. O termo “Cruzada” só foi utilizado mais
tardiamente entre o século XI e XIII, para se referir aos participantes que se
consideravam soldados de Cristo e se distinguiam pela cruz inscrita em suas
vestimentas.
O entendimento dos conflitos políticos e religiosos passa pela necessidade de
desconstruir e denunciar justificativas simbólicas que perpassam o Ocidente acerca
do Oriente. O Ocidente precisa reconhecer que há outras formas de convivência
social, política e religiosa, e buscar maior conhecimento histórico e teológico a
respeito destes povos.
A implementação proporcionou debates e reflexões referentes às
representações simbólicas, os significados religiosos e políticos envolvidos no
cotidiano e na vida das mulheres que professam a fé islâmica. Além disso, houve um
novo repensar de como o Ocidente enxerga o Oriente e os atributos religiosos e
sociais remetidos a esse espaço territorial, as relações sociais, normas de
comportamento, as relações de gênero e de poder que se estabeleceram ao longo
do tempo partindo de uma perspectiva interdisciplinar, possibilitando ao público alvo,
professoras e professores de diversas áreas, assim como agentes de apoio,
desenvolver novos saberes e ter uma formação docente ampliada.
Constatamos que esta temática é complexa e há muito espaço para
discussão no ambiente escolar, principalmente no ensino de história, no ensino
religioso e demais áreas do conhecimento, sendo abordada a participação das
mulheres islâmicas na sociedade, que é um tema que está estritamente ligado à
questão dos Direitos Humanos Internacionais no que se refere à cultura islâmica e à
igualdade de gênero. Além disso, propiciou abertura para o diálogo, o respeito às
diferenças sociais, políticas e religiosas, bem como para a diversidade e a igualdade
de gênero.
2. AS MULHERES DO (NO) ISLÃ
O Islamismo é uma religião monoteísta, surgida no século VI, criada pelo
profeta árabe Maomé, que teria escrito a doutrina de fé no livro sagrado, Corão. A
religião islâmica associa sua doutrina de fé à organização social política, ou seja, há
uma forte relação entre fé religiosa e sociedade, cultura e política, que direciona os
modos de vida e práticas sociais.
O Corão ou Alcorão, livro sagrado, contém as informações primordiais sobre o
Islã. Porém, parte do Corão é baseada no Hadith, um conjunto de histórias,
transmitidas de forma oral, sobre atos e palavras de Maomé, tanto durante sua vida
quanto aos anos subsequentes à sua morte. Além disso, o Corão também é
baseado em outros escritos como a Charia, ou seja, as leis islâmicas, o direito
islâmico. A Charia, assim como o Corão, também recebeu influências dos escritos
do Hadith, o que demonstra como a fé religiosa e a organização social e política se
entrelaça no Islamismo.
Esse entrelaçamento pode ser perceptível em vários aspectos da doutrina e
fé religiosa islâmica, em especial no que tange à questão da pessoa, que é vista
como integrante da família e, como tal, não poderá desagradá-la. Entretanto, a
noção de pessoa, não é atribuída a todas sem distinção, uma vez que a escolha dos
nubentes, por exemplo, é um ato que deve agradar as famílias envolvidas, e nesse
caso entenda-se aos homens dessas famílias, pois às mulheres cabe acatar o
arranjo efetuado. Isso revela como a noção de pessoa está relacionada à figura do
homem, do pai, e não da mulher, esposa ou da mãe.
A imposição social patriarcal, a situação de subalternidade a que as mulheres
estão relegadas, são ancoradas em razões de gênero, bem como em fatores da
religião, que decide ainda hoje a prática de casamentos forçados, violando
especificamente o artigo XVI da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
que trata de direitos iguais entre homens e mulheres em relação ao casamento, sem
distinção de raça, nacionalidade ou religião.
Durante muito tempo a história foi escrita evidenciando o campo da política,
das guerras e da diplomacia, exaltando nomes de homens que foram heroicizados
no processo histórico. Evidenciavam-se na história política os feitos de reis e chefes
guerreiros. Essa visão homogênea da história, esse tipo de narrativa elitizante, que
destacava a classe dominante e as narrativas dos acontecimentos políticos e
militares foi alvo de muitas contestações, principalmente a partir do começo do
século XX (BURKE, 1997).
No início do século XX surgiu diferentes questionamentos da disciplina de
história, ampliando a noção de fontes históricas e com isso a introdução de outros
objetos de estudo e sujeitos que haviam sido excluídos do discurso histórico. E isso
trouxe novos olhares sobre a história, temas, abordagens e sujeitos, efetivando
assim um alargamento na perspectiva histórica e também da forma como se enxerga
os(as) agentes.
O movimento dos Annales, a partir de 1929, foi de grande importância para as
mudanças teórico-metodológicas, introduzindo uma história problema. Marc Bloch e
Lucien Febvre (1997), foram dois historiadores que
[...] além de produzirem uma obra pessoal significativa, fundaram a revista Analles, com o explícito objetivo de fazer dela um instrumento de enriquecimento da história, por sua aproximação com ciências vizinhas e pelo incentivo à inovação temática (BURKE, 1997, p.8).
Estes autores desenvolviam temáticas diferenciadas, dando oportunidades
para que se abrisse espaço para novas abordagens históricas dialogando com
disciplinas distintas, ampliando as fronteiras da disciplina.
A partir de Bloch e Febvre, a história teve uma maior abertura para os estudos
socioculturais e para as atitudes coletivas, ou psicologia histórica. O destaque para
essas questões culturais acontece com a terceira geração nos anos de 1960, que
voltaram seus olhares para as relações de poder, as mentalidades, os modos de
pensar e de sentir com maior ênfase, além de ter havido maior espaço para outras
temáticas e sujeitos, como a História das Mulheres e a História Cultural. Dentro
desta perspectiva, a terceira geração atentou-se para o estudo das mulheres, sua
participação histórica como protagonista, e nesse sentido, podemos destacar os
estudos de Christiane Klapisch, Arlete Farge e Michelle Perrot (BURKE, 1997).
O discurso filosófico foi um dos primeiros a mencionar o feminino na história
humana. Pelo que se sabe a fonte do pensamento ocidental foi à cultura clássica,
que transmitiu funções, princípios morais, costumes, transformando em tradições
herdadas esses princípios. Na teoria filosófica, a visão masculina transforma a
mulher em objeto, que mostram elas como criaturas irracionais, com pouca
criatividade, sem capacidade pra pensar, sem espírito de dependentes do seu corpo,
por isso necessitavam ser submissas e dominadas pelos homens. (TEDESCHI,
2012).
As limitações de transpor o passado feminino têm levado historiadoras e
historiadores à busca de mecanismos que permitam ultrapassar o silêncio e a
invisibilidade que por muito tempo atuou neste terreno, acompanhando a renovação
teórica dos estudos históricos.
Ancorado nos estudos da História das Mulheres e da História Cultural, este
artigo aborda a situação das mulheres no contexto da religião islâmica, analisando
os aspectos sociais, culturais e políticos, bem como o texto sagrado do Islã
percebendo como se contrapõe as mudanças sociais e políticas, e as relações entre
fé religiosa, política e normas sociais.
Historicamente, as mulheres foram vistas como transmissoras de cultura e
protetoras de valores nacionais. No que se refere às mulheres muçulmanas vem
tornando-se tema de discussão e debate o papel e posições sociais e políticas que
elas ocupam no contexto de países de religião islâmica. Elas têm se destacado por
afrontar os sistemas patriarcais e convencionais, ao impor sua voz e exigir
mudanças. Vale ressaltar que elementos do feminismo islâmico e do feminismo
secular3 têm caminhado juntos forçando com isso reformas educacionais.
É importante apontar que as mulheres muçulmanas enfrentam hoje três
situações diferentes, a primeira diz respeito à identidade islâmica, a segunda refere-
se à luta em oposição aos fundamentalistas islâmicos e a terceira diz respeito a
cultura patriarcal dominante.
Neste contexto, as ideias revolucionárias de Malala Yousafzai, uma jovem
paquistanesa de quinze anos, encontram ressonância, pois o mundo toma
conhecimento sobre a sua história, ao ser baleada pelos extremistas Talibã, por
defender e lutar pela educação das mulheres, sendo convidada ainda muito jovem
(dezesseis anos) a realizar um colóquio na sede das Nações Unidas em Nova York.
No que se refere a essa realidade social e política, Malala (2013, p.21) afirma
“Nasci menina onde os rifles são disparados em comemoração a um filho, ao passo
que as filhas são escondidas atrás de cortinas, sendo seu papel na vida apenas de
fazer comida e procriar”.
Essa citação de Malala nos remete ao fato de que o dia é considerado ruim
quando nasce uma menina, já aos meninos são lançados confetes, frutas
desidratadas e dinheiro nos berços dos bebês. À medida que as meninas vão
crescendo são proibidas de brincar livremente nas ruas, cabendo a elas somente o
direito de cuidar de seus pais, mães e irmãos (ãs); já os homens têm toda liberdade
se locomoverem pela cidade.
3 O feminismo islâmico possui aspecto de resistência à ocidentalização, ou ao feminismo secular.
Afora isto, a restrição ao matrimônio ou sua imposição pode ser considerada
uma violação ao direito à intimidade e à autonomia privada previstos no Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos, como segue:
Art. 17.1 - Ninguém poderá ser objeto de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra e reputação. [...] Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos. 23.3 - Casamento algum será celebrado sem o consentimento livre e pleno dos futuros esposos. (www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133.htm).
Entretanto, a questão dos casamentos forçados/arranjados está muito ligada
à manutenção da virgindade, que tem para a sociedade islâmica um peso cultural
muito grande, embora isso não seja prerrogativa do Islã, já que o domínio sobre a
sexualidade feminina é evidente em outras religiões – cristianismo, judaísmo,
hinduísmo, etc.
Malala tem sido um exemplo de militante para os direitos das mulheres,
engrossando o coro dos movimentos de internacionalização dos Direitos Humanos
acarretou o reconhecimento da pessoa humana como sujeito de Direito
Internacional, o que conduz a uma visão mais universalista da sociedade, visto que
as pessoas, independentemente de raça, gênero, credo, religião, identidade ou
cultura possuem o mesmo patamar de igualdade ante a proteção dos direitos
humanos.
Os movimentos feministas e movimentos pelos direitos das mulheres estão
presentes não apenas no Ocidente, mas também na Ásia e no Oriente Médio, no
início do século XX, como aponta Monshipouri (1998):
As feministas no mundo muçulmano, como em outros lugares, são diferentes entre si e representam vários pontos de vista. Conscientes de sua identidade e de seus direitos, bem como de seu papel na história, muitas mulheres muçulmanas tornaram-se grandes entusiastas da globalização. E um contexto globalizado definido por problemas comuns e por modelos compartilhados, assim como por identidades e vínculos transnacionais, o principal papel das será o de moldar os termos e estabelecer as condições sob as quais se deverá agir contra a discriminação e se irá defender a elaboração de reformas sociais e legais (MONSHIPOURI,1998, p.67).
Nota-se atualmente, que em relação à submissão feminina na cultura e
religião islâmica, a juventude está procurando formas de abolir uma construção
milenar, até porque a globalização e as necessidades que ela imprime ao próprio
processo fazem com que homens e mulheres esclarecidos busquem novas
alternativas.
O acesso à educação, à política, às conquistas de direitos civis, políticos e
direitos humanos pode derrubar a simples comparação entre mulheres ocidentais e
orientais, entendendo como cada uma carrega o seu fardo de construções históricas
e culturais de dominação, bem como suas singularidades e especificidades. Sendo
assim, abre-se uma nova perspectiva de Direitos Humanos que levem em
consideração as particularidades culturais de homens e mulheres, reconhecendo as
diferenças culturais, políticas e religiosas imperantes na cultural islâmica, mas que
não podem interferir na internacionalização dos Direitos Humanos, tanto em relação
às mulheres, quanto aos homens.
No Ocidente, o tema da condição social, política e de vida das mulheres no
Islã está ligado às representações que se tem da religião islâmica e de fiéis
muçulmanos, construídas sob a égide de estereótipos, discriminações,
esquematizações reducionistas e confusões conceituais. As representações acerca
do Islã e das sociedades muçulmanas são carregadas de atributos de
fundamentalismo religioso, sinônimo de violência e terrorismo, cultura violenta e
opressiva, condições sociais, políticas e culturais ligadas às noções de inferioridade
e precariedade, por não estabelecer uma relação estreita com o Ocidente no que
tange à questão de direitos políticos e civis, direitos humanos, acesso à política,
liberdade e emancipação feminina.
No que se refere à população feminina, a maior parte das mulheres
muçulmanas, especialmente em países em que a religião dita as regras políticas e
sociais, a condição de vida delas revela ainda a hegemonia de uma mentalidade e
um sistema patriarcal e religioso que instrumentaliza as práticas sociais e os
discursos, legitimando situações de dominação, de violência e de exclusão em
relação às mulheres.
A militância de mulheres no islamismo não se dá apenas por crenças nas
mudanças que esse movimento promete, mas também por uma identificação
ideológica, em que se preza um comportamento social conservador, o que favorece
a que os grupos islamistas não sejam radicalmente subvertidos e transformados,
num processo interno de conflitos de interesses de gênero. A despeito disso, esse
movimento não estará imune às paulatinas mudanças proporcionadas pela presença
das mulheres em seu interior, mesmo que estejam muito distantes de uma real
autonomia paralelas.
Embora a partir do século XX as mulheres muçulmanas passaram a ter mais
visibilidade, força e destaque na vida pública, e esse fato se dá devido às reformas
educacionais e o avanço nas medidas de alfabetização das mulheres. Sabe-se que
as mulheres muçulmanas podem ser vistas como transmissoras de cultura,
representando uma identidade, todavia estão em constante conflito com os regimes
políticos modernos, uma vez que nessa cultura a figura masculina prevalece sobre a
feminina, e as mulheres passam a ser vistas com grande potencial de sedução, o
que para os muçulmanos leva a provocar uma grande desordem social e moral.
No intuito de problematizar e desconstruir essas representações sociais e
simbólicas acerca das mulheres de fé islâmica, é que voltamos nossos olhares às
mulheres do Islã que lutam em busca pela igualdade entre os gêneros, colocando o
mundo do Islã no tribunal das nações em função das leis de desigualdades que
regem as relações sociais entre os sexos, principalmente na esfera privada.
As mulheres no mundo muçulmano constituem objetos de fascínio para o
Ocidente: ontem “fantasia orientalista”, a sensual criatura do harém; hoje vítima de
opressão, velada e genitalmente mutilada. Essas imagens representam um Oriente
estereotipado, tanto voluptuoso quanto cruel, mas sempre de uma alteridade
aparentemente intransponível. Exageros que não descrevem a realidade social da
esmagadora maioria das muçulmanas, correspondendo apenas a fragmentos dessa
realidade.
Com as mudanças ocorridas com o passar do tempo, hoje há movimentos em
países de religião islâmica que lutam por direitos de igualdade civil entre mulheres e
homens e por tentativas para melhorar a posição delas na sociedade. Num primeiro
momento, o movimento feminista ocidental concentrou suas reivindicações na
igualdade na parte jurídica e política formal; num segundo momento, busca-se por
direitos econômicos e sociais para as mulheres: na educação, trabalho remunerado,
boas condições de trabalho, livre escolha do parceiro matrimonial, etc. Mais
recentemente, tem se adicionado a problematização da desigualdade nas relações
pessoais, a divisão desigual dos papéis dentro da família, os direitos sexuais, etc.
A emancipação das mulheres faz parte integral da inovação política da
modernidade, sendo impossível desligá-la da modernização econômica, tecnológica,
industrial e de produção científica que privilegia o intelecto em detrimento da força
muscular. No pensamento islâmico, a posição da mulher ainda é inferior à do
homem na sociedade. Tal inferioridade, contudo, não é exclusiva do mundo
muçulmano, pois ela se encontra sob formas diversas, em quase todas as
sociedades.
3. PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO NA ESCOLA
A implementação do projeto a respeito das mulheres muçulmanas foi baseada
em intervenções, de acordo com autores e autoras estudados, tais como Christina
Lamb, Losandro Antonio Tedeschi, Peter Burke, Peter Demant e outros (as) que
trabalham a questão de gênero e a violência contra as mulheres.
Uma das motivações para a maioria dos(as) cursistas foi a necessidade da
certificação para elevação da carreira profissional e também pela busca de
conhecimento de como trabalhar com esse assunto dentro da sala de aula. Durante
o curso foi constatado um empenho das pessoas participantes nas propostas
discutidas, percebendo-se que o certificado não era somente o que motivava, mas
também, os desafios que a escola tem enfrentado dentro do cotidiano escolar.
Ao iniciar a implementação do projeto foi distribuído um questionário para que
as pessoas participantes respondessem sobre os conhecimentos prévios que tinham
sobre o tema abordado, como exemplo: “Qual é o seu sexo? Seu gênero?
Significado do que é ser homem e mulher? Vantagens e desvantagens de ser
homem e mulher? Conhecimento sobre o Islamismo?”. Entre outras questões. Nas
respostas, nota-se um vago conhecimento sobre as questões abordadas, no que se
diz respeito às diferenças entre homens e mulheres; o papel que cada pessoa
desempenha dentro da sociedade e também sobre a situação das mulheres
muçulmanas dentro do contexto mundial.
O projeto de intervenção pedagógica foi apresentado ao público alvo, com
uma breve explanação da história do Islamismo, da história das mulheres
muçulmanas, bem como de suas lutas e conquistas no século XXI, abordando a
importância de se discutir as relações de gênero, teorizando a gênese histórica da
exclusão do ser feminino, bem como as medidas de amparo dos órgãos
internacionais que, ao longo dos séculos, foram sendo criadas com a finalidade de
proteger a dignidade das mulheres enquanto pessoas.
No início dos trabalhos, dividimos em três grupos as pessoas participantes,
para assim realizarem a discussão de texto extraído do livro “O Mundo Muçulmano”
de Peter Demant, no qual cada grupo realizou os estudos e apresentou os
apontamentos e reflexões em plenária a todos os (as) cursistas.
O primeiro grupo relatou que a introdução do livro mostra a diferença entre o
islã e islamismo, sendo que o Islã compreende a região em que vivem os
muçulmanos e o islamismo diz respeito à religião que estes seguem e que o Islã
está situado no Oriente Médio e busca seus apoios tecnológicos, industrial e
armamentos no Ocidente, para maior fortalecimento. Já o segundo grupo que
abordou “O Islã no Tempo”, relatou que surgiu no século VII, onde não conhecia a
divisão entre a Igreja e o Estado, que era uma característica do ocidente cristão.
Conforme os pontos destacados pelas pessoas participantes é possível
perceber que o território Islã estava, na época, envolvido em constantes dificuldades
de sobrevivência, comerciais e domínios de territórios e por consequência todas as
disputas religiosas se transformavam também em conflitos políticos.
Na região ocidental predominava a fé cristã e a mesma, naquele momento,
colocava em discussão a natureza de Cristo – seria Jesus um ser divino ou
humano? Estes questionamentos abriram portas para a religião islâmica que não
acreditava na trindade “Pai, Filho e Espírito Santo”. Após alguns concílios ficou
determinado as duas naturezas de Jesus: divino e humano. Na parte oriental, o
império bizantino passou então, a perseguir os monofisistas4 que, considerados
hereges porque acreditavam somente na natureza divina de Jesus. Ao tentar
chamar a atenção para si, os monofisistas arrebanhavam adeptos, tornando-se alvo
da intolerância. Isso deu margem para que o islã, se valendo de sua fragilidade, se
expandisse.
Enquanto isso, o terceiro grupo trabalhou com outra parte do livro de Peter
Demant, no qual aborda o “O Islã dentro do outro: as diásporas muçulmanas”. A
partir disso, o grupo percebeu que cerca de um quarto dos 1,3 bilhões de
muçulmanos vivem atualmente em países de regime não muçulmano. As diásporas
muçulmanas se estabeleceram em diversos países: Guiné Bissau, Burkina Faso,
Costa do Marfim, Guiné, Mali e por fim, por motivos políticos, econômicos e
profissionais se fixaram também em países como a França, a China e EUA. Há
assim, uma realidade ambígua, pois por um lado, minorias podem se tornar maioria,
4 Grupo que vivia na região do oriente Médio, considerada herege por acreditar que a doutrina cristã
ensinava que Jesus Cristo possuía somente a natureza divina.
como é o caso da islamização da Indonésia e por outro, a conversão de
muçulmanos para outras religiões é raríssima.
Antes da Segunda Guerra Mundial, o número de muçulmanos na Europa era
insignificante. A chegada à Europa ocorreu em três chamadas “ondas”: povos
nativos colaboradores com as potências coloniais; trabalhadores (as) – hóspedes;
refugiados (as) políticos perseguidos(as) nas inúmeras ditaduras do mundo
muçulmano. Isso demonstra que a população muçulmana é uma das que mais
vivem em imigração, em deslocamentos territoriais e culturais.
Na sequência da implementação foi exibido o filme: “Flor do Deserto” (Direção
de Sherry Hormann, ano de 2009, filme em DVD), e logo após houve um momento
de debate acerca da produção fílmica, em que os (as) cursistas relataram suas
percepções acerca dos preconceitos, a história e seus valores, a cultura deste povo
e os estereótipos.
Sobre a formação dos direitos das mulheres, as pessoas participantes
responderam que está fundada na autoridade e não pela vontade do indivíduo, e
que as mulheres tiveram muito menos poder na sociedade do que os homens.
Todavia, é uma conquista que vem acontecendo gradativamente, com as mulheres
participando em todos os âmbitos da sociedade, lutando para o combate de
qualquer tipo de discriminação, seja pela raça, classe, sexualidade, gênero, etnia,
credo e status social.
No que se refere aos significados sobre “liberdade” feminina, os (as) cursistas
responderam que as mulheres, possuem o mesmo direito de ir e vir, de fazer suas
escolhas, independente de qualquer tipo de imposição e que até o véu, às vezes
usado por imposição religiosa, pode ser sinal de liberdade se for usado como
sentido de resistência.
O grupo de estudo também se referiu à divisão das tarefas domésticas entre
os gêneros, e apontou que em tempos anteriores as mulheres foram educadas e
criadas para ficarem dentro ou perto de casa, preparadas para a reprodução,
educando a prole e cuidando da casa. Enquanto isso, os homens assumiam papéis
na política, governo, religião e na economia. No mundo atual está sendo cada vez
mais comum a divisão das tarefas domésticas posto que as mulheres têm
desempenhado outros papéis e não somente as atividades do lar, contribuindo com
as obrigações financeiras, sendo esta, hoje, uma responsabilidade de todas as
pessoas adultas que fazem parte das famílias.
Ainda persiste a ideia de que a educação das crianças cabe às mulheres,
porém, percebe-se que, na atualidade, essa visão já está sendo desmistificada e a
educação cabe ao pai e a mãe, e também às pessoas que residem com uma criança
que de forma direta ou indireta, podem contribuir com a formação das crianças.
Uma das temáticas abordadas durante o grupo de estudo na implementação
foi a da violência contra as mulheres, em que se discutiram as razões pelas quais
muitas das mulheres em situação de violência não denunciam seus agressores. E
constatou-se que são por vários motivos, desde medo de represálias, baixa
autoestima até a esperança de que o agressor vai mudar de comportamento, o que
quase sempre não acontece.
Embora, no caso específico do Brasil, as mulheres encontrem respaldo legal
na Lei Maria da Penha, Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006, as pesquisas sobre
violência doméstica revelam ainda o não cumprimento da legislação; as negligências
do Estado; a falta de preparo dos (as) profissionais da Polícia e do Judiciário, que
não transmitem confiança às vitimas durante os atendimentos.
Esse tema teve grande repercussão, levando os (as) cursistas a concluírem
que, até mesmo algumas mulheres do grupo já foram vitimas de abusos e de
violência e que por certas atitudes violentas já estarem tão naturalizadas, nem
identificaram que determinadas abordagens se configuram como tipos de violência,
seja física, sexual, simbólica e emocional/psicológica.
O debate desse assunto fez com que os grupos constatassem que um dos
maiores desafios na implementação de um projeto dessa natureza no colégio é
quebrar as barreiras do machismo, pois, vivemos numa sociedade machista,
amparada, em sua maioria, por religiões cristãs. Logo, o papel da religião no seio da
sociedade se faz, às vezes, mais presente que a própria escola. Isso tudo baseado
num conservadorismo arcaico e fundamentalista que refuta qualquer sobreposição
ao Estado democrático de direito e laico. Desse modo, o projeto conseguiu discutir,
à luz dos Direitos Humanos, a proeminência das mulheres em nossa sociedade,
bem como promover o conhecimento relacionado às diversas culturas e sociedades.
No decorrer da implementação foi exibido um documentário, intitulado como
“As canetas e os livros são as mais poderosas armas”, disponível no Youtube5, e os
5 “As canetas e os livros são as mais poderosas armas”, disponível em
<https://youtu.be/CA3GAbJnIzA>. Acesso em: 9 dez. 2016).
grupos, na sequência, analisaram os dados reproduzidos sobre o mundo islâmico,
se expressando sobre o assunto, levantando questionamentos e elucidações, bem
como responderam as questões referentes ao conhecimento adquirido sobre a vida
de Malala, baseando-se na leitura de fragmentos do livro “Eu sou Malala” (2013).
Os (as) cursistas também relataram - de acordo com o documentário
mencionado - que seguidores (as) da religião islâmica não são terroristas, mas que
há um grupo que se intitula como “Estado Islâmico” que espalha o terror,
perseguindo pessoas que mesmo sendo seguidoras da religião são vítimas da
opressão imposta por radicais muçulmanos, e assim a população sofre preconceitos,
principalmente pelos países ocidentais e são tachadas de violentas e opressoras.
O documentário retrata a presença de Malala na Assembleia Geral da ONU
em Nova York, no dia 12 julho de 2013, quando discursou para lideranças jovens de
vários países e pediu que fosse travada uma luta global contra o analfabetismo, a
pobreza e o terrorismo. Uma jovem paquistanesa que desafiou os radicais islâmicos
do Talibã, por querer estudar, quase pagou com a vida ao levar um tiro na cabeça.
Incentivada pelo seu pai a estudar se tornou uma defensora da educação feminina.
Por essa razão tornou-se símbolo da luta pela liberdade e pelos direitos da mulher,
em uma sociedade que privilegia filhos homens.
Em seu discurso Malala pede educação para todas as pessoas, até mesmo
para os filhos e filhas do talibã, para todos os terroristas e extremistas, em uma
demonstração de perdão, pois é isso que o alcorão ensina. Uma frase que se
destaca no documentário é a seguinte: “Uma criança, um professor, um livro e uma
caneta podem mudar o mundo”, essas são as mais poderosas armas que temos nas
mãos.
Este momento de reflexão, fez com que os(as) cursistas tivessem uma visão
diferente sobre a sociedade muçulmana, de que nem toda pessoa muçulmana é
terrorista e nem sempre a mulher é discriminada dentro desta sociedade patriarcal
do islamismo, visto que Malala foi incentivada pelo seu pai a estudar e lutar pelo seu
direito e de toda uma sociedade. E que no mundo islã, não são todas as mulheres
que aceitam o que a sociedade lhes impõe, elas também divergem sobre o contexto
que está inserido, e muitas lutam por diminuir as desigualdades de direitos entre
mulheres e homens.
Esse tema é de grande valia para trabalhar com estudantes que estão
começando nos anos inicias do ensino fundamental, para que já vão crescendo com
novas ideias, formação de um novo pensamento. Enfim, com ideias críticas contra
esses estereótipos formados acerca das mulheres islâmicas. Para que talvez um dia
essas barreiras de desigualdades e direitos possam ser vencidas por essa
sociedade.
Nas etapas finais da implementação houve a participação da professora e
doutora Claudia Priori, cujo tema foi: “Relações de Gênero e História: a busca pela
igualdade”, sendo um momento de debate, no qual as pessoas participantes
procuraram debater acerca das diferenças sociais, políticas e religiosas, bem como
para a diversidade e a igualdade de gênero. E ainda, puderam levantar questões
sobre a situação das mulheres muçulmanas e refletir sobre a segregação de gênero
e as condições sócio-políticas atuais das mulheres em alguns países adeptos do
islamismo, e perceberam a importância de trabalhar esse assunto no ambiente
escolar e propiciar o desenvolvimento de uma sociedade mais respeitosa às
diferenças e na busca da igualdade de gênero.
Já na fase final da intervenção, foi trabalhado o vídeo “Conheça a ONU –
Organização das Nações Unidas – TV News Documento” (2012), disponível no
Youtube6, trazendo informações sobre a ONU e a Lei Maria da Penha, em que relata
algumas histórias de casos de violências. Em seguida, os (as) cursistas tiveram que
destacar as formas de violências em cada caso: violência física,
emocional/psicológica/sexual, entre outras. Cada participante pode se expressar de
que forma trabalharia no ensino de sua respectiva disciplina a possibilidade de
ajudar alguém que se encontrasse em casos semelhantes aos estudados. Algumas
pessoas afirmaram que faria uma orientação à vítima, encaminhando aos órgãos
competentes. Ainda nesta proposta, foi questionado se as violências praticadas
podiam estar relacionadas com o gênero da pessoa. Na maioria, as respostas
consideram as mulheres como sendo as principais vítimas de violências de gênero.
Foram debatidas questões sobre cenas de violências de gênero e que
atitudes poderiam ser tomadas diante desta realidade. Dos (as) cursistas, a maioria
respondeu que já presenciou cenas abusivas de violências e que procuraram ajudar
a resolver a situação no momento, se caso não houvesse êxito, comunicariam as
autoridades competentes. Diante desta realidade, acredita-se que ainda vivem em
6 Conheça a ONU – Organização das Nações Unidas – TV News Documento” (2012), disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=tk0JvISeSvc> Acesso em: 10 dez. 2016).
uma sociedade patriarcal dominada pelo machismo, visto que, a Lei Maria da Penha
contribuiu para enfrentar as agressões ainda praticadas contra as mulheres e que
essa Lei é uma vitória. Após esta atividade, os grupos de cursistas montaram um
painel com produções feitas no decorrer da implementação e também por
estudantes do colégio.
Ao longo da implementação, as professoras e professores perceberam a
importância do tema para serem trabalhados dentro do espaço escolar, assim
começara a utilizar dos materiais dessa temática em suas aulas, como vídeos,
documentário e textos, após a explanação e debates confeccionaram cartazes e
fizeram exposição montando um painel no pátio do colégio, como pode ser
observado nas figuras abaixo.
Figura 1- Trabalho realizado pelos (as) cursistas
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 2 - Trabalho realizado por estudantes do 1º Ano “A” do Colégio Duque de Caxias
Fonte: Arquivo pessoal
O tema “revendo a história” foi discutido por meio de documentários com as
seguintes reportagens: “Usando véu e calça, egípcias estreiam e entram para
história olímpica”; “O esporte por trás das burcas: atletas são exemplo para
mulheres”; “Véu também é liberdade: a vida de uma muçulmana feminista no
Brasil”; disponíveis no Youtube7, que relatam a participação das mulheres
muçulmanas no Brasil no esporte e no cotidiano em geral.
Diante do estudo destes documentários foi ressaltada a importância do
conhecimento sobre os costumes dos povos orientais e, especialmente, sobre a
religião islâmica. Porém, as reportagens baseiam-se no que a mulheres islâmicas
relatam e não se aprofundam em busca de maiores esclarecimentos dos costumes
praticados no islã. E nem sequer aborda a questão da dominação masculina e
submissão feminina, respaldadas em princípios da religião.
Levando isso em consideração, foi de grande valia a implementação do
“Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola”, pois ao contribuir para a formação
docente, os professores e professoras que participaram desse grupo de estudo
poderão desenvolver a discussão da temática abordada com as turmas de
estudantes, nas diversas disciplinas, como em sociologia, filosofia, história, arte,
ensino religioso e outras.
Na finalização da implementação foi retomado o questionário (o mesmo do
início de nossa proposta), com o objetivo de entender o que conseguimos alcançar
após as discussões, leituras de textos, exposição e análise de filmes e
documentários realizados ao longo dos grupos de estudos.
Consideramos que a maioria dos (as) cursistas teve contato com novos
conhecimentos sobre o assunto, especialmente no que tange à questão de gênero,
a violência doméstica contra as mulheres, a importância da ONU, a contribuição
sobre a Lei Maria da Penha e a visão sobre as mulheres muçulmanas e o papel do
islamismo no cenário mundial, repensando as representações simbólicas e sociais
construídas acerca do Oriente.
7 “Usando véu e calça, egípcias estreiam e entram para história olímpica”, disponível em:
<http://globotv.globo.com/sportv/sportvnews/v/o-esporte-por-tras-das-burcas-atletas-sao-exemplo-
para-mulheres-muculmanas/4724320/>. Aceso em: 9 dez. 2016. O esporte por trás das burcas:
atletas são exemplo para mulheres”, disponível em <http://www.bbc.com/portuguese/brasil-
37314057>. Acesso em: 11 nov. 2016. “Véu também é liberdade: a vida de uma muçulmana feminista
no Brasil”, disponível em: <http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/volei-de-
praia/noticia/2016/08/isla mismo-veu-e-calca-egipcias-sao-1-dupla-da-historia-do-pais-na-
olimpiada.html>. Acesso em: 9 dez. 2016.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Com este trabalho percebemos que a desigualdade entre homens e mulheres
ainda é muito presente em alguns países, principalmente em países de religião
islâmica, mas não somente. Não pretendemos esgotar aqui a discussão sobre o
assunto, ou seja, o tema merece aprofundamento, estudo, questionamentos e
reflexões sobre a realidade que ora se desenha com relação aos direitos das
mulheres.
No que diz respeito às mulheres muçulmanas, ainda se têm muito a
conquistar, tanto no aspecto religioso, como no cultural, político e social, com vistas
a uma vida mais digna junto à sociedade na qual estão inseridas. Avanços são
percebidos em relação à realidade das mulheres na sociedade brasileira, na qual se
percebe o aumento da participação da mesma no mercado de trabalho, assim como
em todas as vertentes do mundo econômico, empresarial, científico, cultural, social e
político.
Neste estudo, os objetivos das atividades foram contemplados, pois foi
abordada a condição social, cultural e política das mulheres em países de religião
muçulmana, envolvendo profissionais da escola, por meio das discussões sobre
religião e cultura, para compreensão do papel de subordinação vivenciada pelas
mulheres islâmicas, em contextos específicos. Sendo percebido o quanto os
organismos internacionais e movimentos feministas têm atuado para a luta e
conquista de direitos políticos e civis para as mulheres em países islâmicos.
Os resultados foram alcançados, havendo envolvimento das pessoas
participantes do curso de implementação, bem como a aplicação, em prática na sala
de aula, dos conhecimentos advindos das discussões. Consideramos de suma
importância que esse assunto seja abordado junto às turmas de estudantes, pois no
decorrer do ano letivo se têm tempo para pesquisar, trabalhar e debater o tema,
articulando os conteúdos em sala de aula.
É muito importante que os (as) estudantes tenham esses conhecimentos e
olhem criticamente para algumas questões que são passivamente aceitas na
sociedade, dentre elas, o que alguns “homens” podem fazer com os outros(as), em
nome da religião. Por meio desses estudos, espera-se que alunos e alunas
construam conhecimentos variados e distintos e passem a denunciar os abusos e
violências, contribuindo para as mudanças nos costumes e estereótipos socialmente
forjados que violam os direitos humanos, especialmente os relacionados às
desigualdades de gênero.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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LABATE, Beatriz Caiuby. Mutilação genital feminina aqui do lado. Planeta Sagrado: Povos Indígenas. 02/02/2005. Disponível em <http://terramistica.com.br/index.php?add=Artigos&file=article&sid=55&ch=6>. Acesso em 28 mai 2016. LARA, Anne. Costumes e direitos das mulheres islâmicas. Disponível em: www.colegiomaededeus.com.br/revistacmd/revistacmd_v32012/artigos Acesso em 28 de maio de 2016.
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