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Morfologia dos Órgãos Vegetativos de Quatro Espécies Conhecidas como Quebra-Pedra
L. O. da Conceição¹* & E. M. Aoyama¹
1Universidade Federal do Espírito Santo/Ceunes *Email para correspondência: [email protected]
Introdução
O emprego de plantas medicinais na recuperação da saúde tem evoluído ao longo dos
tempos desde as formas mais simples de tratamento local, provavelmente utilizada pelo
homem das cavernas, até as formas tecnologicamente sofisticadas da fabricação industrial
utilizada pelo homem moderno. Desde os tempos imemoráveis, os homens buscam na
natureza recursos para melhorar suas próprias condições de vida, aumentando suas chances
de sobrevivência (Lorenzi et al., 2008).
No Brasil, a utilização de produtos à base de plantas, vem sendo estimulada, mas fatores
como a enorme variedade de espécies vegetais disponíveis, a grande desinformação
relacionada ao tema e o fraco desenvolvimento tecnológico desta área no país, vêm
comprometendo a real eficácia e segurança dos produtos utilizados (Brandão et al., 2002).
Cada vez mais a população brasileira busca alternativas para o tratamento de doenças. A
maioria das pessoas não busca atendimento médico, consumindo produtos que podem
colocar em risco sua saúde (Aita et al., 2009).
As famílias Euphorbiaceae e Phyllanthaceae são amplamente distribuídas, porém mais
diversas em regiões tropicais. A Euphorbiaceae possui 222 gêneros e 6.100 espécies, entre
os gêneros desta família se encontra Euphorbia. A Phyllanthaceae possui 55 gêneros e
1.745 espécies, sendo Phyllanthus o gênero com maior número de espécies (1.270), e
muitas dessas espécies são utilizadas na medicina ou como veneno para capturar peixes
(Judd et al., 2009).
O nome popular quebra-pedra designa tanto espécies do gênero Phyllanthus quanto
espécies do gênero Euphorbia (Aita et al., 2009).
Diferentes espécies conhecidas como quebra-pedras são utilizadas popularmente para
problemas renais, muitas comercializadas fragmentadas, dificultando a identificação
correta das espécies (Aita et al., 2009).
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Pelo fato de plantas medicinais serem usadas erroneamente por muitos, pela má
identificação de espécies, este trabalho tem como intuito estudar quatro espécies
conhecidas popularmente como quebra-pedra, para que estas possam ser diferenciadas por
padrões morfológicos dos órgãos vegetativos (raiz, caule e folha), e assim contribuir com
informações para identificação das espécies.
Material e Métodos
Foram realizadas coletas de quatro espécies de plantas conhecidas como quebra-pedra:
Phyllanthus tenellus Roxb., Phyllanthus amarus Schumach. & Thonn. e Euphorbia
hyssopifolia L., Euphorbia prostrata Aiton. no Campus da Universidade Federal do
Espírito Santo, São Mateus, entre os meses de janeiro e fevereiro. O material coletado foi
colocado em prensas, desidratado em estufa e posteriormente identificado. As exsicatas
foram depositadas no herbário do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (CEUNES)
sob os números 24526, 24754 para Phyllanthus tenellus; 23547, 29095 para Phyllanthus
amarus 24638, 29060 para Euphorbia hyssopifolia e 24640, 28330 para Euphorbia
prostrata. A análise morfológica das partes vegetativas (raiz, caule e folha) foi realizada no
laboratório de Botânica da UFES, Campus São Mateus, com base na terminologia das
obras de Souza et al. (2013) e Vidal & Vidal (2003).
Resultados e Discussão
Phyllanthus tenellus Roxb. (Figura 1A)
Raiz subterrânea pivotante, caule aéreo ereto do tipo haste com cor verde avermelhado,
porte herbáceo. Folhas simples, alternas dísticas com pecíolo muito curto (figura 2), lâmina
obovada, ápice obtuso, base obtusa a aguda, margem inteira, nervação peninérvea.
Phyllanthus amarus Schumach. &Thonn. (Figura 1B)
Raiz subterrânea pivotante, caule aéreo ereto do tipo haste de cor verde, porte herbáceo.
Folhas simples, alternas dísticas com pecíolo muito curto (figura 3), lâmina oblonga, ápice
arredondado, base arredondada, margem inteira, nervação peninérvea.
Euphorbia hyssopifolia L. (Figura 1C)
Raiz subterrânea pivotante, caule aéreo ereto do tipo haste de cor avermelhada, porte
herbáceo. Folhas simples, opostas (figura 4), de lâmina oval a lanceolada, ápice obtuso a
agudo, base obtusa, margem serreada, nervação triplinérvea.
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Euphorbia prostrata Aiton (Figura 1D)
Raiz subterrânea pivotante, caule aéreo rastejante do tipo prostrado com cor avermelhada,
folhas simples, opostas com pecíolo muito curto (figura 5), lâmina oblonga a obovada,
ápice obtuso a arredondado, base assimétrica, margem aparentemente inteira, porém
levemente denteada se observada em lupa, nervação triplinérvea.
Figuras 1-5. 1) Aspecto geral das quatro espécies de quebra-pedra: A) Phyllanthus tenellus Roxb. B) Phyllanthus amarus Schumach. & Thonn. C) Euphorbia hyssopifolia L. D) Euphorbia prostrata Aiton. 2) Phyllanthus tenellus: evidenciando a filotaxia alterna dística. 3) Phyllanthus niruri: evidenciando a filotaxia alterna dística. 4) Euphorbia hyssophifolia: evidenciando a filotaxia oposta. 5) Euphorbia prostrata: evidenciando a filotaxia oposta.
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Figuras 6-13. Folhas das quatro espécies de quebra-pedras. 6-9) Face adaxial. 10-13) Face abaxial. 6 e 10) Phyllanthus tenellus Roxb. 7 e 11) Phyllanthus amarus Schumach. & Thonn. 8 e 12) Euphorbia hyssopifolia L. 9 e 13) Euphorbia prostrata Aiton.
Silva & Sales (2004) descreveram que P. tenellus e P. amarus possuem ramificação
filantóide com ramos pinatiformes (por apresentar folhas dispostas disticamente,
assemelhando-se a uma folha composta pinada) assim como outras espécies do gênero: P.
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minutulus, P.niruri, e P. stipulatus. Segundo (Aita et al., 2009), P. tenellus possui folhas
dispostas opostamente, diferente do que foi descrito neste estudo e por (Silva e Sales,
2007) que confirmam que as folhas em Phyllanthus são alternas. Os caracteres aqui
descritos para E. prostrata se assemelham a descrição feita por (Aita et al., 2009), na qual
acrescenta que as folhas são glabras, com bordo serrado ou esparsamente dentado.
A falta de identificação botânica ou incorreta pode anular todo um trabalho. Além disso,
pode gerar informações incorretas, levar a conclusões errôneas e uso indevido de uma
espécie. Muitos são os casos de intoxicação com plantas, pois as semelhanças morfológicas
levam as pessoas ao consumo de uma espécie acreditando ser outra. A despeito do seu
potencial, produtos preparados com plantas nativas vêm sendo progressivamente excluídos
da medicina oficial devido à ausência de estudos que confirmem suas eficácias, segurança e
qualidade (Verdam & Silva 2010).
Conclusão
Conclui-se que as espécies descritas, tanto as do gênero Phyllanthus quanto do gênero
Euphorbia são bastante semelhantes, porém podem se diferenciar pelas folhas, mais
precisamente pelo ápice, base ou bordo foliar e também pela filotaxia, na qual as espécies
de Phylanthus possuem folhas alternas dísticas e as espécies de Euphorbia possuem folhas
opostas.
Literatura Citada
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228 CONCEIÇÃO & AOYAMA: MORFOLOGIA DOS ÓRGÃOS VEGETATIVOS DE QUEBRA-PEDRA
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