1 - Introdução
A cultura canavieira tem papel muito importante no desenvolvimento
sustentável da unidade que a produz, pois a planta além de gerar inúmeros
produtos finais de uso e consumo humano e animal, tem grande influência no
seqüestro de carbono da atmosfera terrestre.
O trabalho traz uma visão da cultura atingida pela praga, onde é
verificada uma importância ao longo dos tempos com a produção de açúcar e
mais recentemente com a produção de álcool anidro e hidratado. Traz
também características da praga em si, seu comportamento dentro do canavial,
bem como seus danos e principais soluções encontradas atualmente para o
combate a essa importante praga.
A Diatraea Saccharalis é um inseto que tem como hospedeiros, para
alimentação e reprodução da espécie, várias culturas cultivadas pelo homem e
de interesse capital, porém seu principal hospedeiro estudado e verificado que
traz danos mais severos é a cana-de-açúcar, que nas últimas décadas vem
crescendo progressivamente sua área de cultivo.
Ao longo dos anos muito tem se falado da expansão territorial da cana-
de-açúcar, pelo fato da necessidade, além da produção de açúcar, a produção
de combustíveis que afetem menos o meio ambiente e enfraqueça a
dependência dos combustíveis fósseis derivados do petróleo. Com essa
expansão veio também o crescimento dos problemas gerados pela
monocultura. Entre esses problemas, temos o crescimento da população de
pragas que tem a cana-de-açúcar como hospedeira.
3
A Diatraeae saccharalis é a praga que tem se mostrado mais maléfica,
causando danos diretos e indiretos para a cultura e conseqüentemente na
qualidade e quantidade dos produtos finais da cana-de-açúcar.
A lavoura de cana com 1% dos colmos atacados pela broca-da-cana,
pode causar a perda de 35 quilos de açúcar/ha e 30 litros de álcool/ha.
Dependendo da intensidade de ataque, a praga pode vir a inviabilizar o
plantio, trazendo danos irreversíveis. (BUG, Agentes Biológicos,
http://www.biologico.sp.gov.br).
A cadeia produtiva sucroalcooleira visa, cada vez mais, monitorar cada
fase do processo de produção, no intuito de otimizar esse processo e reduzir as
perdas, desde o plantio até o armazenamento do produto final. E a fase do
crescimento vegetativo da matéria-prima no campo, realmente tem papel
muito importante no cenário sucroalcooleiro.
O principal objetivo do presente trabalho é apresentar uma noção geral
acerca dessa importante praga no contexto da produção sucroalcooleira e
apresentar as soluções encontradas para o controle populacional da broca-da-
cana.
4
2 - A História da cana-de-açúcar no Brasil
O cultivo da cana-de-açúcar no Brasil, primeiramente, deu-se em 1533,
com Martim Afonso Pena que trouxe as primeiras mudas de cana-de-açúcar
para o Brasil. Com o intuito inicial de colonizar e explorar o território
brasileiro. Os principais motivos que levaram cultura da cana ser a escolhida
foram: a necessidade de dificultar a entrada de inimigos em território nacional
(a cana-de-açúcar era plantada nas orlas marítimas que dificultavam a invasão
de estrangeiros), além de ser um produto muito consumido na Europa, com
grande valor econômico e capaz de gerar altos lucros. A cana-de-açúcar, com
o passar do tempo, acabou por ser a grande responsável pelo desenvolvimento
econômico da colonização portuguesa no Brasil durante seu início.
A cana-de-açúcar adaptou-se muito bem ao clima e solo da região
nordestina do Brasil, onde foi inserida primeiramente, a partir de então o
plantio da gramínea só passou a crescer e novos engenhos passaram a ser
introduzidos, onde a maior parte da mão-de-obra utilizada nos engenhos eram
de escravos. O plantio da cana-de-açúcar e a produção de açúcar eram
vantajosos, além da já comentada adaptação da planta ao ambiente, pela
proximidade com a Europa, através do atlântico. Com o tempo, o Brasil já
detinha toda a tecnologia de produção de açúcar em comparação com os
maiores produtores (Holanda e China).
Depois do surgimento de centros mais específicos e modernos para
produção de açúcar, a partir do século XX, podemos dividir o Brasil em dois
grandes pólos de produção de cana-de-açúcar: Região da Mata Atlântica e a
região Nordestina.
5
A região da Mata Atlântica compreende principalmente o estado de São
Paulo e o norte/noroeste do estado do Paraná, tem predominância de usinas
mais modernas, já a região nordestina compreende toda orla nordestina,
principalmente os estados de Pernambuco e Alagoas. Com o incentivo do
governo federal para produção de álcool e biodiesel esses pólos
sucroalcooleiros estão cada vez se expandindo mais e para regiões, onde a
produção de cana-de-açúcar não é tradicional, como por exemplo, os estados
do Mato Grosso e de Goiás, que já possuem usina de açúcar e álcool e grande
área de plantio de cana.
Podemos observar a tendência de crescimento da área de plantio
destinada a cana-de-açúcar no Brasil, através de dados da EPE (Empresa de
Pesquisa Energética), que aponta que atualmente o Brasil tem 7 milhões de
hectares com o plantio de cana produzindo 6,9 bilhões de litros de etanol por
ano e 495 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. A meta estipulada pelo
governo até 2030 é de produzir 13,9 bilhões de litros de etanol/ano (1 bilhão
de toneladas de matéria-prima), portanto precisaremos duplicar a área de
plantio.
Dados recentes do ministério do Meio Ambiente, ministrado pelo atual
ministro Carlos Minc, apontam que no Brasil há 40 milhões de hectares de
terra disponíveis para essa expansão (excluindo Amazônia e Pantanal), além
de terras utilizadas pela pecuária extensiva, que são manejadas de forma
errada.
Esse crescimento é possível além do apoio do governo com metas e
subsídios, pela tecnologia empregada ao longo dos anos com estudos que
6
geram cultivares adaptáveis aos variados tipos de solos e resistentes a pragas,
doenças e ao clima.
2.1 – Ocorrências importantes na Cadeia Produtiva da cultura
• 1516 – O rei de Portugal, D. Manuel faz o primeiro incentivo para
promover o plantio da cana, solicitando pessoas para esse plantio.
• 1532 – É fundado o primeiro engenho de açúcar no Brasil, O fundador é
Martim Afonso e o local é São Vicente, atual estado de São Paulo.
• 1535 – É fundado o primeiro engenho de açúcar no nordeste: o
fundador é Jerônimo de Albuquerque.
• 1838 –Martinica, uma colônia francesa situada no Caribe, inicia a
fabricação de papel, a partir do bagaço de cana.
• 1879 – Ira Remsen e Constantine Fahlberg, descobrem uma substância
sintética 300 vezes mais forte que a sacarose, a sacarina.
• 1975 – O Brasil, com a criação do PróAlcool (Programa Nacional do
Álcool), aposta na fabricação de álcool como combustível, hoje
considerado pouco poluente, e cresce a produção de carros movidos a
álcool.
• 1990 – Com a queda nos preços do petróleo no mercado internacional, o
PróAlcool entra em crise no País. Governo Collor extingue o IAA
(Instituto do Açúcar e do Álcool) que incentivava a produção de álcool
no Brasil.
7
• 1993 – Criada a Lei Nº 8.732, que determina a mistura de álcool anidro
como aditivo da gasolina (na faixa de 20% a 25%).
• 1998 – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) inicia
pesquisas com cana transgênica.
• 2003 – Projeto “Genoma da Cana” conclui mapeamento de 90% do
código genético da cana-de-açúcar, abrindo campo para pesquisas de
novas espécies de interesse econômico para produtores de cana-de-
açúcar.
• 2007 - O Presidente dos EUA anuncia a decisão de substituir até 2017
20% da gasolina consumida pelo equivalente a 132 bilhões de litros de
combustíveis renováveis.
• 2009 Governo brasileiro através do Presidente Lula e ministros,
apontam pretensão de produção de etanol 100% verde, sugerindo metas
de produção e zoneamento agroecológico da expansão da cultura com
diminuição das queimadas e exclusão de áreas como Amazônia e
Pantanal para produção da cultura.
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3 – Características da Broca-da-Cana
A Diatraea saccharalis, popularmente conhecida como broca da cana-
de-açúcar, é um inseto de metamorfose completa e a duração do seu ciclo
biológico é bastante variável, dependente de inúmeros fatores, principalmente
do clima e da planta hospedeira. Este inseto é considerado uma das principais
pragas da cultura canavieira, devido os grandes prejuízos que causa à
agroindústria sucroalcooleira, como veremos no item 4.
Os estudos relacionados com a morfologia, fisiologia e biologia
molecular da Diatraeae saccharalis estão cada vez mais fraquentes aos longos
dos anos, para melhorar cada vez mais o programa de controle a praga, pois é
necessário um conhecimento do comportamento da praga durante todo o
período dentro da cultura hospedeira.
A Diatraea saccharalis, (Fabricius, 1794), da família lepidoptera, é um
inseto de metamorfose completa que passa por todas as fases como insetos
dessas características: fases de ovo, larva, pupa e adulto. (GALLO, et al,
Entomologia agrícola, 2002).
Freqüentemente o inseto põe seus ovos nas folhas ainda verdes, tanto na
face abaxial quanto adaxial da folha. Os ovos têm formato oval e achatado,
9
sendo depositadas em grupos. Essa massa de ovos, de número bastante
variável, em média 12, podendo chegar a algumas dezenas.
A coloração inicial dos ovos é amarelo-pálida e com o desenvolvimento
vão adquirindo cor rósea até chegar ao marrom, que é quando estam bem
próximos a eclosão dos ovos para nascimento das larvas. A duração desta fase
de ovos vai variar em função da temperatura, sendo nas condições brasileiras
de uma a duas semanas. (GALLO, et al, Entomologia agrícola, 2002)
As lagartas eclodem após e dirige-se para a região do cartucho da planta
a procura de abrigo e alimento, essa entrada ocorre principalmente perto dos
entre-nós onde o material é mais mole e permite a entrada das lagartas. As
lagartas primeiramente se alimentam fora do colmo, através da folha ou da
casca do entrenó em formação, para depois de aproximadamente 10 dias terem
a possibilidade de fazerem um orifício no colmo e adentrarem na planta,
ocasionando o enfraquecimento da planta em resistência ao acamamento.
Enquanto larva, o inseto sofre de cinco a seis ecdises (Ecdises são trocas
do seu exoesqueleto, a broca tem inúmeras vantagens com esse processo
evolutivo como a perda de peso para locomoção e o próprio tamanho do
exoesqueleto, que após algum tempo fica apertado). Após geralmente 40 dias
atingem seu desenvolvimento larval total, seu tamanho vai variar de 2 a 3
centímetros de comprimento.
Após o período larval, o inseto entra na fase de pupa, onde medem cerca
de 1,7 cm de comprimento e 0,4 cm de largura. Inicialmente, possuem
coloração marrom clara, mas com o desenvolvimento vão adquirindo
coloração mais escura, durando esse estágio de 9 a 14 dias.
10
O adulto emerge pelo orifício anteriormente feito pela lagarta. O ciclo
biológico completo leva cerca de 53 a 60 dias.
O período do ciclo do inseto mais preocupante para a cultura canavieira
e onde ocorrem os principais problemas com o ataque da broca, é no período
larval, onde a larva fica alojada dentro do colmo da cana e vai criando galerias
na planta e causando muitos estragos que veremos no próximo capítulo.
4 – Principais prejuízos causados pela Broca-da-cana
O ataque da broca na cana-de-açúcar ocorre durante todo o ciclo de
desenvolvimento da lavoura. Nota-se que a incidência é menor quando a cana
é jovem e não apresenta entre-nós formados, aumentando os danos com o
crescimento da planta. No entanto, esse comportamento pode variar em função
da época do ano e da variedade de cana, principalmente.
Como tendência geral, as canas-plantas (que não passaram por nenhum
corte) sofrem ataques mais severos quando comparadas às socas (que já
sofreram cortes), isso ocorre pelo fato da cana nova possuir um maior vigor
vegetativo e ficar exposta durante um período maior à praga. Ao mesmo
tempo, nesses canaviais, a atuação dos inimigos naturais é menor em função
das diversas práticas culturais visando à instalação da cultura.
Na fase larval, a Diatraea saccharalis causa danos de ordem direta e
indireta. Os danos diretos ocorrem do próprio ataque da larva pela interior da
cana, a praga se alimenta do tecido do colmo gerando galerias e causando
diminuição do peso e de valores nutritivos da planta que conseqüentemente
irão gerar redução da qualidade e quantidade dos produtos finais, além de
11
deixar a cana-de-açúcar mais susceptível a um acamamento e um
tombamento, pois seu colmo estará mais fraco. Já os danos indiretos estão
relacionados com a entrada de outros microrganismos que irão causar a
inversão da sacarose e afetar a qualidade da matéria-prima da indústria
sucroalcooleira. Os principais microorganismos que se aproveitam das
galerias feitas pela broca para se alimentar e se reproduzir são os fungos
Fusarium moniliforme e Colletotricum falcatum, que causam doença fúngica
conhecida como podridão.
Esses danos, tanto a perda de massa quanto a entrada de
microorganismos invasores, vai levar a um menor rendimento de açúcar e
contaminações da fermentação alcoólica com menor rendimento do álcool.
Na tentativa de calcular a porcentagem de danos e infestação causados
pela broca-da-cana, para um manejo da praga mais eficiente, foi sugerido uma
avaliação da intensidade de infestação em percentagem (II%), cuja fórmula foi
criada a partir de estudos, onde é utilizada largamente após amostragem em
campo e é expressa por:
onde:
II% = intensidade de infestação em percentagem
NEB = número de entrenós brocados;
NTE = número total de entrenós
12
É sugerido a coleta de 30 colmos por hectare para determinação de
intensidade de infestação. Esse índice é importante pois através dele que é
conhecido uma amostragem da população da praga na lavoura e feito todo
manejo de controle da praga. (Macedo & Botelho, Controle Biológico da
Broca da Cana-de-açúcar. MANUAL DE INSTRUÇÕES, 1983)
Os prejuízo se agravam pois quando a broca já está dentro no colmo da
cana, o uso de pesticidas e controladores químicos tornam-se pouco eficientes
por não conseguirem atingir a larva que está “escondida” dentro da planta,
5 – Controle da praga
O maior problema quanto ao controle da broca da cana-de-açúcar
(Diatraea saccharalis) é a localização do inseto em sua fase de maior ataque a
planta, o inseto passa a maior parte da sua vida dentro da cana, e assim torna-
se uma praga de difícil controle químico, pois o veneno quando aplicado
dificilmente atingirá o parasita que está dentro do colmo.
Para o controle biológico dessa praga, pode ser usada a vespa conhecida
como Cotesia flavipes, que através de sua ovoposição na lagarta da broca,
deposita um lote de ovos sobre ela, fazendo com que a lagarta inche e sirva
para o desenvolvimento larval e formação de casulo da vespinha. Com isso a
lagarta irá morrer sem completar seu ciclo. Para produção dos parasitóides,
são necessários requisitos essenciais como equipamentos, pessoal treinado e
dimensionamento adequado ao objetivo da produção, que veremos mais
detalhadamente no item .
13
Como o controle químico é muito pouco utilizado e não tem muita
eficiência daremos ênfase ao controle biológico, que é o mais utilizado pelos
produtores de cana-de-açúcar.
5.1 – Controle Biológico
O Controle biológico visa utilizar um parasita natural para combater
através do parasitismo direto a população da praga em ocorrência e diminuir
ou acabar com a incidência dos danos causados por determinada praga. “Pois
todas as espécies de plantas e animais possuem inimigos naturais que atacam
seus vários estágios de vida” (LEAL, 2007).
O controle biológico, pode ser visto sob dois aspectos: o controle
biológico natural, onde o controle ocorre de forma natural sem imposição ou
criação em laboratórios do parasita que vai controlar a praga existente e o
controle biológico aplicado que envolve a intervenção humana (a produção
dos inimigos naturais em laboratório para posterior liberação à cultura).
O controle biológico é um componente do Manejo Integrado de Pragas
(MIP) que visa controlar as pragas de modo a minimizar as perdas econômicas
causadas pela praga, juntamente com outros métodos de controle auxiliam na
manutenção da cultura instalada sem que haja um custo relativamente alto e
um controle eficiente.
Atualmente nota-se uma demanda e uma tendência da utilização do
controle biológico em comparação a controle químico no Brasil, justamente
buscando baixo custo e alta eficiência.
14
Os parasitóides são os mais utilizados no controle de pragas, pela sua
taxonomia, baixo custo, fácil manipulação e por se alimentarem da própria
praga (em uma certa fase da vida), não sendo necessária a criação de uma
dieta para eles. Os parasitóides são organismos intermediários entre
predadores e parasitas. Eles possuem algumas características de parasitas
porque têm um hospedeiro específico e alto potencial biótico (capacidade
natural de crescimento da população), residindo no interior de um hospedeiro
vivo e comendo seus tecidos, que por conta disso fazem também o papel de
predador, pois inevitavelmente matam seus hospedeiros.
5.1.1 – Características dos parasitóides
Os principais parasitóides utilizados para o controle da D. saccharalis
são três: Cotesia Flavipes, Metagonistylum minense e Paratheresia
claripalpis.
Segundo estudos realizados acerca dessas espécies, por Macedo, et al,
(1983), mostram que no controle da broca-da-cana, utilizando esses três
insetos parasitas, o que apresentou maior eficiência de parasitismo foi a
Cotesia flavipes, com uma participação de mais de 70% no parasitismo total
obtido no estudo. Essa eficiência é vista até hoje nos canaviais brasileiros.
A introdução do parasitóide Cotesia flavipes veio dinamizar o controle
biológico da broca da cana-de-açúcar no Brasil pela rápida adaptação deste
parasitóide nas diferentes regiões canavieiras do país, bem como o
desenvolvimento de uma fácil tecnologia para sua produção em larga escala,
15
possibilitaram a montagem de laboratórios em unidades industriais e
associações de plantadores de cana, em vários estados produtores de açúcar. A
partir deste momento, o controle biológico da broca através da utilização dos
seus inimigos naturais tornou-se uma prática bastante difundida e usada nas
usinas de cana-de-açúcar em todo o Brasil.
A vespa Cotesia flavipes é da ordem hymenoptera e da família
Braconidae. É uma vespa endoparasitóide originária da Ásia e introduzida no
Brasil para ser utilização no controle de lagartas da broca-da-cana.
(Laboratório de Biologia Comparada de Hymenoptera do Departamento de
Zoologia UFPR, http://zoo.bio.ufpr.br/hymenoptera/index.htm).
O termo endoparasitóide significa que as vespas parasitóides
desenvolvem-se dentro das larvas ou das pupas de outros insetos, se
alimentando do inseto parasitado causando a morte do hospedeiro, no caso da
Cotesia flavipes, se desenvolve dentro das lagartas da Diatraeae saccharalis,
onde a fêmea, que possui antenas menores que as do macho, irão depositar
seus ovos no hospedeiro.
5.1.2 – Criação massiva da vespa
A eficiência do controle biológico através da criação e liberação das
vespas é comprovado se aliado ao treinamento e comprometimento da equipe
de colaboradores do laboratório e a liberação freqüente desses parasitóides.
No Brasil já temos vários centros de criação do inimigo natural da
broca-da-cana, devido ao custo/beneficio desse controle ser viável para as
usinas e produtores. São utilizadas as próprias brocas como hospedeiras para
inoculação das vespas.
16
O processo de criação da população da Cotesia para controle a broca
inicia-se com a inoculação dos ovos dos adultos da broca-da-cana em frascos
com uma dieta própria para o desenvolvimento da larva. Assim que as larvas
da broca eclodem, estas são inoculadas com a fêmea adulta da vespa Cotesia
em outro recipiente, a vespa vai depositar seus ovos dentro da larva da broca,
matando-a e servindo como hospedeira da massa de ovos da vespa. Essas
massas, contém em média de 60 a 70 ovos da vespa e são armazenadas
geralmente em copos, para liberação em campo. Cada copo são colocados 25
massas.
A liberação das vespas ocorre dependendo da densidade populacional
da broca, para saber quando e quanto liberar os parasitóides, (essa liberação é
feita de acordo com a intensidade de infestação). A UDOP (União dos
produtores de Bioenergia) recomenda a liberação de 6.000 vespas por hectare
(4 copos por hectare) quando a intensidade de infestação chegar a 3%, ou em
áreas com grande infestação recomenda-se a liberação de 8 copos com 15
massas (o número de vespas é o mesmo porém a liberação é mais homogênea
e mais eficiente).
A indicação para a liberação da Cotesia flavipes, é que deve ser feita no
início da manhã ou final da tarde, evitando sol, frio, chuva e orvalho. Entrar
no talhão, no sentido das linhas de cana, caminhando com o copo aberto e a
cada 30 metros depositá-lo, aberto, na bainha da cana com a abertura contrária
à luz do sol, na posição horizontal.
17
6 - Discussão
Realmente não podemos negar, diante dos fatos, que a cultura
canavieira vem crescendo e tem muito a crescer no Brasil. Primeiro pela
facilidade da planta com clima e solo dos pólos produtores, também pela
diversificação dos seus produtos: plástico, papel, ração, fertilizantes, tecidos,
proteínas, próteses, colágeno, medicamentos, além do açúcar, álcool, cachaça,
melado e rapadura, e finalmente pelo sentido ambiental e da dependência de
combustíveis derivados do petróleo.
Todas as projeções dos produtores e do governo são muito otimistas
para a expansão da área cultivada pela cultura, além dos avanços tecnológicos
gerando aumento da produtividade da cana-de-açúcar, há uma certa
necessidade por essa expansão, por parte do governo, pois foram traçadas
metas para a produção, principalmente de etanol (que juntamente com o
açúcar são os principais produtos da cultura).
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Dentro desses avanços tecnológicos, os que trazem a médio e longo
prazo um aumento na produtividade da cultura, estão: tratos culturais mais
benéficos, manejo do solo e adubação cada vez mais equilibrados, geração de
cultivares cada vez mais adaptáveis a determinada região de cultivo e também
uma melhora no manejo integrado de pragas e de doenças.
Prevendo todos os benefícios e a importância dessa cultura para o
desenvolvimento sócio-econômico do país, desde a criação da PróAlcool
(Programa Nacional do Álcool) em 1975 e entrada da Lei Nº 8.732 (que
determina a mistura de álcool anidro na gasolina, em 1993), vários estudos
começam a ser feitos em cima dos principais problemas que a cultura
apresenta.
Focando mais precisamente no tema em questão, desde então foi notado
os estragos que a broca-da-cana pode causar se atacar a cultura canavieira. A
primeira saída seria o uso de pesticidas que controlariam a população a um
nível aceitável, porém o grande problema do uso de venenos para controle da
broca é que a calda precisa atingir a larva da broca para ter efeito e matá-la.
No caso da Diatraea saccharalis durante o período mais crítico de ataque a
larva aloja-se dentro da cana impossibilitando a eficiência dos pesticidas para
seu devido controle, a saída seria o uso de cultivares resistentes à praga ou o
controle biológico.
Como vimos anteriormente o uso de parasitóides tiveram grande
sucesso no controle na praga, principalmente a Cotesia flavipes. Os estudos e
o incentivo quanto a variedades resistentes ou tolerantes a essa praga vem
sendo feito, porém o que faz com que esses estudos caminhem um pouco mais
devagar é o sucesso do controle biológico que cada vez é feito de forma mais
eficiente e com custos mais baixos em relação ao custo total de produção.
19
São vários os fatores observados para o sucesso do controle através da
vespa Cotesia: a adaptabilidade da vespa com a cultura e o clima das diversas
regiões; o custo de produção da população da vespa ser baixa; a vespa após
parasitar a broca, matá-la e se tornar vespa, morre por não ter mais hospedeiro
na lavoura, não causando assim descontrole na cadeia biológica do sistema de
produção da cana-de-açúcar; sua alta eficiência, pois a vespa fêmea tem alto
porcentagem de parasitismo, ela encontra rapidamente a larva da broca dentro
do colmo, se insere e deposita seus ovos que vão se alimentar do tecido da
larva e matá-la. A vespa é atraída por uma substância das fezes da larva da
broca-da-cana, por isso o alto índice de eficiência de parasitismo.
Os dados quanto à eficiência do parasitóide realmente são ótimos,
porém como todo ser vivo, a tendência da broca é com o passar do tempo ir
criando resistência ao ataque da vespa, o que já é estudado por centros de
tecnologias. Com essa possibilidade, a tendência para o futuro está voltado em
aumentar a eficiência da vespa através de outros biótipos da própria Cotesia
flavipes, outras espécies de parasitóides para a broca e também a tecnologia
genética com cultivares resistentes através de melhoramento genético ou
transgenia (com a introdução de um gene de outra espécie ao DNA da cana-
de-açúcar que seja resistente ao ataque da Diatraea saccharalis).
Outra técnica de controle biológico que está sendo estudado e também
já é utilizado como controle biológico é a pulverização de isolados do fungo
Beauveria bassiana que também parasita a broca-da-cana. Este fungo também
tem uma boa resposta quanto ao controle da broca-da-cana sendo bastante
utilizado em condições de pico de infestações da praga e quando a vespa não
estaria disponível no mercado para compra. Os esporos dos isolados do fungo
são pulverizado na lavoura com intuito do controle das larvas da broca e com
20
benefício de conseguir ter efeito na broca adulta também, sem danos para a
cultura da cana-de-açúcar e para o meio ambiente.
O modelo usado atualmente visto como eficiente no manejo integrada
de pragas (MIP) na cultura canavieira para a broca-da-cana é uso associado do
parasitóide Cotesia flavipes e a pulverização do fungo Beauveria bassiana,
que juntos realmente possibilitam uma diminuição drástica na população da
Diatraea saccharalis.
Podemos perceber através das parceiras feitas entre multinacionais,
associações e usinas produtoras de açúcar e etanol que o futuro está voltado
para a biotecnologia genética com a inserção de genes de outras espécies na
cana-de-açúcar. Uma das tendências para a cana-de-açúcar é a cana Bt. O
termo “Bt” vem de uma bactéria (Bacillus thuringiensis), onde um de seus
genes é incorporado através de engenharia genética à planta, dando assim a
planta uma proteção “natural” contra larvas de insetos, a principal grande
novidade foi o milho Bt que através dessa tecnologia tornou-se resistente ao
ataque da broca-do-cartucho, importante praga da cultura do milho. Para a
cana espera-se o mesmo, onde haja um cultivar de cana-de-açúcar transgênica
Bt, resistente ao ataque da broca-da-cana. A planta que possui esse gene não é
atacada, pois passa a produzir proteínas tóxicas aos insetos (no caso da
bactéria Bacillus thuringiensis, a proteína criada é a Cry) , que se ingerida
pelos insetos, causam a morte dos mesmos.
21
7 – Conclusão
A cana-de-açúcar tem papel decisivo na produção de produtos
essenciais para vida moderna atual, além de ajudar na produção de biomassa
que tem inúmeras finalidades também.
A principal praga causadora de danos diretos e indiretos na cultura
canavieira é sem dúvida a Broca-da-cana (Diatraea Saccharallis), que é um
inseto que na sua fase larval faz galerias dentro do colmo da planta que traz
diminuição de biomassa e aumenta a probabilidade da entrada de novos
fungos invasores.
O grande problema do combate a essa praga é sua localização. Durante
todo período de ataque ela se localiza dentro do colmo, o que dificulta a ação
de pesticidas e controles manuais.
22
A forma de controle mais utilizada e que vem trazendo melhores
resultados é o controle biológico, com a utilização principalmente da vespa
Cotesia flavipes, que tem se mostrado muito eficiente nesse controle.
8 – Bibliografia
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LEAL, W. C. O; Controle biológico da broca da cana-de-açúcar, Instituto de Ciências Agrárias, Programa de Pós-graduação em Agronomia, UFU, 2007;
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Site da União dos produtores de Bioenergia, disponível em http://www.udop.com.br/;
Site do Instituto biológico de São Paulo – Secretaria da agricultura e abastecimento do Estado de São Paulo, disponível em http://www.biologico.sp.gov.br/;
Site da BUG - Agentes Biológicos, disponível em http://www.bugagentesbilogicos.com.br/;
Site Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao ministério de Minas e Energia, disponível em http://www.epe.gov.br.
24
25
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