O CONTRASTE DAS OBRAS DE CONTENÇÃO NA PAISAGEM DAS ESTRADAS. ESTUDO DE CASO: TRECHO DE SERRA DA RODOVIA
DOS TAMOIOS.
SANTOS, PALLOMA R. C. (1); ARAUJO, VINICIUS H. (2); PONCHIO, SCOTHY W. B. (3)
1. Instituto Federal de São Paulo. Campus São Paulo. Departamento de Construção Civil.
2. Instituto Federal de São Paulo. Campus São Paulo. Departamento de Construção Civil. [email protected]
3. Instituto Federal de São Paulo. Campus São Paulo. Departamento de Construção Civil.
RESUMO
Realizar as viagens de carro pode dar maior liberdade em optar pelos horários mais adequados e o usuário tem a chance de desfrutar da paisagem. Tornar a paisagem da rodovia um atrativo aos turistas, pode gerar um turismo diferenciado. Contudo, as estradas no Brasil apresentam muitos problemas, desde pavimentação, manutenção e infra-estrutura. Um dos problemas recorrente e que será focado neste trabalho são as obras de contenção principalmente as construções improvisadas devido às movimentações de terra próximas das rodovias. Para evitar e conter essa movimentação nas estradas é necessário a realização de obras de contenção para estabilização de taludes. A importância dessas obras para a segurança do usuário é inquestionável, entretanto geram normalmente grande impacto visual na paisagem. O objetivo deste trabalho é analisar e verificar opções de minimizar este impacto, sem negligenciar a segurança. Com o estudo de caso será apresentado o trecho de serra da rodovia dos Tamoios, onde em aproximadamente 14km de rodovia pode-se observar diferentes situações de contenção. A partir de um estudo de campo exploratório será verificado como as mesmas afetem a paisagem da região. Em projetos de estabilização de taludes, não se pode ignorar que a natureza não se repete, e portanto, a adoção de uma solução deve estar embasada em estudos cuidadosos, que consideram as características do meio físico e os processos de estabilização envolvidos. Palavras-chave : Contenção; deslizamento; paisagismo.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
INTRODUÇÃO
Um dos fatores que utiliza-se para avaliar o desenvolvimento de um país é infra-estrutura
adequada. As estradas no Brasil apresentam muitos problemas, desde pavimentação,
manutenção e infra-estrutura.
Apenas 10% dos pouco mais de 1,7 milhões de quilômetros de estradas brasileiras são
pavimentadas, segundo dados do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes
(DNIT, 2014), conforme ilustra a Figura 1. Isso já reduz bastante as possibilidades de viagens
em estradas com estrutura de boa qualidade. A falta de pavimentação é apenas um dos
problemas da infraestrutura logística brasileira. Entretanto, viajar de carro é uma escolha para
muitos e até mesmo necessidade.
Figura 1 – Situação das estradas brasileiras (Pavimentação)
Fonte: Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT, 2014).
Um problema recorrente das estradas e que será focado neste trabalho são as obras de
contenção, principalmente as improvisadas realizadas nas rodovias, devido a movimentação
de terra.
Os movimentos de solo são objeto de interesse de grande parte de pesquisadores,
planejadores e/ou administradores públicos, haja vista que podem atingir áreas com
importante infraestrutura para um país, como, por exemplo: oleodutos, gasodutos, aquedutos,
rodovias, linhas de transmissão, além de complexos industriais e centros urbanos, tendo
como consequência mais grave a perda de vidas humanas (GOMES, 2006, p. 18).
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
O deslizamento de terra é o movimento de descida de material encosta abaixo. Tal processo
decorre tanto de causas naturais quanto por ações desenvolvidas imprudentemente pelo
homem, ocasionando perdas humanas e de materiais. Para evitar e conter essa
movimentação nas estradas é necessário a realização de obras de contenção para
estabilização de taludes.
Em projetos de estabilização de taludes, não se pode esquecer que cada caso é um caso a
natureza não se repete, e, portanto, a adoção de uma solução deve estar embasada em
estudos cuidadosos, que consideram as características do meio físico e os processos de
estabilização envolvidos (CARVALHO,1991). A importância dessas obras para a segurança
do usuário é inquestionável, entretanto geram normalmente grande impacto na paisagem. O
objetivo deste trabalho é analisar e ver opções de minimizar este impacto, sem negligenciar a
segurança.
Realizar as viagens de carro pode dar maior liberdade em optar pelos horários mais
adequados e o usuário tem a chance de desfrutar da paisagem. Muitos dizem que o melhor da
viagem pode começar antes mesmo da chegada ao destino final. Tornar a paisagem da
rodovia um atrativo aos turistas, pode gerar um turismo diferenciado, como motociclista,
ciclista e o ecoturismo uma das áreas que mais cresce na economia.
OBJETIVO
Como principal objetivo, este trabalho visa ampliar os estudos sobre os deslizamentos de terra
nas estradas, levando em consideração não só as causas naturais e antrópicas, mas também
o desenvolvimento de idéias e o aperfeiçoamento de projetos para a diminuição do impacto
dessas estruturas na paisagem local.
METODOLOGIA
Inicialmente, foi desenvolvido uma revisão bibliográfica sobre os tipos de movimentação de
massa, agentes causadores, consequências, medidas usuais para prevenção, bem como a
análise da eficiência das referidas medidas.
Também foi realizado um estudo de campo explanatório para caracterizações qualitativas e
quantitativas in situ dos métodos de contenção utilizados na Rodovia dos Tamoios.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
O estudo de campo consiste em técnicas de observação focalizada em uma comunidade,
analisando-se diretamente as atividades para captar as interpretações do que ocorre no local.
Ademais, outros procedimentos ocorrem concomitante, como: análise documental e
fotográfica (GIL, 2002, p. 53).
Foi decido realizar o estudo na Rodovia dos Tamoios, primeiro pois em 1967, o município de
Caraguatatuba foi vítima de uma catástrofe que destruiu o trecho em serra, sendo necessária
a reconstrução da rodovia, e segundo pois esta dentro do Parque Estadual Serra do Mar,
maior corredor biológico da Mata Atlântica no Brasil.
DESENVOLVIMENTO
Movimentos de massa
Conceito
Consonante com a definição proposta por Montoya (2013, p. 18), movimentos de massa
compreendem os processos geológicos exógenos que envolvem mobilização de detritos e
material rochoso e/ou terroso em direção a partes mais baixas por ação da gravidade.
Em vista dos diversos incidentes que ocasionaram enormes prejuízos no país, o fomento à
pesquisa nesta área pode colaborar para a parametrização dos diversos tipos de
deslizamentos que ocorrem no país. No Quando 1 apresentamos os principais tipos de
movimentos gravitacionais de massa de acordo com Augusto Filho.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Quadro 1 – Principais tipos de movimentos gravitacionais de massa
Processo Características
Rastejo (creep)
Vários planos de deslocamento (internos);
Velocidades muito baixas (cm/ano) a baixas e decrescentes com a
profundidade;
Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes;
Solo, depósitos, rocha alterada/fraturada;
Geometria indefinida.
Escorregamentos
(slides)
Poucos planos de deslocamento (externos);
Velocidades médias (m/h) a altas (m/s);
Pequenos e grandes volumes de material;
Geometria e materiais variáveis;
Planares – solos poucos espessos e rochas com um plano de
fraqueza;
Circulares – solos espessos homogêneos e rochas muito
fraturadas;
Em cunha – solos e rochas com dois planos de fraqueza.
Quedas (falls)
Sem planos de deslocamento;
Movimentos tipo queda livre ou em plano inclinado;
Velocidades muito altas (vários m/s);
Material rochoso;
Pequenos a médios volumes;
Geometria variável: lascas, placas, blocos, etc.;
Rolamento de matacão e tombamento.
Corridas (flows)
Muitas superfícies de deslocamento;
Movimento semelhante ao de um líquido viscoso;
Desenvolvimento ao longo das drenagens;
Velocidades médias a altas;
Mobilização de solo, rochas, detritos e água;
Grandes volumes de material;
Extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas.
Fonte: Augusto Filho (1992).
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Agentes deflagradores
Os agentes deflagradores dos movimentos de massa são fatores que induzem o dinamismo
dos diversos fenômenos anteriormente expostos.
[...] A deflagração das instabilizações de taludes e encostas é controlada por
uma cadeia de eventos, muitas vezes de caráter cíclico, que tem sua origem
com a formação da própria rocha e toda sua história geológica e
geomorfológica subsequente, como movimentos tectônicos, intemperismo,
erosão, ação antrópica, etc. (AUGUSTO FILHO e VIRGILI, 1998, p. 245).
A identificação dos eventos responsáveis pela movimentação de massa se torna importante
para que, eventualmente, possam ser adotadas medidas corretivas ou preventivas no maciço.
Guidicini e Nieble (1984) distingue os agentes deflagradores em predisponentes e efetivos,
como exposto no Quadro 2:
Quadro 2 – Agentes deflagradores dos movimentos de massa
Agente Descrição
Predisponentes
Condições geológicas (ângulo de atrito, permeabilidade, coesão, etc.),
geométricas e climática-hidrológicas em função apenas de condições
naturais, não atuando qualquer forma de ação antrópica
Efetivos
Elementos diretamente responsáveis pelo desencadeamento do movimento
de massa, incluindo-se a ação antrópica, podendo ser preparatório
(pluviosidade, ações humanas, desflorestamento, etc.) ou imediato (chuva
intensa, terremoto, vento, etc.)
Fonte: Guidicini e Nieble (1984).
Vieira (2007, p. 30) discorre que a forma, orientação e declividade das encostas também
devem ser consideradas como fatores que também podem ser agentes que afetam a
estabilidade de um maciço.
Ressalta-se, ainda, que a ocorrência de um movimento de massa pode ser ocasionada por
mais de um agente, isto é, pela combinação de ações. A exemplo disso está o deslizamento
de terra ocorrido em 1985 em Mameyes – Porto Rico. Segundo o United States Geological
Survey (USGS, 2008), o movimento de massa que ocasionou a destruição de 120 casas e
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
matou ao menos 129 pessoas foi provocado por tempestade tropical com chuvas
extremamente pesadas, além da saturação do solo por vazamento de tubulações de esgoto
em área extensamente povoada (ação antrópica) no cume do deslizamento.
Neste trabalho daremos ênfase nas chuvas devido ao seu nível de risco no Brasil, conforme
Montoya (2013, p. 44), e nas ações antrópicas devido às inúmeras causas apontadas por
Highland e Bobrowsky (2008), uma vez que a ação destes agentes pode ser prevista e a partir
disso medidas podem ser tomadas para evitar eventuais catástrofes.
De acordo com Tominaga et al. (2009), escorregamento de solos e/ou rochas, ocorrem
geralmente associados a eventos pluviométricos intensos e prolongados durante os períodos
chuvosos, que, na região tropical brasileira, corresponde ao verão, especificamente nos
meses que iniciam o ano.
Por exemplo, no estado de São Paulo, conforme Figura 2 os meses em que houve maior
número de registro de eventos de movimentação de massa correspondem aos meses com
índices pluviométricos mais altos apresentados na Figura 3.
Figura 2 - Frequência mensal de movimentos de massa no Estado de SP, período de 1991 a 2010.
Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2011).
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Figura 3 – Médias pluviométricas em 2010 no Estado de São Paulo
Fonte: Agência Nacional de Águas (ANA, 2010) e UFSC (2011).
As características hidráulicas e hidromecânicas do terreno e a condição de saturação do solo
são fatores determinantes na estabilidade das encostas e taludes já que as chuvas possuem
dois efeitos, sendo eles: diminuição da coesão aparente dos materiais e aumento da
poropressão (MONTOYA, 2013, p. 21).
Quando há ocorrência de precipitações, a água chega à superfície de um solo não saturado,
podendo infiltra-lo na direção vertical em decorrência concomitante das forças capilares e
gravitacionais (GERSCOVICH, 2012, p. 63).
Desta forma, Gerscovich (2012, p. 68) discorre que a água passa a ocupar os espaços
existentes entre as partículas elevando a poropressão, isto é, reduzindo a pressão efetiva
entre as partículas do solo e consequentemente a resistência ao cisalhamento, o que pode
ocasionar uma ruptura do maciço e facilitar a movimentação em massa.
Além disso, dependendo da duração e da intensidade da chuva, a água ao incidir sobre uma
encosta ou talude pode escoar sobre a superfície, carreando solo e outros detritos e
consequentemente originando escorregamentos, conforme elucidado anteriormente
(GERSCOVICH, 2012, p. 25). Neste passo, Vieira (2007, p. 13) discorre que há formação de
fluxo paralelo à encosta, pois existe uma camada menos permeável sob outra passível de
movimentação, acarretando o rompimento e o início do deslizamento.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Do mesmo modo que a pluviometria pode ocasionar um incidente, as atividades humanas
podem contribuir e/ou desencadear os movimentos terrosos e/ou rochosos. Highland e
Bobrowsky (2008) citam alguns destas atividades, listadas a seguir:
Escavação de taludes e encostas na sua base;
Uso e ocupação de locais instáveis para construção;
Sobrecaraga em locais com declive ou crista, tais como aterros no topo de uma
encosta ou talude;
Desmatamento, desflorestamento;
Irrigação;
Atividades explosivas ou vibratórias de grande intensidade, tais como cravação de
estacas;
Vazamento de água de infraestruturas;
Desvios (planejados ou não) de um recurso hídrico, através da construção de pilares,
barragens, diques, etc.
Alterar as configurações geométricas de um talude ou uma encosta, acrescentando-lhes uma
sobrecarga na região superior (crista) ou então, retirando parte de sua massa na região
inferior (base) pode desencadear a instabilidade da massa terrosa e/ou rochosa (GUIDICINI;
NIEBLE, 1984, p.53). A exemplo destas alterações estão as obras de preparação do terreno
(cortes e aterros) que, se executadas incorretamente, podem induzir o aumento das tensões
cisalhantes (GERSCOVICH, 2012, p. 33).
A expansão urbana que ocorre nas cidades e as dificuldades socioeconômicas levam ao
surgimento de favelas, por exemplo, em diversos municípios brasileiros. Em geral, as favelas
ocupam locais menos privilegiados, com relevos montanhosos e mais favoráveis aos
deslizamentos. Para construção destas moradias precárias e vias de acesso às favelas, tem
sido realizados cortes em locais instáveis, induzindo consideravelmente a ocorrência de
deslizamentos. Analisando o processo de ocupação da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro,
concluiu-se que mais de 50% dos 242 escorregamentos registrados ao longo da história do
maciço estavam relacionados à expansão das favelas no local (FERNANDES et al.,1999).
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Contenções e Prevenções
Ações mitigadoras dos movimentos de massa incluem todas as atividades que objetivam
amenizar as consequências ou mesmo evitar a ocorrência dos fenômenos anteriormente
apresentados neste trabalho. Cerri et al. (2007) apresenta algumas tipologias de intervenções
focadas na redução de riscos, como pode ser visto no Quadro 3.
Quadro 3 – Tipologia de intervenções focadas à redução de riscos identificados
Tipo de Intervenção Descrição
Serviços de limpeza e
recuperação
Correspondem a serviços manuais e/ou utilizando equipamentos de
pequeno porte para remoção de resíduos e recuperação de
sistemas de drenagem existentes.
Obras de drenagem
superficial, proteção vegetal
(gramíneas) e desmonte de
blocos e matacões
Implantação de sistemas drenantes superficiais, como: canaletas,
caixas de transição e escadas d’água. Inclui também proteção de
taludes com gramíneas.
Obras de drenagem de
subsuperfície
Sistemas como trincheiras drenantes e poços de rebaixamento que
correspondem a serviços parcialmente ou totalmente mecanizados.
Estruturas de contenção
localizadas ou lineares
Implantação de estruturas de contenção como: tirantes, estacas,
muros de contenção, gabiões, muros de concreto, etc.
Obras de terraplanagem de
médio e grande portes
Predomínio de serviços mecanizados que incluem cortes, aterros,
compactação, desvio e canalização de córregos.
Estruturas de contenção de
médio e grandes portes
Implantação de estruturas de contenção com grandes altura e
largura, envolvendo obras de muros de gravidade, cortinas, etc.
Remoção de moradias Retirada definitiva de moradias em áreas de risco ou remoção
temporária para implantação de obras de contenção, por exemplo.
Fonte: Cerri et al. (2007).
As medidas preventivas são distinguidas por Tominaga et al. (2009) em não estruturais e
estruturais, no qual estas últimas estão relacionadas com obras de engenharia de alto custo,
como por exemplo: contenções de encostas, implantação de sistemas drenantes e
adequação/readequação urbana.
Tominaga et al. (2009) também explica que as medidas não estruturais fazem referência as
ações de planejamento e gerenciamento do uso do solo, tais como: zoneamento, plano
preventivo de defesa civil (PPDC) e educação ambiental. Além disso, há outras medidas
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
preventivas que podem ser adotadas pelos habitantes de áreas de risco e órgãos
governamentais, que são:
Evitar construções próximas a encostas, taludes e recursos hídricos;
Não realização de obras de terra sem as devidas outorgas municipais;
Análise de risco e eventual implantação de planos de alerta e evacuação;
Não desmatar encostas e taludes, bem como o não lançamento de resíduos nestes
locais;
Verificação periódica das estruturas edificadas, observando-se o surgimento de trincas
e fissuras, e movimentações do terreno;
Acompanhamento de boletins meteorológicos, em razão de eventuais chuvas intensas
que possam deflagrar movimentos de massa.
Paisagem
A paisagem é algo a ser visto e lembrado, um conjunto de elementos do qual esperamos que
nos dê prazer. Olhar para as cidades e rodovias pode dar um prazer especial, por mais
comum que possa ser o panorama. Como obra arquitetônica, é uma construção de grande
escala no espaço. (LYNCH,1960).
A partir do século XX, houve a tendência para descrição dos elementos físicos das paisagens
(destacando-se as formas topográficas) em relação aos aspectos das atividades
socioeconômicas. De acordo com Christofoletti (1999), o conceito de landschaft é visto como
o de unidade territorial, e a valorização maior está em focalizar as paisagens morfológicas e
da cobertura vegetal, abrindo caminho para se estabelecerem distinções entre as paisagens
naturais e paisagens culturais.
De acordo com Guerra (2006), a base nas orientações teórico-metodológicas das escolas de
Geografia (com destaque a germânica, francesa, russa e americana), o desenvolvimento e a
aplicação do conceito de paisagem foram construídas de maneira diferenciada, sendo a sua
análise apoiada em diferentes horizontes epistemológicos, gerando uma diversidade de
abordagens, cada uma, enquadrada dentro de seu tempo específico.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
No entanto, de acordo com Sauer (1998), no início do século XX, já afirmava que o conceito
de paisagem era algo complexo e que envolvia todos os elementos, sejam eles naturais e
sociais. Esse autor ainda ressalta que qualquer definição da mesma, única, desorganizada ou
não-relacionada, não tem valor científico, e divide o conteúdo da paisagem em duas partes: o
“sítio”, que representa o somatório dos recursos naturais; e a sua expressão cultural, ou a
marca da ação do homem sobre uma área.
Rougerie e Beroutchachvili (1991), afirmam que aparece no cenário acadêmico a ideia do
conceito de paisagem como a relação homem-natureza, contrapondo-se à estético-descritiva,
abrindo caminho para uma nova abordagem relacionada à categoria em estudo como
ambiente ou como objeto, na qual podem ser realizadas ações de intervenção e de pesquisa
científica. Para esses autores, a ocorrência da Segunda Guerra Mundial foi um marco muito
importante, pois, nesse período, surgiram os primeiros trabalhos de caráter aplicativo, ou
melhor, prático, que somente detinha o domínio do discurso. Esses trabalhos surgiram tanto
na Alemanha como na antiga União Soviética, fazendo do cenário o objeto de análise e
afirmaram que essa visão sistêmica possibilitou uma maior reflexão sobre o conceito, levando
à compreensão dos sistemas naturais a partir da sua estrutura e funcionamento.
Estudo de campo
Para exemplificar o efeito das obras de contenção na paisagem das estradas foi realizado um
estudo de campo explanatório na serra da Rodovia dos Tamoios, situada no Parque Estadual
Serra do Mar, maior corredor biológico da Mata Atlântica no Brasil.
Foi escolhida esta região por saber a necessidade de horas de contenção no local. No dia 18
de março de 1967 ocorreu a chamada “catástrofe em Caraguatatuba de 67”, a maior parte dos
deslizamentos ocorreu no começo da tarde. Segundo os jornais da época, chovia
intensamente desde o dia 16 de março, ficando mais intensa a noite. Na manhã do dia 18,
começaram os deslizamentos, por volta das 15:30 horas, toda a serra desaba, e a cidade ficou
isolada. A Rodovia dos Tamoios ficou destruída, vários carros ficaram presos no trecho de
serra. A estrada da serra, em sua maior parte, foi destruída, não sendo possível reconhecer
seu antigo traçado em muitos trechos, onde se formaram precipícios de mais de 100 m de
profundidade. O acesso para Ubatuba e São Sebastião, cidades vizinhas a Caraguatatuba,
ficou interditado, a ajuda chegava apenas por ar e por mar. O Rio Santo Antônio aumentou
suas margens de 40m para 200m. A lama descia junto com o rio. De acordo com o posto da
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Fazenda dos Ingleses, o índice pluviométrico registrou 851,0 mm, sendo 420,0mm somente
no dia 18, não acusando índice maior devido a saturação do pluviômetro.
O trecho de serra da Rodovia dos Tamoios, identificado a seguir, foi reconstruído e
atualmente possui aproximadamente 13 km, conforme apresentado na figura 4.
No dia 08 de julho de 2016 foi realizado o estudo de campo exploratório para caracterização
qualitativa das intervenções para conter movimentos de massa e que, sendo
acompanhamento de elaboração de documentação fotográfica.
Figura 4 – Trecho da Rodovia dos Tamoios para o estudo de caso (km 68 ao km 81)
Fonte: Google Earth (2016).
Ainda que as técnicas utilizadas afetem a paisagem extensamente arborizada da região, elas
possuem a finalidade precípua de garantir a segurança dos usuários que se deslocam na
Rodovia dos Tamoios. Contudo, foi observado que diversas ações mitigadoras de massa
foram aplicadas de forma local e provisória, ou seja, não garantem a segurança de uma
grande extensão, tampouco pode ser mantida de forma duradoura sem algum prejuízo.
A seguir, serão apresentados alguns dos casos analisados através de fotografias durante o
estudo exploratório, sendo legendadas com comentários explicativos acerca das técnicas
observadas.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Nota-se na figura 5 que foram utilizados sacos de solo-cimento e lonas na base para
contenção parcial de encosta íngreme. Verifica-se que além de tratar-se de uma alternativa
provisória, os sacos de solo-cimento e as lonas não estão garantindo a estabilidade total do
maciço.
Figura 5 – Utilização de sacos de solo-cimento e lonas para contenção de encosta
Fonte: Autor, 2016.
Em diversos trechos do local em estudo, é notória a presença de diversos muros de concreto
que, por sua vez, trata-se de contenção permanente da rodovia além de exercer a função de
guarda roda, conforme figura 6 a seguir. Entretanto, verificou-se que em alguns trechos,
referidos muros possuem trincas, fissuras e ausência de barbacãs para escoamento de água,
manchando-os devidos às infiltrações e promovendo a oxidação da armadura interna.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Figura 6 – Muro de concreto
Fonte: Autor, 2016.
Outra alternativa vista em grande quantidade na Rodovia dos Tamoios são as escadas
d’água, apresentadas na figura 7. Trata-se de canais de drenagem superficial construído em
forma de degraus para coleta e condução das águas pluviais, reduzindo a infiltração de água
no maciço terroso. Além de ser uma ação permanente, as escadas d’água ocupam apenas a
linha de maior declividade da encosta.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Figura 7 – Escadas d’água
Fonte: Autor, 2016.
Mesmo verificado a existência de ações mitigadoras de movimentos de massa permanentes
no trecho de serra da Rodovia dos Tamoios, deve-se ressaltar também a inexistência em
alguns locais destas medidas, o que afeta não só a paisagem do local, como também põe em
risco a vida dos usuários da via de circulação e põe em risco os investimentos monetários
empregados para construção e manutenção da estrada de rodagem.
A figura 8 a seguir mostra um escorregamento translacional local bem próximo às margens da
rodovia, sem que, contudo, haja qualquer intervenção antrópica para evitar ou mesmo reduzir
os efeitos da movimentação de massa.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Figura 8 – Escorregamento translacional às margens da Rodovia dos Tamoios
Fonte: Autor, 2016.
Considerações Finais
O conceito de paisagem considera a relação homem-natureza, logo a paisagem é algo
complexo, que contempla a marca da ação do homem. Acredita-se que as obras de
estabilização de taludes necessários na construção da estrada fazem parte da paisagem e
marcam a ação do homem. Entretanto obras provisórias que se tornam permanentes, de
forma indevida, e o total descaso com o entorno causam grande contraste visual das obras de
contenção nas estradas.
O estudo de campo deste trabalho, verificou que o trecho de serra da Rodovia dos Tamoios,
que dá acesso à uma das principais cidades litorâneas do estado de São Paulo,
Caraguatatuba, possui diversas técnicas de estabilização de encostas, mas a maioria das
alternativas são provisórias e que são empregadas, na realidade, como técnicas
permanentes.
As técnicas utilizadas afetem a paisagem extensamente arborizada da região e possuem a
finalidade de garantir a segurança dos usuários que se deslocam na Rodovia dos Tamoios. O
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
problema é que as técnicas empregadas não consideram o impacto visual e demonstram que
os serviços de manutenção são inadequados ou até mesmo inexistentes.
Neste passo, verifica-se que em razão da má conservação das intervenções construtivas no
trecho de serra da Rodovia dos Tamoios e da permanência do uso de soluções provisórias, as
quais estão inadequadas e/ou com a sua funcionalidade comprometida, ratifica
negativamente a ação do homem, pois amplifica o contraste com a paisagem natural.
Muitas soluções ecológicas já existem no mercado como os muros verdes, recomposição de
taludes, controle de erosão, que através da utilização de elementos de reforço de solo aliados
a um sistema de faceamento vegetal, ou uma simples revegetação até seu revestimento com
materiais de alta resistência a abrasão, amenizam a marca da ação do homem.
A escolha por uma ou outra técnica de contenção depende de vários fatores e são
necessárias para preservação do meio e da vida, entretanto alternativas provisórias devem
ser substituídas por soluções eficientes que considere além dos fatores habituais de
presença ou não de água, tipo de solo, inclinação, custo e execução, o menor impacto visual.
Bibliografia
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Dados pluviométricos de 1991 a 2010. Brasília:
Superintendência de Gestão da Rede Hidrometeorológica, 2010.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11682: Estabilidade de
Encostas. Rio de Janeiro, 2009, p. 31.
AUGUSTO FILHO, O. Caracterização Geológico-Geotécnica Voltada à Estabilização de
Encostas: Uma Proposta Metodológica. Conferência Brasileira Sobre Estabilidade de
Encostas. v. 2. p.721-733. Rio de Janeiro, 1992.
AUGUSTO FILHO, O.; VIRGILI, J.C. Estabilidade de taludes. In: OLIVEIRA, A.M.S. & BRITO,
S.N.A. Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia
(ABGE), 1998. Capítulo 15, p. 245.
CARVALHO, P. A. S. de Manual de geotecnia: Taludes de rodovias: orientação para
diagnóstico e soluções de seus problemas. São Paulo: Departamento de Estradas e
Rodagens do Estado de São Paulo, Instituto de Pesquisa Tecnológicas, 1991. 388 p.
(Publicação IPT; n.1843)
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
CERRI, L. E. S.; NOGUEIRA, F. R.; CARVALHO C. S.; MACEDO, E. S.; AUGUSTO FILHO;
O. Mapeamento de Risco em Assentamentos Precários no Município de São Paulo (SP).
Geociências, v. 26, n. 2, 2007, p. 143-150. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/106837>. Acesso em: 14 mai. 2016.
CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo: Editora Edgard
Blucher Ltda, 1999, p. 236.
Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT, 2014) Disponível em:
<http://www.dnit.gov.br/sistema-nacional-de-viacao/snv-2014-1>. Acesso em: 10 de jun.
2016.
FERNANDES, M. C.; LAGUÉNS, J. V. M.; COELHO NETTO, A. L. O Processo de Ocupação
por Favelas e sua Relação com os Eventos de Deslizamentos no Maciço da Tijuca/RJ.
Anuário do Instituto de Geociências – Volume 22. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio
de Janeiro, 1999, p. 15.
GERSCOVICH, D. M. S. Estabilidade de Taludes. São Paulo: Oficina de Textos, 2012, p. 166.
GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas. 2002. p. 53 - 175.
GOMES, R. A. T. Modelagem de Previsão de Massa a Partir da Combinação de Modelos de
Escorregamentos e Corridas de Massa. 2006. 101p. Tese de Doutorado. Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Instituto de Geociências, Rio de Janeiro, RJ, 2006.
GUERRA, Antônio José Teixeira; MARÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, p. 196.
GUIDICINI, G.; NIEBLE, C. M. Estabilidade de Taludes Naturais e de Escavação. 3º ed. São
Paulo: Edgard Blucher, 1983, p. 216.
HIGHLAND, L. M.; BOBROWSKY, P. O Manual de Deslizamento – Um Guia para a
Compreensão de Deslizamentos. Virgínia (EUA): United States Geological Survey (USGS),
2008, p. 176.
LYNCH, Kevin. The image of the city. Cambridge: The M.I.T. Press, 1960, p. 193.
MONTOYA, C. A. H. Incertezas, Vulnerabilidade e Avaliação de Risco Devido a
Deslizamentos em Estradas. 2013, p. 273. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília
(UnB). Faculdade de Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Brasília, DF,
2013.
ROUGEIRE, G.; BEROUTCHACHVILI, N. Geosystemes et Paysages: Bilian et Méthodos.
Paris: Armand Colin, 1991, p. 302.
SAUER, C. O. A morfologia da paisagem. 1925. In: ROSENDAHL, Z.; CORRÊA, Roberto
Lobato. Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1998. p.12-74.
TOMINAGA, L. K.; SANTORO, J.; AMARAL, R. Desastres Naturais: Conhecer para Prevenir.
São Paulo: Instituto Geológico, 2009, p. 196.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
USGS - United States Geological Survey . Whashington, 2008. Disponível em:
< https://www.usgs.gov/ >. Acesso em: 10 de jun. 2016.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC). Atlas Brasileiro de Desastres
Naturais – 1991 a 2010. Volume São Paulo. Florianópolis: Centro Universitário de Estudos e
Pesquisas sobre Desastres (CEPED), 2011, p. 71.
VIEIRA, B. C. Previsão de Escorregamentos Translacionais Rasos na Serra do Mar (SP) a
Partir de Modelos Matemáticos em Bases Físicas. 2007, p. 213. Tese de Doutorado –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências. Rio de Janeiro, 2007.
Top Related