INFÂNCIA DE VIDRO A Delinquência como Sintoma do Desamparo
Infantil
Ministrante: Prof. Me. Marcos de
Oliveira, Filósofo e Psicanalista.
“Não existe o criminoso inato. O que existe é um instinto de agressividade que deverá ser domesticado pelo amor.”
Prof. Marcos de Oliveira
Nossos vínculos primários, com os
nossos cuidadores, servem como as
primeiras medidas psíquicas contra a
ansiedade natural oriunda de nosso
desamparo ontológico. Um ambiente de
razoável segurança e de intensa
vinculação afetiva, é a situação mais
favorável para nossa emancipação
psíquica (individuação).
O DESAMPARO ONTOLÓGICO
Os vínculos primários asseguram
inicialmente um certo sentimento
interno de segurança e um apropriado
sentimento básico de unicidade com o
mundo exterior. Tais sentimentos são
usados para que o “Eu” se estabilize e,
com isso, conquiste uma “permanência
Identitária”.
A mãe é o centro das experiências do bebê.
A mãe é a base da construção psicoafetiva.
A atitude afetiva da mãe determina o clima total em que a criança vive.
A mãe é a fonte constante de provocação e estímulo, ela é a base inicial para nossa satisfação e também insatisfação.
A FUNÇÃO PSÍQUICA DA MÃE
É a comunicação primária entre o bebê e a mãe que possibilita à estruturação de nossa subjetividade.
A relação recíproca de posse entre o bebê e a mãe é a fomentadora de nosso senso identitário (situação-situado).
A criança sente a sua própria existência na imagem materna, às sensações sinestésicas de contato com o corpo da mãe, criam condições para reconhecermos o nosso próprio corpo.
A mãe “suficientemente boa”, para quem a criança é uma fonte profunda de satisfação, se preenche narcisicamente pela alegria de ser “mãe” e preenche o bebê narcisicamente com a alegria de ser “filho”.
A mãe é internalizada como a parte feminina de nossa personalidade. Com a mãe inicia-se e firma-se nosso senso de pessoalidade individual.
A função paterna interdita pela castração a relação incestuosa entre o bebê e a mãe.
A segunda identificação primária abre campo para a síntese pessoal.
A criança deixa seu corpo biológico como centro de suas significações e descobre o “corpo social”.
A FUNÇÃO PSÍQUICA DO PAI
As frustrações egóicas são sentidas como parte do “princípio da realidade”,assim, a lei é internalizada como condição existencial.
A vivência emocional é limitada e a estrutura lógica passa a ser predominante.
A identificação com o pai possibilita o esvaziamento da onipotência primitiva.
O pai é internalizado como a parte masculina de nossa personalidade.
O pai como agente da lei é o responsável pela estratificação inconsciente do “pacto social”.
O pai é o responsável pelo enfraquecimento do egocentrismo infantil, é a base central para a construção de um senso de sociabilidade.
Com a internalização da imago paterna firma-se nosso senso de pessoalidade social (superego).
CRONOLOGIA PSICOAFETIVA
1ª Fase: Dependência absoluta
2ª Fase: Transicionalidade
3ª Fase: Maturidade
Complexo de
Édipo
O adolescente é sempre um ser lacunar, sua realidade está entre a criança de seus primeiros dias e o adulto que se agiganta com a chegada do “futuro”.
Ao viver esta transição o adolescente perde gradativamente os pontos de referência de sua infância. Sua situação é angustiante; o processo de amadurecimento implica em muitas “mortes” simbólicas.
ADOLESCÊNCIA
Os pais devem agir como instrumentos facilitadores deste longo e complexo processo de amadurecimento, porém, ao mesmo tempo em que devem facultar a aparição do “adulto”, precisam zelar por uma porção infantil que não pode desaparecer totalmente.
O adolescente constata que a sociedade não é organizada como modelo simples de vivência, logo observa formas divergentes e contraditórias de ação social.
Assim, ele (o ser humano) se vê disputado por duas tendências desde o momento do nascimento: uma de sair para a luz e a outra de regressar ao útero; uma de aventura e a outra de certeza; uma de risco e independência e a outra de proteção e dependência. (Erich Fromm)
Aquele que educa com amor,
educa sempre visando a liberdade do
educando, por isso, a proteção e o
zelo que oferecemos aos nossos filhos,
devem conter o potencial de deixá-los
partir em determinado momento
propício.
EDUCAR PARA À LIBERDADE
O amor que sentimos pelos
nossos filhos deve se tornar a base
da independência deles; quando
“amamos demais” (intrusividade),
nossos sentimentos geram
empecilhos ao desenvolvimento
normal da criança e do adolescente.
No polo contrário da
superproteção temos o “desamparo”
e, da mesma forma que o amor
excessivo representa um grave
obstáculo ao desenvolvimento
humano, a falta de amor genuíno
pelos nossos filhos, que normalmente
exterioriza-se como falta de
assistência , gera inúmeras
deformações psicoafetivas.
A discórdia oculta entre os pais, a preocupação secreta, os desejos ocultos e recalcados, tudo isso produz no indivíduo certo estado afetivo, com seus sinais objetivos, que lenta, mas seguramente, embora inconscientemente, desbrava seu caminho na mente da criança, produzindo aí as mesmas condições e, por isso, as mesmas reações aos estímulos externos.
Apatia relacional;
Agressividade recorrente;
Oscilação afetiva (proteção-agressão);
Superproteção (mãe devoradora).
ATITUDES MATERNAS NOCIVAS
Apatia relacional;
Agressividade recorrente;
Oscilação afetiva (proteção-agressão);
Controle relacional rígido (intrusividade).
ATITUDES PATERNAS NOCIVAS
TENDÊNCIA PARA OPRIMIR; TENDÊNCIA PARA HUMILHAR; TENDÊNCIA PARA EXPLORAR.
“Amo-te profundamente, deves amar-me em retribuição, e desistir de tudo por amor ao meu amor”.
REAÇÕES NEURÓTICAS ATIVAS
TENDÊNCIA À SUPORTAR OPRESSÃO COMO NATURAL; TENDÊNCIA À AUTO HUMILHAR-SE; TENDÊNCIA À DEIXAR-SE EXPLORAR.
“Deves amar-me porque sofro e estou desamparado, minhas exigências afetivas devem ser atendidas por causa de meu grande sacrifício”.
REAÇÕES NEURÓTICAS PASSIVAS
A ansiedade básica de separação, atinge um nível insuportável na estrutura capitalista; as diversas doenças psíquicas modernas são “fabricadas” pelo nosso estilo de vida cada vez mais neurótico. A sociedade de consumo, embora ostente uma opulência cada vez maior, é extremamente pobre no sentido humanístico, às relações sociais são cada vez mais instrumentais, a sociedade capitalista transforma cada um num explorador em potencial de seu semelhante.
O MUNDO CAPITALISTA
A lógica do capital é sempre um maior “lucro”, o mercantilismo produz sujeitos insaciáveis em sua demanda de consumo, por isso, o capitalismo se sustenta às custas do desequilíbrio do ávido consumidor. No capitalismo a “sociedade humana” não é verdadeiramente humana, ela é convertida em um enorme “mercado de negócios”. Ao coisificar a existência, o discurso capitalista torna-se psicotizante, o “Outro” não é mais um “semelhante” e sim um “estranho”; a identificação humana é bloqueada em sua fonte.
O NOVO ÍDOLO À medida que as ideologias religiosas e morais se esvaecem, e a teoria política é abolida pela marcha dos acontecimentos econômicos e políticos, as ideias dos trabalhadores tendem a ser moldadas pela ideologia comercial de seus líderes (Horkheimer, Ibidem, p. 153).O DECLÍNIO DO INDIVÍDUOO Indivíduo outrora concebia a razão como um instrumento do eu, exclusivamente. Hoje, ele experimenta o reverso dessa autodeificação. A máquina expeliu o maquinista; está correndo cegamente no espaço. (Horkheimer, Ibidem, p. 133)
O CONTROLE IDEOLÓGICO
O princípio de dominação, baseado originalmente na força bruta, adquiriu com o decorrer do tempo um caráter mais espiritual. A voz interior tomou o lugar dos senhores na emanação das ordens. [...] desse ponto de vista, o líder e a elite podem ser descritos como aqueles que realizaram a coerência e a ligação lógica entre as diversas operações da vida cotidiana (Horkheimer, Ibidem, p. 10).
A DITADURA DA MAIORIA
Quanto mais a propaganda científica faz da opinião pública um simples instrumento de forças obscuras, mais a opinião pública surge como um substituto da razão. [...] quanto mais o julgamento do povo é manipulado por toda espécie de interesse, mais a maioria é apresentada como árbitro da vida cultural (Horkheimer, Ibidem, p. 35).
A INDÚSTRIA CULTURAL
O princípio impõe que todas as necessidades lhe sejam apresentadas como podendo ser satisfeitas pela indústria cultural, mas, por outro lado, que essas necessidades sejam de antemão organizadas de tal sorte que ele se veja unicamente como um eterno consumidor, como objeto da indústria cultural (Adorno, Dialética do Esclarecimento, p. 133).
AUTORIDADE ANÔNIMA E CONFORMIDADE
Em meados do século XX a autoridade mudou de caráter: já não é uma autoridade manifesta, mas anônima, invisível, alienada. Ninguém dá ordens, nenhuma pessoa, nenhuma ideia, nenhuma lei moral; porém todos nós nos submetemos tanto ou mais do que as criaturas sujeitas a uma sociedade fortemente autoritária. Na realidade, ninguém é autoridade, exceto “Aquilo”. Que é “Aquilo”? – O lucro, as necessidades econômicas, o mercado, o senso comum, a opinião pública, o que a pessoa faz, pensa ou sente. As leis do mercado, e exatamente tão invioláveis quanto estas. Quem pode rebelar-se contra Ninguém? (Fromm, Psicanálise da Sociedade Contemporânea, p. 153)
O PODER DAS “LEIS” DO MERCADOO mercado moderno é um mecanismo de
distribuição que se regula automaticamente, o que torna desnecessário dividir a produção social segundo um plano novo ou tradicional, e, assim, se elimina a necessidade de usar a força no seio da sociedade. Naturalmente, a ausência da força é mais aparente do que real. [...] assim, a “liberdade” do individuo é em grande parte ilusória. Ele se apercebe da inexistência de uma força exterior que o obrigue a assinar certos contratos; mas se dá menos conta das leis do mercado que operam por sobre seus ombros [...] o mecanismo do mercado é melhor do que qualquer outro método até agora ideado em uma sociedade de classes, porque é uma base para a relativa liberdade política do indivíduo, característica da democracia capitalista (Fromm, Ibidem, p. 95)
“Talvez não exista pior privação, pior carência, que a dos perdedores na luta simbólica por reconhecimento, por acesso a uma existência socialmente reconhecida, em suma, por humanidade”. (Pierre Bourdieu, Meditações Pascalianas)
A POTÊNCIA SIMBÓLICA DO CAPITALISMO
QUADRANTE IDEOLÓGICO DO CAPITALISMO
(TEORIA DOS QUATRO SETORES)
Esse setor cuida da “legalização” do estilo capitalista, bem como, tem a responsabilidade de reprimir e conter, de forma direta e indireta, qualquer levante contra o “sistema”. É esse setor que regula a midiatização da sociedade de consumo.
1° SETOR JURÍDICO-POLÍTICO
2° SETOR RELIGIOSO
A religião tem a missão de sacralizar
o estilo capitalista, por meio da
instrumentalização moral, todos são
incentivados a consumir o “novo céu”
oferecido pelo sistema de consumo.
3° SETOR MERCADOLÓGICO
Segundo a lógica do capitalismo,
tudo é convertido em “mercadoria”, o
ser humano é “coisificado” e, com
isso, sucumbe ao hipnótico efeito do
“fetiche” mercadológico.
4° SETOR MIDIÁTICO
Os sistemas políticos
“democráticos” tem como grande
aliado ideológico a mídia. Assim, as
diversas instituições midiáticas, por
meio da propaganda, produzem um
ajustamento coercitivo invisível, o
estilo de vida capitalista é vendido
como o “modo natural” do ser humano.
A INOCÊNCIA DA IDEOLOGIA
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