UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO ndash UFPE CENTRO ACADEcircMICO DO AGRESTE
NUacuteCLEO DE DESIGN
MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA
VITRINA ESPELHO DE CULTURA
PROPOSTA DE UMA VITRINA DE MODA COM O TEMA DE SAtildeO JOAtildeO A PARTIR DA TEORIA DO IMAGINAacuteRIO DE GILBERT DURAND
CARUARU 2016
MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA
VITRINA ESPELHO DE CULTURA
PROPOSTA DE UMA VITRINA DE MODA COM O TEMA DE SAtildeO JOAtildeO A PARTIR
DA TEORIA DO IMAGINAacuteRIO DE GILBERT DURAND
Monografia apresentada agrave Universidade Federal de Pernambuco Centro Acadecircmico do Agreste com o objetivo de ser avaliado como preacute-requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de bacharel no Curso de Design Orientador Prof Doutor Maacuterio de Faria Carvalho
CARUARU
2016
Catalogaccedilatildeo na fonte
Bibliotecaacuteria ndash Simone Xavier CRB4 ndash 1242
S586v Silva Michellynne Borromeu da
Vitrina espelho de cultura Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a
partir da teoria do imaginaacuterio de Gilbert Durand Michellynne Borromeu da Silva Juacutenior ndash 2016
108f il 30 cm Orientador Mario de Faria Carvalho Monografia (Trabalho de Conclusatildeo de Curso) ndash Universidade Federal de
Pernambuco Design 2016 Inclui Referecircncias 1 Vitrinas 2 Design 3 Imaginaacuterio 4 Festas juninas I carvalho Mario de Faria
(Orientador) II Tiacutetulo
740 CDD (23 ed) UFPE (CAA 2016-377)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO ndash UFPE
CENTRO ACADEcircMICO DO AGRESTE NUacuteCLEO DE DESIGN
PARECER DE COMISSAtildeO EXAMINADORA
DE DEFESA DE PROJETO DE
GRADUACcedilAtildeO EM DESIGN DE
Michellynne Borromeu da Silva
ldquoVitrina espelho de cultura
Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a partir da teoria do
imaginaacuterio de Gilbert Durandrdquo
A comissatildeo examinadora composta pelos membros abaixo sob a presidecircncia do
primeiro considera a aluna Michellynne Borromeu da Silva
APROVADA
Caruaru 29 de novembro de 2016
___________________________________________
Prof Dr Maacuterio de Faria Carvalho
___________________________________________
Prof(a) Dra Flavia Zimmerle
___________________________________________
Prof Dr Amilcar Bezerra
Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia ao meu companheiro aos meus amigos minhas famiacutelias adotivas ao universo e ao tempo que transforma tudo
AGRADECIMENTOS
Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem
Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me
permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a
mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que
estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa
boa dessa graduaccedilatildeo
Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano
anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a
abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas
maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida
e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro
anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao
mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos
multiplicados e dores divididas
A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se
reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar
essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que
em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais
importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo
fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia
amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase
importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel
Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara
liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs
RESUMO
A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em
Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o
conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e
considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo
representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda
acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo
havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o
emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o
desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo
tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade
e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como
diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda
Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo
ABSTRACT
The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in
Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge
of the design and the showcase as tools of social communication and considering the
economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent
for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural
and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of
target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the
phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the
showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it
possible to present a proporsal of approximation between the university and the city
through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his
methods and knowledge to the fashion showcase
Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29
Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34
Painel 04ndash Fogueira 35
Painel 05ndash Bandeirinhas 35
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de
70 40
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de
festa 150ml 48
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73
Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82
Desenho 01 ndash Croqui A 83
Desenho 02 ndash Croqui B 84
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88
Painel 14 ndash Teste 1 88
Foto 04 ndashTeste 2 89
Painel 15 ndash Cores de Volpi 90
Figura 18 ndash Cartela de cores 90
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91
Foto 05 ndash Teste Final 92
Vetor 01 ndash Painel vitrina 93
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93
Vetor 04 ndash Molde casa 94
Vetor 05 ndash Molde display 94
Vetor 06 ndash Molde telhado 95
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96
Foto 07 ndash Cartolina guache 96
Foto 08 ndash Papel contato laminado 97
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
15
Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
16
Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016
17
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
18
populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
19
objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
20
pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
21
moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
22
celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
23
Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
24
comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
25
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
29
o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
30
A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
39
Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
44
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
45
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
46
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
48
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
49
juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
51
Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
52
convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
53
de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
54
cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
55
transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
77
objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
84
quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
85
manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
88
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
91
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
92
Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
93
442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
94
4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
95
4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
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Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
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Vitrina espelho de cultura Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a
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CENTRO ACADEcircMICO DO AGRESTE NUacuteCLEO DE DESIGN
PARECER DE COMISSAtildeO EXAMINADORA
DE DEFESA DE PROJETO DE
GRADUACcedilAtildeO EM DESIGN DE
Michellynne Borromeu da Silva
ldquoVitrina espelho de cultura
Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a partir da teoria do
imaginaacuterio de Gilbert Durandrdquo
A comissatildeo examinadora composta pelos membros abaixo sob a presidecircncia do
primeiro considera a aluna Michellynne Borromeu da Silva
APROVADA
Caruaru 29 de novembro de 2016
___________________________________________
Prof Dr Maacuterio de Faria Carvalho
___________________________________________
Prof(a) Dra Flavia Zimmerle
___________________________________________
Prof Dr Amilcar Bezerra
Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia ao meu companheiro aos meus amigos minhas famiacutelias adotivas ao universo e ao tempo que transforma tudo
AGRADECIMENTOS
Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem
Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me
permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a
mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que
estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa
boa dessa graduaccedilatildeo
Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano
anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a
abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas
maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida
e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro
anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao
mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos
multiplicados e dores divididas
A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se
reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar
essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que
em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais
importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo
fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia
amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase
importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel
Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara
liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs
RESUMO
A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em
Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o
conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e
considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo
representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda
acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo
havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o
emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o
desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo
tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade
e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como
diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda
Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo
ABSTRACT
The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in
Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge
of the design and the showcase as tools of social communication and considering the
economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent
for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural
and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of
target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the
phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the
showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it
possible to present a proporsal of approximation between the university and the city
through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his
methods and knowledge to the fashion showcase
Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29
Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34
Painel 04ndash Fogueira 35
Painel 05ndash Bandeirinhas 35
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de
70 40
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de
festa 150ml 48
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73
Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82
Desenho 01 ndash Croqui A 83
Desenho 02 ndash Croqui B 84
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88
Painel 14 ndash Teste 1 88
Foto 04 ndashTeste 2 89
Painel 15 ndash Cores de Volpi 90
Figura 18 ndash Cartela de cores 90
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91
Foto 05 ndash Teste Final 92
Vetor 01 ndash Painel vitrina 93
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93
Vetor 04 ndash Molde casa 94
Vetor 05 ndash Molde display 94
Vetor 06 ndash Molde telhado 95
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96
Foto 07 ndash Cartolina guache 96
Foto 08 ndash Papel contato laminado 97
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
15
Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
16
Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016
17
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
18
populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
19
objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
20
pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
21
moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
22
celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
23
Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
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comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
25
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
29
o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
30
A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
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Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
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Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
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Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
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Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
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Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
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juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
51
Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
52
convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
53
de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
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cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
55
transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
77
objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
84
quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
85
manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
88
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
91
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
92
Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
93
442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
94
4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
95
4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
97
Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
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Catalogaccedilatildeo na fonte
Bibliotecaacuteria ndash Simone Xavier CRB4 ndash 1242
S586v Silva Michellynne Borromeu da
Vitrina espelho de cultura Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a
partir da teoria do imaginaacuterio de Gilbert Durand Michellynne Borromeu da Silva Juacutenior ndash 2016
108f il 30 cm Orientador Mario de Faria Carvalho Monografia (Trabalho de Conclusatildeo de Curso) ndash Universidade Federal de
Pernambuco Design 2016 Inclui Referecircncias 1 Vitrinas 2 Design 3 Imaginaacuterio 4 Festas juninas I carvalho Mario de Faria
(Orientador) II Tiacutetulo
740 CDD (23 ed) UFPE (CAA 2016-377)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO ndash UFPE
CENTRO ACADEcircMICO DO AGRESTE NUacuteCLEO DE DESIGN
PARECER DE COMISSAtildeO EXAMINADORA
DE DEFESA DE PROJETO DE
GRADUACcedilAtildeO EM DESIGN DE
Michellynne Borromeu da Silva
ldquoVitrina espelho de cultura
Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a partir da teoria do
imaginaacuterio de Gilbert Durandrdquo
A comissatildeo examinadora composta pelos membros abaixo sob a presidecircncia do
primeiro considera a aluna Michellynne Borromeu da Silva
APROVADA
Caruaru 29 de novembro de 2016
___________________________________________
Prof Dr Maacuterio de Faria Carvalho
___________________________________________
Prof(a) Dra Flavia Zimmerle
___________________________________________
Prof Dr Amilcar Bezerra
Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia ao meu companheiro aos meus amigos minhas famiacutelias adotivas ao universo e ao tempo que transforma tudo
AGRADECIMENTOS
Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem
Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me
permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a
mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que
estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa
boa dessa graduaccedilatildeo
Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano
anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a
abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas
maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida
e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro
anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao
mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos
multiplicados e dores divididas
A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se
reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar
essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que
em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais
importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo
fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia
amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase
importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel
Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara
liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs
RESUMO
A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em
Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o
conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e
considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo
representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda
acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo
havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o
emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o
desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo
tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade
e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como
diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda
Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo
ABSTRACT
The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in
Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge
of the design and the showcase as tools of social communication and considering the
economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent
for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural
and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of
target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the
phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the
showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it
possible to present a proporsal of approximation between the university and the city
through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his
methods and knowledge to the fashion showcase
Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29
Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34
Painel 04ndash Fogueira 35
Painel 05ndash Bandeirinhas 35
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de
70 40
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de
festa 150ml 48
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73
Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82
Desenho 01 ndash Croqui A 83
Desenho 02 ndash Croqui B 84
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88
Painel 14 ndash Teste 1 88
Foto 04 ndashTeste 2 89
Painel 15 ndash Cores de Volpi 90
Figura 18 ndash Cartela de cores 90
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91
Foto 05 ndash Teste Final 92
Vetor 01 ndash Painel vitrina 93
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93
Vetor 04 ndash Molde casa 94
Vetor 05 ndash Molde display 94
Vetor 06 ndash Molde telhado 95
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96
Foto 07 ndash Cartolina guache 96
Foto 08 ndash Papel contato laminado 97
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
15
Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
16
Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016
17
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
18
populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
19
objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
20
pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
21
moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
22
celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
23
Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
24
comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
25
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
29
o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
30
A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
39
Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
44
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
45
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
46
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
48
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
49
juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
51
Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
52
convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
53
de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
54
cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
55
transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
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objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
84
quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
85
manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
88
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
91
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
92
Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
93
442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
94
4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
95
4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
97
Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
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CENTRO ACADEcircMICO DO AGRESTE NUacuteCLEO DE DESIGN
PARECER DE COMISSAtildeO EXAMINADORA
DE DEFESA DE PROJETO DE
GRADUACcedilAtildeO EM DESIGN DE
Michellynne Borromeu da Silva
ldquoVitrina espelho de cultura
Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a partir da teoria do
imaginaacuterio de Gilbert Durandrdquo
A comissatildeo examinadora composta pelos membros abaixo sob a presidecircncia do
primeiro considera a aluna Michellynne Borromeu da Silva
APROVADA
Caruaru 29 de novembro de 2016
___________________________________________
Prof Dr Maacuterio de Faria Carvalho
___________________________________________
Prof(a) Dra Flavia Zimmerle
___________________________________________
Prof Dr Amilcar Bezerra
Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia ao meu companheiro aos meus amigos minhas famiacutelias adotivas ao universo e ao tempo que transforma tudo
AGRADECIMENTOS
Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem
Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me
permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a
mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que
estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa
boa dessa graduaccedilatildeo
Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano
anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a
abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas
maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida
e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro
anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao
mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos
multiplicados e dores divididas
A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se
reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar
essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que
em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais
importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo
fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia
amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase
importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel
Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara
liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs
RESUMO
A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em
Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o
conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e
considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo
representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda
acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo
havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o
emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o
desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo
tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade
e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como
diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda
Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo
ABSTRACT
The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in
Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge
of the design and the showcase as tools of social communication and considering the
economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent
for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural
and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of
target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the
phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the
showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it
possible to present a proporsal of approximation between the university and the city
through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his
methods and knowledge to the fashion showcase
Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29
Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34
Painel 04ndash Fogueira 35
Painel 05ndash Bandeirinhas 35
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de
70 40
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de
festa 150ml 48
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73
Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82
Desenho 01 ndash Croqui A 83
Desenho 02 ndash Croqui B 84
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88
Painel 14 ndash Teste 1 88
Foto 04 ndashTeste 2 89
Painel 15 ndash Cores de Volpi 90
Figura 18 ndash Cartela de cores 90
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91
Foto 05 ndash Teste Final 92
Vetor 01 ndash Painel vitrina 93
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93
Vetor 04 ndash Molde casa 94
Vetor 05 ndash Molde display 94
Vetor 06 ndash Molde telhado 95
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96
Foto 07 ndash Cartolina guache 96
Foto 08 ndash Papel contato laminado 97
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
15
Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
16
Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016
17
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
18
populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
19
objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
20
pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
21
moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
22
celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
23
Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
24
comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
25
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
29
o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
30
A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
39
Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
44
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
45
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
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Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
48
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
49
juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
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Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
52
convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
53
de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
54
cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
55
transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
77
objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
84
quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
85
manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
88
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
91
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
92
Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
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442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
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4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
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4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
97
Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
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Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia ao meu companheiro aos meus amigos minhas famiacutelias adotivas ao universo e ao tempo que transforma tudo
AGRADECIMENTOS
Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem
Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me
permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a
mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que
estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa
boa dessa graduaccedilatildeo
Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano
anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a
abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas
maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida
e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro
anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao
mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos
multiplicados e dores divididas
A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se
reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar
essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que
em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais
importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo
fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia
amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase
importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel
Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara
liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs
RESUMO
A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em
Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o
conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e
considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo
representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda
acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo
havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o
emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o
desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo
tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade
e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como
diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda
Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo
ABSTRACT
The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in
Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge
of the design and the showcase as tools of social communication and considering the
economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent
for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural
and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of
target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the
phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the
showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it
possible to present a proporsal of approximation between the university and the city
through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his
methods and knowledge to the fashion showcase
Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29
Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34
Painel 04ndash Fogueira 35
Painel 05ndash Bandeirinhas 35
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de
70 40
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de
festa 150ml 48
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73
Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82
Desenho 01 ndash Croqui A 83
Desenho 02 ndash Croqui B 84
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88
Painel 14 ndash Teste 1 88
Foto 04 ndashTeste 2 89
Painel 15 ndash Cores de Volpi 90
Figura 18 ndash Cartela de cores 90
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91
Foto 05 ndash Teste Final 92
Vetor 01 ndash Painel vitrina 93
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93
Vetor 04 ndash Molde casa 94
Vetor 05 ndash Molde display 94
Vetor 06 ndash Molde telhado 95
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96
Foto 07 ndash Cartolina guache 96
Foto 08 ndash Papel contato laminado 97
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
15
Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
16
Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016
17
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
18
populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
19
objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
20
pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
21
moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
22
celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
23
Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
24
comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
25
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
29
o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
30
A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
39
Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
44
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
45
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
46
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
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Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
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juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
51
Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
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convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
53
de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
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cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
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transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
77
objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
84
quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
85
manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
88
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
91
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
92
Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
93
442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
94
4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
95
4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
97
Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
6 REFERENCIAS
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AGRADECIMENTOS
Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem
Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me
permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a
mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que
estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa
boa dessa graduaccedilatildeo
Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano
anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a
abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas
maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida
e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro
anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao
mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos
multiplicados e dores divididas
A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se
reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar
essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que
em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais
importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo
fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia
amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase
importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel
Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara
liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs
RESUMO
A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em
Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o
conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e
considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo
representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda
acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo
havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o
emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o
desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo
tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade
e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como
diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda
Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo
ABSTRACT
The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in
Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge
of the design and the showcase as tools of social communication and considering the
economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent
for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural
and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of
target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the
phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the
showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it
possible to present a proporsal of approximation between the university and the city
through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his
methods and knowledge to the fashion showcase
Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29
Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34
Painel 04ndash Fogueira 35
Painel 05ndash Bandeirinhas 35
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de
70 40
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de
festa 150ml 48
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73
Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82
Desenho 01 ndash Croqui A 83
Desenho 02 ndash Croqui B 84
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88
Painel 14 ndash Teste 1 88
Foto 04 ndashTeste 2 89
Painel 15 ndash Cores de Volpi 90
Figura 18 ndash Cartela de cores 90
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91
Foto 05 ndash Teste Final 92
Vetor 01 ndash Painel vitrina 93
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93
Vetor 04 ndash Molde casa 94
Vetor 05 ndash Molde display 94
Vetor 06 ndash Molde telhado 95
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96
Foto 07 ndash Cartolina guache 96
Foto 08 ndash Papel contato laminado 97
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
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Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
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Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016
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2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
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populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
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objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
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pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
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moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
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celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
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Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
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comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
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213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
29
o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
30
A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
39
Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
44
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
45
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
46
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
48
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
49
juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
51
Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
52
convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
53
de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
54
cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
55
transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
77
objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
84
quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
85
manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
88
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
91
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
92
Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
93
442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
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4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
95
4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
97
Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
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RESUMO
A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em
Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o
conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e
considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo
representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda
acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo
havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o
emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o
desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo
tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade
e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como
diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda
Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo
ABSTRACT
The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in
Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge
of the design and the showcase as tools of social communication and considering the
economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent
for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural
and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of
target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the
phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the
showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it
possible to present a proporsal of approximation between the university and the city
through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his
methods and knowledge to the fashion showcase
Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29
Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34
Painel 04ndash Fogueira 35
Painel 05ndash Bandeirinhas 35
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de
70 40
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de
festa 150ml 48
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73
Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82
Desenho 01 ndash Croqui A 83
Desenho 02 ndash Croqui B 84
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88
Painel 14 ndash Teste 1 88
Foto 04 ndashTeste 2 89
Painel 15 ndash Cores de Volpi 90
Figura 18 ndash Cartela de cores 90
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91
Foto 05 ndash Teste Final 92
Vetor 01 ndash Painel vitrina 93
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93
Vetor 04 ndash Molde casa 94
Vetor 05 ndash Molde display 94
Vetor 06 ndash Molde telhado 95
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96
Foto 07 ndash Cartolina guache 96
Foto 08 ndash Papel contato laminado 97
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
15
Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
16
Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016
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2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
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populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
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objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
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pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
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moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
22
celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
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Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
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comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
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213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
29
o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
30
A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
39
Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
44
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
45
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
46
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
48
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
49
juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
51
Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
52
convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
53
de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
54
cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
55
transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
77
objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
84
quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
85
manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
88
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
91
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
92
Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
93
442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
94
4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
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4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
97
Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
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ABSTRACT
The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in
Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge
of the design and the showcase as tools of social communication and considering the
economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent
for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural
and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of
target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the
phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the
showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it
possible to present a proporsal of approximation between the university and the city
through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his
methods and knowledge to the fashion showcase
Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29
Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34
Painel 04ndash Fogueira 35
Painel 05ndash Bandeirinhas 35
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de
70 40
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de
festa 150ml 48
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73
Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82
Desenho 01 ndash Croqui A 83
Desenho 02 ndash Croqui B 84
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88
Painel 14 ndash Teste 1 88
Foto 04 ndashTeste 2 89
Painel 15 ndash Cores de Volpi 90
Figura 18 ndash Cartela de cores 90
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91
Foto 05 ndash Teste Final 92
Vetor 01 ndash Painel vitrina 93
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93
Vetor 04 ndash Molde casa 94
Vetor 05 ndash Molde display 94
Vetor 06 ndash Molde telhado 95
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96
Foto 07 ndash Cartolina guache 96
Foto 08 ndash Papel contato laminado 97
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
15
Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
16
Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016
17
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
18
populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
19
objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
20
pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
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moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
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celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
23
Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
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comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
25
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
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o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
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A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
39
Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
44
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
45
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
46
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
48
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
49
juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
51
Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
52
convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
53
de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
54
cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
55
transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
77
objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
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quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
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manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
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Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
91
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
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Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
93
442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
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4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
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4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
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Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
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LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29
Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34
Painel 04ndash Fogueira 35
Painel 05ndash Bandeirinhas 35
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de
70 40
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de
festa 150ml 48
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73
Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82
Desenho 01 ndash Croqui A 83
Desenho 02 ndash Croqui B 84
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88
Painel 14 ndash Teste 1 88
Foto 04 ndashTeste 2 89
Painel 15 ndash Cores de Volpi 90
Figura 18 ndash Cartela de cores 90
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91
Foto 05 ndash Teste Final 92
Vetor 01 ndash Painel vitrina 93
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93
Vetor 04 ndash Molde casa 94
Vetor 05 ndash Molde display 94
Vetor 06 ndash Molde telhado 95
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96
Foto 07 ndash Cartolina guache 96
Foto 08 ndash Papel contato laminado 97
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
15
Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
16
Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016
17
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
18
populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
19
objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
20
pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
21
moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
22
celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
23
Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
24
comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
25
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
29
o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
30
A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
39
Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
44
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
45
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
46
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
48
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
49
juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
51
Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
52
convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
53
de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
54
cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
55
transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
77
objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
84
quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
85
manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
88
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
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Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
92
Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
93
442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
94
4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
95
4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
97
Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
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Desenho 01 ndash Croqui A 83
Desenho 02 ndash Croqui B 84
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88
Painel 14 ndash Teste 1 88
Foto 04 ndashTeste 2 89
Painel 15 ndash Cores de Volpi 90
Figura 18 ndash Cartela de cores 90
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91
Foto 05 ndash Teste Final 92
Vetor 01 ndash Painel vitrina 93
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93
Vetor 04 ndash Molde casa 94
Vetor 05 ndash Molde display 94
Vetor 06 ndash Molde telhado 95
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96
Foto 07 ndash Cartolina guache 96
Foto 08 ndash Papel contato laminado 97
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
15
Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
16
Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016
17
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
18
populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
19
objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
20
pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
21
moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
22
celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
23
Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
24
comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
25
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
29
o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
30
A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
39
Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
44
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
45
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
46
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
48
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
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juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
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Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
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convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
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de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
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cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
55
transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
77
objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
84
quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
85
manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
88
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
91
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
92
Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
93
442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
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4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
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4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
97
Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
6 REFERENCIAS
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LISTA DE TABELAS
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17
211 Design e cultura material 17
212 Cultura popular e festejos juninos 19
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21
213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41
22 A vitrina no societal 50
221 Design e vitrina 50
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52
2221 As vidraccedilas na cidade 55
223 Da forma agrave vitrina 57
2231 A esteacutetica da forma 59
224 Sentidos e a vitrina 61
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71
3 METODOLOGIA 75
31 Metodologia fenomenoloacutegica 75
311 Imaginaacuterio 77
32 Instrumento de coleta 78
33 Metodologia do designer 78
4 RESULTADOS 81
41 Definiccedilatildeo do problema 81
42 Busca da informaccedilatildeo 81
421 Painel de inspiraccedilatildeo 82
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82
43 Preacute-projeto 83
431 Croquis fase 1 83
432 Croquis fase 2 84
433Testes 88
44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89
441 Memoria teacutecnico descritiva 92
442 Desenho teacutecnico 93
4421 Molde painel 93
4422 Molde casa 94
4423 Molde display 94
4424 Molde telhado 95
4425 Molde ceacuteu 95
443 Materiais empregados 96
444 Sequencia Operacional 98
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99
6 REFERENCIAS 101
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a
atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais
especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o
consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design
pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e
transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de
vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da
Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo
O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como
representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de
um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-
Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio
pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a
comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio
Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-
se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio
de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo
propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na
metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de
vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru
A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem
determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar
as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma
representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina
de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru
Com os objetivos especiacuteficos de
Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio
social
Analisar os festejos juninos
Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica
dos elementos que a compotildeem (Layout)
15
Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015
eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e
serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731
veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio
contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10
mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual
(PEREIRA 2016)
Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma
o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas
cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das
Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local
(APL)1 do setor de confecccedilotildees
Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees
de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos
pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos
comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As
exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator
agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que
simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade
local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas
comerciais
Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em
especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez
que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e
que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional
Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais
cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se
a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto
monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de
design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local
1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)
16
Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos
que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe
(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e
fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o
POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas
no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)
Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco
capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo
geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na
construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu
identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do
imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as
transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo
No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade
atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da
mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram
usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo
deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda
a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo
interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda
No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o
projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta
inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as
consideraccedilotildees finais do projeto
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17
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO
21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular
211 Design e cultura material
As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como
suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma
referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo
de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente
quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo
Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento
de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do
projeto e do mercado
A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o
fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos
em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na
legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia
contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente
inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais
Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura
material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo
respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a
material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico
Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no
caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e
portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998
p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que
se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de
expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo
elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das
3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)
18
populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes
dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por
diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades
funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor
Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no
objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e
comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como
mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da
sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo
sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica
(CARDOSO 1998 e ONO 2006)
Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-
STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui
conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado
deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida
transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que
transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana
que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas
No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische
Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma
e alma
A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)
Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do
sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-
subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica
O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e
atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes
niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais
e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na
mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados
ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o
19
objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores
referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado
Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso
apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe
atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem
variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada
Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria
cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma
parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo
(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual
que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos
212 Cultura popular e festejos juninos
O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com
Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de
um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela
para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo
dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante
heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007
p 7)
Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou
seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo
entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura
popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para
projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo
estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que
a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a
mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e
globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior
percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)
e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que
este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo
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pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento
em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva
A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)
A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes
culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)
em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de
acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira
hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura
popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da
conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)
O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia
atribuiacuteda aos objetos na cultura popular
Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)
Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura
popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles
Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui
ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem
ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)
tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma
que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os
agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia
Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma
pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se
dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que
segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-
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moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas
tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees
E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica
uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas
festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as
festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas
origens
As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das
culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios
Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do
repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece
[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)
Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo
de vaacuterios agentes
2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo
Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste
projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-
se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a
magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e
produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor
para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos
A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)
Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social
de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de
produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem
22
celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees
como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios
norte e sul
Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais
mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)
afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila
do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees
o calendaacuterio solar e os solstiacutecios
Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes
grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno
satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal
influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo
periacuteodo
A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para
os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal
festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento
Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO
2007 p 9)
Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio
e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer
(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que
viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte
o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os
nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz
(Babilocircnia)
Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a
conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a
vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente
os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das
colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses
deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a
um novo ciclo
23
Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)
O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa
Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir
a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a
deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo
inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o
periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de
frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)
O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)
Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi
adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram
a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute
conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que
tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por
realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista
[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)
Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo
acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar
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comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na
Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista
Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em
toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de
junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe
foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode
haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio
da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol
quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e
a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER
1982 p 539 e 540)
As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho
homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo
Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs
inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados
Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e
pagamento de promessas
As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com
suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e
em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo
Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)
A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa
da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui
seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual
No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru
em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que
ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF
1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero
de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo
expressatildeo do imaginaacuterio coletivo
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213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade
A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio
catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o
ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo
Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social
Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)
Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa
pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio
antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado
em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia
de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de
fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito
maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente
A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais
da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas
muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de
comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo
articula-se com a cidade
Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva
A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas
cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos
o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)
A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos
que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem
puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo
os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)
As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que
compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando
diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas
ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto
com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]
26
manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas
sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade
da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e
objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo
os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)
Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura
que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma
que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde
ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que
acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o
mito
Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)
o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da
natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por
exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o
como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na
infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)
o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo
de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)
com o coletivo (macrocosmo universo)
Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de
interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru
Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para
as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia
de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual
presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o
moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo
As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows
gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das
festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do
Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra
e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock
Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto
do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru
27
hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da
cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro
que fazem parte da cultura popular caruaruense
Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o
hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais
diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de
contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos
alastrados pela cidade
214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro
As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores
regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem
elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas
No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o
cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave
festa junina
Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da
populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que
atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo
se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou
nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos
outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno
de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa
[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou
individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos
que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido
4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco
28
ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI
1998 p 181)
Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem
a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da
cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas
tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A
apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos
histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo
os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde
o mito de Tamuz o mito fundador
2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil
Quadrilhas juninas
A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve
sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na
Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha
(GIFFONI 1973)
No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser
copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e
festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas
a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados
pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que
levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural
A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica
velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma
identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha
agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular
brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes
7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas
29
o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo
teatral da danccedila nobre
Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos
Fonte Acervo do autor
30
A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por
outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um
conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que
marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam
o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos
reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo
sua bravura e o xaxado10
Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao
menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta
estilizadas e recriadas
[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da
tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um
periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica
e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos
regionais (MENEZES NETO 2008 p12)
Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o
desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional
traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da
performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se
estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados
exibindo banguelas
A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das
festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com
roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da
mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por
fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam
um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar
as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de
comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)
8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros
31
Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas
TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS
MATUTA ESTILIZADA RECRIADA
PERSONAGENS Noivos padre
delegado fofoqueiras
matutos
Noivos rainha e
princesa do milho
lampiatildeo e Maria
Bonita ciganos
Tem noivos e matutos
VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e
calccedilas em cores vivas
com remendos em
chita e xadrez
Os trajes satildeo os
mesmos mas ganham
lantejoulas brilhos
cetins
O vestuaacuterio voltou o
uso das chitas e
xadrezes agora
incorporados como
recortes da
indumentaacuteria
MAQUIAGEM Homens de bigodes
mulheres de sardas e
dentes todos pintados
de preto
Maquiagem de festa
profissionais
Maquiagem de festa
profissionais
MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do
momento
Forroacute coco xaxado
ciranda ritmos
regionais
MARCADOR Coordena a danccedila
marca cada mudanccedila
de passo
Anima a torcida a
evoluccedilatildeo acontece
sem nenhuma
influecircncia do puxador
Anima a torcida e se
integra agrave evoluccedilatildeo da
quadrilha por vezes
marca alguns passos
Fonte Menezes Neto 2008
Casamento matuto
O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da
mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na
atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma
saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um
becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a
ajuda do cangaccedilo
Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma
criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas
na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo
XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de
paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem
saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo
Comidas tiacutepicas juninas
32
As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho
amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram
cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo
Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela
colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e
cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma
A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no
Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de
diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro
deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas
as guloseimas juninas no tamanho gigante
Cidades cenograacuteficas
As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes
incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de
cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os
festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino
com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11
e restaurantes compondo a Vila do Forroacute
11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos
de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas
33
Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas
Fonte Acervo do autor
2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador
Balatildeo
Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as
preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se
o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas
formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi
criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato
de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou
qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar
incecircndios em florestas e acidentes
34
Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo
Fonte Acervo do autor
Fogueira
A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de
agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela
aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada
das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono
da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda
a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma
simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da
fogueira de Satildeo Joatildeo
35
Painel 04ndash Fogueira
Fonte Acervo do autor
Bandeirinhas
As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de
tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em
madeiras preparadas pelo povo
Painel 05ndash Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
36
O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-
lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta
possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que
antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um
padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)
Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia
de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa
(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto
com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo
Painel 06ndash Mastros dos santos juninos
Fonte Acervo do autor
Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos
juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina
37
215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo
Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se
na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais
Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi
tratado anteriormente
Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de
Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de
Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)
Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela
Fonte RIBEIRO 2008
As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de
Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava
oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de
fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver
Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista
(RIBEIRO 2008 p 2)
38
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento
modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas
pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus
trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta
de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001
p110)
Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas
Fonte GREGGIO 2001 p121
Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um
premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no
trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe
deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o
tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e
senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)
39
Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas
obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das
formas e cores Como falou o pintor em entrevista
ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar
uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com
essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as
fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com
bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)
O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E
esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para
este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois
utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou
volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva
brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas
alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura
40
Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p52
Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p92
41
Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70
Fonte MATTAR 2014 p98 e 99
216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design
A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design
Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria
imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o
siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores
coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes
perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico
No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees
para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com
pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos
estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a
cultura popular
Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha
Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com
esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura
06)
42
Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok
Fonte (OXFORD 2013)
Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo
inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco
em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo
as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo
(Figura 07)
43
Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2015)
O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca
registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram
inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um
casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas
e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa
de Satildeo Joatildeo
44
Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok
Fonte (TOKampSTOK 2016)
Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre
abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre
as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma
publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de
2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas
acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo
Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa
apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)
12 Estado emocional
45
Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina
Fonte (FORUM 2016)
A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que
estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina
apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e
xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo
46
Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013
Fonte (FARM 2013)
Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016
Fonte (FARM 2016)
Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de
festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas
fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar
A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as
latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A
Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)
47
que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse
cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo
eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)
Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol
Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)
Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava
Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)
O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento
da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em
ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral
acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo
48
Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)
inspirados nas comidas tiacutepicas juninas
Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados
Fonte (DESIGNINNOVA 2010)
A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas
com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos
nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo
para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas
dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos
49
juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao
caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)
Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil
Fonte (SUVINIL 2015)
O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas
inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste
brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram
desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias
50
22 A vitrina no societal
221 Design e vitrina
Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que
possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute
importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo
momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente
e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada
eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como
valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo
Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo
conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e
valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal
objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo
[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)
Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com
diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador
Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano
mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso
(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta
as ideias abstratas e subjetivas
Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade
Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social
junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo
artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade
projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo
comportamental de uma sociedade
51
Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda
marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das
transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se
apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem
a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo
num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo
Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas
diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato
assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis
para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se
necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design
pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo
inseridos os designers
Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para
uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008
p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de
bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema
em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma
apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo
cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre
que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e
consumidor
Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios
artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria
de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as
atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante
assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem
atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas
das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem
poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio
e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo
Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando
esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio
52
convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo
que eacute oferecido na vitrina
Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As
vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando
dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma
eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)
O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar
dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design
Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um
convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma
encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e
relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer
O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design
levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja
percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco
Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a
palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais
precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma
textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing
quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e
mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)
O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em
bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A
vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um
espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente
222 Vitrina seu lugar no espaccedilo
A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a
todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste
entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano
como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz
53
de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas
possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o
urbano
A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa
explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante
do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia
Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo
exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O
socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem
e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam
sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior
A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)
Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as
caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de
mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel
perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior
com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa
ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior
satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo
Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e
o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois
espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo
e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser
observada das duas perspectivas de espaccedilo
Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina
como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro
dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o
qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma
encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um
54
cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de
vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas
No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao
flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente
para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta
(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de
estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio
em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta
uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador
Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui
o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta
imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido
pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o
consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar
com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de
quem a observa
Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona
como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso
ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele
Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um
reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute
diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute
onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas
A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel
funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que
Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso
agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser
Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo
evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que
transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no
ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte
eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum
momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela
55
transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente
comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso
2221 As vidraccedilas na cidade
Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do
ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o
natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o
socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia
esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-
se e relacionando-se com o mundo
Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no
ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos
valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses
elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo
(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir
em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno
Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta
e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante
onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no
fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no
caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do
passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este
frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca
pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador
Para Michel Maffesoli
Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de
nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de
acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados
pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um
espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos
apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)
Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real
atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da
mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com
56
o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-
se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo
vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o
conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos
comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda
simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador
As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das
transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da
representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse
mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o
espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a
cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta
diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma
preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla
Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas
que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma
instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de
maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas
retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo
que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia
entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta
a sociedade por retratar o mito social
[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de
relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees
interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto
sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando
sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI
2010 p 63)
Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como
um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees
como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o
tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo
vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois
57
ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o
consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas
Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as
mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees
do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado
(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado
mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier
(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social
representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais
de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com
o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem
para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel
223 Da forma agrave vitrina
Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de
materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e
mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para
concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura
luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao
mesmo valores espaciais sensoriais e visuais
Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre
espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como
seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute
de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como
exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH
em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que
forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A
personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas
assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser
Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece
[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um
58
elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)
Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo
nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as
formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute
forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma
histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado
Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual
resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode
configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina
masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta
condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna
possiacutevel compreender o conjunto social
Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de
melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados
contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo
deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa
A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si
podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico
filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este
estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica
Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio
S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que
conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular
[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam
a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)
A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao
seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do
significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos
e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao
longo da pesquisa
59
Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica
definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a
palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute
constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto
conceito (significado natureza proacutepria)
Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute
comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim
como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma
interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os
impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do
universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura
configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no
campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio
A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que
a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e
ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em
funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra
coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)
chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o
invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que
forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se
organicamente entre si
2231 A esteacutetica da forma
Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais
neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do
observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a
expectativas sociais e culturais
Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e
que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos
13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado
grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)
60
O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir
sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza
e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua
explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo
que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas
na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo
eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p
12)
Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos
Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia
formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com
o outro
Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da
aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que
abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados
conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]
o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e
em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno
da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima
pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que
invade o iacutentimo do flanador
A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o
contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens
constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado
revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar
o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra
socializa
Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se
define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado
anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como
adereccedilos luz cores e produtos
Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas
Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma
espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de
61
pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano
salvo raras exceccedilotildees
A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior
ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus
contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra
claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc
A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute
determinante do equiliacutebrio entre suas variantes
O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o
produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de
toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)
Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha
em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens
coacutedigos identificaccedilotildees
A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que
se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que
se vive atualmente
E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira
estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem
da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura
burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)
Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a
vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira
fluiacuteda no espaccedilo vitrina
224 Sentidos e a vitrina
A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e
diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo
com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas
primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de
sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer
dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade
62
primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e
une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a
espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real
A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas
causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela
eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico
desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua
sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior
proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo
fascinante
Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do
olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um
olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem
refletida (BIGAL 2001 p 60)
Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o
seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo
revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um
jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a
imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia
As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas
com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a
fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de
projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios
desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio
de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que
estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente
na percepccedilatildeo do eu sobre o outro
Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute
caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a
partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco
(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com
o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees
taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz
pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto
63
espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do
homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os
elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do
tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao
ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa
estranha ao observador
[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do
bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele
que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada
rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)
O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por
muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as
marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para
ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar
de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de
experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato
mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de
degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como
complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia
do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho
As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade
que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as
iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa
com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de
pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)
Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados
na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel
tempo Barreto afirma que
[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)
64
Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos
seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no
imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento
Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de
calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009
criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca
em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois
o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar
a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente
vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela
experiecircncia
Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional
espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares
captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver
fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de
sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como
uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo
eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da
matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados
tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas
Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em
eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes
emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se
barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos
perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na
qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)
Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e
identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que
simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das
14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas
televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico
15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo
desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias
65
inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre
espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto
os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam
e satildeo percebidos por diferentes meios
A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto
antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo
designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por
experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento
emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo
das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro
a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute
comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal
objetivo mostrar-se
Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura
O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de
comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente
do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia
fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)
Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam
originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute
importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos
do contemplador
225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo
O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido
ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio
como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser
cultural ao ser humano
Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria
Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia
faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de
66
simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a
p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de
simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na
sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o
designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os
coletivos (MIZANZUK 2007)
Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem
Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial
que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010
p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o
coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas
o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas
aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de
carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a
cultura de uma regiatildeo de um povo
O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos
objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando
uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo
eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma
Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura
Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme
Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura
Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade
Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos
tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego
satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo
a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o
espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado
os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)
16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados
detalhadamente no toacutepico seguinte
67
Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC
Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014
Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente
vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com
o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo
aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente
do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado
pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir
o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por
exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles
(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na
chuva
Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute
vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico
enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim
como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-
68
chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-
chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos
os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados
que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o
valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito
ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro
O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que
compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem
da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito
O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que
possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do
homem a morte
Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos
de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei
Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina
Fonte FASHINMAG 2011
A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social
masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a
mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses
69
imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura
heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do
guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como
se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina
suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o
terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes
os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor
de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes
Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do
imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo
usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia
de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina
Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura
miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico
harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e
dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do
homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)
Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina
Fonte MBASIC 2014
70
Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento
redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda
Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume
aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica
em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta
As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que
orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda
roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o
tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo
quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo
na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes
que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees
e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa
que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes
As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram
analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de
Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos
e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo
passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O
Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim
como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento
com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim
como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos
como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo
menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam
perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para
que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas
71
226 Vitrina de Satildeo Joatildeo
Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras
principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por
ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades
incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de
diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios
cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o
Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo
para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo
com o passante
Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e
representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse
conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais
clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da
vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo
O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que
a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo
os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos
como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em
duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez
que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa
junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas
Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem
maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima
satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se
sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante
72
Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma
cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia
que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo
de um mito
73
Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura
17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria
narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os
mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto
04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)
Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011
Fonte Pinterest 2016
74
Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016
Fonte Acervo do autor
75
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo
Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio
urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que
transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina
31 Metodologia fenomenoloacutegica
A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute
abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de
abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e
estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos
lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica
(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-
hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar
projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo
meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa
Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico
quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise
eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a
investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a
complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud
MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados
coletados nesse projeto eacute qualitativa
A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de
Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos
permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos
Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a
fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia
imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo
Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se
a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco
Ainda segundo a autora
76
[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)
A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a
ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um
ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada
como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa
Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento
filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl
considerado o pai da fenomenologia
A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)
A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo
verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos
de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo
de um uacutenico fenocircmeno
A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)
Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede
direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-
Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram
influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o
desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto
Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica
[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e
77
objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)
Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia
sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao
ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo
restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli
aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado
na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o
resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um
sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)
311 Imaginaacuterio
Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social
perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este
processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real
ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre
esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca
(PITTA 2005 p147)
A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo
abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em
sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir
do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli
(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a
experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma
visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o
imaginaacuterio e o prazer dos sentidos
Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o
aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de
mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma
melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo
fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel
eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o
fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste
78
meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida
cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave
origem do fenocircmeno
32 Instrumento de coleta
Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto
diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa
sendo o primeiro a ser empregado
Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e
explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e
trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao
projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa
cientifica
Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos
fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos
design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees
Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e
mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite
um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da
aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar
hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este
permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina
33 Metodologia do designer
Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por
Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que
tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento
de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de
um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes
de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas
consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor
adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia
79
para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem
vir a se desdobrarem
Metodologia projetual de Cerver
Fase 1 Definiccedilatildeo do problema
A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e
a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer
Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O
designer deve responder
Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos
Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais
Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam
Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc
Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)
Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos
requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser
respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto
A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como
a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos
objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)
afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde
seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente
Fase 2 Busca de informaccedilotildees
A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-
se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins
com os objetivos do projeto
Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e
igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados
O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro
fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias
80
existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado
a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e
manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)
Fase 3 Preacute-projeto
Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias
viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias
selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema
em questatildeo
Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e
protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os
fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos
projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de
geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute
uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual
Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto
Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias
necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do
mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente
Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e
ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve
ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para
montagem da mesma
Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos
o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois
da implantaccedilatildeo da vitrina
81
4 RESULTADOS
Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da
abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de
desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a
ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor
41 Definiccedilatildeo do problema
O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o
mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar
as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo
empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico
A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia
fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de
baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a
composiccedilatildeo da mesma
A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres
adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina
foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que
a festa junina tem em si
Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo
do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu
desenvolvimento
42 Busca da informaccedilatildeo
Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a
festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo
do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA
e papeis para compor a vitrina
Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como
Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em
outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas
82
421 Painel de inspiraccedilatildeo
4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X
4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo
Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68
4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina
Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina
Fonte Acervo do autor
83
43 Preacute-projeto
431 Croquis fase 1
A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da
festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora
das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em
questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis
de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas
No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as
bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas
natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade
cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal
material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados
foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza
multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo
Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no
imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser
passado neste projeto
Desenho 01 ndash Croqui A
Fonte Acervo do autor
No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente
quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a
compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto
84
quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto
negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar
se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo
das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o
paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser
apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este
segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio
que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina
Desenho 02 ndash Croqui B
Fonte Acervo do autor
432 Croquis fase 2
Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto
considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior
Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser
usado na configuraccedilatildeo do projeto
No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha
de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo
passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro
croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das
85
manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse
aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No
sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas
possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro
do vento
Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio
Fonte Acervo do autor
86
Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase
anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores
aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada
anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como
bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e
dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e
movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)
Painel 12 ndash Referecircncia fogueira
Fonte Acervo do autor
87
Desenho 04 ndash Croqui Fogueira
Fonte Acervo do autor
Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel
13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo
nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos
como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das
quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)
Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
88
Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas
Fonte Acervo do autor
Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores
materiais e texturas
433Testes
No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para
estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel
tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as
bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17
Painel 14 ndash Teste 1
Fonte Acervo do autor
17
89
No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o
EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou
a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica
de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste
para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se
distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido
e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser
retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas
do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos
desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina
Foto 04 ndashTeste 2
Fonte Acervo do autor
44 Apresentaccedilatildeo do projeto
Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que
compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no
teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos
contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor
90
selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto
as demais cores
As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas
obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)
Painel 15 ndash Cores de Volpi
Fonte MATTAR 2014
Figura 18 ndash Cartela de cores
Fonte Acervo do autor
Estudo das combinaccedilotildees das cores
91
Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores
Fonte Acervo do autor
Outras possiacuteveis combinaccedilotildees
Figura 20 ndash Outras alternativas de cores
Fonte Acervo do autor
92
Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis
de diferentes finalidades e texturas
Foto 05 ndash Teste Final
Fonte Acervo do autor
441 Memoria teacutecnico descritiva
Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho
teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura
com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas
as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo
93
442 Desenho teacutecnico
4421 Molde painel
Vetor 01 ndash Painel vitrina
Fonte Acervo do autor
Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas
Fonte Acervo do autor
Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais
Fonte Acervo do autor
94
4422 Molde casa
Vetor 04 ndash Molde casa
Fonte Acervo do autor
4423 Molde display
Vetor 05 ndash Molde display
Fonte Acervo do autor
95
4424 Molde telhado
Vetor 06 ndash Molde telhado
Fonte Acervo do autor
4425 Molde ceacuteu
Vetor 07 ndash Molde ceacuteu
Fonte Acervo do autor
96
443 Materiais empregados
Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80
espessura 09 mm nos telhados e displays
Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em
especial nos telhados) (Foto 6)
Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado
Fonte Acervo do autor
Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina
guache (Foto 07) sobre papel camurccedila
Foto 07 ndash Cartolina guache
Fonte Acervo do autor
97
Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado
(Foto 08)
Foto 08 ndash Papel contato laminado
Fonte Acervo do autor
Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros
escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita
dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para
transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono
Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete
Fonte Acervo do autor
98
444 Sequencia Operacional
Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia
Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo
OP Sequencia Operacional Ferramentas
1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal
2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas
respectivas cores no papelatildeo canelado
Tesoura papel carbono e
laacutepis
3 Cortar os moldes casa base display e painel C e
bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina
guache
Tesoura estilete reacutegua de
metal papel carbono e
laacutepis
4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e
laacutepis
5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em
cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar
com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais
moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio
Tesoura papel carbono e
laacutepis
6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP
4) Reservar
Cola para papel e pincel
7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal
8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida
9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais
moldes cortados nas OP 3 e OP 4
Cola para papel e pincel
10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as
combinaccedilotildees de cores
Cola para papel e pincel
12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e
luminaacuteria
13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida
14 Colar uma casa na outra Fita dupla face
15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida
furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila
Laacutepis reacutegua furador
16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a
disposiccedilatildeo da base ceacuteu
Cola para papel e pincel
17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face
Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face
18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees
eleacutetricas por traacutes da base da vitrina
Fita dupla face
19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares
marcados
Furador
Fonte Acervo do autor
As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem
e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto
99
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e
projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender
agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa
foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as
simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo
da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal
Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida
pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que
o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a
vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao
construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a
marca e sua identidade
O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como
representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na
cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como
meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a
relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina
como exemplo dessa relaccedilatildeo
Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo
simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para
configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no
contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta
de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru
Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design
para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da
teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente
duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas
discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi
possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem
da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e
representante do imaginaacuterio social
100
A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no
periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor
O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do
imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina
enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal
E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com
ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de
poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram
enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho
contribuiu para um emprego mais social do produto de design
Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e
experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui
utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura
popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado
local
Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo
de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes
da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada
principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no
desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro
comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver
Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o
design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao
projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento
para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas
A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo
canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe
uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si
mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa
interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma
possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade
101
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