Meu nome, minha vidaA verdadeira história de Cici,
a “morta-viva” de Saquarema
Yara Santos de Souza
Copyright © 2014 – Yara Santos de Souza
Editora: Tupy Comunicações
Publisher: Dulce Tupy
Projeto Gráfico: Lia Caldas / Subito Creative
Capa: Lia Caldas / Subito Creative
Ilustração da capa: Marciel Ignacio
Fotografia/contracapa: Edimilson Soares
Fotos: Acervo pessoal da autora
Colaboração: Edson Fonseca
Revisão: Alessandra Calazans
SOUZA, Yara Santos de.
Meu nome, minha vida: A verdadeira história de Cici, a “morta-viva”
de Saquarema / Yara Santos de Souza. – Saquarema, RJ : Tupy
Comunicações, 2014.
106p.
1. Autobiografia.
ISBN 978-85-61069-13-1
Agradecimentos
Em primeiro lugar agradeço a Deus por ter me
dado forças para lutar.
Aos meus amigos Edson, Kaio Fernandes e Carlos
Evaristo de Oliveira Filho. Ao meu marido, Manoel
dos Santos (Gudinho), meus filhos Marcelo S.
Santos, Gary S. Santos, Vagner S. Santos, Luiz
Fernando S. Santos e Manoel dos S. Junior.
In memorian de Dra. Geisa Ribeiro Pitta, Dr.
Denildes Aguiar, Dra. Carmen Lucia do Passo,
Nilda Francisca e Fábio Torres de Oliveira.
Sumário
Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Para Cici (Yara) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
A arte da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Capítulo 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Capítulo 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Capítulo 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Capítulo 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Capítulo 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Capítulo 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Capítulo 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Capítulo 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Capítulo 9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Capítulo 10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Capítulo 11 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Capítulo 12 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Capítulo 13 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Capítulo 14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Capítulo 15 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Capítulo 16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
Capítulo 17 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Para Cici (Yara)
Quando fui convidado a colaborar com a escrita do livro de Yara (Cici)
confesso que estranhei. Não entendia como uma “morta-viva” podia ter
uma aparência tão saudável. Sim, pois Cici (Yara), sempre me pareceu
uma pessoa tão bacana, não tinha nada de “zumbi”. Santa inocência!
Nem imaginava as ardilosas tramas que os homens podiam arquitetar
para obter vantagens ilícitas.
Ao receber os esboços do livro, comecei a ler, de início meio des-
crente. Á medida que comecei a entender a história e as “fichas começa-
ram a cair” não parei mais. Devorei tudo em uma noite. Pensei comigo
mesmo: Nossa, que história incrível! Precisa ser contada!
Digitei todos os manuscritos, e comecei a me reunir com Yara
em sua casa, para realizarmos o nosso trabalho de tornar pública sua
história de vida tão ímpar. Após muitos encontros e muitas revisões,
achamos que o livro já tinha o rosto de sua personagem principal.
Apesar de muitas dúvidas, a única certeza que nós tínhamos era
a de que precisávamos chegar ao final. Consultamos alguns amigos, que
leram nossas anotações, tiraram dúvidas quantos aos direitos autorais
e ratificaram a ideia de que o livro tinha que ser publicado.
Enfim considerei o meu trabalho concluído.
O que mais me impressiona na história de Yara é a sua capacida-
de de perdoar os seus algozes e o amor que dedica a todos que a cercam.
Temos muito que aprender com este livro.
Boa leitura,
Edson Fonseca
A arte da vida
Oscar Wilde dizia que a vida imita a arte muito mais do que a arte imita
a vida. Há quem sustente o contrário. A verdade é que uma é o espelho
da outra, não importando de que lado esteja. “Meu nome, minha vida”
é uma obra que pode muito bem transitar pelo imaginário coletivo en-
coberta ora com uma, ora com outra máscara.
Para aqueles que se veem na trama, ou dela tenha sido testemu-
nha, afirmam, com certeza que é uma história de vida fascinante. Uma
peça que o destino cuidadosamente escreveu, conduzindo o enredo por
caminhos inimagináveis. Com os temperos indispensáveis para uma
boa ficção: amor, ódio, ciúme e traição. Só que deixando marcas reais
nas almas das personagens.
Já para os leitores desavisados, aqueles, que alheios aos fatos,
tenham este livro lhes caído nas mãos, deleitam-se com passagens de
indescritível emoção, fluindo num linguajar leve e simples de quem faz
um desabafo entre amigos ou conta uma história. Talvez até imagine
se existiria alguém de verdade que possa ter vivido algo tão fantástico.
Voltando á afirmação de Wilde, não há como, objetivamente,
abraçar ou rechaçar sua tese, por um simples motivo: a arte e a vida
se entrelaçam, se misturam, se fundem... depende do foco. Se for
vivida, é arte. É a arte da vida! É melhor não perdermos tempo...
vamos à história.
Charles Soares
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Capítulo 1
Nasci no dia 27 de Fevereiro de 1953. Meus pais biológicos, Aquiles
Militão dos Santos e Carolina Siqueira eram muito pobres e já ti-
nham nove filhos. Eles não tinham condições de me criar e deram-me
aos dois meses de vida para a minha tia, Cecília Santos de Souza, irmã
de meu pai, já que era a mais abastada financeiramente de toda a famí-
lia, era louca para ter filhos, não podia e registrou-me com o nome de
Yara Santos de Souza.
Fui batizada na Igreja de São Francisco de Paula na Barra da Ti-
juca. Meus padrinhos foram Márcia Fernanda Rodrigues Torres de Oli-
veira e Dr. Fábio Torres de Oliveira.
Minha mãe adotiva, Cecília, um dia comentou com minha ma-
drinha que queria comprar um terreno em frente à igreja onde fui ba-
tizada. Minha madrinha a aconselhou a pôr o terreno em meu nome,
e ela fez uma doação com reserva de usufruto para ela. O terreno fica
localizado na Praça Euvaldo Lodi, na Barra da Tijuca. Meu padrinho era
engenheiro e fez um projeto revolucionário para a época, que não me
lembro muito bem o que era.
Chegamos a morar lá: Praça Euvaldo Lodi, nº 22, não sei por
quanto tempo, numa casa pré-fabricada. Naquela época eu não enten-
dia muita coisa. Mamãe tinha uma vida atribulada; hora estava na Bar-
ra, hora em Copacabana, onde tinha um Hotel chamado Rio Doce na
Rua Barata Ribeiro, nº 216.
Não entendia onde mamãe trabalhava à noite. Quando chegava
pela manhã, os empregados não me deixavam brincar para não acordá-
la e quando isso acontecia, ficava uma fera e me batia muito. Mamãe
era muito vaidosa, tinha muitas jóias, a maioria de ouro com brilhantes
e pérolas; carro tinha que ser vermelho e zero quilômetro. Nos anos 60
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adorava desfilar com aqueles rabos de peixe hidramáticos.
Não sabia ler, nem escrever, mas era muito esperta para negó-
cios. Tinha uma boate no centro comercial de Copacabana, a Channel.
Tinha também o Hotel Mar Azul, o Lindo Mar e a boate Tabu.
Mamãe era dançarina, seu nome artístico era Zuzu Bitty, tam-
bém conhecida como “Diabo Louro”. Mamãe era uma mulher muito
corajosa. Não me lembro quantos anos eu tinha, quando uma vez em
Copacabana, no Hotel Rio Doce, chegaram uns homens se dizendo
policiais, procurando por mamãe. Seu fiel empregado Francisco, que
era chamado pelo apelido de Chiquinho, foi atender enquanto mamãe
fugia pelos fundos. Mamãe pulou de um lugar muito alto e acabou
quebrando a perna e se arrastando conseguiu pegar um táxi na Rua
Barata Ribeiro. Foi para Niterói, onde ficou hospedada no Hotel Ara-
ribóia, que ficava na rodoviária.
Quando se comunicou com Chiquinho, em quem ela confiava
muito, pediu que levasse dinheiro e sua filha e assim ele fez. De lá
fomos para a casa da minha vó, mãe de papai. Eu a chamava de vovó
Chica, seu nome era Maria Francisca, morava em São Gonçalo, na
praia das Pedrinhas.
Certo dia, de manhã, vovó me deu um tapa no rosto. Mamãe não
gostou e falou que preferia estar presa a ficar ali. Fomos para um galpão
em Neves, São Gonçalo. Lá a gente dormia no chão e cozinhava num
fogareiro a querosene.
Papai chegou lá e não gostou dela ter saído da casa da vovó e dis-
se que estava me dando asas. Ela falou:
– Eu bato, mas não gosto que ninguém bata nela.
Eu ouvia mamãe dizer que não podia ter-me com ela devido à
vida que levava. Eu não podia imaginar que ela tinha uma casa de “even-
tos”, naquela época muito perseguida pela polícia. Quando saímos de lá
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ela resolveu me internar num colégio: Instituto Claparret, que depois
passou a se chamar Instituto Padilha. Eu tinha mais ou menos uns sete
anos. Fiquei anos nesse colégio em Ipanema, só que mamãe nunca foi
me visitar. Quem ia muito me visitar era Maria, seu braço direito, e
Chiquinho. Depois de um tempo não ia mais ninguém. E quando a di-
retora, dona Anita, que nós chamávamos de dona Ninita ligava, mamãe
mandava dizer que não estava ou mudava a voz no telefone.
Quem me contou mais tarde foi a própria Maria, que me contou
também que uma vez entornei um tinteiro na cama e manchou a colcha.
Mamãe tarde da noite ligou para o meu quarto dizendo que era a bruxa
e ia me pegar porque eu havia feito coisa errada. Corri para o quarto de
Maria chorando. Tomei pavor de ouvir tocar o telefone. À noite Maria
me mandou parar de chorar e falou que era mamãe para me assustar.
Nunca ninguém do colégio encontrava mamãe. Festa de fim de
ano era triste. Eu me arrumava para esperar mamãe ou alguém que
viesse, mas não aparecia ninguém. Eu olhava para o céu e via urubus
voando ao longe e perguntava assim: “Urubu, minha mãe vem hoje? Se
ele batesse as asas ela viria. No entanto ele nada de batê-las. Era triste
quando via a última criança sair, só então, a diretora pedia a algum fun-
cionário ou ela mesma me levava para sua casa”.
Uma vez fui passar a Páscoa na casa de uma menina chamada
Rosália, que estudava comigo. Comi tanto chocolate, que fui parar
no hospital. Rosália estava lá também. A mãe dela era cantora de
boate, só não lembro o nome. E assim fui ficando no colégio, que era
pago, só que como mamãe sumiu e nem o colégio pagava mais, eu
ficava fazendo serviços como amarrar os sapatos dos menores, dar
banho e pentear os cabelos das outras crianças. Lembro-me que uma
vez estava com uma ferida no joelho e um garoto deu-me um chute
bem na ferida e a inspetora, Dona Quitéria, na hora da oração notur-
na pediu a ele que rezasse e pedisse a Deus que desse a ela força nas
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mãos para usar a palmatória nele.
Lembro que teve uma denúncia que o diretor estava abusando
das meninas. Não consigo lembrar detalhes dessa confusão, mas deu
até polícia. Eu gostava quando Maria ou Chiquinho ia me visitar, por-
que na porta do colégio tinha uma barraca de sorvetes.
Fiquei muito doente, com sarampo, e só assim consegui que me
levassem para casa. Fui para Copacabana. Maria cuidava de mim e não
voltei mais para aquele colégio interno. Aí, mamãe saía comigo para
procurar outro colégio, ela nem queria semi-interno, até que encontrou
um na Boca do Mato: Colégio Pássaros do Brasil. Fiquei três no pri-
meiro colégio e mais um ano no segundo. Foram quatro anos de muito
sofrimento. Chorava com saudades de mamãe, eu a amava muito.
Cici ainda bebê, no Rio
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Cici elegante e sorridente, no dia do seu batizado
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