DITADURA E MOVIMENTOS
SOCIAIS NO BRASIL
Janaina Bilate
ESS/UNIRIO
Projeto: Cultura, Mídia e Direitos Humanos
MOVIMENTOS CONTRA-HEGEMÔNICOS:
DETERMINANTES SÓCIO HISTÓRICOS
• Capital x Trabalho: lutas para assegurar os interesses das classes;
•Fins da década de 1950 e início da década de 1060 – período histórico
de grande mobilização em nível internacional: Guerras Coloniais em
Angola, Guiné e Moçambique; Revolução Cubana; a conquista da
independência no Vietnam; as lutas dirigidas por Martin Lutherking por
direitos cívicos dos negros; Movimento de Mulheres; a queda do Regime
Apartheid; os Movimentos Estudantis em nível internacional;
• Estratégia do grande capital para frear a efervescência das lutas nos
anos 60 - aliar-se ao autoritarismo militar contra a ameaça
comunista, mormente na América Latina.
MOVIMENTOS CONTRA-HEGEMÔNICOS:
DETERMINANTES SÓCIO HISTÓRICOS
• Reducionismo compreendermos apenas a ameaça de frear o avanço doimperialismo em escala internacional como único motivo da emergência de umacontra-revolução preventiva no Brasil (Netto ,1991).
• Capital monopolista nacional – conciliador de modernidade e arcaísmo –reforçando privilégios de grupos restritos da população brasileira e buscandoimpedir que as classes subalternas participassem efetivamente dos processospolíticos decisórios.
• A correlação de forças pré-golpe de 64 sinalizava para uma possívelreordenação do modo de produção capitalista em nível de lógica deacumulação, no sentido da incorporação de demandas das classes subalternaspor instâncias estatais, visto a direção do governo João Goulart.
•Havia possibilidades objetivas gestadas já na década anterior, fruto daiminência de uma das crises do modelo capitalista e da mobilização de forçasdemocráticas vinculadas, em especial, às classes subalternas.
MOVIMENTOS CONTRA-HEGEMÔNICOS:
DETERMINANTES SÓCIO HISTÓRICOS• Para Coutinho (2000), a ditadura-militar configura-se um decisivo
fator para a não democratização da cultura em âmbito nacional, de cunho
nacional-popular.
• O regime ditatorial-militar foi protagonista na passagem do capitalismo
brasileiro para a era dos monopólios de Estado.
•Isto desencadeou rebatimentos diretos na direção dos meios de
comunicação de massa, passando estes a serem dominados pelos
monopólios.
“A televisão é o caso mais evidente. Mas o fenômeno se manifesta também
em outras áreas, como a grande imprensa, o cinema, etc.” (2000: 33)
MOVIMENTOS CONTRA-HEGEMÔNICOS:
DETERMINANTES SÓCIO HISTÓRICOS
•Neste cenário, há também que se considerar as propostas contra-hegemônicas no âmbito da indústria editorial, da imprensaalternativa e do teatro engajado.
•Estes organismos propulsores de cultura contribuíram para aresistência democrática face ao regime, ampliando os espaços devocalização de demandas da sociedade civil, podendo resultarposteriormente em formas diretas de controle democrático daorganização da cultura.
•Para tal, os intelectuais orgânicos contra-hegemônicos dos anos60, articulados diretamente às classes subalternas, desempenharampapel central neste processo de luta contra a ditadura militar.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO X CENSURA: AS
LUTAS POR DEMOCRACIA
Podem me prender, podem me baterPodem até deixar-me sem comer
Que eu não mudo de opinião.Daqui do morro eu não saio não,
Daqui do morro eu não saio não.
Se não tem água, eu furo um poçoSe não tem carne,
eu compro um osso e ponho na sopaE deixo andar, deixo andar
Fale de mim quem quiser falarAqui eu não pago aluguel
Se eu morrer amanhã, seu doutorEstou pertinho do céu
• Marcelo Ridenti (2000) – nos aponta que grande parte dos intelectuais que
dirigiam a massa na perspectiva das possibilidades emancipatórias e de
igualdade socioeconômica provinham das camadas médias a altas.
• O operariado participava desta fase da realidade brasileira como sujeitos
passíveis de potencialização de sua consciência crítica e de vocalização de suas
demandas a partir do contato com estes intelectuais e sua arte.
• É no decorrer na organização do movimento operários de fins de 60 e início de
70 que se começa a grande pressão pela abertura democrática.
•Todavia, no âmbito cultural, os intelectuais à frente dos movimentos contra-
hegemônicos nos anos 60 eram em grande parte das camadas médias.
•Somente a partir dos anos 80, no processo da democratização, com a criação do
PT, da CUT, do MST, dos movimentos populares, essa situação começaria a mudar.
• Celso Frederico - a classe operária face à ordem burguesa autoritária
encontrava-se desmobilizada e acuada.
• Foram os jovens intelectuais da classe média letrada e politizada que
fertilizaram o terreno para a emersão de uma estrutura de produção e
reprodução de bens culturais, núcleos da resistência à ditadura militar.
A efervescência artística do pré-64, expressa no cinema novo, na bossa-nova, nos
Centros Populares de Cultura, desdobrou-se, após o golpe, num amplo
movimento de resistência cultural contra os novos governantes, a censura e o
chamado "terrorismo cultural". A contestação inicial do regime foi feita
basicamente pela intelligentsia radicalizada, num momento dramático em que a
classe operária encontrava-se desmobilizada e sofrendo uma repressão que os
donos do poder não ousavam estender para a classe média intelectualizada. É
este o contexto de onde surgirá o aguerrido movimento estudantil que, a partir de
1966, ocupou as principais cidades do país, desafiando a ditadura. (FREDERICO,
2004)
• Na voz de Gianfrancesco Guarnieri, Vianninha, José Celso
Martinez Correa, José Renato, Augusto Boal, Chico Buarque, Maria
Betânea, Caetano Veloso, entre tantos outros é que as classes
subalternas viam-se expressas culturalmente.
• Marco na penetração da realidade brasileira nas artes: Eles não
usam black-tie, de Guarnieri alcançou repercussão de grande
monta.
• A ação dramática do texto era centrada no operariado que
vivenciava uma greve. No decorrer da história, o conflito se foca
entre pai e filho com posições divergentes quanto à adesão ao
movimento operário que dirigira uma greve.
• 1968 – o ano que não terminou (Zuenir Ventura) – destaca que as camadas da
população que estavam à frente do Movimento Estudantil, que tinha como pares
os artistas de teatro, cinema, literatura e televisão eram filhos de políticos, de
advogados, de professores universitários, escritores.
• Freqüentavam os bares da esquerda da moda:
Antonio´s, Degrau, Jangadeiros, Zeppelin, Pizzaiollo, Varanda, todos situadas na
Zona Sul do Rio de Janeiro, e não acessível ao proletariado. E naqueles
tempos, Ipanema e Leblon – regiões com pessoas de alto poder aquisitivo –
tinham a fama de ser o lócus concentrador da intelectualidade brasileira no Rio
de Janeiro.
Naqueles tempos, o trecho entre Ipanema e começo do Leblon tinha a
reputação de pedaço mais inteligente e boêmio do Brasil. Personagens mitológicos como
Vinicius de Morais, Tom Jobim, Carlinhos Oliveira, Chico Buarque podiam ser
encontrados ali com a mesma freqüência com que outros, mais folclóricos, ou estavam
ali, ou nos Chopinics, quadrinhos que Jaguar publicava diariamente no JB. Eram tipos que
o talento do cartunista transformou em protótipos da angústia existencial de uma geração
– a fossa, como se dizia – ou da curtição – como ainda não se dizia: os Hugo (Bidet e
Carvana), o Paulo Góes, o Paulo Garcez, a Márcia, a Duda. (VENTURA, 1988:47).
O PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO –
DESTAQUE PARA A CULTURA E A LUTA
DEMOCRÁTICA
“ (…) Fato significativo é que, pela primeira vez, o Partido Comunista do
Brasil, legalizado, torna-se um partido de massas; (…) Os sindicatos
operários, embora continuassem atrelados à tutela do Ministério do
Trabalho, começam a ter um peso crescente não só nas lutas econômicas, mas
inclusive na vida política nacional. Também as camadas médias buscam formas
de organização independentes, nos partidos e fora dos partidos:
escritores, advogados, jornalistas criam associações para a defesa de seus
interesses e de seus ideais. Tudo isso amplia o campo da organização material da
cultura; uma ampla e muitas vezes fecunda batalha das idéias começa a ter lugar
entre nós. Há um acentuado empenho social da intelectualidade, um maior
comprometimento com as causas populares e nacionais.” (COUTINHO, 2000:
30)
AI – 5: 1968
• 1968 – movimentação política intensa por conta das manifestações artísticas e
do Movimento Estudantil. A participação política e as manifestações contra o
regime ganhavam força principalmente nas universidades;
• Congresso da Une no interior de São Paulo;
•Na música - músicas que revelam questionamentos e denuncias acerca do
Regime, e que trava uma batalha de idieias na disputa pelo retorno á
democracia. E, contraditoriamente, as que o legitimavam;
• Destaque para as músicas: Opinião, de 1964, Disparada, de 1966, Carcará, de
1966, Roda Viva, de 1967, Gente Humilde, de 1969, Pra não dizer que não falei
de flores, 1968.; Tropicália, 1968; Geléia Geral, 1968
• No teatro, a I Fera Paulista de Opinião, realizada no e direcionada pelo grupo
do Teatro de Arena, teve como tema norteador “Que pensa você do Brasil de
hoje?”. Destaque Augusto Boal.
Estudante Edson Luis
MOVIMENTOS PELA REDEMOCRATIZAÇ.ÃO
• Movimento Operário no ABCD Paulista – 1978 surge e difunde-se o novo
sindicalismo;
•1979 – Greves no ABCD paulista duramente reprimidas – o governo intervém
em 3 sindicatos;
•429 greves ao longo do ano;
•UNE é recriada no Encontro Nacional dos Estudantes em Salvador;
•Nova Lei Orgânica dos Partidos (fim do bipartidarismo);
•1980 – repressão brutal às greves do ABCD;
•46 atos terroristas de direita ao longo do ano;
•Fundam-se PT, PDT, PMDB, PP, PTB, PDS;
•Proibida a festa do jornal Voz da Unidade do PCB;
•1981 – atentado ao Rio Centro;
•Circo Voador é inaugurado no Arpoador;
•1982 – eleições para governadores; IV congresso do PCB;
MOVIMENTOS PELA REDEMOCRATIZAÇ.ÃO
•1983 – greve dos petroleiros Brasil afora, logo apoiada por metalúrgicos do
ABCD;
•Criação da CUT;
•Greve Geral com adesão sobretudo em São Paulo;
•Milton Nascimento e Wagner Tiso lançam Coração de Estudante;
•1984 – campanha Diretas Já;
•Oscar Niemeyer projeta o Sambódromo;
•Eleições indiretas, elegendo Tancredo Neves, que não assume e em 15/01/1985
Sarney, seu vice, o faz.
•1985: iniciava-se a Nova República;
•1988 – Constituinte e votação da nova Constituição;
•Queda da Censura, a 03/08/1988.
QUE PAÍS É ESSE ? – LEGIÃO
Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse ?
Que país é esse ?
Que país é esse ?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUTINHO, Carlos Nelson. Cultura e sociedade no Brasil. Belo Horizonte:
Oficina de Livros, 2000.
GRAMSCI, Antonio. Quaderni del Carcere. Edizione critica dell’Istituto
Gramsci. Prima Edizione. Torino: Einaudi Editore, 1975.
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no
Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1991.
TESE DE DOUTORADO
BILATE MARTINS, Janaina. Teatro do Oprimido: a experiência de Santo
André/SP. Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social. PUC/SP
2009.
Email: [email protected]
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