Mensagens Curtas 2
Para Meditação Diária
Silvio Dutra
Set/2016
2
A474 Alves, Silvio Dutra Mensagens curtas 2./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 248.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Graça 3. Fé. I. Título. CDD 230
3
Sumário
Se Deus Vai Conosco Nada Mais Importa
8
Quais as Vantagens de Saber que Deus Ama Errados? ........................................................
10
Deus é Deveras Misericordioso e
Perdoador................................................................
13
Qual é o Errado que É Amado? .....................
19
O Crente não Está Livre de Dores e
Sofrimentos............................................................
22
"Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus corrige!" (Jó 5.17) ..........................
27
Reparando o Mal que Causamos a
Outros.......................................................................
29
Conhecendo a Deus Através da História de Israel.....................................................................
36
A Terra é Dada por Deus em Herança aos
Santos.........................................................................
42
A Suprema Importância do Sacrifício de Jesus............................................................................
52
Compreendendo o Significado da Nossa
Existência Pela Perspectiva Correta...........
64
4
Julgamentos Humanos Temerários e
Improcedentes......................................................
69
Antes Só do Que Mal Acompanhado?.......
77
Longanimidade Comprovada na Prática.
79
Sem Permanecer em Cristo Estamos
Desarmados............................................................
83
Sujeitando-se a Deus para Vencer...............
86
O Senhor de Tudo e de Todos........................
89
Não Deixando de Si Saudades........................
96
O Juiz Que é Sempre Imparcial......................
99
Provisão Natural Não Subentende Provisão Espiritual..............................................
100
"e procureis viver quietos" (I Tes 4.11 a)..
104
A Fórmula do Sucesso na Vida Cristã........
107
Insensibilidade e Cinismo...............................
114
Mais Sofrem os Justos Neste Mundo do
que os Ímpios.........................................................
115
5
Aprende-se Justiça nas Muitas Passagens da Bíblia.............................................
121
A Forma e o Conteúdo......................................
126
A Retirada da Glória do Senhor.....................
128
Na Tristeza Pelo Pecado Lembremos da Misericórdia de Deus.........................................
132
Afinal é Somente Deus Que Não
Perdemos Neste Mundo...................................
140
Vivendo na Esperança da Felicidade Perfeita que Teremos no Céu........................
145
Aqui Não é o Nosso Lugar de Descanso...
148
Para Quem Não Foge da Verdade Sobre
Si Mesmo.................................................................
152
A Vida Justa.............................................................
156
Deus Exige que Sua Palavra Seja Honrada....................................................................
159
Ninguém é Líder na Igreja Sem Ser
Chamado por Deus..............................................
166
Cristãos Não São Reprovados por Deus para Condenação.................................................
170
6
O Evangelho Nada Tem de Ocultismo.......
173
A Necessidade de Disciplina e Exortação para a Santificação...............................................
183
Conhecendo e Amando o Cristo
Invisível.....................................................................
186
Trazendo no Corpo a Mortificação de
Jesus............................................................................
191
A Capacitação para o Ministério..................
194
Como Vencer os Poderes das Trevas.........
198
Luz é Luz e Trevas são Trevas.........................
203
Porque Amar é Servir.........................................
208
Nada é Perdido.......................................................
211
Recomendações Práticas para a Vida Cristã..........................................................................
213
O Trabalho Paciente na Lavoura de Deus
216
A Deus Pertence Toda a Glória......................
219
É Tudo de Cristo e por Cristo - Nada é
Nosso..........................................................................
222
É Nosso ou do Senhor? ...................................... 225
7
Escolhidos para o Propósito de Amar........ 227
A Busca de Justiça Social..................................
232
Manter a Chama Acesa.....................................
236
Os que Enganam São Também Enganados...............................................................
238
8
Se Deus Vai Conosco Nada Mais Importa
Tristezas, perseguições, injustiças, tribulações, perdas e sofrimentos nos acompanham nesta
vida, mas nada disto pode roubar a paz e a esperança daquele que tem a certeza de estar
debaixo do cuidado de Deus.
Aos olhos de terceiros nossa vida pode parecer uma vida da mais profunda miséria e infortúnio,
mas somente aquele que tem a permanente presença de Deus consigo pode saber em seu
íntimo que não há na face da Terra pessoas mais bem-aventuradas do que aquelas que
caminham com Deus a seu lado.
E além das consolações que recebemos do Espírito Santo, temos também uma melhora
progressiva do conhecimento da nossa própria realidade e de tudo mais que nos cerca, e
exercendo a nossa fé no Precioso Nome, nada nos abala.
Quem é dirigido pelo Senhor não vive de ilusões
e sabe que há um propósito bom em tudo o que nos acontece, e que por fim contribui para o
nosso próprio bem.
Tudo pode estar desmoronando mas há poder
suficiente na graça de Jesus para manter o nosso espírito firme e inabalável.
Tudo pode faltar, mas se temos Deus por nós, de
nada mais necessitamos... é mui grande e linda a herança que nos aguarda.
Tudo pode estar dando errado, contrariamente
às nossas maiores expectativas, mas se Deus vai
9
conosco, podemos ter a certeza de que tudo irá bem no fim, e nossa alma permanece em paz e
sossegada.
Se a própria vida que temos no corpo nos for
tirada, seremos achados em espírito, ainda mais bem-aventurados no céu de glória.
“O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará.
Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso;
refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da
morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me
consolam.
Preparas-me uma mesa na presença dos meus
adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda.
Bondade e misericórdia certamente me
seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre.”
(Salmo 23)
10
Quais as Vantagens de Saber que Deus Ama Errados?
São muitas e em diversos sentidos, mas gostaríamos de apenas enfocar uma grande
vantagem que consideramos muito importante.
Sabermos em nosso íntimo, por experiência própria, e por estarmos bem instruídos pelo
Espírito Santo quanto a um adequado conhecimento da Palavra revelada, sobre o
modo como Deus lida com pecadores, nos ajuda a ser longânimos e misericordiosos para com
todos, especialmente para com aqueles que apesar de errados, não amam o erro.
É evidente que um Deus perfeitamente justo e
santo não pode de modo algum amar ou aprovar qualquer forma de erro, todavia Ele é também
longânimo, paciente, amoroso, misericordioso, perdoador, e tem por isso, prazer em trabalhar
em vasos imperfeitos como nós, até que possamos atingir a plena perfeição que nos será
concedida quando chegarmos ao céu.
A grande prova deste trabalho paciente e
amoroso que Deus tem realizado em nós através do Espírito Santo são as grandes transformações
operadas em todos aqueles que se convertem a Cristo, sobretudo no que diz respeito ao caráter dos mesmos.
São transformações progressivas, e em muitos casos, sofrem até recuos motivados por
apostasias ocasionais, mas de todas elas somos
11
curados pelo Senhor quando há em nós um amor verdadeiro pela Sua santidade.
Se aspiramos ser como Ele é, se admitimos que temos uma natureza corrompida pelo pecado
que pode nos levar a agir e a pensar de modo contrário à nova natureza que recebemos pela
fé em Jesus Cristo, e se humildemente aguardamos com paciência pelo socorro de
Deus para que sejamos purificados e conduzidos a fazer o que é aprovado por Ele, é certo que
continuaremos privando do Seu amor e bondade, que se manifestarão na concessão da
Sua graça para que possamos ser fortalecidos em nosso espírito.
Conhecendo todas estas coisas poderemos ser efetivamente mais úteis para o nosso próximo.
Não julgaremos e não condenaremos os que são fracos na fé, antes nos compadeceremos e
intercederemos junto ao Senhor para que lhes conduza à verdade, olhando por nós mesmos,
porque afinal estamos sujeitos às mesmas fraquezas.
Jesus, que não tinha qualquer pecado, a
ninguém condenou quando aqui caminhou, e mesmo agora, estando glorificado em espírito
em Seu trono celestial, a ninguém tem condenado na presente dispensação da graça.
Na Sua morte na cruz abriu-se uma porta maravilhosa de graça e amor para a recepção de
todo e qualquer pecador que se arrependa, e Ele manifestará a Sua longanimidade para com
todos aqueles que adentrarem por ela, e os
12
amará, a par de todos os erros que possam ainda vir a praticar, porque lhes conduzirá, pelo Seu
próprio poder, à plena perfeição na glória celestial.
Estas palavras não configuram um apologia ao
erro ou ao errado, mas a mais pura revelação bíblica da graça que está sendo oferecida por
Deus a todos os pecadores, desde que Jesus Cristo morreu no nosso lugar na cruz do
Calvário.
Que ninguém se sinta entretanto encorajado a
permanecer no erro, ao contrário, deve detestar esta natureza corrompida pelo pecado que ainda
carregamos conosco aqui embaixo.
Todavia, se alguém pecar, como afirma o apóstolo João, não se desespere pelo
pensamento de perder definitivamente a comunhão com Deus, pois temos um Advogado
de defesa junto a Deus Pai, para interceder em nosso favor, confirmando que de fato podemos
ser perdoados, se tão somente confessarmos o nosso pecado, porque Ele já sofreu em nosso
lugar o castigo relativo a todas as nossas ofensas passadas, presentes e futuras.
13
Deus é Deveras Misericordioso e Perdoador
Há pais que não amam os filhos porque estes são muito falhos e errados segundo o próprio modo
de julgar destes pais.
Agora, Deus é um Pai que não somente ama, é misericordioso perdoador de muitos filhos
errados, como também os conduz a uma plena restauração.
Ele jamais passará a mão por cima dos nossos erros; jamais fará vista grossa para eles, e não
deixará de se entristecer com a nossa terrível condição, mas Sua graça e misericórdia
ultrapassarão os Seus juízos e correções, e mostrará bondade e boa receptividade a todos
que reconhecerem que são de fato pecadores que ofendem a Sua justiça e santidade, e que se
arrependem de seus maus caminhos, convertendo-se a Ele.
Creio que não há maior exemplo e registro do quanto Deus está disposto a perdoar e a amar
quem se arrepende, do que aquele que encontramos em II Crônicas 33, em relação ao
Rei Manassés.
Este rei havia praticado males terríveis durante
o longo período de cinquenta e cinco anos do seu reinado. Quando foi submetido ao juízo do
Senhor sob o poder dos assírios ele se humilhou e se arrependeu profundamente de tudo o que
havia feito antes em sua vida, e veja a seguir como Deus agiu em relação a ele e aos seus
muitos e horrendos pecados.
14
Eu costumo dizer: se Deus salvou um Manassés, qualquer pecador pode confiar que pode ser
salvo por Ele, por muitos, terríveis e duradouros que tenham sido os seus pecados.
A Maldade do Rei Manassés
"2Cr 33:1 Tinha Manassés doze anos de idade quando começou a reinar e cinquenta e cinco
anos reinou em Jerusalém.
2Cr 33:2 Fez o que era mau perante o SENHOR,
segundo as abominações dos gentios que o SENHOR expulsara de suas possessões, de
diante dos filhos de Israel.
2Cr 33:3 Pois tornou a edificar os altos que
Ezequias, seu pai, havia derribado, levantou altares aos baalins, e fez postes-ídolos, e se
prostrou diante de todo o exército dos céus, e o serviu.
2Cr 33:4 Edificou altares na Casa do SENHOR, da qual o SENHOR tinha dito: Em Jerusalém, porei
o meu nome para sempre.
2Cr 33:5 Também edificou altares a todo o exército dos céus nos dois átrios da Casa do
SENHOR,
2Cr 33:6 queimou seus filhos como oferta no
vale do filho de Hinom, adivinhava pelas nuvens, era agoureiro, praticava feitiçarias,
tratava com necromantes e feiticeiros e prosseguiu em fazer o que era mau perante o
SENHOR, para o provocar à ira.
15
2Cr 33:7 Também pôs a imagem de escultura do ídolo que tinha feito na Casa de Deus, de que
Deus dissera a Davi e a Salomão, seu filho: Nesta casa e em Jerusalém, que escolhi de todas as
tribos de Israel, porei o meu nome para sempre
2Cr 33:8 e não removerei mais o pé de Israel da
terra que destinei a seus pais, contanto que tenham cuidado de fazer tudo o que lhes tenho
mandado, toda a lei, os estatutos e os juízos dados por intermédio de Moisés.
2Cr 33:9 Manassés fez errar a Judá e os moradores de Jerusalém, de maneira que
fizeram pior do que as nações que o SENHOR tinha destruído de diante dos filhos de Israel.
2Cr 33:10 Falou o SENHOR a Manassés e ao seu povo, porém não lhe deram ouvidos.
2Cr 33:11 Pelo que o SENHOR trouxe sobre eles
os príncipes do exército do rei da Assíria, os quais prenderam Manassés com ganchos, amarraram-no com cadeias e o levaram à
Babilônia."
O Arrependimento e Conversão de Manassés
"2Cr 33:12 Ele, angustiado, suplicou deveras ao SENHOR, seu Deus, e muito se humilhou
perante o Deus de seus pais;
2Cr 33:13 fez-lhe oração, e Deus se tornou
favorável para com ele, atendeu-lhe a súplica e o fez voltar para Jerusalém, ao seu reino; então,
reconheceu Manassés que o SENHOR era Deus.
16
2Cr 33:14 Depois disto, edificou o muro de fora da Cidade de Davi, ao ocidente de Giom, no vale,
e à entrada da Porta do Peixe, abrangendo Ofel, e o levantou mui alto; também pôs chefes
militares em todas as cidades fortificadas de Judá.
2Cr 33:15 Tirou da Casa do SENHOR os deuses estranhos e o ídolo, como também todos os
altares que edificara no monte da Casa do SENHOR e em Jerusalém, e os lançou fora da
cidade.
2Cr 33:16 Restaurou o altar do SENHOR,
sacrificou sobre ele ofertas pacíficas e de ações de graças e ordenou a Judá que servisse ao
SENHOR, Deus de Israel.
2Cr 33:17 Contudo, o povo ainda sacrificava nos
altos, mas somente ao SENHOR, seu Deus.
2Cr 33:18 Quanto aos mais atos de Manassés, e à
sua oração ao seu Deus, e às palavras dos videntes que lhe falaram no nome do SENHOR,
Deus de Israel, eis que estão escritos na História dos Reis de Israel.
2Cr 33:19 A sua oração e como Deus se tornou
favorável para com ele, todo o seu pecado, a sua transgressão e os lugares onde edificou altos e colocou postes-ídolos e imagens de escultura,
antes que se humilhasse, eis que tudo está na História dos Videntes.
2Cr 33:20 Assim, Manassés descansou com seus
pais e foi sepultado na sua própria casa; e Amom, seu filho, reinou em seu lugar."
17
O arrependimento de Manassés é um caso memorável das riquezas da misericórdia e do
perdão de Deus, e do poder de sua graça renovadora. Privado de sua liberdade, separado
de seus maus conselheiros e companheiros, sem qualquer perspectiva além de terminar os
seus dias em uma prisão miserável, Manassés pensou no que se passara; começou a clamar por misericórdia e libertação. confessou os seus
pecados, condenou-se a si mesmo, humilhou-se diante de Deus e detestou-se como monstro
ímpio e cruel. Porém, esperou ser perdoado através da abundante misericórdia do Senhor.
Então Manassés soube que Jeová é Deus, capaz
de livrar, que era o Deus da salvação; aprendeu a temê-lo, confiar nEle, amá-lo e obedecer-lhe. A
partir deste momento, teve um novo caráter e andou em novidade de vida. Quem sabe que
torturas de consciência, que suspiros de dor, que medo da ira, que remorso e agonia suportou
quando contemplou os seus muitos anos de apostasia e rebelião contra Deus, ao dirigir
milhares de pessoas ao pecado e à perdição, em sua culpa sangrenta por perseguir os filhos de
Deus?
E quem pode reclamar que o caminho ao céu esteja bloqueado, quando vê que entra um
pecador como este? Mesmo que pensemos o pior sobre nós mesmos, aqui está o exemplo de
um homem tão mau, que mesmo assim encontra o caminho do arrependimento. Não
neguemos a nós mesmos o que o próprio Senhor
18
Deus não nos tem negado. Não é o pecado que fecha o céu para o pecador, pois há perdão no
Salvador; o que lhe fecha o céu é a sua própria impenitência.
19
Qual é o Errado que É Amado?
O que há de belo aos olhos de Deus mesmo em relação a pecadores como nós não é o tanto
quanto sejamos refinados em nossos modos, equilibrados emocionalmente, e muito pouco
falhos, porque é possível ser tudo isto e não ter um caráter reto e firme para com a Sua Palavra.
É possível ser muito agradável aos homens à custa de se desagradar a Deus por desconsiderar
e negligenciar os Seus mandamentos.
Quando recuamos em ser sinceros e verdadeiros por temermos a face dos homens ou então ser rebaixados em nossa reputação
perante eles por verem o quanto estamos determinados a agradar a Deus onde importa
ser agradado mesmo quando isto implique em desagradar a muitos.
O justo vive pela fé na Palavra de Deus e pela
aplicação à sua prática. Se ele recuar nisto, como afirma o próprio Senhor, a Sua alma não tem
prazer nele.
Não é possível viver como um justo quando
procuramos conciliar partes irreconciliáveis, nos valendo de uma sabedoria que é segundo o
mundo, que busca salvar as aparências, especialmente por se evitar a repreensão e a
disciplina de quem anda de modo errado.
O amor verdadeiro não encobre as faltas, antes
as repreende e corrige com longanimidade, mansidão e segundo a verdade revelada nas
Escrituras.
20
O comportamento que vale é aquele que é ensinado por Deus a nós na Bíblia.
O que passa do sim, sim, não, não... é de procedência maligna, porque a paz que é
alcançada por meio do encobrimento da verdade não é a paz de Cristo, senão a do mundo
e do diabo.
Então, enquanto vivemos num mundo em que a
grande maioria faz vista grossa para o mal e prefere viver do engano que tudo é bom e vai
bem, devemos preferir encarar a realidade de que somos pessoas imperfeitas, inábeis em si
mesmas para estabelecer e manter relacionamentos verdadeiramente amáveis,
perfeitos, harmônicos.
Todavia, podemos amar e ser amados por Deus
e por todos os demais que amam a Sua verdade, porque a imperfeição que carregamos não é um
impedimento para que possamos viver no amor de Cristo.
Ao contrário, Ele derrama a Sua graça e fortalece a todo que é humilde perante Ele e
reconhece as suas fraquezas e imperfeições, mas que busca se aperfeiçoar na busca de um
comportamento que seja amoroso, misericordioso, justo, verdadeiro e santo.
Os que estão errados mas que procuram acertar,
são amados por Deus, e deveriam ser também amados por todos os que amam o que é
verdadeiro e não o que é ilusório ou falso.
Por mais errada que uma pessoa possa ainda ser,
se todavia amar de fato a Palavra de Deus e
21
procurar praticá-la mesmo à custa de sofrer muitas perdas, mais amada esta pessoa será por
Deus, porque não lida conosco segundo as nossas deficiências, mas de acordo com a nossa
sincera disposição e decisão de viver de modo consagrado à Sua santa vontade.
22
O Crente não Está Livre de Dores e Sofrimentos
Para vários e bons propósitos Deus permite que
vivamos num mundo de grandes trevas onde a injustiça, a violência e toda forma de pecados
predominam, e que, por conseguinte, causam grandes tristezas naqueles que procuram viver
segundo a Sua santa vontade.
Isto não sucede por mera condição de serem vitimados por outros, e pelas circunstâncias
adversas externas, mas pelo efeito do próprio pecado em suas constituições fracas e terrenas.
Quanto sofrimento não experimentamos deste outro lado do céu quando percebemos em nós
mesmos toda a nossa insuficiência para conhecer de modo adequado a vontade de Deus
e podermos viver segundo esta mesma vontade.
Considere-se também que o próprio Deus, em ocasiões específicas, permite que estejamos à
mercê de nossas fracas habilidades e desprovidos da necessária assistência e
fortalecimento da Sua divina graça, e Ele o permite para que possamos conhecer o quão
fracos somos e quanto dependemos do Seu poder e amor.
Ao virar o Seu rosto de nós, por um só instante,
logo ficamos perturbados em nosso espírito e sujeitos a sentimentos de derrota.
Quando chegamos, muitas vezes, até mesmo a nos desesperarmos da vida, o Senhor torna a nos
animar e fortalecer, quando chegamos até
23
mesmo ao ponto extremo de pensar que era o final da nossa carreira e ministério perante Ele.
A propósito, esta é a maior causa da nossa
tristeza, a saber, considerarmos que temos sido de pouca ou nenhuma utilidade para os
propósitos do Senhor, especialmente o de sermos bênção para as vidas dos nossos semelhantes.
Ai de nós, se não fosse pela Sua grande
misericórdia que nos dá forças renovadas para clamarmos a Ele em meio aos nossos momentos
de vale de escuridão.
Se não fosse pela Sua misericórdia, que sempre se renova, jamais poderíamos ser erguidos do
nosso abatimento.
Isto pode ser visto de modo muito expressivo no terceiro capítulo do Livro Lamentações de
Jeremias, do qual apresentamos a seguir um breve resumo baseado no comentário de
Matthew Henry:
Lamentações 3
O fiel lamenta as suas calamidades e tem esperança nas misericórdias de Deus.
Vv. 1-20. O profeta relata a parte mais sombria e
desalentadora de sua experiência, e como encontrou apoio e alívio. Durante a sua prova, o
Senhor havia se tornado terrível para com ele. Foi uma aflição que era a própria miséria,
porque o pecado faz amargo o cálice da aflição.
24
A luta entre a incredulidade e a fé muitas vezes é severa, mas o crente mais fraco estará
equivocado se pensar que a sua força e esperança no Senhor se acabaram.
Vv. 21-36. Havendo expressado a sua angustia e tentação, o profeta mostra como foi levantado
acima delas. As coisas são extremamente más; porém, pela misericórdia do Senhor, não são
piores. Devemos observar o que Ele faz por nós, e em que está contra nós. As misericórdias de
Deus não falham; e disto temos novos exemplos a cada manhã. As porções da terra são coisas
perecíveis, mas Deus é a porção eterna.
O nosso dever é e será o nosso consolo e
satisfação, ter esperança e esperar em silêncio a salvação do° Senhor. Aflições contribuem e
contribuirão muito para o bem, e muitos concluem ser proveitoso ter levado este jugo na
juventude. A aflição tem transformado muitos homens e mulheres em pessoas humildes e
sérias, e tornado tais pessoas detestadas pelo mundo, pois caso contrário teriam sido
orgulhosos e ingovernáveis. Se a tribulação produz a paciência, a paciência a prova, e a prova
esperança, a esperança não envergonha. Pensamentos adequados sobre o mal do pecado
e de nossa própria pecaminosidade, nos convencerão de que é pela misericórdia do
Senhor que não somos consumidos. Se não pudermos dizer com firme voz: "o Senhor é a
minha porção", será que poderíamos dizer
25
"Desejo tê-lo como minha porção e salvação, e em sua Palavra tenho esperança"? Seremos
felizes se aprendermos a receber a aflição, como sendo permitida por Deus.
Vv. 37-41. Enquanto há vida, há esperança; ao
invés de nos queixarmos porque as coisas não vão bem, devemos nos estimular uns aos outros
com a esperança de que ficarão melhores. Somos pecadores, e as coisas pelas quais nos
queixamos são menores do que os nossos pecados merecem. Devemos nos queixar a Deus,
e não dEle. Em tempos de calamidades somos propensos a refletir nos caminhos de outras
pessoas e lançar-lhes a culpa; porém, o nosso dever é investigar e examinar os nossos
caminhos, para tornar-nos do mal a Deus. Nosso coração deve estar posto em nossas orações. Se
as impressões internas não concordarem com as externas, não estaremos enganando a Deus,
mas a nós mesmos.
Vv. 42-54. Quanto mais o profeta olhava para as desolações, mais se entristecia. Aqui há uma
palavra de consolo. Enquanto choravam, esperavam; e ninguém esperaria socorro de
ninguém, somente do Senhor.
Vv. 55-66. A fé vem como vencedora, porque nestes versículos o profeta conclui com algo
consolador. A oração é o alento do novo homem,
26
que inala o ar da misericórdia nas petições e o exala em louvores; prova e mantém a vida
espiritual. Ele silenciou os seus temores e aquietou os seus espíritos. Deus diz: "Não temas".
Esta foi a linguagem da graça de Deus pelo testemunho do seu Espírito. E o que são todos os
nossos sofrimentos comparados com os do Redentor? Ele livra o seu povo de todos os problemas, e renova as forças de sua Igreja
diante de todas as perseguições. Ele salvará os crentes com salvação eterna, enquanto os seus
inimigos perecerão com destruição eterna.
27
"Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus corrige!" (Jó 5.17)
Quem está sendo corrigido não está feliz no momento! Ninguém gosta de ter tribulações, sofrimentos, tristezas.
Portanto, este versículo parece muito estranho para algumas pessoas.
Eles não conseguem entender isso. É contrário a
todos os seus pensamentos de felicidade.
De fato, a palavra feliz não é usada aqui no
sentido em que o mundo a entende. Na estimativa do mundo, "a felicidade é o prazer
que vem das coisas que acontecem. Depende de conforto pessoal, de circunstâncias prósperas,
de condições amáveis e agradáveis. Quando estes são levados a felicidade é destruída."
Mas a palavra, aqui, significa bem-aventurado; e
é afirmado que a bênção vem para aquele que recebe a correção de Deus.
Corrigir é consertar o que ficou errado.
Certamente, se um homem está indo no caminho errado, e Deus o coloca no caminho
certo, podemos dizer que ele foi abençoado.
Aflições são correções de Deus. Elas vêm com um propósito de amor nelas. Elas são difíceis de
aceitar, mas depois a bênção é revelada.
"Nenhuma disciplina parece agradável no
momento, mas dolorosa. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que
foram exercitados por ela." (Hebreus 12.11)
28
Deveríamos portanto nos considerar bem-
aventurados e não infelizes, quando somos afligidos para emendar o nosso modo de pensar
e agir.
Se não sofremos por sermos malfeitores, mas
por causa do nosso amor ao Senhor e ao evangelho, somos então bem-aventurados, e
podemos contar com a ajuda e o consolo do Espírito Santo (I Pe 4.12-16).
29
Reparando o Mal que Causamos a Outros
Se por causa do nosso mau exemplo, ainda que
seja involuntário, muitos podem ser prejudicados, e uma vez tendo sido
conscientizados do mal que fizemos é nosso dever efetuar todo o esforço necessário para a
devida reparação.
Deus será conosco se o fizermos, conforme podemos aprender do relato relativo à
experiência do rei Josafá de Judá.
Nós lemos no 19º capítulo de II Crônicas sobre o
reinado de Josafá, quanto ao seu retorno em paz para Jerusalém, e a repreensão dada a ele pelo
Senhor por causa da sua aliança com o rei Acabe de Israel. Vemos também o grande cuidado que
ele tomou logo a seguir para reformar o seu reino; as instruções que ele deu aos seus juízes, tanto os das cidades do interior que mantinham
os tribunais inferiores, e aqueles em Jerusalém, que constituíam o tribunal supremo do reino.
Eis o grande favor que Deus mostrou a Josafá:
Ao trazê-lo de volta em segurança de sua expedição perigosa com Acabe, que poderia ter-
lhe custado muito caro. Ele voltou para sua casa em paz (v. 1).
Ele havia estado em perigo iminente, e ainda voltou para casa em paz. Sempre que voltamos
em paz para as nossas casas devemos reconhecer a providência de Deus em preservar
a nossa saída e a nossa entrada, mas, se somos
30
livrados mais do que de perigos comuns, somos obrigados a ser gratos de uma forma especial.
Havia talvez apenas um passo entre nós e a morte, e ainda estamos vivos. Josafá se saiu
melhor do que merecia. Ele estava fora do caminho de seu dever, tinha saído em uma
expedição na qual não poderia apresentar uma boa conta a Deus e à sua consciência, e ainda assim ele voltou em paz; pois Deus não é
extremo em marcar o que fazemos de errado, nem em retirar sua proteção cada vez que a
perdemos.
Josafá se saiu melhor do que Acabe, que foi
trazido para casa morto. Embora Josafá tivesse dito a Acabe: Eu sou como tu és, Deus o
distinguiu; pois ele conhece e governa o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios
perecerá.
Deus mostrou também seu favor para com
Josafá ao lhe enviar uma repreensão por causa da sua afinidade com Acabe. É uma grande graça
sermos feitos sensatos de nossas faltas, por nos ser dito a tempo onde erramos, para que
possamos nos arrepender e corrigir o erro antes que seja tarde demais.
O profeta por quem a reprovação foi enviada é Jeú, filho de Hanani. Seu pai era um profeta
eminente no último reinado, que foi colocado pelo rei Asa no tronco, e ainda assim o filho não
tinha medo de reprovar outro rei.
31
Paulo não teria seu filho Timóteo desanimado, mas animado por seus sofrimentos, 2 Tim
3.11,14.
O profeta disse-lhe claramente que ele tinha feito muito mal em juntar-se com Acabe:
"Devias tu ajudar ao perverso e amar aqueles que aborrecem o SENHOR? Por isso, caiu sobre
ti a ira da parte do SENHOR.”
É o mau caráter das pessoas ímpias que as torna inimigas de Deus (Rom 1.30). Idólatras
contumazes são reprovados no segundo mandamento; e, portanto, não é para aqueles
que amam a Deus terem prazer neles ou terem intimidade com eles.
“Acaso não odeio os que te odeiam?”. Diz Davi no Sl 139.21. Aqueles aos quais a graça de Deus
dignificou não devem se rebaixar na busca de comunhão com aqueles que vivem na prática da
impiedade.
O povo de Deus deve ter a mente de Deus.
Por isso Deus estava descontente com o que
fizera o piedoso rei Josafá: “Devias tu ajudar ao perverso e amar aqueles que aborrecem o
SENHOR? Por isso, caiu sobre ti a ira da parte do SENHOR.”
Ele o fizera, e a ira de Deus foi desprezada. No
entanto, o seu problema era uma repreensão a ele por se meter em conflitos que não lhe diziam
respeito. Se ele é tão apaixonado pela guerra, ele deve tê-la o suficiente. E o grande mal que
atingiu sua descendência depois dele que caiu
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junto com a casa de Acabe, foi o justo castigo de sua afinidade com aquela casa.
No entanto, ele tomou conhecimento daquilo que nele era louvável, pois isto é adequado para
ser feito quando repreendemos alguém por seus erros (v. 3): "Boas coisas, contudo, se
acharam em ti; porque tiraste os postes-ídolos da terra e dispuseste o coração para buscares a
Deus.”
Ele havia abolido a idolatria com um coração
disposto para Deus.
Josafá não somente recebeu bem a repreensão
do profeta, como também se dispôs a tomar medidas para reparar todo o mal que a sua
aliança com Acabe fizera ao povo de Judá.
Assim, ele fez uma visita piedosa proveitosa ao
seu próprio reino: Ele saiu ao encontro do povo em pessoa, a partir de Berseba, no sul do Monte
Efraim, no norte, e os trouxe de volta para o Senhor, Deus de seus pais, ou seja, fez tudo que
podia para recuperá-los.
Isto porque o profeta disse que suas tentativas anteriores de reforma foram agradáveis a Deus
e, portanto, ele as reavivou.
É bom quando palavras encorajadoras nos
estimulam a fazer o nosso dever, e quanto mais somos elogiados por agir bem, mais
vigorosamente nos dedicamos a praticá-lo.
Talvez ele descobriu que sua afinidade com a
casa de Acabe, e com o idólatra reino de Israel tinha sido uma má influência sobre seu próprio
reino.
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Se realmente nos arrependemos do nosso pecado, nós faremos o nosso melhor para
reparar os danos que tenhamos de alguma forma feito por ele à religião ou às almas de
outros. Devemos estar particularmente preocupados em recuperar aqueles que caíram
em pecado, ou que ficaram endurecidos no mesmo, em razão do nosso mau exemplo.
Josafá, depois de ter feito o que podia fazer para
o bem do seu povo, se esforçou em criar meios para mantê-los no caminho da justiça, e por isso
lhes enviou juízes para por as leis em execução, e para ser um temor para os malfeitores.
É provável que houvesse juízes no país antes, mas devem ter negligenciado os seus deveres,
ou o povo lhes havia desprezado, de modo que o fim da instituição não foi alcançado; e, portanto,
era necessário que fosse reestruturada, com novos homens, e um novo encargo dado a eles.
Foi isso que Josafá fez.
Ele ergueu tribunais inferiores de justiça nas
diversas cidades do reino (v. 5). Os juízes desses tribunais deveriam manter o povo na adoração
devida a Deus, para punir as violações da lei, e decidir controvérsias entre homem e homem (v.
6).
Josafá construiu um supremo tribunal em
Jerusalém, que deveria julgar todas as causas difíceis que ocorressem nos tribunais
inferiores, e daria veredictos especiais.
Este tribunal deveria julgar segundo a lei de
Deus que era a lei do reino.
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Os juízes deste tribunal foram alguns dos levitas e sacerdotes que eram mais instruídos na lei,
eminentes em sabedoria, e de integridade aprovada.
Os dois chefes ou presidentes, deste tribunal. Amarias, o sumo sacerdote, deveria presidir em
causas eclesiásticas, para dirigir o tribunal e ser a sua boca.
E Zebadias, o primeiro-ministro daquele estado,
deveria presidir em todas as causas civis (v. 11).
Assim, há diversidade de dons e operações, mas
todos do mesmo Espírito, e para o bem do corpo. Alguns compreendem melhor os assuntos do
Senhor, outros, os assuntos do rei.
Os oficiais inferiores do tribunal eram alguns
dos levitas, porque não tiveram capacidade para serem qualificados como juízes, e deveriam
apresentar as causas ao tribunal, e ver a sentença dos juízes executada.
Os que julgam a outros devem ter grande e constante cuidado para evitar o pecado, para
terem autoridade em alertar o povo para não pecar contra o Senhor, e inspirá-los a temer o
pecado, não somente como prejudicial para si e para a paz pública, mas como uma ofensa a
Deus, e o que traria a ira de Deus sobre o povo, seria imputado aos magistrados se
descumprissem o seu dever de puni-lo. Aqueles que têm o poder em suas mãos para reprimir a
culpa do pecado, trazem culpa a si mesmos, caso não usem o seu poder para a prevenção e
repressão do pecado nos outros.
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Eles devem agir com resolução e coragem, não temendo a face do homem, sendo ousados no
cumprimento do seu dever, e, serão protegidos por Deus caso alguém se levante contra eles.
O Senhor será com o bem.
Onde quer que seja encontrado um bom
homem, um bom magistrado, também será encontrado um bom Deus.
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Conhecendo a Deus Através da História de Israel
Através da Sua atuação na história de Israel, Deus revelou através das páginas do Velho
Testamento a estrita beleza do Seu caráter justo, imparcial e amoroso.
Ele equilibra com a mais pura perfeição todos os
Seus atributos divinos, não deixando de ser misericordioso quando julga com justiça.
Por Sua longanimidade podemos firmar a nossa esperança em dias melhores e abençoados por
Ele, quando nos arrependemos de nossas transgressões.
À guisa de ilustração destas verdades
comentaremos adiante o 26º capítulo de Isaías no qual é profetizada a glória futura do Israel de
Deus juntamente com o Messias, com as boas promessas de livramento para Judá, apesar de
ter sido decretado pelo Senhor que eles seriam conduzidos antes para o cativeiro em Babilônia,
pára serem curados da sua idolatria.
Importava encorajar os judeus a manterem firme a esperança messiânica, a saber, a
guardarem a vontade de Deus para a manifestação do Salvador prometido.
No entanto, sabemos que estas promessas de bênçãos para Judá foram mescladas várias vezes
com juízos divinos, quando a nação voltava a se desviar da Sua presença, sendo portanto
entregue nas mãos de opressores.
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É importante frisar, que mesmo ao retornarem de Babilônia permaneceram debaixo do
governo sucessivo de medos e persas, de gregos e de romanos. Somente por um breve período,
nos dias dos Macabeus, Israel foi uma nação soberana, sem estar debaixo do jugo de
qualquer outra nação.
Então a aplicação destas profecias de Isaías
apontam não para a glória de Judá na terra, quer na dispensação do Antigo, quer na do Novo
Testamento.
Mas à glória que desfrutariam por meio da mediação e governo do Messias prometido.
É bom lembrarmos sempre, ao ler todo o livro de Isaías, qual foi o caráter da sua chamada por
Deus, conforme vemos no sexto capitulo, quando foi profetizado que ele deveria revelar o
endurecimento que haveria em Israel até o final da dispensação da graça.
Então não seria de se esperar que Deus falasse
da glória de um povo que permaneceria endurecido, apesar de todo o favor e cuidado
que tivesse para com eles.
Na verdade sempre foi pela ação de um
remanescente fiel, representado nas pessoas de Esdras, Neemias, e outros servos piedosos do
Senhor, que Judá foi preservado, e não pela piedade de todo o povo.
Nós lemos no último versículo da profecia do
26º capítulo:
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“Pois eis que o Senhor está saindo do seu lugar para castigar os moradores da terra por causa da
sua iniquidade.”
Pode parecer, pela leitura do restante do capítulo, que esta afirmação está deslocada e
fora de contexto. No entanto, é por ela que podemos entender o caráter da paz e da glória de
Judá, que é prometida no mesmo capítulo.
Ela é resultante da confiança total no Senhor,
conforme o povo é conclamado a fazer em todo o tempo.
Esta promessa de paz não se destina aos que permanecem na prática deliberada do pecado,
porque deles se diz no verso 10:
“Ainda que se mostre favor ao ímpio, ele não aprende a justiça; até na terra da retidão ele
pratica a iniquidade, e não atenta para a majestade do Senhor.”
Então o que se reserva para os ímpios é o que se
afirma no verso 11:
“Senhor, a tua mão está levantada, contudo eles
não a veem; vê-la-ão, porém, e confundir-se-ão por causa do zelo que tens do teu povo; e o fogo
reservado para os teus adversários os devorará.”
Mas para os justos é prometido por Deus a paz, porque Ele mesmo fará todas as suas obras para
o Seu povo (v. 12).
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Ainda que outros dominem sobre o povo, que é a herança do Senhor, é somente o Seu santo
nome que eles exaltam (v. 13).
O povo do Senhor será aumentado na terra pelo
próprio Deus e para a Sua exclusiva glória (v. 14).
Ele faria a obra do evangelho avançar até aos
confins da terra (v. 15), mas para isto, deveria ser buscado na angústia, que são produzidas pelas
Suas correções, derramando os seus corações perante Ele em oração.
O povo deve ser santificado e consagrado pelas tribulações, para que aprenda a orar e a buscar
ao Senhor, porque é assim que Ele faz a Sua obra avançar através da Igreja, que assim se Lhe
consagra (v. 16).
E estas orações devem ser agonizantes, como a mulher que está com as contrações do parto (v.
17) porque são orações para que sejam geradas novas vidas, pelo Espírito Santo, vidas não
naturais, mas novas criaturas em Cristo Jesus.
Não basta ter as dores de parto e não orar,
porque isto não produzirá vida, senão vento (v. 18), porque o poder do próprio homem não pode
trazer livramento à Terra, dos poderes opressivos do inferno, que mantêm os homens
em cadeias, senão somente o poder do próprio Deus, pelo Espírito, quando o Seu povo ora
incessantemente, sem esmorecer, para que Ele mantenha avivada a Sua obra sobre a Terra.
Mas para os que oram sem esmorecer, a promessa é de vida para os que se encontram
mortos. A vida abundante de Jesus que livra da
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morte espiritual e eterna, e que traz também a promessa da ressurreição dos corpos dos que
nEle creem (v. 19).
Os que habitam no pó podem exultar porque há esperança de vida para eles, porque o orvalho de
Deus, Jesus Cristo, é orvalho de luz, a luz que dá a vida de Deus aos homens (v. 19b); mas os que
não vêm para a luz por amarem as trevas, o Senhor fa-los-á cair na terra das sombras em
que eles gostam de viver (v. 19c).
Deus está indignado contra o pecado, e manifestará a Sua ira contra o ímpios, mas o Seu
povo é convocado a entrar nas suas câmaras e fechar as suas portas sobre si, para se esconder
por um só momento, até que Deus consuma a Sua indignação desarraigando o ímpio da terra
(v. 20). Isto fala da necessidade de oração, de paciência, de perseverança, de esperar quietos
no Senhor, enquanto padecemos neste mundo de trevas.
Assim, o que se aprende de tudo isto é que bem
irá ao que ama e pratica a justiça, e mal irá ao que odeia a Deus e a Sua justiça.
Há boas promessas para o verdadeiro Israel de Deus, o qual é formado por pessoas de todas as
nações cujo coração é circuncidado por meio da fé em Jesus Cristo.
Estes, mesmo em suas fraquezas e desvios
ocasionais poderão contar sempre com a ajuda do Senhor que os disciplinará e corrigirá
sempre que necessário para que sejam
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conduzidos em glória à Sua presença, santos, irrepreensíveis e inculpáveis.
"Com efeito, Deus é bom para com Israel, para
com os de coração limpo." (Salmo 73.1)
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A Terra é Dada por Deus em Herança aos Santos
O 16º e 17º capítulos do livro de Josué se referem à repartição das terras que couberam às tribos
de Efraim e Manassés, filhos de José.
Assim como coube a Judá, ser o cabeça das tribos ao Sul, a Efraim caberia ser o cabeça das
tribos ao Norte, dando cumprimento à profecia proferida por Jacó pouco antes de morrer.
É destacado no capítulo 16º que os efraimitas não expulsaram os cananeus que habitavam em
Gezer, e que os tornaram seus tributários (v. 10).
Nós vemos aqui o mandado de Deus não tendo
sido cumprido, e certamente, isto lhes serviria de laço no futuro, comprometendo a total
fidelidade dos israelitas ao Senhor, por não se contaminarem com as práticas idolátricas dos
povos de Canaã, e daí ter Deus ordenado o completo extermínio de sete nações daquela
Terra que haviam se contaminado a um tal nível que não havia qualquer possibilidade de cura
para elas. Como se situavam numa região estratégica que ligava o Norte da África às
nações da Ásia e Europa, Satanás desenvolveu ali toda forma de culto idolátrico e abominável
para por meio deles contaminar todas as demais nações da Terra.
Daí ter o Senhor designado, em Sua presciência e onisciência, todo aquele território com o povo
que formaria através da descendência de Abraão, para que fosse uma influência de
bênção e de vida para todos os povos, e não de
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maldição e de morte como ocorria com a ocupação da Terra pelos cananeus.
A Igreja tem sido estabelecida no mundo como sal e luz para dar testemunho do amor, da justiça
e da verdade, para que os que amam a Deus sejam resgatados das trevas e do pecado, e da
morte espiritual em que se encontram, para a vida eterna que está em Jesus.
Desde o princípio Deus criou a Terra para ser herdada pelos que são Seus amigos e que Lhe
amam.
Assim como Ele havia expulsado do céu todos os
anjos que juntamente com Satanás revelaram ser Seus inimigos, destinando-os a uma
condenação eterna, de igual modo Ele tem feito com todas as pessoas que vivem para se opor à
Sua bondade e vontade.
Toda a humanidade é pecadora. Todos têm pecado e estão sujeitos à condenação divina.
Entretanto, há inimigos ocasionais do Senhor que se tornam Seus amigos por meio da conversão a Cristo, e há inimigos permanentes
(como Satanás e os demônios) que vivem para se opor a Deus e à Sua santa vontade. São inimigos
declarados do Senhor, e jamais se sujeitarão a Ele.
Mas, mesmo entre os que são reconciliados com
Deus por meio da fé em Cristo, ver-se-á procedimentos, em menor ou maior grau, que
são próprios daqueles que são Seus inimigos.
Eles não querem desapontar ao Senhor porque
o amam, mas acabam agindo de modo contrário
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à sua própria vontade em razão da natureza decaída no pecado que ainda carregam neste
mundo ao lado da nova natureza santa e divina que receberam na conversão.
Muitas destas nossas dificuldades não são devidas de modo algum à falta de graça e
bondade de Deus para conosco, mas em razão da nossa própria infidelidade em cumprir
plenamente a Sua vontade. E isto está ilustrado fartamente na história de Israel.
Aquela era de fato uma Aliança muito diferente da Nova Aliança que temos na dispensação da
graça com Cristo, mas podemos aprender em figura muitas realidades espirituais, a partir do
modo como Deus se aliançou com Israel no antigo pacto, celebrado com eles pela mediação
de Moisés.
Para propósitos preventivos de uma apostasia completa dos israelitas, lhes foi ordenado que
não se contaminassem com as práticas idolátricas dos cananeus.
Isto seria completamente impossível, caso os israelitas se aliançassem com eles como nação.
Daí Deus ter ordenado que a terra fosse desocupada completamente da presença dos
cananeus para que não houvesse o risco de Israel abandonar os mandamentos do Senhor,
para se entregar às práticas abomináveis das nações que ocupavam o território de Canaã,
permitindo-se conviver juntamente com os seus antigos moradores que eram inimigos
declarados de Deus.
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Desta forma, a Antiga Aliança, antes que fosse inaugurada a Nova, pelo sangue de Jesus, tinha
que ter este caráter de ministério da morte e da condenação, de modo a se garantir, pelo menos
em certa medida, a sujeição dos israelitas à disciplina de Deus.
Eles haviam sido separados pelo Senhor das
demais nações da Terra para servirem de exemplo ao mundo que o Deus verdadeiro se
provê de filhos entre os pecadores.
Que Ele se faz amigo daqueles que escolhe para
Si, e que estes se tornam amigos de Deus, por guardarem os Seus mandamentos.
Israel era um sinal visível para todo o mundo de
que há uma descendência da mulher que é inimiga da descendência da serpente.
Os filhos de Deus estão em oposição aos filhos do diabo, e os filhos do diabo em oposição aos filhos de Deus. E isto será marcado de modo
claro e definitivo, na eternidade.
Entretanto, há uma grande sutileza em se
conciliar todo o desígnio de Deus na Sua relação com o Seu povo e deste com as demais pessoas
que ainda não conhecem ou que não chegarão a conhecer a Deus.
Porque Deus é amor, e estabeleceu um plano
desde a eternidade para escolher um povo exclusivamente Seu, dentre os pecadores.
E Ele fez isto estabelecendo primeiro a Antiga Aliança com toda uma nação (Israel), para que,
deste ponto de partida, alcançasse com a bênção
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do evangelho, com a Nova Aliança, todas as nações da Terra.
Sem que isto significasse que a bênção de Deus estivesse vedada a qualquer que viesse a se
aproximar dEle, desde a criação do primeiro homem.
Mas, para propósitos previamente definidos,
dois pactos foram determinados em Sua presciência, um de vigência temporária (Antiga
Aliança) e outro de vigência eterna (Nova Aliança), de modo que, quando estendesse a Sua
completa graça, perdão e longanimidade a todos os pecadores, para que aqueles que viessem a se
arrepender de seus pecados pudessem ser salvos, sendo reconciliados com Ele, por meio
da fé em Jesus, não corresse o risco de que isto fosse entendido como um favor incondicional
para com os pecadores, como que se Ele, o Deus santo e justo não se importasse com o pecado.
Por isso marcou com destruição e com fogo o pecado nos exemplos deixados na Antiga
Aliança, para que todos os homens, em todos os lugares, saibam, pelas Escrituras - que são o
testemunho da verdade - que o único e verdadeiro Deus julgará os pecadores conforme
as suas obras, e que portanto, estes bem farão em andar com santo temor e reverência em Sua
presença, pois tem determinado um dia de Juízo, conforme demonstrou nos juízos
localizados que estabeleceu na Antiga Aliança, e que determinou que fossem registrados na
Bíblia para nossa advertência.
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Além disso, o juízo sobre o destino eterno do nosso espírito é marcado na hora mesma da
nossa morte física – céu ou inferno são as duas alternativas colocadas diante de todos nós.
Entretanto, os juízos corretivos do Senhor continuam sendo trazidos sobre o mundo,
mesmo na dispensação da graça, como forma de demonstração da Sua justiça, mas também da
Sua misericórdia, de modo a servir de sinal que conduza a humanidade ao arrependimento e à
fé.
As catástrofes, os desastres, as guerras, e todas
as circunstâncias, que trazem aflições aos homens, são na verdade, chamadas de Deus ao
arrependimento. São demonstrações da Sua misericórdia para com os pecadores alertando-
lhes para o fato de que não vivemos num mundo de perfeição, mas de pecado, e que haverá um
juízo de condenação eterna caso não se arrependam dos seus pecados.
Todavia, não há maior alerta do que a Palavra do
próprio Jesus Cristo, em Seu ministério terreno, ordenando que os homens se arrependam e
creiam no evangelho, e que aquele não crê já está condenado. Mas quantos levam esta
palavra a sério? Quantos pensam nos horrores de uma condenação eterna, da qual somente a união com Cristo pode nos livrar?
Pela Antiga Aliança, Israel não era apenas
chamado por Deus a se distinguir das demais nações, em seus hábitos, especialmente na sua
forma de alimentação, que levaria os israelitas a
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não poderem manter relações sociais com as pessoas que não estivessem aliançadas com
Deus, em razão das imposições relativas à forma de alimentação prescrita pela lei, que
considerava, cerimonialmente, vários tipos de animais imundos, e cujo consumo era vedado
aos israelitas sob a pena de cometerem grave pecado diante de Deus caso viessem a se alimentar deles.
Assim. A lei cerimonial, quanto às prescrições
relativas aos alimentos tinha mais a ver com o propósito de separar os israelitas daqueles que
não amavam a Deus e que se opunham deliberadamente contra os Seus mandamentos,
do que com os alimentos propriamente ditos.
Porém, na Nova Aliança, a visão dada a Pedro em
Jope (At 10.9-16), do grande lençol que descia do céu, com toda sorte de animais imundos, e com
uma voz que ordenava a Pedro que os matasse e comesse, era revelado que na dispensação da
graça, esta barreira havia sido derrubada por Deus.
Desde a inauguração da Nova Aliança no sangue de Jesus, os que conhecem a Deus têm o encargo
de não mais evitarem aqueles que são Seus inimigos, e devem lhes anunciar o evangelho.
A prática da impureza espiritual dos gentios, para a qual a lei apontava em figura, esta sim,
deve ser evitada, mas não eles propriamente. Não devem ser imitados em suas obras, mas
devem ser salgados com o sal do evangelho e
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serem iluminados com a luz de Cristo, que está nos crentes.
Nós lemos o seguinte em Efésios 2.11-18:
“Portanto, lembrai-vos que outrora vós, gentios na carne, chamados incircuncisão. Por aqueles
que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos
aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora, em Cristo
Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é
a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava
no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos contidos em
ordenanças, para criar, em si mesmo, dos dois um novo homem, assim fazendo a paz, e pela
cruz reconciliar ambos com Deus em um só corpo, tendo por ela matado a inimizade; e,
vindo, ele evangelizou paz a vós que estáveis longe, e paz aos que estavam perto; porque por
ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.”
Se Cristo derrubou a barreira de separação é
porque esta barreira existia não imposta pela vontade do homem, mas pela vontade do
próprio Deus, ao ter separado Israel das demais nações, até que Cristo viesse e inaugurasse a
Nova Aliança, pela qual a barreira imposta pela
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Antiga foi derrubada, de modo que todos, em todos os lugares, pudessem ter acesso a Deus
em um mesmo Espírito.
Deus não seria mais o Deus de uma só nação, segundo a descendência natural e carnal de um
homem, a saber Jacó, cujo nome foi mudado para Israel, mas o Deus de uma nação formada por pessoas que se convertessem a Ele pela
pregação do evangelho em todas as nações da Terra.
Devemos pois ter o devido cuidado ao
estudarmos a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, nas partes relativas ao Antigo
Pacto, porque ali encontramos muitas figuras de realidades que se cumpriram em Cristo, e
muitos preceitos que foram revogados e alterados por Cristo com a instituição da Nova
Aliança, que revogou a Antiga, de modo que não pratiquemos na dispensação da graça aquelas
coisas e atitudes que eram determinadas e aceitas por Deus no Antigo Pacto, mas que de
modo algum podem ser aceitas nesta nova dispensação, em que novas diretrizes foram
dadas para substituírem muitas das diretrizes antigas, como por exemplo a lei do olho por
olho, dente por dente; o ofício sacerdotal com a apresentação de animais em sacrifício; as
guerras santas ordenadas por Deus para extermínio de povos idólatras etc.
A Nova Aliança não é ministério de morte, mas
de vida. Isto é, os ministros de Deus estão
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encarregados de levar a vida de Cristo aos homens, e não a condenação e a morte.
Isto fica agora exclusivamente nas mãos de Deus, e a Igreja de Cristo não é mais a espada de
Deus, como Israel foi no mundo antigo para exercer juízos de Deus sobre o mundo de ímpios.
Deus é o Juiz exclusivo do que se refere a tirar ou não a vida de qualquer pessoa, de modo que não
deseja nenhuma cooperação da Igreja neste sentido, ao contrário, foi vedado à Igreja na
presente dispensação toda e qualquer forma de juízo, e daí Cristo ter determinado que o crente
a ninguém deve julgar neste sentido, porque o juízo sobre vida ou morte está agora
exclusivamente nas mãos de Deus.
À Igreja cabe pregar o evangelho, e aqueles nos
quais Cristo será cheiro de morte para a morte e não aroma de vida para a vida, é assunto que se
encontra fora da alçada da Igreja, e que está totalmente nas mãos do Grande e único Juiz.
O dever do qual a Igreja está incumbida é o de levar a mensagem de salvação e se empenhar
muito para a salvação de alguns, porque Jesus, na dispensação da graça, se empenha não em condenar os pecadores, mas salvá-los, para que
estes que se convertem dos seus maus caminhos sejam contados entre todos aqueles
aos quais Deus dará a Terra como sua herança eterna.
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A Suprema Importância do Sacrifício de Jesus
Ninguém se iluda pensando que é possível obter a salvação da alma através de conhecimento
filosófico, teológico ou por qualquer outro meio que seja diferente de se estar pela fé debaixo da
cobertura do sacrifício de Jesus.
Tão crucial, importante e necessário é este sacrifício de Cristo em nosso lugar, que foram
exigidos por Deus, por vários séculos, antes que Ele se manifestasse ao mundo, em forma de
figura, sacrifícios cruentos de animais que tinham que ser limpos segundo a lei cerimonial,
e designados entre apenas um pequeníssimo número de espécies (cordeiros, novilhos e
pombas), que ilustrassem a mansidão e pureza absolutas dAquele que viria no futuro para
morrer na cruz no nosso lugar.
Assim, os mandamentos contidos no livro de
Levítico foram também dados por Deus a Moisés quando os israelitas se encontravam
acampados no monte Sinai, depois de terem sido libertados da escravidão no Egito (Lev
27.34).
A norma dos reformadores de se estudar a lei
sempre com um olho no Calvário, é muito importante em ser seguida porque, assim não se
esquecerá da graça enquanto se medita especialmente nas penalidades da Lei de
Moisés, que, por exemplo, por terem sido revogadas pela entrada em vigor da Nova
Aliança, nem mesmo para a nação de Israel tais
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penalidades continuam sendo de caráter obrigatório.
Pois desde que Jesus veio e inaugurou a Nova
Aliança, Ele continua realizando, através da igreja, o Seu ministério de Salvador do mundo, e
não de Juiz do mundo, pois como Ele mesmo definiu a Sua missão, disse que não veio julgar o
mundo, mas salvar (Jo 12.47); isto se aplica ao período da dispensação da graça, e Ele somente
julgará então o mundo quando vier como Juiz em Sua segunda vinda, porque o Pai constituiu o
Filho Juiz de todas as coisas, como se lê em Jo 5.26-29.
Entretanto, a importância do princípio ensinado
pela lei, que a fidelidade é aprovada por Deus, e o adultério sempre será uma abominação aos
Seus olhos, não deve ser negligenciada.
De modo que ao termos os nossos olhos no Calvário, não venhamos a esquecer que a graça
que temos alcançado através da morte de Jesus Cristo, não significa que estamos autorizados a
viver de modo diferente daquilo que é exigido pela lei moral de Deus.
A Lei e a Graça não são realidades complementares, de modo que a Graça seja a
soma da Lei mais alguma outra realidade espiritual.
No entanto não são realidades antagônicas, e a
diferença básica entre ambas não reside na Sua procedência, pois ambas têm sua origem em
Deus, mas esta diferença está basicamente em
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sua natureza, em sua função, pois se a lei é uma norma, a graça é um poder.
Assim, Jesus ao interferir com a graça, perdoando aquilo que a Lei não perdoa, antes
condena, até mesmo sentenciando à morte, não está descumprindo a lei moral e nem mesmo
incentivando o seu descumprimento, mas introduzindo outro princípio relativo à aplicação das penas da lei, também inerente à
própria natureza de Deus, princípio este que não ofende a Sua justiça e nem desconsidera a Sua
santidade, pois pela própria Lei tem afirmado que usará de misericórdia com quem Lhe
aprouver.
Por isso há prescrições, mesmo na Antiga
Aliança, que são mandamentos relativos à ministração do perdão aos transgressores da
Lei, por meio da apresentação de sacrifícios.
Isto é muito importante de ser observado no
livro de Levítico, pois antes de serem apresentados os vários mandamentos morais
com suas penas respectivas, são listados primeiro, desde o início do livro, as normas
relativas à apresentação das ofertas que tinham em vista, principalmente, o perdão de pecados.
Não podemos esquecer que Deus inspirou a escrita da Bíblia para ser o manual da nossa
redenção, e não da nossa condenação.
Então nós temos o sacrifício como o ponto
central na própria Lei, pois a remissão de pecados é mediante o sacrifício de Jesus, do qual
os demais eram apenas figura. Todavia, mesmo
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aqueles sacrifícios de animais revelavam a graça e a misericórdia perdoadora de Deus em plena
dispensação da Lei, uma vez satisfeita a exigência da Sua justiça de que uma vítima
inocente deveria morrer no lugar do pecador para que este possa ser perdoado.
Mas, como seriam apresentados inúmeros sacrifícios ao longo da história de Israel, durante
o período de vigência da Antiga Aliança, Deus prescreveu a forma de apresentação destes
sacrifícios, para que não fossem feitos de acordo com a imaginação dos homens, de modo a não
desfigurar o Seu propósito na apresentação daquelas ofertas, nas quais havia um princípio
didático relativo a realidades espirituais, não apenas para o ensino deles, como também da
própria igreja na dispensação da graça.
Uma consciência completamente convencida
da sua culpa estaria disposta a vir diante de Deus com milhares de carneiros (Miq 5.6,7), e os ricos
poderiam pensar que em ofertarem muito mais do que os pobres, estariam com isto obtendo
maior favor da Sua parte.
Além do aspecto relativo à quantidade, haveria também a tentação em se pensar que não era
exigido um espírito correto na apresentação das ofertas, isto é, sem arrependimento, quebrantamento e tristeza nas ofertas pelo
pecado, e sem gratidão e alegria nas ofertas pacíficas e de consagração.
Eles poderiam fingir estar honrando a Deus,
agindo somente para serem vistos em prol da
56
própria honra e glória, e assim usarem e abusarem do sistema de ofertas, que sendo dado
para tratar o pecado, seria corrompido pelos seus pecados.
Entretanto, antes de prosseguirmos, cabe destacar que apesar de tudo, quando se fala em
termos de Lei como sendo a Antiga Aliança propriamente dita, e de Graça como sendo a
Nova Aliança, aí então a diferença é marcante, porque aos aliançados do antigo pacto foi
ordenado por Deus que não ultrapassassem sequer os limites demarcados ao redor do sopé
do Sinai, com a intenção de subirem o monte e se aproximarem do seu cume, onde se
manifestaria a Sua presença e glória, e mesmo no tabernáculo só podiam entrar os sacerdotes,
e mesmo assim no Lugar Santo; e no Santo dos Santos, somente o sumo sacerdote, uma única
vez por ano.
Já na Nova Aliança todos os aliançados são
chamados a se aproximarem do Senhor, vindo à Sua presença no Santo dos Santos celestial.
Uma pessoa de fé no Velho Testamento tinha
acesso à presença do Senhor no Santo dos Santos celestial, em espírito, não em razão de
alguma ordenança contida na Antiga Aliança relativa a isto, mas em razão dos benefícios da Nova Aliança no sangue de Jesus, que também
os alcançou no passado.
O primeiro capítulo de Levítico descreve a lei do holocausto, isto é, dos sacrifícios cruentos que
eram queimados sobre o altar; o segundo
57
capítulo as ofertas de manjares; o terceiro os sacrifícios pacíficos; o quarto descreve o
sacrifício pelos pecados por ignorância; o quinto o sacrifício pelos pecados ocultos; e o sexto e
sétimo capítulos descrevem também prescrições para os diversos tipos de ofertas.
Estes capítulos não esgotam tudo o que há na lei de Moisés para regular a apresentação das
ofertas, mas temos nestes sete capítulos iniciais de Levítico, as linhas gerais relativas às ofertas a
serem oferecidas no tabernáculo, e no primeiro capítulo se descreve particularmente que os
holocaustos deveriam ser de gado (novilho - 1.2), ou gado miúdo (carneiro ou cabrito – 1.10) ou
aves (rolas ou pombos – 1.14). Os animais de gado deveriam ser machos sem defeitos (1.3;10).
Em outras porções da Palavra será descrito que estas ofertas deveriam corresponder
proporcionalmente às posses dos ofertantes, de forma que um rico não oferecesse rolas ou
pombos, e alguém muito pobre um novilho.
Todos os tipos de sacrifícios deveriam ser
apresentados à porta do tabernáculo, para que os ofertantes fossem aceitos por Deus (1.3) e
deveriam ser imolados perante o Senhor (1.5, 11), e queimados, depois de serem partidos, no altar
do holocausto, como oferta queimada de aroma agradável ao Senhor (1.9, 13, 17).
Note que a referência que se repete é que aqueles sacrifícios são apresentados diante de
Deus e para Ele.
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Por isso o altar do holocausto ficava à frente da porta do tabernáculo, de modo que todas as
ofertas fossem apresentadas diante de Deus, cuja presença estava representada na arca da
aliança, que se encontrava no interior do tabernáculo.
Os sacrifícios, o sangue dos sacrifícios, o aroma da queima da sua carne, não eram para serem
vistos e sentidos pelos homens, mas por Deus.
O sacerdote era um mediador entre o ofertante
e o Senhor, mas tanto a oferta quanto o ofertante estavam se apresentando não diante do homem,
mas de Deus. Assim, o sacrifício de Jesus foi para satisfazer à justiça e à santidade do Pai, e não
para ser visto pelos homens.
Ele se deu em oferta a Deus como propiciação
pelos nossos pecados, mas o Seu sacrifício não foi propriamente para satisfazer o desejo dos
pecadores, senão para o benefício deles.
Isto está ensinado claramente em figura no
sistema sacrificial do Antigo Testamento.
É dito diretamente que o holocausto deveria ser apresentado perante o Senhor; e o ofertante
deveria colocar a sua mão sobre a cabeça do sacrifício; para que fosse aceito em seu benefício, para a sua expiação.
Veja que seria a aceitação do sacrifício que
beneficiaria o ofertante, de modo a expiar a sua culpa.
Se o sacrifício de Jesus não tivesse sido aceito pelo Pai, ninguém poderia ter a culpa de seus
pecados expiada.
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Este ato de expiação significa aos olhos de Deus o pagamento pela culpa de nossos pecados,
conforme exigido pela lei, de modo que pudéssemos ser absolvidos desta culpa.
Então, pelo ato de remissão, isto é, deste
pagamento, de cumprimento da pena exigida pela lei, o que acontece com a condenação que
era prescrita por esta mesma pena da Lei no Antigo Testamento?
Ela é simplesmente removida em Cristo, para
aqueles que têm os seus pecados expiados, por estarem unidos a Ele, na semelhança de Sua
morte e ressurreição.
Por isso se ordenava que o ofertante impusesse
a mão sobre a cabeça do sacrifício, indicando-se assim esta identificação na sua morte, como sendo a sua própria morte, pois era com a mão
sobre a sua cabeça que a vítima inocente era imolada.
A nossa aceitação por Deus dependeu então da aceitação do sacrifício de Jesus, como sendo a
nossa própria morte para a condenação da Lei, e para o pecado.
A nossa redenção e justificação são feitas por
meio do sangue que Ele derramou, e é por sermos redimidos e justificados, que somos
aceitos, porque não temos um Salvador que simplesmente apaga a culpa dos nossos
pecados, como também remove os nossos pecados, apresentando-nos lavados de nossas
iniquidades diante de Deus.
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É para sermos santificados que Ele se santificou a Si mesmo, separando-se como oferta, para
morrer em nosso lugar.
O propósito eterno de Deus, que está revelado
desde o livro de Gênesis, onde é citado que Adão foi criado perfeito e sem pecado, é cumprido,
portanto, por meio do sacrifício de Jesus em nosso favor, de modo que aquela santidade
original possa ser resgatada e aplicada às vidas dos que têm sido remidos pelo Seu sangue.
A exigência de que a oferta fosse sem defeito é uma clara alusão a Jesus, pois somente Ele é
perfeitamente santo e sem defeito. Assim, os sacrifícios cruentos apontam como figura para
Ele.
Se o sacrifício fazia expiação a favor do ofertante
(Lev 1.4), então teria que ser obrigatoriamente uma figura de Cristo, porque em nenhum
animal ou mesmo pessoa, poderia ser possível se fazer expiação pelo pecado, ainda mais pelo
que se depreende das condições que Deus determinou para que o animal fosse imolado,
isto é, com a imposição das mãos sobre a cabeça do holocausto, imolando-o em seguida perante
o Senhor.
Esta imposição de mãos, como já dissemos
antes, tinha a ver com a identificação com a morte da vítima, reconhecendo como sendo a
sua própria morte, e a confissão de pecados sobre ela, de modo que estaria transferindo-lhe
a culpa do seu pecado.
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Ora, sabemos que não seria justo fazer-se uma expiação de culpa trocando um animal por um
homem.
Então, o que temos aqui é uma figura.
E, também não seria justo trocar um pecador por outro pecador, porque aquele que tem a sua
própria culpa, não poderia morrer pela culpa de um outro, pois já teria sobre si a sentença de
morte.
Então não há qualquer sombra de dúvida que a
figura aponta para Cristo, e somente para Ele, porque nenhum outro poderia se encaixar na
descrição que é feita na Palavra de Deus (Hebreus 8.1-8).
Por isso se diz que o aroma da queima da carne do holocausto seria agradável a Deus, porque
agradou ao Pai que o Filho fosse consumido inteiramente no seu altar de sofrimento, em
favor dos nossos pecados.
O aroma era agradável a Deus não pelo cheiro da carne, porque aqui temos uma antropopatia,
pois Deus não se alimenta de carne, mas o fato de a carne estar queimando no altar significava
que o pecado do ofertante seria perdoado por causa daquele grande sacrifício que seria feito no futuro, e do qual aquele que estava
apresentando era figura.
Pois com o corpo do sacrifício queimado também se queimava em figura, o pecado.
Dava-se também o testemunho de uma alma se reconciliando com Deus, convertendo-se a Ele,
dizendo não ao pecado, entrando em inimizade
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com o diabo e em amizade com Deus, buscando a santidade que havia sido perdida no Éden, e
dando assim cumprimento ao propósito do Senhor na criação do homem.
Se tudo isto seria possível por causa de o pecador ter entendido que deveria confiar no
sacrifício para ser aceito por Deus, conforme Ele determinou, então não seria de se esperar menos de que Ele ficasse de fato agradado com
o aroma da oferta que queimava sobre o altar, indicando a eficácia de expiação do pecado
através da relação entre a oferta, o ofertante e a aceitação de Deus de ambos.
Como já dissemos antes, o sacrifício de Jesus agradou inteiramente ao Pai, pois satisfez
plenamente à Sua justiça, e é em decorrência disto que somos aceitos por Deus como seus
filhos amados.
Outro fato que aponta para a verdade de que o
sacrifício tipificava a Cristo e somente Ele, reside em que os novilhos, cordeiros, cabritos,
rolas e pombos, representam animais inofensivos, inocentes e mansos, e portanto
apontavam para as virtudes que estão em Cristo.
Não se fala na lei de ser aceitável sacrifício de
animais considerados imundos pela lei, peçonhentos, selvagens e com características
que não apontassem para a benignidade e mansidão de nosso Senhor.
Assim, como vimos antes, é o sacrifício de Cristo que nos habilita a sermos agradáveis a Deus, de
modo que uma vez sendo justificados do pecado,
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e sendo regenerados pelo Espírito, possamos ser reconciliados com Ele, para receber graça
para amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento e de toda a força, e para amar o
próximo como a nós mesmos, pois isto excede a todos os holocaustos e sacrifícios que
poderíamos apresentar para Deus (Mc 12.33), tanto que Jesus apresentou-se a si mesmo como sumo sacerdote ao Pai por nós, e também como
sacrifício, uma única vez e para sempre, não deixando para nós senão o único dever de amar,
assim como Ele nos amou.
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Compreendendo o Significado da Nossa Existência Pela Perspectiva Correta
A compreensão do propósito para o qual fomos
criados por Deus, e do verdadeiro significado de nossas vidas, depende de que o vejamos pela
perspectiva correta, ou seja, pela do espírito eterno que nos foi dado, por termos sidos
criados à Sua imagem e semelhança.
Assim, quando um ente querido morre
podemos ficar cheios de saudade e até mesmo de tristeza pela ruptura momentânea da
companhia que desfrutávamos aqui na Terra.
Porém, isto não significa de modo algum, para aqueles que atendem ao propósito da criação da
humanidade por Deus, uma ruptura dos laços de amor e união, que são eternos, e
prosseguirão portanto, pela eternidade afora, quando todos estivermos reunidos com Ele no
céu.
Assim, juntamos às nossas saudades e tristezas
a grande alegria e certeza da esperança de que a morte não passa na verdade de um até breve
querido (a).
Seria cruel, se a existência de seres conscientes,
que possuem o conhecimento do que seja a vida e a morte, se limitasse apenas ao curto período
de vida que temos neste mundo. Mas, como amamos a um Deus que não é cruel, senão
perfeito amor, podemos estar certos da Sua fidelidade em cumprir todas as boas promessas
que nos fez por estarmos unidos a Jesus Cristo.
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As tribulações e perdas que experimentamos deste outro lado do céu não são motivo para
descrermos na bondade e amor do Senhor. Ao contrário, é justamente por meio delas que
prova o Seu grande amor e misericórdia para conosco, porque em meio a elas, nos fortalece
com a Sua graça e nos dá a certeza da Sua sempre presença conosco em toda e qualquer circunstância, e o melhor de tudo, faz com que
nisto a nossa fé nEle seja aperfeiçoada, e o nosso caráter é melhorado a cada tentação e provação
que são vencidas pelo poder de Jesus Cristo, que opera em nós por meio do Espírito Santo.
Nós podemos ver isto, por exemplo na vida do
profeta Jeremias,que quando se encontrava ainda preso no pátio da guarda, por ordem do rei
Zedequias, e mesmo ali, encarcerado, o Senhor continuou lhe dando as grandes e preciosas
revelações e promessas relativas à Nova Aliança (Jeremias 33).
Ele encorajou o Seu profeta a não ficar
intimidado pelas circunstâncias em que se encontrava, mas que continuasse na Sua
presença, clamando a Ele, porque lhe responderia ao clamor e lhe anunciaria, ou seja,
lhe revelaria as coisas grandes e ocultas relativas ao futuro glorioso do Seu povo, que
Jeremias ainda não conhecia, e que não se cumpririam nos seus dias de vida na Terra.
Jerusalém estava sendo invadida pelos
babilônios, mas o Senhor ainda faria com os
66
judeus, no futuro, tudo o que está escrito a partir do verso 6, no qual afirma o seguinte:
“Eis que lhe trarei a ela saúde e cura, e os sararei, e lhes manifestarei abundância de paz e
de segurança.” (v. 6)
Deus formou Israel para ser um povo santo, e Ele
teria este povo santo, quando lhes desse o Messias, porque não somente faria com que
voltassem do exílio em Babilônia, mas os edificaria, purificando-lhes de toda a iniquidade
do seu pecado contra Ele, e perdoaria todas as suas iniquidades com que haviam pecado e
transgredido contra Ele, conforme promessa que já havia feito através do profeta em Jer 31.27-
34.
Jerusalém serviria então, conforme a vocação que lhe fora dada por Deus, de nome de júbilo,
de louvor e de glória diante de todas as nações da terra, por verem todo o bem e paz que o
Senhor daria ao Seu povo (Jer 33.9).
Uma demonstração desta bem-aventurança eterna, quando estivessem reunidos ao
Messias, seria o fato de trazê-los de volta de Babilônia para a sua própria terra, na qual eles
seriam alegrados novamente por Ele (v. 10 a 14).
E depois disto, ainda lhes daria o Rei justo
prometido em Jer 23.5,6, pelo qual seria cumprida a promessa de inauguração de uma
Nova Aliança com o Seu povo.
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É importante lembrar que mesmo depois da volta dos judeus de Babilônia em 537. a. C, eles
tiveram que esperar ainda 570 anos, até a morte e ressurreição de Jesus, quando foi finalmente
inaugurada a Nova Aliança prometida.
Por isso o Senhor se referiu ao cumprimento
desta promessa como sendo relativa a dias futuros, com a expressão “Eis que vêm os dias, diz o Senhor, em que cumprirei...”.
Ele chamou a Nova Aliança em Cristo, como sendo o cumprimento da boa promessa que
havia dado a Israel e a Judá (v. 14). É boa palavra porque se refere à boa nova, ao evangelho, que é
o Seu poder para salvar os que creem.
O enfoque da promessa da Nova Aliança não
está no povo, mas no Renovo de justiça, que brotaria a Davi e que executaria juízo e justiça na
Terra, porque é a Ele que o Pai tem dado o poder de julgar tanto a vivos quanto a mortos, como
também de justificar os pecadores que se arrependem e que nEle creem.
É por isso que o povo que se acha debaixo do governo deste Rei justo será chamado pelo
nome: O SENHOR É NOSSA JUSTIÇA. Porque é por causa da Sua justiça em nós que temos
salvação e segurança eternas (v. 15,16), a saber a Sua justiça eterna e perfeita com a qual somos
justificados.
É nele que se cumpriria a promessa feita por
Deus a Davi no passado de que não lhe faltaria varão que se assentasse sobre o trono da casa de
Israel, e que seria da sua descendência.
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Este varão que nunca faltará a Davi, assentado em Seu trono, é Cristo (v. 17).
A segurança deste pacto firmado com Davi é eterna, do mesmo modo que ninguém pode
fazer com que deixe de existir dia e noite (v. 20 a 26).
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Julgamentos Humanos Temerários e Improcedentes
Pasmem! Mas Deus é realmente julgado por
muitos como sendo um Deus cruel. Muito deste juízo é formado por uma compreensão
incompleta e incorreta de Suas sentenças contra pecados praticados no Velho
Testamento, até mesmo com a pena de morte física.
Em todo o período de existência da humanidade, aquela antiga dispensação do Velho Testamento
teve um prazo limitado fixado por Deus para funcionar especialmente em relação à própria
nação de Israel que era o povo da aliança prometida a Abraão e sua descendência.
Ao revelar os seus juízos, não de forma
generalizada, mas cuidadosamente determinada, o grande alvo do Senhor era o de
nos alertar o quanto o pecado nos destrói e nos submeterá por fim a uma condição de estarmos para sempre afastados da Sua santa presença,
porque o pecador não justificado e regenerado não pode subsistir diante da perfeita Majestade
santa e justa do céu.
Assim, o propósito daqueles juízos que foram registrados por ordem do Senhor nas Escrituras
é o de nos alertar do grande perigo que corremos, de modo que fujamos da condenação
por meio da fé e do arrependimento.
Então, não temos naqueles juízos uma prova da
falta de amor de Deus, ao contrário, são
70
justamente eles a grande prova da Sua misericórdia em nos alertar e também por ter
despejado toda a ira da Sua justiça em Seu próprio Filho unigênito que teve que morrer em
nosso lugar na cruz do Calvário, para que pudéssemos ser justificados e reconciliados.
Deus é perfeitamente bom, amoroso e misericordioso.
Ele o tem demonstrado ao longo da história da humanidade, desde que o primeiro homem
pecou, ao oferecer-lhe a redenção que é simplesmente por meio da fé nEle.
Assim, vemos boas e grandiosas promessas sendo afirmadas ao longo das Escrituras, as
quais se cumprem em Cristo.
O Senhor sempre intentou fazer o bem ao homem que criou para viver eternamente em
comunhão com Ele.
Por isso nos deu um Salvador que teve que pagar
o terrível preço que nós mesmos deveríamos pagar em razão dos nossos pecados; e declarou
todo o Seu beneplácito, através dos profetas do Velho Testamento, muitos séculos antes do
tempo em que Jesus se manifestaria ao mundo.
No texto de Jeremias 31.31-35 nos foi dada a
promessa de uma Nova Aliança em Cristo, que suspendeu os juízos para as transgressões e
pecados, que eram vigentes no tempo da Antiga Aliança com Israel. De maneira que agora, na
presente dispensação da graça Deus determinou ser longânimo para com todos,
adiando estes juízos para o grande Dia do Juízo
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Final, quando será fechada a referida dispensação.
Está sendo dada desta forma uma oportunidade para que todos se arrependam e cheguem ao
conhecimento da verdade, e à consequente libertação da condenação eterna.
Nos capítulos 32 e 33 do livro do profeta Jeremias nós encontramos ainda promessas do Senhor
relativas à Nova Aliança, como a que se encontra registrada nos versos 37 a 40:
“37 Eis que eu os congregarei de todos os países para onde os tenho lançado na minha ira, e no
meu furor e na minha grande indignação; e os tornarei a trazer a este lugar, e farei que habitem
nele seguramente.
38 E eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.
39 E lhes darei um só coração, e um só caminho, para que me temam para sempre, para seu bem
e o bem de seus filhos, depois deles;
40 e farei com eles um pacto eterno de não me
desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de
mim.”
Veja que aqui não se a diz apenas que Deus faria
Israel regressar do cativeiro em Babilônia, mas de todas as nações para onde haviam sido
lançados por causa da ira do Senhor, para voltarem a habitar na sua própria terra de Israel,
e que lhes faria habitar nela seguramente.
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E agora seriam o povo que o Senhor sempre intentou que eles fossem, ou seja, tendo-Lhe
para sempre como o seu Deus, e para tal propósito lhes daria um só coração, um só
caminho, de modo que fosse temido por eles eternamente, para o próprio bem deles e de sua
descendência; e isto seria possível porque faria uma aliança eterna, ou seja, a Nova Aliança, pela qual nunca poderá se desviar de fazer o bem
a Seu povo, por causa da justificação em Cristo, pela qual o temor do Senhor é colocado
sobrenaturalmente no nosso coração, pelo Espírito Santo, de forma que jamais poderiam
ser separados de Deus, porque o vínculo desta Nova Aliança, nos faz estar ligados a Ele para
sempre de modo que se afirma em Rom 8.35-39 o seguinte:
“35 quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a
fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?
36 Como está escrito: Por amor de ti somos
entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
37 Mas em todas estas coisas somos mais que
vencedores, por aquele que nos amou.
38 Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas
presentes, nem futuras, nem potestades,
39 nem a altura, nem a profundidade, nem
qualquer outra criatura nos poderá separar do
73
amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.”
Por este motivo, foi ordenado a Jeremias que comprasse em resgate o campo de seu tio
Hanamel, na sua terra de Anatote, e que lavrasse a escritura da compra, em sinal de que terras voltariam a ser compradas em Judá,
depois que os judeus voltassem do cativeiro.
Isto era uma garantia de que Deus tornaria a
trazê-los de volta da terra para onde os levara em cativeiro.
E o Senhor dera tal ordem quando
Nabucodonosor estava prestes a tomar Jerusalém, no décimo ano do reinado de
Zedequias, e a cidade foi tomada no quarto mês do décimo primeiro ano do reinado do citado
rei.
Nesta ocasião Jeremias encontrava-se
encarcerado no pátio da guarda da casa real, por ordem de Zedequias, porque estava
profetizando que Deus entregaria a cidade de Jerusalém na mão do rei de Babilônia, e que o rei
Zedequias não escaparia das mãos dos babilônios, e o próprio Nabucodonosor o
conduziria cativo para Babilônia.
Então a assinatura da escritura da compra do campo de seu tio em Anatote, foi feita no pátio
da prisão onde Jeremias se encontrava, à vista de todos os judeus que estavam sentados no pátio
da guarda.
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E as duas escrituras, uma selada, e outra aberta, por ordem do Senhor, deveriam ser colocadas
num vaso de barro, para que ficassem conservadas por muitos dias, porque seriam um
sinal de que ainda se comprariam casas, campos e vinhas na terra de Israel, depois de ficar
desolada no período do cativeiro.
Isto não foi feito em relação a Edom, Amom,
Moabe, e outras nações que tinham buscado a destruição de Judá, e no entanto elas é que
foram destruídas, porque Deus tem um propósito eterno com Israel, a nação que Ele
próprio formou com a chamada de Abraão, para ter um povo que guarde os Seus mandamentos
e que O ame e o Sirva para todo o sempre.
Deus faria isto porque como Ele próprio disse a Jeremias, quando fez a promessa de que se
comprariam casas, campos e vinhas em Judá, depois do cativeiro, que não há nada demasiado
difícil para Ele, porque a perplexidade do profeta era grande por ser muito grave a iniquidade de Judá. A dificuldade não seria o fato de voltarem
do cativeiro e comprarem terras, mas o fato de Deus perdoar tantas e graves iniquidades e
tornar a fazer o bem ao Seu povo, e com promessas de que se uniria a eles para sempre.
O Senhor mais uma vez havia declarado o
motivo de estar entregando os judeus nas mãos dos babilônios, e destacou especialmente o fato
de estarem sacrificando seus próprios filhinhos a Moloque, queimando-os em holocausto nos
braços de Moloque, no vale de Hinom, mas
75
ainda voltaria a fazer o bem a Judá depois de tê-los purificado destas idolatrias.
Nós encontramos nos versos 28 a 35 o registro das abominações que os judeus haviam
praticado, e pelas quais estavam sendo castigados por Deus.
“28 Portanto assim diz o Senhor: Eis que eu
entrego esta cidade na mão dos caldeus, e na mão de Nabucodonosor, rei de Babilônia, e ele a
tomará.
29 E os caldeus que pelejam contra esta cidade entrarão nela, e lhe porão fogo, e a queimarão, juntamente com as casas sobre cujos terraços
queimaram incenso a Baal e ofereceram libações a outros deuses, para me provocarem a
ira.
30 Pois os filhos de Israel e os filhos de Judá têm feito desde a sua mocidade tão somente o que
era mau aos meus olhos; pois os filhos de Israel nada têm feito senão provocar-me à ira com as
obras das suas mãos, diz o Senhor.
31 Na verdade esta cidade, desde o dia em que a
edificaram e até o dia de hoje, tem provocado a minha ira e o meu furor, de sorte que eu a
removerei de diante de mim,
32 por causa de toda a maldade dos filhos de
Israel e dos filhos de Judá, que fizeram para me provocarem à ira, eles e os seus reis, os seus
príncipes, os seus sacerdotes e os seus profetas, como também os homens de Judá e os
moradores de Jerusalém.
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33 E viraram para mim as costas, e não o rosto; ainda que eu os ensinava, com insistência, eles
não deram ouvidos para receberem instrução.
34 Mas puseram as suas abominações na casa que se chama pelo meu nome, para a
profanarem.
35 Também edificaram os altos de Baal, que estão no vale do filho de Hinom, para fazerem passar seus filhos e suas filhas pelo fogo a
Moloque; o que nunca lhes ordenei, nem me passou pela mente, que fizessem tal
abominação, para fazerem pecar a Judá.”
Quando vemos a descrição de todas estas abominações, e ao mesmo tempo sendo
ajuntado a ela, promessas de bênçãos futuras para aqueles que se arrependessem de seus
pecados, dá para permanecer julgando Deus como sendo alguém cruel, como muitos
costumam fazer?
Aponte-me um só homem em quem possa ser achada tal disposição de perdoar e abençoar
inimigos declarados, a ponto de morrer no lugar deles, para tomar o lugar da condenação e culpa
que deveriam carregar para sempre, e então eu atribuiria a esta pessoa o mesmo caráter de
amor, bondade e misericórdia que há em Deus.
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Antes Só do Que Mal Acompanhado?
Enquanto estiver neste mundo nem mesmo a genuína a Igreja invisível de Cristo será perfeita,
não porque Cristo não seja perfeito, ou que o trabalho do Espírito Santo não seja perfeito, mas
porque enquanto estivermos aqui, ainda estamos sujeitos à nossa natureza terrena que é
imperfeita por causa do pecado.
Deste modo, não se achará na Terra, como
nunca se achou dantes, a congregação perfeita.
Agora, uma coisa é ser imperfeito em nossa natureza terrena, e outra muito diferente vivermos em erros doutrinários, e de prática
cristã.
Estes erros têm crescido a tal ponto em nossos dias de apostasia da sã doutrina, que somos
levados a refletir sobre a importância de se discernir se a nossa congregação se encontra na
condição de uma Laodiceia que não atendeu à exortação do Senhor ao arrependimento, e que
sendo vomitada de Sua boca, perdeu a luz do candeeiro que deveria ser, e assim, este foi
removido pelo Senhor - deixando de ser aos Seus olhos uma igreja verdadeira.
Quantas congregações experimentaram esta condição apontada ao longo da história do
Cristianismo, e não poucas se encontram na referida condição em nossos dias!
Quando o culto de adoração a Deus descamba para o paganismo e mundanismo, quando as
vidas dos cristãos que se congregam perdem o
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sal e a luz, por uma obstinada carnalidade, enfim, quando a chaga se torna purulenta a
ponto de ser incurável, como poderia o Senhor chamar a este conjunto de pessoas que se
reúnem regularmente, de Sua Igreja?
Temos a ordenança bíblica de congregarmos
com um grupo de irmãos para o culto de adoração a Deus.
Mas haveria alguma obediência a esta
ordenança quando congregamos nas condições retrocitadas?
No passado, quando alguém se convertia,
costumávamos orientá-lo a procurar a igreja evangélica mais próxima de sua residência, ou
aquela para a qual o Senhor lhe direcionasse.
Hoje, ficamos com a segunda parte do aconselhamento, e abandonamos a primeira,
porque nem toda congregação prega e vive o genuíno evangelho de Cristo.
Esta é uma nova realidade que tem se
apresentado diante de todos nós.
Não devemos orientar qualquer pessoa a
permanecer isolada de seus irmãos na fé, ou de não procurar uma congregação para não correr
o risco de se colocar em comunhão com uma igreja apóstata, mas necessário se faz ponderar,
que há certas associações que em vez de trazerem algum benefício à nossa fé, podem até
mesmo contribuir para nos desviar da verdade.
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Longanimidade Comprovada na Prática
Desde que nosso Senhor Jesus Cristo instituiu uma nova dispensação (a da graça) com a Sua
morte e ressurreição, foi instituído também um tempo de completa longanimidade para com
todos os pecadores.
Muitos juízos que eram imediatos nos dias do Velho Testamento sobre determinadas práticas, como por exemplo, a da idolatria, da impureza
sexual, do homicídio doloso, entre outras, têm sido postergados para o Dia do Juízo Final,
durante o período da dispensação da graça em que vivemos.
Todavia, vemos muitas demonstrações desta
graça divina operando mesmo nos dias do Antigo Testamento, como podemos ver no
relato constante do final do 21º capítulo de I Reis, e deste podemos entender a razão pela
qual Deus permite que pessoas ímpias prosperem por um longo tempo enquanto vivem neste mundo.
O perverso Acabe havia se humilhado diante do
Senhor por causa do juízo que proferiu contra ele pela boca do profeta Elias.
Ainda que aquela fosse uma humilhação de um arrependimento apenas externo, e não do
coração, porque continuou nos seus pecados, tendo apenas ficado abatido e temeroso do mal
que foi proferido sobre ele e sobre a sua casa, por causa de todos os males que praticara em
Israel, e principalmente por ter se apoderado da
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vinha de Nabote, que foi o fato catalisador daqueles juízos.
Foi tal o impacto da palavra de Deus através de Elias sobre ele, que rasgou as suas vestes,
jejuava e andava vestido de saco (I Reis 21.27).
Com isto ele conseguiu mover a compaixão e a
bondade de Deus, não para revogar o juízo, mas para adiar a execução relativa ao extermínio da
sua casa, que não seria feito enquanto ele vivesse, mas nos dias em que seu filho estivesse
reinando depois dele.
Mas não foi dado a ele o conforto de sabê-lo,
porque o Senhor não lhe revelou a sua decisão, mas ao profeta Elias (v. 29).
Esta passagem nos ensina muito sobre a grande
longanimidade e bondade de Deus, porque se um homem como Acabe com uma penitência
parcial, e um arrependimento apenas externo conseguiu prolongar a vida da sua casa, então
um penitente sincero que tenha se arrependido em seu coração dos seus pecados, terá de fato não somente a sua vida prolongada na terra,
como irá justificado para a sua casa celestial, para estar para sempre na presença de Deus.
As faltas de Acabe eram imensas e terríveis, mas
poderiam também serem perdoadas, para efeito de justificação, caso ele se arrependesse
realmente dos seus pecados, ainda que não fosse livrado das consequências deles, e dos
justas correções do Senhor.
Não foi pouca coisa que o Senhor considerou em
sua longanimidade em relação a ele, porque o
81
crime praticado contra Nabote, seu vizinho do palácio, que ele tinha em Jizreel, na tribo de
Issacar, foi extremamente abominável, pois foi perpetrado para consumar a satisfação de um
desejo, contra o mandamento que diz “não cobiçarás”, e mais do que satisfazer uma cobiça,
era na verdade para tentar abafar o seu descontentamento em não poder anexar à sua propriedade o vinhedo vizinho, que pertencia a
Nabote.
Quando Nabote se recusou a vender-lhe a propriedade ou trocá-la por uma outra, porque
era uma herança que vinha passando de pais para filhos desde a antiguidade, Acabe ficou de
tal modo desgostoso e indignado que se recusava a comer porque havia perdido a fome.
E quando ele expôs o caso a Jezabel ele estava se
vendendo a ela para que tomasse a iniciativa maligna, que ele certamente sabia que ela
tomaria para que o seu desejo fosse satisfeito.
E a perversa Jezabel realmente formulou um plano diabólico, de modo que os filhos de
Nabote não poderiam reclamar o seu direito à herança, depois que ele fosse morto, porque
morreria acusado falsamente de ter cometido um crime de estado, pois seria testemunhado
contra ele, por duas pessoas de Belial, que ele havia blasfemado contra Deus e contra o rei, de
maneira que um tal crime faria com que Nabote fosse morto por apedrejamento, e não daria o
direito de posse aos herdeiros legítimos, e desta
82
forma Acabe poderia assumir o direito vitalício sobre a propriedade de Nabote.
Para isto Jezabel usou o sinete real, que ao que tudo indica deveria ser usado por ela em várias outras ocasiões, debaixo da omissão do rei em
favor dela, para praticar as suas maldades, como por exemplo a de obtenção do apoio dos anciãos
para exterminar os profetas do Senhor.
Esta era Jezabel e não admira que tenha sido
profetizado contra ela por Elias que seria devorada pelos cães (v. 23).
O descontentamento é um grande pecado diante do Deus bondoso e provedor, que cuida
especialmente das necessidades dos Seus filhos.
O descontentamento é um pecado que traz
consigo o seu próprio castigo, pois atormenta os homens, entristece os seus espíritos e enferma
o corpo.
Por isso é ordenado aos cristãos que em tudo
deem graças, porque em vez de descontentamento pelas suas circunstâncias
presentes, deveriam aprender a suportar as suas cruzes com o pensamento fixado nas
misericórdias que desfrutam, especialmente a relativa ao reino futuro que aguarda por eles.
83
Sem Permanecer em Cristo Estamos Desarmados
Os que esperam no Senhor renovarão as suas forças, de maneira que quando dispuserem
apenas do último punhado de farinha o profeta será enviado para suprir a casa da viúva.
Quando a tentação é forte e pouca a nossa força,
a ponto de estarmos quase nos rendendo aos nossos inimigos, então podemos esperar o
socorro que nos virá do céu para vencermos a tentação.
Para firmar nossa confiança nesta verdade Deus
nos deu um exemplo no que fizera na vida de Jó, pois ele foi submetido a sucessivas e variadas
provações duras e extremas nas quais foi assistido pela graça do Senhor para permanecer
firme e obter a vitória sobre Satanás.
Sem sermos providos pelo Senhor de todo equipamento defensivo e ofensivo que
compõem a Sua armadura para combatermos as forças do mal, não poderemos triunfar.
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do
diabo;” (Ef 6.11)
Não podemos prevalecer estando desprovidos dos componentes desta armadura espiritual
que recebemos em nossa íntima comunhão com nosso Senhor Jesus Cristo. Sem
permanecer nEle estamos desarmados.
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A nossa vida está escondida em Jesus Cristo nas regiões celestiais, como se lê em Colossenses
3.1-4; Ef 1.20; 2.6; 3.10.
O exército de Deus, composto pelos seus santos,
está na Terra, mas a guerra é estabelecida nas regiões espirituais contra os principados e
potestades do mal, de modo que o apóstolo afirma que não é contra a carne e o sangue que
temos que lutar usando a nossa armadura divina.
Todas as suas armas são espirituais e aplicadas pelo Espírito Santo em nossas vidas,
especialmente a Palavra de Deus que é designada em Efésios 6 como sendo a espada do
Espírito, ou seja, a arma ofensiva com a qual atacamos os poderes das trevas.
Em nossa marcha para o céu temos que lutar contra estes espíritos malignos, não
propriamente para conquistarmos a salvação das nossas almas, porque isto é obtido de uma
vez para sempre por meio da nossa conversão a Cristo, mas para cumprirmos um dos propósitos
da nossa salvação, conforme designado por Deus desde o princípio: vencermos as hostes do
Inimigo.
Deus prometeu que a cabeça da Serpente seria
esmagada por Cristo, e Ele faz isto juntamente com os Seus santos, porque importa que aqueles
que foram vencidos uma vez por Satanás, enquanto na carne, o vençam agora, estando em
espírito – espírito vivificado por Cristo.
85
O destruidor será destruído, e os que haviam sido destruídos por ele serão restaurados por
Deus.
O que afligia será afligido, e o que estava em
aflição será consolado.
Deus determinou que assim seria, por meio da nossa fé em Cristo, e o tem cumprido
cabalmente.
Vemos portanto, quão enganados estão todos aqueles que colocam a sua confiança em
sistemas, em lideranças humanas, religiosas ou não, para serem vitoriosos sobre os espíritos das
trevas e obterem a salvação de suas almas, e não exclusivamente em Jesus Cristo.
Não há qualquer armadura espiritual fora dEle, que seja efetiva contra o pecado e Satanás.
E ir a esta guerra espiritual desarmado significa
derrota.
Somente em Cristo podemos obter a vitória.
86
Sujeitando-se a Deus para Vencer
Deus ama os seus santos como a preciosidade que foi comprada para Ele com o sangue do seu
próprio Filho Unigênito; de modo que não permitirá que seja perdido o que foi comprado
por um preço tão caro.
Se Ele se dispôs a pagar o preço da redenção com
o sangue de Seu Filho, certamente sempre exercerá o Seu poder para manter o que Lhe
pertence num estado santificado e eternamente ligado a Ele.
Deus fez uma aliança de sangue conosco que jamais poderá ser desfeita por qualquer poder,
inclusive pela nossa própria vontade, uma vez tendo nós entrado em aliança com Ele, por meio
da fé em Jesus Cristo.
É com a plena convicção desta verdade que devemos nos engajar na batalha contra os
poderes das trevas. Satanás já foi julgado e despojado do poder que detinha sobre nós
quando éramos, por natureza, filhos da ira (Ef 2.3).
Mas tendo recebido uma nova natureza por meio da fé em Jesus, a inimizade foi desfeita, e
fomos reconciliados para sempre com Deus, de maneira que tendo andado anteriormente
mortos em delitos e em pecados, agora temos a vida abundante de nosso Senhor Jesus Cristo
habitando em nós.
É esta nova vida que triunfa sobre Satanás e
todos os demônios. Por isso devemos andar em
87
novidade de vida. Somos convocados a andar no Espírito (Gál 5.16), de maneira que vençamos os
desejos da nossa própria carne, e consequentemente todas as forças do inferno
que operam segundo a nossa fraqueza espiritual.
Se estamos fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder, se estamos fortalecidos pela Sua
graça, o Inimigo não pode nos vencer. Daí Jesus ter dito aos apóstolos para que deveriam vigiar e
orar em todo o tempo, porque a carne é fraca para resistir às tentações do Inimigo, uma vez
que ela é a nossa antiga natureza corrompida pelo pecado, mas o espírito renovado é vida e o
poder triunfante, se vigiarmos e orarmos para que nele andemos.
Por conseguinte, é na comunhão com o Senhor que devemos ser achados permanentemente, e
é somente a Ele que devemos recorrer para acharmos graça e poder para nos engajarmos
nas batalhas que temos que enfrentar.
É na nossa submissão e obediência ao Senhor
que reside o segredo do nosso fortalecimento pelo Espírito Santo.
Quando nos prostramos de joelhos diante dEle, quando tiramos as sandálias dos nossos pés
como fizeram Moisés e Josué, podemos saber que a vitória será certa.
Esta guerra espiritual é vencida quando nos
rendemos a Deus.
“Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao
diabo, e ele fugirá de vós.” (Tiago 4.7)
88
Quanto mais nos humilhamos diante do Senhor, mais Ele nos concederá a Sua graça (Tg 4.6),
através da qual tudo podemos vencer e permanecer inabaláveis.
89
O Senhor de Tudo e de Todos
“33 Ouvi ainda outra parábola: Havia um
homem, proprietário, que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, e
edificou uma torre; depois arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país.
34 E quando chegou o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os
seus frutos.
35 E os lavradores, apoderando-se dos servos,
espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram.
36 Depois enviou ainda outros servos, em maior número do que os primeiros; e fizeram-lhes o
mesmo.
37 Por último enviou-lhes seu filho, dizendo: A
meu filho terão respeito.
38 Mas os lavradores, vendo o filho, disseram
entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança.
39 E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o
mataram.
40 Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará
àqueles lavradores?
41 Responderam-lhe eles: Fará perecer
miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe
entreguem os frutos.
42 Disse-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras:
A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi
90
posta como pedra angular; pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso aos nossos olhos?
43 Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os
seus frutos.
44 E quem cair sobre esta pedra será
despedaçado; mas aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó.
45 Os principais sacerdotes e os fariseus, ouvindo essas parábolas, entenderam que era
deles que Jesus falava.
46 E procuravam prendê-lo, mas temeram o povo, porquanto este o tinha por profeta.” (Mateus 21.33-46)
Mateus prosseguiu com o registro das passagens nas quais tinha por alvo discorrer
sobre a autoridade plena de nosso Senhor Jesus Cristo. Antes ele havia discorrido sobre a
figueira estéril e sobre a autoridade do Senhor sendo questionada pelos principais sacerdotes e
anciãos de Israel, e agora, ele registra a Parábola dos Lavradores Maus que foi apresentada por
Jesus na ocasião para refutar o erro deles em rejeitarem a Sua autoridade, e as consequências
que lhes adviriam por causa desta rejeição.
Os principais sacerdotes e anciãos de Israel
haviam condenado a si mesmos, quando nosso Senhor fez a aplicação da Parábola a eles,
perguntando-lhes o que o proprietário da vinha faria com aqueles maus lavradores que haviam
espancado e matado a todos que lhes foram
91
enviados pelo proprietário para receber os frutos devidos da vinha, inclusive ao seu próprio
filho.
Eles responderam:
“Fará perecer miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu
tempo lhe entreguem os frutos.” (v. 41)
Eles assinaram a sua própria sentença de
condenação ao proferirem tais palavras, porque haviam perseguido e matado aos profetas que
foram enviados a Israel antes de Jesus, e agora estavam maltratando o próprio Senhor, e tudo
fariam para matá-lo, como efetivamente o fizeram.
Eles haviam se apropriado da lavoura de Deus para obterem frutos para si mesmos, e não para
Ele.
Ao rejeitarem o Seu enviado, para que
pudessem não somente produzir estes frutos, como também consagrá-los verdadeiramente a
Deus, eles estavam dando mostras que eram de fato os maus lavradores da parábola que nosso
Senhor lhes havia contado.
A atitude deles já se encontrava prevista nas
Escrituras, e por isso Jesus lhes citou as palavras do Salmo 118.22,23 para lhes mostrar que Ele
mesmo era a pedra angular que os edificadores de Israel rejeitariam.
“22 A pedra que os edificadores rejeitaram, essa
foi posta como pedra angular.
92
23 Foi o Senhor que fez isto e é maravilhoso aos nossos olhos.” (Sl 118.22,23)
Ora, e o que se faria a tais desprezadores, aos quais cabia edificarem a Igreja de Deus?
Eles tiveram o privilégio de receberem o
Messias ministrando o evangelho somente a eles, para que fossem os primeiros a espalhar a
mensagem do evangelho por todo o mundo. Mas o que fizeram? Não queriam edificar sobre
a única pedra angular na qual convém ser edificada a Igreja de Deus, a saber, o próprio
Cristo.
Todavia, os planos de Deus não podem ser
frustrados, e portanto, perderiam a condição de edificadores do reino, que lhes seria tirado, para
ser dado a um povo que desse a Deus os frutos esperados por Ele.
Este povo seria composto por todos aqueles que
não rejeitassem esta pedra angular preciosa que nos foi dada por Deus: Cristo.
Haveria pessoas de Israel que o fariam, como foi o caso dos apóstolos e demais discípulos daquela nação, mas os edificadores seriam
achados em maior número entre as nações gentias.
Esta mesma pedra angular, tanto é uma rocha de bênção quanto de ofensa. É preciosa para
aqueles que se convertem a Cristo, mas despedaça a todo aquele que O tem rejeitado;
pois não se pode achar salvação a não ser nEle.
93
Não é possível ser livrado da condenação eterna a não ser somente por Ele.
Quando os principais sacerdotes e os fariseus, ouviram essas parábolas, compreenderam que
era a eles que nosso Senhor estava se referindo, e por isso tencionaram prendê-lo para matá-lo,
mas não fizeram isto abertamente e nem naquele momento, porque assim como não
haviam lançado mão de João por temerem a reação do povo, de igual modo também temiam
o povo quanto a Jesus, que era tido na conta de profeta.
Eles o fariam, mas de modo ardiloso, procurando ocasião e alguma falta pela qual
pudessem acusá-lo diante do povo, como sendo um falso profeta, como blasfemo e transgressor
da lei de Moisés.
Eles se apressariam em fazê-lo, porque
importava que nosso Senhor morresse naquela Páscoa, ainda naquela semana.
Esta parábola nos ensina de modo muito claro que a vinha pertence a Deus.
Ele nos arrendou a vinha para trabalharmos
nela para Ele.
A Igreja é a lavoura de Deus e somos apenas
Seus cooperadores, especialmente os Seus ministros, sobre os quais pesa uma maior
responsabilidade quanto ao cuidado com a vinha, para que produza os frutos esperados por
Ele.
Se alguém perde isto de vista, logo se coloca na
posição antibíblica de dominadores do rebanho,
94
procurando fazer dos membros da Igreja de Cristo uma mera massa de manobra para
atender ao seu próprio interesse, seguindo no mesmo caminho dos sacerdotes, fariseus e
escribas dos dias de Jesus.
Parece-nos que o apóstolo Paulo tinha diante de si este ensino de Jesus quando proferiu as seguintes palavras:
“5 Pois, que é Apolo, e que é Paulo, senão
ministros pelos quais crestes, e isso conforme o que o Senhor concedeu a cada um?
6 Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o
crescimento.
7 De modo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o
crescimento.
8 Ora, uma só coisa é o que planta e o que rega; e cada um receberá o seu galardão segundo o seu
trabalho.
9 Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.
10 Segundo a graça de Deus que me foi dada,
lancei eu como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um
como edifica sobre ele.
11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é
Jesus Cristo.
12 E, se alguém sobre este fundamento levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas,
madeira, feno, palha,
95
13 a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no
fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um.
14 Se permanecer a obra que alguém sobre ele
edificou, esse receberá galardão.
15 Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que
pelo fogo.” (I Cor 1.5-15)
E de igual modo os ministros são advertidos pelo
apóstolo Pedro com as seguintes palavras:
“2 Apascentai o rebanho de Deus, que está entre
vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe
ganância, mas de boa vontade;
3 nem como dominadores sobre os que vos
foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.” (I Pe 5.2,3)
96
Não Deixando de Si Saudades
Há um provérbio que ensina que quando o governador tirano morre o povo suspira
aliviado.
E, de fato, há pessoas que ao morrerem não deixam de si saudades, senão alívio para aqueles
que conviviam com elas.
Nós lemos em II Crônicas 21.19,20 que foi tanta a perversidade de Jeorão, rei de Judá, que se diz
dele que ao morrer não deixou de si saudades e nem sequer foi permitido que seu corpo fosse
sepultado no sepulcro dos reis de Judá.
Ele havia sofrido, antes de morrer, de uma
terrível enfermidade por dois anos consecutivos (II Crôn 21.18), de forma que se
manifestasse publicamente todo o grande desagrado que o Senhor tivera pelo seu modo de vida.
Ele vivera mal neste mundo e então não morreria em paz, senão do mesmo modo que ele
vivera, a saber, mal.
O desagrado do Senhor pela idolatria que havia se espalhado em Judá, por obra de Jeorão e sua
esposa Atalia, seria também manifestado em vários outros juízos previstos na Lei de Moisés
para o caso de transgressão da aliança, como vemos no capítulo 26 de Levítico.
E o mais comum deles que era o de entregar o
Seu próprio povo nas mãos de nações inimigas e tirar de debaixo do seu domínio aqueles que lhes
eram tributários, invertendo-se a posição de em
97
vez de Israel ser o credor do mundo, passava a ser o devedor, em vez de ser cabeça das nações,
era a cauda.
Então nós vemos os edomitas sacudindo o jugo
da servidão a Judá justamente nos dias de Jeorão, e outras nações subjugadas, como Libna,
seguiram o exemplo deles (v. 20-22; II Crôn 21.8-10).
Como ele havia assassinado os seus irmãos, quando começou a reinar, o Senhor trouxe
sobre ele os filisteus e os arábios, que saquearam o seu palácio, e levaram suas
mulheres e filhos em cativeiro, tendo morto seus filhos mais velhos, ficando em Judá apenas
o mais moço deles, Acazias, que viria a reinar depois da sua morte, porque o Senhor havia
prometido a Davi que não lhe faltaria descendente no trono de Judá (II Crôn 21.16, 17;
22.1).
Assim, Acazias, filho de Jeorão começou a reinar no décimo ano do reinado de Jorão, rei de Israel,
isto é, no último ano do reinado deste rei de Israel (v.24, 25).
Acazias tinha vinte e dois anos, quando começou a reinar, mas como sua mãe era Atalia,
filha de Jezabel, esta o aconselhava a agir impiamente (II Crôn 22.3), e reinou somente um
ano, porque foi morto por Jeú, e não somente ele, como os príncipes de Judá, e os filhos dos
irmãos de Acazias, que haviam subido com ele a visitar Jorão, que havia sido ferido na batalha
contra Hazael, rei da Síria, na qual havia sido
98
ajudado por Acazias de Judá, e é dito no texto de II Crônicas que esta visita que Acazias fizera a
Jorão, por causa das feridas que ele havia sofrido na batalha contra os sírios, vinha da parte do
Senhor, para trazer os seus juízos também contra ele, porque estava aparentado com a casa
de Acabe, e Deus havia ungido Jeú para exterminar a casa de Acabe, conforme havia decidido fazer desde os dias do profeta Elias (II
Crôn 22.7,8).
Vemos assim, que quando vivemos de modo ímpio podemos influenciar e ser o motivo de
duros juízos sobre outras vidas.
Quando alguém vive de modo irresponsável
muitos outros pagam pela sua má conduta.
Estes juízos que são registrados nas páginas do
Velho Testamento têm por alvo nos ensinar que teremos que tratar com um Deus que é
totalmente justo e poderoso, e que apesar de estarmos agora numa dispensação de graça, o
juízo não tem sido suspenso, senão apenas abreviado para aquele terrível Dia em que todos
terão que prestar contas a Deus, de movo que vivamos de modo justo diante dEle, e com o
temor que Lhe é devido, de modo que, em caso contrário, ainda que o mundo não diga, todavia
o céu dirá em relação a nós que morremos sem deixar saudades.
99
O Juiz Que é Sempre Imparcial
Deus é poderoso para fazer distinção entre aqueles que O servem e aqueles que Lhe são
desobedientes (II Pe 2.9: Apo 3.10), e demonstrou isto várias vezes nas Escrituras,
como por exemplo no cuidado que dispensou à mulher sunamita citada em II Reis 8.1-6, porque
ela havia honrado o profeta Eliseu, fazendo com que este lhe alertasse com antecedência o mal
que Ele traria sobre Israel, e o Senhor a conduziu em segurança à terra dos filisteus, e pela mesma
providência fez com que ela retornasse em segurança a Israel e reentrasse na posse de tudo
o que lhe pertencia, movendo o próprio rei de Israel a cuidar dela e dos seus interesses.
Outros países como o dos filisteus tiveram chuvas, ficando livres de doenças em suas
lavouras e de pragas como gafanhotos, mas o próprio país dos israelitas estava sendo
submetido a uma grande escassez, por causa da transgressão da aliança que tinham com o
Senhor.
Ora, como pode ser isto, o ímpio sendo provido
por Deus, e o Seu próprio povo sendo submetido a juízos?
O Senhor é imparcial no juízo e jamais
favorecerá o culpado ou condenará o inocente.
É algo triste para se ver, todavia é justo que o
povo de Deus seja castigado por causa dos seus pecados, que pratica voluntária e
deliberadamente contra Ele.
100
Provisão Natural Não Subentende Provisão Espiritual
Se nossa salvação por Jesus Cristo tivesse o
simples objetivo de nos fazer prósperos neste mundo, em relação ao que é material e terreno,
que diferença haveria entre o que serve a Deus e o que não o serve? Afinal, prosperidade
mundana não é algo que sempre foi visto em maior escala entre aqueles que não são crentes?
E não os crentes neste mundo, muito mais afligidos com tentações e tribulações do que os
ímpios?
Então teríamos motivo de nos gloriar em
prosperidade terrena, mesmo quando a recebemos por uma intervenção direta da parte
de Deus?
O fato de recebermos estas provisões materiais e terrenas é uma garantia de que estamos
vivendo de fato de modo agradável a Deus?
É possível ser livrado de perigos, curado de
enfermidades e obter provisões materiais, e ainda assim sermos achados dignos dos juízos
divinos por conta de uma vida espiritual negligente?
Nós vemos no sétimo capítulo de II Reis que o Senhor havia aberto as janelas do céu aos
israelitas livrando-os da opressão dos sírios e provendo-lhes mantimentos do próprio despojo
deles, mas no oitavo capítulo nós vemos que as janelas foram fechadas logo depois, em face da
falta de arrependimento dos israelitas.
101
Por isso é necessário ter muito cuidado para não formularmos doutrinas a partir de porções
isoladas da Bíblia, porque alguém poderia ensinar contra a verdade das Escrituras que o
Senhor sempre abre as janelas do céu para o Seu povo, em razão de estar vivendo na dispensação
da graça, e ainda que este ande contrariamente com Ele, e se valha do evento narrado no capítulo sétimo do livro de II Reis para formular
tal doutrina.
Entretanto, ainda que seja verdade que a mão do Senhor não está encolhida, a ponto de não poder
suprir as necessidades do Seu povo, mesmo quando este não Lhe é fiel, todavia, esta
condição de infidelidade não Lhe agrada, e não é de modo nenhum um caminho para se
desfrutar das Suas bênçãos espirituais e da intimidade com Ele, pois isto demanda
santidade de vida.
Muito ao contrário, é um caminho para nos colocar debaixo dos Seus juízos, conforme podemos verificar pelo que se narra logo no
início de II Reis 8, de que Ele trouxe uma fome de sete anos sucessivos à terra de Israel,
conforme havia prometido, desde os dias de Moisés, que o faria, em face da infidelidade
deles.
Uma penúria espiritual não saciada pela falta de provisões por um comando neste sentido, que
parta do céu, tem sido a condição de muitos verdadeiros cristãos, por causa da sua
infidelidade para com o Senhor, pelo
102
descumprimento voluntário dos Seus mandamentos, transgredindo assim a aliança
que têm com Ele, por meio do sangue de Jesus, que foi derramado para que pudessem ser
reconciliados com Deus, e viverem em santidade perante Ele.
Deus chama o Seu povo a uma reforma e
obediência permanente, através dos Seus ministros, como fizera no caso dos israelitas
através do ministério e vida de Eliseu; nos de Jacó e seus filhos através do ministério e vida de
José; e nas diferentes épocas da história de Israel através de Moisés, Josué, Samuel, Davi, Elias,
Eliseu, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Esdras, Neemias, e de todos os profetas que são
nomeados na Bíblia, e Ele continua chamando a Igreja através do ministério deles, por tudo o
que ordenou que fosse registrado na Sua Palavra para nossa advertência, como também pelo próprio Cristo e pelos Seus apóstolos e
ministros, ao longo de toda a história da Igreja.
A carne e o mundo exercem um terrível atrativo
sobre os servos do Senhor, e eles podem julgar erroneamente que não há uma vida espiritual
de santidade, de fidelidade, de obediência aos Seus mandamentos, para ser vivida, em face do
grande apelo e impressão que a carne e o mundo exercem sobre eles.
Mas somente um Noé é o instrumento de
condenação de toda uma geração.
103
Não mais do que um Abraão é necessário para demonstrar que há uma vida celestial e uma
vontade celestial para ser obedecida.
A própria vida deles grita bem alto, tal como a de Elias e Eliseu em Israel, dizendo: “Desperta tu
que dormes!”. “Volta-te para o teu Deus!”. “Abandona o teu pecado e consagra a tua vida!”.
Felizes são aqueles que podem ouvir o que o
Espírito diz à Igreja, e que não somente ouvem, mas que se dispõem a obedecer o que Ele está
lhes dizendo, especialmente através da boca dos apóstolos e profetas do Senhor, a quem Ele
inspirou a escreverem suas palavras para serem registradas na Bíblia.
Porque se esta chamada à reforma que Ele faz
pela boca dos Seus ministros não é obedecida pelo Seu povo, se ela não é devidamente
considerada, o que se pode esperar é que o Senhor trará sobre eles algumas formas de
juízos, para que os Seus ministros sejam ouvidos.
Foi por isso que Ele trouxe aquela fome de sete
anos a Israel, porque apesar de lhes ter falado pela boca de Eliseu, e dos seus demais profetas,
e principalmente pela Lei de Moisés, continuaram endurecidos em seus pecados e
não se arrependeram, convertendo-se ao Senhor.
104
"e procureis viver quietos" (I Tessalonicenses 4.11 a)
Esta exortação apostólica: “procureis viver
quietos”, é de suma importância e é proveitosa para diversos fins, apesar de ser tão
negligenciada em nossos dias.
A palavra usada no original grego para “quietos” é encontrada em Lc 14.4; 23.56; At 11.18; 21.14, e
tem também o significado de “ficar calado”; “apaziguar-se”; “descansar”; e “viver em paz” .
Nós precisamos estar tranquilos em nossas
mentes e espíritos, porque de outra maneira não podemos reter a Palavra de Deus, que é
aplicada em nossos corações pelo Espírito.
Por isso Satanás procura por todos os modos e
meios inquietar a nossa mente, para que não tenhamos um comportamento pacífico e calmo.
A falta disto nos rouba a nossa própria felicidade
e a de outros, e por isso deveríamos nos empenhar para sermos achados quietos e em
paz.
Nós devemos aprender a aquietar a nossa mente, porque é na paciência que ganhamos a
nossa alma.
Devemos cultivar uma atitude quieta em relação aos outros, e sermos submissos e
moderados, buscando ter uma disposição calma e pacífica, não dada à discussão, contenda ou
divisão, porque Satanás trabalha muito nisto, para produzir separações na Igreja e nos nossos
lares.
105
Um comportamento calmo e pacífico é fundamental para que não nos intrometamos
nos assuntos e negócios de outras pessoas, conforme Paulo continuou exortando os
tessalonicenses na continuidade deste verso 11:
“procureis... tratar dos vossos próprios
negócios”.
Mentes agitadas se intrometem nos assuntos e na vida de outros produzindo perturbações.
Por isso, a Bíblia recomenda muito o domínio próprio, a mansidão e o uso de palavras brandas,
e condena toda forma de ira injustificada, palavras vãs e ásperas e tudo o mais que proceda
de um mau temperamento não transformado pelo Espírito.
Como o fruto do Espírito é paz e mansidão (Gál 5.22,23), então nós podemos avaliar se a nossa
pregação, adoração e tudo o que se refere à nossa devoção ao Senhor, tem procedido ou não
do Espírito, pela aplicação do grande princípio espiritual que há neste mandamento “procurai
viver quietos”, porque apesar de nos ser ordenado a alegria e o fervor em tudo o que
fizermos para Deus, não é no entanto, compatível com isto um espírito intranquilo,
iracundo, sem paz.
De modo que nos é ordenado que a paz de Cristo
seja o árbitro constante do nosso coração (Col 3.15), de forma a sabermos que se estamos ou
não ministrando e vivendo pelo Espírito de Deus, que é o mesmo espírito de Cristo, a saber,
manso e humilde de coração.
106
Enquanto estivermos neste mundo seremos provocados de muitas maneiras por aqueles que
usados, consciente ou ignorantemente por Satanás, agirão para furtar a paz que temos em
Cristo. Assim, devemos estar armados em nosso pensamento, da disposição de tudo suportar por
amor a Cristo, e até mesmo pelos nossos ofensores, pela aplicação do princípio de perdoar e amar os que nos ofendem. Isto se faz
orando por eles, em vez de ficarmos ressentidos com as suas ofensas, diretas ou indiretas.
Estes dias em que vivemos, especialmente no meio urbano, são dias difíceis quanto a este
particular. Pessoas incontáveis têm desrespeitado o direito do seu próximo de várias
maneiras (uso de aparelhagem potente de som inclusive depois da chamada hora do silêncio,
xingamento de autoridades constituídas - pais, governantes etc, uso abusivo de drogas,
confrontos armados, enfim, tudo o que está direcionado pelas forças do mal para perturbar
a paz).
Então, necessitamos permanecer firmes no
Senhor da paz, quando não for possível fugir dessas fontes de tentação que podem turbar o
nosso coração, e orar em favor da libertação desses que se encontram presos aos laços de
Satanás para cumprirem os seus propósitos malignos.
107
A Fórmula do Sucesso na Vida Cristã
Em Isaías 58, o pecado e a falsa religiosidade são denunciados com uma chamada ao
arrependimento, e é feita a adição de promessas consoladoras para aqueles que se convertessem
a Deus.
Especialmente o conjunto de profecias do 58º
capítulo até o capítulo final do livro de Isaías (66), consiste na preparação para a chegada do
reino do Messias até a sua glorificação final.
Assim o protesto contra o pecado e falsa religiosidade denunciados neste capítulo, apesar de ser também aplicável à Igreja, teve por
alvo principalmente a casa de Jacó, a saber, o povo de Israel na antiga dispensação, de
maneira que o profeta é convocado a tocar a trombeta de alerta e anunciar ao povo do Senhor
que ele se encontrava em pecado, e que a religiosidade deles era falsa.
Importava que se arrependessem porque era o
povo da aliança, através do qual o Messias se manifestaria ao mundo, para dar cumprimento
ao propósito eterno de Deus, de formar através dEle um povo santo, a saber a Igreja.
O Deus de Israel não muda e o Seu propósito para aqueles que chama a estarem aliançados
com Ele é o mesmo, seja para Israel na antiga aliança, seja para a Igreja de Cristo na nova.
O povo do Senhor deve ser um povo santo, e este capítulo de Isaías, não deixa nenhuma dúvida
quanto a isto.
108
O Messias veio para o povo de Israel. Foi a eles que Ele foi enviado. O evangelho deveria ser
pregado primeiro aos judeus; porque o propósito de Deus de ter um povo santo seria
consolidado com a redenção e os dons do Messias para a santificação do Seu povo.
A função do profeta na antiga dispensação
quanto a protestar contra o pecado e a falsa religiosidade do povo do Senhor, continua
sendo a mesma para os pregadores do evangelho na Igreja. Eles devem tocar a
trombeta para alertá-la quanto à necessidade de um viver verdadeiramente santo, para o inteiro
agrado do Senhor.
O pregador não pode lisonjear o povo do Senhor, mas denunciar o seu pecado.
O povo do Senhor é um povo privilegiado, um povo honorável, um povo glorioso, mas nunca
deve ser lisonjeado.
Ainda que estejam reformados em muitas coisas, entretanto as suas transgressões devem
ser repreendidas e abandonadas, ainda que sejam poucas, porque Deus assim o exige.
Ele não pode estar contente vendo que o seu povo está sendo vencido por qualquer tipo de
pecado por motivo de estar fazendo concessões a um viver pecaminoso.
A santidade deve ser positiva, expressada num
viver em boas obras aprovadas pelo Senhor. Especialmente na demonstração de um amor
verdadeiro e prático ao próximo.
109
Nos versos 2 e 3 de Isaías 58 nós vemos que Deus declara que o Seu povo estava com uma falsa
convicção de lhe estar agradando, porque afinal jejuavam, e O buscavam todos os dias, e
julgavam que guardavam todos os Seus mandamentos, e que andavam nos Seus
caminhos, e com isto pensavam que viviam de modo justo perante Ele.
No entanto, lhes apontou no final do verso 3 qual era o grande motivo de esconder a Sua face
deles, a saber, tudo o que faziam era para os próprios interesses deles.
Estavam buscando o Senhor para alcançarem a realização dos seus desejos, como todas as
pessoas pagãs das demais nações faziam em relação à adoração dos seus falsos deuses.
A motivação estava errada, e por consequência, o modo deles adorarem e servirem ao Senhor
também estava errado.
Não era para o agrado do Senhor que eles O buscavam. Não era para serem aperfeiçoados em santidade para servirem-no melhor e ao
próximo que eles o faziam, senão para atenderem aos seus próprios interesses
egoístas e mesquinhos.
As obras da carne permaneciam em realce na vida dos israelitas, apesar de toda a religiosidade
deles, por que a graça não pode operar num caminhar em falsidade.
As iras, contenções, violência e todas as demais obras da carne (v. 4) permaneciam lhes
dominando, porque quando buscamos fazer a
110
nossa própria vontade, quem prevalece é a carne, e não o Espírito.
Mas eles jejuavam, pensando que com isto
estavam agradando ao Senhor.
Entretanto não se vence a carne com práticas
ascéticas.
O que eles faziam era ascetismo e não jejum. Jejum não é simplesmente deixar de comer (v.
5).
Um jejum verdadeiro despertará automaticamente o amor prático ao próximo,
em ações desenvolvidas para abençoá-lo, porque o amor divino é despertado naquele que
dele se aproxima verdadeiramente, e que busca fazer sinceramente a Sua vontade (v. 6 e 7).
E é este viver verdadeiro em amor que traz a bênção do Senhor e a Sua recompensa à nossa
vida, porque este é o modo dEle manifestar o Seu agrado com o nosso modo correto de viver
(v. 8 a 14); que consiste em caminhar em humildade perante Ele reconhecendo que
somos pecadores necessitados da Sua graça para podermos fazer o que Lhe é agradável.
O capítulo 58 de Isaías é um alerta poderoso para
nos convencer que é muito fácil viver de maneira hipócrita diante de Deus com uma falsa
religiosidade, enquanto estamos convencidos não pelo Espírito, mas pelas nossas próprias
convicções de que estamos vivendo de modo agradável a Deus, quando na verdade estamos
errando completamente o alvo.
111
Sabendo desta nossa facilidade para errar o alvo, o Senhor nos alerta na Sua palavra a avaliarmos
o nosso caminhar pelas nossas motivações, pelos resultados de nossas ações, ou seja, se
para nosso interesse, ou se para a Sua exclusiva glória.
Se for com o propósito correto, o Senhor mesmo
acrescentará as Suas bênçãos espirituais ao nosso viver, de maneira que tenhamos a
convicção de que Lhe temos agradado de fato.
Ele fará que os nossos frutos espirituais sejam achados até na nossa descendência e nas
gerações posteriores.
E por isso seremos conhecidos como reparadores de brechas e restauradores de
veredas.
As gerações posteriores reedificarão ruínas porque trabalharão sobre o fundamento que
lhes deixamos (v. 12).
E o Senhor fará isto para honrar o nosso trabalho diligente feito por amor a Ele e para a Sua glória.
Porque Ele tem prometido honrar os que Lhe honram.
Devemos servir ao Senhor em humildade,
reconhecendo que Ele faz sozinho o Seu trabalho nos usando apenas como Seus
instrumentos, porque somos servos inúteis que não podem produzir por si mesmos a vida
espiritual e todas as operações sobrenaturais que somente Ele pode realizar.
Sem Ele nada podemos fazer, em relação às
realidades celestiais, espirituais e divinas.
112
Deus exige que deixemos de praticar o mal, e aprender a fazer o bem.
Porque assim agindo prometeu que traria as bênçãos citadas em Is 58.8-12:
- um verdadeiro viver na luz; cura das nossas
transgressões; ter a glória do Senhor nos protegendo e abençoando por causa da nossa
prática da justiça (v. 8);
- ter as orações e clamores respondidos por Deus, com a Sua própria presença, por termos
deixado de ser prepotentes e arrogantes e por ter deixado o falar pecaminoso (v.9);
- dissipação de todas as trevas da nossa vida por
estarmos atentos às necessidades do nosso próximo (v. 10);
- ser guiado continuamente pelo Senhor, e ser
provido por Ele até mesmo em lugares áridos, recebendo dele força e vigor de tal maneira que a nossa vida será como um jardim regado e um
manancial que nunca secará (v. 11);
- ser habilitado a viver a verdade de tal maneira que o nosso testemunho virá a ser um
fundamento para as gerações futuras, especialmente para que possam reformar a
Igreja tirando-a do erro, para que possa trilhar no caminho da verdade, formando um
fundamento forte e seguro sobre o qual o povo de Deus possa edificar as suas vidas (v. 12).
Isto é muito mais do que simplesmente pregar e
ensinar a doutrina correta.
113
É muito mais do que teologia, ou melhor dizendo, é a teologia verdadeira que é muito
fácil de ser esquecida de ser praticada.
Isto não tem nada a ver com o ensino de técnicas
psicológicas, ou de qualquer fundamento científico aplicado como fórmula para uma vida
bem sucedida segundo a vontade do Senhor.
Isto é a verdade da Palavra de Deus apontando
como um grande farol qual é o caminho para um verdadeiro viver vitorioso.
É por praticar as coisas afirmadas no 58º capítulo de Isaías, e por atender à repreensão
que é dirigida por Deus contra o pecado, que a Igreja de Cristo pode contar com o seu favor.
Não basta portanto chorar pelos nossos fracassos, não basta orar pedindo a Deus que
faça prosperar o nosso trabalho, é preciso viver efetivamente de modo justo e verdadeiro diante
dEle, e tudo o mais será consequência disto.
Não é sendo um mero religioso que se alcança o
favor de Deus, mas vivendo de maneira justa e santa, na prática da verdadeira piedade, que é
sobretudo amor prático e real a Deus e ao nosso próximo.
Por isso se diz que não devemos buscar apenas o reino de Deus, mas também a justiça do reino.
114
Insensibilidade e Cinismo
Quanta tristeza e aborrecimento traz ao coração de qualquer ser humano normal o ser ofendido
por seus semelhantes!
Se isto é verdadeiro para nós, que somos
pecadores, quanto mais não é em relação a Deus que é perfeitamente justo e santo?
Haveria então lugar para o tipo de teologia que
afirma que não devemos nos entristecer por causa dos nossos pecados porque temos motivo
de nos alegrar em tê-los porque ensejam a manifestação do perdão da graça de Jesus?
Nossos pecados, pequenos ou grandes, são uma
terrível ofensa contra a majestade de Deus e lhe causam tristeza.
Como poderíamos então nos alegrar com aquilo
que Lhe entristece?
Alegrarmo-nos por termos os nossos pecados
perdoados por Cristo é uma coisa, e outra muito diferente, nos alegrarmos em praticá-los por
sabermos que podemos ser perdoados, porque isto indica que somos insensíveis e cínicos
perante Deus.
115
Mais Sofrem os Justos Neste Mundo do que os Ímpios
Todavia, na morte, o espírito do justo vai para um lugar onde não haverá mais sofrimentos, e o
do ímpio para um lugar de tormentos eternos.
As palavras de Jó no 13º capitulo do livro que leva o seu nome são aterrorizantes para todo
conselheiro cristão precipitado no falar e no julgar, e que se faz a si mesmo, mensageiro e
conselheiro de Deus, quando não foi por Ele enviado para atender a determinada situação
específica.
Tal como os amigos de Jó não haviam sido levantados por Deus para aconselhá-lo e lhe
dizerem tudo o que lhe falavam em Seu nome.
Jó não estava se rebelando contra a palavra de Deus na boca de seus amigos, mas contra a
palavra de homens proferidas em nome de Deus.
Deste modo, não poderiam produzir o efeito que seria esperado naquela situação, que seria o de
consolá-lo.
Ao contrário, só serviram para aumentar ainda mais a sua aflição.
Aquilo foi permitido por Deus para mostrar a
que ponto podem chegar as nossas aflições neste mundo. Porque não somente o mal que
nos é lançado diretamente pelo diabo nos aflige, como também o mau juízo dos homens, ainda
que proceda de nossos familiares ou amigos.
116
Está determinado pelo conselho eterno de Deus, que o justo sofrerá perseguições, e estas lhe
sobrevirão de variadas formas.
As acusações dos amigos de Jó, eram apenas uma das muitas facetas das aflições que temos
que sofrer neste mundo, quando permitidas por Deus.
Não importava a Jó se defender perante os
homens, mas perante Deus.
Tal como Paulo fizera em seus dias dizendo que
pouco lhe importava ser julgado por tribunal humano, mas sim em ser julgado pelo Senhor,
porque é a Ele que devemos dirigir a nossa causa e defesa.
O homem não está qualificado para julgar estas
demandas espirituais que nos sobrevêm segundo a vontade de Deus, para propósitos
específicos.
Então não será na terra que acharemos o fórum
legítimo e adequado para serem julgadas as nossas causas espirituais, senão somente no
tribunal divino, o qual ainda se manifestará para recompensar a cada um segundo as suas obras.
Somente então haverá um julgamento preciso, claro, aberto, perfeito, de tudo o que passamos
neste mundo.
Por isso Deus não tem constituído advogados humanos neste mundo para defenderem as
nossas causas espirituais. Somente Cristo é o Advogado que nos tem sido dado, e é portanto,
somente a Ele que devemos recorrer para
117
apresentar as nossas causas, especialmente, as relativas às nossas aflições.
Quando o homem se propõe a fazer o papel de advogado, que é exclusivo de Cristo, fatalmente
errará, porque Deus não lhe revelará as causas e os propósitos das aflições pelas quais nos faz
passar neste mundo, senão somente a Seu Filho Jesus Cristo, que é nosso Advogado no céu.
Os que temerariamente se colocam nesta
posição de advogados funestos, que não foram constituídos por Deus, caem fatalmente, na
condição expressada nas seguintes palavras de Jó:
“7 Falareis falsamente por Deus, e por ele
proferireis mentiras?
8 Fareis aceitação da sua pessoa? Contendereis a favor de Deus?
9 Ser-vos-ia bom, se ele vos esquadrinhasse? Ou
zombareis dele, como quem zomba de um homem?
10 Certamente vos repreenderá, se em oculto vos deixardes levar de respeitos humanos.
11 Não vos amedrontará a sua majestade? E não
cairá sobre vós o seu terror?”
Jó havia perdido a esperança de continuar vivo. Ele estava convicto em sua aflição que Deus o
mataria, mas ainda assim, quando comparecesse na presença de Deus, defenderia
o seu modo de caminhar diante dEle (v.15).
Ele tinha real comunhão com Deus. Ele andou em todos os Seus caminhos. Sua devoção era
sincera, e a graça de Deus operou
118
poderosamente em sua vida, dando-lhe integridade e retidão, e também o temor do
Senhor que lhe fazia sempre se desviar do mal.
Ele estava desejoso portanto de comparecer em
juízo para defender os seus caminhos diante do tribunal do Senhor.
Ele sabia que Deus é justo Juiz. Que julga os Seus filhos com misericórdia, e que não é implacável na aplicação da justiça, porque não lançará em
rosto faltas que foram anteriormente perdoadas.
Jó conhecia o caráter de Deus por experiência, por viver em intimidade com Ele, ainda que lhe
faltasse muitas coisas a serem conhecidas relativas ao Seu caráter, conforme ele viria a
expressar no final do seu livro, depois de tê-las aprendido em meio a tudo o que havia sofrido.
Contudo, mesmo nos dias da sua aflição, Ele jamais abandonara a sua confiança no Senhor e
na Sua justiça e misericórdia. Por isso não apelava para homem algum, senão somente
para o Senhor, porque sabia que seria julgado com equidade e misericórdia, e consoante uma
perfeita e imparcial justiça. Justiça esta, muito diferente da justiça dos homens que é cheia de
parcialidade, de imperfeições, de acusações injustas, de falsidades, e de motivações
incorretas.
Ele poderia dizer juntamente com Davi na hora
do juízo: “Caiamos nas mãos de Deus porque são muitas as suas misericórdias, mas nas mãos dos
homens não caiamos nós.”
119
Era justamente a esta expressão de sentimentos que ele estava se referindo neste 13º capítulo do
seu livro.
Um incrédulo ímpio não poderia ter a mesma confiança que Jó tinha em relação ao juízo
divino.
E todo cristão sincero, tal como ele, tem a
mesma confiança, não porque confie na sua própria justiça, mas por saber que há um Deus
justo que julga segundo a Sua graça e misericórdia a todo aquele que confiou nEle, e
nesta Sua graça e misericórdia, para que fosse salvo da condenação eterna.
Por isso Jó podia dizer que:
“Eis que já pus em ordem a minha causa, e sei que serei achado justo:” (v. 18)
Nos versos 19 a 28, Jó expressa em belas
palavras, qual é o sentimento do justo em relação a Deus quando em grande aflição.
Ele não quer ouvir palavras de acusação, como estavam fazendo os seus amigos, mas
simplesmente deseja que Deus dê alívio ao seu espírito, que lance para longe os terrores que amedrontam a sua alma. Que possa ver a face do
Senhor, sentir a Sua presença.
Poder ouvir a voz do Senhor e falar com Ele em
oração, sem um espírito transtornado pela aflição. Porque a alma não foi feita para o
transtorno senão para a paz com Deus, e não pode portanto, estar sossegada, quando longe
do seu lugar de repouso, que é o próprio Senhor.
120
O sentimento de que possa haver alguma falta ou pecado em nós que tenha quebrado nossa
comunhão com Deus é algo terrível para ser suportado por um justo tal como era Jó.
O pensamento de que haja pecados ocultos que produziram tal quebra de comunhão é algo
insuportável, e a alma não achará descanso enquanto não experimentar de novo a
aprovação do Senhor, que é percebida pela Sua presença e mover do Seu Espírito em nós.
Era isto que estava sendo ocultado de Jó, que não
lhe estava sendo concedido em sua aflição, e era por esse motivo que sua alma gemia e
derramava palavras de amargura em seus lábios; porque sabia que não poderia estar
consolado enquanto não fosse restaurada a manifestação da presença do Senhor no seu
coração.
121
Aprende-se Justiça nas Muitas Passagens da Bíblia
"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para
o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça," (II Timóteo 3.16)
Nós podemos aprender fartamente, acerca da justiça de Deus na Bíblia, conforme é um dos principais propósitos e utilidade das Escrituras.
A Bíblia ensina que a finalidade da lei é o próprio Cristo, para a justiça de todo o que crê.
Mas não basta saber e dizer simplesmente que a
justiça de Deus é Cristo (Jer 23.5,6), porque Ele próprio se tornou da parte de Deus para nós a
nossa justiça, como também a nossa sabedoria, santificação e redenção (I Cor 1.30), pois é
necessário conhecer os muitos aspectos e realidades espirituais em que consiste esta
justiça que está em Cristo e que é manifestada por Ele a nós, nos sendo atribuída e também
implantada em nosso caráter, pelo trabalho progressivo do Espírito Santo.
Isto se aprende no relato das Escrituras, desde o
seu primeiro livro de Gênesis, de modo que possamos pensar, julgar e praticar esta reta
justiça que nos é revelada por Deus em Sua Palavra.
A lei deve ser apreciada e cumprida mas sempre
debaixo da fé, do amor e da misericórdia, que são procedentes da nossa comunhão com o
Senhor através do Espírito Santo.
122
Nós vemos que Israel não teve a devida consideração para com a Palavra de Deus
durante séculos, chegando mesmo a adorarem falsos deuses contra as exigências da Sua Lei.
Isto culminou, por causa desta transgressão da
Palavra de Deus, como a expulsão deles da sua própria terra.
Mas quando retornaram curados de sua
idolatria, e convencidos de que foi esta falta de apreço pela Lei do Senhor a causa do seu
cativeiro, começaram então a se entregar a uma frenética interpretação das Escrituras para que
pudessem pautar suas vidas de acordo com as exigências da Lei, e foram tantas as tradições e
interpretações que incorporaram às Escrituras em obras como o Talmude, por exemplo,
configurando aquilo que se chamou de tradição rabínica, que acabaram por se afastar ainda
mais da vontade do Senhor, porque não O buscavam, não prezavam a comunhão com Ele,
não se submetiam à direção do seu Espírito, não viviam na fé, no amor, na misericórdia.
Enfim, não levavam em conta a necessidade de
conversão, de um novo nascimento do Espírito, para poderem efetivamente servirem a Deus.
E de fato, se o homem não nascer de novo ele não pode servir a Deus.
Se ele não tiver o Espírito Santo habitando nele,
transformando o seu coração, não pode cumprir verdadeiramente a Palavra do Senhor, e viver de
modo que lhe seja agradável.
123
Nunca, em tempo algum, Deus planejou algo diferente da necessidade de que o homem, para
se tornar um verdadeiro santo, pudesse fazê-lo por algum outro caminho diferente do
necessário encontro pessoal com Ele.
É pelo mesmo Espírito Santo, pelo qual foram
criadas todas as coisas, que é também criado um filho de Deus.
A pessoa viverá então sem o conhecimento verdadeiro do Senhor, até o dia que tenha um
encontro pessoal com Cristo, por ter nascido do Espírito Santo.
Um Joiada teve certamente esta experiência e esta foi a razão da sua vida piedosa por longos
130 anos.
Um Salomão teve também esta experiência pessoal, mas desagradou ao Senhor no final da
sua vida, por ter abandonado o seu primeiro amor.
Então, Salomão nos ensina que não é necessário apenas nascer de novo para se agradar ao
Senhor, é preciso também andar em santidade de vida, submetendo-se continuamente à
direção e instrução do mesmo Espírito Santo, que nos converteu a Deus.
Estando então plenamente convictos de que a justiça não pode ser procedente exclusivamente
do conhecimento da Lei, porque depende da união com Cristo e do trabalho interno do
Espírito Santo no coração, transformando pecadores em novas criaturas, podemos partir
seguros para o estudo das Escrituras, sem o
124
risco de nos tornarmos legalistas e frios observadores da Lei, como foram os fariseus nos
dias de Jesus, e pela assistência do Espírito Santo, poderemos compreender e praticar a
justiça do reino de Deus, aprendendo que esta justiça é a própria pessoa de Cristo, sendo
oferecido a nós para cobrir os nossos pecados, e para nos transformar à Sua própria imagem e semelhança.
A recusa desta participação na justiça de Deus,
na vida de Cristo, é o que traz os juízos condenatórios sobre estes que se rebelam
contra Deus.
Por isso é extremamente importante aprender e ensinar o povo do Senhor acerca da verdadeira
justiça, porque disto depende um viver plenamente abençoado por Deus, em todas as
circunstâncias, agradáveis ou adversas, por podermos contar com a Sua santa presença,
porque Ele não pode recompensar as obras infrutíferas das trevas, senão somente as boas
obras de justiça, que somos chamados por Ele a praticar diante de todos os homens, para que o
Seu Santo Nome seja glorificado por eles (Mt 5.16).
É por isso que temos visto que até mesmo as
obras que precisam estar sendo praticadas em nome da justiça, como as de Baasa, de Zinri, do
próprio Jeú, não trouxeram afinal glória ao nome do Senhor, porque não foram feitas
segundo a reta justiça, que é de acordo com os
125
preceitos e condições estabelecidos pelo Senhor em Sua Palavra.
Se eles não amavam os mandamentos do
Senhor, se não haviam nascido de novo do Espírito, que obras de justiça poderiam ter
praticado que trouxesse verdadeira glória ao Seu nome?
Eles não passaram portanto de meros
instrumentos dos Seus juízos, em Suas mãos, tal como eram os reis ímpios das nações pagãs, que
subjugavam Israel para castigo da impiedade dos israelitas, conforme determinado por Deus.
Estes também não deram glória ao Senhor
apesar de terem sido os instrumentos da Sua justiça.
E é ainda este o motivo de tantas obras serem
feitas em nome de Deus pela Igreja, e que não Lhe trazem nenhuma glória, e nenhuma bênção
verdadeira aos que as praticam, por não andarem na justiça que procede do Senhor e
que nos é ensinada nas Escrituras.
126
A Forma e o Conteúdo
Quem é mais importante?
A forma ou o conteúdo?
No caso do evangelho, por mais bela que seja a
forma, caso não haja conteúdo ou caso este seja falso, para nada vale a forma.
Agora, dê-se-nos o conteúdo verdadeiro e ele será suficiente ainda que não haja qualquer
forma.
Será sábia então esta tendência atual que
valoriza muito mais a forma do que o conteúdo do evangelho?
O fato de a forma alcançar muitos agregados à
Igreja, que poderão até mesmo permanecer nela por muitos anos, mas sem qualquer
santificação ou até mesmo genuína conversão, responderá ao objetivo do evangelho que se
concentra exatamente na conversão e na santificação de almas?
Que se multipliquem então as formas de apresentação do evangelho, notadamente em
face às características de cada cultural local, mas que jamais se negligencie o conteúdo,
porque, caso contrário, o que estará sendo oferecido às pessoas será a casca da laranja sem
a polpa, uma bela caixa de presente adornada e vazia.
E que não nos iludamos também em pensar que o conteúdo do evangelho se refere apenas à
mensagem exata da Bíblia, porque esta precisa
127
ser devidamente entendida e aplicada às nossas vidas pelo Espírito Santo.
A Bíblia se refere a realidades espirituais que se
cumprem e se manifestam no nosso viver. Ela atesta por exemplo o que é a fé evangélica, o
novo nascimento, a nova natureza espiritual, quem é Deus Pai, Deus Filho e o Espírito Santo, a
graça, as virtudes e o poder da Trindade, quando se tornam conhecidos a nós por uma real
experiência de conversão e santificação.
Ou seja, passamos a entender qual é o conteúdo da vida convertida e santificada quando vemos
existindo em nós aquelas verdades que estão contidas na Bíblia, e que não podíamos entender
antes da nossa conversão porque não as conhecíamos de maneira prática, conforme nos
é dado conhecê-las somente pela instrução, direção e poder do Espírito Santo.
O que chamamos de conteúdo se refere
portanto a este somatório de conhecimento da verdadeira interpretação do texto bíblico,
especialmente do Novo Testamento, associado à vivência real deste testemunho escriturístico
em nossas próprias vidas. O que fica aquém disto é apenas forma, que é a casca de uma semente
chocha da qual jamais poderá germinar a vida eterna.
128
A Retirada da Glória do Senhor
No livro Lamentações de Jeremias, o profeta
descreveu a dor, o gemido, a aflição, a vergonha e o clamor de Judá pela destruição e pelo
cativeiro que lhe sobrevieram como um juízo da parte de Deus, por causa dos seus pecados.
Em Lamentações é revelado principalmente o
quanto Deus estava irado com o Seu próprio povo de Israel, por causa das transgressões
deles. A antiga comunhão, e alegria que tivera neles, se transformou na triste manifestação da
Sua ira em relação a eles.
De igual modo, podemos ver como acontece com igrejas que haviam desfrutado no passado
da gloriosa presença do Senhor em seu meio, operando sobretudo alegria nos corações dos
crentes, conforme lhes era concedido pela Sua graça, não a alegria carnal que é comum de se
ver em muitas igrejas, mas a alegria que é fruto do Espírito, e tudo o mais que expressasse
espiritualmente o resultado da comunhão do Senhor com o Seu povo.
Repentinamente, depois de um processo de andar contrário à vontade de Deus e dos Seus
mandamentos, sequer se encontra nestas igrejas o antigo aroma da Sua santa presença, senão apenas ritos e cerimônias externas,
desprovidas da unção do Espírito Santo.
Trocaram um viver na piedade, pela busca de
glória terrena e mundana, e o resultado é
129
sempre este, tal como havia sucedido aos judeus no passado.
O Senhor ordenou que fossem destruídos os palácios, os muros da cidade de Jerusalém e o
seu próprio templo, e declarou que as visões falsas e insensatas dos profetas de Israel não
manifestaram a iniquidade dos judeus, para que eles fossem desviados do cativeiro, ao contrário,
eram para eles profecias vãs e coisas que os levaram ao exílio (Lam 2.14).
Não podemos, aprendendo do exemplo deles,
nos colocar debaixo do ensino dos falsos profetas vestidos em peles de ovelhas em nossas
igrejas, e dar-lhes ouvido, em suas pregações que não nos desviam de nossos pecados, e que
por fim, nos tornam sujeitos aos juízos de Deus, tanto quanto podemos aprender do exemplo do
que sucedera a Israel no passado.
Por muitos anos, até mesmo séculos, o pecado
de Jerusalém não havia sido manifestado e visitado de maneira tão assombrosa, a ponto de
ter se tornado visível a todos os seus inimigos, e de igual modo, quando Laodiceia for vomitada
da boca do Senhor, se tornará num objeto de espanto para todos aqueles que se admiravam
da sua antiga glória e poder. Igrejas suntuosas, cheias de si mesmas, de orgulho espiritual, e
vazias da presença do Senhor, que habita com os que são pobres de espírito, e contritos de
coração. Muitos se espantarão à vista destas coisas, cujo fim se apressa por vir, e ficarão
desolados com a grande vergonha que sentirão
130
por aqueles que julgavam ser e ter o que não eram e não tinham, conforme Jesus expressa
diretamente em Apo 3.16,17:
“16 Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca.
17 Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes
que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;”
Estes crentes infiéis de Laodiceia, têm sido chamados ao arrependimento, pelo Senhor, em
face da Sua grande longanimidade e misericórdia, mas o Seu juízo começa pela Sua
própria casa, de modo que não o suspenderá em face da falta de arrependimento deles.
Em vez de se gloriarem em si mesmos, e em suas
falsas graças, deveriam seguir o conselho dado pelo profeta a Jerusalém, em seus dias de
cativeiro:
“18 Clama ao Senhor, ó filha de Sião; corram as
tuas lágrimas, como um ribeiro, de dia e de noite; não te dês repouso, nem descansem os
teus olhos.
19 Levanta-te, clama de noite no princípio das vigias; derrama o teu coração como águas diante
do Senhor!...” (Lam 2.18,19)
Deus tem permitido, ao longo de toda a história
da Igreja, que grandes perseguições venham
131
sobre muitos crentes, em razão da fidelidade deles, para testemunho às nações, quanto mais
não permitirá que aflições venham sobre aqueles que não andam em verdadeira piedade
perante Ele?
132
Na Tristeza Pelo Pecado Lembremos da Misericórdia de Deus
Ao lembrar da misericórdia do Senhor, colocando-se na posição de esperar na Sua
bondade, o profeta Jeremias estava colocando em prática o conselho de Deus dado através do
profeta Joel, quanto ao procedimento que os judeus deveriam ter na hora da aflição.
Deus disse pela boca do profeta Joel o que é que
o seu povo deveria fazer quando visse que estava chegando sobre eles as assolações e aflições que
estavam determinadas por causa dos seus pecados, em Joel 2.15 a 17:
“15 Tocai a trombeta em Sião, santificai um
jejum, convocai uma assembleia solene;
16 congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai os meninos, e as
crianças de peito; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu tálamo.
17 Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a teu
povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao opróbrio, para que as nações façam escárnio
dele. Por que diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?”
Não somente eles seriam ajudados e
beneficiados com este ato de humilhação e de busca de Deus no meio da aflição, como
ajudariam as gerações seguintes a receberem o
133
cumprimento da promessa do derramamento do Espírito Santo, conforme está profetizado
neste mesmo capítulo de Joel, nos versos 28 e 29:
“28 Acontecerá depois que derramarei o meu
Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos
terão sonhos, os vossos mancebos terão visões;
29 e também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito.”
É importante frisar, que o Espírito Santo, mais uma vez, pela boca do profeta, convoca o povo a
se humilhar diante de Deus e para Lhe clamar por misericórdia, ainda que as condições
descritas se refiram apenas a juízos, ao peso da Sua potente mão disciplinadora sobre o Seu
povo, e não a promessas de bênçãos.
O povo é convocado a se converter ao Senhor de
todo o coração, com jejuns e com choro e pranto (Joel 2.12), não propriamente pelos justos juízos,
mas pelos seus próprios pecados. Muitos choram pelas dores que sofrem, pelos bens que perdem, mas não pelos seus pecados que deram
ocasião a tais sofrimentos.
Por isso o Senhor convoca a Seu povo a rasgar o
coração e não as vestes, porque o arrependimento sincero se dá no coração e não
no exterior, e faz com que se conte com o favor de Deus, porque “é misericordioso e
compassivo, tardio em irar-se e grande em
134
benignidade, e se arrepende do mal”, como afirmado em Joel 2.13.
Ele é soberano para usar ou não de misericórdia,
mas é nosso dever, quando debaixo da Sua potente mão, nos humilharmos diante dEle e
nos arrependermos, na expectativa de que nos perdoe e abençoe, segundo a grandeza das Suas
misericórdias.
Não deve haver apenas arrependimento individual, mas de toda a congregação dos
crentes, porque Deus nos tem feito boas promessas relativas à nossa restauração por
meio da fé em Jesus.
Ora, se Deus estava disposto a manifestar a Sua
misericórdia aos judeus quando eles estavam sendo afligidos no cativeiro de Babilônia, de quanto maior misericórdia não serão alvos dela
os Seus servos na Igreja que são afligidos por causa da Sua fidelidade?
Satanás se levanta para tentar impedir o avanço da obra do Espírito na Igreja, por trazer aflições
aos crentes, mas estando bem instruídos pela Palavra, eles sabem que devem ser pacientes
nestas aflições e buscarem a Deus clamando a Ele não somente por livramento, mas para que
faça avançar a Sua obra enquanto eles se encontram debaixo de tais aflições.
Então, quando alguém é batizado no Espírito
Santo em nossos dias, isto é um dos sinais de que a misericórdia de Deus nos está sendo
concedida.
135
É preciso crer portanto na bondade do Senhor e na Sua misericórdia para conosco, apesar de
sermos falhos e pecadores, para que possamos ser batizados pelo Espírito Santo.
Ele nos batizará não porque sejamos perfeitos, mas porque Ele é misericordioso.
Por isso este batismo é chamado de dom do Espírito, ou seja, o próprio espírito é o dom, e isto significa que Ele nos é dado como um
presente de Deus, de modo que nada temos que pagar por ele.
O profeta Joel havia profetizado antes de Jeremias, e foi nos dias deste profeta que se
cumpriram as ameaças que haviam sido proferidas por Deus através de Joel e de outros
profetas.
Então era hora de se colocar em prática o que
Deus havia dito que eles deveriam fazer mesmo sendo levados para o cativeiro, e estando
debaixo de grande aflição, a saber; buscarem a Sua face e se humilharem perante Ele. Eles
deveriam trazer à memória o que lhes pudesse dar esperança, sabendo que as misericórdias do
Senhor não têm fim.
Ele havia por isso, alertado o povo quanto ao
modo de agir debaixo das aflições por causa das suas visitações de juízo contra os pecados deles.
Quando Ele se mostra entristecido conosco e quando não sentimos Sua presença em nossas
reuniões tanto quanto antes, não devemos ficar imóveis esperando que as coisas melhorem por
si mesmas, ou continuarmos endurecidos em
136
nossos pecados, mas devemos buscar a face do Senhor e nos humilharmos perante Ele,
conforme nos tem recomendado em Sua Palavra que façamos.
Ele nos manda fazer isto porque é misericordioso e usará de misericórdia para
conosco, apesar de termos entristecido o Seu Espírito.
Por isso, lemos também, o mesmo tipo de orientação, como por exemplo, no profeta
Isaías, que havia profetizado isto, muitos anos antes de Judá ser levado para o cativeiro em
Babilônia:
“15 Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Num
alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o
espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos.
16 Pois eu não contenderei para sempre, nem
continuamente ficarei irado; porque de mim procede o espírito, bem como o fôlego da vida
que eu criei.
17 Por causa da iniquidade da sua avareza me
indignei e o feri; escondi-me, e indignei-me; mas, rebelando-se, ele seguiu o caminho do seu
coração.
18 Tenho visto os seus caminhos, mas eu o
sararei; também o guiarei, e tornarei a dar-lhe consolação, a saber aos que dele choram.” (Is
57.15-18)
137
Aqueles que não levam em consideração os seus pecados, não serão ajudados por Deus, porque
Ele tem prometido habitar somente com os que são contritos e humildes de espírito, e vivificará
os seus espíritos e corações, habitando neles.
Ele sarará, guiará e consolará os pecadores, mas
somente aqueles que choram por causa do pecado.
Isto foi confirmado por Jesus em seu ministério
terreno quando disse que bem-aventurados são os que choram.
Deus dará a Sua paz a estes, e os sarará, mas para os que permanecem na impiedade, e na prática
deliberada da injustiça, não dará nenhuma paz, porque são como o mar agitado, que não pode se
aquietar e cujas águas lançam de si lama e lodo.
É preciso conhecer portanto qual seja o
verdadeiro caráter de Deus para que possamos ter um relacionamento correto com Ele,
baseado numa completa confiança. Não podemos confiar em quem não conhecemos.
Não adianta dizermos que Deus é de inteira confiança caso não conheçamos o Seu caráter.
Por isso somos exortados a crescer na graça e no conhecimento de Jesus, para que possamos ter
este relacionamento de forma correta com Ele, baseado numa inteira confiança e num andar
em justiça.
Posso dizer que confio nEle, mas se não
conhecê-lO como Ele é, especialmente na aplicação da Sua justiça e misericórdia, não
saberei como agir, e sequer entenderei as coisas
138
que me vierem da parte dEle, especialmente as aflições por causa do pecado ou por necessidade
de ser disciplinado. Acabarei resistindo à correção que me vem da Sua parte, e não
aprenderei a lição que deveria ter aprendido.
Mas quando conhecemos a verdade relativa ao modo de se comportar debaixo das aflições,
vendo que é a própria mão do Senhor que se encontra na maioria delas, ou então permitindo
que elas nos alcancem, então posso ter um comportamento adequado esperando nEle com
confiança, de que seja ajudado e mudado, sabendo que é sempre este o Seu desejo, por ser
Deus misericordioso, e ter demonstrado o maior grau desta misericórdia dando Seu Filho
unigênito para morrer na cruz, em nosso favor, sendo nós pecadores.
Não temos dado um justo valor, não temos feito
uma avaliação correta deste ato supremo de amor e misericórdia de Jesus morrendo no
nosso lugar.
E não somente isto, dispondo-se a perdoar todas as nossas ofensas, para estarmos completa e
perfeitamente reconciliados com Deus que é santo, justo e perfeito.
Se é um fato verdadeiro que Deus detesta o pecado, também é outro fato verdadeiro e não
menor que o primeiro, que Ele também perdoa o pecado, porque é misericordioso.
De modo que faz que haja muito mais graça e
misericórdia para cobrir os muitos pecados
139
daqueles que se arrependem, se humilham e que buscam a Sua face.
É para este propósito de nos aproximar mais e
mais de Deus que as aflições estão cooperando, porque elas nos desmamam deste mundo e de
nosso apego à carne, elevando-nos à presença do Senhor, para acharmos descanso e paz para
as nossas almas.
140
Afinal é Somente Deus Que Não Perdemos Neste Mundo
O profeta Jeremias havia perdido tudo neste
mundo, sua liberdade e seu sustento, e quase a própria vida, contudo, não havia perdido seu
interesse em Deus.
Porções da terra perecem e desaparecerão mas
o Senhor é a nossa porção para sempre.
Enquanto eu tiver um interesse em Deus, então
eu terei o bastante, o suficiente para contrabalançar todas as minhas dificuldades e
compensar todas as minhas perdas. Porque nada pode se comparar à Sua doce presença, e à
manifestação da Sua graça que me consola.
Quando todos os demais apoios se forem, Deus
continuará sendo a força e o apoio da minha alma, e o meu conforto em todas as minhas
aflições.
Por isso Jeremias disse que todos aqueles que
confiam no Senhor jamais o farão em vão (Lam 3.25) porque provarão as Suas misericórdias.
Feliz portanto é a alma que espera no Senhor e que o busca.
E enquanto nós o esperamos com fé, nós temos que fazê-lo através da oração. Porque se não o
buscarmos, não o acharemos. Nossa busca ajudará a manter a nossa espera. E para aqueles
que assim esperam e buscam a Deus, Ele dará a Sua graça, e lhes mostrará a Sua misericórdia
(Lam 3.26).
141
E é bom esperar pelo socorro do Senhor estando quietos, em silêncio, não propriamente com os
lábios fechados, porque poderão ser abertos para o clamor e para a oração. Mas no silêncio
do coração, que não mais murmura e se inquieta por causa das aflições. O coração que foi
acalmado pela graça de Deus, deve permanecer assim perante Ele, porque não criou nossa alma para estar atormentada, senão sossegada.
É fácil entender isto, porque quem pode estar
intranquilo quando sente a presença de Deus? É somente nEle que podemos achar descanso e
paz, porque somos contristados e nos achamos aflitos em muitas ocasiões não somente pelas
lutas externas como também pelas interiores que temos com o nosso próprio pecado.
Então o suportar o jugo na mocidade, ter
experimentado dificuldades e aflições, serão de grande proveito para nos ensinar esta lição,
porque aprenderemos a dar o devido valor às consolações do Senhor, que geram em nós um
espírito quieto, manso e sossegado, e uma correta compreensão do quanto necessitamos
da graça de Jesus, pelo conhecimento adequado da nossa própria miséria espiritual, quando não
somos movidos pela Sua graça.
Como somos totalmente desmerecedores destas misericórdias divinas, é nosso dever
manter uma expectativa humilde em relação a elas, em nossa esperança debaixo de nossas
aflições. Devemos ser modestos em nossas
142
expectativas, sabendo que somos totalmente desmerecedores destas misericórdias divinas.
Há um espírito correto para se buscar ao Senhor debaixo de aflições, a saber, com o coração
contrito e em humildade. Não cai bem a transgressores se apresentarem diante do Juiz
de toda a terra com ares de arrogância, e com reclamações ou petições ousadas.
Ao contrário, convém-nos abaixar a cabeça e dobrar os joelhos, até que o Senhor nos tenha
levantado.
Quando Deus nos causa aflições é para fins
santos, porque Ele não tem prazer nas nossas calamidades. Deus não aflige de boa vontade.
Por isso Ele nunca nos afligirá a não ser que nós Lhe tenhamos dado causa de fazer isto, ou então
que seja necessário para o aperfeiçoamento da nossa fé.
Lembremos que quando Deus se levanta para
castigar, o lugar do qual Ele se levanta é o Seu trono de graça e misericórdia, para o qual Ele sempre retorna. O trono é de graça para Seus
filhos, e é importante sabermos isto, e trazê-lo sempre em memória para que tenhamos
confiança em buscá-lo e Suas misericórdias, mesmo em nossas aflições, sabendo que por fim
há de se mostrar favorável a nós.
Deus afirma expressamente que não tem prazer na morte dos ímpios, quanto mais em afligir os
Seus santos.
É por isso que Ele se diz também aflito em toda a
nossa aflição, porque o faz com relutância,
143
porque não tem prazer em afligir senão em mostrar misericórdia.
Daí requerer que sejamos também misericordiosos tal como Ele é misericordioso,
e não juízes implacáveis, prontos a afligirem a outros.
Contudo, devemos lembrar também que apesar de não ter prazer em afligir e corrigir o Seu povo, que Ele está longe de estar contente com a
injustiça que o Seu povo pratica (Jer 3.34 a 36), porque esta é a principal causa de nossa alma
não poder achar nEle alegria e paz. Afinal fomos criados para a comunhão alegre com Ele, mas
isto não pode existir quando não praticamos o que é justo perante Ele.
Nós somos castigados por causa dos nossos pecados? Então será sábio de nossa parte nos
submetermos debaixo da potente mão de Deus, e beijar a vara da disciplina que nos corrige,
porque, se caminharmos de modo contrário ao Senhor, Ele nos castigará sete vezes mais, para
que não sejamos condenados juntamente com o mundo.
É nosso dever orar ao Senhor, com a expectativa de receber a Sua misericórdia, e não de
permanecermos em nossos pecados, ou murmurando por causa de nossas aflições, e
aqueles que esperam em Deus, devem esperar com a expectativa de receberem livramento e
retorno à plena comunhão em alegria com Ele.
Nossa expectativas de felicidade não devem ser
a de uma felicidade mundana, mas aquela que é
144
espiritual e decorrente da nossa comunhão com o Senhor, e que será perfeita somente no céu.
Aqui temos que batalhar em prol do evangelho. Temos que lutar o bom combate da fé em prol da
salvação de almas para Deus. E quanto isto requer choro, intercessão, e tristezas pelo
pecado.
145
Vivendo na Esperança da Felicidade Perfeita que Teremos no Céu
Quando a mão do Senhor é continuamente
contra nós, somos tentados a pensar que o Seu coração também está contra nós.
O Senhor havia sido como um leão para Israel,
para que eles se vissem culpados, e que assim o buscassem arrependidos:
“14 Pois para Efraim serei como um leão, e como um leão novo para a casa de Judá; eu, sim eu
despedaçarei, e ir-me-ei embora; arrebatarei, e não haverá quem livre.
15 Irei, e voltarei para o meu lugar, até que se
reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles aflitos, ansiosamente me
buscarão.” (Os 5.14,15)
Sabendo deste propósito de Deus de sempre afligir para curar o Seu povo, podemos renovar
a nossa esperança nEle.
Quando nossos corações se esquecem da graça de Deus por algum tempo, Ele a faz retornar aos
nossos corações para que possamos estar prontos a usá-la para nos reconciliarmos com
Ele.
Por ruins que sejam as coisas, elas não são piores devido à misericórdia de Deus. Nós
somos afligidos pela vara da correção da Sua ira, mas é pelas Suas misericórdias que nós não
somos consumidos (Lam Jer 3.22).
146
Se as coisas são ruins e poderiam ter sido piores, então temos que esperar que elas sejam
melhores. Fazer isto é expressar confiança em Deus. É fé em prática na Sua bondade e
misericórdia. E como Ele se agrada disto, há certamente de recompensar a nossa fé com
coisas boas.
Por isso a Igreja é como a sarça de Moisés, que
enquanto queimava não era consumida. Qualquer sofrimento que enfrentarmos poderá
nos afligir mas não nos consumir, tal como aquela sarça.
Porque podemos dizer junto com o apóstolo:
“8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados;
9 perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;” (II Cor 4.8,9)
Evidentemente, isto não significa que devemos
criar expectativas de alcançar neste mundo um estado de felicidade plena, de alegria e paz
perfeitas, pois enquanto aqui estivermos teremos que enfrentar muitas aflições e
tribulações, e a pior delas que diz respeito às nossas próprias fraquezas, decorrentes da
fraqueza da nossa natureza terrena decaída no pecado, que está sendo mortificada pela
operação da cruz.
Todavia podemos buscar na graça de Jesus uma
vida sábia e corações sábios que nos livram de
147
muitos dissabores presentes. E o recebemos por meio do arrependimento e da fé no Seu nome.
A causa desta bênção são as misericórdias do Senhor que atuam em nosso favor, guardando-
nos de uma destruição final. Ele é o Pai das misericórdias.
Nós somos livrados por causa destas misericórdias não somente do diabo, mas
também da morte e do inferno. Deveríamos ter sido consumidos há muito tempo por causa dos
nossos pecados, mas não somos tratados por Deus em conformidade com os nossos pecados,
mas segundo a multidão das Suas misericórdias, que nunca têm fim, e que se
renovam todos os dias, e que antes mesmo de levantarmos a cada manhã, já se encontram lá
nos aguardando, para que não sejamos consumidos pela ira da justiça divina.
Quando nossos confortos falham, contudo as misericórdias do Senhor nunca falharão,
porque grande é a Sua fidelidade.
A nossa Jerusalém pode estar agora em ruínas
por causa do juízo de Deus contra os seus pecados, mas em razão da Sua misericórdia tornará a ser colocada como objeto de louvor em
toda a terra, porque o Senhor certamente a restaurará conforme tem prometido fazer.
Ele faz o mesmo com todos os Seus filhos, depois de tê-los sujeitado a um tempo de correção com
aflições.
148
Aqui Não é o Nosso Lugar de Descanso
"As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim;" (Lam 3.22)
No extenso livro da profecia de Jeremias nós o
vemos chorar muitas vezes por causa do pecado de Judá, e pela falta de atendimento dos judeus ao apelo de Deus através dele para que se
convertessem dos seus pecados, porque ao mesmo tempo lhes anunciava a destruição
terrível que viria sobre eles caso não se arrependessem.
Agora, uma vez cumpridas as assolações que ele mesmo havia profetizado, a sua alma estava
quebrada por todo o sofrimento que experimentara.
Então, desde o primeiro até o vigésimo versículo
do terceiro capítulo do Livro de Lamentações, ele expressa o abatimento da sua alma dizendo
que era o homem que viu a aflição que foi causada pela vara de correção do furor de Deus
contra o Seu povo.
Que o Senhor o guiou e o fizera andar em trevas, e não na luz, porque o resultado da sua profecia
não foi glória para Israel, mas dor e destruição.
Suas notícias não eram consoladoras para Judá, mas ameaçadoras, e isto já era em si mesmo
uma grande carga para a sua alma, que agora vendo o resultado de todas aquelas ameaças fez
com que se sentisse como debaixo da mão
149
pesada de Deus todos os dias, e isto fazia envelhecer a sua carne e pele, e a se
desconjuntarem os seus ossos.
Deus não lhe dera alternativa senão de cercá-lo
com fel e trabalho, e habitar em lugares tenebrosos e desolados. Cercou-o de tal
maneira que não podia fugir, e mesmo quando clamava e gritava por socorro, o Senhor não
atendia à sua oração, porque a sentença de destruição de Judá já estava determinada, e em
mais de uma ocasião, Deus lhe proibira diretamente de orar em favor do Seu povo.
Além das aflições que lhe foram impostas pelo cumprimento do seu ministério, Jeremias teve
também que suportar a dor de ter sido feito objeto de escárnio para todo o seu próprio povo,
que o considerava um subversivo que servia aos interesses de Babilônia, e isto o encheu de
amarguras, como que seus dentes tivessem sido quebrados por pedrinhas de areia.
Seu ministério não lhe permitiu que tivesse paz em sua alma, e havia até esquecido o que era a
felicidade.
Tão grande era a sua amargura de alma, uma vez
cumprida a assolação que Deus havia prometido trazer sobre os judeus, que a força de Jeremias
havia perecido, bem como a sua esperança no Senhor, ou seja, ele não conseguia naquela hora,
ter qualquer boa expectativa em relação aos judeus, que lhe viesse da parte de Deus, porque
sabia que Ele estava irado com os pecados deles.
150
Todavia, ele bem conhecia o caráter do Seu Deus, e isto faz toda a diferença na hora da
aflição, porque chegará o momento, que fortalecidos pela Sua graça e misericórdia,
poderemos ter uma melhor perspectiva em relação ao futuro, porque experimentando em
nós mesmos a Sua misericórdia e favor imerecidos, sabemos que não é Deus somente de justiça, mas também de bondade e
misericórdia, e é por isso, que podemos ter esperança em relação ao futuro, apesar de
sermos pecadores.
É certo que o amor de Deus pode achar e produzir alegria somente quando há um
caminhar em justiça. Pecadores que somos, dados a nos desviar da justiça dos Seus
mandamentos, temos como resultado um mundo onde não é comum se ver a verdadeira
alegria espiritual de Deus habitando em plenitude nos corações. Nem mesmo nos
crentes há de se ver tal plenitude enquanto estiverem aqui na Terra porque há muita
escória misturada no ouro de suas vidas e devoção.
Assim, não temos nenhum outro bem duradouro e eterno que nos acompanhe não
somente nesta vida, como principalmente na futura, senão o próprio Deus, então é somente
nEle que devemos esperar, porque tudo mais passará e falhará.
Logo, é isto que devemos trazer à mente, na hora
da aflição, a saber, a nossa renovada esperança
151
no Senhor (Lam 3.21), porque sabemos que a sua bondade jamais acaba porque as Suas
misericórdias não têm fim, e é justamente por causa delas que não somos consumidos pelo
juízo de Deus (v. 22).
O Senhor sempre usará a Sua vara de aflição
para corrigir o Seu povo, mas podemos estar seguros que a sua ira sempre estará misturada
com a Sua misericórdia, para que possamos ter esperança nEle, quanto à nossa restauração e
quanto a dias melhores.
152
Para Quem Não Foge da Verdade Sobre Si Mesmo
Por mais forçoso que seja para nós, admitir que não podemos ter plena felicidade, alegria e paz
enquanto estivermos aqui neste mundo, esta é uma grande realidade da qual todos compartilhamos.
Alguns conseguem enganar a si mesmos julgando ter a citada plenitude, porque
aprenderam a usar sistematicamente em suas vidas alguns mecanismos de sublimação
psicológica, por meio dos quais brincam com o infortúnio e riem de todas as circunstâncias que
aqui ocorrem justamente como propósito de nos entristecer, furtar nossa alegria e por fim
tornar-nos infelizes.
Outros há que violam e cauterizam suas consciências tornando-se blindados para uma
correta avaliação de nossa natureza decaída no pecado, e assim nada pecaminoso que possam
praticar ou ver em outros lhes afeta.
E as razões para o autoengano se multiplicam
permitindo que aqueles que fogem da verdade relativa a si mesmos pensem que são de fato
pessoas plenas de felicidade neste mundo que Deus amaldiçoou.
Na verdade o homem já foi pleno de felicidade,
paz e alegria, mas isto, somente antes de o pecado entrar no mundo, porque desde então,
toda a sua descendência, sem qualquer exceção,
153
pôde jamais desfrutar de tal plenitude aqui na Terra.
Por que vivemos então? Para qual propósito?
É na resposta a esta indagação que entendemos
a razão de Cristo nos ter sido dado como Salvador.
Não propriamente para que tenhamos esta plenitude referida aqui embaixo, mas para que a
tenhamos quando partirmos para estar para sempre com Ele no céu.
Todavia, é verdadeiro que podemos
experimentar momentos desta plenitude quando, por concessão divina somos visitados sobrenaturalmente com poder pelo Espírito
Santo, que enche as nossas almas da mais pura alegria e paz, e sentimos como se estivéssemos
vivendo na própria perfeição do céu.
Mas logo temos que deixar o nosso Monte da Transfiguração e descer para o seu sopé onde
encontraremos a realidade deste mundo e a nossa própria realidade.
E quem, em sã consciência pode se sentir plenamente feliz, alegre e em paz quando tem
diante de si o seu próprio pecado e os que vê em outros?
Por mais que nos santifiquemos, sempre haverá muita escória no nosso ouro necessitando ainda
ser expurgada, e a presença desta escória, o pleno conhecimento das nossas fraquezas,
impurezas, inabilidades, certamente nos entristecem, e até mesmo ao Espírito Santo com
o qual fomos selados para o dia da redenção.
154
Todavia, permanece a realidade da alegria e da esperança espiritual de sabermos que somos
perdoados por Deus, e que a multidão de suas misericórdias haverá de nos assistir no tempo
oportuno, para nos perdoar e purificar dos nossos erros.
Como poderíamos estar sempre em plenitude de felicidade diante do Deus que é
perfeitamente justo e santo, quando sabemos que não somos dotados da mesma santidade que
Adão possuiu um dia no Éden?
Como poderemos estar sempre sossegados e
em paz sabendo que temos uma natureza terrena decaída no pecado, que sempre
necessitará ser mortificada e despojada?
Como disse antes, ficamos alegres por saber que
fomos alcançados pelo perdão e pela misericórdia de Deus em relação à nossa
condição de pecadores que somos, nos regozijamos em Cristo por ser o nosso Salvador,
mas ao mesmo tempo somos contristados pelo conhecimento real da nossa condição de
criaturas decaídas no pecado.
Ainda que saibamos que formos reconciliados
com Deus, que por meio de Cristo foi desfeita a inimizade que tínhamos contra Ele, e que fomos
tornados Seus filhos amados – nos entristecemos porque não queremos
desapontá-lo, e não raro desapontamos tanto a Ele quanto a nós mesmos, por causa do pecado
que detestamos, e que apesar de ter sido
155
destronado por Cristo, ainda opera em nossos membros.
Jesus não veio a este mundo para nos tornar
plenamente felizes aqui. Ao contrário, Ele ensinou claramente que a vida que temos deve
ser odiada por nós, porque é pecaminosa em sua essência. Evidentemente, isto não é em si
mesmo, um motivo de alegria para nós sabermos que somos dotados de tal natureza.
Quão distante da verdade está portanto o ensino
que devemos ir a Jesus para termos plena paz, alegria e felicidade na Terra.
Está errado porque Ele veio com o propósito de
nos perdoar e salvar num mundo de aflições e tribulações, por meio das quais está nos
santificando gradualmente para aquela vida perfeita que teremos somente quando
estivermos no céu – é por esta esperança que devemos nos alegrar, mas não por todas as
nossas presentes condições terrenas.
156
A Vida Justa
"Porque eu o tenho escolhido, a fim de que ele ordene a seus filhos e a sua casa depois dele,
para que guardem o caminho do Senhor, para praticarem retidão e justiça; a fim de que o
Senhor faça vir sobre Abraão o que a respeito dele tem falado." (Gênesis 18.19)
O caráter de Abraão era bem conhecido de Deus.
O amor de Abraão pelo Senhor e pela Sua justiça o levaria a ensinar sua família a caminhar nos
Seus caminhos, de tal modo que o testemunho da sua fé e obediência seria seguido por muitos
nas gerações seguintes.
Deus lhe ensinaria a praticar a retidão e a justiça e Abraão a transmitiria aos seus, de modo que
esta retidão e justiça fosse praticada pela nação que seria formada a partir dele, a saber, Israel,
para que através dela o Messias fosse trazido ao mundo no tempo oportuno.
Assim Abraão não somente orava e adorava a
Deus com a sua família, mas ele lhes ensinava a fazer a vontade de Deus, segundo o
conhecimento que ele tinha de tal vontade, por ser um profeta do Senhor.
Este o dever do qual estão encarregados todos os
que são chefes de família. Eles devem instruir todos os que se encontram debaixo de sua
responsabilidade a viverem de modo reto, sendo honestos e verdadeiros em seus
relacionamentos com todos os homens.
157
Cabe-lhes ensinarem sobretudo os seus filhos a prestarem o devido culto de adoração a Deus,
que é segundo a Sua Palavra.
Deus foi o instrutor de Abraão para que ele instruísse os de sua casa, e de igual modo somos
instruídos pelo Espírito Santo para o mesmo propósito.
Não somente Abraão foi escolhido. Muitos têm
sido escolhidos por Deus ainda hoje para espalharem o conhecimento sobre a Sua
vontade em toda a Terra.
E mais do que conhecimento, temos recebido
dEle o poder para praticarmos os Seus mandamentos, por meio da graça, que é
mediante a fé em Jesus.
Temos um tribunal instalado por Ele em nossas consciências, que nos faz sentir culpados
quando pensamos ou fazemos coisas que são contrárias à Sua natureza divina, e não há como
nos sentirmos aprovados senão pelo perdão e restauração que procedem de Jesus.
A consciência não pode ser abrandada, de
maneira que aqueles que permanecem deliberdadamente na prática de um viver que
não seja segundo o padrão da retidão divina, violam suas consciências e dão de ombros para
o que é reto, mas não podem, contudo, viver em paz consigo mesmos, pois sabem bem lá fundo
que estão em desacordo com o modo de vida ao qual deveriam se aplicar, e que sempre é
segundo a vontade de Deus, conforme este
158
árbitro que Ele colocou em todas as pessoas, a saber, a nossa consciência.
"Rom 2:14 Quando, pois, os gentios, que não têm
lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para
si mesmos.
Rom 2:15 Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a
consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se,
Rom 2:16 no dia em que Deus, por meio de Cristo
Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho."
159
Deus Exige que Sua Palavra Seja Honrada
Baseado em I Reis 13
Não é sem motivo que o livro de Crônicas omite
quase tudo o que se refere à história dos reis de Israel (Reino do Norte), porque desde a
inauguração daquele reino com Jeroboão, que os israelitas se desviaram dos caminhos do
Senhor, e passaram a viver como todas as demais nações pagãs.
E assim, como estas não eram dignas de terem os seus feitos registrados na Palavra de Deus, de
igual modo, esta honra foi retirada de Israel, quando o povo de Judá voltou do cativeiro
babilônico, e foram escritos os livros de Crônicas para incentivar os judeus a
reconstruírem a vida da nação em torno das coisas relativas ao trono de Davi, e dos seus
sucessores em Judá.
Mas, para o nosso ensino e advertência, quanto
ao que sucede àqueles que voltam as suas costas para o Senhor, foi ordenado por Ele que ficasse
registrado nos livros dos Reis toda a história relativa ao reino apóstata de Israel.
O Reino do Norte somente não foi abandonado definitivamente por Deus, por causa da
promessa que Ele havia feito aos patriarcas de ser o Deus dos seus descendentes, e também
porque muitos deles, ao verem o que sucedia em Judá com os reis que andaram nos Seus
caminhos, desertaram do Reino do Norte e
160
vieram habitar em Judá e em Benjamim, para fugirem da idolatria que imperava em Israel.
Deus não era apenas o Deus da tribo de Judá e
Benjamim, mas de todas as demais tribos de Israel.
E mesmo na infidelidade deles à aliança, e
anulando a mesma, por estarem transgredindo os Seus mandamentos, Ele os suportou na Sua
longanimidade e lhes enviou profetas para chamá-los ao arrependimento, tal como havia
feito no período dos Juízes.
Mas se eles foram poupados naquele período,
porque sempre se arrependiam e voltavam para o Senhor, agora já não voltavam mais a servi-lo
como nação, com fidelidade, em nenhuma das gerações do período do Reino do Norte, e por isso foram expulsos da terra que lhes havia sido
dada por promessa, e não temos nenhum registro de que alguns destes que foram levados
cativos, tivessem retornado para lá.
No lugar deles os assírios colocaram povos de
outras nações, que se misturando com o remanescente de Israel, que permaneceu na
terra, deu origem aos samaritanos, que tanto cultuavam ao Deus de Israel, por influência do
que haviam aprendido com estes israelitas, quanto os falsos deuses, que eles adoravam em
suas terras de origem.
No verso 11 de I Reis 12 é dito que residia um velho profeta em Betel, um dos locais em que
Jeroboão havia colocado um dos bezerros de
161
ouro, e um altar para serem apresentados sacrifícios ao mesmo.
No entanto, tudo indica que este profeta havia se acomodado ao culto instituído por Jeroboão, de
modo a não sofrer qualquer tipo de perseguição, caso protestasse contra aquele culto idólatra.
Era um homem de Deus que havia se aposentado por conveniência pessoal, e assim, quando Deus quis protestar contra o culto que
Jeroboão realizava em Betel, não usou este homem que fizera a si mesmo um
desacreditado, mas a um profeta que veio de Judá e do qual se diz que era homem de Deus,
indicando o seu caráter de ser alguém que se consagrara ao Seu serviço (I Reis 12.1), e ele
chegou ao altar de Betel, no justo momento que o rei Jeroboão se preparava para queimar
incenso nele.
E ele profetizou contra o altar do bezerro de
Betel, que um filho que nasceria à casa de Davi, cujo nome seria Josias, sacrificaria sobre ele os
falsos sacerdotes que ministravam a mando de Jeroboão, oferecendo sacrifícios e queimando
incenso, e que ossos humanos seriam queimados por Josias naquele altar (I Reis 12.2).
Para confirmar que aquelas palavras provinham do Senhor disse que Ele lhes daria um sinal
naquele instante, fazendo com que o altar se fendesse, e as cinzas que estavam sobre ele
seriam derramadas (v. 3).
No momento mesmo que esta palavra foi
liberada, Jeroboão estendeu a mão com a qual
162
estava oferecendo incenso sobre o altar e a voltou na direção do profeta, ordenando que ele
fosse preso, e na mesma hora a sua mão secou e ele não podia movê-la (v. 4).
Simultaneamente, o altar se fendeu e a cinza se derramou conforme o profeta havia afirmado
que ocorreria como um sinal da parte de Deus de que a palavra proferida contra o altar seria
cumprida no tempo apropriado (v. 5).
Josias seria levantado como rei de Judá e daria cumprimento a esta palavra cerca de 300 anos
depois.
Jeroboão rogou ao profeta que ele intercedesse em seu favor junto do Senhor Deus dele (do
profeta) para que a sua mão fosse curada.
E tendo o profeta orado ela ficou como antes (v. 6).
Isto foi feito pelo Senhor para manter o Seu profeta em segurança, de maneira que Jeroboão
temesse fazer qualquer mal contra ele.
Mas este acabou contribuindo, ainda que indiretamente, para que o mal lhe sobreviesse,
porque tendo tentado ganhar o seu favor, ofereceu-lhe amizade chamando-o à sua casa
para recompensar-lhe por ter orado em seu favor e ter tido a sua mão restaurada por Deus.
Ele devia pensar que agradando ao profeta talvez
pudesse também agradar a Deus, de modo que ele voltasse atrás no juízo que havia proferido
contra ele.
163
Afinal, não foi o profeta que orou para que a sua mão secasse, e aquilo lhe sobreveio por uma
intervenção direta da parte de Deus.
Mas, tendo recusado o convite de Jeroboão e
declarado a ele tudo o que o Senhor lhe havia ordenado, e que ele, por motivo de prudência,
não necessitava ter declarado a ninguém, acabaria em apuros, em razão de ter falado mais
do que devia, pois uma vez tendo tornado do conhecimento de todos que Deus lhe havia
proibido comer pão e beber água naquela terra, e que deveria retornar a Judá por outro
caminho, diferente daquele através do qual havia se dirigido a Betel (v. 8 a 10), acabaria
trazendo confusão e desconfiança, quanto à veracidade da profecia que havia proferido, caso
contrariasse isto que acabara de divulgar, como tendo também sido ordenado por Deus.
Assim, ele voltou por um outro caminho diferente do que havia chegado a Betel, e estava
com isto dando mais uma prova de que falara de fato da parte do Senhor.
Certamente, foi o diabo que levantou o velho
profeta para mentir ao homem de Deus, lhe dizendo que este lhe enviara um anjo
modificando as suas ordens iniciais.
O alvo do diabo era o de trazer descrédito à
profecia proferida a Jeroboão, uma vez que o homem de Deus havia contrariado o que havia
afirmado na presença de Jeroboão, quando se permitiu privar da companhia do velho profeta
em sua casa, talvez confortado pela ideia que o
164
Senhor havia se compadecido dele, que deveria estar com fome e sede, permitindo que comesse
e bebesse em companhia daquele que havia se apresentado a ele como sendo também um
profeta do Senhor.
Assim, Deus, que estava preocupado em
garantir a segurança do seu servo, teve que intervir de maneira miraculosa, de modo a
convencer a todos em Israel que aquela palavra, que havia sido proferida contra o altar era exata
e verdadeira, e havia procedido dEle, porque em tendo sido desobedecido no que havia
ordenado, teve que estabelecer um juízo à desobediência do profeta, ainda que este tivesse
sido enganado, de modo a revelar que a palavra dita a Jeroboão que ele não poderia comer e nem
beber água em Betel era tão verdadeira, quanto a que foi proferida contra o altar.
E isto foi reforçado por um milagre porque o leão que matou o profeta, não o devorou e nem
ao jumento que ele montava, tendo ficado ambos parados ao lado do seu cadáver (v. 21, 28).
E ainda para reafirmar a palavra dada, quem
profetizou a morte do homem de Deus foi o próprio velho profeta mentiroso, mas naquela
hora foi-lhe dado profetizar e a palavra do Senhor na sua boca era verdadeira (v. 21, 22), porque disse que o seu cadáver não entraria no
sepulcro dos seus pais em Judá.
E por temer esta palavra dada pelo Senhor o velho profeta não enviou o seu corpo a Judá e
providenciou para que ele fosse sepultado em
165
Betel, no seu próprio sepulcro, de modo que quando morresse fosse sepultado no mesmo
lugar em que fora enterrado o homem de Deus (v. 30, 31) porque com isto, ele entendeu que ele
era de fato um profeta do Senhor, e que a palavra proferida por ele teria cumprimento cabal.
É dito no verso 33, que apesar de todas estas coisas terem sido testemunhadas por Jeroboão,
nem assim ele deixou o seu mau caminho e continuou a constituir sacerdotes para os seus
altares, e que ele mesmo os consagrava (v. 33).
Mas isto não ficaria sem uma resposta à altura, porque o grande juízo contra Jeroboão não seria
apenas a destruição dos seus altares e o extermínio daquele ofício sacerdotal espúrio,
mas o que viria sobre ele e a toda a sua casa, de modo que não teria sucessores no trono, porque
Deus já havia determinado exterminá-los por causa deste pecado (v. 34).
Todos estes juízos do Senhor continham
também uma grande manifestação da Sua misericórdia por Israel, porque muitos viriam a
se arrepender da sua idolatria e fugiriam de Israel para Judá, em face de todas estas coisas
que estavam sendo realizadas pelo Senhor contra a idolatria deles e de Jeroboão.
166
Ninguém é Líder na Igreja Sem Ser Chamado por Deus
Deus já havia confirmado a escolha da casa de Arão para o sacerdócio com um milagre de juízo
e ira, pois destruiu os líderes rebeldes que haviam seguido Datá, Coré e Abirão (Núm 16), e
o confirmaria também com um milagre de graça (Núm 17), pois ordenou que fossem colocadas no interior do tabernáculo, diante da
arca do testemunho, varas com os nomes dos príncipes das tribos de Israel, e na vara da tribo
de Levi seria escrito o nome de Arão, e disse que a vara correspondente ao homem que fosse o
seu escolhido para o sumo sacerdócio brotaria miraculosamente, e no dia seguinte, quando
Moisés entrou no tabernáculo, apenas a vara de Arão não somente havia brotado como
produzira gomos, rebentara em flores e dera amêndoas maduras (Núm 17.8).
Moisés trouxe todas aquelas varas à presença
dos israelitas e pelo mandado do Senhor tornou a colocar a vara de Arão perante a arca do
testemunho, de forma que ficasse revelado para sempre a Israel, que o nome que estava
registrado naquela única vara que havia frutificado era o nome de Arão.
Esta foi uma ação preventiva da parte do Senhor, para que cessassem as murmurações dos
israelitas quanto a tentarem questionar a chamada exclusiva de Arão e de sua casa para o
sacerdócio, de modo que não fossem
167
exterminados pelos Seus juízos, em face das rebeliões deles.
Um pai sábio procura eliminar as situações que
dão ocasião às desobediências de seus filhos, de modo que não tenha que puni-los.
Foi este mesmo cuidado preventivo que o
Senhor teve em relação aos israelitas, com a medida descrita no 17º capítulo do livro de
Números.
Com este milagre de graça, o Senhor revelava que o ministério do sumo sacerdote não era um
ministério para morte, senão para a vida, pois varas mortas foram colocadas diante do
testemunho, e somente a do sumo sacerdote rebrotou e frutificou.
Mais do que de vida é ministério de
ressurreição, porque aquela vara não poderia reviver, a não ser por uma ação miraculosa e
poderosa da parte de Deus.
Cristo é Sumo Sacerdote, para que o Seu povo tenha vida e ressuscite.
Assim também, todos os ministros a Seu serviço têm um ministério com a mesma função e
característica, cabendo-lhes, portanto, intercederem junto de Deus em prol da
humanidade, para que pecadores que se encontram mortos espiritualmente sejam perdoados e revivificados por Cristo.
Tudo isto nos faz lembrar das palavras do Senhor Jesus em Jo 15.16:
“Vós não me escolhestes a mim mas eu vos
escolhi a vós, e vos designei, para que vades e
168
deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome,
ele vo-lo conceda.”
Todavia, os israelitas não entenderam o sentido
preventivo do milagre e as palavras de Deus, relativas ao fato de que nenhum estranho à casa
de Arão deveria disputar o sacerdócio para que não morresse.
Eles eram de fato um povo de dura cerviz, como o Senhor se havia referido a eles, pois em vez de
se humilharem, e se sujeitarem à poderosa mão do Senhor, na sua aflição, eles se queixaram de
estarem sendo tratados de modo muito inflexível e duro, e que nenhum deles poderia
sobreviver diante de um Deus tão exigente.
Vejamos o teor das suas palavras:
“Então disseram os filhos de Israel a Moisés: Eis
aqui, nós expiramos, perecemos, todos nós perecemos. Todo aquele que se aproximar, sim,
todo o que se aproximar do tabernáculo do Senhor, morrerá; porventura pereceremos todos?” (Núm 17.12,13)
Eles estavam em fel de amargura e é uma coisa
muito ruim se irritar contra Deus, quando estamos em aflição, porque a nossa angústia
servirá somente para aumentar as nossas dores.
Devemos, ao contrário, nos submeter e ter bom
ânimo como nos é ordenado pela Palavra, para o nosso próprio bem, para que sejamos curados
de nossas murmurações, orgulhos, vaidades, endurecimentos, enfim de todas as formas de
manifestação do pecado.
169
Deus tem um propósito bom quando nos corrige, e chama ministros para zelarem por
nossas almas, que é o de nos fazer participantes da Sua santidade, de modo que possamos ter
intimidade e comunhão com Ele, e sermos livres de nossas mazelas que militam contra as
nossas almas.
Ele é um Pai sábio e amoroso e faremos bem em nos sujeitar à Sua correção e aos meios que Ele
tem provido para o nosso próprio bem e de toda a Sua Igreja, especialmente chamando alguns
para exercerem o ministério de liderança do Seu povo, o qual deve ser exercido com
longanimidade e amor.
170
Cristãos Não São Reprovados por Deus para Condenação
Era de tal ordem a resistência de alguns cristãos coríntios que Paulo disse, no 13º capítulo da 2ª
epístola que lhes escreveu, que se valeria do testemunho de duas ou três pessoas, conforme
a norma da disciplina evangélica, que confirmariam o modo desordenado de vida dos
que deveriam ser confrontados quando ele fosse ter com eles, e que desta vez, não lhes
perdoaria, e seriam submetidos à disciplina da aliança que tinham com o Senhor.
Eles estavam lhe tentando a demonstrar que
Cristo falava realmente por seu intermédio, apesar de terem visto a forma poderosa como
Ele havia operado entre eles através do seu ministério.
O próprio Cristo foi crucificado por meio de
sofrimentos suportados pacientemente em fraqueza, no entanto vive agora pelo poder de
Deus.
De igual modo os seus ministros, ainda que
fracos, vivem manifestando por toda parte o poder de Deus, o qual opera nos seus ouvintes.
Todo cristão deve portanto fazer um auto exame
diário, e colocarem à prova não os outros, mas a si mesmos, para verem se têm permanecido na
fé.
Os que são de Cristo têm a habitação de Cristo.
Caso contrário, é porque já estão condenados.
171
No entanto, os cristãos verdadeiros não são reprovados para condenação eterna (v. 6).
Mas nenhum cristão deve se gloriar simplesmente nesta verdade, mas fazer valer e
manter a vocação para a qual foi chamado por Deus de praticar o bem segundo Cristo, e não
viver mais na prática do mal.
Porque se existe uma aprovação por Deus que é
incondicional, por pura graça, relativa à nossa filiação e aceitação, no entanto, há uma outra
aprovação quanto ao nosso modo de viver, que deve ser segundo a verdade e a justiça.
Viver portanto no pecado é viver de modo reprovado quanto à santificação, ainda que não
sejamos reprovados quanto à nossa justificação, porque esta não foi dependente de nossas boas
obras, senão dos méritos exclusivos de Cristo, da fé e da pura graça, sem o concurso das nossas
obras (v. 7).
Então nenhum cristão terá o seu comportamento aprovado por Deus caso não esteja andando na verdade, porque não se pode
ir contra a verdade quando se é de Cristo, senão viver pela verdade.
Paulo não se importava portanto com o que dizia
respeito à sua fraqueza humana, ao contrário, se regozijava nisto, porque era por meio dela que
se manifestava a graça e o poder do Senhor, que fortalecia os cristãos coríntios, e que lhes
aperfeiçoava.
O intuito de tantas admoestações, exortações e
repreensões tinham em vista conduzir os
172
coríntios ao retorno à santificação de suas vidas, de modo que o apóstolo não necessitasse usar
de rigor quando estivesse com eles, porque afinal, o poder que os ministros receberam de
Cristo visa à edificação e não à destruição do Seu rebanho.
173
O Evangelho Nada Tem de Ocultismo
Nós vemos no 11º capítulo de 2 Coríntios que Paulo temia pelo fato de muitos coríntios se
entregarem a especulações espiritualistas, teosóficas, filosóficas, e a todo tipo de ensino de
origem satânica e dos muitos espíritos demoníacos que operam no mundo tentando
insuflar nas mentes das pessoas ensinos enganadores a respeito da criação, da pessoa de
Cristo, da natureza dos homens e dos anjos e de muitas outras coisas que se baseiam no que
chamam de conhecimento profundo das coisas ocultas.
A base destas doutrinas demoníacas é a mesma que foi utilizada pela Serpente para enganar Eva
no Éden.
Ela reside no apelo ao avanço em conhecimento, para que possamos nos inteirar
melhor da vontade de Deus e da compreensão dos poderes que operam no mundo e na nossa própria natureza, dependendo de nós mesmos e
não nos submetendo ao Senhor.
Mas este é o grande engano ao qual o diabo conduz os homens, porque lhes faz pensar que
estão avançando em conhecimento por si mesmos nestas coisas ocultas, quando na
verdade, estas coisas consistem em ensinos e manifestações de demônios.
É este desejo de se inteirar das coisas que são ensinadas por Satanás, através de seus
instrumentos, sob a forma de engano, que é
174
repreendido tanto por Jesus quanto por Paulo, porque nos separa da simplicidade de mente
que convém ao evangelho, e que em vez de nos tornar cheios da Palavra de Deus, e submissos a
Cristo, contamina o nosso entendimento com as coisas pertencentes ao reino de Satanás de tal
forma, que nos tornamos incapazes de nos concentrar nas coisas relativas à verdade que está em Cristo Jesus.
Deus nos criou para nos submetermos
inteiramente à Sua soberania, e para viver do modo designado por Ele na Sua Palavra, e
quando nos entregamos a este espírito especulativo de tudo pretender sondar em
relação às doutrinas de demônios que circulam no mundo, ainda que com a sinceridade de
apenas pretendermos alcançar conhecimento das mentiras que Satanás tem implantado por
séculos no mundo, nós corremos o grande risco de ficarmos emaranhados nestas doutrinas e
perdermos a comunhão com o Senhor e a verdade do evangelho.
Por isso o Senhor proibiu o Seu povo, desde os
dias de Moisés, de sequer nomear os falsos deuses que as nações pagãs cultuavam,
exatamente para evitar este envolvimento da nossa mente com as coisas pertencentes ao
reino das trevas.
Não é por nos inteirarmos de tudo o que eles ensinam e operam no mundo espiritual da
maldade, que nos preveniremos dos Seus
175
ataques, mas com oração, com fé, com apego à Palavra da verdade.
O próprio Espírito Santo e a Palavra de Deus nos dão o discernimento necessário para vencer tais
potestades malignas.
Quando se tenta vencer Satanás examinando
cuidadosamente cada uma das armas que ele tem utilizado no mundo, nós podemos ser
enganados por ele a ponto de tentarmos combatê-lo com as suas próprias armas, e não
com a verdade do evangelho.
Se o zelo de Paulo pela simplicidade do
evangelho da cruz, e o seu modo de vida despojado e sofrido, por causa da cruz, parecia a
alguns coríntios uma loucura, era melhor suportar tal loucura do que se entregar às
chamadas coisas profundas do conhecimento, que na verdade têm sua origem no reino de
Satanás (v. 1).
Sem a simplicidade devida a Cristo, conforme está revelada somente no evangelho, é impossível manter um coração puro, segundo a
vontade de Deus (v. 2).
É portanto de fundamental importância saber que o diabo pode com sua astúcia, corromper a
mente do cristão, apartando-a da simplicidade e da pureza que há em Cristo (v. 3).
A importância de não se afastar da simplicidade e da pureza que estão em Cristo, não apenas
preserva a nossa comunhão com Ele, como nos resguarda de abraçar outro espírito ou outro
evangelho diferente daquele que nos foi
176
ensinado Pelo Senhor e pelos apóstolos, que sendo abraçados, ainda que involuntariamente,
certamente trarão grandes danos à nossa fé (v. 4).
Para os que andam no Espírito e no temor do Senhor, pelo conhecimento verdadeiro da Sua
Palavra, sempre se sentirá uma forma de repulsa em seus espíritos, quando outro evangelho ou falsa doutrina estão sendo
pregados ou ensinados, porque a unção do Espírito e o dom de discernimento de espíritos é
o melhor antídoto para nos manter afastados das coisas pertencentes a Satanás que são
mentira e engano, por maior que possa ser a sua aparência de luz e de verdade.
Não podemos esquecer que Satanás se transfigura em anjo de luz e seus agentes em
ministros de justiça (v. 14, 15).
Quando estes falsos ministros, usados pelo
diabo são admitidos pela Igreja, e os cristãos se submetem ao ensino deles, o Espírito Santo se
entristece, e apagando-se a Sua atuação nos corações daqueles que apostatam da fé, torna-se
muito difícil ver a vida de Cristo sendo manifestada no meio do Seu povo, porque é
impossível viver na verdade, quando se é vencido pelo engano.
Paulo já havia se referido anteriormente, nesta mesma epístola, qual é o modo de se vencer o
engano, pelo seu próprio exemplo de vida:
177
“6 na pureza, na ciência, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não
fingido,
7 na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas
armas da justiça à direita e à esquerda,” (II Cor 6.6,7).
Veja que o Pai da mentira é vencido com pureza,
com conhecimento de Deus, com longanimidade, no Espírito Santo, e com amor não fingido, e com a Palavra da verdade, no
poder de Deus, com armas da justiça em todos os lados. É pois principalmente com a verdade e
com as armas da justiça do evangelho, no poder do Espírito, que se vence o Inimigo, e não com as
suas próprias armas mentirosas.
Cristãos que procuram se aprofundar no conhecimento das profundezas de Satanás
(ainda que pensem, em seu engano que estão se aprofundando em coisas que os levarão a ter um
maior conhecimento de si mesmos e de Deus) acabam por considerar a palavra do evangelho
como algo rude e grosseiro, como alguns coríntios que se julgavam refinados em seu
conhecimento, estavam considerando o apóstolo Paulo (v. 6).
O apóstolo disse que temia que a Serpente corrompesse com sua astúcia o entendimento
dos coríntios, mas na verdade o diabo já havia enganado e corrompido a muitos deles, pelo que
podemos inferir do muito trabalho que eles estavam dando a Paulo para tentar reconduzi-
los à verdade e ao espírito correto pelo qual
178
importa servirmos ao Senhor; que é o da simplicidade e pureza que se pode ver numa
criança.
O evangelho deve ser recebido portanto com este espírito de caráter pueril, sem o qual
sempre haverá a luta do conhecimento carnal que se levanta contra o conhecimento que
procede de Cristo.
A mente humana que não se deixa persuadir pelo Espírito Santo, acabará se tornando aberta
às imaginações vãs e carnais e ao ensino de demônios, ainda que afirme ter por propósito
alcançar um melhor e maior conhecimento de Deus.
O evangelho de Paulo; e a pessoa do apóstolo não eram inferiores aos demais apóstolos de Cristo, que ele, em sua humildade, chama de mais
excelentes do que ele (v. 5).
Se a mensagem era a mesma, se o espírito era o
mesmo, então porque os coríntios estavam se predispondo a se abrirem para um outro
evangelho, quando na verdade há somente um único e verdadeiro evangelho?
A vida de Paulo era uma carta aberta perante
todos eles, e muito diferentemente dos falsos mestres que lhes influenciavam por interesse
egoísta e para propósitos enganosos, ele nunca lhes havia pedido qualquer coisa em troca do
serviço que lhes prestara, ao contrário, teve que despojar outras igrejas para poder servi-los,
recebendo delas salário, de modo que lhes
179
anunciasse inteiramente de graça o evangelho de Deus (v. 7,8).
Especialmente as igrejas da Macedônia haviam suprido as suas necessidades para poder pregar
o evangelho aos coríntios.
Certamente ele havia seguido a direção do
Espírito para agir de tal forma em relação aos coríntios, para que não desse oportunidade a Satanás para infamá-lo e tentar desqualificar a
mensagem que pregava, por afirmar que Paulo afinal de contas era igual aos demais falsos
mestres, que ensinavam a religião por interesse.
Paulo não era insensato, mas se alguém
quisesse tê-lo em tal conta, que o tivesse, porque em vez de se ofender, se gloriaria nisto, uma vez
que ninguém deve gloriar em si mesmo, senão unicamente no Senhor, no entanto teria que se
expor à insensatez de ter que se comparar com os falsos obreiros a bem dos coríntios, para que
retornassem eles próprios à sensatez, de forma que pudessem entender o quão errados estavam
em seus julgamentos, e o quanto haviam se deixado enganar pela velha Serpente, Satanás, o
diabo.
Gloriar-se fora de Cristo é gloriar-se na carne, e
Paulo teria que fazê-lo naquela ocasião, porque se os coríntios se julgavam sensatos porque
estavam tolerando de boa mente os insensatos? Porque toleravam pessoas cujos ensinos
estavam lhes escravizando?
Os coríntios admiravam a ousadia com que os
falsos mestres faziam as suas asseverações, com
180
grande eloquência e protestando alto conhecimento de coisas ocultas à mente
comum.
No entanto, não havia nos apóstolos de Cristo a
verdadeira ousadia, que é a do Espírito Santo, mas com amor e moderação?
E quanto às qualificações que estes falsos apóstolos pretextavam ter, por afirmarem simplesmente que eram israelitas, o povo que
Deus havia escolhido desde a antiguidade, para se revelar ao mundo, Paulo não era também
israelita tal como eles?
Eles se diziam ministros de Cristo? Mas onde
estavam as marcas do ministério deles, produzida pela cruz?
Paulo expôs então os trabalhos, açoites, prisões (sem contar os mais de seis anos de prisão que
ainda sofreria em Jerusalém, Cesareia e Roma), perigos de morte que suportara por amor ao
evangelho, e que comprovavam que de fato estava sofrendo as perseguições que são
sofridas por aqueles que pregam verdadeiramente o escândalo e a loucura da
cruz.
Ele se referiu às 195 chibatadas que havia
recebido dos próprios judeus, por perseguirem-no por causa do evangelho; às três vezes que
havia sido açoitado com varas; à vez que havia sido apedrejado e dado como morto em Listra
(At 14.19); aos três naufrágios que havia sofrido (sem contar o que ainda viria a sofrer em sua
viagem para Roma); uma noite e um dia passado
181
na voragem do mar; em muitas viagens, em perigos de rios, de salteadores, dos judeus, dos
gentios, na cidade, no deserto, no mar, e entre falsos irmãos; em trabalho e fadiga, em muitas
vigílias, com fome e sede, e vários jejuns, frio e nudez, suportados com amor por causa de
Cristo e do evangelho.
Que outras evidências os coríntios ainda
precisavam ter das marcas do seu apostolado verdadeiro? Que outras evidências do seu amor
por Cristo e pelo evangelho?
Além de todos estes sofrimentos produzidos
pelas circunstâncias exteriores, Paulo sofria também em seu interior em razão do cuidado
por todas as igrejas.
Ele compartilhava as necessidades e
sofrimentos dos santos. Ele ficava abatido com os abatidos. Enchia-se de zelo por causa dos que
eram escandalizados (v. 30).
Ele queria que os coríntios percebessem que não estava se gloriando na carne em grandes feitos, conhecimentos, capacidades, senão nas
coisas que estava sofrendo por amor ao evangelho.
Era uma glória relativa à sua fraqueza, e não ao
seu próprio poder. Desta forma, tudo o que Ele fizera e estava fazendo era pela pura graça e
poder de Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo.
O Deus que vinha lhe livrando de todos os perigos e lhe consolando em todos os seus
sofrimentos e humilhações, era o mesmo que
182
lhe havia libertado de ser morto em Damasco, quando teve que fugir da cidade sendo descido
num cesto por uma janela da muralha da cidade.
183
A Necessidade de Disciplina e Exortação para a Santificação
Na parte final do sexto capítulo de 2 Coríntios Paulo citou a promessa de Deus de receber
como filhos e filhas a todos que se apartassem dos ídolos e não tocassem em nada imundo, porque habitaria neles para que fossem o seu
povo e Ele o Seu Deus. E ele começou o sétimo capítulo afirmando qual deve o ser o dever de
todos os cristãos em face da referida promessa:
“Ora, amados, pois que temos tais promessas,
purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no
temor de Deus.” (2 Cor 7.1).
Então todo cristão deve se empenhar para se
purificar de toda a imundícia da carne e do espírito, no temor de Deus, progressivamente,
com vistas ao aperfeiçoamento da sua santificação, isto é, até que atinja a maturidade
espiritual que deve alcançar em Cristo, ainda aqui neste mundo, à qual é chamada na Bíblia de
perfeição evangélica, porque sempre haverá alguma escória misturada ao nosso ouro; mas
teremos aprendido em Deus, pela capacitação do Espírito, a nos livrar dela, para o inteiro
agrado do Senhor, e a estarmos no lugar em que devemos estar permanentemente, a saber, em
santificação na Sua presença.
184
É na comunhão dos santos, no compartilhar a fé com outros cristãos que se sente o peso da
necessidade da santificação, e por isso se lhes ordena que não deixem de congregar para o
culto de adoração pública ao Senhor, porque nisto há tanto exortação, disciplina e
encorajamento mútuos sobretudo nos esforços voltados para a evangelização da qual o Senhor encarregou a sua igreja neste mundo até que Ele
volte.
E é neste zelo por Cristo e pelo evangelho que somos santificados pelo Espírito.
Agora, quando em nosso zelo por Cristo,
exercemos exortação e disciplina em Seu nome, mas se o fazemos por motivos pessoais, de
vingança, rancor ou qualquer outro sentimento oposto ao amor, e não com longanimidade e
segundo a sã doutrina, como se requer, não se pode esperar que haja um bom resultado
porque o Senhor há de honrar toda disciplina que for feita no Espírito, não somente por zelo, mas também por amor, mas não agirá nas coisas
operadas meramente pelo coração do homem.
De modo que se for Deus quem opere a tristeza que é para arrependimento - nos que andam de
modo desordenado - pela nossa instrumentalidade, então Ele próprio honrará a
disciplina realizada por nosso intermédio, mas se formos impelidos pelo espírito do mundo, o
resultado não poderá ser vida e salvação, senão morte espiritual, de quem já estava a ponto de
morrer, por causa do endurecimento no pecado.
185
Todas estas coisas devem ser refletidas e pesadas pelos ministros do evangelho, que têm
o encargo da parte de Deus para exercerem disciplina na Igreja. Eles não serão justificados
se agirem por motivos carnais, por maiores que sejam os pecados existentes na congregação
que tenham que liderar.
É com a mesma direção do Espírito, e amor pelo
rebanho que devem cumprir a exortação do Senhor, como a que vemos por exemplo em Apo
3.2:
“Sê vigilante, e confirma o restante, que estava para morrer; porque não tenho achado as tuas
obras perfeitas diante do meu Deus.” (Apo 3.2).
Andar na verdade e no Espírito faz com que os laços da confiança que nos unem uns aos outros
e ao Senhor fiquem cada vez mais fortes. Esta confiança é a base de todo relacionamento
verdadeiro, e deve ser bem cuidada por um andar na verdade e humildade; de modo que
haja a mesma sinceridade em nossos corações, quer nas coisas que geram alegria, quer nas que
produzem tristezas, e que demandam um sincero arrependimento, para que vivamos do
modo que é aprovado por Deus e agradável a Ele.
186
Conhecendo e Amando o Cristo Invisível
“Assim que daqui por diante a ninguém
conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a
carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.” (II Coríntios 5.16)
O nosso conhecimento de Cristo não é por vista, porque amamos Alguém invisível, mas Ele é
muito real para o cristão que partilha da Sua intimidade, porque se dá a conhecer em
espírito, e assim, todo verdadeiro conhecimento não somente relativo a Cristo,
mas às pessoas com as quais temos comunhão, é pelo espírito, não pelo que vemos ou ouvimos
com nossos sentidos naturais.
O apóstolo tinha falado antes da sublimidade de se morrer para se estar para sempre com o
Senhor, e não mais estarmos ausentes dEle, pelas limitações que ainda nos são impostas
pela vida que temos no corpo.
Paulo afirmou que não se conhece a Cristo segundo a carne, senão pelo espírito.
Deste modo, o Cristo que servimos é onisciente, onipotente, onipresente. Ele tudo sabe, vê e
governa. É inútil tentar viver aparte da consideração de que se deve viver de tal modo,
que em tudo Lhe sejamos agradáveis, quer estando neste mundo, em que não O vemos,
quer no vindouro, quando o veremos face a face.
187
Este empenho em se viver de modo agradável ao Senhor deve levar em conta, principalmente, o
temor que Lhe é devido, porque teremos que comparecer ante o Seu Tribunal, no qual
prestaremos contas e receberemos o louvor ou o dano de tudo o que tivermos feito por meio do
corpo neste mundo, seja o bem segundo a Sua vontade para recompensa, seja o mal, para dano ou perda de galardão.
Então pregar o evangelho com fidelidade não é
uma opção para os que são chamados, mas uma honra, e uma grande responsabilidade e dever,
porque este nos foi encarregado da parte de Deus, para sermos seus embaixadores, na
convocação de todos os homens a se reconciliarem com Ele, porque Cristo “morreu
por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e
ressuscitou.”
Paulo podia afirmar este ensino com toda a autoridade porque ele foi o último dos apóstolos, que não havia conhecido a Jesus em
Seu ministério terreno, e no entanto, conforme ele próprio diz em suas epístolas, havia
aprendido o evangelho pela revelação que lhe fora feita pelo próprio Senhor, em espírito, e que
havia trabalhado muito mais para o Senhor do que todos os demais apóstolos, e o próprio Pedro
reconheceu a profundidade do conhecimento de Jesus que Paulo havia alcançado.
Por isso nosso Senhor havia dito a Tomé que
mais bem-aventurados do que ele eram todos
188
aqueles que haviam crido na Sua ressurreição e que foram instruídos quanto a isto em espírito,
sem tê-lo visto, do que aqueles que Lhe tinham visto ressuscitado com os olhos da carne.
O conhecimento do Senhor é feito através dos olhos espirituais da fé, e não por evidências
visíveis.
Assim, Paulo podia recomendar a si mesmo às
consciências de seus ouvintes quando os persuadia à fé, porque podiam se gloriar no
testemunho da sua sinceridade, e no fato de se gloriar nas coisas operadas por Deus em seu
coração, e não na aparência, conforme muitos faziam em Corinto em seus dias.
As vidas que estavam sendo geradas pelo evangelho através do seu ministério não haviam
crido por evidências externas e por argumentos persuasivos humanos, mas por demonstrações
do Espírito e de poder que repousavam sobre sua vida.
Em Cristo está sendo formada uma nova criação espiritual, e todo verdadeiro cristão faz parte da
mesma, então não devem se fixar nas coisas do velho homem que são passadas à vista do
Senhor, mas na nova vida que receberam do céu.
Deus mesmo proveu todas estas coisas relativas
à reconciliação dos pecadores com Ele, não lhes imputando mais a condenação dos seus pecados
por causa de Cristo.
O trabalho do apóstolo e de qualquer ministro
de Cristo é portanto o de rogar aos homens que
189
se reconciliem com Deus, porque Cristo, que não tinha pecado, morreu no nosso lugar,
fazendo-se réu do pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus, isto é, alvo de
Sua justiça, para que pudéssemos ser justificados do pecado.
À vista destas realidades, o objetivo maior e principal de um cristão não deve estar nas
coisas deste mundo, mas no céu, porque foi de lá que recebemos a nova vida que há de
permanecer por toda a eternidade; e é de lá também que recebemos todas as virtudes
espirituais invisíveis, como elas se encontram em nosso Senhor Jesus Cristo.
E ainda que venhamos a morrer, temos um outro corpo celestial e glorificado aguardando
por nós no céu, e deveríamos aspirar por deixar um dia este corpo terreno para que possamos
receber este novo corpo celestial.
Assim o que é mortal dará lugar ao que vive eternamente; conforme planejado por Deus
desde o princípio, e para comprovar esta verdade Ele deu o Espírito Santo para habitar
nos cristãos, para que seja o penhor do cumprimento cabal de tudo o que lhes tem
prometido quanto à sua vida futura e celestial.
Esta esperança de vida eterna deve ser motivo
para que os cristãos tenham sempre bom ânimo, em todas as aflições que sofrem ainda no
corpo neste mundo, uma vez que todas elas cessarão somente quando estiverem para
sempre na presença do Senhor, depois de terem
190
sido chamados por Deus a deixarem o corpo mortal, para que possam viver na esfera das
coisas que são somente espirituais, celestiais e divinas.
191
Trazendo no Corpo a Mortificação de Jesus
“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas
a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus.” (II Coríntios
4.5)
Para não pregarmos a nós mesmos, mas a Cristo é preciso trazer o morrer de Jesus em nosso
corpo (II Cor 4.10), em nosso ego, e em tudo que se refira à nossa própria vontade e desejos, que
devem ser levados à morte na cruz, para que a vida de Jesus possa se manifestar através de nós.
Aquele que não traz o seu ego mortificado pela
cruz não está habilitado a pregar e a ensinar o evangelho da cruz.
Aquele que não renunciou a tudo quanto tem
não pode pedir aos seus ouvintes que renunciem a si mesmos para confiarem suas
almas ao Salvador.
É por isso que o nosso velho homem tem que ser
despojado, para que a nova criatura se manifeste em poder nestes vasos de barro que
são os nossos corpos mortais.
São vasos de barro porque têm a ver com o que herdamos da natureza terrena de Adão, que foi
criada a partir do barro, dos elementos naturais deste mundo, que passa.
Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu
poder excelente pode se manifestar somente se a casca do velho homem com suas vontades e
desejos for completamente quebrada através
192
das tribulações, perplexidades, perseguições, e abatimentos, ao mesmo tempo que somos
consolados e amparados pelo Senhor pela manifestação do Seu poder e amor, para que não
sejamos angustiados, desanimados, desamparados e destruídos (II Cor 4.8,9).
Esta será a experiência de todos aqueles que consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço de Deus.
Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que significa trazer diariamente no corpo o morrer
de Jesus para que a Sua vida possa se manifestar em nós.
Eles saberão por experiência que toda a mortificação que é operada neles, sobretudo no
seu ego, tem o propósito de gerar a vida de Cristo nos seus ouvintes (II Cor 4.12).
Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, de
modo que ministrando por amor aos homens, possam abundar as ações de graças, para a
glória de Deus, por causa da multiplicação da graça em muitos corações (v. 13 a 15).
Eles saberão que um cristão em seu posto de trabalho, operando fielmente no Espírito, não
desfalecerá e suportará e sofrerá tudo por amor a Cristo, ainda que o homem exterior se
corrompa, isto é, que enfraqueça, enferme, envelheça, porque o homem interior, a saber, o
espírito é renovado gradual e diariamente por Deus, segundo o Seu próprio poder e glória (v.
16).
193
Assim reconhecerão também que toda tribulação traz em si mesma um propósito de
nos tornar mais íntimos e participantes da glória de Deus, e que se tornam leves e momentâneas
comparadas ao peso das consolações e operações poderosas do Senhor no nosso corpo,
alma e espírito.
Um cristão experimentado, como Paulo, saberá
discernir a vida espiritual que não se experimenta por vista, mas por fé, que se firma
não nas coisas visíveis que são temporais, mas nas invisíveis que são eternas.
194
A Capacitação para o Ministério
"4 E é por Cristo que temos tal confiança em
Deus;
5 Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a
nossa capacidade vem de Deus,
6 O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra,
mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica." (II Coríntios 3.4-6)
Toda a capacitação de qualquer cristão para o
cumprimento do seu ministério espiritual vem da parte de Deus.
Porque é Ele quem habilita seus ministros a
serem capazes para a obra do ministério do Novo Testamento, que não é uma mera exposição da letra das Escrituras, ou mera
transmissão de palavras, como ocorria no Velho Testamento, mas a ministração do Espírito aos
espíritos, porque somente a letra sem o Espírito, produz morte, porque não pode gerar a vida de
Cristo nos corações.
Os sacerdotes do Antigo Testamento não foram capacitados e chamados a cumprir um tal
ministério em todas as nações, mas é exatamente este o ministério desde que Cristo
inaugurou um Novo Testamento (aliança), no Seu sangue.
Não foi Paulo que inventou a doutrina de que é o
espírito que vivifica, mas isto foi uma revelação
195
de nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério terreno:
“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são
espírito e são vida.” (Jo 6.63)
Quando Jesus disse que as palavras que ele havia
dito eram espírito e vida, isto significa que Suas palavras foram inspiradas e proferidas pelo
Espírito, pois tudo quanto fazia e ensinava era mediante o Espírito Santo.
É fácil observarmos isto quando lemos os
discursos que Ele proferiu e que foram registrados nos evangelhos. Nós logo vemos que
há espírito e vida, por exemplo, nas palavras do Sermão do Monte, nos discursos do evangelho
de João e em tudo mais que o Senhor fez e ensinou, não somente porque se trata da
verdade, mas também porque foram proferidas pelo espírito e não pela carne.
Esta é a razão de muitos lerem a Bíblia no culto público, ou pregarem a verdade, e não transmitirem vida aos seus ouvintes, porque o
fazem na carne, e não no espírito.
O que podemos entender então é que sempre
que as palavras que são proferidas forem procedentes de um espírito liberado em
comunhão com o Espírito Santo, o resultado será que a palavra transmitirá vida espiritual
àqueles que as lerem ou ouvirem.
196
Por exemplo, os sermões de Spurgeon ainda falam com vida porque Ele andava no Espírito e
pregava no Espírito, e ainda hoje nós podemos sentir o espírito e a vida que há nos seus
sermões, porque foram pregados com palavras ensinadas pelo Espírito e com a unção do
Espírito.
O mesmo pode ser dito dos escritos da quase
totalidade dos puritanos, especialmente de John Owen, Richard Sibbes, Richard Baxter, Thomas
Manton, Thomas Watson, dentre outros.
Não há nada de influência ressecante nestes
escritos, ao contrário, eles transmitem vida espiritual porque foram produzidos em
espírito, pela inspiração do Espírito Santo, em pessoas cujos espíritos estavam santificados.
Então é um excelente critério para nortearmos a seleção dos louvores e dos sermões que
ouvimos, dos livros e das mensagens que lemos, procurar identificar se é a carne ou o espírito
que os produziram. Se foi a carne, gerará o que é carnal, natural, desta criação, porque o que é
nascido da carne é carne. Mas se foi o espírito, gerará vida espiritual.
Por isso se diz que o ministério da Igreja é o ministério do espírito (veja que é usado espírito
com inicial minúscula no texto de II Cor 3.6,8):
“o qual também nos capacitou para sermos
ministros dum novo pacto, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito
vivifica.” (II Cor 3.6).
197
“Como não será de maior glória o ministério do espírito?” (II Cor 3.8).
Devemos ter o cuidado de não cometer o mesmo pecado dos escribas e fariseus que não reconheceram o ministério do Messias e O
rejeitaram, porque é possível estar totalmente alheio ao fato de que há um ministério do
Espírito Santo acontecendo desde o Pentecostes ocorrido em Jerusalém, neste período que
chamamos de dispensação da graça, que podemos também chamar de dispensação do
Espírito Santo.
Havia e ainda há um véu no Antigo Testamento,
que impedia que se visse claramente o significado das realidades espirituais relativas
ao evangelho de Cristo, que está revelado no Velho Testamento em sombra, mas claramente
revelado no Novo Testamento.
É somente quando o Espírito Santo remove este véu que podemos entender o mistério de Deus
para o homem, que é Cristo, pela conversão de suas almas a Ele.
198
Como Vencer os Poderes das Trevas
Os santos devem estar equipados para o serviço de Deus, e por isso devem estar fortalecidos no
Senhor e na força do seu poder, e o modo de fazer isto é se revestir permanentemente de
toda a armadura de Deus, para poderem permanecer firmes contra as ciladas do diabo, o arqui-inimigo de Deus e também deles que não
lhes dará trégua por um só instante, enquanto eles viverem neste mundo, como se vê em Ef
6.11.
A luta espiritual que os cristãos empreendem
neste mundo não é uma guerra civil contra os homens, contra os corpos deles, ou seja, contra
a carne e sangue, mas uma guerra nas regiões celestes contra os principados e potestades, os
príncipes do mundo de trevas e contra todas as hostes espirituais da iniquidade que estão
debaixo do governo deles, como se lê em Ef 6.12.
Por detrás de todos os ataques que os cristãos
recebem por causa do evangelho se encontra a mão destes poderes espirituais invisíveis que
operam nos corações dos homens, indispondo-lhes contra a mensagem da cruz.
Como esta luta é espiritual contra inimigos invisíveis, para vencê-los e não sermos vencidos
pelos ataques e tentações deles é preciso estar revestidos de toda a armadura de Deus, veja,
uma armadura espiritual que recebemos de Deus, e que não se encontra naturalmente em
nós, e que pertence ao Senhor e não aos cristãos.
199
Sem esta armadura não é possível resistir no dia mau quando estes poderes do inferno vêm
contra nós.
Mas revestidos com a armadura divina
podemos vencê-los e permanecer firmes nos ataques que vierem desferir contra nós, como se
afirma no em Ef 6.13.
Por exemplo, como poderemos vencer as provocações que visam nos deixar irritados e
irados, sem que estejamos revestidos da mansidão e da longanimidade que temos na
comunhão com o Senhor?
É preciso portanto que os cristãos estejam
firmes, e vestidos com a verdade e com a couraça da justiça; tendo os pés calçados com a
preparação do evangelho da paz; empunhando o escudo da fé, para apagar todos os dardos
inflamados do Maligno; usando também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que
é a palavra de Deus, como se vê em Ef 6.14-17.
Então o cristão deve viver na verdade, na justiça
e na paz do evangelho; deve usar a fé por defesa e atacar o reino das trevas com a palavra de
Deus, estando firme e seguro da sua salvação em Cristo Jesus, sabendo que é por meio dEle que
será capacitado para esta guerra espiritual para permanecer no amor e na paz, anunciando
Aquele que é o Salvador e Príncipe da paz.
E deve fazer isto orando e suplicando em todo o
tempo no Espírito, e também vigiando com perseverança, intercedendo em favor de todos
os santos, como se vê no verso 18.
200
O grande propósito do diabo e pelo qual ele luta, é o de manter o mundo em ignorância quanto a
ele, quanto aos seus procedimentos e dos espíritos malignos que operam com ele, e assim
a Igreja está tomando partido com ele ao apoiar a ignorância sobre ele.
Por falta de conhecimento, até mesmo a maioria das pessoas mais espirituais, não leva a cabo
uma guerra completa e perpétua contra este exército de espíritos malignos; e muitos
afirmam que se Cristo é pregado que não é necessário dar ênfase à existência do diabo,
nem entrar em conflito direto com ele, e os seus exércitos.
Assim, um grande número dos filhos de Deus está se tornando uma presa ao Inimigo por falta
deste conhecimento, e pelo silêncio dos pastores e mestres da igreja quanto a esta
verdade vital, a Igreja de Cristo está passando por grande perigo nestes dias finais, por estar
desprevenida por não conhecer o ataque do Inimigo.
Nestes últimos dias ele está atacando
especialmente a sã doutrina, substituindo-a por doutrinas de homens e de demônios, com o fim
de produzir a grande apostasia final.
Aparte de tal conhecimento, é até possível que
cristãos, por pensarem que estão lutando pela verdade, em sua ignorância, estejam lutando
para defender e proteger espíritos malignos, e os trabalhos deles e ensino, acreditando que
estão defendendo Deus, e a Sua obra; porque por
201
pensarem equivocadamente que se trata de uma coisa divina se esforçarão para defendê-la.
É possível para um homem, por causa da ignorância, se levantar contra Deus e atacar a
própria verdade de Deus, e também defender o diabo, e opor-se a Deus, a menos que ele tenha
conhecimento da verdade divina, inclusive no que se refere às operações do diabo.
Nós vemos o diabo sugestionando
permanentemente a prática do mal para produzir um suposto bem. Foi assim ele
conseguiu enganar Eva, como lemos em I Tim 2.14.
Então, a inocência não é nenhuma garantia de proteção do engano. O modo mais agudo no qual
o diabo engana o mundo, e a Igreja, é quando ele entra no disfarce de alguém, ou algo, que
aparentemente está falando dos interesses de Deus.
Ele disse a Eva que ela e Adão seriam como deuses, mas escondeu dela que seriam como
demônios. O alvo verdadeiro dele era enganar Eva fazendo com que desobedecesse a Deus,
mas com o argumento de que ela seria como Deus. Veja que ele costuma argumentar
aparentemente em favor de Deus. Ele não disse que o pecado tornaria o homem semelhante ao
diabo, mas que seria semelhante a Deus.
Por isso, o Espírito Santo, através do apóstolo
Paulo ordena a todos os cristãos, no sexto capítulo da epístola aos Efésios, a estarem
revestidos permanentemente com toda a
202
armadura de Deus para poderem empreender a luta na qual têm que se empenhar contra os
principados e potestades, de maneira que possam resistir às ciladas do diabo e
permanecerem inabaláveis.
Esta armadura é composta das armas espirituais da verdade, da justiça, da salvação, da fé, da
Palavra de Deus, numa vida de oração e súplica por todos os santos. E é estando fortalecido no
Senhor Jesus e na força do Seu poder que os cristãos poderão triunfar nesta guerra
espiritual que têm que travar com os poderes das trevas.
A autoridade de Cristo sobre Satanás e seu exército de demônios é realizada por meio do
equipamento que os cristãos podem receber do Espírito Santo, e Cristo tem dado autoridade em
Seu Nome aos seus seguidores sobre os espíritos malignos.
203
Luz é Luz e Trevas são Trevas
Paulo é tão repetitivo, expressivo e incisivo nas
afirmações que fez quanto à necessidade de se deixar definitivamente para trás todos os maus
hábitos do passado que caracterizavam nossas vidas antes da conversão, como ele nos diz nos
versos 3 e 4 de Efésios 5.
“3 Mas a prostituição, e toda sorte de impureza ou cobiça, nem sequer se nomeie entre vós,
como convém a santos,
4 nem conversação torpe, nem conversa tola,
nem gracejos indecentes, coisas essas que não convêm; mas antes ações de graças.”
Veja que ele disse que nem sequer deveríamos
falar sobre prostituição, toda forma de impureza ou cobiça, quanto mais nos entregarmos à sua
prática.
E prosseguiu mostrando o tipo de conversação que convém a santos, a saber, que não seja torpe,
tola, com gracejos indecentes. Ele disse que nada disto convém a santos, senão ações de
graças.
O modo de se conseguir isto, de se viver de tal
maneira, foi dito por ele nos dois primeiros versos deste quinto capitulo de Efésios:
“1 Sede pois imitadores de Deus, como filhos
amados;
204
2 e andai em amor, como Cristo também vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, como
oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.”.
O modo se andar na luz é sendo imitadores de
Deus, da Sua santidade, amor, justiça, bondade e de todas as Suas virtudes, e estando dispostos
a Lhe oferecer nossas vidas como sacrifícios vivos e santos que Lhe sejam agradáveis, assim
como Cristo se entregou a Si mesmo à vontade do Pai por amor a nós.
Esta imitação não é teatral, não é algo que
devemos fazer por nossa própria capacidade e poder, senão por sermos instruídos, dirigidos e
transformados pelo Espírito Santo, numa santificação progressiva durante toda a nossa
jornada terrena.
Graus maiores desta imitação serão obtidos conforme a medida e constância da nossa
consagração ao Senhor e determinação em Lhe sermos devotos e obedientes em todas as
circunstâncias.
Jesus disse que nós devemos ser
misericordiosos assim como Deus é misericordioso, e perfeitos, assim como Ele é
perfeito.
Isto confirma portanto, que nada disto será possível sem uma verdadeira consagração a
Deus e submissão à Sua vontade.
É fácil entender porque toda forma de impureza
e de pecado devem ser deixados pelos cristãos
205
para se revestirem de um modo santo no viver deles.
É porque será exatamente por causa destas impurezas e pecados que Deus condenará
eternamente ao inferno aqueles que não foram justificados e purificados destas coisas pelo
sangue de Jesus.
O salário do pecado é a morte em todas as suas
formas: física, espiritual e eterna.
É por causa do pecado que há condenação e
morte.
Como podem então os cristãos abrigar a ideia de
que podem viver no pecado, e ao mesmo tempo agradarem a Deus?
Por isso o apóstolo afirma em Ef 5.5-7:
“5 Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem
herança no reino de Cristo e de Deus.
6 Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.
7 Portanto não sejais participantes com eles;”.
Ele disse que nenhum devasso, impuro ou
avarento tem herança no reino de Cristo e de Deus, e como poderíamos esperar as bênçãos de
Deus, enquanto vivemos seguindo a inclinação da carne ainda que não em devassidão ou
avareza, mas em impureza?
Deus nos criou para vivermos no Seu amor, e a
prova de que O amamos está no fato de
206
guardarmos os Seus mandamentos, obedecendo a Sua vontade, de forma livre,
amorosa e voluntária, no Espírito.
Onde falta isto, há rebelião, inimizade contra o Senhor, e justo Juiz que é, não poderá deixar
seus praticantes na impunidade.
Ele se mostrará longânimo e continuará manifestando o Seu favor e graça àqueles que
ainda que errados, ignorantes e imperfeitos, desejam sinceramente conhecer e fazer a Sua
vontade, e que nunca usam a imperfeição e fraqueza deles como justificativa para
continuarem errando e na prática deliberada do pecado.
É necessário compromisso com Deus, com Sua obra, com a Igreja, na determinação de fazer a
Sua vontade, porque onde isto não for achado o pecado prevalecerá, e consequentemente o
desagrado e a desaprovação do Senhor.
Paulo diz ainda em Ef 5.6 que não nos deixemos enganar por ninguém que venha justificar a
prática de tais impurezas, e pecados, usando de palavras vãs.
Deus por acaso aprovaria o nosso mau procedimento dando-nos um viver abençoado,
e fazendo uma obra do Espírito Santo através de nós?
Ninguém se iluda querendo tornar o evangelho
diferente do único evangelho que existe e que nos foi revelado por Cristo e pelos Seus
apóstolos.
207
Se desejarmos ter um viver de vitória em Deus, é necessário obedecer estas coisas que nos são
ordenadas, e nos empenharmos para sermos achados santos e irrepreensíveis na Sua
presença.
Nós não somos mais as trevas que éramos no
passado, e se somos luz no Senhor, devemos andar como filhos da luz, porque a iluminação
do Espírito na nossa vida, e da nossa vida para os outros, não pode se manifestar se não andarmos
na verdade, nesta luz que não é da terra, mas do céu.
Paulo está dizendo o mesmo que o apóstolo João diz no primeiro capítulo da sua primeira
epístola. Há concordância no ensino deles porque é a mesma verdade que nos convém
obedecer conforme é da vontade de Deus, como se afirma em Ef 5.8.
Este andar na luz tem o seu próprio fruto que é toda bondade, justiça e verdade, e tudo aquilo
que é agradável ao Senhor, como se lê em Ef 5.9,10.
Deste modo não pode haver comunhão entre luz e trevas, e isto impõe aos cristãos que não
podem mais viver em sociedade com as obras infrutíferas das trevas; ao contrário devem
rejeitá-las e reprová-las porque esta é a vontade de Deus para com os Seus filhos, como se afirma
no verso 11.
208
Porque Amar é Servir
Não é possível ter uma vida de comunhão com
Deus e uns com os outros, enquanto se vive debaixo do governo dos desejos e paixões da
alma, os quais são vencidos somente pela crucificação da carne por um andar no Espírito,
como se vê em Gál 5.24,25.
Sem a crucificação da carne para a supressão destes desejos e paixões não é possível um viver
e andar no Espírito, e por conseguinte ter paz na alma e comunhão com Cristo e o amor que
suporta ofensas e tribulações.
E quando isto nos falta ficamos incapacitados de
servir a Deus e ao próximo, porque a vida piedosa tem muitos inimigos e sofre muitos
ataques do poderes das trevas, e portanto, sem o amor que tudo vence, não será possível estarmos livres de mágoas e ressentimentos
quando somos ofendidos e afligidos.
Satanás a ninguém jamais serviu, ao contrário,
sempre impõe ser servido por todos os que tem escravizado com ódio cruel e tirânico.
Satanás é uma mera criatura caída, e ainda
assim governa sobre muitos cujo caráter não é tão baixo e sujo quanto o dele.
Nosso Senhor Jesus Cristo, ao contrário, sendo Deus, se fez homem por amor à humanidade, e
nos revelou qual é o caráter de amor de Deus, sendo achado na forma de servo, e afirmando
que não veio a este mundo para ser servido, mas
209
para servir, e dar a Sua vida para resgate de muitos.
Quem ama como Cristo ama, terá então esta
característica de não viver para ser servido, mas para servir ao seu próximo, porque é assim que
é o verdadeiro amor - não busca o que seja do seu interesse, mas o de muitos.
Tendo sido criados à imagem e semelhança de
Deus, devemos ser assim como Ele é em Sua natureza. Devemos amar com o mesmo amor
com o qual Ele nos ama.
Deus não precisa ser servido porque é completo
em todas as perfeições eternas e infinitas. O serviço que Lhe prestamos é para o nosso
próprio bem e do nosso próximo.
Ele morreu na cruz como um sacrifício, não somente para que fôssemos justificados dos
nossos pecados, mas para que pudéssemos viver a vida eterna nos alimentando da Sua própria
vida.
Ele disse que a Sua carne é verdadeira comida, e
que o Seu sangue é verdadeira bebida. Ele disse que é o Pão vivo que desceu do céu e dá vida a
todo aquele que dele se alimenta.
Por isso, havia em no Velho Testamento, um tipo desta verdade, porque era ordenado aos que
participavam dos sacrifícios de animais oferecidos no templo, que consumissem
juntamente com os sacerdotes a carne daqueles animais que haviam morrido para que eles
tivessem seus pecados perdoados e a
210
manutenção de suas vidas, pela figura de se alimentarem da carne do próprio sacrifício.
Tudo aquilo apontava para o único e eterno
sacrifício pelo qual somos perdoados e somos alimentados com a vida eterna de Jesus, que é o
alimento do nosso espírito, e sem o qual Ele não se pode ter e se expressar esta vida divina de
amor, paz, longanimidade, bondade, fé, perdão, misericórdia, que se acham em Cristo e que são
comunicadas a nós quando andamos em comunhão com Ele.
211
Nada é Perdido
“assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me
apraz e prosperará naquilo para que a designei.” (Isaías 55.11)
Muitas palavras, muitos ensinos, se perdem no
ato da ministração, ou com o tempo, mas tal não sucede com a ministração da Palavra de Deus.
Toda palavra que proceda genuinamente da boca de Deus, todo ensino verdadeiro que bata
com a revelação do evangelho, terá o seu devido efeito nos corações designados pelo Senhor
para receberem o referido efeito.
Os anos poderão se passar, o crente poderá até
mesmo vir a se desviar, mas se ele recebeu o verdadeiro ensino do evangelho, o Espírito
Santo usará este ensino para falar ao seu coração e trazê-lo de volta à comunhão no
aprisco de Cristo.
Daí decorre a certeza com que o sábio afirma o
que se lê em Provérbios 22.6:
“Ensina a criança no caminho em que deve
andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.”
A verdade será mantida no oculto do coração, e
ali será achada ainda na nossa velhice.
Quão precioso e útil é portanto o trabalho de
pregar e ensinar o verdadeiro evangelho.
212
Resistências, oposições a este tipo de ministração sempre serão achadas, mas o
Espírito Santo fará com que a verdade prevaleça, ainda que muito tempo depois de ter sido
ouvida. Os que buscam resultados imediatos na obra do
evangelho, e que se valem de metodologias e técnicas atrativas para aumentar o número de
membros de suas congregações, não poderão ver vidas realmente transformadas e
amadurecidas espiritualmente, porque não lhes foi ministrada a única semente que contém a
vida eterna, que é a Palavra do evangelho verdadeiro – a palavra do carregar a cruz, da
negação do ego, da santificação, da oração no Espírito, da comunhão dos santos, enfim, de
tudo o que nos é ordenado nos mandamentos do Senhor.
213
Recomendações Práticas para a Vida Cristã
É o Espírito Santo quem nos purifica de toda impureza, mas precisamos ser diligentes na
busca do cumprimento das ordenanças da Palavra de Deus, para que o Espírito possa
efetuar tal purificação em nós pela Palavra.
Deste modo, o cristão deve se despojar do seu
procedimento anterior, do velho homem, o qual se corrompe pelos desejos do engano e que não
pode se firmar na verdade.
Paralelamente a isto deve haver uma renovação progressiva do espírito, a qual começa pela renovação da mente, fazendo com que ela esteja
a serviço de Deus e não do velho homem.
O cristão deve se empenhar em estar habitado ricamente pela Palavra de Deus, em
pensamentos espirituais, celestiais e divinos, e que se concentram portanto em tudo o que é,
verdadeiro, honesto, justo, puro, amável, e que seja de boa fama, e que tenha alguma virtude ou
louvor, como lemos em Fp 4.8.
Até mesmo toda forma de ira justificada, a
saber, que seja em relação ao pecado, deve ser também deixada, de maneira que não
pequemos por causa de um mau temperamento, e permitamos que esta ira se
transforme em mágoa ou ressentimento.
Não devemos nos deixar dominar pela ira, e
devemos nos livrar dela, como afirma a Palavra - "antes que o sol se ponha", de maneira que
retornemos à paz de espírito e calma de mente,
214
que devem ser achadas permanentemente no nosso viver (Ef 4.26).
Buscando no Senhor um coração longânimo e perdoador, e não vivendo na prática da
impureza, e renovando a nossa mente segundo aquilo que procede de Deus, não daremos
oportunidade ao diabo de levar vantagem sobre nós roubando a nossa boa firmeza em Cristo.
Os cristãos não devem praticar qualquer forma de furto, mas devem trabalhar naquilo que é
bom para que tenham sustento e o que repartir com os necessitados.
Não devem falar senão aquilo que seja bom e necessário para a edificação pessoal e mútua,
ministrando graça aos que os ouvem. Para isto nunca deverão falar palavras torpes e vãs (Ef
4.29), e os que são dados a este tipo de prática devem pedir a Deus que limpe as suas mentes,
para que suas línguas não sejam usadas como instrumento de maledicência e torpeza.
A desconsideração destas recomendações, e a falta de empenho na prática de um viver
segundo a verdade revelada nas Escrituras, entristece o Espírito Santo, com o qual fomos
selados para o dia da nossa redenção, quando da volta do Senhor.
De maneira que este ato de entristecer o Espírito
apaga o fogo do Espírito que é sumamente necessário para que possamos viver tudo o que
nos foi ordenado por Deus.
Por isso, toda a amargura, e cólera, e ira, e
gritaria, e blasfêmia, bem como toda forma de
215
malícia, devem ser definitivamente arrancadas do viver do cristão (Ef 4.31).
Em vez destas coisas que Deus abomina, nós
devemos ser bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-nos uns aos outros,
como também Deus nos perdoou em Cristo.
A medida de fé é diferente de cristão para cristão.
A medida de graça é recebida por cada um deles
conforme o dom de Cristo.
Mas a medida de pureza deve ser a mesma, independente da sua estatura espiritual.
Tanto o copo pequeno quanto o copo grande
devem estar inteiramente limpos pelo Espírito, mediante o sangue de Cristo, para o uso de Deus.
Os cristãos devem ser amáveis mutuamente, e
não poderão portanto viver isto caso se deixem vencer por um espírito de amargura, orgulho,
impureza, gritarias, iras, mentiras e tudo o mais que é incompatível com o Espírito de Cristo.
216
O Trabalho Paciente na Lavoura de Deus
Deus constituiu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres e os deu à igreja
para que os santos fossem aperfeiçoados espiritualmente para o desempenho dos seus
respectivos ministérios, de maneira que a Igreja seja edificada como o corpo de Cristo, como se afirma em Ef 4.11,12.
Não foi portanto a Igreja que foi dada aos ministérios, mas estes que foram dados por
Cristo à igreja, para que a sirvam, de maneira que todos, estando vinculados em amor,
cheguem à unidade da fé e ao pleno conhecimento do Filho de Deus, por atingirem o
amadurecimento espiritual, que é segundo a medida da estatura da plenitude de Cristo, ou
seja, que tem em Cristo o seu modelo e exemplo até o ponto em que deve crescer, e não no
homem, como lemos em Ef 4.13.
É somente quando se atinge este
amadurecimento espiritual que se deixa de ser menino na fé, bebê em Cristo, cristão carnal,
transformando-se em cristão espiritual, que tudo discerne e de ninguém é discernido, senão
pelos que são também espirituais.
Quando se atinge a maturidade espiritual o
cristão se torna uma coluna na casa de Deus, que é a Igreja (não nos referimos a templos, mas
ao corpo de crentes), porque já não poderá ser desviado da sua firmeza de fé por qualquer
vento de falsa doutrina, engendrada pela astúcia
217
e fraudulência dos homens, que maquinam o erro; ao contrário eles crescem mais e mais em
tudo, seguindo a verdade em amor, nAquele que é a cabeça da Igreja, a saber, Cristo.
Fora de Cristo, da comunhão com Ele, não é
possível haver tal crescimento harmonioso de todos os membros da Igreja.
Por isso eles necessitam permanecer nEle para
que seja operada esta justa cooperação de cada membro do Seu corpo, para que seja efetuado
este crescimento para a edificação da Igreja em amor.
É isto que distingue congregações de congregações, porque ainda que sejam
formadas por verdadeiros filhos de Deus, há de se ver crescimento espiritual naquelas em que os cristãos estejam perseverando na obediência
à doutrina dos apóstolos, e para tanto, se requer que esta seja devidamente pregada e ensinada.
Onde não houver tal pregação e ensino, que devem ser segundo a sã doutrina, jamais se
poderá esperar que em algum tempo a congregação chegue a um amadurecimento por
parte da quase totalidade dos seus membros.
Contudo, onde houver tal pregação e ensino, é razoável que se espere o referido
amadurecimento, e ainda que alguns membros cheguem a ele tardiamente, terão implantadas
neles as palavras de vida eterna que germinarão no tempo próprio conforme a operação do
Espírito de Deus.
218
Mas como o Espírito fará germinar uma semente que não foi plantada pela pregação e
ensino da verdade?
Daí ser requerida paciência dos ministros do evangelho enquanto aguardam pelo fruto do
seu trabalho, que será certamente honrado pelo Senhor (Tg 5.7-11).
219
A Deus Pertence Toda a Glória
Deus tem exibido todo o Seu amor e misericórdia, adotando pecadores imperfeitos,
transgressores da Sua vontade, como Seus filhos amados, e transformando-os
pacientemente à exata imagem de Jesus.
Se houvesse alguma participação meritória do
homem na salvação por alguma obra que fosse necessária que este praticasse em prol da sua
salvação, toda esta glória devida a Deus teria que ser repartida com o homem, e já não seria mais
pela exclusiva graça e misericórdia de Deus, e o homem teria pelo menos algo em que se gloriar,
como Paulo afirma em Ef 2.9.
Como toda glória humana está contaminada
pelo pecado do orgulho, graças a Deus que em Sua infinita sabedoria planejou nos salvar
deixando toda a glória para o Seu Filho Jesus Cristo que realiza todo o trabalho da nossa
salvação.
As boas obras se seguirão à salvação, mas não terão nenhuma participação nela, para que
continue sendo um dom gratuito de Deus para nós pecadores.
Deus é justo e importa que sejamos justos pela prática da justiça.
Se fomos criados pela graça em Cristo Jesus, o qual é justo, então devemos viver da mesma
maneira justa como Ele viveu, sujeitando-nos a Ele e Lhe permitindo que manifeste a Sua justiça
em nós.
220
Para tal propósito, ao morrer e ressuscitar, Jesus revogou a Antiga Aliança que consistia na “lei
dos mandamentos contidos em ordenanças” (Ef 2.15).
Ele não revogou a lei, porque disse que não veio revogar a lei e os profetas, fazendo com isto uma
referência às Escrituras do Velho Testamento, mas efetivamente revogou a Antiga Aliança, para que entrasse em vigor a Nova, instituída no
Seu sangue.
Hoje, tanto judeus quanto gentios são chamados
a se aproximarem de Deus com base na Nova Aliança, e de ambos, Deus fez um só povo, de
maneira que o verdadeiro Israel de Deus é composto agora somente por aqueles que
pertencem a Jesus Cristo, conforme foi planejado por Deus desde antes que houvesse
mundo, e conforme havia revelado e prometido a Abraão, antes mesmo de formar o povo de
Israel através de Jacó, como se lê em Ef 2.13-18.
Jesus é o alicerce, o fundamento do grande
templo espiritual que Deus está construindo nEle, no qual os cristãos são as pedras vivas
deste edifício.
Estas pedras vivas são lapidadas pelo Senhor
para serem ajustadas em perfeita unidade umas às outras. Este trabalho é iniciado enquanto
peregrinamos neste mundo, é será completado quando a Igreja for arrebatada por Jesus para o
encontro com Ele entre nuvens.
Neste trabalho somos apenas cooperadores do
Senhor -orando, pregando e ensinando o
221
evangelho, mas é Ele que tudo faz pacientemente, quer para nos converter, quer
para nos santificar. Somente Ele pode nos purificar do pecado e operar o nosso
crescimento espiritual. Por isso somente a Ele deve ser tributada toda a glória e todo o louvor.
222
É Tudo de Cristo e por Cristo - Nada é Nosso
Todo pecador que se encontra em comunhão
com Deus é um pecador que foi salvo, porque ninguém pode vir verdadeiramente a Deus a
não ser que tenha sido salvo por Jesus Cristo.
Mesmo depois de convertido é por causa de Jesus Cristo que todo homem pode continuar se
aproximando de Deus, como lemos em João 14.6.
Todos os que agora são cristãos se encontravam antes da sua conversão mortos nos seus delitos
e pecados, e foram vivificados por Cristo quando se uniram a Ele, e é esta união com Cristo que
lhes torna santos e fiéis (Ef 2.1-3).
Cristo é a salvação, a justiça e a santificação deles (I Cor 1.30).
Nada do que têm que seja celestial, espiritual e
divino é propriamente deles, mas de Cristo, que manifesta tal novidade de vida neles.
Assim nada temos que nos gloriar em nós mesmos, porque não temos qualquer santidade
e fidelidade de nós mesmos.
Isto está em Cristo e é dEle que o temos recebido por meio da Sua bondade e graça, que são
favores imerecidos, que recebemos livre e gratuitamente de Deus.
Cristo fez tudo o que era necessário para sermos
livrados do pecado e da condenação eterna, e agora Deus pode nos oferecer livre e
gratuitamente a salvação, sem que seja exigida qualquer obra de nossa parte, a não ser a nossa
fé nEle.
223
Esta salvação, que recebemos deve ser desenvolvida (crescer, amadurecer) pela nossa
obediência à verdade, porque foi para este fim que fomos salvos, e isto deve ser feito
principalmente pelas boas obras de justiça que Deus preparou desde antes que houvesse
mundo, para que as praticássemos e vivêssemos nelas, em demonstrações, principalmente, do nosso amor ao próximo.
Este é o trabalho da graça com a qual somos salvos.
Não inclui nada de nós mesmos senão o ato
voluntário de nos entregarmos a Deus, porque até mesmo a fé e o arrependimento, que são
necessários à salvação, também são recebidos dEle, pela Sua graça e misericórdia
manifestadas a nós.
Por isso se diz em Ef 2.5: “pela graça sois salvos”, e no verso 8: “pela graça sois salvos, por meio da
fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus."
Tendo sido salvos pela graça, Deus nos colocou
na condição de ressuscitados juntamente com Cristo, porque pela fé nos tornou participantes,
tanto da Sua morte na cruz, para a nossa redenção, quanto da Sua ressurreição, para a
nossa justificação, regeneração, santificação e glorificação; porque morremos em Cristo, para
podermos participar da plenitude da Sua vida, como se afirma em Ef 2.6.
Por isso se diz no mesmo verso que Deus nos
assentou nas regiões celestiais em Cristo Jesus.
224
Isto indica uma posição de descanso espiritual que foi alcançada nEle, por meio dEle, isto é, a de
termos acesso às coisas celestiais, as quais jamais poderíamos alcançar sem Cristo.
Na comunhão com Ele temos sido feitos participantes destas realidades celestiais,
espirituais e divinas.
Assim, não devemos tocar a vida cristã pela
nossa própria virtude e poder (Atos 3,12), mas permitindo que Jesus manifeste a Sua virtude e
poder em nós; porque a ninguém foi dado poder para reproduzir esta vida de Cristo pelo próprio
mérito e esforço - é Ele próprio que deve viver e atuar em nós. O ramo não pode viver e frutificar
fora da Videira Verdadeira.
Devemos portanto orar para que o Senhor nos
use, nos transforme, nos aquiete com Sua paz, nos faça amar, perdoar, louvar, e lhes sermos
gratos em toda e qualquer circunstância.
Como serei livrado se Ele não me livrar?
Como estarei em paz e sossegado se Ele não controlar meu coração e emoções?
Tudo o que é agradável a Deus em nosso viver se encontra em Cristo e não propriamente em nós.
É nEle então que devemos buscar todas as coisas que se referem a uma genuína vida cristã.
225
É Nosso ou do Senhor?
Quantas vezes nos deparamos com reações e
ações que gostaríamos de não ter porque elas nos ferem e a outros também.
Se somos cristãos, se somos sinceros em nosso
desejo de agradar a Deus, por que então estas coisas sucedem conosco?
Afinal não temos procurado ser amorosos, longânimos, pacificadores, mansos,
misericordiosos, perdoadores, pacientes e tolerantes?
Lemos as nossas bíblias, aceitamos que suas
ordenanças são verdadeiras e nos dispomos a nos submeter a elas, e nos empenhamos para
atingir este alvo, mas por que então quando algo de extraordinário acontece, quando somos
provocados por alguém, ou quando surgem situações em que não conseguimos discernir
que estamos sendo provados por Deus, reagimos exatamente do modo oposto daquele
que temos aprendido na Bíblia?
Como isto pode suceder uma vez que temos de fato amadurecido nestas virtudes cristãs que
acabamos de citar, e que são componentes do amor de Deus?
Será por que temos confiado na nossa longanimidade, paciência, misericórdia, etc,
em vez de confiarmos em Cristo para ativar tais virtudes em nós, especialmente quando delas
necessitamos?
226
Afinal, estas virtudes são nossas ou do Senhor atuando em nós?
Se são do Senhor, então dependemos de estar em verdadeira comunhão com Ele, a qual é
ativada por nossas orações, e por caminharmos humildemente perante Ele, reconhecendo que
nada somos ou podemos fazer em relação a pensamentos, palavras, ações, reações,
especialmente no nosso relacionamento com o nosso próximo, quando somos tentados ou
provocados.
O amor de Deus não é provocado facilmente, como se lê em I Cor 13.
Mas o nosso amor natural quanto é provocado
facilmente!
É o amor de Deus em nós que nos habilita a suportar ofensas sem que nos magoemos ou
fiquemos ressentidos, e continuemos amando e perdoando aqueles que nos ofendem.
Mas isto não existe em nossa natureza terrena.
Dependemos de recebê-lo diretamente do Senhor.
Mágoas, ressentimentos, iras, falta de perdão, de mansidão, e de tudo o mais que nos
incapacita de amarmos como Deus ama, nos domina quando confiamos em nossa própria
virtude e poder, e não dependemos de Deus para sermos preservados de todas estas coisas
citadas.
227
Escolhidos para o Propósito de Amar
Todos os que atendem ao convite da salvação
pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo, são estes que a Bíblia chama de eleitos de Deus.
Este trabalho rico da graça em favor dos eleitos se tornou possível porque Jesus Cristo os
redimiu dos seus pecados com o Seu sangue, como Paulo afirma em Ef 1.7.
O texto de Romanos 8.28-30 nos ajuda a
entender o modo desta eleição.
“28 E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito.
29 Porque os que dantes conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos;
30 e aos que predestinou, a estes também
chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também
glorificou.”
Este texto no diz que aqueles que amam a Deus
têm todas as coisas concorrendo para o bem deles, porque tudo estará cooperando para o seu
aperfeiçoamento espiritual em santidade, conforme o propósito da vocação deles por
Deus.
228
Estes que agora amam a Deus não foram chamados porque O conheciam e O amavam
antes da chamada deles, mas, porque Deus se revelou a eles, por meio de Jesus Cristo e do
trabalho do Espírito Santo.
Assim, eles amam a Deus porque Ele os amou
primeiro.
Além disso, é dito diretamente que esta chamada é segundo o propósito eterno de Deus de adotar como Seus filhos aqueles que dentre
os pecadores viessem a Lhe amar.
Todos aqueles que têm sido diligentes para a santificação das suas vidas podem comprovar
para si mesmos que têm de fato recebido a graça necessária para conhecer o mistério da vontade
de Deus, segundo o Seu bom desejo que propusera em Cristo, para que na presente
dispensação da plenitude dos tempos, que é a da graça ou do derramar do Espírito Santo em todas
as nações, faça convergir em Cristo todas as coisas, quer as do céu, quer as da terra, de
maneira que Ele tenha autoridade, tanto sobre os espíritos aperfeiçoados no céu, quanto sobre
os que se encontram ainda na terra, como se vê em Ef 1.9,10.
Por causa da sua união com Cristo os cristãos têm recebido por promessa de Deus uma
herança incorruptível no céu, e para terem a certeza de que serão herdeiros juntamente com
Cristo, conforme Deus havia predestinado desde antes da fundação do mundo, para que
assim fosse, conforme o conselho da Sua
229
vontade, o Espírito Santo habita nos cristãos como um selo e penhor divino de que entrarão
de fato na posse desta herança que eles alcançaram por causa da união deles com
Cristo, como se vê em Ef 1.11 a 14.
O conselho da vontade de Deus é tudo aquilo que
Ele tem planejado desde toda a eternidade conforme a Sua exclusiva autoridade e
soberania.
Quanto à nossa salvação nós vemos em Hebreus
6.17 que este conselho é imutável.
Em Atos 2.23 nós vemos que Jesus foi entregue
por nós conforme o conselho determinado e presciência de Deus.
Em Atos 4.28 é dito que a perseguição de Herodes, de Pilatos e do povo contra a Igreja
estava acontecendo conforme Deus havia predeterminado no Seu conselho eterno,
porque Ele planejou que o evangelho avançaria em meio a perseguições e oposições, para que
Ele receba muita glória nas vitórias sobre os poderes que se opõem à Sua santa vontade.
Em Atos 20.27 nós vemos Paulo afirmando aos
Efésios que não havia se esquivado de lhes anunciar todo o conselho de Deus.
A palavra boulê usada no original grego para conselho, no texto de Ef 1.11 é a mesma que é
usada em todos estes demais textos, que acabamos de citar.
Então as ações contra a Igreja já estavam determinadas por Deus desde antes da fundação
do mundo, como vemos em At 4.28, para a Sua
230
exclusiva glória, pelo testemunho dos Seus servos no amor a Ele e à verdade, na medida em
que teriam a fé deles aperfeiçoada por estas tribulações, que vêm aos cristãos como
oposições de Satanás.
É declarado nas Escrituras quanto à salvação dos
que creem em Cristo, que o caráter do decreto eterno é imutável, isto é, os que foram salvos,
jamais poderão perder a condição de filhos de Deus porque foram marcados por um conselho
que é imutável e absoluto quanto a isto.
De igual modo é também imutável o conselho
quanto ao crescimento destes eleitos na graça e no conhecimento de Jesus, mas ele não é
absoluto quanto à sua execução relativamente a todos os cristãos, porque este crescimento não
dependerá somente da vontade de Deus, mas também do empenho e diligência de cada
cristão em santificação.
Ainda que esteja determinado que todos eles
serão perfeitos em santidade na glória, porque Deus é santo, e importa que Seus filhos sejam
santos, no entanto, enquanto eles estiverem neste mundo se verá mais progresso em
santidade em uns do que em outros. Haverá amor, demonstrado na prática por Deus, mais
em uns do que em outros.
Mas todos devem crescer em estatura espiritual
por um ato de escolha voluntária, porque não há amor e obediência verdadeiros que não sejam
voluntários.
231
De modo que quanto maior for a obediência ao Senhor e aos Seus mandamentos, maior será o
amor que teremos por Ele.
Todavia, isto implica a necessidade de cooperação com o trabalho do Espírito Santo
para que haja o referido crescimento espiritual em amor.
232
A Busca de Justiça Social
Muitos sonham com um mundo mais justo e
não são poucos os que lutam para que haja uma maior justiça social, como estão fazendo por
exemplo, muitos brasileiros neste momento.
Todavia, tudo tem sido colocado na conta de responsabilidade dos políticos e dos
governantes, na expectativa de que haverá justiça social pelo simples fato de se
promulgarem melhores leis, e medidas executivas sérias e responsáveis, sobretudo
para eliminar a corrupção.
Pouco se fala de justiça social da própria sociedade como um todo.
Onde se achará uma verdadeira justiça social
quando o próprio cidadão é injusto?
Podemos dizer que o povo é inocente e justo? Que é composto somente por pessoas honestas,
praticantes do que é justo e verdadeiro, que abominam toda forma de mal, e que amam o seu próximo como a si mesmos, e buscam cultivar
um coração puro e santo?
Há justiça nos lares, nos locais de trabalho, nos condomínios, no comércio, enfim, em todas as
áreas de atividade humana?
Deus quer ser louvado por Seu grande amor e bondade para conosco, e pela Sua Grandeza e
Majestade.
Especialmente quando Ele nos livra dos nossos fardos, canseiras, opressões, e coloca alegria e
paz nos nossos corações, devemos expressar a
233
nossa gratidão a Ele com cânticos de louvor ao Seu santo nome.
O modo de se achar descanso e paz para as nossas almas nesta vida é buscando isto em
Jesus, por um andar no Espírito e na verdade, guardando as ordenanças de Deus relativas
sobretudo ao modo como devemos nos comportar nas diversas situações que somos
chamados a atuar como cônjuges, pais, irmãos, filhos, servos, senhores, e em quaisquer outras.
No caso de cônjuges quão importante é preservar o matrimônio conforme foi instituído
por Deus, pois isto é segurança tanto para os cônjuges, quanto para os filhos, e quem lucra é
toda a sociedade, porque a família é a sua célula máter.
Quanto aperfeiçoamento pessoal decorre do fortalecimento dos laços familiares pela
perseverança no amor, corrigindo as faltas e aperfeiçoando as virtudes, chega-se ao ponto de
se poder dizer: lar, doce lar.
Os cônjuges devem se respeitar mutuamente e
tudo fazer em prol do bem estar um do outro.
Deus projetou o casamento para ser uma ilustração da união que há entre a Igreja e Cristo.
Esta união é de caráter indissolúvel e tem um
cabeça que é Cristo, e de igual modo o marido foi dado como cabeça (líder) da família.
Quando o marido prevarica nesta sua função ou quando ela é usurpada pelos demais membros
da família, esta não poderá andar debaixo da
234
bênção e aprovação do Senhor, que deu ao homem a direção do seu lar.
Esta direção do homem deve ser realizada em amor sacrificial pelo bem estar de todos, quer
esposa, quer filhos.
A esposa e os filhos devem tudo fazer para que o
homem tenha sucesso na liderança da qual deve prestar contas a Deus.
O modo dos filhos fazê-lo é sendo obedientes a seus pais em todas as coisas.
No caso das relações externas de trabalho, os
que estão na condição de empregados devem em tudo obedecer a seus empregadores, em relação às condições contratuais estabelecidas e
em tudo o que se refira a um bom comportamento, que deve ser sóbrio e
criterioso em todas as coisas.
O grau da fidelidade do serviço que prestam deve ser medido como se tudo fizessem não
para homens, mas como para o próprio Senhor Jesus Cristo.
Em relação às autoridades devem ser submissos em tudo o que não contrarie aos princípios
revelados por Deus, sabendo que não é a pessoa propriamente dita que estão obedecendo, mas
ao cargo de autoridade que ocupam.
Mesmo aos que se encontram em posição de
liderança sobre eles, e que sejam injustos e maus, devem os cristãos estarem sujeitos em
mansidão de espírito, caso lhes seja devida tal submissão (chefes, autoridades etc), porque
somente a Deus cabe todo julgamento, e Ele tem
235
prometido que retribuirá no dia do seu Grande Juízo, a cada um pelas injustiças que tiver
praticado, e das quais não tiver se arrependido.
No caso dos que lideram (empregadores, autoridades etc) estes devem tratar aos que se
encontram debaixo da sua liderança com justiça e equidade, porque terão que responder perante
Deus sobre tudo o que tiverem feito contra este princípio divino.
Em suma, esteja o cristão em qualquer posição considerada, o seu procedimento deve ser de amor em relação ao seu próximo, conforme nos
é ordenado por Deus em Sua Palavra.
236
Manter a Chama Acesa
Quando a dispensação da Lei - ou Velho
Testamento, foi inaugurada nos dias de Moisés, os serviços de culto no tabernáculo começaram
depois que veio fogo diretamente do céu, e acendeu a lenha que se encontrava sobre o altar dos holocaustos, cabendo dali por diante, aos
sacerdotes, manterem aquele fogo aceso continuamente.
De igual modo, quando a dispensação da Graça - ou Novo Testamento, foi inaugurada por nosso
Senhor Jesus Cristo, veio o fogo do Espírito Santo, desde o céu, não para queimar alguma
lenha, senão para purificar e encher de poder os próprios discípulos do Senhor, que estariam
encarregados, dali por diante, em propagar a mensagem do evangelho.
A incumbência de manter este fogo do Espírito
aceso na Terra, mais especificamente nos corações dos servos do Senhor, não foi dada aos
anjos, mas aos próprios crentes.
Eles não devem permitir que o fogo do Espírito
Santo seja apagado em suas vidas e na Igreja, e a "lenha", o combustível, que o manterá aceso é a
meditação e prática da Palavra de Deus, aplicada às suas vidas pelo Espírito Santo.
A Palavra do evangelho não foi produzida na
Terra, mas nos veio diretamente por uma revelação do céu, por meio do Senhor Jesus
Cristo.
237
Assim a vida espiritual que há nos discípulos do Senhor, se move neles pelo Espírito Santo, em
conformidade com a prática desta palavra revelada.
Por isso diz o apóstolo que não devemos
procurar esta nossa nova vida espiritual buscando as coisas que são terrenas, senão as
que são celestiais e divinas (Col 3.1-4).
É nas coisas celestiais e espirituais que deve
estar concentrado o nosso pensamento, para que possamos receber o crescimento na graça
que procede de Deus.
Como a nossa mente estava naturalmente inclinada para as coisas deste mundo, antes da
nossa conversão, e não podia entender as coisas espirituais que são discernidas espiritualmente,
há portanto uma necessidade de que ela seja renovada pelo Espírito, segundo a Palavra da
verdade.
Nós morremos para os rudimentos do mundo,
quando nós cremos em Cristo, e a nova natureza celestial que nós recebemos está escondida em
Cristo, em Quem nós devemos buscar o crescimento desta nova natureza espiritual.
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Os que Enganam São Também Enganados
"Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados." (2
Tim 3.13)
Nunca foi e jamais será uma boa política tentar prevalecer através de enganos, porque os que
enganam serão também enganados por Satanás para a própria destruição deles.
Não que o diabo seja o guardião da verdade e da justiça, mas porque é todo o seu prazer usar os
que são dados à prática do engano para depois destruí-los, porque afinal ele não admite
concorrentes na sua principal esfera de atuação que é a de roubar, matar, enganar e destruir.
Assim, é permitido por Deus que todos aqueles que amam a mentira e o engano sejam
entregues a si mesmos, e pecando deliberadamente contra Ele, ficam também
sujeitos à esfera de engano produzido pelo Inimigo, sendo todos sujeitados por fim ao juízo
de condenação do Senhor, caso não se arrependam.
Nós podemos ver isto com muita clareza na narrativa bíblica de I Reis 22.
Os eventos narrados no capítulo 22 de I Reis se referem ao 22º ano do reinado de Acabe,
correspondente ao ano da sua morte na batalha que empreendeu contra o rei da Síria, para
retomar a cidade de Ramote-Gileade,
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pertencente a Israel, que se encontrava sob o domínio da Síria.
Acabe chamou o rei Josafá de Judá para se aliar a
ele nesta batalha, e seria difícil a Josafá recusar o convite, porque a filha de Acabe com Jezabel,
chamada Atalia, havia sido dada como esposa a Jeorão, filho de Josafá, certamente para selar
uma aliança de ajuda mútua feita entre ambos os reis.
Josafá, que era um homem de Deus, equivocou-
se quanto a isto, deixando que o lado político falasse mais alto, porque deve ter pensado numa
possibilidade de Israel e Judá voltarem a formar no futuro uma única unidade federativa, sob o
governo de um dos reis de ambas as casas, que viesse a contar com o apoio da maioria em
Israel.
Entretanto, Jeorão, filho de Josafá, matou todos os seus irmãos quando assumiu o trono de Judá,
no lugar de seu pai.
E andou nos caminhos de Acabe e não nos de
Josafá, seu pai, e assim como Acabe se deixou influenciar por Jezabel, ele também se deixou
influenciar por Atalia (II Crôn 21.1-6).
Assim, a amizade de Josafá com Acabe não lhe trouxe apenas constrangimentos como os que
nós lemos neste capítulo de I Reis 22, como dificuldades ao seu reino, e sobretudo a
importação do culto a Baal em Judá, através de Atalia, filha de Acabe, quando Jeorão, filho de
Josafá, assumiu o trono.
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O rei Josafá tinha em alta conta não somente o Senhor como a Sua Palavra, o seu culto, os seus
profetas, e o rei Acabe tinha um desprezo por tudo isto, e como poderia então haver uma tal
sociedade da justiça com a injustiça?
Nós vemos no texto paralelo de II Crônicas, relativo ao reinado de Josafá, os contratempos
que ele teve que experimentar por conta desta sociedade com Acabe.
Em II Crôn 19.2 nós vemos por exemplo a
repreensão que lhe foi dirigida pelo profeta Jeú, quando ele retornou a Jerusalém depois da
batalha em que se aliou a Acabe para lutar contra os sírios:
“Mas Jeú, filho de Hanani, a vidente, saiu ao encontro do rei Josafá e lhe disse: Devias tu ajudar o ímpio, e amar aqueles que odeiam ao
Senhor? Por isso virá sobre ti grande ira da parte do Senhor.”.
E a primeira dificuldade que ele teve que enfrentar foi ter que guerrear contra os
moabitas, os amonitas e meunitas, que vieram contra ele em grande multidão:
“Depois disto sucedeu que os moabitas, e os
amonitas, e com eles alguns dos meunitas vieram contra Josafá para lhe fazerem guerra.
Vieram alguns homens dar notícia a Josafá, dizendo: Vem contra ti uma grande multidão de
Edom, dalém do mar; e eis que já estão em Hazazom-Tamar, que é En-Gedi.” (II Crôn
20.1,2).
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Mas ele foi bem sucedido, porque apesar do mal ter sido despertado contra ele, Josafá buscou o
Senhor e saiu vitorioso nesta guerra.
Depois de Acabe, Josafá se aliançou ainda, por
força das circunstâncias a Acazias, filho de Acabe, e teve também dificuldade por conta
desta aliança:
“35 Depois disto Josafá, rei de Judá, se aliou com
Acazias, rei de Israel, que procedeu impiamente;
36 aliou-se com ele para construírem navios que fossem a Társis; e construíram os navios em
Eziom-Geber.
37 Então Eliézer, filho de Dodavaú, de Maressa,
profetizou contra Josafá, dizendo: Porquanto te aliaste com Acazias, o Senhor destruiu as tuas
obras. E os navios se despedaçaram e não puderam ir a Társis.” (II Crôn 20.35-37).
Contudo ele aprendeu a lição de não se aliar
àqueles que eram tidos na conta de inimigos de Deus, porque tendo Acazias se oferecido para
enviar homens de Israel com os de Judá nos navios, ele recusou tal ajuda (v. 49).
Nós vemos no capítulo 20 de I Reis que Acabe havia poupado o rei da Síria quando este lhe foi
dado em suas mãos pelo Senhor, para ser morto, e por causa disto um profeta lhe disse que a vida
de Acabe responderia pela vida de Ben-Hadade (v. 42), isto é, este seria deixado então em vida
enquanto Acabe seria morto.
E isto sucederia na batalha pela tentativa da
retomada da posse de Ramote-Gileade.
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Josafá não se dispôs a ir com Acabe à peleja sem que antes fossem consultados os profetas do
Senhor.
Porque em vez destes, Acabe chamou os novos
400 falsos profetas do Aserá de Jezabel que haviam sido colocados como substitutos dos
que haviam sido mortos por Elias.
E todos eles, que eram falsos profetas, não falavam evidentemente da parte do Senhor, senão pelos espíritos malignos mentirosos e
pela própria imaginação deles, sempre com o intuito de agradarem ao rei, falando-lhe
somente aquilo que ele gostaria de ouvir.
E nesta ocasião, conforme seria revelado posteriormente por Micaías, que era um
verdadeiro profeta do Senhor, que nesta condição, era rejeitado por Acabe, o Senhor
permitiu a Satanás que enganasse os 400 falsos profetas, não permitindo que nenhum deles
dissesse a Acabe que não fosse àquela batalha, como também não lhe diria por meio de
nenhum dos seus verdadeiros profetas, o que ocorreria com ele em Ramote-Gileade, porque o
Senhor havia determinado que ele seria morto naquela batalha, por todo o grande mal que
havia trazido para o povo de Israel e do qual não havia se arrependido.
Então, como seria revelado posteriormente, por Micaías, um espírito imundo se apresentou ao
Senhor pedindo para enganar Acabe, mentindo-lhe pela boca de todos os seus falsos profetas,
que seria bem sucedido na batalha.
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O diabo veio roubar, matar e destruir.
E então estaria cumprindo assim o seu
ministério de enganar para que Acabe fosse morto.
Sem a permissão divina ele não poderia fazê-lo, caso Deus tivesse outros planos em relação à sua
vida, mas o engano seria permitido naquela situação, porque estaria atendendo ao propósito
do Senhor de colocar um termo nas perversidades do rei de Israel.
Quando Deus pretende induzir pessoas rebeldes à destruição, ele pode permitir que espíritos
malignos conduzam tais pessoas ao erro, ao engano, à morte, porque em vez de amarem a
verdade, elas amaram a mentira, e pela própria mentira que elas amaram, elas serão
destruídas:
“E por isso Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira; para que sejam
julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na injustiça.” (II Tes
2.11,12).
E foi este o caso que ocorreu com Acabe.
Josafá, que possuía discernimento espiritual
não se convenceu com a unanimidade da resposta daqueles 400 homens, e perguntou a
Acabe se não havia algum outro profeta do Senhor, que pudesse consultar a Deus em favor
deles.
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Ele disse “outro” não porque considerasse aqueles 400 como o sendo de fato, mas por uma
questão de cortesia para com Acabe para não ofendê-lo.
O que era um desagrado para Acabe era um agrado para Josafá, porque aquele afirmou que
não gostava do profeta porque somente lhe falava aquilo que não lhe interessava ouvir.
E por isso Micaías foi apertado pelo oficial que foi buscá-lo para falar ao rei, para que dissesse o
que os demais haviam dito, isto é, que ele seria bem sucedido na batalha, uma vez que Acabe
não suportava ser contrariado, mesmo se fosse para ouvir a verdade que lhe fosse dita da parte
de Deus.
Todavia, Micaías disse ao oficial com toda a
convicção que falaria somente a palavra que o Senhor colocasse na sua boca (v. 14).
Ele havia visto todo o exército de Israel disperso
pelos montes, como ovelhas que não têm pastor, e o Senhor dizendo que já que eles estavam sem liderança, que voltassem então em paz para suas
casas (v. 17).
Isto era uma clara visão de que Acabe seria morto naquela guerra, e todo o seu exército
bateria em retirada, e os sírios não empreenderiam nenhuma perseguição a eles,
porque a intenção de Ben-Hadade naquela batalha era a de matar somente a Acabe.
Mas como Micaías havia sido pressionado a falar como os demais profetas, e tendo ele
sabido antecedentemente qual foi o motivo de
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terem dito a Acabe que subisse à peleja, ele usou de ironia quando Acabe lhe perguntou se
deveria ir ou não a Ramote-Gileade, dizendo que deveria subir à peleja porque seria bem
sucedido e o Senhor entregaria a cidade nas suas mãos (v. 15).
Percebendo que ele estava usando de ironia,
Acabe o conjurou a dizer a verdade em nome de Deus (v. 16).
Foi então que Micaías lhe declarou a visão que
tivera do exército de Israel, como ovelhas sem pastor, e se retirando em paz para suas casas.
E como Acabe tinha dito a Josafá que Micaías profetizava somente o mal a respeito dele, o
profeta prosseguiu dizendo de que modo ele havia sido enganado pelos 400 profetas, por causa do espírito enganador que falara através
deles (v. 19 a 23).
Diante de tal declaração um daqueles 400 falsos
profetas, chamado Zedequias, feriu Micaías na face e protestou que ele não poderia falar
daquele modo porque o Espírito do Senhor não havia passado dele para falar a Micaías (v. 24).
Ele se mostrou indignado e furioso porque fora
ele o primeiro a profetizar usando inclusive de uma alegoria para convencer os reis Acabe e
Josafá, pois fez uns chifres de ferro e disse que o Senhor lhe dissera que com aqueles chifres eles
feririam os sírios até serem consumidos, e nisto passou a ser seguido por todos os demais
profetas que diziam o mesmo (v. 11, 12).
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Depois disso Acabe mandou que Micaías fosse colocado na prisão e sustentado somente a pão
e água, até que ele voltasse em paz da batalha contra os sírios (v. 27).
E Micaías ainda lhe falou dizendo que caso ele voltasse em paz, então isto comprovaria que
Deus não havia falado por intermédio dele. E disse mais, que todos o ouvissem, para
testemunho de que a palavra que ele havia proferido era verdadeira.
Tal era a obstinação de Acabe e bem conhecida do Senhor, que foi permitido depois dele ter sido
enganado pelos seus falsos profetas, que lhe fosse desvendada toda a verdade do fato através
de Micaías, pois o Senhor sabia que ele iria ao campo de batalha para honrar a mentira que lhe
fora proferida pela boca daqueles 400 homens, que não serviam à verdade e à justiça.
E Acabe era um homem tão dissimulado e
enganador quanto aqueles que o enganaram, que ele na verdade temeu a palavra que lhe fora
proferida por Micaías, mas não o revelaria publicamente por causa da sua vaidade, e então
o que foi que ele projetou? Um outro engano - pois pediu ao rei Josafá que tivesse a honra de
comandar o exército, indo à frente deles com seus trajes reais (de Acabe), e ele se disfarçaria num soldado comum para que Josafá ficasse
mais confortável na posição de chefe de todo o exército.
Ele esperava com isto escapar da morte, e expor
o próprio Josafá ao perigo, e de fato isto teria
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ocorrido se não fosse a misericórdia do Senhor que livrou Josafá, quando estava no campo de
batalha, fazendo com que o grito dele fosse ouvido quando os sírios deram sobre ele para
matá-lo, e serem detidos em sua intenção, porque o reconheceram como não sendo Acabe,
o rei que deveriam matar, seguindo ordens expressas de Ben-Hadade (v. 29 a 33).
Como os juízos de Deus não podem falhar e ele havia determinado que Acabe deveria ser morto
em Ramote-Gileade, então a flecha disparada a esmo por um soldado foi direcionada
sobrenaturalmente até ele e esta atravessou o espaço entre a couraça e a armadura de Acabe,
ferindo-o mortalmente (v. 34, 35).
Então foi cumprida cabalmente a palavra do
Senhor na boca de Micaías, porque tendo Acabe morrido, foi ordenado que os soldados de Israel
voltassem cada um para a sua própria cidade (v. 36).
Acabe foi sepultado em Samaria, mas a palavra
que havia sido proferida contra ele através de Elias, por causa da morte de Nabote, seria
também cumprida, pois o seu carro de guerra foi lavado junto ao tanque de Samaria, e os cães
lamberam o sangue de Acabe, que havia escorrido do seu ferimento para o carro (v. 38).
A longanimidade do Senhor aguardou não pelo arrependimento de Acabe, que em Sua
onisciência Ele sabia que não ocorreria, mas para o cumprimento do juízo que já estava
determinado sobre ele, e que lhe foi proferido
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pelo profeta Elias, conforme consta em I Reis 21.19:
“E falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o Senhor: Porventura não mataste e tomaste a herança?
Falar-lhe-ás mais, dizendo: Assim diz o Senhor: No lugar em que os cães lamberam o sangue de
Nabote, lamberão também o teu próprio sangue.” (I Reis 21.19).
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