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SEX+SÁB+DOM

Os paulistanos do grupo Tablado de Arruar: espetáculo que não se sustenta nem como divertimento e nem como manifesto A banda cover do Kiss em ação no palco do Groove Bar: boas performances e muito carisma

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MÚSICA No palco do Bahia Café Hall,o cantor convidou o público a dançar

Menos ecléticoe romântico,Zeca Baleirofaz show festivo

O cantormaranhenseconvidou Jaupara subir aopalco no showem Salvador

VITOR PAMPLONA

Zeca Baleiro busca desespera-damente fugir de rótulos. Em 10discos (um deles em parceriacom Raimundo Fagner e doisgravados ao vivo), afirmou-secomo um compositor de linhastortuosas, às vezes tão cioso dereferências quanto uma colchade retalhos. Adversário do“bom gosto“ amparado pelacorte da crítica musical, guardaposição firme na barreira dosdefensores do ecletismo.

É um homem de boleros (Co-mo diria Odair), baladas deamor sangrento (À flor da pele),folclore regional (MamãeOxum) e rock. Não necessaria-mente nessa ordem.

No palco do Bahia Café Hall(Paralela), na noite de sábado,Zeca e banda – Tuco Marcondesna guitarra, Fernando Nunes nobaixo, Kuki Stolarski na bateriae Adriano Magoo no teclado eacordeon – emergiram dos ca-marins com poucos resquíciosde melancolia.

Para um público cativo, con-quistado com a inestimável con-tribuição da trilha de sete no-velas, guitarras distorcidas su-focam melodias. Pobre coraçãode donas-de-casa e de moçascom os sentimentos à flor dapele. Guitarras fazem dançar.

Com repertório pinçado so-bretudo de O Coração do Ho-mem-Bomba Vol. 1 (Bola divi-dida, sucesso de Luiz Ayrão de1975; Alma não tem cor, a maispopular música de André Abu-jamra; Vai de Madureira; Você

não liga pra mim; e Toca Raul),o show vai aos poucos se acal-mando.Entramemcenahitsdosdiscos Vô Imbolá (1999) e Líricas(2000): Lenha, a balada baleirapor excelência; Proibida pramim, versão cada vez mais im-provável e constrangedora damúsica do Charlie Brown Jr.; eQuase Nada, canção sobre amo-res incertos cuja letra foi escritapela poeta e compositora cu-ritibana Alice Ruiz, que foi ca-sada com Paulo Leminski.

Palminhas e palhetasNa estrada desde meados dadécada de 1980, embora só te-nha gravado seu primeiro discoem 1997 (Por Onde Andará Ste-phen Fry?), Zeca Baleiro é umartista prudente. Do tipo quecultiva fãs ao arremessar palhe-tas de guitarra para o público,coreografapassosdedançacomos músicos e puxa coro de pal-mas no final de canções can-taroláveis.

Cacoetes e automatismos àparte, a maioria dos versos domaranhense está na boca daplateia. Emociona casais de na-morados e desafia o compositora se aproximar do passado con-fessional e romântico.

O caminho escolhido é outro.Cantor e banda sucumbem a umgrand finale de arrepiar cata-cumbas: Heavy Metal do Se-nhor. A primeira música, do pri-meiro disco de Zeca Baleiro. Aprimeira profecia da obra de umartista que se popularizou comcanções de amor, mas hoje soabarulhento e festivo.

PEDRO FERNANDES

Com o final de Viver A Vida che-gando, uma peça encenada narua pelo grupo paulistano Ta-blado de Arruar com o títuloHelena Pede Perdão e é Esbo-feteada soava bastante promis-sora pela potencial carga de iro-nia. Com texto de Alexandre DalFarra e direção de João Otávio,o espetáculo foi encenado noLargo do São Francisco, sexta esábado, ao cair da tarde.

Helena e Augusto são um ca-sal falido que tem a casa in-vadida por Jack e Mary, pseudoassaltantes e psicóticos que nãoencontram nada para roubar.Entre sessões de tortura psico-lógica, saem juntos pelo mundocomo ativistas, mas as inten-ções não ficam muito claras.

A atuação do quarteto fracas-sa, o que gera um rompimentodo grupo e uma troca de casais.Helena se aproxima de Jack, dequem tem um filho, e Mary vaiembora com Augusto.

Apesar de contar com recur-sos interessantes, como a ins-talação de uma TV que exibecloses do que se passa em cena,

como lágrimas e sorrisos esbo-çados, sugerindo a ligação coma linguagem televisiva, a peça émuito aborrecida.

ReferênciasO enredo rocambolesco, quemistura referências a filmes desuspense americano, folhetimtelevisivo vagabundo e teatrodidático brechtiano, é feito paraconfundir. Embora a história su-giraumciclo,elanãosesustentanem como divertimento, nemcomo manifesto.

O tema “a metrópole e suascontradições” é exposto de ma-neira superficial (violência, ga-nância, opressão no trabalho?),exceto num momento em queum dos atores faz um discursode ódio à cidade São Paulo.

Efeito zero na plateia sosse-gada, formada por crianças, tu-ristas ocasionais e soteropolita-nos de tela de Caribé, sentadosem batentes e escorados nasportas dos casarões ao redor.

Compreende-sequeosatorestenham que gritar, por não con-tar com a acústica de um teatro,mas a preparação vocal não éboaosuficienteeosberroscons-tantes soam estridentes.

Apesar de ser encenada ao arlivre, poucas técnicas de teatrode rua são empregadas. Comum semicírculo de carvão quedistanciava o público da cena ecadeiras dispostas ao redor, aprodução deixa claro que esta-ria melhor instalada num tea-tro. Mesmo assim, essa provi-dência seria incapaz de salvar aprodução do constrangimentoque provoca por conta da suamá qualidade.

Destroyer Kiss Cover é tributo fidelíssimo

CHICO CASTRO JR.

Um público menor do que o es-perado – possivelmente, devidoa fraca divulgação do evento –compareceu ao Groove Bar nasexta-feira, para o primeiro diadeapresentaçõesdabandaDes-troyer Kiss Cover.

Ainda assim, fiel ao espíritodo Kiss, a banda paulista, ga-nhadora de um concurso no Do-mingão do Faustão, fez um beloe fidelíssimo tributo aos mas-carados novaiorquinos.

Com o repertório estritamen-te centrado no filé da banda(fase mascarada, entre 1973 e82), Fábio Stanley (voz, guitar-

O espetáculoexpõe o tema“a metrópole esuas contradições”de maneirasuperficial

ra), Tutú Simmons (voz, baixo),Rodrigo Frehley (guitarra solo,voz) e Léo Criss (bateria, voz)desempenharam seus papéiscom brilhantismo e simpatia.

Destaques para Tutú e Rodri-go – ambos reproduzem seuspersonagens com uma fidelida-de impressionante, incluindo aítrejeitos, vozes e solos, tudo re-produzido nota por nota.

Carisma e humorJá o front man Fábio, se não temo alcance vocal de Paul Stanley(e quem teria?) ganhou a pla-teia pelo carisma e humor, as-sim como Léo Criss, batera deresponsa. Os hits eram cantadosem coro: Deuce, Cold Gin, I LoveIt Loud, Firehouse e a apoteóticaRock ‘n‘ Roll All Nite, com direitoa chuva de papel picado e voltapara casa com a alma lavada.

Com repertórioestritamentecentrado no filé dabanda, os músicosganharam a plateiapela simpatia

José Mauro Brant em cena, histórias com dicção machadiana

Ator à altura do Bruxo do Cosme Velho

MARCOS DIAS

Um ator em completo domíniodos seus recursos foi o que se viuno monólogo Contando Macha-do de Assis, com José MauroBrant, que esteve em cartaz nes-te fim de semana na Caixa Cul-tural Salvador.

Dois contos escritos no século19, Missa do galo (1893) e Ma-riana (1891), com fragmentosde Dom Casmurro, tocam empaixõesobsessivasdossereshu-manos, como o desejo e as trai-ções, para levar ao primeiro pla-no a única fidelidade possívelpara Assis: a linguagem.

Dirigido por Antonio Gilberto,que também assina o roteirocom Brant, o espetáculo foi en-cenado pela primeira vez em2008, no Rio de Janeiro, no anoem que se comemorou o cen-tenário da morte do escritor.

O duro trabalho de dar umcorpo às palavras do Bruxo doCosme Velho – quando se sabeque seus textos podem beirar aintransitividade–só fazcomqueo talento de Brant para contarhistórias e, aqui, mantendo adicção machadiana na íntegra,seja novamente destacado.

Intenso e vazioMesmo que nada mais reste dopudor que fazia com que se vi-brasse ao ver parte do braço ouo “bico... das chinelas“ de al-guém, ou que a alucinação deum amor não passe de níveis desentidos, se os textos levam oleitor à busca do próprio sen-tido,obrigamoatoraatingirumgrau ao mesmo tempo intensoe vazio da performance.

A bem sucedida parceria deBrant com Antonio Gilberto, emtorno de um teatro literário, vaise desdobrar em Salvador e opúblico poderá ver o premiadoFederico García Lorca: Pequenopoema infinito, nesta terça equarta, às 19h30, no TeatroMartim Gonçalves (Canela). Co-mo o Bruxo, esse é outro quenunca vai morrer.

Monólogo reúnetextos dos contosMissa do galo eMariana, comfragmentos de DomCasmurro

Fernando Vivas/ Ag. A TARDE

Diego Mascarenhas / Ag A TARDE

Peça paulistana decepciona

Fotos Thiago Teixeira / Ag. A Tarde

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