Download - Memórias póstumas de Brás Cubas

Transcript
Page 1: Memórias póstumas de Brás Cubas

Memórias póstumas de Brás Cubas

Machado de Assis

Page 2: Memórias póstumas de Brás Cubas

Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas.

Page 3: Memórias póstumas de Brás Cubas

Movimento literário• Realismo brasileiro• Escrito a princípio como folhetim, de março a dezembro de 1880,

na Revista Brasileira, para, no ano seguinte, ser publicado como livro, pela então Tipografia Nacional.

• Publicado em 1881 – marco inicial do Realismo no Brasil e obra inicial da produção realista do autor

• Memórias Póstumas de Brás Cubas retrata a escravidão, as classes sociais, o cientificismo e o positivismo da época, chegando a criar, inclusive, uma nova filosofia, mais bem desenvolvida posteriormente em Quincas Borba (1891) — o Humanitismo, sátira à lei do mais forte. Críticos escrevem que, com esse romance, Machado de Assis precedeu elementos do Modernismo e do realismo mágico de escritores como Jorge Luis Borges e Julio Cortázar,

• Primeiro romance psicológico brasileiro

Page 4: Memórias póstumas de Brás Cubas

Crítica da sociedade• O livro é crítico porque analisa a vida, as relações humanas,

mostrando o quanto algumas são ( prazerosamente ) fingidas – as que partem do desejo humano – ASCENSÃO, PODER E GOZO; e outra (dolorosamente ) verídicas – as que são da natureza, infalíveis – A DOENÇA, A MORTE, A VELHICE, O TEMPO, O AZAR...

• No livro, constata-se que as verídicas se impõem aos homens independentemente se suas vontades tornando as fingidas falíveis.

• Não há crítica direta ou aberta aos personagens – ela é implícita – o leitor é que tem que perceber as características dos mesmos.

• O autor, nesta obra, acabou com o sentimentalismo, o moralismo superficial, a fictícia unidade da pessoa humana, as frases piegas, o receio de chocar preconceitos, a concepção do domínio do amor sobre todas as outras paixões.

Page 5: Memórias póstumas de Brás Cubas

Romance psicológico

• O seu enfoque central não é a vida social ou a descrição das paisagens, mas a forma como seus personagens veem e sentem as circunstâncias em que vivem. Em vez de enfatizar os espaços externos, investe na caracterização interior dos personagens, com suas contradições e problemáticas existenciais.

Page 6: Memórias póstumas de Brás Cubas

Narrador• 1ª pessoa - personagem “esférico”,• Personagem principal – sua visão do mundo• Defunto –autor X Autor-defunto- importância• "Falo sem temer mais nada”• Típico burguês da segunda metade do século XIX, encarna o homem que

passou a vida sem conquistar nenhuma realização efetiva. Se na infância o personagem fora uma criança abastada e protegida, torna-se um jovem adulto leviano, em busca da melhor maneira de tirar vantagem.

• Na maturidade, começa a buscar a compensação pela existência sem nada de notável, sem filhos ou realizações: consegue um cargo público, busca notoriedade e respeitabilidade ao querer tornar-se ministro. Pouco antes de morrer, imagina ainda um último modo de se perpetuar: inventando um emplasto, uma medicação sublime.

• o defunto-narrador-autor é representação metafórica de um Brasil escravista, contaminado por contradições entre o arcaico e o moderno.

Page 7: Memórias póstumas de Brás Cubas

O foco narrativo em primeira pessoa dá ao personagem Brás Cubas o monopólio do texto. Aparentemente, seu relato caracteriza-se por uma postura de isenção, ou seja, prima pela imparcialidade, já que um morto não teria qualquer necessidade de mentir, já que deixara o mundo dos vivos e, assim, abandonara qualquer comprometimento, ilusão ou envolvimento. 

No entanto, se observarmos com cuidado, a obra só poderá ser entendida se começarmos por analisar o que o personagem conta, procurando perceber certos sinais, que indicam que ele mente, exagera e chega, inclusive, a ser incongruente. Brás Cubas manipula a história, mostra-se sempre superior, com mania de grandeza, desde o início de seu relato. Chega a comparar seu relato ao Pentateuco, que é um livro sagrado, histórico, fundador de uma tradição religiosa, atribuído a Moisés, um profeta universalmente importante, insinuando que a diferença radical entre este relato e o seu seria apenas o fato de Brás narrar sua existência partindo da morte e Moisés, seguindo a cronologia normal, tomando o nascimento como início. Logicamente, apenas um grande presunçoso não perceberia a diferença entre as duas narrativas, o grau de importância de cada uma, o que nos revela o grande presunçoso que ainda vive no "defunto-autor" Brás Cubas. 

Page 8: Memórias póstumas de Brás Cubas

Tempo• Digressões , flashback e cronológico• A sequência do livro não é determinada pela cronologia dos

fatos, mas pelo encadeamento das reflexões do personagem. Uma lembrança puxa a outra e o narrador Brás Cubas, que prometera contar uma determinada história, comenta todos os outros fatos que a envolvem, para retomar o tema anunciado muitos capítulos depois.

• Época do primeiro ao segundo império – escravidão. A sustentação do país era agrária, a elite consumia estrangeirismos

• No livro, o tempo que envelhece as pessoas e lhes destrói as ilusões é uma das estruturas centrais

Page 9: Memórias póstumas de Brás Cubas

Técnicas machadianas• Ironia - Machado de Assis utiliza-se da ironia como um recurso para fazer o leitor

desconfiar das declarações, pensamentos e conclusões do narrador Brás Cubas. “Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei".

• Digressão - É o que acontece, por exemplo, na parte inicial do romance, quando Brás Cubas deixa em suspenso por vários capítulos a explicação para sua morte, que prometera desde o início, para passear descomprometidamente por assuntos tão díspares quanto as pirâmides do Egito e a sua árvore genealógica. Quando volta a falar da causa mortis, é para comentar, com ironia "...acabemos de uma vez com o nosso emplasto”. Como se já tivesse explicado antes do que se tratava!

• Conversa com o leitor - O leitor de Machado é constantemente solicitado a interagir criticamente com a obra, distanciando-se ainda mais do modelo de leitura proposto pelos romances românticos, que mobilizam a emoção e a imaginação.

“Veja o leitor a comparação que melhor lhe quadrar, veja-a e não esteja daí a torcer-me o nariz, só porque ainda não chegamos à parte narrativa destas memórias. Lá iremos. Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito bem”.

Page 10: Memórias póstumas de Brás Cubas

Técnicas machadianas• Capítulos curtos- Organizados em blocos curtos, são 160 capítulos • Metalinguagem e experimentação- Exemplo: para traduzir a

frustração de Brás Cubas quando não consegue se tornar ministro, a solução do autor foi deixar o Capítulo 139 em branco. No capítulo seguinte, explica: “Há coisas que melhor se dizem calando; tal é a matéria do capítulo anterior”.

• Eufemismo• Metáforas• Vocabulário elegante• Crítica ao Romantismo- Marcela amou-me durante quinze meses e

onze contos de réis (...)”

Page 11: Memórias póstumas de Brás Cubas

As mulheres de Brás

• Marcela • Eugênia• Virgília• Nhã Loló• Sabina• Dona Plácida

Page 12: Memórias póstumas de Brás Cubas

Pessimismo machadiano• Na obra, há pessoas felizardas, mas não personagens

felizes. Ninguém é verdadeiro ou sincero.• Sofremos porque somos egoístas, vaidosos, porque

sonhamos além da conta, porque a sociedade é mal estruturada, porque os homens se exploram mutuamente...

• Há uma insistência na dor, no fracasso, na implacável passagem do tempo – isto tudo vale para o negro, para o branco, para pobres e para ricos – Não é Determinista.

Page 13: Memórias póstumas de Brás Cubas

Quincas Borba• Amigo de infância• Volta mendigo e enlouquecendo• Prega o Humanitismo• Quincas Borba é importante porque introduz Brás Cubas na teoria

que inventou, o Humanitismo. Na verdade, a teoria do mendigo é uma caricatura que Machado de Assis faz do positivismo e do evolucionismo, teorias científicas e filosóficas em voga na época que atribuem sentido de evolução mesmo às fatalidades da vida.

• A ironia é uma das marcas da obra de Machado de Assis. Nesta obra isso fica claro quando o autor faz com que uma doutrina de valorização da vida seja defendida justamente por um mendigo que morre completamente louco.

• Morre nos braços de Brás

Page 14: Memórias póstumas de Brás Cubas

Humanitismo• - Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas,

pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.

• - Mas a opinião do exterminado?• - Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca

viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias.

Page 15: Memórias póstumas de Brás Cubas

Personagens

• Brás Cubas - narrador - morto aos 64 anos - “ainda próspero e rijo”, fidalgo. Peralta quando criança, mimado pelo pai, irresponsável quando adolescente, tornou-se um homem egoísta a ponto de discutir com a irmã pela prataria que fiou de herança do pai e tornar-se amante da mulher de seu amigo, Lobo Neves, se bem que nesse romance não se pode dizer propriamente que alguém é amigo de outro.

Page 16: Memórias póstumas de Brás Cubas

Brás Cubas nasceu em 20/10/1805, no Rio de Janeiro, filho de Bento Cubas, da família burguesa que enriqueceu com o comércio. Tinha uma única irmã, Sabina, casada com Cotrin, com quem teve uma filha, Venância. Seus tios eram João, oficial da infantaria, Ildefonso, padre , e Emerenciana, a maior autoridade de sua infância. Ao falecer, tinha 64 anos (...expirou às duas da tarde de uma Sexta-feira de agosto de 1869), era solteiro e em seu enterro compareceram 11 pessoas. Sua morte foi assistida por 3 mulheres: a irmã Sabina, a sobrinha e Virgília.

Page 17: Memórias póstumas de Brás Cubas

Personagens

• Virgília - filha do comendador Dutra, segundo o pai de Brás, Bento Cubas: A “Ursa Maior” amante de Brás Cubas casa-se com Lobo Neves por interesse. Mulher bonita, ambiciosa, que parece gostar sinceramente de Brás Cubas, mas jamais se revela disposta a romper com sua posição social ou dispensar o conforto e o reconhecimento da sociedade.

Page 18: Memórias póstumas de Brás Cubas

Personagens

• Damião Lobo Neves - casado com Virgília, homem frio e calculista. Marido de Virgília, homem sério, integrado ao sistema, ambicioso, mas muito mais supersticioso, pois recusou nomeação para presidente de uma província só porque a referida nomeação aconteceu num dia 13.

Page 19: Memórias póstumas de Brás Cubas

Personagens• Quincas Borba - menino terrível que dava tombos no

paciente professor Barata, colega de escola de Brás que o encontrará mais tarde mendigo que rouba-lhe um relógio mas retorna-o ao colega após receber uma herança. amigo de infância do protagonista. Desde criança era de um temperamento ativo, exaltado, querendo ser sempre superior nas brincadeiras. Cubas diz que ele é impressionante quando brinca de imperador. Quando adulto, passa pelo estado de mendigo, evoluindo depois para filósofo e desenvolve um sistema filosófico, denominado Humanitismo, que pretende superar e suprimir todos os demais sistemas até tornar-se uma religião.

Page 20: Memórias póstumas de Brás Cubas

Personagens• Marcela - Segundo grande amor de Brás Cubas, uma prostituta

de elite, cujo amor por Brás duraria quinze meses e onze contos de réis. Mulher sensual, mentirosa, amiga de rapazes e de dinheiro. Ganha muitas joias do adolescente Brás Cubas. Contrai varíola e fica feia, com a pela grassa como uma lixa.

Sabina - irmã do narrador e que, como ele, valoriza mais o interesse pessoal e a posição social do que amizade ou laços de parentesco.

Cotrin - casado com Sabina, é interesseiro, traficante de escravos e cruel com eles, mandando-os castigar até correr sangue.

Page 21: Memórias póstumas de Brás Cubas

Personagens• Eugênia - Filha de Eusébia e Vilaça, menina bela embora coxa. Era moça

séria, tranquila, dotada de olhos negros e olhar direito e franco. Tinha “ideias claras, maneiras chãs, certa graça natural, um ar de senhora, e não sei se alguma outra cousa; sim, a boca exatamente a boca da mãe".

Nhá Loló - moça simplória, tinha dotes de soprano - morre de febre amarela.

Nhonhô - filho de Virgília.

D. Plácida empregada de Virgília confidente e protetora de sua relação extra conjugal.