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Aspectos geológicos da colónia de Moçambique: estudo de algumas rochas
Author(s: Moura, M. Marcelino Ferreira de
Published by: Imprensa da Universidade de Coimbra
Persistent URL: http://hdl.handle.net/10316.2/36496
Accessed : 7-Nov-2018 20:37:37
digitalis.uc.ptimpactum.uc.pt
PUBLICAÇÕES DO MUSEU MINERALÓGICO E GEOLÓGICODA
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
N.° 8
Memóriase Notícias
COIMBRA
TIPOGRAFIA DA ATLANTIDA
1935
Aspectos geológicos da Colónia de Moçambique.
Estudo de algumas rochas
1. Lourenço Marques. — A parte antiga da cidade assenta sobre um terreno de aluvião, com pântanos actual- mente entulhados e enxutos por uma abundante plantação de eucaliptos, tornando assim a parte baixa relativamente salubre.
A cidade estende-se na direcção da Ponta Vermelha, assim chamada pela cor do seu terreno, e onde se encontram o Palácio do Governador, o Hospital, o Quartel General, o Observatório. A parte, oriental vai além da Ponta Vermelha, até à praia de Polana, que é servida por um caminho de ferro a partir da estação de Lourenço Marques. A Ponta Vermelha é uma massa argilosa, muito vermelha, sobrepondo se a uma rocha argilo-arenácea, da mesma cor, que contém grande quantidade de hematite associada a uma abundante percentagem de argila. Esta rocha deve ter a sua origem na decomposição de rochas muito ricas em elementos ferro-magnésicos. E’ fácil encontrá-las na escarpa sobre a linha férrea, indo para a Praia da Polana.
A minha pouca demora na cidade de Lourenço Marques, tanto à passagem para o norte, para a região das operações contra os alemães, como no regresso para a Europa, não me permitiu fazer grandes colheitas de rochas. Simplesmente a observação dos materiais de alvenaria, que foram utilizados
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na construção do novo edifício dos correios, me chamou a atenção sobre uma rocha vinda de Marracuene:
Andesito com augite de Marracuene
a) Caracteres macroscópicos: rocha verde-escura, compacta; na massa veem-se faces brilhantes de pequenos cristais de feldspato; pontos esverdeados de augite, difundidos por toda ela. Com o auxílio da lupa reconhecem-se fàcilmente, augite, magnetite e plagioclase.
Esta rocha é levemente áspera ao tacto. Apresenta áquem e além, manchas de cor castanho-escura, semelhando dedadas.
b) Caracteres microscópicos: textura hialopilítica. Pequenos cristais esverdeados de augite em que se observam as clivagens prismáticas (fig. 1). Noutros a secção é paralela ao eixo vertical, como na figura 2, em que um cristal de augite se encontra no meio de cristais de magnetite. Plagioclases do grupo da labro- dorite apresentam-se em cristais de diferentes grandezas e todos eles circundados por uma orla levemente acastanhada. Alguns destes cristais mostram-se total ou parcialmente caulinizados.
A apatite aparece também em inclusões na magnetite. O que é interessante nesta rocha é a forma como os cristais de augite e magnetite se encontram agrupados: os cristais de augite, formados depois dos da magnetite, enchem os espaços deixados por este mineral (fig. 2).
A augite e magnetite encontram-se disseminadas em pequenos grãos por toda a massa. A clorite aparece como produto de alteração da augite.
2. Mocimboa da Praia. — De Lourenço Marques para o norte, seguindo sempre de forma a ver terra, observa-se uma orla de areias a que se segue a floresta. Por vezes o
litoral é povoado por ilhas coraliárias, com o seu aspecto arredondado, umas vezes sem vegetação, outras vezes com revestimento de arbustos ou imbondeiros.
O «Moçambique» fundeou muito ao largo de Mocimboa da Praia, pois que a larga e grande baía é de pouco fundo, com uma ilha coraliária (fig. 3), de forma que só os rebocadores e pequenos barcos nela se podem deslocar.
Pelo norte a baía é fechada pela Ponta Vermelha, com uma altitude de 4om, e constituída por massas argilosas muito vermelhas; pelo sul, limita-a uma língua de terrenos lodosos (fig. 4), onde os mangues teem grande desenvolvimento na orla exterior, banhada pelo mar, e os coqueiros na interior.
Geologia de Mocimboa, Logo ao desembarcar notamos que, subjacente à areia, (fig. 5) existe um arenito de grãos de grandezas diferentes, os maiores poucos rolados, angolo- sos; e, os mais pequenos arredondados. Esta base rochosa estende-se numa faxa litoral desde Mocimboa da Praia até ás margens do Rovuma. Arenito de cimento silicioso, sem fosseis, é por alguns geólogos considerado como cretácico.
Esta rocha é tão resistente que o mar com dificuldade a corroi; e, quando isso se dá, fá-lo lentamente, tornando a sua superfície áspera, com pequenas cavidades onde a água se acumula. E coberta, em lugares, por uma massa de areias; noutros aflora, em virtude da erosão, como em seis quilómetros a seguir ao posto de Lueia. Aí (fig. 6) o arenito é de grão fino, com cimento também silicioso, com grãos de quartzo ângulosos e ainda só os mais finos arredondados.
Seguindo até ao planalto da Serra de Nangade, e descendo na margem direita do Rovuma, o arenito é substituído por um conglomerado (fig. 7) de elementos grosseiros, reunidos por um cimento argilo-silicioso. No alto da serra persiste um arenito com muita argila e de grão muito fino.
Sobre a base dos arenitos assenta a massa de areias recentes, em espessura variável, que pode ir até alguns metros.
O terreno é levemente ondulado, lembrando antigas dunas sobre que se desenvolvesse densa vegetação. Sobre aquele
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arenito, pouco permeável, existe um lençol aquifero variável com a espessura das areias de recobrimento.
De onde a onde formam-se pantanos e pequenas lagoas, que durante a época das chuvas se enchem de água e se tornam lodosas na época seca, alimentando densa vegetação de capim. No litoral essas formações cobrem-se de grandes imbondeiros (fig. 8).
As nascentes, como em Mocimboa da Praia, aparecem assim sobre os afloramentos do arenito; nos outros lugares a água é procurada em poços abertos através da areia. A água é sempre levemente turva, devido à grande quantidade de argila que trás em suspensão.
Compreende-se que nos anos pobres em precipitações aquosas estes terrenos, embora muito humiferos, se tornem pobres, pouco productivos, resultando disso crises de fome entre os nativos.
Mas as chuvas nestas regiões teem geralmente o carácter torrencional, e as enxurradas, deslisando com grande impetuosidade através de terrenos pouco consolidados, produzem grandes sulcos, como o visto na figura 9, que, após trinta minutos de chuvas, se rasgou com mais de metro e meio de profundidade.
O litoral desta região é assim constituído; mas para o interior, a poucos quilómetros, aparece um maciço gneissico e granítico que se estende até para o sul de Porto Amélia.
Seguindo para neroeste, a 45 quilómetros de Mocimboa da Praia encontra-se Muirite, onde' colhemos amostras de maciço gneissico.
Granito-gneissico de Muirite
a) Caracteres macroscópicos: rocha formada por massa de feldspato roseo, quartzo e mica preta.
b) Cai acteres microscópicos: ortoclasse e micro- clina, que se apresenta umas vezes com a sua estrutura maclada em rede, outras vezes com a estrutura em fachas fusiformes;
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Biotite, também muito abundante e por vezes orientada com a disposição que tem nos gneisses;
Quartzo, disseminado por toda a massa da rocha.
Nestas rochas nota-se grande secreção de hematite, em grandes massas donde os nativos exttaem o ferro que empregam no fabrico dos seus utensílios de uso corrente e artigos de guerra, como facas, pontas de flexas, zagaias, etc.
3. Angoche. — Esta vila, do sul do distrito de Moçambique, está situada na foz dum dos braços do riu Mluli, que durante a época das chuvas inunda todos os terrenos que a circudam. Assenta sobre uma encosta de areias e argilas, antiga duna que vai até ao mar, não sendo visivel qualquer massa de rocha que lhe sirva de base.
Circundando essa grande duna existe o terreno humifero de aluvião, do canal de Boila, ramo do Mluli que vai de Angoche a Boila, onde se encontra uma rocha arenacea formada por grãos de quartzo, de várias grandezas, reunidos por um cimento ferruginoso, com nodulos de limonite. A superfície livre é vacuolosa e coberta por uma massa pulida de óxidos ferro. Neste canal afloram rochas basálticas dos dois tipos seguintes:
Basalto do Canal de Boila
a) Caracteres macroscópicos: rocha compacta, cincenta escura, com aspecto vitreo em que à simples vista não é fácil conhecer minerais, mas só pequinís- simos pontos brillhantes, correspondendo aos microli- tos de feldspato.
b) Caracteres microscópicos: textura granulo--microlitica, não muito rica em vidro (fig. 10). A pla- gioclase apresenta-se em microlitos de labradorite, formando uma grande parte da rocha e crusando-se em todas as direcções, sem qualquer orientação. Augite (diopsido) apresenta-se em grânulos, ou em
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pequenos cristais com as clivagens prismáticas bem visíveis e sem forma cristalografica bem definida. Noutros nota-se só uma clivagem, ou as duas, mas sem contornos nítidos. Magnetite muito abundante quer como mineral essencial quer como produto de alteração da augite. Olivina apresenta-se em grânulos, circundada por óxidos, de ferro produto da sua decomposição e que se continuam através das suas fendas; Magnetite encontra-se também como produto de alteração dos elementos ferro-magnésicos.
Clorite: vêem-se dispersas por toda a massa da rocha manchas esverdeadas dêste mineral; mas é não muito abundante.
Todos estes grânulos, cristais e produtos de alteração se encontram reunidos por uma massa vítrea,
cinzenta-acastanhada.
Dolerito. (Canal de Boila)
a) Caracteres macroscópicos: rocha preta aparentemente compacta, mas que se observam pequenos vacuolos onde com o auxilio dum lupa se vêem pequenos cristais aciculares. Na massa da rocha observa-se também um mineral branco, cristalizado, formando grupos associados entre si :
b) Carateres microscópicos: rocha com textura hialopilítica (fig. 11), não apresentando contudo muito vidro. Os minerais que a compõem são: um feldspato (labradorite) em microlitos muito alongados; magnetite, em pequenos grãos disseminados no vidro; augite em grãos e cristais alongados, com clivagens e fractu- ras. Substância intersticial acastanhada e com pequenos grãos de magnetite.
Esta rocha apresenta vacuolos forrados de clorite e sobre esta uma camada ou duas de palagonite, sobre que se implantam numa direcção normal à superfície cristais aciculares indetermináveis.
No meio da massa encontram-se ninhos de cristais de plagioclase amontoados e amaranhados, mas formando núcleos de 1.a consolidação, simultâneos na sua formação com os microlitos da massa.
Seguindo de Boila para o posto interior da Guarneia, atravessado o rio Mluli, encontram-se até esse posto sempre terrenos baixos muito férteis e com grande riqueza de hematite. Dela extraem os nativos o ferro para os seus utensílios. O posto de Guarneia é circundado por pequenas lagoas, braços do rio Mluli durante a época das chuvas.
Além deste posto e mais para o interior do continente aparece-nos novamente o maciço gneise-granitico que aqui é só representado por granitos, continuação do que vem desde a região de Muirite, Porto Amélia e que se continua até Quelimane.
M. Marcelino Ferreira de Moura
Naturalista do Museu Minerológico e Geológico
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