AENZIMA
daLONGEVIDADE
«UM DOS MELHORES LIVROS DE CIÊNCIAS DE 2015»Wall Street Journal
Dr. Michael FosselESPECIALISTA MUNDIAL NO ESTUDO DO ANTIENVELHECIMENTO
Dr. Michael Fossel
LONGEVIDADEda
ENZIMA
A
TELOMERASE, A ENZIMA QUE DETÉM A CHAVE PARA TRAVAR
O ENVELHECIMENTO E PROPORCIONAR VIDAS MAIS
LONGAS E SAUDÁVEIS
«Uma obra notável que oferece a entusiasmante promessa de
podermos curar e prevenir doenças associadas à velhice, e até regredir
o próprio envelhecimento.» Matt Ridley,
autor de Genoma e de O Otimista Racional
Atualmente, sabemos mais sobre o processo de envelhecimento, e sobre como o prevenir e até regredir, do que alguma vez soubemos. Nos últimos anos, o entendimento sobre a natureza do envelhecimento disparou, e o prolongamento da vida passou de ficção científica para realidade. A ciência está ao virar da esquina de um acontecimento revolucionário.
Há décadas que o Dr. Michael Fossel está na vanguarda desta investi-gação, tendo publicado vários artigos fundamentais sobre o envelheci-mento. Em A Enzima da Longevidade, o autor dá-nos uma perspetiva pormenorizada, numa linguagem acessível, sobre os efeitos da passa-gem do tempo no corpo humano.
Este livro é o texto incontornável que revela as mais recentes descobertas científicas sobre o processo de envelhecimento. Porque acontece? Como acontece? Como conseguimos travá-lo? As respostas que vai encontrar neste livro estão prestes a criar uma verdadeira revolução na medicina humana.
«A convincente argumentação de Michael Fossel na abordagem da telomerase para reverter o envelhecimento merece mais do que um breve olhar. É como ler as palavras de Virgílio,
enquanto nos conduz através dos mistérios do envelhecimento.» Alexey Olovnikov,
Academia de Ciências da Rússia
«Um livro que decompõe séculos de pensamento humano acerca do envelhecimento e desenraíza ideologias ultrapassadas. O entusiasmante livro do Dr. Fossel abre as portas
à longevidade prolongada que pode mudar a história humana.» Noel Patton,
fundador e presidente da T. A. Sciences
Dr. Michael Fossel
«A Enzima da Longevidade é uma obra notável que narra uma história fascinante, juntando, por fim, uma teoria única e coerente de como e porquê o envelhecimento conduz a tantas formas diferentesde doença. Também oferece a entusiasmantepromessa de podermos, em breve, saber não sócomo curar e prevenir doenças associadas aoprocesso de envelhecimento, mas como regrediro próprio processo de envelhecimento. MichaelFossel é um otimista radical.»
Matt Ridley, autor de Genoma e de O Otimista Racional
«O Dr. Fossel argumentou de modo soberbo a sua crença de que os telómeros e a telomerase desempenham um papel essencial na biologia do envelhecimento, tanto em seres humanos como noutros animais. Os seus pontos de vista estiveram, outrora, em minoria, mas os avanços mais recentes acerca do funcionamento destas moléculas fazem deste livro uma contribuição valiosa para a nossa compreensão da biologia fundamental do envelhecimento. Além disso, a sua escrita é clara e bem organizada.»
Leonard Hayflick,professor de Anatomia na Universidade da Califórnia, EUA
«O envelhecimento não é um processo degenerativo irreversível, mas, sim, um mecanismo fisiológico epigeneticamente determinado, não devendo ser confundido com doenças associadas ao processo de envelhecimento provocadas pelas escolhas do estilo de vida. Esta obra é um guia eficaz e claro para compreender como envelhecemos e como dominar o envelhecimento dentro de alguns anos.»
Giacinto Libertini, médico, membro da Sociedade Italiana de Biologia Evolutiva
Obteve a especialização e o doutoramentona Universidade de Stanford, onde depois lecionou neurobiologia. Foi professor de medicina durante quase três décadas, diretor executivo da American Aging Association e editor-fundador do jornal Rejuvenation Research. Em 1996, escreveu o primeiro livro sobre a Teoria Telomérica do Envelhecimento, Reversing Human Aging. Redigiu mais de 60 artigos científicos e é o autor do único compêndio médico na área dos telómeros e da sua aplicação clínica, Cells, Aging, and Human Disease (Oxford University Press, 2004). Sendo o maior especialista mundial no uso clínico dos telómeros em doenças relacionadas com a idade, dá conferências um pouco por todo o mundo e é convidado frequente em vários programas televisivos. Presentemente, desenvolve o seu trabalho no sentido de efetuar testes para a doença de Alzheimer em seres humanos.
Saiba mais em:www.michaelfossel.com
<21,5 mm>A Enzima da Longevidade150x230 mm
Saúde e Bem-estar
9 789898 849649
I S B N 9 7 8 - 9 8 9 - 8 8 4 9 - 6 4 - 9
Para aqueles que têm a mente aberta à lógica
e os olhos aos dados:
que os outros estejam tão abertos a si
como o leitor ao mundo à sua volta.
Para aqueles que, ao envelhecerem e sofrerem,
ouvem dizer que nada pode ser feito:
essas pessoas estão erradas.
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Índice
CRONOLOGIA DA TEORIA TELOMÉRIC A DO ENVELHECIMENTO 11
INTRODUÇ ÃO 17
capítulo um Teorias do Envelhecimento 19
As mistificações, os mitos e as teorias científicas
que não dão conta de tudo
capítulo dois A Teoria Telomérica
do Envelhecimento 45
Uma introdução à teoria do envelhecimento
que este livro propõe e ao seu desenvolvimento
histórico, incluindo a discussão de alguns
equívocos sobre a teoria
capítulo três Por que razão envelhecemos 77
Um breve desvio científico pelos motivos evolutivos
do nosso envelhecimento, em oposição à vida
indefinida da hidra.
capítulo quatro A busca da imortalidade 85
Aplicação da Teoria telomérica
ao Envelhecimento e aos problemas clínicos
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capítulo cinco O envelhecimento direto:
efeitos avalanche 121
Como as células envelhecidas provocam doenças
em células e tecidos semelhantes à sua volta
capítulo seis O envelhecimento indireto:
espetadores inocentes 207
Como as células envelhecidas provocam doenças
em células e tecidos diferentes
capítulo sete Retardar o envelhecimento 241
O que as pessoas podem fazer atualmente
para otimizar a saúde e a sua longevidade
capítulo oito Reverter o envelhecimento 281
Está quase a chegar e mudará as vidas humanas
e a sociedade de modos espantosos
POSFÁCIO 305
GLOSSÁRIO 307
AGRADECIMENTOS 317
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Cronologia da Teoria Telomérica do Envelhecimento
1665: Robert Hooke descobre que os organismos são compos-
tos por células.
1889: Charles-Édouard Brown-Séquard, um pioneiro da endo-
crinologia, afirma que injeções de extratos de tecido de
testículos animais (porquinhos-da-índia, cães, macacos)
rejuvenescem os humanos e prolonga a vida.
1917: Alexis Carrel inicia uma experiência in vitro de 34 anos
com células de coração de galinha, mostrando, aparen-
temente, que as células individuais são imortais. A pes-
quisa de Carrel torna-se um paradigma científico até ser
contestada em 1961.
Década de 1930: Serge Voronoff implanta testículos e ovários
de chimpanzés e de macacos em humanos como tera-
pia de antienvelhecimento.
1934: Mary Crowell e Clive McCay da Universidade Cornell
duplicam a esperança média de vida de ratos de labora-
tório através de restrições calóricas severas. Até à data,
a experiência ainda não foi replicada em humanos nem
noutros primatas.
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1938: Hermann Muller descobre o telómero, uma estrutura
na extremidade dos cromossomas.
1940: Barbara McClintock descreve a função do telómero como
uma proteção das extremidades dos cromossomas. Mais
tarde, recebe o Prémio Nobel.
1961: Leonard Hayflick expõe o erro processual da experiência
de Carrel e introduz o conceito do Limite de Hayflick, que
revela que as células de qualquer espécie multicelular
se dividem um número limitado de vezes antes de enve-
lhecerem e se tornarem disfuncionais. (por exemplo,
40 vezes no caso dos fibroblastos humanos).
1971: O cientista russo Alexey Olovnikov publica uma hipó-
tese segundo a qual a diminuição do telómero é o meca-
nismo responsável pelo limite de Hayflick.
1972: Denham Harman publica a Teoria Mitocondrial do Enve-
lhecimento ou dos Radicais Livres.
1990: Michael West funda a Geron Corporation com o objetivo
inicial de encontrar uma forma de intervir no processo
de envelhecimento assente na investigação telomérica.
1992: Calvin Harley e os seus colegas descobrem que os pacien-
tes com síndrome de Hutchinson-Gilford, uma doença
genética em que as crianças morrem de «velhice» por
volta dos 13 anos de idade, nascem sem telómeros.
1993: Michael Fossel, baseado na investigação da Geron, co-
meça a trabalhar no primeiro livro acerca da crescente
compreensão das causas e do processo de envelheci-
mento. Reversing Human Aging é publicado em 1996.
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CRONOLOGIA DA TEORIA TELOMÉRICA DO ENVELHECIMENTO
1997–1998: Os primeiros artigos revistos pelos pares da auto-
ria de Michael Fossel são publicados na Journal of the
American Medical Association, sugerindo que o telómero
poderá ser usado para tratar doenças associadas ao pro-
cesso de envelhecimento.
1999: A Geron demonstra que a diminuição do telómero não só
está relacionada com o envelhecimento das células, mas
também o provoca, e que o novo aumento dos telómeros
produz uma regressão no envelhecimento das células.
2000: A Geron patenteia a utilização de astragalósidos como
ativadores da telomerase.
Início da década de 2000: A Geron e outros laboratórios de
investigação mostram que o aumento dos telómeros
reverte o envelhecimento não só nas células, mas tam-
bém em tecidos humanos. Rita Effros lidera a investiga-
ção da UCLA acerca da imunidade ao envelhecimento e
dos ativadores da telomerase.
2002: A Geron coloca de parte o desenvolvimento farmacêu-
tico dos ativadores da telomerase para se concentrar
em terapias para o cancro e vende os direitos dos suple-
mentos nutricionais de astragalósidos à T. A. Sciences.
2003: A Sierra Sciences inicia a sua investigação na deteção de
potenciais ativadores da telomerase.
2004: A Oxford University Press publica o manual Cells, Aging,
and Human Disease, de Michael Fossel.
2005: A Phoenix Biomolecular inicia a investigação sobre uma
nova tecnologia para a administração de telomerase
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diretamente nas células. O financiamento insuficiente
determina o fim prematuro do projeto.
2006: A T. A. Sciences coloca no mercado o primeiro ativador
nutracêutico da telomerase, o TA-65, derivado da planta
Astragalus membranaceus.
2007: Têm início os primeiros testes de um ativador da telo-
merase em seres humanos, enquanto a T. A. Sciences
arranca com a recolha de dados dos utilizadores de
TA-65.
2009: Elizabeth Blackburn, Carol Greider e Jack Szostak rece-
bem o Prémio Nobel pela sua investigação académica
sobre a telomerase.
Início da década de 2010: São criadas as primeiras empre-
sas com o intuito de avaliar o envelhecimento e o risco
de doença medindo o comprimento dos telómeros:
Telomere Diagnostics (fundada por Cal Harley, antigo
investigador da Geron, em Menlo Park, na Califórnia)
e Life Length (fundada por Maria Blasco, em Madrid,
Espanha).
2011: Ron DePinho, então em Harvard, demonstra que o en-
velhecimento pode ser revertido em certos animais gene-
ticamente modificados.
2011: A Geron vende os direitos de todos os seus ativadores da
telomerase à T. A. Sciences.
2012: Maria Blasco, no Centro Nacional de Investigaciones Onco-
lógicas (CNIO), em Madrid, Espanha, reverte muitos
aspetos do envelhecimento em várias espécies animais.
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CRONOLOGIA DA TEORIA TELOMÉRICA DO ENVELHECIMENTO
2015: É fundada a Telocyte, a primeira empresa de biotecnolo-
gia dedicada à utilização dos genes da telomerase para
curar a doença de Alzheimer.
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Introdução
N os últimos anos, os cientistas alcançaram um pro-
gresso extraordinário na compreensão do envelheci-
mento humano. Esta investigação traz-nos agora para
o limiar de um verdadeiro avanço médico — a capacidade para
abrandar e até reverter o processo de envelhecimento e para
curar uma série de doenças a ele associadas.
O leitor tem razão em sentir-se cético. Charlatães e sonha-
dores — já para não falar em empresas de cosméticos — pro-
metem há séculos uma cura para o envelhecimento. O desafio
é enorme, claro, e estamos apenas no início.
No entanto, temos neste momento uma compreensão
bastante clara da base do envelhecimento humano, que abor-
daremos pormenorizadamente neste livro. Baseados nessa
compreensão, desenvolvemos também algumas terapias ini-
ciais que apresentaram resultados modestos na alteração do
processo de envelhecimento. E estamos perto de iniciar os
testes em seres humanos de terapias consideravelmente mais
promissoras.
Grande parte desta investigação passou despercebida ao
grande público. Neste livro, apresento os avanços incríveis que
têm vindo a ser conseguidos e aquilo que estamos prestes a
alcançar. Tal requereu uma alteração de paradigma no modo
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como a idade é entendida. Como sempre, os velhos paradigmas
morrem com lentidão, o que, muitas vezes, se torna frustrante.
Como médico, a minha ênfase incidiu sempre sobre os
resultados clínicos. Compreender a natureza do envelheci-
mento é essencial, claro. Porém, o objetivo não é simplesmente
alcançar a compreensão. O objetivo é desenvolver técnicas que
prolonguem vidas, curem doenças e reduzam o sofrimento.
Alcançá-lo exige não apenas o desenvolvimento da investi-
gação fundamental, mas também a vontade dos conselhos de
administração que controlam o financiamento necessário ao
desenvolvimento e teste de novas drogas. Partilharei também
algumas histórias acerca do processo, muitas vezes desafiante,
de tentar obter progressos num campo onde as prioridades
empresariais estão em constante mudança e cujos paradigmas
estão ultrapassados.
Trabalho no campo do envelhecimento há mais de trinta
anos, seja como médico, seja como investigador científico.
Dediquei a minha carreira a compreender as causas subjacen-
tes ao envelhecimento e a desenvolver terapias que tenham o
potencial para alterar o processo de envelhecimento. Também
dediquei um tempo considerável a ajudar os meus pares cien-
tíficos a compreenderem os mais recentes desenvolvimentos
neste campo, seja como editor da Journal of Anti-Aging Medicine,
seja como autor do livro Cells, Aging, and Human Disease (Oxford
University Press).
Este livro é a minha tentativa de colocar ao dispor do grande
público a mais recente investigação acerca do envelhecimento.
Creio que a considerará esclarecedora, surpreendente e, em
última análise, bastante esperançosa.
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capítulo um
Teorias do envelhecimento
Não quero alcançar a eternidade através do meu trabalho. Quero alcançá-la não morrendo.
Woody allen
H á cerca de 70 mil anos, os primeiros seres humanos
— nossos antepassados diretos — enfrentavam a
concorrência do neandertal e do Homo erectus. Estes
concorrentes eram fortes, inteligentes e hábeis tanto no uso
da linguagem como na criação de utensílios. Éramos relativa-
mente franzinos e apresentávamos poucas vantagens que nos
definissem como sobreviventes à medida que nos colocávamos
em posição para rivalizar diretamente com os hominídeos mais
antigos. A nossa única vantagem digna de nota era uma estra-
nha caraterística — uma vantagem que poderia, à primeira
vista, parecer uma desvantagem. Éramos capazes de pensar
e falar acerca de coisas que, na verdade, não existem.
Isto fazia toda a diferença.
Estamos a falar de abstrações como amanhã, deus, arte,
ciência, sonhos e compaixão. Não podemos atirar uma lança a
estas coisas, nem comê-las, roubá-las, parti-las ou destruí-las.
No entanto, são elas que, além de nos tornarem humanos, nos
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tornam, estranhamente, muito melhores sobreviventes. Não só
podemos debater coisas intangíveis que são necessárias à orga-
nização social — como a lealdade, a cooperação e a estratégia —,
como podemos imaginar coisas que podem ser feitas — como
armas, utensílios, agricultura e leis.
Estas capacidades — o pensamento abstrato e a imagina-
ção — são a base da nossa capacidade para criar. Os seres huma-
nos criam não apenas arte e utensílios, mas também teorias
— explicações religiosas e científicas acerca de como funciona
o mundo —, o que, em última análise, nos permite alterar a
nossa própria realidade. Os avanços científicos dependem dire-
tamente desta capacidade. Construímos uma visão de como a
realidade funciona, testamos a nossa explicação e, depois, usamo-
-la para melhorar a realidade. Uma teoria científica não é mais
do que isso: uma visão da realidade que podemos testar e que,
em seguida, utilizamos para melhorar o nosso mundo. Curamos
doenças, cultivamos alimentos e tornamos a vida humana cada
vez mais fácil e segura.
O homem é a única criatura capaz de fazer isto. Esta capaci-
dade para trabalhar com conceitos abstratos não está presente
noutros animais, nem mesmo nos nossos parentes mais próxi-
mos, os chimpanzés e os gorilas.
A chave para usar uma teoria para melhorar a vida humana
— ou para transformar um sonho em realidade — é ter as fer-
ramentas certas e o conhecimento para as usar. Penso muitas
vezes nisto como tendo um navio e um mapa.
Por vezes o navio é simples, mas o mapa é complexo. Para
prevenir a varíola, o navio pode ser tão simples quanto uma agu-
lha afiada infetada com varíola bovina. Isto é tudo o que preci-
samos para criar a vacina contra a varíola, desde que saibamos
como. Porém, primeiro, precisamos do mapa; precisamos de ter
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TEORIAS DO ENVELHECIMENTO
LEVAR A MELHOR SOBRE UM GORILA
A Koko foi a primeira gorila a usar língua gestual. Quando completou três anos de idade, tornei-me a sua ama, seis horas por semana, durante um ano. A Koko compreendia mais de mil sinais e gostava de inventar jogos. Tinha apren-dido a deixar de me morder (embora só depois de eu lhe ter mordido também), mas enfiava o saco da roupa suja sobre a cabeça e o corpo — não deixando senão duas pernas pretas e peludas a espreitar por baixo do meu saco de pano cinzento — e depois saltava para cima de mim, a partir da bancada da cozinha, tentando apanhar-me. A «regra» dela era: se me conseguisse apanhar, podia mor-der-me — mas apenas se mantivesse o saco da roupa suja sobre a cabeça, de modo que eu não a conseguisse ver morder. De alguma maneira, o saco da roupa suja cinzento fazia toda a diferença. Permitia-lhe criar uma nova forma de brincar comigo. Por outro lado, embora fosse claramente mais inteligente do que qualquer animal que alguma vez conheci, nunca conseguiu dominar os sinais relacionados com os conceitos abstratos, que são centrais tanto ao pen-samento humano quanto à sociedade humana.
conhecimentos sobre germes, vacinas, varíola versus varíola
bovina, infeções e muito mais.
Este capítulo aborda os mapas que foram desenhados ao
tentarmos compreender o envelhecimento. Como veremos,
não existe um mapa único, consensual, mas antes uma mi-
ríade de mapas diversos e de interpretações opostas desses
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mapas. Começamos agora a coligar-nos a um mapa que explica
verdadeiramente o envelhecimento. Quanto ao navio, as fer-
ramentas de que necessitamos para mudar o envelhecimento
foram-se tornando mais sofisticadas ao longo dos últimos
500 anos, até, no final da última década, atingirmos o auge
dos avanços clínicos.
Comecemos por compreender os mapas concorrentes que
fomos desenhando para explicar o envelhecimento. Todos con-
têm um elemento de verdade, mas nenhum resolve o enigma
por completo.
A Teoria Entrópica do Envelhecimento
Inicialmente não era claro, sequer, que a idade era um problema
a resolver. O envelhecimento dos seres vivos dificilmente se
pode considerar único. As montanhas envelhecem, as galáxias
envelhecem, até o universo envelhece. De facto, a segunda lei
da termodinâmica estipula que a entropia de qualquer sistema
fechado aumenta sempre, que a desordem aumenta sempre.
É por isso que, se deixarmos um carro parado durante alguns
anos, este deixará de funcionar. Passados alguns milhões de
anos, uma cordilheira montanhosa será reduzida a pó. E pas-
sados cerca de 11 mil milhões de anos, o próprio Sol tornar-se-á
frio. Tudo envelhece.
A vida depende da ordem, da estrutura e da organização.
Com demasiada desordem, a vida não poderá manter-se. E, assim,
o mistério parecia ter-se resolvido. Os organismos envelhecem
porque a própria natureza do universo físico o exige.
Diversas teorias específicas estão abrangidas pelo título
genérico de explicações entrópicas para o envelhecimento.
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TEORIAS DO ENVELHECIMENTO
Estas teorias sugerem que este facto básico da vida — a deteriora-
ção — é suficiente para explicar o processo de envelhecimento.
Muitas destas abordagens são variações sobre um mesmo
tema. A Teoria das Ligações Cruzadas (crosslinking) sugere que
o envelhecimento deriva de as moléculas se cruzarem ao longo
do tempo, interferindo com o seu normal funcionamento.
Uma explicação semelhante atribui a disfunção aos produtos
finais da glicação avançada (AGE), à medida que as moléculas
da glicose se unem às da proteína, provocando uma acumula-
ção destes produtos de excreção e a perda de funções.
Existem inúmeras outras explicações que atribuem a culpa
do envelhecimento à acumulação de vários outros produtos de
excreção, como a lipofuscina, um lípido pigmentado que se
acumula em muitas células envelhecidas.
Uma variação especialmente tentadora concentra-se nos
danos causados não às moléculas e enzimas habituais, mas ao
mais crítico conjunto de moléculas existente nas células vivas,
o ADN. Estas teorias defendem que, ao longo do tempo, o ADN
vai, lentamente, acumulando danos, reduzindo a sua capaci-
dade para produzir proteínas críticas. À medida que a célula se
vai tornando cada vez mais disfuncional, segue-se o envelheci-
mento e a célula acaba por falhar por completo.
Todas estas teorias têm por base uma verdade fundamen-
tal: à medida que o tempo avança, os danos vão ocorrendo.
As moléculas são ligadas, geram-se produtos de excreção e o
ADN é danificado. Porém, estas teorias subestimam o poder
incrível da regeneração celular. Ainda que seja verdade que
algumas células envelhecem e se degradam, outras permane-
cem de plena saúde, vivendo e reproduzindo-se sem limites,
apesar dos raios cósmicos, da acumulação de excreções e de
um ambiente em constante mutação.
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Durante milhares de milhões de anos, toda a vida foi uni-
celular, e estas células individuais podiam reproduzir-se inde-
finidamente. Se estas células envelheciam de alguma maneira,
é discutível, mas é claro que, a cada ciclo reprodutivo, a cada
fragmentação de uma célula mais velha em duas células filhas,
o cronómetro era reiniciado. Cada célula filha era jovem e
saudável.1
A vida repara e substitui os seus componentes a uma velo-
cidade impressionante. Se cada parte do seu carro fosse substi-
tuída anualmente, em teoria, este poderia andar para sempre.
Como veremos, os organismos unicelulares fazem precisa-
mente isso.
Não ocorre aqui nenhuma violação da lei da entropia por-
que a Terra não é um sistema fechado. A Terra é constante-
mente banhada por luz e energia vindas do Sol. A fusão nuclear
do Sol gera uma taxa de entropia tremenda, mas a vida usa
a energia solar para se manter, pelo que continua a florescer.
Não existe nenhuma lei física que diga que um organismo não
pode continuar a viver e a prosperar indefinidamente, pelo
menos enquanto o Sol brilhar.
Em suma, existe uma categoria imensa de teorias que tenta
atribuir o envelhecimento à entropia, explicando-o em termos
de desgaste, de danos e de produtos de excreção. Embora estas
teorias contenham um embrião de verdade, não oferecem uma
explicação completa. Algumas células e organismos sucum-
bem à entropia, mas outros não. É necessário um nível de aná-
lise mais profundo.
1 Alguns organismos unicelulares dividem-se assimetricamente, sendo uma das células filhas livre de danos e a outra mantendo alguns danos residuais. Contudo, isso não nega a questão fundamental, ou seja, que os organismos unicelulares prosperaram sem envelhecer durante milhares de milhões de anos.
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TEORIAS DO ENVELHECIMENTO
AS MEDUSAS E A IMORTALIDADE
A capacidade para prosperar e manter, indefinidamente, a boa saúde não se restringe aos organismos unicelulares. A Turritopsis dohrnii, conhecida hoje como «medusa imor- tal», tem, aparentemente, a capacidade de reverter o enve- lhecimento. Este inver tebrado rever te o processo de envelhecimento até atingir a fase protozoária. De facto, chamam-lhe muitas vezes a medusa Benjamin Button. Mas, ao contrário de Benjamin Button, esta medusa começa, depois, de novo a envelhecer, repetindo indefinidamente o processo, tanto quanto nos é permitido ver.
Como afirmaram os autores de uma tese de 1996 sobre este fenómeno, isto revela «um potencial de transforma-ção sem paralelo no reino animal»2. Um artigo posterior do New York Times afirmou que a descoberta «parecia descons-truir a lei mais fundamental do mundo natural — nascemos e depois morremos»3.
Os animais do género Hydra também parecem não ser senescentes. As lagostas, ainda que, decer to, não sejam imortais, parecem crescer e aumentar a sua fertilidade à medida que envelhecem, evitando os sintomas de senes-cência que afetam a maior parte da vida multicelular.
As medusas e as hidras desferem mais um golpe na Teoria Entrópica do Envelhecimento.
2 Piraino, S., Boero, F., Aeschabach, B. et al., «Reversing the Life Cycle: Medusae Transforming into Polyps and Cell Transdifferentiation in Turritopsis Nutricula (Cnidaria, Hydrozoa)». The Biological Bulletin, 190, n.º 3 (1996): 302–12.
3 Rich, N., «Can a Jellyfish Unlock the Secret of Immortality?», New York Times, 28 de novembro de 2012.
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A Teoria Vitalista do Envelhecimento
A ideia de que o envelhecimento ocorre porque «se nos acaba
qualquer coisa» é antiga. Há vários séculos, chamava-se vita-
lismo, e pode ser encontrada nos escritos dos gregos antigos,
incluindo Aristóteles, Hipócrates e Galeno. Envelhecemos por-
que há algo em nós — a centelha vital que dá a vida — que tem
uma duração finita, e depois morremos porque esta se extin-
guiu, deixando para trás apenas a matéria inanimada.
Em termos genéricos, estes tipos de explicações chamam-
-se hipóteses da «velocidade da vida». A mais óbvia destas
explicações era a hipótese dos batimentos cardíacos — a de
que todas as criaturas vivas possuem um número limitado
de batimentos cardíacos. Quando nos aproximamos desse valor
crítico, envelhecemos; quando o atingimos, morremos. Esta
hipótese oferecia uma explicação parcial para a mais óbvia das
anomalias do envelhecimento: nem todos os organismos enve-
lhecem à mesma velocidade. A ideia era a de que, como os ani-
mais mais pequenos têm uma frequência cardíaca mais rápida
(ou índice metabólico basal ou frequência respiratória), enve-
lhecem mais depressa do que os animais maiores. Segundo
este ponto de vista, os cães envelhecem mais depressa do que os
seres humanos porque os seus corações batem mais depressa.
Apelidado de força vital, élan vital, centelha essencial ou
simplesmente alma, este conceito foi praticamente abando-
nado pela ciência no início do século xx, porque tem falhas em
termos de lógica (terão as células batimentos cardíacos?) e falta-
-lhe apoio empírico. Contudo, apresento-a aqui porque a ideia
genérica, a de que o envelhecimento é o resultado de algo que
acaba ou que diminui, existe ainda entre nós, se bem que sob
uma forma moderna.
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TEORIAS DO ENVELHECIMENTO
A falácia central de atribuir o envelhecimento à perda de
um qualquer componente crítico — seja o batimento cardíaco,
a mitocôndria ou uma hormona — consiste no facto de nos
perguntarmos de imediato o que provoca o envelhecimento
desse componente específico. Se o envelhecimento é provocado
pelas alterações mitocondriais ao logo do tempo, o que provoca
essas alterações? Se o envelhecimento é provocado por um
número predeterminado de batimentos cardíacos, o que pre-
determina esse número? Se o envelhecimento é provocado
pela perda de uma glândula endócrina vital, o que provoca o
envelhecimento dessa glândula?
A Teoria Hormonal do Envelhecimento
A noção de que as deficiências hormonais provocam o enve-
lhecimento é ainda bastante popular. Os trabalhos mais anti-
gos remontam à medicina chinesa. Na medicina ocidental,
o campo da endocrinologia — o diagnóstico e tratamento de
doenças relacionadas com as hormonas — floresceu no século
xix. A endocrinologia depressa se tornou uma ciência conven-
cional, bem como um campo aceite da medicina clínica. Mas
como acontece com vários avanços médicos, a isto depressa se
seguiram alegações sem fundamentação e esperanças vãs.
As alegações mais espetaculares abordavam o envelheci-
mento através da sexualidade. Estas alegações envolviam o uso
de testículos (e, mais raramente, de ovários) de animais jovens
para serem ingeridos, transplantados ou extraídos e injetados
nos pacientes. O mais proeminente líder neste novo campo
da endocrinologia foi Charles-Édouard Brown-Séquard, um
médico de renome mundial que exerceu em França, Inglaterra
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e nos EUA em meados do século xix. Alegava ter uma «vitali-
dade sexual rejuvenescida depois de ingerir extratos de testí-
culos de macacos». Aqueles que concordam com a sugestão de
Mark Twain de que se deve comer um sapo vivo ao pequeno-
-almoço, porque, depois disso, nada pior poderá acontecer, cla-
ramente ainda não se tinham cruzado com a abordagem de
Brown-Séquard ao desenvolvimento pessoal!
Sendo a realidade mais estranha do que a ficção, esta abor-
dagem à terapia do antienvelhecimento prosseguiu com o
transplante de testículos de chimpanzés para seres huma-
nos masculinos (e de ovários de macacas para as mulheres).
Levada a cabo por todo o mundo por Serge Voronoff, esta tera-
pia esteve na moda na década de 1930 e foi de tal modo popular,
que o governo francês baniu a caça ao macaco nas suas coló-
nias, levando Voronoff a tentar criar macacos com este pro-
pósito. Intervenções semelhantes tornaram-se populares nos
EUA, usando tanto injeções de água tingida como transplantes
de testículos de bode.
Presentemente, mantém-se uma crença bastante difundida
de que a testosterona e o estrogénio podem, na verdade, rever-
ter o processo de envelhecimento. Esta crença nasce, em certa
medida, da observação de que os nossos níveis destes esteroi-
des baixam com a idade. Na maioria dos homens, esta quebra
é gradual; na maioria das mulheres, ocorre de modo mais notó-
rio na menopausa.
Esta pressuposição comum — se os níveis hormonais
diminuem com a idade, então a substituição hormonal tornar-
-nos-á jovens de novo —, além de fraca logicamente, é contra-
dita pelos dados médicos. As alegações de que a terapêutica
hormonal de substituição (THS) permite que algumas pessoas
se sintam mais jovens são iguais às das pessoas que, há um
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século, usavam testículos de macaco, chifre de rinoceronte
e água colorida.
As hormonas apresentam, por vezes, benefícios terapêuti-
cos? Sim.
Poderão as hormonas abrandar, parar ou reverter o enve-
lhecimento? Não.
O VALOR DAS HORMONAS DE CRESCIMENTO
Numa conferência sobre o envelhecimento, em Marrocos, foi-me perguntado se existiria algum valor na utilização de uma hormona de crescimento no tratamento do envelhe-cimento. «Sim, claro», respondi. «Existe um valor considerá-vel, mas não na compra de hormonas de crescimento, e sim na sua venda. Não faz nada pelo envelhecimento, mas há, sem dúvida, um mercado para elas.» A empresa farmacêu-tica que vendia a hormona de crescimento não me voltou a convidar.
A Teoria Mitocondrial do Envelhecimento ou Teoria dos Radicais Livres
Talvez a explicação para o envelhecimento mais conhecida
seja a Teoria dos Radicais Livres Mitocondriais, inicialmente
publicada por Denham Harman, em 1972. Os radicais livres
ocorrem naturalmente, como um efeito secundário do meta-
bolismo, em especial o que ocorre dentro das nossas mito-
côndrias. Talvez ainda se lembre, das aulas de biologia, que as
mitocôndrias são as «centrais elétricas» das células. Como se
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de poderosos reatores nucleares se tratassem, as mitocôndrias
geram imensas quantidades de energia. E, como no caso dos
reatores nucleares, existe uma quantidade considerável de
desperdício.
À medida que queimamos combustíveis metabólicos (como
a glicose), o nosso corpo cria radicais livres, moléculas carre-
gadas que perturbam outras moléculas. Felizmente, a esma-
gadora maioria dos radicais livres é criada dentro das nossas
mitocôndrias e aí permanece, longe da maior parte das molé-
culas importantes das nossas células e ainda mais longe do
ADN dos nossos genes, que estão escondidos, em segurança,
no núcleo das células. No entanto, os radicais livres que esca-
pam geram o caos nas complexas moléculas biológicas das
nossas células, como o ADN, os lípidos das membranas e as
enzimas fundamentais.
A Teoria dos Radicais Livres tem uma grande dose de cre-
dibilidade. Algumas das alterações mais importantes que ocor-
rem nas células envelhecidas podem ser diretamente atribuídas
aos radicais livres e aos danos por eles causados no interior das
nossas células. À medida que as nossas células envelhecem,
ocorrem quatro alterações importantes no que diz respeito aos
radicais livres: produção, sequestro, captação e reparação.
A primeira alteração é o aumento da produção de radicais
livres. As mitocôndrias jovens produzem poucos radicais livres
e muita energia. As células mais velhas, contudo, têm uma taxa
mais elevada de produção de radicais livres para produção de
energia. E quanto mais radicais livres são produzidos, mais
danos ocorrem.
A segunda fase, o sequestro, permite que mais radicais
livres escapem da mitocôndria para o resto da célula, inclusive
para o interior do núcleo. Isto ocorre porque as membranas
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O PAI DA TEORIA DOS RADICAIS LIVRES
Denham Harman, simultaneamente «o pai da Teoria dos Radicais Livres» e o primeiro proponente da Teoria Mito- condrial do Envelhecimento, era um ser humano espantoso. (Infelizmente, faleceu em novembro de 2014.) Nascido há quase um século, terminou o doutoramento, interessou- -se pelas causas do envelhecimento, regressou para fazer a sua especialização em medicina na Universidade Stanford e depois passou o resto da vida como professor de medi- cina, tentando compreender e explicar o envelhecimento humano. Em 1970, ajudou a fundar a American Aging Association (AGE). Em 1985, fundou a International Asso- ciation of Biomedical Gerontology (IABG). Ao trabalhar com Denham nos conselhos tanto da AGE como da IABG, vi-o escutar as ideias dos outros durante horas — muitas vezes de outros com menor conhecimento ou sapiência —, educada e pacientemente. Um homem sem arrogân-cia, era atencioso, simpático, respeitado e até reverenciado pelos membros da comunidade dedicada ao estudo do envelhecimento.
lipídicas que compõem as paredes da mitocôndria se tornam
mais permeáveis com a idade.
A terceira alteração afeta a captação. Nas células mais
jovens, existem captadores de radicais que capturam de forma
eficaz os radicais livres. As células mais velhas produzem
menos captadores, permanecendo mais radicais livres, o que
inflige danos maiores.
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A quarta alteração consiste em as células mais velhas terem
menos capacidade de reparação dos danos provocados pelos radi-
cais livres. Assim, não só a célula envelhecida incorre em mais
danos provocados pelos radicais livres — devido ao aumento
da sua produção e à redução do sequestro e da captação —, mas
também se torna mais lenta a reparar esses danos. (No caso do
ADN danificado, há uma descida na taxa de reparação; no caso
das restantes moléculas, é a taxa de substituição que desce.)
Estes processos criam um círculo vicioso. Todos estes qua-
tro processos — produção, sequestro, captação e reparação —
estão interligados, de onde resulta que as células envelhecidas
se tornem cada vez mais disfuncionais a todos os níveis.
Ainda que seja tentador ver nesta avalanche de danos meta-
bólicos a causa do envelhecimento, a conclusão de que a Teoria
dos Radicais Livres pode explicar o envelhecimento é injusti-
ficada. A Teoria dos Radicais Livres tem uma certa elegância
e teve grande aceitação entre o público, mas também sofre de
um importante problema: explica grande parte do que acon-
tece à medida que uma célula envelhece, mas não explica o
que provoca a ocorrência dessas alterações. Porque é que estes
quatro processos — produção, sequestro, captação e reparação
— mudam à medida que envelhecemos? O que é que inicia a
espiral descendente?
Algumas células, por exemplo, as células germinativas (célu-
las sexuais), não apresentam nenhumas destas alterações, apesar
de uma linha de ancestralidade ininterrupta que remonta a
vários milhares de milhões de anos de vida. Então como é que
os radicais livres podem danificar de modo irreparável algumas
células ao fim de alguns anos, mas não têm qualquer efeito
sobre as células germinativas ou sobre organismos unicelu-
lares ao longo de milhares de milhões de anos?
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Além disso, a eliminação de radicais livres, ainda que fosse
possível, seria desastrosa. Nós precisamos dos radicais livres
para sobreviver, pois usamo-los para modelar a expressão
genética e para matar micróbios. Se baixarmos a concentração
de radicais livres nas células saudáveis, o padrão de expressão
genética altera-se e a célula torna-se menos funcional. O nosso
sistema imunitário usa elevadas concentrações de radicais
livres para atacar os organismos invasores, como as infeções
bacterianas. Os radicais livres podem ser uma força impulsio-
nadora no processo de envelhecimento, mas também são uma
parte normal e benéfica da nossa função fisiológica.
Quando tentamos intervir no processo de envelhecimento,
alterando os radicais livres, os resultados são, no mínimo,
ambíguos. Existe um corpo de trabalho válido que sugere que
podemos aumentar o tempo de vida de alguns animais em
laboratório minimizando os danos causados pelos radicais
livres, mas não existem quaisquer provas de que possamos
alterar o tempo de vida máximo de uma espécie, independen-
temente do que fizermos aos radicais livres.
Já agora, um argumento semelhante pode ser aplicado às
discussões acerca de oxidantes e antioxidantes. Os organismos
vivos necessitam da oxidação como parte do processo metabó-
lico. A oxidação é o processo pelo qual o oxigénio reage com
as moléculas de modo a formar dióxido de carbono e água,
libertando energia. Há a tendência para acreditar que a oxida-
ção é outra das causas do processo de envelhecimento, mas
a realidade é mais complexa. Não só não podemos sobreviver
sem oxidação (e oxigénio!), como não existem provas de que
os antioxidantes tenham qualquer efeito sobre o processo de
envelhecimento. Similarmente ao que acontece com os radi-
cais livres, a oxidação exagerada e descontrolada pode, sem
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dúvida, causar problemas, mas a produção de radicais livres e a
oxidação são partes necessárias do nosso metabolismo. E ne-
nhuma delas pode, realmente, ser considerada o impulsiona-
dor do envelhecimento.
Não podemos afirmar que explicámos o processo de enve-
lhecimento enquanto essa explicação não permitir prever quais
as mitocôndrias, células e organismos que serão sujeitos ao
envelhecimento e quais os que não serão. A Teoria dos Radicais
Livres tem um grande poder descritivo, mas não é preditiva.
A Teoria Nutricional do Envelhecimento
Poderá ser algo exagerado afirmar que existe uma teoria nutri-
cional do envelhecimento, mas muito foi escrito sobre o tópico
de prolongar a vida através da dieta.
EMBUSTES NUTRICIONAIS
A História está repleta de pessoas que viveram vidas espan-tosamente longas por terem comido os alimentos certos. Marco Polo, por exemplo, encontrou iogues indianos que alegavam viver entre 150 e 200 anos ingerindo apenas arroz, leite, enxofre e — num espetacular desrespeito pela sua saúde e pelo nosso ceticismo — mercúrio. Nunca se soube ao certo se os iogues estavam a gozar com Marco Polo ou se estava ele a gozar connosco. Seja como for, este é apenas um de centenas de exemplos históricos em que a alegação de uma vida longa não depende de uma nutrição especial, mas do nosso otimismo crédulo inerente.
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Fica além do âmbito deste livro refutar os milhões de palavras
escritas sobre este tópico, mas posso apresentar um resumo,
baseado na ciência conhecida à data: existindo, de facto, provas
de que uma dieta pobre pode provocar doenças e que uma boa
dieta pode evitá-las, não existem quaisquer provas de que uma
dieta ótima possa impedir ou reverter o envelhecimento.
O envelhecimento não é uma doença nutricional. Não
importa quanto ou o quão bem comamos; não há manipu-
lação dietética que possa impedir ou inverter o processo de
envelhecimento.
Ainda assim, em 1934, Mary Crowell e Clive McCay da Uni-
versidade Cornell, concluíram que podiam duplicar a esperança
média de vida dos ratos de laboratório através de fortes restri-
ções calóricas. Os dados definitivos relativos aos seres huma-
nos ou a outros primatas ainda não foram estabelecidos, mas
existem motivos para acreditar que uma restrição calórica rele-
vante possa ter o potencial para aumentar significativamente
a longevidade. (E mesmo que assim não seja, esta parecerá,
sem dúvida, mais longa.)
De qualquer forma, não existem provas de que a restri-
ção calórica possa parar ou reverter o processo de envelhe-
cimento. Muitos investigadores acreditam que a restrição
calóricanão é o grupo experimental, mas o grupo de controlo.
Realçam que animais (e seres humanos) evoluíram de modo
a viver com uma dieta com baixo teor calórico. Num ambiente
natural, é difícil encontrar calorias. Evoluímos para viver
sem comer muito, e agora — sendo a sociedade moderna o
que é — somos sobrecarregados com uma gula por comida
e somos incapazes de controlar o nosso próprio consumo.
Deste ponto de vista, o que é de espantar não é que possamos
viver mais tempo se comermos bem, mas que consigamos
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sobreviver tão bem com a fast food, a nutrição pobre e a abun-
dância de calorias vazias típica das dietas dos habitantes dos
países desenvolvidos.
A Teoria Genética do Envelhecimento
Na segunda metade do século xx, tornou-se moda explicar o
mundo em termos genéticos, quase com exclusão de qualquer
outro ponto de vista. Passámos a aceitar a ideia de que genes
específicos provocam quase tudo, dos problemas cardíacos à
doença de Alzheimer, passando pela osteoartrite e pelo próprio
envelhecimento. Ainda que as explicações genéticas possam
deter grande poder, têm de ser invocadas com grande cuidado.
Muitas vezes, não são verdadeiras.
Frequentemente, presume-se que os genes são a causa de
todas as doenças, incluindo do envelhecimento. No entanto,
há dois grandes problemas em relação à noção de «genes do
envelhecimento».
O primeiro problema é que a maior parte dos traços (como,
por exemplo, a altura), das doenças (como a aterosclerose) e
das alterações complexas (como o envelhecimento) não são
atribuíveis a um gene ou mesmo a um pequeno número de
genes. Existem, sem dúvida, genes que estão relacionados com
estas coisas, mas a ideia de que um ou alguns genes causam
um qualquer resultado particularmente complexo só ocasio-
nalmente se revela correta e é, na maioria das vezes, ingénua.
No caso da altura, por exemplo, sabemos que os genes, os
fatores ambientais e os fatores epigenéticos desempenham
um papel na determinação da nossa estatura final (os fatores
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epigenéticos são traços hereditários que não fazem parte da
sequência de ADN). Não há um «gene da altura» específico
que seja responsável pela nossaestatura.
O segundo problema é que os genes são menos importantes
do que a expressão genética — a epigenética. O facto de nos ter-
mos concentrado de modo tão exclusivo nos genes deixou-nos
cegos face à enorme relevância desta constatação. No início do
século xx, por exemplo, havia biólogos que acreditavam que
os nossos dedos dos pés e o nosso nariz dependiam de genes
diferentes. Pelo contrário, os genes para cada parte do corpo
são precisamente os mesmos. A diferença entre um tipo de
célula e outro não está nos genes, mas no padrão de expressão
genética — o padrão epigenético. Não existe um gene do dedo
do pé, apenas um padrão de expressão epigenética de dedo do
pé. E é possível encontrar um padrão de expressão genética
distinto em todas as células ou tecidos definíveis. É um pouco
como ter uma só orquestra sinfónica capaz de tocar Mozart,
blues ou Grateful Dead; a diferença não está nos instrumentos,
mas na partitura. Estranhamente, a diferença entre as células
do dedo do pé e do nariz é precisamente a mesma diferença
que encontramos entre uma célula jovem e uma célula envelhe-
cida: têm os mesmo genes, mas o padrão de expressão é dife-
rente. A diferença entre as minhas células aos 6 e aos 60 anos
não é genética, é epigenética. Pelo que a busca dos «genes do
envelhecimento» é um esforço fútil.
No entanto, é suposto serem identificados com regulari-
dade «genes do envelhecimento» e, ao que parece, com sin-
ceridade, ainda que com pouco conhecimento e ainda menos
compreensão. Decerto existem genes específicos ou alelos4 que
4 Um alelo é uma forma alternativa de um gene. No caso do gene para a cor dos olhos, podemos ter um alelo azul ou um alelo castanho.
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são mais comuns em pessoas com tempos de vida mais curtos
e outros genes ou alelos que são mais comuns em pessoas com
tempos de vida mais longos, mas chamar-lhes «genes do enve-
lhecimento» é enganador.
Como veremos, esta mesma confusão estende-se às doen-
ças associadas ao processo de envelhecimento. Todos os anos,
identificamos alegremente mais uma mão-cheia de genes que
supostamente provocam a doença de Alzheimer ou a ateroscle-
rose. Uma e outra vez, os dados limitam-se a revelar uma corre-
lação, mas não uma causa, e, ainda para mais, uma correlação
menor. Um gene surge como responsável por 1 por cento dos
casos de Alzheimer, outro gene por mais 2 por cento, deixando-
-nos com muitos casos por explicar. Subentende-se, de alguma
maneira, que seremos um dia capazes de identificar os genes
por detrás dos restantes 97 por cento dos casos de Alzheimer se
ao menos pudéssemos aumentar o financiamento da investiga-
ção. Infelizmente, encontrar os genes que causam Alzheimer é
como encontrar os genes que causam o envelhecimento.
O problema não reside na falta de financiamento ou de
investigadores, mas na falta de uma compreensão profunda e
sólida do papel dos genes — e de como os padrões de expres-
são genética se vão alterando à medida que envelhecemos —
no processo básico de envelhecimento, bem como nas doenças
que lhe estão associadas. Em suma, à semelhança do homem
que perdeu as chaves numa rua escura, estaremos para sempre
em busca delas sob o candeeiro, simplesmente porque aí a luz
é melhor, embora as tenhamos deixado cair a um quarteirão
de distância, numa viela escura. Procuramos os genes do enve-
lhecimento porque estes são fáceis de identificar, simples de
explicar e o seu financiamento é mais provável tendo em conta
o atual clima científico.
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Infelizmente, no que diz respeito ao envelhecimento e às
doenças com ele relacionadas, as verdadeiras respostas não
estão nos nossos genes, mas nos padrões de expressão genética.
Os homens cegos e o elefante
Olhámos para o envelhecimento a partir de diferentes pontos
de vista — radicais livres, mitocôndria, nutrição, hormonas,
desgaste, genética, biologia celular e por aí afora — e cada res-
posta foi tão diferente, que parecia impossível que todas pudes-
sem estar certas.
A clássica analogia dos homens cegos e do elefante é ade-
quada. É pedido a seis homens cegos que descrevam um ele-
fante. O homem que tateia uma perna diz que o elefante é
como uma coluna. O que tateia a cauda diz que o elefante é como
uma corda. O que tateia a tromba diz que o elefante é como uma
cobra. O que tateia a orelha diz que o elefante é como um leque.
O que tateia o flanco diz que o elefante é como uma parede. O que
tateia a presa diz que o elefante é como um cachimbo. Cada
um apresenta uma descrição correta da parte do elefante que
tateou, mas nenhum dos homens chega sequer perto de conse-
guir descrever um elefante.
Ainda que cada uma das diversas teorias do envelhecimento
que acabei de descrever seja, em certa medida, credível, todas
estão incompletas. Nenhuma é capaz de explicar todo o elefante.
Como aqueles homens cegos, os nossos académicos oferece-
ram uma descrição correta das partes do processo de envelhe-
cimento a que se dedicaram. Cada uma das teorias é baseada
em dados válidos e corretos. No entanto, nenhum de nós tem
sido capaz de descrever todo o processo de envelhecimento.
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Somos todos investigadores honestos, inteligentes e bem-
-intencionados; contudo, ninguém conseguiu enquadrar todos
os dados numa explicação una e correta para descrever como
ocorre o envelhecimento.
Como podemos reunir todas estas descrições válidas para
completar o «elefante»?
Enquanto professor de medicina, o meu próprio ponto de
vista concentrou-se na intervenção: haveria alguma maneira
de prevenir ou curar as doenças do envelhecimento? Talvez se
conseguíssemos compreender verdadeiramente o processo de
envelhecimento, pudéssemos intervir na doença de Alzheimer,
na aterosclerose e em todas as outras doenças associadas ao
envelhecimento que fazem parte da minha prática médica
quotidiana.
Desde 1980, além de lecionar cursos sobre a biologia e o
envelhecimento, tenho trabalhado como investigador e como
médico a tratar idosos. Passei também bastante tempo a traba-
lhar com crianças com síndromes de envelhecimento precoce.
Crianças com progeria de Hutchinson-Gilford (ou simples-
mente progeria) morrem do que parece ser velhice, normal-
mente por volta dos 13 anos de idade. Estas crianças não só
parecem velhas como as suas células são velhas. Morrem de
doenças normalmente associadas ao processo de envelheci-
mento, sendo as mais comuns os AVC e os enfartes. Uma coisa
é conhecer um homem de 70 anos que morre de enfarte no
jardim das traseiras a atirar uma bola ao neto. Outra é conhecer
uma criança de 7 anos, que parece ter 70 e que morre de ataque
cardíaco a brincar à apanhada com a sua jovem mãe. A incon-
gruência de uma criança a morrer de uma doença associada ao
processo de envelhecimento deixa uma impressão profunda e
duradoura.
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CRIANÇAS IDOSAS: A TRAGÉDIA DA PROGERIA
Por ano, conheço pessoalmente várias dezenas de crianças com progeria, em diversas partes do mundo. Por norma, os pais levaram os filhos ao médico quando se apercebe-ram de que estes não estavam a crescer normalmente. Como esta síndrome é rara e relativamente desconhecida, mesmo para muitos pediatras, as crianças tiveram a sorte de o médico a ter reconhecido e no-las ter reencaminhado.
Ao entrar no século xxi, nada tínhamos para oferecer a estas crianças ou aos seus pais além da nossa simpatia e da certeza de que outros partilhavam a sua aflição e compreendiam a sua tragédia. Os pais podiam perguntar a outros pais como é que lidavam com os problemas de saúde constantes e podiam falar connosco acerca do que sabíamos, que era muitíssimo pouco. As crianças, em parti-cular, aguardavam com ansiedade o momento, uma vez por ano, em que as juntávamos, oriundas de todo o planeta. Era a única altura, nas suas curtas vidas, em que se pareciam com todas as outras crianças à sua volta.
Estranhamente, as crianças progéricas muitas vezes são parecidas, sobretudo, umas com as outras. Num caso, uma menina vietnamita era muito mais claramente progérica do que asiática na sua estrutura facial. Parecia-se mais com as restantes crianças do que com os seus pais. Nos nossos encontros anuais, as crianças carecas, de veias frontais proe- minentes e articulações artríticas andavam por todo o lado, brincando e rindo, felizes por estarem, por fim — e num sentido estranho que todos compreendíamos —, em casa.
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Os telómeros são estruturas de ADN nas extremidades dos
cromossomas que encurtam a cada divisão celular. Em 1992,
descobrimos que as crianças progéricas nascem com telóme-
ros curtos. Os seus telómeros são caraterísticos de pessoas de
70 anos. Esta e outras descobertas tornaram claro que o enve-
lhecimento — em pessoas normais, em crianças progéricas,
em células e noutros organismos — está intimamente relacio-
nado com os telómeros. Contudo, também sabíamos que havia
muitos outros pontos de vista razoáveis acerca do envelheci-
mento, bem apoiados por dados. Como poderíamos reconciliar
o nosso crescente conhecimento dos telómeros e do envelhe-
cimento celular com estes pontos de vista acerca de como se
processa o envelhecimento?
Tratava-se de um problema de perspetiva.
Existem numerosas teorias e dados infindáveis, mas há
sempre alguns dados que não se adequam a uma imagem
una e coerente do processo de envelhecimento. Era como se
tivéssemos milhares de partes de uma máquina complexa e
dezenas de ideias sobre como as combinar todas, mas, sempre
que as tentávamos combinar para criar um aparelho uno e fun-
cional, sobravam peças. Pior ainda, a própria máquina nunca
funcionava.
Tive uma epifania, no início da década de 1990, quando
assisti a uma conferência sobre o envelhecimento realizada no
Lago Tahoe, na Califórnia. Tencionara ouvir as mais recentes
informações e incorporá-las num manual médico atualizado
sobre o envelhecimento.
Os pontos de vista apresentados na conferência eram es-
pantosamente diferentes. Além de se tratar de palestras acerca
de radicais livres, evolução e outras facetas do problema,
passei muito do meu tempo a «traduzi-las» para os que me
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rodeavam. Os investigadores não estavam familiarizados com
a terminologia médica comum («o que é um medicamento
anti-inflamatório não esteroide?») e os médicos não esta-
vam familiarizados com a terminologia de investigação mais
comum («o que é um Southern blot?»). Como tenho um pé em
cada campo, cabia-me a mim ajudar a explicar estes pontos de
vista díspares. Em certas alturas, parecia que o meu papel se
assemelhava ao de tentar explicar ao homem cego que segu-
rava a pata do elefante porque é que o homem que estava a
segurar a cauda também tinha razão.
Na conferência, Cal Harley, um biólogo celular e um amigo,
apresentou uma palestra sobre o mais recente trabalho acerca
dos telómeros e do envelhecimento celular. Realçou que, quando
se sabia a idade de uma célula e se media o comprimento que
o telómero perdera, os dois números se alinhavam na perfeição.
Quando se conhecia um, conhecia-se o outro.
Numa questão de minutos, tudo o que eu sabia como pro-
fessor de medicina, tudo o que eu tinha ensinado na minha
sala de aula, foi cristalizado num padrão completamente novo.
Comecei a perceber como todos os pontos de vista, por muito
díspares e contraditórios que parecessem, se enquadravam
num quadro uno e bem-definido.
Dei por mim a olhar para o «elefante» todo.
Quanto mais pensava sobre isso, mais constatava que todas
as peças se encaixavam. Em vez de múltiplas teorias, em que
cada uma representava apenas parte da resposta, vi os contor-
nos de uma teoria na qual todos os dados e pontos de vista
explicavam com clareza como envelhecemos e onde podería-
mos intervir. Comecei a vislumbrar como poderíamos testar a
teoria para saber se estaria correta. E percebi como poderíamos
usar o nosso conhecimento para ir muito mais longe.
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AENZIMA
daLONGEVIDADE
«UM DOS MELHORES LIVROS DE CIÊNCIAS DE 2015»Wall Street Journal
Dr. Michael FosselESPECIALISTA MUNDIAL NO ESTUDO DO ANTIENVELHECIMENTO
Dr. Michael Fossel
LONGEVIDADEda
ENZIMA
A
TELOMERASE, A ENZIMA QUE DETÉM A CHAVE PARA TRAVAR
O ENVELHECIMENTO E PROPORCIONAR VIDAS MAIS
LONGAS E SAUDÁVEIS
«Uma obra notável que oferece a entusiasmante promessa de
podermos curar e prevenir doenças associadas à velhice, e até regredir
o próprio envelhecimento.» Matt Ridley,
autor de Genoma e de O Otimista Racional
Atualmente, sabemos mais sobre o processo de envelhecimento, e sobre como o prevenir e até regredir, do que alguma vez soubemos. Nos últimos anos, o entendimento sobre a natureza do envelhecimento disparou, e o prolongamento da vida passou de ficção científica para realidade. A ciência está ao virar da esquina de um acontecimento revolucionário.
Há décadas que o Dr. Michael Fossel está na vanguarda desta investi-gação, tendo publicado vários artigos fundamentais sobre o envelheci-mento. Em A Enzima da Longevidade, o autor dá-nos uma perspetiva pormenorizada, numa linguagem acessível, sobre os efeitos da passa-gem do tempo no corpo humano.
Este livro é o texto incontornável que revela as mais recentes descobertas científicas sobre o processo de envelhecimento. Porque acontece? Como acontece? Como conseguimos travá-lo? As respostas que vai encontrar neste livro estão prestes a criar uma verdadeira revolução na medicina humana.
«A convincente argumentação de Michael Fossel na abordagem da telomerase para reverter o envelhecimento merece mais do que um breve olhar. É como ler as palavras de Virgílio,
enquanto nos conduz através dos mistérios do envelhecimento.» Alexey Olovnikov,
Academia de Ciências da Rússia
«Um livro que decompõe séculos de pensamento humano acerca do envelhecimento e desenraíza ideologias ultrapassadas. O entusiasmante livro do Dr. Fossel abre as portas
à longevidade prolongada que pode mudar a história humana.» Noel Patton,
fundador e presidente da T. A. Sciences
Dr. Michael Fossel
«A Enzima da Longevidade é uma obra notável que narra uma história fascinante, juntando, por fim, uma teoria única e coerente de como e porquê o envelhecimento conduz a tantas formas diferentes de doença. Também oferece a entusiasmante promessa de podermos, em breve, saber não só como curar e prevenir doenças associadas ao processo de envelhecimento, mas como regredir o próprio processo de envelhecimento. Michael Fossel é um otimista radical.»
Matt Ridley, autor de Genoma e de O Otimista Racional
«O Dr. Fossel argumentou de modo soberbo a sua crença de que os telómeros e a telomerase desempenham um papel essencial na biologia do envelhecimento, tanto em seres humanos como noutros animais. Os seus pontos de vista estiveram, outrora, em minoria, mas os avanços mais recentes acerca do funcionamento destas moléculas fazem deste livro uma contribuição valiosa para a nossa compreensão da biologia fundamental do envelhecimento. Além disso, a sua escrita é clara e bem organizada.»
Leonard Hayflick,professor de Anatomia na Universidade da Califórnia, EUA
«O envelhecimento não é um processo degenerativo irreversível, mas, sim, um mecanismo fisiológico epigeneticamente determinado, não devendo ser confundido com doenças associadas ao processo de envelhecimento provocadas pelas escolhas do estilo de vida. Esta obra é um guia eficaz e claro para compreender como envelhecemos e como dominar o envelhecimento dentro de alguns anos.»
Giacinto Libertini, médico, membro da Sociedade Italiana de Biologia Evolutiva
Obteve a especialização e o doutoramentona Universidade de Stanford, onde depois lecionou neurobiologia. Foi professor de medicina durante quase três décadas, diretor executivo da American Aging Association e editor-fundador do jornal Rejuvenation Research. Em 1996, escreveu o primeiro livro sobre a Teoria Telomérica do Envelhecimento, Reversing Human Aging. Redigiu mais de 60 artigos científicos e é o autor do único compêndio médico na área dos telómeros e da sua aplicação clínica, Cells, Aging, and Human Disease (Oxford University Press, 2004). Sendo o maior especialista mundial no uso clínico dos telómeros em doenças relacionadas com a idade, dá conferências um pouco por todo o mundo e é convidado frequente em vários programas televisivos. Presentemente, desenvolve o seu trabalho no sentido de efetuar testes para a doença de Alzheimer em seres humanos.
Saiba mais em:www.michaelfossel.com
<21,5 mm>A Enzima da Longevidade150x230 mm
Saúde e Bem-estar
9 789898 849649
I S B N 9 7 8 - 9 8 9 - 8 8 4 9 - 6 4 - 9
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