CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE PEDAGOGIA
MARIA DO SOCORRO LIRA CHAVES
INDISCIPLINA EM SALA DE AULA, UM ESTUDO TEÓRICO.
FORTALEZA
2013
MARIA DO SOCORRO LIRA CHAVES
INDISCIPLINA EM SALA DE AULA, UM ESTUDO TEÓRICO.
Monografia submetida à
aprovação da Coordenação do
Curso de Pedagogia do Centro
Superior do Ceará, como requisito
parcial para obtenção do grau de
Graduação, sob a orientação da
professora Ms. Luiza Lúlia Feitosa
Simões.
FORTALEZA
2013
MARIA DO SOCORRO LIRA CHAVES
INDISCIPLINA EM SALA DE AULA, UM ESTUDO TEÓRICO.
Monografia como pré-requisito
para obtenção do título de
Licenciatura em Pedagogia,
outorgado pela Faculdade
Cearense – FAC, tendo sido
aprovada pela banca examinadora
composta pelos professores.
Data de aprovação:
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Professora Ms Luiza Lúlia Feitosa Simões
Presidente
_________________________________________________
Professora Esp. Maria Bernadete Almeida Adriano
Membro
_________________________________________________
Professora Ms.Maria Elia dos Santos Vieira
Membro
Ao meu pai ANTONIO (in memoriam) e minha mãe SILVIA (in memoriam) por
seu amor, carinho, respeito e dedicação.
AGRADECIMENTOS
Primeiro a DEUS por me dar força e iluminar o meu caminho em todos os
momentos da minha vida.
Ao meu marido (Fernando), minhas filhas (Michelle, Fernanda e Lívia) e meu
genro (Marcus) por me ajudarem e suportarem os momentos de estresse.
A minha orientadora professora Ms Luiza Lúlia Feitosa Simões pelo incentivo,
apoio, e conduzir-me atenciosamente na execução deste trabalho.
À professora Esp. Maria Bernadete Almeida Adriano e professora Ms. Maria
Elia dos Santos Vieira por prontamente ter aceitado o convite em participarem
da banca.
A todos(as) os(as) professores(as) que passaram por mim nessa caminhada,
pela dedicação e carinho.
À Faculdade Cearense por me proporcionar esse momento tão almejado.
Aos irmãos(ãs) da minha igreja; Igreja Evangélica da Fé, que oram por mim
constantemente.
Ao meu pastor Manoel Marcelino de Medeiros por sua preocupação e orações.
À “Mazé” que cuidou do meu pai e da minha mãe com amor e dedicação.
As minhas amigas e amigos de trabalho porque sempre me incentivaram e me
deram força.
O meu agradecimento especial às duas amigas que se fizeram nessa
caminhada e estiveram comigo em um dos momentos mais difíceis da minha
vida: Patrícia Gonçalves e Marta Botelho.
“Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem
aprender a fazer o caminho, caminhando,
refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a
caminhar.”
PAULO FREIRE
RESUMO
O fenômeno da indisciplina tem se tornado uma problemática cotidiana, tanto no cenário escolar quanto no social. Diante de tal fato, esta situação virou centro dos diálogos pedagógicos das instituições escolares que buscam constantemente métodos de intervenções educativas para amenizar ou até sanar as ações de indisciplinas. O presente estudo trata-se de uma pesquisa teórica tendo como principais autores da abordagem científica Tiba, Aquino e Vasconcellos, a intenção é gerar informações a cerca da problemática, para referendar a pesquisa bibliográfica foi realizada uma breve visita a duas instituições públicas, sendo uma delas, militar; onde a disciplina é componente tradicionalmente observado. A análise teve como ferramenta de coleta de dados um questionário composto por itens subjetivos, que deram subsidio para a uma apuração dos dados de maneira concisa confirmando assim dados elencados pelos teóricos consultados. Através dos conhecimentos adquiridos pode-se compreender que as atitudes de mau comportamento escolar não são ocasionadas por um fator isolado, gerido de um único sujeito, mas por um conjunto de situações contextualizadas. Diante das afirmações compreende-se que para amenizar os atos de indisciplina é necessária a aplicação de uma intervenção pedagógica, coletiva, humana e processual, aplicando métodos e práticas capazes de formar verdadeiros cidadãos. Palavras-Chave:Indisciplina, intervenções educativas, alunos.
ABSTRACT
The indiscipline phenomen has become a routine problematic, in both scholar and social environments. Because of such circunstances, this topic became center of the pedagogical dialogs of scholar institutions, that constantly seek educational intervention methods to reduce or even remedy indiscipline actions The present study deals about a theoretical research based on the scientific approach of authors like Tiba, Aquino and Vasconcellos. The purpose is to generate informations about the indiscipline problematic. To endorse the bibliographical review, a brief visit to two public institutions was done, one of them a militar institutiton, where discipline is a traditionally observed component. The data collection was made using a questionnaire composed of subjective itens, which gave a subsidy for a concise verification of the data confirming the data listed by the consulted theorists. From the adquired knowledge, it can be comprehended that bad scholar behaviour attitudes are not caused by only one factor, managed by only one subject, but by a series of contextualised situations. Given the statements, one comprehends that to reduce the indiscipline acts, it is necessary the application of a pedagogical, collective, human and procedural intervention, applying methods and practices able to form authentical citizens.
Key words: Indiscipline, educational intervention, students.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.............................................................................10
2. CONCEITOS BÁSICOS...............................................................13
2.1 Disciplina.....................................................................................13
2.2 Indisciplina..................................................................................18
2.2.1 Indisciplina no espaço escolar..................................................19
2.2.1.1 Fatores geradores da indisciplina.............................................21
3. INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA......................................................26
3.1 Considerações iniciais...............................................................26
3.2 Tipologia da violência................................................................28
3.2.1 Simbólica.....................................................................................28
3.2.2 Psicológica..................................................................................29
3.2.3 Física............................................................................................30
4. INCUBÊNCIAS DA ESCOLA.......................................................32
4.1 Papel do educador......................................................................32
4.2 Acordo de convivência...............................................................34
4.3 Papel da gestão escolar.............................................................35
4.4 Ações preventivas X Temas transversais................................36
5.
5.1
METODOLOGIA...........................................................................39
Característica do estudo............................................................39
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................54
7. REFERÊNCIAS............................................................................56
8. APÊNDICES.................................................................................60
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CDA Cadastro de Alteração Disciplinar
CPMGEF Colégio da Polícia Militar do Ceará General Edgar Facó
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
EEFMML Escola de Ensino Fundamental Municipal Monsenhor Linhares
LDB Lei de Bases e Diretrizes da Educação
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
RCNEI Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil
10
1. INTRODUÇÃO
O ato de ensinar nunca foi uma tarefa definida como simples, porém
cada vez mais, exercer a profissão de educador tem se tornando uma ação
desafiadora e complexa, pois além das adversidades que já se faziam
presentes no exercício do magistério, a questão de indisciplina dos alunos
tornou-se uma problemática bastante preocupante no cotidiano da sala de aula.
De acordo com Garcia (1999), a problemática da indisciplina está
atrelada a inúmeros fatores, não sendo gerado apenas por um ato isolado,
mais sim, por uma rede consecutiva de acontecimentos que podem ser
gerados dentro e fora do espaço escolar, o que torna um diagnóstico específico
da causa dos problemas comportamentais uma ação bastante complexa.
Diante da afirmação acima, surgiu diversos questionamento sobre a
investigação da temática: Como ocorre a indisciplina no espaço escolar e quais
os principais fatores geradores? Qual a relação entre indisciplina e violência?
Qual o papel da escola frente às ações repulsivas dos discentes?
Portanto visando responder as indagações explicitadas, este estudo
visa analisar temática da indisciplina no ambiente escolar, procurando elencar
suas causas e consequências, bem como identificar ações educativas
promovidas pela escola e família do sentido de minimizar as ações negativas
da indisciplina promovendo assim um aprendizado significativo.
Chalita (2004) enfatiza que a instituição escolar ainda utiliza
métodos de imposição de suas normas e regras, o que ocasiona um
11
sentimento de repressão nos alunos que diante deste fato acabam reagindo
com comportamentos indesejados.
Assim sendo, o objeto de estudo desta pesquisa será a indisciplina
na escola. А presente pesquisa foi motivada a partir da compreensão de que a
problemática da indisciplina deve ser responsabilidade de todos, gerando o
sentimento de responsabilidade, a fim de desenvolvendo ações de caráter
educativo, dentro da instituição escolar para de garantir que os alunos, pais e
todo corpo escolar tenham capacidade de enfrentar as situações de indisciplina
e violência, aplicando a pedagogia do educar, do cuidar, da compreensão e do
afeto.
Outro motivo que foi bastante relevante para a escolha desta
temática foi por conta da experiência ao observar que, no passado, os
professores eram respeitados assim como também os pais. Hoje é bastante
comum o fato de professores deixarem as salas de aula com medo dos alunos
e alunos agredindo professores, o que é cotidianamente narrado pela mídia.
Cada vez mais são noticiados tristes acontecimentos de escolas encerrando
suas atividades em decorrência da gritante violência que ocorre em seu meio.
Diante desta realidade, entende-se que a temática estudada possui
uma grandiosa importância no cenário educacional atual, A intenção é que esta
pesquisa possa contribuir, através da teoria exposta para melhoria dos
relacionamentos escolares entre professores e alunos que acessarem esse
estudo. E deste modo amenizar as situações de violência e indisciplina escolar.
Para efetuar esta pesquisa foi realizado um estudo bibliográfico
visando dar uma fundamentação teórica, paralelamente desenvolveu-se uma
breve pesquisa com agentes de dois espaços educacionais, sendo estes,
gestores, professores e alunos como o objetivo de confrontar as informações
colhidas na pesquisa bibliográfica. A partir desta escolha metodológica, foi
realizada uma coleta de dados por meio de questionários visando possibilitar a
participação ativa e direta dos sujeitos pesquisados durante o processo de
execução da metodologia.
12
O objetivo geral desta pesquisa é gerar informações a cerca da
problemática da indisciplina no âmbito escolar. Através dos conhecimentos
gerados com a pesquisa pode-se compreender que as atitudes de mau
comportamento escolar não são ocasionadas por um único fator ou um único
sujeito, mas por um conjunto de situações contextualizadas. Diante das
afirmações entende-se que para amenizar os atos de indisciplina é necessária
a aplicação de uma intervenção pedagógica, coletiva, humana e processual.
Os objetivos específicos são: analisar a indisciplina a partir da
percepção de estudiosos da temática, bem como de alguns, poucos, agentes
que fazem parte do cotidiano escolar; identificar quais fatores contribuem para
a indisciplina escolar e analisar medidas de possíveis prevenções no ambiente
escolar e familiar.
Incluindo a introdução serão apresentados seis capítulos, sendo três
de revisão literários organizados através da sequência explicitada nos
parágrafos a seguir e precedidos da análise metodológica e das considerações
finais.
Após a introdução, o segundo capítulo faz uma abordagem geral
sobre o conceito de disciplina contrapondo-o à definição de indisciplina
considerando o ambiente escolar. Neste capítulo também são elencados os
fatores geradores da indisciplina.
O terceiro capítulo caracteriza o fenômeno da indisciplina e a sua
relação entre violência, explicitando os principais tipos de violência com base
em autores como Deslandes (1994),Freire (2001), Vasconcellos (2006),
Boudieu (2010) e Vieira (2012).O quarto capítulo retrata o papel da escola e do
profissional da educação frente às situações de indisciplina.
O quinto e último capítulo versa sobre as abordagens metodológicas
em relação à pesquisa bibliográfica bem como a análise dos questionários
aplicados a gestores, professores e alunos, em visita a duas instituições de
ensino. Concluindo a pesquisa são expostas algumas considerações finais e
sugestões que novos estudos posto que a presente temática é complexa e
requer sempre novos estudos.
13
2. CONCEITOS BÁSICOS 2.1 Disciplina
A problemática da indisciplina tanto no contexto escolar quanto
familiar é um assunto bastante complexo que exige uma análise minuciosa dos
diversos fatores que a ocasiona, bem como análise de outros conceitos, dentre
eles o de Disciplina.
No entendo, dissertar sobre disciplina pode levar a diversos
direcionamentos, então é necessário o conhecimento de algumas definições e
e características, pois esta possuí diversas “faces”.
De acordo com Chagas (2001), a característica de disciplinado era o
aluno que fazia tudo tal e qual o que o professor mandava. A disciplina era
definida como um conjunto de regras estabelecidas pela instituição que visava
manter seu funcionamento dentro da ordem da moral e dos bons costumes.
Era exigido do aluno que seguisse e respeitasse fielmente essas regras sem
questionamentos a nenhuma ordem do professor, que detinha total controle da
sala. A disciplina neste momento era algo que dominava e moldava totalmente
o aluno e que exercia um papel para a reprodução do sistema escolar.
Muitas vezes ocorre o fato de se confundir o conceito de disciplina
com obediência, gerando verdadeiros conflitos mentais. O professor é o
principal responsável por fato conforme afirma Vasconcellos (1994, p. 39)
disserta:
14
O conceito de disciplina associado à obediência está muito presente no cotidiano da escola, mais ou menos conscientemente; isto por que há uma verdadeira luta em classe, onde o professor está procurando sobreviver, num contexto de tanto desgastes. O trabalho o educador é estressante; ele procura um pouco de paz para poder respirar, daí esperar o comportamento dócil, passivo do aluno.
Desta “confusão” de significados é gerado, muitas vezes, o
sentimento de insatisfação e inquietação no aluno, que se sente limitado por
sempre está refém das ordens do professor, sem trabalhar desde cedo suas
práticas e noções de responsabilidade e cidadania. Neste sentido Moresco e
Silva (2003 p. 10) citam que:
A disciplina parece ser vista como obediência cega a um conjunto de prescrições e, principalmente, como um pré-requisito para o bom aproveitamento do que é o oferecido na escola. Nessa visão, as regras são imprescindíveis ao ordenamento, ajustamento e controle desejados de cada aluno e da classe como um todo.
Tiba (1996) acredita que a configuração da disciplina escolar pode
ser compreendida como regras estruturadas que precisam ser acatadas, para a
obtenção de um ensino de qualidade. Também proporciona uma relação de
compreensão mútua entre professor e aluno, passando a estabelecer um elo
que elevará o patamar das interações em sala de aula e dentro do espaço
escolar em geral.
O autor enfatiza, ainda, uma relação de disciplina onde o aluno não
é um mero sujeito passivo às ordens do professor, mas devidas regras
precisam ser mantidas por todos os participantes do processo de ensino, de
maneira consciente.
Carvalho, (1996) afirma que é necessário à realização de medidas
de cunho social por parte da escola, pois a problemática que cerca a disciplina
tem componentes práticos que atribuía a ela um caráter tecnicista. Não existem
fórmulas prontas ou métodos imediatos de contensão à indisciplina, cabe
apenas aos responsáveis pelos espaços escolares elencarem medidas
preventivas na tentativa de eliminar os casos de mau comportamento nas
instituições.
15
Neste sentido, prevenção comentada por Carvalho refere-se à falta
de comunicação através do dialogo, já que uma das razões da indisciplina e
atos de violência é que os alunos não são escutados e por sua vez não
compreendem as regras e normas determinadas para sala de aula.
Tiba (1996) afirma que uma criança não pode possuir uma liberdade
de ações, pois nada em meio social é totalmente liberado, ela precisa aprender
que todas as suas vontades não podem ser saciadas. Os educadores e os pais
precisam estabelecer regras para que as crianças se desenvolvam e consigam
se situar bem na sala de aula e na sociedade.
Para que seja estabelecido limite tanto em sala de aula como no
convívio social, o educador precisa propor regras que venham contribuir com a
organização do seu trabalho, de modo que promova justiça e crie
responsabilidades para que o venha ocorrer dentro de sala tenha o
comprometimento e decisões de todos os participantes.
DeVries e Zan (1997) argumenta que o objetivo geral de envolver as
crianças em tomadas de decisões e estabelecimento de regras em suas salas
de aula é contribuir para uma atmosfera de respeito mútuo no qual, professores
e alunos praticam a auto regulação e a cooperação.
Tiba (2006, p.189) diz que há pais que, por pagarem a escola,
acham que ela é responsável pela educação de seu filho. Quando o professor
reclama de mau comportamento da criança, é transferida a culpa para a
escola.
Por passarem o dia fora de casa trabalhando, alguns os pais no
momento da convivência acabam sendo permissivos a tudo que os filhos
querem. Sem fazer nenhuma cobrança e sem impor qualquer regra de
disciplina.
A ausência de limites, instruídas na educação familiar por pais demasiadamente tolerantes, fecunda consequências desastrosas, produzindo crianças indisciplinadas, extremamente agressivas,
16
insolentes, rebeldes, conseguinte vivem sempre em conflitos internos, demonstram insegurança em tudo que realizam, crescem ampliando paralelamente sentimentos nada plausíveis, como o egoísmo e a intolerância, pois estão sempre convictos de que as pessoas que os rodeiam, estarão a sua disposição para satisfazer suas
necessidades. (SANTOS, 2002 p. 46).
O autor comenta a respeito do chamado “pecado do excesso”, ou
seja, tudo o que não possui um controle, ou não é ponderado, não apresenta
os resultados almejados. Com a educação não é diferente, os pais precisam
estabelecer metodologias que proporcionem um desenvolvimento saudável de
maneira física e mental, para tanto, é necessário saber diferenciar limites, de
controle, para que as ações de cunho educativo surtam efeito, seguindo uma
pedagogia formativa e não punitiva.
Aquino (1998) afirma que as crianças perderam a noção de limites,
ressaltando que a culpa seria dos pais que não souberam impor regras no
momento certo, transformando os filhos em verdadeiros rebeldes sem causa.
O autor enfatiza que a criança necessita aderir regras, valores e
formas de conduta porque o limite situa, dá consciência do espaço que ela
ocupa no âmbito de convivência, seja na família, na escola ou na sociedade,
pois sem limites e sem essas regras de conduta quando chega o momento
dessas crianças irem para a escola, elas também não respeitam os
professores.
Na concepção de Tiba, para haver disciplina é necessário uma
autoridade saudável, diferenciando autoridade de autoritarismo. O segredo
para que o filho ou aluno torne-se educado ou disciplinado é o dialogo e o
respeito mútuo.
Saltini (2008) diz que o individuo só pode contribuir com o seu país
tornando-se cidadão, se qualificando como ser social, quando busca o
conhecimento. Diante de tal afirmação é importante ressaltar que sem a escola
a pessoa fica impossibilitado também de constituir os seus direitos, pois
quando se trata de falar em se tornar cidadão, isso inclui uma vida com
17
dignidade, não restrito somente ao direito de votar, consequentemente isso tem
a ver diretamente com a escola, pois quanto menor for sua escolaridade menor
é a chance de oportunidades relacionadas às exigências que se enfrenta no
mundo atual.
Para Freire (2001) A escola deverá desenvolver, por meio de seu
Projeto Político Pedagógico, uma educação comprometida com o
desenvolvimento cognitivo e moral de seus alunos, de modo a permitir que eles
venham a intervir na realidade para transformá-la, tornando-se seres ativos e
cidadãos conscientes.
De acordo com Tiba (2006), o ato de educar uma criança, envolve
também a elaboração de um planejamento, pois é preciso que a criança
desenvolva noções temporais e realizem suas atividades no tempo certo, pois,
desde a mais terna idade o ser necessita assumir responsabilidades e
compreender que algumas coisas precisam ser feitas mesmo contra sua
vontade.
O autor ressalta a necessidade do trabalho dentro de sala de aula
desde muito cedo com conversas e temas que construam os bons costumes,
pois uma boa educação começa no berço, e os limites são necessários para
que mais tarde os maus comportamentos diminuam.
Santomauro (2010) expõe que é de suma importância explicar que
certos limites acabam sendo forma de evitar problemas futuros, assim, no
ambiente escolar, o trаbalho dos gestores, professores e também apoio dos
familiares é de vital importância e age como forma de prevenir atitudes que
podem acarretar conflitos, para tanto é importante a organização de reuniões
periódicas entre todos os envolvidos no ambiente escolar visando evitar tais
situações.
Aquino (1998) ressalta que a melhoria dos atos de maus
comportamentos dentro e fora da sala de aula, só não acontecerá quando
ocorrer um sentimento de conscientização por parte dos alunos do grave
18
problema que é “a indisciplina”, partindo da compreensão de que eles são os
principais afetados com esta reação. O autor afirma também que os pais só
irão exercer mais controle sobre seus filhos quando a percepção do ensino de
limites ocorrer desde cedo, atuando juntamente com a escola, impondo regras
e limites que visem amenizar as situações de indisciplina e alavancar sucesso
do aluno da comunidade escolar e do relacionamento familiar.
2.2 Indisciplina
2.2.1 Pedagogia do Medo: O uso do Castigo
Entende-se que ao longo dos anos os atos punitivos se modificaram.
Hoje em dia não se faz mais uso da palmatória, nem da máquina de ensinar
como descrevia Focault (2001)em suas pesquisas a cerca dos métodos
utilizados no ensino, porém muitas escolas atualmente ainda recorrem a
métodos de punição retrógrados como medidas de correção de um
comportamento ou um resultado indesejado por parte do aluno.
Luckesi (1996) afirma que o castigo ainda permanece existindo de
forma oculta no currículo escolar; a exemplo de quando a instituição discrimina
o erro; para o autor o erro é determinado de acordo com um padrão
estabelecido, tudo que foge daquele paradigma é considerado ato falho.
Bordieu e Passeon afirmam que os atos de castigo permanecem na
escola onde assumem o nome de violência simbólica, provocadas através do
medo do professor, sentimentos de ansiedade, limitação e exposição de sua
figura publicamente durante as repreensões. Esta compreensão encontra
reforço em outros autores, entre eles COMENIUS (1997p. 311) ao afirmar que:
A idéia (sic) e a prática do castigo decorrem da concepção de que as condutas de um sujeito (aluno), que não correspondem a um determinado padrão preestabelecido, merecem ser castigadas, a fim de que ele “pague” por seu erro e “aprenda” a assumir a conduta que seria correta.
O autor ressalta que a prática do castigo está relacionada à
aplicação da correção buscando a reparação do erro do indivíduo, porém, na
19
maioria das vezes, este tipo de ação gera uma reação contrária ao resultado
esperado, agravando a problemática ao invés de sanar, portanto pode-se inferir
que o uso de atos punitivos não soluciona os impasses educacionais.
2.2.2. Indisciplina do espaço escolar
O dicionário Aurélio (1999) diz que disciplina significa o
Regime de ordem imposto ou livremente consentido, ordem que convém ao funcionamento regular de uma organização, militar, escolar, etc., relação de subordinação do aluno ao professor ou ao instrutor, observância de preceitos ou normas, submissão a um regulamento; a indisciplina significa procedimento, ato ou dito contrario a disciplina, desobediência, desordem, rebelião.
Tiba (2006) define a disciplina como um conjunto de regras éticas
para se atingir um objetivo tanto pelos professores quanto pelos alunos para
que o aprendizado escolar tenha êxito.Segundo o autor, sem esse conjunto de
regras éticas compromete a qualidade do relacionamento entre os docentes e
alunos e fica pouco provável que se conseguir disciplina em da sala de aula, e
consequentemente na escola.
La Taille (2006) reporta-se ao conceito de indisciplina, tendo como
antônimo de moral, sendo então desrespeito pelas leis e regras que são
obrigatórias.
Já Amado (1999) afirma que estudar sobre os conceitos e as origens
da indisciplina surge da necessidade de se refletir sobre a profundidade e a
natureza das relações e das interações que a constituem, posto que quando se
fala de indisciplina, não se trata apenas de um fenômeno, mas de uma
diversidade de aspecto originários de uma mesma significação.
Rego (1996) declara que o conceito de indisciplina, não possui uma
forma distinta de apresentação, ou seja, ele pode variar, se transformar e se
20
adaptar a cada realidade, dependendo de cada indivíduo e do contexto. O
referido autor ainda afirma que a indisciplina se manifesta através de um
indivíduo ou de um grupo, como um comportamento inadequado ou
indesejado, como um sinal de rebeldia, intransigência, refletido na má
educação, no descumprimento das leis e pela falta de noção e sentimento de
respeitos pelos superiores, neste sentido, os alunos são visto como seres
incapazes de se adequarem a padrões e normas comportamentais.
Vasconcellos (2004) destaca que para enfrentar o problema da
indisciplina, é necessário compreendê-lo, ou seja, entender o que está
acontecendo hoje, como à disciplina nasala de aula, na escola e na sociedade.
Segundo a opinião desses autores supracitados, o conceito de
indisciplina está atrelado à noção de disciplina, e quando se fala em disciplina
vem à noção medieval de castigo e punição.
Considerando todos esses conceitos pode-se avaliar a indisciplina
por três aspectos: primeiro aspecto encontra-se na visão do professor de
ensino tradicional que entende a disciplina como um conjunto de regras ou
atitudes a serem tomadas visando conter comportamentos inadequados para
garantir uma boa aprendizagem. Diante desse conceito, percebe-se que a
disciplina está atrelada a mecanismos de controle para garantir o silencio,
imobilidade dos alunos e organização. (VASCONCELLOS, 2004).
O segundo aspecto é considerado pessimista por se tratar de ordens
impostas, subordinação, submissão e até mesmo castigo, então esse ato
disciplinar acaba sendo uma força opressora que castra o aluno da sua
capacidade de decisão ou da criatividade.
O terceiro aspecto é encarado com um olhar construtivista sobre a
ação disciplinar, criticando as ações expostas, reducionistas, pessimista e
ingênua do ato disciplinar como argumenta Parrat-Dvan (2008 p. 8) ao dizer
que:
A indisciplina não é um conceito negativo, ela permite, autoriza, facilita, possibilita. A indisciplina permite entrar na cultura de responsabilidade e compreender que as nossas ações têm
21
consequências. Quem olha para indisciplina como algo negativo não entende o que é.
2.2.2.1 Fatores geradores da Indisciplina
É possível elencar inúmeros fatores como causas da ativação de um
comportamento inadequado, dentre eles a exclusão tanto escolar quanto
social, problemas de cunho afetivo com os pais, com o docente dentro do
espaço escolar, ou seja, o fenômeno da indisciplina não é ocasionado por um
fator isolado, mais sim por um universo de acontecimentos que acabam
internalizando este tipo de reação no indivíduo. (TIBA, 2006).
Omissão Familiar
Tiba (2006) afirma que uma das principais causas do
comportamento “rebelde” dos alunos tem um fundo afetivo, geralmente
pessoas com essas características possuem pais ausentes e desinteressados
com o aprendizado e bem estar do filho e usam a escola para transferir sua
responsabilidade.
A expansão do capitalismo trouxe fortes contribuições para o
aumento da ausência e da negligência dos pais para com os filhos, a
exagerada rotina acaba deixando os responsáveis sem tempo, restringindo
desta maneira o convívio familiar. (VASCONCELLOS, 2004).
Capalbo (1979) afirma que é responsabilidade da família a
instabilidade emocional da criança, citamos como exemplo crianças e jovens
que são criados em ambientes familiares problemáticos e por conta disso
adotam comportamentos agressivos. Também crianças que sofrem
constantemente humilhações ou servem de gozações para outras crianças,
podem adotar comportamentos agressivos e indisciplinados. Dentro deste
contexto cabe à família o papel da construção da personalidade da criança,
pois é na família que começa a socialização do indivíduo.
22
Segundo Tiba (2006, p. 191), os pais e a escola devem ter
princípios muito próximos para benefício do jovem. O autor alerta para que os
pais não sejam dependentes da escola, esperando que ela atue como uma
clinica psicológica para tratamento do filho, a instituição pode, sim, contribuir
exercendo seu papel social, se reunindo com os pais e encaminhando esse
aluno para tratamento e nunca ser conivente com o aluno transgressor em
circunstância alguma.
Todos os pais são educadores, portanto, têm a missão de ensinar os filhos a viverem o presente e a se prepararem para o futuro. O bom pai ajuda o filho a ser uma pessoa segura, capaz de viver baseado em suas próprias idéias(sic) e em seu projeto de vida. A busca de uma educação que forme indivíduos mais autônomos passa necessariamente pela construção de uma personalidade madura,
capaz de lidar com as questões emocionais. (RIBEIRO, 2007. p. 38).
Postura inadequada do professor
Tiba (2006, p.138) também atribui ao professor uma parcela de
culpa da indisciplina escolar fazendo um comparativo de duas vertentes:
O professor carrasco: o uso excessivo da autoridade em sala de aula, com fortes repressões podem ocasionar um sentimento de revolta e descontentamento em alunos que não são facilmente submetidos à passividade;
O professor libertino: a falta de direcionamento e ausência total de leis, seja em qualquer espaço social, proporciona que o ser siga o rumo que desejar fato que para as mentes mais geniosas pode ocasionar consequências, podendo se tornar um futuro adulto sem senso de respeito e nem limites de seus atos.
Tiba (2006) cita como outro fato causador da indisciplina, o uso de
substâncias químicas, problemática que vem assolado cada vez mais a
sociedade. Este hábito afeta diretamente o comportamento do aluno, que se
torna refém do seu vício, passando a executar ações involuntárias ao seu
comando.
O referido autor ressalta que diante desta situação, o professor
precisa estar devidamente qualificado para exercer seu papel de educador e
23
lidar com estas pessoas exercendo uma ação humanizada na tentativa de
reintegrá-los ao convívio escolar e social.
Atos de Bullying
O termo bullying tem origem na Noruega, e é definido como um ato
de violência gratuita sem nenhum motivo aparente, de maneira repetitiva com
um ou mais alvos, ou seja, indivíduos considerados incapacitados de defesa.
(PINTO, 2011).
Algumas características configuram as vítimas de bullying, como
isolamento, mudança no comportamento, não querer frequentar mais a escola,
dentre outros. É dever da família estar atenta aos sinais, e em caso de
confirmação de suspeitas agir prontamente para sanar as situações de
violência na escola.
O bullying só é interrompido pela interferência de pessoas que tenham autoridade sobre seus praticantes. O professor, ou próprio diretor, deve interferir tornando o bullying possível a punição, e trazer à tona esse mecanismo feito mais às escondidas que exposto à grande maioria, para que todos fiquem cientes e sejam mobilizados a interferir e interromper cada vez que perceberem intimidação, abuso,
violência ou aterrorização. (TIBA 2006 p.158).
O autor supracitado afirma ainda que o bullying pode ser realizado
por qualquer tipo de pessoa, sem distinção de classe social, este ato ocasiona
diversas consequências, dentre eles o principal é o sentimento de reação a
violência recebida pelo agressor. É possível encontrar diversos casos de reféns
de comportamentos repressivos que cometeram assassinatos e suicídios. Esta
não é uma situação que pode passar despercebida, é necessário uma
organização escolar no sentindo de promover ações de caráter preventivo, pois
a instituição tem como dever fornecer apoio pedagógico às vítimas.
Problemas Organizacionais
Existe um fato que ocorre de maneira bastante comum dentro de
uma hierarquia escolar, que é a falta de autonomia funcional, ou seja, o regime
24
administrativo escolar exerce uma função absolutista sem proporcionar
liberdade de ações aos demais componentes da instituição.
O professor que não possuí controle e autonomia para reger sua
sala de aula, não poderá exigir que os alunos obedeçam, pois estes já se
encontram subordinado ao desejo de terceiros. Em alguns casos é possível
que o educador tente utilizar métodos de repreensão tradicional para conter a
movimentação dos alunos em sala de aula, podendo ocasionar o agravamento
dos comportamentos de indisciplina escolar. (ESTRELA, 2002).
Fracasso escolar
Dissertar sobre a problemática do fracasso escolar é tratar de uma
temática bastante preocupante no cenário escolar, geralmente sua ocorrência
está atrelada a fatores diversos, dentre eles pode-se destacar a indisciplina.
Oliveira (2005) destaca que a indisciplina afeta diretamente o
processo de ensino, no qual o aluno é o principal lesado pelos seus atos, pois
devido a falta de concentração nas aulas, seu rendimento escolar é
prejudicado, o que acaba ocasionando dificuldades ao trabalho do educador.
Aquino (1998) adverte para que haja conscientização dos alunos
acerca do grave problema que é “a indisciplina”, já que o autor alerta que os
alunos são prejudicados e que os pais tenham mais controle sobre seus filhos
ensinando desde cedo os limites que a criança precisa aprender, dizendo “sim”
e “não” na hora que for preciso. É necessário que professores e escolas
também atuem juntas, impondo regras e limites, pois embora não eliminando a
indisciplina, seja capaz de promover o sucesso do aluno e da comunidade
escolar.
Segundo Rossini (2004) criar um filho sem nunca dizer “não”
significa comprometer seu equilíbrio futuro: será um ser humano com
dificuldades de tomar conta do seu próprio futuro e, portanto será mais uma
25
“erva daninha” da sociedade capitalista, que corrompe e alienam os
inconscientes de suas responsabilidades e direitos como cidadãos.
O autor diz também que o grande erro dos pais que têm filhos
indisciplinados na escola, não está em querer proteger o seu filho, e sim em
não apurar a verdade em relação aos atos de indisciplina do seu filho. Afirma
Tiba (2006, p. 190) que todos os pais precisam de autoridade educacional para
preparar bem os filhos para a vida.
Aquino (1999) aponta que deve haver entre o aluno e professor um
respeito mútuo, solidariedade e cooperação, gerando desta forma um
aprendizado baseado nos valores humanos e sociais. O educador poderá
oferecer ocasiões para que se aguce sua capacidade perceptiva, com relação
às diferenças e a sua valorização. Situações em que se manifestem
preconceitos, seja por atitudes explícitas, incluindo verbalização, sejam por
gestos e expressões, não podem ser ignoradas, e exigem sensibilidade no seu
trato.
26
3. INDISCIPLINA E A VIOLÊNCIA
3.1 Considerações
De acordo com Guimarães (1996), o ato de violência pode ser
definido como qualquer ação realizada que utiliza de métodos de
constrangimento sejam eles de natureza física ou moral.
O fato de a violência possuir diversas características, podendo se
apresentar de diversas formas, muitas vezes gera conflitos durante a distinção
de definições e se confunde com indisciplina.
Britto (2007) relata que durante alguns diálogos com diversos
professores, atentou que para eles o conceito de indisciplina, violência e
vandalismo possuíam o mesmo significado e, portanto recebiam as mesmas
medidas de intervenção diante de sua ocorrência.
A compreensão da indisciplina ainda é algo bastante complexo, e
está muito distante de ser apenas uma reação de cunho comportamental, é
preciso explicitar e diferenciar a violência, da indisciplina. (PARRAT-DAYAN,
2008)
É preciso distinguir a indisciplina escolar de outras formas de violência que por vezes afetam a vida das escolas, provocadas muitas vezes por indivíduos que lhe são alheios. Se a indisciplina escolar pode tocar as fronteiras da delinquência, ela raras vezes é delinquência, pois não viola a ordem legal da sociedade, mas apenas a ordem estabelecida na escola em função das necessidades de uma
aprendizagem organizada coletivamente (ESTRELA, 2002, p.14).
Para Charlot (1997), o conceito de violência na escola passa por
vários níveis: primeiro nível é a violência que pode levar o aluno a responder na
27
justiça as suas infrações como: Lesão corporal, violência sexual, roubo e outros
tipos de crimes; o segundo nível seria a falta de cultura e com ela estar
agregada a falta de respeito, as humilhações e a grosserias para com os outros
e em terceiro e ultimo nível seria a violência simbólica na instituição escolar
que obriga os alunos a aprender aquilo que não faz sentido para a vida e a
violência do professor que acha que é o dono do saber, da verdade dentro da
sala de aula.
A escola, como uma instituição social, é detentora de diversos
conceitos e paradigmas, Parrat-Dayan (2008), disserta que até mesmo as leis
precisam ter exceções e se adequarem de maneira diferenciada em casos
específicos, é necessário rever e renegociar o que se já está estabelecido.
O autor explica que esta é uma ação essencial para que a instituição
escolar não se torne apenas uma reprodutora em massa, alheia do seu papel
pedagógico, contribuindo para a perpetuação das situações de violência; a
escola precisa ser um local de manutenção e desenvolvimento de valores,
fornecendo apoio integral à formação do aluno.
Vasconcellos (2004) explica que o professor ao entrar em uma sala
de aula, não esta simplesmente realizando a função de lecionar, ele é uma
figura que deverá representar toda a instituição escolar, num ato coletivo de
participação e aprendizagem.
O processo educativo deve conduzir à responsabilidade, liberdade, crítica e participação. Educar não é como sinônimo de instruir, mas de formar, de ter consciência de seus atos. De modo geral, instruir é dizer o que uma coisa é, educar é dar o sentido moral e social do uso
desta coisa. (NERICI, 1972, p.12).
Existe hoje em dia uma grande fuga por parte das instituições
escolares com relação a assumirem seu papel social na vida dos alunos. A
escola precisa proporcionar um norteamento, um referencial ao indivíduo, é
necessário que seus projetos educacionais abordem propostas que valorizem a
promoção da cultura e dos valores morais e sociais no educando. O aluno
precisa se reencontrar na escola. (VASCONCELLOS, 2004).
28
3.2 Tipologias da violência
3.2.1 Simbólica
O termo violência simbólica foi idealizado pelo sociólogo
Pierre Bourdieu, o qual a descrevia como toda ação de poder que objetivava
legitimar conceitos e hábitos, através do exercício da imposição de uma
autoridade. O referido autor afirmava que todo ato pedagógico era configurado
como um simbolismo violento, que por intermédio da imposição de um poder
absoluto, anula a liberdade de pensamento dos seres que de forma
inconsciente, se inserem na reprodução de um conhecimento de massa.
(BORDIEU e PASSERON, 2008).
A violência simbólica é uma importante causa da indisciplina escolar,
pois os alunos não conseguem atrelar significado ao fato de estarem assistindo
a uma determinada aula, diante de um ensino técnico o ser inicia o
pensamento de que não necessita daquele conhecimento, gerando desta
maneira comportamentos e atos indesejados pelo corpo escolar.
Freire (2001) caracteriza a educação como uma verdadeira ditadura,
que impõe suas ideias sem discussão, que não promove o despertar do
pensamento, da reflexão, apenas apresentar fórmulas prontas de
conhecimento, não exige a busca e nem o esforço, educar para formar e
transformar cidadãos não é o foco da escola atual.
Bordieu e Passeron (2008) atentam para a existência de um ciclo
social constituído pela religião, família e também algumas escolas, que
exercem a repressão simbólica de forma mascarada, que ocorre através das
reuniões e participações dos demais em situações decisivas, sem ativar a
29
percepção para o ato de violência, as instâncias garantem suas relações sócias
e elos de aceitação, perpetuando assim a obtenção dos seus interesses.
Foucault (2001) descreve as inúmeras consequências que a
repressão simbólica ocasiona dentre elas: a exclusão, alienação, sentimentos
de inferioridade e fuga da realidade. O poder exercido sobre o indivíduo pode
chegar a extremos, este pode chegar à conclusão de que a obtenção do
conhecimento só será possível através desta reprodução.
3.2.2 Psicológica
É caracterizada como um dos tipos de violência de mais difícil
constatação, pois ocorre de forma silenciosa na maioria dos casos. É definida
pela exerçam de controle por meio de atos de degradação emocional, insultos,
ameaças, humilhações, que ocasionem sua deturpação mental. (Brasil, 2001).
O estatuto da criаnça e do adolescente (ECA), surge como um
documento de lei para assegurar direitos a criança e o adolescente, bem como
exercer força de proteção aparada pelos trâmites legais. O ECA proporcionou
um grande avanço na luta pela cidadania da criança e do adolescente. O
segundo capítulo do documento enfatiza claramente o direito à liberdade, ao
respeito e à dignidade, para que a criança e o adolescente possam
desenvolver suas capacidades humanas e socias dentro do contexto da
cidadania, garantido e resguardo por lei. (BRASIL, 1990).
Vieira (2012) afirma que cerca de 80% dos casos registrados pelo
Conselho Tutelar, são de crianças vítimas de violência emocional, causada por
algum de seus familiares mais próximos. Este número estatístico só é de
conhecimento hoje pela forte influência das leis de aparo á infância, a exemplo
do ECA, que tornou público o direito dos menores e as consequências em caso
de infrações.
As escolas possuem um papel fundamental dentro desta
problemática, pois através de trаbalho coletivo e sensível promovendo
30
formação de educadores para o exercício da educação para a cidadania é que
a instituição escolar se torna um аmbiente propício e acolhedor capaz de
reparar as lacunas existentes no convívio social do aluno. Porém tal fato só
será possível se a atuação desses esforços ocorrerem em conjunto com um
trabalho de cunho familiar, num projeto de participação, propiciando o
desenvolvimento de cidadãos aptos e consciente ao convívio social.
“Quando as normas são construídas pela comunidade escolar, por turma, existe o comprometimento de todos. Normalmente, as regras estão prontas e são apenas dadas para aprovação. Se todos discutiremos princípios, as normas serão até muito mais exigentes,
pois terão sido construídas em conjunto”. (SCHNEIDER, 2004, p. 20)
Cury (2002) diz que a escola precisa ser um local onde as
problemáticas sejam sanadas através do dialogo, pois p respeito ao menor
requer inúmeras ações para sua efetivação, o que exige ações em conjunto do
governo, sociedade e escola. A instituição escolar deve por meio de programas
e projetos sociais, garantir as condições básicas para uma formação de
qualidade, elaborando métodos e regras que visem valorizar grupos de
debates, como forma de evitar e superar problemáticas futuras que exijam a
aplicação de medidas punitivas severas.
3.2.3 Física
De acordo com Deslandes (1994), a violência física é conceituada
por uma reação isolada ou repetida, que ocorre de maneira intencional,
promovida por um atuante mais velho que provoca lesões físicas aos menores,
podendo se caracterizar por agressões leves ou em casos mais severos levar a
óbitos.
OECA (BRASIL, 1990) afirma que qualquer ação que promova dor
física na criança é caracterizada como violência, seja ela realizada de forma
contínua ou não, e requer penalização legal. O Estatuto ainda diz que nenhuma
criança ou adolescente deverá ser usada como objeto de exploração, violência
31
e crueldade, sendo punida por lei qualquer pessoa que cometer ou se omitir a
esses fatos.
Muitos pais ainda utilizam métodos com atos de provocação de dor
física para repreender seus filhos das ações indesejadas, porém esta medida
nem sempre resolve, pelo contrario, a criança pode se sentir reprimida e com
medo, podendo se tornar até agressiva frente às ações violentas.
É importante que os pais, escola e meio social, compreendam as
ações das crianças que estão em fase de descobertas e aprendizado e utilizem
outros métodos de ensino baseados na paciência, no amor e na paz, para a
formação de um cidadão saudáveis em suas capacidades físicas e mentais.
32
4. INCUMBÊNCIAS DA ESCOLA
4.1 Papel do Educador
O professor é considerado o principal atuante no processo de
formação do aluno, em função disto cabe a ele exercer seu papel de norteador
e aconselhar o educando sobre as diversas problemáticas existentes. O
relacionamento entre professor e aluno precisa ser uma constante troca de
cumplicidade e comprometimento, estabelecendo desta maneira “pontes” no
processo de educação que irão proporcionar a construção de um futuro
cidadão autônomo consciente e ativo defensor de seus direitos perante a
sociedade.
Neto (2010) explica que é de suma importância a atuação de modo
multidisciplinar para que se obtenham resultаdos mais efetivos, diante da
complexidade dos fatos que envolvem os comportamentos rebeldes dos
alunos. A instituição escolar tem o dever de propiciаr conteúdos pautados nos
valores morais e éticos, visando desenvolver, desde cedo, os sentimentos de
respeito mútuo, compreensão, justiça e paz.
Os professores, por vezes, usam de forma exacerbada a sua
autoridade dentro da sala de aula, o que acaba ocasionando uma
desumanização do sistema de ensino, que apenas segue um padrão de
repasse de conhecimento sem atentar para o seu real objetivo, que é a
promoção da cidadania.
Diante de uma situação de indisciplina em espaço escolar, muitos
educadores não reagem de forma profissional e ética, e acatam o ato
33
comportamental como sendo uma ofensa de caráter pessoal, agindo de forma
inadequada para contensão das atitudes.
Quando nos deparamos com situações em que as dificuldades são diversas e adversas, a atitude instintiva nos sugere desistência, abandono a tudo o que impede a nossa atuação; no entanto, convém lembrar que, nessas mesmas situações, os atores são pessoas, seres humanos que pensam e falam, reagem e aceitam, choram e
riem, compreendem e questionam. (BERNARDO, 2008, p. 35)
O autor entende que o papel do educador é agir com calma e
compreensão, precisa estar devidamente qualificado para agir da maneira mais
adequada em situações adversas, tendo domínio metodológico para que possa
atingir seus objetivos pedagógicos propostos.
As questões de falta de disciplina, não estão atreladas somente à
atuação do professor, no entanto esses atos geralmente passam a ser
reproduzidos através da falta de intervenção pedagógica, negando a
transformação social do aluno. (AQUINO, 1998)
O referido autor, explica que o ato de ensino é uma missão bastante
desafiadora, devido possuir um caráter assimétrico, onde um exerce domínio
sobre o outro, colaborando com o sentimento absoluto e conservador de muitos
profissionais. Mas, como toda interface possui duas vertentes, a assimetria do
processo de ensino retorna o conhecimento repassado para o professor, que
aprende ensinando, basta que este educador possua a sensibilidade e a
humildade de admitir que não é o detentor universal do saber no espaço
escolar e criar vínculos de compartilhamentos entre os alunos.
Tiba (2006) afirma que o fato de não haver mais disciplinas e limites,
na medida certa, o professor não pode perder suas expectativas nem se
desmotivar diante do ato de educar, pelo contrario, ele deve buscar novas
atitudes, novas maneiras de se relacionar com seus alunos, e ter uma visão
mais ampliada para que se criem novas relações com respeito um pelo outro.
Santos (2006) afirma que o professor é importante não somente
como figura central, mas como coordenador do processo educativo, criando
34
espaços pedagógicos interessantes, estimulantes e desafiadores, para que
neles ocorra a construção de um conhecimento escolar significativo.
Passos (1996)afirma que através do o ato pedagógico adequado,o
conhecimento é construído, sem reduzir o professor a única condição daquele
que ensina e faz o aluno não extrapolar sua condição de sujeito que aprende.
O momento pedagógico deve ser o instante em que é promovido debates, é um
momento de descobertas, de críticas, num ato de construção contínua entre
professores e alunos.
4.2 Acordo de Convivência
Uma sala de aula tradicional é constituída por um aluno submisso
que presta atenção ao professor, podendo somente realizar perguntas com que
permissão do mesmo. Este tipo de educação enfatiza apenas o poder absoluto
de conhecimento do professor, o que gera bastante descontentamento de
alguns alunos que, por vezes, agem com revolta diante desta situação.
Para que o ensino ocorra de forma significativa, primeiramente o
professor precisa se adaptar ao aluno, descobrindo os melhores métodos de
relacionamento e aprendizagem. De acordo com Milani (2005), é necessário
que o educador sensibilize o aluno para a importância da utilização das regras
em sala de aula, para tanto se pode elencar alguns métodos que são baseados
na construção coletiva do conhecimento que irão propiciar um bom convívio
escolar entre professor e aluno.
Valorização do conhecimento prévio do aluno: o indivíduo não é simplesmente uma máquina vazia e receptiva de conhecimentos, ele possui uma bagagem contextualizada de aprendizagens anteriores, que precisam ser resgatadas para dar significação ao ensino. O aluno antes de tudo precisa sentir-se motivado a aprender, precisa compreender o sentindo e a importância da obtenção de cada conteúdo escolar.
Respeito à diversidade: é necessário que o educador seja capaz de perceber e valorizar as especificidades de cada aluno, pois cada ser é subjetivo, pensa, age e se relaciona de uma forma distinta. É importante também que o professor respeite o ritmo de aprendizado de cada um e sua contextualização social, sendo capaz de valorizar suas potencialidades, em um aprendizado coletivo onde todos compreendam, partilhem e aprendam com as diferenças.
35
Promoção do aprendizado participativo: o professor precisa ser um constante estimulado e mediador do conhecimento do aluno, através do aprendizado coletivo, promovido em atividades reflexivas e interativas, o aluno aprende mais sobre de si mesmo e sobre seus colegas. É preciso que o educador estabeleça um vínculo de confiança e afetividade com o aluno, se destituindo do cargo de autoridade e assumindo o papel de colaborador das situações de aprendizagens.
O educador precisa estar sempre ciente do seu papel funcional na
relação durante o processo de ensino. O desenvolvimento de uma política de
convivência pautada em valores baseados na compreensão e no
comprometimento com o outro, evitará inúmeros conflitos comportamentais
gerados no meio escolar. Dentro desta temática, Santomauro, (2010, p.4),
afirma que:
... para prevenir é preciso ensinar a olhar um para o outro. Criar relacionamentos saudáveis, em que os colegas tolerem as diferenças e tenham senso de proteção coletiva e lealdade. É preciso desenvolver no grupo a capacidade de se preocupar com o outro construindo uma imagem positiva de si e de quem está no entorno.
4.3 Papel da Gestão Escolar
O ideal de modelo administrativo escolar atual está pautado nos
ideais democráticos e participativos. O gestor componente deste sistema é
responsável pela motivação, valorização e incentivo de toda a comunidade
escolar, garantindo que todos tenham uma parcela de compromisso e
envolvimento nas decisões da instituição escolar, preservando a coletividade.
(CARVALHO, 2005).
A instituição escolar como uma organização social, cultural e
humana, requer que cada sujeito envolvido tenha o seu papel definido numa
participação efetiva para o desenvolvimento das propostas a serem executadas
no qual o gestor é o principal responsável, para efetivar que todos os
envolvidos no processo educativo busquem para execução de uma gestão
democrática. (ALVES, 2002).
De acordo com Ferreira (2006), a escola precisa desenvolver um
Projeto Político Pedagógico – PPP que seja pautado de maneira humana e
democracia, visando eliminar os entraves que dificultam a qualidade do ensino.
36
Deve ser elaborado com a participação de todos os profissionais e
componentes da escola, construindo projetos articulados com as políticas
nacionais, levando em consideração a realidade específica da instituição.
O autor citado ainda diz que é função do gestor, exercer uma
administração de responsabilidade coletiva, evolvendo, professores, alunos,
pais e funcionários, visando a formação de cidadãos críticos e conscientes do
seu papel social, um ambiente escolar que “respira” harmonia e satisfação por
todos os seus componentes, raramente apresentará problemáticas
comportamentais, como a indisciplina, pois a gestão democrática permite que
todos sejam escutados, respeitados e valorizados, seguindo os ideais da
igualdade.
Diante de todos os entraves analisados nos discursos anteriores,
surge a seguinte dúvida, existira algum método ou solução que possa
solucionar por completo, as situações indesejadas do meio escolar?
De fato esta não é uma tarefa simples, porém não é impossível,
basta apenas que as instituições se unam arduamente com professores, pais e
alunos na busca pela amenização das problemáticas e melhoria da qualidade
do ensino e do relacionamento interpessoal entre os pares.
Buscar propiciar e garantir que haja um relacionamento adequado
entre estudantes é função da escolа. Desenvolver atividades que busquem
integrar pais e alunos, para que sejam conscientizados acerca do problemа
podem ser atividades constantes no planejamento escolar. (TIBA, 2006).
4.4 Ações Preventivas X Temas Transversais
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), uma
educação que seja capaz de formar cidadãos necessita de uma análise social e
reflexiva em seus conteúdos de aprendizagem. Visando a ampliação do poder
37
dinâmico, interativo e social do currículo escolar, um conjunto com novas
abordagens temáticas é inserido como proposta de trabalho em sala de aula.
Com a intitulação de Temas Transversais, que objetiva a
transformação do ensino, no qual cabe ao educador a papel de nortear essas
abordagens de maneira ética e comprometedora, despertando o pensamento
crítico e reflexivo nos alunos. (BRASIL, 1998).
Dentre as inúmeras medidas que podem ser elencadas pelas
instituições escolares na tentativa de solucionar as problemáticas relacionadas
aos conflitos de convivência, o uso de metodologias alternativas que
contribuam para a construção do âmbito social do indivíduo é uns dos meios
mais eficazes de adquirir êxito; ao invés de intervir com ações punitivas
severas é preciso despertar o interesse e a motivação do aluno, lhe
proporcionando estudar temas que desenvolva de forma integral suas
capacidades afetivas, cognitivas e sociais.
A transversalidade pode significar um contexto bastante extenso,
integrando assunto das mais diversas temáticas dentro do contexto integrado
no PCN (1998),estão elencadas as seguintes categorias de estudo:
Estudo da ética e da moral: um tema muito importante para esta pesquisa. Analisar as noções e questões sobre a moralidade e a ética dentro do convívio social, é essencial para o desenvolvimento desde cedo de valores como responsabilidade, respeito ao próximo, sentimento de solidariedade, colaboração, coletividade, entre outros. É necessário que o educador promova aulas dinâmicas, para a inclusão destes conceitos de forma adequada, através de diálogos e acordos, sem utilizar da imposição.
Estudo da afetividade: Em uma abordagem que integre e complemente o tema anterior, é possível trabalhar as questões emocionais do ser é de grandes importâncias para sanar os atuais e os futuros problemas comportamentais que possam existir. É preciso construir no indivíduo a capacidade de controlar e identificar seus sentimentos e emoções, aprendendo o respeito as emoções e opiniões dos demais, dentro de um convívio social.
Estudo participativo: o sistema educativo necessita construir elos de participação ativa de todos os seus componentes, o aluno precisa sentir-se importante, consultado, sobre as ações educacionais e até mesmo sobre questões curriculares, pois a causa de alguns comportamentos indisciplinados é gerada pela insatisfação a cerca dos autoritários que o sistema escolar exerce.
38
Estas são apenas medidas que visam sanar ou amenizar a
problemática da indisciplina dentro e fora da sala de aula, cabe ressaltar, mais
uma vez, que o professor é o elemento principal neste processo, exercendo
seu papel não só como norteador das situações de aprendizagens, mas de
promotor do bem comum.
É preciso desenvolver laços de cunho emocional, agir com
cumplicidade e respeito frente às adversidades; o educador não é um mero
técnico da educação, portanto é necessário que os sentimentos humanos
sejam também desenvolvidos. Esta é uma das chaves para as soluções das
situações de maus comportamentos por parte dos educandos. Aprender é um
ato bastante diferente de armazenar conhecimento, o ser humano possui uma
mente bastante complexa, e não é apenas aplicando ações de caráter
repreensivo que a escola eliminará os atos indesejados dos alunos.
(VASCONCELOS, 2001).
39
5. METODOLOGIA 5.1 Característica do estudo
A pesquisa realizada neste estudo visou contribuir com informações
conceituais oriundas de percepções teóricas e bibliográficas e como
complementação do estudo foi inserida percepções advindas de questionários
aplicados em dois espaços educacionais como o objetivo de oferecer aos
leitores dessa monografia subsídios para desenvolver práticas educativas mais
eficazes quanto ao combate da indisciplina, através de uma pedagogia
significativa e baseada em valores humanos.
A análise dessa pesquisa é caracterizada por ser uma abordagem
qualitativa das informações coletas, visando a obtenção de um resultado que
explicite indicadores negativos ou positivos. A pesquisa qualitativa caracteriza-
se pela análise das percepções dos sujeitos respondentes.
Estrutura de Estudo
Os dаdos coletados na pesquisa bibliográfica versam sobre autores
de renome na literatura nacional, os quais estudam sobre a temática ao longo
da história da educação brasileira. A escolha por obras mais antigas decorre da
intenção de mostrar que há tempos essa temática vem sendo referida por
expoentes e pensadores da educação brasileira.
Autores outros que não têm suas obras citadas em textos
acadêmicos como é o caso de Tiba e Cury estão elencados entre outros
autores de renome no âmbito cientifico por terem seus nomes arrolados entre
os grandes pensadores da educação brasileira.
40
Quanto à visita às duas instituições, o objetivo foi apenas confrontar
os dados coletados na pesquisa bibliográfica com uma realidade mais
objetiva/prática, para tanto foram aplicados um de questionário norteador com
questões subjetivas, possibilitando a aplicação de perguntas fixas para
indivíduos variados, dando subsídio para a análise e para a apuração dos
dados de maneira clara com vistas a alcançar o determinado objetivo geral
explicitado na pesquisa, ou seja, gerar informações a cerca da problemática da
indisciplina no âmbito escolar. De maneira diferenciada foi aplicado um
questionário para os alunos e um para o coordenador e professores das
escolas.
Segundo Amaro (2005),a utilização dos questionários é um
instrumento definido como um método de investigação que objetiva o
recolhimento de dados fundamentados principalmente, na analise de um grupo
especifico da amostra em estudo.
Cenário de Investigação
A pesquisa visou abordar duas situações educacionais divergentes,
para contextualizar os conteúdos teóricos explanados e analisados. A intenção
foi identificar se os dados teóricos se aplicam igualmente às duas realidades
distintas.
Instituição de Ensino Público Municipal
A segunda fase da pesquisa objetivou analisar uma instituição de
ensino público. A escola de ensino Fundamental Municipal Monsenhor
Linhares, fundada em 1968, localiza-se no bairro da Parquelândia, na cidade
de Fortaleza, atualmente conta em média com 900alunos matriculados e
distribuídos nos turnos da manha e da tarde; em cada sala de aula possui em
média de 15 a 20 alunos matriculados e com frequência constante.
Em relação à estrutura física da escola, pode-se afirmar que ela
dispõe um espaço bem amplo de acesso, as salas são bem confortáveis e
41
arejadas, onde está disponibilizada uma cadeira com uma mesinha para cada
criança, proporcionando as condições necessárias para o bem estar do aluno.
O professor se posiciona sempre na parte da frente da sala, fazendo uso de
uma mesa e uma cadeira. O recreio é realizado no pátio da escola, que serve
também de local para as reuniões, pois a instituição não possui auditório.
A instituição possui atualmente 73 colaboradores atuantes, 14 salas
de aula, uma sala de estudo, um laboratório de informática, uma quadra de
esporte, uma sala de atendimento educacional especializado (AEE), uma sala
para direção, uma sala para professores, dois banheiros e uma cozinha.
Com relação às regras adotadas na escola pode-se dizer que são
bem simples, entre elas pode-se citar: Tolerância de 30 minutos de atraso para
chegar à escola, caso contrário, a criança será “barrada” na entrada da escola
e não assistirá aula naquele dia. A criança também deve respeitar ao professor
em sala de aula, acatando suas solicitações. Caso aja um comportamento
indevido do aluno ele será retirado da sala e levado até à sala da direção da
escola para um diálogo, ou serão tomadas outras providências de pendendo do
caso.
Sobre a elaboração dessas regras, não obtive a informação de como
elas foram geradas, apenas obteve-se o conhecimento de como elas
funcionam.
Durante a hora do intervalo, a principal atividade realizada pelas
crianças é a brincadeira de correr, ou como é conhecida popularmente “pega-
pega”. Foi observado que há necessidade delas se expressarem a energia que
foi concentrada durante período em que estiveram sentadas e quietas na sala
de aula.Algumas auxiliares de secretaria ficam observando as crianças neste
momento, para que nenhum acontecimento indesejado aconteça.
No decorrer das aulas, o professor utiliza diversos recursos para
dinamizar a aula como: aparelho de datashow para exposição de figuras vídeo,
cartazes explicativos e alguns jogos didáticos como o dominó.
42
Os livros didáticos se encontram na sala de leitura da escola, que
também funciona como biblioteca e sala de multimeios, contendo um notebook
a disponibilização do professor que utilizar a sala. A escolha dos livros é feita
através do conselho da escola, composto por alguns professores que indicam
suas editoras de preferência.
Sobre os métodos avaliativos usados pelos professores, existe as
conhecidas avaliações bimestrais que ocorrem durante uma semana, além
disso, o professor observa os alunos através de seminários em grupo e
trabalhos individuais.
Instituição de Ensino Militar
O Colégio da Polícia Militar, fundado em 1997, situa-se na Av. Mister
Hull, no bairro Antônio Bezerra região de Fortaleza.
O local é de fácil acesso, é uma área de segurança policial,
localizada em uma avenida com bastante trânsito, ônibus à porta, porém há
também uma área de segurança defronte ao colégio para os alunos
atravessarem a avenida com segurança.
A escola tem como filosofia pedagógica ministrar a educação básica
fundamentada na construção da cidadania responsável, através de uma prática
educacional voltada para a compreensão da realidade social, inspirada nos
princípios da liberdade e solidariedade humana, embasada no princípio da
gestão participativa, integrando toda a comunidade escolar, aliada a uma
disciplina transparente e consciente, capaz deformar cidadãos críticos,
participativos e reflexivos. Estes ideais estão contidos no Projeto Político
Pedagógico da instituição do ano de 2011.
Atualmente, o Colégio da Polícia Militar, recebe o nome de colégio
da Polícia Militar do Ceará General Edgar Facó - CPMGEF, estruturalmente é
composto por Comando, Subcomando, Ajudância, Assessoria de Comunicação
Social, Diretoria Administrativa, Diretoria de Ensino e Instrução, Diretoria
Pedagógica e Comando do Corpo de Alunos.
43
A escola conta com 33 salas de aulas, 2.000alunos, sala de
comando, subcomando, diretoria administrativa financeira, diretoria
pedagógica, seção técnica, ajudância, secretaria escolar, tesouraria, salas de
coordenação de ensino Fundamental I, II e Médio, sala de professor, sala de
planejamento, auditório, duas quadras cobertas sala de musculação, uma
piscina semi-olímpica, um campo de futebol, sala de vídeo, sala de multimídia,
uma quadra de vôlei de areia, salas de letramento e artes. Todo o espaço físico
da escola encontra-se muito bem organizado e conservado.
A instituição funciona nos turno da manhã e da tarde,acesso aos
estudos na escola ocorre mediante processo seletivo, cujo número de vagas é
fixado anualmente pelo Comandante Geral da Polícia Militar, após aprovação
pelo Secretário de Segurança Pública e Defesa Social, sendo 50% das vagas
destinadas aos dependentes de militares estaduais e policiais civis e 50% para
comunidade civil.
Como característica marcante de uma instituição militar, a disciplina
é trabalhada de maneira bastante rígida, por mais que em seus documentos a
escola idealize a liberdade e a colaboração, existe uma grande exigência parte
dos monitores, professores e gestores, com relação ao cumprimento das
regras da escola.
Um dos métodos de repreensão caso o aluno não siga o
comportamento adequado desejado pela escola é o Controle de Alteração
Disciplinar – CPMGEF. Os monitores militares fazem a avaliação, e convidam o
aluno a ir para a casa, levando consigo uma advertência para os pais tomarem
ciência, e dependendo do caso, ocorre suspensão. Cada ato de transgressão
gera uma contagem de pontos e ao alcançar o limite de pontos acumulados de
imprudências, o aluno será expulso da instituição.
Na escola há também a existência de um CAD Positivo, relacionado
ao desempenho dos alunos, sendo oferecidas placas de homenagens e bolsas
de estudos.
44
Participantes da Pesquisa
Como a pesquisa objetiva a coleta de informações, ressalta-se que
os dados coletados através da pesquisa bibliográficas são os mais importantes
haja visto que foram consultados autores de renome, no entanto optou-se por
anexar alguns dados oriundos de percepções advindas se sujeitos que
convivem no cotidiano escolar e desta forma podem também contribuir com
informações que unidas aos fundamentos teóricos podem dar mais substância
à presente pesquisa.
A escolha dos participantes da pesquisa se deu de maneira bastante
simples. A indicação dos alunos da escola pública foi realizada pelas próprias
professoras da instituição que já haviam colaborado com a entrevista desta
pesquisa.
Já na instituição militar, a escolha foi feita pelo diretor da escola que
orientou as coordenadoras a selecionar os alunos respondentes. Saliente-se
ainda que os alunos de ambas as instituições pertenciam ao segundo, terceiro
e quarto ano do fundamental I.
Na instituição pública municipal, a escolha dos professores para a
participação nos questionários deu-se por indicação de uma professora,
primeira respondente ao questionário, enquanto que na instituição de caráter
militar os professores foram escolhidos de maneira livre, a critério pessoal.
Em ambas as instituições os professores analisados faziam parte do
segundo, terceiro e quarto ano do ensino fundamental I, bem como os alunos
entrevistados.
45
Em se tratando da escolha dos colaboradores da gestão escolar, foi
selecionado um profissional da gestão de cada escola, na instituição pública
apesar da dificuldade de encontrar o responsável para a coleta de informações,
devido sua constante ausência da escola, obteve-se através da entrevista que
o profissional havia assumido o cargo há apenas quatro meses por meio da
realização do concurso público, possuindo como formação acadêmica o curso
de graduação em pedagogia e especialização em gestão escolar.
Na instituição militar, pode-se coleta facilmente as informações
necessárias do diretor da escola, pois este foi bastante receptivo e acessível,
integrando do corpo militar desde o ano de 1983, o gestor e também coronel,
possui uma formação acadêmica bastante vasta: Curso de Formação de
Oficiais, Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais - PMBA, Curso Superior de
Polícia Militar, Graduado em Educação Física - EsEFEX-RJ e Gestão de
Qualidade Total - SEAD-CE.
Coleta de Dados
O instrumento utilizado para coleta dos dados foi um questionário,
direcionado aos alunos, professores e gestores das duas instituições
analisadas. Os questionamentos abordados foram elencados de acordo com o
referencial explanado durante a revisão bibliográfica.
A partir da analise das informações obtidas, foram geradas linhas de
discussões a cerca dos resultados conclusivos.
Análise dos Dados Coletados
O momento da pesquisa foi realizado individualmente com cada
participante, visando obter o grau de conhecimento que os mesmos obtinham
sobre a temática abordada e sua opinião sobre os referidos questionamentos
levantados. A partir dos dados coletados, foi gerada uma análise qualitativa e
interpretativa, na tentativa de adquirir de maneira mais clara e concisa a
percepção da dinâmica abordada. Fato que resultou nas reflexões expostas
nas abordagens a seguir.
46
Questionário direcionado ao gestor e professores
Para o gestor e os professores da escola foram elaboradas cinco
perguntas, com o intuito de contextualizar a visão dos profissionais da escola
sobre a temática abordada nesta pesquisa.
Escola Pública
De inicio foi questionado a problemática da indisciplina, e o como ela
se define, em suma, os profissionais configuraram o fenômeno como um ato de
falta de respeito por parte dos alunos, que não assumem suas
responsabilidades, nem respeitam às regras estabelecidas pela escola.
Sabe-se, porém, que a questão da indisciplina é bastante complexa,
não se definindo como um simples ato de mau comportamento dos alunos, é
preciso atentar para a contextualização que envolve a ocorrência do ato, para a
partir de então, tentar elencar possíveis definições para os atos de indisciplina.
Pereira (2007, p. 15) ressalta acerca do papel da escola e cita:
A escola se torna inevitavelmente, um lugar privilegiado que reflete, através de diferentes perspectivas, o rico e desafiador enredo das relações sociais. Daí a necessidade imediata de educadores e
educandos se articularem, a fim de estabelecer redes de convivência.
A respeito dos possíveis geradores das situações de indisciplina, os
entrevistados afirmaram que especificamente na sala de aula, os
comportamentos são reflexos do ambiente familiar, ou seja, quando o aluno
não participa de uma dinâmica familiar compatível com suas necessidades, em
primeiro lugar como ser humano que precisa de limites, regras orientações
gerais para a vida, tornar-se um aluno incapaz de interagir, seja dentro da sala
de aula ou no ambiente escolar.
47
Sabe-se que a construção dos laços familiares são essências na
formação do indivíduo, mas cabe também a escola firmar uma relação de
comunicação mais pessoal com os alunos, desenvolvendo ações pedagógicas
baseadas na afetividade e na colaboração mútua em busca de sanar as
possíveis problemáticas existentes no convívio escolar.
A partir desta lógica, foi indagado aos entrevistados, qual seria o
devido papel da escola e da família, diante dos comportamentos de indisciplina,
que muitas vezes acabam tornando-se atos de agressividade; os profissionais
afirmam que a posição assumida, nesse caso, tanto da escola, quanto na
família deve ser o de orientar através do dialogo à criança e o adolescente,
também afirmaram que deve haver a aplicação de uma devida advertência
para os casos mais graves de mau comportamento e agressões.
É importante, sim, que existam ações educativas que visem a
concretização dos atos por parte dos alunos, porém os atos de punições mais
específicas não irão contribuir para atingir os resultados esperados, já que
essas atitudes acabam gerando mais situações de revolta e violência nos
alunos. É preciso promover uma cultura de paz e compreensão na instituição,
pois só através do respeito e da colaboração mútua poderá haver um ambiente
de ensino saudável e qualitativo.
A respeito das consequências geradas pelos atos de indisciplina, os
entrevistados relatam que a principal delas é a falta de compromisso interesse
por qualquer conteúdo trabalhado em sala de aula, gerando assim uma
incapacidade no aluno de perceber que o ambiente escolar é significativo e
decisivo para sua vida.
Cabe então, aos gestores e professores nortear os alunos e
promover a implantação de programas de sensibilização e responsabilidade
escolar e social, objetivando a condução dos indivíduos para relacionamentos
de boa conduta e respeito mútuo, pois o desenvolvimento dos valores social
também é dever dos profissionais da educação, e não apenas se restringir a
parte técnica do ensino em sala de aula.
48
A fim de concluir os questionamentos, foi solicitado aos
entrevistados que elencassem possíveis medidas para amenizar ou até sanar
as situações de mau comportamento tanto dentro quanto fora do espaço físico
da escola, em resposta um professor da instituição afirma:
As famílias precisam ser amparadas por órgãos específicos criados pelo governo, com psicólogos, assistentes sociais, educadores, enfim, profissionais que acompanhem os desajustes familiares, para que assim possa assegurar uma escola quem cumpra o seu papel educacional.
Escola Militar
Abordando a questão da indisciplina os funcionários da escola militar
afirmam que ela pode ser definida em geral como um comportamento
prejudicial a diversas pessoas, partindo da falta de respeito e de limites dos
praticantes.
Diante desta percepção pode-se evidenciar a semelhança de
pensamentos entre os integrantes da escola pública e as da militar, pois ambos
acreditam que os comportamentos de indisciplina são característicos de
pessoas que não respeitam as regras impostas pela instituição escolar.
O que a visão contextual dessas duas escolas não atenta para as
inúmeras abordagens que acompanham a complexidades das ocorrências de
tais atos, olhando apenas com um olhar taxativo e punitivo, sem considerar a
complexidade que envolve os atos de indisciplina.
A respeito dos fatores causadores dos maus comportamentos, assim
como os funcionários da escola pública, afirmam que a estrutura família e o
meio de convívio das crianças podem ser definidos como os principais
geradores da indisciplina, pois a partir da falta de um relacionamento familiar
adequado origina-se a falta de limites e permissividade.
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Azevedo e Guerra (1995, p.36; 1997) ao comentar sobre o ECA
ressaltam a respeito da omissão e imprudência dos pais durante o
desenvolvimento dos filhos e cita:
Todo ato ou omissão, praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e/ou adolescentes que, sendo capaz de causar dano gera uma transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, por outro lado, numa coisificação da infância, isto é, numa negação do direito que crianças e adolescentes tem de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
Com relação ao papel da escola e da família diante da problemática
da indisciplina, no geral a visão apresentada pelos entrevistados é de que
ambos devem assumir a sua responsabilidade e agir de forma corretiva, para
amenizar esse tipo de comportamento.
Uma demonstração bastante tradicional pôde ser observada, por
mais que a instituição se configure com um ensino baseado no militarismo, é
necessário utilizar práticas humanistas de sensibilização diante das
adversidades encontradas no cotidiano escolar, o uso apenas de medidas
punitivas e repreensivas não irá sanar, da forma desejada, os comportamentos
de indisciplina.
A respeito ás consequências geradas pelos atos de indisciplina, os
entrevistados afirmam, de maneira geral, este fato impede o professor de
desempenhar o seu papel com eficiência e dificulta a aprendizagem do aluno,
prejudicando assim o seu desenvolvimento escolar.
Resposta bastante semelhante foi a dos entrevistados na instituição
pública, porém existem outros diversos males que são decorrentes desses
atos, dentre eles estão os prejuízos emocionais e o não desenvolvimento das
noções morais e de caráter do ser, cabendo aos responsáveis atentar para as
diversas metodologias que podem ser aplicadas no combate integral aos danos
desses atos.
50
Para conclusão dos questionamentos, foi solicitado aos profissionais
da educação que relatassem as possíveis medidas que poderiam ser aplicadas
como tentativas de sanar as atitudes de maus comportamentos, ambos
afirmam que seria necessário organizar ações coletivas de orientação
profissional através de palestras com os pais e funcionários da escola.
Medidas educativas que envolva os pais e a escola são muito
importantes, mas é preciso que o educando também seja desenvolvido,
estruturado, compreendido e cabe a escola exercer sua função de mediadora e
incentivar projetos sociais que visem a conscientização e a construção do
pensamento critico, reflexivo, promovendo a formação de cidadãos conscientes
do seu papel social.
Questionário direcionado ao aluno
Escola Pública
Foram elencadas três perguntas para aplicação do questionário,
todas tinham como abordagem a temática da indisciplina, com o objetivo de
compreender a visão dos alunos, que são considerados os principais
causadores desta problemática.
Inicialmente foi perguntado aos alunos sobre o regime da escola e
suas regras, pode-se notar claramente que não existe uma participação
coletiva da comunidade escolar durante sua elaboração. Os alunos narram que
a escola é monótona, e de difícil flexibilidade com relação à liberdade de
expressão dos alunos.
Diante da necessidade de analisar a metodologia e o
desenvolvimento do professor em sala, foi questionado aos alunos o que eles
tinham a dissertar sobre o ensino dos professores da instituição. Em resposta
os alunos ressaltam de maneira geral que o ensino é bastante técnico se
resumindo as tarefas no quadro, leituras de textos e trabalhos em grupos.
Enfatizam que sentem bastante sono durante as aulas e que desejariam que o
ensino fosse mais interativo e dinâmico.
51
De acordo com o RCNEI (BRASIL, 1998),é através das situações de
brincadeiras que as crianças usam a imaginação e reinventam diversas
situações, tornam-se capazes de estabelecer relações sociais e de assimilar o
conhecimento de maneira qualitativa e eficaz.
Ao fim do questionário foi solicitado aos alunos que relatassem suas
considerações sobre a instituição analisada, e indicassem possíveis melhorias.
Os indivíduos questionados de maneira geral, afirmaram que o único momento
que lhes agrada na escola é o instante do lanche, pois é de conhecimento de
todos que numa escola pública é ofertado o lanche aos alunos, fora isto
ressaltaram que não se sentem à vontade na escola, que não encontram nada
de bom.
Sobre as possíveis melhorias na escola analisada, os alunos
ressaltam que deveriam existir mais momentos de recreação, que o ensino
deveria ser mais dinâmico e divertido, que deveriam também existir
oportunidades de passeios culturais, pois muitas crianças não têm acesso para
conhecer novos lugares devido a falta de condições financeiras, devendo a
escola gerar e oportunizar situações de aprendizado de campo.
Nesse sentindo é importante ressaltar que a LDB (BRASIL, 1996)
cita em seu Art. 4°, que é dever do Estado propiciar um ensino de qualidade a
todos, proporcionando acesso ao conhecimento cultural diversificado, dentro de
um ambiente educacional propício para a efetivação as práticas de
aprendizagens.
O que ocorre de fato é que muitas instituições escolares não
efetivam em suas ações as leis básicas da educação, perpetuando, desta
forma, um sistema ineficaz e ausente de significados, formando indivíduos
alheios quanto a seus direitos, alienados em um sistema que se recusa a
cumprir seu dever que é garantir as necessidades básicas de educação para a
população.
52
Escola Militar
Os mesmos questionamentos direcionados aos alunos da escola
pública foram aplicados aos da escola militar, porém o conteúdo das respostas
foi bem diferente.
Com relação à disciplina da escola, e suas regras normativas, os
alunos relataram que é importante uma escola possuir regras, pois desde cedo
as crianças aprendem noções de comportamento, configurando seu convívio
social de maneira adequada. Pode-se observar que esta opinião dos alunos é
algo também que é construído dentro da instituição escola, que se configura
como militar possuindo um regime totalmente tradicional, condicional de certa
forma os alunos a exercerem certos tipos de comportamentos considerados
adequado.
Sobre a metodologia utilizada em sala, em geral os alunos definirão
as aulas como dinâmicas e significativas, no qual a professora durante o
processo de ensino se apropria de vários exemplos cotidianos e objetos para
referenciar o conteúdo explanado em sala.
A exigência que uma instituição militar impõe em seus métodos de
ensino é bastante diferenciada de uma instituição pública, que conta com
vários agravantes para a negligência no ensino como: desinteresse dos pais
para com o aprendizado dos filhos, descaso do governo, desmotivação por
parte dos professores e funcionários da escola, entre outros. Estes são fatos
que não ocorrem numa instituição de regime militar, pelo contrário existe até
um excesso de cuidados para que a qualidade da estrutura física e qualidade
do ensino sejam garantidas.
Para a conclusão dos questionamentos foi solicitado aos alunos que
relatassem suas considerações sobre a instituição em analise, no qual afirmam
53
que a escola é um local bastante agradável, organizada, tem muitos espaços
para diversão e as aulas são bem interessantes, ressaltando que não
mudariam nada na instituição.
Uma análise bastante diferenciada dos relatos da escola publica, no
qual os alunos faziam exposição de forma clara de suas insatisfações e
descontentamento sobre a instituição e seus métodos pedagógicos.
54
6. CONSIDERAÇÕES
Ao fim desta análise pode-se afirmar que a problemática da
indisciplina se configura de uma maneira bem mais complexa diferentemente
da forma como é interpretada pela maioria dos agentes educativos.
Através da pesquisa realizada, pode-se constatar a existência de
maus comportamentos nos diversos cenários escolares, assim como é possível
observar o olhar dos principais envolvidos na problemática e suas devidas
interpretações sobre o contexto e as causas geradores desses atos.
A realização deste trabalho proporcionou a conscientização de que
os comportamentos relacionados a indisciplinas não são ocasionados por um
fator único, ela é uma problemática que se desenvolve através de diversos
contextos, não sendo apenas responsabilidade do autor, da família, da escola
ou de toda comunidade, embora estes elementos atuem também diretamente
nas causas dos atos de indisciplina.
Com relação às medidas que podem ser aplicadas no sentido de
amenizar e sanar dos atos referidos, a pesquisa relatou que ferramentas de
repreensão e punição tradicional não são capazes de obter resultados
satisfatórios no combate desta problemática.
As atitudes precisam ser analisadas e trabalhadas de forma
pedagógica, coletiva, humana e processual, aplicando métodos e práticas
capazes de formar verdadeiros cidadãos, críticos e conscientes de seus atos.
55
É importante que os educadores compreendam seu papel
educacional, e analisem a problemática de maneira sensível, desmistificando
conceitos, atuando diretamente no desenvolvimento de ferramentas de cultura
ética, moral, trabalhando valores humanos como compreensão, respeito e
amizade, pois somente através de ações pedagógicas significativas poderá se
obter eficácia no combate dos atos de indisciplina.
56
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60
APÊNDICE- A
Prezado educador, objetivando coletar dados para uma pesquisa monográfica venho, por meio dessa solicitação, pedir que responda ao questionário em anexo.
Sua identidade será preservada e as informações fornecidas servirão de base para confrontar os dados coletados em pesquisa teórica.
Desde já agradeço a colaboração
Maria do Socorro Lira Chaves
QUESTIONÁRIO AVALIATIVO DIRECIONADO AO GESTOR E PROFESSOR
Questões direcionadas para o gestor e professores: 1) Para você o que se configura como indisciplina? 2) O que define como sendo o fator causador das situações de indisciplina escolar 3) Qual seria o devido papel da família e da escola, frente a comportamentos indisciplinados e até de cunho agressivos por partes dos alunos? 4) Quais são as principais consequências na sua opinião das atitudes de indisciplina? 5) Na sua opinião, quais possíveis medidas poderiam ser tomadas na tentativa de sanar ou amenizar essas situações de maus comportamentos dentro e for da instituição escolar?
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APÊNDICE- B
Prezado aluno, objetivando coletar dados para uma pesquisa monográfica venho, por meio dessa solicitação, pedir que responda ao questionário em anexo.
Sua identidade será preservada e as informações fornecidas servirão de base para confrontar os dados coletados em pesquisa teórica.
Desde já agradeço a colaboração
Maria do Socorro Lira Chaves
QUESTIONÁRIO AVALIATIVO DIRECIONADO AO ALUNO
Questões direcionadas para os alunos: 1) Como você considera o regime de normas e regras da escola? 2) Como é o ensino em sala de aula, dinâmico ou passivo? 3) Qual sua opinião sobre a instituição escolar em que estuda, exerce uma boa metodologia de relacionamento e de ensino? O que poderia mudar?
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