Curso de Aprendizagem
Nível 4
Curso: Técnico/a Programador/a de Informática
Ciclo Estudos: 1º Ciclo
Designação da UFCD: 6653 – Portugal e a sua história
Data de Inicio: 09 / 10 / 2012 Data de Fim: 12 / 2014
Nome do Formador: Ilisete Silva
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ÍndiceA civilização industrial no século XIX e XX.........................................................................................3
O mundo industrializado no século XIX.........................................................................................3
As alterações urbanas e sociais da industrialização......................................................................5
Os novos modelos culturais do mundo industrializado.................................................................7
A Europa e o mundo no século XX.....................................................................................................8
As transformações económicas do pós-guerra.............................................................................8
Mutações na estrutura social, na cultura e nos costumes.............................................................9
Rutura e inovação na arte e na literatura....................................................................................10
Portugal no século XX......................................................................................................................14
Presidente da República..............................................................................................................14
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A civilização industrial no século XIX e XX
O mundo industrializado no século XIX
Cerca de 1870, ocorreu em diversos países a 2ª revolução industrial. Que alterações se
verificaram na indústria? Que novos transportes foram colocados ao serviço da economia e das
populações?
Por volta de 1870, deram-se, em alguns países, mudanças importantes na indústria. Estas
mudanças foram tão significativas que os historiadores falam do aparecimento de uma 2ª Revolução
Industrial. Com efeito, as indústrias começaram, a partir de então, a utilizar novas fontes de energia
e novas máquinas:
A invenção da turbina e do dínamo, que permitiu a produção de eletricidade;
O petróleo (gasolina, gasóleo), que passou a ser utilizado nos motores de explosão.
Para além das novas fontes de energia (eletricidade, petróleo) e dos progressos técnicos referidos
(turbina, dínamo, motores de explosão), muitas outras inovações levaram ao desenvolvimento da
indústria; por outro lado, utilizaram-se novos metais (níquel, alumínio) e aproveitaram-se outros já
conhecidos (cobre, estanho, chumbo) com novas finalidades.
Entre as novas indústrias destacaram-se a do aço (máquinas, pontes, torres), da química
(fertilizantes, medicamentos) e a de material elétrico (eletrodomésticos). Assim, a indústria tornou-se a
principal atividade económica.
Para além de novas fontes de energia e de novas máquinas, a 2ª revolução industrial foi,
também, acompanhada por importantes inovações nos transportes e comunicações:
Construção de vias férreas na Europa, América e Ásia, a ligar os principais centros económicos;
Progressos na navegação, com o aumento da tonelagem e da velocidade dos barcos, a
construção de canais (Suez, Panamá) e a melhoria dos portos e dos cais.
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A revolução dos transportes trouxe benéficas consequências para a economia dos países –
desenvolveram-se novos centros industriais, criaram-se novos postos de trabalho e aumentou o tráfego de
produtos e passageiros. Mas, também, se aceleraram as trocas entre os continentes.
Com a 2ª Revolução Industrial, a par da Inglaterra, surgiram novas potências industriais
como a Alemanha, os Estados Unidos e o Japão.
Nos finais do século XIX, a indústria alemã conheceu um grande crescimento, em particular nos
setores algodoeiro, siderúrgico, do material elétrico e dos produtos químicos. Para tal contribuíram os
abundantes recursos naturais (em carvão e ferro), uma mão-de-obra trabalhadora e disciplinada e a
proteção do Estado.
Os Estados Unidos alcançaram, também, um enorme crescimento económico. Devido às
abundantes riquezas naturais e a uma população jovem e dinâmica, desenvolveram-se, a partir de 1860,
as indústrias agropecuária, siderúrgica e de material elétrico. No início do século XX, os Estados Unidos
ocupavam, já em alguns setores, o primeiro lugar a nível mundial.
O Japão entrou, a partir de 1868, numa fase de grande progresso. A indústria japonesa passou
então a afirmar-se nos mercados mundiais. A construção naval e os setores algodoeiro e têxtil
conheceram um forte crescimento.
O dinamismo da economia mundial, que se verificou a partir da 2ª metade do século XIX, foi
impulsionado pelo liberalismo económico, doutrina que defende a livre iniciativa (a liberdade de
produção e de circulação), o direito à propriedade privada dos meios de produção e a economia de
mercado. Em consequência, as empresas alcançaram grande dimensão e desenvolveu-se o capitalismo
financeiro. Ao mesmo tempo, a população aumentou e os centros urbanos cresceram.
No século XIX, a população europeia cresceu de forma significativa. Para este crescimento
contribuíram os seguintes fatores:
Aumento da produção agrícola, o que permitiu uma alimentação mais abundante e
variada;
Progressos na medicina, com a utilização de novos medicamentos e a prática da
vacinação (criada por Jenner e Pasteur);
Melhoria nos transportes, o que permitiu colocar, com mais facilidade, produtos nos
mercados;
Progressos da higiene em geral (pessoal e pública, com a construção de redes de
esgotos e de água corrente), o que fez diminuir a propagação das doenças.
As populações em crescimento dirigiram-se para as cidades, onde as indústrias
proporcionavam mais postos de trabalho. Em resultado do movimento das populações, a população
urbana tornou-se maior do que a população rural. Mas, nos campos e nas cidades não havia trabalho
para todos. Por isso, muitos foram obrigados a emigrar.
No século XIX, em resultado das revoluções industriais, alguns países alcançaram grande
desenvolvimento. Mas, Portugal permaneceu um país atrasado. Como se explica tal atraso?
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Portugal, na 1ª metade do século XIX, permanecia um país atrasado. A primeira aplicação da
máquina a vapor na indústria portuguesa data de 1835. Depois, outras máquinas apetrecharam as nossas
fábricas. Mas os esforços dos nossos industriais não foram suficientes. Portugal ocupava um lugar
modesto entre os países industrializados.
Nos países pioneiros da revolução industrial, a agricultura foi o setor que se desenvolveu
em primeiro lugar. No entanto, nos inícios do século XIX, a agricultura portuguesa estava atrasada.
Na verdade, o solo era pobre e as técnicas agrícolas rudimentares. Por outro lado, os proprietários
investiam pouco na terra e os lavradores eram analfabetos.
Contudo, ao longo da 1ª metade do século XIX, verificaram-se alguns progressos na
agricultura, tais como:
O desaparecimento das estruturas feudais, em virtude das reformas liberais;
Alargamento das áreas do cultivo e crescimento de certas produções agrícolas.
Mas estes progressos não foram suficientes. A produção por hectare da agricultura portuguesa
era inferior à da Europa.
A partir da 2ª metade do século XIX, a situação política de Portugal melhorou. As condições
foram, então, mais favoráveis ao desenvolvimento da economia.
No decorrer da Regeneração (1851-1868) foram tomadas importantes medidas com vista a
desenvolver o país:
Construção de uma rede de caminho-de-ferro e de estradas;
Construção de pontes;
Estabelecimento do telégrafo, por todo o país, e de comunicação por cabo submarino com
a Inglaterra, Brasil e Açores.
A política de desenvolvimento dos transportes e comunicações empreendida pela
Regeneração fez aumentar a circulação de produtos e desenvolveu as trocas entre as diversas
regiões.
A partir da década de 1890, a indústria portuguesa conheceu uma fase de expansão. Então,
estabeleceram-se, no país, unidades fabris ligadas à 2ª revolução industrial. Com o desenvolvimento da
economia expandiram-se os bancos. Apesar dos progressos verificados na economia, Portugal ocupava
um lugar modesto entre as nações europeias. Faltavam as riquezas naturais e os capitais para
investimento.
E como estava organizada a sociedade em Portugal no século XIX?
As alterações urbanas e sociais da industrialização
A burguesia portuguesa tomou o poder político com a Revolução de 1820. A partir de então
e ao longo do século XIX, esta classe veio a impor-se no mundo dos negócios e na sociedade.
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A burguesia portuguesa, de início, imitou os modos de vida da nobreza, adquirindo ou
recebendo títulos nobiliárquicos como os de barão e de visconde. Depois, ganhou consciência de
classe. Com efeito, a burguesia portuguesa, à semelhança da dos outros países defendia valores próprios
como a livre iniciativa, o culto pela família, o gosto pelo trabalho, pelo bem-estar e pelo prestígio social. Os
seus membros dedicavam-se à indústria, comércio, negócios; dela também fazia parte os proprietários
rurais, os funcionários públicos, os profissionais liberais. A partir de 1870, os governos eram
maioritariamente constituídos por membros da burguesia.
Naturalmente, o número de burgueses cresceu ao longo do século XIX.
Em contrapartida, o operariado não teve um grande crescimento, visto que Portugal teve um
desenvolvimento industrial reduzido. A indústria concentrava-se em algumas das regiões do país como
Porto, Covilhã, Marinha Grande, Lisboa, Barreiro e Setúbal. O operariado era pouco numeroso. Em
1911, representava 21,1% da população ativa.
Os operários portugueses, à semelhança dos outros países, enfrentaram graves – baixos
salários, muitas horas de trabalho, más condições de vida. Eram, em regra, analfabetos.
Á semelhança do que sucedia na Europa, os operários portugueses organizaram-se em
defesa dos seus interesses. Em 1838, apareceu a primeira associação operária. Com o decorrer dos
tempos, criaram-se associações de socorros mútuos, sindicatos e cooperativas. Também recorreram à
greve. Até à implantação da República (1910), o operariado conseguiu melhorar a sua situação, como
aconteceu com a redução para 10 horas do horário de trabalho.
Na generalidade, as condições de vida dos portugueses não eram boas. Por isso, muitos tiveram
de emigrar em busca de uma vida melhor.
Portugal conheceu ao longo do século XIX um apreciável aumento da população. Com
efeito, em 1820 tinha 3 100 000 habitantes e, em 1911, alcançava já os 5 547 708 habitantes. Mas este
aumento não foi acompanhado por um correspondente desenvolvimento da economia, em particular
da agricultura e da indústria. Os postos de trabalho eram insuficientes e os salários baixos. Muitos
portugueses tiveram, por isso, de emigrar em busca de melhores condições de vida. Os que partiam
eram provenientes dos campos, mas também dos meios urbanos. Eram sobretudo jovens e do sexo
masculino.
A maior parte dos emigrantes portugueses – cerca de 80% - dirigiu-se para o Brasil, terra
onde se pensava enriquecer de maneira fácil e rápida. Neste país, os emigrantes ocupavam-se na
agricultura, no artesanato, no comércio e em trabalhos vários nos núcleos urbanos. As autoridades
brasileiras estavam interessadas na vinda deles, visto que assim diminuiu o recurso a escravos negros.
Alguns dos emigrantes enriqueceram ou melhoraram substancialmente a sua vida. Muitos
enviavam, regularmente, dinheiro para as suas famílias. Essas poupanças fomentaram a atividade
bancária e permitiram equilibrar o défice comercial do país.
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Os novos modelos culturais do mundo industrializado
Na transição do século XVIII para o século XIX, surgiu na Europa um novo movimento
cultural e artístico – o Romantismo. Este movimento manifestou-se em particular na literatura, na
pintura, na arquitetura, na música e caracterizou-se por:
Exaltação do sentimento e da imaginação;
Valorização da natureza, apresentada de forma sublime e pitoresca ou de forma
fantástica;
Defesa dos valores nacionais, da liberdade individual e da independência dos
povos;
Interesse pela Idade Média, pelos usos e costumes dos povos, pelos mundos
exóticos.
Entre as grandes figuras do Romantismo sobressaíram Victor Hugo (na literatura), Turner e
Delacroix (na pintura), Beethoven e Chopin (na música). Em Portugal, destacaram-se Alexandre
Herculano e Almeida Garrett, Vítor Bastos (na escultura) e Cristino da Silva (na pintura).
Na 2ª metade do século XIX, manifestou-se uma nova expressão cultural e artística – o
Realismo.
A situação económica e social era diferente da do período anterior. Com efeito, tinha-se
estabelecido a sociedade industrial, onde eram contrastantes as formas de vida da burguesia, do
operariado e do campesinato. O Realismo procurou retratar, com objetividade, a realidade social.
Preocupou-se com o mundo do seu tempo, de modo a contribuir para um novo tipo de sociedade.
O Realismo abordou temas até aí não considerados. Assim, denunciou os vícios e
preconceitos da burguesia e descreveu a vida difícil dos operários e dos trabalhadores rurais. E fê-lo
através da literatura, da pintura, da escultura.
Na literatura, destacaram-se Zola, Dickens, Dostoievski e, no nosso país, Antero de Quental e Eça
de Queirós. Na pintura, distinguiu-se Courbet, Millet, Darmier e, em Portugal, Columbano e Malhoa; na
escultura portuguesa, merecem realce Soares dos Reis e Teixeira Lopes.
No último quartel do século XIX, desenvolveu-se a Arquitetura do Ferro. O ferro, associado
por vezes ao vidro, foi utilizado na construção de pontes, estações de caminho-de-ferro, torres, mercados,
mobiliário urbano. Entre os monumentos mais significativos da arquitetura do ferro, destaca-se a Torre
Eiffel e o Palácio de Cristal (Londres). Em Portugal, são símbolos desta arquitetura as pontes de D. Maria
e de D. Luís, que ligam o Porto a Gaia.
Na década de 1860, surgiram as primeiras manifestações de uma nova corrente artística – o
Impressionismo. A invenção da fotografia, em meados do século XIX, permitiu reproduzir de forma fiel o
mundo visível. Os artistas, cansados de reproduzir o real, procuraram captar o que a câmara fotográfica
não conseguia – o instante fugidio, os tons de cor a horas diferentes do dia. Assim, na pintura,
privilegiavam a cor e a luz mais do que o desenho. Para o efeito, utilizavam pinceladas curtas de tinta
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clara, filtrada. Como principais pintores impressionistas destacaram-se Renoir, Monet, Van Gogh. Na
música, distinguiu-se Debussy.
No século XIX, também se deram importantes progressos científicos e técnicos nos
domínios da:
Medicina – a descoberta da vacina contra a raiva (Pasteur), dos bacilos da tuberculose e
da cólera (Koch), de antisséticos e de anestésicos; estudo das células (Virchow) e da
criação da fisiologia (Claude Bernard);
Biologia – reflexões sobre a evolução das espécies (Darwin) e sobre as leis da
hereditariedade (Mendel);
Física – estudos sobre a eletricidade (Ampère, Ohm), descoberta das ondas elétricas
(Hertz), do raio X (Roëntreng) e da radioatividade (casal Pierre e Marie Curie);
Química – classificação dos elementos químicos (Mendeliev).
Também as ciências humanas – história e sociologia (com Comte e Durkheim) e a psicologia
(com Wundt e Freud) – conheceram progressos significativos. As descobertas científicas e técnicas
foram tão importantes que ocasionaram um autêntico culto pela ciência – o Cientismo, de que se
esperava a paz e a prosperidade para a Humanidade.
A abertura de escolas públicas e a ação dos meios de comunicação – jornais, telégrafo,
telefone – expandiram a cultura entre as populações.
A Europa e o mundo no século XX
As transformações económicas do pós-guerra
Além das alterações políticas, a guerra causou graves problemas na Europa, nomeadamente a
nível:
Demográfico – o continente europeu perdeu cerca de oito milhões de homens e perto de
seis milhões ficaram inválidos;
Económico e financeiro – os países envolvidos na guerra sofreram a destruição de
casas, hospitais, fábricas, vias de comunicação e meios de transportes. A produção de
bens desceu vertiginosamente, continuando a procura a ser elevada. Surgiu uma inflação
incontrolável, isto é, uma aumento de preços e um consequente agravamento do custo de
vida;
Social – a fome, o desemprego e a agitação social tornaram-se uma constante em países
como a Alemanha, a Grã-Bretanha, a França e a Itália.
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Em contraste com os países europeus, os Estados Unidos aceleraram o seu crescimento
económico com o conflito. Para dar resposta ao aumento da procura, a indústria aproveitou as inovações
técnicas surgidas na segunda metade do século XIX: a eletricidade e o petróleo substituíram o carvão
como fontes principais de energia.
Surgiu, também, um novo método de produção, introduzido, em primeiro lugar, por Henry Ford nas
suas fábricas de automóveis. Este método de produção, conhecido por fordismo, baseava-se:
Na divisão do trabalho em tarefas simples e rápidas, executadas repetidamente pelos
mesmos operários, procurando, assim, evitar-se perdas de tempo. O taylorismo, que ficou
conhecido pelo trabalho em cadeia, foi desenvolvido por Frederick Taylor;
Na produção em série das mesmas peças e modelos uniformizados – estandardização;
Na atribuição de prémios de produção e na subida de salários, que motivaram os
operários a produzir e a consumir mais.
Incentivou-se a produção em massa, que fez baixar os preços dos produtos e aumentar o seu
consumo.
Por sua vez, a crescente competitividade nacional e internacional conduziu a um novo sistema de
organização das empresas, reforçando-se a tendência para a sua concentração o que deu origem a
monopólios, ou seja, sociedades que controlam todos os setores da produção, desde a extração de
matérias-primas até à comercialização do produto final.
Mutações na estrutura social, na cultura e nos costumes
O rápido crescimento da economia nos países mais industrializados acentuou a vida de luxo, de
ostentação e de procura de prazer por parte da alta burguesia. Esta, e até mesmo a média burguesia,
viveu, então, um período de prosperidade que ficou conhecido como Belle Époque. Um público
elegante e bem vestido frequentava cabarés, teatros, óperas e cafés-concertos. Novos hábitos de lazer,
como a prática do desporto e as viagens eram, também, característicos deste período. Em contraste
com este modo de vida, grande parte da população, de que se destacam os camponeses e os operários,
vivia com enormes dificuldades económicas e sociais.
O movimento sindical, que se ia desenvolvendo e fortalecendo, e as crescentes preocupações
sociais dos governos contribuíram para a publicação de legislação protetora dos operários como o
estabelecimento de horários de trabalho, o direito ao descanso semanal, a segurança em caso de
acidente e doença e a regulamentação do trabalho feminino e infantil.
No início do século XX, surgiram as grandes organizações sindicais que, integrando vários
sindicatos e mobilizando milhões de trabalhadores, levaram a cabo importantes greves que contribuíram
para melhorar as suas condições de vida. As greves, características das sociedades industriais, eram o
instrumento mais usado pelos operários para fazerem as suas reivindicações.
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Durante a segunda metade do século XIX, devido principalmente às grandes transformações
económicas, verificaram-se importantes mutações na sociedade europeia que continuaram no início do
século XX.
Ligado ao desenvolvimento do setor terciário (comércio e serviços) verificou-se o crescimento
das classes médias, constituídas pela pequena e média burguesias. Cada vez mais numerosas, as
classes médias, devido ao seu nível de instrução e de consciencialização, passaram a desempenhar um
importante papel nas sociedades dos países industrializados, sendo responsáveis por significativas
mudanças políticas, sociais e culturais do século XX. Constituíram as bases de apoio dos novos partidos
políticos e delas saíram os dirigentes das novas democracias.
Rutura e inovação na arte e na literatura
As alterações económicas e sociais, bem como a vivência e o sofrimento causado pela I Guerra
Mundial, originaram novas formas de expressão artística e provocaram uma autêntica revolução no
mundo das artes. Ao desenvolver-se a fotografia, a pintura perdeu o monopólio da reprodução da
natureza e foi forçada a encontrar novas soluções. Muitos artistas romperam com as regras e convenções
tradicionais e abandonaram, progressivamente, a arte figurativa (reprodução da realidade observável),
abrindo caminho à pintura contemporânea.
Arte Nova
A Arte Nova surgiu em França e na Bélgica e produziu obras de grande beleza e requinte.
Abrangeu os mais variados setores artísticos: a pintura, a arquitetura, o mobiliário, a decoração de
interiores e a ourivesaria. Inspirou-se na natureza e valorizou a linha ondulante e curva que sugeria a
ideia de movimento.
Expressionismo
Este movimento artístico desenvolveu-se na Alemanha e nos países nórdicos. Os pintores
expressionistas pretendiam revelar os seus sentimentos através da violência das cores, das
pinceladas largas e das imagens deformadas. É um tipo de pintura intenso, apaixonado e muito
pessoal, baseado na ideia de que a tela é um meio para a expressão das emoções.
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(Munch) (Otto Dix)
Munch, Kirchner, Schiele e Otto Dix foram alguns dos principais expressionistas.
Fauvismo
O movimento fauve caracteriza-se pela utilização de cores vivas e contrastantes. Estes artistas
utilizavam largas manchas de cores violentas, procurando traduzir a forma como observavam o mundo.
A intensidade da cor prevalecia sobre as formas. Matisse, Roualt e Dérain foram três dos principais
representantes deste movimento.
Cubismo
O cubismo representou o corte decisivo com a noção de espaço naturalista da qual fazia parte a
técnica da perspetiva. A arte cubista representa objetos reais. Estes são “achatados” na tela, de forma a
que se possa ver em simultâneo diversas perspetivas de um mesmo objeto. Para isso, as formas são
reduzidas a sólidos geométricos que se sobrepõem, surgindo na tela vários ângulos de visão daquilo
que é representado. Picasso, Braque e Gris foram três dos principais representantes do cubismo.
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(Picasso) (Braque)
Futurismo
Este movimento artístico nasceu com o manifesto literário do poeta Marinetti. Os princípios por ele
estabelecidos – recusa da herança cultural do passado e criação de uma nova arte baseada na
velocidade, nas tecnologias modernas (transportes e comunicações) e no futuro.
A pintura e a escultura futuristas pretendiam enaltecer o dinamismo que simbolizava o
progresso.
O futurismo, no entanto, não se limitou à pintura e à escultura, abarcando outros domínios, como a
arquitetura, a música e a literatura.
Abstracionismo
O abstracionismo ganhou uma importância fundamental ao longo do século XX. As formas
geométricas, as linhas e as cores adquiriram, assim, um valor independente da realidade, não
representando nada de concreto, apenas os impulsos estéticos, os sentimentos ou as emoções do
artista.
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Surrealismo
Iniciado em Paris, o surrealismo procurou descrever o “surreal”, ou seja, o inconsciente, e
entender o mundo dos sonhos. Nem sempre fáceis de interpretar, estes quadros representam cenas
provocantes e ilógicas e misturam criaturas estranhas e fantasmagóricas, com coleções de objetos
do quotidiano.
(Dali)
As novas correntes literárias surgiram como reação ao conservadorismo tradicional, constituindo
respostas à instabilidade social que antecedeu e sucedeu à I Guerra Mundial. Entrou-se num período de
desencanto, de crise de valores e de ideais desfeitos. A literatura deste período foi caracterizada por
uma visão mais pessimista do mundo, mais receosa e subjetiva. Foi o caso do irlandês James Joyce,
ou dos franceses Marcel Proust e Albert Camus.
Em Portugal assistiu-se à chegada de movimento de vanguarda, como o expressionismo, cubismo
e o futurismo, conhecidos no nosso país pelo nome genérico de modernismo. Salientaram-se, entre
outros, os pintores Eduardo Viana, Amadeo de Sousa Cardoso e Almada Negreiros, que foram
influenciados por diversas correntes artísticas modernas.
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(Amadeo de Sousa Cardoso)
No campo literário surgiu em Portugal uma nova geração de escritores, preocupados com a
situação do país.
O modernismo literário refletiu-se, nas obras de Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada
Negreiros.
Portugal no século XX
Portugal: da I República à ditadura militar
Perante o pessimismo e o derrotismo provocados pelas cedências do governo aos interesses
ingleses, os republicanos procuraram reerguer o orgulho nacional e incutir a esperança e a confiança
num futuro melhor.
Os desentendimentos entre os diversos partidos leais à monarquia e a agitação no Parlamento
levaram o rei D. Carlos a entregar a chefia do Ministério a João Franco, que passou a dirigir o País de
forma ditatorial.
A oposição ao regime monárquico e à ditadura de João Franco crescia cada vez mais. No dia 1 de
fevereiro de 1908, o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe foram assassinados no Terreiro do
Paço, por elementos republicanos atuando individualmente. O trono foi ocupado pelo segundo filho do rei,
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D. Manuel II. O rei formou um governo com representantes de todos os partidos que apoiavam a
monarquia.
A 4 de outubro de 1910, iniciou-se a revolução. Os revoltosos, tanto militares como civis,
pertenciam à classe média, à pequena burguesia e ao operariado. Eram apoiados pelo Partido
Republicano, pela Maçonaria (sociedade inspirada no Movimento das Luzes, que defendia a fraternidade
e a liberdade) e pela Carbonária (sociedade secreta que apoiava a luta contra a Monarquia, preconizando
mesmo a utilização de armas).
Na manhã seguinte, dia 5 de outubro, os revoltosos proclamaram a República da varanda da
Câmara Municipal de Lisboa.
Proclamada a República, foi constituído um Governo Provisório chefiado por Teófilo Braga, que
conduziu os destinos do País até à aprovação de uma Constituição Republicana.
Esta, aprovada a 21 de agosto de 1911, adotava o sistema liberal da divisão e independência
dos três poderes e estabelecia um regime democrático parlamentar.
Algumas medidas tomadas pelo Governo Provisório ajudaram a marcar a diferença entre o velho e
o novo regime: uma nova bandeira, um novo hino (A Portuguesa) e uma nova moeda (o Escudo).
Ao longo do período da I República (1910-1926), foram tomadas outras medidas que marcaram a
ação dos governos republicanos:
Laicização do Estado – lei da separação da Igreja do Estado, expulsão das ordens
religiosas, nacionalização dos bens da Igreja, proibição do ensino religioso nas escolas
oficiais, legalização do divórcio e criação do registo civil obrigatório;
Financeiras – Em 1913 Afonso Costa conseguiu que as contas públicas apresentassem
um saldo positivo, graças a um conjunto de medidas das quais se destacou uma forte
restrição nas despesas;
Sociais – publicaram-se leis que contemplavam a igualdade de direitos dos cônjuges e
entre filhos legítimos e ilegítimos; instituiu-se o divórcio; foram reconhecidos o direito à
greve e à proteção na doença e na velhice; o horário de trabalho semanal foi fixado em 48
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horas para a maioria dos trabalhadores e em 42 horas para os empregados de escritório e
bancários;
Educativas – estabelecimentos da escolaridade obrigatória entre os sete e os dez anos;
criação de jardins-escola e aumento do número de escolas primárias; reforma do ensino
técnico; criação das Universidades de Lisboa e do Porto.
A instabilidade política
O regime parlamentar instituído pela Constituição de 1911 e as rivalidades partidárias foram
importantes fatores da instabilidade política que se fez sentir durante o período da I República.
O Partido Republicano Português (PRP), bem estruturado e unido pelo forte objetivo de derrubar a
Monarquia, apresentou, logo nos primeiros anos da República, divergências resultantes de questões entre
os seus dirigentes e da dificuldade em cumprir o seu programa.
Dos desentendimentos entre os mais conservadores e os que exigiam reformas e métodos
radicais, resultou a desagregação do Partido Republicano Português, dando origem a novos partidos
rivais.
Como os sucessivos governos não conseguiam obter a maioria absoluta no Congresso
(Parlamento), tinham de recorrer a governos de coligação que, dadas as rivalidades, se revelavam pouco
eficazes. Após curtos espaços de tempo, eram objeto de votos de desconfiança dos deputados da
oposição, ou demitiam-se sem terem posto em prática o seu programa.
O agravamento das dificuldades
As dificuldades criadas pela participação de Portugal na I Guerra Mundial e a instabilidade política
dificultaram a resolução dos problemas económicos que afetavam o país. Mesmo na educação, onde se
tinha conseguido fazer descer a taxa de analfabetismo de cerca de 70% para cerca de 63% até final da I
República, a obra reformadora ficou aquém das expetativas.
No campo laboral, o antagonismo entre patrões e operários acentuou-se: a burguesia receava a
força crescente do operariado; o operariado considerava que as suas reivindicações não eram
suficientemente atendidas. As manifestações e as greves sucediam-se. Os salários continuavam a não
acompanhar a subida de preços, aumentando a fome e a miséria.
A situação económica, financeira e social foi-se agravando, pois o valor das importações
continuava a ser superior ao valor das exportações, o desemprego era elevado e o custo de vida não
parava de aumentar, fazendo crescer a inflação. Para fazer face à situação, os governos republicanos, à
semelhança dos governos monárquicos da segunda metade do século XIX, recorreram a empréstimos,
aumentando a dívida externa.
A reação autoritária e a ditadura militar
Em 1917, as dificuldades económicas, as lutas políticas e a agitação social levaram alguns
setores da sociedade, nomeadamente os capitalistas, a apoiar Sidónio Pais na implantação de uma
ditadura militar.
O período de 1919 a 1926 foi marcado pelo agravamento da crise financeira e da inflação e pelo
aumento do número de greves e de ações terroristas. Aumentava a instabilidade política, económica e
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social, anunciando o fim da República Democrática. Vários movimentos revolucionários refletiram o
agravamento da conflitualidade política, conduzindo, por vezes, à substituição ou mesmo à queda dos
governos.
A 28 de maio de 1926, tropas comandadas pelo general Gomes da Costa saíram de Braga,
marcharam sobre Lisboa e derrubaram o governo. Ao dissolverem o Parlamento e suspenderem as
liberdades individuais, os militares substituíram a I República por uma ditadura militar.
Portugal: o autoritarismo e a luta contra o regime
O golpe desencadeado pelas Forças Armadas, em 1926, instaurou uma ditadura militar em
Portugal. Contudo, a instabilidade política e os problemas económicos persistiram, contribuindo para
agravar o défice orçamental e a dívida externa.
residente da República
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