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Page 1: Lucio cardoso

UNIESP – FACULDADE DIADEMA

LETRAS

Disciplina: Literatura Brasileira

Profª Elizabeth Franke

LÚCIO CARDOSO

CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA

Rosana Ferraza Pires dos Santos

RA 0050040817

V sem Letras – matutino

DIADEMA

2014

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Cardoso, Lucio (1912 - 1968)

BIOGRAFIA

Joaquim Lúcio Cardoso Filho (Curvelo MG

1912 - Rio de Janeiro RJ 1968). Romancista,

poeta, dramaturgo, tradutor e artista plástico. Aos

2 anos é levado para Belo Horizonte e depois para

o Rio de Janeiro, para onde se transfere

definitivamente em 1929. Adolescente, escreve

peças teatrais somente para os amigos. Um

desses textos, O Reduto dos Deuses, é elogiado

pelo escritor Aníbal Machado (1894 - 1964), que o

incentiva a seguir a carreira literária.

Publica em 1934 seu primeiro romance, Maleita, sobre a fundação de uma

cidade no interior de Minas Gerais; e, em 1935, lança Salgueiro, sobre a vida

nos morros cariocas. Mas é somente com A Luz no Subsolo, de 1936, que

encontra seu caminho, uma ficção introspectiva. Em 1939 faz sua única

incursão pela literatura infantil, Histórias da Lagoa Grande, e dois anos depois

publica Poesias, compilação de trabalhos escritos na década anterior. Nos

anos 1940 trabalha incessantemente, escreve peças de teatro, faz traduções e

colabora com crônicas policiais nos jornais. Interessado em cinema, inicia em

1949 as filmagens do longa-metragem A Mulher de Longe, inacabado, e em

1961 escreve o roteiro de Porto das Caixas, de Paulo César Saraceni (1933).

No ano seguinte, sofre um derrame cerebral, que paralisa o lado direito de seu

corpo, passa então a dedicar-se à pintura. Expõe seus trabalhos em São

Paulo, Rio e Belo Horizonte.

* * * * *

Joaquim Lúcio Cardoso Filho nasceu em Curvelo, Minas Gerais, a 14 de

agosto de 1912 e faleceu em 28 de setembro de 1968, na Clínica Doutor Eiras,

Rio de Janeiro, vítima de derrame cerebral. Era filho de Joaquim Lúcio Cardoso

e de Maria Venceslina Cardoso. Em 1913, transferiu-se com a família para Belo

Horizonte, onde passou sua primeira infância e fez os estudos elementares no

Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Em março de 1923, a família muda-se

para o Rio de Janeiro, e Lúcio foi matriculado no Instituto Lafayette. No ano

seguinte retorna à capital mineira, a fim de complementar estudos no Colégio

Arnaldo. Em 1929, retorna ao Rio de Janeiro. Apesar de ser considerado um

péssimo aluno, lia tudo que lhe caía às mãos: a obra de Eça de Queirós, os

romances de Conan Doyle, os contos de Hoffmann¹. Desta época data a sua

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primeira experiência de dramaturgo, a peça Reduto dos Deuses, que mereceu

elogios de Aníbal Machado, e, segundo o próprio autor, era "pretensiosa e

anarquista". Além dos romancistas russos, começou a ler Oscar Wilde entre

outros.

Inicia então suas experiências como romancista e faz publicações em

jornais. Conhece Augusto Frederico Schmidt, que possuía uma editora

instalada no mesmo prédio em que Lúcio trabalhava.

Em 1934, editou Maleita, muito bem recebido pela crítica, em especial a

do temido Agripino Grieco ².Por causa do assunto de seu primeiro romance foi

agrupado entre os regionalistas; entretanto, sua produção tem muito mais

afinidade com o grupo "espiritualista" de Cornélio Pena, Schmidt, Otávio de

Faria, Vinicius de Morais.

Em 1935, publicou Salgueiro, romance de cunho social bem ao gosto da

época e, no ano seguinte, A Luz no Subsolo, que mereceu elogiosa carta de

Mário de Andrade. A este se seguiram diversos volumes de novelas e poesias,

além de romances, atingindo sua obra o clímax com Crônica da Casa

Assassinada (1959).

Em 1961, publica Diário I (1949 a 1951), ao qual iriam seguir-se os

volumes II a V, que ficaram na intenção, pois em 1962 sofreu um derrame

cerebral, o primeiro, que o incapacitou de escrever. Otávio de Faria organizou

para a José Olympio o Diário II (1952 a 1962) que juntamente com o I, foi

publicado postumamente (1970) sob o título Diário Completo.

Lúcio Cardoso costumava dedicar-se à pintura e ao desenho como

elemento subsidiário à função literária. Concebia plasticamente os cenários de

suas peças, a feição de suas personagens e os locais em que se desenrolava

a ação dos romances. Depois que foi atingido pelo derrame, encontrou na

pintura outro meio de expressão.

Lúcio Cardoso realizou quatro exposições individuais em galerias de arte

do Rio de Janeiro - Goeldi (1965) e Décor (1968) -, e de São Paulo - Atrium

(1965). Em Belo Horizonte, no Automóvel Club de Minas Gerais (1966).

Em 1966 recebeu o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de

Letras, por conjunto de obra. Dedicou-se com empenho às artes cênicas, como

autor, roteirista e produtor. Fundou um teatro de câmara, sediado na Tijuca,

onde lançava suas peças com o auxílio de grandes nomes como, entre outros,

os de Henriette Morineau, Sérgio Brito, Ítalo Rossi. Estendeu

concomitantemente esta atividade à televisão e ao cinema, tendo sido

importante sua contribuição para o Cinema Novo.

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Obras publicadas - primeiras edições

Romance

Maleita - 1934

Salgueiro – 1935

A Luz no Subsolo – 1936

Mãos Vazias – 1938

A Desconhecida – 1940

Dias Perdidos – 1943

Inácio – 1944

A Professora Hilda – 1946

O Anfiteatro – 1946

O Enfeitiçado – 1954

Crônica da Casa Assassinada – 1959

O Viajante - 1970*

Poesia

Poesias – 1941

Novas Poesias – 1944

Poemas Inéditos - 1982*

Memória

Diários – 1961

Diário Completo - 1970*

Infantil

Histórias da Lagoa Grande - 1939

Teatro

O Reduto dos Deuses – 1929

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O Escravo – 1945

O Filho Pródigo - s.d.

O Coração Delator - s.d.

Angélica - s.d.

Cinema

Com os Olhos no Chão – 1959

Porto das Caixas - 1959

* publicação póstuma

ESTILO

A cultura solar do Brasil, cheia de festas, alegria, otimismo, risos e

fantasias também abriga uma vertente sombria, sinistra. É neste espaço que se

encontra a literatura do mineiro Lúcio Cardoso (1913-1968). Seu universo

atormentado é, em sua essência, de desespero e solidão.

Este mineiro, que viveu no Rio de Janeiro a maior parte de sua vida e

que também foi pintor, quando um derrame o afastou da escrita, pode ser

definido também como um gótico brasileiro. Num rápido olhar, isto poderia

parecer um contra-senso, mas numa observação minuciosa não é. Lúcio

buscava as sombras, tinha referências muito próximas daquele estilo célebre e

provou que, em pleno Brasil, era possível encontrar uma legítima obra gótica

adaptada e misturada ao nosso caldeirão cultural. O sol e a luz eram inimigos

que levavam seus protagonistas a usar a sombra e as trevas como referência e

salvação.

Lúcio Cardoso é um caso raro em nossa literatura. Homossexual em

conflito, pintor em gênese, escritor de fato, lutador agoniado, ele descobriu uma

passagem secreta em nossa forma de ver o mundo, em nossa alma brasileira,

muitas vezes inconformada e deslocada. Descobriu que existe, sim, um lado de

trevas em todas as nossas luzes. E que é mais comum do que se imagina.

OBRAS

Maleita

Uma das principais, e talvez a mais equivocada ideia sobre uma suposta

existência de um goticismo no Brasil se dá justamente pelo fator de importação

de conceitos, uma drenagem de criatividade que não se resolve no processo

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da criação final, ou melhor, no resultado obtido e exposto. Tanto pior. O juízo

de que em um país tropical, abençoado por Deus, seria impossível, senão

ridículo, investir numa estética de sombras, numa cultura melancólica, num

desejo obscuro.

As premissas acima são válidas, se aplicadas a ferro e fogo, ou além, se

atestadas na forma de utilização básica deste goticismo. Porém,

paradoxalmente, as duas posições são fraquíssimas se analisadas em seus

próprios dogmas. A primeira coisa a se contextualizar são as posições que

permitem um resultado positivo das ideias contrárias ao goticismo.

Num rápido mapeamento de qualquer tipo de produção artística articulada

dentro de uma proposta gótica, a impressão sobressalente resulta na absoluta

conclusão de protótipos e arquétipos prontos para o uso em consumo.

Apesar de uma enorme gama de críticos literários do país esquecer

completamente da existência deste estilo no Brasil e de também não

classificarem nenhum autor como parte integrante dela, basta um rápido

vasculhar em certas obras para descobrir que sim, existe algo que pode ser

denominado literatura gótica brasileira.

Um dos casos mais representativos é justamente Lúcio Cardoso. Todo o

conjunto de sua obra é um resplandecer deste sombreamento da literatura

brasileira. Não seria demasiado apontá-lo como o maior representante deste

gótico nacional.

Teoria das sombras

Em certo sentido, seria um contra-senso existir em um país cheio de sol algo

voltado para as sombras. Reside aí o grande retrato incoerente. Em nossa

literatura regional é muito comum encontrar personagens que tenham um

cunho enfeitiçado pelas sombras, pela contra-luz, pela vida em constante fuga

da luz solar, que aquece e acaba por drenar as forças. Por isso, em muitas

situações, encontramos uma centena de pessoas nascidas e criadas

efetivamente direcionadas em busca desta sombra. Assim é Maleita (uma outra

forma de denominar a malária), publicado originalmente em 1934.

Um homem é mandado a Pirapora (MG) para organizar a cidade, transformá-la

em um pólo de desenvolvimento. Mas o que encontra, como em um bom

romance gótico, é um fantasma a atormentá-lo. Um fantasma não no sentido

literal, mas como representação da própria cidade.

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Algumas explicações de cunho histórico se fazem necessárias: de uma

maneira, os descendentes dos portugueses seriam eternamente

estigmatizados com a ideia de um paraíso.

Este é o personagem principal de Lúcio Cardoso. Em busca de seu paraíso,

encontra a malemolência dos moradores da cidade, a rude introdução dos

imigrantes do norte, transformando o local em um verdadeiro caldo assustador,

uma cidade que o persegue a cada passo, a cada momento. Não à toa, os

festejos realizados nas cidades parecem rituais demoníacos.

Promíscua, a cidade vai acabando com seu suposto desbravador. Vem a

maleita. Vem também a varíola. A inimizade corre nas veias de todos. Naquele

ambiente soberbo, às margens do rio São Francisco, a história de horror ganha

cada vez mais força, destruindo, dizimando a vontade do homem, como num

bom romance gótico, melancólico e aniquilador.

Maleita é uma obra impressionante, ainda mais quando se leva em

consideração que é o primeiro trabalho de Lúcio Cardoso. É uma amostra

prática que este estilo existe na literatura brasileira.

Salgueiro

Salgueiro é um romance denso e

complexo, em que o Morro ganha

contornos de protagonista. Neste

segundo romance de Lúcio

Cardoso, publicado em 1935, o

então jovem escritor já revela um

enorme talento na construção

psicológica dos personagens. Estes

são movidos por uma “força

selvagem” que os conduzem a um

“destino atormentado”, para usar as

palavras do autor.

Dividido em três partes – O Avô, O Pai e O Filho –, o morro do

Salgueiro, no Rio de Janeiro, é construído como um lugar à parte, um problema

incrustado na cidade.

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A narração em terceira pessoa dá a impressão de um narrador quase

ausente, como se a ação se desenrolasse sozinha. Mas, aos poucos, o

narrador participa de um modo mais ativo, principalmente quando explora o

modo de ser dos personagens. O recurso, usado com habilidade, deixa antever

a precisão técnica de Lúcio Cardoso.

As três partes do romance expõem a história de três gerações de

homens sem perspectivas. Ao longo da narrativa, o leitor percebe que o morro

adquire vida própria, enquanto os personagens vão se descaracterizando,

transformando-se em coisas. A fome e o desemprego geram uma população

de miseráveis, e aqui a miséria é narrada sem meias palavras. Em certos

momentos, é difícil perceber a diferença entre os trapos, a sujeira, a lama, os

cachorros e as pessoas. Tudo e todos são nivelados pela miséria.

É significativo como o morro revela aspectos contraditórios: não são as

personagens que delineiam o espaço, ou atuam sobre ele. A impressão é que

o morro configura os personagens. Trata-se de um mundo à parte, um lugar de

exilados. Ou exilados de uma vida digna.

O romance marca uma diferença bem definida entre o morro, o alto, e os

domínios da cidade. O trecho em que dois personagens vão para um hospital é

notável: o branco das paredes, dos lençóis e dos móveis faz as mulheres

pensar que seria impossível morrer num lugar tão limpo e imaculado.

Entre os personagens há uma espécie de ódio generalizado ou uma

dificuldade para expressar outro sentimento que não seja o ódio. Mas que outro

sentimento é possível esperar de pessoas que vivem à margem da sociedade?

Este romance precocemente maduro tenta responder a essa pergunta.

Daí a surpreendente atualidade da arte narrativa de Lúcio Cardoso, que em

sua obra soube explorar como poucos a loucura e o martírio de seres cindidos

e atormentados.

A luz no subsolo

"Nem sei bem. Tenho medo de mim e tenho medo

dos outros. Não sei como encarar os homens. Às

vezes penso que tenho direito a tudo, que sou o

mais forte. Mas - compreende você? - essa

liberdade é demasiado para mim. Não sei o que

fazer da minha solidão"

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Dividido em quatro partes, "A luz no subsolo" começa com um prólogo

anunciando o abandono de Maria, uma empregada do casal Madalena e Pedro

que resolve ir embora, aparentemente sem motivo. Ela alega que está indo

embora por causa "dele", porque não aguenta mais a sombra dele pairando

sobre a casa, isso a está angustiando demais. Não demora muito para

entendermos que "ele" é Pedro. E Madalena não tenta fazer nada para impedir

a sua ida, pelo contrário, ela entende bem esse sentimento. Vai até a casa de

sua mãe para tentar arrumar uma solução, porque Madalena também não pode

ficar sozinha na casa com ele.

No encontro com essa mãe alcoólatra e com uma irmã covarde, que

tinha desejos de abandonar tudo e conhecer o mundo, mas sucumbiu a ficar

encarcerada naquele interior, Madalena começa a rememorar o dia em que

conheceu Pedro e como sua vida se transformou a partir de então. Tudo foi

miserável e solitário desde o princípio, um amor cheio de culpa e miséria, que

ao invés de trazer alento, traz angústia e medo. Pedro é professor e aos

poucos fica claro o ódio que Madalena sente por ele gostar mais dos livros do

que dela, sempre envolvido em um e outro, e nunca conversando com ela. O

prólogo tem fim com o abandono definitivo da casa por Maria, como alguém

que conseguiu se livrar das garras do mal rondante.

A presença da religiosidade é algo marcante nos livros de Lúcio, mas

nesse ela se sobressai logo na nomeação dos personagens: Maria, Pedro e

Madalena. A primeira, a única que poderia ser uma espécie de salvação (a

mãe do salvador) abandona o barco logo no começo, deixando os pecadores

sozinhos, à espera de alguém que os resgate. A atmosfera angustiante que

ressalta a relação de ódio que o escritor tinha com sua terra natal fica clara

logo no princípio. Parece que estamos mergulhados em uma noite constante,

não há sol pra os habitantes daquela cidadezinha no interior de Minas Gerais.

Depois do prólogo há a primeira parte intitulada "Os laços invisíveis",

que trata da chegada de Emanuela (em hebraico Emanuel significa "Deus mais

perto de nós"), uma menina inocente e bonita, que acabou de sair de uma

infância feliz de brincadeiras com os seus irmãos. A presença da inocência de

Emanuela, ao invés de dar leveza ao ambiente, torna-o ainda mais escuro e

opressor, como aquela luz que nos cega quando é jogada diretamente nos

olhos. Pedro é atraído para essa luz, mas com o intuito de apagá-la e não de

se deixar levar por ela. Madalena, por sua vez, fica mais atormentada com o

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ciúme e a falta de amor, algo que é escancarado pela presença da menina.

Também ela percebe que não consegue amar sem medo, culpa e julgamento.

Nessa parte do livro também é apresentado o personagem Bernardo, marido

de Cira, a irmã de Madalena, e que nutre uma paixão também doentia pela

cunhada. Sim, nos livros de Lúcio Cardoso todos os amores são patológicos,

não há nada bonito e com vida.

O livro segue com mais duas partes chamadas "Noturno" e "Os

evadidos" que falam principalmente sobre a chegada da mãe de Pedro, Adélia

e os desdobramentos que a presença de Emanuela vai ter sobre os habitantes

da casa. Também essa relação entre mãe e filho é adoecida, assim como a de

Madalena com a sua mãe alcoólatra. Existe também um elo de ligação entre

Madalena e Pedro na infância que mostra um pouco porque eles são assim,

algo aconteceu de muito grave que os fizeram mergulhar nesse poço sem luz.

E tudo isso é brilhantemente explorado por Lúcio em um momento onde a

loucura se apossa totalmente dos personagens. Parece que existem dois

caminhos para a salvação: fugir e abandonar tudo ou morrer. Mas como fugir

sem levar consigo a podridão do que viveram por tanto tempo. É possível?

"Madalena percebia que nesses instantes penetrava novamente no paraíso

perdido da sua infância. Sorria: é com a vida que nós adquirimos a impureza. E

curvando-se sobre as flores rasteiras, onde os insetos passeavam, concluía:

força é procurar o antigo berço para nos sentirmos limpos do lodo que a vida

acumula em nossos ombros..." (pg. 262)

Diários

Católico confesso, deixou em seu Diário (1961), escrito entre os anos de

1949 a 1962, um relato bastante contundente sobre sua homossexualidade, e

as dúvidas e culpas geradas pela sua orientação sexual. Lúcio Cardoso

integrava numa vertente mais geral da literatura brasileira, caracterizada pelo

subjetivismo, que daria a literatura de, entre outros, Clarice Lispector – a qual

manteria uma ligação amorosa platônica com Lúcio Cardoso nos anos 60.

Trechos

“Não sei se há em mim um vício central da natureza, sei apenas que é nela,

nessa paixão voraz e sem remédio, que encontro afinidade para as minhas

cordas mais íntimas.”

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“Não é perder que me aflige – porque perdemos tudo, e seria inútil lutar. É

perder dessa maneira, sem uma palavra, como uma flor viva que atirássemos

ao fundo de uma sepultura. Ai, como eu me enganava, como eu me engano a

meu próprio respeito! Julgo-me muito mais frio do que sou, e na verdade a

ausência das pessoas me causa uma profunda perturbação. (Sei que despisto,

que não me refiro exatamente ao que devo – porque ao certo, era de X, era da

sua ausência que devia falar…)”

“O demônio é pequeno, magro e fala quase sem cansar. Está, como eu,

estirado nu numa das tábuas da prateleira da sauna, e não parece estonteado

com os vapores, tal como me acontece. De vez em quando comunica-me que o

meu banho está errado e que não sigo exatamente as regras finlandesas:

tenho de descer do canto sufocante onde me abrigo e deixar-me vergastar

furiosamente com um chicote de folhas de eucaliptos. Em seguida sentar-me

numa tina cheia d’água fria – e logo após subir de novo para a minha prateleira,

onde quase sufoco, mal divisando o meu interlocutor através de espessas

ondas de vapor. Não há dúvida de que era precisamente aqui que eu devia

encontrá-lo. Revela-se logo um velho amigo da minha família, enquanto eu

tremo interiormente, pensando em tudo o que poderá suceder. Possui um sítio

não sei onde, uma máquina fotográfica com que apanhará instantâneos

nossos, mil e uma pequenas utilidades. Recuso-me ao ridículo de sair da

sauna correndo nu para me atirar ao rio; prefiro vestir-me calmamente, e só

assim consigo livrar-me do importuno mestre de banhos a vapor.”

“Um problema existe, sim, e grave, mas há vinte anos que eu me debato dentro

dele, e é possível que, ultrapassando-o, nada mais me afaste desses

sacramentos que são a base de toda a vida eterna.”

“Ontem, num bar com Vito Pentagna, conversamos longamente sobre X. talvez

eu tenha exagerado os meus sentimentos, mas hoje, procurando examinar com

atenção o que se passa comigo, sinto que não tenho muito o que discordar do

que disse: mais ou menos os meus sentimentos permanecem os mesmos. Não

sei o que mais lamentar – mas nesta fidelidade, apesar de tudo, encontro uma

garantia contra as minhas tendências à desordem e à dispersão. É pelo menos

o que recolho de melhor nesta pesada prova que já tem a duração de dois

anos.”

“Rompendo ontem com X, atingi o final de um movimento que vem caminhando

há muito tempo. Pensando hoje nos detalhes, imagino que talvez tenha sido

injusto mas, ainda assim, não é mais tempo para recuar, já que no futuro a

única coisa que me espera é o longo trabalho que tenho a fazer. Pensando em

certos detalhes da vida de X, sua pobreza, suas dificuldades, o escuro porão

em que mora, sua timidez feita de orgulho e em geral suas dificuldades na vida

prática, sinto uma enorme pena. É uma coisa triste não poder auxiliar as

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pessoas como seria necessário; mas também não posso me sacrificar mais e,

tudo o que foi vivido, vai para este poço fundo onde guardamos as lembranças,

algumas delas, como esta, das melhores de nossa vida.”

“Num carro, a caminho do Alto da Boa Vista, sigo com alguns jovens – alguns

extremamente jovens – que se embriagam e rompem ampolas de Kelene, em

cujo rótulo leio anestesiante. Sim, é fértil em recursos essa mocidade, mas do

que precisamente procura ela se anestesiar? Nenhum deles sofre de algum

mal profundo – e no entanto, esse mal pior de não sofrer de mal nenhum… – e

são hábeis e versados nessas coisas de éter e entorpecentes, pronunciando

esse nome – Kelene – com familiaridade, nome sem dúvida mais que usual nos

hospitais, mas que ouço pela primeira vez e onde julgo distinguir inquietas

ressonâncias, sombrias previsões e não sei que tom amputado e doloroso, que

reflete salas de hospitais, asilos de alienados e antros escuros de vícios –

todos os lugares enfim onde a alma impaciente pode passear sem arroubos

finais seus gritos destruidores. Kelene, mesmo inocente, tem no frio do seu jato

efêmero e cristalino, toda uma melodia secreta de delírios fúnebres, alvorecer

em êxtase e desabrochamento de deliquescências reprimidas. E o que me

espanta é que esses jovens moderados, de atitudes e costumes mais que

burgueses, a isto se atirem com gritos de prazer e estremecimentos animais:

como que da sombra alguma coisa mais primitiva e mais antiga do que o

próprio homem, acorda em suas faces necrosadas o gosto do imundo.”

“É que o prazer não me interessa. Sempre o que me interessou foi o amor, e

agora que vejo perder-se a possibilidade dele (ai de mim) sinto que não me

interesso por outra coisa, e que o prazer sozinho não vale nada e não tem

atrativos para mim.”

“Aproveito todas as aquisições da idade: afasto-me da carne pura e simples,

sentindo que nela não há prazer e nem enriquecimento, mas somente

melancolia e pobreza. Ah, existe um momento em que ser casto não é difícil —

e a ele eu me atiro com todas as forças do ser. Não, não se pode imaginar a

necessidade que eu tenho de pureza e de tranquilidade — minha impressão é

a de que recomeço a viver.”

“Montherlant diz — e não pode haver testemunho mais insuspeito — que o

homossexualismo é “a própria natureza”. No que tem razão, pois no ato de

duas pessoas do mesmo sexo se unirem, há um esforço da natureza para se

realizar até mesmo sem os meios adequados.”

“Não, a carne não é importante — pelo menos não o é senão em determinada

idade. Eu me pergunto se tantas pessoas que eu vejo, exclusivamente

dominadas pela carne, pela ânsia do prazer, se não serão assim.

exclusivamente por uma questão de vício, de hábito, de covardia ante a

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necessidade de mudar a forma de vida, de procurar o divertimento em formas

mais elevadas e menos deprimentes.”

“Estranho dom: Deus deu-me todos os sexos.”

“Aqui está alguém que eu conheço e cujo retrato encontro estampado em todos

os jornais. T. possui dezoito anos, tez pálida, cabelos muito pretos e olhos

intensamente azuis. Olhos que vivem nesta face com a melodia agreste dos

felinos. Quando o conheci, surpreendeu-me a força que manifestava, calada e

secreta. Fugiu de casa, agrediu algumas pessoas, roubou perto de trezentos

mil cruzeiros, foi condenado e eu o revi, mais tarde, na penitenciária, numa

visita que fiz àquela casa. Não trocamos palavra, ele trabalhava na seção de

consertos de rádio e eu o reconheci imediatamente, pela extraordinária

particularidade de seus olhos agudos, vigilantes, se bem que tivesse crescido

muito e guardasse em todos os gestos um jeito novo de defesa. (Lembrei-me

particularmente de um dia de carnaval, quando me levou à casa onde então

morava um sórdido barracão, em companhia de um preto que ele espancava

continuamente. Embriagou-se nesta noite e quebrou todos os móveis que

existiam lá dentro. Eu o contemplava, cheio de admiração.) Agora acaba de

fugir pelos esgotos da prisão, onde esteve durante dezoito horas, emergindo

rasgado, mordido pelos insetos e coberto de lama, num dos bueiros da cidade.

Preso de novo, declarou aos jornais que não suporta a monotonia da vida. E eu

me lembro mais uma vez daqueles olhos sem repouso, autoritários, capazes de

todos os extremos, que tentei evocar numa peça que nunca saiu da gaveta,

intitulada Olhos de Gato. O que ousei pensar, decerto fica muito aquém da

realidade. Ó grande Deus, equívoco da paixão e do crime!”

Clarice Lispector e o amor por Lúcio Cardoso

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Quando se conheceram, em 1940, Clarice tinha 20 anos, e Lúcio -

brilhante e sedutor -, 28. Mas era um amor impossível: Lúcio era um

homossexual assumido. Havia, porém, um segundo impedimento: os dois eram

"parecidos demais". Mesmo assim, foi esse amor não correspondido que levou

Clarice a cultivar a solidão - condição essencial para a escrita. Mais que isso:

foi o fracasso no amor que a empurrou para a literatura. Por meio de Lúcio, ela

passou a frequentar as rodas literárias do "grupo introspectivo", que se reunia

no Bar Recreio, no Rio de Janeiro. Chegou, assim, à poesia metafísica de

Augusto Frederico Schmidt e encontrou sua ascendência "mística" em Cornélio

Penna e Octavio de Faria, essenciais para a sua obra. Foi Lúcio Cardoso quem

sugeriu o título de seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem (1943).

Foi ele, ainda, quem lhe mostrou que as anotações dispersas, que ela tomava

às tontas e pareciam incoerentes, eram, na verdade, o seu método.

O Coração Selvagem de Lúcio Cardoso

"O mal, para mim, não foi uma entidade literária, ou uma

sombra apenas entrevista no horizonte humano. Soube com

pungente intensidade o que ele significa em nossas vidas, e

muitas vezes toquei seu corpo com meus dedos

queimados... já que a dura contingência humana me fez tão

propício ao seu fascínio"

[Lúcio Cardoso, Diário Completo]

“(...) estou procurando, estou procurando. Estou tentando

entender.”

[Clarice, A Paixão Segundo G. H.]

Escreve-se uma carta não pelo prazer do grande texto, mas para

mobilizar alguém. Essa mobilização do outro bem que Clarice Lispector tentou

nas cartas enviadas a Lúcio Cardoso – ela que quando escrevia carta utilizava,

graças a seu olhar multiplicador de imagens, “um anzol compridíssimo, cuja

isca bate no Rio de Janeiro para pescar resposta”. Resposta sempre avara.

Lúcio assumira uma legenda de mistérios e incógnitas para manter-se distante

ou talvez perto, muito perto com seu coração selvagem. Uma estranha

proximidade contra a qual Clarice frequentemente protestava: “Lúcio, como vai

você? Responda...”.

São vinte as cartas conhecidas de Clarice endereçadas a Lúcio, num

período que vai de 1941 a 1947, de diferentes cidades: Belo Horizonte, Belém,

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Nápoles, Rio de Janeiro. Quase todas cartas de amor, de um amor que ficou

suspenso, mudo, em face às intermitentes palavras de Clarice, desafiadoras,

latentes ou, efeito contrário, a bloquear qualquer possibilidade de

relacionamento amoroso, quando todas as tentativas resultaram vãs.

Clarice e Lúcio se conheceram em 1940, no Rio de Janeiro, na sede da

Agência Nacional, onde ela trabalhava como redatora. Tinha 20 anos, ele 28. E

esse não é um fato externo que importa apenas à biografia e à lenda dos dois

escritores. Para eles o tempo começa a contar-se por esse encontro. Por vezes

a realidade dissolve-se em ambiguidades, ironias, nuanças devastadoras, de

tal forma que a história pessoal passa a importar pelos oblíquos e indiretos

jogos de motivações, ainda que incompletos, como marca do estilo e da vida

do artista. Uma vida “não relatável” e “não vivível”, diria Clarice.

A primeira carta, datada de Belo Horizonte, junho de 1941, narra uma

paixão de perder-se e também de perder, retiradas as possibilidades de se

afirmar a presença do outro: “quanto ao teu fantasma, procuro-o intimamente

pela cidade”. O pulso do amor batia forte, mas Lúcio insistia em não pegá-lo na

travessia – grande dissipador. Para ele, nada mais sórdido do que a

proximidade. E o silêncio, a imediata recusa.

Em 1943, Clarice casa-se com Maury Gurgel Valente, diplomata, que

não havia entrado na história, nem nas cartas de Clarice que, endereçadas a

Lúcio, ainda assim se avolumavam. O interesse afetivo e intelectual pelo amigo

não se desfez, surpreendentemente se manteve intenso. Ela então lhe mostra

um manuscrito que considerava um esboço despretensioso; ele o lê e percebe

um romance pronto; escolhem juntos o título “Perto do Coração Selvagem”.

O livro seria publicado no início de 1944, dez dias depois, Clarice se

transfere com o marido para Belém, onde residira por seis meses. O mundo

imerso na irrealidade e no desnorteamento de uma guerra imprevisível,

enquanto os combates pessoais prosseguem. A necessária deriva.

“Belém, 6 de fevereiro de 1944. Estou aqui meio perdida. Faço

quase nada. Comecei procurar trabalhar e começo de novo a me

torturar, até que resolvo a não fazer programas; então a liberdade

resulta em nada e eu faço de novo programas, e me volto também

contra eles. Tenho lido o que me cai nas mãos. Caiu-me plenamente

nas mãos “Madame Bovary”, que reli. Aproveitei a cena da morte

para chorar todas as dores que tive e as que não tive. – Eu nunca

tive propriamente o que se chama “ambiente”, mas sempre tive

alguns amigos. Aqui só tem “mutuca”, (isso é besouro, mas por que

não chamar tudo mutuca logo de uma vez?).”

Page 16: Lucio cardoso

A presença de Clarice em Belém é mais do que uma vaga referência

emocional. Foi aqui que toda a repercussão de sua estreia revolucionária veio

encontrá-la, entre as paredes de um quarto no Hotel Central, na Presidente

Vargas. É o caso do artigo de Lúcio, no Diário Carioca:

“Poucas vezes temos visto um tão exacerbado individualismo, uma

tão lenta e obstinada sondagem do seu próprio eu, como faz a

autora de ‘Perto do Coração Selvagem’. Deste mundo

essencialmente feminino, cheio de imagens, de sons, de claridades

azuis, brancas e esverdeadas, de folhas novas e manhã ainda

cheirando a mato, Clarice Lispector consegue nos transmitir uma

imagem poderosa e viva: não há dúvida de que estamos diante de

uma singular personalidade, que sabe captar do mundo exterior e

interior, e muitas vezes da sua fusão, uma vida perfeita. Nesta

estranha narrativa, onde o romance se esfuma para converter muitas

vezes numa rica cavalgada de sensações, a poesia brota como uma

fonte nova e pura”.

O artigo valeu como se Lúcio tivesse respondido a sua primeira carta,

mas ela sabia não se tratar de uma resposta, e sim da voz selvagem de

demônios, entre exílios e expulsões, silenciando o coração de Lúcio.

“Imagine que eu estava junto à mesa, pronta para escrever para

você e contar coisas, quando bateram à porta e trouxeram-me, vindo

do Rio, o que você publicou no Diário Carioca... Fiquei assustada

com o que você diz – que é possível que o meu livro seja o mais

importante. Tenho vontade de rasgá-lo e ficar livre de novo (é

horrível a gente estar completa). Sei que não é isso que você quis

dizer. Quanto ao meu meio sucesso me perturbar, às vezes, ele me

deixa saciada e cansada. Ás vezes, embora possa parecer falso, me

desanima, não sei porquê. Parece que eu esperava um começo

mais duro e, tenho a impressão, seria mais puro. Enfim, tudo isso é

tolice minha”.

Mestre de bruxarias incrustadas na carne e no verbo, Lúcio lhe faria

amar qualquer coisa viva, talvez mesmo uma barata, desde que em silêncio. O

inexprimível nada a oscilar:

“Alô Lúcio, isto é apenas para perguntar como você vai. O quê? Ah,

estou bem, obrigada. O quê? Ah, sim, você talvez tenha razão. Que

você tem me escrito muito? Sim, recebo sempre suas cartas; até ia

lhe dizer que não me escrevesse tanto porque você pode se cansar.

O quê? Que você faz isso por amizade? É claro, pois foi o que

pensei. Que você me mandou seus livros? realmente, todos os dias

recebo um. Se eu li seu poema ‘Miradouro’? sim, li e gostei tanto,

Page 17: Lucio cardoso

tanto. O quê? desculpe, não estou mais ouvindo, a distância é

grande, minha ‘aura’ está acabando e o esforço desta comunicação

é tão sobrehumano que mal tenho força de assinar”.

Lúcio fazia um mínimo de gestos, reduzia tudo a quase nada, não

fossem as palavras de Clarice a narrar uma paixão em que o caso amoroso

não era do outro mais o outro, mas do outro menos o outro. A própria reversão

das iniciais do nome de Clarice Lispector (CL) e de Lúcio Cardoso (LC) talvez

insinuasse a impossibilidade de se tocar sequer as extremidades “queimadas”

dos dedos, numa despedida; não realizada na pessoa amada a alquimia única

e vibrante que o tempo ousa ser. Contudo, de um jeito ou de outro, nem a

beleza, nem o amor escapam a ele. Paixão de perder e não de exceder.

Excesso também é vazio, sabeis.

Clarice seguiu acompanhando o marido por diversos postos

diplomáticos. De Nápoles, a 26 de março de 1945, estica ou condensa outra

carta/isca: “Lúcio, me escreva e conte coisas. Ou então não escreva, que

posso eu fazer? Um dia desses fui ver a lava do Vesúvio. Tenho um pedaço

feio de lava para você. Depois de um ano ainda estava quente; é uma extensão

enorme, negra, de vinte a trinta metros de altura; a gente anda sobre casas,

igrejas, farmácias soterradas. A erupção foi em março de 1944 e quando chove

sai fumaça ainda.”

Mesmo sem querer – avessa que era a dar pistas sobre seu texto –,

Clarice faz aqui, com sutileza ímpar, uma das mais belas descrições de sua

obra. Passados quase 30 anos de sua morte, ocorrida a 9 de dezembro de

1977, essa escritura permanece “quente” e “é uma extensão enorme” de um

território engendrado por ausências e vazios, que não se captura, quando

muito se rivaliza pelos subterrâneos inventivos da palavra, atravessados por

poucos: um Lúcio Cardoso, Guimarães Rosa, Osman Lins. Quem mais? Tanto

que, nas tardes de chuvas intensas como as que caem sobre Belém, “sai

fumaça ainda” de suas palavras.

Crônica de Clarice para Lúcio Cardoso

Lúcio, estou com saudade de você, corcel de fogo que você era, sem limite

para o seu galope.

Saudade eu tenho sempre. Mas, saudade tristíssima, duas vezes.

A primeira quando você repentinamente adoeceu, em plena vida, você que era

vida. Não morreu da doença. Continuou vivendo, porém era homem que não

escrevia mais, ele que até então escrevera por uma compulsão eterna gloriosa.

E depois da doença, não falava mais, ele que já me dissera das coisas mais

inspiradas que ouvidos humanos poderiam ouvir. E ficara com o lado direito

Page 18: Lucio cardoso

todo paralisado. Mais tarde usou a mão esquerda para pintar: o poder criativo

nele não cessara.

Mudo ou grunhindo, só os olhos se estrelavam, eles que sempre haviam

faiscado de um brilho intenso, fascinante e um pouco diabólico.

De sua doença restaria também o sorriso: esse homem que sorria para aquilo

que o matava. Foi homem de se arriscar e de pagar o alto preço do jogo.

Passou a transportar para as telas, com a mão esquerda (que, no entanto, era

incapaz de escrever, só de pintar) transparência e luzes e levezas que antes

ele não parecia ter conhecido e ter sido iluminado por elas: tenho um quadro,

de antes da doença, que é quase totalmente negro. A luz lhe viera depois das

trevas da doença.

A segunda saudade já foi perto do fim.

Algumas pessoas amigas dele estavam na ante-sala de seu quarto no hospital

e a maioria não se sentiu com força de sofrer ainda mais ao vê-lo imóvel, em

estado de coma.

Entrei no quarto e vi o Cristo morto. Seu rosto estava esverdeado como um

personagem de El Greco. Havia a Beleza em seus traços.

Antes, mudo, ele pelo menos me ouvia. E agora não ouviria nem que eu

gritasse que ele fora a pessoa mais importante da minha vida durante a minha

adolescência. Naquela época ele me ensinava como se conhecem as pessoas

atrás das máscaras, ensinava o melhor modo de olhar a lua. Foi Lúcio que me

transformou em “mineira”: ganhei diploma e conheço os maneirismos que amo

nos mineiros.

Não fui ao velório, nem ao enterro, nem à missa porque havia dentro de mim

silêncio demais. Naqueles dias eu estava só, não podia ver gente: eu vira a

morte.

Estou me lembrando de coisas. Misturo tudo. Ora ouço ele me garantir que eu

não tivesse medo do futuro porque eu era um ser com a chama da vida. Ora

vejo-nos alegres na rua comendo pipocas. Ora vejo-o encontrando-se comigo

na ABBR, onde eu recuperava os movimentos de minha mão queimada e onde

Lúcio, Pedro e Míriam Bloch chamavam-no à vida. Na ABBR caímos um nos

braços do outro.

Lúcio e eu sempre nos admitimos: ele com sua vida misteriosa e secreta, eu

com o que ele chamava de “vida apaixonante”. Em tantas coisas éramos tão

fantásticos que, se não houvesse a impossibilidade, quem sabe teríamos nos

casado.

Page 19: Lucio cardoso

Helena Cardoso, você que é uma escritora fina e que sabe pegar numa asa de

borboleta sem quebrá-la, você que é irmã de Lúcio para todo o sempre, por

que não escreve um livro sobre Lúcio? Você contaria de seus anseios e

alegrias, de suas angústias profundas, de sua luta com Deus, de suas fugas

para o humano, para os caminhos do Bem e do Mal. Você, Helena, sofreu com

Lúcio e por isso mesmo mais o amou.

Enquanto escrevo levanto de vez em quando os olhos e contemplo a caixinha

de música antiga que Lúcio me deu de presente: tocava como em cravo a Pour

Élise. Tanto ouvi que a mola partiu. A caixinha de música está muda? Não.

Assim como Lúcio não está morto dentro de mim.

POESIAS

POEMA

Quando na escuridão o teu riso retinia,

eu chamava baixinho: Egito ...

E ela desnudava a espádua onde estava gravada

como marca de fogo, a rosa do amor.

Egito! O ar palpitava como se um pássaro voasse

e eu fechava os olhos - tão grande era a paixão que me queimava.

Às vezes, quando a noite nos envolvia na sua ânsia mortal,

sentia o seu coração bater - e dizia comigo que ela era humana

e sua alma estava aprisionada à minha.

Mas nós ainda jazíamos por trás das grandes muralhas.

As flores faziam-na fremir como dedos vorazes,

as cantigas dos rios deixavam-na febril,

o grito dos chacais causava-lhe desmaios.

Egito! Ó Egito, por que me abandonaste,

por que envenenaste o ar que eu respirava?

Page 20: Lucio cardoso

Junto de ti as violetas fenecem, o mel se torna ácido,

junto de ti o meu amor não é senão castigo e tormento.

Ah, de que terrível noite nasceste, ó desejo,

de que fonte de amargura, ó luz crepuscular!

Egito! Mistério do céu infinito

desdobrado sobre mim como negro sudário —

que força me revelará o teu verdadeiro nome,

Esmeralda, Safira, constelação de astros efêmeros e malditos!

POEMA DO FERRO E DO SANGUE

Esqueceram os campos revolvidos

onde vegetam perdidos

os ossos obscuros

calcinados

de dez milhões de mortos.

Esqueceram as cruzes improvisadas

erguendo para o alto

preces de galhos retorcidos.

E esqueceram o rumor das granadas

revolvendo a terra e os vivos

devorando os mortos

destruindo.

ÚNICO POEMA DE AMOR

Page 21: Lucio cardoso

tudo tão calmo

a vida dormindo

como agora que tombasse sem murmúrio

na planície do meu pensamento ...

folhas mortas que não voam,

pássaros imóveis que não cantam,

água parada que não corre ...

e teu corpo como um lírio sobre a terra,

e a terra muda impregnada de perfume,

teus olhos grandes como flores noturnas,

flores que se abrem na doçura do silêncio

e minha sombra como uma nuvem perdida

debruçada sobre teus cabelos imóveis

que bóiam na água da planície...

ROMANCE PSICOLÓGICO

O gênero romance psicológico tem como principal característica a

imersão nas razões dos motivos, escolhas e ações dos seres humanos, no

fluxo inconsciente das memórias que passa a determinar o comportamento dos

personagens. Ao contrário de outros tipos de romance, onde o ambiente

sociocultural é fator crucial para o desenvolvimento da trama, o psicológico

apega-se à análise das decisões e motivos íntimos.

O gênero ganharia reconhecimento no final do século XIX, quando a

obra prima Dostoiévski foi traduzida do russo para outras línguas: Crime e

Castigo (1866), que apresenta um personagem atormentado por sua memória

após cometer um assassinato.

Page 22: Lucio cardoso

Na literatura inglesa, um clássico do romance psicológico é O Morro dos

Ventos Uivantes (Wuthering Heights), de Emily Brontë, escritora britânica. Em

suas páginas, a autora apresenta um imenso campo em que podem ser feitas

interpretações das instâncias psíquicas dos personagens (superego, id e ego.

O marco inicial do romance psicológico no que se refere à literatura do

Brasil foi escrito por Machado de Assis. Com seu livro, Dom Casmurro, o autor

apresenta personagens multifacetados e analisa profundamente as

características psicológicas de cada um deles. Ainda na literatura brasileira,

outros títulos de romances considerados psicológicos são: Crônicas da Casa

Assassinada, de Lúcio Cardoso, A Menina Morta, de Cornélio Pena, São

Bernardo, de Graciliano Ramos, Laços de Família e Perto do Coração

Selvagem, duas obras de Clarice Lispector.

Lúcio Cardoso e sua "Crônica da Casa Assassinada"

O romance acompanha a ruína de uma

aristocrata família mineira. Uma saga que se

desenrola nos limites de uma casa de fazenda. A

casa desempenha o papel principal: os

personagens são feitos do cimento da casa e esta,

da carne dos seus habitantes. A perspectiva dos

temores que habitam a casa, da casa que sangra,

que sofre, que abriga os mais trágicos segredos.

Crônica da Casa Assassinada reconstrói de maneira admirável o clima

de morbidez que envolve os ambientes e os seres. Fixa a angústia de um amor

que se crê incestuoso. Em vez de referências diretas, são as cartas, os diários

e as confissões das pessoas que conheceram a protagonista (e dela própria),

que vão entrar como partes estruturais do livro, tornando a narrativa incomum e

que costuram com maestria a história dos Meneses, centrada na presença de

uma mulher desconhecida..

A obra surpreende antes de tudo pelo seu fôlego, e também pelo uso

apropriado e coerente de vários instrumentos narrativos, cada um deles a

cargo de um narrador diferente. Enquanto viaja devagar por uma trilha escura,

à margem da qual se sucedem os sinais de desvios psicológicos e conflitos de

natureza moral, o leitor testemunha a demorada queda da casa dos Meneses,

tradicional família mineira - esse reduto de dominação e violência discreta que

o autor fez questão de atacar sem piedade.

A agonia de Nina, protagonista da obra, sua alma presa a um corpo

carcomido pelo câncer, é a ramificação da metástase que condena a casa e

Page 23: Lucio cardoso

contagia seus habitantes com a degeneração da propriedade produtiva

transformada em um cemitério de mortos-vivos.

A essência do livro, Lúcio desenharia em linhas duras, num depoimento

na época do lançamento:

"Meu movimento de luta, aquilo que viso destruir e incendiar pela visão de

uma paisagem apocalíptica e sem remissão é Minas Gerais. Meu inimigo é

Minas Gerais. O punhal que levanto, com aprovação ou não de quem quer

que seja é contra Minas Gerais. Que me entendam bem: contra a família

mineira. Contra a literatura mineira. Contra o jesuitismo mineiro. Contra a

religião mineira. Contra a concepção de vida mineira. Contra a fábula

mineira"

O depoimento do autor explicita as motivações que impulsionam a

narrativa em torno e por dentro dos Meneses, tradicional família da aristocracia

decadente de Minas Gerais. Para investir contra Minas Gerais, Lúcio Cardoso

acompanha a crescente desagregação das relações entre os familiares, a

cidade e a casa. Não há especificamente a representação de símbolos

regionalistas, uma vez que o romance deslinda os complexos universos

interiores das personagens, que mal conseguem dialogar entre si ou produzir

discursos coerentes. Há, sim, a construção e a representação alegórica de

elementos regionalistas dentro de uma perspectiva subjetiva, quando, por

exemplo, ao final do romance, a população da cidade é dizimada por uma

epidemia:

"(...) ia a meio a triste epidemia que liquidou nossa cidade. A Chácara dos

Meneses foi das últimas a tombar, se bem que seu interior já houvesse sido

saqueado pelo bando chefiado pelo famoso Chico Herrera. Vejo-a ainda, com

seus enormes alicerces de pedra, simples e majestosa como um monumento

em meio à desordem do jardim. A caliça já tinha quase completamente

tombado de suas paredes, as janelas, despencadas, batiam fora dos caixilhos,

o mato invadia francamente as áreas outrora limpas e subiam pelos degraus já

carcomidos - e, no entanto, para quem conhecia a crônica de Vila Velha, que

vida ainda ressumava ela, pelas fendas abertas, pelas vigas à mostra, pelas

telhas tomadas, por tudo enfim, que constituía seu esqueleto imóvel, tangido

por tão recentes vibrações." (Cardoso, 2008, p. 495)

Conhecido por travar polêmicas com os escritores nordestinos

regionalistas de seu tempo, Lúcio Cardoso não nutria simpatia por esse tipo de

literatura, enveredando por outras searas estéticas. Esse fato torna Crônica da

casa assassinada um romance muito particular da história da literatura

brasileira, porque não se enquadra facilmente em um único tipo de produção

literária. O tom intimista com que é realizada a exploração de personagens

enigmáticas como Nina, que seduz seu suposto filho, André, dá forma e

Page 24: Lucio cardoso

sustentação para a contestação da cultura mineira, lida na desagregação das

tradicionais formas de relação familiar.

Composta por meio de cartas enviadas e não respondidas, de trechos

de diários, de depoimentos, de confissões parciais, a narrativa é fragmentada,

não-linear e sem nexos explícitos de causa e consequência. As primeiras

páginas com que depara o leitor são parte do diário de André. Ele nos conta o

momento final das tramas ainda a serem apresentadas, mergulhando na

profunda dor e revolta que lhe causara a morte de Nina, mulher da capital

carioca que aporta no conservadorismo rural sustentado pela casa dos

Meneses. Encerrado em seu relacionamento, André se sente profundamente

traído pela perda de seu objeto de desejo. Vivendo alienado de todos e do

mundo, sua fuga e sua separação da casa dos Meneses ao fim da narrativa,

depois do enterro da mãe, não significam uma possível libertação da

engrenagem da dor em que se encontrava preso:

"18 de... de 19... - (meu Deus, que é a morte? Até quando, longe de mim, já

sob a terra que agasalhará seus restos mortais, terei de refazer neste mundo o

caminho do seu ensinamento, da sua admirável lição de amor, encontrando

nesta o aveludado de um beijo - ‘era assim que ela beijava' - naquela um modo

de sorrir, nesta outra o tombar de uma mecha rebelde dos cabelos - todas,

todas essas inumeráveis mulheres que cada um encontra ao longo da vida, e

que me auxiliarão a recompor, na dor e na saudade, essa imagem única que

havia partido para sempre ?...)" (Cardoso, 2008, p. 19)

O testemunho de André faz ressoar um trauma fundamental, insuperável

e aponta para a imagem do sobrevivente de guerra, para o qual a tragédia se

perpetua ainda que a realidade afirme o contrário. Essa é a guerra da qual

André não consegue se libertar e que o impede de construir sua própria

identidade, indelevelmente cindida pela pressão exercida pelos Meneses, que

o queriam afastado da influência materna.

O passado paira sobre a Chácara, insinuando-se, a cada novo evento,

como um fantasma que continuamente ronda e oprime os vivos. Abrindo

fissuras na realidade aparente, a imagem das ruínas perpassa diversos níveis

narrativos: está na impossibilidade de comunicação entre os personagens, na

fragmentação dos discursos, na corrosão das estruturas da casa, no fim

mesmo da cidade Vila Velha e dos seus habitantes.

O próprio título do livro já anuncia o enigma em que ele se constituirá, ao

se debruçar sobre as lembranças angustiadas e desconexas dos vários

personagens, que não se fiam na memória que construíram sobre suas

relações com os outros e com a realidade. O relato que se anuncia como

sendo uma crônica carece de verdade, porque não há fatos claros e objetivos.

Assim, cabe ao leitor desvelar o assassino e reconstituir o crime que baila entre

Page 25: Lucio cardoso

sofisticadas técnicas narrativas, trabalhadas por uma linguagem meticulosa,

que se desdobra em descrições quase líricas não fosse a exploração aguda

dos perfis psicológicos elaborados e o grotesco que surge dos dramas

apresentados:

"Decerto, quando as pessoas não nos interessam, esmaecem em torno a nós

com a indiferença dos objetos. Alberto, para mim, sempre fora o jardineiro, e

jamais conseguira identificar sua presença senão daquele modo. Eis que

agora, pelo simples manejo da existência de Nina, eu o descobria como havia

descoberto a mim mesma. Este deve ser, Padre, o primeiro dom essencial do

demônio: despojar a realidade de qualquer ficção, instalando-a na sua

impotência e na sua angústia, nua no centro dos seres." (Cardoso, 2008, p.

110)

Trecho da primeira confissão de Ana a Padre Justino, único em missão

sacerdotal na pequena e mítica cidade de Vila Velha, esse registro se

encontrará com a última parte do romance, quando, em uma carta do mesmo

Padre, o incesto sugerido entre Nina e André era uma ficção tecida

cuidadosamente para vestir a inveja que movia a confessa. Somente no último

depoimento, é que se abre a fenda interpretativa desse romance, apenas

insinuada em momentos anteriores. Ao virar pelo contrário os sentidos

engendrados, o leitor pode elucidar os mistérios que acompanham a narrativa.

Nessa perspectiva, Deus e Diabo, bem e mal ocupam lugares opostos

no plano literário: o pecado está com aqueles que se eximem de experimentar

a vida em sua plenitude e não com os que a conhecem em todas as suas

facetas e contradições:

"Deus é quase sempre tudo o que rompe a superfície material e dura do nosso

existir cotidiano - porque Ele não é o pecado, mas a Graça. Mais ainda: Deus é

acontecimento e revelação. Como supô-lo um movimento estático, um ser de

inércia e de apaziguamento? Sua lei é a da tempestade, e não a da calma."

(Cardoso, 2008, p. 508)

O veredito de Padre Justino divide os aspectos narrativos: de um lado,

Nina e seus modos e valores cariocas, urbanos; de outro, Ana e seus modos e

valores mineiros, interioranos. Dentre as duas, a tempestade está

inegavelmente ao lado da criatura que movimenta a família, desestabilizando a

inércia dos que passivamente acompanham a decadência da casa, da cidade e

a putrefação das relações entre as pessoas.

Ao praticar a leitura às avessas, vê-se que Ana, segundo seu próprio

ponto de vista, é a representação do mal, por evidenciar a verdade que por

tanto tempo se esforçou para encobrir: ela trai o marido, Demétrio, com o

jardineiro, Alberto, amante de Nina, e gera André, filho atribuído a Nina e a

Valdo.

Page 26: Lucio cardoso

Padre Justino, após longa incursão interior, empurrado pelo terror diante

da verdade contada por Ana, encontra uma possibilidade para perdoá-la, já

que, contrariamente às expectativas, o mal está a serviço de Deus, porque

rompe com a estagnação demoníaca da vida:

"precisamente em nome desse mal que era uma oposição às suas noções

morais, desse mal que eu lhe concedia como a suprema indulgência que se

concede a um moribundo. Que ele, em última instância, revestido afinal das

formas dessa Graça que ela tanto renegara, apaziguasse suas penas e lhe

desse certeza de que vivera, padecera e usara sua essência mortal até o

último clarão." (Cardoso, 2008, p. 508)

O pecado maior é mesmo este: a inércia que mantém as aparências sob

o véu da calma e da tranquilidade. Deus, sendo ação, não está na pacata

cidade de Vila Velha, no passado, nas forças regressivas. Eis a palavra do

escritor contra Minas Gerais, contra a família mineira, contra os valores

regionais. Eis o regionalismo que surge da exploração dos universos íntimos e

da sondagem existencial das personagens.

O suposto incesto vai se naturalizando na medida em que se acentua a

degradação das relações entre os familiares. O horror com que se lê nas

primeiras páginas os prazeres sexuais de que desfrutam mãe e filho é

substituído gradativamente pela desconfiança de que a verdade dos fatos é

provisória e eternamente contestável:

"- Sim, mãe - balbuciei, deixando pender a cabeça.

Ela lançou-me um olhar onde brilhava ainda mais um pouco de sua velha

cólera:

- Mãe! Você nunca me chamou de mãe... por que isto agora?

E eu, atônito, sem poder impedir que o espelho tremesse em minhas mãos:

- Sim, Nina, voltarão os velhos tempos." (Cardoso, 2008, p. 25)

André descreve seu último encontro com Nina em um turbilhão de

imagens que condensam a entrada do leitor no romance por inseri-lo, sem

qualquer preâmbulo, no centro nervoso da narrativa. O relacionamento

incestuoso é o mote para que se percorra a história da família Meneses, que se

esforça até a morte para manter o estoicismo dos tempos idos ainda que a

Chácara não produza mais riquezas, os irmãos não saibam administrá-la, as

relações estejam esgarçadas. Em lugar de os novos acontecimentos no seio da

família provocarem atrito e, portanto, alguma transformação, como quer uma

perspectiva utópica que se abra para a construção de relações justas e

Page 27: Lucio cardoso

igualitárias, as experiências, duramente silenciadas, impedem que os sujeitos

se reconheçam uns nos outros e que as relações mudem.

A artificialidade que pauta a vida dos Meneses leva Nina a procurar o

Pavilhão, ambiente desprezado e abandonado dentro da Chácara. Em

oposição a casa, central, esse espaço, periférico, adquire crescente

importância na narrativa. É Nina que o elege como espaço privilegiado, ao

retirar-se para lá junto com Valdo. Também é aí onde Nina vive seus primeiros

encontros sexuais com André e com o jardineiro, Alberto. Da paixão à morte, o

Pavilhão, já completamente destruído, abrigará as tragédias que virão: a

condenação de Nina ao exílio, a morte do jardineiro, a confissão de Ana ao

Padre e sua solitária morte:

"E foi ali - lembra-se? - que passamos realmente os mais belos dias de nossa

vida em comum. Ali, naquele Pavilhão abandonado e coberto de hera, com

largas janelas de vidro mais ou menos intactas, e que flamejavam ao sol da

tarde, e comungavam tão intimamente com o mundo vegetal que nos cercava,

ali aprendi a conhecer o amor e a aguardar o filho que havíamos gerado."

(Cardoso, p. 80 e 81)

Valdo é uma entre as estranhas criaturas desse romance a lutar pela

manutenção das artimanhas mentirosas, que sustentam a narrativa. Para

conquistar Nina, dona de beleza e mistérios incomuns, ele se passa por

homem rico do interior. Sua farsa é, contudo, desmontada por seu irmão,

Demétrio, que o contesta no primeiro jantar em família, proferindo um agressivo

discurso contra a fachada construída por Valdo. Betty, aquela que será a fiel

servidora de Nina na casa dos Meneses, testemunha a cena:

"(...) Dona Nina apenas ergueu as sobrancelhas e declarou com frieza:

- Casei-me com um homem rico.

- Rico? Foi isto o que ele lhe disse? - gritou o Sr. Demétrio.

- Foi.

Ele, que se inclinara exageradamente sobre a mesa, voltou a tombar para trás,

e com tanta força que temi vê-lo cair, arrastando a cadeira.

- Mas não tem nem onde cair morto! Devemos aos empregados todos, à

farmácia, ao banco do povoado... Não, esta é forte demais.

Só aí a patroa pareceu perder a calma. Atirando o guardanapo sobre a mesa, e

com um tremor nos lábios, exclamou:

- Ah, Valdo, isto é uma humilhação!" (Cardoso, 2008, p. 64)

Page 28: Lucio cardoso

Visto por Nina como responsável pelo afastamento entre Valdo e ela e,

consequentemente, entre ela, a Chácara e a infância do suposto filho, Demétrio

nutre, segundo Ana, uma paixão incontrolável e não assumida pela cunhada, o

que se revela em suas investidas constantes contra ela. Desse Meneses, não

há nada mais do que o olhar dos outros sobre ele e suas ações. Essa ausência

falta ao leitor que compõe o sentido do texto não com pouco esforço através

das outras vozes textuais, distribuídas na narrativa de modo aparentemente

aleatório.

Também para Ana, Nina é objeto de atração e de repulsa, menos por

disputar a atenção de Demétrio, a qual, aliás, nunca obtivera, do que por

percebê-la plena da vida que seduzira Alberto:

"Ela aproximou-se por trás dos meus ombros:

- Pena que tivéssemos amado o mesmo homem.

Voltei-me, e toda a cólera havia retornado ao meu coração:

- Você! Bradei com um desprezo indizível.

Deixou pender os braços e sorriu tristemente:

- Eu sim, que é que tem? - E com uma expressão onde eu reconhecia a antiga

Nina: - Pensa que eu também não posso amar um jardineiro?" (Cardoso,

2008, p. 299)

O médico e o farmacêutico, junto com o padre, formam o olhar estrangeiro

sobre a família dos Meneses, que gozaram de imensa reputação em tempos

idos como atesta o segundo depoimento do médico, ao escrever sob a

necessidade de buscar elucidar os estranhos fatos que acompanharam a vida

na Chácara:

"Não é do meu gosto remexer essas coisas que considero mortas, se bem que

nem todas tenham sido convenientemente esclarecidas e nem tudo signifique

uma acepção aos entes que delas participaram. Além do mais, acredito que

uma família, como a dos Meneses, que tanto lustro deram à história do nosso

Município, tenha direito ao silêncio que vem buscando através dos anos e que

não consegue, pela violência dos fatos que viveu - e que no entanto só nos

merece compreensão e esquecimento. Pesa-me a consciência, no entanto,

ocultar fatos que poderiam elucidar alguns daqueles mistérios que na época

tanto abalaram nosso povoado. Pensando bem, este é o motivo por que me

encontro aqui, reajustando sobre o passado essas lentes, que apesar de

trêmulas só procuraram servir à verdade." (Cardoso, 2008, p. 144)

Page 29: Lucio cardoso

O esforço do médico de "reajustar as lentes", para contar os fatos que à

época testemunhou, e "servir à verdade", apesar de respeitar o silêncio dos

Meneses, é o esforço que o leitor deve realizar se quiser entender, através da

armação literária, as relações entre ficção e contexto histórico. Conhecê-las é,

pois, prática exaustiva, porque requer coragem para os sujeitos desafiarem as

tradições e vencerem a inércia, a que se habituaram.

Como Ana declara mais adiante ao Padre, o preço pago para participar

da família dos Meneses é calar os crimes cometidos e testemunhados,

colocando-se à margem da história. Mas nem por isso a realidade perde a

força de seu conteúdo de verdade, correndo a base das relações, do espaço,

da Chácara, da própria identidade das pessoas. Mortos, a casa sucumbe à

tragédia da estagnação diante do caos. Talvez por isso sejam salvos os

pecadores, porque contestam a lei imutável das coisas.

Timóteo, o irmão marginalizado pelos Meneses, por seus

comportamentos esdrúxulos, incorpora o louco que, em lapsos temporais, é o

visionário lúcido capaz de enxergar a verdade das tramas. Depois da morte de

Nina, carcomida pelo câncer que tornava o ar da Chácara insuportavelmente

fétido, ele sai do quarto em que estivera confinado por toda vida, para, menos

do que prestar homenagem à morta, sua única amiga, vingar-se da família.

Também para Timóteo a morte, a estagnação era o estado natural das

coisas, da sua vida, da Chácara dos Meneses. Sua figura grotesca,

imensamente gorda, adornada com joias antigas de família e com os velhos

farrapos das roupas de uma tia lendária, irradia o ar de fatalidade que envolve

cada momento da narrativa. Quando sua voz é silenciada por outros discursos

que se sucedem no texto, a narrativa ganha ainda mais tensão, porque se

fortalece a desconfiança de que algo ocorre sob a aparente inação dos

personagens. Exilado dentro da própria casa, Timóteo pode ser lido como uma

espécie de alegoria do Estado mineiro, ao carregar os símbolos e a opulência

de um passado morto, cujo sentido histórico, completamente deslocado de seu

contexto original, nada mais significa a não ser a necessidade urgente de

transformá-lo em memória.

Nina rompe com a imutabilidade aparente dos Meneses, oferecendo,

assim, a possibilidade de remissão dos pecados de seus moradores. Para

tanto, sua trajetória evidencia que é preciso assumir as consequências da ação

na realidade, as quais, invariavelmente, contestam a tradição e os valores

regionais. É aí que se encerra o foco regionalista desse romance intimista: na

própria ausência e na negação dos elementos regionalistas.

Tal é a atitude que o livro exige do leitor, caso queira libertar-se do

inferno. É preciso remexer os entulhos e viver o caos. O leitor, depois de

Page 30: Lucio cardoso

cumprir a leitura das mais de quinhentas páginas, descobre que desde o início

da trama narrativa também ele era vítima das aparências, pois o incesto, afinal,

não ocorrera. André foge da casa sem conhecer a verdade e Valdo, que nem

sequer desconfiava do que seu suposto filho pensava estar vivendo, abandona

o território dos Meneses. O cadáver de Nina, mesmo enterrado, faz vibrar a

urgência de se enxergar através da cortina, por entre alguma brecha possível.

Esse desejo de rever o passado para que se faça a justiça é o que movimenta

Padre Justino em seu último depoimento:

"Não sei o que essa pessoa procura, mas sinto nas palavras com que solicitou

meu depoimento uma sede de justiça. E se acedo afinal - e inteiramente - ao

seu convite, é menos pela lembrança total dos acontecimentos - tantas coisas

se perdem com o correr dos tempos... - do que pelo vago desejo de

restabelecer o respeito à memória de um ser que muito pagou neste mundo,

por faltas que nem sempre foram inteiramente suas." (Cardoso, 2008, p. 495)

De fato, há um cadáver em putrefação em plena luz do dia. Trata-se da

própria cultura mineira que se nega a enterrar os mortos e a compor uma

memória histórica capaz de fazer justiça com o passado. Eis o cadáver que a

crônica apresenta ao leitor, concretizando o desejo de Lúcio Cardoso de

destruir a "fábula mineira".

Resumo do enredo

Quando Nina, recém-casada com Valdo chega à chácara dos Meneses,

vinda do Rio de Janeiro — depois de sucessivos adiamentos que levam seu

marido a uma situação de desconfiança e ciúme — fica sabendo logo na

primeira refeição com a família, da difícil situação econômica em que esta se

encontra: Valdo a tinha enganado. Demétrio, talvez por alguma desforra de

briga familiar ou simplesmente por inveja, faz questão de revelar a verdadeira

situação econômica da família, em meio a áspero diálogo com seu irmão,

chega inclusive a dizer que Valdo não tinha enviado o dinheiro que prometera a

Nina para a viagem até a chácara porque não o possuía.

A vida monótona na chácara Meneses vai pouco a pouco desconsolando

Nina, pouco acostumada a essa vida do campo. Depois de muito insistir com

Valdo, passa a morar com ele no "pavilhão" que ficava afastado da casa onde

moram os demais e, nesse ambiente, tem uma temporada feliz.

Entretanto, e aproveitando-se dessa situação, Nina pôde começar um

romance oculto com o jardineiro Alberto, até que um dia foi surpreendida por

Demétrio em atitude suspeita, apesar de não ser de todo conclusiva. Demétrio

não deixa de fazer um escândalo de Nina, mesmo esperando o primeiro filho,

decide abandonar a chácara e voltar para o Rio.

Page 31: Lucio cardoso

Por causa desse incidente, Valdo fica bastante desolado e tenta o

suicídio. Nina, ao ver a reação do marido, como que movida de compaixão,

volta atrás na sua decisão de partir. No entanto, esse sentimento dura pouco e,

passado o primeiro momento, volta para o Rio.

As atitudes de Nina são sempre abusivamente falsas. Engana a todos

defendendo seus interesses. Mente dizendo ser sincera. Estando já no Rio,

chega a escrever a Valdo dizendo que apenas pensou remotamente no

jardineiro, depois de ter negado tantas vezes qualquer envolvimento. A Ana, do

mesmo modo, confessa abertamente ter-se apaixonado e relacionado com ele,

com a finalidade exclusiva de fazê-la sofrer e escandalizá-la, desabafando todo

ódio que sentia por ela.

Sua decisão definitiva de abandonar a chácara é tomada pelas

revelações de Timóteo e Betty, a empregada, que tinham escutado a conversa

entre Valdo e Demétrio, quando discutiam e decidiam mandar Nina embora.

Timóteo é um personagem totalmente excêntrico; sempre trancado em

seu quarto vestia-se com as roupas se sua mãe, mas chegou a ganhar a

amizade de Nina

Betty sempre muito fiel e prudente, é amiga e fiel servidora de todos e

chega mesmo a ser conselheira apesar de não estar totalmente a par dos

fatos.

Para Ana a partida de Nina representa um grande triunfo e alívio, pois

não se pode conter na sua inveja e inferioridade e por outro lado (como só ao

final do livro se revela), tinha-se apaixonado por Alberto exatamente quando

descobre o romance deste com Nina e faz tudo por ganhar a preferência dele,

do qual acaba por esperar um filho.

A sua vida com Demétrio era tediosa e o seu ciúme cresce dia a dia.

Persegue Nina em suas saídas e encontros furtivos e chega mesmo a

enfrentar-se com ela.

O que encobriu suas faltas foi a saída de Nina, pois aproveitando-se do

conselho que o médico lhe dera: "já não anda bem de saúde", obtém

permissão de viajar para o Rio e tentar convencer Nina a voltar, ou pelo menos

trazer o filho do Valdo. Em virtude deste fato, oculta a sua gravidez e pode dar

a luz a seu filho no Rio de Janeiro.

Quanto a Alberto, no dia em que soube da partida definitiva de Nina,

suicidou-se. Um pouco antes, para agravar o seu estado emocional, tinha sido

despedido por Demétrio, mas mesmo assim não fora embora. O Autor

habilmente faz parecer pelo relato de Ana que Nina teria jogado um revólver

Page 32: Lucio cardoso

pela janela propositalmente, o qual é apanhado pelo jardineiro que espreitava

pelo jardim uma conversa de Nina e Valdo.

Ana ainda o vê agonizante, mas já não pode fazer mais nada. Antes riu

porque suspeitava dessas consequências, mas apenas aguardou os

acontecimentos.

Somente depois de quinze anos é que Nina volta a manifestar-se a

Valdo. Pede-lhe dinheiro e depois diz que vai regressar à chácara, para o que é

seu, principalmente seu filho, André.

Passou todo esse tempo, como antes de casar-se, protegida por um

coronel amigo de seu pai, o qual a sustentava sem nada exigir.

Entretanto abandona o bom amigo e regressa à chácara, iniciando logo

um estranho e apaixonado romance com seu aparente filho, André.

Ana logo desconfia e descobre a situação seguindo-os e no fundo

procurando uma vingança contra Nina, por seu recalque e ciúme.

Valdo, pela atitude do filho, começa a desconfiar e tenta dialogar com

Nina, a qual reage fulminantemente, surpreendida de que seu marido pudesse

desconfiar dela e do próprio filho. Até que um dia Nina revela padecer uma

doença e pede dinheiro para tratar-se no Rio. Parte no dia seguinte, depois da

anuência de Valdo (que por sinal não acredita) e sem dizer nada a ninguém.

Durante 15 dias que passa no Rio, vai ao médico, examina-se e se

comprova o estágio muito avançado da enfermidade e o pouco tempo de vida

que terá. No último dia de Rio de Janeiro encontra-se com o coronel, dizendo

que voltava para ficar e que era sincera com ele; no entanto, consegue fazer

com que ele compre todo um guarda-roupa novo para si e desaparece sem

nenhuma outra satisfação.

Regressa à chácara e pouco tempo depois tem que guardar o leito até o

dia do seu falecimento.

Para André, a sua vida se transforma quando conhece Nina e a paixão

por ela o cega totalmente. Vive como um adolescente apaixonado, sem

perceber direito a dimensão do seu pecado. Não entende muito o que ocorre e

também não se esforça por fazê-lo, somente querendo dar vazão ao seu

sentimento.

O último capítulo do livro "Pós-escrito numa carta do Pe. Justino", traz a

grande revelação final. Ana luta contra a sua consciência. A sua maldade e

frustração haviam sido demasiadamente grandes. Tinha ido morar no

Page 33: Lucio cardoso

"Pavilhão" e estava moribunda, quando manda chamar o Pe. Justino. Queria

dizer-lhe tudo a bem da verdade e que todos soubessem, André era seu filho

natural e não de Nina e Valdo.

Entretanto o que mais lhe doía é que Nina devia sabê-lo (nunca teve

certeza disto). Deu-se esta circunstância exatamente porque quando foi ao Rio

buscar Nina, entrou em contacto com ela após o nascimento de André. Nina

disse-lhe ter deixado o filho de Valdo no hospital e que não sabia mais dele, e

aproveitando-se disso, Ana trouxe André à chácara como sendo o filho de Nina

e Valdo. Na verdade, ela não tinha ido ao hospital buscá-lo, como dissera a

Nina.

Assim como durante toda a sua vida, Ana morre sem esboçar

arrependimento, mas apenas um remorso profundo por ter agido errado. O Pe.

Justino não pode tentar mais nada apesar de compreender bem o estado

daquela alma e da gravidade do seu pecado.

Considerações finais

“A Crônica da Casa Assassinada” é uma história surpreendentemente

bem escrita e com uma trama tão dinâmica que o leitor se sente um refém do

autor.

Lúcio Cardoso escreveu uma das obras mais belas e mais chocantes da

literatura brasileira. Tratando de temas polêmicos como homossexualismo e o

relacionamento incestuoso, Lúcio rompeu barreiras impostas pela sociedade,

sendo seu livro aclamado por muitos, porém detestado por outros no momento

de sua publicação. A obra é uma viagem no tempo, para a época em que o

coronelismo perdia suas raízes e o interior começava a se tornar parte dos

acontecimentos urbanos.

Com personagens inesquecíveis como Nina, Valdo e Timóteo Meneses,

esse livro pretende levar o leitor a uma reflexão, no qual o questionamento

sobre o certo, o errado e o que é imposto pela sociedade é uma parte principal

da trama. Seria o status social visto uma necessidade de sobrevivência? Até

que ponto o jogo de aparências deve ser mantido para que as pessoas possam

admirar a falsidade de se ter uma vida perfeita?

É um livro imperdível que além de entreter de forma extraordinária o

leitor apresenta um papel social maior: questionar a racionalidade dos seres

humanos, a valorização das emoções e principalmente, até quando a

manutenção do status pode trazer uma efetiva felicidade.

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Notas

¹ Ernst Theodor Amadeus Wilhelm Hoffmann (Königsberg, 24 de Janeiro de 1776 — Berlim, 25

de Junho de 1822) foi um escritor romântico, compositor, desenhista e jurista alemão, sendo

sobretudo conhecido como um dos maiores nomes da literatura fantástica mundial. Suas

histórias foram a base da famosa ópera de Jacques Offenbach, Os Contos de Hoffmann, em

que Hoffman aparece como personagem.

² Agripino Grieco (Paraíba do Sul RJ 1888 - Rio de Janeiro RJ 1973). Crítico literário, poeta,

contista, tradutor, jornalista. Sua importância no meio literário, do início da década de 1920 à

década de 1950, está diretamente ligada ao fato de permanecer todo esse tempo escrevendo

diariamente em importantes jornais, com suas colunas caracterizadas pelo ecletismo e pelo

tom polêmico e satírico, tratando de escritores brasileiros, estrangeiros e lançamentos.

Referências

CARDOSO, Lúcio. Crônica da casa Assassinada. 5.ed. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 2004.

SANTOS, Cássia dos. Polêmica e controvérsia em Lúcio Cardoso. Campinas:

Mercado das Letras, 2001.

http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/Xsemanadeletras/comunicacoes/Sullivan-

da-Silva-Flores.pdf

http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/conformismo_e_religiao_a_c

riacao_do_espaco_provinciano_na_obra_de_lucio_cardoso.pdf

http://catalisecritica.wordpress.com/2011/05/24/cronica-da-casa-assassinada-

lucio-cardoso/

http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/22021/22021.PDF

http://www.vermelho.org.br/prosapoesia/noticia.php?id_noticia=173110&id_sec

ao=133