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É preciso mapear de onde vêm as armas, diz
especialista1
17.03.2014
O pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC), sociólogo
Luiz Fábio Paiva, aponta mais aspectos sobre o perfil da vítima da morte
violenta no Ceará. Para ele, regiões sob o controle do tráfico e onde inexistam
mecanismos de resolução de conflitos interpessoais (uma briga de vizinhos ou
num bar, por exemplo) acabam mais suscetíveis a acertos de contas que resultam
em assassinatos.
Conforme ele, isso acontece principalmente nas periferias das grandes cidades.
“Há algum tempo, vivenciamos uma situação em que a criminalidade violenta
em Fortaleza, sobretudo a ligada aos crimes de homicídio, concentra-se nas
periferias. Ações vinculadas ao tráfico de drogas e de armas contam com a
participação predominante de jovens do sexo masculino”, diz.
Já que 83% das mortes violentas do Ceará este ano foram decorrentes do uso da
arma de fogo, Paiva considera essencial a SSPDS saber como essas armas
chegam às mãos de quem cometeu o crime. Um mapeamento detalhado, coisa
ainda inexistente no âmbito do Governo. “Isso envolve uma complexa rede de
investigação. O que observamos é que, como apenas um pequeno número de
homicídios é solucionado, há um número ainda menor de apreensão de armas de
fogo relacionado ao desmanche de redes mais complexas de tráfico. O combate
às armas de fogo no Ceará, hoje em dia, praticamente se resume à apresentação
das armas que já estão em circulação.”
1 Fonte: Jornal OPovo
2
Paiva defende reformas profundas na Polícia Civil e no Judiciário. “O primeiro
passo para uma política séria de combate aos homicídios é a garantia de que
todo e qualquer crime seja julgado e o culpado cumpra pena adequada. Para
isso, precisamos dessas reformas”.
(Bruno de Castro)
3
Escolas também terão núcleos de mediação2
11.02.2014
Além dos Cucas, núcleos de mediação de conflitos serão criados nas escolas
municipais numa tentativa de conter o avanço da violência em Fortaleza. De
acordo com nota enviada pela Secretaria Municipal de Segurança Cidadã
(Sesec) ao O POVO, os grupos atuarão inicialmente em quatro unidades. A
posteriori, funcionarão noutras 20.
O trabalho será feito em parceria com a Secretaria Municipal da Educação
(SME) e a ONG Terre des Hommes. Os nomes das escolas que receberão o
serviço não foram divulgados. “As causas da violência são multifatoriais, como
conflitos interpessoais e uso de drogas”, cita a nota.
Conforme a Sesec, o Plano Municipal de Segurança Cidadã, cuja data de
lançamento ainda não foi definida, melhorará os serviços públicos das áreas
consideradas mais críticas em relação à criminalidade. “O município pode atuar
na antecipação da violência proporcionando a melhoria dos contextos urbanos,
em ações de iluminação, criação de espaços de lazer, limpeza, infraestrutura das
ruas e na fiscalização da acessibilidade das calçadas, e na oferta de educação,
saúde”, frisa a nota.
Para o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC), Luiz
Fábio Silva Paiva, os Cucas são excelentes iniciativas. “Espero que sejam
realmente bem aproveitados. Não obstante, é preciso que tenhamos calma para
ver o que os gestores farão com esse equipamento. Desejo que sejam injetados
recursos e que esses espaços agreguem capital humano para se tornarem
2 Fonte: Jornal OPovo
4
territórios com pessoas politicamente comprometidas com a causa da criança e
da juventude. É preciso repensar antigas fórmulas e entender que a cidade
vivencia um momento difícil que requer dos gestores públicos inteligência,
tranquilidade e políticas que não visem apenas seus interesses eleitorais
renovados a cada dois anos”.
(Bruno de Castro)
5
Gangues impõem "lei" em 16 bairros3
10.02.2014
3 Fonte: Jornal OPovo
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Dezesseis pontos de Fortaleza têm a rotina marcada pelo confronto de 16 grupos
rivais. Outros 17, apresentam tensões em menor escala. Conflitos de
territorialidade que alteram o dia a dia das pessoas por imposição do medo
A pé, o supermercado dista dez minutos de casa. Mas a senhora faz o trajeto de
ônibus. Enfrenta lotação e trânsito. Passa 40 minutos num coletivo. Dá uma
volta enorme até chegar ao local das compras. Repete o estorvo na volta, cheia
de sacolas. Exausta. Tudo para não atravessar a rua que divide o bairro. Morreria
se cruzasse “o lado de lá”. Não é envolvida com droga. Nem com nada
criminoso. Findaria pelo simples fato de viver no território onde um grupo
disputa com outro o domínio da Sapiranga.
Uma “lei” de morte tão democrática quanto a própria morte. “Ou a pessoa dá
essa volta toda ou se arrisca. Como já morreu muito inocente, a mãe evita passar
a pé. Mas eles (os membros das gangues) também matam um o outro. Vez por
outra, a gente ouve falar”, diz a jovem. Ela é ex-moradora da Sapiranga. Saiu
pela pressão da incerteza de um futuro. Para si e para os filhos. E não é um caso
isolado.
Os chamados conflitos de territorialidade alteram fortemente a rotina de 16
bairros e comunidades de Fortaleza. Impõem um universo paralelo que, até
setembro de 2011, conforme levantamento do O POVO, existia de forma tão
incisiva em “apenas” sete pontos da Capital. E que, hoje, afetam outras 17
populações em menor escala (ver mapas).
Os dados de 2014 foram informados ao O POVO pela Delegacia Geral de
Polícia Civil, que se recusa a divulgar os nomes das gangues “para não dar mais
publicidade aos integrantes”. O aumento desses conflitos o diretor do
Departamento de Polícia Especializada (DPE), Rommel Kerth, atribui
principalmente à capilarização do tráfico. “A gente percebe que, às vezes, os
7
membros nem se conhecem. Não existe animosidade pessoal. Mas simplesmente
pelo fato de um pertencer a determinado grupo já se transfere o sentimento de
rivalidade. Isso afeta a comunidade inteira. É uma política de cisão. Como se
fosse um apartheid. Mas não tenho dúvidas de que é possível reverter”,
diz o delegado.
Ele e outros especialistas consultados pelo O POVO apontam a oferta de bons
serviços públicos como principal vetor para o fim dos conflitos. A lógica é a
seguinte: como o poder público não alcança essas populações com boas escolas,
hospitais, opções de esporte e lazer etc, os próprios moradores brigam pelo
domínio do lugar. “Enquanto os conflitos territoriais forem tratados apenas
como questão de polícia, teremos apenas um terceiro envolvido neles. Na
verdade, acredito que essas ações são pensadas de maneira equivocada e diria
até preguiçosa. Todo e qualquer equipamento público com o objetivo de
promover ações qualificadas para crianças e jovens é muito bem-vindo e tem um
potencial enorme de gerar coisas boas para toda comunidade”, acredita o
pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC), Luiz Fábio
Silva Paiva.
Multimídia
VA existência de territórios rivais em Fortaleza é o Tema do Dia na cobertura de
hoje dos veículos do Grupo de Comunicação O POVO. Confira:
Para escutar: Na rádio O POVO/CBN (FM 95,5 e AM 1010), o tema será
discutido no programa Grande Jornal, às 8h30min, e/ou no programa Revista O
POVO/CBN, às 15 horas.
Para ver - A TV O POVO trará uma matéria sobre o tema no O POVO Notícias,
às 19h. Assista à programação pelo canal 48 (UHF/TV Aberta) e 23 (Multiplay).
8
Para ler e opinar: acompanhe a repercussão entre os internautas na página do O
POVO Online no facebook
(www.facebook.com/OPOVOOnline) e no portal O POVO Online
www.opovo.com.br
ENTENDA A NOTÍCIA
A ausência do poder público é apontada como principal causa dos conflitos
territoriais. Na falta da escola, do hospital, da praça de lazer etc, a própria
população disputa o domínio do lugar. Rixas que geram mortes.
Saiba mais
Em nota ao O POVO, a Secretaria Municipal da Segurança Cidadã de Fortaleza
(Sesec) informou que “o Plano de Segurança Cidadã está sendo aplicado
operacionalmente, como um piloto, em três territórios (Vicente Pinzón, Genibaú
e São Miguel). Essa experiência será ampliada para outras áreas críticas, após
avaliação das suas metas e resultados”.
Ainda conforme a nota, essa avaliação não tem data para ser concluída. O
gabinete do prefeito Roberto Cláudio (Pros), no entanto, prevê para 9 de abril o
fim das operações no formato “piloto”. No Vicente Pinzón, Genibaú e São
Miguel, além de ocupação policial, ocorrerá a oferta de melhores serviços
públicos.
A promessa inicial era de implementar essas ações do programa federal “Crack,
é possível vencer” em janeiro, junto com o lançamento do plano. Vinte câmeras
serão instaladas em cada bairro. Mais regiões da cidade podem ser beneficiadas
de forma concomitante ou o programa pode migrar para localidades
consideradas mais críticas.
9
Serviço
Para denúncias de conflitos de gangues no seu bairro
Onde: Delegacia Geral de Polícia Civil (Rua do Rosário, 199 - Centro)
Telefone: 3101 7300
Leia amanhã
Cuca da Barra do Ceará ganha Núcleo de Mediação de Conflitos. Unidades do
Jangurussu e Mondubim também terão espaço de promoção da paz.
10
O perigo de fazer justiça com as próprias mãos4
07.11.2013
Prática é perigosa para o convívio social. Com base em banco de dados e relatos
na Internet, O POVO encontrou registros de 16 linchamentos ou tentativas. Os
crimes foram cometidos de janeiro a outubro deste ano
HUMBERTO MOTA/ ESPECIAL PARA O POVO
No último dia 29 de outubro, na avenida Aguanambi, um homem foi espancado
por grupo de pessoas em uma praça. Foto: Humberto Mota
Quando este texto ganhar um ponto final, estiver disponível no portal O POVO
Online e chegar às redes sociais, certamente terá no campo de comentários do
leitor colocações do tipo “bem feito”, “pra deixar de ser vagabundo” e “ainda
vai?”. Discursos do tipo são recorrentes em notícias de linchamento e tentativas
de linchamento.
4 Fonte: Jornal OPovo
11
Após consulta no próprio banco de dados e na Internet, O POVO somou 16
ocorrências em Fortaleza e no Interior, de janeiro a outubro deste ano. O número
inclui tentativas e linchamentos. Onze registros ocorreram na Capital - seis deles
apenas em outubro.
O mais recente foi no último dia 29 de outubro, na avenida Aguanambi. A
vítima foi um homem acusado de apedrejar um ônibus após se recusar a pagar
passagem e ser repreendido pelo cobrador.
Dois desses 16 casos terminaram em morte (o linchamento em si), ambos em
Fortaleza: um no Novo Mondubim, em julho, e outro no bairro Padre Andrade,
em agosto.
Agressão
Por que esse tipo de agressão parece ter tanto respaldo popular? “É a perda da
confiança nos aparatos de segurança e justiça. O Estado se mostra incapaz de
controlar o aumento das ocorrências e a Polícia atua não para prevenir. A
população está assumindo um papel do Estado”, diz o coordenador do
Laboratório de Estudos e Pesquisas da Conflitualidade e Violência
(Covio/Uece), Geovani Jacó.
O pesquisador pondera que, apesar de ser cada vez mais frequente, o
linchamento ainda não se tornou regra. “Com um Estado ausente, a população é
levada a resolver os problemas por ela mesma. Ela quer uma punição imediata.
E age desse jeito com a convicção de que está correta. É a banalidade do mal.”
Luiz Fábio Silva Paiva, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC),
afirma que o linchamento ocorre em circunstâncias muito específicas. “A
gravidade também pode estar associada ao fato de a vítima ser alguém que
regularmente pratica crimes em uma determinada região, o que favorece alguma
12
previsibilidade e articulação de pessoas motivadas a porem fim às atividades
desse sujeito”, analisa.
Paiva frisa que o desejo de punição imediata pode ter berço no sentimento de
privação de liberdade da população. “Há a sensação de que as agências formais
de segurança têm falhado. O linchamento afeta a vida social em diversos
aspectos, pois é um ato de violência contra uma pessoa que pode ou não ter
cometido crime, mas, ainda assim, do ponto de vista do Estado, é um sujeito de
direitos. Contudo, as pessoas começam a questionar o direito daqueles que
praticam crimes porque sentem que os seus direitos têm sido recorrentemente
violados sem que nada seja feito a respeito”, disse.
Saiba mais
Pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o 7º Anuário Brasileiro
de Segurança Pública, lançado na última terça-feira, 5, mostrou que 70,1% dos
brasileiros não confiam no trabalho das polícias. O índice é 8,6 pontos
percentuais maior do que o registrado em 2012.
Não há no sistema da Secretaria Estadual da Segurança Pública e Defesa Social
(SSPDS) registro de quantos linchamentos foram praticados no Ceará este ano
ou em anos anteriores.
Como não há números oficiais, é possível que a quantidade de casos supere os
apresentados nesta reportagem.
Multimídia
Os linchamentos em Fortaleza é o Tema do Dia no O POVO. Confira:
Para escutar: Na rádio O POVO/CBN (FM 95,5), Grande Jornal, às 8h30min,
e/ou no Revista O POVO/CBN, às 15 horas.
13
Para ler e opinar: O POVO Online no Facebook
(www.facebook.com/OPOVOOnline) e portal O POVO Online
(www.opovo.com.br).
14
Ceará tem o segundo maior aumento de crimes
letais5
05.11.2013
Inchaço foi de 77%, quase 8,5 vezes maior do que a média nacional (de 9,2%) e
menor apenas do que a estatística de Minas Gerais. Nove estados reduziram os
indicadores. Dentre eles, Rio de Janeiro e Pernambuco
Somente uma posição separa o Ceará do topo do ranking de aumento dos crimes
violentos letais intencionais cometidos entre 2008 e 2012 no Brasil. Nestes cinco 5 Fonte: Jornal OPovo
15
anos, o número de vítimas de homicídios dolosos, latrocínios (roubos com
morte) e lesões corporais seguidas de óbito cresceu 77% no Estado, conforme o
7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O documento, elaborado pelo
Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), será lançado às 10 horas de
hoje, em São Paulo.
O índice cearense é batido apenas pelo acréscimo de 89% registrado em Minas
Gerais. E tem entre seus componentes crimes como a chacina do Meireles -
ocorrida em dezembro do ano passado e que vitimou três jovens, dentre eles
uma estudante de Direito.
Em 2008, o Ceará ocupava a décima posição no ranking de números absolutos
de casos, com 2.063 ocorrências. Ficava atrás do Rio de Janeiro (5.464), São
Paulo (4.692), Bahia (4.534), Pernambuco (4.376), Pará (3.172), Paraná (2.950),
Rio Grande do Sul (2.470), Minas Gerais (2.178) e Alagoas (2.126). Em 2012,
estava em quarto lugar, com 3.657 registros e perdendo apenas para Bahia
(5.764), Minas Gerais (4.125) e Rio de Janeiro (3.970).
De 2008 para 2012, nove estados registraram recuo estatístico de mortes
violentas letais intencionais: Rondônia (6,43%), Alagoas (8,04%), Rio Grande
do Sul (13,64%), Goiás (13,77%), Pernambuco (26,21%), Rio de Janeiro
(27,34%), Mato Grosso do Sul (31,29%), Espírito Santo (38,6%) e Amapá
(64,56%).
No Ceará, o quinquênio de aumento de 77% contempla a primeira gestão e parte
do segundo mandato do governador Cid Gomes (Pros). No Brasil, o crescimento
foi de 9,2% (de 45.885 casos para 50.108 casos).
A variação nacional é, portanto, quase 8,5 vezes menor que a cearense. “O nosso
maior problema hoje é que as ações no campo da segurança pública estão,
muitas vezes, mais pautadas em opiniões, ideias ou reações emergenciais a um
16
caso de grande repercussão na mídia ou, como no caso, a publicação de dados
que tem um efeito negativo sobre a imagem dos gestores da área em
determinado Governo. É preciso pesquisar, avaliar, conhecer melhor a realidade
para então poder começar a pensar em estratégias que funcionem para modificar
um quadro como o apresentado na pesquisa. Isso requer tempo e investimento
em ações de curto, médio e longo prazos”, diz o pesquisador do Laboratório de
Estudos da Violência (LEV/UFC), Luiz Fábio Paiva.
Para ele, nossa política de segurança é enervada de “erros grosseiros” por
desconhecimento das novas nuances do crime e dinâmicas da vida social. “Se
opera em geral com um amadorismo terrível que sempre coloca interesses
eleitorais à frente do trabalho sério e comprometido com o bem-estar das
pessoas. As políticas públicas no Brasil são inventadas, implantadas e deixadas
de lado com uma velocidade espantosa e sem que tenhamos sequer uma
avaliação sobre o que aconteceu de bom ou ruim nesse processo.”
(colaborou Liana Costa)
ENTENDA A NOTÍCIA
Estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública foi feito com base em dados
fornecidos pelos governos estaduais para o Governo Federal e contempla
período de 2008 a 2012 (no Ceará, gestão do governador Cid Gomes).
Lançamento do documento acontece hoje.
3.657 crimes letais intencionais foram praticados no Ceará em 2012
13.619 crimes letais intencionais foram cometidos no Ceará de 2008 a 2012
17
O que pode ser feito para não ser refém da
"arquitetura do medo"6
27.10.2013
Pesquisador do Laboratório do Estudo da Violência (LEV) aponta ideias para
que o medo não domine as relações sociais. São exemplos experiências em
Bogotá (Colômbia) e Santiago (Chile)
Luiz Fábio é pesquisador do Laboratório de Estudo da Violência (LEV). Ele
defende maior ocupação das ruas pelas pessoas e espaços públicos
revitalizados para melhorar a segurança e reduzir o medo. Foto: Sara Maia
Aspectos da violência urbana proporcionam o medo, situação na qual o
indivíduo se protege de algo subjetivo, com base em fatos objetivos, como
assalto, homicídios e sequestros, por exemplo. Com o medo, novos arranjos
sociais vão sendo criados na cidade. As pessoas estão criando fortalezas
6 Fonte: Jornal OPovo
18
particulares ao invés de casas para morar. A segurança está sendo priorizada em
detrimento do conforto e bem estar. É a chamada “arquitetura do medo”, ressalta
o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador do
Laboratório de Estudos da Violência (LEV), Luiz Fábio Paiva.
Fábio ressalta que o medo é conhecido como violência subjetiva e pode está
implantado mesmo se os índices de violência são baixos. Ele ressalta que o LEV
levantou que os dados de violência no final da década de 1990 caíram no Ceará,
no entanto, isso não impactou na sensação de segurança da população.
“As pessoas hoje são muito marcadas pelas falas do crime. Se você fizer
entrevista com pessoas circulando na cidade, em geral, ela vai ter uma história
sobre assalto e violência urbana. Isso cria impacto sobre como ela se comporta
em relação à cidade”, analisa.
A proliferação de informações sobre a violência urbana, mesmo que seja em
outra cidade ou em outro país, é chamada por Fábio de “conhecimento
envenenado”. “Embora você não tenha testemunhado, já é suficiente pra que
você crie uma rotina para impedir que isso ocorra com você. Se tem relatos da
ação de vitimização, seu cotidiano vai ser pautado por isso”, diz. Mas o
estudioso da violência ressalta que o outro extremo é omitir os fatos, isso
também é grave.
Novas experiências
Em experiência exitosas no mundo para que a cidade não viva pautada pelo
medo, além da segurança pública, formas de convivência coletiva foram
implantadas. Santiago (Chile) e Bogotá (Colômbia) são exemplos disso, ressalta
Luiz Fábio.
19
O professor ressalta haver bons projetos público, mas é preciso repensar a
perenidade desses projetos, que, muitas vezes, não têm continuidade. “Devemos
ter políticas de estado, que não visem uma reforma pontual, estrutural,
sobretudo, na segurança pública.”
Luiz Fábio sugere mudança na forma de atuação da Justiça, para garantir que,
tendo sido julgado com amplo direito de defesa e condenado, que se cumpra a
pena. A recorrência de crimes sem punição é prejudicial.
Revitalizar espaços públicos é outra ação apontada pelo pesquisador do LEV.
Objetivo com isso é fazer com que as pessoas tenham vontade de ir para a rua,
conviver coletivamente, na diversidade social, cultural e econômica.
Políticas culturais em toda a cidade, ampla cobrança por responsabilidade da
iniciativa privada também, reforma na mobilidade urbana e a busca por redução
do foço da desigualdade social.
NÚMEROS
2,6 mil homicídios foram registrados no Ceará em 2013 pela SSPDS
20
Para sociólogo, programa está distante da
comunidade7
18.10.2013
Sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), Luiz
Fábio Paiva acredita que a dificuldade em contatar as viaturas do Ronda do
Quarteirão demonstra um distanciamento entre o programa e a comunidade. “A
população já não tem acesso ao serviço, que apresenta uma deficiência clara. No
entanto, este é apenas mais um sintoma de uma política de segurança pública
que se afastou muito daquilo que propunha como modelo de controle da
criminalidade”, analisa.
Para o pesquisador, a política de proximidade entre Polícia e população
defendida pelo Governo do Estado já não é mais reconhecida. “O programa
enfrenta um claro desmantelamento em uma gestão que não parece mais tão
comprometida quanto antes com o investimento nessa dinâmica de
policiamento.”
O presidente da Associação dos Profissionais de Segurança Pública do Ceará
(Aprospec), capitão Wagner de Sousa, afirma que a precariedade no
atendimento pode ser atribuída ao fato de as viaturas estarem em manutenção ou
em ocorrências. “Quando uma viatura é baixada, às vezes não é informado à
população que o telefone não está funcionando”, diz.
O capitão descarta a possibilidade de as chamadas serem ignoradas de propósito.
“Acredito que seja mais um problema de ordem técnica que má vontade.”
7 Fonte: Jornal OPovo
21
Wagner lembra que as viaturas são equipadas com câmeras. “Se um telefone
toca e o policial não atende, a central de monitoramento vai identificar
facilmente e o policial poderá ser punido.”
(Lusiana Freire)
22
Segurança privada cresce 8% ao ano no Estado do
Ceará8
13.10.2013
8 Fonte: Diário do Nordeste
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Enquanto as políticas públicas mostram fragilidades, as empresas privadas são
uma alternativa. FOTO: Fabiane de Paula
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, em sua última
pesquisa sobre o tema, divulgada em 2012, que o Ceará lidera a sensação de
insegurança dentre os Estados do Nordeste. O resultado da pesquisa reflete no
comportamento de quem vive em Fortaleza, sempre temendo o perigo, que é,
cada vez mais, iminente e parece estar em toda parte. A apreensão está nos olhos
dos moradores da Capital, diante da criminalidade.
Enquanto as medidas de Segurança Pública não dão resultados, quem tem poder
aquisitivo suficiente está terceirizando o serviço, contratando segurança privada
para suprir necessidades de condomínios, estabelecimentos comerciais, veículos
e até pessoal.
As empresas têm expandido seus serviços para atender a um mercado ainda
maior, e já oferecem, pelo menos, 16 tipos diferentes de atendimento de
segurança que incluem até escoltas para transportes de documentos, malotes,
cargas e valores.
No Ceará, existe atualmente 65 empresas autorizadas pelo Ministério da Justiça
a garantir a integridade física e patrimonial de seus clientes. Segundo dados do
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Sindicato de Empresas de Segurança Privada do Ceará (Sindesp) 13 mil
vigilantes treinados estão cadastrados e exercem a função, em todo o Estado.
O diretor financeiro do Sindesp, Marcos Gualter, disse que o ramo está
avançando na mesma proporção que cresce a economia do Estado, o que
representa cerca de 8% ao ano. "Isto, porém, não representa um aumento na
procura. O número de empresas cresce mais que o mercado", declarou.
Segundo Marcos Gualter, a maior parte das solicitações de quem procura por
firmas autorizadas é voltada para segurança patrimonial - condomínios,
repartições públicas, shoppings, agências bancárias e demais estabelecimentos
comerciais.
O diretor do Sindesp lembrou que a segurança privada deve ser apenas uma
linha auxiliar da segurança pública. Portanto, as atribuições desta, está limitada à
atender somente o perímetro demarcado pelo terreno do contratante. Em casos
de ocorrências em condomínios, por exemplo, o vigilante deverá se restringir a
agir apenas no local, sem poder expandir seus procedimentos, sequer até a
calçada.
Os civis têm reclamado os impostos que pagam. O tema foi um dos mais
recorrentes nas manifestações que ganharam o País, em junho deste ano. Para o
professor Fábio Paiva, da Universidade Federal do Ceará (UFC), estudioso do
assunto, o correto seria que não se pagasse duas vezes por segurança, saúde
educação. "Isto é uma obviedade muitas vezes negligenciada pelos nossos
Governos, mesmo diante dos apelos populares".
Segurança pessoal
Uma modalidade desponta como desafio para empresas de segurança, no Estado,
a escolta de pessoas e de material de alto valor que a elas pertença. O serviço é
25
desafiador, porque exige preparação especial dos profissionais que irão atuar na
área.
Em Fortaleza, algumas empresas apostam na capacitação de agentes e oferecem
serviços como acompanhamento e assistência a personalidades, executivos e
autoridades; avaliação de roteiros e áreas de riscos; agentes com domínio de
outras línguas; seguranças com cursos de direção defensiva, abordagem, fuga e
proteção de patrimônio.
Os clientes, que são chamados VIPs, requerem o serviço para si e para a família,
e ainda para escolta de malotes e documentos. O intuito de quem paga as altas
somas é estar livre da violência, que chega à maioria esmagadora dos cearenses.
Para tanto, uma das empresa que vende segurança pessoal, diz em seu site, que
seus funcionários deverão, entre outras coisas, identificar ameaças intencionais
ou não; e dimensionar as necessidades que serão aplicadas ao planejamento e
definição da abrangência da proteção.
Marcos Gualter, que também é dono de uma empresa de segurança, disse que o
mercado ainda não é muito aberto para este tipo de serviço, que costuma custar
caro, mas que a demanda já existe por aqui.
"A procura é restrita. Não é sempre que encontramos alguém que procure por
segurança pessoal, porque é um serviço especializado. Os custos são mais altos,
visto que exige uma preparação extra".
MÁRCIA FEITOSA
REPÓRTER
Rotina na Capital é ditada pelo medo
"A insegurança altera a vida dos moradores de Fortaleza de diversas formas. A
rotina das pessoas passa a ser construída em torno do medo. Sua vida e da sua
família tem que ser mediada, controlada e calculada pela possibilidade de que
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não sofra uma ação violenta que coloque em risco você e seus entes queridos.
Perde-se então, uma série de outras coisas em termos de vida social, prazer, bem
estar, conforto e liberdade. Deixa-se de lado a sua autonomia para se estar
submetido a dispositivos de regulação e controle social cada vez mais
individualizados".
A fala do sociólogo Luiz Fábio Paiva, pesquisador do Laboratório de Estudos da
Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC), sobre a falta de
segurança e a sensação de medo coletivo e subjetivo diz muito sobre Fortaleza,
onde se vive, cada vez mais, refém destes sentimentos.
Segundo ele, não há um receita para que este problema seja resolvido a curto
prazo, mas deve-se pensar em saídas baseadas na igualdade social. "Não há uma
saída, uma coisa que possa ser feita e pronto. Isso não existe, embora se venda
essa ideia com determinados interesses. É preciso que seja feito um esforço
coletivo, para que a vida em sociedade não seja boa apenas para um pequeno
número de privilegiados. É preciso que as forças econômicas e os esforços do
Estado estejam em consonância com os desejos da população em geral",
considerou o pesquisador.
Para Fábio Paiva, os índices de assaltos à agências bancárias, à pessoas e à
residências, apontam para um aumento considerável do crime que irá, sem
dúvida, repercutir na sensação de segurança das pessoas.
"A medida que muitas pessoas são vítimas e têm histórias para contar, estas
experiências acumuladas e narradas repercutem no cotidiano, na forma como as
pessoas refletem sobre o seu dia a dia, diante de situações que, em tese, não
deveriam afligi-las. É bem comum, por exemplo, perceber nos sinais de trânsito,
as pessoas tensas por se sentirem que ali é um momento em que podem ser
abordadas e efetivamente assaltadas".
Servilho anunciou mudança
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A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) vem passando por
reformulações. A maior delas foi a mudança do gestor da pasta, no último dia 13
de setembro de 2013. O novo secretário, é o delegado federal, Servilho Paiva.
Em visita ao Sistema Verdes Mares, logo após ser empossado, Servilho disse
que os órgãos de Segurança Pública do Ceará precisam de reforço e
repaginação. Para ele, é necessário que exista um trabalho integrado entre as
Polícias, que prevê troca de informações e esforço conjunto. "Precisamos de um
reforço na Polícia, precisamos requalificar o homem para trabalhar mais
proativamente".
O secretário considera que grande parte dos crimes contra à pessoa, como
homicídios e assaltos, estejam ligados ao tráfico de drogas e por isto, acredita
que uma forte repreensão às drogas irá auxiliar na redução dos índices de
violência, que até agora se mostram desanimadores. Medidas preventivas e
cautelares poderiam ser um fator para auxiliar neste sentido, segundo ele.
"Temos comunidades que estão sendo mais violentadas. Os culpados estão
identificados, bem como suas áreas de atuação. Existe uma inteligência de dados
que serão levados para uma folha de papel. A partir daí, faremos requerimentos
aos juizes pedindo que aquelas figuras identificadas como aterrorizadoras,
tenham sua prisão preventiva decretada. Sendo concedidas as ordens de prisão,
as Polícias poderão cumprir, de forma a limpar aquele território da
criminalidade. Estas medidas cautelares darão suporte a ação de retirar das ruas
criminosos de conduta reiterada", considerou.
Sobre a atuação do Ronda do Quarteirão, que vem sendo questionada pela
sociedade, Servilho Paiva disse que este núcleo é uma fração da PM e que a
reformulação deve haver em todos os sentidos. "A gente precisa mudar as
características de todo o policiamento, seja a pé ou motorizado, para que ele seja
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