1
UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
PÓS - GRADUAÇÃO - ENSINO DA ARTE
DENISE VELHO DA SILVA
A LEITURA DE IMAGEM COMO PARTE DE UMA PROPOSTA
PEDAGÓGICA NO ENSINO APRENDIZADEM DA ARTE
CRICIÚMA, AGOSTO DE 2006
2
DENISE VELHO
A LEITURA DE IMAGEM COMO PARTE DE UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA
NO ENSINO APRENDIZADEM DA ARTE
Monografia apresentada como requisito à obtenção do grau de Pós Graduada - Curso de Pós-Graduação Ensino da Arte da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC.
Orientadora: Profª Msc Silemar Maria de Medeiros da Silva
CRICIÚMA, AGOSTO DE 2006
3
Dedico a toda minha família a quem tanto amo, por me fazerem acreditar sempre.
As pessoas que se identificam com a Arte e o seu ensino e a todos aqueles, que mesmo não estando ao meu lado, sinto-os presentes.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, presença espiritual constante em minha vida, a todos aqueles que contribuíram na realização desta pesquisa, em especial aos alunos/as, professores/as, direção, das escolas “Dionísio Millioli”, “Serafina Millioli” e “Hercílio Amante” que permitiram o estudo nas escolas. A Silemar Maria de Medeiros da Silva, pelas orientações, por estar sempre a disposição, encorajando-me a buscar sempre mais, ir além e por acreditarem que eu seria capaz, não medindo esforços e colocando-se sempre à disposição.
5
“Pensar na leitura e produção na linguagem da arte, o que, por assim dizer, é um modo único de despertar a consciência e novos modos de sensibilidade. Isso pode nos tornar mais sábios, seja sobre nós mesmos, o mundo ou as coisas do mundo, seja sobre a própria linguagem da arte”.
Mirian Celeste Martins.
6
RESUMO
A presente monografia se propõe como um desafio de falar sobre a leitura de imagem como parte de uma proposta pedagógica no ensino aprendizagem da arte. A pesquisa tem como base refletir sobre o Ensino da Arte na escola, bem como, compreender a leitura de imagens como proposta pedagógica, se contempla ou não o real papel da arte na educação. Buscando um diálogo com alunos e professores, tomo como recorte as Escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental Dionísio Millioli, Hercílio Amante e Serafina Millioli, todas pertencentes a Rede Municipal de Educação de Criciúma/SC. O diálogo acontece a partir da realização de leitura de imagens no contexto escolar. Esta pesquisa tem como objetivo principal, analisar as possíveis contribuições da arte no espaço escolar, bem como a prática da leitura de imagens como recurso pedagógico no ensino-aprendizagem da arte.As propostas de leitura de imagem no ensino e aprendizagem da arte, utilizadas nas escolas serão apresentadas e, por meio das quais poderemos refletir como se dá a mediação e a construção de conhecimento entre professores/as e alunos/as. Com um corpo teórico que vai possibilitando a busca da cientificidade, aponto a semiótica greimasiana trazida por Sandra Ramalho e Oliveira, Maria Helena Rossi falando sobre a leitura de imagem na sala de aula, Analice com a educação do olhar somado um olhar sobre o ensino da arte também com Mirian Celeste e Ana Mae Barbosa que auxilia no mapeamento do percurso sobre a própria história do ensino da arte contracenando com Duarte Jr., Maria Isabel Leite abre uma discussão sobre a mediação, esta relação professor/aluno e obra de arte. E é com Jorge Coli que pontuamos o próprio conceito do que estamos falando, ou seja: arte.
Palavras Chave: Leitura de imagem, ensino, aprendizagem.
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Grande Composição. Fonte: Catalogo construção sobre o vazio ........................... 27
Figura 2. Rosto. Fonte: site www.galeriabrasil.com.br .......................................................... 27
Figura 3. The Cat´s Meow. Fonte:www.artbonobo.com ……………………………………. 27
Figura 4. Atividade utilizada pela professora. Fonte: Da pesquisadora ................................. 29
Figura 5. Apresentação dos alunos da 5ª série. Fonte: Da pesquisadora ................................ 30
Figura 6. Produção artística a partir das figuras geométricas – aluna Regiane - 5ª série Fonte:
Da pesquisadora ...................................................................................................................... 30
Figura7. Guernica – Picasso Fonte: Pinacoteca Caras ............................................................ 32
Figura 8. Desenho realizado pela aluna Fram – 8ª série Fonte: Da pesquisadora ................. 33
Figura 9. Desenho realizado pela aluna Ana – 8ª série Fonte: Da pesquisadora .................... 33
Figura 10. Mulher no espelho Picasso (imagens projetadas na sala de aula) Fonte:
Da pesquisadora ...................................................................................................................... 35
Figura 11. Três músicos Picasso (imagens projetadas na sala de aula) Fonte: Da
Pesquisadora ............................................................................................................................ 35
Figura 12. Figura 12 O Violonista Verde – Chagall Fonte: Da pesquisadora ........................ 36
8
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 08
2 – Para começo de conversa: A leitura da imagem na sala de aula ........................................10
3 – O Ensino da Arte na escola................................................................................................ 16
4 – Qual o real papel da Arte na escola? ................................................................................. 21
5 – A leitura de imagens na escola como proposta pedagógica .............................................. 24
6 – Dialogando com alunos e professores: A realização de leitura de imagens no contexto
escolar ..................................................................................................................................... 26
7 – Considerações finais ......................................................................................................... 41 8 – Referências bibliográficas ................................................................................................. 45
9 – Anexos .............................................................................................................................. 47
9
1 – INTRODUÇÃO
Quando fiz o magistério, à visão que tinha de Arte é de que era mais fácil, sendo
que, era somente necessário ter habilidades para fazer confecção de lembrancinhas, como
faziam os professores de Arte até à conclusão do Ensino Médio. Esta foi à razão primeira por
ter optado pelo curso de Artes Visuais, ou seja, por ser realmente fácil.
Ao atuar como professora de Arte percebi que estava enganada quando acreditava
que Arte era “fácil”. Descobri, então, ter escolhido um caminho que não conhecia, me
apaixonei, estava sempre em busca de novas propostas metodológicas para ampliar repertório,
comprei livros sobre História da Arte, recortei revistas com reportagens de um mundo que
desejava conhecer. Passei a ter uma preocupação com a qualidade das aulas e o próprio ensino
da Arte, pois desejo atuar nas aulas com uma relação de comprometimento com os alunos e
colegas professores, acreditando ser este, o compromisso de todo profissional.
Iniciei o Curso de Artes Visuais na UNESC, acreditando que este esclareceria
todas as dúvidas sobre o que é Arte? Como ensinar Arte? Por que se faz Arte? e muitos outros
questionamentos referentes ao tema. Não posso negar que a universidade proporcionou
momentos de contato direto com Arte, em visita a museus, galerias, exposições locais e a
Bienais (São Paulo e Porto Alegre), vi um mundo que até então não conhecia, como também
participei de muitas reflexões sobre o seu ensino nas escolas, encontro em Ana Claudia
Oliveira, quando prefaciando o livro de Sandra Ramalho (2005, p.8), um dizer que:
a compreensão da arte não se faz naturalmente, muito pelo contrário, ela é exigente, inquietante e requer sempre idas e voltas nos novos entrelaçamentos que propõe entre seus objetos e os destinatários.
10
Concluído o curso na graduação e nesta fase de conclusão da pós no Ensino da
Arte, amplio a visão do ensino da Arte, comparada a que possuía antes. Mas o mundo vive em
constantes transformações e, no universo da Arte, não é diferente. Neste sentido, devemos nos
atualizar para que possamos compreendê-la e acompanhá-la. Falo das mudanças e da própria
Arte. Este querer conhecer, saber, compreender Arte aguça-me constantemente.
Com relação à habilidade em fazer lembrancinhas citadas no início, acredito na
sua importância, porém falando de Arte, podemos refletir sobre o que é Arte ou não, pensando
este fazer. Partindo da função do objeto, cito o objeto lembrancinha, busco em Sandra
Ramalho e Oliveira (2005, p.26) uma fala que: “toda imagem artística é estética, mas nem
toda imagem estética é artística”, ainda em Ramalho vamos perceber que o que vai definir o
que é Arte ou não é a função do objeto, quanto mais útil menos Arte. A lembrancinha é uma
imagem estética e não artística, uma vez que representa uma função bastante utilitária.
Como professora/pesquisadora quero melhor compreender a relação do ensinar e
do aprender Arte, e aponto, neste momento a leitura da imagem como um recorte para esta
compreensão, ou melhor, para esta pesquisa.
A presente monografia, parte de caminhos apontados por uma pesquisa que
realizei com conclusão do curso de graduação, qual seja: “Reflexões sobre o ensino e
aprendizagem de Arte no espaço escolar: uma volta pela oficina de Arte” (2004 – UNESC).
Entre atividades propostas na oficina de Arte, uma delas foi à utilização de imagens no
exercício da leitura. Para melhor compreender o papel da leitura da imagem na sala de aula,
senti a necessidade de pesquisar e refletir sobre o uso de imagens nas aulas de Arte.
Como professora/pesquisadora, desejo conhecer as diferentes formas de leituras
que estão acontecendo nas escolas, pergunto-me: até que ponto, as leituras de imagens
contemplam o real papel da Arte?
11
2 - PARA COMEÇO DE CONVERSA: A LEITURA DE IMAGEM NA SALA DE
AULA
Olhar, realmente olhar continua a ser uma responsabilidade pessoal e a reação de mais ninguém servirá de substituto. Mas é do mundo exterior que o conhecimento precisa vir a nós, pela leitura, audição e contemplação. Se descobrirmos que sabemos, então talvez possamos reunir coragem para olhar.
Wendy Beckett
Desde a Pré-História, as imagens produzidas pelo homem são utilizadas como
referência da existência humana. Por meio delas, podemos perceber as diversas
transformações em diferentes tempos e espaços, ou seja, o ser humano amplia seu saber sobre
si e sobre o mundo.
A imagem ocupa um espaço considerável na vida do sujeito contemporâneo.
Livros, cinema, outdoors, TV estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, sendo
assim, como professora de Arte questiono: Como contribuir no entendimento do significado
dessas imagens? De que forma a leitura de imagem auxilia na evolução dos processos
artístico, cultural e estéticos dos sujeitos? Saber se o processo de leitura de imagens que é
realizado em sala de aula proporciona aos alunos um entendimento sobre Arte e se esta prática
pedagógica amplia o verdadeiro sentido da Arte na escola e fora dela, é o que proponho como
professora/pesquisadora.
Dialogando com diferentes autores que discutem este tema e outros que
apresentam direta ou indiretamente uma contribuição teórica significante, falo de: Sandra
Ramalho, Maria Helena Wagner Rossi, Analice Pillar Dutra, Ana Mae Barbosa, Isabel Leite,
Maria F. de Rezende Fusari, Maria Heloisa C. de T. Ferraz, Mirian Celeste Martins, entre
outros.
Criando novas possibilidades do fazer artística, a leitura valoriza aspectos
técnicos, expressivos, perceptivos, sensíveis e culturais do sujeito, acredito. Segundo Paulo
12
Freire apud Analice Dutra Pillar (1999, p.14) “a leitura de imagem precede a leitura da
palavra”. Na leitura de imagem buscamos perceber, compreender, interpretar os elementos
que constituem o objeto e estabelecer relações entre esta e a nossa experiência cotidiana. Para
Pillar (1999 p.20) “a leitura de imagens são criações, produções de sentido onde buscamos
explicitar relações de um texto com o nosso contexto”. Estabelecer relações é um exercício
humano e dialético, no qual o papel do professor de arte é a ampliação de repertório artístico
cultural, ou seja, no fazer e compreender arte, que é direito de todos, surge à possibilidade
direta ou indiretamente, de alimentar novas formas de estabelecer relações. Acredito ainda
que: a imagem na sala de aula pode vir a ser um caminho para a ampliação do repertório
artístico cultural, com tudo isso, resta saber como acontece a leitura na sala de aula?
Existe um ditado chinês “Uma imagem vale mais que mil palavras1". Pergunto se
isso realmente é possível, pois na escola é dada uma valorização maior ao conhecimento das
letras que juntas formam palavras, do que para as imagens que o aluno conhece antes mesmo
de freqüentar a escola. Podemos talvez, falar de alfabetização visual, o que na verdade
acontece desde muito cedo. Segundo Maria Helena Rossi (2003, p. 9) “todo o aluno deve ter a
oportunidade de interpretar os símbolos da arte, pois a dimensão estética é constitutiva do
potencial humano”. Esta fala nos remete a importância da leitura da imagem na sala de aula.
Encontro em Campos (2001, p.114), um dizer que nos remete ao contexto cultural
dos alunos, enquanto fala de leitura de imagem:
a arte não está isolada do contexto cultural, da história pessoal do aluno, nem das questões econômicas, políticas e sociais; por isso, a interpretação de uma imagem está relacionada com a compreensão simultânea de diferentes culturas na mesma sociedade.
Para que o aluno tenha a oportunidade de melhor interpretar os símbolos da Arte
defendida por Rossi, faz-se necessário à leitura de imagens na escola, mas como deve ser esta 1 Encontro este ditado no texto de Vera Lúcia Campos, A Leitura de Imagem como Proposta Pedagógica no Ensino-Aprendizagem das Artes Visuais. In: PILLOTTO, Silvia Sell Duarte e SCHRAMM, Marilene de Lima Körting, Joinville, Univelle, 2001, (p. 114).
13
leitura? Ramalho e Oliveira apresenta uma proposta pedagógica para a leitura de imagem na
escola no seu livro Imagem também se lê. Percorrendo os caminhos da semiótica greimasiana,
Ramalho e Oliveira vai, também, contribuir com estas reflexões.
No dizer de Campos a imagem está relacionada com a compreensão do contexto
cultural, ou seja, a produção de sentido acontece a partir do repertório de cada um. Para tanto
a leitura de imagem deve ser realizada de forma consciente, objetivando a educação do olhar,
ou a educação estética como sugere Isabel Leite (2005, p.51): “ir além na apreciação, buscar
uma experiência estética significativa, relacionar aquilo que se vê com o que já se conhece,
com o seu cotidiano”. Como estabelecemos relações com o cotidiano dos alunos no que
propomos nas aulas de Arte?
Para falar de imagem, mais propriamente de imagem de Arte, volto ao ponto, o
que é Arte? Um diálogo com Coli (2003, p.10), em específico com o livro, O que é Arte,
apresenta um dizer que: “para decidir o que é Arte ou não nossa cultura possui instrumentos
específicos. Um deles essencial é o discurso sobre o objeto artístico, ao qual reconhecemos
competência e autoridade”.
Compreendendo a concepção de ensino da Arte, diretamente ligada ao conceito de
arte a que estamos atrelados como professores e professoras de Arte, venho dialogando com a
possibilidade de melhor compreender o papel da Arte na escola. Opto por não definir o
conceito de Arte, por não acreditar que poderia fazê-lo em um só momento, minha opção fica
em torno da investigação, ou seja, um estudo detalhado e sistemático sobre o problema
pontuado, qual seja: até que ponto, as leituras de imagens contemplam o real papel da
Arte? Discutindo assim, o acesso à Arte para que possamos construir conceitos.
Partindo de perguntas que apontam para o problema em questão, venho buscando
respostas e para obtê-las pretendo ir além do que conheço no momento, o que exige um teor
14
teórico pertinente às exigências da academia, ou seja, é a cientificidade que vai permitir
aprofundar questões pertinentes ao tema proposto.
A leitura da imagem torna-se objeto de pesquisa por ser uma proposta
metodológica presente nas aulas de Arte, sendo assim, faz-se necessário um estudo
aprofundado sobre o assunto, para perceber se o professor está utilizando esta dinâmica, de
forma, que os alunos tenham uma compreensão da imagem, pois Ana Mãe Barbosa (1997,
p.14) diz que:
a leitura de imagens na escola prepararia os alunos para a compreensão da gramática visual de qualquer imagem, artística ou não, na aula de artes ou no cotidiano, e que torná-los conscientes da produção humana de alta qualidade é uma forma de prepará-los para compreender e avaliar todo tipo de imagem.
O exercício da pesquisa nos indica outros questionamentos, apontando para a
dialética do conhecimento. E neste presente exercício, opto por uma pesquisa qualitativa, pois
não pretendo levantar quantidades, embora passo pelo registro que aponte para o número de
sujeitos envolvidos. Vou tratando da qualidade com que a imagem interage com a ação do
professor e a do aluno. Faço uso da pesquisa de campo e bibliográfica buscando elementos
para a melhor compreensão das hipóteses levantadas, quais sejam: Qual o real papel da arte na
escola? Qual a importância da leitura de imagens na sala de aula? O que os alunos pensam
sobre leitura de imagem e sua contribuição no entendimento do mundo? Os professores de
Arte proporcionam aos seus alunos vivenciar, compreender e expressar a Arte por meio das
propostas de leitura de imagem? Nas questões acima citadas, aponto para a necessidade de um
recorte, em função do tempo disponível para apresentação dos resultados, falo de um período
de março até julho, compreendendo quatro meses, num total. O recorte aponta para três
15
escolas da rede pública municipal de Criciúma, em três turmas, sendo elas: uma turma de
jovens e adultos, 8ª, e 5ª séries2.
Objetivando perceber se a leitura de imagens em sala de aula desenvolve a
ampliação dos repertórios sensível, imaginário e perceptível do aluno, busco refletir sobre a
importância de se realizar leituras de imagens nas aulas de Arte; registrar e analisar aspectos
que os alunos apresentem como importante ao realizar a leitura de imagens; identificar
objetivos que fazem com que professoras de Arte utilizem a leitura de imagem em suas aulas
como proposta de ampliação estética do sujeito.
Partindo da observação e análise de práticas na sala de aula, reconheço como algo
extremamente complexo para o tempo disponível, (quatro meses), porém, desafiador a ponto
de me fazer crer que será possível e necessário para refletir sobre questões que me
acompanham e se fazem presentes nas dúvidas de muitos professores de Arte, acredito.
Para a realização da pesquisa de campo visitei as escolas, em específico, as aulas
de Arte, onde a proposta das aulas foi à utilização de imagens para a realização de leituras.
Estas imagens eram fixas e móveis cabendo ao professor regente a escolha e a elaboração da
proposta que foi utilizada. Foram feitos fotos, anotações e gravações das falas dos alunos e
também dos professores, referentes à dinâmica das aulas.
Muitas propostas metodológicas são utilizadas por professores de Arte, para
proporcionar aos alunos vivenciar e conhecer melhor a Arte. A leitura de imagem é uma
delas. Para Rubem Alves3 (1922) “ler uma imagem é saboreá-la em seus diversos
significados”.
2 Os reais nomes das escolas, alunos e professoras de Arte, foram descritos por meio do consentimento dos mesmos. 3 In DUTRA, Analice Pillar A Educação do Olhar no Ensino das Artes. Porto Alegre: Meditação, 1999 (p.17).
16
Por essa razão tenho o interesse em saber de que forma estão sendo feitas essas
leituras nas escolas? Os alunos demonstram interesse nas aulas onde a dinâmica é a leitura de
imagens? Quais as imagens utilizadas pelos professores para se fazer leituras? O fazer leituras
de imagens corresponde ao verdadeiro papel da Arte na escola? Essas e outras questões são
abordadas, de forma a contribuir nos esclarecimentos de algumas dúvidas, que se fazem
presentes em nossa prática cotidiana e, talvez, apontando para outros questionamentos.
17
3 - O ENSINO DA ARTE NA ESCOLA
O ensino da Arte vem ao longo dos tempos sofrendo diversas transformações
consideradas de extrema importância, quando se tem em vista um ensino realmente de
qualidade, pois sem considerar a história pela qual percorremos, dificilmente conseguiremos
explicar o que herdamos como professores e professoras de Arte. Necessidade esta
fundamental para melhor compreensão do presente e elaboração de um futuro próximo e
melhor.
Segundo Cabral (2004, p. 25) “o ensino da Arte ainda não alcançou o crédito e a
respeitabilidade devida”. Citar Cabral neste momento é justificar uma preocupação com a
qualidade do próprio ensino da Arte.
Os tempos mudaram e estamos diante de uma nova sociedade, onde as pessoas
pensam e agem de diferentes maneiras, buscando solucionar as diversas questões que nos
desafiam constantemente. E nestas transformações ocorridas no mundo, a Arte sempre esteve
presente. Atualizarmo-nos é fator fundamental e constante. No Brasil, não foi diferente, no
que se refere a mudanças. Com o surgimento de diversos movimentos culturais e artísticos,
em meados do século XX, a Arte passou a ser vista com outros olhos. A Semana de Arte
Moderna que aconteceu no ano de 1922 deu a diversos artistas brasileiros vez e voz, o
surgimento da Bienal de Arte de São Paulo em 1951 e o Movimento Arte-Educação ocorrido
na década de 80, foram de fato, os principais desencadeadores desta nova visão sobre a
importância do ensino e aprendizagem de Arte em nosso país.4
4 Maiores informações no livro “Arte-Educação no Brasil” de BARBOSA, Ana Mãe.
18
O ensino da Arte vivenciou e vivência diversas concepções metodológicas.
Defendemos, atualmente, a Arte como conhecimento e não a Arte somente como o
desenvolvimento de habilidades técnicas, como se acreditava há alguns anos (ou até como
acreditam ainda, alguns professores). Reconhecendo Arte como conhecimento, os professores
de Arte foram conquistando uma prática diferente da então tecnicista. Falar sobre estas
questões com mais propriedade é fundamental para que possamos melhor compreender tais
mudanças. Opto por trazer este assunto, com mais detalhe, no momento da relação criada com
a ação de cada professor, na pesquisa de campo, buscando compreender esta ação com um
olhar para o próprio ensino da Arte.
Na escola, mesmo com as diversas tendências pedagógicas que surgiram ao longo
dos tempos, falo dos estudos sobre o ensino e aprendizagem da Arte, das pontuadas
discussões nas universidades, nos seminários de Arte que se fazem em número cada vez
maior, a Arte ainda não é vista com o devido respeito e como disciplina fundamental no
desenvolvimento social, político e cultural do ser humano. Segundo Mirian Celeste Martins
(1998, p. 13):
a arte é importante na escola, principalmente porque é importante fora dela. Por ser um conhecimento construído pelo homem através dos tempos, a arte é um patrimônio cultural da humanidade e todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber.
Somando a esta fala, acrescento a LDB5 9394/96, que estabelece que o ensino de
Arte será obrigatório no currículo escolar em todos os níveis de educação básica, com o
objetivo de promover o desenvolvimento cultural dos alunos. Repensar a importância da Arte
no espaço escolar é uma questão de direito, reforço.
A disciplina que antes era conhecida como Educação Artística, depois Arte-
Educação, hoje se chama Ensino da Arte e objetiva promover conhecimento por meio dos
conteúdos próprios, relacionados à cultura artística. Esta nova construção de conhecimento a 5 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Brasileira
19
cerca da Arte envolve a experiência do fazer, do fluir e a experiência de refletir sobre a Arte, a
História, seus elementos e os princípios que constituem a produção artística, experiências
estas que são pessoais e de direito de todos.
As linguagens artísticas devem ser conhecidas pelos indivíduos, conhecimento
este que não tem idade, sendo assim, a apreciação, a compreensão, a fruição e a valorização
da Arte serão conceitos adquiridos pelo sujeito para e durante a vida toda. Segundo Cabral
(2004, p.26): “a arte necessita ser compreendida como linguagem que desperta emoção, inspiração, a
imaginação, a sensibilidade e o pensamento, refletindo a complexidade de diferentes culturas”.
A preocupação com a formação dos professores de Arte se faz necessária, o que
deveria estar presente na ação de governantes que se preocupam com a formação dos sujeitos,
talvez de forma utópica, mas esta preocupação está presente, pelo menos na fala de muita
gente. Mas, o despreparo de profissionais da educação que atuam em sala de aula, sendo de
Arte ou não, mostra a necessidade de ações concretas voltadas para a formação continuada de
professores e professoras. Para falar de Arte, do papel do professor de arte, busco em Martins
(1998, p.131) um dizer que: “uma aprendizagem em arte só é significativa quando o objeto do
conhecimento é a própria arte”.
Nas escolas, o ensino da Arte, muitas vezes, ocorre de maneira tradicional e
tecnicista, isto porque se acredita, ainda, que toda pessoa possuidora de habilidades técnicas,
artísticas ou artesanais esteja habilitada a dar aulas de Artes. Nesta perspectiva, Ferraz (1993,
p. 16) coloca que “antes de ser preparado para explicar a importância da Arte na educação, o
professor deverá explicar a função da Arte para o indivíduo e a sociedade”. Isso muitas vezes
não acontece, penso que os profissionais desta disciplina necessitam ter uma formação
acadêmica, para que os mesmos possam apropriar-se das diversas linguagens artísticas, da
articulação entre ensino e aprendizagem e estejam comprometidos com as concepções
20
contemporâneas do ensino da Arte, participando da expansão cultural que refletirá na
formação do sujeito.
O professor de Arte além de conhecer Arte, deve exteriorizar criatividade,
sensibilidade e entusiasmo naquilo que propõe a cada aula, falo do gostar de fazer e apreciar
Arte. Defendo isto também nas outras áreas do conhecimento, pois o sujeito criativo perpassa
todas estas áreas e a Arte é um bom alimento para a criatividade. Os alunos, muitas vezes,
demonstram dificuldades em explorar e comunicar idéias, conhecimento, pensamentos e
sentimentos, o professor na sua dinâmica, deverá possibilitar caminhos para que o aluno se
desenvolva por meio das linguagens artísticas, numa experimentação lúdica e cognitiva,
sensível e afetiva, do poetizar, do fluir e do conhecer Arte.
Arte, somada a pesquisa, torna-se um dos meios mais utilizados para a
apropriação e aprofundamento do conhecimento do sujeito e do mundo. Zamboni (1998, p.21)
defende que “a arte é uma forma de conhecimento, que nos capacita a um entendimento mais
complexo e de certa forma mais profundo das coisas”. Faz-nos acreditar que este
entendimento será mais bem assimilado por nós, à medida que aprofundamos em pesquisas na
busca de respostas para as problemáticas surgidas ao longo de nossa prática educativa. O
professor-pesquisador é instigado para a construção do conhecimento e formação do sujeito,
torna-se ativo e está sempre na busca de algo mais. Como pesquisadora, sinto-me sujeito-
aprendiz, sujeito que ensina e, porque ensina, aprende. Como estudante e professora de Arte,
busco na escola melhor compreender esta relação do ensinar e do aprender, o que me faz
estudante/professora/pesquisadora.
Como professora de escola da rede pública (estadual) de ensino, falo com
propriedade de quem sente a dificuldade da falta de ambientes adequados para a realização
das práticas artísticas. As atividades são realizadas na própria sala de aula, muitas vezes
superlotadas, o que dificulta a realização de atividades como pintura, teatro, dança, música
21
entre outras linguagens artísticas. Os materiais são de responsabilidade dos alunos que, na
grande maioria, não leva para a escola.
Não são estas as únicas dificuldades enfrentadas pelo professor que atua nesta
área de conhecimento, além do espaço físico, teremos a própria dificuldade na formação do
profissional, entre outras. Quando Cabral diz que o ensino da Arte não alcançou o crédito e a
respeitabilidade devida (apresentada na p.12), cabe a nós profissionais da educação, sermos
criativos, dinâmicos de forma a não deixarmos nos abater com essas dificuldades e fazer com
que a Arte na escola ou fora dela seja reconhecida por toda sociedade, buscando políticas
públicas efetivas para este fim. Sem esquecer o que nos alerta Leite (1998, p. 144) “a arte
manifesta-se de forma ampla não é escolarizável, isto é, não pertence à escola, o que não quer
dizer que não deva ser trabalhada também na escola”. Leite nos alerta que não devemos
pensar que a escola é a única instituição ou espaço onde a arte se manifesta, podemos
perceber diversas manifestações artísticas em diferentes seguimentos da sociedade.
Como ler as manifestações artísticas dos diversos segmentos da sociedade? Seria
este o real papel da Arte? Fico com a próxima pergunta que se apresenta como título (ou
subtítulo) para uma seqüência de reflexões.
22
4 - QUAL O REAL PAPEL DA ARTE NA ESCOLA?
Aqueles que estão engajados na tarefa vital de fundar a identificação cultural não podem alcançar um resultado significativo sem o conhecimento das artes. Ana Mae Barbosa
Acreditando que somos todos seres humanos responsáveis pelo meio em que
vivemos, aponto a Arte e o seu papel de importância com a tarefa de criar a identificação
cultural para que mais tarde outros possam reconhecer os que aqui viveram. A Arte é fator
essencial para que possamos compreender a nossa existência. Na escola adquirimos saberes
que levamos para a vida toda, por essa razão não pode a escola negar aos sujeitos o contato
com o fazer e o conhecer Arte. Duarte Junior (1988, p.134) diz que:
a arte é um elemento fundamental para, que expressando suas vivências, o educando possa chegar a compreendê-las e a emprestar significados à sua condição no contexto cultural.
Se observarmos a trajetória do ensino da Arte em nosso país, perceberemos que o
mesmo passou por diversas transformações ao longo dos anos. Somente nos anos 90 a Arte
passou a ser disciplina obrigatória em todos os níveis de ensino, a LDB, Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, que recebeu o nº 9394, 1996:30 – Art. 26–2° (1998, p.193), preconiza: “o
ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis de educação
básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”.
Se Arte é obrigatória no currículo, faz-se necessário destacar o que tratamos por
currículo. Segundo Eisner6 Apud Barbosa (1997, p.84):
currículos compreendem planos, atividades e materiais que têm por finalidade influenciar a experiência de quem aprende (...) elaborar um currículo de artes é distinguí-lo claramente de tudo mais que é ensinado (...). Encarar as artes com seus próprios conteúdos, com a mesma equivalência das outras disciplinas. A arte não deve ser uma auxiliar dos estudos sociais ou das línguas.
6 Professor da Faculdade de Educação da Universidade de Stanford, Estados Unidos. É especialista em estudos sobre currículo e sobre ensino da Arte. É autor de diversos livros sobre os temas citados.
23
Pensar o currículo seria também pensar qual o real papel da arte na escola?
A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998, p.193) apresenta o pressuposto
que: “a Arte gera conhecimento, relaciona-se com as demais áreas, desenvolve o pensamento
artístico e a reflexão estética”. Segundo o PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais 1996,
p.30):
a arte como fato histórico contextualizado nas diversas culturas possibilita o modo de perceber, sentir e articular significados e valores que governam os diferentes tipos de relações entre os indivíduos na sociedade.
Quando se fala em Arte, o termo cultura, na maioria das vezes é utilizado, assim
como em outras discussões, por esta razão acredito ser necessária a definição deste termo para
melhor compreendermos as relações estabelecidas. Segundo Ostrower (1978, p.13):
cultura são as formas materiais e espirituais com que os indivíduos de um grupo convivem, nas quais atuam e se comunicam e cuja experiência coletiva pode ser transmitida através de vias simbólicas para a geração seguinte.
Sendo assim, a Arte é elemento fundamental na vida dos sujeitos, por meio dela
podemos nos comunicar e transformar o meio em que estamos inseridos. Por esta razão, o
acesso a ela deve acontecer de forma a ampliar conhecimentos, não só o dos alunos, mas
todos os que fazem parte da comunidade escolar. Encontro em Fusari (1993, p.20) um dizer
que: “a arte deve ser acessível a todos, numa concepção de escola democrática e deve garantir
a posse dos conhecimentos artísticos e estéticos”.
Sabemos que todos os sujeitos têm o direito e o dever de freqüentar a escola, desta
forma o ensino da Arte torna-se fundamental, pois é ali, na escola, que muitos sujeitos terão a
oportunidade de vivenciar a Arte, que não pertence unicamente a uma determinada classe
social. Para que isto ocorra deve haver um comprometimento de toda a comunidade escolar
para que os sujeitos possam ter acesso à Arte que é um bem cultural da humanidade. Fusari
(1993, p.20) alerta sobre questões de direito:
24
o professor de arte junto com os demais docentes e através de um trabalho formativo e informativo tem a possibilidade de contribuir para a preparação de indivíduos que percebam melhor o mundo em que vivem, saibam compreendê-lo e nele possam atuar.
As aulas de Arte devem ser espaços onde os alunos tenham liberdade de expressar
suas idéias, segundo Silvia Pillotto (2001, p.11):
há que se questionar sobre a possibilidade de o ensino-aprendizagem da arte no contexto escolar ser um veículo de democracia e liberdade aos meninos e meninas com os quais convivemos. Direta ou indiretamente somos responsáveis pelo modo como elas aprendem a sentir e estar no mundo (...) somos também nós no contexto da escola, como profissionais da educação, que ensinamos a ver ou não ver, ser ou não ser, estar ou passar pelo mundo.
Não existe arte sem liberdade. Não existe ensino da Arte sem o exercício da
liberdade. Precisamos pensar mais sobre isto e quanto à leitura de imagens, a liberdade está
presente, quando não apontarmos um direcionamento para o olhar do outro, para melhor
discutir esta proposta a ponto o próximo título (ou subtítulo).
25
5 - A LEITURA DE IMAGENS NA ESCOLA COMO PROPOSTA PEDAGÓGICA
As imagens se fazem presentes constantemente em nosso dia a dia. Para todos os
lados que olhamos, vemos imagens nos bombardeando de informações que, muitas vezes, não
conseguimos digeri-las ou decifrá-las, por acreditar que só podemos ler aquilo que se
apresenta diante de nós, na forma da linguagem escrita. Segundo Rossi (2003, p.10) “por que,
então, ao chegar o momento da alfabetização, na nossa cultura, aprende-se somente o código
escrito, a alfabetização envolve mais do que palavra”. Neste sentido, o ensino da Arte enfatiza
a prática da leitura de imagens em todos os níveis do processo de escolarização, apelando para
a alfabetização visual.
A leitura de imagens como exercício de sala de aula, vamos apontando caminhos
diversificados na própria prática dos professores pesquisados, falo neste momento da
Semiótica (ciência geral dos signos ou da significação), por compreendê-la como uma ciência
nova que vem discutindo a produção de sentido. Ramalho e Oliveira, no seu livro: Imagem
também se lê, vem justificando o exercício da leitura de imagem não só do objeto artístico,
mas do objeto estético.
A Semiótica, como ciência que estuda toda e qualquer linguagem, busca dar
significação para a linguagem visual, que muitas vezes, pouco é explorada devido à rapidez
com que as imagens aparecem e desaparecem do alcance de nosso olhar ou devido à
complexidade com que se apresentam. Como dar o que não temos? Como ensinar o que não
aprendemos?
A Semiótica caracteriza-se pelo estudo das imagens por segmentos que auxiliam
num entendimento maior de quem entra em contato com tais imagens. Falo de um canal de
26
entrada, trazendo a importância do primeiro olhar, que visualiza o todo da imagem, a sua
estrutura básica que determina a organização dos elementos presentes e a relação destes
elementos entre si que dão significação maior na mensagem proposta pelos criadores de
imagens.
Fomos e ainda somos educados a ler textos que possuem a escrita, mas é
importante saber que não é somente por meio de textos escritos que podemos ler o mundo.
Como vivemos em uma sociedade onde as imagens se fazem presentes constantemente, é
necessário que saibamos ler imagens. Neste sentido torna-se necessário que saibamos quais os
procedimentos necessários para que os alunos consigam ver além das formas e das cores
presentes na imagem, falo da mensagem de quem a criou e das possíveis interpretações, ou
seja, ir além dos elementos visuais da obra.
A leitura de imagens se faz uma proposta metodológica importante nas escolas,
segundo Fallgater (2001, p.70):
a leitura de imagens visa o despertar do senso crítico e a apreciação estética, desenvolvendo a percepção e a imaginação enquanto analisa a realidade percebida e desenvolve a criatividade, podendo mudar a realidade que foi analisada.
27
6 – DIALOGANDO COM ALUNOS E PROFESSORES: A LEITURA DE IMAGENS
NO CONTEXTO ESCOLAR
Saber desvelar o que na arte está contido, experimentar o ato de ler, decodificar a gramática visual, corporal e sonora, transpô-la para o mundo real e imagético é acima de tudo compreender os signos do mundo presente. Silvia Sell Duarte Pillotto (2001, p.13)
Perceber a forma como estão sendo realizadas leituras de imagens nas escolas é
intenção primeira para contemplar o que proponho no presente momento. Faz-se necessário,
então, a pesquisa de campo. Realizada em escolas da Rede Municipal de Educação de
Criciúma a ida a campo contribuiu para que dúvidas fossem esclarecidas, bem como para
perceber que o ensino da Arte contempla entre outras coisas, a leitura de imagens, foco desta
pesquisa. Objetivando o entendimento da Arte e a apropriação de aspectos cognitivos e
sensíveis, o ensino da arte na escola segundo Ferraz (1993, p.35) tem também como objetivo:
“ampliar o acesso da maioria da população aos domínios estéticos e artísticos, por meio de
uma educação de qualidade”.
Iniciei a pesquisa de campo com o propósito de melhor conhecer (saber) como as
professoras de Arte estão realizando leituras de imagens em suas aulas. Para tanto, visitei a
escola Hercílio Amante, no bairro Floresta, assistindo duas aulas de Ensino da Arte em uma
turma de 5ª série. Na escola Dionísio Milioli, no bairro Ana Maria na turma de 8ª série e na
escola Serafina Milioli, no bairro Operária Nova, em uma turma de jovens a adultos,
assistindo também a duas aulas de Arte em cada turma. Pude constatar a diversidade das
turmas. Os alunos percebem, entendem e sentem a Arte de maneira distinta o que me parece
ser significativo, pois estranharia se todos vissem e sentissem a Arte de forma igual, o que se
confirma no dizer de Duarte Junior (1988, p.76) “as relações entre os sentimentos e a
28
compreensão se tornam bastante íntimas e imprescindíveis a todo ato de conhecimento
humano”, e a Arte é conhecimento que contribui na formação do sujeito.
Nas visitas que realizei encontrei professores de Arte preocupados com o ensino
da Arte e sua apropriação por parte dos alunos. As propostas de atividades realizadas pelas
professoras nas escolas visitadas têm como objetivo a produção de conhecimentos e a
apropriação da Arte de forma a contribuir na formação do sujeito, o que pode não ser
realidade de outros espaços, pois segundo Silva “o que se tem chamado de aula de arte, na
maioria das vezes, pouco ou nada contribui para essa formação”. Justifico a escolha destas
escolas por terem professoras de Arte que tem em comum a participação no GENDARTE7,
acreditando encontrar suporte para melhor tratar o problema, qual seja: a leitura de imagem
contempla o real papel da Arte na escola?
Falando da 5ª série da escola Hercílio Amante no bairro Floresta, onde a
professora propõe uma leitura das imagens de Piet Mondrian e Gustavo Rosa, apontadas
posteriormente, para dar continuidade a proposta anterior que envolvia história em
quadrinhos, sua montagem enquanto diagramação. A professora busca estabelecer relações
com as imagens, Grande Composição, Tableau II e outras da série do pintor holandês Piet
Mondrian, que pertencem ao período chamado Abstracionismo geométrico. The Cat´s Meow
e Rosto feitos pelo pintor brasileiro Gustavo Rosa também foram contemplados na aula.
Figura 1. Grande Composição – Mondrian Figura 2. Rosto – Gustavo Rosa Figura 3. The Cat´s Meow – Gustavo Rosa Fonte: Catalogo construção sobre o vazio. Fonte: site www.galeriabrasil.com.br Fonte:www.artbonobo.com
7 Grupo de Estudos do Ensino da Arte.
29
As imagens de Piet Mondrian estavam em um livro e as do pintor Gustavo Rosa
em folhas A4. Ao visualizar a imagem reproduzida em folha A4 ou no livro lembrei-me de
um dizer de Sandra Ramalho e Oliveira (2005, p.16):
a arte vem sendo sistematicamente terceirizada (...) as imagens às quais se considera arte são meras reproduções (...) na escola a arte está sendo terceirizada, (...) a imagem fotográfica que reproduz a arte geralmente a modifica em, no mínimo, três de seus elementos constitutivos: dimensão, cor e textura.
As imagens trazidas pela professora foram colocadas em um Episcópio, mas como
imprevistos acontecem: o aparelho não funcionou. Desta forma, as imagens foram mostradas
pela professora no próprio livro e também as folhas A4, o que provocou falas sobre os
elementos visuais presentes nas imagens, como cores, linhas, formas. Esta prática tem relação
com o que diz Ramalho e Oliveira (2005, p.49) quando descreve que:
para penetrar na complexidade da imagem com vistas a uma leitura que contemple seu todo (...) seu plano de expressão, ou seja, tudo aquilo que é perceptível ao olhar, é necessário vasculhar o texto tentando definir a linha ou as linhas que determinam a macroestrutura da imagem visual, também chamada de estrutura básica. Definida a estrutura básica da imagem, parte-se para a observação (...) identificação de seus elementos constitutivos, tais como linhas, pontos cores, planos, formas, luz, dimensão, volume e textura.
Com este dizer de Ramalho e Oliveira, me questiono: até que ponto é necessário
identificar os elementos presentes nas imagens? Somente definindo os elementos visuais é
que podemos penetrar no seu plano de expressão? Será esta a única maneira?
Uma turma de 5ª série pode não possui um conhecimento avançado com relação
aos elementos visuais descritos pela autora, mas se pode perceber que a turma tem um
entendimento significativo com relação a cores, linhas e formas geométricas, pois quando a
professora pergunta: “Quais as cores que você visualiza na imagem?”, “Que tipos de linhas
o pintor utilizou e qual a posição destas linhas?”, Quais as formas geométricas presentes nas
imagens?”. Os alunos respondem em seguida:“Cores primárias”, “Azul, amarelo e
vermelho”, “Linhas retas na horizontal e vertical”, “Linha curva no rabo do gato”, “As
30
formas geométricas que vejo são: quadrados, triângulos, retângulos, círculos etc...”. Basta a
leitura dos elementos visuais da obra para que possamos penetrar na complexidade das
imagens? Precisamos direcionar as leituras?
Após a visualização das imagens citadas acima, a professora agrupou as
composições dos artistas com relação à forma em dois grupos. O primeiro não possui formas
figurativas e o segundo traz a representação figurativa de um gato e o rosto de uma mulher.
Em seguida, cada aluno recebeu metade de uma folha A4 de cartolina e uma folha contendo
várias figuras geométricas fotocopiadas. A professora levou dois exemplos que serviram para
ilustrar sua proposta aos alunos, um deles apresento a seguir:
Figura 4. Atividade utilizada pela professora – feitas em cartolina - que contempla o texto a seguir
Fonte: Da pesquisadora Se eu fosse um losango, convidaria a linha sinuosa para passear, e a linha sinuosa chamaria a linha reta e os triângulos para passear e de tanto papear a gente descobriu que unidos podemos voar.
Cada aluno montou uma história, onde o encontro das figuras geométricas se
transformou em objetos figurativos, tais como: pipas, bandeira do Brasil, casas, palhaços e
muitos outros que surgiram devido à criatividade e a vivência de cada aluno, pois eles
representavam figuras que fazem parte do seu cotidiano de cada um. Duarte Junior (1988,
p.134) quando diz que: “a arte é um elemento fundamental para que, expressando suas
vivências, o educando possa chegar a compreendê-la e a emprestar significados à sua
condição no contexto cultural”, vamos percebendo que só expressamos aquilo que
31
vivenciamos, por tanto ampliarmos esta vivência torna-se um papel fundamental do ensino da
arte. A leitura de imagem amplia esta vivência?
Ao final da aula cada aluno apresentou a sua produção, o que revela a foto a
seguir.
Figura 5. Apresentação dos alunos da 5ª série
Fonte: Da pesquisadora
A produção artística de um deles dizia assim: “Se eu fosse uma bola bem
redonda, com os triângulos e a linha reta iria brincar, iríamos brincar de ciranda e no meio
eu iria ficar, de tanto rodar e rodar vimos que uma flor iria formar”.
Figura 6. Produção artística a partir das figuras geométricas – aluna Regiane - 5ª série
Fonte: Da pesquisadora
Em seguida a professora encerrou a aula concluindo que as figuras geométricas
estão presentes nos objetos que nos rodeiam. Pensar a produção artística do aluno que “de
tanto rodar (...) uma flor iria formar”, me faz refletir na escrita sobre a própria leitura de
32
imagem em imagina-la como uma Flor talvez uma mandala, algo como uma pedra que ao cair
na água vai criando elos (sem fim), como os que se cria, quando desencadeamos um pensar
sobre algo, algo que pode vir a ser uma imagem.
No exemplo citado, há, na mediação da professora, um direcionamento quanto à
visualização da imagem, por parte dos alunos. Este direcionamento pode interferir na leitura e
pode ser chamado de “informação veiculada” no dizer de Leite (2005, p.33) quando se refere
a um fato ocorrido em uma visita a exposição “Esplendores da Espanha – De El Greco a
Velásquez” no Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro, onde placas indicativas descreviam a
obra:
algumas eram informações descritivas da obra, dadas de maneira quase isolada, que em nada contribuíam na contemplação e que, por vezes dirigiam o olhar para detalhes, diluindo a força do todo imagético ali presente.
No momento da leitura faz-se necessário o tempo para a contemplação e relação
com o outro (no caso a imagem), Leite (2005, p. 44) diz ainda que:
não é nada fácil manter-se aberto à alteridade que interrogamos – e a experiência estética pressupõe isso; ela é a relação com o outro; exige, do contemplador, a criação de sentido. O tempo da experiência é fundamental: o olhar sensível não reconhece imediatamente; exige atenção flutuante. Depois, organiza e classifica.
Não posso negar que a mediação é importante, mas esta “não pode se sobrepor à obra”,
Leite (2005 p.44), pois a proposta de leitura de imagem contribui para que os sujeitos se expressem
por meio de suas vivencias. Nesse sentido Leite (2005, p.45) diz que: “cada sujeito se constitui por
meio da sua história de vida, é interessante poder observar como as diferentes crianças interpretam
uma mesma obra de arte”. Dependendo da forma como a mediação é realizada, ela dificulta a
interpretação da imagem por parte dos alunos.
Outro fato que me chama a atenção e me questiona são os modelos. No fazer
artístico a professora levou modelos de atividade para que os alunos soubessem como fazer os
seus. Até que ponto isso é válido? Modelos trazidos pelo professor não direcionam o olhar e
33
interferem na produção do aluno? Ferraz (1993, p.30), quando se refere a “Pedagogia
Tradicional” nas aulas de Arte diz que as produções: “valorizavam o traço, o contorno e a
repetição de modelos” e que este ensino “concentram-se apenas na transmissão de conteúdos
reprodutivistas, desvinculando-se da realidade social e das diferenças individuais”.
A professora que não se apresenta com uma Pedagogia Tradicional, ainda a traz no
seu próprio hibridismo, quando soma na sua formação concepções de ensino de artes variadas.
A segunda visita foi na escola Dionísio Millioli, no bairro Ana Maria, em uma
turma de 8ª série. Nesta turma, a proposta de leitura de imagem aconteceu com a “Guernica”
do pintor espanhol Pablo Picasso, que pertence ao Cubismo. Essa é uma imagem muito citada
no campo das artes, ela é, como diria Loponte, (2004, p.340): “imagens já filtradas pelos
discursos, iluminadas pelas palavras que as vangloriam”. Mas não podemos negar sua
importância histórica e a relação com outras produções artísticas que devem surgir não só na
escola.
Figura 7. Guernica – Picasso
Fonte: Pinacoteca Caras
Na semana em que estive na escola estava acontecendo no estado da São Paulo
uma guerra entre policiais, bandidos e civis que repercutiu em todo o país. As imagens
mostradas na TV e na internet eram chocantes. Este fato foi responsável pela escolha da
professora da proposta de leitura de imagem utilizada na aula de Artes, segundo o depoimento
da própria professora: “Eles estão assistindo na TV e chegam na sala contando para os
34
colegas, não poderia a escola deixar passar em branco. Como professora quero fazer essa
discussão com eles estabelecendo relações através da arte”.
A imagem utilizada faz parte da Pinacoteca Caras. A professora colocou no quadro
para que os alunos pudessem visualizar a imagem. Os alunos iniciaram com a exploração dos
elementos constitutivos da imagem, eles descreviam as cores, linhas, formas, planos, entre
outros existentes através de um bate papo: “Ele não utiliza cores vivas somente cores
neutras”, diz um aluno, em seguida outro responde: “Para representar a destruição que
aconteceu ele não poderia usar rosa, amarelo azul e verde estas cores não mostram tristeza e
destruição”, “há vários planos na imagem, por que tem pernas, atrás tem cabeça de animais
e mãos, ta tudo misturado”, completou outro aluno. A professora que ficou sentada ao meu
lado assistindo a “discussão” sussurra: “Eles são bem críticos, até mesmo na produção dos
colegas, mas não criticam para avacalhar e sim para melhorar a compreensão e ver onde
podem melhorar”. Após a visualização da imagem a professora sugeriu que todos fechassem
os olhos e imaginassem caso a imagem tivesse som, qual som seria?Ao abrir os olhos os
alunos descreveram que os sons que poderiam fazer parte da imagem seriam gritos, choros,
explosões e outros que lembrem o horror presente nos lugares que vivem em guerra. Cada
aluno reproduziu o seu som ao mesmo tempo podendo perceber quão tumultuada é uma
guerra.
Utilizando folha A4 e lápis 6B os alunos iniciaram suas produções a partir da
experiência que tiveram, falo dos sons produzidos e da imagem observada.
Figura 8. Desenho realizado pela aluna Fram – 8ª série Figura 9. Desenho realizado pela aluna Ana – 8ª série
Fonte: Da pesquisadora
35
Os alunos estabeleceram relações com os acontecimentos de violência no estado
de São Paulo e a imagem estudada para a realização de suas produções artísticas como
podemos perceber nas imagens acima. Quando isto acontece, a produção torna-se significativa
ou o que diz Rossi (2003, p.57):
quando o aluno relaciona os elementos presentes na imagem com alguma coisa que poderia ter acontecido, ou poderá acontecer, ele está usando a narrativa para interpreta-la. É o tema representado que conduz a leitura da imagem, tornado-a animada.
Os alunos fizeram uma apresentação das produções, cada um ficava de pé
mostrando sua produção e falando porque tinham feito e o que sentiram ao fazer. Eles diziam:
“Procurei mostrar as coisas ruins que a guerra pode causar”, “Quero expressar através do
meu desenho os gritos e a dor das pessoas que vivem nos locais, onde há guerra”. “Quero
conscientizar as pessoas que o mundo não pode viver em guerra”.“É preciso acabar com a
violência em São Paulo e em todo o país, eu não quero guerra aqui”. Em seguida
organizaram um mural na parede da sala e partiram para uma pesquisa coletiva sobre a vida,
obras, estilo de Pablo Picasso, o qual somou-se ao mural como informações sobre o artista.
A prática de estudo da vida e obras dos artistas é muito importante, mas devemos
tomar cuidado no momento da leitura para não confundir a própria definição da Arte, pois
Loponte, (2004, p.339) nos alerta: “suas vidas e produções confundem-se com a própria
definição de Arte” e o papel do professor é proporcionar discussões sobre Arte que possam
esclarecer e não que confundam de forma a causar um distanciamento do sujeito no campo
das artes por não conseguir se fazer entender, o artista é importante, mas mais importante é o
sujeito com o qual estamos trabalhando e seu processo de construção de conhecimento.
A professora desta escola não fez uma leitura direcionada, ela colocou a imagem
no quadro e pediu que os alunos falassem o que viam. Ao ser perguntada se faz a exploração
dos elementos, linhas cor etc... e se utiliza sempre uma única imagem em cada proposta de
36
leitura ela responde: “a Guernica é forte, e diz muito. Quero que os alunos saibam o que ela
quer dizer, não por mim ou pelo pintor , mas por eles mesmos”. Nesta perspectiva Rossi
(2003, p.17) descreve: “o espectador não está mais diante de uma janela para interpretar a
obra, e sim diante de uma porta aberta, por onde ele entra para viver a obra”. Vamos abrir as
portas e deixar que nossos alunos vivam a obra.
Na escola Serafina Millioli, a experiência foi diferente, a observação aconteceu em
uma turma do Proeja8.
Ao iniciar a aula, poucos alunos estavam na sala, no andamento da mesma, os
outros foram chegando. Ao entrarem na sala, o tumulto era grande, o que dificultou a proposta
de leitura de imagem elaborada pela professora, que se mostrou constrangida com o
comportamento dos alunos.
A professora utilizou produções feitas pelos alunos na aula anterior que tinham
como título “Brincando com as imagens”. Estas produções tinham semelhança com imagens
do Cubismo e foi então que as imagens de Pablo Picasso: “Menino vestido de marinheiro com
rede para apanhar borboletas”, “Mulher no espelho” e “Três músicos” foram surgindo no
retoprojetor.
Figura 10 e 11. “Mulher no espelho” e “Três músicos” – Picasso (imagens projetadas na sala de aula)
Fonte: Da pesquisadora
8 Programa de Educação de Jovens e Adultos.
37
Os questionamentos sobre os elementos que constituem as imagens eram feitos,
mas a turma não correspondia. Na tentativa de atrair a atenção do grupo à professora opta por
imagens surrealistas, o que não surtiu efeito.
Figura 12 O Violonista Verde – Chagall Fonte: Da pesquisadora
Saí da escola triste com a atitude que os alunos tiveram, pois eles não se deram a
oportunidade para a aquisição de novos conhecimentos por meio da Arte. Sim porque Arte é
produção de conhecimento e segundo Pillotto (2001, p.17):
a contribuição do ensino da arte no contexto da escola, é para que meninos e meninas desenvolvam suas capacidades emocional, sensível, perceptiva e cognitiva, visando sempre levá-los a ser e estar cada vez mais humano.
Mesmo em se tratando de um grupo de jovens e adultos, acredito que faltou
sensibilidade para que tanto alunos pudessem abrir um espaço para a Arte, como da própria
professora que, apesar de sua competência, não conseguiu atraí-los para a proposta, o que fica
injusto culpá-la, mas pode nos fazer pensar no quanto é difícil assumirmos o papel de
trabalhar a arte no espaço tão formal que é a escola.
38
Para Greimas (semiótica francesa) imagem é texto, tudo é texto. Seria possível
fazer uma leitura sobre o que aconteceu e ver até que ponto a leitura contempla o real papel da
Arte na escola? Considerando a cena um texto, posso lê-la e interpreta-la? O movimento da
turma exigiria um outro encaminhamento que não o da leitura? Como perceber, decidir e
buscar outros recursos quando o que preparamos não dá certo?
Talvez a leitura aconteça no momento em que a turma tomar uma postura
diferente em relação às aulas de Arte, agindo com comprometimento, interesse e
responsabilidade, pois vontade e entusiasmo percebi que a professora possui ao ver seus
planos de aulas, o que me alegra, pois é bom saber que, mesmo com a dificuldade que ela
encontra na dinâmica da aula, ela se organiza, estuda e planeja suas aulas.
O tempo disponível para a realização deste estudo foi reduzidíssimo, o número de
escolas foram insuficientes, porém foi o que o tempo possibilitou uma vez que no início a
proposta era visitar professoras das escolas estaduais que por vivenciarem um período extenso
de greve me fez tomar outro caminho. A escolha das escolas da Rede Municipal de Educação
de Criciúma não aconteceu por acaso. No início destes escrito,s cito que em outra
oportunidade, realizei uma pesquisa sobre o ensino e aprendizagem de Arte no espaço escolar
“espaço das oficinas”. Naquela oportunidade visitei a Escola Municipal de Educação Infantil
e Ensino Fundamental “Padre Ludovico Cóccolo”, no Bairro São Luiz e que faz parte da rede
Municipal de Educação de Criciúma. Nesta escola a professora de arte participa do
GENDARTE, procurei como referência outras professoras deste grupo que trabalhassem na
Rede Municipal e por tanto não estariam em greve. Em um curso no Sesc em Criciúma, fui
apresentada a professoras da terceira escola citada anteriormente e perguntei se ela podia
desenvolver uma proposta de leitura de imagens na escola onde ela trabalha para que eu
pudesse assistir, pois estou escrevendo uma monografia sobre o tema. Ela aceita e sugere as
outras profissionais que também contribuíram com esta pesquisa. Até então, não tinha nem
39
um contato com as outras professoras e foi por meio do telefone que pedi a permissão para
assistir às aulas, o fato de participarem de um mesmo grupo de estudos, facilitou os contatos.
O encontro com as professoras aconteceu no momento em que visitei suas
escolas. Ao me receberem, disseram:
Professora 1. “Que bom que você esta escrevendo sobre leitura de imagem, esta é uma proposta utilizada nas escolas. Nós propomos nas aulas de arte, mas nem sempre elas dão certo”. Professora 2. “Os alunos devem fazer leituras de várias imagens para compreender o mundo que o rodeia”. Professora 3. “Os alunos se identificam muito com as propostas de leitura que realizo em minhas aulas”.
Com estas falas e a observação feita, pude perceber que a leitura de imagens como
proposta de ensino e aprendizagem em Arte está presente nas escolas. Muitas vezes, esta
proposta pode não dar certo e que a leitura de imagens não pode ser o único método utilizado
no ensino da Arte.
A seguir apresento um gráfico para melhor esclarecer alguns dados da pesquisa de
campo:
Escolas Turma Nº de alunos Professoras Formação Tempo de
GENDARTE
Hercílio
Amante
5ª série 30 Isabel Educação
Artística –
Unesc. Pós
Graduação
Ensino da
Arte- Unesc.
1 ano
Dionísio
Millioli
8ª série 25 Marlene Artes
Plásticas –
Unesc. Pós
Graduação
Metodologia
3 anos
40
do Ensino e
Pesquisa em
Artes –
Faculdade
Integrada do
Vale do
Ribeira
Serafina
Millioli
Jovens e
Adultos
22 alunos Alenir Graduada e
Pós-Graduada
pela UNESC.
3 anos
As professoras, como citei anteriormente, participam do GENDARTE e como
tenho o interesse em saber qual a contribuição deste grupo no ensino da Arte, perguntei o que
elas acham do grupo e suas respostas foram: Professora Marlene “É um grupo muito bom! Lá
nós trocamos idéias positivas e negativas, ampliamos conhecimentos. Estamos abertos a
críticas e valorizamos a Arte”. Professora Isabel “É um grupo ótimo! Os encontros são
momentos de discutir novas tendências em relação à Arte”. Professora Alenir “O grupo é
muito bom, através dos relatos e discussões realizados nos encontros podemos sempre estar
avaliando nossa prática, enquanto professores de Arte”. Percebendo a identificação das
professoras com o grupo que freqüentam, penso na possibilidade de poder fazer parte deste
e/ou de outros grupos, assim como acredito na importância da participação de todos e todas as
professores (as) em grupos de estudo, sendo professor (a) de arte ou não, uma vez que a
dialética do conhecimento exige do profissional da educação uma constante formação.
Como descrevi anteriormente a saída de campo foi extremamente importante na
realização desta pesquisa. Por meio das visitas que realizei nas escolas, encontrei as respostas
para algumas perguntas, como também observei fatos dos quais surgiram outros
questionamentos que servirão como pesquisas futuras. Aponto: Como justificar o uso
41
predominante de imagens de artistas internacionais nos espaços escolares que defendem uma
proposta voltada a realidade do aluno?
42
7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
A arte não representa o visível, ela torna visível.
Paul Klee
A leitura de imagem como foi citada até o presente momento, está sendo utilizada
nas aulas de arte como proposta de ensino e aprendizagem. Resta saber se ela contempla o
real papel da Arte na escola?
Analisando as propostas de ensino aprendizagem por meio da leitura realizadas
nas escolas que visitei, percebi que todas as professoras iniciaram com a leitura da imagem ao
propor a atividade. Esta prática está ligada ao conceito que se formou em torno da “Proposta
Triangular”, difundida e orientada por Ana Mae Barbosa e que segundo Ferraz (1993, p.35):
está sem dúvida interferindo qualitativamente no processo e melhoria no ensino da arte, tem por base um trabalho pedagógico integrador de três facetas do conhecimento em arte: o “fazer artístico”, a “análise de obras artísticas”e a “história da arte.
Esta proposta contribuiu muito no ensino da Arte, mas será por meio dela a única
forma de se ler imagens? O uso constante desta proposta pode se tornar vício e atrapalhar o
processo de aprendizagem e construção de conhecimento por meio da Arte? Por meio das três
vertentes a construção de conhecimento pode ficar em dependência? Seria a leitura um
caminho para a compreensão do que é Arte ou não? Como mediar a construção do
conhecimento sem iniciar pela leitura? Quando a proposta inicia pelo fazer artístico, há
interferência? Estas são algumas das perguntas que faço. O papel do professor, enquanto
mediador de leitura de imagem, exige um competente trabalho docente, pois este segundo
Ferraz (1993, p.36):
terá de entrelaçar a sua prática teórica – artística e estética” na consistente proposta pedagógica (a proposta de leitura), para isso “é preciso saber arte e saber ser professor de arte (...) interferindo no processo educativo atendendo as questões individuais e sociais dos alunos, às suas necessidades e
43
interesses e, ao mesmo tempo, proporcionem o domínio de conhecimentos básicos da arte.
É evidente que a presença das imagens na sala de aula é importante, mas nada se
compara a relação sujeito-obra, o contato com Arte original, digo ver ao vivo. Num dizer
Leite (2005, p.24) esclarece esta questão:
quando se fala em relação sujeito-obra, não se pode confundir idas ao museu com a possibilidade de ver um CD-ROM com as obras de arte; assim como ir ao cinema é diferente de ver vídeo, ou ir ao teatro não é o mesmo que assistir a um grupo teatral encenando uma peça numa escola(...) o teatro não vai até a escola – sua ambientação, sua arquitetura, seu cheiro, sua temperatura, seu glamour , as pessoas que ali estão...isso é insubstituível.
Por esta razão, defendo a importância de se realizar visitas com os alunos a
museus, galerias para que os mesmos possam sentir o ambiente, relacionar-se com outras
pessoas que lá estiverem e, o mais importante, ver a obra ao vivo. Por experiência afirmo o
que diz Leite, quando afirma que isto é insubstituível e reforço dizendo que se faz necessário
como no dizer de Coli (2003, p.129): “não é apenas necessário termos acesso às artes pelos
álbuns, pelo rádio, pelos discos, pela televisão, é necessário também ir a museus, a concertos,
a teatros, a cinemas, a exposições. É necessário visitar monumentos. É necessário poder ler”.
Para que essa leitura aconteça, cabe a nós professores de Arte, bem como toda a comunidade
escolar nos unirmos para proporcionar aos alunos este contato com a mesma, pois Coli (2003,
p.129) ressalta qual a nosso papel como professores: “somos condenados a redobrar nosso
empenho, nosso interesse, nossa busca”, busca esta que deve ser constante em nossa prática
escolar, aguçando-nos para que possamos no meio das dificuldades encontradas no dia a dia,
nos superarmos e seguir em frente, sempre com o objetivo de formar sujeitos pensantes e
atuantes. Não podemos esquecer que visitar museus, galerias, cinemas e teatros são realidade
de poucas pessoas, mas este é um problema social, o qual devemos lutar para superá-lo, pois
segundo Coli (2003, p.129):
o problema não é mais individual, mas social, do direito a freqüentação (..) as pessoas que em nossa sociedade têm consciência do papel fundamental desempenhado pela arte no seio da cultura, são forçosamente obrigadas a
44
colocar o problema do acesso à obra. É necessário exigir os meios da freqüentação.
Penso ser necessário também, um olhar sobre a estética do cotidiano, sendo esta
uma grande aliada na produção de conhecimento do aluno e deve estar presente nas propostas
de leitura. No dizer de Ferraz (1993, p.16-17) entenderemos qual a sua importância:
desde a infância, tanto as crianças como nós, professores, interagimos com as manifestações culturais de nossa ambiência e vamos aprendendo a demonstrar o nosso prazer e gosto , por imagens, músicas, falas movimentos, histórias, jogos e informações com os quais nos comunicamos na vida cotidiana(...). Gradativamente, vamos dando forma às nossas maneiras de admirar, de gostar, de julgar, de apreciar – e também de fazer – as diferentes manifestações de nosso grupo social e, dentre elas as obras de arte. É por isso que mesmo sem o saber vamos nos educando esteticamente no convívio com as pessoas e as coisas.
Falando da importância do convívio, cito os grupos de estudos que se fazem
realidade entre professores da Arte como o GENDARTE, entre outros. Faz-se necessário que
este convívio aconteça entre todos os professores de Arte por meio da ampliação destes
grupos em outras cidades da região carbonífera, para que estes não fiquem restritos apenas à
cidade de Criciúma e aos professores que lá residem. Acredito na importância de se realizar
estes encontro, para que os professores discutam suas propostas de aprendizagem por meio da
Arte, troquem experiências, realizem estudos, (pesquisas), que contribuirão na resposta de
perguntas que são constantes em nossa vida, pois segundo Silva (2003 p.123): “quando
pararmos de fazer perguntas, teremos parado de buscar respostas”. Somada esta fala e a de
Coli citada anteriormente, acredito neste viver em busca constante de respostas, mesmo
sabendo que neste processo surgem outras perguntas, pois são estas perguntas que buscamos
responder que nos conduz ao conhecimento, impulsionando nossa vida profissional e,
sobretudo humana.
Chegada à conclusão desta pesquisa é inegável a importância da leitura de
imagem como proposta de ensino aprendizagem em Arte, sendo que vivemos cercados por
45
imagens e, por vezes, nos vemos agindo em função delas. Podemos perceber esta afirmação
num dizer de Ramalho e Oliveira (2005, p.85):
este trabalho trata do mundo das imagens que nos rodeia. De textos visuais que nos seduzem, nos fazem ficar alegres, maravilhados, emocionados, frustrados... são imagens que nos fazem correr, trabalhar, e comprar mais. Isso porque as imagens falam(...) e se não sabemos como falam essas imagens, acabamos não podendo fazer nossas escolhas com liberdade.
É necessário que os sujeitos saibam fazer suas escolhas, por esta razão, como a
proposta de leitura de imagem contribuiu no desenvolvimento desta liberdade, pois “a obra
fala para o imaginário de cada criança de forma singular” Leite (2005, p.46), sendo assim, sua
leitura não pode ser abolida do contexto escolar em específico das aulas de Arte. Este olhar
imagens para que se faça a leitura deve acontecer constantemente. Leite (2005, p.42) nos
alerta sobre esta questão: “a apreciação de obras não é um dom inato - nosso olhar é
construído dia a dia e essas possibilidades de experiência estética fazem parte de nossa
formação cultural”. Formação está que ocorre durante e para a vida toda.
46
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte: Anos oitenta e novos tempos. Porto Alegre: Iochpe, 1991.
______. Arte Educação: Leitura de Subsolo. São Paulo: Cote, 1997.
______. Tópicos e Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998.
BECKETT, Wendy. História da Pintura. São Paulo: Ática, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 1997.
CAMPOS, Vera Lúcia. A Leitura de Imagem como Proposta Pedagógica no Ensino-Aprendizagem das Artes Visuais. In: PILLOTTO, Silvia Sell Duarte e, SCHRAMM, Marilene de Lima Körting. (orgs.). Reflexões sobre o Ensino da Arte. Jonville: Univille, 2001. (p.114 – 127).
COLI, Jorge. O que é arte. São Paulo: Brasiliense, 2003.
DEICHER, Susanne. Piet Mondrian 1872- 1944: Construção sobre o vazio. Catálogo nº 16. Benedickt Taenchen, 1995.
DUARTE JÚNIOR, João Francisco, Fundamentos estéticos da educação. Campinas, SP: Papirus, 1988.
DUTRA, Analice Pillar. A Educação do Olhar no Ensino das Artes. Porto Alegre: Meditação, 1999.
FALLGATER, V. Ketleen. O desenho motivado pela leitura de imagem. In: PILLOTTO, Sílvia Sell Duarte & SCHRAMM, Marilene de Lima Körting (orgs.) Reflexões sobre o Ensino das Artes. Joinville, SC: Univille, 2001.
FUSARI, Maria F. de Rezende e FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1993.
______. Metodologia do Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 1993.
KRAMER, Sônia; LEITE, Mª Isabel F. P. (orgs.). Infância e produção cultural. Campinas, SP: Papirus, 1998.
LAPONTE, Luciana Gruppelli. As vidas dos “Artistas Famosos” educam? Produção de Discurso sobre arte, artista e gênero. In: CORRÊA, Ayrton Dutra. (orgs.). Ensino de artes: Múltiplos olhares. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004. (p.337 – 356).
LEITE, Mª Isabel: OSTETTO, Luciana Esmeralda (orgs). O Museu, Educação e Cultura: encontro de crianças e professores com arte. Campinas: São Paulo. Papirus, 2005.
47
MARTINS, Mirian Celeste et ali. Didática do ensino da arte: língua do mundo, poetizar fluir e conhecer arte. São Paulo: FTD S. A, 1998.
ORSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Rio de Janeiro: Imago, 1977.
PILLOTTO, Sílvia Sell Duarte. Epistemologia no ensino-aprendizagem da arte: uma questão de reflexão. In: _______ & SCHRAMM, Marilene de Lima Körting (orgs.) Reflexões sobre o Ensino das Artes. Joinville, SC: Univille, 2001. p.10 a 17.
PINACOTECA CARAS. Pablo Picasso. Catalogo
RAMALHO e Oliveira, Sandra. Imagem também se lê. São Paulo: Rosari, 2005.
ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto Alegre: Mediação, 2003.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO DE SANTA CATARINA. Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina, Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio; Disciplinas Curriculares. Florianópolis: COGEN, 1998.
SILVA, Silemar Maria de Medeiros. Tese de Mestrado de “Projeto oficina de arte da rede pública municipal de educação de Criciúma: uma proposta para a formação do sujeito” UDESC, (1993-2003).
Site www.art-bondro.com/artesgustavorosa/ welcome html – 12 -.
Site www.gaaleriabrasil.com.br/gustavo rosa
ZAMBONI, Sílvio. A pesquisa em arte: um paralelo entre arte e ciência, polêmicas do nosso tempo. São Paulo: Autores Associados, 1998.
48
ANEXOS
49
AUTORIZAÇÃO
Eu Denise Velho da Silva, aluna da Pós-Graduação em Ensino da arte da UNESC,
peço autorização à direção da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental
Serafina Millioli, para fazer uso do nome desta escola, na monografia de conclusão do curso
citado anteriormente, bem como o nome da professora de Arte.
Criciúma, Agosto de 2006.
______________________________ ___________________________ Direção da Escola Professora de Arte
50
AUTORIZAÇÃO
Eu Denise Velho da Silva, aluna da Pós-Graduação em Ensino da arte da UNESC,
peço autorização à direção da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental
Dionísio Millioli, para fazer uso do nome desta escola, na monografia de conclusão do curso
citado anteriormente, bem como o nome da professora de Arte.
Criciúma, Agosto de 2006.
______________________________ ___________________________ Direção da Escola Professora de Arte
51
AUTORIZAÇÃO
Eu Denise Velho da Silva, aluna da Pós-Graduação em Ensino da arte da UNESC,
peço autorização à direção da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental
Hercílio Amante, para fazer uso do nome desta escola, na monografia de conclusão do curso
citado anteriormente, bem como o nome da professora de Arte.
Criciúma, Agosto de 2006.
______________________________ ___________________________ Direção da Escola Professora de Arte
Top Related