JOGOS COOPERATIVOS: Ressignificando o Esporte Escolar
JUEGOS COOPERATIVOS: Dar un nuevo significado a la Escuela de Deportes
1 Cirlene Gonçalves Pádula 2Sueli Carrijo Rodrigues
RESUMO
Este artigo refere-se ao projeto de pesquisa elaborado para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), desenvolvido no período do ano de 2008. Critica o esporte praticado no ambiente escolar e apresenta uma metodologia alternativa, desenvolvida a partir dos princípios dos Jogos Cooperativos. Busca a ressignificação do esporte voleibol nas aulas de Educação Física, para o 1º ano do Ensino Médio. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, aplicada através da proposta da pesquisa-ação. Utilizou-se dos seguintes procedimentos: Sensibilização ao tema (Direção; Equipe Pedagógica, Professores, Funcionários e alunos); Inserção do projeto na realidade; Assimilação, reelaboração e produção de atividades teóricas e praticas; Organização de uma minicompetição de voleibol; Avaliação investigativa (Entrevista diagnóstica, Check list e Depoimentos); Registro das dificuldades encontradas e possíveis soluções. Analisou-se os dados qualitativamente através das respostas dadas pelos atores às atividades propostas, do comportamento e da atitude dos alunos. O foco principal esteve na aula de Educação Física, e conseqüentemente na atuação da professora e pesquisadora e não apenas na observação dos acontecimentos. Como resultado obteve–se que esta metodologia de trabalho é viável e bem aceita pelos alunos.
Palavras chave: Educação. Educação Física. Jogos Cooperativos. Ensino Médio.
RESUMEN
Este artículo hace referencia al proyecto de investigación elaborado para el Programa de Desarrollo Educativo (PDE), desarrollado durante el año 2008. Critica el deporte practicado en el entorno escolar y presenta un enfoque alternativo, desarrollado a partir de los principios de los juegos cooperativos. Consulta la significación de balonvolea en las clases de educación física para el 1er año de la escuela secundaria. Se trata de una encuesta cualitativa, aplicada a través de la investigación-acción propuesta. Se utilizaron los siguientes: arribar el tema (administradores, el Equipo, Facultad de Pedagogía, personal y estudiantes) insertar el proyecto en realidad, la asimilación, el rediseño y la producción de la teoría y actividades prácticas, la organización de una minicompetición de balonvolea; Calificación de encuesta (entrevista de diagnóstico, listas de verificación y testimonios), registro de las dificultades encontradas y las posibles soluciones. Se analizaron los datos de manera cualitativa a
1 Professora de Educação Física da Rede Pública do Estado do Paraná. Universidade Estadual de Londrina. Especialização em Magistério da Educação Básica, com concentração em Interdisciplinaridade na Escola. Faculdades Integradas “Espírita” E-mail: [email protected] Professora do Curso de Educação Física da Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP. Jacarezinho. Mestre em Educação. Universidade Estadual de Londrina – UEL. Doutora em Educação. Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
través de las respuestas dadas por los actores a las actividades propuestas, el comportamiento y la actitud de los estudiantes. El objetivo principal era la clase de educación física, y por lo tanto el desarrollo del profesor y de investigador y no, sólo la observación de los acontecimientos. Como resultado se comprobó que esta metodología de trabajo es factible y bien aceptada por los estudiantes.
Palabras clave: Educación. Educación Física. Juegos Cooperativos. Escuela.
1. INTRODUÇÃO
A Educação Física, muitas vezes sem perceber, ao trabalhar com Jogos
Brincadeiras e o Esporte Escolar tem reforçado valores como: ser o melhor,
focalizando o resultado e não o processo e a qualidade, reforçando algumas
características como a superioridade, a competitividade e o individualismo, gerando
a exclusão. Com base nesses pressupostos, apresenta-se o seguinte problema para
estudo: Será possível utilizar uma metodologia para se trabalhar o esporte na escola
de uma forma não excludente? De qual forma?
O esporte escolar que atualmente é transmitido no ambiente da escola está
fortemente atrelado a competição, refletindo a ordem cultural de um sistema
econômico. Se a competição excludente da sociedade capitalista não representa
uma dinâmica aparentemente adequada, deve-se tentar mudar esta direção, e
caminhar em busca de uma sociedade mais cooperativa, democrática, solidária e
justa. Portanto, pretende-se apresentar novos valores, intervir, dar uma direção ao
processo educativo em um sentido crítico. (BRACHT, 1992). Não objetiva-se abolir a
competição, mas atribuir a ela um significado menos central, e mostrar que há
alternativas de participação nas aulas e na sociedade. O estudo evoluiu no sentido
de ressignificar e afirmar que o esporte escolar, em específico o esporte Voleibol,
para o 1º ano do Ensino Médio, pode ser utilizado através de uma outra perspectiva,
a dos fundamentos dos Jogos Cooperativos. que seja crítica, transformadora e
inclusiva, questionando as práticas da Educação Física como instrumento ideológico
da sociedade dominante. Esta é uma pesquisa de natureza qualitativa, aplicada
através da proposta da pesquisa-ação, que tem base empírica por estar voltada para
a descrição de situações concretas e para a intervenção ou a ação orientada em
função da resolução de problemas efetivamente detectados. Porém, não deixa de
colocar questões relativas aos quadros de referência teórica, sem os quais a
2
pesquisa empírica não faria sentido. O estudo desenrola paralelamente ao
acompanhamento da ação. A mediação teórica está presente em todas as fases de
desenvolvimento do trabalho.
Para transformar essa realidade exclusiva e tornar a escola um ambiente
alegre, inclusivo, agradável de estar, de aprender, é necessário repensar algumas
práticas pedagógicas, procurando utilizar atividades que valorizem as experiências e
desejos dos alunos e, jogos que criem oportunidades para o desenvolvimento físico,
moral e intelectual garantindo, dessa forma, a formação de um indivíduo com
consciência social, crítica, solidária e democrática.
A Educação Física é capaz de proporcionar todas estas oportunidades, pois é
uma área de conhecimento que não se limita, ou melhor, não deveria se limitar, ao
esporte. Quando trabalha com ele, necessariamente não precisa ter como único
modelo o esporte de rendimento, ou seja, o competitivo. A Educação Física pode e
deve mostrar que há alternativas de se trabalhar com este conteúdo, buscando
contribuir para uma sociedade menos excludente.
2. EDUCAÇÃO FÍSICA E AS PEDAGOGIAS CRÍTICAS.
Na década de 1980, iniciou-se um debate crítico, principalmente de
orientação marxista, no pensamento pedagógico brasileiro em relação à função do
sistema educacional. Esta crítica denunciava o papel conservador da educação
que, através de sistemas ideológicos, marginalizadores e de exclusão, contribuía,
não para a transformação da realidade social, mas sim para sua reprodução nos
moldes vigentes. (BRACHT, 2005)
Criou-se pelos estudiosos na área da Educação, um movimento que procurou
construir alternativas para o sistema educacional, dando origem às chamadas
Pedagogias Progressistas, ou críticas, cujo objetivo era colocar a educação na
perspectiva da transformação social, contribuindo para a busca de uma sociedade
mais democrática, solidária e igualitária.
Segundo Bracht (2005), a adesão teórica referente às Pedagogias
Progressistas, parece ser maior do que a sua efetiva prática. Alguns estudos
mostram que o conhecimento destas propostas é grande no meio acadêmico, mas
ainda pequeno entre aqueles que estão em atividade nas escolas de ensino
3
Fundamental e Médio.
Partindo dessa constatação buscou-se implementar a Educação Física na
perspectiva da colaboração na transformação social.
A escola deve ser um instrumento de luta contra a marginalidade, onde deve
garantir um ensino da melhor qualidade possível aos trabalhadores. Deve-se
valorizar e priorizar os conteúdos relevantes e significativos.
O professor deve ser um intelectual da educação, dominar o saber da classe
dominante, para transmiti-lo às classes dominadas. Ser o transformador e o
mediador entre os alunos e o complexo cultural. Transformador. Ter bem claro quais
são os objetivos político-pedagógicos que possam orientar os seus conteúdos e
métodos num sentido crítico-social.
(...) o trabalho docente é uma atividade conjunta entre professor e aluno, onde o primeiro planeja, organiza, dirige e controla o ensino, tendo em vista a atividade dos alunos; que o principal fator de ensino é a contradição entre as tarefas teóricas e práticas do ensino, e nível de conhecimentos, hábitos e capacidades dos alunos em função da idade; que o ensino deve ter como ponto de partida e ponto de chegada a atividade prática dos alunos no seu cotidiano, no trabalho, na sociedade; que é preciso conjugar a atividade individual com a coletiva, de acordo com o princípio de que o coletivo promove o bem de cada um e cada um promove o bem da coletividade; que o ensino não visa apenas à instrução, mas, por meio dela, à educação de uma pessoa convicta, de caráter, capaz de transformar os conhecimentos e habilidades em ações práticas em seu próprio benefício e no da coletividade. (LIBÂNEO, 1988, apud GUIRALDELLI JR. 1991, p. 12-13)
3. BREVE HISTÓRICO E AS CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA
As primeiras sistematizações que o conhecimento sobre as práticas corporais
recebeu em solo nacional, ocorreram a partir de teorias oriundas da Europa. Sob a
égide de conhecimentos médicos e da instrução militar, a então denominada
Ginástica surgiu, principalmente, a partir da preocupação com o desenvolvimento da
saúde e a formação moral dos cidadãos brasileiros. Esse modelo de prática corporal
pautava-se em prescrições de exercícios visando o aprimoramento de capacidades
e habilidades físicas como a força, a destreza, a agilidade e a resistência, além de
visar a formação do caráter, da auto-estima, de hábitos higiênicos, do respeito à
4
hierarquia e do sentimento patriótico. (SOARES, 2004, apud PARANÁ, 2008).
Com a intenção de entender um pouco mais a história da Educação Física e
suas concepções, considera-se estas informações como um objeto de superação,
de análise, de crítica, de reorientação e/ou transformação.
Segundo Ghiraldelli Júnior (1991) a Educação Física até os meados dos anos
80, se classificou em cinco concepções: Higienista, militarista, pedagogicista,
competitivista e popular. No momento, interessa-nos destacar a concepção
competitivista como um dos focos da pesquisa.
Após 1964, o desporto de alto nível ganhou espaço na sociedade e,
conseqüentemente, na Educação Física. A Educação Física Competitivista, a
exemplo das concepções higienista e militarista, esteve a serviço de uma
hierarquização e elitização social. Seu objetivo foi e é a competição e a superação
individual. Cultua o atleta-herói, aquele que apesar de todas as dificuldades chegou
ao podium. Para estes “eram” concedidas bolsas de estudos.
O esporte reduziu-se ao desporto de alto nível. A sua prática tornou-se
massificada, para que se pudesse brotar e extrair dele, expoentes capazes de
conquistar medalhas olímpicas para o país.
Na visão competitivista, a ginástica, o treinamento, os jogos recreativos, etc.,
ficam submetidos ao desporto de elite. Cria-se e privilegia o Treinamento Desportivo,
para melhorar a técnica.
O desporto de alto nível é modelo para a Educação Física e trouxe a
competição irrestrita para dentro da escola. Esta concepção também serviu para
atender as ideologias dominantes, mascarar os problemas políticos e desmobilizar a
classe popular da luta de seus interesses, oferecendo à população, pelos meios de
comunicação, doses exageradas de um esporte espetáculo.
Segundo Soler (2006), algumas destas concepções já foram superadas,
embora ainda encontremos alguns modelos, ou pior ainda, uma mistura deles:
“professor sargento médico e treinador”.
Mas o perfil do professor de Educação Física, vem mudando.
A Educação Física passou e está passando por transformações. Está
buscando através de vários estudos “descobrir e reforçar” a sua identidade dentro do
contexto escolar. Procurando se desligar do modelo que se pauta na prática
esportiva e na aptidão física, onde o enfoque pedagógico esta centrado na
competição e na performance do aluno, busca uma proposta crítica, onde o principal
5
objeto de estudo é a Cultura Corporal, o conhecimento e a reflexão sobre as práticas
corporais historicamente produzidas pela humanidade e transformada em saber
escolar.
O Coletivo de Autores (1992), ao discutir a Educação Física escolar, faz a
comparação entre o modelo pautado na aptidão física e a perspectiva de um
trabalho voltado para o desenvolvimento da Cultura corporal. Eles defendem a
segunda, e a explicam:
Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica curricular, no âmbito da Educação Física, tem características bem diferenciadas [...] Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte [...] (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 38)
Mas sabendo desta perspectiva da Educação Física escolar e mais
especificamente refletindo, perguntamos: Como tem sido trabalhado o esporte
escolar?
Temos trabalhado o esporte na escola? Ou o esporte da escola?
Será que estamos conseguindo “educar” através do esporte?
4. A INFLUÊNCIA DO ESPORTE NA ESCOLA
O esporte de caráter competitivo surgiu no século XVIII, na cultura européia,
sobretudo na Inglaterra, e se expandiu para o resto do mundo.
O modelo esportivo europeu foi se tornando a expressão superior da cultura
corporal de movimento, passou a ser padrão, “folclorizando” as demais
manifestações esportivas de outras sociedades. O esporte se expandiu tão rápido e
tão ferozmente quanto o capitalismo (BRACHT, 2003).
É evidente que o esporte em todas as sociedades, ainda é um fenômeno
muito valorizado, pelo menos no sentido econômico. Esta importância se dá mais no
setor do esporte de rendimento ou espetáculo, onde os meios de comunicação lhe
dão total cobertura, fazendo com que mesmo sem praticá-lo, estejamos sempre em
6
contato com ele. Já no âmbito do esporte escolar, temos pouca divulgação.
Juntamente com o debate crítico sobre a Educação, na década de 1980, a
crítica feita ao Esporte também teve relevância neste período. Os críticos
começaram a denunciar a abordagem biológica e o ensino tecnicista característicos
da área, tomando como base uma abordagem sociológica, questionando os fins
sociais. Focalizaram principalmente o esporte de alto rendimento. Essas críticas não
eram contra o esporte, mas contra o ensino limitado das técnicas esportivas, onde a
mesma se reduz, se fragmenta, se mecaniza e se racionaliza, e mesmo assim
estavam (ou ainda estão) servindo de modelo nas escolas.
O Esporte de caráter competitivo teve, e tem até hoje, grande receptividade
na área escolar. Para Bracht (2003), o fenômeno esportivo possui abordagens
diferenciadas, ou seja:
a) Esporte enquanto atividade de lazer – suas formas são derivadas do
esporte de alto rendimento ou espetáculo. Seus códigos internos ligados à saúde, ao
prazer e à sociabilidade, se diferem e apresentam-se capazes de orientar a ação.
b) Esporte de alto rendimento ou espetáculo – é a transformação do esporte
em mercadoria. Empreendimento com fins lucrativos. Possui proprietários e
vendedores de força de trabalho, submetidos às leis do mercado. Seus códigos
internos são: vitória-derrota, maximização do rendimento e racionalização dos
meios. A prática do mesmo levaria à adaptação, às normas e ao comportamento
competitivo, requisitos básicos para a estabilidade e/ou reprodução do sistema
capitalista.
Já para Bernett (apud Bracht, 2003 p.25) o esporte-espetáculo como arma
dos dominantes, é utilizado como meio para desviar a atenção das massas da luta
de classes e como fuga da realidade política.
Complementando, na visão do Coletivo de Autores (1992), e de Caparroz
(2005) é esta abordagem que fornece o modelo de atividade para a grande parte do
esporte, ou seja, para o esporte enquanto atividade de lazer e para o esporte
escolar.
Essa influência do Esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos, então não o Esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Isso indica a subordinação da educação física aos códigos/sentido da instituição esportiva, caracterizando-se o esporte na escola como um prolongamento da instituição esportiva: esporte olímpico, sistema desportivo nacional e internacional. Esses códigos podem ser
7
resumidos em: princípios de rendimento atlético/desportivo, competição, comparação de rendimento e recordes, regulamentação rígida, sucesso no esporte como sinônimo de vitória, racionalização de meios e técnicas etc.O esporte determina, dessa forma, o conteúdo de ensino da Educação Física, estabelecendo também novas relações entre professor e aluno, que passam da relação professor-instrutor e aluno recruta para a de professor-treinador e aluno atleta.[...] (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 54)
Bracht (2003), afirma que é possível notar a ausência de uma forma de
abordagem esportiva escolar ou educacional, mas o autor explica que toda prática
esportiva é considerada educativa, mesmo que se valendo de conceitos de
educação distintos do presente nas pedagogias progressistas.
A proposta fundamentada na concepção histórico-crítica de educação
resgata o compromisso social da ação pedagógica da Educação Física e vislumbra
a transformação de uma sociedade fundada em valores individualistas, em uma
sociedade com menor desigualdade social. (PARANÁ, 2008).
A expectativa da Educação Física escolar, que tem como objeto a reflexão sobre a cultura corporal, contribui para a afirmação dos interesses de classe das camadas populares, na medida em que desenvolve uma reflexão pedagógica sobre valores como solidariedade substituindo individualismo, cooperação confrontando a disputa, distribuição em confronto com a apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de expressão dos movimentos – a emancipação -, negando a dominação e submissão do homem pelo homem (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.40).
Ainda segundo Bracht (2003), a crítica ao esporte é uma crítica à sociedade,
portanto se torna necessário analisá-lo criticamente, especialmente se por ele
passarem quaisquer questões educacionais, ou se por qualquer uma delas ele
passar.
Concebe-se dessa forma, a possibilidade de uma ressignificação do esporte
escolar, construindo uma perspectiva de esporte que contribua para a superação da
ordem social vigente, preocupando-se com os interesses da classe trabalhadora.
5. JOGOS COOPERATIVOS: Uma alternativa inclusiva.
8
Segundo Orlick, os Jogos Cooperativos (JC) não são manifestações culturais
recentes, eles existem há milhares de anos, mas começaram a ser sistematizados
na década de 1950 nos Estados Unidos, através dos trabalhos de Ted Lentz. Um
dos estudiosos do tema Jogos Cooperativos é Terry Orlick, da Universidade de
Ottawa, no Canadá, que pesquisou a relação entre o jogo e a sociedade. No Brasil o
pioneiro foi o professor Fábio Otuzi Brotto, que vem trabalhando e divulgando a
proposta e a metodologia dos Jogos Cooperativos.
Apesar de termos vários trabalhos desenvolvidos nesta área, a sua aplicação
na área escolar ainda se encontra tímida.
Para Orlick (1978), na escola, os jogos competitivos são mais divulgados do
que os jogos cooperativos, e a própria escola valoriza só os vencedores, pois não
ensina o aluno a amar o aprendizado e sim a tirar notas cada vez mais altas. A
Educação Física, por sua vez, não ensina os alunos a amarem o jogo e sim, a
vencer.
Sabe-se que a sociedade é altamente competitiva e que a estrutura social e o
sistema econômico, tornam uma sociedade competitiva ou cooperativa. O ser
humano não nasce competitivo ou cooperativo, ele torna-se. Assim, podemos
observar a influência que a sociedade tem na Educação, mas que o inverso também
é verdadeiro. E é deste inverso que parte a nossa luta por uma sociedade mais
solidária, democrática e justa.
Brotto (2002), ao analisar e comparar os jogos competitivos e cooperativos,
não tem a intenção de opor um ao outro.
(...) visa primeiramente, ampliar nossa percepção sobre as dimensões que o Jogo e o Esporte nos oferecem como campo de vivência humana. E, em segundo lugar, pretende indicar que nos Jogos e Esportes, bem como na Vida, existem alternativas para jogar além das formas de competição, usualmente sugeridas como única ou a melhor maneira de jogar e viver. (BROTTO, 2002, p. 56-7).
Em continuidade, Brotto (1999), explicita a definição de ambos:
Cooperação: é um processo de interação social, em que os objetivos são comuns,
as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos.
Competição: é um processo de interação social, em que os objetivos são
mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição umas às outras, e os
9
benefícios são concentrados somente para alguns.
A seguir, a tabela “Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos”, adaptada de
Walker (apud Brotto, 2002, p. 56), traz uma comparação entre essas duas formas de
jogar.
JOGOS COMPETITIVOS JOGOS COOPERATIVOSSão divertidos apenas para alguns. São divertidos para todos.Alguns participantes têm um sentimento de derrota.
Todos têm um sentimento de vitória.
Alguns jogadores são excluídos por sua falta de habilidade.
Todos se envolvem independentemente de sua habilidade.
Seus adeptos aprendem a ser desconfiados, egoístas ou se sentirem melindrados com os outros.
Aprende-se a compartilhar e a confiar.
Divisão por categorias: “meninos x meninas”, criando barreiras entre as pessoas e justificando as diferenças como uma forma de exclusão.
Há mistura de grupos que brincam juntos criando alto nível de aceitação mútua.
Os perdedores ficam de fora do jogo e simplesmente se tornam observadores.
Os jogadores ficam envolvidos nos jogos por um período maior, tendo mais tempo para desenvolver suas capacidades.
Os jogadores não se solidarizam e ficam felizes quando alguma coisa “ruim” acontece aos outros.
Aprende-se a solidarizar com os sentimentos dos outros, desejando também o seu sucesso.
Os jogadores são desunidos. Os jogadores aprendem a ter um “senso de unidade”.
Os jogadores perdem a confiança em si mesmos, quando são derrotados ou rejeitados.
Desenvolve-se a autoconfiança porque todos são bem aceitos.
Pouca tolerância à derrota desenvolve em alguns jogadores um sentimento de desistência diante de dificuldades.
A habilidade de perseverar face às dificuldades é fortalecida.
Poucos se tornam bem sucedidos. Todos encontram um caminho para o crescimento e o desenvolvimento.
Fonte: Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos (Walker, 1987) apud Brotto, 2002
Apesar de observar as distinções, não pretende - se opor uma a outra ou
abolir a competição, sabe-se que ambas fazem parte da vida. Mas, se colocar que
vencer é a única coisa que importa, que não interessam os meios que se usem,
reforça-se a cultura competitiva que nos cerca. Pretende-se dar um significado
menos central a competição nas aulas de Educação Física.
Segundo Orlick, (1978, p.116), ao introduzir atividades que alterem os
conceitos de vitória e derrota, a vontade de participar do jogo apenas pelos valores
intrínsecos são reavivados e legitimados. A experiência com esses novos jogos deve
demonstrar que ser aceito como ser humano e aceitar os outros não depende de um
10
resultado numérico. Desta forma, posteriormente, poderão encarar a competição e
também a cooperação de modo mais saudável e positivo. Assim os esportes tornar-
se-ão uma busca pelo desenvolvimento pessoal e não uma oportunidade de
“destruir” os outros.
Orlick, ainda nos demonstra mais algumas reflexões norteadoras dos estudos
dos Jogos Cooperativos.
Jogos de aceitação devem substituir os jogos de rejeição. Se fizermos com que cada criança se sinta aceita e dermos a cada uma um papel significativo a desempenhar no ambiente de atividades, estaremos bem adiantados em nosso caminho para a solução da maioria dos sérios problemas psico-sociais que atualmente permeiam os jogos e os esportes. Essa é uma das razões porque é tão importante criar jogos e ambientes de aprendizado onde ninguém se sinta um perdedor. (Orlick 1978, p. 104),
Deseja-se trabalhar com uma outra visão a respeito do jogo, onde todos se
sintam responsáveis em contribuir com o resultado, onde o sentimento de rejeição
seja eliminado e o desejo de se envolver, de fazer parte do grupo aumente.
6. ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO
6.1 DIAGNÓSTICO DA REALIDADE
O estudo ocorreu no Colégio Estadual Jerônimo Farias Martins Ensino
Fundamental e Médio, que possui atualmente cerca de 540 alunos matriculados.
Situa-se na Avenida General Osório s/n. Santa Cecília do Pavão. Núcleo de
Cornélio Procópio, Estado do Paraná.
O Colégio possui duas quadras, uma de areia e outra poliesportiva somente
com pavimentação.
Os pesquisados foram vinte e três alunos do 1º ano do Ensino Médio,
matriculados no início do ano. Nesta turma não há nenhum aluno com histórico de
repetência escolar, portanto,não há defasagem idade/série. A maioria dos alunos
demonstra interesse e condições favoráveis para a aprendizagem das atividades
11
propostas, embora seja possível verificar, através de algumas atividades, que o
aprendizado referente aos conteúdos de Educação Física ainda estão fragmentados
e sem significado, o que leva parte dos alunos a não participar das aulas e a dizer
que não gostam das atividades. Uma minoria ainda demonstra dificuldades de
aprendizagem, tais como: ler e escrever, interpretar, analisar e expor as idéias sobre
fatos e atividades realizadas.
Em relação ao nível sócio-econômico,considerando o poder de compra de
bens materiais, a maioria pertence a classe média/baixa (C e D), com pouco acesso
a bens culturais, principalmente as tecnologias.
Os dados informam que a situação familiar engloba aspectos variados como:
pais separados, somente a mãe é a mantenedora da casa, filhos que moram apenas
com o pai, filhos que cuidam de pais portadores de deficiência etc. A participação
dos pais na vida escolar é quase nula, a não ser quando um fato muito grave
acontece e lhes é solicitado à presença.
6.2 ARMAZENANDO OS DADOS
As informações foram coletadas através de entrevistas, observações de
diferentes momentos e atividades desenvolvidas, sendo registradas em relatórios
agrupados e arquivados.
6.3 O TRATAMENTO DOS DADOS
Com o objetivo de apresentar descritivamente a observação dos fatos,
informações referentes ao comportamento dos atores e outros dados relevantes da
proposta, apresenta-se a partir deste item as etapas percorridas no estudo.
6.3.1 Sensibilização (Direção; Equipe Pedagógica, Professores, Funcionários e
alunos.
A sensibilização fez-se necessária para resgatar e fortalecer o vínculo entre
12
professor pesquisador e todos os órgãos da escola, para que cada um pudesse
entender e perceber o seu papel relevante para a consolidação da pesquisa.
A princípio foi utilizado um momento da Semana Pedagógica para apresentar
e expor aos professores, funcionários e Equipe pedagógica, através da TV
multimídia, slides sobre o projeto de pesquisa e Material Didático, um resumo de
como aconteceria a implementação na Escola, seus objetivos e a relevância do
estudo. Para os alunos, utilizou-se os primeiros dias de aula, para apresentar os
mesmos tópicos e estabelecer coletivamente o Contrato de Aprendizagem.
Na etapa da sensibilização, enfatizou-se que a participação e o apoio de
todos os atores da escola seria muito importante para a coleta de dados
necessários e ainda para confrontar a teoria contida no Projeto e a sua efetiva
prática.
6.3.2 Inserção do Projeto na Realidade (análise e comentários de textos escritos e
audiovisuais).
Como etapa complementar de sensibilização ao projeto apresentou-se dois
vídeos: “VIRTUDES MORAIS E EDUCAÇÃO FÍSICA”, e “MANIFESTO PELO
DIREITO AO ESPORTE NO BRASIL”. No primeiro vídeo foi solicitado aos alunos
que observassem e logo após copiassem as palavras surgidas; a seguir, foi
apresentado novamente o vídeo e a orientação referiu- se para a atenção nas
imagens, seguida dos significados das palavras naquele contexto. Em seguida, foi
utilizado dicionários para que os alunos pesquisassem o significado de cada palavra
do vídeo: Consideração, Benevolência, Perseverança, Justiça, Humildade,
Prudência, Respeito, Determinação, Coragem, Autoconfiança, Superação, Amizade.
Instigou-se a reflexão sobre o significado e o uso das mesmas.
Na próxima tarefa, foi solicitado que fizessem uma Redação com o tema: Como
podemos utilizar estas virtudes (palavras) nas aulas de Educação Física?
Contamos com a ajuda da professora de Português na estruturação da redação.
Na apresentação do segundo vídeo (“MANIFESTO PELO DIREITO AO ESPORTE
NO BRASIL”), primeiro foi solicitado a leitura do texto traduzida em português, e em
seguida houve a apresentação do vídeo, o mesmo estava em espanhol. Com este
13
vídeo, realizou-se também um debate. Os alunos demonstraram sensibilidade e
compreensão sobre como deve ser trabalhado o esporte na escola.
-O esporte numa visão educacional;
-O esporte como um direito de aprendizagem a todos;
-A diferença entre o esporte divulgado na mídia e o da escola;
O resultado foi satisfatório. As Redações foram coerentes com o tema
proposto. Nas aulas em determinadas situações, as Virtudes e sua real utilização,
são partes constituintes, levando os alunos a refletir se estão ou não as utilizando
adequadamente.
Através desta prática pedagógica procurou-se instigar os alunos para uma
reflexão de como se comportavam ou se comportam durante as aulas de Educação
Física, de como a mesma vem sendo trabalhada na escola. Se a Educação Física
que temos, é a que queremos ou a que temos o direito de ter?. Se a mesma está
dando a oportunidade de inclusão ou não. Dessa forma a análise crítica do
fenômeno esportivo, situando e relacionando-o com o contexto social, econômico,
político e cultural foi o objeto desejado.
6.3.3 Assimilação, Reelaboração e Produção de Atividades Teóricas e Práticas.
Como já evidenciado neste artigo, objetiva-se trabalhar as atividades teóricas e
práticas, conjugando a atividade individual com a coletiva, buscando um ensino que
não visa apenas à instrução, mas, por meio dela, à educação de uma pessoa
convicta, de caráter, capaz de transformar os conhecimentos e habilidades em
ações práticas em seu próprio benefício e no da coletividade. (LIBÂNEO, 1988, apud
GUIRALDELLI JR. 1991, p. 12-13)
Para uma melhor assimilação do conteúdo trabalhado, foram realizadas
atividades teóricas tais como: leitura de textos do Livro didático público – “Competir
ou Cooperar: eis a questão”, Pesquisa bibliográfica sobre o Voleibol, Debates,
Entrevista Diagnóstica, Elaboração de Conceito, Contato com o Grupo de Trabalho
em Rede (GTR), Check list. Atividades práticas tais como: Dinâmicas de
apresentação e sensibilização, Gato e rato, Jogo dos Autógrafos, Bola Salvadora,
Jogo do Anjo, Voleibol Gigante, Voleibol semi-cooperativo, Volençol, Minicompetição
14
de Voleibol, Queima-ameba, Queimada maluca, Mini-Voleibol Divertido, Rede Viva,
Voleibol semi-cooperativo e Cooperativo, Futebol quatro cantos, entre outras.
6.3.3.1 Descoberta Orientada: Pesquisando os conteúdos
A pesquisa faz-se necessária para uma melhor assimilação do conteúdo. Para
tanto, utilizou-se da Metodologia Descoberta Orientada para mediar a relação do
aluno a novos conhecimentos. Com base neste estilo de ensino já estabelecido,
instigou-se o grupo a pesquisar diferentes tópicos relacionados ao esporte Voleibol.
Para realizar a tarefa sugeriu-se aos alunos sites e o livro didático público de
Educação Física. Após a realização do trabalho escrito, os alunos apresentaram os
resultados aos colegas de sala, em assembléia geral.
O trabalho foi realizado com dificuldades, pois os alunos “disseram nunca ter
feito um trabalho dentro das normas da ABNT”. Foi verificado ainda dificuldades
para pesquisar, já que muitos não possuem computador, a nossa biblioteca tem
pouquíssimos livros e em nosso laboratório de informática não havia nenhuma
pessoa que pudesse atendê-los no contra-turno. Durante as aulas os alunos
utilizaram apenas duas vezes o laboratório de informática, tempo insuficiente para
uma pesquisa neste nível.
Apesar das dificuldades, alguns grupos que tinham acesso à informática em
outro espaço, que não o da escola, se dedicaram e conseguiram realizar o trabalho
com bastante sucesso.
Verifica-se o quanto os membros das camadas populares estão desprovidos
dos instrumentos necessários para o acesso aos bens culturais, à tecnologia, à
margem da produção dos conhecimentos.
Saviani (1983, p. 61), afirma que “o dominado não se liberta se ele não vier a
dominar aquilo que os dominantes dominam”.
Os responsáveis pelo ensino devem estar atentos aos pressupostos que são
defendidos e de como estão garantindo a assimilação dos conteúdos. Sabe-se que
para amenizar as dificuldades encontradas deve-se redobrar os esforços, para não
acabar reforçando a discriminação e sendo politicamente reacionários.
Na etapa seguinte foi proposto a Organização de uma Minicompetição de
15
Voleibol, realizada a partir da leitura e do debate referente ao capítulo do livro
Didático público– “Competir ou Cooperar: eis a questão” (PARANÁ, 2006 p. 65)
Organizou-se a minicompetição. Depois de concluída a tarefa, os alunos foram
desafiados a novas investigações, todas relacionadas ao significado e as vivências
praticadas na minicompetição.
Buscou-se os depoimentos dos alunos como forma de expressar os seus
sentimentos, resistências e interesses na participação.
Entre eles, destacamos:
“Foi um jogo legal, porque todos cooperaram, mas mesmo assim houve competição para ganhar o prêmio”.
“Divertido, emocionante, sem muita competição”
“Interessante, apesar de não haver muita colaboração dos participantes, ao invés deles me ajudarem quando errei, riram de mim”!
“Gostei, porque me ajudaram quando eu errei, me respeitando”.
“Muito chato, estressante, porque ninguém ajudou e por isso perdemos”.
“Alguns critérios foram alcançados, porém muitos participantes, não entenderam o objetivo do jogo, mostrando desinteresse, e não dedicação. Em minha opinião, achei a competição motivante, com uma premiação. Percebi que ainda há brincadeirinhas que podem ofender, tipo, “não sabe jogar” com zuação dos colegas. O dilema que muitos enfrentam é o fato de não saberem jogar. Muitos do próprio time se xingam e dão risada um do outro, dizendo, que o colega não sabe jogar, mas quando vão fazer, fazem igual ou até pior. Entendo que o objetivo seja, a participação em grupo, e acredito que as aulas tenham o propósito de descontrair, conhecer o corpo, aprender, respirar ar livre, e não uma competição e exclusão”.
Alguns alunos disseram não querer participar por preguiça, por não gostar,
por vergonha de errar. Os que receberam o prêmio disseram se sentir os melhores,
sentiram muita felicidade. Os que não receberam relataram sentir muita raiva,
vontade de bater nos vencedores. Os alunos responsáveis pela organização
relataram que não conseguiram elaborar bem as regras devido ao pouco tempo. Um
árbitro afirmou que cometeu alguns erros, mas tentou ser o mais justo possível e
que é muito difícil apitar um jogo. Os pontos positivos citados foram: seguiram e
aprenderam algumas regras; conseguiram organizar uma competição; todos tiveram
a oportunidade de jogar; o prêmio. Os pontos negativos foram: não houve
dedicação; houve humilhação; alguns alunos ficaram de fora.
Segundo Orlick (1978), para muitos em nossa sociedade, a competição
tornou-se a reação costumeira em quase todas as situações. Para outros, a
rivalidade e a depreciação do outro tornou-se a norma. O consumo e a competição
16
são as mensagens básicas da nossa sociedade e é difícil escaparmos delas. Mas a
cooperação pode também tornar-se uma reação normal ao ambiente, um hábito
capaz de promover atos mutuamente benéficos, que possibilitam a busca por
soluções para muitos dos problemas desumanizadores da sociedade.
O esporte pode apresentar resultados positivos e negativos, pode promover a
integração de um grupo ou a exclusão do mesmo, a aceitação ou a rejeição, a
sensação de realização ou de fracasso e a evidência de auto-estima ou de
inutilidade.
É possível criar ambientes de atividades que atendam às necessidades dos
participantes, que estimulem comportamentos desejáveis e que influenciem a
personalidade dos participantes em uma direção positiva.
Ainda segundo Orlick, a competição e a exploração criam feridas que
somente a cooperação e a empatia podem sanar. Neste caso, verifica-se o quanto
uma metodologia de trabalho faz diferença no processo educacional.
Na Entrevista Diagnóstica realizada no início do projeto, os alunos
evidenciaram que a Educação Física não trabalhava com todos os seus conteúdos,
limitava-se a alguns esportes, que muitas vezes estavam pautados em valores
individualistas. Relata-se que a Educação Física vivenciada por eles até hoje foi
excludente, que há discriminação e separação de classes: ricos e pobres, que há
alunos que não participam das aulas por vergonha de errar, por medo de serem
humilhados e que quando “perdem” sentem-se culpados, despontados,
desanimados, tristes, desprezados e com raiva. Estes sentimentos são ressaltados
numa metodologia individualista, que focaliza o resultado e não o processo, que
reforça características como a superioridade, a competitividade e a exclusão.
Mas foi possível verificar também que é possível utilizar uma metodologia
para se trabalhar o esporte na escola de uma forma não excludente. O grupo de
alunos afirmou em unanimidade que os valores podem ser trabalhados nas aulas de
Educação Física. No Check List e nos Depoimentos, pode-se observar que a
metodologia dos Jogos Cooperativos foi aceita pela maioria dos alunos, que ela é
viável e mais adequada para as aulas, pois a sua aplicação proporcionou a eles
sentirem-se incluídos e aceitos. Participaram de muitas atividades e aprenderam o
esporte Voleibol com alegria, satisfação e entusiasmo. Sentiram que o trabalho em
grupo é muito importante, que a forma como o esporte na escola é trabalhada, faz
muita diferença. Citação de alguns Depoimentos:
17
“Eu era uma má aluna, não participava das aulas, nem praticava esportes, porque eu tinha vergonha e medo de ser o motivo de “zuação” no colégio. Hoje eu não tenho essa dificuldade, por ter o apoio dos colegas e o auxilio da professora, às vezes eu erro, mas tento conseguir e quando acerto, recebo elogios e fico mais entusiasmada ainda, agora participo de todas as aulas e amo participar. Agradeço de coração a professora e os alunos que a cada aula colaboram mais e mais”. (Aluna pesquisada)
“Em minha opinião, acho que melhorei muito nas aulas, me desempenhei, e aprendi que a competição nem sempre leva a vitória, pois se todos trabalharem em grupo será mais fácil de alcançar o objetivo. Eu era uma péssima aluna de Educação Física, porque nunca jogava, e não participava das atividades, por medo ou constrangimento dos outros colegas zombarem de mim, porque eu não sei jogar. Mas agora nas aulas desse ano estou superando o medo, pois todas as atividades são realizadas em grupo, e acho que a competição está deixando de predominar e as pessoas estão dando mais valor ao trabalho em grupo”. (Aluna pesquisada)
“Há algum tempo atrás, não participava das aulas práticas de Educação Física, por um simples razão – não sei jogar - os outros ficam me julgando, rindo de mim. Atualmente estou participando bastante das aulas, estou aprendendo a jogar, principalmente o vôlei. Me sinto melhor, quando temos aulas práticas, se a aula é prática você se sente mais alegre, interessado e se você estuda de manhã serve para despertar”. (Aluna pesquisada)
Realizou-se ainda o registro das dificuldades encontradas e possíveis
hipóteses de soluções, de um modo geral, a maior dificuldade foi mostrar que há
outra forma de se pensar e agir em um jogo. A Educação Física ainda está
fortemente pautada na competição e não é muitas vezes reconhecida pelos alunos
como uma área de conhecimento.
No decorrer da implementação do projeto, constatou-se dificuldades também
de ordem material. O acesso aos computadores foi complicado, pois não havia
nenhuma pessoa responsável para atender os alunos no contra-turno, o que
dificultou o trabalho de pesquisa. A ausência e a inadequação de ferramentas
necessárias ao nosso trabalho, também dificultaram o sucesso do mesmo. Por outro
lado, devemos repensar e mudar algumas práticas pedagógicas, procurando utilizar
atividades que valorizem as experiências e os desejos dos alunos, e jogos que criem
oportunidades para o desenvolvimento físico, moral e intelectual garantindo, dessa
forma, a formação de um indivíduo com consciência social, crítica, solidária e
democrática. A Educação Física como área de conhecimento deve e pode
proporcionar estas oportunidades através de seus conteúdos. Enquanto
profissionais podemos ampliar as perspectivas atribuídas às aulas, apresentando
novos valores, dando um direcionamento crítico ao processo educativo.
18
Em relação aos materiais, precisaríamos de um investimento maior em nossa
área como: construção de quadras, compra de livros, materiais adequados. Quanto
ao uso do Laboratório de Informática, necessitamos que a escola ou outro órgão
competente se organize e oriente um professor para trabalhar neste local.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através das atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física, nos foi
possível ressignificar o esporte escolar, em específico o Voleibol, aplicando uma
metodologia baseada nos princípios dos Jogos Cooperativos, dando a oportunidade
aos alunos de experimentarem outras formas de jogar e de se relacionarem com os
outros, incentivando a inclusão, promovendo uma revisão de valores, possibilitando
a análise crítica do fenômeno esportivo, reavivando a vontade de participar e
aprender, e também a reestruturação e ressignificação dos conhecimentos e da
prática pedagógica docente. Com relação à preferência dos alunos pelos jogos
competitivos e jogos cooperativos observamos que os dois tipos de jogos são
aceitos, mas esta preferência está implícita na motivação e na organização do
trabalho pedagógico desenvolvido no ambiente da aula de Educação Física. A
realidade que temos impõe o resgate do significado pedagógico das aulas de
Educação Física.
É imprescindível que os objetivos educacionais tenham como base a
democracia, a inclusão social, a cidadania, pois além de representar valores, hábitos
e atitudes desejáveis, são plausíveis de serem formados por meio da prática
esportiva. Os resultados apontaram para alguns objetivos que só serão alcançados
a longo prazo, por este motivo, este trabalho apenas teve o intuito de abrir
caminhos. Sabemos que é preciso considerar a necessidade de continuidade
através de mais e ainda se possível, estudos longitudinais. Esta metodologia pode
ser aplicada como um processo para alcançar as metas de um plano de ensino, o
qual pretende transformar o paradigma da competição em um paradigma associado
à cooperação.
8. REFERÊNCIAS:
19
ABRAHÃO, Sérgio Roberto. A Relevância dos jogos cooperativos na formação dos professores de educação física: uma possibilidade de mudança paradigmática. Dissertação. Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 2004.
BERNETT, H. (Hrgs.). Der Sport im Kreuzfeuer der Kritik. Schorndorf: Karl Hofmann Verlag, 1982.
BRACHT, Valter et al.. Pesquisa em ação: Educação Física na Escola. 2 ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005. Coleção Educação Física.
________. Sociologia Crítica do Esporte: Uma Introdução. 2 ed. Revisada. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003. Coleção Educação Física.
________. Educação Física e Aprendizagem Social. Porto Alegre: Magister, 1992.
BROTTO, Fábio Otuzzi. Jogos Cooperativos: Se o importante é competir, o fundamental é cooperar! Edição Renovada. Santos: Projeto Cooperação, 1999. ________. Fábio Otuzzi. O Jogo e o esporte como um exercício de convivência. 2 ed. Santos: Projeto Cooperação, 2002
CAPARROZ, Francisco Eduardo. Entre a Educação Física na Escola e a Educação Física da Escola: A Educação Física como Componente Curricular. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. Coleção Educação Física e Esportes.
COLETIVO DE AUTORES, Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. Série Formação do Professor. Coleção Magistério 2º grau.
GUIRALDELLI JUNIOR, Paulo. Educação Física Progressista: a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos e a Educação Física Brasileira. 3 ed. São Paulo: Loyola, 1991, v. 10. Coleção Espaço.
KUNZ, Elenor. Transformação Didático-Pedagógica do Esporte. 6 ed. Ijuí–RS: Ed. Unijuí, 2004. Coleção Educação Física.
La perdida del derecho al deporte em el Brasil JUNIOR, E.M.; CAPELA, P. R. , e MENDES, D. S. Núcleo de Estudos Pedagógicos em Educação Física & Labomídia.NEPEF/UFSC/BRASIL– www.nepef.ufsc.br. Apresentado em 18/07/2005 em Cuenca, Equador, na II Asamblea Mundial de la Salud de los Pueblos. Vídeo.
MONTEIRO, Fabrício Pomponet. Transformação das aulas de Educação Física: Uma intervenção através dos Jogos Cooperativos. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Campinas. Campinas:UNICAMP, 2006.
ORLICK, Terry. Vencendo a competição: Como usar a cooperação. São Paulo: Círculo do Livro, 1978.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Educação Física para os anos finais do Ensino Fundamental e para o ensino Médio. Curitiba: SEED. 2008.
20
PARANÁ. Livro Didático Público. 2ª ed. Educação Física – Ensino Médio. Competir
ou Cooperar: Eis a Questão, p. 65. Curitiba: SEED 2006.
SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 4 ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1983. 5 Coleção Polêmicas do nosso Tempo.
________. Pedagogia Histórico-crítica: Primeiras aproximações. Ed. 8ª. Campinas, S.P: Cortez/Autores Associados, 2003. Coleção Educação Contemporânea.
SOARES, Carmen Lúcia. Educação Física: raízes européias e Brasil. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2004.
SOLER, Reinaldo. Educação Física: Uma Abordagem Cooperativa. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.
________. Jogos Cooperativos. 2 ed. Rio de Janeiro: Sprint. 2006.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 5 ed. São Paulo: Cortez. Autores Associados, 1992. Coleção temas básicos de pesquisa-ação.
Virtudes Morais e Educação Física. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=nxoDSAwvEpE. Acesso em 14 Dez.2008. Vídeo.
21
Top Related