2013-2016 Jardim-Escola João de Deus de Chaves - “Há cem anos a educar”
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Jardim-Escola João de Deus Chaves
Projeto Educativo 2013/2016
«Há cem anos a educar»
2013-2016 Jardim-Escola João de Deus de Chaves - “Há cem anos a educar”
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Índice
I-Introdução .......................................................................................................................................................... 4
II- Fundamentação Teórica .................................................................................................................................. 6
João de Deus Ramos e a sua época .................................................................................................................. 7
III- Caraterização do Concelho ........................................................................................................................... 10
3.2.Clima ......................................................................................................................................................... 10
3.3. Relevo ...................................................................................................................................................... 11
3.4. Organização Administrativa e Social ....................................................................................................... 11
3.5.A História do concelho ............................................................................................................................. 12
IV - A ASSOCIAÇÃO DE JARDINS-ESCOLAS JOÃO DE DEUS ................................................................................. 15
V - MÉTODO JOÃO DE DEUS ............................................................................................................................... 17
5.1 - João de Deus Ramos e a Sua Época ....................................................................................................... 18
5.2 - O Ambiente ............................................................................................................................................ 19
5.3 - Escola e Sociedade ................................................................................................................................. 20
5.4 - Educação Moral ...................................................................................................................................... 21
5.5 - Enquadramento Teórico ........................................................................................................................ 23
5.6 - As Práticas .............................................................................................................................................. 23
VI - O JARDIM-ESCOLA JOÃO DE DEUS DE CHAVES ............................................................................................ 28
6.1 - Breve Caraterização do Jardim-Escola ................................................................................................... 28
Caracterização física da escola ....................................................................................................................... 30
6.2 - Instalações Escolares .............................................................................................................................. 31
6.2.1 – Hall .................................................................................................................................................. 31
6.2.3 – Secretaria ........................................................................................................................................ 31
6.2.4 - Arquivo ............................................................................................................................................ 31
6.2.5. - Salas de Aula .................................................................................................................................. 31
6.2.6. - Salão ............................................................................................................................................... 32
6.2.7. – Ginásio ........................................................................................................................................... 32
6.2.8. – Biblioteca ....................................................................................................................................... 32
6.2.9. - Sala de Professores (Biblioteca) ..................................................................................................... 32
6.2.10 – Cozinha, Copa e Refeitório ........................................................................................................... 32
6.2.11 – Sala de Repouso/Vestiário............................................................................................................ 33
6.2.12 – Arrecadações, Lavandaria e Rouparia .......................................................................................... 33
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6.2.13 - Instalações Sanitárias .................................................................................................................... 33
6.3 - Caraterização da População Escolar....................................................................................................... 33
6.3.1 - Pessoal Discente .............................................................................................................................. 33
6.3.2 - Pessoal Docente .............................................................................................................................. 34
6.3.3 - Pessoal Não Docente ....................................................................................................................... 35
6.4.- Organização nos períodos de Férias ...................................................................................................... 36
6.5.- Relação entre o Jardim-Escola e a Comunidade Educativa ................................................................... 36
6.5.1.- Contacto com pais e Encarregados de Educação ............................................................................ 36
6.6.- Projetos/ Protocolos e Parcerias ............................................................................................................ 37
VII - O que pretendemos .................................................................................................................................... 37
7.1.- Intenções Educativas .............................................................................................................................. 37
7.2.- Metas ..................................................................................................................................................... 38
VIII - Disposições Finais ...................................................................................................................................... 39
8.2.- Vigência do Projeto Educativo ............................................................................................................... 39
8.3.- Avaliação do Projeto Educativo ............................................................................................................. 39
8.4.- Critérios de Avaliação Final do Projeto Educativo ................................................................................. 40
8.5.- Divulgação do Projeto Educativo ........................................................................................................... 40
9. Considerações finais ....................................................................................................................................... 41
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I-Introdução
O Projeto Educativo, enquanto instrumento consagrado na lei, pode tornar-se um dos
pilares da estrutura educativa local que mais contribui para a construção da autonomia da
Escola. Por isso, o projeto Educativo de Escola representa uma rutura com a normalização e
constitui-se como uma referência para a organização do presente e do futuro, proporcionando
um enquadramento e um sentido para as ações individuais.
É um “macro referencial” da definição do sentido global do trabalho de cada uma das
escolas do Agrupamento, tendo em conta os diferentes contextos em que se inserem.
Define princípios e linhas orientadoras gerais, assentes nas caraterísticas da comunidade
educativa, de acordo com as orientações nacionais; estabelece metas prevendo parcerias e
tendo em conta os recursos disponíveis (materiais, …); enuncia uma resposta educativa global
da instituição; define as políticas educativas para aquela comunidade educativa; é a expressão
dos princípios, orientações e metas a atingir pela escola; clarifica os aspetos de gestão e
administração que permitam cumprir a ideologia político-educativa da escola; define e reflete a
visão, a ideologia e as ações da escola; cria uma matriz de suporte que vai ser concretizada no
P.C.E e no P.C.T e é o tronco comum de onde partem os vários projetos existentes na escola,
tais como: formação do pessoal docente e não docente, orientações administrativas, ofertas da
escola, organização curricular.
Projeto Curricular de Escola
A utilização do Projeto Curricular de Escola é ainda mais recente do que a do
Projeto educativo de Escola e está associada à ideia de que o currículo tem de ser
percecionado numa conceção de projeto, portanto enquanto algo que é aberto e dinâmico,
de forma a permitir apropriações e adequações às realidades para que é proposto e onde vai
ser vivido. De facto, embora as metodologias ativas (quando preconizavam a importância da
diferenciação pedagógica) e as teses que defendem a integração curricular tenham recorrido
à ideia de projeto, foi com o desejo da escola responder à diversidade (cultural e outras) da
população que a frequenta e, mais recentemente, com a proposta da organização curricular
na lógica do modelo da “ gestão flexível do currículo” que o conceito de Projeto Curricular de
Escola, e também o projeto Curricular de Escola, ganharam mais sentido.
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Cármen e Zabala (1991) definem o Projeto Curricular de Escola como um “ conjunto de
decisões articuladas, partilhadas pela equipa docente de uma escola, tendentes a dotar de
maior coerência a sua atuação, concretizando as orientações curriculares de âmbito nacional
em propostas globais de intervenção pedagógica-didática adequadas a um contexto
específico”.
A escolha do tema
A escola não pode nem deve trabalhar isoladamente. Os pais e a comunidade que a
envolvem devem ser parceiros ativos na elaboração de todos os projetos para que haja um
crescimento de ambas as partes. Assim, e para que haja uma parceria entre todos os agentes
educativos, pensamos dar a conhecer, a toda a população flaviense, o método praticado pelos
nossos Jardins- escolas.
Após a elaboração do respetivo projeto educativo, bastava apenas decidir qual o seu título.
Ficou decidido em conselho escolar do dia 2 de setembro de 2013 que este teria uma duração de 3
anos e de título “o Método João de Deus”.
Decidimos também não dividi-lo em subtemas e ao longo dos 3 anos desenvolver as
atividades programadas e atingir em simultâneo as metas propostas pois estas são indissociáveis.
As metas principais a atingir serão:
Estimular a interação com os pais entre Jardim-Escola, toda a comunidade educativa;
Dar a conhecer a toda a comunidade educativa a Associação de Jardins-Escolas João
de Deus, sua história, fundadores/pedagogos e principais atividades;
Implementar junto da população sénior e analfabeta o método João de Deus
(Cartilha Maternal);
Fazer com que a criança aluno/ aprendiz, com o auxílio de um docente transmita o
seu conhecimento, passando assim a ser um “transmissor” de conhecimento;
Implementar nas crianças, valores cívicos e morais, olhando para o idoso com o
respeito que se foi perdendo ao longo dos tempos;
Interiorizando e assumindo nas crianças valores que promovam a autonomia, o
espírito crítico, crescendo numa liberdade responsável.
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Queremos, acima de tudo, que este venha a ser uma mais-valia educativa, social e cultural,
não só para a comunidade educativa mas também para a cidade de Chaves, não perdendo de vista
toda a sua história e caraterísticas.
II- Fundamentação Teórica
Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus, fundada pelo mecenas
Casimiro Freire, em 188 (quando 80% da população portuguesa era iletrada) alfabetizou, desde a
sua fundação até 1920, vinte e oito mil adultos e crianças.
Acompanharam-no nessa iniciativa destacadas personalidades, como João de Barros,
Bernardino Machado, Jaime Magalhães Lima, Francisco Teixeira de Queiroz, Ana de Castro Osório,
Homem Cristo, entre outros. Jaime Cortesão escrevia: O culto de João de Deus, esse, é mais íntimo,
mas não menos fecundo.
Em volta do nome do grande lírico, autor da Cartilha Maternal, juntaram-se muitos
professores, intelectuais, artistas e construtores que lançam os verdadeiros alicerces da pátria.
Em 1908, por proposta de João de Deus Ramos, filho do poeta-educador, passou a
designar-se: "Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus, Bibliotecas Ambulantes e
Jardins Escolas".
Em 1917, foi inaugurado o Museu João de Deus, projeto de Escola-Monumento (da autoria
de Raul Lino e hoje classificado património de interesse municipal), ao qual se associaram
numerosos intelectuais e artistas, entre os quais João de Barros e Afonso Lopes Vieira.
A partir de 1920, a Associação de Jardins-Escolas João de Deus enriqueceu o número de
alfabetizados, com mais 135 640 crianças. Nesse ano, iniciou-se a formação de Educadores de
Infância, mas só em 1943 seria fundado, com carácter sistemático, o primeiro Curso de Didática Pré-
Primária (designação de João de Deus Ramos). Vinte anos depois, começa a funcionar um Curso de
Auxiliares de Educação Infantil (extinto em 1980), no intuito de evitar que as crianças estivessem
entregues a vigilantes sem preparação especializada.
Exemplo de respeito pela obra desta instituição (hoje Instituição Particular de
Solidariedade Social - IPSS), dedicada à Educação e à Cultura, foi, sem sombra de dúvida, a atitude
de um dos principais apóstolos do salazarismo, o ministro Carneiro Pacheco, que, em 1936,
decretou o encerramento das escolas do Magistério Primário, não se atrevendo, dado o peso e
reconhecimento públicos desta instituição, a encerrá-la, admitindo, por Decreto-Lei de 15 de
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Agosto de 1936, "... o respeitoso projeto de responsabilidade e honestidade dessa instituição". A
criação, por diploma legal de 9 de Novembro de 1988, da Escola Superior de Educação João de
Deus, ministrando os cursos de Educadores de Infância e de Professores do Ensino Básico - - 1.°
Ciclo representou novo ponto alto no historial da instituição.
A aposta num crescimento sustentável, em que a qualidade do ensino e as novas ofertas
educativas continuaram a ser uma preocupação desta centenária instituição, tem sido reconhecida
e respeitada, quer no plano nacional quer internacional.
O enorme esforço que tem sido efetuado por esta Instituição na procura de um caminho
que conduza ao conhecimento e à responsabilidade ética da ciência, continuam, assim, inscritos na
sua matriz.
Brincar é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não deve ser visto como
entretenimento ou diversão.
Todos brincamos ou brincámos, contudo este brincar não é semelhante ao longo do
tempo. Uma criança com dois ou três anos gosta de brincar sozinha, tem necessidade de manipular
vários materiais e uma curiosidade incessante, sobre si e também sobre o que o rodeia. Dos 4 aos 6
anos, as crianças adoram mostrar o que já sabem fazer e procuram os elogios para as suas proezas.
No entanto a sua capacidade de concentração e entrega a uma tarefa ainda é diminuta. Dos 7 aos 9
anos procuram atividades mais lúdicas que envolvam esforço físico.
Todavia esta brincadeira não deve ser livre, ou seja, a criança deve ser conduzida e
acompanhada, para que esta aprendizagem seja a mais correta. É este o papel fundamental de
educadores e professores no sentido de orientarem e facultarem à criança os materiais necessários
a esta atividade. Não devemos pois esquecer que a criança brinca com aquilo que lhe fornecemos e
que a forma como brinca vai fazer com que a sua personalidade seja formada, pois é através das
brincadeiras que ocorre a descoberta de si mesmo e do outro.
João de Deus Ramos e a sua época
"O João, com esta cabeça pequenina há-de ir longe..."
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Nascido nos anos 70 do século XIX, anos que viram nascer inúmeras personalidades
eminentes em matéria de educação, João de Deus Ramos foi também um homem da primeira
metade do século seguinte, que costumava apelidar, carinhosamente, de "o século da Criança".
Admirava intensamente os educadores ligados à Escola Nova, sobretudo A. Ferrière: as suas ideias e
a sua obra permitem considerá-lo o representante português desta escola.
Seguia Ferrière, mas queria produzir uma obra original e portuguesa. Afirmava,
frequentemente:
"Rejeito toda a cópia servil do que se faz no estrangeiro, à exceção, contudo, daquilo que é
universalmente adotável ou adaptável". Consciente, à época, da preservação da identidade cultural
e dos valores próprios de cada nação, tal como o escritor português Almeida Garrett defendia que:
"Nenhuma educação pode ser boa se não for eminentemente nacional". Em 1909, lança o que seria
a primeira iniciativa para pôr em marcha o sonho de inaugurar o 1.° Jardim-Escola João de Deus.
"Dia a dia, hora a hora, sem desfalecimentos, sem a menor hesitação, João de Deus Ramos foi
erguendo, a pouco e pouco, esse Jardim-Escola de Coimbra, primeiro em Portugal". (Joaquim
Manso, 1911).
Contemporâneo de Decroly e de Maria Montessori, João de Deus Ramos foi o impulsionador,
em Portugal, de um movimento de interesse pelas crianças de idade inferior a seis anos.
Afirmava que "o abandono das crianças, sob o ponto de vista cultural, antes da idade (7
anos),não é só uma lacuna que os Jardins-Escolas se propõem preencher, mas um grave erro a
corrigir".
Para além dos Jardins-Escolas João de Deus, fundou, no Estoril, em 1928, com João Soares,
uma grande escola primária e secundária; o "Bairro Escolar", inspirado no exemplo da escola de
Roches, de E. Demolins.
O projeto revestia-se de um carácter inovador e interessante, uma vez que o ensino
secundário não se encontrava divulgado e muitas crianças e adolescentes teriam que prosseguir os
seus estudos dentro do internato. Assim, no "Bairro Escolar" existiu um centro pré-escolar, uma
escola primária, um liceu e as vivendas onde os alunos viviam como em família, dormindo em
quartos de duas e três camas. Infelizmente, uma incompatibilidade de visões sobre a educação e o
papel dos alunos entre os sócios, aliada a dificuldades financeiras vieram interromper esse inovador
projeto.
Muitos foram os que reconheceram a João de Deus Ramos capacidades intelectuais, cívicas e
políticas de elevado nível. Júlio Dantas, em 1896, afirmava: "João de Deus e João de Deus Ramos
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são dois grandes nomes da história da pedagogia portuguesa: um o pensamento, o outro a ação;
um criou o método, outro a escola". Foi este reconhecimento público do seu trabalho que o levou a
referir-se a si ironicamente: "Depois de João Sem-Medo e de João Sem-Terra, eis aqui o João Sem-
Nome".
"É preciso que o povo saiba ler e escrever, é preciso motivar os políticos para a execução
desses princípios". Por esta ideia lutou toda a vida: Ministro da Instrução Pública (1920), Ministro
do Trabalho (1925), antes havia ocupado em duas legislaturas o lugar de deputado em São Bento.
Exerceu, também, por duas vezes, o cargo de Governador Civil. Em 1953, data do seu
falecimento, João de Deus Ramos tinha realizado o seu "sonho": a criação de 11 Jardins-Escolas.
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III- Caraterização do Concelho
Chaves é um dos seis concelhos da região do Alto Tâmega situado no distrito de Vila Real.
A sede de concelho é a cidade de Chaves, a qual dista cerca de 64 km da capital de distrito Vila Real
e fica a oito km da fronteira com a Espanha. Confina a Norte com a Galiza - Espanha, a Este pelos
concelhos de Vinhais e Valpaços, a Sul pelos concelhos
de Vila Pouca de Aguiar e a Oeste pelos concelhos de
Montalegre e Boticas.
O Concelho abrange uma área de 600,12 km2,
é composto por 39 freguesias e nela residem 43.667
habitantes concentrados, fundamentalmente, na
cidade e nas aldeias limítrofes.
Tem uma densidade populacional de 68,12 habitantes por km² e, nos últimos anos, a
população tem crescido um pouco (6,7%).
3.2.Clima
Quanto ao clima, durante o inverno, a coluna mercurial do termómetro desce mais do que
nas cidades e praias do litoral, sem contudo chegar a haver os frios rigorosos de Barroso e da Serra
do Marão. Durante o verão, o mercúrio do termómetro sobe mais do que no litoral, mas não chega
a haver os calores sufocantes como no Douro. Entre dezembro e
janeiro a temperatura varia entre os 6 e os 8 graus centígrados,
de março a junho varia entre os. 20 e os 30 graus. Estudos
realizados nesta matéria concluíram que a temperatura
raramente desce aos zero graus. Esta região não está muito
exposta a grandes e frequentes ventanias, registando-se
algumas no princípio da primavera e do outono, a altura pluviométrica atinge os 890 mm., e são
bastante frequentes as geadas, que às vezes, em Dezembro e Janeiro, chegam a tomar o aspeto de
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nevadas.
Fora da cidade de Chaves assume relevo a formosa vila de Vidago, que constitui um espaço
de centralidade infra-concelhia, pois presta vários serviços aos aglomerados próximos, possuindo
também importantes equipamentos hoteleiros e algumas das mais importantes fontes de água
mineral do país (Salus, Vidago e Campilho).
3.3. Relevo
Os espaços mais marcados pela ruralidade, aparecem à medida que se deixa o vale e se inicia
a caminhada ao longo das encostas em direção às terras altas, pois tendo o vale posição central no
território concelhio é dominado por relevos graníticos e xistosos em seu redor, atingindo estes os
1000 metros de altitude.
Esta configuração do relevo está muito ligada à diversificação dos
aspetos da paisagem, imprimindo-lhe cambiantes magníficas pelos
contrastes que origina no coberto vegetal e pela acentuação dos
rigores do clima na serra.
Foi da montanha que se assistiu nos últimos 50 anos a uma saída de residentes para o centro
urbano e para outros países, principalmente europeus. Nos campos ficaram os mais idosos,
penalizando o rejuvenescimento da população.
A cidade tem assim, crescido quer em extensão, como no número de população, fruto das suas
potencialidades com claro destaque das caldas de Chaves e correspondente apoio hoteleiro e oferta
turística, sendo a segunda estância termal do país, recebendo anualmente mais de 7000 aquistas.
3.4. Organização Administrativa e Social
Chaves assume uma posição estratégica no contexto do Noroeste Peninsular reforçada pela
confluência de importantes vias rodoviárias internacionais.
O vale de Chaves ocupa uma área de 25 km² ou 2500
hectares. Tem cerca de 8,5 km de comprimento e cerca de 3 km de
largura. Vai desde a Ponte de Arcossó até à Povoação de Pereira
de Veiga. É banhada pelo Rio Tâmega, aliás quase todo o vale fica
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situado na sua margem esquerda e delimitada por montes e serras. A leste defronta-se com a Serra
do Brunheiro (919 metros) e com a terminação setentrional da Serra da Padrela; a oeste limita-se
com uma série de pequenas elevações de terreno, que servem de alicerce à Serra de Bustelo, a qual
por sua vez, serve de contraforte à Serra do Larouco e ao planalto de Barrosos. A norte está a Serra
de Mairos que se expande para Espanha atingindo aí 1083 metros e a Sul está separado pela Ribeira
de Oura por um conjunto de colinas que se prendem ao Brunheiro, no lugar de Pêto de Lagarelhos.
Quase todo o concelho é tradicionalmente agrícola. Aqui cultivam-se batatas, centeio,
hortaliças, árvores de fruto e vinha. A Veiga de Chaves, com os seus solos férteis, atravessada ao
meio pelo Rio Tâmega e os seus solos banhados pelas águas das Caldas foi, em tempos, o sustento
de muita gente.
Freguesias que compõem o concelho de Chaves
3.5.A História do concelho
Cada época histórica deixou os seus testemunhos no património que foi
construindo.
São numerosos os vestígios aqui presentes, legados por civilizações pré-históricas que levam a
admitir mesmo a existência de povoamentos no longínquo período Paleolítico. É considerado deste
período um instrumento de pedra encontrado na encosta da serra do Brunheiro. Porém, são
abundantes os achados procedentes do Neolítico, do Calcolítico de Mairos, Pastoria, S. Lourenço,
etc.… e das civilizações proto-históricas, nomeadamente nos múltiplos Castros
situados no alto dos montes que envolvem toda a região do Alto Tâmega.
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Foram as legiões romanas, que há dois milénios, dominaram esses homens, que até aí tinham
vivido, como deuses, alcandorados no cimo das montanhas e se instalaram de modo especial no
vale, fertilíssimo do Tâmega. Fixaram-se onde hoje é a cidade e distribuíram pequenas fortificações
pelas alturas circundantes, aproveitando, para tais guardas-avançadas, alguns dos castros
conquistados.
Edificaram, presumivelmente, a primeira muralha que envolveu o aglomerado populacional;
construíram a imponente ponte de Trajano, sobre a via Bracara-Asturica; tiraram proveito das águas
quentes mínero-medicinais, implantando balneários termais; exploraram filões auríferos e outros
recursos do solo e subsolo.
Tanta importância adquiriu este núcleo urbano, nessa época, que foi
elevado à categoria de Município, quando no ano 79 dominava Vespasiano,
primeiro César da Família Flavia. Será esta a origem de Aquae Flaviae, designação antiga da atual
cidade de Chaves.
Situar-se-ia o imponente núcleo monumental e centro cívico da cidade no
cerro envolvente da área hoje ocupada pela Igreja Matriz. O seu atual recorte
lembra ainda o traçado de um acampamento romano, com o Forum, o Capitólio
e a Decumana que seria a rua Direita. De facto, neste perímetro foram encontrados os mais
relevantes vestígios arqueológicos a testemunhá-lo, expostos no Museu da Região Flaviense, sendo
mesmo de evidenciar uma lápide alusiva a um combate de gladiadores. A florescência da
dominação romana verificou-se até ao início do século III, apagando-se gradualmente com a invasão
dos povos denominados vulgarmente por Bárbaros. As invasões dos Suevos, Visigodos e Alanos,
provenientes do leste europeu, puseram termo à colonização romana. As guerras entre
Remismundo e Frumário que disputavam o direito ao trono, tiveram como consequência uma
quase total destruição da cidade, a vitória de Frumário e a prisão do Idácio, notável Bispo de
Chaves.
O período de dominação bárbara durou até que os mouros, povos do Norte de África,
invadiram a região e venceram Rodrigo, o último monarca visigodo, no início do século VIII.
Com a invasão dos árabes, também o islamismo invadiu o espaço ocupado pelo cristianismo o
que determinou uma azeda querela religiosa e provocou a fuga das populações residentes para as
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montanhas com as inevitáveis destruições. As escaramuças entre mouros e cristãos duraram até ao
século XI. A cidade começou por ser reconquistada aos mouros no século IX, por D. Afonso, rei de
Leão que a reconstruiu parcialmente. Porém, logo depois, no primeiro quartel do século X, voltou a
cair no poder dos mouros, até que no século XI, D. Afonso III, rei de Leão, a resgatou, mandou
reconstruir, povoar e cercar de muralhas.
Da presença islâmica remanesce, quase tão-somente na
cultura popular, uma grande variedade de lendas interligando
castros, tesouros fabulosos e mouras encantadas.
Foi, provavelmente, por volta de 1160 que Chaves foi
integrada no país que já era então Portugal, com a relevante
intervenção dos lendários Ruy e Garcia Lopes tão intimamente
ligados à história desta terra.
Pela sua situação fronteiriça, Chaves era vulnerável ao
ataque dos invasores. D. Dinis, como medida de proteção, mandou levantar o Castelo e a
fortificação muralha da que ainda hoje dominam o burgo citadino e a sua periferia, num grande
raio. Em 1253 realizou-se em Chaves. O casamento de D. Afonso III com a sua sobrinha D. Beatriz,
filha de Afonso X, o Sábio; foi o Bolonhês quem concedeu à povoação o seu 1º foral, a 15 de Maio
de 1258; D. Manuel I outorgaria novo foral em 1514. Aquando da Guerra da Independência, D. João
I montou em redor de Chaves um cerco que durou 4 meses; tendo-lhe rendido a praça. O senhorio
da vila foi então dada a D. Nuno Alvares Pereira, que o viria a ceder a D. Afonso, seu genro,
fundador da Casa de Bragança, na qual Chaves, se conservou durante vários séculos.
A Cidade foi cenário de diversos episódios bélicos no século XIX, nela se tendo celebrado, a
20 de Setembro de 1837, a designada Convenção de Chaves, após o combate de Ruivães, pondo
termo à revolta cartista de 1837, conhecida pela revolta dos marechais. Em
Chaves travou-se a 8 de Julho de 1912, o combate entre as forças realistas de
Paiva Couceiro e as do governo republicano, chefiadas pelo coronel Ribeiro de
Carvalho, de que resultou o fim da 1ª incursão monárquica. A 12 de Março de 1929 Chaves foi
elevada à categoria de cidade.
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IV - A ASSOCIAÇÃO DE JARDINS-ESCOLAS JOÃO DE DEUS
Um Modelo Humanista
O Jardim-Escola João de Deus de Chaves pertence à Associação de Jardins-Escolas João de
Deus, sucedânea da Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus, que alfabetizou entre
1882 e 1920 cerca de 28 mil adultos e crianças. É uma Instituição Particular de Solidariedade Social,
devotada ao serviço da educação do povo e da criança portuguesa.
A Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus foi fundada por Casimiro Freire
em 1882, época em que o índice de analfabetismo das classes trabalhadoras rondava cerca de 87%.
Acompanharam-no nessa iniciativa algumas personalidades destacadas desse tempo como João de
Barros, Bernardino Machado, Jaime Magalhães Lima, Francisco Teixeira de Queiroz, Ana de Castro
Osório, Homem Cristo, entre outros.
Em 1908 por proposta de João de Deus Ramos, filho do Poeta-Educador, passou a designar-
se “Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus, Bibliotecas Ambulantes e Jardins-
Escolas”.
Começa, então, a sentir-se a necessidade de dar carácter mais fixo, mais amplo e perdurável
à obra de instrução levada a cabo e, em 1911, João de Deus Ramos funda em Coimbra o primeiro
Jardim-Escola João de Deus. Cerca de metade da verba que se despendeu nesta realização foi
conseguida pelo Orfeão Académico de Coimbra dirigido por António Joyce. E esse exemplo
frutificou. Até 1953, data do seu falecimento, João de Deus Ramos criou onze jardins-escolas,
continuando infatigavelmente a missão educativa da Associação.
Em 1917, foi inaugurado o Museu João de Deus, projeto de Escola-Monumento (da autoria
de Raul Lino e hoje classificado património municipal), ao qual se associaram numerosos
intelectuais e artistas dessa época, entre os quais João de Barros e Afonso Lopes Vieira.
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Jaime Cortesão que considerava a Associação de Jardins-Escolas dos melhores legados da 1ª
República escrevia: “O culto de João de Deus, esse, é mais íntimo, mas não menos fecundo. Em
volta do nome do grande Lírico, autor da “Cartilha Maternal”, juntaram-se muitos professores,
intelectuais, artistas e construtores que lançam os verdadeiros alicerces da Pátria”.
A partir de 1920, a Associação de Jardins-Escolas João de Deus enriqueceu o número de
alfabetizados por aquele Método com mais cento e trinta e cinco mil e seiscentas e quarenta
crianças. Nesse ano, iniciou-se o primeiro ano de formação de Educadores de Infância, mas só em
1943 seria fundado, com carácter sistemático, o primeiro Curso de Didática Pré-Primária
(designação de João de Deus Ramos). Vinte anos depois, começa a funcionar um Curso de Auxiliares
de Educação Infantil (que viria a ser extinto em 1980), no intuito de evitar que as crianças
estivessem entregues a vigilantes sem preparação especializada.
Exemplo de respeito pela obra desta instituição, dedicada à Educação e à Cultura, é, sem
sombra de dúvida, a atitude de um dos principais apóstolos do salazarismo, o ministro Carneiro
Pacheco, que em 1936, decretou o encerramento das escolas do Magistério Primário, mas não se
atreveu, dado o peso e o reconhecimento públicos desta instituição, a encerrá-la, reconhecendo,
por Decreto-Lei de 15 de Agosto de 1936, o seu respeitoso projeto de responsabilidade e
honestidade.
Foi este o reconhecimento público do trabalho de João de Deus Ramos, que de si próprio
dizia ironicamente: depois de João Sem-Medo e de João Sem-Terra, eis aqui o João Sem-Nome. Era
nesta modéstia, que se revia o pedagogo que já à época defendia: “É preciso que o povo saiba ler e
escrever, é preciso motivar os políticos para a execução desses princípios”. Eleito deputado por
duas vezes (em 1913 e 1915), João de Deus Ramos exerceu ainda os cargos de Governador Civil, de
Ministro da Instrução Pública e de Ministro do Trabalho.
A 9 de Novembro de 1988 o Decreto-Lei n.º 408/88 autoriza a criação da Escola Superior de
Educação João de Deus com os Cursos de Educadores de Infância e de Professores do Ensino Básico
1ºCiclo. Aos quais se juntaram os CESES em Investigação em Educação, Gestão Escolar e
Desenvolvimento Pessoal e Social.
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A Associação de Jardins-Escolas João de Deus e a Escola Superior de Educação João de Deus
tem ao seu serviço mais de mil pessoas, entre educadores, professores, auxiliares de educação e
outros colaboradores, cuja atividade se reparte pelos centros infantis, jardins-escolas, ludotecas e
museus.
Desde a fundação das Escolas Móveis pelo Método João de Deus e posteriormente dos
jardins-escolas com o mesmo nome já foram matriculadas cerca de 200.000 crianças.
A fase etária da frequência escolar faz-se entre os 3 e os 10 anos. Estes alunos recebem duas
refeições diárias e as quotizações são estudadas para custarem um mínimo de encargos aos pais e
encarregados de educação e de acordo com o rendimento do seu agregado familiar.
A Associação de Jardins-Escolas João de Deus organiza, periodicamente, em geral todos os
anos, reciclagens e visitas de estudo a centros educativos em Portugal e no estrangeiro, procurando
assim manter os seus métodos a um nível europeu.
Recordando João de Deus Ramos, terminaremos com palavras suas:
“São assim os Jardins-Escolas João de Deus modelo português de escola Pré-Primária que
muito me orgulho de poder legar à minha Pátria.”
V - MÉTODO JOÃO DE DEUS
O que é hoje o Método João de Deus deve-se, em grande medida, às ideias pedagógicas do
Poeta João de Deus (1830/1896), do seu principal mentor João de Deus Ramos (1878/1956), de sua
filha Maria da Luz Ponces de Carvalho (1916/1999) e de todos aqueles que, ao longo destes anos,
têm colaborado, com tanta dedicação e amor, na obra educativa e cultural dos Jardins-Escolas João
de Deus.
Os seus conhecimentos, as suas experiências, bem como as muitas viagens de estudo que
temos realizado por todo o mundo, contribuíram decisivamente para o sucesso do que
continuamos a denominar por Método João de Deus.
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5.1 - João de Deus Ramos e a Sua Época
Nascido no final do século XIX, nos anos 70, anos estes que viram nascer inúmeras
personalidades eminentes em matéria de educação, João de Deus Ramos é também um homem da
primeira metade do século seguinte, que costumava apelidar, carinhosamente, de «o século da
criança».
É a época brilhante da Escola Nova, movimento a favor de uma infância mais compreendida
e feliz, que tem também um eco em Portugal.
João de Deus Ramos admirava intensamente os educadores ligados à Escola Nova,
sobretudo A. Ferriére: as suas ideias e a sua obra permitem considerá-lo o representante português
desta escola (1).
Seguia Ferriére, mas queria produzir uma obra original e portuguesa. Afirmava,
frequentemente: «Rejeito toda a cópia servil do que se faz no estrangeiro, à exceção, contudo,
daquilo que é universalmente adotável ou adaptável».
Muito consciente, já na sua época, da preservação da identidade cultural e dos valores
próprios de cada nação, adorava citar o escritor português Almeida Garrett “Nenhuma educação
pode ser boa se não for eminentemente nacional”.
(1) João de Deus Ramos, para além dos Jardins-Escolas João de Deus, fundou no Estoril, em 1928,
com João Soares (pai do antigo Presidente da República Portuguesa, Mário Soares) uma grande
escola primária e secundária, que se inspirou no exemplo da escola de Roches, de E. Demolins. O
Projecto era inovador e muito interessante: o «Bairro Escolar». Os alunos internos eram numerosos
nesta época. O ensino secundário não estava muito divulgado e muitas crianças e adolescentes
teriam que prosseguir os seus estudos dentro do internato. Dentro do «Bairro Escolar» existiu um
centro Pré-Escolar e uma escola primária, um liceu e as vivendas onde as crianças viviam como em
família, dormindo em quartos de duas e três camas. Infelizmente, a empresa não durará mais do
que poucos anos, devido a dificuldades financeiras.
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5.2 - O Ambiente
A arquitetura dos primeiros edifícios é de um estilo verdadeiramente nacional, português e
até mesmo regional.
João de Deus Ramos considerava que a criança aceitará melhor a escola se a «fisionomia»
arquitetural desta se assemelhar à da sua própria casa. A adaptação faz-se assim mais facilmente e
atenta-se, também, a que a escola seja à escala da criança, para que esta se sinta como em sua
casa.
João de Deus Ramos preocupava-se muito com o edifício: rejeitava os corredores longos e as
escadas, aconselhava cores suaves, janelas grandes, espaço suficiente, mas não demasiado. A
decoração era confiada a artistas, mas deveria ser discreta.
O edifício deveria ser circundado por um jardim, sem vizinhos demasiado próximos; as
janelas permitiriam uma ligação com a natureza, as árvores, o céu. O jardim, segundo ele, devia ser
seis vezes maior que o edifício, para permitir a realização de atividades em pleno ar livre e mesmo,
por vezes, o cultivo de legumes e flores. Que alegria no dia em que se comem as maçãs que vimos
crescer! E que lição bem aprendida!
A pedagogia fala muito da escola ativa e da importância da criação de um ambiente rico e de
bom gosto estimulando o espírito da criança e o seu sentido de harmonia e equilíbrio.
João de Deus Ramos já estava dentro do movimento das ideias atuais: preservação da
identidade cultural, necessidade de cuidar e preparar convenientemente o ambiente, tanto sobre o
seu plano físico como nos seus aspetos humano e cultural.
No plano físico, pretendia um ambiente muito alegre, luminoso e florido. Aceita a ideia de
Froëbel e o nome de «Kindergarten» (Jardim de Infância), não como uma imagem retórica, mas
como uma necessidade de ligação entre a natureza e a criança. Não se trata de comparar a criança a
uma flor, mas de constatar o entusiasmo das crianças perante as flores. O nome fröbeliano de
Jardim-Escola evoca isto.
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Os animais? Não, dado que não podemos tê-los presos e mal alojados na escola. Os animais
poderão sofrer e a criança não pode sentir-se culpada por esta situação de sofrimento de outros
seres. Será prejudicial na formação da sua sensibilidade.
Por vezes, um pequeno peixinho vermelho, ou outro animalzinho já nascido em cativeiro,
poderá dar uma nota de cor e movimento dentro da sala de aula. Poder-se-á fazer criação de
bichos-da-seda. Para os alimentar será necessário que exista uma amoreira no jardim.
João de Deus Ramos estimava que estas ideias eram muito importantes e, pode crer-se que,
verdadeiramente, o são, dado que as crianças amam a sua escola e estão felizes dentro deste
ambiente, nos planos educativo e humano.
5.3 - Escola e Sociedade
Segundo João de Deus Ramos, a escola devia ter a imagem da sociedade desde a Creche.
Democrata, pretendia acabar com as escolas de elites, mas, em 1911, ano de abertura do
primeiro Jardim-Escola João de Deus, o país saía da monarquia e as suas ideias não iriam encontrar
mais que um pequeno eco.
Não aceitava mais discriminação política na escola. A escola para todos, ricos ou pobres, de
todas as raças, de todas as crenças religiosas ou políticas. Um bibe aos quadrados, cada idade com a
sua própria cor esbate as diferenças de traje que, à época, eram por vezes muito acentuadas.
Todos os alunos deviam almoçar na escola, o que, segundo João de Deus Ramos, poupava o
cansaço das deslocações e favorecia a socialização e hábitos alimentares saudáveis. Tudo era
explicado: o que se comia, as razões de uma alimentação variada...
João de Deus Ramos desejava que se cultivassem na escola verdadeiros laços de
fraternidade e solidariedade. Preconizava uma disciplina muito doce, sem prémios nem castigos.
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Esta disciplina, a que chamava de «ativa», devia ser o mais possível orientada como uma verdadeira
educação cívica.
As próprias crianças organizavam a vida na escola, os jogos, as refeições...
5.4 - Educação Moral
A disciplina, compreendida como o modo de viver bem consigo mesmo e com os outros, era
mantida sem prémios nem punições e contribuía para a formação do carácter. «Sem prémios»: são
fonte de vaidade e de inveja e deturpam o verdadeiro sentido do dever. «Sem punições»:
prejudicam o desenvolvimento da dignidade humana e, na maior parte das vezes, são aplicadas sem
que a criança tenha consciência de ter cometido o erro.
Como Rousseau, João de Deus Ramos acreditava que a criança nasce boa. É necessário
defendê-la e compreendê-la. Aqueles que trabalham e se comportam bem, merecem elogios e
carinhos. A estimulação é necessária, mas o termo de comparação, para a criança, é ela própria.
Em caso de um mau trabalho ou de problemas de conduta, devem estudar-se
cuidadosamente os motivos e, eventualmente, permitir que a criança sofra as consequências dos
seus atos, não como um castigo imposto, mas como um efeito natural, que poderá interiorizar, uma
lição válida que lhe servirá de futuro. Sempre o raciocínio e a lógica ao nível da compreensão das
crianças.
Por exemplo:
É preguiçoso? Não existe preguiça sem motivo. Como está de saúde, que métodos de ensino
lhe são aplicados, sente-se apoiado mental e efetivamente? Será que os trabalhos que lhe são
pedidos estão de acordo com o seu próprio ritmo?
A atitude de João de Deus Ramos em face de problemas como o roubo, a mentira, a
agressividade, era sempre muito coerente. É preciso melhorar e saber melhorar, mas não punir. É
necessário dar a conhecer o gosto pelo bem e pelo fazer o bem, pondo-se à escala da criança e com
amor.
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Já em 1911, João de Deus Ramos pensava mais na educação do que na instrução; é uma
ideia corrente nos nossos dias, mas não no início do século.
Na base da sua metodologia existia sempre uma ideia de simpatia, no real sentido da
palavra: simpatia como convergência de pontos de vista e, mesmo, de sentimentos. Um ambiente
de simpatia cria o meio ideal, a firmeza e a calma, tão importantes para dar à criança um
sentimento de segurança.
As crianças mantêm-se calmas se estiverem ocupadas e se sentirem prazer nas tarefas que
executam, mesmo que estas sejam trabalhosas. É necessário que o trabalho seja amado e
respeitado, daí que o apresentemos de uma forma atraente, a fim que se possa gostar dele como se
gosta de um jogo.
Era um traço que definia muito bem o carácter de João de Deus Ramos, o infinito respeito
pela criança. O respeito pela criança é frequentemente proclamado, quase sempre mais na teoria
do que na prática, mas João de Deus Ramos não respeitava somente a infância, respeitava cada
criança.
Contemporâneo de Decroly e de Maria Montessori, João de Deus Ramos foi o instigador, em
Portugal, de um movimento de interesse pelas crianças com menos de seis anos.
Na sua época e em Portugal, raramente as crianças saíam da casa familiar para frequentar
um centro escolar antes dos quatro anos.
Tenta-se oferecer às crianças um ambiente familiar, favorável ao seu desenvolvimento: os
jogos, as canções, a rítmica com arcos e bolas, os cálculos, as histórias, a casa das bonecas, os jogos
simbólicos.
João de Deus Ramos, como todos os pedagogos daquela época valorizava os jogos, em
matéria de educação. Mas aconselhava a escolhê-los bem.
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Aos quatro anos, e sem que a fatigue, traça-se para a criança um programa muito alegre e
harmonioso, que fará apreender bons hábitos e favorecerá a sua integração no grupo.
5.5 - Enquadramento Teórico
Que aspetos mais importantes desenvolver, com quatro anos de idade, segundo a psicologia
e pedagogia, a nível das aquisições de base?
A educação percetiva, a motricidade e a educação verbal, são aspetos muito importantes. A
educação preceptiva começa desde o berço e, quase podemos dizer, é de grande valor para o
indivíduo. Não se trata de «afinar» os sentidos, mas sim de saber utilizá-los melhor.
Na educação percetiva trabalha-se sobretudo a visão e a audição, os dois sentidos que
permitem as aquisições mais espirituais e até mesmo estéticas. Trata-se de estimular o gosto, de
observar, de criar o senso do belo e da harmonia, de melhor perceber os sons graves, os sons
agudos, a intensidade dos sons e das sonoridades, o timbre dos instrumentos, etc.
A educação auditiva permite uma iniciação musical que favorece o bom ritmo da leitura. É
com base na educação visual e auditiva que se pode falar, na escola, de uma educação através da
arte.
Não se refere muito os outros sentidos; devem ser localizados, mas não têm a mesma
importância.
5.6 - As Práticas
Com a visão e audição poder-se-á traçar um alegre programa de educação auditiva e
musical. Na escola cantam-se e dançam-se canções infantis e populares, todos os dias. Como o jogo,
tenta-se preservar os valores tradicionais.
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A educação da visão destina-se a uma boa coordenação óculo-manual e trabalha-se imenso
a motricidade fina, o estímulo e uma correta lateralização através de toda uma gama de jogos
destinados a este efeito.
Trabalha-se muito com o papel: no início tritura-se, rasga-se, corta-se, depois utiliza-se o
«origami» japonês, que facilita a precisão e permite fazer pombas, peixes, rãs, barcos e as fitas
multicoloridas de onde nascem diferentes tipos de harmonias.
Aos quatro anos, as crianças desenham sobre grandes folhas com lápis de cera. Desenham
livremente, assim como modelam pastas variadas, mas sobretudo barro. A criatividade da criança é
estimulada de várias formas.
Depois de ter ensinado as crianças a observar e a entender, são incitadas a exprimir-se: por
gestos, pelo corpo, pelo desenho, mas sobretudo oralmente.
A expressão verbal e não verbal é privilegiada; trabalha-se a linguagem e a expressão oral
através do diálogo, das histórias, dos contos, das contas, das pequenas poesias, das pequenas
dramatizações e marionetas.
Um programa batizado de «Tema de Vida» – que se chamava «lições das coisas», no tempo
de João de Deus Ramos - contribui muito para o alargamento do léxico passivo e sobretudo do
léxico ativo da criança. Este programa representa um dos aspetos mais originais da pedagogia de
João de Deus Ramos. Aquilo que se pretende não é somente que a criança saiba as coisas, mas
sobretudo que as compreenda, que possa estar em sintonia e em empatia com o que a rodeia.
A criança deve abordar o seu conhecimento como indivíduo e conhecer o seu corpo, ter uma
ideia do seu esquema corporal. De seguida, deve tomar consciência da sua integração temporal,
adquirir a ideia do hoje, do ontem e do amanhã. Para isto, damos-lhe uma referência, uma unidade
de tempo: a mais simples é o dia. E recorremos à clássica experiência da bola que gira em torno de
si mesma e à volta de uma fonte de luz.
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Fala-se do que a rodeia: o que é sólido, líquido, gasoso. Fazem-se experiências. Depois fala-
se das grandes famílias do nosso planeta: os minerais, as plantas, os animais. Tudo é apresentado
como exemplos vivos, slides, filmes, imagens.
As lições não são feitas sob a forma de exposições orais, mas sim de diálogos através dos quais a
criança deve observar, descobrir e descrever. Sempre que possível, o objeto é observado
diretamente ou através de lupas e microscópios, tocado, sentido e eventualmente provado. São
realizadas experiências de molde a estimular o espírito científico. As formas, as qualidades são
designadas com rigor.
A ideia de João de Deus Ramos é a de estabelecer um «curriculum» em forma de espiral: os
ciclos são concebidos em função da idade das crianças; procura-se abordar o homem como
indivíduo e depois como pertencente ao corpo social; finalmente é evocada a ideia de Deus.
Esta ideia de ciclos sucessivos está já contida no termo «enciclopédia». Porém, o que João
de Deus Ramos deseja desenvolver não é uma ideia enciclopédica, mas sim uma lógica: relacionar
bem é raciocinar bem.
Todas as lições estão ligadas umas às outras, a fim de fortificar a memória e de facilitar a
aquisição de conhecimentos.
Aos quatro anos, os jogos contribuem para motivar a leitura, para distinguir a esquerda e a
direita e estimular o desenvolvimento motor: sequências de imagens, palavras afixadas para
designar os objetos circundantes, livros em local acessível, histórias lidas pelo educador.
As crianças também ditam frases que a professora escreve e que elas podem ilustrar.
Tem-se um grande cuidado com a introdução da Matemática e esta é associada à vida
prática da criança: há três degraus para subir; eu tenho três bombons, tu tens um a mais; eu joguei
cinco vezes com a minha bola, etc.
Estas situações constituem uma base de trabalho. João de Deus Ramos, como outros
pedagogos da atualidades, aconselha a começar pela noção de «unidade». É um bom ponto de
partida.
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Os conceitos devem ser postos em prática através dos jogos e de materiais simples de
encontrar e manipular.
Recorre-se, também, aos jogos de Froëbel, para interiorizar situações muito concretas, que
estimulam a criança a contar e a fazer pequenas operações ligadas ao quotidiano. Têm à disposição
ateliers de jogos de ação – uma mercearia ou armazéns onde se utilizam a moeda e uma balança,
onde se comparam pesos e volumes, onde se pode empacotar e embrulhar os volumes, o que é um
excelente exercício de motricidade fina.
O espaço está dividido em cantos: um canto das plantas, um dos jogos, outro da casinha,
outro do médico, etc.
Cada sala possui uma biblioteca: aos 3/4 anos, a criança pode ver as imagens, sentada em
almofadas e o acesso aos livros é muito fácil.
Ouve-se música, fazem-se jogos tradicionais ou livres, de preferência ao ar livre.
A criança gosta e aceita bem este programa variado, que contribui para a formação da sua
personalidade. Procura-se que a criança seja calma, organizada, curiosa e recetiva.
João de Deus Ramos considerava a idade de 5 anos como muito importante para a formação
do indivíduo. É como uma idade de transição, já não se encontra na fase pré-escolar, mas ainda não
chegou à primária: é um degrau a subir, uma fase «pré-elementar», «pré-primária», como ele lhe
chamava.
Praticam-se jogos, as «lições das coisas», fazem-se desenhos, mas a Matemática é mais
avançada e inicia-se de uma forma muito racional e lúdica a leitura e a escrita.
João de Deus Ramos pensava, como os pedagogos de hoje, que aguardar por uma grande
maturidade para aprender a ler é como esperar por ter músculos para começar a cultura física. É o
exercício que contribui para a maturação mental requisitada.
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É também muito importante, adaptar-se ao ritmo da criança sem a sobrecarregar, para a
fazer alcançar o programa preestabelecido. É necessário fazer com que a criança aprenda
agradavelmente, passo a passo, como num jogo. Isto põe a questão central das aprendizagens de
base e de qual o momento ideal para começar o processo de preparação.
O insucesso escolar, e mesmo profissional, poderá estar ligado a uma preparação escolar
tardia e mal estruturada. É preciso compreender a palavra «aprendizagem» como conotada pelas
noções de estimulação e de iniciação. A aprendizagem é vista não somente como aquisição de
conhecimentos, mas, sobretudo, como exercício de faculdades.
Assim pensava João de Deus Ramos e os resultados deram-lhe razão. É necessário começar a
adquirir as competências aos 5 anos e a aprendizagem da leitura é um bom ponto de partida.
A escolha de um método é essencial, método que permita o desenvolvimento das estruturas
mentais da criança. Nos jardins-escolas - «A Cartilha Maternal».
Os resultados são surpreendentes: as crianças aprendem a ler geralmente em 90 lições e o
insucesso escolar é quase inexistente.
O método utiliza estratégias de leitura do tipo «Bottom-up», em sinergia com estratégias do
tipo «Top-down», baseado na unidade global da palavra – considera-a como a ferramenta
linguística que permite o dinamismo verbal.
É também um método que apresenta as dificuldades da Língua Portuguesa segundo uma
progressão pedagógica e que constitui um verdadeiro estudo da Língua.
João de Deus Ramos considerava a aprendizagem da leitura e da escrita como o desenrolar
natural da educação pré-escolar: depois do ensino do código oral, a criança pode ser iniciada ao
código escrito, que lhe permite aceder à cultura. Estas duas aquisições deverão então constituir
uma unidade e não revelar duas escolas diferentes – a creche e a escola primária – como é habitual
nos nossos sistemas escolares.
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Escreveu muito pouco, porque acreditava que, em pedagogia, as ideias são facilmente
ultrapassadas e que é necessário viver com o seu tempo. Adorava transmitir as suas ideias às suas
alunas, afetuosamente por ele consideradas como suas «discípulas».
Depois da morte de João de Deus Ramos, foram introduzidas algumas alterações
necessárias, como por exemplo, o material Cuisenaire e os Blocos Lógicos de Dienés, e um material
de um professor português, João Nabais, chamado Calculadores Multibásicos, excelentes para
aprender a fazer operações sobre outras bases que não a base 10. Na época dos computadores é
preciso trabalhar bem na base 2 ou 9.
A paz, o interculturalismo e a integração das crianças diferentes são tidos em conta desde as
classes pré-escolares.
VI - O JARDIM-ESCOLA JOÃO DE DEUS DE CHAVES
6.1 - Breve Caraterização do Jardim-Escola
Jardim-Escola João de Deus de Chaves
Código da Giase/ME: 1703969
Endereço: Avenida Dr. António Granjo
Código Postal: 5400-080 Chaves
Localidade: Chaves
Freguesia: Santa Maria Maior
Concelho: Chaves
Sul: Av. Dr. António Granjo
Nascente: ROTARY
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Poente: Largo do Monumento
Telefone: 276 322 355
Fax:276 322 217
E-mail: [email protected]
Perfil/Valência de escola
2.1.Pré-Escolar
Esta valência é constituída por três salas, três educadoras titulares:
Bibe Amarelo (3anos)
Educadora titular Luísa Maria Encarnação
Rodrigues
Ajudante de ação educativa Maria
Henriqueta Morais
Bibe Encarnado (4 anos)
Educadora titular Paula Marisa Pereira da
Nova
Bibe Azul (5 anos)
Educadora titular Isabel Maria Pereira
Fernandes
As educadoras do Bibe azul e encarnado
trabalharam em parceria pedagógica.
2.2. 1º Ciclo
Esta valência é constituída por quatro salas, três professores titulares e um de apoio:
Bibe Castanho (1.º ano)
Professora titular Vera Brás
Bibe Verde (2.º ano)
Professora Helga Ferreira
Bibe Azul-turquesa (3.º ano)
Professora Filipa Carvalho
Bibe Azul-escuro (4.ºano)
Professora Filipa Carvalho
Professor de Apoio: Marco Ferreira
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Caracterização física da escola
Tipo de Edifícios
Tipo de Edifícios Este Jardim-Escola é constituído por dois edifícios a “Escola Mãe” e a “Escola
Nova”.
A “Escola Mãe” passou por duas fases de construção. A primeira fase em 1959 (empreiteiro
Barros e Feliciano) e a segunda fase em 1961 (empreiteiro José Domingues de Almeida) sendo o
arquiteto o Dr. Raul Lino. A área de implantação do edifício/ construção é de 35 485m². Este projeto
surge sobre os moldes apurados desde que se construiu o Jardim-escola de Coimbra I. As dimensões
são adequadas ao número de crianças que a valência do Pré-Escolar permite. É constituído por:
secretaria (10,53 m²), gabinete (10,53 m²), salão (71,55 m²), 2 salas (31,32 m² cada uma),
cantina(49,94 m²), cozinha (21,71m²) com os seus anexos (cave composta por seis despensas e
sótão por duas arrecadações), vestiários( 3,78m²), 2 casa-de-banho para adultos( m² ) e outra para
as crianças( m² ). O pavimento em solho (taco envernizado) e mosaico nas zonas das casas-de-
banho, cozinha e copa.
Os materiais de acabamentos são os mais próprios e adequados atendendo à região em que
está localizado, à época em que foi construído e aos resultados de experiência de quem o
concebeu.
Quanto ao aspeto exterior foram conseguidos as principais características que se têm
evidenciado desde a construção do primeiro Jardim-escola. O seu aspeto exterior resume-se numa
feição atraente e alegre, como deve ser próprio de instituições educativas para crianças, e com uma
fisionomia que não se confunde com quaisquer estabelecimentos de ensino dedicado a crianças,
em qualquer país.
A “Escola Nova” inicia a sua construção em 1996 (empreiteiro José da Cruz Bernardes) sendo o
arquiteto o Dr. Victor Manuel da Silva Vicente. A área de implantação do edifício/ construção é de
598,05m². Este projeto surge sobre a vontade de ampliar a “Escola Mãe” e implementar o 1.º Ciclo.
É construído então um novo edifício com ligação funcional, através do refeitório à “Escola Mãe”.
Nesta altura fizeram-se também obras à cozinha para esta melhor se adequar às novas
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necessidades. É constituído por: 4 salas (1.º sala 36,6 m², 2.º sala 38 m², 3.º sala 38m² e 4.º sala 47,3
m²), ginásio 85 m², 2 casas de banho (uma em cada piso) 9,69m².
O seu aspeto exterior é agradável e não destoa do edifício já existente.
Os dois edifícios apresentam aquecimento central, servidos por duas caldeiras ou painel solar.
O painel solar só é utilizado para as águas quentes durante alguns meses em que o clima o permite.
6.2 - Instalações Escolares
6.2.1 – Hall
Este é o local por onde toda a comunidade educativa e outros utentes entram no jardim-
escola. É a partir deste ponto que é feita a distribuição das crianças para cada uma das valências. É,
também, o acesso para a zona da secretaria.
6.2.3 – Secretaria
Nesta sala são atendidos/recebidos os pais/encarregados de educação, fornecedores e todas
as pessoas que necessitem de tratar de assuntos relacionados com o Secretariado.
Gabinete de Direção
No gabinete são atendidos pais e encarregados de educação, assim como todos os
funcionários docentes e não docentes que necessitem de algum esclarecimento da direção.
6.2.4 - Arquivo
Nesta sala é guardada toda a documentação que precisa ser arquivada para memória futura.
6.2.5. - Salas de Aula
É nestas salas que se realizam as principais atividades curriculares das crianças. Em todas
elas existem, também os cantinhos da Leitura e de Jogos, de modo a proporcionar às crianças
atividades lúdicas e de enriquecimento cultural. Em cada uma das salas existem estantes e outro
mobiliário para que os docentes possam arrumar o material didático e para que possam lecionar as
suas aulas.
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6.2.6. - Salão
O salão é o local privilegiado para as atividades de grupo das crianças do Bibe Encarnado,
uma vez que é o prolongamento da sua sala de atividades diárias. É onde se recebem todas as
crianças, diariamente, de manhã, quando se cantam as canções em roda e, à sexta-feira, para
apresentar o teatro de fantoches. É o local onde as crianças esperam, em comboio, para irem
almoçar.
6.2.7. – Ginásio
É neste espaço que se realizam as aulas de Expressão e Educação Físico-Motora, as
atividades de caráter mais alargado a todas as turmas ou que pela sua especificidade necessitem de
mais espaço como as festas ou peças de teatro, por exemplo. Estará, também, disponível para
conferências, colóquios ou outras atividades organizadas pelo jardim-escola ou, até, por outras
instituições com quem possamos estabelecer parcerias.
Junto a este espaço existem dois balneários, duas casas de banho e uma arrecadação para se
guardar material diverso.
6.2.8. – Biblioteca
Este é um espaço que ainda não está em funcionamento, mas que se pretende, através do
desenvolvimento do presente Projeto Educativo, colocar em funcionamento com a maior brevidade
possível. Na sala que antigamente estava dedicada aos alunos do 4.º ano. Esta sala funcionará como
sala de professores, de audiovisuais e computadores.
6.2.9. - Sala de Professores (Biblioteca)
Servirá como sala de professores quando as atividades anteriormente descritas não
existirem, uma vez que são situações esporádicas. Nesta sala preparam-se materiais didáticos,
planificam-se aulas e servirá como local de partilha de experiências entre os vários docentes.
6.2.10 – Cozinha, Copa e Refeitório
As refeições são preparadas na cozinha e servidas no refeitório. Este é utilizado por todas as
turmas. É na copa que se lava e seca a loiça utilizada.
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6.2.11 – Sala de Repouso/Vestiário
Nesta sala cada funcionário não docente poderá guardar os seus bens pessoais num cacifo
individual e poderá descansar na hora do almoço.
6.2.12 – Arrecadações, Lavandaria e Rouparia
Há arrecadações em várias zonas do edifício. Servem para arrumação do bastidor, do
material didático, dos catres, dos alimentos, dos produtos de limpeza e higiene, da roupa, etc.
6.2.13 - Instalações Sanitárias
Além das instalações sanitárias para docentes, não docentes há casas de banho afetas a cada
uma das valências (Creche, Pré-escolar e 1.ºCiclo) As do 1.ºCiclo estão divididas por género,
masculino e feminino. Sempre que os alunos vão à casa de banho em grupo, fazem-no em comboio
para que haja uma maior organização.
6.3 - Caraterização da População Escolar
6.3.1 - Pessoal Discente
O número de crianças matriculadas, este ano, é cerca de 92, distribuídas por 3 turmas do
Pré-Escolar e 3 turmas do 1º Ciclo. Contamos, em 2016, vir a ter um total de 175 crianças.
As crianças que frequentam este jardim-escola revelam diferentes níveis de
heterogeneidade: socioeconómico, cultural, cognitivo e comportamental.
Como vivemos tempos difíceis, de crise económica, o Jardim – Escola passa por enorme
crise, são poucas as crianças matriculadas. Este facto devesse também à abertura do novo Centro
Escolar e às mensalidades demasiado altas comparativamente com as praticadas no meio.
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Apesar da existência de crianças pertencentes a famílias carenciadas, cujos pais ou
encarregados de educação estão, até, no desemprego, uma grande parte das crianças pertence a
um estrato social médio. A maioria das famílias trabalha no sector terciário e as suas habilitações
literárias incluem-se maioritariamente no ensino secundário. O seu ambiente e acompanhamento
familiar poderão considerar-se satisfatórios.
6.3.2 - Pessoal Docente
O pessoal docente desde jardim-escola não é todo ele, formado na Escola Superior de
Educação João de Deus, em Lisboa.
A presidente do Conselho Diretivo e diretora pedagógica. É a representante perante o
Instituto da Segurança Social, o Ministério da Educação e demais instituições nos assuntos de
carácter geral do jardim-escola em todas as valências e do 1.ºCiclo em particular; organiza e preside
aos Conselhos Escolares; é responsável pela secção financeira e contabilística; pela compra da
alimentação, material escolar, material didático; pelas obras a efetuar; pela organização do pessoal
docente e não docente e orientadora do trabalho realizado em todas as valências, com especial
relevo no 1.ºCiclo.
O corpo docente do jardim-escola é constituído, atualmente, por 3 educadoras e 4
professores, estando incluído na valência do 1.º ciclo um docente de apoio.
Este pessoal tem a seu cargo a planificação, organização e orientação de todo o trabalho
pedagógico e de disciplina das crianças pelas quais são responsáveis.
É nosso interesse criar estabilidade no corpo docente, pois é muito importante, não só
porque contribui para uma melhor relação pedagógica com as crianças, famílias e restante pessoal
mas também porque contribui para um melhor desenvolvimento dos projetos em que o jardim-
escola estiver envolvido e para melhor ultrapassar os obstáculos que forem surgindo. Quanto maior
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é o conhecimento da comunidade educativa e do seu contexto, maior facilidade existe na tomada
de decisões e no estabelecimento das prioridades.
O corpo docente trabalha em grupo nas planificações das atividades, em situações de sala de
aula e nos Conselhos Escolares, quando é feita a avaliação sumativa dos alunos e no planeamento
dos projetos a desenvolver.
6.3.3 - Pessoal Não Docente
O corpo não docente já trabalha neste Jardim-Escola há imenso tempo.
É constituído, atualmente, por 1 administrativa, 2 ajudantes de ação educativa, 1 cozinheira
e 1 auxiliar de ação educativa, que apoiam todas as valências.
A administrativa é responsável pelos serviços de reprografia, secretariado, atendimento aos
encarregados de educação na secretaria, pela contabilidade e fornecedores.
As ajudantes de ação educativa são responsáveis pelo apoio às atividades letivas, serviços de
almoços e lanches, acompanhamento dos alunos nos recreios e nas entradas e saídas.
A cozinheira é responsável pela preparação das refeições e pela organização e manutenção
da limpeza e higiene da cozinha.
As auxiliares de limpeza são responsáveis pela limpeza e manutenção de todo o espaço físico
do jardim-escola, interior e exterior. Distribuem e apoiam os almoços e os lanches e o pessoal
docente, sempre que necessário na organização e distribuição do material didático e nas demais
atividades de apoio aos alunos, sempre que necessário.
É nosso interesse criar, também, estabilidade do corpo não docente. Para isso contribui,
certamente, as reuniões mensais que são feitas com o pessoal referido.
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6.4.- Organização nos períodos de Férias
Durante as férias de Natal, Carnaval e Páscoa o Jardim-escola funciona em regime de
roulements do corpo docente. Pretende assim, a instituição à qual pertencemos, fazer face às
necessidades dos pais e encarregados de educação.
Durante os períodos de roulement são interrompidas as atividades letivas. Para a
substituição dessas atividades serão planificadas outras de carater mais lúdico (veem comtempladas
no Plano Anual de Atividades).
Durante os roulements o pessoal docente terá, também, como função realizar as avaliações
das crianças, planificar e organizar trabalhos para os períodos seguintes. O pessoal não docente terá
como função proceder a limpezas mais profundas e a toda a arrumação dos espaços.
Este Jardim-Escola estará aberto todos os meses do ano. Os pais deverão proporcionar aos
seus educandos um mês de férias, tendo em conta que estes não podem interromper as atividades
letivas.
6.5.- Relação entre o Jardim-Escola e a Comunidade Educativa
Esta relação é feita através de contactos formais e horas pré-estabelecidas pelos membros
do Conselho Escolar.
6.5.1.- Contacto com pais e Encarregados de Educação
No início do ano letivo, sempre que se justifique, realiza-se uma reunião geral para a
apresentação e discussão das normas de Regulamento Interno;
No início do ano realiza-se uma reunião, por turma, para a apresentação do educador/
professor, das principais normas do Regulamento Interno, do Projeto Educativo, do Projeto
Curricular do Jardim-Escola e do Plano Anual de Atividades;
Semanalmente há uma hora individual de atendimento aos encarregados de educação;
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Semana da Família e dias combinados diretamente com os encarregados de educação -
Projeto Escola Família- durante os quais os mesmos podem partilhar histórias, experiencias,
dar uma aula,…
Reuniões extraordinárias para tratar de assuntos relacionados coma orgânica e
funcionamento do jardim-escola, problemas surgidos, avaliação, projetos e outros de
interesse comum.
6.6.- Projetos/ Protocolos e Parcerias
Através de projetos, protocolos e parcerias pretendemos estabelecer muitas das nossas metas
para estes três anos que se seguiram.
Aguardaremos pelas eleições em meados de outubro de 2013, para estabelecer parcerias com
as diferentes autarquias. Iniciaremos o nosso Projeto a 2 de setembro de 2013 com um protocolo
assinado com o Lar de Santa Marta. Será nessa instituição que arrancaremos com as nossas aulas de
Cartilha Maternal (duas vezes por semana), junto da população mais idosa.
É nosso objetivo que daí resulte benefício pedagógico, social e cultural para a nossa comunidade
educativa.
VII - O que pretendemos
7.1.- Intenções Educativas
O principal objetivo desta instituição é apoiar as famílias das nossas crianças, dentro de uma
filosofia comum a todos os Jardins-Escolas João de Deus espalhados pelo país.
Assim, deve ser o objetivo do Jardim-Escola de Chaves proporcionar aos alunos todas as
aprendizagens que possam levar a um bom relacionamento com os outros e no seu
desenvolvimento enquanto cidadão, integrando-se na sociedade e respeitando os valores cívicos.
Brincar é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não deve ser visto apenas
como diversão ou entretenimento. O lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal,
social e cultural, colaborando para um saudável e harmonioso crescimento. Esta é uma das
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intenções educativas propostas pelo nosso método de ensino e devemos reforçar a ideia que este
tem mais de 100 anos.
O veículo utilizado para que tal aconteça será a metodologia João de Deus e todos os seus
princípios. Fundamentaremos a nossa escolha em três princípios básicos, para esta grandiosa
instituição:
Criar um ambiente harmonioso, de paz e tranquilidade, capaz de fomentar um clima
que permita trabalhar em boas condições. Sendo de primordial importância a criação
de um ambiente de simpatia, no verdadeiro sentido da palavra, baseado em
equilibradas relações entre todos os que aí exercem funções. Essas relações devem
ser norteadas por um profundo respeito entre todos e englobará primordialmente a
criança. Só assim se fortalece um verdadeiro sentido de escola no seu mais elevado e
lato conceito;
Instituir a tolerância de crenças e convicções, que devem ser respeitadas, quando
não colidam com o funcionamento geral da instituição. Este principio tem a ver com
um conceito de liberdade responsável;
Fomentar o gosto pelo trabalho quando bem distribuído, e permitir a sua realização
em boas condições. Este aspeto é muito importante para adultos e crianças e será
um dos hábitos que podem favorecer a integração num futuro escolar e profissional
evitando possíveis e indesejáveis marginalizações.
7.2.- Metas
Ao longo destes 3 anos de trabalho tentaremos alcançar as seguintes metas:
Estimular a interação com os pais e toda a comunidade educativa;
Dar a conhecer a toda a comunidade educativa a Associação de Jardins-Escolas João de
Deus, a sua história, fundadores e principais atividades;
Fomentar a proximidade de relações estabelecidas entre toda a comunidade educativa;
Deslocarmo-nos às diferentes instituições e junto da população mais idosa aplicarmos a
Cartilha Maternal;
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Criar hábitos de ajuda ao próximo.
VIII - Disposições Finais
8.1.- Destinatários
N.º de alunos Ano de Escolaridade
Pré-escolar: 40 a 75 crianças
Bibe Amarelo
Bibe Encarnado
Bibe Azul
1.º Ciclo: 40 a 100 crianças
1.º Ano
2.º Ano
3.º Ano
4.º Ano
8.2.- Vigência do Projeto Educativo
Duração do Projeto em meses 33
Data prevista para o inicio e final do projeto De setembro de 2013 a julho de 2016
8.3.- Avaliação do Projeto Educativo
O Projeto Educativo passará por três momentos de avaliação:
Diagnóstica (início do projeto);
Intermédia (no fim de cada período);
Final (no fim do terceiro ano do projeto).
Notas: todas as atividades serão analisadas e sujeitas a uma avaliação para que possam ser
efetuados os ajustes necessários. Tentaremos discutir e analisar em conselho escolar os
diferentes indicadores que surgirão.
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Ao conselho escolar competirá o acompanhamento e avaliação do Projeto Educativo,
focando, entre outros, os seguintes aspetos:
A realização das atividades previstas e não previstas no Plano anual de Atividades;
O grau de pertinência e consecução dos objetivos do Projeto Educativo;
Participação dos docentes envolvidos, num balanço a realizar em julho de cada ano
letivo para avaliação do projeto;
Inquérito aos pais sobre o projeto desenvolvido;
Relatório final de cada ano letivo que inclua uma reflexão crítica sobre as atividades
desenvolvidas;
A apresentação de sugestões para a etapa seguinte de desenvolvimento do Projeto
Educativo.
Só em julho de 2016 saberemos se as metas propostas foram alcançadas e se as estratégias
adotadas foram as mais adequadas.
8.4.- Critérios de Avaliação Final do Projeto Educativo
Insuficiente Não foram atingidas as metas.
Suficiente Foram atingidas apenas algumas metas.
Bom Foram atingidas todas as metas.
8.5.- Divulgação do Projeto Educativo
O projeto será apresentado no início de cada ano letivo.
Este estará disponível, na secretaria, para a consulta de toda a comunidade educativa.
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9. Considerações Finais
Em suma e refletindo em tudo aquilo que nos propomos alcançar com este Projeto
Educativo, tentaremos comprovar junto da nossa comunidade educativa que o método
implementado pelo pedagogo João de Deus, é sem dúvida, um dos grandes pilares da educação em
Portugal.
Por isso, dar a conhecer, a toda a comunidade educativa, o seu método e toda a sua história,
torna-se assim imprescindível.
Prosseguir, ainda que de uma maneira humilde, o seu legado é uma das formas de enaltecer
a sua obra. Por isso, um dos grandes objetivos deste PEE é por em prática, junto daqueles que mais
precisam, o método usado em todos os Jardins-Escola.
Desta maneira, os Jardins-Escola deverão continuar a prosseguir na construção de uma
Educação Básica de sucesso para todos, onde se afirma a diversidade e a diferença pedagógica.
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IX- Bibliografia
DEUS, João de, Associação de Jardins-Escola João de Deus, Regulamento Interno, Associação
de Jardins-Escola João de Deus, 2012.
LEITE,Carlinda, Projetos Curriculares de Escola e de turma, Edições ASA, Porto, 2001.
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