IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”
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História e Memória da Educação na Cidade de Manaus (1889 – 1930)
Assislene Barros da Mota (org.) [email protected] Ivete Ribeiro Rubim Fernandes
Erilane de Souza Guimarães Eliane da Silva Chaves
Carla Roberta Larissa Moreira Iracema Arcanjo Castro
(ESBAM)
Resumo Ao refletirmos o contexto histórico‐sócio‐educacional e biossocial de Instituições Escolares de Manaus, nos deparamos com a escassez de literatura referente à cultura escolar local. Diante disso, optamos por realizar um trabalho de Iniciação Científica, que teve como objetivo analisar as práticas escolares, verificando como se processou os saberes e fazeres de cada Instituição investigada, tendo como recorte histórico o período da Primeira República (1889 – 1930), utilizando fontes documentais e materiais iconográficos. As fontes orais foram escassas, uma vez que a pesquisa teve seu recorte datado do final do século XIX e início do XX. Mobilizamo‐nos por meio de subprojetos, envolvendo acadêmicos‐pesquisadores de vários cursos da ESBAM de diferentes períodos. Analisando o movimento das instituições educativas pesquisadas com a sociedade urbana de Manaus, na visão de Magalhães (1996), Ginzburg (1989) e Le Goff (1996). Primeiramente, contextualizamos a cidade de Manaus em termos histórico‐cultural e biossocial, para posteriormente, investigarmos as instituições escolares: Escolas Noturnas de Manaus, Instituto Benjamim Constant, Gymnasio Amazonense Pedro II, Escola de Comércio Sólon de Lucena; e os Grupos Escolares: Saldanha Marinho, Barão do Rio Branco, Marechal Hermes, José Paranaguá e Presidente Bernardes. O trabalho ficou constituído por doze capítulos, sendo o último reservado para depoimento dos acadêmicos‐pesquisadores diante do significado que a Iniciação Científica representou para sua formação. Em 2010 foi publicado na formatação de livro‐catálogo pela Escola Superior Batista do Amazonas (ESBAM). Palavras chave: História da Educação. Cultura Escolar. Práticas Escolares
INTRODUÇÃO
Ao refletir a conjuntura sócio‐histórica do campo escolar na cidade de Manaus, nos
deparamos com a escassez de literaturas específicas inerentes à cultura escolar da referida cidade,
assim, nos dispusemos a realizar essa pesquisa de caráter ex‐post‐facto, dentro da perspectiva
histórica (descritiva, analítica e exploratória), com o intuitode recuperarmos fragmentos da
história e memória de Instituições Escolares de Manaus no período de 1889 a 1930,
correspondente basicamente ao início da expansão do campo escolar manauense, considerando a
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falta de informações histórico–cultural e biossocial, a deficiência de sistematização e organização
de documentos escritos e iconográficos.
Para tanto, foi idealizado junto a Escola Superior Batista do Amazonas (ESBAM), a criação
do Centro de Pesquisa Integrada de História e Memória da Educação (CEPIHME), buscando por
meio de um trabalho de Iniciação Científica, realizar pesquisa de forma integrada, coletiva e
interdisciplinar, respeitando as posições teóricas de cada acadêmico‐pesquisador, manifestado em
diferentes olhares, posturas e opções. Assim, o espírito de equipe foi se construindo
paulatinamente, em ritmos e cadências diferenciados, visto que cada instituição de ensino
investigada é única.
No decorrer das investigações e estudos, aconteceram conflitos que não foram superados,
a bom termo, algumas perdas ocorreram. Isso não deixou de ser aprendizado para a equipe, uma
vez que houve fortalecimento de identidade e da autonomia para cada um dos envolvidos no
projeto de Iniciação Científica. Essa é a essência da pesquisa “integrada”, consolidar‐se em
pesquisa de “equipe”.
A preocupação de todos, no entanto, foi sempre com a educação, por isso focalizamos essa
pesquisa na história da educação local, sob o mirante de diversas experiências educacionais no
período de tempo compreendido de 1889 a1930, sendo imprescindível a manipulação de várias
fontes no transcorrer do processo de desenvolvimento dos estudos.
A equipe de pesquisa configurou o trabalho de investigação ao espaço físico‐geográfico do
centro antigo da cidade de Manaus, porque os objetos de estudo estavam localizados no chamado
Sítio Histórico1.
O projeto do CEPIHME/ESBAM foi desenvolvido em duas fases. A primeira iniciou em julho
de 2004, com o projeto “História e Memória da Educação na cidade de Manaus (1889 – 1930)”,
concluído em 2005 com o livro‐pesquisa “Preâmbulo da História e Memória da Educação na
cidade de Manaus (1889 – 1930)”. A segunda fase da pesquisa, e redefinição do projeto do
CEPIHME iniciou em julho de 2008, o projeto “História e Memória da Cultura Escolar na Cidade de
1 É uma área delimitada pela Lei Orgânica de Manaus – LOMAN, em seu artigo nᵒ 235, §2ᵒ.
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Manaus (1889‐1930)”, culminando no ano de 2010 com a publicação do livro‐ catálogo “História e
Memória da Educação na Cidade de Manaus (1889‐1930)”.
A pesquisa não ficou retida apenas em fontes documentais escritas, mas recorremos na
busca de materiais iconográficos. Tendo em vista que os relatos de memórias vivas, embora
escassos, foram encontradas duas professoras remanescentes: Alzira Reis Góes (Ex‐diretora e
professora do Grupo Escolar Marechal Hermes) e a Irmã Eunice Menezes (ex‐aluna do Instituto
Benjamim Constant), sendo também aberto um espaço para descendentes. Optamos pela
diversidade das fontes em termos de documentos escritos e material iconográfico, a fim de
analisar a dinâmica do campo escolar manauense, ou melhor, o movimento das instituições
educacionais pesquisadas com a sociedade urbana de Manaus no final do século XIX e início do XX.
Ancorados nos pressupostos teóricos de Magalhães (1996), que enfatiza a construção da história
por meio de fontes como memória e arquivo, no qual:
[...] a memória desafia o historiador para uma explicação da ordem, da organização dos espaços, dos tempos e das coisas. A memória desafia o historiador para a explicação das relações hierárquicas e valorativas, quer entre as coisas, quer entre as pessoas. Nada na vida de uma instituição escolar acontece ou aconteceu por acaso, assim o que se perdeu ou transformou, como o que permanece. A memória de uma instituição é, não raro, um somatório de memórias e de olhares individuais ou grupais (MAGALHÃES, 1996, p. 11).
Mobilizamo‐nos por meio de subprojetos (duplas, trios, quartetos e quintetos), com o
envolvimento de vinte e oito acadêmicos‐pesquisadores de Iniciação Científica dos 1º, 3º, 4º, 5º,
6º e 7º períodos dos cursos de Pedagogia e Ciências Biológicas e Psicologia da ESBAM (Figs. 01 e
02). Além de doze professores‐orientadores, e sete colaboradores, computando um total de
quarenta e sete pessoas envolvidas diretamente no projeto nas duas fases respectivamente.
Fig. 01 – Acadêmicos‐pesquisadores
da I fase (2004/2005).
Fig. 02 ‐ Acadêmicos‐pesquisadores
da II fase (2008/2010).
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Fig.03: Equipe do CEPIHME no
Arquivo Público Estadual
F CEPIHME/ESBAM 2010
Os acadêmicos‐pesquisadores realizaram o rastreamento de fontes que se encontravam
fragmentadas em diferentes lugares de memória, fazendo, inclusive, a recuperação e higienização
de algumas, organizando‐as (Figs. 03 e 04), construindo, assim, um arquivo que facilitou a consulta
na fase de produção e sistematização da pesquisa.
Trabalhamos com documentos existentes relacionados às instituições investigadas,
recorrendo a fontes primárias e secundárias diversificadas como: regimentos internos, relatórios
de Província do Estado do Amazonas, livros de ata, relatório geral da instrução pública do Estado
do Amazonas, regulamentos, pareceres, livros de matrícula, de ponto e de chamada, relatório de
diretores, artigos de jornais, revistas pedagógicas, anuários, fotografias pertencentes a pessoas
relacionadas às instituições pesquisadas, livros escolares, legislação sobre o ensino da época etc.
Foram realizadas entrevistas, com remanescentes: parentes diretos de ex‐professores e ex‐
diretores, ex‐alunos dentre outros, resultando em materiais produzidos pelos acadêmicos‐
pesquisadores.
Esta pesquisa integrada e interdisciplinar, tanto na I fase, quanto na II, envolveu os
professores das disciplinas: Pesquisa e Prática da Educação II e III, Biologia e Educação, Legislação
do Ensino, Evolução e Genética das populações, Psicologia da Educação e Sociologia da Educação.
A pesquisa está fundamentada em três tipos de documentos: escritos, orais e iconográficos, e em
alguns subprojetos, pela circunstância que envolveu a instituição pesquisada, encontramos mais
dados da primeira que da segunda e terceira fonte.
No período entre2008/2010, o projeto do CEPIHME/ESBAM foi redefinido com a proposta
de revisão e ampliação do primeiro livro‐pesquisa.Foram extraídas informações sobre os fatos
Fig. 04 – Arquivo Público
Profª Erilane Guimarães
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históricos, em termos de evidências, sinais, indícios e pistas, tendo como suporte teórico os
estudos de Ginzburg (1989). Embora a postura crítica dos acadêmicos‐pesquisadores não seja de
neutralidade, tiveram o cuidado de não se precipitar diante dos fatos detectados à primeira vista,
mesmo os evidentes.
A proposta era analisar as práticas escolares do período de 1889 – 1930, verificando como
se processou os saberes e fazeres de cada instituição de ensino pesquisada e apreender os
aspectos que identificavam uma instituição escolar no contexto social onde se encontrava
inserida, diante de avanços e retrocessos ocorridos com o tempo, pois “a construção da história de
uma instituição educativa visa por fim, conferir uma identidade cultural e educativa. Uma
interpretação do itinerário histórico, a luz do seu próprio modelo educacional” (MAGALHÃES,
1996, p.14). Os documentos escritos foram analisados sob a concepção de Le Goff (1996), como
fontes repletas de intencionalidade.
A pesquisa desenvolvida permitiu incluir a recuperação de materiais iconográficos que
possibilitaram a inferência de diversos enfoques acerca de determinados fatos, desvelando, que a
história é constituída de interpretações e, a realidade é, sobremaneira, complexa e contraditória.
A intenção da equipe foi compreender uma época em termos de seu campo educacional,
permitindo uma visão histórico‐cultural e biossocial das instituições de ensino investigadas. Para
isso, utilizamos uma fundamentação teórica consistente e instrumentos metodológicos adequados
na recuperação e análise de uma pesquisa de caráter ex‐post‐fato. Além de cumprirem os
objetivos específicos do trabalho, realizaram encontros para discutir, debater e analisar
semanalmente os assuntos de interesse dos subprojetos, que iam do conhecimento da história e
sociologia regional ao contexto histórico‐cultural e biossocial de Manaus no período estudado, até
permutas significativas de informações sobre achados relevantes para mais de um subprojeto.
No tocante as formas de registro da atividade humana, durante muito tempo, foram
desprezadas as fotografias por não serem consideradas manifestações significativas. Todavia, a
noção de documento a partir de outras concepções, como por exemplo a “Escola dos Annales”,
desafia o historiador a entender que os fatos históricos se fazem a partir das ações dos homens
“com tudo o que pertencendo ao homem, depende do homem, serve o homem, exprime o
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homem, demonstra a presença, a atividade, os gostos, e as maneiras de ser do homem” (VIEIRA
apud FEBVRE, 1965, p. 428).
Pensar a história dessa forma faz com que o historiador incorpore novas linguagens ao
campo dos seus interesses, tornando‐os mais elucidativos. Por isso, as fotografias ganharam nas
últimas décadas reconhecimento não só como ilustrações, mas também como fontes, visto que,
quando bem analisadas, passam a ser levadas em consideração por retratarem práticas, sinais,
valores e costumes de uma determinada época, pois:
[...] Defendemos três aspectos fundamentais na discussão do papel da imagem fotográfica no espaço da história: de que a imagem é sempre um monumento, produzida por uma subjetividade que lhe dá a veste de real e que, para ser trabalhada enquanto documento, necessita de uma metodologia que a veja enquanto linguagem, com a especificidade de um discurso; de que a imagem é sempre produzida socialmente, articulando sua dimensão físico‐química (hoje também computadorizada) com a produção de idéias e valores, de uma estática e de uma ética; de que a imagem fotográfica tem um fértil campo de análise a partir de uma metodologia qualitativa/quantitativa que vem unindo a construção de séries, de eixos temáticos, de signos que se reiteram, com o uso da semiótica e de novas tecnologias de suporte, especialmente a informática, indicando um novo potencial analítico, mas, também novos riscos empiricistas (BARROS, 1992, p. 81).
Diante disso, optamos pelo uso da fotografia, primeiro como meio de preservação da
memória ilustrada e, segundo, pela vantagem significativa da disposição existente desse material
iconográfico nos lugares de memória investigados: Arquivo Público Estadual, Biblioteca Pública,
Arquivo da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, Museu Amazônico, Universidade
Federal do Amazonas, Arquivo da Secretaria de Estado da Educação e Qualidade de Ensino,
Imprensa Oficial do Estado do Amazonas, Diário Oficial do Estado do Amazonas, Centro Cultural
Palácio Rio Negro, Biblioteca Arthur Reis, Biblioteca Municipal João Bosco Pantoja Evangelista,
Museu do Porto, Escola de Serviço Público, Federação Espírita do Amazonas, Arquivo do Jornal do
Comércio, Biblioteca do Colégio Amazonense Pedro II, Biblioteca do Colégio Dom Bosco, acervo
das Escolas Estaduais Barão do Rio Branco e José Paranaguá, Associação Comercial do Amazonas,
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Instituto Geográfico e Histórico do
Amazonas e o Instituto Municipal de Planejamento Urbano de Manaus.
O resultado dessa investigação constituiu‐se no livro‐catálogo “História e Memória da
Educação na cidade de Manaus (1889 – 1930)” publicado em 2010,sistematizado em doze
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capítulos, porém, o último foi reservado para depoimento dos acadêmicos‐pesquisadores diante
do significado que a iniciação científica representou para sua trajetória acadêmica.
1.1‐ Contextualização Histórico‐Cultural e Biossocial de Manaus
Manaus foi uma das poucas cidades que passou por quase todos os estágios de
desenvolvimento urbano, ou seja, de aldeia à cidade. No entanto, as mudanças aconteceram de
maneira incipientes, no que diz respeito a uma nova sociedade que emergia em meio a uma
cultura arraigada a hábitos nativos. O impacto da mudança não aconteceu apenas com relação ao
aspecto estético da cidade, mas fatores econômicos, sociais, políticos, sanitários e culturais
permeavam essa nova sociedade visivelmente urbana, mas que fizeram surgir vários conflitos
mediante sua implantação e consolidação de caráter histórico‐cultural e biossocial, motivados pela
rotatividade de presidentes provinciais.
Mudanças significativas aconteceram no governo de Eduardo Gonçalves Ribeiro (1892‐1896) cuja
administração, tinha por objetivo transformar Manaus em uma cidade com características
europeias, mesmo que, para isso, tivesse que desconsiderar os hábitos locais ou suprimi‐los.
Inicialmente, as modificações foram nas áreas urbanísticas, já que na cidade não existiam esgotos,
comprometendo a saúde da população. Neste sentido, em 1893, Eduardo Gonçalves Ribeiro
destacou cinco pontos para melhorar a situação sanitária de Manaus:
Eram eles: 1º) Saneamento do solo, esgotos, águas fluviais, abastecimentos d’água ; 2º) Remoção e destruição do lixo e limpeza pública; 3º) Vacinação e revacinação; 4º) Casas para classes proletárias; 5º) Remoção do Hospital de caridade, arrasamento do cemitério de São José, construção de hospitais para loucos e leprosos (CORRÊA, 1966, p.49).
Além desse conjunto de necessidades que transformaram Manaus numa cidade “moderna”,
foram realizadas a canalização d’água advinda do reservatório (Mocó), grandes aterros,
construção de pontes de pedra e de ferro e outras obras de expressividade no transcorrer desse
período como o Teatro Amazonas (Fig.05) e o Palácio da Justiça (Fig. 06).
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Essas obras influenciaram a construção de outras benfeitorias nas administrações
subsequentes, como: o Porto Flutuante de Manaus ‐ Rodway (1902), o edifício da Alfândega,
(1909) a implantação do Bonde elétrico(1895), o Palácio Rio Negro (1903), o prédio da
Assembleia Legislativa (1935),bem como palácios, palacetes, cafés,livrarias etc. Todas essas
obras foram realizadas no período da economia gomífera (cerca de 1880 a 1910).A contradição
de modernizar a cidade diante da exuberância de uma floresta, sem levar em consideração o
modo de viver e pensar da população local. A partir daí, Manaus atinge a sua prosperidade, o
apogeu da “belle époque”2, adornada de prédios suntuosos, ruas pavimentadas com batentes e
calçadas em mármore de Liós, iluminação elétrica, demonstrando muito esbanjamento.
A cidade de Manaus, durante esse período, passava por um momento de estabilidade
econômica, e diante dessa euforia, os governantes não perceberam a chegada de uma crise que
modificaria todo o sistema econômico do Estado.
É inegável o fato de que todos estes acontecimentos influenciaram o campo educacional
de Manaus, uma vez que há uma relação entre a educação e cultura.
Ademais, a educação manauense recebeu contribuições e influências da cultura europeia. E nos
primeiros anos do governo republicano, passou a valorizar mais os estudos científicos, de cunho
positivista, como meio de alcançar a “civilização” ideal esse difundido nos jornais estudantis da
época: “Escola”, no qual em um de seus artigos, intitulado “Instrução”, referindo‐se ao ensino,
afirmava que:
2No final do século XIX a cidade de Manaus despontava como um dos centros de prosperidade e riqueza no país, graças aos excedentes gerados pela exploração da borracha na Amazônia. Grande parte dos excedentes econômicos era aplicada em projetos que visavam “civilizar” e embeleza” a cidade [...] promoveram consideráveis modificações em sua topologia – aterraram igarapés, nivelaram morros, abriram ruas e praças, calçaram passeios, enfim traçaram uma nova malha urbana para a capital [...] para ostentar um novo status e fazer da antiga Vila da Barra a moderna “Paris dos Trópicos” (MESQUITA, 1999, p. 325 – 328).
Fig. 06 ‐ Palácio da Justiça
Fonte: CD (encarte do jornal À
Fig. 05 – Teatro Amazonas
Fonte: CD (encarte do jornal À
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A instrucção é tão bem necessária ao homem como o próprio ar que elle respira.A ignorância avilta, ao passo que a instrucção nobilita. A primeira representa a barbaria – a segunda a civilisação.Só se pode avaliar do estado de adiantamento de um povo – pelo desenvolvimento de sua mentalidade, não há progresso sem instrucção (Jornal ‐ A Escola – Órgão do externato “15 de Novembro” Manaós, 1900‐1901 nº 1 Anno I. Manaós, 23 de Setembro de 1900).
Esse discurso foi difundido pelos liberais republicanos entusiasmados pela nova forma de
governo, disseminando a ideia de mudar o país por meio da instrução. Porém, poucas ações
concretas se processaram nesse sentido. O saber estava incorporado a interesses sócio‐políticos,
influenciadores de saberes e fazeres, que refletiram gradativamente no modo de vida da
população, modificando hábitos, costumes, pensamentos e ideias, gerando assim, uma nova
identidade para a sociedade local.
1.2‐ Escolas Noturnas de Manaus
A primeira escola noturna de primeiras letras foi criada pela lei nº 325 de 16/05/1872, na
sessão extraordinária da Câmara Municipal de Manaus do dia 26/08/1872, quando foi aprovada
por unanimidade a sua criação.
Com a Proclamação da República é dado um novo enfoque para essas escolas, pois várias
instituições privadas se envolveram com esse segmento de ensino, entre elas, a Sociedade de
Propaganda Espírita do Estado do Amazonas e a Maçonaria. Coube a instituição a criação de duas
escolas. Sendo apenas uma oficializada com a denominação de Curso Noturno Gratuito em 31 de
julho de 1901, cujo currículo compreendia matérias como: português, aritmética, língua
estrangeira, história, geografia e taquigrafia.
As escolas maçônicas em Manaus em 1927 realizaram uma campanha contra o
analfabetismo apenas de ordem interna, com intuito de conscientizar os membros das instituições
envolvidas, objetivando a prática da leitura efetuada em suas reuniões. Por um longo período
algumas escolas noturnas foram parcialmente sustentadas pela maçonaria local.
1.3 ‐ Instituto Benjamim Constant
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Essa instituição de ensino foi marcada por uma cultura religiosa, e teve como precursor o
Asilo Orfanológico Amazonense, criado pela lei nº 643 de 02/06/1884, no governo do presidente
da Província do Amazonas, Dr. Theodureto Carlos de Farias Souto, que no dia 07/07/1884, por
meio do Regulamento de Criação de nº 52 deu ao Asilo o nome de sua idealizadora e esposa,
passando a denominar‐se “Asilo Orfanológico Elisa Souto”, inaugurado no dia 10/07/1884.
Em 17/05/1887, por meio da lei nº 749, o Asilo foi transferido para o prédio, conhecido
como Palacete do Barão de S. Leonardo, que na ocasião era a sede do Museu Botânico do
Amazonas. Posteriormente, o Asilo Elisa Souto foi transformado em 1892, no Instituto Benjamim
Constant (Fig. 07).
Foi designada como primeira regente do Asilo a Sr. Eulália Fernandes do Rêgo Monteiro,
que juntamente com o presidente da Província, Dr. José Jasen Ferreira Júnior organizou o corpo
diretivo com a seguinte composição: para paraninfos o tenete‐coronel Emilio José Moreira, o
capitão Bento Tenreiro Aranha, Dr. Domingos Olímpio Braga Cavalcante e senhoras Carolina
Amélia Simões Braga, Catarina Mendonça Menezes e Maria Lima Amorim; para a comissão
administrativa, as senhoras Olímpia Mendonça da Fonseca, Tertuliana Sarmento Moreira e Albina
de Barros Pinto Sarmento.
De acordo com Batista (1927), o corpo docente do Asilo nos seus primeiros anos de
funcionamento era composto pelas professoras Emília Pedrosa de Oliveira e Maria Amélia Valente
Couto. Posteriormente, foram contratadas as professoras Rita
Augusta Brito Inglês, Anais Monteiro de Andrade, Isabel Maria
Barbosa e Maria do Carmo Rocha dos Santos.
O critério de seleção para admissão obedecia às
seguintes normas: as meninas deveriam ter entre 6 e 14 anos,
permanecendo no estabelecimento até completar 21 anos,
exceto se viessem a casar, ou se por algum motivo, fosse
inconveniente sua permanecia no orfanato.
O currículo do Asilo era composto, inicialmente por duas disciplinas: primeiras letras e
prendas domésticas. Em 1885, o curso de primeiras letras passou a ser denominado de primário,
Fig.07–Instituto Benjamin Constant
Fonte: Almanaque de Manaus, 1908.
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havendo nova reforma do currículo (1889) sendo acrescido, o curso complementar, sob a direção
da professora Isabel Maria Barbosa. .
Nos três anos subsequentes, o Asilo, teve rápido declínio, e em 1892, foi extinto, no
Governo do Dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro, por meio do Decreto nº 11 de 26/04/1892, sendo
criado na mesma data o Instituto Benjamim Constant, cujo nome foi dado em homenagem a um
dos idealizadores da República brasileira, o catedrático e republicano Benjamim Constant.
A arquitetura do prédio, segundo Mesquita (1999), seguia de forma predominante, a
tendência eclética e estilo formal mostrando em linhas gerais a tradição clássica, com dois
pavimentos e cinco janelas que transpassavam a fachada lateral de cada corpo. Possuía uma
escadaria e um saguão que levava ao segundo pavimento.
O corpo docente do Instituto era composto por três professoras e três adjuntas que eram
nomeadas pelo Presidente do Estado para as aulas de ensino primário, música e prendas
domésticas. Para fazer parte do corpo docente do Instituto, era exigido das candidatas que fossem
normalistas, habilitadas na capital, concursadas e que residissem no estabelecimento de ensino. O
Regulamento de Criação enfatizava que apenas algumas professoras tinham o privilégio de
pernoitar fora do estabelecimento.
O corpo discente preconizava condições para sua admissão: ser órfã de pai e mãe, ter no
mínimo 5 e no máximo 10 anos, não sofrer moléstia contagiosa ou repulsiva, não ter defeitos
físicos, ser amazonense e ter tomado todas as vacinas. Era obrigatório a ingressante, permanecer
no Instituto até a idade de 18 anos completos, ou até que terminassem seus estudos. As
educandas estavam sujeitas a um regime disciplinar rigorosíssimo com as seguintes punições:
admoestação, repreensão, privação do recreio com estudo, cópia de lição ou trabalho de agulha,
privação de saída e eliminação.
O currículo era oriundo do antigo Asilo Elisa Souto, composto de primeiras letras e de
prendas domésticas. As educandas eram separadas de acordo com a idade. Durante o ano letivo,
elas passavam por dois tipos de exames: o de habilitação e o exame final.O Instituto ainda
promovia quermesses, e recebia donativos com os quais foi sendo construído o patrimônio da
Instituição. Havia outras formas de aquisição de verbas tais como trabalhos de costura, bordados,
pequenos artefatos de indústria caseiras, enxovais de batizados e casamentos.
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O Instituto no ano de 1892 era administrado pelo diretor Sr. Luis Duarte da Silva e vice‐
diretor o Comendador Francisco de Souza Mesquita, e por um Conselho de Protetores, dentre eles
uma regente e um juiz de órfãos da capital, uma secretária, um médico todos eram nomeados
pelo governador do Estado.
O então governador do Estado do Amazonas Dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro no dia 04 de
maio de 1893 aprovou a primeira reforma administrativa do Instituto, nomeando para dirigi‐lo
cinco irmãs Filhas de Sant’ Ana vindas da Itália, que eram representadas no Brasil pela Sóror Anna
Victória Anchehi.
1.4 ‐ Gymnasio Amazonense Pedro II
Com a chegada da Corte Portuguesa no Brasil, algumas medidas foram tomadas por D.
João VI em relação à instrução, para atender a Corte. Nesse sentido, foram criados cursos
superiores e com o tempo fez‐se necessário criar cursos secundários.
O Ato Adicional de 06/08/1834 trouxe uma ruptura na legislação do ensino, uma vez que as
Províncias obtiveram o direito de legislar sobre o ensino primário e secundário. O ensino superior
e o acadêmico ficaram com o poder central. A princípio, os Liceus nas Províncias, tinham a
atribuição de oferecer aos alunos as disciplinas exigidas nos exames preparatórios para o ingresso
no ensino superior.
Nas principais Províncias onde foram criados os Liceus, o currículo básico foi composto
pelos cursos de latim, retórica, gramática, grego, geografia e ciências naturais. Ficava a cargo das
Assembleias Legislativas preparar as modalidades de ensino e formar os quadros de recursos
humanos, relativos a instrução pública.
As desigualdades regionais de ensino, principalmente as de caráter econômico e
geográfico, protelaram a criação do Liceu Provincial Amazonense (Fig. 08), fato esse que só
ocorreu em 14/03/1869 pelo Regulamento nº 18, assinado pelo presidente da Província Dr.
Wilkens de Mattos. Tendo como primeiro diretor o Dr. José Maria D’ Albuquerque Melo.
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Antes de possuir sede própria suas instalações foram nas
dependências do Seminário Episcopal de São José. Depois
ocupou esta várias outras edificações, devido a essa rotatividade,
fez com que, a necessidade de construção de instalações
condizentes para o seu funcionamento, fosse
concretizado no ano de 1880, no governo do presidente
provincial Sátyro de Oliveira.
O prédio foi construído para o Liceu Provincial Amazonense. Possuindo estilo neoclássico,
com dois pavimentos, contendo salas amplas, os corredores internos com janelas para as alas
descobertas, onde estava localizado o teatro de arena. Fazia parte de sua estrutura 1 porão e 3
escadas, que davam acesso à parte superior. Uma escada foi construída em madeira maciça e as
outras duas de ferro em hélice. A fachada principal foi composta por 4 colunas feitas de pedra de
cantaria e uma escadaria em mármore.
O primeiro governador do Estado do Amazonas tenente‐coronel Augusto Ximenez de
Villeroy, extinguiu o Liceu Provincial Amazonense, por meio do Decreto nº 15 de 17/01/1890,
alegando falta de recursos para mantê‐lo. No entanto, em 13/10/1893 pelo Decreto nº 34,
promulgado pelo então governador Eduardo Gonçalves Ribeiro, criou o Gymnasio Amazonense,
queno transcorrer de sua existência surgiram vários cursos entre eles: agrimensura, comercial,
pré‐médico, científico, humanidades, clássico, laboratório, saúde, patologia clínica e o acadêmico.
O quadro de funcionários englobava além do corpo docente o administrativo, era
composto por um diretor, um secretário, um amanuense, dois bedéis, um contínuo, um jardineiro
e dois serventes. Quanto à formação do professor, bem como o critério de seleção e aprovação
para exercer o magistério, era extremamente rígido, o mesmo se dando com o ingresso dos
discentes à instituição.
Em 1931, pelo Decreto Constitucional nº 19.560 foi criado o Ministério da Educação e
Saúde. Neste ínterim, o Governo Federal instituiu a Reforma de ensino Francisco Campos,
conforme o Decreto Federal nº 21.241 de 04/04/1932, que dividiu o curso secundário em duas
etapas: o fundamental e o complementar.
Fig. 08 – Gimnasio Amazonense Fonte: Álbum de fotografia do Estado do Amazonas (1905‐1908).
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Diante desse novo dispositivo, a direção do Gymnasio Amazonense Provincial solicitou ao
Ministério da Educação e Saúde uma inspeção, pois o curso secundário compreendia apenas o
fundamental, sendo aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, conforme lei
nº 509 de 23/05/1932, o curso complementar no Gymnasio.
O Gymnasio Amazonense teve seu nome alterado por diversas vezes. Primeiramente foi
denominado de Liceu Provincial Amazonense (1869), depois para Gymnasio Amazonense (1893), e
Gymnasio Amazonense Pedro II em 1925, mas em 19/02/1938 volta a ter a denominação de
Gymnasio Amazonense. E, 1943, recebeu o nome de Colégio Estadual do Amazonas.
Apesar dos inúmeros acontecimentos, o Gymnasio Amazonense Pedro II tornou‐se um
referencial, contribuindo para a formação de pessoas renomadas na cidade de Manaus.
1.5 ‐ Escola de Comércio Sólon de Lucena
No Amazonas foi criado pelo Decreto nº 213 de 27/12/1897, o Curso Comercial (teórico e
prático), com duração de quatro anos, anexado as instalações do Gymnasio Amazonense. Este
curso tinha como objetivo preparar o indivíduo para o mercado de trabalho, já que no Amazonas,
o desenvolvimento gomífero, do “ciclo da borracha”, exigia mão‐de‐obra qualificada.
O currículo do Curso Comercial era composto por cadeiras e aulas: português, latim,
francês, inglês, alemão, matemática elementar, geografia, noções de física, química, economia
política, direito comercial, desenho, caligrafia e escrituração mercantil, ministrada pelos docentes
do próprio Gymnasio.
A criação da Escola Municipal de Comércio ocorreu somente 12 anos após o surgimento do
Curso Comercial conforme lei nº 578 de 26/11/1909, aprovada pelo superintendente municipal
Agnello Bittencourt. Como não possuía sede própria, foi instalada no prédio situado à Rua Barroso
no centro de Manaus.
Durante os anos de 1921 e 1922, o governo do Amazonas passou por sérias crises de
caráter financeiro, que afetaram essa instituição, a ponto de o corpo docente e o administrativo
ficar sem receber seus proventos. Um apelo foi feito pelo governo do Amazonas aos demais
Estados da Federação. Contudo, somente o governador da Paraíba, o Dr. Sólon Barbosa de Lucena
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acatou o apelo, enviando uma contribuição financeira que beneficiou a Escola Municipal de
Comércio. Em homenagem a esse homem público, em 1921, essa instituição passou a ser
denominada de Escola Municipal de Comércio Sólon de Lucena, que posteriormente, passou a
denominar‐se de Escola de Comércio Sólon de Lucena, ficando sob responsabilidade do Estado.
O Decreto Constitucional nº 20.158 de 30/06/1931, da Reforma Educacional Francisco
Campos, alterou o ensino comercial. Desta, consequentemente, reformou o Regulamento da
Escola de Comércio Sólon de Lucena, conforme Ato nº 2.012 de 02/02/1933, adotando o curso
propedêutico e de perito‐contador, com duração de 3 anos cada, ministrado no turno noturno.
A ausência de um prédio específico para o seu funcionamento, obrigou essa escola a passar
por várias repartições públicas: Rio Negro Clube, Grupo Escolar Marechal Hermes, Instituto de
Educação do Amazonas, Grupo Escolar Nilo Peçanha, Justiça do Trabalho e na Câmara Municipal
de Manaus.
1.6 ‐ GRUPOS ESCOLARES: um processo de renovação nacional
Na área da educação escolar, especificamente em termos da História e da Historiografia
Brasileira, os estudos realizados sobre os Grupos Escolares recebem um tratamento diferenciado,
principalmente pela sua dimensão simbólica manifestada na cultura escolar, que precisa ser
preservada e ampliada, pois o campo de análise sobre os Grupos Escolares mostra a escola
primária não somente como organização administrativa pedagógica, mas como uma cultura
escolar que se manifesta no imaginário social, permitindo‐nos compreender por que essas
instituições escolares permanecem na memória popular, com uma imagem positiva e qual a força
impulsionadora para essa permanência no imaginário da população, partindo da perspectiva
histórico‐cultural que esta visão não ficou restrita somente a capital do Amazonas, mas se
propagou por muitas outras capitais brasileiras, e o que representou esse sistema de ensino
nacional.
Para tanto, traçamos um itinerário nos deixando conduzir por vários estudiosos da
educação sobre a cultura escolar, contextualizando as múltiplas facetas associadas à estrutura de
funcionamento dos Grupos Escolares, revendo as práticas escolares desenvolvidas no seu
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cotidiano; e que, certamente, produziram uma identidade única, encontradas nos
comportamentos, nas formas de pensar e agir, na arquitetura (como os prédios foram projetados)
e nas questões sócio‐pedagógicas que permearam os primeiros trinta anos do regime republicano
no Brasil; e que influenciaram a construção da identidade dos Grupos Escolares, pois essas
instituições se constituíram em escolas‐modelos, utilizando instrumentos de ensino e métodos
pedagógicos revolucionários para sua época, considerados o padrão de escola para a difusão da
educação popular, sendo este o olhar da política e das reformas educacionais no contexto
republicano, que atribuiu, à educação um poder restaurador das transformações sociais.
O dispositivo legal que criou os Grupos Escolares em nível nacional foi a lei nº 169, de 07 de
agosto de 1893, que difundiu o ensino com uma nova reorganização, e acordo com Souza (1998),
os Grupos Escolares ampliaram o acesso da população à escola pública, e dentre as principais
mudanças ocorridas com a implantação dessa nova forma escolar no Brasil, tivemos: a
classificação homogênea dos alunos por idade; o edifício escolar próprio; racionalização do saber;
padronização do processo pedagógico; divisão do trabalho docente; estabelecimento de exames e
de programas amplos e enciclopédicos e novos procedimentos de ensino que resultaram na
profissionalização do magistério.
A instalação dos Grupos Escolares, portanto, desencadeou uma série de modificações,
estabelecendo uma cultura escolar diferenciada para a época. Esse modelo educacional se
difundiu por todo país, sendo uma das mais importantes inovações em matéria de organização de
ensino, no qual o mestre‐escola (o único professor a ensinar a ler, escrever e contar, para alunos
de diferentes idades numa mesma sala de aula), foi substituído pela escola de várias classes e
professores simultaneamente.
Na capital do Amazonas, essa política inovadora de educação também teve seu espaço
consolidado, quando da criação dos Grupos Escolares, quatro anos após a implementação a nível
nacional, por meio do Decreto nº 191, de 09 de setembro de 1897, difundindo a ideia no poder
redentor da educação. Assim, em Manaus, segundo o referido Decreto, cada grupo escolar
poderia comportar a lotação de duas ou cinco escolas isoladas, no máximo, que seriam regidas por
tantos professores quanto fossem os grupos de trinta alunos; sendo que estes, sempre que
possível, seriam distribuídos em quatro classes correspondentes ao curso primário. O cargo de
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Fig. 09 ‐ Grupo Escolar Saldanha Marinho – 1909. Fonte: Almanaque de Manaus, 1908
diretor de cada Grupo seria ocupado por um dos professores anualmente designado pelo diretor
geral da instrução pública, devendo recair a designação de preferência a um normalista. Em caso
de impedimento, o diretor seria substituído pelo mais antigo dos professores.
Através do projeto do CEPIHME/ESBAM foram pesquisados e catalogados cinco Grupos
Escolares: Saldanha Marinho, Barão do Rio Branco, Marechal Hermes, José Paranaguá e
Presidentes Bernardes, com intuito de deixar registrados fragmentos, fatos históricos encontrados
dessas instituições de ensino, desde sua criação, implantação, consolidação, currículo, arquitetura,
corpo docente e discente, e administrativo.
1.7 ‐ Grupo Escolar Saldanha Marinho
A criação do referido Grupo foi sancionada pelo Governador do
Estado do Amazonas Sr. José Cardoso Ramalho Junior, conforme
Decreto nº 393 de 03/02/1900. Devido ao excedente de alunos em
duas escolas existentes na época, foram agrupando‐se para
constituir‐se o Grupo Escolar Saldanha Marinho de Manaus (Fig.
09). Funcionando em estabelecimento próprio, construído,
especialmente para grupos escolares.
O patrono do grupo escolar, Joaquim Saldanha Marinho após formar‐se em Direito, ocupou
vários cargos de relevância política, como de Deputado‐Geral na Província do Amazonas.
Seus administradores eram escolhidos e nomeados pelo Governador do Estado. O corpo
docente era classificado por entrância.
As matérias do currículo ministradas nos primeiros quatro anos do Grupo Escolar Saldanha
Marinho eram: português, francês, inglês, alemão, geografia, história, matemática elementar,
física, química, história natural, desenho, instruções práticas sobre comércio, agricultura e
indústria.
As reuniões aconteciam por meio dos Círculos de Pais e Professores, cujas atividades eram
publicadas na “Revista de Educação” da Sociedade Amazonense de Professores, entidade
organizada com a finalidade de divulgar as práticas escolares da época.
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1.8 ‐ Grupo Escolar Barão do Rio Branco
Esse Grupo foi criado em 1905, fato constatado no Diário Oficial do Estado do Amazonas de
07/02/1983. Tendo como patrono José Maria da Silva Paranhos Júnior – o Barão do Rio Branco –
título concedido por seus feitos durante sua regência como Cônsul brasileiro.
Não possuía sede própria, sendo instalado no segundo pavimento do prédio do Gymnasio
Amazonense. Era constituído por dez escolas, que correspondia a cadeiras (salas de aula) que
segundo Batista (1927) se dividia em dois turnos: pela manhã com seis escolas e a tarde com
quatro.As primeiras diretoras desse grupo escolar foram: Maria de Araripe, Maria Ramos Madeira,
Leonila Ramalho e Dezuita Marques Barata.
O Regulamento Geral da Instrução Pública do Estado do Amazonas no Art. 957 de 1926
atribuiu aos diretores à incumbência de comparecerem assiduamente ao edifício escolar, fiscalizar
os horários e programas, matricular todos os alunos, distribuindo‐os pelas escolas, fazendo o
registro de toda a correspondência escolar, aplicado aos professores, alunos e porteiros as
penalidades de sua alçada.
No início de funcionamento de seu funcionamento, as primeiras professoras responsáveis
pelas escolas no turno matutino foram: Antonina Oliveira, Auzira Franco, Ismenina Paulino
Malaquias, Nertulina de Albuquerque Prado, Leonilla Guimarães Marinho e Graziella Machado.
Pelo turno vespertino: Ambrosina Cantanhede, Zélia Ramos, Maria de Oliveira Sant’Anna e
Francisca das Chagas Carneiro.
Fig. 10 – Casa dos Leões Fonte: Silva, 2005
O Grupo Escolar Barão do Rio Branco possuía um chalé anexado ao do Gymnasio
Amazonense Pedro II, onde funcionava o jardim de infância, ministrado pelas professoras:
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Francelina de Assis Dantas, Aurélia de Barros Rêgo, Alcida e Sylvia Sá Peixoto, inicialmente atendia
105 crianças.
Havia reuniões do Círculo de pais e professores, com a finalidade de aproximar a família da
escola, a fim de desenvolver o intelecto, a moral, o cívico e a higiene, que deveriam fazer parte da
formação do aluno.
Com o crescimento da demanda de alunos, no decorrer dos anos, foi necessário a
transferência (1940) para o prédio localizado na Av. Joaquim Nabuco, 1152.
Segundo Ituassu (1927), neste local funcionava um hospital de cavalaria e um consulado
português e, por ter no portão de entrada duas esculturas como forma de leões, ficou conhecida
como “Casa dos Leões” (Fig. 10).
1.9‐ Grupo Escolar Marechal Hermes
Nacionalmente, os grupos escolares, foram criados pelalei de nº 169 de 07/08/1893,um
modelo educacional que se difundia por todo o país, no qual o mestre‐escola foi substituído pela
escola de várias classes e professores simultaneamente, com a crença no poder redentor da
educação. Segundo Souza (1998), a instrução era uma necessidade política e social, haja vista a
exigência da alfabetização para a participação política indispensável para a consolidação do
Regime Republicano.
Em Manaus, cada grupo escolar poderia comportar a lotação de duas ou cinco escolas
isoladas, no máximo, e seria regido por tantos professores quantos fossem os grupos de trinta
alunos, os quais sempre que fosse possível, seriam distribuídos em quatro classes
correspondentes ao 1º, 2º, 3º e 4º anos do curso das escolas primárias. Ocuparia o cargo de
diretor de cada um dos professores, desses grupos que seria anualmente, designado pelo Diretor
Geral da Instrução Pública. Em caso de impedimento, o diretor seria substituído pelo professore
mais antigo, sendo respeitado o direito de preferência dos normalistas. Quanto ao atendimento
da zona rural, a escola normal solucionaria o problema através da obrigatoriedade das
normalistas, depois de formadas, atuarem em um período de no mínimo cinco anos no interior do
Estado.
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O Grupo Escolar Marechal Hermes foi criado conforme Decreto lei nº 1049 de 23/02/1914.
Inicialmente não possuía estabelecimento próprio, tendo que ocupar várias instalações, até ser
instalado no prédio da Câmara Municipal de Manaus, mas foi extinto em 1973.A duração do curso
era de quatro anos, constando no currículo matérias como: leitura e gramática, caligrafia, cálculo
aritmético, geometria prática, sistema métrico decimal, desenho, moral prática, noções de
geografia e cosmografia geral, cosmografia do Brasil e do Amazonas, educação cívica, noções de
física, química e história natural, história do Brasil, leitura de música, exercícios ginásticos e
militares e trabalhos manuais.
O objetivo do curso era o desenvolvimento dos aspectos intelectuais, morais e cívicos dos
estudantes.
1.10 ‐ Grupo Escolar José Paranaguá
Quanto ao Decreto de criação desse Grupo Escolar, não conseguimos encontrá‐lo, porém,
com relação a inauguração, de acordo com Loureiro (1978) está datado de 1 de Junho de 1895, na
administração do Dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro. Faguáto curioso é que antes de receber a
designação Grupo Escolar José Paranaguá foi denominado de Escola Pública Primária do 1º
Distrito.
No Instituto Geográfico Histórico do Amazonas (IGHA) encontramos um relatório datado
de 25 de maio de 1909, apresentado ao excelentíssimo Diretor Geral da Instrução Pública do
Estado do Amazonas da época, escrito pelo professorAgnello Bittencourt, que era o Inspetor de
Ensino de todas as escolas de Manaus, tinha como função visitaras escolas, com o fim de
inspecionar o ensino primário, com o seguinte teor:
Eis‐nos chegados à parte mais importante desta exposição: o serviço de visitas ás escolas com o fim de inspeccionar, no ensino primario, a execução dos seus programmas e horarios, a regularidade da freguencia de professores e alumnos, os methodos e livros adoptados e tudo mais que se relaciona com a marcha regular dos trabalhos escolares, além da incumbencia de organisar as estatisticas do movimento geral da instrucção publica no Estado.
Serviço novo, creado para supprir uma deficiencia antiga, a inspecção do ensino foi posta em execução logo em logo em começo do mez de Março ultimo. Diante della, havia por certo de se rasgarem vastos horisontes, para garantir os
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fundamentos da actual organisação, porquanto não se pode comprehender um bem orientado ensino sem a fiscalisação que evita os males, derige e aconselha os menos praticos e leva ao publico, o conhecimento do que se passa em cada escola...(Relatório da Instrucção Publica do Estado do Amazonas do prof. Agnello Bittencourt de 25/05/1909, p. 10 – 13).
Quanto ao patrono, constatamos Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá prestou serviços
relevantes no campo educacional, tais como: fundou e inaugurou a Biblioteca Provincial (1882);
restabeleceu e o Instituto de Educandos e Artífices (1882); criou e instalou o Museu Botânico de
Manaus (1883).
O corpo docente desenvolviam trabalhos voltados, especificamente para o intelecto, a
moral e a família dos alunos. A relação entre aqueles e pais se fazia necessária, a fim de consolidar
a formação das crianças, foi que na família as crianças recebiam conselhos, bons exemplos,
ampliando‐lhes as boas tendências e evitando as más companhias. Essas virtudes eram
desenvolvidas nessa parceria, havendo inclusive, reuniões mensais do círculo de pais e professores
que duravam em média, uma hora e meia ocorrendo, sempre, pela parte da manhã. Nessas
sessões, as palestras eram realizadas por convidados e/ou
professores, que desenvolviam temáticas direcionadas ao cotidiano
escolar, tais como: a escola prepara homens de amanhã, apelos às
mães de família, hábitos comportamentais, as modernas teorias sobre
educação e higiene da alma.
No quadro de matrículas encontramos apenas os dados relativos
ao ano de 1927, quando o Grupo Escolar estava sob a direção da
professora Guiomar de Sousa Cavalcante, que tinha como auxiliares as
professoras Noemia Pereira Mello, interina; Júlia Sant’Anna Bezerra, Helena de Sousa Lima,
interina; Maria Ribeiro de Vasconcellos, Alice de Britto Inglez Bonates e Emília Coutinho Galvão. A
vice‐diretora era a professora Maria Ribeiro de Vasconcellos.
Quanto ao material iconográfico relativo a esse Grupo Escolar foi encontrado várias
fotografias (Fig. 11), pela qual podemos inferir que o ensino era misto.
1.11‐ Grupo Escolar Presidente Bernardes
Fig. 11 – Grupo Escolar José Paranaguá Fonte: Acervo Gestão de Informação do Centro Cultural dos Povos do Amazônia.
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Pouquíssimas informações e fatos foram recuperados sobre a organização e
funcionamento dessa Escola de Primeiras Letras (Fig. 12), como o ato de criação do Grupo Escolar
que se deu mediante o Decreto n˚ 102, de 14 de novembro de 1925, publicado no Diário Oficial do
Estado do Amazonas em 15 de novembro de 1925, e sancionado pelo então Interventor Federal,
Dr. Alfredo Sá.
Nesse dia tanto o Grupo Escolar quanto a praça ajardinada que ficava em frente a escola
foram solenemente inauguradas, ambas denominadas “Presidente Bernardes”,
em homenagem ao presidente da República Dr. Arthur Bernardes, que governava o país na época.
Quanto ao prédio do referido Grupofoi construído na Rua Silva
Ramos, no centro de Manaus. As obras foram iniciadas em 1906 e
concluídas em 1925. De acordo com a mensagem do Interventor à
Assembleia Legislativa do Estado em reunião extraordinária do dia 15 de
dezembro de 1925, salientava que algumas pontes e edifícios públicos
estavam em completo abandono pelo poder público, dentre os quais
se encontrava as fundações e paredes do que seria o Grupo Escolar
Presidente Bernardes. E, ainda, foi enfático ao afirmar que:
[...] a construcção do predio destinado ao grupo escolar, situado na Silva Ramos existiam apenas as fundações e paredes que já se arruinavam devido ao longo espaço de tempo em que jaziam paralysadas as obras, desde 1906. Decretando a criação desse grupo escolar, com cinco cadeiras, dei‐lhe a denominação de Grupo Escolar “Presidente Bernardes”, em homenagem ao senhor Presidente da Republica. Sua inauguração foi feita solemnemente no dia 15 de novembro do corrente anno, na mesma occasião tendo sido inaugurada a pequena praça ajardinada em frente ao mesmo grupo, que tomou também a denominação de Praça “Presidente Bernardes”. Satisfazendo necessidades e aspiração de ha muito formuladas pelas respectivas populações, fiz installação de luz electrica [...] no grupo escolar ‘Presidente Bernardes (Mensagem Interventor federal Dr. Alfredo Sá à Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas, no dia 25/12/1925).
O Grupo Escolar foi inaugurado em 1925, mas, somente, no ano seguinte em 1926 é foram
concluídas as obras do edifício, com um dispêndio de 13:417$030 (treze mil quatrocentos e
Fig. 12 – Grupo Escolar Presidente Bernardes Fonte: Memorial dos Povos da Amazônia
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dezessete contos de réis e 30 centavos). Homenageando o 12º presidente do Brasil, Arthur
Bernardes.
Essa pesquisa foi apenas o início referente à história e memória desse Grupo Escolar,
fazendo‐se necessário um estudo mais apurado para que haja prosseguimento dos fatos diante
das práticas escolares que envolveram essa instituição até sua posterior transformação em Grupo
Escolar Ribeiro da Cunha.
1.12 ‐ Depoimentos de apenas três acadêmicos‐pesquisadores
Alessandra Pinheiro Ferreira
Participar da equipe de iniciação científica da Escola Superior Batista do Amazonas foi algo
surpreendente, principalmente, porque trata de um trabalho pioneiro na Instituição. Na segunda
fase, tivemos a oportunidade de compartilhar os conhecimentos adquiridos, orientando outros
acadêmicos que adentraram ao grupo. Foi gratificante e não há palavras que possam descrever o
aprendizado que tivemos em ambas as fases. Um dos êxitos dessa experiência foi a minha
aprovação no Curso de Mestrado em Educação da Universidade Federal do Amazonas, na linha de
pesquisa História da Educação na Região Amazônica. Porém, o que mais ficou marcado foi à
importância do outro, dos amigos, conhecidos e até desconhecidos.Agradeço principalmente,a
Deus,aos meus pais, Sr. Sival Soares Mendes e Julia Pinheiro Mendes que foram o esteio de minha
formação, bem como meu marido Fabio Silva pelo incentivo, paciência e apoio na realização desse
e de outros trabalhos.
Carla Roberta Larissa Moreira
Primeiramente, tenho que dizer que é notório a minha evolução na vida acadêmica de ter
participado do CEPIHME. Foi particularmente, maravilhoso ter participado dessa pesquisa, pois fez
com que abrisse meus horizontes, me levando a refletir sobre a história do Amazonas, onde pude
observar, com mais clareza,os acontecimentos ocorridos nessa região nos primeiros anos da
República brasileira.
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Tenho que agradecer a profª MSc. Assislene da Mota, por nos proporcionar uma
aprendizagem diferenciada, pois são poucos os professores que tem esta disposição e, paciência
para fazer um trabalho desta magnitude. Devo agradecer ainda, a todos aqueles que nos abriram
as portas dos lugares de memória para que pudéssemos realizar a pesquisa; a você minha irmã do
coração, Cristina Bichara, pois só nos duas sabemos o que passamos para a realizaçãodesse
trabalho, e ao meu marido Roberto Peres e filhos, Larissa, Leon e Junior, por terem me
compreendido e me dado forças.
Tiago Praia Leite
No decorrer desta pesquisa, vivemos momentos de empolgação, alegria e cansaço, mas
sem dúvida momentos interessantes e significativos. A interação entre professores e colegas fez a
diferença. Professores que, nos ajudaram, valorizaram e acreditaram em nossa capacidade de
realização. Hoje me sinto mais seguro e capaz de novos desafios, principalmente no que diz
respeito a minha vida acadêmica, e com mais vontade de querer aprender e pesquisar, enfim,
fazer a diferença.
O incentivo e a influência dos professores foi algo marcante, que ao passar por lugares
considerados históricos, vem imediatamente à ânsia de saber no mínimo, sobre sua origem e
construção. Minha vida acadêmica por meio das atividades de pesquisa ganhou novo impulso.
Hoje na condição de pesquisador de iniciação científica, amanhã quem sabe, um professor –
historiador.
Considerações Finais
Esta pesquisa de iniciação científica compreendendo o período de 1889 a 1930 teve a
intenção de contribuir com o conhecimento e a preservação da cultura escolar manauense, onde
buscamos recuperar fragmentos das condições de oferta e demanda da educação local, na
tentativa de procurar identificar e analisar o contexto em que as escolas investigadas estavam
inseridas, seus significados e contribuições para a sociedade local.
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Este trabalho tem o caráter coletivo, relatando e analisando a trajetória de cada instituição
escolar pesquisada, desde o processo de criação, implantação, a estrutura e funcionamento, bem
como as transformações que se sucederam.Cada instituição de ensino investigada revelou‐se
única, nas suas práticas escolares, uma vez que os saberes e fazeres produzidos pelos interesses
de cada uma as diferenciavadevido às influências dos contextos onde estavam inseridas.
Para nós a história da educação amazonense deve ser preservada, do contrário seria um
ato de injustiça para com os sujeitos que fizeram parte dessa formação cabocla, cuja memória não
se construiu individualmente, mas coletiva e socialmente.
Referências
AMAZONAS. Lei Orgânica do Município de Manaus – LOMAN. Art. 235, § 2ᵒ.
AMAZONAS. Regulamento Geral da Instrução Pública do Estado do Amazonas. Art. 957 de 1926.
AMAZONAS. CD ‐ encarte do jornal À Crítica, 2003.
AMAZONAS. Jornal ‐ A Escola – Órgão do externato “15 de Novembro” Manaós, 1900‐1901 nº 1 Anno I. Manaós, 23 de Setembro de 1900.
AMAZONAS. Diário Oficial do Estado do Amazonas. Decreto de 07/02/1983.
AMAZONAS. Regulamento da instrução pública do Estado do Amazonas. Decreto nº 15, de 17/01/1890.
AMAZONAS. Regulamento da instrução pública do Estado do Amazonas. 13/10/1893 pelo Decreto nº 34, de 13/10/1893.
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IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”
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