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Não somos historiadores. mas de uma
maneira simples e numa linguagemacessível procuramos deixar a todosum pouco do que foi a vida de nossos antepassados. I
Os estudos e a pesquisa sobre história regional e local no âmbitouniversitário são recentes. Diante dessa constatação, consideramos perti
nente indagar: Quem tem produzido estudos sobre a história regional elocais? Quais são suas motivações para escrever e publicar?
Como ponto de partida para a discussão e análise das questõeslançadas frente aos propósitos deste trabalho, consideramos pertinente,num primeiro momento, tecer algumas considerações a respeito da natureza coletiva da criação, ou seja, desenhamos um quadro contextualizandoos criadores-autores, o qual possa auxiliar, posteIiormente, na interpretação das narrativas que constituem as obras e elas próprias, como manifestações de pensamentos, necessidades e valores sociais daqueles e dogrupo social do qual fazem parte.
Entendemos, contudo, que somente os aspectos biográficos não
poderão nos garantir o entendimento dos elementos referendados nasconsiderações iniciais, pois as obras apresentam uma escrita da históriamultifacetada de valores mateIializados em diversos eventos históricos, os
quais, por sua vez, nem sempre correspondem aos valores dos criadoresautores ou grupo social. Em suma, os aspectos biográficos não nos garantem evidenciar um quadro de valores de grupo social porque a diversi
dade temporal (cultural) que caracteriza os criadores e, mesmo, a diversidade temporal com que eles próprios estão lidando, muitas vezes de formainconsciente, nem sempre cOlTespondem ao seu tempo vivido e do grupoao qual pertence.
Não podemos menosprezar o lugar social do autor como cspa\'otempo de relações que influenciam na formação da consciência hisl<Írit'a~
1 FASSINI. Lauro; SILVA, Odete de Lurdes A. CO/OI'ado: seu povo, SlIa hi,tÚI;a. ('0101.1010 './
ed.•1987. p.6.
I--------------f-------------f;
/Ii Ironito P.Machado
"Cultura historiográfica e identidade29
Semreferência
Passo Fundo:~iário daManhã
1980Genealogiafamiliar
Johann AdamSchell e sua
descendência
MarinaXavier eOliveira
Annes*1 a
Quadro 1- Relação de autores no centro-/1O/1edo Planalto rio-grandensena década de 1980 a 1995 (livros considerados de "histÔria"F
(a) A relação de nomes segue a ordem da data de publicações; ('I') dados biográficos obtidosatravés do instnllnento de pesquisa biobibliográfica - respondido pelos autores num total tiL' 12:
("''I') dados biográficos obtidos num total de ll; (***) sem dados. total de 2. TotaJizam 23 alltol"'Scom dados hiobibliográficos e 32 obras a serern analisadas. (b) A análise dos livros -- "protll1,'Úo
historiográfica" - será contemplada nos capítulos seguintes.
É, portanto, com base nessas inferências que delimitamos a inlcn\;';,odeslecapítulo, de constmir um quadro a respeito da natureza coletiva das obras. Paratal, mapeamos as publicações levantadas no período e espaço delimitado; elaboramos um instrumento de pesquisa biobibliográfica que foi enviado aos autores
após breve contato e entrevista com eles, de cujo total - 23 autores, queconespondem ao total de 32 publicações - retomaram devidamente preenchidosdoze; quanto aos demais, buscamos dados nas próplias obras. A pmtir da consideração e combinação dos dados, passamos a velificar as vmiáveis antelÍormenteestabelecidas, a saber:
• A que gmpo social peltencem os autores?• Quais são suas funções?• Em que medida possuem poder (status) e esse de que se constituiu?• Que motivos os levaram a escrever e publicar?• De que forma os autores são apresentados e classificados?• O conjunto de autores pode ser considerado elite?Partindo desse preâmbulo de caráter geral, circunscrevemos a discussão à
identificação dos autores, cujos dados são apresentados em tabelas, considerados individualmente, bem como aos seus depoimentos, Essa identificação abm'ca
a filiação familiar e religiosa dos autores, sua fOlmação acadêmica, funções e cm'gos ocupados, atividades atuais e filiação institucionaI. Iniciamos apresentando,no Quadro I, a relação dos autores e suas respectivas publicações, além de algu
mas especificidades obtidas nos dados indicados pelos livros.
il
;I~;';IIII. O l'ontexlo vivido detennina os "interesses de conhecimento atra
I"'; dos quais as necessidades de orientação na sociedade se prolongamp;lIa dl'l1lro"2 da escrita da história e/ou da significação da próplia cria,'ao, a obra. Confonne Bordieu: "Com efeito (".) o que está em jogo é opoder de impor uma visão do mundo social através dos princípios de divi,~;loque, quando se impõem ao conjunto do grupo, realizam o sentido eo consenso sobre o sentido e, em particular, sobre a identidade e unidade
do grupo, que fazem a realidade da unidade e da identidade do grupo." 3
O que parece ser insuficiente no estudo histOliográfico, os dados biográficos -lugar social do autor -, reside exatamente na possibilidade de problematizaro pensamento histórico e, conseqÜentemente, em deuimento desse, os interes
ses de conhecimento - histórico - de detenninada coletividade, as próprias opções de procedimentos feitas pelo autor, como testemunho de seu engajamentocom o contexto social, ou elementos subjetivos que podem ajudar a explicar aescolha de temáticas e tomadas de posição presentes na nmrativa.
Nessa perspectiva, justificamos nossa opção de apresentar um quadro arespeito da natureza coletiva da criação (livros) com base na assertiva de Bourdieu
sobre o poder da nanativa como um jogo político pela construção/detenninação de identidade étnica, regional ou de detenninado gmpo social. Em suaspalavras: "O autor, mesmo quando só diz com autoridade aquilo que é, mesmoquando se limita a enunciar o ser, produz uma mudança no ser: ao dizer as coisas com autOlidade, quer dizer, à vista de todos e em nome de todos, publicamente e oficialmente, ele subu'ai-as ao mbíuio, sanciona-as, santifica-as, consagra-as, fazendo-as existir como confonne à natureza das coisas, naturais."4
No mesmo cmninho, Baczco motiva-nos a refletir sobre a relação entre aprodução historiográfica e o imaginário social;' como peça efetiva do exercício de autOlidade, de poder, quando diz: "C.,) através dos seus imaginálios sociais, uma coletividade designa a sua identidade, elabora uma certa representação de si; estabelece a disnibuição de papéis e das posições sociais; exprime eimpõe crenças comuns, constrói uma espécie de código de 'bomcomportamento' ,designadamente através da instalação de modelos formadores(... ). ''6
RÜSEN,JÓrn. Reflexões sobre os fundamentos e mudanças de paradigJna na ciência histórica alemã
ocidentaL In: NEVES. Abilio Afonso Baeta; GERTZ. Renê E. (Coord.) A /lava historiografia(llemâ - Diálogos Brasil - Alemanha nas Ciências Humanas. Porto Alegre: Ed. Universidade _Ufrgs/lnstituto Goethe. J987.p. 37.
3 BOURDIEU (l989). Op. cit. p. 113." lbid .. p. 114.
Baczko designa imaginário social como sendo "um aspecto da vida social, da atividade globaldos agentes sociais cujas particularidades se manifestam na diversidade de seus produtos", pontode referência do sistema simbólico que as coletividades reproduzem e a1ravés dos quais se percebcm. dividem e elaboram os seus próprios objetivos. Para tal, ver BACZKO. B. Imaginação social.FlIcicl0l'hli(/ Eill(/udi. 1986. v.5. p. 296-312.ld. ibid .. p.. 111.
30 lronita P.Mochw l(Il ,t11Ifl'! Ili>.!' .tl< 'i 11IIII! (11' Illt~ldid(lclc
31
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e III
História
regional e
municipal
História
regional e
municipal
História
regional
História
municipal
História
municipal
História
municipal
História
municipal
História
municipal
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Passo Fundo
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história
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32 Ironita P.Machado Cultura historiogrófica e identidade 33
(continua)
de ]960 a 1970, dez obras -, observamos que a década de 19XO corrcsp"IHk
ao período em que se retomaram os processos de emancip'll.;ão, l'sla!,lI:!dos durante a década de ]970, os quais totalizaram 103 emancip,ll;ocs ""Rio Grande do Sul, número superior ao das décadas anteriores; dL'sSL'I.)
tal, 26 correspondem ao centro-nOIte do Planalto rio-grandense. Da IIll'Sma forma, na década de 1990, ocorreram 133 emancipações no estado, das
quais 23 correspondem à região delimitada neste estudo.Ainda com relação ao período das publicações, esse se caracteriza
por uma conjuntura de transições socioeconômicas marcada por uma crise global e aguda no Brasil que atinge todos os setores da vida nacional.É num contexto global de profundas e aceleradas mudanças - globalizaçãodo mercado, firmando suas bases na revolução tecnológica em marcha eprovocando resultados contraditórios nos processos de trabalho; pressão populacional sobre os países desenvolvidos e áreas urbanas, introduzindo novos problemas, como o desemprego e cinturões de misélia noentorno das grandes cidades - que o Brasil enfrenta a crise "pós-milagre".Essa crise teve como ressonância o desequilíbrio da balança de pagamentos, o acentuado endividamento externo, as altas taxas de inflação, a escassez de recursos para manter elevadas as taxas de crescimento (PIB), odesemprego, a dívida interna, a concentração econômica em determinadasregiões e de renda pessoal, o estrangulamento da pequena e média empresas e a dependência techológica. Tais fatores, entre outros, no final dadécada de 1970, motivaram iniciativas/alternativas de descentralização da
administração pública do estado do Rio Grande do Sul para a previsãosetorial do desenvolvimento econômico, como, por exemplo, a formaçãode Conselhos Regionais de Desenvolvimento, experiência de participaçãodas comunidades na construção de seu desenvolvimento.
Nesse sentido, em face das profundas mudanças que afetavam o paíslodo, assistimos, na região centro-norte do Planalto rio-grandense, a partir do final da década de 1970, a transformações nas estruturas tradiciolIais, tais como: a indústria, o comércio e os serviços passaram a se sohressair em detrimento da agropecuária; a população sofreu uma diminui,;;tO do seu contingente rural, passando de 60,64% para 20,57% em 1996;a concentração de renda manteve-se nos estratos de mais alta renda, acar-,rL'lando um empobrecimento generalizado da maioria da população; asl'struturas de mercado passaram a impor, especialmente ao agricultor fami·liar, novas condições à produção, exigindo uma agricultura modema:!groindústria; a formação e fortalecimento de novos grupos ecolIÚmicw;
PMcleMarau
Particular:familiares e
institu ições
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editora
PF: Berthier
Porto Alegre:Palotti
1990
1992
1992
História
regional local e
paroquial
Históriil
municipal
Depoimentomorildores:
história locale casos
História deMarau: umacomunidade
lilboriosa
Severiano deAlmeida e sua
história
DirceuBenincá*
25"
FranciscoBernardi*
28"
"Preíeitura Um povo eMunicipal"*- suas histórias** 29"
Fonte:Obraspesquisaclas,
Como podemos observar, há um total de 25 autores8 e 32 publicações, as quais se concentram na década de 1980 a 1995. Com relação àsdécadas anteriores - publicou-se de ] 940 a ] 950 um total de sete obras e,
S Entre os 2S autores identificados, há duas denominações de equipe de trabalho (Comissão de
ESllldos Municipais/Estado do Rio Grande do Sul, Assembléia Legislativa, composta por: presidenLc da Assembléia, dI". Vilson Luiz Nunes/chefc do Gabinete, beI. Bcrnardo Schneider/assessor, bcl. Katia Humann/secretária - coordenação geral, jornalista Sônia Bertol/assessora de im
prensa, Dinamara Garcia Feldens/técn.ica contratada - seis publicações no período delimitado e
Prefeitura Municipal/Município de Sc1bach, composta por: Ianque Schneider/supervisora deensino - coordenadora da pesquisa, Neusa Maria Erbs Wcntz/supervisora de ensino - coordenadora do trabalho de elaboração e redação - uma publicação); dois autores com co-autoria (LauroI'""illi e Odete de l.urdes A. Silva - uma publicação) e um como coordenador (Eraesto Cassol
l'OOl'di.'lIadol, Nedio Pinto co-autoria): um com o lnesmo título correspondendo a três volumes,Il'<l~;apenas dois desses correspondem ao período delilnilado (Delma Rosendo Gehm):. dois comllldi', d(' 1lI11<lpllhlif.:ai.Jlo no período delimitado (Marílda Kirst Parízzí- duas e Welcí Nascímento11\",) 11,',dl'llIai,,, 1'011111111<1puhlic<li.;ão.
34 lrollita P.Machado
,11"\0IllI,l, '••' '! Jllllil'(ll~ identidade 35
'" VARGAS, Álvaro Rocha. Depoimento: instrumento de pesquisa biobibliográfica." V;\RGAS, Álvaro Rocha. Do Caapi ao Caraz;nho: notas sobre 300 anos de histÓria (1631
11)11). Carazinho: Noticioso, 1980. Prefácio de Mozart Pereira Soares.
('''d,/l'' ..? - f)ados biográficos dos autores regionais - ,filiação e religiào(total 23)
4,3
8,6
43,3
2
10
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( ,1111111.1
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11.11. Ic H'tH'ceu - sem justificativa
1101"1;1
,1111111.1
I .•, 11.·. IlIslrlllllento de pesquisa biobibliográlica.
Usaremos a denominação família tradicional para os descendentes deI , .1'llIizadores,fundadores, primeiros moradores do município/região e/ou com1';lIl'ntescocom pessoas que exerceram funções/cargos político-partidários oupllhlicos de outra natureza "reconhecidos" pela sociedade. Algumas dessasIIIIÚrmações são mencionadas na própria obra do autor ou em obra de outro;111101' regional, como podemos observar neste depoimento:
"Descendente dos fundadores de Carazinho (. ..)10 O doutor
Álvaro Rocha Vargas vem dedicando seus escassos vagaresde Médico à difícil tarefa de reviver os primórdios de sua terranatal. Árdua missão que, em seu caso pessoal, tem muito degratificante: é a oportunidade para resgate parcial de sua dívi-da para com os pioneiros do povoamento da região, dos quaisele descende, tanto da linha materna quanto da paterna (...)."11
Como outro exemplo, a autora Marina Xavier e Oliveira Annes, em:;l'U depoimento, diz: "Fui esposa de Gervásio Araújo Annes". Ainda, emscu livro Johan Adam Scheel e sua descendência, está registrado que seu
I'SPOSO é filho do cel. Gervásio Lucas Annes e Etelvina Emilia de Araujo,
l'jlJjl 11l;lInll'~,illl"tll'ln;H\:'\-)l'S, ver: BRUM, Argemiro J. dest11l'oh'Ímento econômico brasileiro. Ijuí:1'01 IllIlilll. 1"'1/: VU.I',NTlNI, Paulo G. Fagundes. A 110\'0 ordem global. Porto Alegre: Ed.11111,.,·.,,1; ••1<- 11111". 1')1)(,: ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER B.;I d'r"ll'lIl' I' 1'0\' III'o/if,l'ralis/J/o: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro:
I'd/ l' Il"lIl1. Iljij'l f\1()NTOYi\, Marco Antônio (Org.). Descrição e previsão setarial do desen01\ 1111111111 1" tllI'lIlli, li da Rl'I'j,lo da Produção. Entre 1970 e 2010. Teoria El'idência Econômi
101 I'il';-;P hllldll hlilll'l. Il)q(), v h.l1. 11.p.l-l67. novo 1998.
1.1 Filiação familiar e religiosa dos autores
c, conscqÜentemente, de novos interesses políticos; a acelerada moderni/a<.;ão- urbana - de muitos municípios em detrimento de outros.9
Esse contexto de transformações parece ter gerado uma necessidadc de afirmação regional/local, que passou a ser uma preocupação de alguns munícipes, de autoridades públicas municipais de instituições, as quaishuscaram resgatar a formação histórica, o que seria peculiar à região e/oulIlunicípio, ou seja, a busca da diferença, do reconhecimento. Isso, de cer
ta forma, identificamos nas linhas temáticas que agrupam as publicações.As publicações, em seu conjunto, podem ser organizadas em três
grupos temáticos com base no recorte espacial:
a) Histórias municipais: pelo fato de tratarem especificamente deacontecimentos referentes à área de abrangência do município,com pouca ou nenhuma relação com espaços e temáticas demaiores dimensões (história local);
b) Histórias regionais e municipais - local: por iniciarem a narrativa num tempo histórico que corresponde aos acontecimentos relacionados ao processo de ocupação e colonização do extremosul do Brasil ou específicos do estado do Rio Grande do Sul,visando nele inserir o município; ou circunscreverem as temáticasapresentadas às especificidades locais para se inserirem em acontecimentos históricos do estado;
c) Histórias regionais: em razão de a especificidade do tema e dotempo histórico corresponder à região platina e extremo-sul doBrasil.
.hí tendo feito a apresentação das publicações e identificado os resplTtivos autores, situando-os na conjuntura histórica das duas últimasd,;cadas, ncsta parte do trabalho, circunscrevemos as considerações aosdados hiogrMicos sociais.
36Cultura historiográfica e identidade
37
lido do capo Manuel José de Araújo e Elmlia Schell, portanto bisneto de
Johalln Adam ScheIl, um dos colonizadores de Passo Fundo; 12quanto àautora, é filha de Francisco Antonino Xavier e Oliveira, o qual exerceuv<Írios cargos e funções públicas de "destaque" no município de PassoFundo, dados esses que também são mencionados nos livros de Nascimento e Ghem. JJ
Ainda nessa perspectiva, o autor José Vieira Sperry, referindo-se aosdescendentes dos "fundadores" do município de Nonoai, diz: "Cabe sa
lientar que foram eles meus avós e viveram sempre no nmnicípio."14 Naspalavras iniciais de seu livro lemos: "Que filhos desta terra tragam a público toda a história ou fato possível deste pedaço do torrão gaúcho, comofez o Sr. José Mazocato e este bisneto do fundador de Nonoai."'5 Como
líftima ilustração, destacamos o autor Pedro Ari Veríssimo da Fonseca, que,ao "narrar" as relações sociais e questões do cotidiano nas estânciasgaúchas, diz:
"Muitas vezes assisti minha avó chegar até o galpão (...) e dizer:Severo eu preciso de peão para isso (...). a conversa era curtae nem se discutia se este peão iria fazer falta ou não. Aestancieira havia dado uma ordem( ...). Lembro-me do mulato
Laire na estância de meu tio Nestor de Quadros( ...)."16
Família descendente de imigrantes foi a denominação que demosas ]'.crações descendentes de imigrantes, entretanto sem distinção étnica'111 ('spccil"icidade do grau de parentesco. Assim como obtivemos alguns,h-poilllenlos especificando a descendência, outros não a mencionaram,
l'0n'llI aparecem indicações, às vezes, nas apresentações; outras, na pról"la lIarrativa da obra. Por exemplo:
"Sou descendente de imigrantes italianos. Meu bisavô(;jovallni Bcnincá nasceu na Comuna de Lentiai, Província de
IkIlIlIlO, Itália a 08 de maio de 1879 (...).veio ao Brasil com poulO.'; allos de idade e foi residir em Garibaldi, onde trabalhoulOllIo a!'.ricultor( ...)Entre os filhos de Giovanni está o meu avô
( ;1Ii11H'IIlH"nascido em 101ll/1909. O avô com seus pais e ir-
111111', ~I""II" \:I\'il'l l" Oliveira. Johann Adam Schell e slIa descendência. Passo Fundo: Diário01.1 ~Illllltll I1JHO I'a';~,illl p. S/li.
r 1\',1 Il\lIt--IIq, \\'dl i lit/(/ls hi.\'lliricos de Passo Fundo. Passo Fundo: Berthier. 1995. pAI:I li 111\1 111111111 PII',I"lIdo l'I/\\r1 FUlldo (/lro\'(;s do tempo. Passo Fundo: Diário da Manhã. 1982.
11 I' J 111 \ 111 I' IH),)(j'l
',I'II1P-, 111'., "!til ,I ,,",ti 1'\ f' I'I'II/Ihos t/(, NOlloai. Passo Fundo: Berthier, 1985. p. 1] e 13.lI'ld I'
11111'.1' \ 1',dlll\11 \"'11','011110 da FO/'!IIIICÚO t!o gaÚcho. Passo Fundo: Diário da ryIanhã, 1982." ,
mãos migraram para Seveliano de Almeida ( então Nova It<Ília).( ...) com 89 anos, ainda trabalha na agricultura( ...) mctl paiGemi, que casou com Élida Barbieli (...). Também trabalham naagIicultura familiar."'7
O depoimento transcrito, de Dirceu Benincá, demonstra explicitamente suaOligem étnica e, como veremos adiante, a influência dessa como fator motivado rpara o escritor escrever e publicar. Diferente na fOlma de enunciação do quadrofamiliar, mas não das motivações, podemos destacar outros autores, como, por
exemplo, Antonio Ducatti Netto, que é apresentado na obra como "filho daprimeira geração dos colonos italianos - septuagenário."18
Em outros casos, a obra, em sua narrativa sobre a colonização e funda
ção do local, apresenta a relação dos pIimeiros povoadores (agricultores-colonos), entre os quais se encontram nomes que demonstram a ligação familiardo autor. É o caso do autor Francisco Bemardi, nascido em Marau, onde mora,filho de Pedro Bemardi e Vitalina Borela Bemardi, que não descreve seu quadro familiar em seu depoimento, mas registra em sua obra: "Aqui em Marau, aprimeira fanulia a chegar foi a do aglicultor Luís Tibola, em 1904. Nos anossubseqüentes, chegaram (...) José PIimo Bernardi (...). Assim é que tambémpodem ser tidos como pioneiros os seguintes cidadãos: (...) Paulo Girardi eJúlio Borella, todos na vila."19 Assim, tanto pelo lado materno - Borela - quan
to pelo paterno - Bernardi, percebe-se a ligação familiar do autor com os agricultores pioneiros da colonização do município de Marau. Nesse sentido, noQuadro 2, agmpamos os autores que apresentam, direta ou indiretamente,descendência familiar de imigrantes e colonos agricultores, ou seja, famIllasque exerceram ou exercem atividades ligadas à terra.
Quanto à confissão religiosa, neste ponto do trabalho, restringiremos nossas observações a duas questões: primeira, a opção de solicitaraos autores sua confissão religiosa pauta-se pela razão de entendermosque dessa são oriundos muitos dos valores, crenças e práticas sociais queeles comungam e pelo fato, como veremos adiante, de termos constatadoque algumas obras apresentam na temática condutora da narrativa instituições religiosas ou acontecimentos religiosos; segunda, de certa fomlaligada à primeira, o número relevante de autores de confissão religiosacristã-católica superou quantitativamente os demais, em que consideramosa relação desse aspecto com a origem familiar (descendentes de imigrantes e falIUlias tradicionais), essa ligada à origem do local, assim como àsinstituições católicas, no que se refere ao povoamento.
IIhNINCÁ - DepoimentoNJi.'ITO, Antonio Ducatti. O Grande Erechim e slIa histÓria. Porto Alegre: EST, 1981.
,., IIHRNARDI, Francisco. HistÓria de Marau: uma comuuidade laboriosa. Porto Alegre:
l'all<>lIi.1992. p. 17-18.
~
38Iranita P. Machado
(llltura historiográfica e identidade39
1.2 Formação acadêmica
Seguindo a apresentação dos dados biográficos sociais dos autores e
dando um passo adiante, direcionamo-nos à identificação da formação acadê
mica, a qual permitirá, nos próximos capítulos, a reflexão sobre a orientaçãoteólica e a concepção filosófica que oIientaram os autores na reconstituiçãodo passado. Para tal, agrupamos os autores pelo nível e especificidade deformação, como pode ser observado no quadro que segue.
Quadro 3 - Formação acadêmica dos autores (total 23) das obraspesquisadas
;tpcnas um autor com formação na área de história, Ernesto Cassol, Iicell"iado em Filosofia (UCP-197I) e em História (UFPr-1970) e mcstn: em IlisI<íria Econômica do Brasil (UFPr-1975).
Vejamos, a título demoI1~trativo,a fonnação de alguns autores. lnicicmllspor Welci Nascimento, considerando que, no período delimitado, é o esctitor coml) maior número de obras publicadas. Em seu depoimento, ele diz textualmente:
"Minha formação é humanista. Cursei o Ginasial e o Clássico.Na universidade fiz curso de Pedagogia, Letras e Ciências Políticas e Sociais (Direito ).Embora não tenha realizado o curso dehistória, sentia uma inclinação pelos fatos passados. Durante ocurso Ginasial sempre atingi a nota máxima em história."2o
'O NASCIMENTO. Welci. Depoimento: instrumento de pesquisa biobibliográfica." PARIZZI, Marilda Kirst. Passo Fundo: sua história e evolução. Passo Fundo: Berthier, 1983
CAMPOS, Sônia Siqueira. Depoimento: instrumento de pesquisa' biobibliográfica.'I GHHM, Dclma Rosendo. Depoimento: instrumento de pesquisa biobibliográl1ca.
Em segundo lugar, quanto ao número de publicações, está a escritoraMatilda Kirst Pmizzi, fonnada em "licenciatura plena em Letras e com especiali
zação em Folclore."21 Com alguma~ aproximações, quanto à formação, com aautora citada, destacamos Sonia Terezinha Siqueira Campos:
"Licenciada em Português - ]nglês pela Universidade do Estadodo Rio de Janeiro, curso de especialização em Costumes Sociais,Alabama - EE.UU, curso de pós-graduação em Folclore - Faculdade de Palesttina/ Porto Alegre, curso de Animadores Culturaisna área do Folclore - Angra do HeroismoIAçores."22
Ainda na área de português, Delma Rosendo Gehm, com a seguinte
formação: "Curso Complementar, na Escola Complementar de Passo Fundo - ]933; Curso de POItuguês, Latim e Grego na Faculdade de Filosofia daURGS - 1949 - ]951; curso de Extensão em Sociologia e Técnica em Pesquisa Histórica na URGS - s/d."21
Do expressivo número de autores com formação em filosofia e teo-logia, destacamos Dirceu Benincá, que diz:
"Iniciei meus estudos na Escola Municipal D. Pedro II da LinhaCaracol, em 1974,município de Seveliano de A1meida.Postetiormente, freqÜentei as sélies ginasiais na Esco]a Estadual de 10 Grau Or.José Bisognin, cidade de Severiano de A]meida. Sentindo que tinha vocação para ser padre, em 1982ingressei no SemináJio Na sade Fátima, em Erexim, onde fiz o 2° grau e o curso propedêutico.Obtive licenciatura plena em Filosofia pela Facu]dade de Fi]osofiaNa sa da lmaculada Conceição de Viamão (FAFIMC ), em cmso
4,3
4,3Mestrado
História
Especialização Sistema de
Avaliação
4,3
Il,G
17,3
2
4
Geografi,l(LP)
Il,G Sem dados
21,7
13,4 Pedagogia
5
3
2
Filosofia ITeologia
Letras (LP)
Medicina
Fonte: Instrumento de pesquisa biobibliográfica.
Pelos dados do Quadro 3, constatamos a disparidade na formaçãodos autores, ou seja: com superioridade, em primeiro lugar, está a formação na área da filosofia/teologia (27,7%), seguida pela área das ciênciasjurídicas (17,3%), licenciatura plena em letras (13,4%), estudos sociais(8,6%), medicina (8,6%), licenciatura plena em geografia (8,6%), licenciatu
ra plena em história (4,3%) e outras, além de especializações (8,6%), pósgraduação nível de mestrado (17,3%) e doutorado (4,3%). Há, pOltanto,
40Ironifa P.Machado :Cultura historiogrófica e identidade
111
realizado entre 1986e 1988.De 1989a 1992cursei Teologia no Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo."24
Assim também Valdemar Verdi - fonnação em "Filosofia, Teologia,Especialização em Língua Francesa, pela Universidade de Grenoble: França",25 e Erno Wallauer:
cultural simbólico30 adquirido pelo escritor individualll1clltl' I' 1'111~a'lI
conjunto no contexto social vivido. Para tal, demonstramos os agrupa 11 1\'11
tos feitos no Quadro 4, em seqüência.
Quadro 4 - Funções e cargos ocupados pelos autores das obraspesquisadas
1\,6
11,(,
II,r,
13,11
J 11,11
N'< «''"
Delegado educação
PH-"sidê,tlcia <lssociaç()l~Si sociedades,
de lega c ias,Acadern i<l S
8,6
11,6
5 2"1,7 Dircç50 - ecluGmd:Hio, imprensa, revistas '{
1:3 5b,S
Sem dados
Pastorais
Imprensa
Magistt'rio pLlb\ico / privado
)0 BOURDIEU (1989). 01'. cit., p. J34.
-'I Empregamos espaço pÚblico para designar questões ligadas a saneamento básico, transporte,habitação popular, pavimentação, áreas de recreação, patrimônios culturais. entre outros, de "responsabilidade" da admitústração pública municipal enl prover e manter.
Com base nas infOlmações da tabela, podemos dest.,cm· que os autores
desempenharam funções e ocupm'mn cargos em maior número no setor público.Concentram-se, quantitativmnente, nas funções ligadas ao magistério, às atividades burocrático-administrativas estaduais/municipais e à imprensa, bem como
predominmn cm'gos de coordenação, chefia e pm1icipação em conselhos.Por um lado, temos as funções profissionais ligadas a instituições e órgãos
públicos de dimensões sociais e, por outro, os cargos ocupados, tmnbémligadosa instituições ou grupos, em iniciativas não oficiais voltadas ao bem social, asquais estabelecem projetos e os executmn em nome de toda a sociedade. Em suma,podemos dizer que são funções e cargos reconhecidos publican1ente em virtudedo reconhecimento da própria instituição. Muitas dessas atividades, por exemplo,
est.7(oligadas a questões i.ntrínsecasao social, como a educação, a comunicação,o espaço pÚblico,3 t a saúde, a filantropia, entre outras.
Fonte: Instrumento de pesquisa biobihliográfica.Ohs.: O nlllllcro de atividades e cargos ocupados não corresponde aO total de aulores, sendo supe-
rior ou inferior pela diversidade constatada entre eles.
< I BHNINCÁ, Dirceu. Depoimento: instrumento de pesquisa biobibJiográfica.VI'RIlI, Valdemar CiriJo - Depoimento: instrumento de pesquisa biobibJiográfica.WAI.I.AUER. Erno. História do mUllicípio de Victor GraeI! s/ed., 1988 - Prefácio.
" /.ANOI.I.A. Darcy. Raizes e história de uma comullidade: 1943-J993 Água Santa. Passo Fundo:(,,,,i fi,';) Hditora UPF. J994 Prefácio.
1;<INSI':( 'A. Pedro Ari Veríssimo. Depoimento: instnunento pesquisa biobibJiográfica.Vi\I~( ;i\S, Alvaro Rocha. Depoimento: instrumento pesquisa biobibliográfica.
1.3 Funções e cargos ocupados
"1960-1964 - Escola NOlmalEvangélica em São Leopoldo - RS, 1966-1968 - CLU'SOde Magistério(2°grau) e de catequistana Escola NOlmal
Evangélica em Ivoti - RS, curso de Filosofia na Fundação Universitária de Bagé, 1969 - 1974, Curso de Teologia na Faculdade da IgrejaEvangélica de Confissão Luterana no Brasil! São Leopoldo, cmsode Filosofia na Fundação Universit:áIiade Bagé (...), 1979 - 1985 Estudos de pós-graduação com mestrado em Teologia na Universidade de Hambmgo na República Federal da AJemanha."26
Ou, ainda, Darcy Zanolla: "(...) fez seus estudos primátios em sua terranatal e os secundátios no Seminário São José de Santa Maria. Realizou seus
estudos filosóficos e teológicos no Seminário Conceição de São Leopoldo."27Na área da saúde, destacam-se: Pedro Ari Veríssimo da Fonseca, "for-
mado pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro,"28 e Álvaro
Rocha Vm'gas,"formado em Medicina na Ufi'lSs,em Porto Alegre, em 1961."29De acordo com os dados, constatamos a predominância de autores regio
nais com formação de nível supelior,porém em áreas distintas, ainda que a maiOliase inclua nas áreas sociais/humanas. Portanto, nesse aspecto pm1iculmlnente, porum lado, o que llIes confere um traço comum é o grau de formação superior; poroutro, é o fato de não terem fOlmação em história, o que significa, conseqüentemente, que não têm habilitação específica pm'a a pesquisa histórica.
Consideramos de grande importância a descrição das funções profissionais desempenhadas pelos autores, bem como os cargos por elesocupados, estes não remunerados, com o que será possível, posteriOlmen
te, acrescentando-se outras informações, apresentar e discutir o capital
42lronita P. Machado
Cultura historiográfica e identidadelU
I .4 Atividades atuais e filiaçõesinstitucionais dos autores
Continuando neste preâmbulo de caráter geral e de perspectiva seguidaaté aqui, circunscrevemos a exposição a questões ligadas ao tempo de vivênciados autores, que, por sua vez, con-esponde ao tempo da publicação das obras emanálise. Se, até aqui, tratamos de vislumbrar as vivências passadas dos autoresque podem lhes confelir capital cultural simbólico, passamos agora a verificar oselementos que possam estar ou não reificando32 tal posição social. Fazemos isso
pelo mapeamento das atuais atividades dos autores, das instituições com as quaiseles possuem vínculo e de suas publicações (além das selecionadas para análise).
Port~ll1tQ,são poucos os autores que desenvolvem atividadL:s (IL-Pl'squisa, e os que o fazem concentram-se em estudos de cultura popular.
Quanto às atividades ligadas à pesquisa vinculadas a institui(,i(IL:suniversit.mas, registramos apenas dois autores entre os que devolveram o instlllmento de pesquisa biográfica: Cassol, "Du-etorda Revista Perspectiva/URl-1999"(de acordo com o prefácio da obra História de Erechim - 1979), que passou atrazer "estudos históricos" produzidos pelo Centro de Ensino Superior deErechim - CESE/"Fundação Alto Umguai para a pesquisa e o ensino superior"
Fapes,34 a partir de 1975; e Piran, com várias pesquisas sobre a região do AltoUmguai (temas ligados à área da geografia), publicadas na revista Perspectiva,reconhecida pelo CNPq como periódico científico especializado.
Quadro 5 -Atividades atuais dos autores das obras pesquisadas33
Com base nos dados apresentados no Quadro 5, evidencia-se queas atividades atuais dos autores concentram-se na área de educação, jorlIali,sllIo,pastoral/religiosa, sendo quantitativamente superiores às demais.
2
2
8,6Sem
730,4
4,3 Sem dddos
11 47,8
4,3 4,34,3
8
34,7
Quadro 6 - Filiação institucional - político-partidária e não partidáriados autores das obras.
Academid Passo-Fundense de Letrds
Instituto de História e Tradição do Rio Grande do Sul
Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Folclore -
Comissão GaÚcha de Folclore
Grande Oriente do Rio Grande do Sul
Movimento Tradicionalista GaÚcho
Sem dados
Pastora I da Juventude
~u Considerando que restringimos nossa investigação a publicações não acadêmicas/científicas, justificamos a opção em contemplar o livro HistÓria de GaLframa de Casso!, historiador por forma
ção e pesquisador acadêmico, por dois Jnotivos: priJneiro, por ser essa obra e outras puhlicaçõesdo autor fonte de consulta de vários autores contemplados: segundo, pelo falo de ser o referido
autor coordenador da obra que, por sua yez, é fruto de pesquisa de outros autores acadêmicos. mas
sem formação eln histÓria.
Fonte: Instrumento de pesquisa biobibliográfica.
11
j,
li,j
4,3
4,3
8,6
52,1
4,3
8,6
13,0
2
12
3
2
2
4
Advocacia
Bancária
Mé'dicina
Assuntos culturais - folclore
Religiosa
Agricultura - granja
SC'/1l dados
S,'111 atuação
I lJ!llt': Instrumento de pesquisa biobibliográfíca,
I )l'IIOlllillalllOS r('Uiellndo para situações e açÔes que reafinnem/sustentclll mll fato dado como nu1111;11
\ I :\'. dnIOlllina\'ol's das áreas de atuação foram registradas de acordo com as infonnações dadasIwlo'. Il/OP' io,>,autores, hem como dos locais. Assim, as informações apresentadas nQ texto emILllll II 1111 t'1I1H' a~,pas SilO originais dos depoimentos ou apresentações/prefácios dos livros.
44 lronita P.Cultura historiogrófica e identidade
45
Destacamos aqui o significativo número de autores que mantêm vínculos com instituições diferentes em suas razões sociais, porém semelhantesna representação social.35 Nesse sentido, paradoxalmente, temos a singulmidade dos grupos constituintes das instituições, as quais se restringem a indivíduos que diferem da maiOlia porque possuem aptidões/talento, o que ostorna diferentes, e pelos interesses específicos e restritos que os unem deacordo com seus princípios. Em seus imagináIios, eles se unem em nome de
uma causa que pensam beneficiar a todos os cidadãos integrantes da coleti
vidade e da qual eles se distinguem. Assim, as instituições ocupam um espaço reconhecido pela sociedade como restrito a alguns poucos indivíduos, mas,ao mesmo tempo, como signiticante a todos, por inscreverem em suas razõesde ser os interesses pretendidos como de toda coletividade.
Daí inferirmos que os autores, em sua maioria, são tiliados a instituiçõesde diversas especificidades, mas mantêm como traço comum as atividades ligadas a questões culturais (históricas, folclóricas, tradicionalistas, literáIias), porpossuírem uma representação social que, na prática, não conesponde aos interesses de todos os indivíduos de uma coletividade. Tendo isso em conta, cremos ser importante tratm' de fornla específica de uma dessas instituições, aAcademia Passo-Fundense de Letras, que integra o maior número de autores
(Ghem, Fonseca, Pmizzi, Nascimento). VejanlOscomo a apresenta Nascimento:
"A ACADEMIA PASSO-FUNDENSE DE LETRAS é uma en
tidade civil, sem fins lucrativos e sem caráter político partidá-rio, fundada em 07 de abril de 1938 com o nome de GRÊMIOPASSO-FUNDENSE DE LETRAS, com a finalidade exclusiva
mente literáIia- cultural. É declarada de utilidade pública muni-cipal e estadual, registrada no Cartório de Registros sob nO249,registrada na Secretaria do Trabalho e Ação Social sob o n°6117 e no CNSS do Ministério da Educação, sob n° 261.488/77."36
Restringindo a expressão entidade civil a seu significado etimológico,definimos entidade como uma sociedade que diIige atividades de um deternli
nado gmpo civil relativo de cidadãos enquanto membros da sociedade; pOltan10, nesse sentido, vemos a representação social da Academia Passo-Fundense
de I"eiras,como instituição e de seus membros. Por um lado, a academia repres,'nla uma entidade civil declarada de utilidade pública por pretender desenvol1'1'" I' I'.I/hllldira cultura, no que se constituiIia na manifestação de toda uma,'(li,'Iividade: por outro, restringe-se apenas a alguns indivíduos, aptos a te,1 tarefa.
l'lIlnidl'lll(\,', rl'{J/'c'Sc'll1(/CÚO social como o significado e o espaço que as instituições, em seuI (llIjllllhl, illllJlíllll na l·oll'ti\'idadc, sendo por essa reconhecidas.
f'L\,';( 'II\II'[\]'I'(), \Vvki /)0,/1/ da AC(fdcmia Passo-Fwulense de Letras. p.7. Caderno; sem refe11'1111.1', Ik ('dnI1Idl';Htl
Podemos observar isso na forma como um acadêmico define a fina-
lidade e o funcionamento da entidade a que pertence:
"A Academia Passo-Fundense de Letras destina-se a congre
gar, exclusivamente, os escritores de Passo Fundo, com finalidade primordial de auxiliá-Ios a desenvolver e expandir a cultura em todos os níveis do conhecimento humano. Além dis
so, a Academia coopera para que as obras dos escritores dePasso Fundo e do Rio Grande do Sul sejam cada vez mais
conhecidas, bem como procura cultuar a memória dos escritores brasileiros, contribuindo com o aprimoramento da línguanacional. "37
Após essa exposição, devemo-nos interrogar: se é uma entidade decaráter público, todo cidadão pode tornar-se membro integrante da Academia Passo-Fundense de Letras? Em um sentido genético e etimológico,todos teriam, sim, tal direito, contudo nem todos possuem a aptidão ne
cessária. Vejamos quais são os critétios para ingressar na academia:
"Oconendo vaga, é fixado edital, cuja insClição é feita pelo pró
prio candidato, que deve residir em Passo Fundo, sendo necessátio possuir livros ou trabalhos publicados de reconhecido valor literáIio ou técnico, acompanhado do cUlTiculum vitae,
que serão examinados por uma comissão designada pelo Presidente, que expedirá parecer, perante a Assembléia Geral. CadaCadeira, em número de quarenta (40), tem seu patrono, de preferência um intelectual passo-fundense."38
Muito mais do que fechar questões ou generalizá-Ias, procuramosdestacar a relevância de se considerar a filiação dos autores a instituições e,
por conseqüência, a extensão dos interesses dessas em suas criações/obras,como analisaremos mais adiante; também salientamos que, nesse aspecto,
pmticularmente, os autores ocupam um espaço "privilegiado", de destaquena coletividade.39 Embora não possam ser generalizadas as reflexões em torno da Academia Passo-Fundense de Letras às demais instituições, ela ilus
tra muito bem a representação social que as instituições possuem.
" NAscrMENTO. Welci. PC/ji! da Academia Passo-Fundeuse de Lelras. p. lI.Id. Ibid .. p. 12.
") Ao afinnar que os autores ocupam um espaço "privilegiado" na coletividade. temos por referênciaas informações obtidas por meio de instrumento de pesquisa biobibliográfica, no qual eles reve
lam que publicam nos jornais e participam de programas jornalísticos nas emissoras de rádio deseus municípios constantenlcnte e por convite, bem como são solicitados a proferir palestras nacomunidade.
."'guindo a perspectiva de identificar a natureza coletiva das obras,
"I'1i ." 111 aIDOSoutro traço comum entre os autores, que os identifica entre.1 • " I az reconhecidos socialmente: a diversidade de publicações.
1!l1''';
1;1
47
I .5 Produções, publicações e concepçãode história dos autores
I i dl-'!
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• ;ihilj;llli~",r~ráfica e identidade
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IIU",/". 7 - Publicações dos autores das obras analisadas43
46
Quanto à filiação pmtidáIia, destacanlos, Plimeiro, a expressiva percelllagem de autores sem filiação pmiídáIia e a elevada percentagem de filiações a illstituições não pmtidáIias. Nesse aspecto, o traço comum entre os autores pareL'l'ser o engajmnento em entidades que, de alguma forma, os identificmn com sua.sfOlmações, suas funções/cm'gos ocupados e atividades atuais, conferindo-Ihesuma identidade social. Em segundo lugm',ressaltamos a especificidade da mai()l'ja
das instituições, as quais, de uma fOlma ou outra, esl.'1oligadas à cultura. aquientendida em seu sentido antropológico - por dizer respeito aos valores, crença.s,costumes e tradições dos homens enquanto seres sociais - e histórico, pela significação e ações que desempenhmn através de seus membros num determinad(Itempo-espaço. Assim, nos dois sentidos, a cultura pm'ece aqui ser o topoi d()processo identitáIio desse grupo social. Nas palavras de bineu Gehlen, um do,spresidentes da Academia Passo-Fundense de Letras, expressa-se bem isso:
"O eco do trabalho do Grêmio Passo - Fundense de Letras chegou à capital da República e lá no seio das diversas academi
as estaduais. Com o decorrer dos anos, o sodalício passo fundense se consolidou, para brilho e glória do Rio Grande do
Sul e orgulho do povo da ten'a de Fagundes dos Reis, porqueaqui brotam as mais ricas expressões de beleza literáI'ia, trabalhos e estudos em feitos nobres de civismo."4o
Diante dessas diretrizes, que tanto justificam as ref1exões em torno da.s
filiações dos autores a instituições, como a importância de traçm' um quadIUda natureza coletiva das obrasflivros, destacamos que "identidades culturais
são resultados transitórios e fugazes de processos de identificação( ...), elllelldendo as identificações, além de plurais, como dominadas pela obsess;lo dadiferença e pela hierarquia das distinções."41 POltanto, parece ser nesse seutido que o caráter pmticular das instituições e a cultura se fundem como dl'
mentos identitários de seus membros. Seguindo essa perspectiva de reflexa( I,de forma preliminm', consideramos que "a questão da identidade é assilll
semifictÍcia e seminecessáI'ia,"42justificando, pois, nossa preocupaçÜo ('111
conhecer quem reclama por uma identidade e por quais meios o faz.
92
coletados nos depoimentos dos autores através de instrumento de pesquisa hiobibliográfica.11'101"
I,d.d de
Illd 1111
I I'" 111 Irulnental de pesquisa biobibliográfica.(doi. Ilal n50 foi somado por ser CO-Jutoria e já ter sido contemplado'" Ihid .. p. 1.
II SANTOS. Boaventura de Souza. Pela mão de Alice: o social e o político na p6s-modemidHdl'Sil" Pa"I,,: Corte>'.. 1<)97. p. 135.Ihid.
48 Ironito P.Machado ( IJItUro historiogrófica e identidade 49
li!
Como vemos no Quadro 7, há um total de 92 publicações dos autores das obras pesquisadas, entre as quais 77 correspondem a livros; desses, 32 são objeto de nossa análise -livros de histólla publicados na década
de 1980-1995, já relacionados no Quadro 1. As demais publicações nãoforam objeto deste estudo em virtude de a data de publicação se situarfora do recorte temporal desta pesquisa ou em razão de as temáticas sedistanciarem da problemática aqui proposta.
Quadro 8 -Amostragem de títulos das publicações dos autoresanalisados
( ;11 1M, Delma Rosendo
NI\SClMENTO, Welci
. Passo Fundo através
tempo (10 volume) - 1982.Passo Fundo através do
tempo (2" volume) - 1982.Passo Fundo através do
(1'1 volume) - 1978
(cOlltillll,t!
. Cronologia do ensino ('111
Passo Fundo -197(,.
Revolução de 1893 emPasso Fundo - 1997
. Segredinho: história e
tradicionalidade - 1990 .. Raizes de Lagoa VermelhaMClsica folclórica e popular -1996. Presença açoriana- 1980. Carreira de bois - (2'] edição) _ 1997. RS
1981. Folk, festa e. aspectos do folclore (3 ,tradições populares ~ 1983, edi<;ão) _ 1995. Rodada de
Carretas e carreteiros - causas _ 1989. ABC da
1984, Gravataí no contexto Guerra dos Farrapos _ 1985artístico e literário do RS -1990
ICAMPOS, Sônia Siqueira
(ASSOL, Ernesto
11I,RI, Gino
I ( tNSI( '1\, I'"dro I\riV<H",iIIlO dd
. História de Marau:urnacomunidade laboriosa
1992. Retorno às origensLinha 18 Rosso - 1996.
(onlimdo a história de ViklMaria - 1996. As bases da
lil<:ralura rio grandense1997
. Rondinha - 1988. Os
monges de Pinheirinho (2"edição) - 1976. 80 anos da
São Pedro - 1976
. Encantado pitoresco.Encantado sua história sua
gente. Muçum princesa daspontes
PII,AM, Nédio
. História de Gaurama (Coautoria) - 1988.
Contribu ição paraidentificação da regiãoAlto-Uruguai e área de
abrangência da URI - artigo- 1995. Realidade sócio
econômico e política domeio rural do Alto-Uruguai- artigo - 1992. Geografia
humana da região I\ltoUruguai - artigo - 1<)B4.
Agroecologia:condicionantl's sócio
econômicos - artigo -I <)B4.Estrutura fundiária do Rio
Grande do Sul - artigo 1983. A pequena produç,]oem Erechim: um estudo de
caso - artigo - 19H2
. Procedência dos fruti
hortigrangeiroscomercialízados em
Erechim - artigo - 1977.Tamanho das propriedades
e exploração por nãoproprietários no RS - artigo
- 1979. Geo-história de
Erechim - artigo/equipe 1975. A pequena produção
como estratégia dedesenvolvimento do
capitalismo no campo naregiJo (prl'lo). Influencia dall1odernizaç,]o IlO processo
de (,lpitalização dapequell,l propriedade no
I\lto-Uruguai (prelo). DGEW: caracterização sócio('conômica (co-autoria)
1984. Un iversidade
Pl'squisa e inovação: O RioGrande do Sul em
perspectiva (co-autoria) 1997
r
FonldllStrlll11l'1llo de pesquisa biobibliográfic:a.
Obs.: ( )s (belos apresentados sobre as publicações foram registrados de acordo com as inforrnJçÔes
('IlVi,ldas pelos autores. Assim, n50 foi possível seguir urn padrão de <lprcsentação, como, por('xel11plo, a dota da pllblicaç50 e slIa especificidade.
11 As tll',( 11',',01"; desta parle do texto pautam-se em dados sistematizados com base nas informaçõesohlldll', 1111 th'poillll'nlo dos autores - instrumento de pesquisa biohibliográfica - e nos registrosna-, IIIIIIUIIl\O\',', t' pl'cr;kios das ohras.
I', 1'0111111 di' lI/Ia ,li' dlls.\'ij/clI{'ilo/lJ;sfinção, segundo a tese de Bazcko sobre imaginário social.
t'1I11-'lllt"lllP'. 101110 :;1'11<10 "as redes de sentido, de marcos de referência símbolos, que os homensse I lllllllllh 11111,',L' d\'lIo1alll de IIllla identidade coletiva", portanto, diferenciando-se uns dos outros<:011111j'llljlll 1111hil'lllIqllia :;odal. Essa rede de sentidos é fruto da vida social produtora dasrel'II~lh 1'1 lilj·, t' \'111· \'\'1'.;\ I'''ra tal. VL'r BAZCKO. Op. dt. p. 307.
Dos oitenta títulos, entre livros e artigos, dos dez autores que maispublicaram entre os 23 biografados, podemos relacionar a temática tratada
com a fonnação, ou quadro familiar, funções e cargos ocupados/atuais e/ou com a instituição a que estão filiados. Temos, por um lado, consciênciado caráter lacunar de nossa conclusão, que resulta de uma análise metódica das publicações, mas, por outro, entendemos que todo título é umaenullciação do que se pretende anunciar/comunicar.
A questão que está subjacente às publicações é o interesse peloconhecimento, como motivação oriunda do contexto vivido.44 Nesse ponto, reportamo-nos a um pressuposto inicial deste trabalho: o livro comosímholo identitário. Considerando as produções, especificamente os livros, com títulos relacionados às temáticas que identificam os autores àsinstituições às quais são filiados, podemos dizer que a questão da buscade elemento de identificação representa uma forma de luta de class([icação/disfinção que se traduz num poder de estabelecer uma visão de mun
do social ligada ao lugar de origem (familiar, institucional, profissional,localidade ... ); assim, o livro torna-se símbolo.45
1\0 iniciar este capítulo, mencionamos nossa preocupação com suacspccificidade e a intenção de traçar um quadro da natureza coletiva dacria,';jo (livros), razão pela qual consideramos necessário, nesta parte doIL'xto. Ieee r duas considerações. A primeira diz respeito ao objeto específico. ;1 idcntificação dos autores, para o que utilizamos os dados biográficos, ll'kr0ncias às relações socioculturais e políticas que motivaram oflllll"" l' o lornar pública a obra. P0l1anto, estamos conscientes de que
"" DECCA, Edgar Salvatore de. Apresentação. In: BURKE, Peter. Velle~a e Amsterdã: um eslndo
das elites do século XVIII. São Paulo: Brasiliense, 1991. p. 8 - 9."' CARVALHO. José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Brasília: Ed,
Universidade de Brasília, 1981. p. 20.I.' BURKE (1991), Op. cit., p. 16 .
:>1.cultura historiogrófica e identidade
não se trata de um trabalho biográfico - nem como objeto nem COIIIO111<'
todo prosopográfico -, pois, mesmo investigando características hasila.'.comuns dos autores um a um e o estudo coletivo de suas vidas, IlOS.';O~;
dados são insuficientes para um trabalho de caráter essencialmenll' hio
gráfico, tanto os que dizem respeito à vida privada quanto aos da púhlic·a.Essa afirmação pauta-se na assertiva de Decca, que diz: "( ... )
prosoprografia é a investigação das características básicas comuns de umgmpo de atores na história por meio do estudo coletivo de suas vidas.(...) estabelecer o universo a ser estudado e formular um conjunto de questões - sobre nascimento e morte, casamento e família, origens sociais,posição econômica herdada, lugar de residência, educação, tamanho eorigem das fortunas pessoais, ocupação, religião, experiência profissional,etc(u.)."-l6
Portanto, como se observa até agora, os dados apresentados anteriormente não cobrem o universo necessário a uma biografia coletiva; poroutro lado, o objeto de estudo deste texto está vinculado a um problema,referenciado em nossas palavras iniciais, ligado à produção histOliográfica,e não especificamente à elite política. Nesse sentido, o que nos levou aodesenho deste capítulo foi nosso problema, a partir das hipóteses formuladas e do método escolhido, matriz disciplinar da história, visto que nelese coloca como questão inicial o interesse pelo conhecimento histórico.Para tal, fez-se necessário trabalhar com dados biográficos.
A segunda consideração, de ce11a forma ligada à primeira, diz respeito à definição de um gmpo social, o que fazemos, no quadro da natureza coletiva dos livros, com base do coletivo de autores. Portanto, passamos à segunda parte deste texto, em que pretendemos responder à questão: quem são os autores? Para isso, partimos do pressuposto de que ocoletivo desses autores pode ser denominado de grupo social, o qual,fazendo parte de uma coletividade/sociedade, se distingue no interior dela,configurando-se, portanto, como uma elite.
Segundo Murilo de Carvalho, elites podem ser conceituadas comogmpos especiais marcados por características que os distinguem da população ou mesmo de outros grupos de elite;47 ou, nas palavras de Burke,"gmpos supeliores (.u) segundo três critérios: status, poder e riqueza."48Nesse sentido, para a questão em foco, a conceituação de elite que poderá orientar-nos é a utilizada por Colussi: "(u.) elite (.u) aqueles setores de
Ironita P. Machado
(continua)
. Frei Pio, fenômenomístico do século XX. Um
silêncio que fala. Joanad'Arc, guerrilheira de Deuse da França (prelo). Entre o
amor e o altar
. Soledade das sesmarias
dos Monges Barbudos daspedras preciosas - 1987.
Francisco, irmão universal.Clara de Assis
!)()
t'"",V,"dem" C;"I"
••
S2Ironila P.Mochodo
I. \Illura historiogrófica e identidade 53
•...
uma determinada sociedade que ocupam as mais altas posições e que dispÓem de maior acesso aos valores e ao controle dessa mesma sociedade.
Nesse sentido, não existe uma única elite, mas diversas, dependendo de quevalores referimos e de que controle ela exerce: elite política, elite econômica,dite intelectual ou cultural( ...)."49
Partindo dos aspectos referenciados na exposição dos dados biográficos obtidos, entendemos que os autores, em seu conjunto, representam umgrupo reduzido de indivíduos pertencentes às coletividades que configurama sociedade constituinte do espaço regional - centro-norte do Planalto rio
grandense. Esses ocuparam e ocupam posições de prestígio e são reconhecidos, se não por toda a sociedade, pelo menos, por outras elites, seja pela suadescendência, seja pelas funções ou cargos públicos ocupados (pastoral,magistério, saúde, imprensa), por sua fomlação e/ou filiação institucional.
Particularmente, o fato de escreverem e publicarem livros de história procurando enquadrar a memória de toda a coletividade é que lhes dá o atributo de
grupo "superior" e que dispõe de maior acesso aos valores (pela sua experiência familiar, profissional, formação, fontes de pesquisa, apoio institucional noque se refere a questões estruturais). Lembramos que, até as últimas décadas,esse tipo de produção esteve, salvo algumas exceções, sob os cuidados desses autores. Quanto ao poder de esse grupo estabelecer uma visão de mundo
singular à sociedade, isso se dá pela escrita da história construída pelos autores a pmtir de sua consciência histórica; portanto, a prática de estabelecer uma
visão de mundo efetiva-se pelo exercício da autOlidade e do poder de dizer ascoisas em nome de todos, de construir identidade singular de coletividade eIlIgares a partir do imaginário coletivo, estando eles conscientes ou não.
Assim, diante das referências feitas até aqui, consideramos os livros
11m símbolo - intermediário entre o sinal (narrativa histórica) e o signo(visão de mundo do gmpo social, incutida na narrativa), que estabelece
uma relação com o imaginário social (ainda que já das elites) - visto que,com suas nmTativas, impõem uma imagem e criam uma legitimidade, origiuada do poder de antepassados, seja étnico, seja político, econômico ou
institucional: "Heróis chefes/guerreiros, estabelecem modelos e o imagin;írio social é, deste modo, uma das forças reguladoras da vida coletiva."5o
Essas produções, que passam a existir como sistema simbólico, insInnllcnlo de conhecimento e comunicação, exercem um poder estmturante(influenciam os indivíduos nas formas de conceberem a sociedade atual e
nda a/',ircm, reconhecendo gmpos e desconsiderando outros) porque são
• ' "'1 11,~~;j, "Iianl' 1.IIl·ia. A maçol1aria gaÚcha 110 século XIX. Passo Fundo: Ediupf. 1998. p.'I'
11\(11-," "1"i1 ." 111'/\111.
eslruturadas (por meio da narrativa estrutura-se uma concepção de história que seleciona fatos, sujeitos e ações históricas, privilegiando algum(s)!'rupo(s) e negligenciando outros) de fonua a estabelecer um poder deddinição de mundo social no imaginário coletivo, apresentando-se, assim,como poder simbólico. Nesse sentido, "poder simbólico é um poder deconstmção da realidade que tende a estabelecer uma ordem que dá sentido imediato ao mundo."51 Através dos sinais (narrativa histórica portado
ra de signos), os autores buscam uma integração social e contribuem paraa reprodução de dada ordem social, legitimando a ordem estabelecida e asdistinções. Os agentes da produção simbólica, motivados pelos seus interesses pessoais e do gmpo do qual fazem parte, direcionam seu olhar auma interpretação de mundo social, colocando, dessa forma, o capital, aoqual devem sua posição, no topo dos princípios de hierarquização.
Tendo como premissa as questões referenciadas, da compreensãode elite no plural e dos valores referidos aos autores regionais, denominamo-Ios de elite cultural. Com isso, chegamos ao ceme daquilo que consi
deramos premente no que se refere à identificação dos autores regionais,que constitui o foco central das reflexões que se seguem.
Os autores regionais, elite cultural, são portadores de capital culturalsimbólico por causa da posição que ocupam no espaço social, da "históriaincorporada" pela vivência ou tradição como grupos sociais tradicionais, issocomo resultado de incorporações dos ganhos acumulados das funções/cargos desempenhados no passado-presente e origem familiar. Nas palavras deBordieu, "o capital cultural e o capital social e também o capital simbólico,geralmente chamado prestígio, reputação, fama, etc., que é a forma percebidae reconhecida como legítima das diferentes espécies de capital."52
Assim, essa elite cultural apresenta a composição de seu capital
incorporado na seguinte ordem de posse: pela sua descendência de famílias tradicionais, as quais são reconhecidas socialmente pelos seus nomes
e feitos ( conforme Quadro 1); pelo fruto de seu trabalho e exercício decargos sociais no passado, bem como pelas instituições sociais (cultural,religiosa) a que foram ou são filiados - "institucionalizadas em estatutosduradouros, socialmente reconhecidos ou juridicamente garantidos" ,53deespecificidade cultural e pÚblica. Portanto, essas posições na hierarquiasocial e nas correlações de força é que determinam o potencial atual e ostatus desses autores, como podemos observar pela forma como são apresentados nos prefácios de seus livros .
51 BOURDIEU (1989). Op.cit., p. 9.
Ibid .• p. 134.5' Ibid., p. 135. Ver esses aspectos nos quadros 2 a 7 deste estudo .
!,;j lronita
Cultura historiográfica e identidade55
Podemos distribuir essa elite cultural em duas categorias de autor,'s segundo seus apresentadores ou como eles próprios seaUlodenominam, A primeira categoria, historiador, refere-se aos que, deurna forma ou de outra, escrevem sobre o local e o regional tendo porlema as gerações passadas, na qual se concentram 60,8% do total deautores. Transcrevemos em seqüência alguns fragmentos textuais dasapresentações das obras como ilustração de nossa assertiva e com oohjetivo de verificar quem são os apresentadores. No prefácio do livrode Vargas, lemos o seguinte:
"( ...) consideramos dever de quem escreve hoje sobre temasrelacionados a vida de nossas comunas, ajudar a compreensão do grande problema contemporâneo, que é o uso da terra.Dirão alguns que não é função de historiadores. Ao que pediríamos licença para retrucar: a História é precisamente a mestra capaz de iluminar nossos caminhos( ...) Mozart PereiraSoares. "54
Outro exemplo vem de Fonseca:
"Na mais feliz das horas, vem a público este livro porque preencherá um enorme e gritante vazio na literatura especializadabrasileira( ...) agora presente e de forma definitiva e autorizada,através da palavra de um mestre verdadeiro( ...) DI'. Paulo Renato Cerati - Membro da Academia Passo-Fundense de Letras."55
" (...) Veríssimo da Fonseca, muitas gracias pelo privilégio. Presente macanudo este que faz ao Rio Grande do Sul e ao Brasil.Manancial de vivência (...) Jayme Caetano Braum."56
Nos dois exemplos citados, os autores não são denominados, objeIlvaIIlL'nll',de historiadores, mas esse sentido subjaz às expressões "quem('~;n('\'e hoje", "função de historiadores", "de forma autorizada e mestreITldadl'iro". Por outro lado, destacamos a relação existente entre os autoIl'~;(' Sl'USapresentadores, que pode se dever à "aptidão de memorialista",
(01110 pod,'mos observar nas palavras de Vargas na introdução de seu li110. "lIao podemos deixar de citar Mozat Pereira Soares, nosso mestre e
.11111)'.0 <111(' 110 ,seu Santo Antonio de Palmeira traça definitivamente o que
I \ \PI'.-\,l; 111' 111 P '1
II tll"H \ I 'I' I II 1I1t'lha do livro.1It1.1 I' I
deve ser um livro de histórico de uma cidade"; ou à.filiação illslill/ciolllll.
de que são exemplo as palavras do prefaciador do livro de Fonseca qualldo se refere à Academia Passo-Fundense de Letras e ao Instituto de Ilis
tória e Tradição do Rio Grande do Sul, antes citado.Nessa mesma perspectiva,podemos destacar o que consta na obra de Gdllll:
"A autora professora emérita, membro da Academia PassoFundense de Letras, embria em importância com os historiadores dessa Terra, como Antonino Xavier e Oliveira e EdeteCafruni; todavia em vários aspectos, os sobrepuja,
notadamente, pela coerência e amplitude da pesquisa .. RicardoJosé Stolfo Da Academia Passo-Fundense de Letras."57
Ainda, nas palavras de Netto: "( ...) Independentemente da suaopinião pessoal, cabe ao historiador relatar fielmente os fatose é com este propósito que vamos tratar (...)".58
Na segunda categoria, optamos por escritor-técnico,59 entendidocomo a pessoa que reúne fontes e organiza os dados de uma forma didática. Isso deduzimos pela diversidade de denominações usadas pelos
apresentadores ou pelo próprio autor, que, em alguns casos, confessa nãoser historiador. Assim lemos em Fassini e Silva:
"Não somos historiadores, somos professores, mas de uma
maneira simples e numa linguagem acessível procuramos deixar a todos um pouco do que foi a vida de nossos antepassados."60
Outro exemplo vem de Campos: "O presente trabalho é resultado do esforço desinteressado e altamente cooperativo de toda umacomunidade( ... ). A comunidade relatou os fatos de sua cultura, ostécnicos compilaram-nos (... )."61 Por fim, outra citação que exemplificaa relação do prefaciador com a obra e com o autor está na obra deNascimento:
"Conheça Passo Fundo, TCHÊ! Não engloba apenas o que foraapurado (...) mas nos oferece mais valioso subsídios para integrmIDos às gerações( ...) Parabéns, professor Welci, estamos
" GEHM (1982). Op,cit., p,5." NETTO. Op,cit., pAS,i'l Na grande maioria dos prefácios dos livros, quando o autor não é referendado como historiador,
a expressão "'técnico" é uma constante, associada à atividade de reunir as fontes, de compil:.í·-Iasordenadulnente de fonna que sejaJn compreendidas.
,," FASSINI, SILVA. Op,cit., p, 5,,,' CAMPOS, Sônia Siqueira, Segredo: história e tradicionalidade, Porto Alegre: IGTF, J '1<)(),I', lI;
56Ironita P.Machado Cultura historiogróFica e identidade
57
todos orgulhosos de nosso confrade. Antonio AugustoMeireIes Dumte/Presidente da Academia Passo Fundense deLetras.62
Eu não sou um conhecedor profundo da História, apenaspesquiso e refaço os fatos numa linguagem a nível popular,isto é, de fácil entendimento, penso eu (...)."63
Com base nas duas categorias de autores, historiador e escritor
técnico, estabelecidas pela conceituação dos apresentadores e dos próprios autores (presente nos livros - prefácio, apresentação, introdução),delineamos nossa opção conceitual - possível de agmpar todos os autores que compõem essa elite cultural -, que é: historiador diletante e, ao
conjunto de suas produções, cultura historiográfica. Nossa opção ancora-se na assertiva de Diehl, que expressa: "O historiador diletante é aqueleque constitui o passado tornando-o história, sem formação específica.Mesmo sem essa formação acadêmica, seu papel é impOltante na medidaem que trabalha com vocação política".6~
A opção conceitual historiador diletante, além da assertiva
referenciada, respalda-se no quadro da natureza coletiva das criaçõesllivros traçado neste texto, o qual demonstrou, entre outros dados, que, àexceção de Casso I - formado e pós-graduado em Histólia, tendo concluí
do mestrado em História Econômica no ano de 1975, período esse corres
pondente a uma certa predominância de orientação teórico-metodológicamarxista, paradigma modemo,65 às pesquisas em história -, os demais
não possuem formação específica em história. Nem por isso, contudo, suasproduções deixam de ter importância, pois, por um lado, o fizeram com
vocação política, entendida corno as diversas motivações objetivas esubjetivas que os levaram a escrever - étnica, apego ao lugar de origem,descendência familiar, propósitos das instituições a que estão filiados _,as quais veremos a seguir.
Por outro lado, considerando que os homens sempre se intenogamsobre sua identidade, é compreensível que cada localidade! coletivida-
" NASCIMENTO, Welci. Conheça Passo Fundo Tehê. Passo Fundo: Berthier, 1992. p. 7." Depoimento: instrumento de pesquisa biobibliográfica.
'" DIEHL, Astor Antônio (Org.). Passo Fundo: uma história, várias questões. Passo Fundo: Ediupf,1998. p.15-40.
65 Paradigma moderno: entendido como as formulações, regras (modelos) universalmente reconhecidas para visualizar e compreender o mundo, que se formularam no decolTer do século XVI aoséculo XVII - Renascimento - e intensif1ca.ram-se ao longo do século XIX - Iluminismo _ no seio
das ciências. Sobre esse telna ver, entre outros, KUHN, 1110lnas.S.A. A estrutura das rCl'oluç{jescielltifieas. São Paulo: Perspectiva, 1995: SANTOS, Boaventura( 1997). Op.cit.; BERMAN,
MarshalL Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidacle. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
de, por meio de suas elites culturais, busque através da "pesquisa" oselementos que identifiquem a gênese do mundo social no qual estãoinselidas. Assim, os livros publicados por essa elite cultural são fontes
importantes atualmente, como o dizem alguns historiadores diIetantes:"Compilar dados históricos sobre o Município de Getúlio Vargas, no sentido de proporcionar fonte de registro, pesquisa e debate (...) também, (... )esperamos que satisfaça aos estudiosos de nossa história e à maioria dapopulação de nossa região."66
Ainda, respaldamo-nos em Janotti quando se refere ao objeto dahistória da historiografia, considerando como "material prioritário do estudo historiográfico obras que deliberadamente recorrem a fontes documentais no esforço de compreender o passado vivido,"67 organizando-o deforma que viabilize a compreensão do presente. Quanto à especificidadedas obras analisadas, a autora chama a atenção para o fato de não poder
mos desconsiderar as produções de não historiadores, dizendo peltinentemente: "Incluímos igualmente escritos circunstanciais, normalmente em
penhados em defender uma causa política, que apelam à reconstmção daHistória em busca da própria legitimação. Dessa maneira, não só obras
originais, fruto de pesquisa inédita, mas também texto de naturezajornalística, memorialística, biográfica e didática- que chamaremos de manifestação historiográfica (...) suscetíveis de análise historiográfica.( ... )."68
Ao que Diehl denomina vocação política e J,motti, callsa política, considermnos aqui como todas as manifestações result,mtes do interesse pelo conhecimento, ou seja, as motivações que impulsionaram os historiadores diletan/es aescreverem e publicm-em.Pmtimos do pl-eSSUpostode que essas motivações sãomanifestações refletidas do contexto social vivido, sendo, portanto, manifestaçõespolíticas, considerando que, a pmtir do alm'gatnento do campo do político na história, década de 1980/90 - nova história política,69 o político passou a ser com
preendido como lugar onde se articulatn o social e sua representação. SegundoBordieu, o político é a matriz simbólica onde as relações sociais se matelializatn ese refletem ao mesmo tempo; especificatnente em l-elaçãoao nosso problema de
investigação, relaciona-se com a constmção de identidade marcada pelas estratégias discursivas (cultura histOliográficaregional e construção de identidade, limi-
"" OLIVEIRA, Adão Russi. Depoimento: instrumento de pesquisa biobibliográfica.
07 JANOTTI (1998). Op.cit., p. 120.,,' Ibid.
"" A respeito da "nova história política", entre outros, ver: CHARTIER. Roger. A história boje:dúvidas desafios, propostas. Estudos Históricos. Rio de Janeiro: FGV, 1994. v. 7.n. 13. p. 97L13; FÉLIX, Loiva Otero. História política hoje: novas abordagens. Revista Cataril1cnse de
História. F!orianópolis, 1998. n. 5; GOUVEA, Maria de Fátima Silva. O ressurgimel1to da his
tóri" politica 110 campo da história culrural. Passo Fundo: UPF, 1994; RfjMOND, René. Porque a história política? Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 7. n. 13., 1994, p. 7-19.
-'>8Ironita P. Machado
Cultura histo~io.~ráfica e identidadew
~-
Il's l' IX)ssibilidades,diante do atual deslocamento paradigmático historiográfico),como :uticulação entre poder e cultura.
Na expressão desse autor:
"As lutas a respeito da identidade étnica ou regional, quer dizer, a respeito de propriedades (estigmas ou emblemas) ligadasà "origem" através do 'lugar' de origem e dos sinais duradoirosque lhe são cOITelatos,(...) são um caso particular das lutas das
classificações, lutas pelo monopólio de fazer ver e fazer crer, de
dar a conhecer e de fazer reconhecer, de impor a definição legítima das divisões do mundo social( ...) o que (...) está em jogo éo poder de impor uma visão do mundo social( ...) que fazem arealidade da unidade e da identidade do grupO."70
Entendendo que a cultura histOIiográfica produzida no centro-nOItedo Planalto rio-grandense, fruto da construção de uma elite cultural com
posta por historiadores diletantes, representa a articulação entre poder ecultura na busca de uma identidade que dê unidade ao grupo social, julgamos pertinente apresentar os elementos constitutivos dessa articulação:as motivações. Para tal, agrupamos as motivações dos historiadoresdiletantes/criadores pela construção da escrita da história, bem como asde seus patrocinadores, em cinco dimensões de interesses. Passamos aexpÔ-Ias, dividindo-as por campo de interesses e exemplificando com alguns depoimentos dos historiadores diletantes e de seus patrocinadores:
a) preservar a memória dos antepassados da região e ou município - aqui se concentrou o percentual mais alto, 65,21%, do totalde autores (23). Nesse sentido, lemos:
"Foi para recordar o passado e mostrar gratidão à essa Terra e
it sua gente que resolvi tornar pública a presente monografia."71
"Esse patrimônio sagrado que herdamos de nossos pais é, nus
ll'l' Iransmiti-los aos filhos para que eles conheçam o significalivo valor de quem doava a vida em prol do futuro calcado11<1 Irahalho (... )."72
111111111111·(1 (1'11('11 (11'<;1. p. 11.1
I \1'1-'1" \';lld.'lIldl ('i.do XIIII'dl/dl' das .\'('smariasdos monges barbudos das pedras preciosas.t ldll f\lt IUljllt' I ;"',01. Iq~U, p. 10.
ItI I \111, 1~I.lpll' f '11\11/ rl/J{nll (' hl~i{'. Passo Fundo: Bcrthier, 1992. Prefácio. p.S.
"Acreditamos que este trabalho possa servir de base para fll
turas pesquisas históricas, afim de ampliar e aperfeiçoar osacontecimentos sobre a historiografia do Município e, espe
cialmente, para resgatar a memória de seu povo (...)."71
Assim como nessas citações, encontramos em outros depoimentos/
apresentações expressões que anunciam a motivação estabeleci da nessecampo, tais como: "convicção de preservar a memória"; "compilar dadossobre o município"; "contando e recontando a nossa história regional";"mostrar a comunidade o que foi nosso passado"; "elaborado com o pen
samento dirigido para as comunidades". Com a mesma motivação, encontramos declarações dos patrocinadores, por exemplo:
"Coube, pois, à atual Administração complementar dados, bemcomo o esforço de tornar a edição deste livro realidade, por
que compreendeu o seu sigluficado, de passar aos pósteros avivência, o trabalho, a lúdica dos segredenses deste final demilênio, deixando àqueles uma herança cultural, cujo valor é a
preservação de sua identidade."74
"( ...) Tendo certeza de que, através do presente relato, frutode intensa pesquisa, entrevista e leitura, a História deste Município será resguardada e preservada do esquecimento pelasgerações futuras.( ...)."75
"( ...) elaborar o histórico do Município de Gamanla, foi muito alémdo simples, mais honroso convênio entre FAPES e Prefeitura.
Ao registrar dados, ouvir pessoas, ao documentar fatos, nos envolvemos culturalmente e emocionalmente com o passado de tan
ta gente( ...) para mostrar as novas gerações a linha de chegada."76
b) subsidiar a ação de instituições de indivíduos da região e/oumunicípio através do "conhecimento histórico": esse campo ficou emsegundo lugar, com 47,8% do total dos autores (23).
C} FERRI. Gino. ROIldin"a. Chapada: Imagem. 1998. Prefácio. 1'.7.
N Wilson Vicente Dagios - secretário municipal de Educação e Cultura de Segredo. In: CAMPOS
(1990). Op.cit.. p. 9." Clací F. Portaluppi - secretária municipal de Educação e Cultura de Marau. In: BERNARIlI
(l992).üp.cit. p .. 4.João Dautora. Presidente Fapes. ln: CASSOL, Ernesto. HistórÍa de GOl/rama. Passo Fundo:
Berthier.l988. p. 11.
1>0 Ironito P.Machado.cultura historiográfica e identidade 1>1
~
i\s motivações, declaradas e registradas, que se enquadraram neste('ampo manifestaram-se através de expressões como: "contribuição paraidt'ntificação da região"; "subsídios à ação de diferentes atores sociais";"aprimorar e ou redirecionar o caminho humano capaz de contribuir nacaminhada de grupos"; "para alunos e mestres lerem"; "realizações dopassado como modelo a ser seguido"; "emergir do anonimato", Entreoutros, como ilustração, vejamos:
"C..) é nosso desejo que este trabalho traga sua contribuição a fimde preselvar nossas origens e traga mais um subsídio aos estudantes e aos descendentes dos pioneiros(...)."77
"(...)Conuibuição para Identificação da Região (...) contribuir para oconhecimento da realidade regional; fomecer subsídios à discussãosobre a realidade regional; fomecer subsídios 'a ação dos diferentesatores sociais da região."n
"(...) Isso não só como depósito cultural e material de museu mas,Plincipalmente como experiência acumulada capaz de contribuir deforma positiva na can1inhada histórica dos diversos gmpos sociais.Quem ignora ou nega o passado está fadado a repetir seus enos."79
Da mesma fOlma, detectamos tais motivações no pensamento/inten\'ao de alguns patrocinadores:
"( ...) quando um município novo surge, no mapa político doEstado, faz-se necessário emergir do anonimato e conquistar umespaço no firmamento das comunidades."80
"( ...) uma obra própria para estudiosos do polêmico tema e alÚrma coneta de aplicação do mesmo nos educandários sem deturpar o folclore com sua síntese histórica (...) A obra dá umasaliente posição a Passo Fundo, tena Natal da autora e centrodos mais importantes de cultura e folclore de nosso Estado."81
IlI'HN;\IUlI (1')()21. Op.cit.J'IH:\ N, Nl'IJill. I )ep(limenlo: instrmnento de pesquisa biobibliográfica.
ItI'NIN( 'A, Dirct'u. Depoimento: instrumento de pesquisa biobibliográfica.1"'1' Ilvlio Mil" KopL ln: Comissão de Estudos Municipais. Os lWI'OS mUllicípios do RGS:1".1.11,011' 1'01111 i\lq',Il': s/ed., 1988. p. 11.
, 11<1011'0 ,1111'11:,10 ~kirdks Illlarlc. Membro da Academia Passo-Fundense de Letras. lu. PARIZZI,
[\!;IlJld;1 1\11',1 NIIH/{S J'I/I.,i'.\': folclore. Passo Fundo: Berthier, 1990. orelha do l.ivro.
,c) origem familiar: esse campo de interesse enquadrasl' na ('.~po.';ição e reflexões feitas em relação à descendência dos historiador(";diletantes de famílias tradicionais e de imigrantes.82 Foram 26,OX% do 101al
de autores (23) que tiveram este campo como motivador, constataç:lo qlll'pode ser feita em alguns depoimentos e apresentações de livros:
"Descendentes dos fundadores de Carazinho, sempre pesquisei ahistória regional e as Oligens familiares."83
"Ao pesquisar sobre a história tenho uma motivação que vaina linha da subjetividade (... ) O gosto pela história pode serjustificado pelo apego-afetivo às raízes étnicas, culturais, sociais e religiosas que constituem a minha ( pmticular) a nossaidentidade, enquanto povo.( ...)."84
d) datas "comemorativas" do município e/ou ':tatos" históricos da
região: aqui há uma concentração de 30,4% do total de autores (23), mas tmnbém encontramos esse campo de interesse registrado nos livros dos demaisautores, embora não s~ja a sua motivação central. Em seu livro, Speni diz tersido motivado a escrever pelo fato de ser bisneto do fundador do município,porém observamos que a publicação de sua obra se deu em função das festividades comemorativas ao aniversário de Nonoai. Assim lemos:
"Este trabalho é comemorativo aos 25 Anos de emancipação política de Nonoai,E a Gesk'iode José Luiz De Moma e AvelinoMatiello."85
"Ao completar 160 anos de chegada do primeiro morador Alferes Rodrigo Felix Martins, quero registrar fatos, eventos, lembrar datas impoltantes, folclore (... ) e nunca esquecer os bonsmomentos vividos aqui nesta legendária tena histórica( ...)."86
e) religiosas: aqui se concentraranl 13% do total de autores (23) quemencionmn em seus esclitos terem motivações religiosas para escrever e publi
car. Exemplificmnos: "Nossa proposta não é um estudo sociológico ou econômico das comunidades mas suas raízes dentro de uma visão humana e eclesial."87
Os cinco campos de interesse não são distintos, pois, individualmente ou em seu conjunto, representam manifestações políticas. Observando os campos, com suas devidas ilustrações, percebemos que há inte" Ver Quadro I, p. 24." VARGAS, Álvaro Rocha. Depoimento: instrumento de pesquisa biobibliográfica.
" BENINCÁ. Depoimento: instrumento de pesquisa biobibliográfica."' SPERRI . Op.cit., p. 7."" DORNELES, Fátima. Pinheiro Marcado: 160 anos de história. Colorado: Sanni, !()X7. p. s/n.
ZANOLLA. Op.cit., p. 7.
ó') Ironita P.Machado___Cultura hist9riQ,gráfica e identidade
ti :1
"HistÓria de P,F. começa com oadvento dos
missioneiros""Atitudes e ações
que influíram na evolução
histÓrica ... '''' ... primeiroshabitantes, suas atitudes. seu
modo de vida ... "" ...os passos
mais impOltantes nacam inhada." " ...evolução
geral cada um faz sua
1I... recordar as tradiçõesllll ... esse
movimento ... Mongesexistiu ... ainda está vivo na
lembrança de muita gente"
a,c,
39,0
30,4
Sf.'erri~Total
Ghen
Font
Fassini
Silva
Wallauer
Zanolla
Nascimento
2" Perspectiva·
Tradição/vivência a serrememorada
Grupo 1 . HistÓriaconcebida como
realizações humanas·
atividades, feitos
importantes e vivências
eu Iturais.l" Perspectiva·
Ações humanas num
tempo linear/evolutivo
Fonte: Instrumento de pesquisa biobibliográfica,* As concepções de história foram agrllpadas conforme a conceilllação feita pelos próprios ,1l1I01'''',
Consideramos "sem dados aparentes" por não termos o conceito de história dos r('ft'rid()s ,llrloll'Spelo depoimento instrumento de pesquisa biobilJliográfica e na introduç50/prd;ício, tl,io l(}i I)()<,',IV('\identificar. Serão cOlltemplados posteriormente quando procedermos.1 illltílis(\ ddS Il.llldtivol',.
em duas perspectivas: em uma, a história é concebida como H'ali:::t/('(I(',I/1/1/1111/1111,
na perspectiva de ações humanas num tempo Unew' e de tradiç'i]o/I'Íl'/:ncill/HIIII
da a ser rememorada; na outra, a histólia é concebida como escrita dO/'(/IIIII/".
aqui convergindo as perspectivas pelo fato de essa concepção ser entendida l'OIIIO
registro, mas divergindo no que diz respeito à opção pelos procedimento,l' usados
no registro. Para ilustrar as duas concepções de história e as perspectivas, sin[cli/,a
mos alguma,> declm<tções no quadro que segue.
Quadro 9 - Síntese das concepções de história subjacentes aos depoimentosdos historiadores*
Il'~;se de busca de elementos de distinção e identificação potencializados
110 l'on[ex[o vivido - dos historiadores diletantes - pelas relações sociais,
quc, por sua vez, são materializadas, como já vimos, através de seus car
gos, funções, filiações institucionais e capital simbólico, os quais promo
vem as distinções/hierarquias sociais, sendo reflexo dessa matelialização
a prÓpria motivação pela "pesquisa histórica" e publicações.
Salientamos, com essas indicações, a mticulação existente entre poder e
cultura, pois a busca de elementos de identificação e distinção, que se configuram
lia construção de identidade, dá-se pelo direcionmnento de um olhm' ao passado,
motivado por valores e interesses "pessoais". Portanto, restringe-se a uma "cul
lura", a de quem olha, resultando em uma imposição de visão de mundo social
que, de plural e contraditólio, passa a singulm', hm11lônico e natural - dado como
//{/tural. Esse viés fica explícito, por um lado, quando lemos as denominações dos
campos de interesse e os depoinlentos: materializm' a memória de detem1inado povo,
de um espaço específico/resuito; o passado como modelo - potencializador de
ações presentes ("modelo às gerações presentes", "ensino como f0l11la de perpe
[uação ou reconhecimento", "exemplo u'abalho como promotor de progresso")
rercrencial de identificação e distinção entre tempos sociais (presente - passado/
passado - presente - futuro), el11ias, religiões e espaços.
Por outro lado, as entidades pau'ocinadoras são condicionantes da ar
liculação enU'e poder e cultura, o que se percebe nos depoimentos, apresen
1a~'ões e prefácios, pois os historiadores diletantes possuem vínculo com
aqudas (membro, funcionário, cm'go, ou compmtilham status social com inte
!'raules da entidade). Além disso, as entidades patrocinadoras, em sua maio
ria, silO pOltadoras de poder jmidicamente garantido, por exemplo, prefeituras
Ulllllicipais, secretaria de Estado, escolas superiores, instituições religiosas,
l'utre outras, con-espondendo a 65,2% do total de entidades patrocinadoras,
Portanto, consideramos que, em virtude das transformações
~;,ll'il )cconômicas, político-administrativas tenitOliais e espaciais con-esponden
ll's ao período das publicações, como fruto da relação modernização/
1I1()(ILTllidade,os historiadores diletantes, autOlidades públicas e instituições
lIadiciouais foram motivados à busca de delimitação das semelhanças e diferen
,a,'; l(lI'11lac.;;1ohistórica peculiar frente a ouU'as regiões ou municípios ou gm
I'0~;~;ociai,s- ou à reafu11lação/legitimação dos laços com tradições suposta ou
allll'ul il'aull'u[e enraizadas dessa elite cultUl'al, que, por sua vez, as mobiliza em
:;U;I:;obras para que não se apaguem frente às mudanças presentes.
I >t',w' modo, parece-nos que a distinção que possa existir reside na concep
',ao dI' hi~;[()JiaqUl' cstá su~iacente aos campos de interesse, Com essa considem
',a(l, pa:;:;aIIlOS;ISl'oucepçllCs dos historiadores em questão referentes ao conceito
.I" 11I:.I(llIaI'al'a laL l'/)m base nos depoimentos, registros nas introduções e prefá
, I'1', ,I, ,:, 11\'1(.:; li, I:; ;11111tI\':;' agl1lpamo-los em duas concepções, cada uma dividida
611 lronita P.Machado Cultura historiográfico e identidode tI"
No primeiro grupo, história é entendida como feito humano passado, eventos de relevância que, de alguma forma, impulsionaram a evolu,'ao dc coletividades ou regiões/locais e, por isso, merecem ser
n'mcmorados, Esse entendimento se expressa nas seguintes afirmações:
"Nas páginas desse trabalho relatamos os passos mais importantes na caminhada da comunidade (.,.);"SX "Das pessoas queele revive ou referem foram considerados a disponibilidadesocial, o pensamento, atitudes e ações que influíram na evolução histólica da sociedade."89
Em outro registro, encontramos a seguinte concepção:
"A Histólia de Passo Fundo, como em geral da quase totalidade dos municípios da região serrana, começa com o advento, às plagas do continente, dos missioneiros da companhiade Jesus,"90
Ainda nesse plimeiro grupo, aparecem algumas posições que denoIam uma concepção vinculada com feitos humanos, mas que demonstral'clclismo no entendimento do que seja história, Isso pode ser observadoncs((;s fragmentos textuais: "Em matéria de história( ...) é preciso recorrerils Tradições (...)"91; "O leitor encontrará portanto: realidade e história,tamhém mensagens( ...)."92
Pelas citações, é possível entender a forma como os autores vêem o
passado, ou seja, com saudosismo e invenção, como na expressão tradictll!. pela qual entendemos filtos vividos que são transm.itidos de geraçãopara gcração, com certa divinização/ IlÚstica, isto é, de invenção popular;ou com realidade e história, disposta dessa fOlma, que dá uma conotaçãode oposição, com o que a história passa a ser ficção e realidade fatos vividos passíveis de observáveis.
!\s concepções de história como realizações humanas passadas deluonslramum caráter seletivo, hierárquico, unilateral e "positivo". À medida
'1IIl' privilegiam fatos, grupos ou pessoas pela sua posição de destaque,,h'~;,',111hecendo outros, exteliolizam a idéia de que a histólia é realização de;d,'IIIIS"iluminados" e de fatos heróicos e pontuais, desconsiderando-a comopIOI"~;SOeonnituoso e plural. Assim, a história é dada, acabada, e não umPIll(l':;:;OsOl'ial plural, vivido numa multiplicidade temporal e cultural.
Illllll',',;lO tk 1',',111110.\ J\illlllicipais. Op.cit., p. 11.HIHI 11"li I) 1)1','1. p.. 1.
Id'II!\IIPn;l) (lI' \'il.,p.tl.'I ',I'lllPI (Ili:,'!) ()p t II li 'I
11l1J:r'H'II'~; 111):\11 ()I' \'11 li. sino
O segundo grupo é inteiramente diferente do primciro l'ln ~;U;I:, d,'clarações quanto ao sentido etimológico da palavra história, pon'nl " .o;,'
melhante em suas concepções, com pequena divergência no quc Sl' I,'klt'às perspectivas, Esses autores compreendem a história como o rcgislltl, anarração e o relato do passado vivido num tempo linear, dispondo w; Iatos num ananjo de causas e conseqüências segundo o mesmo caral"1seletivo, determinista e harmonioso. Um número significativo dc hisloriadores demonstra essa concepção, os quais entendem a escrita do passado como uma narrativalrelato fiel de documentos, fatos, acontecimcntos,sem necessidade de interpretação. Tais evidências se revelam nos própriosdepoimentos dos autores:
"Independentemente da sua opinião (...) cabe ao historiadorrelatar fielmente os fatos (...);"93 "(...) procurando buscar o maiornúmero possível de informações sobre os plimeiros habitantes,suas atividades, seu modo de vida e a partir daí como foramoconendo as mudanças, o que existiu (...) e hoje já não existemais, que tipo de vida levavam os plimeiros moradores e comoisso foi evoluindo até chegar aos nossos dias."94
Ainda detendo a mesma concepção, mas noutra perspectiva, ou seja,entendendo que o registro/naITativa é passível de análise e crítica, vejamos o seguinte depoimento:
"A História é narração de fatos, pura e simplesmente ou narrativa crítica de acontecimentos da humanidade. Individualmen
te cada um faz sua história, a começar por sua família. EstahistOlicidade pode ou não modificar a humanidade. Umas sãodignas de figurar nos registros (documentos históricos), outras ficam, apenas na tradição oral. Para o público infantil háas historietas (...)."95
O depoimento transcrito demonstra certa ambigüidade por expressar duas perspectivas de escrita da história (tanto da forma quanto doobjeto - fato/acontecimento): uma em que os fatos devem, simplesmenll',ser nanados e outra em que eles podem ser apresentados em forma deuma nanativa crítica. Na última perspectiva enquadramos apenas um alltor, que diz:
·u NETO (198] t. op. cit., pA5.." FASSINI, SILVA. Op.cit., p. 5.." NASCIMENTO. Depoimenlo: inslnllncnlo de pesqnisa biobibliogr:ífica.
66lronita P. Machado
"Não basta recolher fragmentos da história e arquivá-los. O
mais importante é proceder a análise estabelecendo as possíveis e devidas relações. Com essa sábia intervenção, o arquivo morto da história tem vida eterna. "96
Recapitulando, podemos observar que, nas concepções de história,reafirma-se o princípio da indissociabilidade entre contexto social vivido/capital cultural simbólico e as motivações para escrever (traduzindo-se nasarticulações entre poder e cultura), que se materializa na busca de elementos de identificação e diferenciação, guiada pela consciência histórica deelite cultural, visando à construção de identidade de coletividades e lugares pela esclita da história.
A elaboração desse quadro sobre a natureza coletiva da criação(livros) permite a inferência sobre a identificação do autor e seu lugar social.Trata-se de uma elite cultural por ser portadora de capital simbólico, queintegra historiadores diletantes - "não somos historiadores" -, os quaisbuscam registrar/narrar os fatos passados, usando para tal formas e ferra
mentas - procedimentos - definidos pelas suas "formações". Tais "açõessão impelidas pela busca", consciente ou não, "dos elementos constitutivos
de uma identidade coletiva que se articula dialeticamente com o campoabrangente das relações sociais."97 Essa premissa está subjacente quando anunciam que "numa linguagem acessível procuramos deixar a todos
um pouco do que foi a vida de nossos antepassados e contribuição paraidentificação da região."
Montado o quadro sobre a natureza coletiva da criação (livros), ouseja, da cultura historiográfica do centro-norte do Planalto rio-grandense
publicada na década de 1980 a 1995, lançamos o desafio para o passo seguinte: o estudo historiográfico do símbolo identitário dessa elite cultural por meio daquilo que denominamos de criação.
"" BENINCÁ. Depoimento: instrumento de pesquisa biobibliográfica ..IANOTTI. Op.cit.. p. 119.
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