3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro
INVENTARIO PRELIMINAR DA PAISAGEM DA GLEBA CAÇADORES
NO NORTE DO PARANÁ
PACHONI, MARIA EMANUELLA; YAMAKI, HUMBERTO T.
Universidade Estadual de Londrina.
Laboratório de Paisagem. [email protected]
Universidade Estadual de Londrina.
Laboratório de Paisagem. [email protected]
RESUMO A Gleba Caçadores faz parte das terras colonizadas pela Companhia de Terras Norte do Paraná, na região Norte do Estado. Obedecendo à estratégia da Companhia de Colonização, imigrantes italianos foram assentados na bacia do ribeirão Caçadores. Considerando os componentes da paisagem: relevo, ribeirões, vegetação, caminhos, edificações, parcelamento do solo, o estudo visa identificar os elementos de identificação do caráter da paisagem que foi moldada pelos imigrantes italianos. Sabe-se que muitos imigrantes pioneiros e seus descendentes permanecem no local, permitindo identificar e analisar o patrimônio material e imaterial do grupo. Faz parte de um projeto maior onde se pretende fazer uma analise comparativa do sistema de ocupação do lote, organização da comunidade e toponímia que definiram a morfologia e significado da paisagem norte paranaense.
Palavras-chave: Paisagem etnográfica; Gleba Caçadores; Italianos.
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Introdução
A história da colonização das terras do norte do Estado do Paraná se inicia com o interesse
dos ingleses em uma “cooperação” comercial com o Brasil, no século XIX. Em 1924,
formou-se a Missão inglesa intitulada Montagu que tinha como um dos objetivos, a
colonização do Norte do Paraná. Chefiada por Simon Joseph Fraser, o 16º Lord Lovat,
prosseguiu à colonização:
[...] contratando, em 1927(sic) , com o Governo do Estado a aquisição de cerca de 500 mil alqueires, das melhores terras roxas, situadas entre os rios Paranapanema, Tibagi e Ivaí. Fundada a Paraná Plantations Ltd, em consórcio com a Companhia de Terras Norte do Paraná e com a Companhia Ferroviária São Paulo – Paraná, executou o plano de colonização das terras obtidas do governo paranaense. (BALHANA et ali, 1969, p. 215).
A Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) organizou a colonização da área dividindo-a
em patrimônios, glebas-patrimônio e glebas. Após demarcação, abertura de picadas e
estradas, eram colocadas à venda.
Fig. 01 - Sistema de parcelamento de terras adotado pela CTNP, 1975 Fonte: SANTOS, 1977 citado em YAMAKI, 2006.
O sistema de divisão de lotes rurais utilizado pela CTNP foi bem sucedido, possibilitando a
instalação de colonos. Os lotes eram relativamente pequenos, não ultrapassando os 15
alqueires. Tornava o preço acessível a pequenos proprietários e facilitava sua aquisição.
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A ocupação das terras da CTNP se deu até meados dos anos 1950. O sistema de divisão de
lotes, era um modelo comum a outras companhias privadas de colonização, responsáveis
pelo povoamento da região. Os colonizadores da região eram em sua maioria de procedência
paulista, mineira e nordestina. Havia também os colonos estrangeiros de variada origem e
procedência.
Vários autores, tais como Balhana (1964), Padis (1981), Linhares (1985), Nogueira (2004) e
Yamaki (2006), destacam a presença do imigrante italiano como importante grupo étnico
responsável pelo povoamento da região. “Constava que por volta de 1945, já existiam, na
região, pessoas de trinta nacionalidades diferentes sendo 12,5 por cento italianos, 7 por cento
japoneses, 6 por cento alemães, além de 42 por cento entre paulistas e mineiros”.
(PADIS,1981.p 93).
O objetivo do trabalho é identificar possíveis traços culturais reconhecíveis na paisagem da
Gleba Caçadores, considerando a forte presença da etnia italiana. A aplicação de uma
metodologia específica com a finalidade de identificar, inventariar e gerar projetos para o
reconhecimento e a preservação do patrimônio cultural é de grande importância para regiões
com colonização relativamente recente, como é o caso do norte do Paraná.
Estudos de Paisagem Cultural
Para Hardesty (2000), as práticas e as crenças dos habitantes, que permeiam as paisagens
com significados, fazem parte do que chamamos de paisagem cultural.
Meinig (1979), por sua vez, aponta a paisagem como parte dos ideais e memórias que une as
pessoas. São fruto não somente de diferentes histórias e tradições mas, produto do contínuo
processo que envolve transformações de várias ordens, no mundo natural. O estudo da
paisagem cultural abrange as práticas de uso da terra, a adaptação ao relevo e outros
recursos do meio natural e a organização espacial dos componentes da paisagem tais como
caminhos, edificações, vegetação entre outros recursos.
Paisagens construídas por grupos portadores de culturas específicas são aqui denominadas
paisagens etnográficas. Estas podem ser entendidas como o reflexo do conjunto de
significados, ideologias, crenças, valores e visões de mundo divididas por um grupo de
pessoas. Em outras palavras, as paisagens etnográficas refletem um modo especial de
transformar a natureza em cultura. (HARDESTY, 2000, p. 169).
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Métodos de Identificação e Leitura da Paisagem Cultural
Para a leitura das características ou marcas culturais da paisagem, o primeiro passo é a
identificação de componentes significativos e características específicas nas múltiplas
camadas de atividade temporal e cultural que compõem a paisagem. Esses componentes
podem ser materiais e imateriais. Entre essas características e componentes, estão fatores
decisivos na escolha de um bom lugar para desenvolver convenientemente seu modo de vida.
“Lugares que contenham recursos para subsistência fazem parte dessas características. A
importâncias das plantas, animais outras atividades culturalmente significativas, não pode ser
subestimada”. (HARDESTY, 2000, p.174). O autor alerta sobre a necessidade de preservação
das paisagens etnográficas em vias de extinção.
A integridade e a permanência das características únicas da paisagem, embora muitas vezes
sensíveis aos processos de transformação da sociedade, são importantes para a sua
identificação preliminar. A organização dos lotes de acordo com tradições e possibilidades e a
decorrente modelagem do espaço criam e incorporam elementos na paisagem com o passar
do tempo. Edificações, caminhos e vegetação podem ser elementos reconhecíveis.
O reconhecimento de paisagens significativas contribui para a sua manutenção e
preservação. O manual Landscape Character Assessment (2002), produzido pelos órgãos de
planejamento da Inglaterra e Escócia, demonstra a metodologia desenvolvida com este foco,
que está sendo utilizada neste trabalho.
A metodologia proposta é dividida em etapas. Como produto final, podem ser definidas
propostas para a valorização da paisagem, informações para o planejamento de projetos
envolvendo a paisagem, seu reconhecimento espacial e estratégias para sua exploração e
preservação.
Apontamentos para Leitura e Reconhecimento de Paisagens
Associações de Italianos
O estudo etnográfico busca um aprofundamento no estudo das características sociais
distintas de grupos culturalmente definidos. É importante, entre outros aspectos, para a
afirmação das singularidades culturais dos imigrantes e de seus descendentes em um espaço
pluriétnico, assim como a área de estudo.
Historicamente a Itália sofreu com o grande fluxo emigratório, permitindo-se a possibilidade de
replicar seus hábitos em outros territórios. Este fato é ressaltado sobretudo na manutenção
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dos costumes entre os seus descendentes, nas suas mais variadas expressões: na fala, nos
hábitos alimentares, nas tradições festivas, no modo de se organizar, enfim, em vários
aspectos que nos fornecem subsídio para compreender os seus traços.
Alguns fatores são determinantes para a definição das associações étnicas de italianos que
se estabeleceram no sul do Brasil: a área de beneficência e ajuda mútua; a área educacional;
a área esportiva e recreativa e a área cultural. (COLOGNESE, 2004)
Moradia e Modo de Vida do Imigrante Italiano
Sobre a organização doméstica na imigração italiana, um estudo mais aprofundado foi
realizado por Rovílio Costa, nas colônias do Rio Grande do Sul.
A preocupação inicial do imigrante italiano era: a) Escolha do local de residência; b) Estudo dos veios de água para serviço doméstico, para a criação de animais e para a lavagem de roupas; c) Construção de Casa com porão; d) Organização de estábulos, chiqueiros e paióis; e) Determinação de área para horta, lavoura, pomar; f) Ampliação das roças e organização do parreiral. (COSTA, 1976, p.16)
O cultivo e colheita de trigo, milho e uva, em geral, nas colônias gaúchas são até hoje
processos muito significativos para os descendentes de italianos. Já no Paraná e nos estados
do sudeste brasileiro, a cultura do café é predominante.
A criação de animais é uma tarefa comum nas colônias. Galinheiros estão presentes em
todas as propriedades, além de suínos e bovinos de corte. “As residências rurais geralmente
eram cercadas, com arame farpado ou ripas de madeira (stecato). Nas imediações da casa
rural estava o galinheiro [...] também nas imediações da casa está o chiqueiro e a estrebaria
para completar a cena”. (COSTA, 1976, p. 160). Os compartimentos construídos para animais
como estábulos e paióis são sempre isolados da casa, assim como a latrina de tábuas.
Um estudo da arquitetura colonial italiana nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa
Catarina e do Paraná, indicou grande diversidade no uso de materiais e certa
heterogeneidade nos aspectos estético formais e construtivos, revelando várias
características importantes e inexistência de normas pré estabelecidas.
A investigação dessas edificações, foi possível principalmente pelo fato de terem sido
preservadas, seja por cuidados das famílias ou por leis e regulamentos de patrimônio histórico
vigentes na região.
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A casa do imigrante recém instalado possuía um aspecto rústico. A habitação rural se valia
dos recursos e das condições oferecidas pelo local de instalação para a sua construção.
Mais geralmente, a casa, construída em terreno inclinado, apresenta um pavimento inferior parcialmente escavado, o porão, usado como cantina (fabrico e conservação de vinho) e depósito. Via de regra no porão não há divisões internas, mas alguns pilares, decorrentes do uso de tesoura grega e de falta de segurança no uso das estruturas. O segundo piso é a moradia propriamente dita. Os vários dormitórios situam-se aos lados da sala de visitas, usada em poucas ocasiões e situada no centro anterior da casa [...] A cozinha quase sempre é uma construção isolada. Em alguns casos pertence ao conjunto da casa [...] A cozinha funcionava como sala de estar. ( COSTA, 1976, p.17-18)
Era utilizado também, um forno para assar pães, que ficava na parte externa da casa,
constituído basicamente de pedras ou de tijolos e tinha forma de abóbada, com uma
cobertura.
Formalmente, as casas, quase sempre, obedeciam a forma retangular de linhas severas,
onde buscava-se manter a harmonia, por meio de construção simétrica. As aberturas são
locadas cuidadosamente para que haja equilíbrio entre cheios e vazios. A cobertura segue
padrão de quatro águas, mas também de duas, com pequenos beirais.
Nas casas coloniais, os materiais e elementos construtivos variam muito, podendo as casas
ser de madeira, de tijolos, de pedra ou mistas. Algumas casas possuíam paredes erguidas
com tábuas que eram rachadas em cunha, serradas artesanalmente ou, em período mais
tardio, industrializadas. O madeiramento pode ser simples ou duplo, com mata juntas. Como a
madeira era material escasso na Itália, os italianos demoraram a possuir maestria no trabalho
com o material.
Em alguns casos, as casas de tijolos eram fabricadas com adobe (bloco de terra crua), as
vezes com tijolos cozidos, de boa qualidade, reconhecível por sua textura. Há também
paredes que utilizam tijolos industrializados, construídas mais recentemente.
Segundo Costa (1976), nas colônias, as casas de pedra eram frequentes, e encontra-se
casas com paredes de pedras irregulares naturais, outras com pedras lascadas ou pedras
talhadas (as quais oferecem mais regularidade em sua forma). Estas eram assentadas com
junta seca ou com barro, e, mais tarde, com argamassa de cal.
Os imigrantes construtores no Rio Grande do Sul pareciam ter pouca preocupação com a
insolação da casa, assim, não havia uma orientação preferencial e, na maioria dos casos, a
insolação era deficiente. Há apontamentos de que as casas eram muito grandes pois cada
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família possuía em torno de 8 filhos. Em alguns casos, de colônias afastadas, não havia luz
elétrica e nem mesmo instalações hidráulicas nas edificações.
A simetria é um aspecto marcante, tanto em relação às aberturas quanto à planta e a
distribuição de compartimentos. Na fachada principalmente, onde porta está centralizada, o
número e espaçamento de janelas para cada lado é idêntico. A planta das casas é geralmente
composta de forma a manter simetrias. (BOLETIM INFORMATIVO DA CASA ROMARIO
MARTINS, 1977).
As Capelas nas Colônias Italianas
O imigrante italiano tem na fé um dos seus traços associativos étnicos mais fortes.
“Semelhante ao que ocorria na Itália, os imigrantes se associaram para construir capelas,
campanários, cemitérios e capitéis, mesmo antes de construir escolas. A religião era, para
eles, mais necessária e importante que a escola”. (COSTA, 1976, p. 92)
No Rio Grande do Sul, essas edificações constituem também um traço distintivo na paisagem.
As “linhas” de capelas são muito importantes no estudo da paisagem cultural, servindo de
marco de localização uma vez que a organização das edificações de dá de forma seletiva e
projetada, pontuando a área de forma linear.
Na edificação religiosa do imigrante italiano prevalece a tentativa de imitar os estilos
europeus, principalmente o estilo gótico. As capelas coloniais, “mais espontâneas e sinceras
que as matrizes [...] também sucumbiram à imitação dos estilos. Porém muitas vezes a
disciplina da cópia e da imitação é subjugada pela criatividade”. (COSTA, 1976, p. 99)
Os campanários, onde são alojados os sinos, na forma de construir do italiano, são, quase
sempre, construídos separadamente da capela.
A escassez de recursos econômicos e a distância de centros comerciais impulsionou os
imigrantes em certas práticas artesanais na busca de suprir necessidades do seu cotidiano.
“Casas, galpões, igrejas e capitéis surgiam nos mais diversos estilos, atendendo a criatividade
de engenheiros e arquitetos formados na escola da experiência”. (COSTA, 1976, p. 174)
Os cemitérios antigos podem portar muita simbologia para o imigrante, que, quase sempre
utiliza uma cruz nos sepulcros. Hoje a tipologia dos túmulos, após o surgimento da alvenaria é
em geral um prisma simples, com uma cruz ou capelinha na cabeceira. (COSTA, 1976).
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A Paisagem Etnográfica da Gleba Caçadores – Estudo de caso
Alguns aspectos chave da colonização italiana no norte do Paraná podem ser caracterizados
em primeiro momento, para a identificação da paisagem etnográfica, de acordo com estudos
apresentados previamente, de acordo com outras colônias italianas no sul do Brasil. A
metodologia a ser seguida sugere a exploração qualitativa da área, pontuando elementos
visíveis da paisagem, em diversas escalas.
O grande número de italianos que se instalaram na região norte do Paraná gerou o interesse
inicial deste estudo. Um livro produzido por órgãos governamentais em conjunto com a
Sociedade Ítalo Brasileira de Cambé - PR, no ano de 2003, trata das famílias italianas que
chegaram ao Município na década de 30. Neste livro foram elencadas mais de 80 famílias,
onde fotos e depoimentos descrevem sua origem e trajetória em território brasileiro.
A partir de análise em livros de venda de terras da CTNP, identificou-se que a maioria dessas
famílias se fixou nas terras da Gleba Caçadores, hoje, zona rural de Cambé- PR.
A área faz parte do contexto da colonização das terras da CTNP. É delimitada lateralmente
por dois espigões no entorno do vale do Ribeirão Caçadores. À leste está a Rodovia Celso
Garcia Cid e a oeste a Estrada da Prata. O núcleo urbano ao sul da Gleba Caçadores é a
Gleba Patrimonio Nova Dantzig, atual cidade de Cambé – PR.
Foram elencadas as famílias que adquiriram terras na referida gleba, de acordo com as
vendas anotadas nos livros da CTNP (1930 – 1943). Verificou-se que os italianos e
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descendentes compreendem o mais numeroso grupo de compradores de lotes da
gleba, computando 85 dos 152 lotes vendidos, entre brasileiros e imigrantes de outras etnias.
Tab. 01 -Tabela de italianos e descendentes proprietários de lotes na gleba Caçadores por ordem de lote (1930-43).
FONTE: CTNP, Org.: Maria Emanuella Panchoni
Posteriormente, o mapeamento da instalação destas famílias italianas foi realizado,
demonstrando algumas aglomerações em áreas específicos da gleba.
Data da Venda Lote Comprador
Área (Alq.)
03/07/31 3 A ANTONIO VANSAN 20
03/07/31 3 B JOSÉ BERTAN 12,27
03/07/31 4 ANGELO E PEDRO DI GIULIO 12,5
03/07/31 4 A ANTONIO ROSADA 12,5
25/05/30 5 ZELINDO ZANATTA 15
27/05/31 6 ARTHUR FERRARINI 10
14/06/31 6 A AGOSTINHO FERRARINI 10
14/06/31 6 B CHRISTIANO MALLER 7
24/08/31 7 LUCAS CANÇÃO 30
30/12/31 8 ANGELO ORSE 30
23/05/32 12 JOÃO FREGONESE E OUTROS 50
08/08/34 16 JOSÉ QUAGLIO 30
13/09/34 17 JOÃO CASTELATTO 25
13/09/34 18 JOÃO CASTELATTO -
13/09/34 19 JOÃO CASTELATTO -
13/09/34 20 JOÃO CASTELATTO -
13/09/34 21 LUIZ GRANDIN 16,3
13/09/34 22 LUIZ GRANDIN -
13/09/34 23 LUIZ GRANDIN -
13/09/34 24 LUIZ GRANDIN -
13/09/34 25 JOÃO BALDIN 11
13/09/34 26 JOÃO BALDIN -
13/09/34 27 JOÃO BALDIN -
29/04/33 29 SYLVESTRE EGYDIO BRINHOLI E OUTROS 6
29/04/33 30 HENRIQUE O. BRINHOLI E OUTROS 12
29/04/33 31 CORNÉLIO BRINHOLI E OUTROS 12
09/08/34 38 JOSÉ COZELLATO 5
09/08/34 39 EMILIO COZELATTO 5
09/08/34 40 EMILIO COZELATTO 5
09/08/34 41 ANGELO COZELLATO 40,6
09/08/34 42 ANGELO COZELLATO -
09/08/34 43 ANGELO COZELLATO -
09/08/34 44 ANGELO COZELLATO -
09/08/34 45 ANGELO COZELLATO -
09/08/34 46 ANGELO COZELLATO -
09/08/34 47 ANGELO COZELLATO -
28/07/34 48 C. E G. DELFINI 30
15/10/34 48 A ERNESTO FANTINI 25
08/08/34 50 JOSÉ GASPARINI 5
22/04/35 58 ANGELO BORSATTO 8
28/07/33 59 ANTONIO BRUMATTI 10
26/04/34 60 DAVID MARANA 30
06/04/34 61 JOSÉ PARIS 40
24/02/38 68 B CIRILLO ITAPASSOLI 5
Data da Venda Lote Comprador
Área (Alq.)
17/05/33 85 ATTILIO CODATO 60
17/05/33 86 ATTILIO CODATO -
14/08/34 89 LIZOTTO NAZARENO 35
27/11/34 89 A JOÃO CASSANI 15
27/11/34 89 B JOSÉ AMADIO 16
27/11/34 90 ARTHUR PASSONI 10
22/11/34 91 PEDRO CAVASSANE 10
07/11/34 91 A PRIMO ROSIGNOLI 10
06/04/34 96 MARIA MALASSIS 30
17/03/36 99 PEDRO BREGANO 5
17/03/36 100 MIGUEL MARANA 8
07/01/32 116 ANTONIO ALEXANDINO 6
24/05/34 139 RENOR E RUBENS GIANNESCHI 30
14/08/34 140 LIZOTTO NAZARENO 35
24/11/33 141 SEGUNDO BOSCHI E OUTRO 15
23/11/33 142 ANTONIO VICENTIN 15
01/08/34 142 A SANTO BATISTÃO 10
01/10/33 143 JOÃO ESTEVO PIZAIA 10
02/10/33 144 PASCHOAL BAPTISTA 20
26/09/33 145 JOSÉ TOLOI 15
23/01/34 150 CAETANO CITTA 30
23/08/34 151 CARLOS PORNINI 2
23/01/34 151 A CARLOS PORNINI 8
09/11/35 151 B BRUNO DALLAGO 19,45
11/08/33 152 ADDONE MARTON 10
03/07/36 152 CARLOS PORNINI 2,35
03/07/36 152 A BRUNO DALLAGO 7,65
17/05/33 153 ATTILIO CODATO 60
16/05/33 154 SANTA MANETTIS 20
11/11/32 156 FRANCISCO MARANGONI 14
17/05/33 157 GIACOMO ROSSINI 18
17/05/33 158 CARLOS CODATO 60
17/05/33 159 CARLOS CODATO -
03/01/32 160 DR. AMEDEO BOGGIO MERLO 40
28/07/34 164 B C. E G. DELFINI 30
11/10/31 165 JOÃO ROSSI 15
06/10/31 167 ANTONIO ALEXANDINO 20
26/11/32 169 PAULO E PEDRO DALTO 30
06/11/33 171 VICENTE BOSCOLO 10
04/05/33 174 LOURENÇO BORTOLLOTTO 10
24/08/31 ? GAUDENCIO G. DE CASTRO 50
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Fig. 02 - Mapa de Cambé - Famílias italianas instaladas nos limites da gleba Caçadores. Fonte: Pefeitura Municipal de Cambé Org.: Maria Emanuella Panchoni
Do contexto com o qual se deparavam os italianos que chegavam à região nos anos 1930
fazia parte a floresta, a ser derrubada. Foi a produção cafeeira em expansão, o principal fator
de atração de imigrantes interessados em investir seu dinheiro visando o cultivo da lavoura.
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Nos `sítios’ o interesse pelo café existiu em função do antigo colono, transformado em proprietário, ser o lavrador junto com a sua família, da sua própria terra. Quase não tendo dispêndio de mão de obra, morando no lote, realizando ele mesmo a derrubada da mata e ainda vendendo a madeira de lei encontrada, alimentando-se com o produto do seu próprio esforço e trabalho, vivendo em casas que eram verdadeiras choupanas de pau a pique, recobertas de tabuinhas de palmito ou folas de palmeira, conseguiu capitalizar para pagar sua terra. E não eram apenas os antigos colonos que tinham esse procedimento. Os imigrantes estrangeiros eram numerosos e viviam de modo semelhante. (CANCIAN,1981, p. 76)
Hoje, na área de estudo, encontram-se esparsas as lavouras de café, predominando
sazonalmente a soja ou o milho e o trigo.
Visando identificar os elementos de definição do caráter da paisagem que foi moldada pelos
imigrantes italianos, considerou-se fazer uma análise preliminar o relevo, ribeirões,
vegetação, caminhos, edificações, parcelamento do solo, como descrito na metodologia
adotada.
Fig. 03 -Vista Parcial da Gleba Caçadores. Autor: Maria Emanuella Panchoni, 2014
Na exploração foi constatado uma aglomeração de italianos e descendentes. Instalaram-se
em lotes localizados no entorno do quilometro nove da Estrada da Prata. Nesta localização foi
possível encontrar edificações importantes, construídas nos anos 1940. Trata-se de uma
capela e uma escola, ambas construídas pela comunidade italiana, com doação do terreno
por parte do proprietário.
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Há também no entorno das edificações, que ficam de frente para a estrada, um bar, um
terreiro, parreirais e árvores frutíferas, compondo um espaço que serve de amenidade e lugar
de encontro da comunidade. Neste mesmo espaço, foi possível entrevistar os fiéis que
frequentam a capela, e assim, constatar que muitas famílias residem na Gleba Barra Grande,
localizada a oeste da Gleba Caçadores, e muitas, são de origem italiana.
A capela do quilômetro nove, como é conhecida, foi construída com madeira retirada do local.
Possui vários detalhes construtivos em seu interior e segue linhas retas e simétricas em todas
as elevações, encontra-se bem preservada. O cruzeiro fica localizado na parte anterior
esquerda da igreja e do lado direito, uma estátua instalada recentemente e um estandarte.
De acordo com o Sr. Oswaldo de Santa, pertencente à família responsável pela doação do
lote onde foi construída a escola e um dos mantenedores da igreja, alguns anexos da
construção foram demolidos. Havia um coreto para leilão de víveres e também um galpão
onde eram realizadas festas na parte posterior da igreja.
Nas observações feitas em visitas de campo às propriedades rurais, nos lotes 171 e 154, foi
encontrada configuração espacial do lote peculiar às propriedades descritas nos relatos das
colônias de italianos no Rio Grande do Sul. A lavoura fica localizada na parte mais alta do
relevo e na parte mais baixa, a residência da família, cercadas pelas casas de colonos, tulhas,
paióis, pomar e o terreiro de café.
Em um dos lotes, as edificações estão bem preservadas, contendo elementos originais. As
peças continuam sendo utilizadas pela família, inclusive o anexo à residência. Um barracão,
com o forno de pão, poço, fogão de lenha e mesa de refeições. Um outro lote vizinho, possui a
mesma configuração do caso descrito anteriormente, porém a casa principal foi demolida.
Outro ponto interessante é que o terreiro de café desativado está sendo desmontado. Os
tijolos foram vendidos para a decoração de uma residência em Londrina - PR.
Diante dos depoimentos de antigos moradores da Gleba Caçadores, verificou-se que havia na
alimentação das famílias o frequente consumo de carne suína e seus derivados. A plantação
de milho, trigo, arroz e café eram predominantes. O plantio e a colheita eram realizados
anualmente, parte da produção era estocada para consumo da família, em grandes caixas de
feitas de peroba, nas tulhas. O consumo da carne e de ovos de aves também era um
importante fator na cultura alimentar. As caçadas no início da colonização eram frequentes na
região, rica em catetos, pacas e veados e outras espécies selvagens que serviam de alimento.
A alimentação dos imigrantes incluía ainda uma variedade de frutas, verduras e legumes
produzidos na própria propriedade. Uma das propriedades visitadas ostenta imensas
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jabuticabeiras, abacateiros e mangueiras no entorno da casa sede. Casa e pomar definem
características próprias na paisagem, quando vistas em conjunto.
Fig. 04 - Casa com Pomar Anexo na Gleba Caçadores Autor: Maria Emanuella Panchoni, 2014
Os caminhos entre-lotes facilitavam o transporte e a comunicação entre as famílias. Havia em
uma das propriedades um monjolo d’agua, que era bombeada a partir do Ribeirão Caçadores.
O equipamento era utilizado para moer milho e fabricar o fubá. Otimizar os recursos naturais,
criar espaços seguros e confortáveis era ideal comum a todos os imigrantes.
Considerações finais
Através do estudo da Gleba Caçadores podemos concluir preliminarmente que, existe
similaridade entre as colônias de imigrantes na serra gaúcha e no Norte do Paraná.
Manifestam-se fortemente na localização e formação de capelas e na organização da
comunidade.
Além disso, podemos apreender nos usos do lote, nos arranjos em volta da moradia, do
pomar e lavoura de subsistência, referencias possíveis à cultura de origem.
Os métodos de leitura da paisagem etnográfica permitem identificar os elementos de
caracterização, favorecendo a reconhecibilidade enquanto conjunto.
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Os estudos podem ser importantes para a manutenção do caráter da paisagem etnográfica da
gleba Caçadores – PR.
Agradecimentos
Ao CNPq pelo apoio ao projeto sobre paisagem norte paranaense e ao Laboratório de
Paisagem UEL.
À Prefeitura Municipal de Cambé pelo apoio e fornecimento de informações.
À Liberaci Pascueto, Marcelo Ciconini, Oswaldo de Santa, Luiz Ribeiro Farias pelo auxilio na
realização deste trabalho.
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