INTRODUÇÃO DO CONCEITO DE REDES ELÉTRICAS
INTELIGENTES NO CURRÍCULO DO ENGENHEIRO
ELETRICISTA BRASILEIRO
Paulo Márcio da Silveira – [email protected]
Universidade Federal de Itajubá, Instituto de Sistemas Elétricos e Energia
Av. BPS, 1303
37500901– Itajubá – MG
Paulo Fernando Ribeiro – [email protected]
Technische Universiteit Eindhoven, Electrical Energy Systems
Den Dolech 2, 5612 AZ
5600 MB Eindhoven – Holanda
Resumo: Este artigo mostra a importância de se introduzir no currículum do engenheiro
eletricista os conceitos fundamentais sobre smart grid ou redes elétricas inteligentes. Este
assunto tem sido tema de debates mundiais, em seus diversos aspectos, incluindo a formação
acadêmica. Além disso, as redes elétricas inteligentes vêm se tornando uma realidade em
muitos países desenvolvidos (EUA, Japão, Alemanha) com a implantação de amplos projetos
pilotos, bem como a implantação de ações de melhorias em suas redes de distribuição. No
Brasil já existe uma grande preocupação com o tema, bem como ações por parte das
agências reguladoras e fiscalizadoras (ANEEL, ONS) e empresas do setor elétrico para
avançarem na questão. O Instituto de Sistemas Elétricos e Energia, uma das Unidades
Acadêmicas da Universidade Federal de Itajubá, vem somando esforços para focar o assunto
em seus diversos trabalhos no campo da pesquisa e da formação acadêmica, contando com o
apoio de seus grupos de trabalho e dos cursos já existentes na Universidade.
Palavras-chave: Formação acadêmica, Redes elétricas, Smart grid, Redes elétricas do
futuro.
1. INTRODUÇÃO
As redes elétricas inteligentes do futuro vão necessitar de engenheiros com uma educação
e treinamento muito mais abrangente e conhecimento de uma maior diversidade de
disciplinas. As mudanças estruturais e tecnológicas já implementadas irão demandar uma
educação acadêmica com grande ênfase nos conceitos fundamentais da operação de sistemas
elétricos, mas também que inclua tópicos tais como: comunicações, processamento de sinais,
fontes alternativas, mercado de energia, outros.
Este assunto tem sido tema de debates mundiais, em seus diversos aspectos, incluindo a
formação acadêmica. Além disso, as redes elétricas inteligentes vêm se tornando uma
realidade em muitos países desenvolvidos (EUA, Japão, Alemanha) com a implantação de
amplos projetos pilotos, bem como ações de melhorias em suas redes de distribuição (IEEE,
2012). No Brasil já existe uma grande preocupação com as questões relacionadas ao tema, o
que inclui ações por parte das agências reguladoras e fiscalizadoras, a exemplo da ANEEL
que abre caminho para a substituição de 67 milhões de medidores convencionais de energia
elétrica por medidores inteligentes ou smart meters (SETTI, 2012).
2. A QUESTÃO ENERGÉTICA
No mundo inteiro universidades, centros de pesquisa, empresas, ONGs, governo e
sociedade tem se preocupado com a questão energética. A área de energia é muito ampla, pois
envolve diversos aspectos que inclui o saber em engenharia elétrica, mecânica, ambiental,
transporte, gás, petróleo e tantas outras áreas que se correlacionam com as formas primárias
de energia.
Especificamente sobre a energia elétrica, a grande maioria das fontes primárias no mundo
são fontes não renováveis como o petróleo, o gás, o carvão e o urânio, conforme “Figura 1”.
Os valores percentuais dizem respeito ao consumo nos Estados Unidos (ELECTRIC POWER
MONTLY, 2012).
Figura 1 – Fontes de Energia no mundo
(Fonte: Electric Power Monthly)
Principalmente o carvão e o gás natural são grandes emissores de gases causadores do
efeito estufa, durante o processo de geração de energia elétrica. Atualmente as termoelétricas
a carvão respondem por mais de 40% da produção mundial de energia e as movidas a gás
ocupam o segundo lugar na lista, com cerca de 20%. Entre os dois, o carvão é mais barato,
porém polui mais. Além de emitir mais gás carbônico, responsável pelo aquecimento global,
causa poluição local, emitindo substâncias como enxofre e óxido nitroso, que afetam a
respiração. Hoje em dia, há filtros capazes de reduzir esses efeitos, mas eles encarecem a
construção das usinas.
A “Figura 2” apresenta a capacidade de geração de energia elétrica instalada no mundo
em 2008 (EIA, 2012). Observa-se a enorme porcentagem das termoelétricas, cujas fontes
primárias podem ser o carvão (mineral ou vegetal) o gás natural e até mesmo o óleo diesel.
Constata-se também 8% de energia nuclear, com a utilização do urânio ou outro componente
radioativo como fonte primária. Embora a emissão de gases poluidores seja praticamente
inexistente, a produção de rejeitos radioativos é um problema, além dos riscos de acidentes,
cujos eventos históricos recentes vêm fazendo com que países desenvolvidos repensem
totalmente suas políticas de geração de energia elétrica com fonte nuclear. É o caso do Japão e
da Alemanha que decidiram abolir a energia nuclear de suas matrizes energéticas.
Figura 2 – Potência Instalada no mundo (GW) e as formas de geração da energia elétrica
(Fonte: EIA, 2012)
Especificamente no Brasil, a grande maioria da geração de energia elétrica vem de fontes
renováveis, pois não se pode esquecer que o Brasil tem grande potencial hidráulico, enquanto
que o uso das fontes alternativas (também renováveis) ainda representa um percentual
pequeno. A “Figura 3” ilustra a questão no Brasil, dados 2011 (ANEEL, 2012).
Figura 3 – Potência Instalada no Brasil (MW) e as fontes primárias de energia (Fonte: ANEEL, 2012)
Cabe mencionar que o mundo chama de fontes renováveis o vento, o sol, as marés, o
biocombustível, outros. Entretanto, a água enquanto em abundância, e se conservada, também
é fonte renovável, razão pela qual as fontes: eólica, solar, biomassa, maré, geotérmica, outras,
são normalmente denominadas de fontes alternativas de geração de energia elétrica, enquanto
em outros países, cuja geração hidroelétrica é pequena, são todas chamadas de fontes
renováveis.
Nos últimos anos o mundo inteiro vive a busca por geração de energia elétrica mais
limpa, como a utilização principalmente do vento e do sol. A “Figura 4” dá uma ideia destas
fontes primárias e sua tendência futura no mundo, de acordo com o German Advisory Council
on Global Change (WBGU, 2012).
Figura 4 – Fonte primária de energia desejada como ideal até o próximo século.
(Fonte: WBGU, 2012)
3. O USO INTELIGENTE DAS COISAS OU AS COISAS INTELIGENTES
Além de toda questão energética, os cientistas e pesquisadores de universidades, centros
de pesquisa e empresas estão preocupados em desenvolver tecnologias mais inteligentes nas
diversas áreas de impacto para a sociedade. Alguns poucos exemplos podem ser citados: (i)
na medicina as imensas possibilidades do uso da nanotecnologia, consistindo no uso de
nanopartículas, nanorobôs e outros elementos em escala nanométrica para curar, diagnosticar
ou prevenir doenças; (ii) na área de transporte, o desenvolvimento Intelligent Transport
Systems (ITS), que consiste na aplicação de tecnologias inovadoras para coletar mais e
melhores dados, analisá-los de forma mais rápida e inteligente, e conectá-los através de redes
de transporte mais eficientes para ações e decisões mais ágeis e eficazes. Além do projeto de
carros, aviões, trens, navios, etc., mais seguros, usando tecnologias de sensores de condições
externas, GPS, novos materiais, etc.; (iii) na comunicação e na computação ocorre a utilização
de tecnologia global usando conceitos de transferência de dados: voz, imagem e texto cada
vez mais eficientes, dando lugar aos Smart Gadgets – tablets, smartphones, ultrabooks,
outros; (iv) até mesmo na moda já se fala em tecidos inteligentes que mudam de cor ou
aspectos, dependendo das horas do dia ou das emoções de quem as veste; (v) finalmente não
se deve omitir a ideia dos smart appliances e a internet das coisas.
Especificamente na área de energia elétrica (geração, transmissão, distribuição e
consumo) o mundo todo iniciou uma corrida em busca das chamadas Smart Grids ou redes
elétricas inteligentes.
4. SMART GRIDS
O conceito de redes elétricas inteligentes combina questões de tecnologia, soluções para o
cliente final/ consumidor e aborda uma série de políticas e assuntos de regulamentação.
Embora ainda não exista uma simples e clara definição do assunto, várias tentativas são
encontradas na literatura. Uma destas definições (EKANAYAKE et al, 2012) diz o seguinte:
“A smart grid uses sensing, embedded processing and digital communications to enable the
electricity grid to be observable (able to be measured and visualized), controllable (able to
manipulated and optimized), automated (able to adapt and self-heal), fully integrated (fully
interoperable with existing systems and with the capacity to incorporate a diverse set of
energy sources)”.
Mas antes de tudo uma rede elétrica inteligente pode ser encarada como uma visão. E
para ser completa, tal visão deve ser expressa em várias perspectivas: suas tecnologias, suas
características e seus valores.
A ideia básica por traz de uma smart grid é que, principalmente, nas redes de distribuição
de energia elétrica possam existir: (i) maior eficiência energética; (ii) menores perdas técnicas
e não-técnicas; (iv) maior confiabilidade; (v) maior segurança; (vi) maior interação do próprio
consumidor; (vii) além de ser ambientalmente amigável.
Uma rede elétrica inteligente deve envolver necessariamente um sistema de comunicação
de dados associado com todos os aspectos da geração, do transporte (transmissão e
distribuição) e do consumo da energia elétrica. Neste caso, as edificações residenciais,
comerciais e industriais deverão ter instalados os chamados medidores inteligentes (Smart
Meters), os quais possam não apenas medir o consumo da energia, mas também estar em
permanente comunicação bidirecional com as centrais de supervisão das companhias,
enviando os dados de consumo e de eventos gerais que acontecem na rede local, bem como
recebendo informações da concessionária. Estes medidores permitirão também uma interação
com o próprio consumidor de modo a lhe informar custos, tarifação diferenciada, metas e
tendências de consumo, cortes de carga, etc.
Uma rede inteligente deve ser capaz ainda de se auto reestabelecer, provendo alta
qualidade da energia entregue, sem interrupções, aos consumidores.
Estas redes terão necessariamente o uso integrado de fontes renováveis, principalmente a
solar e a eólica, ou seja, sítios com painéis fotovoltaicos e/ou geradores eólicos, ligados
muitas vezes às próprias redes convencionais com a geração convencional. Estas fontes,
associadas ainda às fontes convencionais estarão cada vez mais próximas da carga, o que em
muitos casos são denominadas de geração própria ou Geração Distribuída (GD). Até mesmo
uma residência dita inteligente (Smart House), deverá ter seu próprio painel fotovoltaico e/ou
seu “catavento”, gerando energia para seu consumo próprio, incluindo o carregamento das
baterias de veículos elétricos ou plug-in híbridos. Muitas vezes esta geração própria poderá
ser maior que o consumo próprio, permitindo assim que o consumidor faça o armazenamento
da energia excedente em baterias ou então comercialize a energia com a concessionária
administradora local.
Será comum que as fazendas eólicas e/ou fotovoltaicas estejam também associadas a
sistemas de armazenamento de energia (p.ex. baterias) que, além do armazenamento em si,
servirão como elementos de regulação dos sinais de tensão de fornecimento. Tais baterias
estarão associadas a eficientes sistemas de controle que deverão considerar as flutuações
existentes ao longo dos dias, tanto da fonte solar quando do vento (aumento e diminuição ao
longo do dia em função das condições climáticas).
Cabe ainda mencionar que uma rede inteligente não se limita exclusivamente à rede de
distribuição e aos consumidores da mesma, mas se estende também à transmissão. Porém,
enquanto as mudanças na rede de distribuição serão revolucionárias, a transmissão mudará de
modo evolucionário, envolvendo avançados sistemas de proteção e controle adaptativos,
utilização mais intensiva das unidades de Medição Fasorial Sincronizadas, estimação e
medição de estados precisos dos sistemas interconectados, técnicas inteligentes de
visualização das redes, etc.
É fato que a engenharia está mais que interessada nesta evolução, não significando que o
termo smart grid deixa para traz tudo o que já foi inventado ou construído em termos de redes
elétricas, como se fosse uma stupid grid. Esta ruptura não deverá existir, pelo menos por
enquanto. Entretanto, devemos todos nos preparar para esta rede do futuro, cujos sinais já se
fazem presentes mesmos nas redes convencionais, ou seja: a presença de (i) dispositivos
eletrônicos inteligentes fazendo supervisão, controle, proteção e medição; (ii) equipamentos
sofisticados (geradores, transformadores, transmissões AC flexíveis – FACTS, etc.) e (iii) a
rede de comunicação de dados.
Redes elétricas modernas e futuras podem ser classificadas com sendo de grande
complexidade tendo em vistas as muitas variáveis que envolvem não apenas a parte técnica,
mas também comportamentos dinâmicos sociais. Um panorama geral da complexidade da
rede inteligente do futuro está representado na “Figura 5”, na qual três fontes de
complexidade estão devidamente identificadas: Stakeholders, tecnologias e dimensões.
Figura 5 – Representação Geral da Complexidade Global de uma Rede Inteligente
5. EDUCAÇÃO ABORDANDO SMART GRIDS
A operação e o gerenciamento dos sistemas de energia elétrica, compreendendo a
geração, a transmissão e a distribuição estão mudando devido aos avanços tecnológicos,
principalmente relacionados aos assuntos como: fontes de energia renováveis (alternativas),
geração distribuída (GD), microgrids, armazenamento de energia, gerenciamento da energia.
Desse modo, uma rede elétrica inteligente irá requerer engenheiros e profissionais com
uma formação diferenciada em relação às forças de trabalho qualificadas existentes
atualmente. Além dos aspectos tecnológicos os engenheiros irão necessitar de estudar
gerenciamento de dados, protocolos de comunicação, otimização dos ativos, dentre outros.
Uma rede inteligente dependerá também da ampliação dos esforços na formação (graduandos
e pós-graduandos) e na pesquisa envolvendo cyber security, estabilidade dinâmica, novas
formas de proteção elétrica, técnicas de inteligência computacional e ferramentas de tomadas
de decisão.
Levando em consideração estas e outras questões, a criação de um currículo para o
engenheiro eletricista incluindo a rede elétrica do futuro é algo vital e inevitável para os
próximos anos. Novas áreas de estudo e novos caminhos de desenvolvimento profissional
precisam ser criados ou introduzidos na grade curricular já nos próximos anos visando esta
formação mais ampla do engenheiro eletricista. Vários artigos sobre o assunto já podem ser
encontrados em conferências internacionais e periódios (AMIN & WOLLENBERG, 2005),
(ALBU ET Al, 2010), (KEZUNOVIC, 2010), (REED & STANCHINA, 2010), (SAUER,
2010), (SCHULZ, 2011), (SHAHIDEHPOUR & ZUYI, 2010), (VENAYAGAMOORTHY,
2010). Considerando que smart grid pode ser pensada como um assunto multidisciplinar, o
desenvolvimento de esquemas educacionais para tal fim irá requerer habilidades e tecnologias
além das tradicionais usadas em nossas formações. A disponibilização de infraestrutura para
facilitar a oferta de cursos como o desenvolvimento de bancos de dados de informação
baseados na web, experimentos laboratoriais interativos e a distância e cooperação
internacional para troca de experiências serão de suma importância dentro deste contexto.
Para os fundamentos de uma rede elétrica inteligente dever-se-á incluir discussões para
definições, arquiteturas, métricas de desempenho, ferramentas de suporte à decisão e novas
fontes de energia. Os projetos destas redes deverão atravessar os limites do conhecimento em
comunicação de dados, técnicas de otimização, operação e recuperação dinâmicas e
adaptativas, controle, mercado, restrições ambientais e sociais.
Sabe-se que os cursos convencionais de engenharia elétrica são direcionados para o
desenvolvimento dos engenheiros em trabalhos relacionados à operação de sistemas elétricos
de potência e/ou industriais, os quais envolvem planejamento, supervisão e execução de
projetos nas áreas de eletrotécnica, relacionadas à energia elétrica. As universidades que
possuem bons cursos nesta área conseguem preparar o profissional para que o mesmo esteja
habilitado também a planejar, construir e operar sistemas de geração, transmissão, e
distribuição em concessionárias. Além disso, também devem estar preparados para atuarem
com automação e controle em linhas de produção industrial, no desenvolvimento de
componentes eletroeletrônicos, na operação e manutenção de equipamentos em hospitais e
clínicas e em projetos de instalações elétricas industriais, comerciais e residenciais. Além das
concessionárias de energia, o graduado encontra emprego em indústrias de equipamentos,
automação, fábricas de motores e geradores, consultorias ou em empresas prestadoras de
serviços em computação.
Deste modo, o engenheiro eletricista passa por uma formação abrangente o que requer
desde o conhecimento básico de circuitos elétricos, passando pelos conhecimentos
necessários para a operação das redes elétricas, até os aspectos de confiabilidade, eficiência
energética e economia. De certo modo, o atual currículo de muitos cursos de engenharia
elétrica, sobretudo aqueles voltados para sistemas de potência, permitem a introdução da
teoria e da prática de questões mais voltadas às smart grids envolvendo, além das disciplinas
tradicionais, também conhecimentos em: (i) fontes alternativas (renováveis); (ii) novas cargas
especiais (veículos elétricos); (iii) aplicações das tecnologias de informação e comunicação
(TICs); (iv) novos sensores e processamento digital de sinais; (v) novos conceitos de proteção
de sistemas elétricos; (vi) avaliação de riscos e confiabilidade; (vii) HVDC e sistemas de
transmissão AC flexíveis (FACTS); (viii) utilização e gerenciamento da energia pelo lado da
demanda; (ix) análise econômica; mercado de energia; (x) planejamento e eficiência
energética; (xi) questões políticas e ambientais.
Assim, entre o currículo atual e o currículo que contemple uma formação global em redes
elétricas inteligentes, deverá existir a introdução dos tópicos citados anteriormente como
elementos desejáveis. O fato é que existem alguns caminhos, dependendo do enfoque do
curso, da necessidade, do tempo de formação e do perfil desejado para o engenheiro
eletricista. Poder-se-ia pensar na introdução de uma disciplina de ‘redes elétricas inteligentes’
nos últimos anos de formação, o que seria o mais simples dos casos. Entretanto, isto ficaria
apenas limitado a uma visão global e superficial do tema. Uma formação mais ampla iria
necessitar de razoável reformulação de grade contemplando diferentes assuntos ao longo da
formação do engenheiro de redes elétricas inteligentes.
Um modelo de curso, que serviria para uma disciplina bem condensada ou em várias
outras, dependendo do enfoque, da necessidade e da profundidade, deve necessariamente
conter:
(1) Introdução (USA DOE, 2007; HERTZOG, 2009)
a. O que é smart grid.
b. Definições e termos associados.
c. Funções de uma rede inteligente.
(2) Arquitetura (SOREBO & ECHOLS, 2012), (CHAKRABORTTY & ILIC, 2012),
(EKANAYAKE et Al, 2012); (KEYHANI, 2011), (HADJASAÏD & SABONNADIÈRE,
2012)
a. Componentes e arquitetura de uma de uma rede elétrica inteligente, o que inclui:
automação da transmissão, coordenação de sistemas, operação de sistemas,
qualidade da energia, proteção elétrica, automação da distribuição, integração de
fontes renováveis, eficiência energética, geração distribuída, microgrids,
armazenamento de energia, veículos elétricos, smart appliances.
(3) Funções (EKANAYAKE et Al, 2012), (HADJASAÏD & SABONNADIÈRE, 2012)
a. Modelos, projetos e operação dos componentes: geração, transmissão,
distribuição e carga (uso final).
(4) Ferramentas e técnicas (MOMOH, 2012), (EKANAYAKE at Al, 2012)
a. Técnicas computacionais.
b. Técnicas de inteligência artificial (IA).
c. Técnicas de processamento de sinais.
d. Introdução às tecnologias: comunicação, sensoriamento, medidores (smart
meters), fontes renováveis.
(5) Projetos (CHAKRABORTTY & ILIC, 2012), (HADJASAÏD & SABONNADIÈRE, 2012)
a. Seleção de critérios, ferramentas e técnicas.
b. Técnicas de controle e otimização avançada.
c. Automação em nível de geração, transmissão e distribuição e carga.
(6) Tópicos (SIOSHANSI, 2012), (GELLINGS, 2009), (BERGER & INIEWSKI, 2012)
a. Tecnologias de armazenamento.
b. Veículos elétricos e plug-ins híbridos.
c. Impactos ambientais e mudanças climáticas.
d. Economia e mercado de energia.
(7) Tecnologias de comunicação (BERGER & INIEWSKI, 2012), (FLICK & MOREHOUSE,
2011)
a. Topologias de rede.
b. Sistema de gerenciamento de Acesso à Web (WAMS).
c. Infraestrutura avançada de medição (AMI).
(8) Normas, Interoperabilidade e Segurança cibernética (BERGER & INIEWSKI, 2012),
(FLICK & MOREHOUSE, 2011).
(9) Estudo de casos (SIOSHANSI, 2012), (BERGER & INIEWSKI, 2012).
Nota: Os livros citados, dentre vários outros, podem servir como bibliografia básica sobre o assunto.
6. QUESTÕES PRÁTICAS
A Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI é uma Instituição centenária e possui dois
tradicionais cursos de engenharia: Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica, os quais
formam também a base de formação das grandes questões energéticas de uma sociedade.
Além disso, a UNIFEI possui ainda diversos outros cursos, dentre os quais, para o contexto
analisado, deve-se mencionar: (i) Engenharia de Controle e Automação e (ii) Engenharia de
Computação, cursos estes abrigados no Instituto de Engenharia de Sistemas e Tecnologia da
Informação (IESTI), o qual possui também especialistas em telecomunicações; (iii)
Engenharia de Energia, com grande envolvimento do Instituto de Engenharia Mecânica (IEM)
e participação do Instituto de Sistemas Elétricos e Energia (ISEE) e, por fim, (iv) Engenharia
Ambiental, abrigado no Instituto de Recursos Naturais.
Especificamente no Curso de Engenharia Elétrica, abrigado no ISEE, trabalhos vêm
sendo realizados de modo a implantar questões focadas nas redes elétricas do futuro.
Dentro destes novos paradigmas, o ISEE tem trabalhado na ótica de incentivar a atuação
de seus grupos de pesquisa (indissolúvel da formação) para que haja mais investigações e
inovações em diversos campos incluindo a forte vertente em redes elétricas inteligentes.
O Instituto de Sistemas Elétricos e Energia na UNIFEI conta com vários grupos
consolidados, a saber:
I. Grupo de Estudos Energéticos (GEE): este grupo gerencia o Centro de Excelência
em Eficiência Energética (EXCEN), que realiza estudos, pesquisas e formação em
eficiência energética, também com foco nas fontes alternativas e suas conexões às
redes elétricas. O EXCEN é um dos centros de pesquisa do Parque Tecnológico
de Itajubá.
II. Grupo de Engenharia de Sistemas (GESIS): vem trabalhando fortemente em
questões de planejamento, operação e otimização dos sistemas elétricos, também
como foco no mercado tarifário e modelos de negociação dentro dos conceitos das
redes inteligentes.
III. Grupo de Estudos em Qualidade da Energia Elétrica (GQEE): o grupo está
fundamentado nas questões de qualidade da energia, porém possui forte vertente
em estudos, pesquisa e formação em proteção e monitoração dos sistemas
elétricos. No segundo semestre de 2012 será inaugurado no Parque Tecnológico
de Itajubá o Centro de Estudos em Compatibilidade Elétrica para Redes
Inteligentes. Este centro será todo gerenciado pelo GQEE.
Cabe mencionar que os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos por estes e outros grupos
possuem fontes de financiamento, para a construção e/ou operação de seus centros de
pesquisa, vindo de setores/ empresas como CEMIG, Eletrobrás, FINEP, FAPEMIG,
Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Minas Gerais (SECTES), etc. Assim como
muitos projetos específicos de pesquisa e desenvolvimento veem também dos chamados
P&Ds da ANEEL, em parceria com diferentes empresas do setor elétrico.
Considerando a atuação conjunta e associada dos grupos de trabalho, dos cursos de
engenharia e das Unidades Acadêmicas citadas anteriormente, a introdução do conceito de
Smart Grids no curso de engenharia elétrica, tanto na graduação, quanto na pós-graduação,
torna-se uma tarefa pouco dispendiosa, uma vez que todos os ingredientes da
multidisciplinaridade das redes elétricas inteligentes, ou redes do futuro, estão presentes na
universidade.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A contribuição deste artigo é centrada na ênfase das áreas e cursos que devem ser
integrados ao curriculum existente do engenheiro de sistemas de potência de forma a permitir
uma transição adequada para a preparação do profissional que deverá projetar e operar a rede
elétrica do futuro. Considerações e sugestões são feitas de modo a contribuir para o processo
de conscientização e desenvolvimento da educação acadêmica e treinamentos necessários
para equipar adequadamente o setor elétrico de potência no Brasil.
Agradecimentos
Os autores agradecem aos órgãos de fomento à ciência, tecnologia e inovação existentes no
Brasil, CNPq, CAPES e especialmente à FAPEMIG, sem os quais a implantação de centros de
pesquisa no contexto deste trabalho não seria possível.
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<http://www.wbgu.de/en/home/>. Acesso em 27 de maio de 2012.
INTRODUCING THE CONCEPT OF SMART GRID IN THE
ELECTRICAL ENGINEERING CURRICULUM IN BRAZIL
Abstract: This paper shows the importance of introducing the fundamental concepts of smart
grid in the electrical engineering curriculum. This issue has been the subject of global
debates, in various aspects, including training and academic education. In addition, smart
grids are becoming a reality in many developed countries (USA, Japan, Germany) with the
implementation of large pilot projects and actions to improve their transmission and
distribution networks. In Brazil there is already a major concern with the theme, as well as
actions carried out by the regulatory and supervisory agencies (ANEEL, ONS) and utilities to
move forward on the issue. The Electrical and Energy Systems Institute, one of the Academic
Units of the Itajubá Federal University, is joining efforts in order to focus on the subject of
smart grid in several works of research and academic training, with the support of its
working groups and courses existing at the University.
Key-words: Academic education, Electrical networks, Smart grid, Power grid of the future.
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