Inclusão Eleitoral
Risoletta Miranda (*)
O ano de 2010 será o da consolidação da participação digital no Brasil.
Estou curiosa, motivada e ansiosa para ver como atravessaremos o que, me parece, será um
ano seminal para o ambiente digital brasileiro: 2010. O cenário desenhado é propício para uma
grande inflexão de aprendizado.
Deve mexer com nossa força de análise, nossa veia cidadã, capacidade de motivar, desmotivar
e discutir temas da política. E, por isso, será, enfim, o ano da consolidação do que considero a
melhor e maior tendência que podemos surfar nesta década: o exercício (num sentido
ampliado) da inclusão digital tendo como ponto de partida o contexto participativo.
Como tem crescido constantemente, a inclusão digital em si (que muita gente entende de
forma “miniaturizada” como a possibilidade de acesso a um computador) não é uma novidade
ou tendência. Não tem a ver com a minha afirmação no parágrafo anterior.
A minha visão é mais holística e possui variáveis mais complexas e instigantes e que estão
concentradas na sua melhor definição - como se pode ver na Wikipédia: “um incluído
digitalmente não é aquele que apenas utiliza essa nova linguagem para trocar e-mails, mas
aquele que usufrui desse suporte para melhorar as suas condições de vida”. Esse é o ponto!
O acesso a um equipamento conectado é uma condição primária para ser um incluído digital. A
participação exponencial, através do compartilhamento de ideias com audiências segmentadas
pode fazer o Brasil ir para um novo degrau no ano que vem, em termos de cidadania.
Depois de Obama
Sou uma dos quase 65 milhões de brasileiros que acessam a um serviço web, segundo as
pesquisas mais recentes. E, como cada um desses, sou também a cidadã que vai ver o
encontro de duas situações complementares em combinação extremamente virtuosa: um ano
de campanhas eleitorais com uso da internet pós-Obama e a celebrização das redes sociais
como a “jóia” mais luzidia da “coroa” digital.
Se nossas políticas públicas são conduzidas por candidatos que elegemos e se neste ano eles
estarão sob nossos olhos no ambiente digital, nada mais motivador do que imaginar que
podemos refinar, em muito, a qualidade do nosso voto. Sairão da internet, com certeza,
debates ricos, complexos e instigadores no pleito 2010. E até decisivos!
Tenho convicção que mesmo os que não acessam com muita frequência a rede considerarão a
postura do seu candidato no ambiente digital como um sinal positivo ou negativo de intenção
de voto. Transparência, participação e proposta claramente colocados na plataforma digital
serão itens cobrados dos candidatos.
Como ambiente de colaboração, extensão e produção de conteúdo, naturalmente as redes
sociais vão “ferver” contra e a favor de candidatos. Tenho ouvido muitas perguntas sobre o
que vem por aí de mais provocador nesse cenário. O que mais me instiga é quase uma
provocação: será que a pessoas vão doar dinheiro pela internet para seus candidatos? E, na
sequência, será que estes últimos saberão como fazer para que as pessoas doem?
Finanças
Em primeiro lugar, não acho que exista candidato (isso pode até vir a ocorrer ainda) que vá
jogar suas fichas de sustentação financeira de campanhas em doações pela web. E isso vai
ocorrer por uma questão cultural e não porque haverá uma reflexão sobre a capacidade do
eleitor de usar a internet para doar ou não. Não considero que haja essa maturidade
(guardadas honrosas exceções). No entanto, essa é uma grande questão para refletir: porque
você doaria 5 ou 10 reais para um candidato?
Na rotina do trabalho que desenvolvo, participando, conversando e ouvindo muito nas redes
sociais, o que me parece mais próximo de acontecer é um engajamento prático, direto e
“cobrador” – bem “cão farejador” mesmo - do eu para o coletivo.
Apenas uma causa individual, muito próxima da realidade do cidadão possível doador, é que o
influenciaria a esse ponto. E não é uma questão de pensar em se beneficiar diretamente com a
eleição de um determinado político. A questão é menos prática e mais emblemática. Ao doar
um determinado valor para uma candidatura, estarei dando o meu segundo aval de cidadã
para aquela campanha. O primeiro aval, certamente, é o voto.
O segundo configura um engajamento de causa pessoal, como disse, espelhado em dar uma
expressão material para o que eu defendo, acredito e gostaria de ajudar a ver realizado. Ou,
quando menos, ajudar a ser debatido. Então, precisa ter um ponto de convergência aqui do
internauta com o candidato.
O segundo ponto: o que as pessoas defenderão? Que causas as mobilizariam? Bem, há um
poema de Fernando Pessoa chamado “Lisbon Revisited”, de 1926, no qual um verso dali ficaria
aqui bem aplicado: “Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me náufrago;”. Realmente
tenho muitas dúvidas sobre o que sei e a que “ilhas” vamos chegar com essa questão.
Individualismo
Mas vamos lá... Acho arriscado – e, vamos combinar, muito fácil – apostar em temas
considerados padrão para isto: meio ambiente, responsabilidade social, segurança, saúde.
Talvez sejam, mas fico imaginando causas menos grandiosas e mais dentro do contexto
individualista da web 2.0.
Eu escrevi individualista? Sim, isso mesmo. Com essa onda coletiva de colaboração,
comunidade, mobs e etc, esquecemos de pontuar sobre a face individual que compõe o
comportamento das pessoas nas redes.
A socialização de conteúdo é um segundo passo – eu enxergo assim – que nasce de um
primeiro que é a ida para a rede para um pronunciamento individual, uma defesa de idéia
própria, uma reclamação, enfim, sempre um foco bem mais pessoal. É só olhar no Twitter o
quanto a gente vê de “eu por e para mim mesmo”. É como funciona mesmo. A outra parte
bonita é dividir isso com o outro. É quando entra o coletivo.
Esse perfil “internauta cidadão” se engaja em causas sutis e gosta de ver idéias flexibilizadas,
que respeitam o sentido de liberdade e expressão das pessoas. Especialmente se posiciona de
forma hostil contra desrespeito a regras de atendimento a necessidades básicas e se comove e
solidariza com a dificuldade alheia (vide as enchentes de SC e o apagão recente).
Politização
Vai também ferozmente contra preconceitos de maneira geral. Causas humanizadas são uma
direção. Eu diria, em resumo, que o debate vai ser bem politizado e divulgado. Sem esquecer
que é possível que encontremos bastante variação bizarra, bem humorada e “partidarizada”
pelo “eu”. E olha que nem vou entrar na parte “podre” da campanha que certamente vai
acontecer, por exemplo, com a digitalização dos já conhecidos boatos.
Neste cenário, o melhor ponto da inclusão digital será exatamente o uso das redes sociais
como plataforma extensiva do debate e da geração de ideias sobre as eleições. E, o que
acontecer nesse ambiente, se transformará em mais e mais pautas para a mídia clássica.
E, ao chegar ao offline, certamente atingirá a quem não acessa a computadores e resultará no
que chamo de “clique virtual”. É quando um conteúdo publicado na web, por via offline,
impacta alguém que nunca terá clicado em lugar nenhum. Não tem como ter métricas para
isso, mas considero esta “inclusão digital”, por si só, um belo, enorme e valioso ganho para
todos nós. A conferir.
* Risoletta Miranda é diretora-executiva da FSB PR Digital (www.fsb.com.br, br), braço da FSB
Comunicações. Formada em jornalismo, tem MBA Marketing COPPEAD/UFRJ, é especializada
em planejamento estratégico de marketing e comunicação digital e é uma das criadoras do
Conceito de VRM – Virtual Relationship Management.
www.twitter.com/rizzomiranda.
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