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ILUMINAÇÃO
IGREJAS PELO PAÍS
Para o arquiteto Fabiano Xavier, do atelier Lumiere, em
Salvador, que realiza os projetos da CitèLuz em todo o
Brasil, o boom de iluminação artística de templos e prédi-
os históricos no Brasil vem ocorrendo de dez anos para cá. “Na
última década houve maior oferta de equipamentos e outras
soluções técnicas que permitiram realizar mais trabalhos”.
Xavier esteve à frente do trabalho realizado na Candelária,
uma verdadeira jóia da arquitetura religiosa construída no século
18. Na fachada e na cúpula foi utilizado um contraste de tonali-
dade para dissociar os dois planos, conferindo profundidade de
campo à composição. Lâmpadas de vapor metálico de bulbo
cerâmico de 150 W de potência e 3000K de temperatura de cor
foram utilizadas em dois grupos de sete projetores de piso de facho
assimétrico da marca belga Schrèder, instalados na calçada de
pedra portuguesa. O posicionamento dos equipamentos foi dis-
posto de modo a evitar o ofuscamento dos pedestres.
Fernando Magalhã[email protected]
com iluminaçãoganham destaqueganham destaque
(RJ) Paraty - Nossa Senhora dos Remédios
A passagem do evangelho de SãoJoão que apresenta Jesus comoluz do mundo, cai como uma luvapara justificar um fenômeno quecresce a cada dia: o de igrejas que,para valorizar a arquitetura,utilizam cada vez mais recursos deiluminação. Na imponente igreja daCandelária no Centro do Rio, porexemplo, foi realizado o projeto deiluminação mais recente (2006) daCitèluz, multinacional que jáiluminou monumentos no mundotodo como a torre Eiffel
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ILUMINAÇÃO
“Uma marca desse pro-
jeto foi aceitar os limites e
as oportunidades que o
edifício oferecia à ilumi-
nação, tirando o máximo
de soluções fotométricas
disponíveis e respeitando a
natureza cromática dos
elementos”, observa Xa-
vier, ao comentar que sen-
do a fachada quase que
totalmente recoberta por
elementos e painéis de
cantaria de pedra, optou-
se pela adoção de uma to-
nalidade branca dourada
(300k). Já a cúpula de cor
branca foi contemplada
com uma iluminação mais
fria, tendendo para o bran-
co azulado.
Ainda na fachada da
igreja, acima do frontão,
a cruz principal recebeu
um tratamento a partir
de três ângulos. Fixado
ao pé da cruz, um proje-
tor de facho concentra-
do com lâmpada de vapor metálico de
3000K ilumina sua base na parte frontal.
Junto a este, outros dois projetores com
lâmpadas de mesma temperatura de
cor, instalados um de cada lado, mos-
tram sua decoração. Atrás do frontão,
projetores de lâmpadas de 4200K salien-
tam os recortes da cruz.
As faces laterais e posterior do templo
foram contempladas com uma ilumina-
ção geral, com lâmpadas de vapor metá-
lico na potência de 400W e temperatura
de cor de 4200K que são provenientes de
aparelhos instalados sobre postes de ilu-
minação pública. A ilu-
minação da Candelária
foi comemorada por seus
responsáveis. “Os cariocas
amam nossa igreja. Ela é
muita admirada e, ilumi-
nada, sempre atrai mais fi-
éis”, destaca José Gomes,
provedor da Venerável Ir-
mandade que administra
o templo.
Há cerca de quatro
anos, a Citèluz iluminou
a catedral presbiteriana
que, com seu estilo góti-
co, se destaca na paisa-
gem da Praça Tiraden-
tes. Segundo Xavier, fo-
ram utilizados os mesmos
recursos utilizados na igre-
ja da Candelária. Respon-
sável pelo acompanha-
mento do trabalho na épo-
ca em que foi realizada a
iluminação, o presbítero
Edson Gueiros Leitão afir-
ma que não houve ne-
nhuma dificuldade para
a empresa fazer o serviço, porque tinha
realizado uma obra anteriormente. “Na fa-
chada, por exemplo, foram recuperadas to-
das as pontas, aquelas agulhas em estilo góti-
co que dão o embelezamento. Quando a
empresa veio realizar o trabalho, a fachada
da catedral já estava restaurada”.
(RJ) Rio de Janeiro - Candelária
(RJ) Rio de Janeiro - CatedralPresbiteriana
Fabiano Xavier, diretor do Atelier Lumiere (CE) Fortaleza - Catedral de Fortaleza
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Para o religioso, a iluminação da igreja
pode servir como atrativo para os fiéis, além
de ter aumentado a auto-estima de quem já
freqüenta. “Vendo o templo iluminado a
pessoa pode querer entrar e com isso receber
uma mensagem que pode mudar sua vida,
que é o nosso objetivo”. A Citèluz é respon-
sável pela iluminação no país de igrejas
como a Catedral de Fortaleza (CE), a Igreja
do Bonfim, em Salvador (BA), a Catedral
de Manaus (AM). Há 20 anos atuando no
mercado de iluminação, Milton Gíglio, do
Atelier da Luz, no Rio, avisa que é preciso
um cuidado todo especial no trabalho de
iluminação artística, porque a iluminação
não pode interferir na arquitetura, seja de
uma igreja ou de um monumento. A ten-
dência tem sido, por conta disso, o uso mais
freqüente de lâmpadas menores. “Os tipos
de lâmpadas podem causar interferências
diversas. Assim, se o prédio é branco, os ca-
bos vão ser brancos e não podem ficar apa-
rentes. A gente aqui recebe a planta, con-
versa com o arquiteto e, só a partir daí, de-
senvolve o projeto”, explica. O atelier da Luz
acaba de finalizar um projeto de iluminação
para a Igreja São Judas Tadeu, em Icaraí.
Entre os avanços tecnológicos que têm
facilitado o trabalho dos lighting designers
está o reator eletrônico, que não produz
tanto calor, o que evita o efeito click de pis-
ca-pisca. “O custo do reator é mais alto,
mas em compensação, produzirá uma eco-
nomia bem maior a médio prazo”, afirma
Gíglio. O especialista chama a atenção
para o fato de, atualmente, se usar mais
leds devido ao seu tempo de vida, um total
de 50 mil horas. Outra qualidade do led,
segundo ele, é o fato de poder ficar exposto
ao tempo. Porém, o lighting designer ressal-
ta que existe uma desvantagem que faz
com que o led ainda não seja o ideal. “O
(AM) Manaus - Catedral
(BA) Salvador - Igreja do Bonfim
(RJ) Paraty - Igreja do Rosário (RJ) Petrópolis - Catedral São Pedro
Entre os avançostecnológicos que têm
facilitado o trabalho doslighting designers está oreator eletrônico, que
não produz tanto calor, oque evita o efeito click de
pisca-pisca
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ILUMINAÇÃO
led não tem potência suficiente para substituir as lâmpadas conven-
cionais como as de multivapor metálico e de sódio”, explica.
Membro profissional da Associação Brasileira de Arquitetos de Ilu-
minação (ASBAI) e do IES (Illuminating Engeneering Society),
Rafael Leão abre um parêntese quando dizem que led é a solução do
futuro. “Não é porque é led que é bom. Pouca gente fabrica, mas tem
muita gente montando, o que gera equipamentos de má qualidade”.
De acordo com Alexandre Rautemberg, da assessoria de marketing da
Led Point, houve um aumento de nada menos que 400% nas vendas
de led nos últimos três anos. O preço da fonte pode variar entre R$ 50
a R$ 3 mil, dependendo da aplicação, explica Rautemberg. A Philips
e a alemã Osram estão entre as líderes deste mercado.
Arquiteto premiado, formado pela Universidade Estadual de
Londrina, Leão afirma que, “dependendo da aplicação, o led
pode ser uma boa opção ou totalmente descartável”. “Se vai fazer
um trabalho na fachada de uma igreja onde tem poucos locais
para colocar a luminária, o led vai ser bom; caso você tenha que
iluminar uma torre, não vai funcionar”, explica. “Tudo vai sempre
depender da geometria, de como a fachada se apresenta”.
Ainda segundo Leão, para a realização de um trabalho profissio-
nal, dois critérios devem ser priorizados. O primeiro o de represen-
tatividade e visibilidade na malha urbana e o segundo é definir como
iluminar. Neste segundo ponto, o arquiteto ressalta que a luz colorida
nem sempre convém. “A luz colorida pode ser visível, mas nem sem-
pre é legível. Isto quer dizer que um determinado elemento do prédio
iluminado com cores pode ser visto, mas não identificado ou reco-
nhecido. Uma igreja, um monumento não é um parque de diversões.
No parque pode-se usar à vontade fontes coloridas”.
Para o arquiteto Romão Veriano Pereira, do Instituto dos Arquite-
tos do Brasil (IAB) do Rio de Janeiro, a iluminação sempre valoriza os
detalhes da arquitetura, mas é preciso ter bom senso. “Em uma igreja
da Regiãos dos Lagos, que prefiro não citar o nome, utilizaram lâmpa-
das coloridas verdes e vermelhas de gosto muito duvidoso”, afirma. O
arquiteto destaca que a tendência de iluminação é tão forte no Brasil
que chegam a iluminar até a natureza, como é o caso da Pedra da
Gávea, no Rio. “Este tipo de atitude chega até a gerar polêmica com
ambientalistas que dizem que a luminosidade interfere de modo ne-
gativo no comportamento dos animais”, finaliza.
A luz colorida pode ser visível, mas nemsempre é legível. Isto quer dizer que um
determinado elemento do prédioiluminado com cores pode ser visto, mas
não identificado ou reconhecido
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