ROOOLFO FRANCISCO HAL TENHOFF MELANI Cirurgião-Dentista
IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM VÍTIMAS DE
CARBONIZAÇÃO: ANÁLISE ODONTO-LEGAL
ATRAVÉS DA MICROSCOPIA ELETRÔNICA
Tese apresentada à Faculdade de
Odontologia de Piracicaba da
Universidade Estadual de Campinas para
a obtenção do grau de Doutor em
Ciências, Área de Odontologia Legal e
Deontologia
Orientador: Prof. Dr. Edllllrdo Daruge
Piracicaba - São Paulo 1998
RODOLFO FRANCISCO HALTENHOFF MELANI Cirurgião-Dentista
IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM VÍTIMAS DE
CARBONIZAÇÃO: ANÁLISE ODONTO-LEGAL
ATRAVÉS DA MICROSCOPIA ELETRÔNICA
Tese apresentada à Faculdade de
Odontologia de Piracicaba da
Universidade Estadual de Campinas para
a obtenção do grau de Doutor em
Ciências, Área de Odontologia Legal e
Deontologia
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Daruge
Piracicaba - São Paulo 1998
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CM-00120759-6
Ficha Catalográfica
Melani, Rodolfo Francisco Haltenhoff. M48i Identificação humana em vitimas de carbonização : análise
odonto-legal através da microscopia eletrônica. I Rodolfo Francisco HaltenhoffMelani. --Piracicaba, SP: [s.n.], 1998.
89f : il.
Orientador : Prof Dr_ Eduardo Daruge. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas,
Faculdade de Odontologia de Piracicaba.
L Carbonização. 2. Homem -Identificação. 3. Dentes. 4. Microscopia eletrônica. I. Daruge, Eduardo. Il Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Odontologia de Piracicaba. III. Título.
Ficha Catalográfica Elaborada pela Bibliotecária Marilene Girello CRB /8- 6159, da Biblioteca da Faculdade de Odontologia de Píracicaba I UNlCAMP.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA
A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de DOUTORADO, em
sessão pública realizada em 03 de Dezembro de 1998, considerou o
candidato RODOLFO FRANCISCO HALTENHOFF MELAN/I";trovado.
C~._,
2. Prof. Dr. MOACYR DA SILVA, ______ ~-·~·~~;7(l)k5.~···~~·~·~~~·f~J~"-----------------_,i ·~;
.i . . I . /
.·· I· ;;,/z / /Ir·· . /n;/
3. Prof. Dr. NELSON MASSINI. ____ ~,/~j~,'j~·~~/"·~p~·S'/~:d7~~-------------------------/
\,7 ~// \ \.....__, ---·"
5. Profa. Dra. GLAUCIA MARIA BOVI AMBROSANO. ______ \c;_--~;4\J~V-· ~· ·':L-"'-"',''-"\--.-->c_ ________ _ *i : -
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Eduardo Daruge, pela orientação segura e compreensão das
dificuldades ao longo do trabalho.
Ao Professor Doutor Luiz Airton Saavedra de Paiva pelo apoio na materialização da
parte pericial avaliada neste trabalho.
Ao Professor Edrrrir Matson pela, significativa, colaboração durante a interpretação dos
resultados obtidos neste estudo.
Ao Professor Nei Soares de Araújo, pela condição oferecida para a realização da
investigação microscópica.
Ao aluno de investigação científica, Nilton Azambuja Jr., pela ajuda na obtenção de
imagens gravadas em R.C.D.
Aos colegas do Departamento de Odontologia Social pelo apoio e ao Professor Rogério
Nogueira pelo companheirismo e colaboração.
À Heloísa Maria Ceccotti, Bibliotecária chefe da FOP-Unicamp, pela correção das
referências bibliográficas.
À Anderson Laerte Texeira, que competentemente, diagramou o trabalho.
Às secretárias do Departamento de Odontologia Legal, Dinoli Albuquerque Lima e Célia
Regina Manesco, pela constante gentileza e atenção.
Algumas instituições, direta ou indiretamente, possibilitaram o desenvolvimento deste
estudo. A Capes concedendo bolsa de mestrado. A Faculdade de Odontologia da
Universidade de São Paulo, USP e a Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual
de Campinas, UNICAMP, oude realizamos a pesquisa.
Ao Professor Doutor Moacyr da Silva, que de forma generosa, sempre nos incentivou à
carreira docente.
l.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Lista de Figuras ....
Lista de Tabelas .....
Resumo .....
INTRODUÇÃO ...
1.1. A.\]Jectos Históricos ..... .
REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Aspectos psicológicos ..
1.2. O local ..
SUMÁRIO
pág.
I
4
5
7
lO
15
16
17
2.3. Aspectos de um incêndio ........... ..................... ............. 21
2.4. Aspectos Odonto-/egais . ..... .......... .......................... .. ......... .... ...... .. 24
2. 5. Exame dos arcos dentários ...
2. 6. Microscopia eletrônica ..... .
PROPOSIÇÃO ...•..
MATERIAL E MÉTODOS .....
RESULTADOS. • . . . .
DISCUSSÃO............ • . ..... • . . . .....•.............
CONCLUSÕES ....
SUMMARY ......... .
REFERJCNCIAS BffiLIOGRÁFICAS .
32
41
44
45
66
71
73
75
LISTA DE FIGURAS
1. Dente carbonizado:
Apresenta preparo cavitário vestibular com superfície clivada
pelo calor (b), observa-se resíduos de material obturador (a).
2. Superfície radicular (detalhe):
O cemento apresenta trincas (a) (aspecto de favo de mel),
observa-se a exposição de dentina com trinca externa (b).
3. Bordo de preparo cavitário:
Observa-se canalículos dentinários (a), trinca na superfície (b) e
estrias causadas por instrumentos relatórios (c).
Pág
53
53
54
4. Esmalte por face vestibular apresentando trincas e aspecto 54
granular na superfície.
5. Cavidade apresentando suas paredes clivadas:
Observa-se trincas no cemento (a) e dentina (b); Resíduos do
material restaurador no fundo da cavidade (c).
6. Bordo da cavidade:
Observa-se canalículos dentinários (a) e material restaurador
(amálgama) em aumento de 700X (b).
55
55
7. Resíduos de amálgama, observados na cavidade, após 56
carbonização, em aumento de 600X, evidencia-se
irregularidades da superfície.
1
8. Odontona NormaL 56
9. Odontona exposto ao calor. 56
10. Amálgama exposto a 600°C: 57
Superfície apresenta-se irregular, trincada (a), observando-se,
supostamente, vestígios da evaporação do esmalte (b).
11 > Amálgama exposto a 400°C: 57
Superfície apresenta trincas (a), superfície menos lisa que o
normal (b).
12. Restaurações de Amálgama Fundidas: 58
Aspecto do amálgama do dente pré-molar (400°C).
13. Restaurações de Amálgama Fundidas: 58
Aspecto do amálgama do dente molar (600°C).
14. Restaurações MOD, de amálgama, apresentando fusão com 59
restauração MO de dente molar inferior.
A superfície interna do pré-molar (a), menos exposta ao calor,
apresenta diferença com a superfície do molar, mais externa (b ).
15. Detalhe da região de fusão. Aumento 20X.
16. Região da fusão das restaurações, aumento 200X:
A superfície protegida pelo esmalte e dentina (a) apresenta-se
menos desarranjada que a superfície exposta diretamente em
contato com o calor (b).
59
60
17. Interface das restaurações de amálgama, aumento 600X. 60
2
18. Superfície de esmalte exposta a 600°C -Aumento 30X. 61
19. Superfície de esmalte exposta a 600°C- Aumento 200X 61
20. Superfície de esmalte exposta a 400°C. 62
21. Superfície de esmalte exposta a 400°C. Aumento 200X. 62
22. Dente Carbonizado: 63
Superfície de esmalte fragmentada pelo calor (a), observa-se a
presença de dentina (b).
23. Superfície do esmalte, aumento 200X Apresenta bolhas em 63
decorrência do calor
24. A mesma superfície em aumento de 700X 63
25. Cemento radicular a 2oo•c. Inicio de formação de trincas. 64
26. Cemento radicular exposto a 4oo•c. Superfície totalmente 64
trincada.
27. Cemento radicular exposto a 6oo•c. Superfície trincada com 64
exposição da dentina radicular (a).
28. Terço apical radicular de pré-molar Exposto a 4oo•c. 65
Observa-se a profundidade das trincas (a) e algumas rachaduras
na dentina (b).
29. Terço apical radicular Exposto a 6oo•c.
O fato da parede dentinária ser mais espessa, apresenta uma
maior resistência as rachaduras (a),
3
65
LISTA DE TABELAS
pág
Fenômenos observados nas estruturas e restaurações em contato 52
com o calor.
4
RESUMO
Objetivo. Propomos estudar as reações e alterações dos tecidos e
restaurações em amálgama de prata, frente ao calor, em temperaturas de 200"
C, 400°C e 600°C, através da microscopia eletrônica de varredura, comparando
os dados obtidos com a análise dos fenômenos ocorridos nos dentes de uma
vítima de carbonização. Material e Métodos. Foram estudadas, através da
microscopia eletrônica, 28 estruturas dentais (corpos de prova), submetidas às
seguintes temperaturas: 200"c, 400°C e 600°C. E mais 12, originários de
perícia de identificação em vitima de carbonização. Todos os dentes e
restaurações de amálgama foram, então, observados através da microscopia
eletrônica de varredura em aumentos variando entre 20 e 2.000 vezes.
Resultados. Macroscopicamente, os elementos dentários apresentaram
alterações da coloração e aparecimento de trincas superficiais, à medida do
aumento da temperatura. O estudo, através da microscopia eletrônica de
varredura, mostrou que a uma temperatura de 200"C apareceram rachaduras
5
no esmalte e cemento, aumentando em número à medida que a temperatura
se elevava. Acima de 400°C, o esmalte (capuz), destacou-se da dentina, que
apresentou sua superfície levemente desarranjada. Os quadros de rachaduras
e desarranjos do amálgama multiplicaram-se com o aumento da temperatura. A
400°C, apresenta uma superfície menos lisa que o normal com pequenas
cavidades circulares (cerca de 10 micras). Observa-se, também, o
aparecimento de trincas e rachaduras mais profundas. Conclusões. As
reações das estruturas frente ao calor, analisadas laboratorialmente,
apresentam semelhanças com as verificadas nos dentes e nas restaurações da
amálgama da vitima de carbonização. A microscopia eletrônica de varredura
pode ser utilizada como uma ferramenta na identificação da presença, tipo e
posição da restauração dental realizada em amálgama de prata.
6
1. INTRODUÇÃO
Neste século de atividade, a Odontologia Legal experimentou uma
evolução, particularmente, significativa entre as especialidades que compõem o
conjunto das ciências forenses. Tal fenômeno deve-se, sobretudo, ao
desenvolvimento de estudos e técnicas que, no processo de identificação
humana, permitem, muitas vezes dentro de um grau de confiabilidade científica
conhecido, afirmar se determinado "material" oferecido para exame apresenta
características compatíveis com registros obtidos anteriormente. Na
identificação de vítimas submetidas a ação do fogo, objeto de nosso estudo, o
odontologista forense exerce papel fundamental .
Freqüentemente, são parâmetros odonto-legais que indicam
características individuais, permitindo, através de confronto meticuloso dos
7
registros e comparações de características dentais, o estabelecimento da
identidade humana.
Fogo decorrente de explosões em acidentes de veículos motorizados,
aeronaves, trens, navios e em ambientes fechados causam, recorrentemente, a
perda da vida com queimaduras fatais. Ocasionalmente, vítimas de assassinato
são queimadas com a intenção da destruição das características físicas,
dificultando sua identificação.
O desenvolvimento da técnica para identificação humana física pode ser
classificada, segundo SASSOUNI (1963), em duas categorias. A primeira, diz
respeito ao grupo comparativo. Pertencem a essa categoria técnicas baseadas
na comparação entre dados periciais obtidos e os registros prévios. A
identidade, obtida através de técnicas desse gênero, apresentam um alto grau
de confiabilidade e precisão. No âmbito da Odontologia legal, os modelos dos
arcos dentários, as fichas clínicas odontológicas e os diversos tipos de
radiografias, muito freqüentes no diagnóstico e planejamento de casos,
representam o material a ser confrontado com os dados colhidos no exame
pericial.
A segunda possibilidade de abordagem pericial concentra-se no grupo
reconstrutivo. Nesta categoria não há registro prévio. O objetivo básico das
técnicas que compõem esse grupo é o de investigar, através do material
biológico disponível, a máxima quantidade de informação pertinente à pessoa a
ser identificada: idade, sexo, cor de pele (identidade racial), biótipo, estatura e
características estruturais individuais. Os métodos sugerem possibilidades e
probabilidades, porém não alcançam certeza nos detalhes de identificação.
8
No entanto, em alguns casos, métodos reconstrutivos levam a
resultados tão precisos que permitem o achado de um registro anterior, e o
caso, então, resvala ao grupo comparativo. Com o avanço da ciência da
identificação e o desenvolvimento dos modos de investigação, há uma
inclinação das têcnicas do grupo reconstrutivo em direção ao grupo
comparativo.
Embora observemos a odontologia legal atuando nas técnicas de
identificação comparativas, muitas vezes, através de estudos firmados em
diversas áreas, são possíveis reconstruções com alto grau de precisão no
campo pericial odontológico.
Talvez seja neste contexto que possamos entender melhor o emprego
da microscopia eletrônica nas pericias odonto-legais em corpos carbonizados.
Nos estados de carbonízação extrema, os elementos dentários e os
materiais restauradores, freqüentemente, apresentam-se fragmentados,
dificultando, sobremaneira, a possibilidade do estudo pericial. No entanto,
técnicas microscópicas colaboram na detecção, do tipo e posição de estruturas
e restauraçóes dentais. Alcançada esta "reconstrução", que se caracterizaria
pelo reconhecimento cientifico das transformações sofridas pelas estruturas
odontológicas e materiais restauradores empregados, é que estaremos aptos
ao emprego das técnicas de identificação humana "comparativas".
9
1.1. ASPECTOS HISTÓRICOS
O resgate de aspectos históricos relacionado com a Odontologia Legal,
ainda que breves, nos pareceu importante. É necessário resgatarmos que foi a
partir de um episódio envolvendo um grande número de vitimas carbonizadas
que se evidenciaram as possibilidades de identificação humana através de
parâmetros odonto-legais. A menção de um dos primeiros trabalhos científicos
que trata do tema, é no nosso entender, igualmente, significativo. Por outro
lado, observamos uma carência extrema de registros históricos na literatura
nacional pesquisada .
CLAXTON (1989) relatou que já no século XV, a Odontologia Legal se
fazia presente, mesmo de forma empírica, em casos de identificação. Descreve
dois casos em que dois indivíduos foram identificados pelo tipo de lesão sofrida
(fratura craniana) e pelas características dentais (presença ou ausência de
dentes específicos), entre outras particularidades. Mas foi no final do século
XIX, que a Odontologia Legal adquiriu o reconhecimento cientifico.
Um incêndio num galpão que abrigava um Bazar da Caridade, em Paris,
no dia 4 de maio de 1897, despertou o interesse do médico Oscar Amoedo em
Odontologia Forense. Passou a ser considerado, historicamente, como o
fundador desta área na ciência forense. Segundo os relatos de KEISER
NEILSEN (1984), que apresentam, ao descrever o cenário do incêndio,
exatidão de medidas e precisão no horário dos acontecimentos, o bazar
funcionava em Paris desde 1885 e, em 1897, foi atuante pela décima terceira
vez. O fato aconteceu num galpão retangular de madeira envernizada, de
10
aproximadamente 72 m de comprimento, por 30 m de largura, com cobertura
de papelão alcatroado. Tratava-se da réplica de uma rua medieval parisiense,
com fachadas de casas e lojas e, a cada lado da calçada, recobertas de toldos
de lona. Como atração especial foi instalado um aparelho de projeção ao longo
da galeria, quase em frente a uma das saídas. Por volta das 16h10 da terça
feira de 4 de maio de 1897, eclodiu uma explosão na lâmpada de gâs do
aparelho de projeção, incendiando-se os cortinados à volta e se estendendo á
torração do teto em ambas as direções do bazar. Rapidamente as chamas
tomaram todo o interior. O corpo de bombeiros estava presente e atuante às
16h23, porém o edifício todo desabou por volta das 16h30, matando 126
parisienses. Os relatórios envolvendo as investigações realizadas por
cirurgiões-dentistas nessa tragédia, viriam a cristalizar parte da tese de
doutorado defendida pelo Dr. Oscar Amoedo, em 1898. Portanto, faz um século
que a Odontologia Legal foi observada como especialidade.
O fundador da Odontologia Legal, Oscar Amoedo, nasceu em Cuba, em
1 O de novembro de 1863, tendo estudado na Universidade de Havana.
Freqüentou o New York Dental College, retornando para trabalhar em seu país
em 1888. No ano seguinte, participou como delegado no Congresso
Odontológico Internacional, em Paris, decidindo permanecer e desenvolver sua
vida profissional. Em 1890, iniciou como instrutor clínico da Ecole
Odontotechnique, passando a professor assistente no ano de 1891 e ao grau
de professor titular em 1895, permanecendo na Instituição até 1905. Escreveu
mais de 120 artigos onde abordou diversos aspectos da ciência odontológica,
11
mas ganhou notoriedade por suas publicações no âmbito da odontologia
forense.
Homem extrovertido e um professor eloqüente, falava espanhol, francês
e inglês, fluentemente. Participou de 57 congressos profissionais por todo o
mundo e sua última publicação data do inicio de 1936, quando tinha 72 anos.
Morreu em sua casa, em setembro de 1945 (KEISER-NIELSEN, 1984).
O próprio Oscar Amoedo, cinco anos após sua tese (1903), publica o
trabalho "Estudo de dentes pós-morte sob um ponto de vista médico legal". No
inicio deste século, pela primeira vez, de forma sistematizada, há uma
publicação num periódico, ressaltando a importância dos estudos odonto-legais
para a identificação humana. Trata-se, portanto, de trabalho pioneiro. Embora a
Odontologia Legal, enquanto ciência, tenha evoluído ao longo do século,
verifica-se que observações fundamentais já constavam deste estudo. O autor
relata:
"As mudanças as quais os dentes são submetidos após morte não tem
sido objeto de estudos especiais. Sua extrema densidade confere-lhes uma
durabilidade que é quase indefinida, embora, sob certas condições, os dentes
sofram certas mudanças de natureza similar às do tecido ósseo. Orfila e
Lesueur afirmam que o sistema ósseo pode apresentar, depois de sepultado,
sob condições variáveis de temperatura, umidade e ventilação, as seguintes
mudanças: os ossos podem ser submetidos a trocas pouco significativas
mesmo após centenas de anos, como tem sido mostrado pelo esqueleto do Rei
Dagobert, o qual depois de 1200 anos foi encontrado em St. Denis quase
inalterado. Deve ser dito, entretanto, que este foi encontrado dentro de um
12
caixão, o qual em volta estava protegido por uma parede de rocha. As outras
possibilidades seriam os fenômenos da saponificação e da mumificação."
Preocupa-se com o posicionamento do elemento dentário, até então
pouco estudado, afirmando que: "No caso de individuas jovens, quando os
tecidos moles têm sido destruidos, os dentes parecem vir para fora de seus
alvéolos. Como as raizes são submetidas a processos de absorção, não
podem reter os dentes em posição. Dentes que possuem uma única raiz cônica
são também passíveis de serem desalojados após a destruição dos tecidos
moles. Em resumo, especialmente nos crânios de indivíduos jovens e velhos,
os dentes são facilmente desalojados por causa de suas posições anatômicas".
Discute de fonma interessante e cuidadosa a respeito do tempo em que
os dentes podem ser preservados após a morte e aponta investigações
arqueológicas importantes. Observa que, em um número considerável de anos,
os dentes não apresentam quaisquer modificações post-mortem e que seu
grau de resistência, assim como do tecido ósseo, depende da idade, da
constituição do indivíduo e da temperatura a qual é submetido, sendo que
estas condições podem retardar ou acelerar a destruição dos dentes.
Neste estudo, analisa a carbonização como uma causa para a rápida
deterioração ou completa destruição dos dentes, e diz que, observações feitas
sobre corpos depois do incêndio do Teatro Ring, de Viena, em 1881, da Ópera
Comique em Paris, em 1887 e de Charité Baznar (Bazar de Caridade), do qual
participou como perito, apontaram que os dentes foram melhores preservados
do que outras partes do corpo, em razão da posição e proteção oferecida pelas
condições das estruturas anatômicas locais. Relata: "as altas temperaturas as
13
quais os corpos são submetidos torna-se extremamente difícil identificá-los, e
as peculiaridades dos dentes são de grande ajuda na identificação dos corpos."
Cita, especificamente, Hoffman, que estudou os efeitos das altas temperaturas
nos corpos encontrados após o incêndio do teatro Ring, observando que os
dentes apresentavam a forma e aparência de projeções pequenas, friáveis e
esbranquiçadas, que foram prontamente deslocadas de seus alvéolos.
Freqüentemente, os dentes tinham preservado suas formas, embora o crânio
tenha sido carbonizado. Assinala que algumas vezes é difícil identificar corpos
através dos dentes porque podem submeter-se a certas mudanças, quando em
contato com altas temperaturas, o autor conclui:
"Dentes que tinham manchas pretas sobre suas superfícies antes do
acidente ficaram brancas depois do incêndio; esta mudança ocasionou-se
pelos efeitos da calcinação."
Talvez, os estudos de Oscar Amoedo, nos coloque diante de uma
questão científica de alguma importância: os fenômenos que ocorrem
atualmente, envolvendo vítimas de carbonização, diferem dos ocorridos no
Bazar de Paris?
14
2. REVISÃO DA LITERATURA
A publicação de trabalhos científicos relacionados com o estudo de
vítimas atingidas por fogo apresentam, em maioria, concentração nos relatos
de casos realizados a partir de acidentes coletivos. Embora as situações que
envolvam a carbonização de corpos humanos sejam inúmeras, como os
acidentes domésticos, automobilísticos ou a tentativa de se dificultar a
identificação da vítima de morte criminosa, são os chamados "acidentes de
massa", como os desastres aéreos, exemplos aonde a identificação de
dezenas de vítimas carbonizadas está envolvida, que concentram os estudos
sobre o tema.
A referência bibliográfica foi ordenada, extraindo-se dos trabalhos
pesquísados aspectos de interesse pericial para o odonto-legista, agrupando
os em seqüência.
15
2.1. ASPECTOS PSICOLÓGICOS
A consideração de aspectos emocionais, desencadeados pelo quadro de
comoção que os desastres ou acidentes envolvendo corpos, é preocupação de
alguns autores. O papel do perito pode ser entendido como uma complexa
interação entre o ambiente, a tarefa desgastante do ato pericial, competência
profissional, defesas emocionais diante das circunstâncias e a necessidade de
prosseguir a atividade dentro de uma situação emocionalmente delicada.
TAYLOR & FRAZER (1982). JOANES (1985), recomenda a participação de
peritos mais velhos, que tenham mais experiência pessoal nos trabalhos
envolvendo estes tipos de desastres, como forma de propiciar um suporte
emocional aos peritos mais jovens e inexperientes. Programas de treinamento,
que discutam os aspectos emocionais para profissionais envolvidos no trabalho
pericial nas catástrofes envolvendo carbonização de corpos são indicados por
COHEN (1980). O planejamento de abordagem nos acidentes de massa
incluem, no entender de HOLLANDER (1987), uma "disposição pessoal" para
se realizar o melhor possível, utilizando os recursos disponíveis e o plano para
ordenar a identificação de um grande número de vítimas.
16
2.2. OLOCAL
"'O local do acidente deverá ser considerado como a cena de um crime".
GUSTAFSON (1966)
Trata-se de uma colocação que nos parece sintetizar, com propriedade,
a forma como o perito deve orientar sua postura no exame; a atenção para os
detalhes, a observação das circunstâncias que o cercam, a meticulosidade
para com os elementos que podem se constituir em parâmetros de
comparação são fundamentais para adequado desenvolvimento da perícia.
Na mesma linha de racioclnio, ressaltando aspectos de uma
carbonização, HILL (1989), afirma: "os diversos tipos de cena requerem
vigilância e atenção com os detalhes, mas em se tratando de incêndios são
mais difíceis as conclusões lógicas, porque muitas das evidências são
destruídas." Este grau de dificuldade implica, necessariamente, em condutas
periciais especificas, relacionadas com a Odontologia Legal.
Referindo-se a um simples mas absolutamente vital procedimento na
organização dos acidentes de massa, mas que acreditamos deva ser estendido
a todas as perícias, DOYLE E BOLSTER (1985), indicam a utilização de uma
etiqueta de registro do corpo. Esta deve estar finmemente presa e quando
possuir apenas o número de identificação, o material de confecção do registro,
preferencialmente, deve ser impermeável.
17
Não raramente, estruturas importantes do ponto de vista pericial, em
razão do acidente, trauma ou de manipulação inadequada, podem ser
encontradas próximas ao corpo. Os elementos dentários de corpos
carbonizados se desprendem dos alvéolos com maior facilidade do que em
outras circunstâncias, e podem ser encontrados próximos à cabeça. A conduta
pericial adequada é que os restos mortais e detritos á volta da vítima sejam,
além de rotulados, transportados em sacos á parte, DAILEY(1991).
O corpo deverá ser transportado em sacos de vinil para os devidos
exames. O saco pode ser identificado por meio de etiquetas, como já descrito,
ou com tinta branca do tipo spray. Especificando esta forma de conduta para a
região anatômica de maior interesse odonto-legal, BARSLEY (1985), indica a
aplicação de um saco plástico envolvendo a cabeça da vítima, amarrado por
fitas elásticas, evitando a perda de restaurações ou próteses ao longo do
transporte. Contempla, assim, a preocupação de outros autores como A YTON
(1985), que afirma: "Os dentes e outros órgãos são passíveis de se
fragmentarem facilmente, inutilizando-se durante o percurso."
Porém, antes da aplicação descrita, o corpo deverá ser examinado no
local para verificar-se os danos da arcada dentária, anotando-se os tecidos
danificados. Este procedimento ajuda na localização de fragmentos à volta do
corpo, que segundo ECKERT (1981), podem ser:
• Estruturas anatômicas: partes dos ossos da mandíbula e maxila.
• Elementos dentários: dentes avulcionados.
• Restaurações: obturações, coroas e incrustações.
18
• Trabalhos protéticos: próteses removlveis, aparelhos ortodônticos,
próteses totais ou parciais provisórias.
Esta atenção para com o local de encontro dos corpos é especialmente
importante para o desenvolvimento adequado da perícia odonto-legaL Nos
desastres de massa, em face do grande número de vitimas envolvidas, a
preocupação com estes cuidados deve aumentar.
Entendido como um acidente envolvendo múltiplas fatalidades de tal
magnitude, que requer especial direcionamento e atenção nos arranjos para
sua resolução (BUSUTTIL e JAMES, 1990), os desastres de massa, ou
também chamados desastres coletivos, apresentam muitas vezes o
envolvimento de explosões e/ou incêndios: é o caso dos acidentes aéreos,
recorrentemente citados na literatura.
O Instituto de Tecnologia de Cransfield investigou acidentes aéreos
entre 1955 e 1979, descobrindo que em mais de 60% dos acidentes a média
de fatalidades foi causada por emanações de gás ou fumo e o contato com o
fogo. Os fumos (vapores, fumaças) produzidos dentro de uma aeronave
incendiada podem incapacitar os passageiros em 30 segundos, e uma
pequena labareda pode atear fogo rapidamente em qualquer superfície
plástica. VALLE (1987).
A explosão e o conseqüente incêndio, no caso das aeronaves, podem
ocorrer no ar ou no momento do impacto.
MOODY (1994), relatando as dimensões da queda de um avião DC-10 a
pouco menos de 3.600 m de altura, ressalta que o Impacto da explosão causou
19
uma cratera de 90 m de diâmetro e 9 m de profundidade. Foi registrado, por
uma estação geológica a 24 km de distância do acidente, 1.5 na escala de
Richter.
Assinalando o propósito da investigação pericial médica nos acidentes
aéreos, MANSON (1984), coloca as seguintes preocupações:
• Identificação da causa morte de cada pessoa
• Identificação dos corpos
• Identificação das causas do acidente
No tocante a pressupostos, apontados por diversos autores como
essenciais, nos acidentes de massa envolvendo perícias de identificação
humana podemos destacar:
• A necessidade de um protocolo de necropsia padronizado. BRINKMANN et
a/. (1994)
• A adoção de um sistema internacional de descrição das necropsias, como o
sugerido pela lnterpol, mas ainda não adotado plenamente. MARTINI
(1988).
• A criação, em cada país, de uma comissão de identificação que possa ser
acionada nos desastres de massa e nos casos que apresentem uma
particular dificuldade. CECCHI et ai. (1997).
Uma lista nacional ou até internacional deveria ser colhida, oficialmente,
com um número de técnicos em desastres, que, dependendo da extensão,
local e gravidade, seja capaz de deixar o trabalho rotineiro por um período para
20
dedicar-se completamente, por dias ou semanas, nesta tarefa,
excepcionalmente, necessária e fascinante, TIMPERMAN (1991).
2.3. ASPECTOS DE UM INCÊNDIO
Diferentemente de um acidente aéreo em que há disponível uma lista de
pessoas desaparecidas, existem situações aonde não se conta ~om uma
referência das vítimas e o trabalho pericial de identificação se torna mais difícil
(SIVALOGANATHAN, 1989), e, portanto, todas as informações que se
relacionam com a natureza do incêndio colocam-se como elementos
importantes.
Didaticamente, KATZ e COTTONE (1988), ensinam que as locações de
incêndios letais podem ser divididas, como segue:
Locações externas.
• Acidentes naturais, tremores de terra, incêndios florestais, etc,
• Acidentes em subsolo, cavernas, minas e abrigos.
• Fogo disseminado entre agrupamentos de pessoas, como corridas de carro,
locações turísticas e stands.
21
Locações internas.
• Residências, escritórios, anexos, hospitais e enfermarias, dormitórios,
cárceres ou nightc/ubs.
PURVES (1975), relata alguns dos fenômenos ocorridos num incêndio
experimental, realizado no Canadá, na cidade de Ontario, em uma residência
de dois pavimentos. Verificou-se o tempo de 42 minutos para chegar-se à
máxima temperatura; 1.274' C no andar térreo, sendo que no mesmo momento
a temperatura do segundo andar não superou os 232' C. Quando o teto
desabou, a temperatura do 2' andar elevou-se a 1.004' C, porém caiu a 870'C
três minutos depois.
Em outra experiência, procurando reproduzir situações que cercam
um incêndio, 1 litro de gasolina foi derramado em um dos cabos do farol de um
carro, desenvolveu-se rápida e intensa chama, observando-se uma
temperatura de 822' C em seu interior.
Estas diversas circunstâncias, o modo de incidência e as variações de
temperaturas apresentam efeitos correspondentes no corpo humano. Assim é
que alterações corpóreas ocorridas em desastres podem estar relacionadas
com a exposiçiio, ainda que por instantes, a altas temperaturas, como nos
desastres naturais (raios e erupçoes vulcânicas). No entanto, temperaturas,
comparativamente, mais baixas também causam sérias conseqüências.
A perda da consciência e a morte podem ocorrer depois de poucos
minutos de exposiçiio a 100° C. MORITZ (1974); HENRIQUES (1974).
22
Temperaturas acima de 200° C causam um colapso na circulação
periférica. Nestes casos, o colapso pode ser súbito e, dependendo do cenário
do incêndio, pode ocorrer antes pela inalação de alguma fumaça tóxica (HILL
et ai., 1988).
No sentido de auxiliar a descrição nos laudos e relatórios post-mortem,
GORDON ( 1982), apresenta a classificação de "Wilson" dos tipos de
queimaduras que podem ser encontradas durante o exame periciaL Assim,
teríamos:
• Tipo I - Queimaduras na epiderme
• Tipo 11- Queimaduras dermO»epitelial
• Tipo 111- Queimaduras profundas
Esta classificação é útil ao perito nas descrições em laudos e relatórios.
Os autores assínalam como um fenômeno que deve ser observado e
descrito pelo perito em seu laudo, a chamada "postura de pugilista". No
entanto, explicam de modo diferente seu mecanismo. GRESHAM (1975),
DUNNE & MCMEEKIN (1977), a descrevem como o resultado da grande força
que os músculos flexores têm quando comparados com os extensores, e deve
ser observada, presumidamente, como uma tentativa de auto-proteção.
Esta postura, no entender de RATHBUN e BUIKSTRA (1984), braços
para cima e punhos fechados em posição defensiva, é causada pela
coagulação e encolhimento dos músculos localizados na porção maior dos
músculos flexores. Na mesma linha, estudando os danos ao corpo humano
23
adulto, após exposição a uma temperatura de 680'C, RICHARDS (1977),
descreve as fases de destruição, indicando a seguinte seqüência:
• Braços após 1 O minutos.
• Pernas após 14 minutos.
• Ossos da face e dos braços expostos, após 15 minutos.
• Costelas e crânio após 20 minutos.
• Tlbia (exposta) após 25 minutos.
• Coxas e fêmur completamente carbonizados após 35 minutos.
Verificaremos que os dentes apresentam uma reação particular à
temperatura, quando comparados a outros órgãos.
2.4. ASPECTOS ODONTO-LEGAIS
AFRÂNIO PEIXOTO (1936), no prefácio do primeiro volume de seu livro
destinado à Medicina Forense, observa, em caráter de advertência, que a
Medicina Legal - entendemos que o conceito possa ser estendido à
Odontologia Legal -, não é ciência autônoma, no sentido exato do termo, mas
um conjunto de aquisições oriundas de várias disciplinas, com propósito
determinado: possibilitar ao perito, pautado no conhecimento prático e nas
observações experimentadas, dizer à justiça, sem subterfúgio, a sua opinião.
24
No exame dos arcos dentários, a odontologia legal utiliza-se de
conhecimentos e técnicas de outras especialidades odontológicas.
O pobre estado de conservação e a incompleta presença dos tecidos
remanescentes são problemas comuns para a equipe pericial {SADA &
ARROYO, 1985). O grau de dificuldade para se estabelecer a identificação
aumenta com a diminuição das informações periciais, no entanto, o perito deve
estar atento para que, mesmo num quadro pericial aparentemente
desfavorável, o emprego de técnicas periciais mais simples não seja
esquecido, sob pena de saltar uma etapa que resolveria a questão de forma
adequada {CURTIS et a/. 1990). A este propósito, BERNSTEIN (1993),
assinala que as perícias podem se complicar desnecessariamente quando toda
a recomendação, precaução, prejuízo e técnica esporádica se transformam em
doutrina, gerando uma norma que é insustentável e excede o que é realmente
necessário para a obtenção das conclusões.
Por conseguinte, os meios e os métodos habitualmente empregados e
cientificamente aprovados devem preceder técnicas ainda em
desenvolvimento.
SOPHER (1972; 1976), estudando os métodos científicos de
identificação humana, reconhece a Odontologia Legal ao lado da Medicina
Legal, destacando a seguinte seqüência:
• Datiloscopia,
• Parâmetros odonto-legais e médico-legais,
• Exame do esqueleto,
25
• Investigações sorológicas,
• Estudos tricológicos (pêlos),
• Identificação por exclusão.
Os trabalhos científicos ressaltam o relevante papel da especialidade em
determinados tipos de acidentes, especialmente nas carbonizações.
No entender de MERLI (1984), os acidentes que envolvem mutilações
e/ou carbonizações de corpos devem ter os parâmetros odonto-legais como o
primeiro critério de identificação.
Referindo-se às identificações realizadas em vítimas carbonizadas
envolvendo um acidente aéreo, MOODY (1994), relata que os principais
métodos utilizados foram a Odontologia Legal e a impressão digital, posto que
apresentam uma similaridade essencial: "os registros ante-mortem são obtidos
e comparados com o post-mortem. Quando há encontro de evidências a
identidade está estabelecida".
Nas últimas quatro décadas, os estudos odonto-legais têm sido
reconhecidos como o mais confiável método de identificação (GLADFELTER e
SMITH, 1989; CLARK, 1994), com resultados tão exatos quanto os obtidos
através da papíloscopía (PHILLIPS, 1993). Esta interessante comparaçao entre
o método considerado como o de eleiçao (posto que preenche plenamente os
requisitos técnicos e biológicos) e as técnicas odonto-legaís é compartilhada
por diversos autores. Quando se referem às vitimas de carbonização, afirmam
que o alto índice de identificaçao por parâmetros odonto-legais, no caso de
incêndios, são correspondentes aos das identificações através das impressões
26
digitais em outros acidentes de massa. (CAIRNS ela/., 1981; AYTON, 1985;
CLARK, 1986; VALE, 1987 e HILL, 1988).
Na atualidade, o auxílio prestado pela Odontologia Legal no processo de
identificação humana não se limita apenas ao reconhecimento de trabalhos
protéticos, com o fim de determinar a identidade fisica de um cadáver
irreconhecivel ou esqueleto. Hoje, o singelo e duvidoso reconhecimento cedeu
lugar ao complexo, cientifico e seguro processo de identificação odonto-legal,
SOUZA LIMA (1996).
ANDERSEN e COL. (1995), em estudo retrospectivo analisando a
potencialidade das evidências odonto-legais em 292 casos de vitimas de
incêndio carbonizadas, registradas em quatro centros de odontologia forense
na Europa, sendo dois na Alemanha (Aarhus e Copenhagen), um na Noroega
(Oslo) e o outro na Escandinavia (Goteborg), no período compreendido entre
1981 a 1991, comparando as informações ante-mortem (AM) com as post
mortem (PM), verificou o estabelecimento da identidade por parâmetros dentais
(ID) diretamente em 61% das vitimas e a colaboração em outros 31%- (ID)
possivel19%; 10 provável (12%).
Os registros post-mortem do material oferecido para exame foram
classificados após a determinação do tipo do acidente (automobilístico,
residenciais, aéreos, etc.) em 6 categorias, dependendo das injúrias
provocadas pelo fogo nos dentes e/ou na maxila e mandíbula:
• 0: sem injúrias
• 1: injúria nos dentes anteriores (superiores e/ou inferiores)
27
• 2: injúrias nos dentes anteriores e posteriores, unilateralmente
(superiores e/ou inferiores)
• 3: injúrias nos dentes anteriores e posteriores, bilateralmente
(superiores e/ou inferiores)
• 4: fragmentos ósseos incluindo dentes e/ou raizes
• 5: sem evidências odontológicas
Estas referências podem ser adotadas pelo odonto-legista como uma
complementação da descrição do quadro clinico.
A identificação por parâmetros odontológicos evidencia inúmeras
combinações de restaurações, próteses, dentes perdidos e cãrie envolvendo
160 superfícies visíveis ao exame oral. Soma-se à forma das restaurações,
terapêuticas endodônticas, características anatômicas dos dentes e dos tecidos
periodontais, além do exame radiográfico odontológico (SOPHER, 1972), razão
pela qual os registros precisos quanto à dentição antes da morte são de suma
importância.
DARUGE (1978), quando fala sobre Antropologia Forense, orientando
sobre a classificação das perícias, destaca as realizadas no esqueleto, que
teriam por objetivo a identificação das peças ósseas e os dentes,
particularizando-os como importantes elementos de estudo na identificação
humana.
Modelos podem ser de grande utilidade em comparações nos registros
ante e pós-morte. Com a ficha cllnica post-mortem, fotografias, modelos e
28
radiografias, o odonto-legista pode melhor avaliar as seguintes características
descritas por MERTZ (1977):
• Restaurações e lesões por cáries
• Número de dentes presentes
• Radiografias "períapicais" - fornecerão maiores informações sobre
incrustações, coroas, pontes, tratamentos endodônticos, implantes, o
quadro periodontal, fraturas ou outras condições patológicas.
As fotografias representam uma fonte de informação importante. LUNTZ
(1967), aponta que são freqüentes as situações nas quais as fotos da suposta
vítima é exibida, destacando-se os dentes anteriores e, dependendo das
condições de iluminação, características individuais, como restaurações
anteriores podem ser observadas.
São tomadas fotos para indicar a posição dos lábios e língua. A língua
pode ser removida antes ou comprimida na cavidade oraL Os dentes anteriores
são higienizados cuidadosamente com escova dental, ou com outros
instrumentos, e fotografados. O preenchimento da ficha clínica dos dentes,
internacionalmente reconhecida, deve completar-se neste estágio, porquanto
podem fragmentar-se facilmente a qualquer pequena manipulação,
(BUCHNER, 1985).
Segundo BRINKMANN ( 1994), deverão ser tomadas as seguintes fotos:
1. Face total
2. Dentes anteriores em oclusão
29
3< Vista da região bucal. esquerda e direita, dos dentes em oclusão
4< Vista oclusal maxilar e mandibular
5< Fotos bem nítidas (c/ose-ups) de qualquer característica especial, como
coroas, pontes, torus, diastema e oclusões imperfeitas< O número de
identificação e escala deverão estar em posição adequada em cada foto<
RADIOLOGIA
DARUGE (1965), analisou radiografias cefalométricas em norma lateral,
constatou, no estudo de Antropologia Física. que a região anatômica facial
fornece importantes informações periciais<
Deverá ser investigado, íunto à família da vítima e ao médico, sobre
radiografias tiradas da área antero-posterior e parte lateral do crânio, bastante
freqüentes nos casos de fraturas por acidentes ou sinusites< As áreas frontais
afetadas pela sinusite são consideradas excelentes para uma comparação<
PAIVA (199n
O estudo das radiografias com finalidade de identificação humana é
campo de atuação da Radiologia e Antropologia Forense, estando o assunto
bem estabelecido em diversos trabalhos científicos em ambas especialidades<
MARLIN e CLARK (1991), DAILEY (1991).
O Exame radiográfico vem se constituindo, no entender de vários
autores, num método rápido, efetivo e econômico na identíficação de vitimas<
(MORGAN & HARRIS 1953; NOSSINTCHOUK, 1991; VILLA et ar, 1990)<
30
Nos casos de incêndio, severa decomposição ou mutilações, a
identificação através de radiografias assume importância predominante.
UBELAKER (1990), SANDERS el a/. (1972), MARTEL e WICKS (1977),
podendo representar o único meio de se obter informaçaes anatômicas do
esqueleto passíveis de serem comparadas. (MULLIGAN et a/., 1988,
SCHMIDT, 1982, MURPHY, 1980).
A propósito da importância do estudo interpretativo dos exames
radiográficos, HOGGE (1994) constituiu três grupos distintos, entre
profissionais, para análise de casos de identificação forense. O grupo I,
formado por técnicos em radiologia, obteve 84,3% de margem de acerto; o
grupo 11, composto por médicos residentes em clinica geral, 91,5% de acerto; e
o grupo três, que contava com médicos residentes em Radiologia, obteve o
maior índice de acerto, 94, 7%. Estes resultados confirmam a validade da
identificação através das radiografias, quando as comparaçoes são viáveis, no
entanto, o autor assinala a necessidade de treinamento específico para a
interpretação radiológica forense.
Freqüentemente, são necessárias radiografias intra orais para se
estabelecer a identidade, especialmente quando pessoas de diversas
nacionalidades estão envolvidas, KULLMAN et a/. 1993.
Mostrando a importância da Odontologia Legal, ao dividir o processo de
investigação em 11 fases, SIVALOGANATHAN et a/. (1989), relata que os
primeiros exames realizados nos institutos devem ser o odontológico e o
radiográfico. Assim, teríamos, após a localização e anotação da posição de
cada corpo no local, a seguinte seqüência.
31
1. Fotografia de cada corpo em sua devida posição
2. Transporte dos corpos para estocagem
3. Exames dentais e radiologia
4. Recuperação das roupas e pertences
5. Exames pós-morte
6. Radiologia
7. Coleta de amostras para fins toxicológicos e sorológicos
8. Identificação
9. Identificação da causa-mortis
1 O. Reconstituição do acidente
2.5. EXAME DOS ARCOS DENTÁRIOS
A Odontologia Forense é um campo de atuação importante para o perito,
no capítulo da identificação humana, (KA TZ e COTTONE, 1988), sendo que os
dentes podem fornecer informações decisivas para a identificação humana
(HALIK, 1991).
O trabalho pericial é tarefa de uma equipe multidisciplinar devendo, nos
casos de identificação humana, compreender o médico-legista e o odonto
legista (HOOFT et a/. 1989).
32
BOTHA, num consistente trabalho científico, realizado em 1985, explica
que por ocasião da chegada do corpo ao centro para os devidos exames, o
médico-legista e o odonto-legista deverão estar presentes na abertura dos
sacos e seu conteúdo deverá ser examinado. Os vestuários e pertences
pessoais devem ser rigorosamente numerados, rotulados e ensacados. É
importante a tomada de radiografias da cabeça, pescoço e troncos. São
necessárias, também, radiografias laterais e antero-posterior para localizar
fraturas e projéteis. O exame da cabeça e pescoço será melhor analisado em
conjunto pela área médica e odontológica. Afirma o autor, que a avaliação
correta de um tipo de fratura pode ser decisiva, num diagnóstico diferencial
entre um assassínato ou acidente.
Portanto, a identificação deve ficar a cargo de uma equipe. É importante
que o odonto-legista não trabalhe isoladamente. No entanto, existem
procedimentos inerentes ao campo de atividade da Odontologia Forense, é o
caso, quando indicado, da remoção da maxila e da mandíbula para estudos
posteriores ou no aguardo de informações para confronto, MORITZ e
HENRIQUES (1974), descrevem a técnica:
"A mandíbula pode ser removida cortando-se a ramo ascendente com
serra apropriada (striker saw). O corte deve ser feito em sentido paralelo ao
plano oclusal, bem acima das coroas em vítimas adultas. As maxilas são
removidas por meio de serra (saw cuf), paralelamente ao plano oclusal ao nível
inferior do nariz. Este procedimento previne a destruição de características
valiosas como a área superior do terceiro molar. Em crianças, é melhor
remover os ossos da mandíbula e maxilar juntamente com o assoalho das
33
órbitas, a fim de não danificar os molares superiores, situados junto à esta
área". Claro está que esta técnica, quando utilizada, deve ser precedida por
uma seqüência de procedimentos e cuidados revistos neste caprtulo.
Nos corpos bastante carbonizados, o lábio superior freqUentemente
apresenta-se contraído para cima e o lábio inferior para baixo, com a língua
alongando-se para entre os dentes. Em vitimas de incêndio, o gás alojado nos
intestinos, estômago e pulmões pode causar o alongamento da língua, que
resulta em alguma proteção para os dentes. Após a remoção da língua
coagulada, as marcas das coroas dos elementos dentários ficam patentes,
HARVEY (1976).
O registro adequado do quadro clínico odontológico é essencial para a
identificação, MOODY (1994). Em razão da diversidade de tipos de registros,
vários são os autores que recomendam que a descrição dental deva seguir
uma padronização internacional.
Existem cerca de 15 tipos diferentes de nomenclaturas para designar os
elementos dentários (ROBERTII, 1993 e UMANI, 1993), porém, desde 1970, a
Federação Dentária Internacional recomenda o uso do sistema de dois dígitos
que é utilizado, atualmente, pelos palses associados ã lnterpol, ENDRIS (1979;
1982), MARTINI (1988).
O odonto-legista precisa ser bastante meticuloso no confronto dos
registros e comparações das características dentais e sempre muito consciente
dos efeitos que o fogo possa causar nos vários tipos de restaurações dentais.
Alguns autores propoem que estes registros sejam comparados através de um
programa de computador.
34
KEISER-NIELSEN (1983), propôs um método para o estabelecimento da
identidade humana, através de comparação dos dados dentais antes e post
mottem, codificados no computador por seis digitas. Os dois primeiros digitas
designam e individualizam os dentes; os próximos dois digitas descrevem as
faces ou combinações de faces envolvidas e os últimos dois digitas
transcrevem o tratamento e o tipo de material utilizado. A comparação pelo
computador possibilita uma simplificação do processo, principalmente quando
está envolvido um número razoavelmente grande de individuas a serem
identificados.
LORTON & LANGLEY (1986), esboçaram a utilização de um sistema de
computador para auxiliar na identificação post-mortem, através dos elementos
dentários. Os autores simularam um processo de identificação com quinhentos
e setenta e oito registros dentais distintos (578 pessoas), em que o sistema
seleciona grupos a partir de quatro ou mais caracteristicas semelhantes (cada
obturação ou dente ausente).
Os registros odontológicos durante o ato pericial, nas vitimas de
carbonização, sejam eles realizados em ficha clinica ou através de um sistema
de computador, incluem o registro dos diversos materiais restauradores
utilizados na Odontologia. A forma de reação, frente ao calor, de alguns desses
materiais foram estudados.
BOTHA (1986), realizou estudo experimental em molares restaurados
com "P-30" e "Occlusin" (nomes comerciais de resinas compostas) à uma
temperatura de 900"C, por 1 ,5 h, em forno crematório. O resultado indicou
destruição quase completa dos dentes, mas as restaurações permaneciam
35
praticamente inalteradas. O "P-30", aquecido a uma temperatura entre 815'C e
900'C, por 1 ,5 h, alterou sua cor de amarelo esbranquiçado para uma cor
cinza-pálido.
O dente restaurado com "Occlusion", em teste similar, alterou a cor de
amarelo esbranquiçado para a tonalidade branca. Assim, estas restaurações
que permaneceram, no que diz respeito à forma e tamanho, inalteradas, podem
indicar dados excelentes para a identificação se os registros anteriores
mencionarem o tipo de material utilizado.
O material base para aplicação em próteses polimeriza-se entre 70 e
100° C (TAMAKI, 1977) e despolimeriza-se no processo Monômero a uma
temperatura de 450' C. No entanto, a resina polimerizada queima em baixas
temperaturas, se em contato direto com a chama.
No caso da prótese não ser encontrada na boca da vitima, é importante
verificar, junto à família, se não foi deixada na própria residência. Por outro
lado, próteses totais ou removlveis podem alojar-se na faringe, laringe, traquéia
ou brônquios.
As ligas metálicas, muito utilizadas em odontologia, apresentam a
temperatura de fusão mlnima conhecida, para os tipos de liga-ouro I a IV, varia
entre 870'C a 1.070'C, dependendo da porcentagem de metal nobre presente.
A liga metàlica utilizada em próteses parciais fundem-se entre 1.275'C
a 1.500'C. Trabalhos experimentais indicaram, segundo BOTHA (1986), que
próteses parciais em liga de cromo-cobalto submetidas à temperatura de
900'C, no espaço de 1,5 h, resultaram em uma superfície de aparência opaca,
sem no entanto alterar sua forma.
36
A temperatura na fusão de ligas de metais nobres varia entre 1.150'C a
1.450'C. A fusão das porcelanas dentais oscilam entre 870'C a 1.370'C.
CRAIG (1985). Estes trabalhos experimentais demonstraram que próteses em
porcelana não sofrem qualquer dano quando expostas em forno crematório a
900'C, pelo espaço de 1,5 h.
Nas restaurações de amálgama, gotas de mercúrio podem aflorar e
serem absorvidas em restaurações a ouro, mascarando suas verdadeiras
características. CARReta/. (1986).
A inclusão de micro-fragmentos de cerâmica com alta resistência ao
calor em restaurações de amálgama têm sido testadas e defendidas por muitos
autores como forma de conservar uma informação pericial importante, posto
que o amálgama é um material restaurador largamente utilizado em
odontologia, WILSON e KOLBINSON (1983).
As temperaturas atingidas pelos dentes são altamente variáveis,
dependendo do tipo e local do incêndio, da natureza dos elementos envolvidos,
sua correspondente combustão e da localização em relação ao foco do
incêndio, que concentra as temperaturas mais altas, FAIRGRIEVE (1994).
Esmalte
O tecido mais duro do corpo humano reveste a coroa dos dentes, mais
precisamente a dentina, relembrarmos sua composição, auxilia-nos no
entendimento dos fenômenos térmicos. Trata-se de um tecido, segundo
37
COSTACURTA (1979), avascular, de cor branca, cinza azulado, ou amarelado,
devido à dentina subjacente; sua fração inorgânica é de 92% a 96%,
representada por sais de cálcio e fósforo (Apatita - sendo a hidroxiapatita o
principal componente). A traçao orgânica é igual 1 a 2%, a água numa taxa de
3a4%.
O esmalte, tecido derivado do ectoderme, é a estrutura mais rica em
cálcio. Forma uma capa protetora de espessura variável sobre a superfície total
da coroa.
A espessura é máxima ao nível das cúspides de dentes maiores e pré
molares e das bordas incisais dos dentes anteriores (2 mm nos incisivos, 2,5
mm nos caninos e 3 mm nos pré-molares). Nas regiões dos sulcos e fóssulas a
espessura é de 1 mm. Ao nível do colo, o esmalte atinge a sua menor
espessura- 0,5 mm.
Estudando a composição de esmalte (cinza), (LEFEVRE, 1937), há,
aproximadamente, em 100 gr.: cálcio = 36,1 gr, fósforo = 17, 3 gr., anidrido
carbônico = 3,0 gr., magnésio= 1 ,O gr, sódio = 1 ,O gr., fluor = 0,016 gr. e mais
os seguintes componentes em quantidades mínimas: potássio, cloretos,
enxofre, cobre, silício, ferro e zinco.
A dureza do esmalte é maior à medida que se afasta da dentina. Na
escala de Mohss, o esmalte se encontra na faixa entre 5 e 8. A densidade do
esmalte diminui da superfície externa do dente para o limite amelo-dentinário
(LAD). A densidade diminui centripitamente. É maior nos incisivos superiores,
menor nos pré-molares e nos incisivos inferiores, OSBORN e CATE (1988).
38
Dentina e Cemento
Sua fração inorgânica, descrita por KUCHINSKI (1988), apresenta 70%
de sais de cálcio e fósforo na forma de cristais de hidroxiapatita - Ca10 (P04)6
(OH)z, e a fração orgânica é igual a 18%, sendo representada por
glicoprotelnas e colágeno. A água se faz presente numa taxa de 12%.
A dentina constitui o corpo dental e reproduz a forma de cada tipo de
dente. Sua espessura, que varia conforme cada dente, é de 1, 5 a 3 mm nas
regiões mais espessas (cúspides e bordas incisais) e muito delgada na região
do ápice.
A dentina é mais mole que o esmalte, devido ser menos mineralizada. A
composição qulmica da dentina é representada, segundo LEFEVRE (1937),
por:
• Substâncias inorgânicas- aproximadamente 69,3%
• Substâncias orgânicas- aproximadamente 17,5%
• Água- aproximadamente 13,2%
Em 100 gr. de dentina (cinza)- tem-se, aproximadamente: Cálcio= 35,3
gr., Fósforo= 17,1 gr., Anidrido Carbônico= 4,0 gr, Magnésio= 1,2 gr., Flúor =
0,01 gr. e mais os seguintes componentes, em quantidades mlnimas: sódio,
enxofre, potássio, cloretos, prata, cobre, estrôncio, bário, cromo, zinco,
39
manganês, níquel e vanádío. Com relação aos componentes orgânicos, 93%
(dos 17,5%) são representados pelo colágeno e outros compostos orgânicos.
A porção inorgânica da dentina é composta por fosfato de cálcio,
associado a carbonatos e cloretos de cálcio, magnésio sódio e outros.
Constituem, na realidade, cristais de hidroxiapatita.
Estes tecidos são normalmente protegidos por esmalte, porém há
rupturas multidirecionais, quase atingindo a polpa dentária e podem
desenvolver-se a uma temperatura de 400°C, HARVEY, 1976.
O cemento reveste a raiz anatõmica dos dentes e apresenta cor
amarelo-esbranquiçada, mais clara que a da dentina. A sua dureza é,
aproximadamente, igual a 10% à do esmalte, portanto igual à do osso
compacto, apresentando, também a mesma radiopacidade. O cemento
apresenta menor permeabilidade que a dentina, COSTACURTA (1979).
Sua distribuição e espessura são mais irregulares que as do esmalte e
da dentina; contudo, é sempre mais espesso em torno do ápice do dente e
pode revestir até certa distância o interior do canal dental (local da polpa
radicular).
A coloração da dentina e cemento queimados, normalmente, é preta
amarronzada. MULLER et a/. (1998).
STEAGALL & SILVA (1996), pesquisaram sobre a importância da
dentisteria e seus materiais no processo de identificação humana. Ressaltando
o valor do prontuário odontológico (fichas clínicas) conterem anotações
detalhadas de cada procedimento realizado, inclusive dos materiais ferradores
utilizados.
40
Os autores verificaram as alterações sofridas por diferentes materiais
(amálgama, resina acrilica, resina composta, cimento policarboxílato e cimento
de sílícato) em diferentes temperaturas (200° C, 400° C e 600° C) por um
período de dez minutos a cada vez, simulando, segundo relatam, as
temperaturas ocorridas nos incêndios nos edifícios Joelma e Andraus, em São
Paulo.
A posição anatômica do elemento dentário, muitas vezes, influencia na
forma de contato com o calor ou chama direta sobre sua estrutura, assim os
incisivos são destruídos mais rapidamente, em razão da retração dos lábios,
LABOIER et ai. (1989).
2.6. MICROSCOPIA ELETRÔNICA
A identificação dos remanescentes dentários, a partir de contextos
periciais, pode requerer, como mencionado, uma comparação de registros
post-mortem e ante-mortem. Em caso de desastres de massa ou outra situação
na qual as características são irreconhecíveis, essa técnica provou ser
altamente confiável (RUDNICK, 1964; BARSLEY et ai. 1985; LUNTZ, 1972).
Mas para se alcançar esta possibilidade de comparação com os
registros dentais disponíveis, é necessário que se obtenham informações do
quadro clínico odontológico atual. O exame, através da microscopia eletrônica
41
nas queimas severas dos elementos dentários, pode ter indicação nas
investigações periciais, CARR et ai. (1986).
Quando os elementos anatômicos não permitem firmar diagnóstico,
procede-se então os estudos histológicos de diferenciação das estruturas
ósseas ou dentais de seres humanos e outras espécies animais, RAMALHO
(1994).
FAIRGRIEVE (1994), descreve uma identificação positiva, a partir da
análise de dentes incinerados através da microscopia eletrônica. Tratava-se de
um crime; a coroa dental e fragmentos do dente foram propositadamente
queimados, triturados e espalhados no local de cerca de 9 metros quadrados.
Os remanescentes foram analisados, usando-se a microscopia eletrônica de
varredura, de modo a auxiliar o processo de identificação. Neste caso, o
objetivo era a confirmação da presença de estrias provenientes do uso das
brocas no esmalte e dentina como um meio de determinação das restaurações
dentais passadas; os fragmentos incinerados foram submetidos à análise
microscópica, evidenciou-se o trabalho dental prévio que igualava-se aos
registros dentais ante-mortem da pessoa desaparecida.
O exame sob a microscopia eletrônica de varredura dos dentes
severamente queimados propiciam, no entender de CARR et ai. ( 1986), e o
próprio FAIRGRIEVE (1994), um recurso de incremento na investigação
pericial.
Pode revelar pistas quanto à sua "história térmica", um parâmetro útil no
entendimento da cadeia de eventos durante o fogo MULLER et ai. (1998).
42
HARSANYI (1975), relata que a temperatura de 1.300°C é capaz de
tornar um dente morfologicamente irreconhecível, mesmo se visto com a
microscopia eletrônica.
Quando houver dano aos dentes e estruturas associadas como
resultado de contato com o fogo, meios convencionais de identificação não
são possíveis; algumas evidências podem ser resgatadas através do uso dessa
ferramenta com aplicação na ciência forense CARR et a/. (1986), BOHM &
BOHM (1983) e PFISTER (1977).
A microscopia eletrônica de varredura é especialmente usada na análise
dos dentes severamente queimados, visto que requer somente uma pequena
amostra e a preparação do corpo de estudo não destrói a espécime já
fragilizada (WONG, 1982), podendo indicar a presença de um tipo particular de
material dental e ser de valor no processo de identificação, MC GINNIS et ai.
(1985).
43
3. PROPOSIÇÃO
Propomos estudar as reações e alterações dos tecidos e restaurações
em amálgama de prata, frente ao calor, em temperaturas de 200°C, 400°C e
600°C, através da microscopia eletrônica de varredura, analísando os dados
obtidos e comparando-os com os fenômenos ocorridos em dentes de uma
vítima de carbonização.
44
4. MATERIAL E MÉTODOS
O material utilizado no estudo compunha-se de 40 (quarenta) elementos
dentários, sendo 10 (dez) elementos obtidos a partir de exodontia, indicada
pela precária condição periodontal, e outros doze elementos foram obtidos em
função de planejamento ortodôntico. Os dezoito elementos restantes
apresentavam-se queimados por serem originários de perícia de identificação
em vítima de carbonização. Entre os 40 (quarenta) dentes, nove possuíam
trabalhos de restauração realizadas com amálgama de prata.
Foram estudadas, através da microscópica eletrônica, 40 (quarenta)
estruturas dentais (corpos de prova), submetidas às seguintes temperaturas:
45
Um dos elementos dentários do grupo de vinte e dois foi mantido intacto
para parâmetro de comparação com as alterações teciduais que ocorreriam
com o contato do calor. Os demais, submetidos previamente a exodontias,
foram divididos em três grupos de 7 (sete} elementos, e foram expostos a uma
temperatura, respectivamente, de 2oo•c, 400°C, soo•c em forno de cerâmica
dental (Kavo EWL tipo 5645} na temperatura requerida. O tempo para cremar
os dentes humanos foi determinado em 60 minutos para cada um dos três
grupos, visto que esse período se equipara com a duração média de um
incêndio (BOTHA, 1986} e, além disso, corresponde ao tempo requerido para
incinerar um individuo adulto a uma temperatura de 800'C, NOSSINTCHOUK
(1991). Após o aquecimento, os dentes foram removidos e resfriados em
ambiente aberto.
Seguindo a observação de CARR et a/. (1986), que estudaram através
da microscopia eletrônica dentes que tiverem contato com o fogo decorrente de
uma explosão de um caminhão carregado com 32.1761itros de gasolina, e que,
portanto, estavam em estado desidratado, nenhuma fixação, desidratação
adicional ou secagem do material foi requerida.
As espécimes foram montadas sobre placas de alumínio usando-se tinta
prata e cobertas com ouro-paládio. A espessura do metal era de,
aproximadamente, 25 nm (250 A). A observação e fotografia foram feitas com
um Stereoscan SEM - ZEISS, em uma voltagem em aceleração de 20kV, em
média.
46
Todos os dentes e restaurações de amálgama foram, então, observados
através da microscopia eletrônica de varredura em aumentos variando entre 20
e 2.000 vezes.
Obtivemos 95 (noventa e cinco) imagens microscópicas, das quais
selecionamos 29 (vinte e nove), por nos parecerem as mais significativas.
47
5. RESULTADOS
Observaram-se alterações caracterfsticas nas estruturas dentárias,
(figuras 8 e 9). e no amálgama, correspondentes a cada temperatura.
Macroscopicamente, os elementos dentários apresentaram alteração da
coloração e aparecimento de trincas superficiais, à medida do aumento da
temperatura.
Aos 200°C, o dente perdeu seu brilho e a coroa apresentava uma
tonalidade marrom-claro; com o aumento da temperatura em 400'C, a coroa
adquiriu um aspecto marrom-escuro e a raiz apresenta-se totalmente preta.
Aos 600°C, já sem o esmalte, a dentina coronária mostrava-se num tom cinza
azulado e a raiz possuía a mesma cor com pequenas regiões esbranquiçadas.
48
A raiz calcinada apresentou aspectos característicos, com
desprendimento da camada externa (cemento) e exposição de dentina.
o esmalte, em razão do aquecimento (entre 400°C e 600°C), desprende
se na forma de um capuz, apresentando trincas em sua superfície.
A dentina, estrutura que compõe em maior quantidade o dente,
apresentou à temperatura de soo•c, as características descritas acima (trincas
e alterações teciduais).
Aos 400°C, não encontrava-se exposta, permanecendo coberta pelo
esmalte e cemento, mas observou-se uma elevação próxima à junçilo
cemento-esmalte.
O estudo, através da microscopia eletrônica de varredura, mostrou que
a uma temperatura de 200•c apareceram rachaduras no esmalte e cemento,
aumentando em número, á medida que a temperatura se elevava. Acima de
400'C, o esmalte (capuz) destacou-se da dentina, que apresentou sua
superfície levemente desarranjada, (figuras 18 e 20).
O cemento fraturou-se progressivamente, à medida que a temperatura
aumentou.
A 200°C, observa-se o início das fraturas associada à presença de
inúmeros orifícios menores na superfície cementária, (figura 25).
Com a mesma escala de aumento, 200 X, a uma temperatura de 400'C,
a raiz apresenta um aspecto desarranjado, ao nível do colo e abaixo, em
direção ao ápice onde mostrava uma aparência levemente granular.
49
As fraturas são mais evidentes do que a 200°C, apresentando um
aspecto de" favo de mel ", (figura 26).
A 600°C, certas áreas fraturadas do cemento destacaram-se, expondo
parcialmente o tecido dentinário. O cemento passa a apresentar um aspecto
corroído e as zonas residuais tornaram-se irregulares. (figura 27).
A profundidade das trincas, atingindo a dentina, foi observada na raiz
exposta a uma temperatura de 400°C (figura 28), mas o mesmo fenômeno não
ocorreu na raiz que foi submetida a 600° C, (figura 29).
O esmalte desarranjou-se gradativamente com o aumento da
temperatura, no limite amelo-dentinário e sobre a coroa. Fraturou-se acima de
400°C, em fragmentos que tornaram-se compativelmente menores, à medida
que a temperatura aumentava, levando a uma aparência acidentada do
esmalte, (figuras 19 e 21).
Aos 600°C, algumas poucas zonas com aspecto "fundido" foram notadas
no esmalte, (figuras 23 e 24).
Com a perda do capuz de esmalte, a dentina coronária, que não estava
mais protegida, desarranjou-se.
No caso dos dentes provenientes da vítima de carbonização, os
fenômenos descritos, observados no dente exposto ao calor de 600°C em
condiÇôes laboratoriais, repetiram-se. (figuras 1, 2 e 5).
50
Amálgama
Os quadros de rachaduras e desarranjos do amálgama multiplicaram-se
com o aumento da temperatura. A 400°C, apresenta uma superfície menos lisa
que o normal com pequenas cavidades circulares (cerca de 10 micras).
Observa-se, também, o aparecimento de trincas e rachaduras mais profundas,
(figuras 11 e 12).
A 600°C, sua superfície apresenta-se irregular e desarranjada, expondo
camadas mais internas da liga que evidenciam pequenas cavidades circulares
(figuras 10 e 13).
Esse desarranjo fica mais evidente quando observamos, num aumento
de 200X e 600X, a região de fusão das duas restaurações, provenientes da
vítima de carbonização, (figuras 15 e 16).
A análise microscópica mostra o amálgama remanescente na cavidade
do dente 14 (figura 5-c), apresentando um desarranjo estrutural, com pequenas
ca\lidades de aparência circular, (figura 6-b).
51
FENÔMENOS OBSERVADOS NAS ESTRUTURAS E RESTAURAÇÕES EM CONTATO COM O CALOR
, ESTRUTURAS RESTAURAÇÕES Temperaturas f--- ------ --- -- ----------- · ---- -~ - -- -- --------~-------------- _ _,______ ---r----- ----- .. ---- -------------- --
1 Esmalte __ _j ___ Dentin"_ __ j ~emento ____ Amálgama
200'C
400'C
600'C
aspecto: perda de brilho cemento e esmalte ·início de rachaduras ou *trincas na superfície cor: marrom claro presentes, cobrindo a trincas
dentina
aspecto: trincado cor: marrom escuro
*aspecto: fragmentado, com zonas derretidas
elevação na junção amelo-dentinária
aspecto: trincado cor: cinza-azulado
aspecto: trincas em maior número - "favo de mel" cor: preta
o cemento destacou-se; a dentina foi exposta; o terço radicular fratura-se
* trincas mais profundas na superfície; observouse cavidades círculares (10 micras)
* superfícíe irregular; exposição de camadas internas; * observação de vestígios da passagem do mercúrio
Observações através de microscopia eletrônica de varredura
:;j
Apresenta preparo cavitário vestíbular com superficie clivada pelo calor (b ), observa-se resíduos de material obturador (a)
Fig 2 ~ Superficie radicular (detalhe) O cemento apresenta trincas (a) (aspecto de favo de mel) observa-se a e.:o..posíção de dentina com trinca externa (b)
53
Fig 3 ~Bordo do preparo cavitário Observa~se canaliculos dentinários (a), trinca na superfície (b) e estrias causadas por instrumentos rotatórios (c)
Fig 4- Esmalte por face vestibular apresentando trincas e aspecto granular na superficie
54
F1g 5- Cavidade apresentando suas paredes clivadas Observa-se trincas no cemento {a) e dentina (b); Resíduos do material restaurador não evidenciados no fundo da cavidade (c)
F1g 6- Bordo da cavidade Observa-se cana1iculos dentinários (a) e material restaurador {amálgama) em aumento de 700Xs (b)
55
Fíg 7- Resíduos de amálgama, observados na cavidade, após carbonização, em aumento de 600Xs, evidencia~se irregularidades da superfick
Fig 8 - Odontoma Normal Fíg 9- Odontoma exposto ao calor
56
Fig 10 - Amálgama exposto a Superficie apresenta~se irregular, trincada (a), observando~se vestígios da evaporação do esmalte (b)
57
Fig 12 ~Restaurações de Amálg~•maFurlllidas Aspecto do amálgama do dente préMmolar
dente molar inferior. A superficie ilúema do pré~molar (a), menos exposta ao calor, apresenta diferença diferença da superficie do molar, mais externa (b)
Fig 15- Detalhe da regíão de fusão. Aumento 20X
59
Fig 16- Região da fusão das restaurações, aumento 200X A superficie protegida pelo esmalte e dentina (a) apresetrta~se menos desarr.mjada que a superficie exposta diretamente em contato com o calor (b)
Fig 17 -Interface das restaurações de amálgama, aumento 600Xs
60
Fig 18 ~ Superfície de Esmalte. Aumento 30Xs Exposta a 600° C
"'' #'!f;
Fig 19 ~ Superficie de esmalte. Exposta Aumento 200Xs
61
Fig 21 ~ Superficie do Esmalte exposto a Aumento 200X
62
Fig 22 - Dente Carbonizado Super:ficie de esmalte fragmentada pelo calor (a)_, observa~se a presença de dentina (b)
aumento 200X. Apresenta bolhas em decorrêncía do calor
63
Fig 24 - A mesma superfície em aumento de 700X
25- Cemento Radicular a 200°C. Início de formação de trincas
- Cemento Radicular exposto a 400° C. Superficie totalmente trincada
Fig 27 - Cemento mdicular exposto a 600°C. Superficie trincada com exposição da dentina radicular (a)
Fig 28- Terço apical radicular de pré-molar. Exposto a Observa-se a proftmdidadc das trincas (a) e algumas rachaduras na dentina (b)
Fig 29 - Terço apical radicular. Exposto O fato da parede dentinária ser mais espessa, uma maior resistência as rachaduras (a)
65
6. DISCUSSÃO
Os fenômenos decorrentes do calor que atingem as estruturas dentárias
e os materiais restauradores constituem-se numa questão científica de
interesse para o odonto-legista que tenta, através destes parâmetros,
estabelecer a identidade humana.
A atenção para os procedimentos relatados no capítulo "Revisão da
Literatura" pode condicionar o resultado da perícia em vítimas de carbonização.
As etapas e os cuidados periciais relatados não devem ser saltados, sob pena
de um comprometimento, desnecessário, das investigações.
Nesse estudo, onde os dentes e as restaurações de amálgama foram
diretamente expostas à fonte de calor sem a proteção dos tecidos biológicos
que normalmente os circundam, verificaram-se reações características nas
diversas estruturas frente ao calor.
66
Nos dentes e restaurações estudadas, provenientes de vítima de
carbonização, portanto, inicialmente, protegidos pelas estruturas biológicas
circunvizinhas, foram observadas correspondências com alguns dos
fenômenos mostrados nos estudos laboratoriais.
A primeira evidência constatada é a reação da estrutura que recobre a
raiz do dente. Com a gradativa elevação da temperatura, o cemento trincou.
Sucessivamente estas rachaduras tornaram-se mais extensas e em maior
número, criando o aspecto denominado por MULLER et a/. (1998), de "favo de
mel". Seguiu-se o deslocamento do cemento a uma temperatura de 600'C,
emprestando à raiz uma aparência acidentada. Neste caso, os orifícios dos
canalículos dentinários foram expostos. Esta observação pode ser explicada
como causada pela evaporação da água e o conseqüente levantamento do
cemento. No entanto, nem todos os fragmentos de cemento separaram-se a
600"C.
Na mesma temperatura, o terço apical da raiz se separou mostrando
uma aparência irregular, (figura 29).
O fato da raízes dos dentes diminuírem de tamanho progressivamente
em direção ao ápice, tornando-o mais frágil, pode explicar a forma de reação
distinta, de duas regiões de uma mesma raiz, frente ao calor.
Observadas em corte sagital, verificou-se que, mesmo exposta a uma
temperatura maior, 600'C, a raiz não apresentava a mesma quantidade e
profundidade nas trincas e rachaduras, observadas na raiz exposta a uma
temperatura menor, 400'C. (figuras 29 e 28, respectivamente).
67
Talvez o fato possa ser explicado em função de que aquela parede era
mais espessa e, portanto, ofereceria maior resistência ao calor.
Da mesma maneira, a separação do capuz do esmalte explica-se por um
baixo índice de contração do esmalte sob o efeito do calor, posto que o seu
grau de mineralização é de 96-98%. Em contraste, a dentina iria contrair-se
mais, devido ao seu maior conteúdo de água; cerca de 12%.
A evaporação, segundo TRILLER (1986), traria uma força lançada
sobre o esmalte, causando, assim, a fratura deste em maior quantidade e mais
rapidamente na sua zona delgada próxima ao colo. BOTHA (1986), explica o
fenômeno como a ebulição e vaporização de 8 a 1 O% de água contida nos
canaliculos dentinários, que depois separariam o capuz de esmalte. Os
resultados confirmam, portanto, as descobertas feitas por alguns autores ao
analisarem as reações ocorridas a uma temperatura de 500°C (KOMORI, 1960;
HARSANYI, 1975; PFISTER, 1982 e CARR 1986).
O fenômeno evolui, observando-se que após a separação do capuz, a
superflcie do esmalte, em decorrência do calor, fragmenta-se, apresentando
bolhas e um aspecto enrugado em sua superfície, sugestivo de estar atingindo
proximidade com o seu ponto de fusão (figura 23 e 24).
Com a perda do esmalte, fragmentação e deslocamento do cemento, a
dentina coronária e radicular, que não estava mais protegida, desarranjou-se.
Trincas ou rachaduras foram observadas, mas sua estrutura permaneceu
identificável.
A forma de reação do amálgama, frente ao calor, também parece seguir
uma seqüência. Estudamos esta liga por ser o material dentário mais usado
68
para a restauração de estruturas perdidas. MOEN e POETSCH afirmaram. em
1970, que cerca de 160 milhões de restaurações de amálgama são realizadas
a cada ano.
Com a elevação gradativa da temperatura, a liga apresenta em sua
superfície trincas e pequenos orifícios circulares que se mantêm mesmo
quando exposta a uma temperatura de 600°C' situação na qual parte da
camada superficial não está mais presente, propiciando um aspecto irregular e
desarranjado, quando observado com aumento de 200 X. (figura 10).
Os pequenos orifícios talvez representem os canais da passagem do
mercúrio volatilizado, fenômeno, ainda, não relatado na literatura.
Segundo PURVES (1976), o mercúrio é liberado à uma temperatura de
100°C e entra em ebulição a 356°C.Outro componente, normalmente, presente
na liga é o estanho, que se liqüefaz a uma temperatura intermediária (231°C).
Assim teríamos um quadro aonde a pressão da ebulição do mercúrio
encontraria passagem através da liga. Trata-se de uma hipótese.
No caso das restaurações de amálgama que pertenciam à vítima de
carbonização, seu estudo revelou dois aspectos que podem ser observados
como significativos na perícia odonto-legal e não relatados nos trabalhos por
nós pesquisados. A possibilidade de observação, através da microscopia
eletrônica de varredura, da fusão de duas restaurações de amálgama
pertencentes a dentes contíguos e a identificação numa cavidade, a partir de
resíduos do material restaurador da realização de um trabalho odontológico,
resgata, assim, uma informação importante para o confronto de dados ante e
post-mortem.
69
A fusão das restaurações mostra, microscopicamente, uma diferença
entre o amálgama interno do pré-molar (protegido pelas paredes lingual e
vestibular) e a do molar, sem a mesma proteção, (figura 14, detalhes a e b). O
amálgama menos exposto ao calor apresentou uma superflcie mais regular,
enquanto a restauração do dente molar na sua porção vestibular mostrava-se
desarranjada, (figuras 12 e 13). Na região de fusão (figuras 16 e 17), com
aumentos de 200X e 600X, observa-se uma faixa de maior desarranjo das
estruturas. BOTHA (1986), assinala que entre as temperaturas de 500°C e
1 000°C, o amálgama perde sua cor, forma e integridade. Provavelmente, neste
hemi-arco, a temperatura não excedeu os 500°C, mas provocou alterações nas
ligas que em seu ponto de contato, uniram-se. A hipótese de restaurações
confeccionadas em tempos diferentes e com ligas de amálgama de conteúdos
diferentes, talvez possa explicar a forma de reação ao calor, de cada uma
delas, especialmente, em seu ponto de contato.
70
7. CONCLUSÕES
Em razao dos resultados obtidos na análise das reações dentais e
restaurações em amálgama, podemos concluir:
• As reações das estruturas, frente ao calor, analisadas
laboratorialmente, apresentam semelhanças com as verificadas nos
dentes e nas restaurações de amálgama da vitima de carbonização.
Mostrando a legitimidade cientifica, nestes casos, dos estudos "in
vitro" e, portanto, da possibilidade de se verificar a história térmica de
cada estrutura e as reações correspondentes, fornecendo
informações periciais significativas.
• A microscopia eletrônica de varredura pode ser utilizada como uma
ferramenta na identificação da presença, tipo e posição da
71
restauração dental realizada em amálgama de prata. Enfatizamos,
no entanto, que a evidência obtida a partir do emprego da
microscopia, não deve, necessariamente, ser a única base para a
identificação. Entendemos como um recurso de incremento na
investigação pericial.
• Entre os fenômenos associados à Odontologia nas vítimas de
carbonização, a fusão de duas restaurações de amálgama
pertencentes a dentes contiguos deve ser melhor estudada. No
entanto, seu registro assinala um fenômeno característico no âmbito
da Odontologia Legal, que deve ser examinado especificamente na
perlcia odonto-legal em vítimas de carbonização.
• A identificação numa cavidade, através da microscopia eletrônica de
varredura, de resíduos de material restaurador, resgata uma
informação importante para o confronto de dados ante e post
mortem, firmando esta técnica como um recurso de incremento na
investigação pericial.
72
8.SUMMARY
Objective: We propose to study the reactions and alterations of tissues,
as well as of silver amalgam fillings when exposed to temperatures of 200°C,
400°C and soo•c, by use of scanning electron microscope, and comparison of
the data with those obtained from lhe analysis of phenomena occurred in teeth
of a victim of carbonization. Materiais and Methods: 28 (twenty-eight) dental
structures (bodies of proof) were studied, which were submitted to the following
temperatures: 200°C, 400°C and 600°C, plus 12 (twelve) structures yielded by
identification works in a victim of carbonízation. Ali teeth and fillings were then
observed through scanning electron microscopy at magnífications varying
between 20 and 2.000 times. Results: To the naked eye, the teeth elements
presented changes in colour and superficial cracks occurring at increasing
temperaturas. The study by scanníng electron microscopy showed that, at a
temperatura of 200°C, cracks appeared in the enanel and cement, increasing in
number as the temperature rase. Above 400°C, the enamel (cap) detached
from the dentine, whose surface was observed to be slightly crazed. The trames
of cracks and crazing of amalgam multiplied with an increase in temperatura. At
73
400°C the samples present a surface less smooth than normal, with small
circular cavities - around 10 (ten) micra. Also observed is lhe appearance of
deeper cracks and fissures. Conclusions: The reactons of structures facing
heat, as the analysis in laboratories showed, presented likeness to those
verified in teeth and in amalgam fillings of victims of carbonization. The
scanning electron microscopy can be used as a tool in lhe identification of
presence, type and position of dental restoring made in amalgam of silver.
74
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