UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG
Instituto de Ciências da Natureza
Curso de Geografia Licenciatura
HAROLDO JUNIOR MARTINS CARDOSO
ANÁLISE DA MOBILIDADE POPULACIONAL ENTRE OS
MUNICÍPIOS DE CARMO DO RIO CLARO-MG E SANTALUZ-BA
Alfenas - MG
2014
HAROLDO JUNIOR MARTINS CARODOSO
ANÁLISE DA MOBILIDADE POPULACIONAL ENTRE OS
MUNICÍPIOS DE CARMO DO RIO CLARO-MG E SANTALUZ-BA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentada como parte dos requisitos
para obtenção do título de Licenciado
em Geografia pelo Instituto de
Ciências da Natureza da Universidade
Federal de Alfenas- MG, sob
orientação do Prof. Dr. Flamarion
Dutra Alves.
Alfenas – MG
2014
HAROLDO JUNIOR MARTINS CARDOSO
ANÁLISE DA MOBILIDADE POPULACIONAL ENTRE OS
MUNICÍPIOS DE CARMO DO RIO CLARO-MG E SANTALUZ-BA
A Banca examinadora abaixo-
assinada aprova o Trabalho de
Conclusão de Curso apresentado
como parte dos requisitos para
obtenção do título de Licenciado em
Geografia pela Universidade Federal
de Alfenas. Área de concentração:
Geografia Agrária.
Aprovada em:
Profº.:
Instituição: Assinatura:
Profº.:
Instituição: Assinatura:
Profº.:
Instituição: Assinatura:
Alfenas – MG
2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais Vilson Cardoso e Rozélia Maria
Martins Cardoso, pela oportunidade de alcançar o objetivo de desenvolver os
conhecimentos científicos. Sem o apoio deles jamais teria almejado conseguir aquilo que
o destino lhes privou, pela sabedoria do meu pai em dizer pra sempre correr na frente do
sonho e minha mãe pelo cuidado e carinho de mãe que nunca me faltou.
Aos meus irmãos, agradeço pelos tempos de infância, que mesmo que nunca
retornem ficarão marcados na saudade. Cada um seguiu seu caminho, meu irmão pelos
tempos de lamentos e risadas e minha irmã, por me proporcionar a descoberta do amor
incondicional pelos meus sobrinhos. A minha família pelo apoio e confiança que eu
venceria esta etapa da vida, em especial a minha madrinha e professora Ana Maria, que
me faz sentir saudade dos tempos de infância na sua casa em meios aos cadernos e livros,
despertando o meu interesse por aprender e ensinar.
Aos meus inúmeros amigos, os que estão muito longe, os que nem tanto,
agradeço pelas parcerias e pelos momentos ficam na saudade e carrego todos no meu
coração. Os companheiros de faculdade agradeço pela compreensão dos meus momentos
difíceis e que ajudaram a constituir a minha formação acadêmica. Aos meus amigos
carmelitanos pelos momentos inesquecíveis de muita parceria, foram muitas as vezes que
eu ficava ansioso pra chegar e irmos pra pracinha jogar conversa fora. Em especial, para
minha amiga Camila Reis, que sempre esteve ao meu lado me apoiando a cada xícara de
café, a saudade vai ser grande e se der vou te visitar na Irlanda.
Aos meus professores, agradeço pelos conhecimentos passados, em especial
ao meu orientador e amigo Flamarion Dutra Alves, que abraçou a ideia do trabalho e
dedicou o tempo para orientar e ouvir meus dramas. A professora Ana Rute do Vale, pela
amizade e nossas conversas, que tanto me alegraram. A professora Marina Penido, pelo
encorajamento e dedicação que muito contribuíram para o meu trabalho. A professora
Sandra de Castro Azevedo, amiga e companheira de inúmeros trabalhos, sempre me
incentivando e orientando a aprender e ensinar para a vida.
Agradeço aos migrantes que me ajudaram a refletir sobre a vida, nas
entrevistas concedidas para a pesquisa. Não foi fácil, mas essa etapa eu posso dizer “Eu
conquistei” e que venha as próximas, que tenho certeza que com dedicação e sabedoria
para alcançar novos objetivos.
RESUMO
Os deslocamentos populacionais no Brasil configuram as dinâmicas dos fluxos de
pessoas, que migram em busca de melhores condições de vida e trabalho. O presente
trabalho buscou analisar a dinâmica migratória entre os municípios de Santaluz – BA e
Carmo do Rio Claro – MG, destacando a direção dos fluxos migratórios para o distrito de
Vilelândia. A pesquisa teve como objetivo o levantamento de informações sobre a
migração entre os dois municípios, ressaltando alguns aspectos específicos, tanto na
escala regional quanto na escala local. A análise tem como fundamento o levantamento
de dados históricos a nível macro, que caracterizam os aspectos regionais dos dois
municípios, permitindo a comparação das duas estruturas e a formação de centros de
atração e repulsão de mão de obra. No nível micro, que busca informações junto aos
migrantes e a população local, utilizando questionário com questões pré-estabelecidas
sobre as alterações na dinâmica das relações socioespaciais. As proposições teóricas e
metodológicas sobre os movimentos migratórios desenvolvidos no seio da Geografia,
contribuírem para reforçar as perspectivas dos deslocamentos populacionais. A
compreensão das formas de migração e dos processos inseridos nos deslocamentos
populacionais, compreendendo a partir da perspectiva dos entrevistados a dinâmica
socioespacial, os processos de des-re-territorialização e configuração de uma rede de
fluxos, denominada rede social de migração.
Palavras chave: Migração, Desigualdades regionais, Des-re-territorialização.
ABSTRATC
Population shifts in Brazil configures the dynamic flows of people, who migrate in search
of better conditions of life and work. The present study searched to analyze the migration
dynamics between the municipalities of Santaluz - BA and Carmo do Rio Claro - MG,
highlighting the direction of flows for the district of Vilelândia. The survey was aimed at
collecting information on migration between the two municipalities, highlighting
particular aspects, both on the regional scale and at the local scale. The analysis is based
a survey of the historical macro level, featuring regional aspects of the two counties,
allowing the comparison of the two structures and the formation of centers of attraction
and repulsion of labor data. At the micro level, seeking information with migrants and the
local population, using a questionnaire with predetermined questions about the changes
in the dynamics of socio-spatial relations. The theoretical and methodological
propositions on migratory movements developed within the Geography, contribute to
reinforce the prospects of population displacement. Understanding the forms of migration
and the processes inserted in population displacement, including from the perspective of
the respondents socio-spatial dynamics, the processes of de-re-territorialisation and
configuration of a network of flows, called social network migration
Keywords: Migration, Regional inequalities, Des-re-territorialization.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Número de estabelecimento agropecuários por unidade de área no município
de Carmo do Rio Claro – MG em 1996 ............................................................................21
Tabela 2 - Número de estabelecimento agropecuários por unidade de área no município
de Santaluz - BA em 1996 ...............................................................................................25
Tabela 3: Dados socioeconômicos comparativos entre os municípios de Carmo do Rio
Claro e Santaluz em 2010 ................................................................................................29
Tabela 4 – Estrutura das propriedades de acordo com os módulos fiscais e a quantidade
por município ..................................................................................................................29
Tabela 5 - Representatividade do cultivo de café de acordo com a estrutura fundiária em
Carmo do Rio Claro – MG em 2006 ................................................................................30
Tabela 6- Relação entre o modelo de estrutura fundiária agrícola e a produção em
Santaluz – BA em 2006 ...................................................................................................31
Tabela 7 – Tipos de mão de obra empregadas em lavouras permanentes e na cafeicultura
por unidade de área em Carmo do Rio Claro, 2006 ..........................................................42
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa representativo do movimento migratório entre Santaluz - BA e Carmo
do Rio Claro – MG ..........................................................................................................16
Figura 2 - Planta do Sisal .................................................................................................24
Figura 3 - Mapa do território do sisal na Bahia ...............................................................25
Figura 4 - Área de produção de café no distrito de Vilelândia ........................................42
Figura 5: Residência onde se instalam migrantes ............................................................57
Figura 6 - Principal avenida do distrito de Vilelândia .....................................................66
Figura 7 - Comércio em Vilelândia ..................................................................................71
Gráfico 1 - Gráfico comparativo entre o valor da produção de sisal em Santaluz - BA e
do café em Carmo do Rio Claro – MG .............................................................................32
Gráfico 2 - Municípios de origem dos migrantes ............................................................44
Gráfico 3 - Número de migrante por sexo, idade e estado civil ........................................45
Gráfico 4 - Número de filhos por migrante ......................................................................46
Gráfico 5 - Número de pessoas por residência dos migrantes ..........................................46
Gráfico 6 - Nível de escolaridade por migrantes ....................................................................47
Gráfico 7 - Renda dos migrantes ......................................................................................47
Gráfico 8 - Migrantes que recebem bolsa família ............................................................48
Gráfico 9 - Local de trabalho dos migrantes entrevistados ..............................................48
Gráfico 10 - Último trabalho dos migrantes ....................................................................49
Gráfico 11 - Local de residência dos migrantes ...............................................................50
Gráfico 12 - Motivo de migrar ........................................................................................51
Gráfico 13 - Forma de agenciamento dos migrantes ........................................................52
Gráfico 14 - Tempo de permanência no destino da migração ..........................................52
Gráfico 15 -Valor que os migrantes pretendem ganhar ....................................................53
Gráfico 16 - Destino do dinheiro ganho na colheita do café ............................................54
Gráfico 17 - Primeira vez na colheita do café ...................................................................54
Gráfico 18 - Intenção de voltar para a colheita no próximo ano ......................................55
Gráfico 19 - Perspectiva do migrante referente as relações de trabalho ...........................56
Gráfico 20 - Perspectiva dos migrantes sobre as condições de moradia ...........................57
Gráfico 21 - Sobre as diferenças para os migrantes entre os municípios de origem e
destino .............................................................................................................................58
Gráfico 22 - O que os migrantes sentem mais falta em relação ao local de origem .........59
Gráfico 23 - O que o migrante não sente falta no lugar de origem ...................................59
Gráfico 24 - Intenção de voltar para o município de origem ............................................60
Gráfico 25 - Perfil da população entrevistada em Vilelândia com base na gênero, idade e
estado civil ......................................................................................................................61
Gráfico 26 - Município de origem da população entrevistada residente no distrito de
Vilelândia ........................................................................................................................61
Gráfico 27 - Nível de escolaridade da população entrevistada no distrito de Vilelândia...62
Gráfico 28 - Profissões da população entrevistada de Vilelândia .....................................62
Gráfico 29 - Participação da população na colheita do café no distrito de Vilelândia......63
Gráfico 30 - Contribuição dos migrantes no desenvolvimento do distrito de Vilelândia,
de acordo com as entrevistas da população local .............................................................63
Gráfico 31 - Alterações causadas pela presença dos migrantes, relatadas pelos moradores
do distrito de Vilelândia ..................................................................................................66
Gráfico 32 - Gênero e idade dos comerciantes entrevistados no distrito de Vilelândia…67
Gráfico 33 - Estado civil dos comerciantes entrevistados no distrito de Vilelândia.........67
Gráfico 34 - Nível de escolaridade dos comerciantes entrevistados no distrito de
Vilelândia ........................................................................................................................68
Gráfico 35 - Gráfico referente a cidade de origem dos comerciantes de Vilelândia........68
Gráfico 36 - Tipos de estabelecimentos entrevistados em Vilelândia..............................69
Gráfico 37 - Aumento nos rendimentos no período da colheita no distrito de Vilelândia.69
Gráfico 38 - Sobre o interesse dos comerciantes na permanência dos migrantes no distrito
de Vilelândia ...................................................................................................................70
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
1.1– Metodologia ............................................................................................................ 12
2 – CONTEXTO HISTÓRICO E A REALIDADE SOCIOESPACIAL DOS
MUNICÍPIOS DE CARMO DO RIO CLARO-MG E SANTALUZ-BA ..................... 15
2.1 – A cafeicultura e a formação de Carmo do Rio Claro-MG ..................................... 16
2.2 - O semiárido baiano e a formação de Santaluz ...................................................... 23
2.3 – Aspectos comparativos entre o município de Santaluz e Carmo do Rio Claro ..... 29
3 – PERSPECTIVAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS, TIPOS DE MIGRAÇÃO E
OS PROCESSOS DE DES-RE-TERRITORIALIZAÇÃO ............................................ 33
3.1 – Perspectivas teóricas e metodológicas sobre a migração ...................................... 34
3.2 – Tipos de migração ................................................................................................. 38
3.3 – A rede social de migração e o processo de des-re-territorialização ...................... 39
4 – AS RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS E A REALIDADE DOS MIGRANTES ...... 42
4.1 – Perfil do migrantes ................................................................................................ 43
4.2 – Perspectivas dos migrantes .................................................................................... 50
4.3 - Perspectivas da população local e dos comerciantes ............................................. 59
5 – CONCLUSÃO .......................................................................................................... 71
6 – REFERÊNCIAS .................................................................................................... 735
APÊNDICE A: ENTREVISTA COM OS MIGRANTES ........................................... 779
APÊNDICE B: ENTREVISTA COM OS MORADORES DE VILELÂNDIA .......... 791
APÊNDICE C: ENTREVISTA COM OS COMERCIANTES DE VILELÂNDIA .... 802
11
1 - INTRODUÇÃO
O processo de formação do território é marcado por deslocamentos
populacionais, que possibilitaram a ocupação, exploração e configuração do espaço
Brasileiro. Os fluxos de deslocamentos se configuraram a partir de inúmeros fatores,
sobretudo políticos e ideológicos a serviço dos modos de produção incorporados no país
em cada período histórico.
A partir de 1960, a dinâmica dos fluxos migratórios se intensificam pelos
projetos de industrialização e integração nacional, configurando uma dinâmica de
deslocamentos no sentido rural – urbano, no caso o êxodo rural. Na década de 1990, com
a globalização é possível identificar uma dinâmica diferente nos fluxos migratórios, com
destaque para a migração de retorno e a cristalização das migrações temporárias e
sazonais, impulsionados pela nova dinâmica dos modos de produção capitalista.
As contribuições da Geografia na análise dos processos migratórios se
mostram presentes em inúmeros trabalhos nessa área, possibilitando a compreensão dos
fatores sejam, econômicos, políticos, sociais e culturais, que constroem elementos
propícios para a efetivação da migração. Cabe destacar o acompanhamento das
formulações teóricas e metodológicas no desenvolvimento do pensamento científico da
Geografia.
A análise da mobilidade populacional entre os municípios de Santaluz – BA
e Carmo do Rio Claro – MG compreende o objetivo geral da pesquisa, que busca
compreender as causas e os processos referentes a migração.
As desigualdades regionais produzidas no processo de produção capitalistas
se constituem como um fator importante que favorece os deslocamentos populacionais.
No respectivo trabalho a abordagem referente as desigualdades regionais, permitiu
compreender os processos históricos de configuração dos espaços produtivos do sisal em
Santaluz e do café em Carmo do Rio Claro, a partir de uma análise da escala regional. No
capítulo 2 deste trabalho, realizou-se o levantamento de dados históricos, obtidos a partir
do levantamento de referências que contemplem os aspectos de configuração dos dois
espaços, o quer permitiu comparar as estruturas e os fatores que realçam as desigualdades
regionais.
No desenvolvimento da pesquisa um dos objetivos específicos correspondia
a busca por informações que oferecesse o subsídio necessário para o entendimento dessas
12
desigualdades, que produzem um quadro favorável a configuração de um centro de
repulsão e outro centro de atração de mão de obra.
No capítulo 3, o levantamento das formulações teóricas, conceituais e
metodológicas referentes aos processos de migração, permite investigação dos fatores
condicionantes para análise do movimento migratório. Para compreender os processos
referentes a migração é importante analisar as diferentes óticas, sobretudo nos processos
referentes ao indivíduo que migra. O arcabouço teórico, também oferece o subsídio
necessário para estabelecer os procedimentos metodológicos que viabilizam o trabalho.
Os deslocamentos alteram substancialmente as estruturas das relações sociais
estabelecidas no espaço. Com relação a migração para o distrito de Vilelândia, o trabalho
de campo permitiu compreender essas alterações e cumprir com o objetivo de levantar os
relatos necessário para analisar como a migração altera a dinâmica do distrito, a partir dos
relatos de entrevistas com os migrantes e a população local.
Os dados colhidos em campo são apresentados no capítulo 4, partindo da
análise dos questionários, demonstrando os processos inerentes a migração. Estas
informações permitiram realizar uma análise do perfil do migrante e da população de
Vilelândia, compreendendo dados importantes na análise das opiniões sobre as alterações
da dinâmica socioespacial no distrito.
De modo geral, a pesquisa buscou informações relevantes para análise da
dinâmica migratória entre os municípios destacando os diferentes aspectos, as alterações
das relações socioespaciais e dos fluxos que se integram a partir da mobilidade.
1.1 – Metodologia
A investigação da mobilidade populacional, compreende a busca por
metodologias que subsidiem a análise da migração, a partir, da identificação das causas e
processos inerente ao deslocamento. Avaliar os fatores que causam a migração,
corresponde a um processo de levantamento de dados quantitativos e qualitativos, que
possibilite o desenvolvimento da pesquisa.
Póvoa (1999) destaca, a dificuldade de identificar os movimentos
migratórios, sobretudo os temporários e sazonais nos recenseamentos. “Trata-se, acima
de tudo, da dificuldade em se acompanhar um conjunto de movimentos só detectáveis
estatisticamente quando cruzam limites políticos ou censitários e ao interceptarem os
intervalos temporais considerados pelos censos.” (PÓVOA, 1999, p. 47) A percepção do
13
migrante como detentor de força de trabalho, que se desloca pressupõem uma visão do
processo migratório, desconsiderando os fatores sociais que favorecem o deslocamento.
A realização da pesquisa abarca dois aspectos estruturais, o primeiro destaca
a análise da dinâmica socioespacial nos municípios de Santaluz e Carmo do Rio Claro,
que corresponde a busca por informações que ressaltam os aspectos histórico-estrutural.
O segundo, relaciona os aspectos da estrutura local, vividos pelos migrantes e pela
população do distrito de Vilelândia.
Essa metodologia buscou a investigação dos fatores econômicos, culturais,
sociais e políticos que favorecem a mobilidade. Póvoa (1999, p. 51) destaca que, essas
operações metodológicas, “busca enraizar sua análise no solo dos contextos históricos e
geográficos específicos. [...]análise de grupos e classes sociais a sofrer a força de
estruturas sociais que explicam a maior ou menor propensão para a migração.” A
investigação desses aspectos são apresentados no capítulo dois do trabalho, a partir dos
aspectos correspondentes as estruturas regionais que determinam a formação dos centros
de atração e repulsão da força de trabalho.
Para fundamentar a caracterização regional dos dois municípios foram
consultados os dados secundários do SIDRA – IBGE, no que se refere a estrutura
fundiária, produção agropecuária, Produto Interno Bruto e o índice de pobreza. Para a
interpretação do contexto histórico dos municípios, analisou-se os processos históricos
que determinaram a vocação econômica de cada região, o café no Sul de Minas e o sisal
na Microrregião da Serrinha.
A problemática dessa abordagem histórico- estrutural, está ligada ao fato de
desconsiderar as perspectivas dos próprios migrantes. “Do ponto de vista da
operacionalização, por outro lado, desvaloriza-se a realização de inquéritos junto a
migrantes, já que os indivíduos, apesar de serem fonte de informação, não trazem em si a
explicação dos processos vivenciados.” (BECKER, 1999, p. 51).
Considerar as perspectivas dos migrantes nos procedimentos metodológicos
da pesquisa, valendo-se do nível do indivíduo, permite analisar além da estrutura a qual
ele está inserido, destacando os desejos e anseios que favorecem a migração. Portanto, o
segundo procedimento, insere a investigação ao nível das perspectivas dos próprios
migrantes, da população local e comerciantes.
Nesse sentido, o levantamento de dados primários buscou compreender a
realidade local, sendo realizadas 61 entrevistas semi-estruturadas com os migrantes, 100
com a população local e 10 com comerciantes do distrito. Para amostragem com os
14
migrantes foi estabelecida uma amostra de 10% dessa população flutuante, considerando
que não existe uma precisão do número de migrantes, mas estima-se que este valor esteja
por volta de 500 a 700 pessoas. A mesma proporção de 10% foi estabelecida para a
população local, considerando que o distrito têm uma população por volta de 1.000
habitantes. Em relação aos comerciantes, foram entrevistados os estabelecimentos
disponíveis no momento da pesquisa.
As entrevistas foram realizadas entre os meses de maio a agosto de 2013, este
período foi escolhido pois são os meses que se realizam a colheita do café.
A adoção do método histórico-oral, permite analisar a perspectiva dos
migrantes e da população diante dos deslocamentos populacionais, para o distrito de
Vilelândia. Becker (1999, p. 57-58) destaca:
[...]a adoção de uma postura teórico-metodológicas, capaz de compreender a
migração como um processo social, e os migrantes como agentes deste
processo. [...] A metodologia que sustenta estas ideias é a história oral –
entrevistas, depoimentos, histórias de vida, registros visuais – com homens e
mulheres, pobres, camponeses, originários de várias regiões do Brasil.
O método histórico-oral permite observar e analisar questões relacionadas as
relações sociais, estabelecidas a partir dos deslocamentos populacionais, que altera a
dinâmica socioespacial no distrito. A partir desse método também é possível investigar a
formação da rede social de migração e os processos de des-re-terrritorialização, estes
conceitos são abordados no capítulo 3 deste trabalho.
A adoção de uma metodologia multiescalar na pesquisa, se deu a partir da
incorporação dos aspectos de nível macro e micro, no caso representado pelas escalas
regionais relacionados aos modos de produção e pela escala local e o nível do indivíduo.
No último capítulo foram discutidos os dados obtidos no trabalho de campo
e correlacionando com os dados secundários, históricos e os aspectos conceituais
discutidos ao longo do trabalho, possibilitando uma análise referente a percepção dos
entrevistados com relação ao processo migratório.
15
2 – CONTEXTO HISTÓRICO E A REALIDADE SOCIOESPACIAL DOS
MUNICÍPIOS DE CARMO DO RIO CLARO-MG E SANTALUZ-BA
A necessidade de contextualizar as diferentes regiões, onde se inserem os
dois municípios em questão, serve para representar as realidades socioespaciais
intrínsecas que denotam os caráteres de atração e expulsão da população, mesmo de forma
temporária. A intensão é remontar o contexto histórico de formação dos municípios
levando em consideração a questão regional. Este levantamento histórico permite
ressaltar alguns elementos que fomentam as disparidades regionais e que configuram e
intensificam a mobilidade populacional entre os dois municípios, possibilitando o
entendimento dos processos de apropriação do espaço nas diferentes regiões e como estes
configuram o quadro para análise da migração.
Egler (2010, p. 217) ressalta a questão regional no Brasil a partir do:
O reconhecimento da existência de estruturas produtivas regionais como
dinâmicas diferenciadas é fundamental para a definição de metas e
instrumentos de políticas públicas para a retomada do crescimento da
economia nacional. O processo de integração territorial não foi capaz de vencer
as grandes disparidades na distribuição regional da renda, como também na
industrialização e a integração produtiva e financeira que erradicam a pobreza
da maioria da população brasileira.
Essa afirmação, permite inferir a necessidade de políticas públicas que diluam
as desigualdades regionais. A partir da questão das desigualdades regionais retomadas ao
longo deste capítulo é que se pode compreender alguns processos históricos que
favorecem a formação de centros de atração e repulsão de migrantes no Brasil,
especificamente na construção de uma relação entre os municípios de Santaluz – BA e
Carmo do Rio Claro – MG.
16
Figura 1: Mapa representativo do movimento migratório entre Santaluz - BA e Carmo do Rio
Claro - MG.
2.1 – A cafeicultura e a formação de Carmo do Rio Claro-MG
O município de Carmo do Rio Claro está inserido dentro da mesorregião do
Sul/Sudoeste de Minas e da microrregião de Alfenas, e que de acordo com Castilho (2011,
p. 26), até a metade do século XIX apresentava uma dinâmica de produção agrícola com
uma grande diversidade de produtos, que abasteciam o mercado interno e permitiam aos
grandes proprietários desenvolver a região. “A economia sul-mineira esteve assentada em
um leque diversificado de atividades, com especial atenção para as agropastoris e a
comercialização em praças regionais e interprovinciais”. (ANDRADE, 2005 apud
CASTILHO, 2011, p. 27)
Saes e Avelino (2012, p. 68) demonstram também a diversidade produtiva do
contexto histórico do Sul de Minas, “a produção variada que passava por cereais como
arroz, milho, feijão, por animais como porcos, gado e, até mesmo, outros produtos como
algodão, fumo, açúcar, tecidos e chapéus.” Marcos Ferreira de Andrade, afirma que, a
cafeicultura era uma atividade de pouca intensidade prevalecendo a “agricultura de
abastecimento”. (2008 apud CAÇÃO, 2012, p. 2)
17
Estes produtos diversificados eram produzidos para suprir a demanda do
Império e esta relação mercantil marcava também as articulações políticas exercidas entre
as elites locais e o Império, além de promover o desenvolvimento de novas freguesias ao
longo das rotas comerciais. Saes e Avelino (2012) afirmam que a força política da elite
sul-mineira estava relacionada a manutenção dos circuitos mercantis, destinados ao
abastecimento interno e tendo como fonte principal de trabalho a escravidão.
Castilho (2011, p. 27) ressalta que o enriquecimento dos fazendeiros da época
se realizou pela produção diversificada, propiciando a formação de grandes unidades
escravistas. Ao longo da segunda metade do século XIX este cenário começa a se alterar
devido à expansão do café que ultrapassa os limites do interior de São Paulo, onde já
despontava como a principal atividade econômica. Os inúmeros questionamentos sobre a
instauração da cafeicultura sul-mineira e seus desdobramentos como principal fonte
produtiva, que invadiu o espaço tradicional da “agricultura de abastecimento”,
transformou significativamente a paisagem do século na região, implantando a
monocultura do café que perdura até os dias atuais. (CAÇÃO, 2012)
O café chega ao Sul de Minas por volta de 1880, ocasionando profundas
alterações na região, sobretudo no modo de vida e nas relações de trabalho. Tão logo,
sobre a produção, antes diversificada, passa a imperar a monocultura do café. Conforme
Viscardi (1996) “Os estudos que comprovam a existência de uma forte economia
cafeicultora no estado com base na grande concentração de terras e na relativa
monetarização da economia se contrapõem a todos os outros até então realizados em torno
da economia mineira”. (VISCARD, 1996 apud CASTILHO2011, p.30)
Alguns dos fatores que favorecem a inserção e futura expansão da
cafeicultura no Sul de Minas foram o relevo e o clima. A região apresenta oscilações
altimetrias entre 500 a 1000 metros e clima com estações seca e chuvosa bem definidas,
apresentando condições ideais para o plantio, crescimento e colheita do café. A ligação
com o estado de São Paulo, representa também um fator importante, para a cristalização
do café no Sul de Minas. Assim como em São Paulo, o café também vai trazer alterações
substanciais dentro do contexto sul mineiro.
Como no estado de São Paulo, a cafeicultura possibilitou a urbanização das
pequenas vilas do Sul de Minas, onde começam a surgir os primeiros municípios da região
e, a partir do café e os avanços trazidos por ele que se inicia o desenvolvimento da região,
pois “o café trazia consigo a eletricidade, o automóvel, o telefone, os tecidos finos, o
18
calçamento das ruas e construções de palacetes, teatros e outras novidades”.
(CASTILHO, 2012, p. 33)
A rubiácea iniciou sua expansão pelo Sul de Minas na freguesia de Dores de
Guaxupé, em 1875, [...] Segundo Oliveira e Grinberg: “terras férteis em
abundância e quase a custo zero, mão-de-obra ociosa, expansão das linhas
ferroviárias e, principalmente, um longo período de preços atraentes do café
explicam a rápida expansão cafeicultora no Sul de Minas. (CASTILHO, p. 33-
34)
Neste período o Brasil vivia momentos de transformações impulsionados pela
expansão do capitalismo, que alterava a estrutura econômica, social e política. Como
forma de adequação as modernizações das ideias, assim como nos Estados Unidos e na
Europa. “Trata-se da expansão do liberalismo e do capitalismo que traziam consigo
aspectos modernizantes para o país, como: o fim da escravidão, o republicanismo, a
urbanização, a expansão cafeeira, a ampliação de linhas férreas etc.” (CASTILHO, 2012,
p.44)
O processo de modernização em Minas Gerais, de acordo com Paulo (2000),
é marcado por inúmeras especificidades na relação entre o rural arcaico e o urbano
moderno, devido a diversidade de fenômenos que provocam o avanço da modernização
no espaço mineiro, a partir de aspectos regionais específicos que constituíram o processo
histórico da modernização do espaço mineiro. O café representa a implantação efetiva do
sistema capitalista no Brasil, em 1850 com a “Lei de Terras”, transformando a mesma em
mercadoria, favorecendo a acumulação capitalista.
Reconstituir a trajetória urbana e regional de Minas Gerais é considerar as
diversas dinâmicas, os diversos espaços-tempo de um processo de nenhum
modo linear. Uma questão importante aqui é a referente à necessidade de
estabelecer um diferença entre os processos urbanos-regionais gerados pela
dinâmica mineratória [...] e outros processos de formação urbanos-regionais
em Minas Gerais, que tiveram nas atividades agro-pastoris as matrizes
essenciais de sua dinâmica. (PAULO, 2000, p. 42)
Paulo (2000) afirma que na província de Minas Gerais a cafeicultura não
desenvolveu no mesmo molde capitalista da província paulista. A cafeicultura moderniza
o espaço, mas não cristaliza o modelo do capitalismo industrial. Um fato importante é a
manutenção da mão de obra escrava durante o século XIX, não correspondendo aos
aspectos da modernização, principalmente pelo modelo assalariado já implantado no
Brasil. Mesmo assim, é possível considerar a significação das transformações no espaço
sul-mineiro como moderno. Alguns fatores, como a expansão das ferrovias nos eixos que
ligam a São Paulo e o Rio de Janeiro e a cristalização do modelo produtivo do café,
permitiram o avanço da modernização, mesmo que rarefeita e excludente.
19
O desenvolvimento da rede urbana do Sul de Minas está diretamente
relacionado à expansão cafeeira e traz consigo a modernidade, que transforma e produz
novos espaços no contexto regional, além de restabelecer a estrutura econômica mineira,
pois se encontrava em decadência após o auge da mineração. (PAULO, 2000). Saes e
Avelino (2012) mostram que a modernização da região é produzida a partir da dinâmica
instaurada pelo café, rompendo com as estruturas tradicionais das atividades de
abastecimento estabelecidas na região.
A ferrovia representa o avanço da modernização no espaço sul-mineiro, que
possibilitou não somente o escoamento da produção, mas também o meio de articulação
política das elites locais. “Com o crescimento acelerado da produção cafeeira, aumentam
também as necessidades, de melhoria na infraestrutura de sua produção, mão de obra e
transporte” (CAÇÃO, 2012, p. 8), portanto a ferrovia se instala como precursora da
modernização, agregando novas possibilidades para a efetivação da cafeicultura como
principal fonte de renda, durante o fim do século XIX. “As principais linhas férreas da
região foram: Estrada de Ferro Minas e Rio, Estrada de Ferro Sapucaí, Companhia
Mogiana de Estrada de Ferro e a Estrada de Ferro Muzambinho.” (CASTILHO, 2012, p.
50). Neste momento intensificam-se as relações políticas, econômicas e sociais,
sobretudo com a elite paulista, propiciado pelo ferrovia.
Em ressalva a este fato, Saes e Avelino (2012, p. 76) trazem dados referentes
ao população escrava nos municípios sul-mineiros, demonstrando que em Carmo do Rio
Claro existiam cerca de 1.227 escravos em 1885, marcando os períodos de fim do regime
Imperial no Brasil e consequentemente a transição da força de trabalho escrava pelo
imigrante europeu. Esse processo é influenciado diretamente pelo desenvolvimento dos
transportes ferroviários, que possibilitando a distribuição dos imigrantes para o interior.
A cristalização da monocultura do café e os subsídios oferecidos pelo governo
impulsionou a imigração sobretudo após 1880 mantendo os fluxos até a Primeira Guerra
Mundial. (BOTELHO et al 2007, p. 156)
Botelho (et al 2007), promove uma discussão referente ao processo de
substituição da mão de obra escrava para o imigrante europeu em Minas Gerais no fim
do século XIX, ressaltando o apego dos fazendeiros mineiros ao modelo de produção
escravista, o qual permitiu seu enriquecimento com base numa produção destinada ao
abastecimento do mercado interno.
Neste período, o quadro populacional na província mineira correspondia a um
grande contingente de escravos e população livre pobre, constituindo o estado mais
20
populoso. Com a Abolição da Escravatura e a expansão da cafeicultura foi produzido uma
demanda por força de trabalho que obrigou as províncias a difundirem políticas de atração
de migrantes. De acordo com Lanna (1998)
[...] em Minas Gerais, a inexistência de uma fronteira agrícola em expansão, a
diversidade econômica, a presença de uma colonização antiga e de um grande
contingente populacional marcaram as propostas de reorganização do trabalho
[...] Minas Gerais traça uma série de políticas de imigração que têm, em geral,
como objetivo maior a colonização, entendida... como assentamento de
população em núcleos de povoamento, e não como oferta de mão-de-obra para
fazendeiros. (LANNA, 1988, p. 57-47 apud BOTELHO et al 2007, p. 160)
Esse embate mostra que as políticas de imigração estiveram relacionadas a
disponibilidade de terras agricultáveis, permitindo a sua subsistência. O imigrante trazia
consigo o conhecimento de exploração agrícola, ao contrário da população livre que
ocupava o espaço agrícola mineiro. O imigrante portanto, era destinado a trabalhar na
produção alimentícia e não somente na lavoura do café. As políticas exerciam o papel de
atrair os imigrantes para as áreas que seriam colonizadas, oferecendo subsídios até mesmo
com os custo da viagem. Estas políticas viabilizavam a manutenção da produção
diversificada no estado, produzindo um movimento de colonização das demais áreas. “A
imigração, portanto, seria um auxílio poderoso à mudança qualitativa da agricultura
mineira, e não necessariamente uma solução para o problema da mão-de-obra no café”
(BOTELHO et al 2007, p. 161-162)
Dentro deste contexto histórico regional é que ocorre o processo de formação
do município de Carmo do Rio Claro, que está atrelada a grupos indígenas que viviam na
região e a quilombolas, e conforme Antenor (2012).
[...] os movimentos dos quilombolas e dos brancos pobres que deram origem à
região de Carmo do Rio Claro (GRILO, 1996:52), a partir do século XVIII. O
quilombo existente denominava-se o “Quilombo do Cascalho” (GRILO,
1996:20-55) que era um dos núcleos do Quilombo da região do Campo Grande
(LIMA, 2008:36-170) que se distribuía por Minas Gerais. Os vestígios foram
identificados, uma vez que se encontravam nas imediações da cidade, bem
como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário construída onde existiu o
Quilombo do Cascalho. (ANTENOR, 2012, p. 40)
Em 1809 se formava um arraial com cerca de mil habitantes de origens bem
variadas. Nesta época o arraial passou a receber migrantes de várias localidades,
principalmente das regiões de mineração. A migração ocorria pela decadência do ciclo da
mineração no país, a maioria era proveniente de São João Del Rey, alguns só de passagem
e outros que se fixaram trouxeram suas famílias e passaram a desenvolver atividades
agrícolas mais incipientes voltadas para o mercado, expandindo a relações de troca com
outras localidades. Em 1875 o arraial torna-se Vila e em 1877 inicia-se o processo de
21
formação do município, (PREFEITURA MUNICIPAL DE CARMO DO RIO CLARO,
2013)
O distrito de Vilelândia foi fundado em meados do século XIX, por famílias
que migraram em busca de novas terras. De acordo com Soares (2011, p. 498), estas
famílias vieram de Campos Gerais-MG e Coqueiral-MG, fixaram residência no local
denominado Três Barras, “demarcaram vastas áreas de terra para a prática da agricultura
e da criação de gado” (ROSA, 2004, p.57). O enfoque abordado por Soares (2011) é a
genealogia da família Vilela em Carmo do Rio Claro, bem como, no distrito da Vilelândia,
que recebe este nome pela sua fundação por duas famílias de origem Vilela. Conforme a
exposição de Rosa (2004, p. 57), as terras eram:
[...]propriedade do Sr. José Leonel Vilela e do Sr. Olímpio Leonel Vilela.
Ambas, com áreas de extensas, não se conhecendo os números reais,
apresentavam colônias com número superior a vinte famílias cada. Com a
venda de partes dessas terras para sobrinhos e doação a herdeiros, a população
da região compreendida entre as duas fazendas amentou substancialmente.
Os relatos mostram que prevaleceu a grande propriedade e comumente a
monocultura, com a dispersão destas grandes propriedades dividias entres as famílias.
Hodiernamente, a agricultura se baseia na produção familiar com a presença da
monocultura do café, nas áreas que são possíveis uma produção ainda rentável, nas outras
áreas, divide-se entre a pastagem, a produção de milho para silagem ou grão
A Tabela 1 mostra a distribuição dos estabelecimentos agropecuários em
Carmo do Rio Claro em 1996 e permite inferir o predomínio da pequena propriedade
destinada a prática da agricultura familiar, que de acordo com a lei 11.326, de 24 de julho
de 2006 é definida com áreas de até quadro módulos ficais considerada como pequena
propriedade. Conforme os critérios estabelecidos pelo INCRA as propriedades com
estrutura fundiária de 23 à 87 ha, que utiliza mão de obra familiar, a renda deve
predominantemente estar ligada as atividades exercidas na propriedade e o
estabelecimento ser gerido pela família, caracterizando o modelo de agricultura familiar
no município. (MNINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2006)
22
Tabela 1 - Número de estabelecimento agropecuários por unidade de área no município de Carmo
do Rio Claro – MG em 1996
Tamanho dos estabelecimentos Número de estabelecimentos
Até 1 ha 12
1 a 2 ha 23
2 a 5 ha 173
5 a 10 ha 166
10 a 20 ha 175
20 a 50 ha 252
50 a 100 ha 138
100 a 200 ha 104
200 a 500 ha 50
500 a 1000 ha 12
1000 a 2000 ha 1
2000 a 5000 ha 0
Total 1.106 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2012)
A importância da definição das propriedades as possibilidades de participar
de programas governamentais voltados para a manutenção dos pequenos produtores no
campo, como ao Programa de Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF), o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de
Habitação Rural, entre outros programas que oferecem financiamentos e investimentos
na modalidade da prática agrícola.
Dentro do contexto histórico do café no Sul de Minas, existe um espaço
temporal de cerca de 150 anos sem publicações pertinentes ao assunto, retomando a
questão da cafeicultura dentro deste contexto somente a partir de 1970, quando a
modernização da agricultura trouxe transformações significativas, na questão da
competitividade regional. Ao mesmo tempo que o Sul de Minas concebe um espaço
importante na produção de café no cenário nacional, vale ressaltar que a modernização
da agricultura tem seu início em 1930, com o fim da crise de 1929. Como afirmam Filetto
e Alencar (2001, p. 8):
[...] após a crise de 1930, iniciaram-se pesquisas para o aprimoramento do
cultivo do café. Novas técnicas foram adotadas, diferindo substancialmente das
tradicionais. Grande ênfase foi dada ao uso mais intensivo da terra,
procurando-se atingir níveis mais altos de produção por hectare. Especial
atenção foi dada a utilização mais eficiente do trabalho; foram incorporados
novos tipos de plantas com menores períodos de maturação e melhor
rendimento e a utilização de fertilizantes, assim como a de defensivos
agrícolas, desempenhou papel de destaque na produção de café do sul mineiro.
O direcionamento da produção para o mercado externo, através de políticas
públicas, consolidou o modelo agroexportador no cenário nacional, pois o Brasil Colonial
23
sempre se pautou na agroexportação e o café não seria uma excessão. Esse
direcionamento, proporcionou uma ampliação do espaço produtivo da commodity. A
modernização do espaço ocorre em consonância com o desenvolvimento de novas
tecnologias e técnicas produtivas, que intensificam a produção (ALVES, 2013, p. 8),
tornando “o Brasil é o maior produtor de café, sendo que o Estado de Minas Gerais
responde a aproximadamente 50% da produção nacional, e o Sul de Minas com a metade
da produção estadual, ou seja, a região em destaque é responsável por 25% da produção
do país”.
As condições do relevo, a elevada produtividade e a dificuldade de
implementação de maquinários que realizem a colheita correspondem aos fatores que
permitem inferir a necessidade de utilização de mão de obra para a colheita. Em ressalva,
no contexto de Carmo do Rio Claro, onde prevalece o modelo de agricultura familiar,
configura-se a necessidade de empregar força de trabalho disponível. Esta por sua vez,
corresponde a trabalhadores pendulares, que vivem na cidade e se deslocam para o campo
para exercer suas funções na colheita, e/ou migrantes sazonais que se deslocam para estas
áreas em busca de trabalho e renda.
2.2 - O semiárido baiano e a formação de Santaluz
O município de Santaluz, está localizado na mesorregião do Nordeste Baiano
e da microrregião da Serrinha, segundo a divisão regional realizada pelo IBGE, com uma
extensão territorial 1.597,202 Km². Fundada em 1935, hodiernamente tem como fonte de
renda a agricultura, a pecuária, extração de minérios como ouro, cromo, magnésio e prata
e a produção de sisal, sendo a mais representativa no município. (PREFEITURA
MUNICIPAL DE SANTALUZ, 2013)
De acordo com a definição de Nascimento (2008, p. 27), o processo de
ocupação econômico-espacial da mesorregião nordeste da Bahia, onde se insere o
município de Santaluz, deu-se a partir da pecuária extensiva e as rotas comerciais entre
as principais fazendas da região. Em função da baixa fertilidade do solo que inviabilizava
as produções agrícolas; a ocupação dos primeiros aglomerados populacionais ocorreu nas
proximidades dos rios, lagos e brejos, tanto pelas melhores condições para produzir
quanto pela disponibilidade de água.
24
A introdução do sisal na região ocorre por volta de 1903, contudo, sua maior
representatividade econômica ocorre a partir de 1940. No período pós-guerra, “o sisal foi
considerado a 1“planta redentora”, recuperado econômica e socialmente, um vasto
território que vivia em “extremo pauperismo”, com sua população flagelada pela pobreza
e sujeita periodicamente aos êxodos rurais” (SILVA, 2012, p. 133).
Na década de 1960, o estado da Bahia lidera a produção nacional de sisal,
promovendo a integração regional a economia nacional. “Nesse período, a expansão da
produção do sisal ganhou força em razão das políticas de industrialização implantadas no
país – favorecendo a adoção de processos de mecanização do desfibramento, por meio da
máquina paraibana” (ibid. p. 134 – grifo do autor).
Cabe ressaltar que devido as características naturais inerentes a localização
geográfica, o Território do Sisal é marcado por períodos longos sem chuva na região. De
acordo com Silva (2012), a temperatura média anual está em torno de “23,6 ºC e 24,9 ºC”
e um volume de chuvas com cerca de “485,7mm (em Cansanção) e 942,4mm (em
Barrocas)”, caracterizando o bioma da “caatinga” com vegetação natural predominante
de “xerófilas tropical”.
A irregularidade nos períodos de chuva, que ocorre por volta de três meses
no ano, caracteriza a ausência de estações climáticas definidas e longos períodos de
estiagem. Estas condições contribuem também, para o tipo de solo com alto teor de
salinidade, que predomina no espaço natural (SILVA, 2012). A configuração deste
quadro natural enaltece a dificuldade e as especificações na relação homem x natureza na
região, no caso a agricultura torna-se limitada para algumas variedades. Mas o sisal “é
uma planta semixerófila – originária de Yucatán (México) – eminentemente tropical e
subtropical, suportando secas prolongadas e elevadas temperaturas” (SILVA, 2012, p.
137).
Figura 2: Planta do Sisal. Fonte: Disponível em: <http://www.sisal.ws/> Acesso em: 03 janeiro 2012.
1 O interesse na produção do sisal estava relacionado a sua utilização para fabricação de cordas, destinadas à indústria naval.
25
A adaptação da cultura nas áreas da caatinga apresentou bons resultados,
mas criou um quadro de desequilíbrio devido a inserção de um cultivar exótico, ou seja,
não é natural do bioma, produzindo um novo quadro natural. Segundo Lima (2008, p.
13),
[...]a ampliação das áreas cultivadas com o sisal acarretou uma drástica
redução da cobertura natural da caatinga. O desmatamento predatório e as
queimadas foram, sem dúvidas, responsáveis pelas externalidades negativas
que ainda hoje afetam a Microrregião da Serrinha.
Território do Sisal no contexto do Estado da Bahia –
Brasil. 2008.
Figura 3: Mapa do território do sisal na Bahia Fonte: SANTOS e SILVA, 2010, p. 10.
Nascimento (2007, p. 28) ressalta o papel das políticas de desenvolvimento
regional, que estimulam a produção da matéria-prima da fibra do sisal com a fiação
instalada no centro-sul do país e destinada à exportação. Na mesma década a produção
entra em declínio, devido ao desenvolvimento de fibras sintéticas proveniente do
petróleo, “a concorrência com a fibra sintética no mercado internacional e a falência da
política desenvolvimentista do governo Geisel precipitam a deterioração do
preço/produto da fibra natural” Silva (2012, p. 132) levanta questionamentos referentes a
deficiência de políticas de desenvolvimento, que ultrapasse as barreiras impostas pelo
quadro natural no Território do Sisal.
26
[...]Desde a década de 1930, a seca é uma “condição necessária para a
manutenção do domínio político nas mãos das elites”. Por isso, as políticas
públicas de “construção de represas e escavação de poços” sempre estiveram
dirigidas às áreas particulares dos fazendeiros, privando (e privatizando) boa
parte do volume de água. (CODES SISAL, 2010, p. 23) Em síntese, a
“indústria da seca” em nada contribui para reduzir a pobreza e a exclusão
social, permanecendo, até hoje, como “moeda de troca”. (SILVA, 2012, p.
132)
A caracterização fundiária na região, segundo Nascimento (2007, p. 32), está
atrelada a diluição das grandes fazendas do período da pecuária extensiva para a produção
familiar no período do sisal, com propriedades entre 5, 20 e 50 hectares. Na década de
1990, ocorre na região a reestruturação do espaço agrário regional, relacionando o
tamanho das propriedades ao tipo de produção. Assim, o autor define que nos minifúndios
com áreas de até 20 hectares, localizados nos entornos dos latifúndios, destinam suas
terras para o cultivo de lavouras temporárias voltadas para a subsistência, como o milho
e o feijão e pecuária diversificada, como bovinos e caprinos.
Os dados do censo agropecuário do IBGE em 1996 revelam essa disparidade
das áreas dos estabelecimentos por classes (Tabela 2) no município de Santaluz – Ba,
com prevalência de uma estrutura de estabelecimentos agropecuários de pequena
propriedade, com módulos fiscais caracterizados pelo INCRA entre 65 a 259 hectares,
em geral destinada a prática da agricultura familiar, conforme os critérios estabelecidos
pelo Ministério do Desenvolvimento Agropecuário (2006).
Tabela 2 – Tamanho e número de estabelecimento agropecuários por unidade de área no
município de Santaluz - BA em 1996
Tamanho de estabelecimentos Número de estabelecimentos
Até 1 ha 108
1 a 2 ha 123
2 a 5 ha 381
5 a 10 ha 329
10 a 20 ha 338
20 a 50 ha 454
50 a 100 ha 154
100 a 200 ha 111
200 a 500 ha 73
500 a 1000 ha 23
1000 a 2000 ha 11
2000 a 5000 ha 2
Total 2.107 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2012).
27
Ainda na década de 1990 é implantando na região o Território do Sisal, como
forma de reestruturação do espaço agrícola da cultura. Santos e Silva (2010, p. 75),
afirmam que a implantação do Território do Sisal não tem uma importância somente
econômica, mas representa o força motriz dos movimentos sociais na Bahia. É possível
entender que o sisal, devido a sua importância regional, representa uma monocultura, da
mesma forma que outras monoculturas (eucalipto, cana de açúcar, soja) existentes no
restante do país. Como toda a monocultura, a concentração de terras muitas vezes
demonstra a forma de apropriação desigual do capitalismo.
[...] o latifundiário que investe em grandes lavouras ou em grandes
empreendimentos pecuários busca a ampliação da homogeneização do espaço
rural pela via da manutenção de mecanismos que facilitem sua reprodução
enquanto agente que define os usos do território. Nesse caso esse agente está
conectado com os humores de uma mercado mundial de produtos agrícolas e
atua na área de plantio e beneficiamento do sisal que é exportado in natura ou
na forma de fios, cordas, tapetes e carpetes. (SANTOS e SILVA, 2010, p. 76)
O pequeno proprietário rural, por sua vez, organiza sua produção ponderando
a manutenção da estrutura familiar, não dispondo de recursos técnicos necessários para
viabilizar uma produção mais rentável, exercendo no seu espaço uma policultura
destinada aos mercados locais e regionais, estabelecendo uma relação de fluxos entre
campo e a cidade. Como afirmam Santos e Silva (2010, p. 76):
[...] Normalmente a pequena produção não dispõe de recursos técnicos de
ponta gerando, nos anos bons, uma produção que é vendida irregularmente
para os mercados locais e regionais, principalmente de produtos como milho,
feijão e mandioca. Também é comum a criação de caprinos e ovinos e a
manutenção de um pequeno campo de sisal de onde se retira a fibra
normalmente uma vez por anos.
O trabalhador assalariado é outra figura importante na estrutura fundiária do
Território do Sisal, pois vende sua força de trabalho nas atividades agrícolas e não-
agrícolas da região e, muitas vezes, estes trabalhadores são contratados de maneira
informal, com salários e condições de trabalho considerados irrisórios. (SILVA, 2012)
Santos e Silva (2010, p. 78), destacam que “especificamente no Território do
Sisal verificamos, em atividade de campo realizado no mês de agosto de 2009, que o
trabalho remunerado era 15,00 o dia enquanto o salário mínimo no Brasil era de R$
465,00”. Silva (2012, p. 137), também levanta os questionamentos sobre a exploração
dos trabalhadores no processo de produção e beneficiamento do sisal, destacando o modo
perverso de exploração do trabalho, “quem não se sujeitava à servidão do sisal ficava sem
alternativas de ocupação e renda”.
28
Outro ponto de ressalva está relacionado ao processo de inserção e
distribuição dos produtos do sisal no mercado, sobretudo a fibra seca do sisal, destacando
a dificuldade dos produtores de obterem lucro, pois a comercialização dependia de
intermediários para a exportação, retendo parte dos lucros dos produtores, “os produtores
rurais e os trabalhadores ficavam, na média, com 23% e 10%, respectivamente. É visível,
portanto, que os frutos econômicos e sociais do cultivo do sisal estão concentrados nas
mãos de intermediários e indústria oligopolistas”. (SILVA (2012, p. 137)
As más condições de trabalho, a dificuldade de obter renda, a falta de
incentivos públicos e a crise nos preços do produto do sisal, a partir da década de 1970,
representam os principais fatores que inviabilizaram a manutenção nesse processo
produtivo, seja como produtor e/ ou trabalhador assalariado ao mesmo tempo que, estes
fatores impulsionam o processo migratório da população que atua na produção do sisal,
nos diversos níveis de trabalho. Silva (2012, p. 138) destaca que “a crise local estimulou
a migração, temporária ou definitiva, de trabalhadores rurais, para centros urbanos
regionais (Feira de Santana), estaduais (Salvador) ou nacionais (São Paulo e Rio de
Janeiro, em busca de melhores condições de vida”.
Essas condições precárias de trabalho impulsionam a mobilidade da força de
trabalho para outras regiões e o surgimento de movimentos sociais na década de 1960.
Com o apoio inicial da Igreja Católica, da teologia da libertação, a partir de 1980, o
cenário das lutas no campo alcança relevância. As reivindicações correspondiam não
somente por melhores condições de trabalho, acesso à terra, incentivos para manutenção
no campo, mas também contra o trabalho infantil e a mutilação dos trabalhadores nas
máquinas paraibanas.
Entre 1980 e 1990, as mobilizações, reivindicações e organização da sociedade
civil multiplicaram-se no Território do Sisal. Nesse período, duas lutas foram
simbólicas – a luta contra a mutilação dos trabalhadores rurais e contra o
trabalho infantil. (SILVA, 2012, p. 139)
A concentração demográfica localizada em sua boa parte no campo, configura
um quadro agravado de mobilizações sociais (êxodo rural). Entretanto, de acordo com
Silva (2012, p. 146) desde 1960 a população rural correspondia a 80%, mas mesmo com
os intensos processos de modernização dos espaços urbanos, em 2010 no Território do
Sisal a população rural ainda correspondia a 58% da população, sem contar as pessoas
que moram na cidade e trabalham no campo. Em Santaluz a população rural, em 2010,
correspondia a 38,49% da população.
29
A partir dos fatos discutidos, pode-se perceber que a migração é uma
alternativa de sobrevivência para a população inserida no Território do Sisal e no caso
estudado, especificamente no município de Santaluz, a estrutura econômica, social,
política e cultural, propiciam para que a população migre, mesmo que temporariamente
para outras regiões, podendo ser dentro do próprio estado, pra regiões metropolitanas
mais desenvolvidas ou para outros estados em regiões que ofereça melhores condições
salariais, mesmo que não sejam tão significativa.
A migração nos municípios do Território do Sisal é um fenômeno cristalizado
na estrutura sociocultural dos indivíduos. Como forma de incentivar a permanência da
população neste espaço e sua territorialização foram criados na região programas
destinados aos jovens, como a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e
Solidário da Região Sisaleira (Fundação APAEB), situada no município de Valente (BA).
A fundação integra as possibilidades de desenvolvimento e melhoria de vida para os
jovens pela interação da escola com a agricultura. Outras organizações, como as
cooperativas de sisal, também contribuem para a tentativa de manutenção da população
na produção do campo, seja no sisal ou nas culturas de subsistência. (NASCIMENTO,
2008; LIMA, 2008; TEIXEIRA; FREIXO, 2011; SILVA, 2012)
2.3 – Aspectos comparativos entre o município de Santaluz e Carmo do Rio Claro
Para compreender a mobilidade populacional entre Santaluz e Carmo do Rio
Claro devem ser investigados fatores que favorecem os deslocamentos populacionais
eles. Como foi expostos nos tópicos anteriores em Carmo do Rio Claro prevalece a
produção de café que pela demanda por mão de obra atrai os migrante no período de maio
até agosto, que corresponde ao período de colheita do café. O município de Santaluz, tem
sua produção pautada na produção de sisal e na policultura de subsistência.
A Tabela 3, permite comparar os aspectos demográficos, econômicos e
sociais entre os municípios, que favorecem a atração e a repulsão de mão de obra ociosa,
constituindo o lugar de origem e o lugar de destino dos migrantes. É possível observar as
disparidades com uma diferença populacional de 13.412 habitante a mais em Santaluz,
porém a diferença na renda per capita é de 9.318, 23 reais a mais em Carmo do Rio Claro.
30
Tabela 3: Dados socioeconômicos comparativos entre os municípios de Carmo do Rio Claro e
Santaluz em 2010
Carmo do Rio Claro Santa Luz
População Total
20.426
33.838
PIB (mil reais)
279.244
147.193
PIB per capita (reais)
13.671,00
4.352,77
Produção agropecuária (mil reais)
99.647
20.115
Índice de pobreza
16,87%
47%
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2012) apud CARDOSO E ALVES
(2013, p. 2).
Outro ponto relevante demonstrado na Tabela 3, corresponde ao índice de
pobreza que a diferença exorbitante entre os municípios é de 30, 13 % a mais em Santaluz.
Portanto é possível observar as disparidades entre os municípios, e o fato de que, o
tamanho da população de Santaluz e o elevado índice de pobreza, transparecem num
quadro social que propicia a migração no município, como um centro de reserva de mão
de obra disposta a se deslocar.
Na produção agropecuária é notório a diferença de valores arrecadados com
as produções, assim como o valor da terra também difere entre os municípios segundo os
módulos fiscais estabelecidos pelo INCRA. Na Tabela 4 é possível comparar, apesar da
diferença entre o tamanho do módulo fiscal e entre os municípios, a estrutura fundiária
de acordo com o tamanho dos estabelecimentos agropecuários e o número de
estabelecimentos em cada classe, conforme dados da tabela 4, referente ao número de
estabelecimento agropecuários dos dois municípios.
Tabela 4 – Estrutura das propriedades de acordo com os módulos fiscais e a quantidade por
município em Santaluz e Carmo do Rio Claro.
Santaluz Total
Carmo do
Rio Claro Total
Minifúndio < 1 MF
64 ha
1733
22 ha
549
Pequena 1 a 4 MF
65 a 259 ha
265
23 a 87 ha
390
Média 1 a 16 MF
260 a 1039 ha
96
88 a 351 ha
154
Grande > 16 MF
1040 ha
36
352 ha
13
31
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e INCRA (2013).
A configuração dos espaços agrícolas nos dois municípios apresentam
discrepâncias na forma de distribuição de terras. No caso de Carmo do Rio Claro, mesmo
a monocultura do café sendo a principal atividade ela é exercida com base na estrutura de
agricultura familiar, como mostra a Tabela 5.
Tabela 5 - Representatividade do cultivo de café de acordo com a estrutura fundiária em
Carmo do Rio Claro – MG em 2006
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2013).
No município de Santaluz, a representatividade da estrutura fundiária permite
compreender as discrepâncias no modo de produção desigual, pois prevalece o modelo
de agricultura familiar. Todavia, é possível analisar com base na tabela 6, a concentração
da produção no modelo de agricultura não familiar, tanto pela quantidade produzida
quanto pelos rendimentos da produção.
Tabela 6- Relação entre o modelo de estrutura fundiária agrícola e a produção agrícola em
Santaluz – BA em 2006
Quantidade produzida
(Quilogramas)
Área colhida
(Hectares)
Valor da produção
(Reais)
Agricultura
familiar
92.317
1.515
52.844
Agricultura não
familiar
890.552
1.281
487.634
Total
982.869
234
540.478
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2013).
A representatividade das monoculturas do sisal e do café nos municípios de
Santaluz e Carmo do Rio Claro respectivamente correspondem as principais atividades
econômicas, como forma de comparativo do rendimento da produção anual das duas
Agricultura Familiar
Agricultura Não Familiar
Hectares
%
Hectares
%
Café
2.257
94,23
4.506
85,86
Total de
hectares por
segmento
2.395
100
5.248
100
32
commodities, com base nos dados do IBGE, representado no gráfico 1 é possível observar
a diferença do rendimento do valor dos dois produtos no mercado.
Gráfico 1: Gráfico comparativo entre o valor da produção de sisal em Santaluz - BA e do café em
Carmo do Rio Claro - MG2
Fonte: Produção Agrícola Municipal – IBGE (2013)
A diferenciação na estrutura econômica propicia a compreensão de processos
que impulsionam a mobilidade populacional entre os dois municípios, representado pela
migração temporária para a colheita do café.
No capítulo 3 são retomados algumas considerações teóricas e metodológicas
sobre o conceito de migração ao longo do desenvolvimento do pensamento geográfico,
os tipos e os processos inerentes ao tema, como a des-re-territorialização.
2 As variações nos valores arrecadados, como pode ser observado no gráfico está
relacionado a produção do café, por ser um cultura bi anual.
R$ 0
R$ 10.000
R$ 20.000
R$ 30.000
R$ 40.000
R$ 50.000
R$ 60.000
R$ 70.000
R$ 80.000
R$ 90.000
R$ 100.000
VALOR DA PRODUÇÃO ENTRE 1994 A 2010
Café Sisal
33
3 – PERSPECTIVAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS, TIPOS DE
MIGRAÇÃO E OS PROCESSOS DE DES-RE-TERRITORIALIZAÇÃO
Os processos migratórios estão engendrados nas diversas sociedades e podem
ser definida pelo deslocamento populacional no espaço, motivado por fatores diversos.
Damiani (1991, p. 62) traz uma definição de migração como permanente, episódicas,
espontâneas e compulsórias. Mas as relevâncias correspondem não as formas, mas aos
motivos que geram a migração que giram, sobretudo, em torno dos motivos políticos e
econômico. A mesma autora levanta a discussão sobre a abordagem genérica atrelada aos
processos migratórios, valendo-se somente dos fatores de aumento demográfico e não
indagando os processos históricos que produzem o quadro favorável à migração.
As economias e as sociedades se diferenciam cada vez mais pela sua aptidão
em absorver no mercado de trabalho as camadas jovens, e pela maior ou menor
rapidez de eliminação dos trabalhadores envelhecidos. Pierre George acentua:
as crises e os períodos de desemprego engendram vagas de emigrantes.
Haveria um desequilíbrio provocado por uma economia, cuja a mecanização e
a racionalização são aceleradas. (DAMIANI, 1991, p. 63)
Damiani (1991, p. 63) ressalta a importância da compreensão dos elementos
que produzem as estruturas sociais e econômicas, levantando a discussão referente a falta
de atribuição destes elementos na análise e compreensão dos processos migratórios.
Portanto, é essencial atribuir as disparidades geradas pelo sistema capitalista na análise
da migração, mesmo que em diferentes escalas de análise investigar os fatores
condicionados pelo capitalismo que impulsionam o processo migratório.
No Brasil a migração faz parte do processo histórico de colonização,
assumindo as definições apontadas por Damiani (1991) desde a vinda dos portugueses, o
tráfico de escravos e a migração para o povoamento. Dentro do desenvolvimento
econômico e social do país a migração assume um papel fundamental na análise do
desenvolvimento dos diferentes espaços nos diferentes períodos de formação do território
nacional.
De acordo com Santos (2008), com a expansão do capital técnico-científico
modificam-se as estruturas de produção, o que vai permitir ao capital estruturar e
reestruturar as forças produtivas, tornando uma dada região mais atrativa que outras, aos
fluxos econômicos e migratórios. A mobilidade populacional deixa de ser apenas o
deslocamento pela vontade do indivíduo e revela a força da lógica do capital que direciona
e condiciona essa força de trabalho, para atender as necessidades de produção em
34
diferentes espaços. De acordo com Ferreira (1992, p. 19 apud CARMO, 2012, p.1) esse
processo perverso não está relacionado a liberdade do indivíduo, mas as estruturas que o
impulsionam.
A população não migra por um direito de liberdade de locomover-se na busca
de algo melhor ou por livre opção de escolha de moradia. Ela se desloca porque
é impelida, coagida por estruturas econômicas, políticas e sociais e
ideologicamente injustas, que, privilegiando as classes dominantes, condenam
milhões de famílias a um desenraizamento sem fim.
De acordo com Haesbaert (2011, p. 238), “pode-se definir a mobilidade como
a relação social ligada à mudança de lugar, isto é, como o conjunto de modalidades pelas
quais os membros de uma sociedade tratam a possibilidade de eles próprios ou outros
ocuparem sucessivamente vários lugares”. Ele também define o migrante como uma
“parcela integrante ou que está em busca de integração numa (pós) modernidade marcada
pela flexibilização e precarização das relações de trabalho”. (HAESBAERT, 2011, p.
246)
Desta forma, a mobilidade populacional representa um fenômeno importante
na análise espacial atual e de acordo com Brito (2002), os deslocamentos após a década
de 1990, alteraram suas dinâmicas em função do processo de desconcentração produtiva
e a incapacidade do migrante de obter mobilidade social por meio da migração
promovendo uma ampliação da migração de retorno, principalmente dos que se
deslocaram para as metrópoles. As migrações interestaduais também aumentam o seu
fluxo, destacando as migrações temporárias e sazonais, impulsionadas pelo processo de
globalização permitindo que os migrantes mantenham suas bases fixas no seu local de
origem.
3.1 – Perspectivas teóricas e metodológicas sobre a migração
Dentro das perspectivas teóricas e metodológicas sobre migração, vários
autores compreendem o fenômeno diante da ótica do desenvolvimento da ciência
geográfica. As definições conceituais referentes à migração acompanham as perspectivas
que subsidiaram o desenvolvimento do conhecimento científico.
Uma definição bem genérica referente às características da migração, expõem
que a definição depende da “distância do deslocamento, o tempo de permanência ou
residência e o local de origem e destino do fluxo”. (SALIM, 1992 apud PÓVOA, 2007,
p. 46). Esta definição está inserida na visão neoclássica norteada pelos fundamentos da
35
Geografia Tradicional, pautada no determinismo que analisa o migrante como um portar
de trabalho, motivado a se deslocar por questões racionais com, a possibilidade de
“comparar a área de origem do futuro movimento migratório com as potenciais áreas de
destino”. O que parece ser uma motivação individual é na verdade um interesse do
mercado que viabiliza a relação entre os locais de origem e destino, o que impulsiona a
migração (PÓVOA, 2007, p. 49). Becker (2006, p. 332) destaca que:
[...] a visão neoclássica das migrações baseava-se num enfoque determinista:
o fenômeno migratório estava reduzido à identificação e quantificação de uma
forma isolada e pontual, esse enfoque torna-se a-histórico e pretensamente
apolítico, em oposição ao método histórico dialético.
Para os autores neoclássicos, como exposto por Póvoa (2007, p. 49), o espaço
era considerado como “equilibrado” ou “desequilibrado”, conforme a junção de fatores
próximos ou não de um terminado ponto “ótimo”. Bem como, a colocação de Becker
(2006, p. 332), que reforça as consideração a respeito das perspectivas neoclássicas.
Na visão neoclássica, a migração era percebida como um mecanismo gerador
de equilíbrio para economias em mudança, especialmente aquelas mais pobres.
A mobilidade era considerada, portanto, fluxo de ajustamento, sinal e fator do
pregresso econômico. GAUDEMAR (1977, p. 18) contesta tal concepção ao
discorrer sobre “a mobilidade dos homens enquanto estratégia para perpetuar
as desigualdades de espaço”.
A busca incessante por modelos matemáticos para mensurar o volume, as
distâncias e os fluxos da migração no espaço, remetendo-nos a chamada Geografia
Pragmática. Becker (2006, p.327), proporciona uma reflexão sobre o assunto, a partir da
citação.
A partir dos anos 40, os estudos passaram a considerar a equação migração-
distância: trabalhos estudaram as leis da migração de Ravenstein a partir da
formulação de modelos matemáticos e estatísticos. Para STOUFFER (1940) e
posteriormente DORIGO e TOBLER (1983), a migração representava agora o
resultado de uma equação matemática: eram somados e subtraídos efeitos dos
fatores de evasão e atração, mediados pela distância, esta considerada o
“obstáculo interveniente” a ser vencido.
A dificuldade de seguir as diretrizes dos autores neoclássicos, está
relacionada a dificuldade de detectar os movimentos dos fluxos populacionais no espaço,
e o fato de desconsiderar os fatores históricos que favorecem os deslocamentos. Deste
modo a citação de Póvoa (2007), ressalta a dificuldade de obter dados exatos sobre os
fluxos migratórios, por eles passarem despercebidos nos sensos demográficos, “a
mobilidade do trabalho deveria ser perfeita, acompanhando a tendência geral da
circulação das mercadorias num espaço que tendia à homogeneidade” (PÓVOA, 2007, p.
50).
36
As críticas mostram que a dificuldade na análise do fenômeno migratório
corresponde a escala de análise adotada para o estudo. Portanto a pesquisa in lócus oferece
um maior subsídio para compreender a migração, a partir da perspectiva do próprio
indivíduo é possível analisar o contexto histórico e político ao qual eles estão inseridos,
que influencia na decisão de migrar.
Outra corrente teórico-metodológica sobre migração é a histórico-estrutural,
ao qual “busca enraizar sua análise no solo dos contextos históricos e geográficos
específicos.” (PÓVOA, 2007, p. 50) e acompanha abordagem da Geografia Radical. Esta
teoria esta pautada na análise de grupos e classes sociais que sofrem com a força de
estruturas sociais, demonstrando a maior ou menor propensão para a migração e a insere
dentro do contexto social, caracterizado por Singer (1973), como “fenômeno social
historicamente condicionado, tornando-se o resultado de processo global de mudanças,
separado do qual não deveria ser considerado”. (SINGER, 1973, p. 217 apud BECKER,
2006, p. 332)
Em relação aos fatores que geram a migração pode-se relacionar às áreas de
origem e Singer (1973) determinou dois fatores primordiais relacionados a migração no
campo. Os “fatores de mudança”, gerados a partir do aumento da produtividade do
trabalho e pela inserção das relações capitalistas de produção, que expropria os
trabalhadores rurais da terra e os “fatores de estagnação”, associados à pressão
demográfica gerada a partir da expropriação das culturas de subsistência, pelo capital
monopolista dos latifúndios monocultores. (SINGER, 1973, apud BECKER, 2006, p.
334)
Silva e Menezes (2009, p. 2) destaca as perspectivas pontadas por Singer
(1973) e atrela às áreas de estagnação a fatores, como o predomínio de culturas de
subsistência, que devido as dificuldades físicas, a deficiência de políticas de créditos e a
dificuldade de inserção no mercado produzem um quadro favorável à migração e para o
desenvolvimento dos latifúndios.
Becker (2006, p. 334) também expõem os vários autores que relacionam a
migração aos processos históricos da apropriação capitalista de produção, principalmente
na agricultura. Peek (1978) relaciona os movimentos migratórios ao processo de transição
da produção agrícola não-capitalista para a capitalista, nos países em desenvolvimento,
principalmente na América Latina. Já Gaudemar (1998) partiu do enfoque neomarxista
para explicar que a mobilidade acompanha os movimentos do capital. A mobilidade seria
uma decisão forçada, divergindo da visão neoclássica, onde o migrante tomava a própria
37
decisão de migrar, tornando-se força de trabalho sujeita ao capitalismo como mercadoria.
Para Corrêa (1998) a mobilidade espacial é determinada e determinante da acumulação
capitalista de produção.
A partir desta perspectiva teórica, a mobilidade espacial é encarada como um
fenômeno social. Contudo, a operação metodológica durante a pesquisa desvaloriza a
utilização de inquéritos junto a migrantes, (uma vez que, enfoca diagnósticos estruturais
das áreas de origem dos migrantes) (PÓVOA, 2007, p. 50), configurando assim a
dificuldade de utilização da abordagem histórico-estrutural. Além da dificuldade de
compatibilizar os níveis macro e micro da pesquisa, exposto pelo mesmo autor.
A análise da migração sobre a ótica da teoria neomarxista aponta o migrante
como, “um portador de trabalho, fator produtivo que, em combinações adequadas com a
terra e o capital, apresenta interesse para os processos de desenvolvimento econômico”
(PÓVOA, 2007, p. 49). Essa teoria acompanha as premissas da Geografia Crítica, que
analisa o migrante partindo da lógica capitalista. Mesmo que a decisão de migrar seja
uma escolha individual são os fatores econômicos, sociais, culturais e políticos que criam
as condições necessárias para a efetiva migração. Becker (2006, p. 341) aponta a
migração como sendo um indicador de desenvolvimento do capital que atrai a força de
trabalho.
[...] Na sociedade capitalista, a modalidade representa um meio para a
reprodução do capital, uma vez que uma força de trabalho “livre” e “móvel”
torna-se essencial para o processo de acumulação. [...] uma massa de
trabalhadores “latentes” ou “estagnados”, seguindo os movimentos do capital,
representa um indicador de desenvolvimento capitalista.
O sistema se apropria da necessidade dos indivíduos, atrelado aos fatores
sociais que condicionam a mobilidade, construindo o ambiente favorável à efetiva
migração, além de atuar de modo perverso na apropriação e exploração da força de
trabalho. Como explicitado por Póvoa (2007, p. 324): “O capital pode escolher a força de
trabalho onde melhor lhe convir a da forma que lhe for ainda mais rentável, pois crescem
de forma assustadora os estoques de população excedente”.
A circulação das forças de trabalho é o momento da submissão do trabalhador
às exigências do mercado, aquele em que o trabalhador, à mercê do capital e
das crises periódicas, se desloca de uma esfera de atividade para outra; ou por
vezes aquele em que sucede o trabalhador ser “sensível” a toda variação da sua
força de trabalho e de sua atividade, que lhe deixa antever um melhor salário.
(GUADEMAR, 1977, p. 194 apud MELCHIOR, 2010, p. 235)
Partindo da análise sobre o arcabouço teórico sobre a migração é possível
compreende-la como um fenômeno, que serve e reforça o sistema capitalista de
apropriação e exploração da força de trabalho e faz a mobilidade sirva para atender
38
necessidades do processo de produção. A migração portanto, pode assumir diversas
formas para atender as necessidades do capitalismo.
3.2 – Tipos de migração
A migração se dá a partir de vários fatores e de diversas formas, podendo ser
interna ou externa, temporária ou permanente. Damiani (2011, p. 41) reforça que
independentemente do tipo de migração o que prevalece é o modo de expropriação e de
exploração do capitalismo.
A prevalência da propriedade fundiária que causa a expropriação da terra e
desloca a população, obrigando-os a migrar para outras regiões onde existe a necessidade
de mão de obra, o que acarreta a migração, seja rural-urbana, rural-rural, intra-regional
ou inter-regional, independente da origem ou do destino. O que determina a migração são
os fatores econômicos, sociais e políticos vigentes em cada momento histórico.
(BECKER, 2006, p. 321-322)
No Brasil é possível destacar o período da década de 1970 como um período
de intensificação do processo de industrialização do país e da modernização do campo,
produzindo um deslocamento no sentido rural-urbano e urbano-urbano. Este fluxo era
direcionado para a manutenção da força de trabalho, na metrópole paulista. Contudo, o
grande fluxo de migração causou a “deteriorização nas condições de vida de suas
populações" e a marginalização do migrante sobretudo nas áreas urbanas. (BECKER,
2006, p. 320)
Os deslocamentos populacionais dentro do território nacional, configuram
alguns tipos de migração. As migrações internas podem ser permanentes quando os
migrantes se fixam nos locais de destino, ou pendulares que corresponde ao deslocamento
da residência para o trabalho, num movimento de ida e volta cotidianamente (FARIAS,
2012, p. 6). A modalidade de migração temporária corresponde aos deslocamentos para
atender a demanda por mão de obra em diferentes regiões, onde os migrantes se deslocam
para trabalhar em diversas atividades tanto no campo quanto na cidade e estes migrantes
permanecem nos locais de destino até que exista a demanda por trabalho e depois
retornam ao seu local de origem.
[...]essa forma de migração temporária insere-se na problemática social das
migrações, no tocante à questão da reinserção precária de populações
camponesas ou de origem camponesa. Isso ocorre em um contexto em que as
pessoas que migram o fazem, na maioria das vezes, disposta a aceitar
39
condições precárias e até degradantes de trabalho, de direito à vida, o que
assinala a insegurança, aqui e alhures, de quem sobrevive do trabalho
temporário na contemporaneidade, em um relativo e provisório apaziguamento
de suas necessidades vitais. (SILVA, 1999; MARTINS, 2003; PIALOUX E
BEAUD, 2003 apud SILVA et al 2007, p. 61).
No presente trabalho destacamos os aspectos inerentes a migração sazonal,
que corresponde ao deslocamento populacional em período determinados pelas
necessidades de produção, com relevância para os períodos de colheita, os quais
representam o principal fator da migração. No Brasil este tipo de migração ocorre,
sobretudo, na colheita da laranja, da cana-de-açúcar, no café, no algodão, entre outras
monoculturas. A migração sazonal difere da temporária, pelo deslocamento em períodos
determinados pela colheita e geralmente está relacionado ao campo, mesmo sendo
marcada pela sazonalidade, esse modelo de migração não deixa de ser temporário.
(CARMO, 2012)
Dentro do contexto da migração, especificamente a sazonal, vale destacar que
o migrante se desloca por condições de sobrevivência ou em busca de melhores condições
trabalho e renda. O deslocamento para outras regiões à procura de trabalho permite que
este se mantenha no seu local de origem, garantindo a sobrevivência tanto no campo
quanto na cidade. De acordo com a definição de Menezes (1990, p. 39):
A migração cíclica é uma boa medida sazonal, mas seu movimento não é dado
apenas pela diferença de intensidade de trabalho entre vários momentos do
ciclo agrícola. É dada também pela disponibilidade de produtos:[...] A
migração é então uma forma de utilizar um fator de produção ocioso e expressa
uma divisão de trabalho clássica nas práticas de reprodução social camponesa.
Na migração sazonal os migrantes passam a estabelecer relações entre o lugar
de origem e o lugar de destino, compreendendo uma rede de comunicação e informação
que permite a mobilidade de grupos em busca de trabalho, a qual é definida por Saquet e
Mondardo (2010) como uma rede social de migração. O movimento de saída e chegada
e as relações sociais estabelecidas no seio do deslocamento é definido por Haesbaert
(2011), como o processo de des-re-terririalização, o qual será exposto no tópico seguinte,
para compreender os processos inerentes a migração.
3.3 – A rede social de migração e o processo de des-re-territorialização
Tais conceitos e os fatores que condicionam os indivíduos a se deslocarem,
configurando uma rede social de migração, são utilizados por vários autores para explicar
o fenômeno da mobilidade populacional no espaço. Nesses termos, a mobilidade não pode
40
ser entendida separada da “Formação Socioespacial” dos indivíduos, pois sociedade e
espaço caminham juntos no seu processo de formação. (SANTOS, 1977 apud SOUZA,
2010, p. 181)
A migração se desenvolve a partir de uma rede social, onde os fluxos de
comunicação e informação estabelecem redes, originadas pela mobilidade populacional
para suprir a questão do trabalho, em centros de atração de mão de obra disponível. Ou
seja, dentro do contexto analisado o principal fator gravitacional da migração temporária
é o econômico.
Vale ressaltar as questões políticas que favorecem o desenvolvimento
desigual de diferentes localidades, produzindo os centros de atração e repulsão de força
de trabalho. Portanto, o migrante se desloca para vender sua força de trabalho e deixa no
local de origem seus laços sociais, ao mesmo tempo que, traça uma rede de relações
socioespaciais determinadas pelos fluxos dos deslocamentos. Noutros termos, estes vão
passar por um processo de desterritorialização, como tratado por Haesbaert (2011, p. 235-
245):
[...] Desterritorializar poderia significar, então, diminuir ou enfraquecer o
controle dessas fronteiras (como vimos para o caso das fronteiras nacionais),
aumentando assim a dinâmica, a fluidez, em suma, a mobilidade, seja ela de
pessoas, bens materiais, capital ou informação. [...]A associação entre
desterritorialização e migração, embora mais implícita do que explicitamente
presente, é uma constante na literatura vigente. Em que sentido, contudo,
podemos dizer que as migrações são também processos de desterritorialização?
Haesbaert (2011, p. 246) responde que a migração é um processo que está
para além da desterritorialização, pois ela “pode ser vista em diversos níveis de des-
reterritorialização” e “não há desterritorialização sem (re)territoriliazação”. Do mesmo
modo, que o território se encaixa em diferentes perspectivas como econômica, política ou
cultural, os processos de territorialização - como fruto da interação entre relações sociais
e de controle do/pelo espaço, relações de poder em sentido amplo – devem ser analisados
ao mesmo tempo de forma concreta (dominação) e simbólica (como um tipo de
apropriação). (HAESBAERT, 2011, p. 246)
De acordo com Santos (2007), a migração é um fato político, que envolve
relações de poder, interligado ao processo de des-re-territorialização. Aqui, as redes
sociais vão contribuir para a compreensão deste processo, a partir da perspectiva do
cotidiano do migrante, que produz um novo sentido para as relações sociais. A rede, por
sua vez, “forma um espaço social onde é tecida uma variabilidade de ações
intersubjetivas, como relações de poder, conflito, consenso, força, dissenso e sentimento
41
de solidariedade e compaixão”. Saquet (2003, p. 39 apud SOUZA, 2010, p. 179) mostra
de modo claro como ocorre o processo de des-re-territorialização:
[...] simultaneamente, à desterritorialização dá-se a reterritorialização. São
processos intimamente ligados na dinâmica sócioespacial, Na primeira, há
perda do território inicialmente apropriado e construído a supressão dos
limites, das fronteiras, como afirma Reffestin (1984), e na segunda, uma
reprodução dos elementos do território anterior, pelo menos, em algumas das
suas características. O velho é recriado no novo, num movimento que
representa as forças sociais, em que um dos papéis do Estado é justamente a
reterritorialização.
Pode-se considerar, neste contexto, uma “multiterritorialidade”, no sentido da
migração como uma experiência de vivência de múltiplos territórios, articulados em rede.
O que permite afirmar, que o migrante é uma categoria complexa, “que se desloca antes
de tudo por motivos econômicos, imerso nos processos de exclusão socioeconômica, e
que podem vivenciar distintas situações de des-territorialização. Ele pode estar deixando
um emprego mal remunerado para buscar outro com remuneração mais justa”
(HAESBAERT, 2011, p. 246)
A capacidade de “escolha” de se deslocar, de ir e vir no espaço, faz com que
o migrante possa decidir qual o melhor momento de reterritorializar. Haesbaert (2011, p.
249) destaca “às diferentes possibilidades que o migrante carrega em relação ao ‘controle’
do seu espaço, ou seja, à sua reterritorialização, o que inclui também, é claro, o tipo de
relação que ele continua mantendo com o espaço de partida.” A relação do migrante com
o seu local de origem, permite que, este mesmo que distante, tenha algum vínculo com o
local de partida, como a família, a comida, a cultura, etc. A migração constrói uma trama
de redes complexas, onde os migrantes vão estabelecendo vínculos e construindo
territórios em diferentes espaços. Saquet e Mondardo (2008. p. 123) afirmam:
Há pois, construção de territórios em rede no interior das relações sociais
produzidas pelos migrantes e não-migrantes, entre os territórios de origem e
destino, na mobilidade espacial. Os migrantes produzem territórios e redes,
territórios em rede, através da integração ao mercado de sua força de trabalho,
da comercialização, da comunicação, das representações, das organizações
políticas, das viagens[...]
Silva e Menezes (2009, p. 6) destacam que o migrante não se insere no local
de destino, mas cria uma relação entre origem e destino pela integração dos fluxos entre
estes espaços.
Os conceitos abordados contribuem para a interpretação dos dados
investigados in loco, que permitem compreender as motivações que levaram os migrantes
a se desterritorializar e a relação entre local de partida e de origem, dentro da rede de
migração traçada entre os espaços.
42
4 – AS RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS E A REALIDADE DOS MIGRANTES
O deslocamento da população de Santaluz-BA em busca de trabalho para
outras regiões, representa a falta de investimentos e incentivos que promovam a
manutenção dessa mão de obra disponível no município de origem diluindo as
desigualdades. Os migrantes se deslocam para o distrito de Vilelândia em Carmo do Rio
Claro – MG, em busca de trabalho no período de colheita do café, que necessita de um
grande contingente de mão de obra, em função da declividade onde estão localizadas as
lavouras de café no distrito, o que impede a implantação da colheita mecanizada, bem
como, dificuldade de aderir a uma produção moderna e mecanizada, principalmente por
se tratar da agricultura familiar.
Figura 4: Área de produção de café no distrito de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Cabe ressaltar a formação de um centro de repulsão de força de trabalho,
representado por Santaluz e um centro de atração representado pelo distrito de Vilelândia,
formando uma rede de deslocamento em períodos pré-determinados, pela colheita do café
caracterizando uma migração do tipo sazonal.
Os resultados apresentados neste capítulo correspondem a pesquisa de campo,
realizada no distrito de Vilelândia, com entrevistas com os moradores, comerciante e os
migrantes. A pesquisa pretende compreender as relações estabelecidas a partir do
processo migratório, que substancialmente altera a dinâmica do cotidiano, tanto dos
migrantes quanto da comunidade e impulsiona o comércio.
43
No distrito de Vilelândia prevalece a agricultura familiar, o que configura um
quadro de falta de mão de obra no período da colheita, e produz uma grande demanda por
trabalho, obrigando os agricultores a optarem por trabalhadores pendulares provenientes
das cidades vizinhas por migrantes. A Tabela 7, demonstra as formas de trabalho nas
lavouras de café no município de Carmo de Rio Claro, que num quadro geral também
engloba as práticas agrícolas do distrito.
Tabela 7 – Tipos de mão de obra empregadas em lavouras permanentes e na cafeicultura
por unidade de área em Carmo do Rio Claro, 2006
Agricultura
Familiar
Unidades
Agriculta Não
Familiar Unidades
Café Total Café Total
Só mão de obra familiar
398
417
46
46
Mão de obra familiar e empregado temporário
50
52
32
32
Mão de obra familiar, empregado temporário
e empregado permanente
6
6
60
66
Mão de obra familiar e serviço de empreitada
0
0
3
3
Mão de obra familiar e demais combinações
6
6
14
14
Não identificado
0
0
38
42
TOTAL 460 481 193 203 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2013.
A análise da Tabela 7, permite inferir a presença constante da utilização da
mão de obra familiar nas lavouras de café, sendo este tipo de força de trabalho
predominante tanto no café quanto em outras culturas de lavoura permanente. A utilização
de outros tipos de mão de obra aparecem com valores não tão expressivos nas unidades
de agricultura familiar, as 50 unidades que utilizam o trabalhador temporário podem
representar as contratações dos migrantes nos períodos da colheita. Já o seguimento de
agricultura não familiar, a maior representatividade corresponde a utilização de mão de
obra familiar, temporária e permanente e que também contrata migrantes para o trabalho
na colheita, representado por 60 unidades na cafeicultura.
4.1 – Perfil do migrantes
44
Os migrantes provenientes de Santaluz, carregam a necessidade de
sobrevivência e manutenção no seu local de origem. De acordo com, a pesquisa realizada
no distrito, onde foram entrevistados 61 migrantes e destes 83,6% são do município de
Santaluz, como representado no gráfico 2. Vale destacar que os municípios de Conceição
do Coite, Valente e Malhada também se encontram no microrregião da Serrinha e no
território do sisal, como foi abordado no capítulo 2.
Um dos objetivos da pesquisa realizada é traçar o perfil dos migrantes,
buscando compreender os anseios que levam os migrantes a se deslocaram para a colheita
do café. No gráfico 3 é possível observar a relação entre o sexo e a idade dos migrantes e
a análise dos dados permite inferir o predomínio de homens casados entre 30 e 40 anos,
que migram para vender sua força de trabalho em busca de uma complemento na renda,
para que possam se manter durante o ano, garantindo parte do sustento da família.
Gráfico 2: Municípios de origem dos migrantes. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013)
Woortmann (1990, p. 39) destaca o papel do pai de família camponês e
migrante, que tem a responsabilidade de assegurar o sustento da família e manter a sua
hierarquia. São as necessidades e as responsabilidades que impulsionam e configuram a
migração sazonal para oferecer a força de trabalho em outros espaços. “Migrar ou não
poderá depender então, não só da sazonalidade ou da alternância de anos bons e ruins,
mas igualmente das possibilidades de outros usos alternativos do tempo e dos recursos
disponíveis, realizando a cada ano um cálculo das vantagens relativas de permanecer.”
(WOORTMANN, 1990, p. 40).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Santaluz -
BA
Brasília de
Minas -
MG
Malhada -
BA
Conceição
do Coité -
BA
Valente -
BA
Tanhaçu -
BA
Montes
Claros -
MG
49
4 3 2 1 1 1
Municípios de origem dos migrantes
45
Gráfico 3: Número de migrante por sexo, idade e estado civil. Fonte: Pesquisa de Campo (Maio de 2013).
O número reduzido de mulheres (6,6%), também é perceptível, pois
geralmente elas ficam responsáveis por cuidar dos filhos e tomar conta dos bens, deixados
no local de origem, sobretudo as famílias que vivem no campo e que deixam suas
plantações e se deslocam. Assim, a mulher passa a ter seu papel também nesse processo
migratório e permitindo a existência de laços com o local de origem.
Outro dado importante é com relação aos homens solteiros, eles representam
41% do total de entrevistados, estes migram em busca de um complemento na renda
familiar e muitos migram junto com seus pais, para garantir a manutenção da família.
No processo de traçar o perfil dos migrantes é importante ressaltar o número
de filhos, por entrevistado como forma de entender as dificuldades de manter o sustento
da família.
No gráfico 4 é possível analisar que, o número de filhos por migrante é
pequeno e prevalece os indivíduos com apenas um filho, este fato pode estar relacionado
as dificuldades de renda e falta de trabalho, que diminui as taxas de natalidade e
consequentemente o número de filhos. Os 29% sem filhos representam os solteiros sem
filhos e os casados sem filhos.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
até 20 anos 20 a 30 anos 30 a 40 anos 40 a 50 anos mais de 50 anos
Nº
de
entr
evis
tad
os
Idade
Gênero, sexo e idade dos migrantes
Homens casados Mulheres casadas Homens solteiros Mulheres solteiras
46
Gráfico 4: Número de filhos por migrante. Fonte: Pesquisa de Campo (Maio de 2013).
O número de pessoas por residência segue a mesma perspectiva, quanto ao
perfil do migrantes permitindo observar que a maior representatividade são famílias
constituídas de até três pessoas.
Gráfico 5: Número de pessoas por residência dos migrantes. Fonte: Pesquisa de Campo (Maio de 2013).
As dificuldades de obtenção de trabalho qualificado relaciona-se ao nível de
escolaridade, como se pode observar no gráfico a seguir, cerca de 70% não completaram
o ensino fundamental e 100% não completou o ensino médio. Este fator, dificulta na
obtenção de um trabalho qualificado e com melhor remuneração, ressaltando o papel
Nenhum
29%
Um
33%
Dois
20%
Três
10%
Quatro
5%
Cinco
1%Sete
2%
Número de filhos por migrante
Nenhum Um Dois Três Quatro Cinco Sete
Um8%
Dois8%
Três25%
Quatro21%
Cinco16%
Seis10%
Sete2%
Oito7%
Onze3%
NÚMERO DE PESSOAS POR RESIDÊNCIA
47
importante da educação no processo de compreensão da realidade vivida, uma vez que, os
migrantes são expropriados de seus direitos de acesso a renda.
Gráfico 6: Nível de escolaridade por migrantes. Fonte: Pesquisa de Campo (Maio de 2013).
Como foi mencionado, a renda configura um fator impulsionador no processo
migratório. Os migrantes se deslocam em busca de um complemento na renda, uma vez
que, durante a pesquisa se observou o quanto os migrante são expropriados da renda e
porque é importante o complemento que eles conseguem na colheita do café. Conforme
o gráfico 7 abaixo, 72% dos migrantes sobrevivem com um salário mínimo, o que marca
a dificuldade enfrentada pelos migrantes, tornando-se praticamente um questão de
sobrevivência migrar e não uma simples decisão de buscar um complemento na renda.
Gráfico 7: Renda dos migrantes. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013)
72%
25%
3%
Renda dos migrantes
menos de 1 salário mínimo
1 a 2 salários mínimos
2 a 3 salários mínimos
Analfabeto
13%
Fundamental
Incompleto
70%
Médio Incompleto
17%
Grau de escolaridade dos migrantes
Analfabeto Fundamental Incompleto Fundamental
Médio Incompleto Médio Completo Ensino Superior
48
Na aplicação dos questionários, buscava-se observar qual a parcela dos
migrantes recebem auxílio do governo provenientes de programas de transferência de
renda, como o bolsa família. Os dados apresentados no gráfico 8 revelam que, dos
migrantes que tem família constituída praticamente todos recebem bolsa família e os que
não recebem correspondem boa parte aos solteiros. O recebimento do bolsa família
demonstra a dificuldade de obtenção de renda e a importância do valor disponibilizado
como garantia de um complemento na renda.
Gráfico 8: Migrantes que recebem bolsa família. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Como forma de representação das atividades exercidas estarem ligadas ao
campo, o gráfico 9 demonstra que dos entrevistados 79% tem sua renda proveniente de
atividades na agricultura e na pecuária.
Gráfico 9: Local de trabalho dos migrantes entrevistados. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
SIM NÃO
Bolsa família
bolsa família
21%
79%
Local de trabalho dos migrantes
Cidade
Campo
49
Os trabalhos desenvolvidos pelos migrantes no seu local de origem, também
configura um importante dado levantado durante a pesquisa, pois demonstra as formas
precárias de trabalho. Cabe destacar que, os lavradores representam a forma mais
abrangente da atividade exercida, como mostra o gráfico 10. O termo lavradores engloba
os que exercem atividades diversas no campo, na própria propriedade ou como contratado
das fazendas, trabalhando no corte do sisal, nas lavouras temporárias, entre outras
atividades. Portanto, o uso do termo lavradores foi utilizado para representar os
questionários, os migrantes que afirmaram que trabalhavam na roça ou no campo, para
melhor abrangência.
O gráfico 11 que corresponde ao local de residência dos migrantes, permite
inferir que, mais de um terço dos migrantes residem no campo, conforme os dados obtidos
em campo, configurando um deslocamento rural-rural. Essa relação com as práticas
agrícolas e o campo propricia uma melhor adaptação dos migrantes ao trabalho na
colheita do café. O que reforça a idéia referente as desigualdades regionais e a formação
de centros de atração e repulsão de mão de obra, destacando as concepções de Singer
(1973) referente aos “fatores de mudança” pelas dificuldades de modernizar os modos de
produção, e os “fatores de estagnação” relacionados as dificuldades de procuzir e se
manter na terra. (BECKER, 2006; SILVA; MENEZES, 2009).
41
93 3 2 1 1 1
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Último trabalho dos migrantes
Gráfico 10: Último trabalho dos migrantes. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
50
Gráfico 11: Local de residência dos migrantes. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
Num quadro geral é possível destacar que o perfil dos migrantes, em sua
maioria homens de 30 a 40 anos casados, com famílias constituidas entre três e quatro
pessoas, com nível de escolaridade com nível fundamental incompleto e renda com menos
de salário mímino, com residência e trabalho no campo da cidade de Santaluz-BA.
Conforme exposto no capítulo 2, o contexto histórico do município propia a
mobilidade, pela falta de incentivos públicos que diminuam as desigualdades presentes
no município e favorece o desenvolvimento das atividades no campo. Em ressalva, deve
considerar também a localidade do munípio, onde a ocorrência do bioma da caatinga
dificulta a implantação de atividades agrícolas eficientes. Contudo, o predomínio das
grandes propriedades e a implantação da monocultura do sisal favorece a configuração
de uma estrutura fundiária desigual e que impulsiona os deslocamentos populacionais.
4.2 – Perspectivas dos migrantes
Além de traçar o perfil dos migrantes é importante compreender as
perspectivas dos mesmos, buscando entender os anseios e desejos que impulsionam a
decisão de migrar. O gráfico 12, mostra os motivos pelos quais os migrantes deixam seu
local de origem e com maior correspondência na questão do trabalho e com mais da
metade em busca de melhores salários. A seca aparece nas justificativas, demonstrando o
convívio com as estruturas naturais, mesmo que esta dificulte o desenvolvimento das
Cidade
13%
Campo
87%
Local de Residência dos migrantes
Cidade Campo
51
atividades agrícolas no município. O fato permite ressaltar a falta de políticas de
investimentos que favorecam uma produção agrícola efetiva e que consiga romper com
as barreiras naturais de períodos longos de estiagem e baixa fertilidade do solo.
Gráfico 12: Motivo de migrar. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
A formação da rede social de migração, como apontado por Saquet e
Mondardo (2008), ocorre a partir da troca de informações entre os próprios migrantes que
estabelecem suas relações no local de origem e impulsionam a migração, a partir da olhar
das novas oportunidades para suprir as necessidades, apontadas no gráfico 12, sobretudo
por melhores salários.
O gráfico 13, mostra que o agenciamento ocorre a partir de amigos e
familiares, que apresentam a migração como uma possibilidade de obter um complemento
na renda.
16%
54%
18%
12%
MOTIVO DE MIGRAR
Seca
Melhor Salário
Falta de trabalho
Melhor trabalho
93%
7%
Angenciamento dos Migrantes
Amigos
Familiares
Gráfico 13: Forma de agenciamento dos migrantes. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
52
Nessa forma de agenciamento, a figura do gato3é deixada de lado e os grupos
contam com a presença de um líder responsável por entrar em contato com os
cafeicultores. Os migrantes dividem as tarefas de cozinhar e limpar o alojamento
favorecendo um clima confortável nos meses de trabalho na colheita. Geralmente a
proximidade nas relações entre os migrantes propiciam o suprimento das dificuldades de
ficar longe do local de origem.
O tempo de permanência no destino, corresponde ao período da colheita do
café, que corresponde aos meses de maio até agosto, configurando uma migração em
torno de três meses, como mostra o gráfico 14.
Gráfico 14: Tempo de permanência no destino da migração. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
No período da colheita os migrantes almejam uma renda complementar, que
representam um fator condicionante no processo migratório. O gráfico 15, demonstra o
quanto cada migrante pretende ganhar com o trabalho na colheita, sendo que a maior
parte, pretendem ganhar cerca de três mil reais, comparando com os salários ganhos pelos
migrante no seu local de origem, apresentado no gráfico 7 é possível afirmar que o valor
representa seis meses de trabalho dos migrantes, uma vez 72% dos migrantes recebem
menos que um salário mínimo.
3 A figura do “gato” é representada pela pessoa responsável pelo agenciamento dos migrantes na diversas
regiões do país e recebe por migrantes que ele leva para as colheitas.
1 mês
3 meses
4 meses
TEMPO DE PERMANÊNCIA NO LOCAL DE DESTINO
53
De acordo com as perspectivas dos migrantes observadas durante a pesquisa,
os três mil reais que pretendem ganhar representam o valor líquido, desconsiderando os
gastos com transporte e alimentação durante o período da colheita. Além de
eventualidades que podem ocorrer com o migrante ou com a família, que fica no local de
origem, mesmo assim, os migrantes enviam boa parte da renda para a manutenção da
família, ou seja, o que eles pretendem ganhar representam o valor final após os três meses
de colheita. O que permite afirmar que, os valores arrecadados durante toda a colheita são
maiores que os três mil reais.
Gráfico 15: Valor que os migrantes pretendem ganhar. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
A renda adquirida na colheita tem uma finalidade: de acordo com o gráfico
16, o dinheiro é destinado principalmente para a construção da casa, representando os
anseios dos migrantes. Vale destacar, a intenção de guardar o dinheiro na poupança para
algumas eventualidades durante o ano e ajudar a família. Os investimentos no sítio
também, representam a vontade de produzir e se manter na terra.
5%
31%
38%
18%
3%5%
Valor que o migrante pretende ganhar
Mil reais
Dois mil reais
Três mil reais
Quatro mil reais
Cinco mil reais
Seis mil reais
54
Gráfico 16: Destino do dinheiro ganho na colheita do café. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
Conforme os relatos dos próprios migrantes, os deslocamentos entre o
município de Santaluz e o distrito de Vilelândia teve seus primeiros migrantes no ano de
2004 e como pode ser observado no gráfico 1, no capítulo 1, neste mesmo ano ocorre uma
expansão nos valores arredados pela cafeicultura no município de Carmo do Rio Claro e
consequentemente a expansão da monocultura devido sua rentabilidade.Mais da metade
dos migrantes afirmaram na pesquisa, que não é a primeira vez que se deslocam para a
colheita do café no distrito, conforme mostra o gráfico 17.
Gráfico 17: Primeira vez na colheita do café. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
A constituição desse território está relacionado as relações sociais
estabelecidas entre os próprios migrantes. onforme o gráfico 18, é possível supor que os
deslocamentos em conjunto de amigos e familiares permite que os migrantes se
0
5
10
15
20
25
Aplicação do dinheiro do trabalho na colheita
36%
64%
Primeira vez na colheita
Sim
Não
55
reterritorializem e reestabeleçam seus laços sociais. O conjunto das relações estabelecidas
entre o local de origem e destino, configuram os laços que permitem os deslocamentos
por múltiplos territórios. Durante a pesquisa de campo foi possível observar que os
migrantes carregam alguns traços culturais, como a culinária e que pode ser considerado
mais um facilitador no processo de reterritorilização.
Gráfico 18: Intenção de voltar para a colheita no próximo ano. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
Alguns aspectos referentes as relações de trabalho foram levantados durante
a pesquisa de campo, com o intuito de compreender se existe algum tipo embates entre
os migrantes e os cafeicultores que os contratam. Ao questioná-los sobre as condições de
trabalho, os próprios migrantes estabeleceram os critérios e 95% dos entrevistados
afirmaram que, as condições de trabalho são boas (observar gráfico 19). Quando pedidos
para justificar, a maioria destacava que o trabalho é leve, que é possível obter renda, os
patrões são bons, deixam eles fazerem o horário na lavoura.
Gráfico 19: Perspectiva do migrante referente as relações de trabalho. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
57
4
0
10
20
30
40
50
60
Intenção de voltar na colheita do próximo ano
Sim Não
95%
5%
Condições de trabalho
Boa
Regular
56
O trabalho nas lavouras de café não é uma tarefa fácil, pois a jornada de
trabalho que garante uma obtenção de renda, está por volta de oito a nove horas diárias.
Portanto, os migrante consideram o trabalho bom, devido as dificuldades tanto de falta
de trabalho quanto os baixos salários em Santaluz.
Sobre as condições de moradia, os migrantes também poderiam definir como
“boa” ou “ruim”. Todos os entrevistados avaliaram os alojamentos oferecidos pelos
produtores como “boa”. Quando questionados as afirmações se repetiam, pois tinha lugar
para todos dormirem, água e energia, não passavam frio. A alimentação nas residências
são de responsabilidade dos migrantes, geralmente os cafeicultores oferecem ajuda para
comprar os mantimentos necessários, para sustentar o trabalho duro na lavoura.
De acordo com a NR 31 (Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no
Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestas e Aquicultura),
estabelecida em 2005, seu objetivo é:
[...]estabelecer os preceitos a serem observados na organização e no ambiente
de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento
das atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e
aquicultura com a segurança e saúde e meio ambiente do trabalho. (BRASIL,
2005)
Essa norma, estabelece as diretrizes que garante os direitos dos trabalhadores
no campo, no que tange as responsabilidades dos contratantes e dos trabalhadores. Os
migrantes que se deslocam para o distrito de Vilelândia não possuem contratos com os
cafeicultores que garantam os direitos trabalhistas. Portanto é possível destacar, a não
garantia dos direitos dos trabalhadores, bem como, a ausência da garantia das condições
de trabalho e moradia.
A partir dos relatos dos próprios migrantes é possível entender que, as
condições de moradia em Santaluz são tão precárias quanto as moradias oferecidas pelos
cafeicultores. A figura 5, mostra uma das residências onde se instalam alguns migrantes
é possível observar a precariedade em que se encontra a residência. As moradias
geralmente são oferecidas pelos cafeicultores, na maioria das vezes, os migrantes não
precisam pagar aluguel e energia elétrica. Contudo, é questionável a qualidade das
instalações oferecidas.
57
Figura 5: Residência onde se instalam migrantes. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
Sobre as principais diferenças entre o município de Santaluz e Carmo do Rio
Claro, mais da metade dos migrantes destacaram que o clima frio e as chuvas mais
constantes, mesmo no período de seca que compreende ao período da colheita,
configuram as principais diferenças entre os municípios. Nos relatos representados pelo
dados apresentados no gráfico 21, que mostra as diferenças entre Santaluz e Carmo do
Rio Claro, os migrantes destacam grande oferta por trabalho (obviamente melhor no
período de colheita que no decorrer do ano). Outros aspectos, como as comidas o
ambiente, que representa o lugar e as opções de lazer, também explicitam diferenças entre
o local de origem e destino, traçando um sentimento de nostalgia em relação ao lugar de
origem.
Gráfico 21: sobre as diferenças para os migrantes entre os municípios de origem e destino. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
Clima72%
Culinária3%
Ambiente6%
Oferta de Trabalho
16%
Lazer3%
DIFERENÇAS ENTRE SANTALUZ E CARMO DO RIO
CLARO
58
No movimento de saída do local de origem e chega no local de destino, os
migrante passam pelo processo de desreterritorialização, pelo fator de perder os laços
sociais no local de origem, ao mesmo tempo que ele reconstrói estes laços no local de
destino. (HAESBAERT, 2011). Quando perguntados sobre o que os migrantes sentiam
mais falta, a maioria respondeu da família, como mostra o gráfico 22, representando as
relações sociais dos migrantes com o seu lugar de origem, que enaltece os laços entre a
origem e destino da migração sazonal.
Gráfico 22: O que os migrantes sentem mais falta em relação ao local de origem. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
Em relação ao que os migrantes não sentem falta do lugar de origem,
principalmente os de Santaluz que correspondem a maioria dos migrantes, as afirmações,
apresentadas no gráfico 23, demonstram que a maioria não sente falta de nada. É o
sentimento de pertencimento ao lugar de origem que impulsiona a volta após o período
da colheita. Outro ponto importante é referente a não sentir falta das dificuldades do
trabalho, que muitas vezes é duro mal e remunerado no local de origem.
Gráfico 23: O que o migrante não sente falta no lugar de origem. Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
5%
93%
2%O que os migrantes sentem falta do lugar de origem
Amigos
Família
Cultura local
Falta de Trabalho
28%
Clima
23%
Nada
44%
Culinária
5%
O que os migrantes não sentem falta do lugar de origem
59
Ao perguntar se eles tem a intenção de voltar para o lugar de origem e 100%
dos entrevistados afirmaram que tem intenção de voltar. Mesmo com todas as
dificuldades de sobreviver do trabalho mal remunerado e com condições precárias, como
falta de água encanada e energia elétrica em alguns casos, o sentimento de pertencer a
determinado lugar, configurando um espaço territorial do migrante, tecido nas relações
sociais estabelecidas no lugar de origem, impulsionando a migração de retorno.
Analisando essa perspectiva, é possível observar um nível de satisfação, no
que diz respeito ao trabalho e os valores arrecadados na colheita. Dentro do contexto
exposto por Haesbaert (2011), sobre a des-re-territorialização é possível identificar que
os migrantes já se sentem parte integrante de um território constituído no distrito de
Vilelândia, pelo relato da intenção de voltar na próxima colheita.
As relações sociais entre a origem e destino, configuram um importante
elemento para compreender o processo de migração e a relação das trocas de fluxos entre
Carmo do Rio Claro e Santaluz. A investigação sobre como a população e os comerciantes
do distrito de Vilelândia concebem a migração nos períodos da colheita, sobretudo pelo
aumento significativo do número de pessoas que se deslocam e o choque de cultura,
gerado a partir do movimento migratório será desenvolvido no tópico seguinte.
4.3 Perspectivas da população local e dos comerciantes
As entrevistas realizadas com a população do distrito de Vilelândia, teve
como intuito compreender as diferentes opiniões sobre as alterações que ocorrem na
dinâmica do distrito, no período em que os migrantes estão presentes. Os questionários
foram aplicados de maneira aleatória entre homens e mulheres que residem no distrito, o
único critério correspondia a maioridade, por trazerem uma opinião mais formada sobre
as alterações sócioespaciais que ocorrem nesse período.
O perfil da população entrevistada é bem diversificada, mas predominando o
perfil de homens e mulheres casados entre 40 e 50 anos, conforme os dados apresentados
60
no gráfico 25. Durante a pesquisa foi possível observar as diferenças entre as opiniões
referente a presença dos migrantes no distrito.
A cidade de origem da população entrevistada, em sua maior parte é do
próprio município de Carmo do Rio Claro e por conseguinte do distrito. Em relação aos
que são de Alpinópolis é importante destacar a proximidade desse distrito com o
município de Carmo do Rio Claro (gráfico 26).
Gráfico 26: Município de origem da população entrevistada residente no distrito de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
O nível de escolaridade da população local entrevistada, corresponde a mais
da metade da população com nível fundamental (conforme os dados apresentados no
17%
83%
Origem da população local
Alpinópolis
Carmo do Rio Claro
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
18 a 20 anos20 a 30 anos30 a 40 anos40 a 50 anos50 a 60 anos60 a 70 anos
Gênero, idade e estado cívil da população local
entrevistada
Homens casados
Homens solteiros
Mulheres casadas
Mulheres solteiras
Gráfico 25: Perfil da população entrevistada em Vilelândia com base na gênero, idade e estado civil.
Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
61
gráfico 27). O que também remete as dificuldades de completar os níveis de ensino,
devido a necessidade de ajudar a família no trabalho na lavoura de café, e o número de
jovens, conforme os dados apresentados no gráfico 27, entre 20 e 30 anos que já
constituem famílias, o que denota um abandono da escola, para se dedicar ao trabalho e
a constituição familiar.
Gráfico 27: Nível de escolaridade da população entrevistada no distrito de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
A profissão dos entrevistados permite analisar e realçar o perfil da
população local, pois é possível observar, conforme o gráfico abaixo, que as profissões
que sobressaem são as dos cafeicultores e “do lar”, representando o modelo produtivo de
agricultura familiar. As mulheres que se designaram do “do lar”, também se dedicam as
práticas agrícolas junto aos cafeicultores, além de cuidar da casa.
Gráfico 28: Profissões da população entrevistada de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
3%
54%
34%
8%1%
Nível de escolaridade da população local
Analfabeto
Fundamental
Médio
Superior
Superior ou mais
0
10
20
30
40
50
Profissão da população local
62
Sobre a participação na colheita, mais da metade da população afirmou que
participam da colheita, uma vez que, a cafeicultura representa a principal atividade
econômica no distrito. Cabe destacar que a ligação da população e suas atividades de
trabalho como mostra o gráfico 29, ressaltam a dependência da população com a
cafeicultura que impera, como fonte de trabalho e renda no distrito.
Gráfico 29: Participação da população na colheita do café no distrito de Vilelândia Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Os questionamentos da população local sobre a participação dos migrantes na
colheita é remunerada nas concepções dos entrevistados. O gráfico 30, mostra a
perspectiva da população local sobre as contribuições dos migrantes para o
desenvolvimento do distrito. A evidência sobre a percepção dos entrevistados sobre a
importância da presença dos migrantes na colheita do café, como um papel fundamental
para o desenvolvimento e manutenção da cafeicultura como principal atividade
econômica no distrito.
Gráfico 30: Contribuição dos migrantes no desenvolvimento do distrito de Vilelândia, de acordo
com as entrevistas da população local Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
73%
27%
Participa na colheita do café
Sim
Não
92%
8%
Os migrantes contribuem para o desenvolvimento do
distrito
Sim Não
63
A discussão sobre as informações obtidas na pesquisa de campo, denotam que
a população local respondeu que os migrantes contribuem para o desenvolvimento do
distrito. As perspectivas dos entrevistados enxergam as contribuições dos migrantes no
sentido da oferta de mão de obra, que diminui os custos da colheita. Outro ponto
destacado pela população é o desenvolvimento do comércio, pois os migrantes consomem
produtos de primeira necessidade nos mercados do distrito.
Os que responderam que os migrantes não contribuem para o
desenvolvimento do distrito, as opiniões se repetem no sentido da competitividade gerada
a partir da migração. As afirmações estão relacionadas a diminuição dos ganhos da
população local, pelo redução dos valores arrecadados na colheita e pelos migrantes
levarem o dinheiro para o município de origem.
A presença dos migrantes altera a dinâmica sócioespacial no distrito,
partindo disso, a investigação sobre a percepção das opiniões dos entrevistados destacam
alguns aspectos sobre essa nova dinâmica que se insere. A ressalva está relacionada ao
número de pessoas que se deslocam e desconfiguram as relações estabelecidas no
território. Algumas afirmações sobre as principais mudanças na dinâmica do município
realçam as opiniões e que diferem entre os gêneros. Nesse aspectos as falas apresentadas
são distribuídas entre homens e mulheres e que transparecem os sentimentos referentes a
presença dos migrantes em sua maioria homens.
Entre as mulheres as falas mais comuns, nas alterações pela presença dos
migrantes destacam o medo e o receio pelo aumento da violência e o grande número de
homens que se deslocam para o município, além do aumento de pessoas e o consumo nos
estabelecimentos, como mostram as falas abaixo.
“Algumas pessoas ficam amedrontados com a presença de pessoas estranhas.”
“Aumenta a população, pessoas diferentes e muitos homens.”
“Insegurança, pois vem muita gente que não tem intenção de trabalhar.”
“Aumenta a população de homens e o constrangimento.”
“Aumenta o movimento no comércio. Tem mais preocupação, pois não conhece as
pessoas”
“Sentem-se estranho, pois tem muita gente diferente.”
Mesmo com algumas fala que demonstram medo e receio, pela possibilidade
de aumento de violência a maior parte das afirmações, destacam a importância dos
migrantes na colheita do café e o aumento da população, como demonstra as falas abaixo.
“Acelera a colheita, aumenta a população.”
64
“Não muda nada, pois são pessoas comuns. Aumenta a população.”
“O aumento no número de habitantes, aumento no lucro dos comércios.”
“Aumento da população, mais segurança pois eles auxiliam na segurança das
residências.”
Na última fala, o realce se faz pela proximidade entre as residências dos
cafeicultores e os alojamentos dos migrantes, que passam a conviver nestes espaços de
maneira harmoniosa evitando os conflitos e estabelecendo laços de confiança. Outro fator
importante é o tempo que os migrantes se deslocam para as mesmas fazendas, o que
facilita as relações tanto de trabalho quando sociais.
Entre para os homens, as opiniões sobre as alterações provenientes da
presença dos migrantes, também se repetem e destacam o medo e o receio pelo número
de pessoas diferentes no distrito. Outro ponto é a questão das alterações nas relações
estabelecidas no distrito, no deslocamento dos laços estabelecidos entre a população
local. A ressalva nesse sentido é que como o distrito é considerado pequeno, todos se
conhecem e mantêm suas relações no seu espaço. Com a presença dos migrantes essas
relações se alteram, modificando a estrutura da dinâmica local, como revelam os trechos
na sequência.
“Oferta de mão de obra aumenta, traz violência e drogas.”
“A população fica isolada e deslocada.”
“Perigoso, andam em bando de homens desconhecidos.”
“Gera insegurança para o pessoal, pela falta de conhecimento das pessoas.”
“Mais pessoas e mais violência. Muda tudo.”
“Eles dominam o lugar.”
A maioria dos homens, entretanto destacaram que a presença dos migrante
não altera a dinâmica do distrito, a não ser pelo grande aumento no número de habitantes,
que também, impulsionam o comércio, como é possível observar nas falas a seguir.
“Muda o consumo no comércio, aumenta o número de habitantes.”
“O aumento da população e o consumo.”
“Movimento de pessoas aumenta.”
“Aumenta o consumo dos produtos. Aumenta o movimento de pessoas.”
“Nada, aumenta a população, os migrantes ajudam na segurança.”
“Aumenta a segurança o número de pessoas junto a casa.”
Novamente cabe destacar, as últimas duas falas a proximidade entre os
migrantes e os produtores, pela presença junto a residência e a confiança estabelecida
65
entre eles, pelo tempo de trabalho exercido nas lavouras. De acordo com, alguns relatos
de migrantes e da população local, a migração para o distrito ocorreu a partir de 2004,
concomitantemente com o aumento nos valores arrecadados com a cafeicultura no
município de Carmo do Rio Claro (ver gráfico 1).
Figura 6: Principal avenida do distrito de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Num quadro geral é possível destacar a opinião da população do distrito de
Viliândia, sobre a presença dos migrantes no período da colheita, destacando que, mais
da metade dos entrevistados responderam que a principal mudança é o maior movimento
de pessoas e o maior consumo nos estabelecimentos, como mostra o gráfico 31.
Gráfico 31: Alterações causadas pela presença dos migrantes, relatadas pelos moradores do
distrito de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
O perfil dos comerciantes também configura um dado importante para
compreender, as perspectivas referente ao deslocamento dos migrantes, que contribuem
12%
19%
6%
2%
7%
54%
Mudanças no distrito de Vilelândia pela presença dos
migrantesMais violência
Maior movimento no comércio
População fica isolada
Aumenta a segurança
Maior número de pessoas
desconhecidasMaior movimento de pessoas
66
diretamente para o desenvolvimento das atividades, garantindo boa parte do sustento
anual dos estabelecimentos. Na pesquisa foram entrevistados dez donos de
estabelecimentos. De acordo com o gráfico 32, a maior parte dos comerciantes tem idades
entre 30 e 50 anos, portanto a população jovem não investe em estabelecimentos
comerciais.
Gráfico 32: Gênero e idade dos comerciantes entrevistados no distrito de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Conforme o gráfico 33, dos dez comerciantes entrevistados oito são casados
e dois separados.
Gráfico 33: Estado civil dos comerciantes entrevistados no distrito de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Os comerciantes apresentam em sua maioria , nível de escolaridade em sua
maior parte no ensino médio, conforme os dados apresentados no gráfico 34.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
20 a 30 anos 30 a 40 anos 40 a 50 anos 50 anos ou
mais
Nº
de
entr
evis
tad
os
Idade
Gênero e idade dos comerciantes
Homens
Mulheres
80%
20%
Estado civil dos comerciantes
Casado
Divorsiado
67
Gráfico 34: Nível de escolaridade dos comerciantes entrevistados no distrito de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Dos dez comerciantes entrevistados, nove são de Carmo do Rio Claro e
residentes no distrito de Vilelândia.
Gráfico 35: Gráfico referente a cidade de origem dos comerciantes de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Os tipos de estabelecimentos entrevistados se distribuem em 90% na
comercialização de produtos alimentícios, como as mercearias e a padaria do distrito e os
bares que oferecem o único atrativo de entretenimento tanto para a população local quanto
para os migrantes, conforme os dados apresentados no gráfico 36.
10%
80%
10%
Escolaridade dos comerciantes
Ensino fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
90%
10%
Cidade de origem dos comerciantes
Carmo do Rio Claro
Alpinópolis
68
Gráfico 36: Tipos de estabelecimentos entrevistados em Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013)
As alterações econômicas no distrito configuram um quadro favorável para a
obtenção de lucros nos estabelecimentos principalmente pelo número de pessoas que se
deslocam para o distrito. Durante a pesquisa de campo foi questionado aos comerciantes
se havia um impacto significativo na comercialização dos bens e serviços. O gráfico 37,
mostra as alterações nos lucros do comércio, que durante os três meses da colheita dobram
os lucros nos estabelecimentos. Os que afirmaram que não aumentam os rendimentos,
correspondem a Loja de Roupas e o Salão de Cabelereiro.
Gráfico 37: Aumento nos rendimentos no período da colheita no distrito de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Ao questionar os comerciantes sobre o interesse da permanência dos
migrantes no distrito. As respostas foram controversas, pois apesar dos migrantes
aumentarem os lucros dos comerciantes, a maior parte afirma que não gostaria que os
migrantes permanecessem no distrito, conforme mostra o gráfico 38.
30%
10%
30%
20%
10%
Tipos de estabelecimentos entrevistados em Vilelândia
Mercearia
Padaria
Bar
Loja de Roupas
Salão de Cabeleleiro
80%
20%
Aumento dos lucros no período da colheita
Sim o dobro
Não
69
Gráfico 38: sobre o interesse dos comerciantes na permanência dos migrantes no distrito de Vilelândia. Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Sobre as afirmações dos comerciantes, referente ao questionamento da não
permanência dos migrantes no distrito, algumas falas, revelam o medo e a insegurança
dos comerciantes em relação a presença dos migrantes e que eles devem permanecer
somente para o trabalho:
“Não, pessoas diferentes, brigas, encrencas.”
“Não, pois eles não aguentariam.”
“Não, só para o trabalho na colheita.”
“Não, pois trabalho em outra área.”
“Não, pois não trabalho com o masculino.”
Os que responderam, que gostariam que os migrantes permanecessem no
distrito, as afirmações realçam o interesse no aumento dos lucros, do consumo e na oferta
da mão de obra.
“Sim, aumenta a renda.”
“Sim, pois aumenta o movimento e o consumo.”
“Sim, a mão de obra é escassa e aumenta o consumo.”
De acordo com, as perspectivas da população local e dos comerciantes do
distrito de Vilelândia, as falas ressaltam o interesse dos entrevistados nas contribuições
dos migrantes no oferecimento de mão de obra e no consumo nos comércios. Contudo, a
as falas de alguns entrevistados destaca o carácter de interesse na exploração do força de
trabalho dos migrantes e o sentimento de não pertencimento ao espaço, configurando o
fenômeno de desterritorialização da população local.
40%
60%
Gostaria que o migrante continuasse no município
Sim
Não
70
Figura 7: Comércio em Vilelândia.
Fonte: Pesquisa de campo (Maio, 2013).
Em relação as alterações na dinâmica relacionada ao processo migratório,
cabe considerar as mudanças nos aspectos da gestão do município. A gestão municipal
deveria oferecer informações aos cafeicultores e migrantes sobre os direitos e deveres nas
questões trabalhistas. Outro ponto importante corresponde as questões de saúde e
segurança no distrito, uma vez que a partir da migração o tamanho da população se altera.
Em entrevista com o representante da prefeitura, o Secretário de
Desenvolvimento do município. Ele afirma que, pouco é feito para o desenvolvimento do
distrito e muito menos no que diz respeito a migração, destaca que a prefeitura tem
conhecimento sobre o fenômeno, mas não realiza nenhum tipo de regulamentação sobre
a vinda dos migrantes no distrito. Cabe ressaltar, que a prefeitura presta serviços mínimos
ao distrito, como a gestão da escola, a limpeza das ruas, a coleta do lixo e uma unidade
do Programa de Saúde Familiar (PSF), que oferece atendimento médico uma vez por
semana.
Tanto a população local quanto os migrantes, tendem a conviver com a falta
de serviços oferecidos pelo município, a exemplo da questão da segurança, já que não
existe nenhuma unidade de polícia no distrito. Este fato se liga aos sentimentos de medo
e insegurança da população local, em relação ao número de pessoas desconhecidas que
migram para o distrito.
71
5 – CONCLUSÃO
A análise da dinâmica dos deslocamentos entre os municípios de Santaluz
e Carmo do Rio Claro, compreendeu a busca por informações que ressaltem os aspectos
referentes a dinâmica, a partir da ótica da Geografia. Destacando a utilização de duas
vertentes do pensamento geográfico, que embasa as operações metodológicas partindo
das escalas de análise de nível macro, representado pelos aspectos regionais do contexto
dos dois municípios.
Com base nos aparatos históricos que configuram as estruturas regionais
formando centros de repulsão e atração de mão de obra. Desta forma, o Território do
Sisal, instaurado na microrregião da Serrinha proporciona com base nos elementos
históricos, culturais e ambientais pertinentes ao contexto analisado, principalmente na
estrutura do espaço agrário da produção sisaleira, que proporciona a formação de força
de trabalho disponível que se desloca para outras regiões em busca de melhores condições
de trabalho e renda. É dentro deste contexto que se insere o munícipio de Santaluz,
representa a principal fonte de mão de obra que se desloca para a colheita do café.
O município de Carmo do Rio Claro está inserido dentro do contexto histórico
da região Sul de Minas, onde o café representou o principal agente transformador das
paisagens da região. Nesse contexto, o café propiciou a configuração de uma espaço
agrário atrativo para os deslocamentos populacionais, que ocuparam e desenvolveram as
atividades agrícolas com base na monocultura do café. A configuração do espaço agrário
em Carmo do Rio Claro, consequentemente no distrito de Vilelândia, que representa um
centro de atração de mão de obra, pela grande produtividade de café, a dificuldade de
implantação da colheita mecanizada determinada pelo relevo acidentado e pelo
predomínio da agricultura familiar.
A migração sazonal caracterizada no deslocamento dos migrantes de Santaluz
para Carmo do Rio Claro, proporciona a compreensão dos processos justificados pelo
perfil dos migrantes, correspondendo a camponeses casados que se deslocam em busca
de formas de se manter na atividade principal. A análise dos desejos e anseios dos
migrantes demonstraram, que os migrantes consideram a migração como ponto positivo,
mesmo enfrentando as dificuldades pelas precárias condições de moradia e trabalho na
cafeicultura e pelas perdas dos laços sociais estabelecidos em Santaluz. Mas mesmo
assim, eles apresentam boas considerações sobre as relações com os cafeicultores.
72
Nas considerações sobre as relações socioespaciais estabelecidas no local de
destino, a população local avalia o migrante como sendo importantes na colheita do café
e no desenvolvimento do distrito de Vilelândia. Contudo, algumas falas demostram a
perda das relações socioespaciais estabelecidas em seu território, principalmente nas
perspectivas dos homens entrevistados e nas mulheres a fala mais comum, representa o
medo pelo grande número de homens que migram.
A investigação das alterações causadas pela migração nos comércios locais é
possível destacar, a partir das falas dos comerciantes. A migração provoca um aumento
significativo nos lucros, mas na maioria das falas dos comerciantes os migrantes não
devem permanecer no distrito e servem apenas para o trabalho na colheita.
A análise da mobilidade populacional entre os dois municípios, a partir da
ótica da Geografia, permitiu compreender os processos inseridos no movimento com
relevância para a formação da rede social de migração e as alterações na dinâmica
socioespacial, compreendido a partir da análise do processo de des-re-territorialização,
representado na investigação de como os entrevistados observam estas alterações,
apresentado pelas falas dos migrantes, da população residente no distrito e dos
comerciantes. Na análise também é possível destacar as relações dos migrantes com a
população, representa a forma de exploração de mão de obra, mesmo com as
especificidades, cabe destacar essa relação que incorpora a exploração da mão de obra
migrante no processo produtivo do café.
73
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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77
APÊNDICE A: ENTREVISTA COM OS MIGRANTES
ENTREVISTA COM MIGRANTES EM VILELÂNDIA – CARMO DO RIO CLARO-MG
1. Nome:_________________________________________ 2. Idade:______
3. Cidade de Origem:_____________________________ 4. Estado Civil:_______
5. Tem Filhos? Quantos? __________ 6. Quantas pessoas residem na casa? ______
7. Nível de Escolaridade: __________________________
8. Você reside? Cidade Campo
9. Recebem Bolsa Família? Sim. Não.
11. Qual a renda da sua família? ________ 10. Qual foi seu último emprego? ________
12. Na sua cidade você trabalhava? Cidade Campo
13. O que levou você a sair de sua cidade? ____________________________________
14. Como você ficou sabendo da cidade de Carmo do Rio Claro? __________________
15. É a sua primeira vez na colheita do café? Sim. Não.
16. Quanto de dinheiro você pretende ganhar? ____________
17. O que você pretende fazer com este dinheiro? ______________________________
18. Você tem a intenção de voltar pra sua cidade? Sim. Não.
19. Quanto tempo você pensa em ficar na colheita? ____________________________
20. Pretende voltar pra colheita do café o ano que vem? Sim. Não.
21. O que você acha das condições de trabalho? Por que?
______________________________________________________________________
Entrevista referente ao Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia – Licenciatura, do
discente Haroldo Junior Martins Cardoso, sob orientação do Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves.
Nº
78
22. E o que acha das condições de moradia? Por que?
______________________________________________________________________
23. Quais os meios de transporte você utilizou para vir a Carmo do Rio Claro?
______________________________________________________________________
24. Quais as diferenças que você pode citar entre a sua cidade e Carmo do Rio Claro?
______________________________________________________________________
25. O que você sente mais falta da sua cidade?
______________________________________________________________________
26. E o que você não sente falta?
______________________________________________________________________
79
APÊNDICE B: ENTREVISTA COM OS MORADORES DE
VILELÂNDIA
ENTREVISTA COM MORADORES DE VILELÂNDIA
– CARMO DO RIO CLARO-MG
1. Nome:_________________________________________ 2. Idade:______
3. Cidade de origem:_____________________________
4. Estado Civil:______________
4. Nível de escolaridade: Analfabeto/nunca frequentou a escola. Fundamental.
Médio. Superior. Superior ou mais.
5. Em qual atividade você trabalha? _________________________________________
6. Você participa da colheita? Sim. Não.
7. Os migrantes contribuem para o desenvolvimento do distrito? Por que?
Sim. Não. ______________________________________________________
8. Quais são as principais mudanças que você observa com a presença dos migrantes no
período da colheita do café?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Entrevista referente ao Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia – Licenciatura, do
discente Haroldo Junior Martins Cardoso, sob orientação do Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves.
80
APÊNDICE C: ENTREVISTA COM OS COMERCIANTES DE
VILELÂNDIA
ENTREVISTA COM COMERCIANTES EM VILELÂNDIA – CARMO DO RIO
CLARO-MG
2. Nome:_________________________________________ 2. Idade:______
3. Cidade de origem:_____________________________
4. Estado Civil:______________
4. Nível de escolaridade: Analfabeto/nunca frequentou a escola. Fundamental.
Médio. Superior. Superior ou mais.
5 - Tipo de comércio: ____________________________________________
6 - No período de colheita há o aumento do lucro? De quanto é este aumento?
__________
7 - Você gostaria que o migrante continuasse morando no município?
______________________________________________________________________
Entrevista referente ao Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia – Licenciatura, do
discente Haroldo Junior Martins Cardoso, sob orientação do Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves.
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