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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Sociologia da Educação II
Professora Dra i!i "o!i#a$i
Desigualdade e educação% U! es&udo so're oco&idia(o de es&uda(&es das classes )o)ulares (a USP
Caio Uehbe
Francisco Favio Ribeiro
Thiago Miranda dos Santos Moreira
Pedagogia - Noturno
De#e!'ro *+,*
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Desigualdades e educação% U! es&udo so're o co&idia(o dos es&uda(&es
das classes )o)ulares (a USP
,- RESU.O
Em que medida as polticas de acesso contribuem para uma real
democrati!a"#o do ensino superior$ Nesta pesquisa% procuramos re&letir sobre
esta quest#o a partir do ingresso de alunos das classes populares na USP e
sobre as polticas de acesso e perman'ncia levadas a cabo por esta institui"#o(
) o&erecimento de bolsas e b*nus +mediante desempenho e prova da
FU,EST contribuem de &ato para ampliar o acesso destes alunos .
universidade$ E se sim% ap/s o ingresso% quais as estrat0gias utili!adas por estes estudantes para concluir seus estudos$
*- APRESEN"AÇÃO
)bservamos nos 1ltimos anos um salto quantitativo no 2rasil em rela"#o ao
n1mero de vagas no ensino superior% tanto no ensino p1blico quanto no
privado( 3ados do censo da educa"#o superior 4565 reali!ado pelo 7NEP%
revelam um aumento de 665%68 nas matriculas em cursos de gradua"#o no
perodo de 4556 at0 4565( Segundo o pr/prio estudo uma somat/ria de &atores
9usti&icariam essa e:pans#o% como o aumento da demanda a esse nvel de
ensino relacionado ao momento econ*mico atual do pas e a conseq;ente
necessidade de m#o-de-obra especiali!ada% a cria"#o de polticas p1blicas de
incentivo ao acesso e perman'ncia no mesmo% como os programas Fies e
ProUni e o aumento da o&erta de vagas na rede &ederal% via abertura de novos
campi e novas 7nstitui"
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/r0fico *- 1 E2olução do (7!ero de i(gressos e! cursos de graduação
8)rese(cial e a dis&9(cia: 1 5rasil 1 *++, 6 *+,+
) n1mero de estudantes matriculados no ensino superior obteve um salto
signi&icativo% como demonstra o gr=&ico 6(% saindo em n1meros absolutos de
uma somat/ria de apro:imadamente > mil estudantes em 4556 para um pouco
mais que o dobro em 4565% ?(>@A(4AA estudantes( B= os que ingressaram
nessa modalidade de ensino passaram em n1meros absolutos de
apro:imadamente 6(455(555 ingressantes em 4556 para 4(64(44A no ano de4565 +gr=&ico 4(( Por0m a observa"#o dos dados re&erentes ao n1mero de
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irrespons=vel( J necess=rio visar% com igual 'n&ase% o &inal do processo a
conclus#o% com ':ito% na educa"#o superior(K6
) documento obtido ap/s a reali!a"#o da Con&er'ncia Nacional de Educa"#o
+Conae% no perodo de 4 de mar"o a 6L de abril de 4565% pelo Minist0rio da
Educa"#o% revelam a manuten"#o do ensino superior no 2rasil enquanto elitista
e:cludente% que apesar da recente e:pans#o o mesmo n#o se tornou mais
democr=tico(
No 2rasil% pode-se a&irmar que o acesso ao ensino superior ainda 0 bastante
restrito e n#o atende . demanda% principalmente na &ai:a et=ria de 6 a 4D
anos% pois apenas 64%68 dessa popula"#o encontram-se matriculados em
algum curso de gradua"#o +7nep% 455@( l0m disso% @D%68 das matrculas
est#o no setor privado% enquanto apenas 4%A8 est#o em 7ES p1blicas cerca
de ?8 das matrculas do setor privado s#o registradas no turno noturno%
enquanto o setor p1blico apresenta um percentual de >?8( 7ncrementar a
e:pans#o da educa"#o superior p1blica presencial% visando . democrati!a"#o
do acesso e da perman'ncia% coloca-se como imperativo .s a"
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)utros autores como S)UQ et al (4% pesquisaram a diminui"#o dos retornos
educacionais entre 6A4 e 6AA?% e dessa pesquisa concluram que a educa"#o
0 um &ator &undamental para a mobilidade social e en&ati!am a importncia de
Iuma investiga"#o muito mais apro&undada dos determinantes do sucesso
educacional(((K( ssim% de acordo com os autores% di&eren"as de ra"a e classe
s#o diludas com tra9et/rias escolares mais longas( Em outras palavras a
pesquisa procurou demonstrar que as barreiras de classe% ra"a e g'nero para a
mobilidade social tem um impacto muito menor &rente . educa"#o% na
mobilidade social dos indivduos( 7sto signi&ica que% quanto maior a
escolari!a"#o% maior as chances de uma ascens#o social( Neste sentido%
polticas p1blicas de amplia"#o do acesso e da perman'ncia ao ensino
superior s#o &undamentais para a redu"#o das desigualdades(
Estas polticas de amplia"#o do acesso% entretanto% devem considerar as
altera" ao apontar . importncia das transi"
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Continuada( Segundo dados e:postos pelo autor em 4555% @8 da popula"#o
de idosos +%? milh
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crescimento do ensino superior( 3entre elas% os autores apontam a
depend'ncia das &or"as do mercado% cu9a principal &or"a reside nas institui"
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estudos% moradia% alimenta"#o% livros e &otocopias% etc( e% na maioria dos
casos% conciliar trabalho e estudo( Neste sentido% pretendemos re&letir sobre o
impacto das polticas de acesso e o signi&icado da e:peri'ncia universit=ria
para estes alunos(
Este grupo &oi &ormado a partir de um recorte baseado escolaridade dos pais%
local de moradia% renda &amiliar e bairro de origem( 3evido a limita" anos% estudante de etras Veslen% 4@ anos%
estudante de Ci'ncias Sociais Mariana% 4@ anos% estudante de etras
Regiane% 45 anos% estudante de Oeogra&ia Paula% 45 anos% estudante de
Oeogra&ia Michele% 46 anos% estudante de Oeogra&ia e Pedro% 4@ anos%
estudante de Pedagogia(
7mportante ressaltar que nossa inten"#o n#o era a de &ormar um grupo
homog'neo% mas sim de observar as di&iculdades en&rentadas a partir do que
estes alunos tem em comum( 3esse modo% todos os alunos selecionados
estudam no perodo noturno% trabalham% com e:ce"#o de Mariana e ui!a% que
optaram por dedicar um tempo maior aos estudos(
Esse grupo selecionado de estudantes moram em sua maioria com seus pais e
s#o oriundos de diversos bairros da cidade de S#o Paulo e regi#o
metropolitana( 3entre estes% apenas Veslen e Regiane conseguiram uma vaga
no CRUSP% o que% de acordo com os pr/prios% &oi o principal di&erencial para
poderem aproveitar o tempo na universidade% por possibilitar um plane9amento
que elimine a necessidade urgente de trabalho remunerado(
Seus pais s#o trabalhadores de diversas =reas e as m#es% na maioria dos
casos% ocupam-se das tare&as dom0sticas(
;-,-Es&ra&
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desigualdade no acesso ao ensino superior 0 construda de &orma contnua
durante toda a tra9et/ria escolar dos alunos( ssim% de acordo com a pesquisa
de Qago% os alunos das camadas populares tem uma percep"#o muito
negativa sobre suas chances de ingresso( Este aspecto &oi percebido nos
dados 9= apresentados sobre os alunos que prestam o vestibular% onde os de
escola p1blico s#o a minoria dos inscritos no processo seletivo% e tamb0m &oi
constatado em nossas entrevistas% onde essa concep"#o perpassava o
discurso de todos os entrevistados( USP era vista por estes alunos como um
espa"o inatingvel% quase mstico( Um mundo ideal e um privil0gio para poucos(
IEu nunca imaginei que seria aprovado( Por esse motivo nunca quis
entrar na USP( Era um territ/rio hostil pra mim( Um lugar cheio de gente
das casses superiores com quem eu n#o gostaria de me misturar( Eu via
a USP como um espa"o pra quem p*de pagar um estudo em escola
particular( )u pra &a!er cursinho( E mesmo assim% com cursinho% voc'
aprende em um ano o que estes caras aprenderam durante toda a vida(
J muito desigual(K +Pedro
IMinha m#e se &ormou em pedagogia em 6AAD aqui +na USP( E sempre
&alava bem dos pro&essores% do curso% da estrutura(((( mas eu n#o me
sentia preparada( Tinha muita press#o( Era como eu tivesse a obriga"#o
de entrar porque minha m#e estudou aqui( Era uma tare&a quase
impossvel( Eu via a USP como uma universidade e:cludente e elitista(
Pensava assim Wisso aqui n#o 0 pra mimX( Ent#o% &ui &a!er o curso
t0cnico no SEN7 e s/ depois que terminei resolvi tentar(K +ui!a
I((( eu sabia que entrar aqui era quase impossvel( imagem que eu
tinha da universidade era que s/ as pessoas preparadas nas melhores
escolas particulares 0 que conseguiam entrar( ) que me a9udou &oi o
incentivo dos pro&essores do ensino m0dio que di!iam que era di&cil mas
que os pobres tinham que ocupar seu espa"o% etc(K +Regiane
IYuando terminei o ensino m0dio nem sabia o que era a USP( N#o
pensava em entrar na universidade( Comecei a trabalhar logo que me
; ZA
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&ormei no terceiro colegial( Con&orme o tempo &oi passando% v=rios
conhecidos conseguiram entrar e pensei Wse eles conseguiram eu
tamb0m consigoX( Eu sabia que era di&cil( J aquela hist/ria quem tem
dinheiro pra pagar vai pra USP e estuda de gra"a% mas quem n#o tem 0
obrigado a pagar uma particular( Eu n#o queria &a!er parte dessa l/gica(K
+Veslen
ssim% &ica claro que% antes de tomar a decis#o de ingressar no vestibular% o
incentivo de pais% pro&essores% amigos% companheiros &oi &undamental( Uma
observa"#o das in&orma"
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Foi a partir do dese9o de ingressar na USP que estes alunos come"am a
desenvolver estrat0gias para passarem no vestibular(
3entre essas estrat0gias de acesso destacam-se a op"#o por cursinhos
populares e o auto-didatismo como uma caracterstica da maioria( 3os cincoentrevistados% apenas ui!a cursou o pr0-vestibular em um cursinho pago(
Estas estrat0gias ser#o importantes para sua manuten"#o nos cursos
universit=rios% como veremos mais adiante( Tendo a percep"#o de que sua
&orma"#o na escola p1blica n#o atenderia as e:ig'ncias do vestibular% todos os
entrevistados% ao decidirem prestar o vestibular% passam a buscar alternativas%
ou no lingua9ar popular a Icorrer atr=sK% para conseguir garantir uma vaga(
IEstudei em casa% com os livros velhos do ensino m0dio( Tamb0massistia tele aulas e alguns amigos que tinham &eito cursinho me doavam
as apostilas(K +Veslen
IEstudei no cursinho da Educa&roA( Era de s=bado e eu &icava o dia todo
l=( Fa!ia leitura no *nibus% enquanto ia para o trabalho( +Paula
IEstudei so!inho( Minha namorada 9= estudava aqui e tinha o material do
cursinho( Peguei as apostilas e decidi estudar s/ humanas( 7a lendo no
*nibus% no trabalho e no tempo livre(K +Pedro
;-*-es&ra&
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IEu n#o sabia o que tinha que estudar( 3ecidi que n#o ia ver nada de
e:atas% s/ humanas( Eu lia um captulo e tentava &a!er um resumo% mas
depois n#o entendia nada( I +Michele
IEu n#o estudava na escola( Yuando comecei a &a!er o cursinhopercebi que eu n#o sabia como estudar% estudar mesmo% sabe$
(((K+ui!a
Se a aprova"#o no vestibular &oi um momento di&cil% de supera"#o de limites
socioecon*micos% estar na universidade constitui um desa&io ainda maior( s
palavras de ui!a +4> anos% etras% demonstram bem esse choque de
realidades en&rentado por esses alunos ao ingressarem na USP% Idepois do
primeiro semestre eu descobri que entrar &oi &=cil( Estar aqui 0 muito maisdi&cilK( s principais di&iculdades en&rentadas pelos alunos podem ser
resumidas a dois aspectos% o econ*mico e o que di! respeito ao atendimento
das e:ig'ncias do curso(
Sobre o aspecto econ*mico% o que di&iculta a vida destes estudantes 0 a
necessidade de trabalhar para se manter( Con&orme demonstrado por
ME7365% a necessidade de trabalhar redu! o tempo deste aluno%
di&erenciando-o do aluno em tempo integral% que pode des&rutar de toda aestrutura da USP e% obviamente% obter um &orma"#o mais s/lida( Trata-se de
uma situa"#o que atua como um complicador para perman'ncia e conclus#o(
penas 65%8 dos 9ovens entre 45 e 4D anos apenas trabalham66(
Na vida destes estudantes% o estudo 0 um acidente e o trabalho 0 uma
necessidade( ssim% o trabalho tem preponderncia sobre o estudo% tomando a
maior parte do tempo e dos es&or"os destes estudantes( Cinco dos nossos
pesquisados caracteri!am-se como trabalhadores-estudantes% no sentidoapresentado por Foracchi64
I3iversa 0 a situa"#o do trabalhador que estuda% pois% nesse caso% o acidente
n#o 0 otrabalho% mas o estudo( ) estudo aparece como conting'ncia( ((( )
trabalho &a! com que o curso tenha importncia acess/ria( No caso anterior% a
1 US& para todos> &' 1))'
11=AR
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necessidade de trabalhar colocava o curso em plano secund=rio% masnesse
caso o sucesso no trabalho reali!a-se a e:pensas do curso( 7sso n#o signi&ica
que ele se9a abandonado% mas% simplesmente que 0 rede&inido em termos do
interesse mais amplo que o trabalho apresenta( acomoda"#o entre estudo e
trabalho raramente redunda numa integra"#o harm*nica das duas atividades(K
ntes de ingressar na USP% a maioria dos entrevistados contribua com a renda
&amiliar ou trabalhavam para o pr/prio sustento( impossibilidade de acumular
bolsas o&erecidas pela universidade% bolsas essas cu9os valores s#o menores
que um sal=rio mnimo% &a! do trabalho uma necessidade &undamental% tendo
em vista a necessidade desses alunos de pagarem a suas contas% como o
aluguel% de se alimentarem% vestirem e de se locomoverem% etc(
necessidade de trabalhar 0 visto como o principal &ator que di&iculta um bomaproveitamento do curso( necessidade de trabalhar redu! o tempo disponvel
destes estudantes% e em contrapartida a demanda de leituras 0 grande% na
maioria das ve!es al0m do tempo disponvel que esses alunos tem para
reali!=-las% como apontam grande parte das &alas dos entrevistados(
INo &im deste semestre eu estava desesperada( Cada pro&essor passa
um te:to de 5% ?5 p=ginas pra ler em uma semana( E isso s#o s/ os
te:tos das aulas( inda tem as leituras pra &a!er os trabalhos( J horrvel(,oc' n#o tem tempo nem pra ler os te:tos b=sicos% imagina a bibliogra&ia
complementar( E isso 0 muito ruim% porque eu sei que as leituras s#o
importantes( Po:a vida% eu &a"o letrasZ Me sentia muito mal de chegar na
aula e n#o ter lido o te:to daquele dia( N#o participava da discuss#o e
&icava perdida% me sentindo a pior aluna do mundo(K +Mariana
IEu estava a ponto de surtar( N#o tinha tempo pra &a!er meus trabalhos
e nem os te:tos das aulas eu conseguia ler( E como estudo a noite emoro longe% chego em casa muito tarde( No dia seguinte tenho que
acordar cedo pra trabalhar e depois vou direto pra &aculdade( Chego
aqui morrendo de sono% cansada( Tento estudar na biblioteca mas durmo
12 ORACC*, apud=AR
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em cima dos te:tos(((( Sinto que n#o estou estudando como deveria%
mas o que eu posso &a!er$K +Paula
INossa% ter que trabalhar 0 terrvel( N#o tenho tempo de ler no trabalho e
chego aqui 9= na hora da aula( cabo com uma sensa"#o de umaproveitamento meia boca% porque n#o da pra entender o que o
pro&essor est= &alando sem ter lido( E o tempo no trabalho 0 muito longo(
Mas n#o tem 9eito( N#o moro com meus pais e pago aluguel( Pensei em
pegar uma bolsa% mas os valores s#o muito bai:os( N#o pagam nem
metade do aluguel% e olha que eu pago barato% se &or comparar com as
casas aqui da regi#o(K +Pedro
I)s pro&essores pensam que a gente &a! s/ a Wmat0riaX deles( Passamum te:to de 655 p=ginas pra gente ler% passam livros e acham que a
gente n#o &a! mais nada o dia todo( cha que a gente pode &a!er como
a maioria dos alunos da USP% que podem passar o dia todo estudando(K
+Michele
l0m da necessidade de trabalhar% a quest#o da locomo"#o at0 a Universidade
0 outro &ator de di&iculdade( )s nosso entrevistados moram% em sua maioria%
distantes do campus da USP-2utant# +!ona )este da Cidade de S#o Paulo%somente Regiane e Veslen residem no CRUSP6>% entretanto% ui!a mora na
,ila Prudente +bairro locali!ado na !ona sul de S#o Paulo% Paula e Michelle
em 7taquera +bairro da !ona leste% Pedro morava com seus pais em
Parelheiros +bairro da e:trema !ona sul de S#o Paulo e optou por alugar um
apartamento na &avela ,ila Nova Baguar0 +locali!ada pr/:ima ao campus da
USP-2utant# Ipra n#o precisar en&rentar duas horas e meia de viagem at0 a
casa da minha m#eK e Mariana mora em Santo maro +bairro da !ona sul(
)s longos tra9etos de deslocamento at0 a Universidade s#o% muitas ve!es%
aproveitados para a leitura dos te:tos acad'micos% mas representam um &ator
complicador no tra9eto de volta para casa( spectos como a precariedade da
rede transporte% a demora dos *nibus e o trnsito aumentam o tempo de
viagem% diminuindo% desse modo% o tempo de sono( Pedro &oi en&=tico ao &alar
sobre este aspecto
1% Con9unto Residencial da Universidade de S#o Paulo
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IS#o Paulo tem um segundo hor=rio de pico( )nde minha m#e mora 0
di&cil de chegar% porque tem trnsito em qualquer hora do dia e os
*nibus s#o sempre cheios( Parece que todo mundo mora na Qona este(
Saio da USP as 4> horas( Chego em casa a 6 da manh# e at0 tomar um
banho% comer alguma coisa% vou dormir as 4( 3urmo ou ? horas por
noite e 0 di&cil assistir as aulasK +Michele
ssim% o tempo livre destes alunos 0 utili!ado para os estudos( Entretanto%
cabe uma re&le:#o sobre a qualidade de um tempo de estudo em que a mente
e o corpo est#o cansados pela &alta de sono e a carga de trabalho( &alta de
tempo tamb0m impede a participa"#o dos espa"os da universidade% assim
estes alunos &icam na maioria das ve!es impossibilitados de assistir
semin=rios% palestras ou participar de eventos de sociali!a"#o da universidade%
como por e:emplo as atividades do movimento estudantil atrav0s dos centros
acad'micos e do 3iret/rio Central dos Estudantes +3CE(
3iversas estrat0gias s#o utili!adas para reverter este quadro e:postos% como
as &req;entes &altas nas aulas( &ala de Michele representa bem este &ato
Iprecisei estudar para a prova e &alei que estava doente para poder terminar%
sen#o n#o ia dar tempoK( Este aspecto &oi identi&icado por lmeida em sua
pesquisa% que a&irma que Itodo o tempo 0 precioso% disputado((((K6D Seu
trabalho aponta para um ponto importante da tra9et/ria destes estudantes e que
tamb0m pode ser observado nesta pesquisa ) es&or"o como &erramenta para
o ingresso 0 utili!ado agora para obter o melhor aproveitamento possvel(
7ngressar na USP e:ige destes alunos uma nova organi!a"#o do tempo e e:ige
sacri&cios( tividades culturais% tempo de descanso% com a &amlia s#o
utili!ados para colocar em dia as leituras(
Sobre a quest#o dos alunos trabalhadores% QO)6 mostra em sua obra que
estes n#o se tratam de um grupo homog'neo% apontando a necessidade de
observar os di&erentes aspectos do trabalho reali!ado por estes estudantes%
1 lmeida [ Usp para todos$ P( 6>4
1"ZA
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como atividade% carga hor=ria% local e a pro:imidade ou n#o com o curso%
resultado &inanceiro% etc(
Neste sentido% as polticas de perman'ncia precisam observar as necessidades
destes alunos em todos os seus aspectos% inclusive nos que se re&erem .se:ig'ncias de um bom desempenho acad'mico para a concess#o de bolsas
estudantis(
ME736? aponta para as di&iculdade simb/licas relacionadas . inser"#o
acad'mica( Estas di&iculdades est#o relacionadas a novas tare&as a serem
reali!adas por estes alunos% como semin=rios% trabalhos acad'micos%
pesquisas% Ique representam uma ruptura em rela"#o aos graus anteriores de
escolaridadeK( s principais di&iculdades dentre os nossos entrevistados est#o relacionadas a
lacunas nas mat0rias b=sicas% que se desdobram no acompanhamento do
curso atrav0s das leituras e:igidas% de&inidos por lmeida como Ileitura
conceitualK6@( ssim% os estudantes apontam% al0m da &alta de tempo%
di&iculdades para a leitura dos te:tos acad'micos% que% geralmente% utili!am
uma linguagem cient&ica% que n#o 0 direcionada ao p1blico comum(
ITinha que ler um te:to uma ve!% do 2ourdieu% e parecia que estavalendo em outro idioma( ia um par=gra&o de cinco linhas e n#o entendia
o que o autor estava di!endo( Pensava Wn#o 0 possvel% este te:to n#o
est= em portugu's(K +Pedro
INossa% os te:tos s#o complicados de ler( Na sociais Ci'ncias Sociais
tem uns te:tos de antropologia% ci'ncia poltica que e:igem um es&or"o
grande( 7sso porque eu leio bastante% mas sempre lia romances% nunca
te:tos com essa linguagem mais acad'mica% sabe( Ent#o% eu n#oconsigo ler no *nibus% porque tem que &icar gri&ando% preciso estudar
com o dicion=rio do lado(K +Veslen
Por conta de uma &orma"#o abai:o da dese9ada a esses alunos que
&requentaram a escola p1blica% os mesmos demonstram di&iculdades no que se
1) Al!eida 5 US& para todos' &' 1%"
1$ *de!' &'1%$
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re&ere ao domnio da linguagem( ME736 aponta para o tipo de leitura
requerida no espa"o acad'mico que Ipressup
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IEu me es&or"o muito pra aumentar a minha m0dia ponderada porque
quero tentar uma bolsa no ano que vem( Mas 0 &rustrante% porque
parece que todo o es&or"o n#o vale nada( Passo o &im de semana todo
estudando pra uma prova e tiro >( Semana passada aconteceu isso com
uma prova de mor&ologia( I +ui!a
@- CONCLUSÃO
Uma an=lise do per&il e do cotidiano destes sete estudantes investigados por
n/s% nos mostrou que as polticas de acesso e de perman'ncia da USP% ao
menos para eles% n#o apresenta nenhum impacto pr=tico em sua viv'ncia
estudantil( Com e:ce"#o dos dois moradores do CRUSP% que est#odispensados das despesas com aluguel e que por estarem dentro do campus
universit=rio% podem usu&ruir de todos os bene&cios% como restaurantes
universit=rios% biblioteca% laborat/rios de in&orm=tica( Esta redu"#o de custos
permite a estes alunos um plane9amento de concorrer a bolsas para inicia"#o
cient&ica% tutoria% est=gios na USP% o que pode dispens=-los de uma carga
hor=ria de trabalho que pre9udique seus estudos( B= para os demais% trabalhar
n#o 0 uma escolha% mas uma necessidade urgente( J o trabalho que lhesgarante as mnimas condi"
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de contas% como supor que um estudante custeie seus estudos% despesas com
moradia% alimenta"#o e transporte% dispondo apenas do valor o&erecido pelos
programas de perman'ncia(
,ale% desse modo% resgatar a 9= re&erida a&irma"#o de ,ROS e PU6A
% quea amplia"#o do acesso In#o esgota o plano de democrati!a"#o do ensino
superiorK( s autoras tamb0m apontam para um outro tipo de car'ncia a ser
observada% que 0 a necessidade de trabalhar da maioria dos estudantes% desse
modo 0 preciso pensar em solu"
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