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FORMAÇÃO DE MONITORES INFANTO-JUVENIS PARA ATUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ECOLÓGICA NO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DA CACHOEIRA DA MARTA, BOTUCATU-
SP
Lucia Maria PALEARI1 Renata Cristina Batista FONSECA2
Rafaela Lopes FALASCHI3
Resumo: Este estudo foi desenvolvido com alunos do Projeto de Extensão Universitária Colorir, visando o aprimoramento de conhecimentos e habilidades para capacitá-los a atuar como monitores em educação ecológica no Parque Municipal Cachoeira da Marta, Botucatu, SP. Por meio de abordagem sistêmica, as atividades contemplaram conhecimentos interdisciplinares específicos, aqueles diretamente voltados ao parque, e conhecimentos complementares, que tiveram por finalidade preparar os alunos para interagir com desenvoltura e competência junto aos visitantes, desenvolvendo atividades de interpretação ambiental naquela área. Os resultados obtidos atestaram a adequação metodológica que permitiu não apenas a aquisição de conhecimentos, como também autonomia e visão crítica, com avaliações contextualizadas de questões ambientais, o que os capacita a atuar em educação ecológica.
Palavras-chave: educação; educação em ecologia, monitoria, ecologia, conservação ambiental
1. INTRODUÇÃO
A crescente demanda por recursos ambientais com produção de resíduos orgânicos
e inorgânicos, que se seguiu à Revolução Industrial no século XVIII, bem como a ampliação de
áreas destinadas à agricultura e à pecuária, acentuaram-se de tal forma a partir do século XIX, que
resultou na deterioração de mananciais de água doce, destruição de florestas, acúmulo excessivo
de poluentes na atmosfera e, conseqüentemente, na ameaça de extinção de espécies vegetais e
animais. Como parte integrante e interdependente dos demais elementos da natureza, o ser
humano demorou a dar-se conta das conseqüências que essas alterações ambientais
representariam para a sua própria sobrevivência.
Com uma visão reducionista, compartimentada de mundo, visão essa responsável
por avaliações parciais e falta de intercâmbio significativo entre estudiosos das diferentes áreas do
conhecimento, e fé inabalável na Ciência, que a tudo poderia resolver a partir de novas conquistas
científico-tecnológicas, protelamos ações conjuntas de avaliação dos problemas ambientais e de
medidas corretivas. Encontros internacionais entre representantes de diferentes países, em busca
de soluções para os graves problemas ambientais, só começaram a ganhar força a partir de 1972,
com o encontro de Estocolmo (Souza e Mello, 2000). No entanto, tais encontros, devido
principalmente aos interesses econômicos de nações ricas, geraram muitos conflitos.
1Idealizadora e coordenadora do Projeto Colorir. Docente do Departamento de Educação (Instituto de Biociências – UNESP – Botucatu). 2Docente do Departamento de Recursos Naturais (Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP – Botucatu). 3 Aluna do 4º ano de Licenciatura do Departamento de Educação (Instituto de Biociências – UNESP – Botucatu).
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Ao lado dessas iniciativas globais, em busca de soluções para os problemas
ambientais deflagrados com o aumento vertiginoso da população mundial e uso desmedido de
recursos da Natureza, tem sido enfatizada a necessidade de que tais iniciativas sejam
acompanhadas de ações locais efetivas, incorporando as respectivas populações. Dessa forma,
aumentam as possibilidades de compreensão das questões envolvidas, que, em geral, são
bastante complexas e necessitam de abordagem sistêmica.
Portanto, integrar pessoas de diferentes áreas do conhecimento e envolver crianças
e jovens no processo de recuperação e conservação de condições ambientais adequadas a uma
vida saudável, hoje, mais do que nunca, é premente.
No município de Botucatu, drenado por duas bacias hidrográficas, a do Rio Tietê, ao
norte, e a do Rio Pardo, ao sul, é flagrante a redução da cobertura vegetal, que cedeu lugar a
pastagens que avançam até às margens dos mananciais. Assoreados, desprotegidos e com
volume de água bastante reduzido, os dois rios revelam alterações no hábitat de espécies de
peixes, desaparecidas de diversos locais nos últimos anos (Uieda, 2004). Tratando-se de uma
região de afloramento do Aqüífero Guarany, e, em grande parte, composta por solos frágeis, é
imprescindível que se invista em propostas que garantam a existência e qualidade dos mananciais
de água doce, que, direta ou indiretamente, são responsáveis pelo abastecimento já comprometido
da cidade de Botucatu, bem como por cachoeiras em pontos turísticos.
Fluindo para a Bacia do Rio Tietê, encontra-se, na região de Botucatu, a Bacia do
Rio Capivara, com aproximadamente 21.000 hectares, que abrange o Reverso da Cuesta (início
do Planalto Ocidental), com altitudes entre 700 e 950 m, a Frente da Cuesta (escarpa arenítica-
basaltica) e a Depressão Periférica, com altitudes entre 400 e 600m. Destacamos esta bacia
porque nela encontram-se dois locais de grande importância em termos de conservação: Fazenda
Experimental Edgardia, da UNESP/Campus de Botucatu e o Parque Natural Municipal da
Cachoeira da Marta.
A Fazenda Edgardia com aproximadamente 1.200 ha apresenta duas das três
províncias geomorfológicas da Bacia: Frente da Cuesta e Depressão Periférica, a qual abrange a
várzea da Bacia do Rio Capivara, rebaixada 250 metros em relação as Cuestas Basálticas. A
fazenda apresenta 613,99 ha de Floresta Estacional Semidecidual, 132,79 ha de transição
floresta-cerrado e 43,94 ha de vegetação natural de várzea. O restante da área é utilizado para
práticas agrícolas e pecuárias voltadas prioritariamente à pesquisa universitária (Jorge, 2001).
Já o Parque Natural Municipal da Cachoeira da Marta, alvo da presente proposta,
reúne, aproximadamente, 16 ha e apresenta duas províncias geomorfológicas: Reverso da Cuesta
e Frente da Cuesta. A área é recoberta pela Floresta Estacional Semidecidual que abriga o
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Córrego da Roseira, no qual se observam duas cachoeiras, típicas desta região de Cuesta. Como
era de se esperar, elas atraem muitos visitantes, que, ao caminhar na parte alta do Parque, têm
uma visão panorâmica da Cuesta. Esta área, com seus atributos naturais e localização
privilegiada, dista poucos quilômetros da cidade de Botucatu e oferece excelente oportunidade
para a realização de atividades de interpretação ambiental, imprescindíveis ao desenvolvimento de
consciência ecológica a sustentar posturas afinadas com o pleno exercício de cidadania.
De acordo com estudo recente, cerca de 19% da Bacia do Rio Capivara ainda se
encontra recoberta por vegetação natural, sendo 8,2% de Floresta Estacional Semidecidual, 9,2%
de cerrado e 1,6 % de complexo ciliar (formações ciliares + mata de brejos + campo úmido). Trata-
se de fragmentos de vegetação natural espalhados em uma matriz modificada pelo homem (Jorge,
2000).
Tais fragmentos apresentam em geral pequenas áreas irregulares distantes entre si,
fatos que comprometem a conservação da diversidade de espécies da região e a manutenção dos
mananciais de água doce.
A redução dessa diversidade devido à fragmentação ocorre por dois processos
distintos, que agem em tempos diferentes. O primeiro, de curto prazo determinado pela própria
redução do habitat em questão. O segundo processo é o de insularização (formação de ilhas) que
diminui drasticamente o fluxo gênico entre os fragmentos.
Nas últimas décadas, muitos estudos têm sido desenvolvidos para a recuperação da
vegetação, como forma de manutenção da diversidade de espécies em geral. Nesse
empreendimento, as aves têm recebido atenção especial pelo papel importante que
desempenham na dispersão de sementes e, conseqüentemente, recomposição das florestas.
Diversos trabalhos mostram que a zoocoria (dispersão de sementes por animais) é a forma mais
comum de dispersão em florestas tropicais e as aves aparecem, junto com os morcegos, como os
principais responsáveis por esse processo.
Em paisagens fragmentadas o papel desses animais torna-se ainda mais relevante,
uma vez que eles transportam sementes entre fragmentos de vegetação ou de fragmentos para
áreas abertas, catalisando os processos de sucessão vegetal.
Essa problemática ambiental local é mais um dos muitos fatos que em todo o
mundo denunciam a necessidade urgente que temos de investir na formação das crianças e
jovens. Formação que implica no desenvolvimento de consciência ambiental da complexidade e da
profunda interação de interdependência a que todos os elementos estão sujeitos, inclusive o
Homem, para que assumam uma postura diante da Natureza, que envolva o cotidiano de suas
ações.
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Por implicar em rompimento com valores e sistema de crenças amalgamado nas
pessoas, investimento em mudança na percepção de mundo requer um trabalho educativo com
crianças e jovens concomitante a atuações específicas junto aos adultos, em busca de um
somatório de forças que se potencializem e resultem no resultado almejado.
O distanciamento que se verifica entre as pessoas e o ambiente onde vivem é
flagrante e se denuncia até mesmo no desconhecimento de fenômenos elementares da Natureza
como aqueles dos ciclos, por meio dos quais se processa a renovação da vida, sua estrutura e
metabolismo, no fluir da matéria e energia. Um sistema cujas interações de interdependência, que
definem um padrão em rede dos elementos físicos e biológicos do ambiente, fazem emergir Gaia
(Lovelock, 1995, Margulis, 2001).
A falta de conhecimento de conceitos fundamentais, somada à ausência de valores
de vida, que foram substituídos por valores de mercado, baseados em consumo intenso, impede a
compreensão de Gaia e da dependência profunda que temos de toda a sua perfeita organização
co-evolutiva. Dessa forma, o planeta Terra nada mais é para a sociedade humana do que um
conjunto de recursos geradores de riqueza, a ser explorado até a exaustão, independentemente
de ser ou não imprescindível à sobrevivência.
Os problemas ambientais, que já eram bastante graves por volta de 1970, atingiram
de maneira devastadora ambientes que têm um papel fundamental nos ciclos da água, do
oxigênio, e efeito estufa, de forte repercussão mundial, como é o caso da Região Amazônica.
Seguimos a nos ameaçar dada a nossa insanidade.
Os discursos que têm clamado por maior e mais racional aproveitamento dos
recursos, reutilização e reciclagem de materiais, bem como maior proteção a espécies de plantas
e animais, não alcançaram a alma humana. De um lado, a falta de autoridade de muitos daqueles
que discursam e de outro a insensibilidade de receptores também ávidos de poder e lucro
reduzem as melhores propostas de mudanças a um apelo sem resposta. Continuamos em perigo
e equivocados quanto à nossa natureza.
De outro lado, mantemos um sistema escolar que reproduz os valores dessa
sociedade consumista e ignorante. Ao longo das últimas duas décadas, em especial, a apatia e até
despreparo da maioria dos seus componentes, imobilizou-o ao sabor dos seus próprios vícios,
produzindo gerações de analfabetos científico-literários, recentemente avaliados (OECD, 2000).
Portanto, resgatar-se o conhecimento significativo que a humanidade acumulou
sobre o solo, o ar, a água, os seres vivos e as interações entre eles, acompanhado da
revalorização da vida e do ser humano como parte integrante da rede, é imprescindível para que
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possamos reverter o quadro sinistro que pintamos e que Ehrenfeld (1992) bem traduziu como “A
arrogância do humanismo”.
2. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DE PREPARAÇÃO DOS MONITORES
Uma iniciativa que vislumbramos como promissora, para resgate de valores e
conhecimento, aponta para a reaproximação das crianças e jovens do ambiente por meio de
estudos de campo, que oferecem a possibilidade de integrar o conteúdo próprio das diversas
disciplinas escolares, ao desenvolvimento de consciência e entendimento das questões
ambientais, por meio da abordagem holística.
Não se trata de uma proposta de fácil implementação no sistema de ensino formal,
em parte pela escassez de estudos a oferecer conhecimento de aspectos metodológicos e
instrucionais (Leal Filho, 1995) e em parte pela necessidade de preparação científica e pedagógica
adequada dos professores do ensino fundamental e médio, que mesmo quando dispostos a
iniciativas que implicam em retirada dos alunos das escolas para o campo, esbarram, por vezes,
em dificuldades diversas como a burocracia e falta de apoio, que são desestimulantes.
Nesse ponto é que vemos como alentadoras as propostas desenvolvidas com
crianças e adolescentes por meio do Projeto de Extensão Universitária Colorir, da Unesp de
Botucatu. Reunindo 15 alunos da rede pública de ensino no horário complementar às atividades
regulares, professores, técnicos e alunos voluntários da universidade desenvolvem um trabalho
orientado no sentido de proporcionar conhecimento interdisciplinar baseado em abordagem
sistêmica, que propicia interpretações menos simplistas e mais integrativas dos saberes que
povoam a sociedade contemporânea.
Iniciado no segundo semestre de 1999, o Projeto Colorir voltou-se para crianças de
11 a 14 anos, moradoras de Rubião Júnior, Distrito que faz divisa com o Campus da UNESP de
Botucatu. Alunos do período matutino da Escola Estadual João Queiroz Marques freqüentam na
UNESP um espaço que lhes é próprio, cedido pela administração geral do campus. Nesse espaço,
mantido organizado e limpo pelos integrantes do grupo, realizamos atividades teóricas e práticas
das ciências físicas e biológicas, bem como oficinas de artes, de inglês e de espanhol. No
Departamento de Educação têm aulas de física, química e biologia com os alunos de licenciatura,
que se estendem ao laboratório de nutrição, onde a arte culinária integra os conhecimentos de
fisiologia da digestão e nutrição. No laboratório de informática do departamento de Bioestatística
recebem as orientações básicas sobre o equipamento, seu funcionamento geral, bem como a
utilização de programas para edição de texto e imagens. As quadras de esporte e sala de ginástica
têm sido usadas para atividades esportivas e oficinas de teatro, respectivamente.
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Sempre que necessário e possível o deslocamento, visitamos outras instituições
dentro e fora de Botucatu para participar de atividades variadas.
Longe de subestimar a capacidade das crianças e adolescentes, como em geral
acontece, inclusive nas escolas, tais experiências mostraram-nos que a curiosidade, capacidade
criativa, e compreensão de conceitos, somadas ao prazer por dar explicações para os fenômenos,
são fortes aliados do professor, que fora da posição tradicional de comunicador de informações,
assume o papel de animador de um processo ativo de busca, no qual as crianças e adolescentes
ampliam, sistematizam, aprofundam e constroem novos conhecimentos. Quando isso acontece,
elas são capazes de generalizar e transferir para novas situações o que foi aprendido. Sentem-se
seguras e capazes de interagir com outras pessoas, explicando apropriadamente os fenômenos.
Essa experiência foi tão repleta de significado para os alunos do Projeto Colorir, que
ao final de 4 anos eles resistiram a dar a vez para uma nova turma. Como a nossa infra-estrutura e
pessoal voluntário não nos permitem receber mais do que 15 crianças e considerando, além da
bagagem que os então adolescentes já possuíam, a possibilidade de desenvolver um trabalho
conjunto com a professora Renata C. B. Fonseca, a coordenadora do projeto optou pela
preparação desses estudantes para atuar como monitores no Parque Natural Municipal da
Cachoeira da Marta.
Segundo o dicionário Aurélio, monitor é o “aluno que auxilia o professor no ensino
de uma matéria, em geral na aplicação de exercícios, na elucidação de dúvidas, etc., fora das
aulas regulares”. Dessa forma, entende-se que ele deva ter autonomia, o que pressupõe não só
domínio do conhecimento como também capacidade para preparar atividades, pensar e ajudar na
resolução de questões que lhes são colocadas. Só assim terá competência no desempenho de
sua função, que não se afina com adestramento e transmissão de um conjunto de informações.
Por essa razão, a abordagem não poderia ser outra que não a sistêmica (Bertalanffy, 1995, Capra,
1997), que é como se mostram os seres vivos em suas relações no ambiente, repletos de inter-
relações de inter-dependência, com constantes realimentações em processos auto-organizadores.
Dessa forma, para compreendermos qualquer fenômeno faz-se necessário contextualizá-lo e
considerar os muitos fatores interligados a ele. A complexidade da vida e as propostas integrativas
baseadas em uma abordagem sistêmica voltam-se, portanto, necessariamente para o
entendimento do padrão de rede.
Não bastasse a natureza da monitoria que se pretendeu requerer orientações muito
voltadas a experiências práticas, estudos recentes têm apontado também para o inestimável valor
dessas experiências no desenvolvimento cognitivo (Maturana & Varela, 1980; Maturana & Varela,
1995), o que foi amplamente considerado na definição das atividades.
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Atenção especial foi dada também para a participação colaborativa dos
adolescentes nas diversas tarefas propostas. Como parte da rede de relações da Ecologia
Planetária, repleta de interações de cooperação, que, para Magulis (2001) oferece a base para a
explicação da diversidade biológica, estimulamos esse tipo de interação como maneira de obter
resultados de melhor qualidade porque fruto do somatório de diferentes habilidades,
conhecimentos e interpretações.
Foi com essa concepção de monitoria e pressupostos teóricos, que planejamos e
desenvolvemos a preparação dos adolescentes do Projeto Colorir, para atuação em atividades
junto a colegas da rede pública de ensino e visitantes do Parque Natural da Cachoeira da Marta.
3. O CAMINHAR E O CAMINHO: ASPECTOS DA CONSTRUÇÃO E DOS RECURSOS UTILIZADOS
Os trabalhos realizados podem ser classificados em dois grandes eixos de
conhecimentos necessários ao monitor de atividades em ecologia: a) específicos e b)
complementares.
Como conhecimentos específicos consideramos todos aqueles que envolvem
diretamente o Parque Natural da Cachoeira da Marta como unidade de conservação, seus
aspectos físicos, biológicos e vocação como espaço para educação em ecologia. Reunidos como
conhecimentos complementares, consideramos os trabalhos que tiveram por finalidade preparar
os alunos do Projeto Colorir para receber e desenvolver atividades naquela área, com outros
escolares e público em geral, bem como preparar cartazes e folderes de divulgação.
a) Eixo de Conhecimentos Específicos
Iniciamos com uma visita ao Parque Natural Municipal Cachoeira da Marta (Figura
1A-E). Nesse encontro tratamos das unidades de conservação, como são definidas na legislação
vigente, para, posteriormente, podermos considerar o parque em questão e tratar da importância
desses espaços. Depois disso, realizamos uma caminhada para reconhecimento da área, tecendo
considerações sobre o tipo de vegetação e animais característicos do local, e apresentamos dados
históricos da criação do Parque da Marta aos dias atuais. Visitamos o mirante da Cuesta (Figura
1E) e a cachoeira que dá nome ao Parque (Figura 1A).
Ao final do período propusemos que os alunos levantassem os principais atrativos e
os problemas que puderam observar e que tipo de atividades eles poderiam realizar com os
visitantes.
O trabalho que se seguiu foi o de preparar uma maquete com recorte do espaço,
que evidenciasse o relevo com os acidentes geográficos mais representativos. Essa etapa foi
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desenvolvida no laboratório didático do Departamento de Educação e, posteriormente, na sala do
Projeto Colorir, local que serviu principalmente para o desenvolvimento da arte final,
representando-se as diferentes formas de uso e condição do solo (fragmentos mata nativa, pastos,
áreas desnudas e erodidas).
As etapas deste trabalho, que podem ser observadas na Figura 1F-H, foram as
seguintes:
� Reconhecimento do Parque nas cartas da região: localização, tamanho da área, pontos de referência (principais estradas e vias de acesso), inserção na bacia hidrográfica, distribuição no relevo.
� Seleção da área a ser representada pela maquete – Microbacia do Córrego da Roseira.
� Seleção da escala de trabalho e material de referência – Carta 1:10.000 do Plano Cartográfico do Estado de São Paulo de 1978.
� Seleção das curvas para representação das diferentes altitudes na maquete – a cada 25 metros.
� Escolha do material para fazer a base da maquete – placas de cortiça de 2.5 mm.
� Transferência das curvas da carta para a cortiça.
� Corte das placas de cortiça e montagem da base.
� Recobrimento da base da maquete com massa corrida para dar o efeito do relevo.
� Reconhecimento dos diferentes usos do solo em fotografia aérea recente da região: pastagens, matas, estradas, agricultura, rios e etc..
� Passagem dos diferentes usos do solo para a maquete.
� Escolha do material para representar os diferentes usos do solo – serragem de diferentes granulometrias tingidas.
� Tintura da serragem.
� Aplicação da serragem na maquete.
A escolha do material para a representação das diferentes formas de uso do solo
deu-se depois de uma visita que realizamos para conhecer uma maquete instalada em uma sala
de aproximadamente 2m X 2m que mostra um trecho do relevo de Botucatu com o trajeto da
estrada de ferro que corta a região, o qual foi equipado com trilhos e vagões de trem que se
movimentam sobre eles. Planejamos essa visita para que os alunos percebessem as
possibilidades oferecidas por uma representação como essa e, principalmente, para que
pudessem discutir com os construtores já experientes, materiais e técnicas de acabamento.
Um outro conjunto de atividades que implicou em conhecimentos específicos do
Parque da Marta, foi incorporado a partir de uma proposta de intercâmbio com estudantes
adolescentes da Suíça. Essa proposta, intitulada de Projeto Árvore, contou com a participação da
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artista plástica Cristina Mösch, que usou a arte visual como forma de comunicação entre os dois
grupos de adolescentes. O material produzido foi enviado pelos alunos daqui por meio do correio
eletrônico. As etapas deste trabalho realizado foram as seguintes:
� Ida ao Parque Natural da Cachoeira da Marta que foi apresentado à professora Cristina (Figura1I-J). Lá, durante a caminhada, cada adolescente escolheu uma das árvores com a qual trabalhou a representação por meio de fotografia digital (Figura 1J), além de ter levantado algumas características morfológicas e relativas a interações com outros seres vivos.
� Volta ao campus da UNESP de Rubião para o Departamento de Educação, onde cada aluno apresentou a árvore escolhida, a razão da escolha e as características principais que puderam ser observadas no campo. Nesse momento diversos dados foram acrescentados sobre as árvores como: condição da sua população naquele ecossistema e/ou no Estado de São Paulo; relações com o Homem (fonte fruto, de madeira para móveis ou construções etc) a importância de determinadas estruturas específicas (ex. raízes tabulares, alas e pelos em sementes), tipo de dispersão de sementes etc.
� Representação da árvore, ou de parte dela, por meio de desenho em uma folha de papel, com orientações dadas pela professora Cristina para que conseguissem os efeitos desejados (Figura1K-M).
� Desenhos feitos com o auxílio de programa específico de editoração de imagem FiguraN), além da digitalização dos desenhos em papel, cujos arquivos seguiram posteriormente para a Suíça.
Essas duas atividades do eixo de conhecimentos específicos foram enriquecidas
com temas complementares necessários à compreensão abrangente do Parque da Marta. Nessas
situações foram estimuladas discussões sobre as implicações de certos fenômenos para a
integridade do local e apresentação de alternativas a sua conservação. Quatro palestras
aconteceram ao longo do ano e foram ministradas por especialistas convidados.
Iniciamos com a participação da professora doutora Célia Zimback, que apresentou
as rochas que formam a nossa região, os tipos de solos originados a partir delas, com suas
características físicas e químicas, seu uso e conservação. Os alunos puderam manusear
exemplares, aprenderam a reconhecê-los e a comprovar a presença de ferro.
O Professor Waldy Antônio Dansiato fez o traçado histórico do passado geológico
da região e teceu considerações sobre o processo de formação da Cuesta de Botucatu. O uso de
um mapa propiciou aos alunos a localização desse acidente geográfico e dos morros testemunhos,
um dos quais situa-se ao lado do departamento de educação, em Rubião Júnior, no qual encontra-
se a Igreja de Santo Antonio.
As principais características das aves, incluindo a dinâmica do vôo, a riqueza de
espécies e o uso de grupo como indicador e a importância desse grupo para a compreensão da
dinâmica ambiental, uma vez que participam da dispersão de sementes, redução de inseto e
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outros animais, foram os tópicos apresentados pelo biólogo Gustavo Braga da Rosa. Ao final da
sua apresentação, os alunos foram levados ao campo para uma prática de observação e
reconhecimento de espécies com o uso de binóculos.
Para tratar da ecologia de Ecossistemas Aquáticos da região, contamos com a
participação da Profa. Dra. Virgínia Uieda, que nos mostrou como se pode estudar peixes em rios
e riachos, para conhecer as espécies presentes, como elas vivem e como as alterações que estão
em curso na região já afetam e levam ao desaparecimento de espécies. Para isso foi
imprescindível que aspectos da biologia e ecologia dos peixes fossem levantados (aspectos
comportamentais, hábitos alimentares, camuflagem, aspectos reprodutivos e tipos de
desenvolvimento etc), bem como a localização dos riachos na Cuesta, cujos solos implicam em
certas características físicas da água (ex. quantidade de sedimentos e transparência).
b) Eixo de Conhecimentos complementares
• Visitas
Organização Não Governamental (ONG) Nascentes
Iniciamos as atividades do dia na sede da ONG, acompanhados do seu
coordenador, que fez um delineamento da situação global da água no que se refere à quantidade,
à qualidade, ao uso e à conservação. Foi realizado também um reconhecimento das nascentes do
Rio Capivara e do Córrego da Roseira, o qual atravessa o Parque da Marta e tem a cachoeira que
lhe dá o nome. Tivemos também a oportunidade de conhecer as ações desta ONG para a
proteção das nascentes que são cercadas para evitar o pisoteio pelo gado e reflorestadas com
espécies arbóreas nativas.
Centro de Difusão Científica e Cultural (CDCC) - USP, São Carlos
No Centro de Difusão Científica e Cultural (CDCC) fomos conduzidos a uma sala
onde os alunos conheceram substâncias correspondentes aos elementos químicos que fazem
parte da tabela periódica, observaram um termohigrômetro e aprenderam o princípio do seu
funcionamento. Por meio de material taxidermizado entraram em contato com animais da região.
Depois dessa breve passagem pelo CDCC rumamos para as diversas etapas do
estudo do meio (Figura O-T). Antes da saída recebemos e nos equipamos com polainas e bonés.
Um aluno de graduação em Ecologia acompanhou-nos e monitorou todas as etapas do estudo
(Figura 1O-T).
No trajeto, identificado em um mapa geográfico da região impresso e entregue a
cada aluno, fizemos as seguintes paradas para observações e discussões sobre questões
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ambientais e de conservação: na beira da estrada inicialmente para observação das
características da paisagem na região onde se localiza a bacia do Rio Itaqueri e em seguida para
observação do Córrego do Feijão, que é um dos mananciais que abastece a cidade de São Carlos;
Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (CRHEA); uma área de cerrado e outra com uma
monocultura de Pinus; uma mata de galeria no Ribeirão do Lobo e um viveiro de animais, vários
dos quais ameaçados de extinção.
Na primeira parada, um ponto bastante elevado e estratégico, permitiu uma visão
panorâmica da bacia do Rio Itaqueri. Os alunos foram orientados na interpretação do mapa da
região, que serviu para que visualizassem a bacia no contexto geográfico, e a observar áreas ao
longe com diferentes tipos vegetação (cerrado, mata de galeria e áreas de pastagem de gado) que
foram identificadas por suas características como hábito das plantas e tons característicos de
verde.
O monitor conduziu seu trabalho de maneira a estimular a participação dos alunos
lançando perguntas específicas que permitiram desdobramentos importantes do ponto de vista do
desenvolvimento ou revisão de conceitos, interpretação contextualizada de fenômenos físicos,
químicos e biológicos, conservação ambiental e uso racional dos recursos.
A partir de uma pergunta – Estamos ou não dentro da bacia hidrográfica? – e de
observações para reconhecimento dos rios, riachos e sentido de suas nascentes foi trabalhado o
conceito de bacia hidrográfica. Apontando para uma região mais alta o monitor quis saber, com
relação à bacia hidrográfica, o que deve acontecer com a água quando chove ali para finalmente
classificar aquele tipo de elevação, que os alunos foram unânimes em denominá-la de divisor de
águas, conceito desenvolvido durante a visita à ONG Nascentes e revisado nas palestras da
Professora Vírgínia e do professor Waldy.
Seguimos para o Ribeirão do Feijão. Nessa parada, que ainda não nos colocara
dentro da área da bacia hidrográfica do rio Itaqueri, os alunos foram estimulados a pensar no
motivo desse rio, mais distante do que vários outros que passam pela cidade de São Carlos, ser
utilizado para captação de água que abastece aquela cidade. Observaram as condições da mata
de galeria e discutiram sobre seu papel na proteção do solo. Receberam informação sobre a
obrigatoriedade da manutenção de uma faixa de mata de 30m de vegetação nas margens dos rios,
que os fazendeiros raramente cumprem. O monitor chamou a atenção para um coqueiro que
crescia no barranco e exibia uma curvatura na parte superior, fato que evidencia a existência de
um processo de assoreamento daquele, como conseqüência de solos erodidos no entorno.
A nossa próxima parada foi no Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada
(CRHEA), no qual o monitor aproveitou para fazer algumas observações e desenvolver alguns
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temas ao longo de um caminho que nos conduziu ao posto meteorológico (ex. sementes aladas e
anemocoria, casas piloto construídas para teste de materiais que tendem a reduzir impactos
ambientais).
Como uma brincadeira a coordenadora do Projeto Colorir construiu um catavento
usando uma folha de figueira e um graveto encontrados no meio do caminho e ensinou a aluna
mais jovem, que fez o seu catavento (Figura T) e ensinou aos demais colegas. Dessa maneira
simples e lúdica puderam identificar, grosso modo, a direção do vento e verificar os efeitos das
variações de direção e velocidade, um pouco antes de antes conhecerem a biruta , o anemômetro
e anemógrafo.
No posto meteorológico, além da observação dos instrumentos usados em
medições de como temperatura (máxima e mínima), umidade relativa do ar, luminosidade
(Figura1R), direção e velocidade do vento, índices pluviométricos e de evapotranspiração, entre
outros, aprenderam sobre os seus respectivos princípios de funcionamento e importância dos
dados para uma mais completa e adequada interpretação ambiental.
Os tanques para registros das taxas de evaporação, por serem mantidos com água
serviram para alertar para o problema que representam recipientes como aqueles na procriação de
larvas de espécies de pernilongos, muitas vezes transmissoras de doenças para o Homem e
discutir formas as formas de controle químico e biológico. Considerando os problemas do controle
químico o monitor informou-nos que para aqueles tanques haviam adotado o controle biológico por
meio de um peixe (guaru ou barrigudinho), que atua como predador das larvas dos insetos.
A parada seguinte foi em uma área de cerrado (Figura 1P-O) e o primeiro ponto de
observação aconteceu em uma mata de galeria. As características das árvores (troncos
relativamente delgados, um pouco tortuosos, cobertos por cascas espessas, ramos com folhas
coriáceas com inúmeros sinais de herbivoria) foram observadas e estabelecidas as relações
adaptativas com aquele ambiente seco e que periodicamente sujeita-se a incêndios.
Caminhando mais um pouco entramos em uma área de conservação ambiental na
qual o monitor iniciou apresentando aos adolescentes um pequizeiro, planta típica do Cerrado, que
se encontrava na beira do caminho. Ao lado chamou a atenção para a casca de um tronco que
além de espessa apresentava-se como um mosaico de cubos chamuscados pelo fogo, mas
contendo certas manchas esbranquiçadas identificadas como liquens.
Nesse caminho aprenderam a reconhecer a palmeira Indaiá (Figura 1P)
considerada invasora e hoje utilizada como planta ornamental. O seu nome deu origem ao nome
da cidade de Indaiatuba. Observaram também a presença de outras plantas invasoras
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principalmente espécies de capim e as características que fazem delas plantas adaptadas a
ocupar espaços abertos na mata.
Ao chegarmos em uma clareira preparada para o desenvolvimento de atividades
para aprofundamento dos conhecimentos do Cerrado (Figura 1O), o monitor instalou um
termohigrômetro em local sombreado e foi ao encontro dos alunos com os quais conversou sobre
aquele tipo de vegetação. Apresentou a área de distribuição do Cerrado no Brasil e relacionou as
suas principais características com as condições do ambiente seco e pobre em nutrientes ao qual
adaptou-se (árvores com troncos de casca espessa e tortuosos, raízes muito profundas o que
valeu a observação de um pesquisador que se trata de uma floresta de “cabeça” para baixo, folhas
coriáceas com pêlos, certas sementes protegidas por uma camada externa que impede a
germinação e por isso a dependência do fogo para a entrada de água, solo com pH ácido, altas
taxas de alumínio, seco e quase sem qualquer camada de serrapilheira). As folhas, as cascas das
árvores e o solo foram tocados para percepção da textura, presença de pelos, tamanho dos grãos
e umidade. Foram introduzidos os animais símbolos do cerrado: o tamanduá, a ema (ave ratita) e
o lobo guará, o qual é responsável pela quebra de dormência das sementes da fruta-de-lobo, que
lhe serve de alimento, por meio da ação do ácido estomacal. Quando o monitor perguntou quem
seriam os maiores consumidores de folhas do cerrado, as formigas entraram em cena.
Imediatamente os alunos introduziram um outro consumidor nessa cadeia alimentar, o tamanduá
que se alimenta de formigas e que fora observado taxidermizado no CDCC.
Ao final dessa roda de estudo de campo o monitor entregou para os alunos cópias
de uma chave dicotômica de classificação e explicou como funcionava, para, em seguida, utilizá-la
junto aos adolescentes na identificação daquele bioma, a partir de suas características principais.
Esta atividade funcionou também como uma forma de avaliação do que fora trabalhado.
Encerramos com a leitura e registro dos valores de luminosidade e umidade relativa
do ar, obtidos com um luxímetro e termohigrômetro, respectivamente. Esses instrumentos foram
instalados no início da atividade.
Após o lanche, que foi tomado ao lado da Represa do Broa, caminhamos até uma
plantação de Pinus localizada nas proximidades daquele local. Foi chamada a atenção dos alunos
para a diferença entre os conceitos de monocultura já conhecido da turma e o de reflorestamento.
Apresentamos as razões que levam empresários e a plantar pinheiros e eucaliptos em áreas
erroneamente denominadas de áreas de reflorestamento.
Ao chegarmos a essa plantação de pinheiros a coordenadora do Projeto Colorir quis
saber a que tipo de floresta aquela plantação assemelhava-se e quais as características que eles
podiam destacar como indicadoras. O objetivo foi resgatar conhecimento desenvolvido durante o
139
projeto em parceria com a professora e estudantes da Suíça. As imagens que nos enviaram de
quando foram a campo, evidenciaram a baixa diversidade que lembra uma monocultura. Nesse
local, carente de sub-bosque, tratou-se do conceito de amensalismo, caracterizada pela produção,
pelos pinheiros, de substância inibidora do crescimento de outras espécies vegetais.
No Ribeirão do Lobo, que deságua na Represa do Broa, fizemos a nossa penúltima
parada para observação de uma mata de galeria e comparação desse ambiente com aquele de
Cerrado. Com perguntas direcionadas para observações sobre o porte e adensamento das
árvores, sensação de temperatura e umidade no interior da mata, textura do solo, característica da
camada de húmus, luminosidade, presença de briófitas e epífitas, os alunos apontaram as
características peculiares desse ambiente e teceram um paralelo com as características
correspondentes que haviam observado no Cerrado. Finalizamos essa atividade usando também
uma chave dicotômica para proceder à identificação desse tipo de ambiente usando suas
principais características e fazendo as leituras do luxímetro e termohigrômetro.
Seguimos para o viveiro de animais onde são criados exemplares de diversas
espécies brasileiras ameaçadas de extinção. A diversidade de formas, cores, canto de pássaros e
comportamentos puderam ser verificados. Foram levantadas questões sobre a as condições do
criadouros e importância de espaços como aquele para a recuperação e reintrodução de
espécimes em suas áreas nativas.
• Oficinas
Moldes e Réplicas
Animais vertebrados ao movimentarem-se por terrenos não muito compactos e
úmidos tendem a deixar suas pegadas impressas nesse chão. São evidências indiretas de suas
presenças, que podem auxiliares pesquisadores interessados em conhecer a fauna de
determinada área, uma vez que cada animal deixa uma marca característica. Por meio de uma
técnica simples que consiste em encontrar as pegadas e preenchê-las com gesso diluído em água
e esperar que seque para a obtenção de um molde, para estudo e identificação posteriores, é
possível reconhecer a presença de certas espécies que em determinados momentos não são
possíveis de observar no campo, embora estejam presentes na área.
Essa atividade foi conduzida por duas alunas de graduação das Ciências Biológicas,
Maristela Leiva (voluntária) e Rafaela Lopes Falaschi (bolsista Fundunesp), que dividiram a oficina
em duas etapas: a) apresentação teórica sobre métodos (direto e indireto) e importância dos
levantamentos faunísticos e b) obtenção de moldes de espécies de vertebrados que transitaram
pelo Jardim Botânico do Instituto de Biociências.
140
Na primeira etapa, por meio de um rico acervo de imagens inseridas em uma
apresentação com multimídia, vocalizações gravadas em fita cassete e alguns vestígios indicativos
da presença de certos animais (ex. guiso de cascavel, mudas de cobras, penas, ninhos). Maristela
apresentou os métodos direto e indireto usados para levantamento de vertebrados terrestres. Ao
introduzir cada um dos grupos perguntava aos alunos as características que conheciam e
completava com dados importantes da biologia e comportamento, principalmente aqueles
necessários à compreensão do método adotado para levantamentos de campo (Tabela 1).
Durante essa apresentação os alunos participaram intensamente com perguntas e comentários
sobre animais que conheciam e experiências vividas. A apresentadora chamou a atenção para a
importância de guias de campo para a identificação de espécies, os quais são muito utilizados no
caso de aves e de pegadas de mamíferos. A coordenadora do projeto observou que a
possibilidade de produção de guias de campo para o Parque da Marta já havia sido discutida, mas
isso só poderia ser feito após levantamentos e melhor conhecimentos das espécies presentes na
área do parque.
Essa apresentação foi encerrada com um exercício de identificação de pegadas
(moldes em gesso) utilizando um guia específico (Figura 2B).
Terminada essa primeira etapa nós nos dirigimos ao Jardim Botânico para a
realização da etapa “b” (FigurasC-D). Como o local já era de conhecimento dos alunos, Maristela e
Rafaela orientaram o grupo para a preparação do gesso misturado à água, em consistência
adequada a esse objetivo: não muito mole e nem de secagem muito rápida. Em seguida saímos
em caminhada por certos espaços nos quais deveríamos observar cuidadosamente as marcas
existentes no solo em busca de possíveis pegadas de animais. Toda vez que uma marca suspeita
era encontrada reuníamos nesse local para avaliação do achado (características da suposta
pegada e confronto com a estrutura do animal que se acreditava pudesse ter sido o autor daquela
marca). Se fosse, de fato, uma pegada de animal, o gesso misturado à água era vertido para cobrir
toda a sua superfície, protegida nas laterais com papel cartolina. Depois de endurecido o gesso,
agora um molde, era coletado e acondicionado para transporte. Muitas pegadas de pássaros
(Figura 2C) e pequenos mamíferos foram encontradas. A que mais chamou a atenção, causando
grande surpresa, foi uma grande pegada que se acreditou ter sido deixada por uma onça parda. O
molde, a pedido da Maristela foi levado a um especialista para avaliação.
Embora o objetivo dessa ida ao Jardim Botânico fosse o de fazer um levantamento
de espécies de mamíferos presentes na área, houve diversas oportunidades para observações e
considerações sobre ela. Já ao final dos trabalhos, quando saímos da mata e chegamos à margem
do lago, pudemos observar uma grande densidade de plantas aquáticas submersas emitindo
pequenas flores brancas que cobriam grande parte da sua superfície. Um dos alunos, com um
141
julgamento precipitado, sem a devida observação criteriosa que sempre orientamos para que
fizessem, surpreendeu-se ao constatar que se tratava de plantas aquáticas e que em meio as suas
raízes abrigavam-se grandes cardumes.
Pintura em Madeira e Mosaico
Elaboradas e desenvolvidas pela Professora Cláudia Helena Pellizzon, do
Departamento de Morfologia do Instituto de Biociências, essas atividades tiveram por objetivo
ampliar o conjunto de técnicas e desenvolvimento de habilidades (Figura 2E-G). Além disso, esses
tipos de trabalhos podem ser adequados quando utilizados em representações de paisagens e
espécies de uma área como o Parque da Marta, tanto para compor um cartaz de divulgação e
convite para visita (foto, digitalização e editoração), como para serem usados com os visitantes ao
término de uma atividade no Parque, por exemplo.
Retalhos de madeira foram lixados para correção das imperfeições e em seguida
uma demão generosa de tinta branca foi aplicada para cobrir o fundo. Depois disso os alunos
iniciaram as misturas de tinta branca com pigmentos para obtenção das cores e tons desejados.
Nesse momento a coordenadora do Projeto Colorir aproveitou para retomar com eles os sistemas
de cores RGB e CMYK, que já conheciam de trabalhos realizados em programa de editoração de
imagens.
Terminada a preparação de cores as pinturas foram feitas sobre um desenho pré-
produzido a lápis ou sobre o fundo branco sem qualquer esboço.
A professora Cláudia orientou-os quanto à possibilidade de trabalhos de
composição nos quais recortes de revistas colados nos retalhos de madeira recebem
interferências com pinturas.
Em um outro dia foi a vez da oficina de mosaico (Figura 2H-I). Usando peças e
publicações ilustradas a Professora Cláudia fez um apanhado histórico trazendo exemplos de
vários países, da arte de juntar peças para formar figuras ou arranjos de cores. Indicou o papel, o
vidro e o azulejo como materiais freqüentemente utilizados nesse tipo de obra (Figura 2H).
Como trabalharíamos com azulejos a professora orientou-nos para os cuidados
necessários a fim de evitar acidentes que poderiam resultar em ferimentos graves, uma vez que na
quebra do azulejo pequenos pedaços podem projetar-se e atingir o rosto, principalmente. Por isso,
um pano foi utilizado para cobrir as peças antes de serem quebradas com martelo ou com um tipo
de alicate conhecido como truqueza (Figura 2I).
142
Atentamos também para à espessura dos ladrilhos para que os cacos, depois de
fixados na madeira, não deixassem a superfície irregular, mas, sim, plana, se essa fosse o
objetivo. Cada peça foi fixada na madeira com cola e entre uma e outra foram deixados espaços
que, depois de seca a colagem, seriam preenchidos com rejunte. Dependendo do interesse e das
condições pode-se fazer uma pintura sobre esse trabalho, que será fixada por meio de altas
temperaturas em fornos especiais.
Durante essas atividades os alunos trabalharam em grupos cooperando tanto na
idealização da representação como preparando e colando as peças.
Origami
A arte de dobrar papel foi orientada pela professora Silvia Nishida, que iniciou
contando a história da origem (papiro às margens do Nilo, China e ocidente) e composição
(celulose) do papel. Dado que a sua produção depende do processamento de muitas árvores e
envolve um processo altamente poluidor de mananciais, foi chamada a atenção dos alunos para
que fizessem sempre um bom uso desse material, sem desperdícios. No caso de errarem e não
poderem mais utilizar para aquela atividade o indicado é reciclar.
Depois dessa introdução a professora trabalhou com os alunos as figuras
geométricas que são obtidas a partir das dobras básicas feitas no quadrado e destacou a o valor
da capacidade de visualizar formas no quadrado (aves, serpente etc), para poder produzi-las por
meio de dobraduras. Em seguida ensinou-nos a fazer o Tsuro (= cegonha) e depois disso as
dobras básicas, que permitiram aos alunos desenvolver diversos trabalhos representando animais,
flores e objetos, baseados nas propostas de um manual impresso. Alguns momentos dessa
atividade podem ser observados na figura 2J-U.
Artesanato com Garrafas PET
Duas graduandas das Ciências Biológicas, Alline Mayumi Tokumoto e Melissa
Rezende Batistela, prepararam e conduziram essa oficina como voluntárias. Iniciaram
apresentando dados numéricos das estimativas da quantidade média de massa de lixo/dia que
cada brasileiro produz e tempo necessário para que cada tipo de material seja decomposto na
natureza (Figura 2O). Levantando exemplos, as orientadoras da atividade discutiram com os
alunos do Projeto Colorir as possibilidades de melhoria do ambiente e continuidade por mais
tempo das fontes de recursos, se adotarmos práticas que busquem reutilizar, reduzir e reciclar
materiais em nosso cotidiano. A redução do consumo, inclusive de materiais empacotados com
subunidades também embaladas, foi um dos exemplos a evidenciar os nossos excessos e
143
também possibilidade de evitarmos concretamente o desperdício, muito comum na sociedade
humana. Esse tema que fora tratado na oficina de origami estendeu-se para diversos outros
materiais além do papel.
A reciclagem, com novas técnicas e com desdobramento social que movimenta
pequenas fábricas, grupos organizados de pessoas em diversos países garantindo o sustento de
famílias, também foi discutida com os alunos.
O tema específico da oficina que implica em reutilizar materiais, geralmente
redirecionando a forma de uso, foi abordado com foco para a reutilização de garrafas PET, que
podem também ser recicladas, devido ao grande volume desse material que é descartado
diariamente. Para os trabalhos utilizamos diversos tipos de garrafas PET, um ferro de passar
roupas (figura 2Q), um bico de bunsen (Figura 2R), tintas acrílicas, pincéis e tesouras.
Os alunos receberam orientação para a confecção de um porta-lápis (Figura 2P-R)
e de uma libélula (Figura 2S), que, após a retirada de partes específicas da garrafa PET, foram
montados e pintados durante a oficina (Figura 2O-S). Um material impresso com outras
possibilidades de artesanato foi entregue a eles.
Seminários
Em novembro de 2004 os alunos conduziram a apresentação e discussão de temas
importantes à compreensão da dinâmica ambiental. Esses assuntos foram preparados de maneira
didática, sempre que possível com demonstrações práticas e construção de modelos explicativos,
visando um trabalho com crianças e público leigo, visitante do Parque Cachoeira da Marta. Os
temas desenvolvidos foram:
� Peixes: biologia, ecologia e preservação (características, reprodução, desenvolvimento, espécies dos riachos de Botucatu, adaptações, ações antrópicas e desaparecimento de espécies, ações para conservação)
� Água e ambiente (Importância, distribuição mundial e no Brasil da água doce e salgada, Poluição de mananciais, Perda e desperdício, reservatórios no Brasil, A água na história de civilizações mundiais, A água na história de Botucatu)
� Aves (Quantidade estimada no mundo, Características biológicas, Classificação de acordo com o hábito alimentar, dimorfismo sexual, Ninhos, O vôo das aves, Migração)
� Aves e répteis dos biomas brasileiros (características morfológicas, comportamentais, adaptações.
� Solos (Processo de formação, tipos, características e composição, uso agrícola, problemas ambientais - poluição, erosão e assoreamento de mananciais)
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� Geologia (estrutura do planeta terra, tectônica de placas, formação dos diferentes tipos de rochas, papel das rochas na formação de diferentes tipos de solo, relevo)
Ecologia, Arte e Educação
No ano de 2004 os adolescentes do Projeto Colorir contaram com a participação de
três alunos da graduação em Ciências Biológicas do Instituto de Biociências de Botucatu, dos
quais duas jovens foram bolsistas da Fundunesp e um rapaz voluntário.
O objetivo dessas oficinas desenvolvidas separadamente por eles foi o de oferecer
oportunidades para aprofundamento teórico, desenvolvendo habilidades para levantamento
bibliográfico, leitura, preparação de textos e cartazes, comunicação verbal e não verbal,
desenvoltura para apresentações orais, discussões de temas variados de forma crítica. De acordo
com o almejado foram introduzidas as seguintes atividades:
� Produção de textos (cartas, narrativas, descrições) e apresentação em forma de seminário de temas variados de diversas áreas (biologia, ecologia, artes, história), que envolveram pesquisa bibliográfica, leituras e discussões orientadas pela bolsista Rafaela L. Falaschi. Inúmeras oportunidades foram oferecidas para que os alunos interagissem entre si, sugerissem temas de interesse para pesquisa e apresentação, avaliassem os trabalhos e apresentassem sugestões que pudessem enriquecê-los, lessem e analisassem letras de músicas em seus respectivos contextos históricos e reportagens científicas de revistas.
� Ecologia, aspectos teóricos e práticas recreativas voltadas à educação infanto-juvenil, sob orientação da graduanda Beatriz Troncone. Nesta fase do processo de formação dos alunos do Projeto Colorir estimulou-se a percepção do ambiente por meio de todos os sentidos e foram desenvolvidos conceitos fundamentais de ecologia (Cadeias alimentares, fluxo de energia, equilíbrio dinâmico, hipótese de Gaia), que permitem uma compreensão mais profunda da rede de inter-relações da Natureza, fazendo uso de atividades lúdicas baseadas em propostas de Cornell (1996, 1997) e Miranda (2002), as quais se prestam muito bem a trabalhos de monitoria.
� Teatro, com oficinas específicas para descontração, percepção pessoal, expressão gestual e construção coletiva contou com a orientação de Carlos Alexandre Henrique Fernandes, e colaboração da bolsista Rafaela L. Falaschi.
Os adolescentes tiveram uma introdução que tratou do significado do teatro como
expressão artística e de aspectos da sua história no Brasil e no mundo. Depois propôs e conduziu
muitos exercícios para que os alunos tivessem noções de ocupação de espaço pelo corpo e
posicionamento em uma certa área, conseguissem transmitir aos colegas idéias como as de
solidão, nada, amor, tudo, apenas por meio de expressões corporais, trabalhassem a interpretação
buscando o convencimento do outro etc. Dependendo do grau de ansiedade ou constrangimento
dos alunos as oficinas começavam com brincadeiras como a do pega-pega, que acabava com
145
uma explosão emocional daquele que era pego, às vezes em câmera lenta, ou com sessão de
relaxamento e concentração.
Dois meses e meio após o início das atividades os alunos foram reunidos em grupos
de até 4 pessoas para preparar uma apresentação curta de uma história cômica, a qual deveria
ser criada, escrita e apresentada pelos respectivos grupos. A pedido da coordenadora do Projeto
Colorir foram apresentadas no anfiteatro do Instituto de Biociências e registradas em fita de vídeo.
No Teatro Municipal “Paratodos”, de Botucatu, os alunos puderam participar de um
festival assistindo a peça “O fantástico mistério de Feiurinha”, que serviu para discussões em
grupo. Esse festival ofereceu uma oficina de dramaturgia ao orientador do grupo (Carlos) que
convidou os alunos do Projeto Colorir. Singrid, Fabiana e Flávia demonstraram grande interesse,
mas apenas Flávia e Fabiana participaram.
Após três meses de trabalho o grupo decidiu iniciar os ensaios da peça “Aurora da
minha vida” de Naum Alves de Souza, que por se ambientar em uma escola e ter a linguagem
própria dos alunos facilitou, para os iniciantes, a interpretação. Esse trabalho, apresentado na
noite de 12 de dezembro, foi o desfecho das atividades do ano de 2004 e marcou o fim da
participação desses adolescentes no Projeto Colorir. Presentes na platéia os familiares e amigos.
Avaliação
No início de dezembro, antes da apresentação da peça de teatro, os alunos
do Projeto Colorir, reunidos com a coordenadora e com a bolsista Rafaela L. Falaschi, procederam
a uma avaliação das atividades realizadas (Figura 2T-U). Pedimos que os estudantes
considerassem as atividades desenvolvidas do ponto de vista da preparação deles como
monitores, apontando também as implicações para a formação da pessoa cidadã.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Motivação, Aprendizado e Liberdade
O primeiro dado deste estudo que merece destaque é aquele que se refere à
disposição inicial dos alunos para continuar no Projeto Colorir. Iniciar uma proposta nessa
condição facilitadora ao aprendizado, isto é, de alunos integrados em um grupo e interessados na
continuidade dessa convivência e ampliação do conhecimento, significa já ter avançado a etapa
fundamental de qualquer processo educativo. De acordo com Escobar (2003) quando um aluno
quer aprender ele o faz até mesmo em situações adversas nas quais podem faltar livros,
professores, ou haver explicações confusas etc.
146
Freeman Dyson importante pesquisador, professor de física e divulgador da ciência,
em um relato valoroso e memorial de opressão vivida na escola, que confrontou com uma
experiência diferente e igualmente valorosa de uma colega de profissão, Chiara Nappi, atesta o
poder da motivação para o aprendizado ao buscar compreender a importância de ensinar-se ou
não ciência (Dyson, 1992). No seu caso, durante a fase de 8 a 12 anos, sem ensino de ciência na
escola onde estudava, e sujeito à crueldade tanto das punições de um diretor professor de latim
como de colegas interessados em proezas atléticas para as quais Dyson e alguns amigos não
tinham aptidão ou interesse, resultou na construção um caminho alternativo de estudo por meio de
livros e ajudas mútuas para a compreensão dos assuntos. O resultado foi o aprendizado de muita
ciência e do seu significado para a realização pessoal. No caso de Chiara Nappi a estrutura
sistematizada do ensino italiano ofereceu igualdade de oportunidades para crianças e
adolescentes de diferentes classes sociais e gênero, expondo-as a experiências em diversas
áreas do conhecimento, como física, química e matemática, que eram introduzidas de forma
acessível às diferentes idades em todos os graus de escolaridade, por um corpo docente bem
preparado. Para Dyson esses opostos precisam ser considerados do ponto de vista do princípio da
complementaridade de Niels Bohr. Situações de aprendizado aparentemente incompatíveis de um
ponto de vista, como acontece com o momentum e a posição de um elétron, podem representar
tanto a libertação da opressão, como uma poderosa força trabalhando em favor de uma grande
população necessitada de justiça social e igualdade de oportunidades.
Não vamos nos aprofundar na discussão sobre motivação e as razões que levaram
os integrantes do Projeto Colorir a permanecer no grupo, tema a ser tratado em outro artigo.
Contudo, queremos destacar que alta qualidade de experiências desafiadoras, integradas em
abordagem ecológica, com crescente grau de liberdade, propiciaram oportunidades de
conhecimento significativo, satisfação pessoal e o desabrochar de interesses diversos entre os
integrantes do grupo.
A autonomia e a responsabilidade atingidas pelos estudantes possibilitou que
durante o projeto para a formação de monitores, a sala que nos foi destinada passasse a ser
freqüentada diariamente por eles mesmo sem o acompanhamento de um orientador. Lá
estudavam, entabulavam conversas enriquecedoras sobre obras literárias que estavam lendo,
questões ecológicas, temas tratados nas aulas regulares que freqüentavam pela manhã, notícias e
programas de teve, organizavam e consultavam revistas e livros, faziam uso de computador para
preparar apresentações em power point, faziam trabalhos escolares etc. A limpeza e organização
da sala também era de responsabilidade deles. Desenvolveram uma identidade de grupo,
serenidade e um sentimento de pertencimento.
147
Com um conhecimento interdisciplinar já bastante desenvolvido e tendo atingido
esse estágio de autonomia, responsabilidade e integração, os estudantes passaram a atuar para
além de questionamentos e discussões no desenrolar das atividades propostas. Partiu deles
muitas das sugestões de temas para enriquecimento da formação, iniciativas de estudo,
preparação e apresentação de seminários, bem como de ajuda a colegas com dificuldades
específicas que eram dominadas por outros.
Habilidades próprias de cada integrante do grupo foram reveladas em cada tipo de
atividade. A capacidade para lidar com relações numéricas durante o trabalho orientado no qual
definiu-se a escala a ser utilizada na confecção da maquete do Parque da Marta, boa coordenação
motora e busca da perfeição para os traçados de curvas, cortes e pintura durante a preparação
das camadas em papel vegetal e cortiça, as quais representaram o relevo da região, fizeram
emergir espontaneamente lideranças para a realização desta etapa dos trabalhos. Tais lideranças,
por sua vez, deram lugar a outras quando tratamos de preparação de textos, de registros
fotográficos da área do Parque, de apresentação oral de temas ambientais, de observações em
campo, de história natural de bichos, de interpretações teóricas interdisciplinares.
Os seminários apresentados permitiram a constatação da capacidade de fazer
levantamentos (biblioteca tradicional e virtual) e reorganizar temas anteriormente vistos em
palestras, adaptando representações visuais e encadeamento dos assuntos de forma mais
apropriada à compreensão por crianças de 2º ciclo e população leiga, que os integrantes do
Projeto Colorir definiram como público alvo. Conceitos como o de porosidade e permeabilidade,
por exemplo, foram esclarecidos por meio de bolinhas de papel agrupadas por diferentes
tamanhos e coladas em um cartaz para evidenciar o maior ou menor espaço entre elas por onde
água e ar penetram no solo. Não podemos deixar de destacar a surpresa de ver um dos
integrantes romper a barreira da inibição e fazer uma apresentação oral na qual o cuidado com a
representação visual e explicações sobre volumes e proporções relativas facilitaram imensamente
a compreensão da distribuição dos diferentes tipos e estados da água no planeta e,
conseqüentemente, a compreensão das questões sobre poluição e potabilidade da água para os
seres vivos.
Rede de Conhecimentos, Percepção Ambiental e Cidadania
A proposta de abordagem ecológica, quer dizer, enfatizando a compreensão
contextual por meio da rede de relações própria de sistemas complexos, esteve presente não
apenas no planejamento das atividades, natureza e momento de introdução, como nas orientações
para compreensão de questões ambientais.
148
Os trabalhos de campo desenvolvidos mostraram-se especialmente proveitosos
para o desenvolvimento de conceitos de ecologia e aprimoramento da capacidade de observação,
que são imprescindíveis à interpretação ambiental e ações conservacionistas.
Embora Leal Filho (1995) aponte para a escassez de contribuições metodológicas e
instrucionais no que se refere a trabalhos dessa natureza no Brasil, iniciativas já em meados da
década de 1980 como a de Paleari (1989, ver também Paleari et al., 2000 e Formazieri, 1990) com
alunos de 6ª série ofereceram contribuições substanciais. Um dos pontos de destaque refere-se à
necessidade de acenar com a possibilidade de ida ao campo mas envolvendo os alunos no
planejamento do estudo. Cada passo do procedimento, à luz dos objetivos traçados, precisa ser
acompanhado de discussões sobre os cuidados com as observações e com os registros dos
dados, natureza e quantidade de materiais necessários etc, para que os alunos realizem o trabalho
com segurança e compreensão das diversas etapas e dados a serem coletados. Só assim os
conceitos e as interações que fazem parte da dinâmica ambiental poderão ser desenvolvidos de
forma significativa, isto é, integrando a rede de conhecimentos dos alunos, permitindo o
entendimento e explicações coerentes da natureza de uma maneira geral e mais especificamente
das interações humanas. Paralelamente, têm oportunidades para trabalhar em equipe, preparar
petrechos, tomar decisões e trocar de informações para melhor interpretar resultados.
Com base nesse tipo de experiência os adolescentes do Projeto Colorir foram
orientados para as duas idas à área de proteção da Cachoeira da Marta e da Bacia Hidrográfica do
Rio Itaqueri em São Carlos. Nos dois locais registramos total envolvimento, observações e
questionamentos pertinentes, estabelecimento de relações entre conceitos trabalhados
anteriormente e fenômenos identificados nas diferentes situações.
A experiência de São Carlos foi especialmente enriquecedora pelas inúmeras
oportunidades de entendimento da dinâmica ambiental com estabelecimento de relações de
interdependência entre ecossistemas silvestres e urbanos, reconhecimento de diferentes biomas e
vários tipos de inter-relações entre seres vivos e destes com o ambiente, resgate e aprendizado de
conceitos, conhecimento e aplicação de instrumentos de meteorologia, entre outros. A seriedade
dos alunos durante todo o trabalho, em alguns momentos exaustivo, e a qualidade das respostas,
observações e interpretações de dados, para nós significou que houve um aprendizado efetivo e
uma excelente preparação teórica e prática para atuação como monitores ambientais. O mesmo
nos revelou o graduando de São Carlos que conduziu esse estudo do meio e que se surpreendeu
com a postura, conhecimento e serenidade dos alunos do Projeto Colorir.
Um resultado relevante, nesse mesmo dia, revelou a clareza que os estudantes do
Projeto Colorir já tinham sobre o papel de monitoria que deveriam exercer, ao tecerem uma
149
comparação entre a boa atuação desse monitor de São Carlos e a indesejável atuação de alguns
monitores que eles conheceram em oportunidade anterior em São Paulo, ao participarem de um
evento científico.
Com propriedade, apontaram para a preparação, clareza, seriedade, conhecimento,
educação no trato com as pessoas que este monitor de São Carlos revelou. Observaram o
cuidado com o planejamento (escolha dos locais, importância dos assuntos tratados, mapa para
orientação, equipamentos, inclusive de proteção pessoal), que incluiu até mesmo um roteiro para
esclarecimentos e preparação que nos foi enviado antecipadamente via correios, por funcionários
responsáveis do CDCC. Valorizaram essa atuação em detrimento da outra que classificaram como
mal organizada, com monitores sem o devido compromisso, domínio do conteúdo e postura
respeitosa para com o público visitante.
Mudança Conceitual e Visão de Mundo
Dada a interferência de conhecimentos prévios para avanços na reformulação e
conseqüente aquisição de novos conhecimentos e interpretações (Bransford, et al. 2000),
precisamos considerar com especial atenção certos fatos que não costumam ser levantados
quando se trabalha na conscientização das pessoas sobre as questões ambientais.
Durante o estudo do meio à bacia do Rio Itaqueri, chamou-nos a atenção as
reações de dois alunos, assim que chegamos a uma mata de galeria na área de Cerrado.
Precipitadamente, um aluno diz: Mas essas árvores são muito feias!. A coordenadora do projeto
imediatamente lhe perguntou se havia visto a beleza da copa de uma árvore, que nos encobria.
Parecia um tecido rendado devido às folhas pequenas e em profusão. Nesse instante um outro
garoto antecipou-se e, em apoio à idéia do colega, apontou para uma outra espécie de vegetal
dizendo que dão a impressão de desidratação e que aqui no Cerrado criam bem mais pragas.
Sentindo-se encorajado, o primeiro aluno passou a mão em uma folha e pediu para
que fizéssemos o mesmo para verificar que estavam repletas de pó. Esse fato para ele era
sinônimo de feiúra. Não se deu conta de que o pó era resultado de deposição pelo vento, que deve
ter encontrado muita área desnudada por seres humanos.
Embora os comentários feitos não fossem acompanhados de qualquer atitude hostil,
revelaram pré-concepções que podem ter sérias implicações na preservação de diferentes
espécies e ecossistemas, como considerou Paleari (2005). Por essa razão retomamos com os
adolescentes o papel das espécies na dinâmica da Natureza e o sentido das adaptações, para
depois questioná-los sobre o significado dos conceitos humanos de bonito e feio, benéfico e
maléfico. É necessário considerar que naquele ambiente hostil devido ao solo arenoso, seco, com
150
excesso de alumínio e pobre em matéria orgânica, sobreviver foi resultado de adaptações
especiais ao longo da história evolutiva dos seres que hoje ali habitam. Portanto, de um outro
ponto de vista, a coordenadora do Projeto Colorir considerou com os estudantes as belezas de
adaptações mais evidentes para eles, como a capacidade daquelas plantas de buscarem água
nas profundezas devido a um sistema peculiar de crescimento subterrâneo não só de raízes mas
também de caules, a presença de pelos, folhas coriáceas e plantas caducifólias como proteção à
evaporação. A beleza nas formas e coloridos das flores que irrompem do solo quando o clima é
favorável. Essa criatividade da vida precisa ser destacada para que se possa admirar os seres
vivos não por características superficiais e dependentes de momentos específicos dos seres
humanos, mas por essa capacidade de existir. Não podemos perpetuar situações como as de ver
a própria imagem em fotografias de alguns anos atrás e nos considerarmos ridículos com relação
ao estilo do corte de cabelo e das roupas que usávamos, simplesmente porque saíram de moda.
Houve um contexto e emoções que não podem ser negligenciados. Os experimentos das sombras
coloridas não deixam dúvidas de que não podemos explicar a cor dos objetos a partir das
características físicas da luz que deles emana. Nós, por meio de padrões específicos de atividades
do nosso sistema nervoso, geramos o mundo que vemos, o mundo que percebemos (Marturana e
Varela, 1995). Nossas experiências nos fazem construir um mundo de valores e preferências que
têm grandes implicações na determinação do que reconhecemos como amável, como aceitável,
por isso a necessidade premente de trabalhos com crianças e adolescentes, que resgate esse
aspecto criativo dos seres vivos para adaptarem-se ao meio, não deixando de considerar, o que
advogam os defensores da Ecologia Profunda (Sessions, 1985, Naess, 1997), o valor intrínseco
que cada espécie possui no ambiente.
Retomando com os adolescentes a idéia da dinâmica da vida, enfatizando a busca
de alimento como um ato para estar vivo. Apenas nós, seres humanos, é que lançamos mão de
elementos do ambiente sem a real necessidade deles para seguirmos vivos. Portanto, conceitos
como os de praga são mutáveis do ponto de vista dos interesses humanos, e também
responsáveis pelas grandes destruições de espécies e ambientes que não possam ser convertidos
em ganhos monetários.
Esse foi um momento precioso porque nos permitiu caminhar ao encontro de uma
percepção mais profunda da Natureza, da sua intrincada rede de relações que existem apesar do
Homem, o qual depende da integridade do ambiente para continuar existindo como espécie.
Adolescentes na Revisão e Avaliação da Experiência
Pudemos reunir para essa atividade de avaliação apenas metade dos integrantes do
grupo. Contudo, a gravação em vídeo que fizemos desse momento é um documento de valor
151
inestimável. Evidencia a identidade de grupo alcançada, com a preservação das individualidades,
que se revelaram nas posturas e considerações diferenciadas diante dos questionamentos, fatos e
conhecimentos, e que foram possíveis devido ao respeito e liberdade que permearam a nossa
convivência, o nosso trabalho. Respeito e liberdade que não prescindiram de limites e cobranças,
especialmente quando iniciamos o Projeto Colorir, e que foram fundamentais para que os alunos
se conduzissem com responsabilidade e convivessem em harmonia.
Mais centrado no conhecimento acadêmico específico, o aluno mais introvertido e
tímido do grupo (A) foi o primeiro a se manifestar. Considerou as atividades de biologia e ecologia
desenvolvidas pelas duas bolsistas como aquelas que mais ajudariam no exercício da monitoria.
Relutante em assumir que português e as oficinas de artes manuais seriam de grande valor, parou
para ouvir uma pergunta da Rafaela (R).
(R) : E o teatro? Será que teria algo a ver com a Cachoeira da Marta?
(A): Eu... acho que não. Seria. Seria talvez pra gente ter mais desenvoltura.
Rindo uma das meninas (B) diz:
(B): Mas que menino confuso!
Outra aluna pede para falar (C).
(C): Eu acho que, como o “A” falou, a parte da Biologia e Ecologia ajudou bastante,
e também acho que os seminários e o teatro ajudaram bastante, porque você tem que falar com as
pessoas, então você tem que ter é ... não pode ficar muito inibida e o teatro e também os
seminários desenvolvem isso: falar em público, falar na frente de um monte de gente. Acho que é
isso.
(B): Eu acho que os seminários ajudaram bastante porque, tipo, a gente, pelo
menos eu, tive que pensar em várias formas de falar pro pessoal entender. E eu acho que lá [no
parque], como a gente vai trabalhar com crianças, que..., assim..., precisa de uma didática muito
grande pra falar de uma forma fácil. Às vezes explicar uma coisa complicada mas de uma forma
fácil.
A coordenadora (Co) perguntou, então:
(Co): O seminário foi a oportunidade que você teve para organizar tudo dessa
forma, e para chegar até o seminário?
(B): Pra chegar até o seminário eu tive que estudar bastante e pegar as coisas que
eu já havia aprendido, né, a palestra que a gente teve, porque todas as palestras que a gente teve
152
antes de fazer esse seminário foram muito importantes. Contribuíram bastante pra gente fazer o
que a gente fez, ter o resultado que nós tivemos. Que eu acho que foi muito bom, inclusive.
Esse seminário contou com a participação da nossa mascote do grupo que ainda
estava na 4ª série. O interessante nessa situação foi a orientação oferecida pela aluna “b” à colega
bem mais jovem, delegando a ela a apresentação de uma parte prática que permitiu o
desenvolvimento do conceito de erosão e visualizar a importância da vegetação na proteção do
solo contra erosão. A pequena tanto aprendeu que deu as explicações com muita procedência e
em uma linguagem própria dela.
Um outro estudante (D) insistiu na importância do teatro, das palestras e dos
seminários, lembrando que: Os seminários fizeram com que nós todos ficássemos aptos para
abordar os assuntos que a gente vai abordar lá [no parque]. E o teatro deixou isso muito mais fácil
para a gente se expressar, falar em público, estar pronto, de não ter vergonha. Também as
atividades que não tiveram continuidade, que tiveram uma vez só, a pátina [pintura em madeira], o
mosaico, serão importantes.
Ao terminar de responder sobre o tipo de importância, que para ele resumiu-se a
representações de aspectos do lugar, foi complementado pela aluna “B” que pensou que eles
poderiam ensinar a técnica e eles [crianças visitantes] com os conhecimentos [...] possam recriar
algo depois..
Um aluno que chegou ao Projeto Colorir com muita dificuldade de aprendizado e
relacionamento interveio e disse que se tem essas garrafas [PET] lá [no parque] a gente pode
pegar e montar materiais como nas aulas com garrafas PET. Só.
Em seguida a aluna “B” destacou a importância do contato direto com computador
que tiveram depois que passaram a freqüentar diariamente a sala do Projeto Colorir. Lembrou que
aprendera a usar o programa Power Point e que na maior parte das apresentações fizeram uso
desse tipo de recurso. Diante disso a Rafaela quis saber o que aconteceria se tivessem problema
no início ou durante uma apresentação e não mais pudessem usar esse recurso.
A aluna respondeu que precisariam estar preparados para tudo e se souber,
dominar o assunto, pode fazer [a apresentação] sem nada.
A colega “C” exemplificou com o que acontecera no seminário do dia anterior (Aves
e Répteis do Cerrado), todo baseado em imagens e que ficou prejudicado porque as imagens não
abriram, mas, mesmo assim, conseguiram transmitir o que pretendiam.
A coordenadora perguntou-lhe ao que ela atribuía aquele fato do grupo ter
conseguido continuar sem o recurso, ao que ela respondeu que foi pelo fato de saberem o
153
conteúdo dos slides e saber o que tinham que falar. Foi então que a Rafaela introduziu um
problema que seria prender a atenção de crianças de 3ª série, por exemplo, sem o recurso que
tinha como atrativo inúmeras imagens de bichos. A aluna disse que seria possível inventar uma
brincadeira que desse sentido ao que pretendesse trabalhar e exemplificou com uma atividade que
a bolsista Beatriz desenvolveu com eles no Jardim Botânico usando uma história e barbante para
estabelecer uma teia alimentar.
Em seguida um professor da rede pública foi citado como exemplo de uma maneira
prática e envolvente de ensinar português (C), o que provocou a manifestação de outros dois
colegas (A e D) da mesma classe, que não concordavam com isso, porque alegavam que ele era
muito repetitivo e isso causava um certo tédio, sono. Para um deles (A) os assuntos não eram
interessantes. Questionado sobre o que considerava interessante, disse eram coisas novas, ainda
desconhecidas para ele, e coisas que pudesse relacionar com outras. O aluno “D” acrescentou
que o professor, na opinião dele, precisa envolver o aluno e não falar, falar, falar. Referindo-se
depois às nossas atividades disse que isso não acontecia e que pelo projeto não ser uma escola,
tem uma outra forma de ensino e eu acho que não há palestras, eu acho que todo mundo aprende
porque - como eu poderia explicar? - há uma interação com o grupo, nada é aquele monólogo do
professor. Complementando, a aluna (B) disse achar que aqui [no projeto] a gente tem muito
material, assim, para mexer. Porque eu só consigo entender se eu vejo alguma coisa, se eu
consigo ver e se eu consigo pegar, se eu vejo como é pelo menos de uma forma representativa.
Em seguida lembraram-se de situações nas quais o conteúdo perdido na escola
regular (Ácido Desóxiribonucleico - DNA- e síntese protéica) foi ensinado por colega durante o
convívio na sala do Projeto Colorir e bastou para que se saíssem bem nas provas realizadas.
Destacaram que às vezes a gente não se dá conta que é muito mais troca de informações, não um
monólogo. Houve práticas.
Diante da idéia de modelos, de representações como a do DNA, iniciou-se uma
discussão sobre a relação entre Ciência e Arte que se estendeu devido à relutância do aluno “A”
em aceitar que, por exemplo, para conceber um modelo é preciso ter a capacidade criativa do
artista. Os colegas lembraram-no de um minicurso que fizeram na Semana da Biologia, do IB,
onde tratou-se especificamente desse tema com a apresentação de diadorama e construção de
modelos de fractais. O que pudemos verificar por meio de tudo o que ele colocou em sua
argumentação foi que o problema estava em estabelecer a relação Ciência e Arte por meio de um
diadorama, que na opinião dele não requer criatividade como aquela que foi necessária na
elaboração do modelo atômico e do DNA, que acabou não conseguindo rechaçar. Mesmo assim
não cedeu, mas finalizou dizendo que ainda ia pensar.
154
Depois dessa discussão lembraram-se da visita ao Centro de Divulgação Científica
e Cultural (CDCC) de São Carlos, à ONG Nascentes, o viveiro de mudas de plantas arbóreas, esta
uma atividade de 2002, mas lembrada pelas relações que têm com o conhecimento específico de
biologia e ecologia para a monitoria. Foram atividades que marcaram por diversas razões deste o
fato de tratarem de temas inéditos e com muitas atividades práticas interessantes e fora do nosso
ambiente diário, até pelo fato de terem convicção de que aprenderam muita coisa interessante que
permite hoje que possam consultar livros e entender os conteúdos, sendo capazes de estabelecer
as ligações e, assim ampliar a rede de conhecimentos.
Rafaela indagou-os sobre a maneira como viam e como vêem televisão e a resposta
foi imediata.
(C): Tem coisas que a gente aprende aqui [no projeto] que torna muito mais fácil
diferenciar se o que se vê na tevê é verdade ou não.
Dizendo que papel aceita tudo continuou:
(C): Eu antes aceitava tudo também. Tudo que eu ficava sabendo eu aceitava.
Depois eu me tornei muito mais crítico, muito criterioso no que eu ia ler, no que eu ia ver, no que
eu ia ouvir. Então é isso que mudou. Mudou a forma de ver e aceitar o mundo.
Como se pode verificar pelos depoimentos dos alunos a compreensão que
passaram a ter da Natureza, integrando abordagens e conhecimentos de diferentes áreas para
elaborar explicações, confunde-se com a própria proposta do Projeto Colorir, o que torna
impossível restringir a avaliação apenas às atividades desenvolvidas no ano de 2004. Para nós,
esse fato demonstra a adequação metodológica e a sintonia entre teoria e práticas desenvolvidas,
que se estenderam à proposta para a “Formação de Monitores Infanto-juvenis para o Parque da
Cachoeira da Marta”, que resultou em cidadãos capazes de atuações efetivas em educação
ecológica.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fato do Parque da Marta ainda não possuir ainda um Plano de Manejo e as
atividades realizadas pelo órgão gestor, a Prefeitura, ainda serem incipientes, não permitiu que as
atividades de interpretação da natureza fossem efetuadas pelos monitores ambientais.
Com a formação do Conselho Gestor, prevista para junho de 2005, e a conclusão
do Plano de Manejo, prevista para setembro desse mesmo ano, o programa de uso público deverá
ter início até o final deste ano, quando as atividades de monitoria serão necessárias.
155
Mesmo com a falta de oportunidade para a atuação dos monitores infanto-juvenis no
Parque da Cachoeira da Marta, o processo de formação desses estudantes permitiu capacitá-los
para atuar em qualquer ambiente como agentes transformadores da realidade. No plano traçado
para essa formação foram contemplados dois aspectos fundamentais e indissociáveis do ser
humano: aquele do autoconhecimento, como condição para a realização pessoal, convivência em
grupo e harmonia com o ambiente e aquele do conhecimento acadêmico que capacita os
indivíduos a elaborar explicações para os fenômenos observáveis da Natureza, o que, em última
análise é também um caminho para a compreensão de nós mesmos como parte do cosmos, de
acordo com o que acreditava Schödinger (1976).
Não há possibilidade de um trabalho sério de formação de jovens para agir
responsavelmente ao longo da vida, melhorando o quadro dramático que nossa sociedade
desenhou, se estes não forem respeitados e se não tiverem oportunidades para identificar em
seus professores e demais adultos com os quais convivem, autoridades capazes de orientá-los em
valores de vida, servindo-lhes de modelo de conduta coerente com os valores apregoados.
AGRADECIMENTOS: Agradecemos pelas valiosas contribuições recebidas à FUNDUNESP, que nos garantiu duas bolsas e auxílio financeiro para a compra de materiais; à bolsista Beatriz Troncone; às professoras Dra. Claudia Helena Pelizzon, Dra. Silvia Nishida, Dra. Virginia Uieda, Dra. Célia Zimback, ao Professor Waldy Antônio Dansiato, à professora Cristina Möch; à ONG Nascentes; ao biólogo Gustavo Braga da Rosa; aos graduandos voluntários Carlos Alexandre Henrique Fernandes, Maristela Leiva, Alline Mayumi Tokumoto e Melissa Rezende Batistela, e ao Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC), da USP de São Carlos.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Legenda das Figuras
Figura 1: Eixo de atividades para desenvolvimento de conhecimentos específicos – Visita para
conhecimento do Parque Municipal da Cahoeira da Marta (A-E); confecção da maquete do Parque
Municipal da Cahoeira da Marta (F-H); visita para coleta de dados sobre espécies arbóreas do
Parque Municipal da Cachoeira da Marta (I-J); representação em desenho das características
biológicas e ecológicas, representativas das espécies arbóreas do Parque Municipal da Cachoeira
da Marta, para envio a estudantes da Suiça – Projeto Árvore (N-S).
158
Figura 2: Eixo de atividades para desenvolvimento de conhecimentos complementares – Oficinas
para a confecção de moldes de pegadas de vertebrados (A-D), pintura em madeira e mosaico (E-
I), origami (J-O), artesanato com garrafas PET (P-S) e avaliação final do Projeto para “Formação
de monitores Infanto-Juvenis para Atuação em Educação Ecológica no Parque Natural Municipal
da Cachoeira da Marta, Botucatu, SP”.
159
Tabela 1: Relação de características morfológicas de vertebrados e respectivos métodos de levantamento utilizados no campo.
Vertebrado Características Método de levantamento
Botões de fixação nos dedos
Pele lisa Pernas anteriores mais desenvolvidas (pulam
mais que sapos) Sem glândulas de
veneno súpero-laterais
perereca
Anfíbios anuro
sapo
Sem botões de fixação nos dedos
Pele rugosa Pernas anteriores menos
desenvolvidas (pulam menos que as
pererecas) Com glândulas de
veneno súpero-laterais
Observações diretas Visual e sons
(vocalização apenas de machos em época de reprodução e à noite)
Réptil (lagartos e serpentes)
Corpo com escamas
Pit-fall
Aves
Pena Bico
Bípede
Registros de vocalização Visualização (binóculo)
Captura com redes
Mamíferos
Pêlos
Glândulas mamárias
Capturas com redes
(morcegos) Registros de pegadas Quadrados com areia
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