Filosofia, Filosofias
Luiz Salvador de Miranda-Sá Jr.
Conhecimento é a forma pela qual alguém sabe sobre o mundo e sobre si mesmo.
A Filosofia ou conhecimento filosófico é uma modalidade de superior do conhecimento.
Ou melhor, o conhecimento consiste na apropriação pelo sujeito cognoscente de proprie-dades do objeto que estiver sendo conhecido por ele.
Existem três modos de conhecer:
- o senso comum, - o conhecimento científico e- o conhecimento filosófico.
O conhecimento comum (senso vulgar, senso comum): é mais ou menos espontâneo, impreciso assistemático e casual; superficial e associativo, auto-contraditório e acrítico, fragmentário e ametódico. É dirigido pelas características formais e pela aparência e impressão superficial das coisas e se refere a objetos específicos.
Mescla opinião e crença, dados cognitivos e afetivos; mas se caracteriza por não ter compromisso com o rigor, a exatidão, a comprobabilidade ou a veracidade. É predominantemente subjetivo e mesmo quando se refere a fatos objetivos, sofre decisiva influência da subjetividade, é acrítico, não inclui a dúvida, nem qualquer outro critério de verdade; é heterogêneo e contraditório consigo mesmo.
O Conhecimento Vulgar não persegue a coerência de suas informações entre si ou com o restante do conhecimento, nem se dirige pela confrontação com a realidade, além de que valoriza mais os elementos qualitativos que os quantita-tivos de seu objeto de estudo.
O conhecimento científico é estruturado e adquirido
sistematicamente acerca de um objeto definido; supera a desrição
para ir além das características da aparência, buscando os
elementos essenciais dos objetos materiais ou conceituais
estudados. Nas ciências, o estabelecimento da causalidade
deve fugir a toda explicação aparente e superficial.
Cada ciência particular é uma teoria ou um sistema de teorias
a cerca do objeto que a caracteriza. Estrutura-se da forma para o conteúdo, da
aparência para a essência, da simplicidade para a comple-
xidade e dos casos particulares para generalidades cada vez mais amplas, num processo permanente de retroalimen-
tação cognitiva.
Características identificáveis nas ciências fáticas e em todas as suas manifestações teóricas e práticas
A noção de fato se refere ao que é dado pela experiência (conhecimento
espontâneo, originado em ter sido vivido pelo indivíduo cognoscente) ou pelos
sentidos (íntegradas através da senso-percepção).
a) O início do conhecimento fático se limita aos fatos (qualquer atividade científica se inicia no estabelecimento dos fatos e está
limitada ao estudo destes fatos como acontecimentos ou objetos reais, ainda que possam ser objetivos ou subjetivos (mas,
neste último caso, devem ser objetiváveis), e dos fenômenos que se dão nos fatos ou nas relações entre eles), e sua elaboração e suas conclusões não devem ultrapassar
os fatos;
b) a atividade científica transcende os fatos só em suas conclusões (por sua
natureza, o resultado da atividade científica se dirige sempre para além dos fatos e objetos estudados, assim, cria novos fatos e se orienta para além dos eventos que lhes acontecem, as ciências sempre buscam explicação,
origem e conseqüências dos objetos e fenômenos que estuda;
c) toda ciência consiste em um corpo de conhecimento fundamental e inicialmente
analítico de seu objeto (conhecimento iniciado na evidenciação e nominação, segue pela descrição e a explicação, trajetória lógica que vai do simples ao
complexo, do particular ao geral, da forma ao conteúdo, da aparência à essência; em busca de meios de quantificar e registrar
fielmente os fenômenos porque a exatidão da descrição influi mais ou menos
positivamente na qualidade da explicação);
d) todo conhecimento científico é especializado, porque se refere a um
objeto especial a um segmento da natureza, da sociedade ou do
pensamento humano (apenas no sentido de que o conhecimento
científico e a investigação da ciência se referem a um objeto específico e sempre especificado, nunca a um
método especial ou, muito menos, a um especialista);
e) todo conhecimento científico deve ser comunicável de forma
clara e precisa, da maneira a mais exata possível, tanto no que diz respeito aos seus enunciados,
seus problemas, quanto à solução destes problemas e às
conclusões permitidas por sua atividade;
f) para isto, a ciência necessita criar sua própria linguagem inventando símbolos para
expressar seus conceitos mais importantes e, muitas vezes, criar uma sintaxe que lhe seja própria (mas estes símbolos devem ser simples e ter significado exato,
preciso e universalmente entendido);
g) toda ciência ou conhecimento científico deve ser verificável
empiricamente e criticável na prática e em teoria (suas conclusões devem
poder ser submetidas a verificação ou comprovação mediante experimentais ou lógicas que sejam suficientes para comprovar seu teor de verdade que, geralmente, se refere à sua sintonia
com a realidade);
h) o conhecimento científico é metódico, sistemático e geral (seus procedimentos
de investigação devem atender às exigências da metodologia científica,
ser organizados como um sistema teóri-co consistente e devem estar voltados
para descobrir o que há de geral e essencial nos diversos níveis de com-
plexidade dos fenômenos que estuda e suas conexões com os demais);
i) a ciência é legal (se concretiza na descoberta das leis que regem seu objeto e permitam generalizar,
seja este um grande campo da natureza, do homem ou da
sociedade ou se resuma a um único objeto natural, humano ou
sócio-cultural);
j) o conhecimento científico é explicativo e preditivo (não se contenta com descrever, mas visa explicar e prever, ainda
que sua explicabilidade e previsbilidade sejam relativas);
l) a ciência é aberta, um saber público (sem barreiras "a priori") e deve poder
ser adquirido e aceito (não dependendo de iniciação ou
capacitação sistemática, ao contrário das profissões, podendo ser
estudado, conhecido, verificado e praticado por todos, como um
conhecimento público e um sistema de saber aberto que a ciência é);
m) toda ciência é útil, porque busca a verdade e a emprega
não apenas para prever e explicar o mundo, mas para
modificá-lo, de modo a atender às necessidades humanas.
O conhecimento filosófico deve ser considerado uma forma
radical e rigo-rosamente diferente do conhecimento vulgar e do científico. Um
saber valora-tivo de construtos não sujeitos à observação ou à experimentação e abrange a totalidade universal desses,
até, as causas e conseqüências últimas. Ocupa-
se da essência e do valor de tudo que existe no mundo..
Sumo dos Critérios de Cientificidade
Objetividade e Especificidade,
Verificabilidade e Sistematicidade,
Fidedignidade e Validade.
•Os conhecimentos científico e filosófi-co são modalidades
particulares do conhecimento geral, existem como
aperfeiçoamentos dele.
•Seu entendimento exige o entendi-mento prévio do
conhecimento geral.
O conhecimento filosófico, ou ciência das generalidades,
caracteriza-se pela extensão ilimitada de seu objeto.
Generaliza e valoriza sobre tudo o que existe. É o saber
mais extenso e válido possível e sempre destinado a ser empregado em benefício
da humanidade.
Os cinco problemas fundamentais do
conhecimento humano, que influem em todas as suas
formas, são:
1. a cognoscibilidade, 2. a gênese cognitiva, 3. a essência do conhecimento, 4. o valor da intuição e 5. a veracidade e verossimilitude ou verossemelhança do conhecimento.
Não existe uma só resposta que com apro-vação unânime acerca
dos problemas sobre o conhecimento humano.
Deixando de lado as concepções supers-ticiosas que situam-na em
alguma divindade, é possível identificar diversas posições
naturais e contraditórias acerca do tema.
A posição eclética
A questão central parece ser: existem duas modalidades de conhecimento; uma teórica,
especulativa, racional e mediata; e outra, imediata e sensível
(decorrente das sensa-ções e percepções). Como em outras
situações análogas ou semelhantes, na resolução deste problema, a verdade parece estar
no meio e não nos extremos teóricos.
Ecletismo e Sincretismo
Ecletismo é uma síntese que se faz de conceitos, proposições ou
teorias sem prejuízo da arquitetura lógica do resultado.
Sincretismo é a mistura de idéias sem qualquer compromisso com a
lógica ou a harmonia fática do procedimento.
A cognoscibilidade
Há três respostas possíveis para o proble-ma da
cognoscibilidade: 1. os que afirmam que o mundo
pode ser conhecido (dogmáticos, materialistas e
idealistas objetivos); 2. os que afirmam que o
conhecimento é impossível (os agnósticos e os idealistas
subjetivos); e
3. os que julgam que o mundo pode ser conhecido, mas nunca
confiável e eficiente-mente (cépticos, subjetivistas,
objetivistas, os relativistas, os pragmatistas ou utilitaristas).
O dogmatismo é modalidade radical de cognoscibilismo, os
dogmáticos sustentam que todo conhecimento é evidente por si
mesmo, tal como se apresenta aos sentidos ou como atividade
racional ou intuitiva.
Também há o dogmatismo dos que crêem no conhecimento revelado, no pensamento mágico. O que não é conhecimento como foi definido
aqui.
Os idealistas subjetivos negam a possibilidade de conhecer,
pretendem que as limitações sensoriais e racionais e as peculiaridades individuais
incomunicáveis, impedem o conhecimento objetivo.
O solipsismo pode abranger todos objetos e fenômenos do mundo, ou referir-se a um grupo deles (sociais e psicológicos), há quem acredite
na realidade dos fenômenos naturais, mas negue realidade aos
conceitos e aos fenômenos e processos sociais porque estes
careceriam de objetividade;
•Subjetivismo afirma de que só a introspecção pode conduzir ao
conhecimento. A posição subjetivista limita o conhecimento ao que o sujeito sabe acerca de si
mesmo, sobretudo, de sua subjetividade. Para eles o
conhecimento se limita ao auto-conhecimento; o que conhe-ce
sobre o outro seria modelado sobre o conhecimento que tenha sobre si
mesmo.
O ceticismo (relativo ou absoluto) afirma a impossibilidade de
conhecer (o sujeito não pode apreender o objeto).
O ceticismo absoluto (solipsismo) e os ceticis-mos relativos: o lógico
nega o conhecimento metafísico; o ceticismo metódico - chegar ao
conhecimento verdadeiro afastando-se do falso; e o ceticismo sistemático recusa a possibilidade de alguém atingir algum conhe-
cimento verdadeiro e exato sobre algo;
O objetivismo sustenta a posição oposta, no que respeita ao
conhecimento da natureza; para eles, o objeto impõe ao sujeito
aquilo que ele pode conhecer; para os objetivistas o conhecimento verdadeiro deve se abster de conceitos valorativos (cede ao
subjetivismo o terreno da investigação filosófica, social e
humana, negando-lhes terreno na aquisição do conhecimento sobre a
natureza).
O relativismo. Os relativistas negam a possibilidade do conhecimento absoluto,
sustentam-no dependente da influência dos fatores do meio e de outras circunstâncias(como a
ideologia e outras condições culturais).
O pragmatismo (ou utilitarismo) supõe que o
conhecimento só deva ser tido como verdadeiro se for útil aos propósitos para os
quais estiver sendo elaborado. É a utilidade (ou
pragmaticidade) que sustenta a validade de
qualquer conhecimento.
A Metodologia filosófica está dividida em 3 grandes tendências doutrinárias:
√ os positivismos, √ os antipositivismos e √ os ecletismos.
Os positivismos caracterizam-se por: 1)objetivismo; 2)negam influência à subjetividade; 3)o conhecimento é só a descrição genera-lizadora de fatos aos quais se subordina; 4)emprega só a investigação quantitativa e (a observação e o experimento); 5)expressam posição cientificista (centrada no método científico quantificado), são agnósticos ou idealistas subjetivos; e6)recusam a explicacão.
•Os antipositivismos se caracterizam por: •1) recusam o positivismo;•2) julgam o conhecimento baseado na inter-pretação dos fatos pelo sujeito (individual ou/e social); •3) negam o conhecimento como reflexo ou cópia da realidade objetiva, mas construção; •4) pretendem que só a elaboraçao teórica ou interpretação dos fatos lhes dá sentido; •4) preferem a investigação qualitativa, mas alguns combinam-na com a quantitativa;
• 5) os antipositivistas, em geral, expressam as posições do humanismo idealista ou verbalista, centrados na problemática subjetiva ou social do ser humano.
•6) na sociologia são principalmente os construtivistas e na psicologia, os psicoanalistas.
O humanismo científico, sintetizador ou materialista tem as seguintes características: 1) o C está baseado na unidade da teoria e da prática, da reflexão racional com a observação dos fatos, da elaboração racional do investigador com a verificação empírica; 2) o conhecimento é objetivo, reflejo, imagem ou síntese da realidade objetiva que existe fora da consciência; 3) valoriza tanto a elaboração teórica quanto a verificação empírica;
4) os materialismos e o humanismo científico se caracterizam pela harmonia e integração do humanismo (seja realista, materialista emergentista em Bunge ou dialético em Marx).
O materialismo ontológico sustenta que tudo o que
existe na realidade é material.
O materialismo gnosiológico sustenta que
todo conhecimento se refere à matéria ou a
algum produto ou qualidade da matéria ou
atribuído a ela.
O “materialismo” ético sustenta que todo
comportamento dessa qualidade objetiva valores
materiais.
O materialismo dialético. Desde Marx, a posição dialética sobre a
cognoscibilidade distingue: as totalidades de seus segmentos particulares, as coisas de suas
relações, o fenômeno (aparência) da essência, a forma do conteúdo e relacionar a
modalidade de conhecimento com o critério de verdade
empregado em sua aferição. O materialismo emergente (Bunge).
Enquanto os positivistas (empiristas, prag-matistas)
dirigem sua atenção para os objetos materiais, o
pensamento dialético se dirige para as relações entre eles.
E mais, os positivistas só admitem que o conhecimento
provenha dos sentidos.
Denomina-se fenômeno à maneira pela qual uma coisa se
apresenta aos sentidos (sua aparência, as informações
sensoriais que comunica ao observador), enquanto a essência se refere às sua
propriedades e relações mais importantes daquela coisa
(objeto ou processo).
A fenomenologia (emprego deste conceito na
elaboração do conhecimento) deve ser
diferenciada do fenomenologismo (exagero,
superestimação ou exclusividade dos
procedimentos fenomenológicos para
conhecer).
Para os materialistas existem três critérios de
verdade: •critério ideal (coerência
das proposições), •o critério fático
(compatibilidade com a realidade) e o
•o critério convencionado.
Problema da Origem do Conhecimento
Existem muitas propostas para explicar como os instrumentos
humanos atuam para que alguém possa conhecer alguma coisa e,
portanto, de qual seja a origem do conhecimento humano. Estas possibilidades explicativas são muito numerosas e situá-las
extensivamente neste texto foge aos objetivos de sua realização.
Há quatro sistemas para explicar o conhecimento:
= o sensualismo, empirismo, = o racionalismo,= o intuicionismo); = o intelectualismo, = o realismo crítico e = os ecletismos.
O sensualismo é a doutrina filosófica que sustenta que todo
conhecimento humano se origina nas suas sensações e se limitam a esta fonte (o caráter
material das sensações fez com que o sensualismo fosse
impropriamente confundido com o materialismo filosófico
ainda que mecanicista).
O empirismo é a variante do sensualismo que consiste na doutrina filosófica que situa a
experiência do homem no mundo como fonte de todo seu
conhecimento.
O racionalismo situa na razão (e não na experiência ou nas sensações) a fonte de todo
conhecimento.
Intuição é a crença na apreensão imediata e direta
da realidade, sem intermediação dos sentidos,
nem da razão. Intuicionismo é a opinião
que superestima ou exclusivisa a intuição como
fonte de conhecimento.
O intelectualismo, o racionalismo crítico e os
materialismos são ecléticos a partir das três anteriores que concebem o conhecimento
como originado na razão, na experiência e nas sensações (pois, as próprias percepções
são mais que soma de sensações, nas verdade, consistem em sínteses
inteligentes e afetivamente determinadas).
Outra coisa que chama a atenção nos clássicos, é a
omissão freqüente da afetividade, principalmente
como elemento da motivação para conhecer, na explicação
do processo cognitivo.
Definição de Filosofia Filosofia é o modo de conhecer que
se ocupa das regularidades universais. É o conhecimen-to
sistemático que objetiva a formulação, a análise e a solução
das principais questões de concepção do mundo, da sociedade
e do homem (inclusive sua subjetividade), configu-rado
harmoniosamente como uma visão teórica coesa e unitária sobre o universo e o lugar que o homem
ocupa nele.
O conhecimento filosófico abrange uma visão do mundo (cosmologia) que inclui uma
visão da sociedade e da sociedade e do homem (sócio-antropo-logia), inclusive do seu conhecimento (epistemologia)
e dos processos racionais (lógica).
•A questão da ética.
Disciplinas Filosóficas
Ontologia, teoria do objeto (metafísica),
Gnosiologia, teoria do conhecimento,
Lógica, teoria racional eMetodologia teoria do método.
E a ética?
A ontologia estuda a origem, a essência, a causa primeira do cosmos, da vida e do pensamento (tudo o que existe). O termo permite referir o processo filosófico de estudar o objeto do conhecimento; neste caso, como aqui, o estudo ontológico de uma ciência é o estudo de seu objeto (sua definição e sua objetividade). Não é possível pensar em ciência ou qualquer atividade científica sem ter bem clara a noção de seu objeto de estudo.
A gnosiologia, teoria do conhecimento ou epistemologia, é a disciplina filosófica que estuda o conhecimento em geral, inclusive o conhecimento científico, a verdade, o erro; a teoria do conhecimento é o estudo do como se conhece, dos processos utilizados para conhecer. É com a gnosiologia ou epistemologia que se definem as grandes diretrizes do pensamento científico.
A metodologia ou teoria dos procedimentos operatórios destinados a construir o conhecimento científico, suas exigências de veracidade - a metodologia – inclui a metodologia filosófica quanto a científica. pode ser incluída como da lógica na maioria das sistematizações. (Destacada aqui por sua importância relativa para o tema central deste trabalho - a fundamentação científica da Medicina e da psiquiatria).
A teoria da arquitetura lógica do pensamento, da elaboração racional das idéias, sobretudo do manejo dos juízos, referida simplesmente como lógica (inclusive a lógica matemática, a lógica formal, a lógica dialética) que preside a construção dos conceitos, das categorias, das proposições e das teorias científicas.
Importante. Não há aspecto da filosofia isento de divergências e contradições. Matéria muito ideologizada, a filosofia é, simultaneamente, instrumento de combate e campo de batalha das mais diversas ideologias que se confrontam no mundo. Por isto, sua classificação também costuma ser objeto de muito conflito.
Obrigado, até a
próxima vez.
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