FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO - PEDAGÓGICA
Título: Cruz e Sousa e a expressão da desigualdade
Autor Rosalina Maria Huffner Pardal
Escola de Atuação Colégio Estadual João XXIII – EFMN
Município da escola Clevelândia
Núcleo Regional de Educação Pato Branco
Orientador Professora Drª Keli Cristina Pacheco
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO
Disciplina/Área Língua portuguesa
Produção Didático-pedagógica Unidade Didática
Relação Interdisciplinar História e Filosofia
Público Alvo Alunos da 3ªsérie A do curso de Formação de Docentes
Localização Colégio Estadual João XXIII-EFMN
Rua da Liberdade, 471
Apresentação O projeto "Cruz e Sousa e a expressão da desigualdade" pretende efetuar um estudo crítico dos poemas “Escravocratas", "Litania dos pobres", "Crianças negras" e "Da senzala", estabelecendo relação entre a época em que foram escritos e a atualidade. Verificando como as situações retratadas pelo poeta (Cruz e Sousa) em relação às desigualdades sociorraciais são práticas presentes nos dias de hoje, bem como, possibilitar aos educandos um novo olhar sobre os poemas de nosso Cisne Negro.
Palavras-chave Cruz e Sousa; simbolismo; preconceito; negro.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ
Superintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais
Programa de Desenvolvimento Educacional
ROSALINA MARIA HUFFNER PARDAL
CRUZ E SOUZA E A EXPRESSÃO DA DESIGUALDADE
PATO BRANCO
2011
ROSALINA MARIA HUFFNER PARDAL
PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
CRUZ E SOUZA E A EXPRESSÃO DA DESIGUALDADE
Trabalho apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional, para conclusão das atividades do segundo período PDE – 2010.
PATO BRANCO
2011
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professora PDE: Rosalina Maria Huffner Pardal
Área PDE: Língua Portuguesa e Literatura
NRE: Pato Branco
Professora Orientadora IES: Professora Drª Keli C. Pacheco
IES vinculada: Universidade Estadual Centro-Oeste (Unicentro)
Escola de Implementação: Colégio Estadual João XXIII- EFM
Público objeto da intervenção: Aluno do Ensino Médio – Curso de Formação de
Docentes – 3ª série.
TEMA DE ESTUDO DA PROFESSORA PDE
Análise dos poemas: “Escravocratas”, “Litania dos pobres”, “Crianças negras”,
“Da Senzala”, de Cruz e Sousa como instrumento de discussão das desigualdades
sociorraciais.
OBJETIVO GERAL
Efetuar um estudo crítico dos poemas: “Escravocratas”, “Litania dos pobres”,
“Crianças negras”, “Da Senzala”, de Cruz e Sousa, estabelecendo relações entre a
época em que foram produzidos e a realidade atual.
APRESENTAÇÃO
A proposta deste trabalho consiste na análise de alguns poemas pertencentes
ao poeta Cruz e Sousa, poeta negro, filho de escravos, nascido em Desterro, Santa
Catarina, em 1861. Desenvolveu sua atividade literária durante o processo da
abolição da escravidão e após ele.
Por muito tempo foi “crucificado” por alguns críticos que afirmavam ser ele um
negro que não lutava pela causa negra, que não denunciava as injustiças que seus
pares sofriam no Brasil. Porém, quando nos aprofundamos na obra deste Cisne
Negro, percebemos que a seu modo, sem levantar bandeira, sem grandes
rompantes ele lutou pela causa negra. Estes quatro poemas “Escravocratas”, “Da
Senzala”, “Litania dos pobres”, “Crianças negras” e muitos outros desmistificam a
idéia construída de Cruz e Souza, um poeta indiferente a escravidão do negro,
derrubam o mito de que o poeta não havia se interessado pela questão sociorracial.
Por meio das composições selecionadas pretendemos despertar nos
educandos o interesse pela obra do autor.
Assim, utilizando-nos da leitura literária, objetivamos não só, despertar no
aluno a sensibilidade estética e o interesse para com os poemas do poeta, bem
como a percepção de como a realidade social e psicológica podem transformar-se
em estrutura literária.
Neste projeto daremos ênfase aos poemas que mostram a revolta do poeta
contra a condição desumana dos negros, dos humilhados e dos miseráveis.
Por isso, justifica-se esta pesquisa pela necessidade de trabalharmos com os
alunos a importância do respeito a diversidade e a tolerância, condenando atitudes
racistas e preconceituosas, construídas ao longo do tempo pelas mentalidades
racistas. Não podemos ser indiferentes ao racismo e a intolerância.
Neste projeto iremos analisar os poemas de Cruz e Sousa numa perspectiva
de quebra de paradigma, não nos atendo apenas as características simbolistas, mas
enfatizando a questão social, o contexto social excludente em que ele (negro e
pobre) estava inserido.
Possibilitaremos aos educandos um novo olhar perante os poemas de Cruz e
Sousa, sensibilizando-os a respeito do valor da experiência vivida pelo poeta e sua
luta contra a escravidão por meio das palavras.
Esperamos, assim, estimular o espírito crítico e criativo dos alunos do Curso
de Formação de Docentes- 3ª série, os quais irão participar do projeto lançando um
novo olhar sobre o poeta e seus pares, que vai além do trabalho escravo, mostrando
suas lutas e resistência a escravidão. Desta forma, contamos que estes educandos
levem esta experiência para seus futuros alunos quando exercerem a profissão de
docente.
UNIDADE DIDÁTICA
ATIVIDADE 1 – MOTIVAÇÃO PARA O INÍCIO DO PROJETO
(Duração 5 aulas)
1. Apresentação do projeto aos alunos pela Profª PDE
2. Convidar um professor da disciplina de história para ministrar uma palestra para
os alunos, sugerir a ele explanar sobre a identidade do negro no Brasil e o
contexto histórico do final do século XIX.
3. Objetivo: levar os alunos a compreenderem o momento histórico em que viveu
Cruz e Souza.
4. Propor a um professor da disciplina de filosofia que explique aos alunos “As
teorias da superioridade branca, do final do século XIX”.
Objetivo: levar ao conhecimento dos educandos como a sociedade brasileira
procurava justificar a superioridade branca por meio de teorias européias que
afirmavam ser o negro inferior.
5. Os alunos serão convidados a assistirem ao filme “Sociedade dos poetas
mortos”, do diretor Peter Weir.
Título original: (Dead Poets Society)
Lançamento: 1989 (EUA)
Direção: Peter Weir
Atores: Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, Josh Charles.
Duração: 129 min.
Gênero: Drama
Sinopse: Em 1959 na Welton Academy, uma tradicional escola
preparatória, um ex-aluno (Robin Williams) se torna o novo professor de
literatura, mas logo seus métodos de incentivar os alunos a pensarem por
si mesmos cria um choque com a ortodoxa direção do colégio,
principalmente quando ele fala aos seus alunos sobre a "Sociedade dos
Poetas Mortos".
Objetivo: Despertar no aluno o interesse pela literatura, para que entrem na
atmosfera literária.
6. Revisão sobre o Movimento Simbolista.
Objetivos: Contextualizar o movimento simbolista no Brasil.
Conhecer as características dessa escola literária.
Conhecer os poetas simbolistas.
Trabalhar o poema Antífona de Cruz e Sousa.
7. Levar os alunos ao laboratório de informática para que pesquisem sobre o
Expressionismo e as obras de Edvard Munch. Professor e alunos devem
conversar sobre o que foi pesquisado.
Objetivo: Os alunos deverão compreender o Expressionismo e conhecer Edvard
Munch para que possam fazer associação entre a obra “O grito” e o poema “Da
Senzala” (parte da atividade 4).
Dica: O movimento expressionista surgiu em 1910, na Alemanha. Representação
subjetiva do mundo exterior por meio de um tratamento de forte apelo emocional.
No Expressionismo, o homem e o mundo não se coadunam, mas se
desencaixam
Dica: Edvard Munch (1863-1944), pintor norueguês; um dos maiores pintores do
movimento expressionista.
Dica: ouça o poema- Epigrama n° 9, de Cecília Meireles. Musicado por Fagner.
ATIVIDADE 2 – BIOGRAFIA DE CRUZ E SOUSA
(Duração- 2 aulas)
1. No laboratório de informática, solicitar aos alunos que pesquisem a biografia de
Cruz e Sousa.
2. Os alunos deverão expor o que pesquisaram. O que mais chamou a atenção
deles.
3. Pesquisar em livros e na internet as obras de Cruz e Sousa.
4. Escolher um dos poemas que mais tenha gostado.
5. Apresentar o poema para a turma (apenas os alunos que aceitarem fazê-lo).
Objetivo: Levar o aluno a interessar-se pelo fazer poético, a trabalhar com as
palavras.
ATIVIDADE 3 – POEMA: ESCRAVOCRATAS
(Duração: 2 aulas)
Dica: Assistir ao filme “O carteiro e o poeta”.
Título: O carteiro e o poeta
Ano: 1994 (Itália)
Direção: Michael Radford
Atores: Massimo Troisi, Philippe Noiret, Mari Grazia Cucinotta, Renato Scarpa.
Duração: 109 minutos.
Gênero: Romance.
Sinopse: Ficção a respeito do exílio de Pablo Neruda durante a ditadura militar
chilena. Numa bela ilha italiana, o poeta se torna amigo de um carteiro quase
analfabeto e, dessa relação, nasce no carteiro o gosto pela palavra, bem como a
consciência política.
Escravocratas
Oh! Trânsfugas do bem que sob o manto régio
Manhosos, agachados — bem como um crocodilo,
Viveis sensualmente à luz dum privilégio
Na pose bestial dum cágado tranqüilo.
Eu rio-me de vós e cravo-vos as setas
Ardentes do olhar — formando uma vergasta
Dos raios mil do sol, das iras dos poetas,
E vibro-vos à espinha — enquanto o grande basta
O basta gigantesco, imenso, extraordinário
Da branca consciência — o rútilo sacrário
No tímpano do ouvido — audaz me não soar.
Eu quero em rude verso altivo adamastórico,
Vermelho, colossal, d'estrépito, gongórico,
Castrar-vos como um touro — ouvindo-vos urrar!
Fonte: www.dominiopublico.gov.br
1. Leitura do poema feita pela professora.
2. Leitura silenciosa.
3. Todos irão ler o poema em voz alta, observando a harmonia das vozes.
4. Em duplas compartilhem com o colega o que entenderam do poema. Qual
sentimento despertou em cada um?
5. Considerando os aspectos formais do poema, responda:
Dica: Gongórico – relativo à escola literária espanhola, inspirada no modelo de
Luís de Góngora, caracterizada por excesso de metáforas, antíteses, anáforas e
alusões clássicas. (MINIAURÉLIO, 2008).
a) Como denominamos este tipo de composição formada por quatro estrofes
sendo que as duas primeiras possuem quatro versos cada uma e as duas
últimas estrofes possuem quatro versos, totalizando quatorze versos?
b) No poema “Escravocratas” além de rimas ocorrem também algumas
aliterações.
Localize estas recorrências: rimas e aliterações.
Agora converse com seus colegas e professoras como interpretar esses
recursos, que efeitos de sentido eles sugerem no poema?
6. Sabemos que o Adamastor é um gigante mitológico que habita as profundezas
do Cabo da Boa Esperança. Esta figura lendária aparece no poema épico “Os
Lusíadas”, de Luiz Vaz de Camões. No entanto, Cruz e Sousa não se refere ao
gigante; a palavra adamastórico foi empregada no sentido figurado.
No contexto do poema. Qual o significado de adamastórico no 12° verso?
7. Justifique o título do poema?
8. A quem Cruz e Sousa faz sérias críticas nesse poema?
9. Em duplas, produzam uma paráfrase ou paródia do poema estudado.
10.Apresentem para a classe os textos produzidos.
ATIVIDADE 4 – POEMA: DA SENZALA
(Duração: 2 aulas)
Da Senzala
Dica: Este modelo de poema de forma fixa surgiu na Itália com Petrarca e quem
levou a novidade a Portugal foi Sá de Miranda.
Dica: Aliterações: repetição do mesmo som consonantal.
De dentro da senzala escura e lamacenta
Aonde o infeliz
De lágrimas em fel, de ódio se alimenta
Tornando meretriz
A alma que ele tinha, ovante, imaculada
Alegre e sem rancor;
Porém que foi aos poucos sendo transformada
Aos vivos do estertor...
De dentro da senzala
Aonde o crime é rei, e a dor — crânios abala
Em ímpeto ferino;
Não pode sair, não,
Um homem de trabalho, um senso, uma razão...
e sim, um assassino!
Fonte: www.dominiopublico.gov.br
1. Leitura silenciosa do poema “Da Senzala”
2. Leitura do poema feita pela professora.
3. Toda a classe irá ler o texto em voz alta, procurem cuidar a entonação da voz.
4. A seguir, dialoguem como o poeta se refere a senzala? Qual o sentimento que
esse poema aguça em cada um.
5. Quais são as senzalas de hoje? Quem as habita?
6. Segundo alguns críticos, Munch afirmava: “Não devemos pintar interiores com
pessoas lendo e mulheres tricotando; devemos pintar pessoas que vivem,
respiram, sentem, sofrem e amam.” Trace um paralelo entre o quadro “O grito” de
Edvard Munch e o poema “Da Senzala”, de Cruz e Sousa.
7. Em duplas façam a ilustração do poema. Não esqueçam de copiarem no cartaz,
o poema integralmente ou a estrofe mais significativa para vocês.
ATIVIDADE 5 – POEMA: CRIANÇAS NEGRAS
(Duração: 3 aulas)
Em cada verso um coração pulsando,
Sóis flamejando em cada verso, e a rima
Cheia de pássaros azuis cantando,
Desenrolada como um céu por cima.
Trompas sonoras de tritões marinhos
Das ondas glaucas na amplidão sopradas
E a rumorosa música dos ninhos
Nos damascos reais das alvoradas.
Fulvos leões do altivo pensamento
Galgando da era a soberana rocha,
No espaço o outro leão do sol sangrento
Que como um cardo em fogo desabrocha.
A canção de cristal dos grandes rios
Sonorizando os florestais profundos,
A terra com seus cânticos sombrios,
O firmamento gerador de mundos.
Tudo, como panóplia sempre cheia
Das espadas dos aços rutilantes,
Eu quisera trazer preso à cadeia
De serenas estrofes triunfantes.
Preso à cadeia das estrofes que amam,
Que choram lágrimas de amor por tudo,
Que, como estrelas, vagas se derramam
Num sentimento doloroso e mudo.
Preso à cadeia das estrofes quentes
Como uma forja em labareda acesa,
Para cantar as épicas, frementes
Tragédias colossais da Natureza.
Para cantar a angústia das crianças!
Não das crianças de cor de oiro e rosa,
Mas dessas que o vergel das esperanças
Viram secar, na idade luminosa.
Das crianças que vêm da negra noite,
Dum leite de venenos e de treva,
Dentre os dantescos círculos do açoite,
Filhas malditas da desgraça de Eva.
E que ouvem pelos séculos afora
O carrilhão da morte que regela,
A ironia das aves rindo a aurora
E a boca aberta em uivos da procela.
Das crianças vergônteas dos escravos
Desamparadas, sobre o caos, à toa
E a cujo pranto, de mil peitos bravos,
A harpa das emoções palpita e soa.
Ó bronze feito carne e nervos, dentro
Do peito, como em jaulas soberanas,
Ó coração! és o supremo centro
Das avalanches das paixões humanas.
Como um clarim a gargalhada vibras,
Vibras também eternamente o pranto
E dentre o riso e o pranto te equilibras
De forma tal que a tudo dás encanto.
És tu que à piedade vens descendo.
Como quem desce do alto das estrelas
E a púrpura do amor vais estendendo
Sobre as crianças, para protegê-las.
És tu que cresces como o oceano, e cresces
Até encher a curva dos espaços
E que lá, coração, lá resplandeces
E todo te abres em maternos braços.
Te abres em largos braços protetores,
Em braços de carinho que as amparam,
A elas, crianças, tenebrosas flores,
Tórridas urzes que petrificaram.
As pequeninas, tristes criaturas
Ei-las, caminham por desertos vagos,
Sob o aguilhão de todas as torturas,
Na sede atroz de todos os afagos.
Vai, coração! na imensa cordilheira
Da Dor, florindo como um loiro fruto
Partindo toda a horrível gargalheira
Da chorosa falange cor do luto.
As crianças negras, vermes da matéria,
Colhidas do suplício a estranha rede,
Arranca-as do presídio da miséria
E com teu sangue mata-lhes a sede!
Fonte: www.dominiopublico.gov.br
1. Leitura silenciosa. Sintam a musicalidade. Observem as rimas.
2. Leitura em voz alta. Os meninos lerão as estrofes pares e as meninas as estrofes
ímpares. A última estrofe todos lerão juntos, observando o ritmo do poema.
3. A situação apresentada no poema lhe parece fantasiosa ou realista? Justifique.
4. Como você interpreta a estrofe abaixo:
(...)
“Das crianças vergônteas dos escravos
Desamparadas, sobre o caos, à toa
E a cujo pranto, de mil peitos bravos,
A harpa das emoções palpita e soa”.
(...)
5. Sabemos que uma das características do Simbolismo é a associação de cores,
tons. Copie do texto as cores e as palavras que a elas estão associadas.
6. Em duplas. Retirem do texto as palavras que vocês ignoram o significado.
Procurem no dicionário o que elas significam. Depois reescrevam o poema
utilizando no lugar das palavras desconhecidas, sinônimos na linguagem
informal. Tentem fazer uso de palavras que não quebrem o ritmo do poema.
7. Apresentem o texto reescrito aos demais colegas.
ATIVIDADE 6 – POEMA: LITANIA DOS POBRES
(Duração: 6 aulas)
Os miseráveis, os rotos
São as flores dos esgotos.
São espectros implacáveis
Os rotos, os miseráveis.
São prantos negros de furnas
Caladas, mudas, soturnas.
São os grandes visionários
Dos abismos tumultuários.
As sombras das sombras mortas,
Cegos, a tatear nas portas.
Procurando o céu, aflitos
E varando o céu de gritos.
Faróis a noite apagados
Por ventos desesperados.
Inúteis, cansados braços
Pedindo amor aos Espaços.
Mãos inquietas, estendidas
Ao vão deserto das vidas.
Figuras que o Santo Ofício
Condena a feroz suplício.
Arcas soltas ao nevoento
Dilúvio do Esquecimento.
Perdidas na correnteza
Das culpas da Natureza.
Ó pobres! Soluços feitos
Dos pecados imperfeitos!
Arrancadas amarguras
Do fundo das sepulturas.
Imagens dos deletérios,
Imponderáveis mistérios.
Bandeiras rotas, sem nome,
Das barricadas da fome.
Bandeiras estraçalhadas
Das sangrentas barricadas.
Fantasmas vãos, sibilinos
Da caverna dos Destinos!
O pobres! o vosso bando
É tremendo, é formidando!
Ele já marcha crescendo,
O vosso bando tremendo...
Ele marcha por colinas,
Por montes e por campinas.
Nos areiais e nas serras
Em hostes como as de guerras.
Cerradas legiões estranhas
A subir, descer montanhas.
Como avalanches terríveis
Enchendo plagas incríveis.
Atravessa já os mares,
Com aspectos singulares.
Perde-se além nas distâncias
A caravana das ânsias.
Perde-se além na poeira,
Das Esferas na cegueira.
Vai enchendo o estranho mundo
Com o seu soluçar profundo.
Como torres formidandas
De torturas miserandas.
E de tal forma no imenso
Mundo ele se torna denso.
E de tal forma se arrasta
Por toda a região mais vasta.
E de tal forma um encanto
Secreto vos veste tanto.
E de tal forma já cresce
O bando, que em vós parece.
Ó Pobres de ocultas chagas
Lá das mais longínquas plagas!
Parece que em vós há sonho
E o vosso bando é risonho.
Que através das rotas vestes
Trazeis delícias celestes.
Que as vossas bocas, de um vinho
Prelibam todo o carinho...
Que os vossos olhos sombrios
Trazem raros amavios.
Que as vossas almas trevosas
Vêm cheias de odor das rosas.
De torpores, d’indolências
E graças e quint’essências.
Que já livres de martírios
Vêm festonadas de lírios.
Vem nimbadas de magia,
De morna melancolia!
Que essas flageladas almas
Reverdecem como palmas.
Balanceadas no letargo
Dos sopros que vem do largo...
Radiantes d’ilusionismos,
Segredos, orientalismos.
Que como em águas de lagos
Bóiam nelas cisnes vagos...
Que essas cabeças errantes
Trazem louros verdejantes.
E a languidez fugitiva
De alguma esperança viva.
Que trazeis magos aspeitos
E o vosso bando é de eleitos.
Que vestes a pompa ardente
Do velho Sonho dolente.
Que por entre os estertores
Sois uns belos sonhadores.
Fonte: www.dominiopublico.gov.br
1. Leitura silenciosa.
2. Divididos em pequenos grupos, ensaiem a leitura do poema em voz alta, para
apresentar aos demais alunos.
3. Por meio de uma leitura com toda a classe, verso a verso, identifiquem as
palavras desconhecidas e depreendam o sentido literal do poema. A seguir, cada
grupo discute:
a) Os versos
b) As estrofes
c) As rimas
4. Qual sentimento o poema despertou em você?
5. Quem são os personagens do poema? Como eles são tratados?
6. Quem são os marginalizados na atualidade? Será que mudaram? Onde eles
estão? O que fazem? Como são tratados pela sociedade?
7. Releia o último verso do poema (sois uns belos sonhadores). Aqui Cruz e Sousa
demonstra simpatia para com os marginalizados, denominando-os de
sonhadores. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
8. Qual estrofe mais chamou sua atenção? Por quê?
9. Há alguma(s) característica(s) simbolista(s) nesse poema? Qual(is)?
10. Em grupos de no máximo quatro alunos, transformem o poema em música. O
estilo musical fica a critério de cada grupo.
Dica: Litania significa ladainha.
11. Em grupos de seis alunos dramatizem o poema.
ATIVIDADE 7 – FILME: CRUZ E SOUSA – O POETA DO DESTERRO
(Duração: 2 aulas)
Sessão cinematográfica
Filme: Cruz e Sousa: O Poeta do Desterro.
Direção: Sílvio Back.
País de origem: Brasil.
Gênero: drama.
Tempo de duração: 86 minutos.
Ano de lançamento: 1998
Elenco: Kadu Karneiro: Cruz e Souza
Maria Ceiça: Gavínia
Sinopse: Reinvenção da vida e obra do poeta catarinense Cruz e Sousa
(1861-1898). Considerado o maior simbolista brasileiro. Através de trinta e
quatro estrofes visuais o filme rastreia desde as arrebatadoras paixões do
poeta em Florianópolis até seu emparedamento social, racial, intelectual e
trágico fim no Rio de Janeiro.
Logo após o filme haverá uma mesa redonda onde alunos e professor irão
salientar os pontos positivos e negativos do filme.
ATIVIDADE 8 – ENCERRAMENTO DO PROJETO
Dica: para dramatização os alunos poderão vestir-se de acordo com os
marginalizados atuais (bóias-frias, moradores de rua, catadores de lixo, etc)
Sugestão de música: Proibido chorar (com em cubo), de André Valadão.
(Duração: 3 aulas)
Encerramento do Projeto –Tarde Literária
O grupo irá convidar a comunidade escolar para vir ao Colégio assistir ao
encerramento do projeto “Cruz e Sousa e a expressão da desigualdade”.
O evento será anunciado através de folders e cartazes confeccionados pelos
alunos.
As apresentações dar-se-ão na Casa da Cultura do Município, o espaço será
decorado com os cartazes produzidos pelos alunos, e também, com suas paródias e
paráfrases.
Os trabalhos serão apresentados na seguinte ordem:
I- Síntese do Projeto (Profª PDE)
II- Dramatização do poema “Litania dos pobres”.
III- Apresentação das músicas com o poema “Litania dos pobres”.
IV- Recital de poesias.
FICHA DE AVALIAÇÃO DO PROJETO
Dica: O evento será registrado em mídia.
COLÉGIO ESTADUAL JOÃO XXIII- ENSINO FUNDAMENTAL, MÉDIO E
PROFISSIONAL.
PROJETO : Cruz e Sousa e a Expressão da Desigualdade
COORDENADOR: Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE
APLICAÇÃO: Rosalina Maria Huffner Pardal
DATA: 2º Semestre de 2001.
FICHA DE AVALIAÇÃO DO PROJETO
Prezado participante, assim como sua participação foi muito importante para a
execução deste trabalho, sua opinião é essencial ao aperfeiçoamento deste projeto.
Por isso, solicitamos o preenchimento dessa ficha e sua devolução.
Aluno(a):____________________________________________________________
1. As atividades que você vem realizando: Sim Não Não sei1.a Têm ampliado sua capacidade de expressão 1.b Têm fornecido conhecimentos novos. 1.c Têm desenvolvido sua capacidade e iniciativa para
solucionar problemas 1.d Têm possibilitado aprimorar seu relacionamento com
colegas, amigos e familiares.
2. Você recebeu orientação para realizar as atividades?
( ) Sim, sempre ( ) Recebi só no início ( ) Sim, quando tenho dificuldade
3. Os temas trabalhados no projeto foram importantes para sua vida?
( ) Sim ( ) Não ( ) Algumas vezes
4. Formato do Projeto Fraco Regular Bom ÓtimoInteração dos professores nas disciplinas
envolvidas Interação dos alunos Material didático Grau de expectativa alcançado no projeto por
você Linguagem utilizado
Articulação dos conteúdos com os textos lidosContribuição do material para aprendizagemCompreensão dos assuntos trabalhados
relacionados com os conteúdos da disciplina.
5. O que sua família achou das atividades desenvolvidas no projeto?
___________________________________________________________________
6. Dentre os temas abordados qual (is) você mais gostou:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7. O que você aprendeu com este projeto?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8. Como você avalia o desenvolvimento deste projeto.
( ) Bom ( ) Ruim ( ) Mais ou menos
9. Sugestões para melhorar o projeto de trabalho.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Obrigada pela participação.
REFERÊNCIAS
ADORO CINEMA. Sociedade dos poetas mortos. Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/sociedade-dos-poetas-mortos. Acesso em: 31/07/2011.
ALBUQUERQUE, Wlamyra, R. D. Uma história do negro no Brasil. Wlamyra Albuquerque, Walter Fraga Filho. Salvador: Centro de Estudos Afro-orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2008.
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994, pp. 263-298.
BRAIT, B. PCNs, gêneros e ensino de língua: faces discursivas da textualidade. In: ROJO, Roxane (org.). A prática de linguagem em sala de aula: praticando os PCN. São Paulo: Mercado de Letras, 2000, p. 20.
DE NICOLA, José. Literatura brasileira: da origem aos nossos dias. José de Nicola. São Paulo: Scipione, 2003.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: O Minidicionário da Língua Portuguesa. 7. ed. São Paulo: Positivo, 2008.
GOLDESTEIN, Norma. Versos, sons e ritmos. 7. ed. Série Princípio. São Paulo: Ática, 1991.
http://www.filmes.seed.pr.gov.br/modules/mylinks/viewcat.php?cid=3. Acesso em 04/08/2011.
INTERFILMES. Cruz e Sousa. O Poeta do Desterro. Disponível em: http://www.interfilmes.com/filme_13029_cruz.e.souza.o.poeta.do.desterro.html. Acesso em: 31/07/2011.
MOISÉS, Massaud. Simbolismo – Literatura Brasileira. Vol. IV. São Paulo: Cultrix, 1969, 293p.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Reestruturação do Ensino de 2º Grau. Curitiba: SEED, 1988.
PORTAL DOMÍNIO PÚBLICO. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/. Acesso em: 18/07/2011.
RABELLO, Ivone Daré. Um canto à margem: uma leitura da poética de Cruz e Sousa. São Paulo: Nankin: EDUSP, 2006, p. 206.
SCHWARCZ, Lilia M. O espetáculo das raças. São Paulo: Cia das letras, 1993.
SOUSA, Cruz e. Coletânea organizada por Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. Coleção Fortuna Crítica. Vol. 4, Brasília: INL, 1979. ______. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Record, 1998, p.124.
______. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Record, 1998.
SOUSA, João da Cruz e. Evocações. Edição fac-similar. Florianópolis: FCC Edições, 1986.
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