FICHA CATALOGRÁFICA
Título: Gestão Escolar Democrática dentro de uma perspectiva humanizadora para possíveis transformações no
processo ensino-aprendizagem
Autor Maria Cristina Moreno
Escola de Atuação Escola Estadual Afrânio Peixoto - EF
Município da escola Abatiá
Núcleo Regional de Educação Jacarezinho
Orientador Profº Mdo. Vinicius Furlan
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Norte do Paraná
Disciplina/Área (entrada no PDE) Gestão Escolar
Produção Didático-pedagógica Unidade Didática
Público Alvo Professores
Localização Escola Estadual Afrânio Peixoto – EF
Rua XV de Novembro, 306 – Centro
Abatiá – PR CEP 86460-000
Apresentação:
(descrever a justificativa, objetivos e metodologia
utilizada. A informação deverá conter no máximo
1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou
Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento
simples)
Os estudos apresentados pretendem expor os fundamentos
e as exigências do caráter democrático da gestão escolar
fundamentados em valores que fortaleçam atitudes mais humanas
entre os sujeitos que participam do ambiente escolar. Para tanto,
reflexões foram feitas a fim de perceber o trabalho de uma gestão
escolar num paradigma humanista, participativo que venha a
assegurar condições pedagógico-didáticas que oportunizem o bom
desempenho dos professores em sua atuação com os alunos. Desse
modo, as ações a serem desenvolvidas foram embasadas em
princípios democráticos, pois é notório que a oportunidade de
compartilhar das decisões fortalece a autoestima dos envolvidos
no processo educativo que passam a ser mais comprometidos e
competentes no desenvolvimento da proposta pedagógica da
escola que assegurada pela presença de um gestor com
perspectivas de um horizonte de melhoramentos contínuos,
resultará em uma aprendizagem significativa para todos.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Gestão escolar – participação – conhecimento - motivação
2
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................... 3
1. CARÁTER DEMOCRÁTICO DA GESTÃO ESCOLAR ............. 7
2. DIVERSOS ASPECTOS DA MOTIVAÇÃO DOCENTE ........... 14
3. DESENVOLVIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL ............ 19
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 25
ANEXOS........................................................................................27
REFERÊNCIAS ........................................................................... 29
3
“Gestão Escolar Democrática numa perspectiva humanizadora
para possíveis transformações no processo ensino-aprendizagem” pretende
compreender os fundamentos e as exigências do caráter democrático da
gestão escolar determinada pelo contexto sócio-histórico para a construção de
relações mais humanas, pautada em valores que engrandeçam ações e ideais
humanizadores entre os sujeitos que participam do cotidiano escolar,
propiciando momentos de reflexão que levem os professores a se motivarem, a
se tornarem mais afetivos, criativos, dinâmicos, conscientes de seu papel, num
intenso trabalho compartilhado e multidimensional.
Desta forma, definiu se como objetivos específicos: diagnosticar
níveis de motivação dos professores, analisando o desempenho de liderança
da gestão escolar num paradigma humanista que venha assegurar condições
pedagógico-didáticas que oportunizem o bom desempenho dos professores em
sala de aula; propor juntamente com o gestor do estabelecimento ações que
promovam uma gestão escolar interativa, na intenção de estimular atitudes que
favoreçam a formação de um ambiente saudável, motivador e construtivo com
o intuito de verificar que a maneira como a escola funciona faz a diferença em
relação aos resultados escolares dos alunos; promover reflexões acerca da
dinâmica da vida do ambiente.
O desafio é resultado de um mundo cada vez mais complexo, que
coloca as pessoas diante de muitas situações geradoras de stress. E a vida do
nosso profissional da educação não é diferente de outros profissionais que
todo dia se depara com muitos conflitos.
Atualmente o cenário escolar esta marcado por uma imagem
negativa em que a insatisfação está sendo percebida não só entre um ou outro
individuo, mas na figura central deste espaço: o professor. O ambiente escolar
vem se tornando um local de muitas insatisfações, desprazeres, conflitos em
que cresce a fragilidade dos envolvimentos e como um efeito dominó, ocorre o
INTRODUÇÃO
4
desânimo, a falta de interesse, o fazer pelo fazer, o déficit de aprendizagem e
frustrações da comunidade escolar.
Nesse marco, qual o papel da gestão escolar em propor ações
que deem condições de sustentar uma liderança que desfaça a visão
tecnicista, fragmentadora de conhecimentos, superando procedimentos
tradicionais, voltando a sua atenção a uma gestão escolar efetivamente
democrática e preocupada em atingir o objetivo maior que é a aprendizagem
dos alunos?
A resposta para a indagação supracitada não tem a pretensão de
fechar a questão que será objeto de estudo, mas averiguar o trabalho de uma
gestão escolar democrática pautada em resultados positivos entre a prática e a
teoria numa concepção participativa. Veremos que a literatura revela que a
oportunidade de compartilhar das decisões fortalece a autoestima dos
professores que passam a ser mais comprometidos com seu trabalho, sua
qualificação, sensíveis e competentes para desenvolver uma proposta
pedagógica em benefício de uma aprendizagem significativa.
Dessa maneira, a pesquisa será norteada em prol ao
entendimento de que a alma de uma gestão escolar democrática está em
ações concentradas em oportunidades da participação da comunidade escolar,
em particular, o corpo docente, subsidiado por princípios de valorização do ser,
diagnósticos e compreensão a partir de pesquisas de renomados autores que
enfatizam os benefícios da práxis dos valores humanos para a formação do
ser, no espaço escolar em que todos se sintam engajados em atitude de
aprendência. WITTMANN (2010, p. 132) ratifica que:
As práticas em gestão escolar, inerentes ao próprio movimento pedagógico-didático da escola, são tarefa de todos os agentes envolvidos e demandam compartilhamento. Não são de responsabilidade de uma pessoa. São responsabilidade do conjunto dos agentes, coordenados por uma equipe gestora e órgãos colegiados.
Entende-se que mudanças são necessárias e imprescindíveis à ação
humana; então, este estudo vem integrar aos ideais de uma escola
5
democrática e eficiente na busca de um ensino-aprendizagem integrador,
inovador, com condições objetivas que dão consistência à autonomia da escola
para assim, garantir o respeito e a valorização necessária para uma prática
educativa emancipadora na escola. JAUME CARBONELL, (2002, p.81)
embasa este pensamento dizendo que:
Um projeto educativo inovador expressa finalidade e esperanças no futuro; histórias e narrações compartilhadas; [...]; concepções sobre a convivência e a maneira de enfrentar conflitos; mecanismos para a participação democrática dos diversos estamentos
1 a tomada de
decisões; o modo como a escola se articula com o entorno; e fórmulas alternativas para mudar a destinação tradicional de tempos e espaços. Esses diversos âmbitos confluem em um todo sistêmico no qual todas as peças se interrelacionam e se integram harmonicamente no conjunto da instituição.
Assim, a realização deste material foi uma experiência
apaixonante marcada por desafios, dificuldades, contradições, mas também
por possibilidades e descobertas embasadas em constantes reflexões sobre o
agir pedagógico escolar expandindo a visão que leva a considerar a
organização escolar como um organismo aberto, em que a tomada de decisões
pedagógico-didáticas esteja embasada num processo de construção contínuo
que se proponha a colaborar para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Desta forma, entre tantas atribuições pertinentes ao cargo de
gestor, surgem diversas interrogações a respeito da pessoa que está à frente
deste cargo:
QUE PERFIL DEVE POSSUIR
PARA PROPICIAR UM AMBIENTE
ESCOLAR ENVOLVENTE?
6
Para tentar responder às questões que alicerçam os princípios da
gestão escolar democrática, o material está organizado em três capítulos. No
primeiro, “O caráter democrático da gestão escolar”, enfoca o estudo de uma
administração escolar pautada na participação que pode resultar no
comprometimento dos envolvidos no contexto pedagógico. Já o segundo:
“Diversos aspectos da motivação docente”, discute a atual situação do
ambiente escolar e como este influencia nas emoções do professor. Em
“Desenvolvimento pessoal e profissional”, argumenta-se a incansável busca do
conhecimento que o professor deve empreender a fim de construir sua
identidade e ser valorizado como um profissional eficaz.
"Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido." (CHARLES CHAPLIN)
QUAIS AÇÕES PRATICAR PARA
AMENIZAR A ESTAFA E A
DESMOTIVAÇÃO DO
PROFESSOR?
COMO DESENVOLVER UMA GESTÃO EM
QUE SE PROPICIE A PARTICIPAÇÃO DOS
MEMBROS DA COMUNIDADE NO
PROCESSO EDUCACIONAL?
7
1. CARÁTER DEMOCRÁTICO DA GESTÃO ESCOLAR
Definir gestão escolar democrática é desvelar o manto de uma
pretendida democratização do ensino na qual ainda sobrevivem grandes
dificuldades geradas pela desigualdade sócio-educacional, aprofundadas pela
globalização neoliberal.
Fazendo um flashback1 do contexto histórico da educação percebe-se
um período marcado por fortes reivindicações sociais em busca da
democratização do país e consequentemente das instituições escolares
públicas. De lá para cá, muito se avançou, porém ainda não podemos
vislumbrar uma efetiva gestão escolar de caráter democrático em que ações
burocráticas enraizadas continuam “emperrando” as transformações
imprescindíveis para uma escola pública de qualidade para todos. Estudos
mostram que ainda há muito por fazer para que a pretendida gestão
democrática constitua regra nos estabelecimentos de ensino público, uma vez
que são primordiais para a reconstrução de uma escola pública de qualidade
ações democráticas imbricadas no cotidiano escolar.
Assim ao examinar os estudos a respeito da administração escolar, que
se deram a partir de sua história política e cultural, fundamentada na expansão
da oferta educativa no início do século XX e a complexidade da tarefa de dirigir
a educação, concluímos não ser um feito gratuito, muito pelo contrário, foi o
resultado de um extenso processo de construção histórica do qual a
participação da sociedade foi fundamental. “Num contexto caracterizado pela
efervescência das lutas sociais que recolocavam a silenciada „voz‟ do povo nas
ruas, nas fábricas, etc., começou o trabalhoso processo de redemocratização
da sociedade.” (Codo, 2006, p.184) Enfim, somos autores de uma história
inacabada que continuará a ser escrita ao longo dos anos.
Tais estudos fazem uma retomada do contexto educativo brasileiro
levando em conta que somos um país em desenvolvimento, influenciados por
1 Memória repentina de um fato do passado
8
diversos organismos internacionais e o nosso sistema de ensino como é hoje,
é resultado da presença muito forte durante os anos 80 das lutas sociais,
econômicas e políticas pela democratização do país. Rever os moldes da
administração escolar preconizada em períodos anteriores é percebê-la
fundamentada nos princípios da Administração adotados na empresa
capitalista. A esse respeito, PARO (1993, p.13) reporta:
A atividade administrativa não se dá no vazio, mas em condições históricas determinadas para atender a necessidades e interesses de pessoas e grupos. Da mesma forma, a educação escolar não se faz separada dos interesses e forças sociais presentes numa determinada situação histórica. A administração escolar está, assim, organicamente ligada à totalidade social, onde ela se realiza e exerce sua ação e onde, ao mesmo tempo, encontra as fontes de seus condicionantes.
Aos pouco novos direcionamentos vão sendo dado às práticas da
administração escolar movidas pelas reivindicações dos professores, que
diante de fortes tradições fundamentadas no autoritarismo da sociedade
política e nos interesses dominantes se faziam conformada com a situação,
reproduzindo um cotidiano escolar repleto de ações administrativas centradas
no burocrático. Sobre esse momento, FORTUNA (apud BASTOS, 2002, p.109)
nos coloca:
[...] a partir de 1978, as pressões dos professores organizados e da sociedade civil em geral, assim como a resistência e contestação dos alunos,exigiram novos rumos às praticas administrativas da educação, interferindo e requerendo do administrador uma revisão de suas posturas, procurando a reavaliação delas e o abandono do autoritarismo burocrático em benefício da representação democrática.
Legalmente, observamos que a gestão escolar que começou a tomar
corpo na década de 90, está amparada pela legislação educacional, tendo a
LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96
referendando o ensino ministrado com base em princípios dentre os quais cita
“gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos
sistemas de ensino.” (Art. 3º, Item VIII). O Art. 14 enfatiza também as normas
da gestão democrática definidas pelos sistemas de ensino, as quais obedecem
aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola.
9
Daí surge o desafio do gestor em propiciar um envolvimento
efetivo dando condições reais aos profissionais da educação para que façam
parte de um coletivo comprometido com os processos decisórios da escola. No
pensamento de Wittmann (2010) o ambiente democrático na escola é resultado
do compartilhamento da equipe gestora que favorece e amplia este ambiente
num processo de progressiva democratização.
Novos paradigmas surgem como consequência de crises e percebemos
que o conceito de gestão escolar, relativamente novo, agrega-se ao adjetivo
“democrática” a partir do momento em que professores começaram a exigir a
participação nas decisões sobre as questões pedagógicas. Apesar do termo
“gestão escolar democrática” ser incluso pela primeira vez na Constituição
Federal de 1988 e retomado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)
de 1996, muitos estudos ainda se voltam para estabelecer um perfil
educacional que dê respostas ao que de fato é gerir democraticamente.
Muitos conceitos envolvem o termo democracia. Mas o que vem a ser
democracia, qual sua relação com a educação? JAUME CARBONELL, (2002,
p.91) vem pautar estas questões colocando que:
A democracia só pode ser conquistada a partir da educação e se baseia na razão, no método científico e na constante reorganização e reconstrução da experiência. Democracia e ensino são inseparáveis e influenciam-se mutuamente: a educação ganha em intensidade quanto maior for a presença da ética democrática nela; à medida que as escolas e outras instituições são mais públicas e democráticas, também a democracia social é mais sólida e profunda.
A busca de novas tendências educativas marca a história da educação,
porém estudos voltados especificamente à administração escolar nem sempre
estiveram em alta como nos dias atuais. Um dos problemas discutidos na
esfera educacional, relacionados a estas tendências refere-se à terminologia
usada. Existem diferentes posições em assumir os termos de administração,
direção e gestão escolar. Para alguns autores estes termos são utilizados
indistintamente, embora que os mesmos possam ter significados diferentes.
Por isso, buscar uma conceituação é hoje matéria de múltiplas investigações, o
que não caberia neste espaço. Sem dúvida, a tendência mais expansiva hoje
10
vem sendo aplicar o termo gestão por administração, tanto no âmbito
empresarial, como no educacional.
E é no modo de gerir que se refletem concepções nas quais podemos
distinguir, de um lado, um modo sistêmico centralizado no líder, em que não há
abertura para discussões, reflexões do processo tanto organizacional quanto
pedagógico. De outro, uma liderança concebida numa concepção democrático-
participativa, que busca a participação do todo, do coletivo nas tomadas de
decisões. Libâneo (2004, p.102) ressalta que “a participação é o principal meio
de assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de
profissionais no processo de tomada de decisões.”
A democracia na escola por si só não tem significado, é preciso
compreender que gestão escolar é uma atividade em que se faz necessário
viabilizar inovações pedagógicas planejadas num coletivo para o cumprimento
dos fins da educação, bem como a compreensão e aceitação do princípio de
que a educação é um processo de emancipação humana e como tal deve se
pautar no desenvolvimento de ações educativas voltadas para a transformação
social, como afirma Paulo Freire (2000, p.67) “Se a educação sozinha não
transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”
Uma escola com ideal democrático compreende que a participação
efetiva venha provocar transformações nas atitudes de todos os envolvidos no
processo educativo, fazendo com que os mesmos aceitem as inovações como
um desafio e sintam-se estimulados a pensar, a refletir sobre sua prática,
tenham voz em condições de igualdade a ponto de fomentar o diálogo,
priorizando o respeito ao direito das pessoas de influenciar nas decisões
comprometidas em suas ações. Aí, o papel do gestor escolar deve vir a ser
menos burocrático, se vendo como um líder-membro da comunidade escolar e
como tal direcionar ações compartilhadas que respaldem seu trabalho ao
enfrentar os problemas reais do cotidiano escolar de forma ética, com caráter
profundamente democrático, que assegure condições favoráveis à realização
do trabalho docente. LIBÂNEO (2004, p.30), declara que:
11
A organização e a gestão da escola adquirem um significado bem mais amplo, para além de referir-se apenas a questões administrativas e burocráticas. Elas são entendidas como práticas educativas, pois passam valores, atitudes, modos de agir, influenciando as aprendizagens de professores e alunos.
Pode-se definir gestão escolar como direção participativa, já que pelas
características específicas dos processos educativos nas tomadas de decisões
correspondentes é uma tarefa coletiva que implica muitas pessoas, dentre as
quais os pais, que devem ter objetivos comuns e uma excelente comunicação
entre os professores, equipe pedagógica e direção.
Eis uma questão complexa visto que nosso contexto social, pais, mães,
não tem a disponibilidade ou a tem em tempo muito reduzido, necessário para
contribuir com o processo de gestão escolar. Contudo, é preciso viabilizar
condições, para que haja significativa participação deste segmento da
comunidade escolar. Um gestor com ideais democráticos visualizará em sua
gestão, meios para que de acordo com a realidade local esta participação
possa ser efetivada. Dessa forma, o processo de autonomia que visa vínculos
mais estreitos com a comunidade educativa, basicamente os pais, vem de
forma gradual e consistente, cumprir sua missão social e promover elevação
da qualidade do ensino. Enfatizando a participação na gestão da escola,
LIBÂNEO (2004, p.139) refere-se ao abordar que:
[...] por meio de canais de participação da comunidade, a escola deixa de ser uma redoma, um lugar fechado e separado da realidade, para conquistar o status de uma comunidade educativa que interage com a sociedade civil. [...] a participação é ingrediente dos próprios objetivos da escola e da educação.
Percebemos que o trabalho do gestor se valida quando dentro deste
perfil visualizamos ações construídas coletivamente respaldando o processo
democrático, como é o caso da elaboração de um dos mais significativos
Mas como fazê-la?
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instrumentos de ensino-aprendizagem: o Projeto Político Pedagógico (PPP).
Instrumento tido como a identidade da escola, situado num processo histórico
que alicerça a autonomia que não é dada, mas construída, o PPP legitima o
comprometimento profissional e ético da comunidade escolar envolvida neste
processo, que para sua realização se faz necessário ter uma gestão escolar
que acredite na força conjunta dos seus integrantes em busca de um caminho
com paradigmas que fortaleçam as práticas pedagógicas capazes de cumprir
as responsabilidades de educadores em formar mentes e corações, apagando
da memória da escola o ranço que permeou por muito tempo o campo
educacional autoritário e alienante. Época em que a liderança escolar era
entendida, conforme explicita LÜCK (2000,p.13):
[...] o de guardião ou gerente de operações estabelecidas em órgãos centrais. Seu trabalho constituía-se, sobretudo, em repassar informações, controlar, supervisionar, dirigir o fazer escolar, de acordo com as normas propostas pelo sistema de ensino ou pela
mantenedora.
Felizmente, mudanças acontecem e começamos a vislumbrar um novo
papel em que, novamente as palavras de LÜCK (2000, p.160) ratifica que:
[...] um diretor de escola é um gestor da dinâmica social, um mobilizador e orquestrador de atores, um articulador da diversidade para dar-lhe unidade e consistência, na construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de seus alunos.
Ser diretor/gestor dentro do novo contexto educacional é fazer uma
escola com perspectivas de um horizonte de melhoramentos contínuos,
integrando teoria e conhecimento que se originam da própria prática, é unir
ética com eficácia, é manter vivo o propósito moral em oferecer uma
aprendizagem para todos.
As atuais tendências no campo da gestão escolar apontam a figura do
diretor como um líder com grandes responsabilidades e novas atitudes e
estratégias, estas focadas numa liderança participativa, a qual constitui “a
chave para liberar a riqueza do ser humano que está presa a aspectos
burocráticos e limitados dentro do sistema de ensino”. (Lück, 2007). Portanto,
podemos afirmar que o diretor não é um administrador como outro qualquer.
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Ele é um líder. Uma presença a cada instante, a cada momento, estimulando a
atividade escolar, animando a gente da escola. “Sua principal tarefa é fazer a
comunidade escolar ser o que ela deve ser: uma comunidade de ensino e
aprendizado.” (Prado, 1984)
Dessa forma, o exercício da liderança tem múltiplas dimensões, entre
elas propor ações que não apenas viabilizem, mas também incentivem práticas
participativas dentro da escola. LIBÂNEO (2004, p.10) assegura este estudo ao
explicitar que:
De fato, as pesquisas que buscam saber que características de uma escola fazem diferença no que diz respeito ao nível da qualidade de ensino, e que ganharam reputação na comunidade, mostram que o modo como a escola funciona – suas práticas de organização e gestão – faz diferença em relação aos resultados escolares dos alunos. As pesquisas têm destacado, entre as características organizacionais, a capacidade de liderança dos dirigentes, o clima de trabalho da escola...entre outros recursos necessários ao ensino e à aprendizagem.
Gerir uma escola é assegurar uma atuação sistêmica, de maneira a
transpor dicotomias encontradas no cotidiano escolar na busca de viabilizar
ações coletivas compromissadas com a transformação social dentro de um
processo democrático e participativo. Dessa empreitada, nada fácil, não deve
ser de responsabilidade apenas do diretor, mas este permitir que estudantes,
docentes e a comunidade escolar se tornem atores e atrizes de fato, da
construção da gestão escolar de forma que esta se traduza em uma
democracia com a real intenção de colocar no centro dessa estrutura a
participação cidadã, onde todos sejam gestores no processo dialógico escola-
sociedade. “Participação é sempre um ato de fé na potencialidade do outro”.
(Demo, 1996, p. 60)
14
2. DIVERSOS ASPECTOS DA MOTIVAÇÃO DOCENTE
As emoções cumprem uma função biológica preparando o indivíduo
para sua defesa através de importantes mudanças da fisiologia do organismo e
desencadeando comportamentos adequados que servem para (re) estabelecer
o equilíbrio do organismo. Quando os estados emocionais são desagradáveis o
organismo tenta reduzi-los com um mecanismo mais ou menos equivalente ao
de redução do impulso. Por isso alguns estudiosos consideram as emoções
como fatores motivantes.
Partindo desta premissa, o quadro emocional em que se encontram
muitos profissionais da educação, principalmente os docentes está fadado ao
desequilíbrio emocional, uma vez que este vem sendo bombardeado por
inúmeras situações de conflitos que nos levam a refletir sobre esse mal-estar
que têm como conseqüências efeitos negativos sobre o processo de ensino-
aprendizagem.
Frente a esta situação, é preciso tentar teorizar as questões em que as
várias faces da crise educacional se manifesta para com base nelas, procurar
entender as deficiências, angústias e inquietudes do professor e indicar alguns
aspectos pretendidos para uma prática pedagógica docente de qualidade.
O professor hoje apresenta uma situação que se reflete em sua
autoimagem um estado penoso de um profissional fragmentado por ter que
atuar em diversas escolas, ser mal pago, tendo limitada sua relação com a
escola, que fica restrita à sala de aula. Isso leva-o “a seguir por atalhos, a
economizar esforços, a realizar apenas o essencial para cumprir a tarefa que
tem entre as mãos.” ( Apple & Jungck 1990,p.156 apud Franchi,1995, p. 29).
Tudo isso, aliado à impotência frente aos problemas dos mais variados motivos
– evasão, desinteresse, violência, indisciplina, dificuldades de acompanhar as
novas tendências do currículo, geram uma insatisfação que incidem em críticas
voltadas aos alunos. Segundo estudos a esse respeito, FRANCHI, 1995, p. 38
nos coloca que:
15
(...) os docentes falam cada vez menos do “prazer de ensinar” e relatam inúmeras dificuldades que encontram dentro da sala de aula. Os que insistem em continuar no magistério e, a partir da experiência docente, tentam reinventar e reelaborar seus valores e suas atitudes, conferindo-lhes novos significados, fazem-no com dificuldade e ansiedade.
Infelizmente, as consequências de toda essa situação geram em sala de
aula, de forma negativa, um processo marcado por desencantos e
desestímulos por ambos os protagonistas deste ambiente: professor e alunos.
Na figura do professor, percebe-se um verdadeiro conflito de identidade, em
que sua autoestima também é negativa, pois é alvo de desvalorização perante
uma sociedade que cobra dele uma práxis inovadora, condizente com as
transformações dos novos tempos, e o professor se vê como uma vítima desta
sociedade marcada por infinitos problemas sociais, os quais a escola não
consegue superar.
Aos problemas que têm os professores se incorpora um novo elemento,
a rápida mudança social que rompe com a presença dos modelos educativos
que envolvem diferentes concepções de educação, do homem e de uma
mesma sociedade do futuro que se pretende construir. Este cenário complexo,
com o qual se depara o professor, propõe um desafio particular para que este
busque superar o descompasso que se afigura no ambiente escolar e afeta de
maneira muito prejudicial o desenvolvimento das atividades docentes. Com
propriedade, CODO (2006, p. 60) afirma que:
Atualmente os educadores estão experimentando uma crise de identidade. De forma mais ou menos direta, o conjunto de fatores que ingressam na configuração dessa crise aponta a um questionamento do saber e saber-fazer dos educadores, da sua competência para lidar com as exigências crescentes do mundo atual em matéria educativa e com uma realidade social cada vez mais deteriorada que impõe impasses constantes à atividade dos profissionais.
Investigações a respeito do mal-estar docente informam dados
assustadores sobre a saúde do profissional em educação que se caracteriza
pelo acúmulo de sintomas que resultam numa patologia comum nos nossos
dias, mas que têm sérios efeitos sobre a capacidade psíquica dos professores.
16
O stress, afirmam estudiosos, é fator inevitável da vida, semelhante à fome e à
sede; sendo assim todos temos momentos de stress, porém o problema surge
quando esta tensão produzida no organismo diante um estímulo é negativa e
causa agonia e tristeza na pessoa. “A obviedade de constatar que o stress é o
mal de nossos tempos faz com que ele seja visto sem maiores considerações”
(Lipp,2002,p.35) e a vida agitada, as exigências de um educador
“multifuncional”, resulta, caso este não esteja bem estruturado, num mal-estar
que se traduz a um estado de desânimo, num profundo sentimento de
frustração, de insatisfação, conhecidos por Síndrome de Burnout. Sobre esse
fenômeno fazemos algumas considerações observando uma das fases em que
se observa maior incidência, conforme evidencia LIPP (2002, p.66):
Realismo: o professor percebe que as expectativas iniciais foram irrealistas; a atividade de ensino não satisfaz todas as necessidades; as recompensas e o reconhecimento são escassos e a desilusão aumenta; o professor trabalha ainda mais e assim se torna cada vez mais cansado e frustrado, começando a questionar sua competência e suas habilidades para lecionar e perdendo a autoconfiança.
Contudo o professor, considerado a mola-mestra de todo processo
educativo, referências para aqueles que, mais do nunca, precisam de um norte
para suas vidas - os alunos -, precisa aprender a lidar com situações
conflitantes, saiba controlar o stress ocupacional de modo eficaz e moderno.
Assim, é necessária a presença de gestores escolares que tenham como
objetivo propor uma liderança capaz de promover ações direcionadas a formas
de intervenção para a redução desse estado de desânimo, acreditando em
uma educação construída sob um projeto que vislumbra a socialização do
poder pela prática da participação coletiva, que é o princípio básico de uma
gestão democrática. E para essa gestão se concretizar vai precisar de
professores dispostos, dinâmicos, comprometidos, incitados em participar de
forma plena. É preciso que todos os envolvidos assumam e compartilhem
responsabilidades nas diversas atuações da escola. Todos se sintam
protagonistas tendo a liberdade de intervir, propor sugestões, soluções para os
múltiplos problemas/desafios que surgem no cotidiano escolar e que se não
resolvidos afetarão drasticamente o processo ensino-aprendizagem e o maior
prejudicado neste contexto será o aluno.
17
Martinelli (1996, p.57) ressalta que “a personalidade e a atitude
do professor são de suma importância para suscitar o interesse, a atenção e a
concentração dos alunos”. Dessa forma, fortalecer o ânimo dos professores
refletirá numa interação capaz de promover relacionamentos mais humanos,
com objetivos democráticos, tendo lado a lado a amizade, a convivência e o
respeito ao ser humano.
Apostar no “capital humano” é fundamental em toda instituição
que apresenta um conjunto de concepções que englobam o conhecimento, a
relação entre as pessoas, a sociedade e a natureza, pois o ser humano é a
razão da existência de qualquer empreendimento.
O viver um para o outro não está mais sendo aplicado no
nosso dia a dia. Neste cenário perturbado, repleto de emoções adversas, Paulo
Freire (1996) nos leva a refletir ao questionar “como ser educador, se não
desenvolvo em mim a indispensável amorosidade aos educandos com quem
me comprometo e ao próprio processo formador de que sou parte?”
HENGEMÜHLE (2004, p.166) complementa esta reflexão ao mencionar a falta
de perspectiva do professor frente às circunstâncias desfavoráveis do meio
escolar:
Quando perdemos a utopia, a vida perde a graça, e quando a vida do educador perde a graça, não é só ele, educador, que perde o sentido, mas muitos, principalmente as crianças e os jovens que estão desabrochando para a vida.
Dessa forma, a motivação gerada pelas mudanças comportamentais,
cognitivas e ambientais irá repercutir favoravelmente proporcionando um
ambiente escolar saudável e consequentemente mais agradável e produtivo,
comprovando que uma personalidade entusiasta, contagiante, motivadora,
efetivamente educa. Com propriedade, LÜCK (2002, p.28) afirma que:
O professor é a figura central na formação dos educandos. É ele quem forma no aluno o gosto ou o desgosto pela escola, a motivação ou não pelos estudos; o entendimento da significância ou insignificância das áreas e objetos de estudo; a percepção de sua capacidade de aprender, de seu valor como pessoa.
18
Dessa forma, afastar o professor de práticas alienadas e alienantes,
trabalhar para o resgate da dignidade deste profissional, além de propiciar um
ambiente harmônico, ausente de carência afetiva, requer um forte
compromisso que a gestão escolar democrática precisa empreender num clima
marcado pelo bom entrosamento, participação e incentivo a ideias novas.
“Acreditamos haver motivos muito fortes para lutar pela instalação e construção
desse tipo de gestão nas escolas” (Codo,2006, p. 337)
Pensar a motivação do ser humano envolve pensar em possibilidades
que o façam sentir-se valorizado, respeitado, amado. Nestas perspectivas de
uma educação pautada nos laços afetivos fortalecidos, o entusiasmo, o amor à
profissão e muita motivação farão a diferença. “Quando as relações sociais
falham,quando a confiança se for, o burnout virá.” (Codo, 2006, p.388)
Ninguém dúvida que magistério é missão e profissão. Profissão é ato de
professar, acreditar. Ser trabalhador da educação exige esse espírito, essa
determinação: não é um fazer repetitivo, onde acontece “todo dia tudo sempre
igual”, numa rotina; mas num ciclo de bem-estar em que a vida escolar seja
alma e coração do cotidiano, com atitudes libertárias, num envolvimento de
confiança e amizade. Educar é motivar, é amanhecer com energias renovadas,
é estar satisfeito para propor ações que levem às transformações que tanto
sonhamos no processo de ensino-aprendizagem. ALENCAR (2001, p. 116):
Educar é humanizar, socializar valores de justiça, respeito e solidariedade. Educar para o repartir é a essência das Matemáticas, ensinar para a comunicação amorosa é o objetivo das Linguas, transmitir o acumulado na observação da biosfera para melhorar a qualidade de vida das pessoas é o único sentido das Ciências, ser protagonista do processo social é a razão maior do estudo da História, entender o espaço vivido é da natureza da Geografia, reconhecer o corpo como matéria iluminada – nossa singular expressão! – e capaz de generoso afeto é o exercício fundamental da Educação Física.
Assim percebemos que:
19
3. DESENVOLVIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL
O crescimento interno das instituições escolares, sua complexidade
administrativa e pedagógica, a escassez de recursos destinados à educação, e
acima de tudo, as condições de trabalho dos professores vêm provocando um
grande mal-estar que atinge pessoal e profissionalmente o/as nosso/as
professores/as.
Em várias literaturas a afirmação de que a Educação é reflexo do mundo
em que vivemos, é uma constante. Da antiguidade, mais especificamente na
Grécia, berço da Pedagogia, onde a educação prezava por formar guerreiros;
até os dias atuais, ela perpassou por muitos contextos históricos, políticos,
econômicos e ideológicos que a determinaram, ora positiva, ora
negativamente.
Apesar de se encontrar numa situação melhor que outrora, os bons
ventos da democracia sopraram pelo ambiente escolar abrindo espaço para os
seus integrantes terem maiores oportunidades de decisões. Porém, tais ventos
vieram acompanhados de fortes rajadas de situações agravantes que permitem
declarar que estamos caminhando para a “deseducação”; vê-se instaurar uma
crise sobre as práticas pedagógicas e consequentemente sobre a
20
aprendizagem. Nesse sentido, Dr Enrique Miguel Del Percio ratifica esse
pensar em sua apresentação no XVII Encontro Internacional de Educação e o
Mercosul: “Alumnos sin interés por aprender y educadores frustrados
constituyen una realidad presente en todos los estratos sociales de todos los
países de occidente.” Assim, o que presenciamos no ambiente escolar são
profissionais se confrontando com a necessidade de reverem seus papéis,
suas práticas, para desfazerem-se de meros instrumentalizadores e
mostrarem-se legítimos no papel de detentores de algo prestigioso: o saber.
YVES DE LA TAILLE (apud AQUINO 1999, p.25) faz uma importante
observação:
Infelizmente, embora o século XX tenha dado saltos impressionantes na área dos conhecimentos, tem-se a impressão de que o saber perdeu muito de seu prestígio. O que penetra o dia a dia das pessoas é a informação, não o conhecimento.
Diante da constatação do sucateamento do saber hoje transmitido na
escola, torna-se primordial compreender a complexa questão dos professores.
É de todo urgente, repensar as práticas pedagógicas desenvolvidas
reconhecendo como desafio a melhoria da qualidade em educação. Em busca
dessa qualidade muitos estudos, questionamentos, ações foram e são
propostos, contudo, não convém acalentar ilusões quanto à possibilidade de se
chegar a uma fórmula que dê a resposta que satisfaça a todos. Não há uma
receita que possa combinar os ingredientes prescritos e esperar os resultados.
Ao professor, em pleno século XXI, imerso neste universo turbulento de
informações cada vez mais velozes, cabe atualizar-se, tornar-se apto para
atender às exigências que as mudanças provocam, mostrar-se capaz,
desmistificar um cabuloso pensamento: “Quem sabe faz, quem não sabe
ensina”. É uma situação que acontece há anos, trazendo como consequências
profissionais cumpridores de ordens, programas, pedagogias, currículos,
ausentes em seu papel maior, o de criar conhecimento. Sobre isso, ALENCAR
(2001, pp.107, 108) nos diz:
Percebi uma enorme apatia por parte dos professores com quem conversei. Falta-lhes a entrega a um projeto pedagógico onde reconheçam a importância do diálogo educacional. [...] Não se
21
percebem como participantes da história dos homens. Não conhecem sua função social. Não se reconhecem no que fazem.
Sabemos que além do que temos relatado, há muitos outros fatores que
interagem para a qualidade na educação. Um deles é identificar a resposta
para a pergunta:
De início nos parece muito fácil respondê-la, quando pertinente a outras
profissões, o que não é o caso da profissão de docente. As razões são muitas
e variadas para uma resposta adequada, uma das quais tem a ver com o
contexto específico no qual se desenvolve esta profissão: a escola. Ambiente
marcado por situações turbulentas, conflitos e pressões, composto por diversos
atores, a escola se constitui num espaço em que o professor deve responder a
várias exigências profissionais direcionadas tanto à formação de pessoas,
quanto em estabelecer uma relação profunda com os saberes que confluem
em seu próprio saber constituindo-se como um profissional com conhecimentos
e competências que permitam ao docente exercer adequadamente sua
profissão. Dessa forma, é importante o professor observar a sua identidade
profissional, a sua profissionalização e o seu profissionalismo à luz das
afirmações feitas por LIBÂNEO, (2004, p.75):
O professor é um profissional cuja atividade principal é o ensino. Sua formação inicial visa a propiciar os conhecimentos, as habilidades e as atitudes requeridas para levar adiante o processo de ensino e
aprendizagem nas escolas. Esse conjunto de requisitos profissionais
que tornam alguém um professor, uma professora, é denominado profissionalidade. A conquista da profissionalidade supõe a profissionalização e o profissionalismo. A profissionalização refere-se às condições ideais que venham a garantir o exercício profissional de qualidade. [...] O profissionalismo refere-se ao desempenho competente e compromissado dos deveres e responsabilidades que constituem a especificidade de ser professor e ao comportamento ético e político expresso nas atitudes relacionadas à prática profissional.
Em que consiste o trabalho do
professor e qual é a sua tarefa?
?específica?”,
22
Como o principal anseio e objetivo das escolas é permitir uma
aprendizagem significativa aos alunos, logo suas necessidades devem ser a
principal preocupação. Para tanto, muitos estudos estão ancorados na temática
do saber dos professores, que constitui o pilar de sustentação da escola e que
a qualificação teórica fortalece sua prática pedagógica, pois o ofício do
professor não pode ser reduzido a habilidades e destrezas técnicas, ou seja,
ao saber fazer. Se apenas isso lhe bastasse para garantir sua competência
profissional, não haveria a necessidade de uma preparação em nível
universitária. Nesse sentido, LIBÂNEO (2004, p. 35) deixa bem explícito:
A internalização de saberes e competências profissionais supõe conhecimentos científicos e uma valorização de elementos criativos voltados para a arte do ensino, dentro de uma perspectiva crítico-reflexiva. A docência não estará reduzida a uma atividade meramente técnica, mas também intelectual, baseada na compreensão da prática e na transformação dessa prática.
Para o desenvolvimento de seu trabalho docente é essencial a formação
e atualização pessoal e profissional do professor de maneira permanente, já
que não se supõe formar outros se não houver qualidade em sua própria
formação. O profissional da educação deve compreender os elementos que
intervém no processo ensino-aprendizagem a fim de usá-los de forma
consistente e coerente, entender que a prática docente é uma atividade social,
em que não é suficiente ter conhecimentos práticos, teóricos e até mesmo
empíricos, mas integrá-los interdisciplinariamente. Desta forma poderá
interpretar e reconstruir os conteúdos curriculares criticamente de modo a
romper a dominação através de uma relação profícua com seus alunos,
oferecendo-lhes experiências formativas que possibilitam crescer como
pessoas justas, éticas e emancipadas. Assim a necessidade e importância de
uma gestão escolar empenhada na construção da identidade do professor,
entendendo a organização escolar como um espaço de trabalho reflexivo,
investigativo e participativo significa dizer a respeito desta organização,
segundo Libâneo, (2004, pp.232, 233) “que ela é construída pelos seus
próprios membros que tanto podem criar um espaço de trabalho produtivo e
23
até prazeroso ou um espaço hostil e estressante.” Compreendemos então que
o professor deixa de ser técnico e passa a ser um profissional consciente de
suas necessidades subjetivas e objetivas. Sua competência é percebida, não
mais pela capacidade de lecionar, mas pelas oportunidades de construir sua
práxis mais humanizadora, promotora do bem viver, enfim, educadora. Educar
na língua alemã tem o sentido de cuidar, acolher, e em nossa sociedade que
predomina uma violência em todos os sentidos, o ato de educar vem perdendo
espaço para atitudes que não condizem com o perfil do profissional da
Educação. Como nos diz ALENCAR, (2001, p. 100):
Educar é ensinar a olhar para fora e para dentro, superando o divórcio, típico da nossa sociedade, entre objetividade e subjetividade. É aprender além: saber que é tão verdade que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta quanto que o que reduz a distância entre dois seres humanos são o riso e a lágrima.
Hoje temos um quadro educativo em crise, em que percebemos
professores envoltos a tantas concepções, tentando acompanhar esta ou
aquela pedagogia, porém sem um respaldo teórico sobre sua prática, alheio
aos interesses estratégicos e políticos que embasam sua categoria
profissional. PARO, (2008, p.37) assim defende expondo que:
O professor, entretanto, pela natureza do trabalho que exerce e pelos fins a que serve a educação, precisa avançar mais, atingindo um nível de consciência e de prática política que contemplem sua articulação com os interesses dos usuários de seus serviços.
É inegável que a realidade apresentada é fruto de fatores históricos,
políticos, econômicos e ideológicos que muito determinaram a queda do
prestígio dos professores do ensino público. Porém, novos paradigmas
precisam fazer parte do contexto educacional. As crises existem, existiram e
existirão, cabe a cada profissional, num trabalho coletivo saber administrá-las,
promovendo reconstruções e avanços significativos para que de fato a
universalização do saber, tão desejável do ponto de vista social, no sentido da
melhoria da qualidade de vida da população se concretize num processo
democrático na construção dos saberes. É preciso construir uma pedagogia
social de cunho crítico que suponha o saber como consciência (Libâneo, 2005).
24
O homem é consciente e, na medida em que conhece, tende a se
comprometer com a própria realidade. Ensinar é uma especificidade humana
que requer uma responsabilidade ética no exercício da tarefa docente, como
algo indispensável à relação educativa. E esse saber é fator consolidante de
sua identidade, é quem embasa a prática do professor, lhe dá suporte na
construção de sua autonomia profissional, fazendo da escola um espaço
significativo. A esse respeito Libâneo (2004, p.80) enfatiza o pensamento de
Guimaraes (1999, p.5):
Enquanto agirmos em nossas escolas contentando-nos com níveis mínimos de profissionalização (qualificação mínima, descompromisso com atualização pedagógica, auto-desqualificação...) e profissionalismo (insensibilidade ao insucesso escolar dos alunos, má qualidade das experiências de aprendizagem dos alunos, rotinização e desencanto com o trabalho...) a luta pela profissionalidade se esvazia porque os professores continuarão pensando que, como está, está bom.
Portanto o saber pedagógico constitui um conjunto de conhecimentos
com princípios teóricos e práticos que configuram um saber relacionado com a
prática do ensino e a recontextualização da educação de uma sociedade em
permanentes transformações em que o “participar ativamente da tarefa
educacional é fazer todo dia uma pequena revolução.” (Alencar, 2001, p.108)
O professor vive tempos de definição, onde sua importante lição é
apresentar a “matéria fina chamada vida, que é também escola integral e
permanente, onde ninguém quer tirar férias.” (Alencar, 2001, p.116)
25
Após termos feito um breve estudo da literatura a respeito dos
fundamentos da democratização da estrutura escolar verificamos que o
conceito de gestão escolar democrático-participativa não é um simples
processo de teorias e práticas administrativas na esfera educacional. Trata-se
bem mais de uma junção de necessidades, aspirações e fatos surgidos a partir
de uma abertura democrática no país e que exige ser realizada no ambiente
educacional.
A resposta a essa exigência requer um modelo de gestão educacional
também democrática, autônoma, em que é imprescindível a participação de
todos os envolvidos no espaço escolar. Somente a institucionalização dos
conceitos de democracia participativa não é garantia suficiente para que ela se
concretize. É preciso que se trabalhe por uma gestão de respeito e
compromisso, que se traduza em uma gestão escolar democrática em que
todos sejam protagonistas do processo educativo, para que as palavras
gestão, democracia e participação não sejam simples palavras vazias.
Com os estudos realizados, a intenção é promover um modelo de
gestão em que se fortaleçam as ações compartilhadas entre as instâncias
colegiadas e o envolvimento de pais, professores, funcionários e alunos numa
perspectiva de transformações inovadoras que primem por uma educação de
qualidade. Motivada por ações que possibilitem enriquecer, aprimorar as
práticas pedagógicas, a proposta a seguir é apresentar sugestões embasadas
em materiais que darão suporte ao trabalho de implementação junto ao corpo
docente da Escola Estadual Afrânio Peixoto – Ensino Fundamental. 2
Dessa forma a possibilidade de fortalecer o espírito escolar com
propostas empenhadas na valorização do docente, bem como daqueles que
são o nosso maior objetivo: os alunos, nos motiva ao desafio de implementar
2 Estudos serão realizados com as sugestões de vídeos e artigos constantes nos anexos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
26
no ambiente escolar tão complexo, práticas participativas de caráter coletivo
sustentadas em princípios democráticos que irão contribuir com o sucesso do
professor em sua atuação em sala de aula, levando-os a reflexões e
discussões que poderão redimensionar sua valiosa ferramenta de trabalho: o
conhecimento.
“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos
alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos
sempre.”
Paulo Freire
27
ANEXO 1
Vídeos
1.Título: A gestão democrática do projeto político-pedagógico
Tema: A reflexão sobre a prática cotidiana: caminho para a formação
contínua e para o fortalecimento da escola enquanto espaço coletivo.
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_act
ion=&co_obra=50671
2. Título: Vida e trabalho: articulando a formação contínua e o
desenvolvimento profissional de professores.
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_act
ion=&co_obra=51488
3. Título: Saúde do Professor
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_act
ion=&co_obra=157703
4. Título: O papel do professor
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_act
ion=&co_obra=20883
5.Título: O saber e o sabor
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_
action=&co_obra=51336
6. Título: A função da escola por José Carlos Libâneo
http://www.youtube.com/watch?v=6kk__FXVwC0
ANEXOS
28
7. Trecho do filme: O Clube do Imperador – tema- O papel do professor
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/genre.php?genrei
d=158&letter=&start=30
ANEXO 2
Artigos - Livros
1. A educação e os educadores do futuro -Eduardo Benzatti
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000335.pdf
2. Reflexões sobre a formação, os saberes e as práticas dos
professores no contexto educacional do século XXI
http://www.webartigos.com/articles/23166/1/reflexoes-sobre-a-formacao-
os-saberes-e-as-praticas-dos-professores-no-contexto-educacional-do-
seculo-XXI/pagina1.html
3. E-book – O Poder da Motivação - Rogério Martins
http://www.via6.com/topico/312251/ganhe-o-e-book-o-poder-da-
motivacao-gratis
4. Organização e Gestão da Escola – capítulo IV – A Identidade
Profissional dos Professores e o Desenvolvimento de
Competências – José Carlos Libâneo
29
ALENCAR, Chico; GENTILLI, Pablo. Educar na esperança em tempos de
desencanto. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2001.
CARBONELL, Jaume. A aventura de inovar: a mudança na escola. Trad.
Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.
CODO, Wanderley ( Coord.). Educação: carinho e trabalho. 4.ed. Petrópolis,
RJ: Vozes/ Brasília: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação:
Universidade de Brasília. Laboratório de Psicologia do Trabalho, 2006.
DEMO, Pedro. Participação é conquista. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1996.
FRANCHI, Eglê Pontes (Org.). A causa dos professores. Campinas, SP:
Papirus,1995.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
_____________.Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros
escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
FORTUNA, Maria Lúcia de Abrantes. Gestão democrática na escola pública:
uma leitura sobre seus condicionantes subjetivos. In: BASTOS, João Baptista
(Org.). Gestão democrática. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A: SEPE, 2002.
HENGEMÜHLE, Adelar. Gestão de ensino e práticas pedagógicas.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
LA TAILLE, Yves de. Autoridade na escola. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.).
Autoridade e autonomia na escola: alternativas teóricas e práticas. 3.ed.
São Paulo: Summus, 1999.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola – teoria e prática.
5.ed. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.
REFERÊNCIAS
30
__________________. Democratização da escola pública – a pedagogia
crítico-social dos conteúdos. 20.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
LÜCK, Heloísa (et al.). A escola participativa – o trabalho do gestor
escolar. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
___________________. Administração, supervisão e orientação
educacional. 19.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002
______________________(Org.). Em Aberto: Gestão escolar e formação de
gestores. V.17, n.72. Brasília:INEP, 2000.
MEIRA, Sonia Regina. Implicações do stress de professores e alunos no
processo de alfabetização. REINHOLD, Helga H. O burnout. In: LIPP, Marilda
Emmanuel Novaes (Org.). O stress do professor. 5. Ed. Campinas,SP:
Papirus, 2002
MARTINELI, Marilu. Aulas de transformação: o programa de educação em
valores humanos. São Paulo: Petrópolis, 1996. (Série educação para a paz).
Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/43076/1/valores humanos
o princípio de uma educação de excelência > Acesso em: 17 dez.2010.
PARO, Vitor Henrique. Administração escolar – introdução crítica. 6.ed.
São Paulo: Cortez, 1993.
PRADO, Dom Lourenço de Almeida. Educação para a democracia. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
WITTMANN, Lauro Carlos. A prática da gestão democrática no ambiente
escolar. Curitiba: Ibpex, 2010.
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