Ficha Catalográfica Produção Didático Pedagógica Professor PDE 2010
TÍTULO: O GÊNERO DISCURSIVO FÁBULA NA PRÁTICA DA SALA DE AULA
Autor Maria Eunice Alves de Oliveira
Escola de Atuação Colégio Estadual Barbosa Ferraz – Ensino fundamental e Médio
Município da escola Andirá
Núcleo Regional de Educação Jacarezinho
Orientador Patrícia Cristina de Oliveira Duarte
Instituição de Ensino Superior UENP
Disciplina/Área (entrada no PDE) Língua Portuguesa
Produção Didático-pedagógica Unidade Didática
Relação Interdisciplina Arte
Público Alvo Alunos da 5ª Série
Localização Colégio Estadual Barbosa ferraz – EFM situado na Travessa Nestor Carlos Cunha nº62 Andirá - Pr
Apresentação: Os resultados negativos de vários exames nacionais como o SAEB e o IDEB, entre outros, comprovam a ineficiência do ensino de leitura na escola. Com a evolução da tecnologia cada vez mais é exigida uma visão ampla e globalizada no mundo moderno, no qual o hábito da leitura é indispensável tanto para o êxito na vida escolar, como nas relações de trabalho e na vida pessoal. Segundo as DECs (2008), o ensino da leitura tem por objetivo a formação e desenvolvimento de um leitor crítico, capaz de realizar uma leitura consciente, no sentido de identificar não apenas as informações presentes na superfície textual, mas, principalmente, as implícitas. Sendo assim, o presente projeto propõe trabalhar a leitura, via gênero discursivo fábula, nas quintas séries do ensino fundamental, por ser o início de um ciclo importante na vida do estudante, constituindo-se, assim, um momento singular para trabalhar a formação do leitor. Quanto ao gênero, a escolha está relacionada à ampla aceitação da fábula por parte das crianças. O projeto fundamenta-se na teoria dos gêneros discursivos proposta por Bakhtin (2003), em consonância com a metodologia de Gasparin (2009), e busca relacionar as concepções de linguagem, as teorias que lhe são subjacentes e a prática do professor.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Leitura; Gênero Discursivo; Fábula; Transposição Didática
O GÊNERO DISCURSIVO FÁBULA NA PRÁTICA DA SALA DE AULA
MARIA EUNICE ALVES DE OLIVEIRA
Trabalho apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – 2010, em cumprimento à segunda etapa do referido programa. Orientadora: Professora Patricia Cristina de Oliveira Duarte
Jacarezinho – Paraná
2010
SUMÁRIO
UMA BREVE APRESENTAÇÃO.......................................................................... 03
PLANO DE TRABALHO DOCENTE PARA O GÊNERO FÁBULA....................... 04
PRÁTICA SOCIAL INICIAL ................................................................................. 04
PROBLEMATIZAÇÃO.......................................................................................... 08
INSTRUMENTALIZAÇÃO .................................................................................... 10
CATARSE ............................................................................................................ 22
PRÁTICA SOCIAL FINAL..................................................................................... 24
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 25
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UMA BREVE APRESENTAÇÃO
Formar um leitor competente supõe formar alguém que lê não apenas as
informações explícitas na superfície textual, mas, sobretudo, alguém que estabeleça
relações entre o texto que lê com outros textos já lidos. Alguém que saiba que vários
sentidos podem ser atribuídos a um mesmo texto. Um leitor competente só pode
constituir-se mediante uma prática constante de leitura. Por isso, as práticas
pedagógicas desenvolvidas em sala de aula devem propiciar condições para que o
aluno entre em contato com os mais diversos tipos de gêneros.
Com a finalidade de apresentar contribuições ao ensino-aprendizagem de
língua portuguesa, nesta unidade didática, elaboramos uma proposta pedagógica, a
partir da análise realizada sobre o gênero discursivo fábula. Dessa forma, propomos
algumas sugestões didáticas, relativas ao gênero em pauta, a serem trabalhadas
nas quintas séries do Ensino Fundamental.
As atividades foram elaboradas sob a perspectiva da teoria enunciativa
bakhtiniana junto à transposição didática versada por Gasparin (2009). A estrutura
de base do Plano de Trabalho Docente (PTD) utilizado na elaboração deste material
encontra-se disponível, em forma de quadro explicativo, no Anexo I, do livro Uma
didática para a pedagogia histórico-crítica , de João Luiz Gasparin.
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PLANO DE TRABALHO DOCENTE PARA O PLANO DE TRABALHO DOCENTE PARA O PLANO DE TRABALHO DOCENTE PARA O PLANO DE TRABALHO DOCENTE PARA O GÊNERO FÁBULAGÊNERO FÁBULAGÊNERO FÁBULAGÊNERO FÁBULA
Caro(a) professor(a):
As sugestões didáticas, aqui veiculadas, não se constituem modelos ou receitas,
mas uma possibilidade de efetivo trabalho de leitura com o gênero fábula. Logo,
cabe a você, ao fazer uso das atividades, realizar as adaptações necessárias para
adequar a proposta aos seus objetivos, motivações e, principalmente, às
especificidades de seus alunos.
PRÁTICA SOCIAL INICIAL
ETAPA I
ANÚNCIO DOS CONTEÚDOS • Preparando a abordagem do assunto 1) Você já deve ter lido ou ouvido histórias com animais que falam, sentem inveja, ciúmes, preguiça, e tantas outras características dos seres humanos, não é? Junto com seus colegas, tente lembrar-se de alguma, registrando-a nos espaços abaixo. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
DICAS PARA O PROFESSOR ORGANIZAR A PRÁTICA SOCIAL INICIAL
• Listagem do conteúdo e objetivos; • Título da unidade: objetivo geral; • Tópicos do conteúdo: objetivo específico para cada item; • Vivência do conteúdo: o que o aluno já sabe, o que gostaria de
saber mais.
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2) Agora, relate uma das fábulas lembradas. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ • Depois de fazer esta pequena contextualização, apresentar o conteúdo: - O gênero fábula. - A organização textual das fábulas. - Marcas de linguagem (linguístico-enunciativas), que contribuem para a construção de efeitos de sentido do texto.
VIVÊNCIA COTIDIANA DOS CONTEÚDOS:
1) Abaixo seguem trechos de diferentes textos, sua tarefa é assinalar aqueles que
você acha que pertencem a fábulas.
( ) O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo
acompanhado.
( ) Era o retrato de uma jovem. Mas parecia uma adolescente.
( ) Estava o cordeiro a beber água num córrego, quando apareceu um lobo
esfomeado, de horrendo aspecto.
( ) Certo dia, a mãe de uma menina mandou que ela levasse um pouco de pão e
de leite para a avó.
( ) Coruja e águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.
( ) Criar animais em cativeiro não é a única maneira de preservar espécies em
extinção.
NOTA: Após relembrarem as histórias, perguntar aos alunos se eles sabem a qual gênero pertencem as histórias.
NOTA: Neste ponto, vamos descobrir o que o aluno já sabe e o que ele gostaria de aprender. É interessante
apresentar uma atividade oral para resgatar os conhecimentos prévios do aluno.
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( ) Um cordeiro matava a sede nas águas de um riacho, quando avistou um lobo
faminto.
2) Nas fábulas, que tipo de assunto é narrado?
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3) As fábulas são histórias curtas ou longas?
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4) O que geralmente vem no final das fábulas?
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5) Leia com atenção os textos abaixo:
Texto 1:
A cigarra e as formigas
No inverno as formigas estavam fazendo secar o grão molhado, quando uma
cigarra, faminta, lhes pediu algo para comer. As formigas lhe disseram: “Por que, no
verão, não reservaste também o teu alimento?”. A cigarra respondeu: “Não tinha
tempo, pois cantava melodiosamente”. E a as formigas, rindo, disseram: “Pois bem,
se cantavas no verão, dança agora no inverno”.
Moral da história: Não se deve negligenciar em nenhum trabalho, para evitar
tristeza e perigos.
Esopo: fábulas completas. Tradução de Neide Smolka. São Paulo, Moderna, 1994.
Texto 2:
A escrita e a leitura
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Antes do surgimento da escrita, as histórias eram transmitidas exclusivamente
de forma oral, de pessoa para pessoa, de geração a geração. O ser humano
utilizava a fala e os gestos para contar uma história.
Com o advento da escrita, ele passou a utilizar um suporte, isto é, um meio
material onde registrava o que desejava expressar. Inicialmente, usou as paredes
das cavernas, as pedras e os tabletes de argila; depois passou pelo papiro e pelo
pergaminho, chegando ao papel, tal qual conhecemos hoje. As histórias podiam
então ser lidas!
Patrícia Moreli Teixeira. Ateliê da Palavra-Leitura e Produção de Texto, Quinteto
Editorial, 1998.
Texto 3:
A raposa e as uvas
Morta de fome, uma raposa foi até um vinhedo sabendo que ia encontrar
muita uva. A safra havia sido excelente. Ao ver a parreira carregada de cachos
enormes, a raposa lambeu os beiços. Só que sua alegria durou pouco: por mais que
tentasse, não conseguia alcançar as uvas. Por fim, cansada de tantos esforços
inúteis, resolveu ir embora, dizendo:
_Por mim, quem quiser essas pode levar. Estão verdes, estão azedas, não
me servem. Se alguém me desse essas uvas eu não comeria.
Moral da história: Desprezar o que não consegue conquistar é fácil.
Esopo. Fábulas de Esopo.Tradução de Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 1994. p.68
a) Agora responda:
Todos os textos são fábulas? Assinale o texto que não pertence ao gênero fábula.
( ) Texto 1
( ) Texto 2
( )Texto 3
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b) Assinale as letras que indicam algumas características próprias do gênero em
estudo:
( ) As personagens são sempre animais que vivenciam ações do cotidiano dos
humanos.
( ) É comum aparecer diálogos entre animais.
( ) Essas histórias terminam sempre com uma moral.
( ) Desenvolvimento até os dias atuais.
( ) Narrativa curta, contada de boca em boca.
( ) São narrativas com questões polêmicas ou de fundo moralizantes.
( )Há uma comparação no gênero entre animais e qualidades ou defeitos próprios
dos seres humanos.Exemplificando: leão-sabedoria, formiga-trabalho.
6) Baseando-se nos conhecimentos que você possui, escreva uma definição para
fábula.
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PROBLEMATIZAÇÃO
ETAPA II
DIMENSÃO CONCEITUAL
a) Vamos pesquisar no dicionário o que quer dizer a palavra fábula?
DICAS PARA O PROFESSOR ORGANIZAR A PROBLEMATIZAÇÃO • Elaborar algumas questões para debate; • Todo conteúdo listado na Prática Social Inicial deve ser
transformado em perguntas e/ou questões problematizadoras, classificando-as nas diversas dimensões que o tema comporta, tais como: científica, conceitual, cultural, social, histórica, econômica, política, religiosa, estética, filosófica, doutrinária, legal, psicológica, etc.
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b) Pesquise qual a diferença entre fábula e conto de fadas. Procure com mais um
colega, no dicionário/enciclopédia, estabeleça a diferença, por escrito, para posterior
discussão em sala de aula.
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DIMENSÃO HISTÓRICO-CULTURAL
a) Qual a origem das fábulas?
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b) As fábulas são textos antigos que, em sua origem, não eram escritos para
crianças. A quem se destinavam, então, essas histórias?
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c) Por que as fábulas existem até hoje?
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DIMENSÃO SOCIAL
a) Pesquise sobre a vida e obra de fabulistas que fizeram parte da história e que
você considera importante.
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b) Por que a fábula é importante na sociedade?
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INSTRUMENTALIZAÇÃO
ETAPA III
APROFUNDANDO NOSSO ESTUDO SOBRE FÁBULAS
Antigamente o gênero discursivo fábula não era contado para criança e sim
para transmitir ensinamentos para os adultos. São histórias curtas que relatam
situações do cotidiano frequentemente através de animais com características
humanas e transmitem, em linguagem simples, mensagens com conselhos,
apresentando sempre no final uma moral da história. A maioria das fábulas
apresenta um ou no máximo dois acontecimentos com uma situação de conflito, isto
é, um problema, o qual pode ser variado.
Uma das características da fábula é a disputa entre os personagens, de
alguém querer enganar o outro para conseguir algo. Às vezes, as personagens
fazem alguma coisa que causa prejuízo a si mesmas. Há, também, situação de
conflito entre o querer e o poder.
As fábulas são muito antigas. Algumas delas, do Oriente, foram difundidas na
Grécia no século VI a.C por um escravo chamado Esopo. Nos anos que se
seguiram, elas continuaram a ser contadas e foram também escritas mais tarde, nos
anos de 1600, no século XVII, pelo escritor francês Jean de La Fontaine que
reescreveu e adaptou as fábulas de Esopo, além de criar novas histórias.
No Brasil, um dos escritores mais importantes que reescreveu antigas
fábulas e criou novas foi Monteiro Lobato. Seus primeiros livros dirigidos às crianças
DICAS PARA O PROFESSOR ORGANIZAR A INSTRUMENTALIZAÇÃO
• Cada tópico de conteúdo listado na Prática Social Inicial pode ser transcrito para esta nova fase e explicitados os procedimentos didático-pedagógicos necessários para cada um deles, a fim de realizar a aprendizagem.
• Listar os recursos humanos e materiais necessários.
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foram publicados em 1921 (século XX). Além dele, vários outros escritores
escreveram e reescreveram fábulas como: Ruth Rocha, José Paulo Paes.
(FERNANDES, M.T.O.S. Trabalhando com os gêneros do discurso : narrar:
fábula. Coordenadora da coleção Jaqueline Peixoto Barbosa. São Paulo: FTD,
2001.)
Agora que você já sabe um pouco Agora que você já sabe um pouco Agora que você já sabe um pouco Agora que você já sabe um pouco mais sobre as mais sobre as mais sobre as mais sobre as
fábulas, que tal fazer algumas atividades?fábulas, que tal fazer algumas atividades?fábulas, que tal fazer algumas atividades?fábulas, que tal fazer algumas atividades?
• Vamos retomar a fábula A raposa e as uvas? Então, preste atenção na leitura
que o professor vai fazer:
A raposa e as uvas
Morrendo de fome, certa raposa astuta andava à caça, quando passou por
uma parreira carregas de cachos de uvas bem maduros. Porém estavam altas
demais; nem pulando conseguiria alcançá-las.
-Estão verdes... Já vi que são azedas e duras... -resmungou a raposa.
Quem desdenha quer comprar.
(Fábula de La Fontaine, adaptação de Mônica Teresinha Ottoboni Sucar Fernandes)
• Atividades que abordam o conteúdo temático:
1) Marque o tipo de problema que aparece nessa fábula:
( ) A disputa entre personagens que se opõem.
( ) O conflito entre o querer e o poder conseguir.
( ) A personagem pretende enganar a outra para conseguir o que quer.
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2) Não conseguindo pegar os cachos de uva suspensos em uma parreira, a raposa
afastou-se dizendo que estavam verdes. As uvas, na verdade, estariam verdes?
Explique a fala da raposa.
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3) Em sua opinião, a raposa foi persistente nesse texto? Justifique.
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4) Se você quisesse conseguir algo e não conseguisse obtê-lo, qual seria sua
atitude?
( ) Desistiria simplesmente.
( ) Para se ver livre do fracasso, transferiria a responsabilidade a outro.
( ) Lutaria de outras formas até conseguir o desejado.
5) Essa fábula também apresenta uma lição de moral, que é uma reflexão sobre o
comportamento dos seres humanos. Que lição é essa? Copie-a e dê sua opinião.
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NOTA: A Brevidade é uma das características fundamentais nas fábulas de Esopo, ou seja,
enredo breve e elementar; cuja forma de expressão é simples e concisa. Esse recurso
é valioso na produção de nossos próprios textos, pois permite aos leitores entendê-los
com mais clareza. O autor evita as frases separadas por ponto, procurando reuni-las
num único período, diminuindo a repetição de palavras iguais, usando pronomes,
sinônimos, recursos de pontuação e omissão de palavras.
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A seguir, veremos que uma mesma fábula apresenta
diferentes versões. Isso é possível porque elas podem ser
adaptadas de acordo com os leitores a quem se destinam, à época
em que são escritas e à intenção de quem escreve.
LENDO E COMPARANDO
Texto 1
A cigarra e a formiga (ESOPO)
No inverno, as formigas estavam fazendo secar o grão molhado, quando uma
cigarra, faminta, lhes pediu algo para comer. As formigas lhe disseram: “Por que, no
verão, não reservaste também o teu alimento”? “A cigarra respondeu”: “Não tinha
tempo, pois cantava melodiosamente”. E as formigas, rindo, disseram: “Pois bem, se
cantavas no verão, dança agora no inverno”.
A fábula mostra que não se deve negligenciar em nen hum trabalho, para evitar
tristezas e perigos.
Esopo: fábulas completas. Tradução de Neide Smolka. São Paulo, Moderna, 1994.
Texto 2
A cigarra e a formiga (versão de LA FONTAINE)
Nota ao Professor:
Esopo era um escravo que teria vivido na Grécia no século VI a.C.
Tornou-se famoso por meio de pequenas histórias, nas criticava as
atitudes e comportamentos das pessoas, usando animais para se
referir a elas.
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Depois de haver cantado durante todo o verão, quando se aproximava o
inverno, a cigarra se encontrou em extrema penúria, por falta de provisões. Como
nada lhe restasse, nem um pequeno verme ou algum resto de mosca, e estando
faminta, foi à procura da amiga, sua vizinha. Pediu-lhe que lhe emprestasse alguns
grãos, a fim de manter-se até que voltasse o estio.
_Eu lhe prometo, minha amiga _ disse a cigarra sob palavra _ a pagar-lhe
tudo, com juros, antes do mês de agosto.
A formiga, que nunca empresta nada a ninguém e, por isso, consegue
amealhar, perguntou à suplicante:
_Que fazias durante o verão?
_Passava cantando os dias e as noites_respondeu a cigarra.
_ Pois muito bem_concluiu a formiga. Cantava? Pois dança agora!
LA FONTAINE. Jean de La Fontaine. Rio de Janeiro: Matos Peixoto. 1965.
.Texto 3
A cigarra e a formiga (versão adaptada por Ruth Rocha)
A cigarra passou todo verão cantando, enquanto a formiga juntava
grãos.Quando chegou o inverno, a cigarra veio à casa da formiga para pedir que lhe
desse o que comer.
A formiga então perguntou a ela:
_E o é que você fez durante todo verão?
_Durante o verão eu cantei_ disse a cigarra.
E a formiga respondeu:
Nota ao Professor:
Jean de La Fontaine (1621-1695)
De origem francesa, contou e recontou as fábulas de Esopo, no
século X V II a.C. Assim como seu precursor, ele acreditava que
essas histórias serviam para educar. O autor utilizava as fábulas para
denunciar as misérias e as injustiças da sociedade em que vivia.
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_Muito bem, pois agora dance!
Rocha, Ruth (adap.). Fábulas de Esopo. São Paulo: Melhoramentos. 1986.
• Atividades que abordam a construção composicional:
1) Onde você acha que essas histórias acontecem? Justifique sua resposta.
2) Nas fábulas, a indicação exata da época e do lugar, no qual ocorre a história, é
importante para que o leitor / ouvinte compreenda o acontecido? Justifique sua
resposta?
3) Mantendo o sentido original da fábula, em qual dos textos o fabulista optou por
uma forma mais simples e resumida de escrever?
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4) A linguagem empregada se distancia mais do jeito de falar atual . Esta
afirmação refere-se à qual versão? Transcreva do texto palavras que comprovem
sua resposta.
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5) Compare o 1º e o 3º texto e analise as alterações realizadas na adaptação de
Ruth Rocha nos referentes itens:
a) Uso de parágrafo:
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b) Na linguagem:
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c) Nos diálogos:
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A fábula “A cigarra e a formiga” também foi escrita pelo poeta José Paulo Paes. No
entanto, esse autor escreveu de maneira diferente, em forma de poesia. E ficou
assim:
Texto 4
“SEM BARRA” (versão poética de José Paulo Paes)
Enquanto a formiga
Carrega a comida
Para o formigueiro,
A cigarra canta,
Canta o dia inteiro
A formiga é só trabalho
A cigarra é só cantiga.
Mas sem a cantiga
Da cigarra
Que distrai da fadiga.
Seria uma barra
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O trabalho da formiga.
Paes, José Paulo. Poemas para brincar . São Paulo: Ática, 1989.
a) Que tipo de texto o poeta produziu reescrevendo a fábula com esse novo jeito de
contar? Justifique sua resposta.
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b) O poeta alterou somente a forma ou o conteúdo da fábula?
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c) Qual sua opinião sobre a posição do poeta? Ele concorda com a fábula original?
Justifique.
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d) No poema de José Paulo Paes, o canto da cigarra completa o trabalho da
formiga. Nas versões tradicionais lidas antes, o canto da cigarra é oposto ao
trabalho da formiga. Pensando nisso, podemos concluir que a versão do poeta:
( ) Valoriza os artistas, mostrando que eles são importantes para a humanidade.
( ) Não valoriza o trabalho do artista, pois este é menos importante que os demais
trabalhos.
e) Nas versões tradicionais:
( ) O trabalho do artista também é importante.
( ) O artista é visto como uma pessoa de “vida fácil”, que não precisa fazer muito
esforço para ganhar dinheiro.
APROFUNDANDO NOSSO ESTUDO SOBRE FÁBULAS
PARTE II
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Com o estudo do gênero discursivo fábula, constatamos que as de Esopo e
de La Fontaine são antigas, em relação às reescritas por outros escritores
modernos, como José Paulo Paes, Elias José, Ruth Rocha, entre outros.
Existem fábulas apresentadas em vídeo que são consideradas reescritas
modernas. Tanto as fábulas antigas quanto as modernas utilizam animais como
personagens, buscando representar atitudes humanas, com intenção de usar essas
narrativas para aconselhar o público a respeito do que deveria ou poderia fazer.
Esses ensinamentos constituem a Moral da história. Esta transmite
conhecimentos sobre as atitudes humanas e os costumes de uma determinada
época. Conforme o tempo passa, a sociedade muda e vão surgindo outras formas
de pensar, daí a razão para tantas versões para a fábula A cigarra e a formiga .
Apesar de serem antigas, o conteúdo de uma fábula continua em alta, pois a
função desse gênero é de divertir, informar, distrair e ensinar. La Fontaine já dizia:
“sirvo-me dos animais para instruir os homens”.
• Vamos praticar mais um Vamos praticar mais um Vamos praticar mais um Vamos praticar mais um pouco?pouco?pouco?pouco?
A cigarra e a formiga (versão de autor anônimo)
Era uma vez uma Formiga e uma Cigarra que eram muito amigas... Durante
todo o outono, a Formiga trabalhou sem parar, armazenado comida para o inverno.
Não aproveitou o sol, a brisa suave do fim de tarde, nem de uma conversa com os
amigos a tomar uma cervejinha depois do dia de trabalho.
Enquanto isso, a Cigarra só andava a cantar com os amigos nos bares da
cidade, não desperdiçou nem um minuto sequer, cantou durante todo o outono,
dançou, aproveitou o sol, desfrutou muito sem se preocupar com o mau tempo que
estava para vir.
Passados uns dias, começou o frio, a Formiga, exausta de tanto trabalhar,
meteu-se na sua pobre guarida cheia de comida até o teto. Mas, alguém a chamou
da rua, quando abriu a porta teve uma surpresa ao ver sua amiga Cigarra numa
Ferrari, com um valioso casaco de peles. A cigarra disse:
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_Olá, amiga! Vou passar o inverno em Paris. Pode cuidar da minha casinha?
A Formiga respondeu:
_ Claro! Sem problemas. Mas o que aconteceu? Onde conseguiu o dinheiro
para ir a Paris, comprar essa Ferrari e esse casaco tão bonito e caro?
E a Cigarra contou:
_Imagina... Eu estava a cantar num bar na semana passada e um produtor
musical gostou da minha voz. Assinei um contrato para fazer shows em Paris. A
propósito, você precisa de alguma coisa de lá?
_ Sim_ disse a Formiga _ se encontrar com La Fontaine (autor da fábula
original), MANDE-O À MERDA, DA MINHA PARTE!!!
Moral da história: Aproveite a vida, trabalhe e divirta-se em proporção, porque
trabalhar em demasia só traz benefícios nas fábulas de La Fontaine.
CONSTRUINDO OS SENTIDOS DOS TEXTOS
• Atividades que contemplam as marcas linguístico- enunciativas
1) Nas fábulas tradicionais as personagens cigarra e formiga aparecem escritas com
letras minúsculas. Qual a intenção desta escolha?
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2) Na ultima versão, a Cigarra e a Formiga aparecem, no texto, com letras
maiúsculas. Que novo sentido essa mudança traz à fábula?
___________________________________________________________________
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3) Nos textos lidos acima não há uma indicação precisa do tempo (sabemos que
ocorre na passagem do outono para o inverno, porém, não exatamente quando),isso
é característico nas fábulas. Pensando nisso, responda:
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a) Com qual intenção é utilizado esse recurso nesse tipo de texto?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
b) Copie do texto, as expressões que fazem referência ao tempo em que os
seguintes eventos acontecem:
- a Formiga trabalhou sem parar:________________________________________
- A Cigarra cantou:___________________________________________________
- Começou o frio:____________________________________________________
4) Na primeira versão lida, a fábula de Esopo, traz um final característico que a
distingue de outros textos. Qual é?
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___________________________________________________________________
5) Compare o final do texto l, de Esopo, com o último texto lido acima e explique:
a) Com o ensinamento proposto na fábula “A cigarra e a formiga”, de Esopo,
percebe-se uma maneira de ver o mundo: deve-se prever o dia de amanhã, ou seja,
trabalhar para o futuro. Explique o final do texto lido acima.
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___________________________________________________________________
b) É possível conciliar as duas coisas, trabalho e lazer? Como?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6) A moral da história, nas fábulas, tem o objetivo de levar o leitor a formar uma
opinião igual à visão do autor expressa no texto. Diante dessa afirmação e das
últimas versões, assinale:
( ) A moral da fábula diz o que é certo e errado fazer e isso não deve ser
questionado;
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( ) A moral da fábula nos permite saber como uma sociedade ou autor pensava em
determinada época. Isso nos permite estabelecer comparações e reflexões, as quais
nos servem de parâmetros para construir opiniões próprias sobre o assunto.
7) Com as leituras de diferentes fábulas, tradicionais e modernas, compreendemos
melhor como elas são construídas. Agora, registre no quadro abaixo as diferenças e
semelhanças entre elas, em relação aos seguintes elementos:
Elementos comparados Fábula Tradicional Fábula Moderna
Objetivo
Formato do Texto
Personagens
Narrador
Tempo
Espaço
Ação
Título
Final (Desfecho)
Tamanho do Texto
• Que tal Que tal Que tal Que tal conhecer mais uma fábula? conhecer mais uma fábula? conhecer mais uma fábula? conhecer mais uma fábula?
Então, observe, nos textos abaixo, como os fatos da fábula foram narrados:
Texto A
Existia um veado. O veado estava fugindo de caçadores. O veado chegou à
entrada de um antro e dentro desse antro estava um leão e o veado entrou ali para
se esconder. O veado foi apanhado pelo leão e, enquanto o leão matava o veado, o
veado dizia: “Como sou infeliz, eu que, fugindo de homens, joguei-me a uma fera”.
Esopo: fábulas completas. Tradução de Neide Smolk. Sãom Paulo, Moderna, 1994.
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Texto B
Um veado, fugindo de caçadores, chegou à entrada de um antro onde estava
um leão. O veado entrou ali para se esconder, mas foi apanhado pelo leão e,
enquanto este o matava, ele dizia: “Como sou infeliz, eu que, fugindo de homens,
joguei-me a uma fera”.
Esopo: fábulas completas. Tradução Neide Smolka. São Paulo, Moderna, 1994.
• Após ler os textos A e B, responda:
1) Os dois textos contam o mesmo fato ou não? Existem diferenças? Quais podem
ser observadas?
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2) Qual dos dois textos está melhor elaborado? Justifique.
___________________________________________________________________
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3) Qual é o ensinamento transmitido nessa fábula?
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___________________________________________________________________
4) Você concorda com esse ensinamento? Por quê?
___________________________________________________________________
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CATARSE
ETAPA IV
NOTA: • Este é o momento em que ocorre a síntese mental, por parte do educando, dos
conteúdos trabalhados. Essa síntese expressa a dimensão do aprendizado do aluno.
• É a hora de elaborar perguntas de avaliação sobre o conteúdo da unidade, classificadas conforme as dimensões levantadas na fase da problematização. Também podem ser propostas produções de textos ou outras formas de avaliação do conteúdo, envolvendo as dimensões que foram estudadas.
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RELEMBRANDO
1. O que é fábula?
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______________________________________________________________
______________________________________________________________
2. Existe uma função social para a fábula? Qual (is)?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
3. Agora que você já sabe bastantes coisas a respeito das fábulas, você vai
produzir a sua própria fábula. Como vimos durante nosso estudo, os
fabulistas (autores das fábulas) elaboram os textos com a finalidade de
transmitir uma lição de moral, isto é, um ensinamento. A fábula que você vai
produzir deve evidenciar o quanto a preguiça é prejudicial à vida das pessoas.
Para isso, imagine a seguinte situação: seu pai e sua mãe não querem mais
trabalhar. É isso mesmo! Eles cansaram da rotina e decidiram que não vão
mais trabalhar. Você consegue imaginar o que aconteceria na sua casa se tal
situação realmente acontecesse?
Pensando nisso, escreva uma fábula para chamar a atenção dos seus pais
sobre as consequências que a atitude deles vai trazer para a vida da família.
Lembre-se, você não pode colocar pessoas como personagens. O tempo e o
lugar devem ser expressos de forma vaga. Você pode aproveitar os
conhecimentos adquiridos nas várias versões da fábula “A Formiga e a
Cigarra” e fazer mais uma versão para essa história, encaixando a situação
descrita acima. O que você acha?
Depois que seu texto estiver pronto, faça uma ilustração para deixar a fábula
mais interessante. Você pode pedir a ajuda dos colegas para fazer isso.
Então, mãos à obra!
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PRÁTICA SOCIAL FINAL
ETAPA V
Concluindo a proposta de trabalho, os alunos apresentarão dramatizações,
reconhecendo o valor da fábula no meio cultural e no processo de ensino-
aprendizagem.
NOTA: • Explicitar as intenções do aluno sobre o uso do conteúdo em sua vida
cotidiana, na perspectiva da transformação social; • Identificar as ações a serem colocadas em prática através do estudo desse
conteúdo.
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REFERÊNCIAS:
BAKHTIN, M. (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem . 9ª ed. São Paulo: Hucitec, 1992.
______. Gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais : ensino médio: bases legais/Ministério da Educação. Brasília: MEC/SEF, 1999. DOLZ, J. et al. Gêneros orais e escritos na escola / tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. FARACO, C.A. Linguagem e diálogo: as idéias lingüísticas do círculo de Bakhtin. Curitiba: Edições Criar, 2003. FERNANDES, M.T.A.S. Trabalhando com gêneros do discurso: fábula. São Paulo: FTD, 2001. GASPARIN, J.L. Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica . 5ª. ed. Campinas - São Paulo: Autores Associados, 2009. LOBATO, Monteiro. Fábulas. São Paulo: Brasiliense. 1960. __________. Fábulas . São Paulo: Brasiliense. 1994. MARCUSCHI, L.A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A.P; MACHADO, A.R; BEZERRA, M.A. (org.) Gêneros textuais e ensino . Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa . Curitiba; SEED, 2008.
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