FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO
REPRESENTACcedilAtildeO SOCIAL DA MORTE E DO MORRER
DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA
NEONATAL
RECIFE
2013
FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO
REPRESENTACcedilAtildeO SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE
RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA
NEONATAL
Orientadora Prof a Dr a Rosemary de Jesus Machado Amorim
Coorientadora Prof a Dr a Iracema da Silva Frazatildeo
RECIFE
2013
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de
Mestrado em Sauacutede da Crianccedila e do
Adolescente do Centro de Ciecircncias da
Sauacutede da Universidade Federal de
Pernambuco orientada pela Prof a Dr a
Rosemary de Jesus Machado Amorim
como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
grau de mestre
Ficha catalograacutefica elaborada pela
Bibliotecaacuteria Mocircnica Uchocirca CRB4-1010
S246r Sarmento Fernanda Isabela Gondim
Representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para uma equipe multidisciplinar de terapia intensiva neonatal Fernanda Isabela Gondim Sarmento ndash Recife O Autor 2013
77 f il quad 30 cm Orientadora Rosemary de Jesus Machado Amorim Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal de Pernambuco
CCS Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente 2013
Inclui referecircncias apecircndices e anexos 1 Morte 2 Receacutem-nascido 3 Terapia intensiva neonatal 4
Profissionais da sauacutede 5 Pesquisa qualitativa I Amorim Rosemary de Jesus Machado (Orientadora) II Titulo 6176 CDD (22ed) UFPE (CCS2014-149)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof Dr Aniacutesio Brasileiro de Freitas Dourado
VICE-REITOR
Prof Dr Silvio Romero Barros Marques
PROacute-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO
Prof Dr Francisco de Souza Ramos
DIRETOR CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
Prof Dr Nicodemos Teles de Pontes Filho
VICE-DIRETORA
Profa Dra Vacircnia Pinheiro Ramos
COORDENADORA DA COMISSAtildeO DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO DO CCS
Profa Dra Jurema Freire Lisboa de Castro
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
COLEGIADO
CORPO DOCENTE PERMANENTE
Profa Dra Mariacutelia de Carvalho Lima (Coordenadora)
Profa Dra Maria Eugecircnia Farias Almeida Motta (Vice-Coordenadora)
Prof Dr Alcides da Silva Diniz
Profa Dra Ana Bernarda Ludermir
Profa Dra Andreacutea Lemos Bezerra de Oliveira
Prof Dr Deacutecio Medeiros Peixoto
Prof Dr Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho
Profa Dra Estela Maria Leite Meirelles Monteiro
Profa Dra Giseacutelia Alves Pontes da Silva
Profa Dra Luciane Soares de Lima
Profa Dra Maria Gorete Lucena de Vasconcelos
Prof Dr Paulo Saacutevio Angeiras de Goacutees
Prof Dr Pedro Israel Cabral de Lira
Profa Dra Rosemary de Jesus Machado Amorim
Profa Dra Siacutelvia Regina Jamelli
Profa Dra Siacutelvia Wanick Sarinho
Profa Dra Sophie Helena Eickmann
(Leila Maria Aacutelvares Barbosa - Representante discente - Doutorado)
(Catarine Santos da Silva - Representante discente -Mestrado)
CORPO DOCENTE COLABORADOR
Profa Dra Ana Claacuteudia Vasconcelos Martins de Souza Lima
Profa Dra Bianca Arruda Manchester de Queiroga
Profa Dra Claudia Marina Tavares de Arruda
Profa Dra Cleide Maria Pontes
Profa Dra Daniela Tavares Gontijo
Profa Dra Margarida Maria de Castro Antunes
Profa Dra Rosalie Barreto Belian
Profa Dra Socircnia Bechara Coutinho
SECRETARIA
Paulo Sergio Oliveira do Nascimento
Juliene Gomes Brasileiro
Janaiacutena Lima da Paz
Dedico este trabalho ao meu pai e agrave minha matildee
Tudo que sou devo a vocecircs
Ao meu marido
Meu companheiro haacute 17 anos
Que seja para sempre
E a minha filha Letiacutecia
que ainda no meu ventre
tornou-me mais sensiacutevel
agrave temaacutetica desse estudo
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha
vida
Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos
exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim
Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia
da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos
ainda mais completos
Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho
Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas
Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de
casa
Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que
dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema
Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e
conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia
A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa
me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos
Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora
professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada
pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos
Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo
acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade
Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela
paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com
presteza
Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes
entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho
Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias
compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo
Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa
Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais
pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado
Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste
Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias
iniciais
Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca
Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e
vencemos
Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a
morte porque talvez mais do que na vida eacute na
morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e
crenccedilas perante a morte que o homem exprime o
que a vida tem de mais fundamental
(Edgar Morin)
ldquoEu canto a dor
Canto a vida e a morte
Canto o amorrdquo
(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta
cantada por Elis Regina)
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer
de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as
perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer
dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural
eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio
do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram
dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a
finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte
representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica
na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e
do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram
importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a
necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na
academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade
Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da
sauacutede Pesquisa qualitativa
ABSTRACT
This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical
framework of social representations theory of Moscovici To make this study the
authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to
mind when you think about death and dying of newborns that you watched What
aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your
way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil
including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists
psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the
help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There
were three classes the face of death and dying living with the finitude of life
sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to
save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that
affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private
and at work were important for these professionals deal with finitude This research
demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and
dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally
Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative
research
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
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VALA J MONTEIRO MB - Psicologia social Rio de Janeiro Ed Fundaccedilatildeo Calouste
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO
REPRESENTACcedilAtildeO SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE
RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA
NEONATAL
Orientadora Prof a Dr a Rosemary de Jesus Machado Amorim
Coorientadora Prof a Dr a Iracema da Silva Frazatildeo
RECIFE
2013
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de
Mestrado em Sauacutede da Crianccedila e do
Adolescente do Centro de Ciecircncias da
Sauacutede da Universidade Federal de
Pernambuco orientada pela Prof a Dr a
Rosemary de Jesus Machado Amorim
como requisito parcial para obtenccedilatildeo do
grau de mestre
Ficha catalograacutefica elaborada pela
Bibliotecaacuteria Mocircnica Uchocirca CRB4-1010
S246r Sarmento Fernanda Isabela Gondim
Representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para uma equipe multidisciplinar de terapia intensiva neonatal Fernanda Isabela Gondim Sarmento ndash Recife O Autor 2013
77 f il quad 30 cm Orientadora Rosemary de Jesus Machado Amorim Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal de Pernambuco
CCS Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente 2013
Inclui referecircncias apecircndices e anexos 1 Morte 2 Receacutem-nascido 3 Terapia intensiva neonatal 4
Profissionais da sauacutede 5 Pesquisa qualitativa I Amorim Rosemary de Jesus Machado (Orientadora) II Titulo 6176 CDD (22ed) UFPE (CCS2014-149)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof Dr Aniacutesio Brasileiro de Freitas Dourado
VICE-REITOR
Prof Dr Silvio Romero Barros Marques
PROacute-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO
Prof Dr Francisco de Souza Ramos
DIRETOR CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
Prof Dr Nicodemos Teles de Pontes Filho
VICE-DIRETORA
Profa Dra Vacircnia Pinheiro Ramos
COORDENADORA DA COMISSAtildeO DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO DO CCS
Profa Dra Jurema Freire Lisboa de Castro
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
COLEGIADO
CORPO DOCENTE PERMANENTE
Profa Dra Mariacutelia de Carvalho Lima (Coordenadora)
Profa Dra Maria Eugecircnia Farias Almeida Motta (Vice-Coordenadora)
Prof Dr Alcides da Silva Diniz
Profa Dra Ana Bernarda Ludermir
Profa Dra Andreacutea Lemos Bezerra de Oliveira
Prof Dr Deacutecio Medeiros Peixoto
Prof Dr Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho
Profa Dra Estela Maria Leite Meirelles Monteiro
Profa Dra Giseacutelia Alves Pontes da Silva
Profa Dra Luciane Soares de Lima
Profa Dra Maria Gorete Lucena de Vasconcelos
Prof Dr Paulo Saacutevio Angeiras de Goacutees
Prof Dr Pedro Israel Cabral de Lira
Profa Dra Rosemary de Jesus Machado Amorim
Profa Dra Siacutelvia Regina Jamelli
Profa Dra Siacutelvia Wanick Sarinho
Profa Dra Sophie Helena Eickmann
(Leila Maria Aacutelvares Barbosa - Representante discente - Doutorado)
(Catarine Santos da Silva - Representante discente -Mestrado)
CORPO DOCENTE COLABORADOR
Profa Dra Ana Claacuteudia Vasconcelos Martins de Souza Lima
Profa Dra Bianca Arruda Manchester de Queiroga
Profa Dra Claudia Marina Tavares de Arruda
Profa Dra Cleide Maria Pontes
Profa Dra Daniela Tavares Gontijo
Profa Dra Margarida Maria de Castro Antunes
Profa Dra Rosalie Barreto Belian
Profa Dra Socircnia Bechara Coutinho
SECRETARIA
Paulo Sergio Oliveira do Nascimento
Juliene Gomes Brasileiro
Janaiacutena Lima da Paz
Dedico este trabalho ao meu pai e agrave minha matildee
Tudo que sou devo a vocecircs
Ao meu marido
Meu companheiro haacute 17 anos
Que seja para sempre
E a minha filha Letiacutecia
que ainda no meu ventre
tornou-me mais sensiacutevel
agrave temaacutetica desse estudo
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha
vida
Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos
exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim
Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia
da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos
ainda mais completos
Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho
Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas
Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de
casa
Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que
dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema
Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e
conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia
A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa
me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos
Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora
professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada
pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos
Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo
acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade
Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela
paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com
presteza
Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes
entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho
Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias
compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo
Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa
Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais
pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado
Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste
Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias
iniciais
Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca
Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e
vencemos
Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a
morte porque talvez mais do que na vida eacute na
morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e
crenccedilas perante a morte que o homem exprime o
que a vida tem de mais fundamental
(Edgar Morin)
ldquoEu canto a dor
Canto a vida e a morte
Canto o amorrdquo
(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta
cantada por Elis Regina)
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer
de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as
perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer
dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural
eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio
do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram
dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a
finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte
representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica
na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e
do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram
importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a
necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na
academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade
Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da
sauacutede Pesquisa qualitativa
ABSTRACT
This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical
framework of social representations theory of Moscovici To make this study the
authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to
mind when you think about death and dying of newborns that you watched What
aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your
way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil
including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists
psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the
help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There
were three classes the face of death and dying living with the finitude of life
sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to
save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that
affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private
and at work were important for these professionals deal with finitude This research
demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and
dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally
Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative
research
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
REFEREcircNCIAS
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
Referecircncias
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
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O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
Ficha catalograacutefica elaborada pela
Bibliotecaacuteria Mocircnica Uchocirca CRB4-1010
S246r Sarmento Fernanda Isabela Gondim
Representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para uma equipe multidisciplinar de terapia intensiva neonatal Fernanda Isabela Gondim Sarmento ndash Recife O Autor 2013
77 f il quad 30 cm Orientadora Rosemary de Jesus Machado Amorim Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal de Pernambuco
CCS Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente 2013
Inclui referecircncias apecircndices e anexos 1 Morte 2 Receacutem-nascido 3 Terapia intensiva neonatal 4
Profissionais da sauacutede 5 Pesquisa qualitativa I Amorim Rosemary de Jesus Machado (Orientadora) II Titulo 6176 CDD (22ed) UFPE (CCS2014-149)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof Dr Aniacutesio Brasileiro de Freitas Dourado
VICE-REITOR
Prof Dr Silvio Romero Barros Marques
PROacute-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO
Prof Dr Francisco de Souza Ramos
DIRETOR CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
Prof Dr Nicodemos Teles de Pontes Filho
VICE-DIRETORA
Profa Dra Vacircnia Pinheiro Ramos
COORDENADORA DA COMISSAtildeO DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO DO CCS
Profa Dra Jurema Freire Lisboa de Castro
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
COLEGIADO
CORPO DOCENTE PERMANENTE
Profa Dra Mariacutelia de Carvalho Lima (Coordenadora)
Profa Dra Maria Eugecircnia Farias Almeida Motta (Vice-Coordenadora)
Prof Dr Alcides da Silva Diniz
Profa Dra Ana Bernarda Ludermir
Profa Dra Andreacutea Lemos Bezerra de Oliveira
Prof Dr Deacutecio Medeiros Peixoto
Prof Dr Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho
Profa Dra Estela Maria Leite Meirelles Monteiro
Profa Dra Giseacutelia Alves Pontes da Silva
Profa Dra Luciane Soares de Lima
Profa Dra Maria Gorete Lucena de Vasconcelos
Prof Dr Paulo Saacutevio Angeiras de Goacutees
Prof Dr Pedro Israel Cabral de Lira
Profa Dra Rosemary de Jesus Machado Amorim
Profa Dra Siacutelvia Regina Jamelli
Profa Dra Siacutelvia Wanick Sarinho
Profa Dra Sophie Helena Eickmann
(Leila Maria Aacutelvares Barbosa - Representante discente - Doutorado)
(Catarine Santos da Silva - Representante discente -Mestrado)
CORPO DOCENTE COLABORADOR
Profa Dra Ana Claacuteudia Vasconcelos Martins de Souza Lima
Profa Dra Bianca Arruda Manchester de Queiroga
Profa Dra Claudia Marina Tavares de Arruda
Profa Dra Cleide Maria Pontes
Profa Dra Daniela Tavares Gontijo
Profa Dra Margarida Maria de Castro Antunes
Profa Dra Rosalie Barreto Belian
Profa Dra Socircnia Bechara Coutinho
SECRETARIA
Paulo Sergio Oliveira do Nascimento
Juliene Gomes Brasileiro
Janaiacutena Lima da Paz
Dedico este trabalho ao meu pai e agrave minha matildee
Tudo que sou devo a vocecircs
Ao meu marido
Meu companheiro haacute 17 anos
Que seja para sempre
E a minha filha Letiacutecia
que ainda no meu ventre
tornou-me mais sensiacutevel
agrave temaacutetica desse estudo
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha
vida
Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos
exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim
Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia
da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos
ainda mais completos
Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho
Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas
Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de
casa
Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que
dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema
Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e
conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia
A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa
me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos
Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora
professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada
pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos
Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo
acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade
Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela
paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com
presteza
Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes
entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho
Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias
compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo
Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa
Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais
pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado
Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste
Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias
iniciais
Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca
Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e
vencemos
Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a
morte porque talvez mais do que na vida eacute na
morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e
crenccedilas perante a morte que o homem exprime o
que a vida tem de mais fundamental
(Edgar Morin)
ldquoEu canto a dor
Canto a vida e a morte
Canto o amorrdquo
(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta
cantada por Elis Regina)
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer
de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as
perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer
dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural
eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio
do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram
dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a
finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte
representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica
na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e
do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram
importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a
necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na
academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade
Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da
sauacutede Pesquisa qualitativa
ABSTRACT
This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical
framework of social representations theory of Moscovici To make this study the
authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to
mind when you think about death and dying of newborns that you watched What
aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your
way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil
including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists
psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the
help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There
were three classes the face of death and dying living with the finitude of life
sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to
save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that
affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private
and at work were important for these professionals deal with finitude This research
demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and
dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally
Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative
research
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
Referecircncias
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof Dr Aniacutesio Brasileiro de Freitas Dourado
VICE-REITOR
Prof Dr Silvio Romero Barros Marques
PROacute-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO
Prof Dr Francisco de Souza Ramos
DIRETOR CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
Prof Dr Nicodemos Teles de Pontes Filho
VICE-DIRETORA
Profa Dra Vacircnia Pinheiro Ramos
COORDENADORA DA COMISSAtildeO DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO DO CCS
Profa Dra Jurema Freire Lisboa de Castro
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
COLEGIADO
CORPO DOCENTE PERMANENTE
Profa Dra Mariacutelia de Carvalho Lima (Coordenadora)
Profa Dra Maria Eugecircnia Farias Almeida Motta (Vice-Coordenadora)
Prof Dr Alcides da Silva Diniz
Profa Dra Ana Bernarda Ludermir
Profa Dra Andreacutea Lemos Bezerra de Oliveira
Prof Dr Deacutecio Medeiros Peixoto
Prof Dr Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho
Profa Dra Estela Maria Leite Meirelles Monteiro
Profa Dra Giseacutelia Alves Pontes da Silva
Profa Dra Luciane Soares de Lima
Profa Dra Maria Gorete Lucena de Vasconcelos
Prof Dr Paulo Saacutevio Angeiras de Goacutees
Prof Dr Pedro Israel Cabral de Lira
Profa Dra Rosemary de Jesus Machado Amorim
Profa Dra Siacutelvia Regina Jamelli
Profa Dra Siacutelvia Wanick Sarinho
Profa Dra Sophie Helena Eickmann
(Leila Maria Aacutelvares Barbosa - Representante discente - Doutorado)
(Catarine Santos da Silva - Representante discente -Mestrado)
CORPO DOCENTE COLABORADOR
Profa Dra Ana Claacuteudia Vasconcelos Martins de Souza Lima
Profa Dra Bianca Arruda Manchester de Queiroga
Profa Dra Claudia Marina Tavares de Arruda
Profa Dra Cleide Maria Pontes
Profa Dra Daniela Tavares Gontijo
Profa Dra Margarida Maria de Castro Antunes
Profa Dra Rosalie Barreto Belian
Profa Dra Socircnia Bechara Coutinho
SECRETARIA
Paulo Sergio Oliveira do Nascimento
Juliene Gomes Brasileiro
Janaiacutena Lima da Paz
Dedico este trabalho ao meu pai e agrave minha matildee
Tudo que sou devo a vocecircs
Ao meu marido
Meu companheiro haacute 17 anos
Que seja para sempre
E a minha filha Letiacutecia
que ainda no meu ventre
tornou-me mais sensiacutevel
agrave temaacutetica desse estudo
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha
vida
Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos
exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim
Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia
da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos
ainda mais completos
Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho
Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas
Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de
casa
Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que
dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema
Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e
conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia
A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa
me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos
Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora
professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada
pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos
Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo
acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade
Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela
paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com
presteza
Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes
entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho
Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias
compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo
Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa
Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais
pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado
Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste
Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias
iniciais
Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca
Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e
vencemos
Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a
morte porque talvez mais do que na vida eacute na
morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e
crenccedilas perante a morte que o homem exprime o
que a vida tem de mais fundamental
(Edgar Morin)
ldquoEu canto a dor
Canto a vida e a morte
Canto o amorrdquo
(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta
cantada por Elis Regina)
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer
de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as
perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer
dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural
eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio
do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram
dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a
finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte
representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica
na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e
do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram
importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a
necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na
academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade
Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da
sauacutede Pesquisa qualitativa
ABSTRACT
This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical
framework of social representations theory of Moscovici To make this study the
authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to
mind when you think about death and dying of newborns that you watched What
aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your
way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil
including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists
psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the
help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There
were three classes the face of death and dying living with the finitude of life
sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to
save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that
affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private
and at work were important for these professionals deal with finitude This research
demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and
dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally
Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative
research
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
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qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
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palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
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unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
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36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
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Resultados
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4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
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the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
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Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
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realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
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As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
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praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
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vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
Dedico este trabalho ao meu pai e agrave minha matildee
Tudo que sou devo a vocecircs
Ao meu marido
Meu companheiro haacute 17 anos
Que seja para sempre
E a minha filha Letiacutecia
que ainda no meu ventre
tornou-me mais sensiacutevel
agrave temaacutetica desse estudo
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha
vida
Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos
exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim
Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia
da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos
ainda mais completos
Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho
Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas
Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de
casa
Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que
dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema
Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e
conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia
A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa
me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos
Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora
professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada
pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos
Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo
acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade
Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela
paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com
presteza
Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes
entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho
Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias
compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo
Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa
Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais
pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado
Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste
Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias
iniciais
Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca
Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e
vencemos
Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a
morte porque talvez mais do que na vida eacute na
morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e
crenccedilas perante a morte que o homem exprime o
que a vida tem de mais fundamental
(Edgar Morin)
ldquoEu canto a dor
Canto a vida e a morte
Canto o amorrdquo
(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta
cantada por Elis Regina)
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer
de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as
perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer
dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural
eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio
do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram
dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a
finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte
representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica
na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e
do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram
importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a
necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na
academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade
Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da
sauacutede Pesquisa qualitativa
ABSTRACT
This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical
framework of social representations theory of Moscovici To make this study the
authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to
mind when you think about death and dying of newborns that you watched What
aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your
way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil
including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists
psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the
help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There
were three classes the face of death and dying living with the finitude of life
sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to
save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that
affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private
and at work were important for these professionals deal with finitude This research
demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and
dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally
Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative
research
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
Referecircncias
61
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha
vida
Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos
exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim
Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia
da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos
ainda mais completos
Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho
Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas
Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de
casa
Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que
dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema
Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e
conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia
A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa
me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos
Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora
professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada
pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos
Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo
acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade
Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela
paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com
presteza
Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes
entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho
Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias
compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo
Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa
Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais
pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado
Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste
Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias
iniciais
Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca
Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e
vencemos
Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a
morte porque talvez mais do que na vida eacute na
morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e
crenccedilas perante a morte que o homem exprime o
que a vida tem de mais fundamental
(Edgar Morin)
ldquoEu canto a dor
Canto a vida e a morte
Canto o amorrdquo
(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta
cantada por Elis Regina)
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer
de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as
perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer
dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural
eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio
do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram
dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a
finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte
representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica
na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e
do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram
importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a
necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na
academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade
Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da
sauacutede Pesquisa qualitativa
ABSTRACT
This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical
framework of social representations theory of Moscovici To make this study the
authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to
mind when you think about death and dying of newborns that you watched What
aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your
way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil
including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists
psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the
help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There
were three classes the face of death and dying living with the finitude of life
sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to
save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that
affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private
and at work were important for these professionals deal with finitude This research
demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and
dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally
Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative
research
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
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Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela
paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com
presteza
Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes
entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho
Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias
compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo
Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa
Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais
pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado
Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste
Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias
iniciais
Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca
Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e
vencemos
Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a
morte porque talvez mais do que na vida eacute na
morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e
crenccedilas perante a morte que o homem exprime o
que a vida tem de mais fundamental
(Edgar Morin)
ldquoEu canto a dor
Canto a vida e a morte
Canto o amorrdquo
(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta
cantada por Elis Regina)
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer
de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as
perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer
dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural
eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio
do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram
dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a
finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte
representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica
na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e
do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram
importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a
necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na
academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade
Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da
sauacutede Pesquisa qualitativa
ABSTRACT
This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical
framework of social representations theory of Moscovici To make this study the
authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to
mind when you think about death and dying of newborns that you watched What
aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your
way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil
including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists
psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the
help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There
were three classes the face of death and dying living with the finitude of life
sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to
save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that
affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private
and at work were important for these professionals deal with finitude This research
demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and
dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally
Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative
research
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
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representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
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d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
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Resultados
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4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
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the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
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Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
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realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
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As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
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Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
REFEREcircNCIAS
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
Referecircncias
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a
morte porque talvez mais do que na vida eacute na
morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e
crenccedilas perante a morte que o homem exprime o
que a vida tem de mais fundamental
(Edgar Morin)
ldquoEu canto a dor
Canto a vida e a morte
Canto o amorrdquo
(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta
cantada por Elis Regina)
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer
de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as
perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer
dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural
eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio
do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram
dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a
finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte
representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica
na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e
do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram
importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a
necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na
academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade
Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da
sauacutede Pesquisa qualitativa
ABSTRACT
This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical
framework of social representations theory of Moscovici To make this study the
authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to
mind when you think about death and dying of newborns that you watched What
aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your
way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil
including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists
psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the
help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There
were three classes the face of death and dying living with the finitude of life
sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to
save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that
affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private
and at work were important for these professionals deal with finitude This research
demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and
dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally
Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative
research
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
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Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer
de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as
perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer
dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural
eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio
do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram
dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a
finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte
representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica
na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e
do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram
importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a
necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na
academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade
Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da
sauacutede Pesquisa qualitativa
ABSTRACT
This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical
framework of social representations theory of Moscovici To make this study the
authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to
mind when you think about death and dying of newborns that you watched What
aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your
way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil
including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists
psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the
help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There
were three classes the face of death and dying living with the finitude of life
sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to
save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that
affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private
and at work were important for these professionals deal with finitude This research
demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and
dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally
Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative
research
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
Referecircncias
61
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
ABSTRACT
This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical
framework of social representations theory of Moscovici To make this study the
authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to
mind when you think about death and dying of newborns that you watched What
aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your
way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of
professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil
including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists
psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the
help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There
were three classes the face of death and dying living with the finitude of life
sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to
save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that
affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private
and at work were important for these professionals deal with finitude This research
demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and
dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally
Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative
research
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
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representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
SUMAacuteRIO
1 APRESENTACcedilAtildeO13
2 REVISAtildeO DA LITERATURA17
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31
31 ABORDAGEM DO ESTUDO32
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33
33 SUJEITOS DO ESTUDO34
34 COLETA DE DADOS35
35 ANAacuteLISE DOS DADOS35
36 ASPECTOS EacuteTICOS39
4 RESULTADOS40
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57
REFEREcircNCIAS60
APEcircNDICES65
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)68
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70
ANEXOS75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA78
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
Referecircncias
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
13
Apresentaccedilatildeo
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
REFEREcircNCIAS
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
Referecircncias
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
14
1 APRESENTACcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio
continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa
dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel
e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode
ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de
cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude
da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta
ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos
fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer
principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e
vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais
complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)
Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito
acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou
excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com
que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano
que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das
praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia
Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal
capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais
como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA
VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os
profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
47
praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
48
vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
49
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
50
que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
52
de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
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65
Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
15
do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e
impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS
OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA
RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)
Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos
incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-
se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses
profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor
compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de
estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares
Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o
morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista
neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas
diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas
situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar
vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro
conhecer
Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual
a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo
Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve
ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer
desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em
relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta
problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o
morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede
da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de
Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o
referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute
16
apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de
poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da
banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo
ainda natildeo foi definido
17
Revisatildeo da literatura
18
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER
A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto
conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa
dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e
influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS
2009)
Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees
soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a
vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa
com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi
sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI
EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo
das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que
prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente
a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo
capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o
homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de
transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo
da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os
mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio
social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer
(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS
2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira
de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a
ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que
deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo
suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
19
Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a
formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de
certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando
aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e
cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais
sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o
processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte
representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar
a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a
finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma
crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia
a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado
e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a
adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo
estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de
demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)
No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem
afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro
e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e
pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o
adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima
(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no
trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)
Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e
no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)
20
ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe
nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele
se deve o legado de ter conferido autonomia agrave
Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo
delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e
meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A
ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto
especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo
das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos
entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das
questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por
fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades
religiosas como seu objetordquo
Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de
objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia
o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse
fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam
ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre
essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se
diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por
exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da
evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido
(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros
trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no
processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS
2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do
conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser
compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco
coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade
Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a
morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da
Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em
Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das
discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90
quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos
21
transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse
assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)
Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-
wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a
perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes
descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude
frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de
consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores
representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram
encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de
cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em
portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado
utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1
QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de
2011
DESCRITORES
Resultado
Limite
receacutem-
nascido
Textos
completos
com limite
receacutem-
nascido
Publicado
nos
uacuteltimos
cinco
anos
Selecionados
pela
temaacutetica
desse estudo
apoacutes leitura
de resumos
Direito de
morrer ou
Direito a morrer
4539
64
3
3
0
Atitude frente agrave
morte
12939 358 30 9 4
Morte 10761 349 31 6 2
Tanatologia 394 6 1 1 1
Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram
excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou
publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos
Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte
de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de
exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)
22
trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto
essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe
multiprofissional
Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a
partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo
Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse
trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos
citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da
equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes
profissionais
Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas
que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais
discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que
passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave
autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos
incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)
ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN
CARTER 2002)
Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem
nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas
apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de
decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998
MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-
HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)
Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como
objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam
a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos
resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso
negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos
demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os
autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com
a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que
levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece
23
sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva
neonatal
Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a
representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva
neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno
para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo
Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo
22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA
Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-
se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no
Brasil
O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no
Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas
com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade
curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem
um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas
da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo
marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado
de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de
aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu
no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica
hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de
conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)
Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos
profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral
interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)
Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram
questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de
mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar
a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede
para todosrsquo no ano de 2000rsquo
24
b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede
a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei
Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de
profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos
de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre
assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo
c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves
Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus
curriacuteculos
d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede
como meta
e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de
profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)
Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos
importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes
consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de
profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da
sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica
Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade
entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que
envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o
social a cultura e a eacutetica
Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes
Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes
incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa
sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo
emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute
intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a
atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al
2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia
entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e
25
agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de
formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a
efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)
Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo
contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza
o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o
que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)
Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e
colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da
aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se
despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias
de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e
no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de
interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia
do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos
proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES
TORRES 1983)
Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas
pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta
temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a
partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha
de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44
artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses
autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo
do significado e do lidar com a morte
a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte
presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de
procedimentos teacutecnicos e de higiene
b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva
prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza
impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de
disciplinamento e negaccedilatildeo da morte
26
c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e
racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos
profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram
nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional
d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as
reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do
paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com
envolvimento da famiacutelia
Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da
morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que
ocorreram a partir da deacutecada de 90
23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se
limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e
teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos
comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das
teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade
e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)
Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo
socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de
comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias
cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias
e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)
Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um
conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da
comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao
coletivo (MOSCOVICI 2010)
Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social
seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando
27
comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social
logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois
processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os
elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se
uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem
trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as
informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute
neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de
um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente
assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a
naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem
relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a
objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda
igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens
que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo
utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do
grupo (VALA MONTEIRO 2006)
Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se
familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um
processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode
anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua
rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa
objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos
iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu
meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa
ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem
pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as
proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum
processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)
(VALA MONTEIRO 2006)
Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as
representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as
28
representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou
comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do
objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define
o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)
Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender
que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos
profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial
teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de
teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos
culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno
das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)
Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute
preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que
influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para
os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a
necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se
foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem
duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para
um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo
como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO
2010)
Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura
ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns
aspectos que podem influenciar esse processo a saber
a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como
potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus
impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute
preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la
b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada
satildeo limitadores e deve ser abominados
c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido
quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo
inuacuteteis
29
d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que
natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses
e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O
uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que
estatildeo prolongando a vida
Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes
elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem
a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida
b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar
sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura
parental
c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante
de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu
d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do
corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e
sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio
e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser
humano adulto ou idoso
f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de
expressar sentimentos e culpa
Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com
as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa
temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)
Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com
profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram
resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas
extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram
a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais
comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute
algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e
natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas
30
b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um
procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera
anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional
c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade
d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo
do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos
Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e
ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso
com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano
Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e
profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias
de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se
necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees
31
Percurso Metodoloacutegico
32
3 PERCURSO METODOLOacuteGICO
31 ABORDAGEM DO ESTUDO
A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os
significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais
permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado
caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores
(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem
qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se
conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais
natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees
Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das
Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os
indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam
viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas
representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das
ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das
comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a
produccedilatildeo dos sentidos
Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada
com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET
2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana
no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos
e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)
Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem
qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-
se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo
33
32 CENAacuteRIO DO ESTUDO
O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma
cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515
habitantes (BRASIL 2011)
Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o
segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte
neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo
enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta
faixa etaacuteria nesse Estado
A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de
referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a
BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos
casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o
tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe
constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de
enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos
assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute
disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes
sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal
A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete
leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave
parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes
uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo
utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais
sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute
ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos
Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas
fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-
nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com
a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos
familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute
34
humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com
familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente
proacuteximo ao leito do RN
Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com
altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta
unidade foi selecionada para o estudo
33 SUJEITOS DO ESTUDO
A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros
vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze
psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais
Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da
pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes
profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e
diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia
partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho
Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os
burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em
contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-
nascidos em outra perspectiva
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe
multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e
as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta
de dados foi finalizada
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do
mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas
no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da
formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo
ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado
para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que
35
demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto
finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos
34 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada
a partir das seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou
influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa
situaccedilatildeo
As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada
em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que
o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente
relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade
de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que
ficaria mais agrave vontade para conversar
As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para
permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam
coacutedigos para preservar o anonimato
Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da
amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com
variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas
Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos
entrevistados
35 ANAacuteLISE DOS DADOS
Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas
36
qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal
software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e
sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base
metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005
OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse
meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o
avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico
que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo
discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que
independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-
se portanto a algo similar (ALBA 2004)
Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste
visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica
atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus
(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de
entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus
deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)
Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do
corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do
programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com
hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras
maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical
equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de
contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo
as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus
natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por
linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as
caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra
(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a
posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No
APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada
Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um
dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das
37
palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios
de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o
programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns
adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise
inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas
de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees
estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como
por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)
privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA
2004)
Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes
semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro
de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto
Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo
natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005
REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso
A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias
o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o
dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)
A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das
comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo
do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos
relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um
meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as
38
unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN
2011)
Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos
trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura
exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do
Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas
elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para
construccedilatildeo de subcategorias para essas classes
Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste
foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que
expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos
para os entrevistados
Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados
39
36 ASPECTOS EacuteTICOS
Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho
Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa
com seres humanos
A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco
(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash
ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)
e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo
Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e
banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo
CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram
participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e
orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem
acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os
participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As
gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse
material sob a responsabilidade da pesquisadora
A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma
oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a
morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda
puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de
trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia
Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de
profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da
sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem
seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das
discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados
Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo
40
Resultados
41
4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL
ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO
SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais
da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das
Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas
norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos
receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou
acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos
enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e
assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a
amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs
classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida
as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o
fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta
dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que
repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do
cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa
finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da
abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento
da terminalidade
Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da
sauacutede pesquisa qualitativa
ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social
representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive
Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory
of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you
think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural
context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and
dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care
Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses
physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was
performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through
theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying
living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed
that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a
lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the
meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at
work were important for social representation of this finitude This study demonstrated
42
the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of
terminally
Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative
research
INTRODUCcedilAtildeO
A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a
representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade
deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel
pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos
(SANTOS 2009)
Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo
da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso
natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de
tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida
(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que
reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute
CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente
quando se considera seus aspectos qualitativos
Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os
profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a
finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na
qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006
SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a
2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer
de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses
profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os
filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo
da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade
(SANTOS 2009)
43
Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer
a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal
MEacuteTODO
Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da
Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI
2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de
Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros
teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e
fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do
banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro
com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o
mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista
semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras
A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-
nascidos assistidos por vocecirc
B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que
influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o
morrer nessa situaccedilatildeo
A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita
a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes
as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse
instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas
importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as
entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados
A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do
discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada
categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS
RICAS TURATO 2008)
Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse
Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise
Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite
44
realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-
quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)
(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA
et al 2008)
Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo
caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)
Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da
classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo
mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA
RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma
de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e
as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica
para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de
conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)
Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de
Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-
11)
RESULTADOS
Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade
todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -
1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade
puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam
especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam
apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em
Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de
alguma crianccedila em sua vida pessoal
A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto
iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise
Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo
programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE
representando um aproveitamento de 7835 do material
45
As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)
com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que
corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista
Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2
possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta
uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro
1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2
Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo
social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de
terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013
A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da
avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo
software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2
PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE
E O MORRER
Praacuteticas e
reflexotildees
Influecircncias socioculturais
de acadecircmicas
Classe 1
O enfrentamento
da morte e do
morrer
197 UCE (36)
Variaacuteveis
descritivas
Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras
Classe 2
A convivecircncia
com a finitude
da vida
79 UCE (14)
Variaacuteveis
descritivas
Teacutecnicas de enfermagem
Classe 3
As influecircncias
socioculturais e
da academia
267 UCE (50)
Variaacuteveis
descritivas
Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em
instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo
46
Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das
classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe
multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE Palavras relevantes (χ2)
Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber
(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)
Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver
(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)
bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)
Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)
relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)
religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)
Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e
do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva
neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013
CLASSE SUBCATEGORIAS
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do
morrer
A vontade de Deus
Cuidado paliativo e terminalidade
Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da
vida
Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
Relatos de vivecircncia
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da
academia
Vivecircncias familiares
Formaccedilatildeo acadecircmica
Cotidiano do trabalho
Religiosidade
Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo
abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na
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praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-
nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da
classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de
pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e
fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar
porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da
dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos
eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o
discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais
Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo
ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza
impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque
responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem
houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte
Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta
para ldquosalvar vidasrdquo
ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash
Teacutecnica de enfermagem)
Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que
marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras
de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc
matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano
Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de
enfermagem
Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira
como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as
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vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os
aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas
especializaccedilotildees ou residecircncias
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei
a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial
para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente
social)
Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da
natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado
agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia
histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que
mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3
DISCUSSAtildeO
No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e
a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das
tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser
hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento
(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009
DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor
do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)
Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal
realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e
70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)
Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais
que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados
com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede
que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
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2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009
SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)
Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram
restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma
classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a
perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo
da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os
resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo
dos dados
Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise
desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do
discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e
caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma
anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de
Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de
um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os
riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos
mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o
referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades
contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos
sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)
Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere
que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi
utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado
pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma
informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das
UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente
Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os
sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre
seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos
sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso
demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo
tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o
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que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento
Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas
de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade
ocidental
Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem
na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para
salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o
resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte
com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir
essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na
verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)
Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de
sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude
(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos
sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo
(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)
Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga
e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma
relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi
observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados
para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem
sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI
2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO
2010a 2010b)
Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas
Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social
da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute
revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente
na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como
ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do
comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade
51
Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais
de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do
insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma
autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim
a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o
profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e
do morrer
Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da
sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ
2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo
catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem
Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar
a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados
paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia
prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em
algumas falas
A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho
que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a
construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do
morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a
compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo
este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o
estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o
profissional perde a batalha
Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira
e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares
que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem
que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se
objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo
a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no
natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados
podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo
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de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do
processo de aceitaccedilatildeo da morte
Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na
academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede
mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum
do que dos processos criacuteticos de aprendizagem
Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo
medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das
praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas
atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do
conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se
ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe
Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico
dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um
curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias
complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo
atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da
atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma
maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta
realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua
efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)
Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e
portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes
em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de
profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico
de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da
construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no
mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da
sociedade
Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz
referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias
familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de
53
aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em
relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria
haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente
Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo
Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo
dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores
afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais
de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa
perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a
necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos
conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no
cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea
da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes
profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta
pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para
populaccedilatildeo em estudo
CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES
Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma
importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da
promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de
trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a
percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria
neonatal
Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das
diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou
adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes
profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que
interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo
trabalhada do luto
Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma
concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede
54
como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do
trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e
interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a
situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias
com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho
Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e
consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os
receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das
famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes
Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se
desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares
na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver
estrateacutegias de enfrentamento da finitude
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57
Conclusatildeo e
consideraccedilotildees finais
58
5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo
social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a
morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos
Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos
que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos
As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais
que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para
realizaccedilatildeo deste trabalho
A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a
realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de
um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes
que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas
Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os
resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta
perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade
O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e
do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais
se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda
predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo
social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva
levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo
Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos
meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da
vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o
morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no
pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre
estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada
Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais
familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento
desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias
Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se
desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre
59
a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas
curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na
academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave
construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma
construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva
60
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Apecircndices
66
APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA
IDADE ______
SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino
ESTADO CIVIL_________________________________
FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________
ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________
TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo
JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL
( ) Sim ( ) Natildeo
Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________
Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________
Qual a idade da crianccedila __________________________________________________
RELIGIAtildeO________________________________________
HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________
QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
67
APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE
ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE
e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1
trab_3 ttrab_2
O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO
MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que
o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a
gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou
muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute
Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo
quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com
como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo
mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte
Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute
uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional
de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte
Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo
existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a
gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo
ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes
assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o
profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo
ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A
gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente
natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como
profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso
68
APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO
(TCLE)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE
PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA
CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre
a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa
pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar
em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie
de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou
se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira
INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA
TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos
PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento
ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim
COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo
CONTATO
Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede
Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar
Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE
Telefone (81) 2126-8514
Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA
Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal
de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria
CEP 50740-600
Telefone (81) 2126-8588
O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que
atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de
receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os
profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas
mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os
elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar
com esse fato
Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais
(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos
fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade
69
Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute
os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o
anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos
pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa
possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo
diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da
morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para
amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo
estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da
pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado
Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos
mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse
assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a
pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que
estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)
e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como
possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso
retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer
penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse
estudo ateacute que decida o contraacuterio
Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011
_______________________________________
Fernanda Isabela G Sarmento
Pesquisadora Responsaacutevel
_______________________________________
Entrevistado
_______________________________________
Testemunha
_______________________________________
Testemunha
70
APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA
CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer
Subcategoria ndash A vontade de Deus
ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute
permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash
Assistente social)
ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz
tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash
Enfermeira)
ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele
dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)
ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os
meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7
ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para
Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de
Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade
ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o
carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar
o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de
enfermagem)
ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o
outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma
chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe
que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa
assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de
vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um
bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)
71
Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida
ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte
ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para
genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a
gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso
para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo
aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo
tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)
ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo
aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e
enfermeira)
ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai
sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)
ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a
gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)
CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida
Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo
ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o
bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente
luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho
indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de
enfermagem)
Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias
72
ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a
oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash
Enfermeira)
ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito
de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de
plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha
feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)
ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte
ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash
Fonoaudioacuteloga)
CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia
Subcategoria ndash Vivecircncias familiares
ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que
eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo
acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)
ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu
hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)
Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica
ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade
eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente
toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda
saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash
Meacutedica)
ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa
vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)
ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu
percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)
ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma
aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash
Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)
ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e
natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)
73
ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez
que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles
para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)
ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e
anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)
Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho
ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)
Subcategoria ndash Religiosidade
ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash
Assistente social)
ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe
outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)
74
Anexos
75
ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM
PESQUISA
76
ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
77
ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA
PESQUISA
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