FAE-Ciência Revista da Faculdade das Águas Emendadas
Brasília-DF, março de 2013
FAE-Ciência ▪ ISSN 2317-062X
CONSELHO CIENTÍFICO Dr. Luiz Alberto Rocha de Lira Dr. Luiz Batista Alves Dr. Manoel Araujo de Medeiros Dr. Marcelo Rodrigues dos Reis Dr. Onofre Rodrigues de Miranda Dr. Rubem José Boff Dr. Sergio Luis dos Santos Lima CONSELHO EDITORIAL Ms. Adriano Salles Amadeu Ms. Emerson Ferreira de Melo Ms. Ismael Rangel Ferreira Lins Ms. Luiz Henrique de Azevedo Borges Ms. Nelson Luiz dos Santos Tomassini Ms. Patrícia Peregrino Montenegro Ms. Soraia Cristina de Morais EDITOR Aline da Silva Boff EDITORAÇÃO Aline da Silva Boff ATENDIMENTO Secretária da Direção Fone: (61) 3388-0809 - E-Mail: [email protected] PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS Todo o material a ser publicado, deve ser enviado aos cuidados de Prof. Dr. Rubem José Boff, no endereço eletrônico [email protected]
Faculdade das Águas Emendadas Av. Independência – SCC Quadra 01 – Bloco C Fone: (61) 3388-0809 Planaltina-DF CEP 73310-303
Revista: FAE-Ciência / Faculdade das Águas Emendadas. n.1, jan./jun. 2013. Brasília: FAE, 2013.
Semestral, n.1, jan./jun. 2013. ISSN 2317-062X
1. Administração. 2. Letras. 3. Matemática. 4. Educação. 5. Gestão.
CDU 658:37:51
FAE-Ciência ▪ ISSN 2317-062X
A REVISTA
A revista FAE-Ciência é uma publicação periódica do Núcleo de
Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação (NuPEP) da Faculdade das Águas
Emendadas (FAE), gratuita e semestral, destinada à divulgação de
produção científica dos seus cursos e de parceiros da
instituição, contribuindo, desta forma, para o crescimento e
desenvolvimento da produção científica.
MISSÃO
Propiciar a publicação de artigos científicos que contribuam
para a disseminação do conhecimento das áreas envolvidas
nos cursos da Faculdade das Águas Emendadas (FAE),
baseados em princípios éticos e na percepção do contexto
social em que a instituição está inserida.
OBJETIVO
Disponibilizar meios para a socialização do conhecimento,
visando o fomento à investigação científica e ao debate
acadêmico.
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EDITORIAL
Esta publicação é um novo veículo de divulgação da
produção de docentes, discentes e parceiros da Faculdade das
Águas Emendadas (FAE). O objetivo principal da instituição, ao
lançar esta revista, é o da publicação de artigos inéditos sobre
temas pertinentes às áreas trabalhadas e desenvolvidas, tanto
na graduação quanto na pós-graduação da instituição.
A criação de publicação como a que se apresenta exige
a adoção de uma periodicidade, linha editorial clara e com
consistência, diversidade de temas, corpo editorial que busque
a excelência, além da existência de uma comunidade
acadêmica que participe do processo editorial, seja por meio
do envio de materiais, ou mesmo pela consulta das matérias
publicadas.
Acreditamos que a criação da FAE-Ciência representará
a inclusão de mais um veículo de divulgação de trabalhos
científicos, além de constituir um importante canal de
comunicação entre a comunidade acadêmica da FAE e
sociedade.
O momento da publicação do primeiro número não
poderia ser mais oportuno, visto que os cursos da FAE foram
iniciados em 2006 e reconhecidos entre 2010 e 2012; iniciou
FAE-Ciência ▪ ISSN 2317-062X
recentemente as pós-graduações lato-sensu; e se nota haver
grande quantidade de produções presentes na instituição,
muitas com destaque, seja pelo seu conjunto, pelo emprego
dos métodos, ou pelas características dos temas
desenvolvidos.
Embora a FAE conte com a divulgação de trabalhos
científicos por meios diversos – entre eles a página da
instituição na internet, a apresentação de trabalhos em
eventos, a publicação em nossa biblioteca – estes não
ofereciam o devido destaque a obras de grande destaque e
relevância dentro do contexto acadêmico e de nossa
instituição.
Na perspectiva da democratização da informação,
optou-se por disponibilizar a FAE-Ciência em meio impresso e
também em meio digital (disponível em www.faedf.edu.br).
Cabe mencionar que a instituição ficou bastante
envaidecida ao conseguir a colaboração de amigos e parceiros
no conselho editorial da revista. O currículo resumido dos
colaboradores segue nas próximas páginas e nos cabe prestar
sincero agradecimento a todos, bem como aos autores que
participam deste primeiro número da revista FAE-Ciência.
Rubem José Boff Faculdade das Águas Emendadas - FAE
Diretor Geral
FAE-Ciência ▪ ISSN 2317-062X
SUMÁRIO
ÁGUAS EMENDADAS: uma viagem entre a ecologia e o ensino superior ...................................................................................... Rubem José Boff; Luiz Henrique de Azevedo Borges A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO ENSINO SUPERIOR.................................................................................... Alesandra Batista de Oliveira; Carlos Antonio Lopes; Marilei Francisca da Silva PESQUISA ACADÊMICA: a matemática e a produção científica...................................................................................... Soraia Cristina de Morais UM ESTUDO SOBRE LOGÍSTICA REVERSA NA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PNEUS NO DF ....................................................... David Vieira de Souza O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL FRENTE AO COMPORTAMENTO DA ECONOMIA EUROPEIA NO PERÍODO DE 2000 A 2010 ............... Carlos Alberto Francisco de Sousa; Danilo da Costa e Silva; Tiago Trindade; Luiz Batista Alves A LOGÍSTICA REVERSA DE LIXO ELETRÔNICO DE COMPONENTES DE COMPUTADORES .................................................................... Thiago dos Anjos Vigilato Sousa A NAVEGABILIDADE E O TIPO DE JULGAMENTO ........................... Sergio Luis dos Santos Lima; Leila Amaral Gontijo COMUNICAÇÃO E CONSUMO: o jornal goiano no Século XXI ........... Adriano Salles Amadeu; Ludimila Stival Cardoso NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA FAE-Ciência Rubem José Boff
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ÁGUAS EMENDADAS: uma viagem entre a ecologia e o ensino superior
Rubem José Boff1 Luis Henrique de Azevedo Borges2
Resumo: Este artigo tem a intenção de discorrer sobre o surgimento do nome da Faculdade das Águas Emendadas (FAE), além do papel social desta instituição de ensino superior. Para compreender o significado da escolha do nome Águas Emendadas, discorreu-se primeiramente sobre a origem do nome, através de parte da história do Brasil, mais especificamente, da história da área compreendida pelo que se conhece hoje como Estação Ecológica de Águas Emendadas, área essa localizada na região administrativa de Planaltina, cidade situada na parte nordeste do Distrito Federal do Brasil. Além da origem do nome, o artigo discorre também sobre a importância que a referida Estação Ecológica representa para o meio ambiente. E, por último, discorre sobre a missão da Faculdade das Águas Emendadas e de sua visão de futuro. Palavras-chave: Águas Emendadas. Estação Ecológica de Águas Emendadas. Faculdade das Águas Emendadas. Ensino superior.
1 Doutor em Administração (Wisconsin University, USA). Mestre em Engenharia de Produção (UFSC). Especialista em: Administração e Planejamento para Docentes (ULBRA) Informação, Gestão e Tecnologia (UnEB); Administração de Serviços de Saúde Pública (FIOCRUZ). Bacharel em Administração (ULBRA). Professor e Diretor-Geral (FAE). 2 Mestre em História Cultural (UnB). Especialista em História da América (UnB). Bacharel em Economia (UnB) e em História (UnB). Professor (FAE).
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1 INTRODUÇÃO
No início deste milênio pretendia-se criar um centro de
ensino na cidade de Planaltina. O sonho foi concretizado no ano de
2006, com a criação da primeira faculdade da cidade, objetivando
atender a crescente demanda regional por ensino superior.
O nome da Faculdade das Águas Emendadas (FAE) foi
escolhido em homenagem ao nome da Estação Ecológica de Águas
Emendadas, estação essa localizada na cidade mais antiga e ao
mesmo tempo com a população mais pobre, dentre as três dezenas de
cidades que compõem o Distrito Federal do Brasil.
A Estação Ecológica de Águas Emendadas faz parte do
grupo das Reservas de Biosfera, criadas pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). No
Brasil existem atualmente apenas três Reservas da Biosfera. A
estação em referência foi a primeira reserva legalmente constituída
em Brasil.
Após a autorização de funcionamento da FAE, centenas de
pessoas da cidade e adjacências tiveram tanto entusiasmo e
acorreram para a primeira instituição de ensino universitário
instalada em Planaltina, pois esperavam concretizar o sonho da
formação e obtenção do diploma de um curso superior.
Todavia, no ano de 2009 foi registrado um grande índice de
evasão escolar, tendo-se constatado diversos motivos, dentre os
quais, a precária qualidade de gestão praticada.
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No início de 2010 a FAE passou pela transição de mantença,
e, desde então, vem conduzindo, tendo como foco, o processo
ensino-aprendizagem. Através de uma gestão participativa, vem
interagindo com a sociedade, de modo que o resgate da confiança
vem aumentando a cada ano. Como resultado positivo, em apenas
três anos já triplicou o número de discentes matriculados.
Hoje a FAE conta com três cursos de graduação
reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) além de outros
tantos cursos de pós-graduação e de extensão.
O objetivo deste artigo é mostrar o surgimento do nome da
Faculdade das Águas Emendadas (FAE), sua missão e visão de
futuro, destacando, ao mesmo tempo, a criação e importância da
Estação Ecológica de Águas Emendadas.
2 ÁGUAS EMENDADAS: de Reserva a Estação Ecológica
Dois dos maiores e mais importantes rios do Brasil, Rio
Paraná e Rio Tocantins recebem em seus leitos as águas de um local
muito especial e singular que existe no Distrito Federal: Águas
Emendadas. Neste local, há uma vereda, área típica do cerrado,
abundante em água, de onde nascem dois cursos de água, um deles
correndo para o Norte, o córrego Vereda Grande, que se encontra
com o Rio Maranhão, que deságua no Rio Tocantins; e o outro para o
Sul do país, o córrego Brejinho que deságua no córrego Fumal, que,
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por sua vez, encontra-se com o Rio São Bartolomeu, que se dirige
para o Corumbá, que se funde com o Parnaíba, que depois de longa
viagem, encontra-se com o Paraná.
São poucos os locais do mundo no qual nascem e correm
dois córregos diferentes, em direções opostas e que deságuam em
bacias hidrográficas tão significativas. Mas a beleza e o caráter
singular das Águas Emendadas não terminam aqui. Ela é uma região
que reúne algumas das espécies mais representativas da flora e da
fauna do Cerrado brasileiro.
Ela ocupa uma área de 10.547 hectares, situada no nordeste
do Distrito Federal, a cerca de 50 quilômetros do Plano Piloto e
próxima a histórica cidade de Planaltina, antiga Mestre D’Armas.
Como todas as Estações Ecológicas do país, Águas Emendadas é
uma Unidade de Conservação proibida à ocupação humana, a fim de
proteger completamente sua fauna e flora. Sua Estação Ecológica é
uma das mais importantes Unidades de Conservação do Distrito
Federal e nela se realizam várias pesquisas e projetos relacionados à
ecologia e a educação ambiental.
Essa área já era conhecida por sua beleza muito antes da
construção e transferência da capital para Brasília. Em 1808, o
jornalista Hipólito José da Costa, fundador do jornal Correio
Braziliense, argumentou a favor do estabelecimento da capital no
interior central do país em virtude da proximidade da cabeceira dos
grandes rios.
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Por sinal, a transferência da capital para o interior do país era
uma ideia alentada há pelo menos dois séculos e meio. Nessas
discussões, um argumento era recorrente, a presença, no centro do
Brasil, das três principais bacias hidrográficas nacionais. Essa região
já constava do Mapa da Capitania de Goyaz e regiões circunvizinhas
que mostra as comunicações entre as bacias do Prata e Amazonas,
assinado pelo cartógrafo italiano Francesco Tosi Colombina na Villa
Boa de Goyaz, em abril de 1751.
O engenheiro e diplomata Francisco Adolfo Varnhagen,
Visconde de Porto Seguro, em viagem pela região, citou em seus
relatórios a existência de uma área triangular formada pelas Lagoas
Formosa, Feia e Mestre D’Armas (atualmente chamada de Lagoa
Bonita) que corresponde a parte atual da Estação Ecológica aqui
destacada. Ele chegou a publicar em Viena, em 1877, a obra
intitulada A questão da capital: marítima ou no interior. Na citada
obra, Varnhagen reuniu suas preocupações e sugestões sobre a
transferência da capital e indicou a região que julgava mais
adequada:
(…) Na vasta extensão que acabo de percorrer, há porém outra região não menos apropriada a oferecer localidades favoráveis ao primeiro estabelecimento de colonos europeus, e a respeito da qual julgo que deveríamos desde já dar algumas providências, a fim de a ir preparando para a missão que a Providência parece ter=lhe reservado, fazendo a um temo dela partir águas para os três rios maiores do Brasil e da América do Sul, Amazonas, Prata e São Francisco (...). Refiro-me à bela região situada no triângulo formado pelas três lagoas Formosa, Feia e
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Mestre d`Armas, com chapadões elevados mais de mil e cem metros, sobre o mar, como nela requer para melhoria do clima a menor latitude, com algumas terras mais altas do lado do norte, que não só a protegem dos ventos menos frescos desse lado, como lhe oferecerão os indispensáveis mananciais (VARNHAGEN, 1978, p. 28).
Em 1892 foi a vez da Missão Cruls visitar e descrever o
local. Ela, que tinha como objetivo desbravar o interior do Brasil e
demarcar o futuro Distrito Federal, afinal a primeira Constituição
Republicana, de 18911, já previa a transferência da capital para o
interior do país, descreveu o local no Relatório da Comissão
Exploradora do Planalto Central. Tal missão foi designada pelo então
Presidente Floriano Peixoto e duas missões de exploração, ambas
chefiadas pelo astrônomo Luiz Cruls, em 1892 e 1894, percorreram a
região e seus resultados foram consolidados e publicados em 1894,
com o nome de Relatório Cruls.
Por mais uma vez, foi ressaltado a importância dada pelos
cientistas da Comissão à questão das águas e foi dispensada grande
atenção ao local de “encontro” das nascentes e dentre os pontos
favoráveis cita as possibilidades de abastecimento de água potável.
Porém foi necessário mais meio século para que o assunto
voltasse a ganhar importância. Em 1946, já sob a presidência de
Eurico Gaspar Dutra, foi criada uma nova comissão com o objetivo
de estudar uma localização apropriada para a nova capital do Brasil.
1 Consta no terceiro artigo da referida Constituição: Fica pertencente à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 Km2, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura capital federal.
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Ela foi presidida pelo General Djalma Polli Coelho e ficou conhecida
como Comissão Polli Coelho. Nele confirmou-se a indicação do
Quadrilátero Cruls, agora ampliado, ocupando uma área de
aproximadamente 77 mil km2. No relatório aqui destacado também
foi ressaltado o papel estratégico da região onde se encontra Águas
Emendadas.
Ainda que de forma lenta, ia em marcha o processo de
decisão política sobre a transferência da capital. Em agosto de 1953
foi a vez do Presidente Getúlio Vargas criar a Comissão de
Localização da Nova Capital Federal. A Comissão trabalhou durante
dois anos e da consolidação de seus estudos definiu-se onde deveria
ser construída a nova capital, já em 1955. No ano seguinte, no
governo de Juscelino Kubitschek iniciaram-se as obras de construção
da capital, Brasília.
Mas foi somente em 1966, seis anos após a transferência da
capital, durante o XVI Congresso da Sociedade Botânica do Brasil,
sediado na Universidade de Brasília, é que foi dado o nome ao lugar
e a seus córregos, numa iniciativa de um funcionário do Ministério
da Agricultura e apaixonado pelo Cerrado, o cientista Ezechias
Heringer.
Foi ele que provou o caráter singular de, em uma mesma
vereda, brotarem dois cursos de água que contribuem para a
formação de duas, das maiores bacias hidrográficas brasileiras.
Quando do referido Congresso, Heringer convidou vários
congressistas a visitarem o local onde se pretendia propor a criação
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de uma área de preservação, os quais, unanimemente, apoiaram tal
iniciativa.
A partir do esforço de Ezechias Heringer foi criada, em 12 de
agosto de 1968, inicialmente com 5 mil hectares, a Reserva
Ecológica das Águas Emendadas, por meio do Decreto no 771,
promulgado pelo então Prefeito Wadjô da Costa Gomide. Águas
Emendadas foi a primeira Reserva Biológica legalmente constituída
no Brasil e foi também a primeira Unidade de Conservação cujo
decreto de criação baseou-se no novo Código Florestal.
Águas Emendadas viu sua área mais que duplicada em 1988,
passando a ter os atuais 10.527,21 hectares. Isso se deu em 16 de
junho de 1988 pelo Decreto no 11.137, que também alterou a
denominação de Reserva Biológica para Estação Ecológica.
A ampliação da área foi uma resposta ao acelerado
crescimento de Brasília e as pressões da ocupação humana.
Juntamente com a ampliação da área, a região passou a ter o status
de Estação Ecológica, num reconhecimento de sua importância para
a preservação do ambiente natural do Cerrado.
Em 1992, as Águas Emendadas passou a fazer parte do
seleto grupo das Reservas de Biosfera, criadas pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). No
Brasil existem atualmente apenas três Reservas da Biosfera, a da
Mata Atlântica, a do Cinturão Verde de São Paulo e a do Cerrado,
que é Águas Emendadas.
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Nas Águas Emendadas encontram-se representados e
preservados, diferentes ecossistemas do Cerrado, que é considerado
um dos mais importantes biomas1 do mundo. É importante ressaltar
que o Cerrado abriga diversos tipos de vegetação, que equivalem a
diversos tipos de ecossistemas.
O Bioma Cerrado é formado por diferentes tipos de
vegetação e todas elas podem ser encontradas em Águas Emendadas,
tais como o Cerrado propriamente dito, o campo, o campo limpo,
campo sujo, mata de galeria e vereda. Logo, por apresentar todos
esses diferentes tipos de vegetação, Águas Emendadas acaba sendo
uma importante e representativa área do bioma Cerrado. Assim
sendo, ela possui um inestimável valor natural, assim como
científico.
O citado bioma desempenha papel de grande importância na
distribuição dos recursos hídricos não só no território brasileiro, mas
até mesmo no continente sul americano. Grandes bacias
hidrográficas, nacionais e transfronteiriças, possuem suas partes mais
altas localizadas no Planalto Central Brasileiro, região inserida no
bioma Cerrado, onde diversos rios nascem e, na medida em que
seguem em direção ao litoral, ganham em volume, abastecendo
grande parte do Brasil e de outros países sulamericanos. Logo,
eventuais impactos causados aos recursos hídricos do Cerrado
poderão se refletir em grande parte do país e até do continente.
1 Bioma é um grande conjunto de ecossistemas, caracterizado, em vários casos, por um tipo principal de vegetação.
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Dentre os múltiplos elementos formativos de sua flora, pode-
se destacar o buriti, o pequi, o ipê amarelo, a lobeira (que ganhou
esse nome por alimentar o lobo-guará), a quaresmeira e o coração-
de-negro.
Além de sua rica e imponente vegetação, também se
encontram em Águas Emendadas importantes espécies da fauna do
Cerrado, muitas delas, sob o perigo da extinção, como o lobo-guará,
que é um símbolo do Cerrado brasileiro.
Ainda em relação à fauna, já foram catalogadas a existência
na área das Águas Emendadas de 287 tipos de aves, tais como a
arara-canindé, o canário da terra, o beija-flor, o joão de barro, o
mutum, a ema, a codorna e o perdiz; de 66 mamíferos, entre os quais
pode-se destacar o lobo-guará, a anta, o veado, a raposa, o sagui-
estrela, a paca, o macaco prego e o veado-catingueiro; de 48 répteis,
tais como o jabuti, a cascavel, a jaracuçu, a coral, o jacaré, o teiú e a
jararaca; e de 27 anfíbios, como o sapo-cururu e a rã-pimenta (GDF,
2004, p. 20).
3 A ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE ÁGUAS EMENDADAS
Desde sua implantação, a Estação Ecológica de Águas
Emendadas tornou-se um importante local para a produção científica,
afinal representa uma das áreas protegidas de maior biodiversidade
do Brasil Central. Muitos trabalhos científicos desenvolvidos na
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citada Estação ganharam grande importância na comunidade
científica. Esses trabalhos ajudaram a chamar a atenção da
comunidade científica e leiga para a importância do Cerrado no que
se refere à preservação da biodiversidade.
Atualmente são desenvolvidos vários trabalhos de Educação
Ambiental na Estação Ecológica de Águas Emendadas. O contato
direto com os ecossistemas e sua beleza trazem para os participantes
de tais trabalhos um novo olhar para o meio ambiente. As unidades
de conservação são espaços privilegiados para o desenvolvimento da
educação ambiental.
As experiências de educação ambiental desenvolvidas no
interior e na área de influência da Estação Ecológica de Águas
Emendadas podem servir como modelo e ser replicadas em outras
unidades de conservação de natureza.
Planaltina, como já foi ressaltado, é o núcleo urbano mais
próximo de Águas Emendadas e é deste centro habitacional que
surgem as mais fortes e perigosas pressões humanas sobre a Estação.
Sendo assim, a preservação da Estação Ecológica de Águas
Emendadas não pode ser pensada e desenvolvida a partir de
estratégias ou ações isoladas e sem levar em conta os processos
sociais, econômicos e políticos da apropriação territorial que
ocorrem em todo o Distrito Federal.
Nas áreas próximas à Estação, loteamentos irregulares ou
não, estão em pleno desenvolvimento, logo a ocupação urbana é um
dos maiores obstáculos e riscos à proteção de uma unidade de
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conservação e Águas Emendadas não foge à regra, sofrendo com os
impactos da ocupação e uso do solo do seu entorno. A ocupação e o
uso do solo do entorno precisam ser gerenciados com muita atenção
e cuidado para que não se agrave os impactos sobre a referida
estação.
Além da ocupação do solo, outros problemas atingem a
Estação, são eles: a presença de caçadores e pescadores que são
retirados frequentemente da área do parque, as queimadas, que de
uma forma geral iniciam fora da própria reserva, porém que a atinge,
e por ser cercada por rodovias, é comum os atropelamentos dos
animais.
Logo, a proteção da Estação Ecológica de Águas Emendadas
exigirá do poder público muito mais que a simples delimitação e
vigilância da área. O grande desafio será transformar a população do
entorno em uma aliada da causa ambiental, com ações educacionais e
de conscientização que valorizem a existência de tão importante
Estação Ecológica.
4 A FACULDADE DAS ÁGUAS EMENDADAS
Como homenagem, reconhecimento da importância da
Estação Ecológica e por ela ser um elemento de identidade da
própria região, foi fundada, na cidade de Planaltina, em 2 de maio de
2006, a Faculdade das Águas Emendadas (FAE), estabelecida na
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Avenida Independência, Setor Comercial Central, Quadra 01, Bloco
C, Edifício Plaza. Conta atualmente com três cursos de graduação:
Administração (bacharelado), Letras (licenciatura) e Matemática
(licenciatura).
A FAE foi autorizada a funcionar através da Portaria do
MEC nº 963, de 28 de abril de 2006 e publicada no Diário Oficial da
União de 2 de maio de 2006. Os cursos de bacharelado em
Administração (bacharelado) e de Letras (licenciatura) e de
Matemática (licenciatura), foram autorizados a funcionar através da
Portaria do MEC nº 967, de 28 de abril de 2006 e publicada no diário
Oficial da União de 2 de maio de 2006.
No início, centenas de pessoas da cidade e adjacências foram
atraídas para estudar na primeira instituição de ensino universitário
instalada em Planaltina; esperavam concretizar o sonho da formação
e obtenção do diploma de um curso superior.
Todavia, a instituição ia de mal a pior. No ano de 2009 foi
registrado um índice de evasão escolar tão grande, que por pouco não
teve que fechar as portas. Os motivos constatados foram diversos,
dentre os quais, a precária qualidade de gestão praticada.
Em janeiro de 2010 a FAE passou pela transição de
mantença. Desde então, vem conduzindo a instituição, com foco no
processo ensino-aprendizagem. Através de uma gestão participativa,
tem procurado interagir com o governo distrital e com a sociedade
em geral, de modo que o resgate da confiança vem aumentando a
cada ano. A situação é cada vez mais positiva, haja vista que o
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número de alunos matriculados já foi triplicado desde então. Hoje
conta com três cursos de graduação, todos reconhecidos pelo
Ministério da Educação (MEC).
O curso de Administração (bacharelado) foi reconhecido
pelo MEC através da Portaria nº 431, de 21 de outubro de 2011, e
publicada no Diário Oficial da União de 24 de outubro de 2011.
O curso de Matemática (licenciatura) foi reconhecido pelo
MEC através da Portaria nº 4, de 24 de janeiro de 2012 e publicada
no Diário Oficial da União de 25 de janeiro de 2012. O curso de
Matemática (licenciatura) teve a renovação do reconhecimento pelo
MEC através da Portaria nº 286, de 21 de dezembro de 2012 e
publicada no Diário Oficial da União de 27 de dezembro de 2012.
O curso de Letras (licenciatura) foi reconhecido pelo MEC
através da Portaria nº 301, de 27 de dezembro de 2012, e publicada
no Diário Oficial da União de 31 de dezembro de 2012. Solicitou-se
ao MEC a retificação dessa Portaria.
A FAE implantou outros tantos cursos de pós-graduação. Os
cursos de pós-graduação lato sensu são em nível de especialização
em: Metodologia do Ensino Superior, Psicopedagogia e Orientação
Educacional. Além dos cursos de graduação e de pós-graduação,
também forma ministrados dezenas cursos de extensão em diversas
áreas do conhecimento.
A FAE adotou recentemente o slogan FAE - A Nossa
Faculdade. O sentido do slogan é para que ao ler, as pessoas possam
imaginar que a FAE está ao seu próprio alcance.
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A FAE reestruturou a sua missão a qual passou a ser a
seguinte, de acordo com Boff et al. (2011, p. 9) “A Faculdade das
Águas Emendadas tem por missão proporcionar um ambiente
educacional de qualidade, comprometido com a ética, a cidadania e
as necessidades contemporâneas, com o intuito de contribuir para a
formação integral e a valorização do ser humano”.
Dentre os valores da FAE, destacam-se: a qualidade, o
comprometimento e a ética. A qualidade no ensino, no
relacionamento com os clientes, fornecedores, parceiros e com a
sociedade em geral. O comprometimento em promover o ensino
superior, contribuindo para a formação profissional e o
desenvolvimento do ser humano e do seu preparo para o exercício
pleno da cidadania. A ética profissional, isto é, a ética do bem.
FAE - A Nossa Faculdade desenvolve suas atividades com
o objetivo de garantir uma formação superior voltada a um ensino
com qualidade, de acordo com as exigências do MEC, da legislação
vigente, do mercado de trabalho e da sociedade. Segundo Boff et al.
(2011, p. 9) "visa atender às necessidades do mercado de trabalho,
capacitando profissionais éticos e competentes para o
desenvolvimento da região na busca sistemática da excelência
educacional”. A filosofia dos projetos pedagógicos dos cursos, que
fixam os objetivos e as metas a serem alcançados durante a formação
dos alunos, os critérios norteadores para a definição do perfil do
egresso tomam como base uma visão humanista, a internalização de
valores de responsabilidade social, justiça e ética profissional.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 22
Integram, assim, as competências e as habilidades na formação do
futuro profissional.
A FAE “assumiu a missão de produzir conhecimentos e
experiências destinados a propiciar ao ser humano a construção do
seu projeto de vida, que lhe dê acesso, segundo suas necessidades,
aos bens e serviços que a civilização oferece” de acordo com Boff et
al. (2011, p. 10). E, também, assegurar a participação na construção
de uma sociedade mais justa, cooperativa e pluralista.
Assim, a instituição está empenhada em proporcionar um
ambiente educacional comprometido com a ética, responsabilidade,
cidadania e necessidades contemporâneas, de modo a contribuir para
a formação integral e valorização do ser humano. Do mesmo modo,
imbuída em possibilitar a transmissão, disseminação e produção do
conhecimento, através de atividades de ensino, pesquisa e extensão e
da educação continuada, articulando a academia e a sociedade, a
teoria e a prática. E empenhada em promover o desenvolvimento das
pessoas envolvidas e das empresas e instituições parceiras no
contexto da região de sua inserção – a cidade de Planaltina, com
abrangência de todo o Distrito Federal, das cidades da região do
entorno e do país (BOFF et al., 2011, p. 10).
A FAE possui inúmeros contratos e convênios de parceria
firmados com empresas e instituições, a fim de propiciar a sociedade
acesso ao ensino e conhecimento.
Como visão de futuro, a FAE quer crescer e ser referência
em educação na região até o ano de 2015.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 23
Dentre os projetos que a FAE está pensando em implantar
num futuro próximo, destacam-se: novos cursos de graduação e de
pós-graduação, incluindo o strito sensu; o Belvedere das Águas
Emendadas; ampliar as parcerias.
5 CONCLUSÃO
A FAE nasceu e reestruturou-se em Planaltina e pretende se
desenvolver na mesma cidade de origem, propiciando o melhor em
educação e cidadania, tanto para a população local como para a
sociedade em geral.
Dentro de sua visão a faculdade está apta a expandir a sua
área de atuação, criando novos cursos de graduação e de pós-
graduação dentro de um curto horizonte de tempo.
Assim, a FAE tem plenas condições, por meio do ensino,
pesquisa e extensão e da educação continuada, a produção,
transmissão, disseminação, gestão e preservação do conhecimento e
da informação, sempre preocupada em articular a teoria e a prática,
aproximando a academia da sociedade, com o intuito de promover o
desenvolvimento de pessoas, empresas e da própria região.
Como disseminadora de conhecimento e formadora de
opinião, a FAE, em seu relacionamento com a sociedade, tem
procurado ser mais um elemento de conscientização da população
local quanto à importância da preservação do meio ambiente. E,
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 24
consequentemente, da própria Estação Ecológica de Águas
Emendadas, para que a população atual e vindoura possa ter uma
qualidade de vida mais adequada e saudável.
REFERÊNCIAS BOFF, Rubem José et al. Plano de Desenvolvimento Institucional. Planaltina: FAE, 2011. GDF. Águas Emendadas: o paraíso do Cerrado. Brasília: Secretaria de Estado de Infra-Estrutura e Obras; Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, 2004. VARNHAGEN, Francisco Adolfo. A questão da capital: marítima ou no interior. Brasília: Thesaurus, 1978.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 25
A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO ENSINO SUPERIOR
Alesandra Batista de Oliveira1 Carlos Antonio Lopes2
Marilei Francisca da Silva3 Resumo: Esta pesquisa tem o objetivo de apresentar a importância da pesquisa científica como um instrumento para o processo de construção do conhecimento. Parte do princípio de que no ensino superior, os alunos devem estar engajados no seu processo de aprendizagem, tendo a pesquisa como principal metodologia de ensino empregada pelos docentes da instituição para a formação de acadêmicos comprometidos com a ética e a construção do conhecimento. Assim, é importante frisar que o conhecimento científico é um produto cultural construído historicamente e que possui características específicas. Esta investigação tem caráter estritamente bibliográfico e parte do princípio de que para se aumentar a qualidade do ensino superior é preciso que as disciplinas da grade curricular sejam vistas de forma interdisciplinar e tenham foco na formação de alunos pesquisadores, sobretudo na disciplina Metodologia Científica, que inicia o acadêmico no universo da Ciência.
Palavras-Chave: Metodologia científica. Pesquisa científica. Ensino superior.
1 Especialista em Metodologia do Ensino Superior (FAE). Licenciada em Matemática (FAE). 2 Especialista em Metodologia do Ensino Superior (FAE) Licenciado em Letras (FAE). 3 Especialista em Metodologia do Ensino Superior (FAE) Licenciada em Matemática (FAE). Professora universitária. Coordenadora do Curso de Matemática (FAE).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 26
1 INTRODUÇÃO
O processo de aprendizagem nos cursos superiores encontra-
se comumente voltado à especificidade de cada disciplina,
produzindo assim um saber fragmentado, sem conexão com uma das
finalidades da Educação neste nível de ensino que é desenvolver no
aluno a prática da pesquisa.
O Ensino Superior caminha buscando alcançar os objetivos
impostos por lei, conforme o texto da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB 9394/96), título VII, em seu artigo 4, relata que
A educação de 3º grau tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das ciências, letras e artes, a formação de profissionais de nível universitário e a difusão e discussão sistemática da cultura superior aberta à participação de toda população (BRASIL, 1996, p. 17).
Partindo deste princípio percebe-se que uma das finalidades
da Educação Superior é ingressar os acadêmicos no campo da
iniciação científica, permitindo que os mesmos possam desenvolver
habilidades e competências que regem o universo científico e possam
ingressar em estudos posteriores.
Neste caso, o grande desafio deste nível de ensino é além
propiciar o conhecimento próprio de cada uma das disciplinas
específicas do curso, instrumentalizar os alunos para o
desenvolvimento de trabalhos científicos e contribuir para a iniciação
científica.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 27
Uma maneira de proporcionar ao aluno a iniciação científica
é sua matrícula e efetiva participação na disciplina, obrigatória para
todos os cursos superiores, metodologia científica, vista logo no
início da graduação, seu foco é quase sempre nos trabalhos
conclusivos do curso.
Este estudo propõe mostrar que a pesquisa científica, no
decorrer de toda a graduação, é importante por conter características
que contribuem para o processo de desenvolvimento intelectual do
estudante, permitindo assim que sua vida acadêmica percorra
caminhos propostos para a sua boa formação neste nível de ensino.
Neste âmbito de aprendizagem, o aluno adquire as condições
de modificar gradualmente seus conhecimentos, deve ser estimulado
à prática da autonomia e responsabilidade intelectual, colabora com a
produção do pensamento crítico-analítico e reflexivo, pois convive
de forma direta com a prática da pesquisa.
Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho é
compreender a importância da pesquisa para o processo de
aprendizagem do aluno no Ensino Superior, para alcançá-lo foi
preciso buscar o entendimento sobre a epistemologia do
conhecimento, conhecer os caminhos que o produzem e, por fim,
discorrer sobre a prática da pesquisa como fazer obrigatório ao longo
de toda a graduação.
Estudos referentes a este assunto colocam a pesquisa
acadêmica como um processo de desenvolvimento intelectual, pois
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 28
trazem conhecimentos existentes e comuns às disciplinas específicas,
que podem ser questionados e investigados.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O conhecimento sempre esteve presente na história da
humanidade. Na antiguidade o homem buscava soluções para os
diferentes questionamentos que afligiam a população e, graças as
suas investigações, o relato histórico da sociedade, ficou marcado
por grandes descobertas (SHIMIDT, 2007).
Estas descobertas contribuíram significativamente com a
evolução do ser humano, da sociedade e da ciência, pois
Desde seu nascimento o homem adapta-se progressivamente a um mundo pré-existente e, no processo de socialização, procura encontrar respostas para suas dúvidas e incertezas através do questionamento progressivo dos significados do mundo que o cerca. Assim, todo o desenvolvimento experimentado pela humanidade é fruto da incessante busca do homem pela compreensão do universo circundante e o desejo de aprimorá-lo (LANZONI 2012, p.19).
Desta forma, os povos da antiguidade buscavam
compreender o mundo e, cada um deles utilizavam diferentes meios
para gerar o saber (MATALLO, 1989). Entretanto, estas formas não
produziam o conhecimento científico, pois as descobertas não
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 29
provinham de uma técnica adequada que os legitimassem
(SCHIMIDT, 2007).
2.1 O caminho para o conhecimento científico
Na antiguidade o homem procurava explicar os fenômenos
da natureza para poder entender o universo. Ao longo dos tempos
foram sendo criados argumentos e teorias que pudessem comprovar a
diversidade ocasionada por seus estudos, a fim de validá-los
(SCHIMIDT, 2007).
Estas investigações resultaram no surgimento de novas ideias
que foram concebidas por Platão, Aristóteles e Thomás de Aquino.
Cada um deles defendia o conhecimento, como algo que poderia ser
adquirido a partir da essência que caracterizava o objeto (GHEDIN e
FRANCO, 2008).
Segundo Matallo (1989), Platão acreditava que a essência do
elemento está em sua forma, na sua ideia, já para Aristóteles esta
concepção não poderia ser confiável, pois para ele o conhecimento
consiste no estudo das formas, mas não se resume somente a isso.
Estas ideias acerca do conhecimento foram sendo
questionadas, então, surgiu uma nova interpretação sobre o assunto.
Esta fase é vista por Ghedim e Franco (2008, p. 23) “como uma
transição do saber, o mesmo já não estava centrado no objeto e sim
no sujeito” que busca conhecer os fatos e explicá-los.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 30
Após estas mudanças, na visão de Schimidt (2007), o
panorama histórico sobre o conhecimento começou a ganhar novas
dimensões e, somente no século XVII, os renascentistas buscaram
compreender e explicar a realidade, através de métodos adequados,
que validariam as suas investigações.
A revolução científica, propriamente dita, registra-se nos séculos XVI e XVII, com Copérnico, Bacon e seu método experimental, Galileu, Descartes e outros. Não surgiu, porém, do acaso. Toda descoberta ocasional e empírica de técnicas e de conhecimentos referentes ao universo, à natureza e ao homem, desde os antigos babilônios e egípcios, a contribuição do espírito criador Grego, sintetizado e ampliado por Aristóteles, às invenções feitas nas épocas das conquistas preparam o surgimento do método cientifico e o caráter de objetividade que vai caracterizar a ciência a partir do século XVI, ainda de forma vacilante, agora de modo rigoroso (CERVO; BERVIAN, 2006, p. 6).
A consequência do método científico foi uma nova visão de
mundo que o homem passou a ter. Nesta época houve uma
reformulação no conceito de ciência, ele passou a ser definido como
uma gama de conhecimentos articulados entre si que podem ser
testados e comprovados (MATALLO, 1989).
De acordo com Ghedin e Franco (2008), a comprovação dos
conhecimentos adquiridos através dos métodos científicos é a base
da ciência para garantir a veracidade dos resultados, pois
A ciência busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e, consequentemente, também agir sobre a natureza. Para
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 31
tanto a ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo (LANZONI, 2012, p. 33).
Cabe notar, nos argumentos apresentados, que o conceito de
ciência foi modificado ao longo dos tempos, inicialmente houve a
busca de soluções para questões cotidianas e problemas que afligiam
os seres humanos (SHIMIDT, 2007; LANZONI, 2012).
No segundo momento, questiona-se a produção do
conhecimento na antiguidade, por falta do método científico
(SCHIMIDT, 2007) e, no terceiro momento apresenta-se mais uma
evolução, ao exigir o método para a construção do saber
(MATALLO, 1989; SCHIMIDT, 2007).
Por fim, o foco no objeto, utilizado na antiguidade, evolui
para o foco no sujeito que interage com o objeto (GHEDIN e
FRANCO, 2008), mas foi somente no século XVI e XVII que surgiu
a ideia de criar um método científico capaz de universalizar o
conhecimento. No entanto, esta nova forma de obtê-lo e modificá-lo
aconteceram graças às inquietações sobre a temática em momentos
anteriores ao seu surgimento (CERVO e BERVIAN, 2006).
Neste contexto, o conhecimento é produção do homem, mas
ele não o produz sozinho, porque existe um instrumento entre o
sujeito que investiga e o objeto de investigação. Na ciência não é
diferente, o indivíduo quando pesquisa de forma científica, percorre
um caminho para alcançar um resultado, este caminho é visto como
um instrumento entre o sujeito e o objeto (CERVO; BERVIAN,
2006).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 32
2.2 CONCEPÇÕES MODERNAS PARA O TERMO
CONHECIMENTO
Parece-nos muito pertinente ressaltar a natureza do
conhecimento visto que “O conhecimento deve ser compreendido
como um processo dinâmico, inacabado e em constante
transformação e adaptação” (LANZONI, 2012, p.19). Essa ideia de
transformação permanente nos obriga a traçar um diálogo estável
com o conhecimento.
Para Koche (1997) o conhecimento é classificado de acordo
com sua natureza e está presente na vida do ser humano para
colaborar com sua existência. Uma das classificações mais utilizadas
é a que distingue o conhecimento do senso comum e a do
conhecimento científico. Discernir entre estes dois é fundamental
para um acadêmico, visto que o foco da educação formal e do ensino
superior é o conhecimento científico.
2.2.1 CONHECIMENTO DO SENSO COMUM
O senso comum “é o conhecimento do povo, conhecimento
de oitiva que atinge os fatos sem lhes inquirir as causas” (RUIZ,
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 33
2002, p. 95). Em uma discussão mais aprofundada pode-se afirmar
que
Este tipo de conhecimento, também chamado de espontâneo, vulgar ou empírico, surge do viver cotidiano e geralmente se apresenta desprovido de método e sistematicidade e pautado unicamente pela prática e percepções cotidianas. Na tentativa de encontrar explicações para os acontecimentos cotidianos, consegue basicamente uma percepção do que o rodeia, sem se preocupar com relações de causa e efeito e sem uma postura racional (LANZONI, 2012, p. 22).
Desta forma percebe-se que o senso comum é “obtido ao
acaso, após ensaios e tentativas que resultaram em erros e em
acertos. Este tipo de conhecimento é ametódico e assistemático”
(CERVO e BERVIAN, 2006, p. 8).
É considerado como “a forma mais usual que o homem
utiliza para interpretar a si mesmo, o seu mundo e o universo como
um todo, produzindo interpretações significativas” (KOCHE, 1997,
p. 23).
Nessa vertente é importante destacar que o conhecimento do
senso comum provém, geralmente, de percepções cotidianas, as
quais o sujeito toma como verdadeiras e passa a transmitir este saber
como certo. Este conhecimento torna-se um fato cultural e é
cultivado de geração em geração. O senso comum é praticado por
grande parte da população.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 34
2.2.2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O conhecimento científico quando fora definido por
Aristóteles era tido como algo concebido através da demonstração,
por um sistema certo, geral e metódico, ou seja, era originário de
algo pronto e acabado, portanto, tornava-se aceito somente aquilo
que poderia ser comprovado (CERVO; BERVIAN, 2002).
Este tipo de conhecimento “surge da necessidade de o
homem não assumir uma posição meramente passiva, de testemunha
dos fenômenos, sem poder de ação ou controle dos mesmos”
(KOCHE, 1997 p. 29). Destarte, o conhecimento científico é
[...] o resultado de uma reflexão sistemática, rigorosa e de conjunto acerca da própria prática, de sua construção, atinge o sujeito, diretamente no mais intimo de seu ser. Pelo conhecimento ele se deixa envolver, distancia-se da realidade justamente para poder compreendê-la em sua significação mais profunda, pois ela o toca em todos os níveis (GHEDIN, FRANCO, 2008, p.141).
O conhecimento científico nasce a partir de um
questionamento, de forma crítica e rigorosa seus caminhos são
descobertos através de uma ação programada obedecendo a um
sistema metódico de leis que verificam as relações que existem entre
os fenômenos (LANZONI, 2012). Koche (1997) afirma que
O conhecimento científico surge da necessidade de o homem não assumir uma posição meramente passiva, de testemunha dos fenômenos, sem poder de ação ou controle dos mesmos. Cabe ao homem, otimizando o uso de sua racionalidade, propor uma forma sistemática, metódica e
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 35
crítica da sua função de desvelar o mundo, compreendê-lo explicá-lo e dominá-lo (p.29).
Estes fenômenos possuem características explicáveis e
confirmam as causas e os embasamentos de sua certeza,
estabelecendo princípios para todos os acontecimentos, que ocorram
nas mesmas condições e conjunturas (RUIZ, 2002).
Considerando o ponto de vista destes autores com relação à
natureza do saber científico é possível observar que, há um consenso
entre eles, pois todos concordam que este existe para suprir as
necessidades do homem, é o próprio indivíduo quem o elabora e o
questiona (LANZONI, 2012; KOCHE, 1997).
Para que este saber seja alcançado é necessário a existência
de procedimentos sistemáticos de investigação. A diferença entre ele
e outros conhecimentos é o caminho percorrido para comprovar o
resultado, já que para se denominar conhecimento científico faz-se
necessária a utilização de um método científico seguro e eficaz
(CERVO e BERVIAN; 2006; RUIZ, 2002).
2.2.3 O MÉTODO CIENTÍFICO
Antes de discutir o método científico importa ter claro o
conceito de método. Segundo Cervo e Bervian (2002), “A palavra
método é de origem grega e significa o conjunto de etapas e
processos a serem vencidos ordenadamente na investigação dos fatos
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 36
ou na procura da verdade” (Ruiz, 2002, p. 137), “nas ciências,
entende-se por método o conjunto de processos empregados na
investigação e na demonstração da verdade”.
O método científico é um caminho seguro para produzir o
conhecimento, este evoluiu a partir das investigações que eram
feitas, sendo observado após os resultados colhidos, ou seja, antes de
ser criado, o método só era analisado em momento posterior à
pesquisa (KOCHE, 1997).
Ruiz (2002) concorda com esta afirmativa ao observar que
“o homem primeiro agiu metodicamente, e só depois estruturou os
passos e exigências do método científico”. Lanzoni (2012, P. 39) nos
adverte que
O termo método designa a ordem a ser seguida nos diferentes processos que são necessários para se chegar a determinado fim ou resultado. Em outras palavras, método pode ser entendido como um procedimento regular, explícito e que pode ser repetido a fim de se conseguir algo material ou conceitual.
O método científico possui um elevado grau de
confiabilidade, no entanto, este instrumento de trabalho só é eficaz
quando utilizado por um pesquisador que tenha uma atitude
científica e saiba pensar cientificamente (RUIZ, 2002).
Gressler (1989, p. 24) explica que
Método científico é o processo seguido na obtenção de conhecimentos, compreendendo os seguintes passos básicos: observações preliminares, problema, revisão
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 37
bibliográfica, amostragem, instrumentos, coleta de dados, tabulação, análise e inferências.
2.2.4 PESQUISA E PROCESSO CIENTÍFICO
A pesquisa é o instrumento fundamental para o mundo
acadêmico. É ferramenta para a busca e constituição de
conhecimentos. Para Cervo e Bervian (2002, p.63) “A pesquisa é
uma atividade voltada para a solução de problemas teóricos ou
práticos com o emprego de processos científicos”.
Na visão de Reis (2006, p.34)
A pesquisa induz a ação ou efeito de investigar, buscar, indagar e inquirir os fenômenos com o objetivo de compreendê-los e explicá-los. Isso significa que pesquisar não supõe o domínio de instrumentações pouco acessíveis, mas de dialogar de forma crítica e criativa com a realidade, o que culmina em elaboração própria e na capacidade de intervenção.
Lanzoni (2012) complementa esta visão ao afirmar que a
pesquisa é “um processo sistemático que tem como objetivo a
construção do conhecimento”.
Portanto importa ressaltar que a pesquisa é fundamental para
o ensino superior, pois “Autoridades educacionais afirmam que uma
das mais específicas funções da universidade é a pesquisa com o
objetivo de melhorar o ensino” (GRESSLER, 1979, p. 14). Neste
caso a pesquisa pode ser considerada como um instrumento
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 38
metodológico de ensino que visa à aprendizagem em contexto amplo.
Almeida (1989, p. 99) nos indica que
Não se trata mais de perguntar o que o professor pretende do aluno. Nem o que o aluno pretende mostrar ao professor. Mas o que o professor e aluno, engajados na descoberta e elaboração do conhecimento, pretendem desse conhecimento no mundo a fim de justificar a transformação desse mundo.
Assim a pesquisa torna-se o grande elo entre os protagonistas
do fazer acadêmico, ela deve nortear e ao mesmo tempo remodelar o
ensino superior.
Almeida (1989, p. 99) afirma ainda que “Dentro dessa
perspectiva educacional, o estudo aparece para o aluno como forma
de pesquisa, apresentado comumente por diversos autores nas
modalidades de pesquisa bibliográfica e documentação”.
O ensino superior é responsável pela formação teórico-
prática do aluno em relação às áreas e subáreas do conhecimento
propriamente dito (FRANCO, 1997). Assim, ele se pode fazer o
grande diferencial de um profissional.
Nesta esfera de aprendizagem deve haver um programa que
será complementado com pesquisas por parte do aluno, sendo assim,
o acadêmico passa a ser responsável por sua própria aprendizagem
(LANZONI, 2012).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 39
2.2.5 INICIAÇÃO CIENTÍFICA NAS INSTITUIÇÕES DE
ENSINO SUPERIOR
A iniciação cientifica nas Instituições de Ensino Superior
norteia algumas especificações referentes aos objetivos deste nível de
ensino que, segundo Reis (2006) “é orientar o aluno a estudar os
conteúdos de diversas disciplinas e a ensaiar construções incipientes
de ciência, motivando-o a exercitar o raciocínio lógico de pesquisa” (
p. 15).
A sua finalidade é “estimular a criação cultural e o
desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo,
incentivando o trabalho de pesquisa e a investigação cientifica e
promovendo a extensão” (LIBÂNEO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2009,
p. 259).
Almeida, Costa e Freitas (2012, p.2) afirmam que
[...] para que a escola, principalmente de ensino superior, cumpra sua função social é mister que busque a inserção na sociedade de forma abrangente e ao mesmo tempo pontual, criando mecanismos que possam garantir a ligação entre o conhecimento produzido pelas instituições de ensino e aquele que a sociedade realmente necessita, reduzindo o hiato teoria versus prática e produção versus aplicação de conhecimento.
Neste sentido, o emprego de processos científicos deve ser
objeto do ensino superior, pois é neste ambiente que o acadêmico
recebe instruções para produzir o conhecimento (RUIZ, 2002).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 40
Estas instruções seguem uma sequência de métodos
empregados em trabalhos acadêmicos, as quais norteiam a relação
entre conceitos e procedimentos. Geralmente, é visto em disciplina
específica denominada por muitos como Metodologia da Pesquisa.
Esta disciplina tem a “função maior de orientar o processo didático-
pedagógico de produção de conhecimentos pela pesquisa” (REIS,
2006, p. 15).
Segundo Ruiz (2002, p. 03) a Metodologia Científica
“pertence ao núcleo das disciplinas básicas de cursos superiores de
diversas áreas. Em razão de sua função auxiliar e propedêutica, esta
disciplina é ministrada no primeiro semestre de vários cursos”. Esta
disciplina também apresenta algumas metas imediatas. Cervo e
Bervian (2006, p. 02) nos relatam estas metas:
melhorar a apresentação dos trabalhos escolares e, sobretudo, elevar o nível de aperfeiçoamento dos estudos, despertando no aluno um senso crítico suscetível de colocá-lo em condições de reagir, de ser ativo ou participar das atividades escolares. Esse senso crítico deverá evoluir, tornando-se espírito científico fecundo e criador.
Por todas as razões acima descritas a disciplina Metodologia
Científica precisa ter relação estreita com a pesquisa e deve colaborar
para que os acadêmicos possam iniciar-se nos caminhos da pesquisa
científica e no desenvolvimento de habilidades de leitura,
compreensão, crítica e diálogo permanente com as teorias de cada
curso.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 41
3 METODOLOGIA
Toda pesquisa acadêmica deve ter como ponto de partida os
meios que nortearão os estudos, o que requer do pesquisador uma
compreensão das técnicas metodológicas que serão utilizadas para o
desenvolvimento da pesquisa.
Por esta razão definir os procedimentos que serão adotados
para concluir a pesquisa científica, torna-se essencial para a
conclusão do trabalho.
Em suma, é necessário determinar qual o método de estudo
adequado que irá direcionar a problemática em estudo. Desta forma
Koche (1997, p.121) afirma que
A ciência se apresenta como um processo de investigação que procura atingir conhecimentos sistematizados e seguros. Para que se alcance esse objetivo é necessário que se planeje o processo de investigação. Planejar significa aqui traçar o curso de ação que deve ser seguido no processo de investigação científica.
Seguindo esta orientação e considerando a importância em
planejar um estudo científico, ficou definida como instrumento de
viabilização para execução deste trabalho, a pesquisa de caráter
bibliográfico, por entender que o tema abordado requer esta diretriz.
A pesquisa bibliográfica para Koche (1997, p.122) “se
desenvolve tentando explicar um problema, utilizando o
conhecimento disponível a partir das teorias publicadas em livros ou
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 42
obras congêneres”. Este foi a meta deste trabalho pesquisa em
bibliografia pertinente a importância da pesquisa para a formação
acadêmica. Segundo Gil (2009, p.44) a pesquisa bibliográfica
é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.
A partir da escolha da bibliografia o pesquisador irá dar
prosseguimento ao processo de investigação através de uma leitura
minuciosa e crítica, recolhendo os dados necessários para a
estruturação do seu trabalho.
A primeira etapa de uma pesquisa bibliográfica segundo as
concepções de Medeiros (2010, p.39) será a “escolha do assunto
seguido pela elaboração do plano de trabalho, identificação,
localização, compilação, fichamento, análise e interpretação,
redação”.
Definir a metodologia da pesquisa é um ponto de partida que
viabiliza o saber científico, seguindo os conhecimentos metódicos
para a realização deste trabalho acadêmico, convém questionar: a
pesquisa científica é importante para a formação superior?
O objetivo deste trabalho é compreender a importância da
pesquisa científica como um instrumento eficiente no processo de
construção do conhecimento disposto em cada disciplina.
Tendo ainda como objetivos específicos:
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 43
• Entender a finalidade do ensino superior.
• Analisar a relação entre pesquisa e conhecimento.
• Perceber como acontece a Iniciação Científica nas
Instituições de Ensino Superior brasileiras;
Para atingir estes objetivos utilizou-se ao longo deste estudo
uma metodologia de abordagem qualitativa de caráter estritamente
bibliográfico, por meio da visão e entendimento de autores e
sumidades na área a respeito da pesquisa científica no Ensino
Superior.
4 DISCUSSÃO
Esta investigação sobre a importância da pesquisa científica
no Ensino Superior possibilitou reunir e sistematizar alguns
conceitos fundamentais para a compreensão do estudo através da
pesquisa neste âmbito de ensino. Há, entretanto, aspectos
importantes que podem ser descritos com segurança possibilitando
algumas inferências sobre o assunto abordado.
Um desses aspectos está relacionado aos objetivos do ensino
superior – promoção da iniciação científica, por meio da disciplina
Metodologia da pesquisa. De fato, esta disciplina possui uma gama
de conhecimentos que são repassados aos alunos com o intuito de
que ele possa desenvolver o pensamento crítico e reflexivo acerca de
determinados assuntos e saiba utilizar os instrumentos para
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 44
apresentação de trabalhos acadêmicos. Contudo para que isto
realmente ocorra é fundamental que a disciplina seja bem ministrada
tendo como foco principal a pesquisa e a elaboração de trabalhos
realizados com os esforços de compreensão, de leitura e crítica dos
próprios alunos e permeados pela ética. É preciso que os acadêmicos
aprendam a conhecer a natureza do conhecimento científico deste o
primeiro semestre e a elaborar seus próprios trabalhos de pesquisas
orientados por um docente qualificado e ciente da necessidade da
formação de um aluno com perfil de pesquisador que saiba discutir
as teorias científicas, questioná-las, buscar novos referenciais e a
partir daí produzir interpretações adequadas à sua realidade.
Nesta perspectiva não é possível se ater a uma mera
transmissão de conhecimentos, esta realidade exige dinamismo,
capacidade e disposição para atender todas as exigências de seu
campo profissional. Neste sentido o conhecimento das regras
metodológicas apenas com conceitos não resulta em um processo de
iniciação científica.
Já que a iniciação científica acontece quando o aluno torna-
se capaz de empregar os conhecimentos adquiridos junto às
disciplinas que os contém, logo a utilização da pesquisa
propriamente dita pode ser engajada como um meio que consiste na
transposição e reconstrução de saberes provindos, em geral, do
conhecimento já existente. Contudo para formar os estudantes com o
perfil de pesquisador faz-se necessário um esforço de todos os
docentes do curso. Foi relatada a importância da disciplina
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 45
Metodologia Científica, contudo não pode uma única disciplina
formar um pesquisador. Ela, quando bem desenvolvida é
fundamental para iniciar o acadêmico, entretanto é necessário que
todas as disciplinas da grade curricular tenham esta preocupação de
preparar o estudante para a pesquisa e para a leitura e interpretação
do conhecimento construído à luz das teorias estudadas de forma a
compreender e agir no mundo, pois como pondera Reis (2006, p. 34)
o ato de pesquisar “induz a ação ou efeito de investigar, buscar,
indagar e inquirir os fenômenos com o objetivo de compreendê-los e
explicá-los”. Desta forma, a pesquisa é uma forma de intervir
conscientemente na realidade.
O conhecimento dos métodos científicos é um processo
fragmentado na maioria das faculdades brasileiras. Neste sentido a
educação superior também sofre com deficiências adquiridas no
decorrer do processo de ensino aprendizagem, os alunos ficam
desprovidos desta ciência aplicada, pois conheceram, mas não
praticaram e como temos discutido esta realidade deve ser
modificada. Como nos aponta Franco (1997) o ensino superior é
responsável pela capacitação do discente em relação ao
conhecimento teórico e prático que pretende construir. Logo este
nível da educação precisa assumir de maneira responsável sua
responsabilidade. Para tal o caminho apontado pela pesquisa
bibliográfica é o da interdisciplinaridade, da formação do acadêmico
com o perfil de pesquisador e do comprometimento e qualificação
dos docentes de ensino superior para abranger este trabalho. Ao
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longo do referencial teórico mostramos a importância que a pesquisa
científica tem para a formação em nível superior.
Diante destas possibilidades é viável que o professor tenha
conhecimentos dos caminhos que deve percorrer para promover a
interação entre o ensino e a aprendizagem, já que é muito comum
nestes casos o professor por falta de habilidades deixa a cargo dos
alunos a interpretação e a interação entre os conceitos da disciplina
com sua realidade.
O professor traça suas estratégias, que consiste no
planejamento das aulas com formulação dos objetivos, seleção dos
conteúdos, o aprimoramento e adequação dos métodos de ensino,
para isso é preciso ter conhecimentos prévios de sua clientela para
direcionar suas aulas de acordo com o corpo discente e definir quais
mecanismos permitirá a apropriação do saber.
O professor tem total autonomia para desenvolver suas
práticas pedagógicas, no entanto precisa reconhecer seu papel de
mediador do conhecimento proporcionando aos alunos métodos
adequados e seguros que viabilizem a apreensão do saber, pois diante
da atualidade na qual o aluno é sujeito ativo não é mais possível ser
apenas transmissor do conhecimento, sobretudo na educação
superior.
Neste sentido o processo de ensino permeia o planejamento
organizado, sistemático e coerente, mantendo uma relação entre a
disciplina e os procedimentos metodológicos com o objetivo único
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 47
de promover a aprendizagem crítica e reflexiva por parte dos alunos,
orientados pelo professor em suas atribuições formativas.
Para o educador envolvido com pesquisa, não basta dominar
os conceitos e saber transmiti-los, é preciso ir além das expectativas
dos alunos, é condição necessária, considerando as características do
ser humano, saber articular saber com outros saberes de maneira
interdisciplinar. Para isso existem diversas formas, uma delas na
visão Gressler (1979) é a pesquisa em si, que colabora com a
formação crítica e criativa dos estudantes e tem como função dar
qualidade e aprimoramento à universidade.
As disciplinas ligadas à metodologia são recheadas de
procedimentos que podem ser trabalhados em contextos reais,
buscando o aperfeiçoamento com o curso específico.
Neste caso o aluno deixa de receber informações e
reproduzi-las, e passa a construir seu próprio conhecimento através
de um método de ensino que viabilize a pesquisa científica. Desta
forma contribui para a formação de futuros pesquisadores capazes de
dar continuidades em estudos e pesquisas bem sucedidas tanto na
graduação, quanto na pós-graduação e colaborar com o
desenvolvimento científico do país.
As informações acumuladas pelos alunos podem ser
transformadas em conhecimento a partir da aquisição de novos
saberes, desta forma interfere nas concepções preexistentes acerca da
realidade, modificando e reconstruindo conceitos, dando origem a
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 48
um novo conhecimento que contribuirá para a formação do
estudante.
Para Medeiros (2010, p.41) “as peculiaridades de seu método
diferenciam a ciência das muitas formas de conhecimento humano”,
mesmo que as investigações sejam originárias de conhecimentos
advindos do senso comum, o poder de comprovação dos métodos
resulta em uma teoria científica e na construção de um novo saber.
Uma educação neste patamar acaba por promover o
desenvolvimento científico e cultural, contribui com a aquisição do
conhecimento e permite o aprimoramento de ideias e a construção de
novos saberes. Supera as dificuldades de aprendizagem propiciando
uma reflexão acerca dos processos e práticas pedagógicas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste estudo pode-se observar que uma das
finalidades do ensino superior é contribuir para a formação técnico-
científica do estudante. Uma forma de viabilizar o saber científico é
tornar a pesquisa como ferramenta de construção de conhecimentos.
Esta afirmativa se justifica nas idealizações do ensino
superior e na origem do conhecimento, que sempre acompanhou o
homem em sua jornada profissional e social.
Em épocas passadas o conhecimento era visto como algo que
surgia a partir das intuições de alguns excêntricos da sociedade, e
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com o passar dos tempos as informações eram aceitas e reconhecidas
como verdades absolutas que não poderiam ser modificadas.
Com a evolução social e humana esta visão dogmática
ganhou novas dimensões, pois o homem passou a questionar as
verdades ditas absolutas, conscientizando-se de que elas poderiam
sofrer mudanças de acordo com o que era observado, surgindo, então
uma nova visão de como proceder para gerar o saber.
Este modo de conceber o conhecimento ficou determinado
por alguns filósofos como processos metódicos em que a produção
seria discutível e justificável em qualquer situação, podendo ser
questionada por diferentes ângulos.
Na atual percepção da sociedade este caminho que orienta a
busca por informações que constroem o conhecimento é ofertado na
instituição de nível superior através de uma disciplina específica, que
visa instrumentalizar o aluno a desenvolver trabalhos acadêmicos, a
Metodologia Científica.
No entanto a função maior das academias é, também,
contribuir para o crescimento científico da sociedade e dos
acadêmicos, instrumentalizando-os com teorias e técnicas capazes de
produzir novos conhecimentos, permitindo que o estudante tenha
uma visão crítica e reflexiva dos saberes abordados e da própria
sociedade.
Destarte deve haver obrigatoriamente a prática da pesquisa
nas salas de aula do ensino superior, pois esta visa colaborar com a
compreensão de vários contextos relacionados ao curso e a sociedade
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em que o acadêmico está inserido, o que não permite um saber
fragmentado, como se cada disciplina percorresse um caminho de
forma isolada.
Quando acontece o ensino de conteúdos específicos, é
preciso considerar que este conhecimento surgiu por meio de
investigações e, cabe ao aluno questionar e procurar respostas para
suas argumentações, esta atitude corrobora com uma atitude
reflexiva e analítica, permitindo que o aluno produza seu próprio
conhecimento.
Neste sentido, cabe ao professor orientar e incentivar os
estudantes e promover à pesquisa, a discussão, a procura de
respostas, por meio de um trabalho que envolvente e embasado
cientificamente.
Quando realiza uma pesquisa de cunho científico, o aluno
tem a possibilidade de aprender mais a respeito de um assunto que já
fora abordado anteriormente, pois o professor do Ensino Superior
não está pedindo ao estudante este entenda o processo pelo qual o
conhecimento é construído, algo que já fora visto, entendido e
estudado por pesquisadores, anteriormente.
Vale lembrar que a pesquisa científica ajuda aos discentes na
busca por um aprendizado mais ativo e efetivo, além de mostrá-los a
respeito do quanto é preciso dedicação para que se consiga entender
o ponto de vista de outra pessoa, ainda que, o pesquisador concorde
ou discorde daquela visão interpretada e demonstrada pelo
pesquisador.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 51
Importante ressaltar ainda que o acadêmico ao realizar um
trabalho científico deve se preocupar com o caminho a ser
percorrido, sempre estando atento com o caráter único e inovador da
pesquisa ou na interpretação e análise do que o autor quis demonstrar
ao longo de sua pesquisa.
Deste modo, pode-se concluir que a pesquisa científica é de
vital importância para a formação em Ensino Superior, pois ajuda o
aluno a buscar a construção de seu próprio conhecimento, para que
entenda a natureza dos saberes e fazeres acadêmicos para que
aprenda efetivamente processos importantes como análise, crítica,
interpretação, conclusão, observação, elaboração e reelaboração
teórica bem como a aplicação da teoria na transformação da
realidade, na efetiva compreensão do mundo e dos saberes
acadêmicos.
No entanto para que a desenvolvimento do acadêmico com
perfil de pesquisador se dê de forma ampla faz-se necessário que
todas as disciplinas da grade curricular estejam comprometidas com
a formação na e pela pesquisa visando a transformação do mundo
como nos indicam as palavras de Almeida (1989) o mais importante
é que educadores e acadêmicos estejam “engajados na descoberta e
elaboração do conhecimento” e de como pretendem usar este saber
no mundo “a fim de justificar a transformação desse mundo” ( p. 99).
Esse é o maior objetivo do ensino e da pesquisa promover a
construção do conhecimento de forma a entender e modificar a
realidade para melhor e de agir de forma consciente na sociedade.
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PESQUISA ACADÊMICA: a matemática e a produção científica
Soraia Cristina de Morais1 Resumo: Este artigo abordou um dos aspectos cruciais na formação superior acadêmica, que diz respeito à pesquisa científica, e que representa um dos eixos elementares da graduação na matemática, por se tratar de uma perspectiva que pode servir de estímulo à realização de investigação acadêmico-científica, e certamente, capaz de desenvolver ciência e tecnologia, paralelo à criação e difusão da cultura. Partindo do princípio de que esses fatores condizem com uma aprendizagem contemporânea participativa e interdisciplinar, este trabalho alcançou seus objetivos, tendo em vista que discutiu a importância da pesquisa científica na matemática, sob o ponto de vista das novas linguagens e dos novos códigos e ressaltou os aspectos (formativos) essenciais para produção de saberes na graduação da matemática, que licencia os discentes a desenvolverem papéis de educadores, capazes de concretizar o conhecimento de várias gerações de alunos. Ademais, enfatizou a importância dos aspectos metodológicos, enquanto excelência de aprendizagem, que dentre outros papéis, viabiliza a realização de pesquisas que exercem influência significativa nos educandos, de modo que os mesmos sintam-se estimulados a investigarem temas, de modo a se aperfeiçoarem profissionalmente, e integrar a proposição intelectual com a difusão da criação científica. Portanto, ressaltou a aprendizagem matemática, e o favorecimento do debate sobre teorias, informações, dúvidas e questionamentos que possam contribuir com a compreensão do processo histórico da vida social, acadêmica, produtiva e evolutiva da vida, contemplando o caráter prático, dialético, abstrato, crítico, participativo e científico. Palavras-Chave: Matemática. Conhecimento Científico. Pesquisa. 1 Mestre em História do Brasil (UFPI). Especialista em Comunicação de Massa (PUC/SP). Graduada em Comunicação Social (FAITER). Professora (FAE).
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1 INTRODUÇÃO
A educação (superior) no Brasil, desde o ano de 1996,
quando foi sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) passou a ressaltar os vários processos formativos
que favorecem a capacitação do discente, passando pela convivência
humana, habilitação para o trabalho e preparação para sua prática
social participativa e pró-ativa. Esses fatores refletem os princípios
de todas as Instituições de Ensino Superior (IES), no que concerne ao
pleno desenvolvimento do discente e seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Nessa linha de raciocínio, esse artigo aborda um dos aspectos
cruciais na formação superior acadêmica, que diz respeito à pesquisa
científica, um dos eixos elementares do ensino superior brasileiro,
que visa incentivar a realização de pesquisa (investigação)
acadêmico-científica, com o objetivo de desenvolver ciência e
tecnologia, paralelo à criação e difusão da cultura, para desse modo,
contribuir com o entendimento do homem e do meio social em que
vive (LDB, 1996).
Partindo do princípio de que esses fatores condizem com
uma aprendizagem contemporânea participativa e interdisciplinar,
este trabalho tem como objetivos: Discutir a importância da pesquisa
científica na matemática, sob o ponto de vista das novas linguagens e
dos novos códigos e ressaltar os aspectos (formativos) essenciais
para produção de saberes na graduação da matemática, que licencia
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os discentes a desenvolverem papéis de educadores, capazes de
concretizar o conhecimento de várias gerações de alunos.
Portanto, se torna indiscutível que o ensino superior (da
matemática), enquanto excelência de aprendizagem, dentre outros
papéis, deve exercer influência significativa em seus educandos, para
que os mesmos sintam-se estimulados a realizarem pesquisas, de
modo a se aperfeiçoarem profissionalmente, ou seja, integrar a visão
e proposição intelectual com a difusão dos benefícios que a criação
científica pode oferecer à sociedade.
2 A PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA MATEMÁTICA
Produzir cientificamente é nada mais do que pesquisar
criteriosamente sobre um assunto, um tema, um paradigma ou um
conceito (seja na perspectiva teórica ou empírica). Para tanto, o
docente que atua nesta área de conhecimento (e em todas as outras)
tem uma função imprescindível, no sentido de despertar a
curiosidade, a reflexão, o senso crítico, e acima de tudo, motivar os
estudantes de licenciatura em matemática com relação à busca de
respostas para os questionamentos que surgem naturalmente, à
medida que o conteúdo das disciplinas (grade curricular) é
trabalhado em sala de aula (e fora dela) (SORDI, 2010).
Motivação é um dos elementos da aprendizagem que todos
os professores (docentes) devem se preocupar. É a partir desse
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aspecto que os discentes passam a sentir desejo, vontade e
necessidade de aprender, criar e produzir, ou melhor, realizar estudos
que possam viabilizar o alcance dos objetivos propostos pela sua
pesquisa. Implica dizer, que não existe estudo acadêmico sem
objetivos, nem objetivos sem discussão teórica, nem fundamentação
teórica sem resultados. Ademais, para atingir os seus propósitos,
evidentemente que o aluno deve ter discernimento sobre o estudo a
ser desenvolvido e as peculiaridades da área de ensino, que neste
caso corresponde à matemática (D’AMBROSIO, 2002).
Existem dois tipos de motivação: extrínseca e intrínseca. A
motivação extrínseca ocorre quando o sujeito (discente) executa o
que outra pessoa (docente) pede, e ao realizar a atividade, o
estudante é recompensado por ter feito algo que lhe fora sugerido (e
exigido). Por outro lado, a motivação intrínseca surge quando o
indivíduo faz algo que se sente realizado, ou seja, considera a tarefa
como um fim em si mesmo, pelo fato de estar suficientemente
interessado e determinado a adquirir conhecimento explicativos, com
competência para demonstrar os resultados que alcançou (SORDI,
2010).
Portanto, produzir cientificamente (e matematicamente) é se
sentir estimulado a propor um questionamento (problema) que possa
ter uma resposta positiva para o mundo acadêmico, mas
principalmente (efetivamente), beneficiar a sociedade a partir da
difusão do conhecimento. Afinal, o programa de ensino superior
deve ter a perspectiva coletiva, posto que a aprendizagem formativa
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na graduação, além de inserir o discente na vida profissional,
também oferece perspectivas para o desenvolvimento da sociedade
de uma maneira geral (LDB, 1996).
2.1 Os novos códigos e linguagens da matemática interdisciplinar
Considerando o teor dessas discussões, fica evidente que a
matemática não é mais ensinada somente sob o ponto de vista lógico,
formal e intuitivo. Ao contrário, o ensino da matemática
contemporânea tem um caráter (eminentemente) interdisciplinar1,
que certamente favorece o desenvolvimento de pesquisas
acadêmicas, à medida que o aproveitamento nos estudos supere o
cumprimento das atividades formais (provas) e valorize outros
instrumentos de conhecimento, como por exemplo, escrita e
publicação de trabalhos acadêmicos (artigos, resenhas e ensaios),
apresentação dos resultados de pesquisas em Seminários e
Congressos, e preferencialmente, a continuidade de estudos na
1 Para a Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas da Interdisciplinaridade (GEPI), Ivani Fazenda (PUC-SP), a interdisciplinaridade é aquela que respeita o conhecimento adquirido do aluno, e de forma criativa consegue despertá-lo para várias abordagens, aliando o conteúdo programático do curso, com as novas concepções do ato de aprender, que passa pelas teorias, experiências pessoais, práticas culturais, metodologias, leituras e debates plurais e significativos.
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perspectiva do desenvolvimento do espírito científico e do
pensamento reflexivo.
Diante da amplitude de reflexões e de abordagens didáticas,
convém pontuar com mais precisão, as novas linguagens da
matemática contemporânea. Ou seja, o ensino superior nesta área de
conhecimento (matemática) ressalta a importância da
comunicabilidade, para além dos números e dos símbolos, ou seja, o
discente que passa pela experiência de se habilitar como licenciado
em matemática deve resignificar o conceito de aprender/fazer, posto
que a formação de licenciado se respalda numa proposição
qualitativa de aprendizagem que contempla um conjunto de novos
paradigmas: pesquisar, analisar, argumentar, compreender,
(re)significar, discutir e formar o aluno, de modo a torná-lo partícipe
da conjuntura social e de todos os aspectos dialéticos nela inseridos
(BRANDÃO, 2003).
Além desses enfoques, as novas linguagens na aprendizagem
da matemática, não mais se restringem à logicidade numérica, com
suas equações e a exata conclusão de um teorema. É preciso que a
produção acadêmica amplie o debate, para além do viés intuitivo e
dedutivo, e avance para concepções plurais, preferencialmente, ideias
que despertem a necessidade de pesquisar e refletir sobre novos
conjuntos de competências e habilidades, não mais centrados nos
sistemas simbólicos, mas com um olhar crítico e contextualizado,
capaz de responder às necessidades e exigências da vida
contemporânea.
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Fica evidente que o paradigma da interdisciplinaridade é tão
somente um conhecimento amplo que desperta no discente uma
visão de mundo atualizada. Quando se coloca a palavra atualizada,
significa que a matemática deve ser trabalhada de modo a formar
professores (e profissionais) capazes de aprender continuamente, de
modo a alcançar um entendimento amplo: técnico, humano,
tecnológico, científico, que possa propiciar uma compreensão
dinâmica da nossa vivência material, cultural, produtiva e social
(BRANDÃO, 2003).
Afinal, dentre outros papéis das Instituições de Ensino
Superior (IES) está o compromisso de produzir cientificamente. Essa
produção é tão somente o fomento à pesquisa acadêmica, a ponto de
contribuir com o meio social, à medida que os pesquisadores
respondem às inquietações e questionamentos, tanto no âmbito
(puramente) teórico, quanto no âmbito prático. É da educação
superior que saem alternativas para dar resolutividade às
problemáticas da sociedade. Essas alternativas não são meras
sugestões, ao contrário, são respostas evidenciadas pelos estudantes
(pesquisadores), através de um processo criterioso de investigação e
pesquisa, baseado em métodos científicos éticos e normativos.
Em outras palavras, a aprendizagem matemática (no âmbito
superior de ensino) deve favorecer o debate sobre teorias,
informações, dúvidas e questionamentos que possam contribuir com
a compreensão do processo histórico da vida social, acadêmica,
produtiva e evolutiva da vida, contemplando o caráter prático,
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dialético, abstrato, crítico, participativo e científico. Este último,
sempre na perspectiva investigativa, pois somente a pesquisa
favorece o conhecimento individual e coletivo à medida que encontra
sugestões palpáveis para interrogações e inquietações, seja dentro
das faculdades, ou fora de seus muros (MIGUEL e MIORIM, 2004).
3 A PESQUISA QUE “LICENCIA” CONHECIMENTO
No bojo deste debate sobre a importância da pesquisa
científica no decorrer do Curso de Licenciatura em Matemática está
uma das vivências mais pertinentes relativas à investigação, e diz
respeito ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). É comum, nós,
professores de Metodologia Científica, experimentar o susto e a
insegurança dos alunos, quando se discute sobre a necessidade de
realizar uma pesquisa, que deverá mostrar resultados (teórico-
empíricos), cujo registro é de suma importância para conclusão da
sua graduação.
A inexperiência e falta de familiaridade com a pesquisa
acadêmica por parte do discente, além de evidente, é indiscutível e
merece uma discussão contundente, posto que a educação superior se
respalda nos três eixos (temáticos): Ensino, Pesquisa e Extensão.
Partindo desse princípio, se torna imprescindível que as faculdades
tenham um olhar sensível em relação a necessidade (e importância)
da pesquisa, para que a insegurança (para não dizer medo) não mais
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faça parte do cotidiano educativo e formativo do estudante de
graduação (de matemática).
A princípio, a palavra pesquisa pode suscitar dúvidas, mas
no decorrer do aprendizado o discente se conscientiza de que se trata
tão somente de novas descobertas, que tem início com um problema
(uma pergunta, uma interrogação ou ainda, uma problematização).
Esse problema está inserido dentro de um tema (assunto), ou seja,
escolhido o tema (dificuldade de aprendizagem na matemática no
Ensino Fundamental, por exemplo), o discente parte para a
identificação de uma pergunta (problema) que deve ser elucidada no
decurso da investigação (pesquisa) (MIGUEL; MIORIM, 2004).
Esse problema de pesquisa, sempre, inegavelmente, sempre,
estará articulado a conhecimentos anteriores, e esta nova
investigação irá proporcionar nova (s) descoberta (s), através de
novos e antigos referenciais teóricos. Nessa linha de raciocínio, os
professores de Metodologia Científica devem despertar nos alunos, a
curiosidade, que é inerente ao ser humano, e por essa razão, não é
difícil incentivá-los e motivá-los a desvendar os mistérios de um
problema (pergunta), como por exemplo: Quais dificuldades de
aprendizagem os alunos do 5º ano apresentam na resolução dos
primeiros problemas matemáticos?
Fatalmente, o estudante (pesquisador) só encontrará
respostas, se pesquisar em uma escola de Ensino Fundamental (séries
iniciais), junto a um grupo de alunos e certamente, um grupo de
professores (de matemática), para entender e compreender os reais
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motivos que interferem (negativamente) no ensino-aprendizagem
desses estudantes que apresentam dificuldades na realização das
primeiras equações.
Conforme o exemplo citado, não é nenhum difícil fazer o
aluno de graduação entender o ponto de partida de uma pesquisa
acadêmica. Portanto, se faz necessário desconstruir o mito de que
pesquisar é uma tarefa enfadonha, “chata” ou monótona. Ao
contrário, creio que uma das atividades mais satisfatórias na vida
acadêmica é o ato de pesquisar, que significa tão somente, uma tarefa
que permite conhecer, perceber e descobrir coisas sobre a realidade,
aliando teorias e o cotidiano de todos nós: aprendizagem, vivências,
trocas (simbólicas), imaginação, criatividade, informações, meios de
comunicação, debates e produção de conhecimento (BORBA;
ARAÚJO, 2004).
Todos esses fatores têm relação direta com a importância da
pesquisa na matemática, sob o ponto de vista das novas linguagens e
dos novos códigos. Conforme a discussão do primeiro capítulo,
somente dialogando com os estudantes, na perspectiva da visão
ampla formativa, será possível prepará-los para encarar os desafios
de novas descobertas científicas.
Por esta razão, convém repetir (ressaltar): a aprendizagem
na/da matemática deve favorecer o debate sobre teorias, dúvidas e
questionamentos que possam contribuir com a compreensão do
processo histórico da vida social, acadêmica, produtiva e evolutiva
da vida, contemplando o caráter prático, dialético, abstrato, crítico,
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participativo e científico. Este último, sempre na perspectiva
investigativa, haja vista que a pesquisa (indiscutivelmente) favorece
o conhecimento individual e coletivo à medida que encontra
sugestões (respostas) para interrogações e inquietações que suscitam
nas leituras e tantas outras atividades didáticas e paradidáticas.
3.1 Aspectos que caracterizam o conhecimento científico
O conhecimento tem sua origem no conjunto de informações
adquiridas desde a infância, por meio do aprendizado resultante do
contato social (irmãos, professores, amigos, livros, observações,
meios de comunicação, experiências e reflexões):
No sentido correto da palavra, conhecer é elucidar a
realidade. Etimologicamente, a palavra elucidar vem do latim lucere,
cujo significado é trazer à luz. Assim, conhecer significa trazer luz à
realidade. E somente com a aquisição do conhecimento é possível
desvendar a verdade presente na realidade, tornando-a inteligível,
transparente, clara, cristalina (LUCKESI et. al., 2002).
Fica evidente que não é algo inalcançável o fato de buscar
respostas para viabilizar uma pesquisa de cunho acadêmico. Apenas
se faz necessário desmitificar que investigação, sob o ponto de vista
científico, deve seguir padrões normativos, e as normas existem em
todos os parâmetros de nossa vida, pois do contrário, seria inviável
viver harmonicamente, haja vista a infinidade de grupos sociais e
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suas respectivas ideologias, filosofias, crenças, etnias, culturas e
identidades sexuais.
Nessa linha de pensamento, também é pertinente retomar a
idéia de que uma investigação deve ser rica em debates (e embates),
e para tanto, há que se pontuar os novo códigos e as novas
linguagens, para que os estudantes de matemática não fiquem presos
aos aspectos simbólicos dos números, fatores, equações e resoluções
numéricas.
O estudante de graduação em matemática é um pensador, e
como tal, não pode ficar atrelado à formulação de problemas lógicos.
Ao contrário, o estudante (pesquisador) em matemática deve ser
capaz de interagir com outras dimensões de linguagens e percepções,
que os possibilitem pensar e escrever, debater e investigar,
questionar e responder, estudar e demonstrar, de modo crítico,
criativo e pluridimensional (MIGUEL; MIORIM, 2004).
Todos esses fatores refletem interdisciplinaridade e
conhecimento científico, que permeiam a experiência de todo
estudante de ensino superior, independente da área de conhecimento
e da linha de pesquisa que investiga ou investigou. Nesse sentido,
pesquisar é uma proposta com visão múltipla, de modo a tornar o
estudante capaz de associar aprendizado com vivências e
experiências (GARNICA, 2004).
Significa, portanto, que conhecimento superior, como é
definido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), não pode
(nem deve) ficar (estar) separado da realidade conjuntural, posto que
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construção de saberes científicos deve está relacionado à dinâmica
dos indivíduos, para além dos muros das Instituições de Ensino
Superior (IES), sejam públicas ou privadas.
Nessa linha de raciocínio, constata-se que o processo gerador
da construção do conhecimento matemático (saber/fazer) deve ser
dinâmico, passando pelo cotidiano escolar/acadêmico, pelas
proposições científico-produtivas, e, além disso, reflexiva e
transformadora. Todos esses elementos dialéticos mostram que o
ensino-aprendizagem do discente na graduação, deve despertar o
interesse dos graduandos pela investigação (pesquisa), cujas
experiências teóricas e metodológicas sejam capazes de criar
alternativas para resoluções de problemas (teórico-empíricos).
(GARNICA, 2004).
Essa reflexão implica no repensar e resignificar o ato de
aprender, dentro da área de conhecimento que tem sido debatida até
então, sem perder de vista o viés interdisciplinar, que está no bojo da
aprendizagem contemporânea, tendo início no Ensino Infantil,
passando pela Educação Fundamental, Ensino Médio, e,
destacadamente, no âmbito da Educação superior. É nesse nível de
ensino (superior) que a pesquisa ganha um enfoque acadêmico e que
gera muitas dúvidas, mitos, contradições, e, evidentemente, alcança
um patamar de cientificidade. A partir de agora convém discorrer
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sobre o que diferencia um estudo comum da investigação
epistemológica. 1
O conhecimento da realidade e seus significados correlatos
possuem dois parâmetros: o senso comum e o senso crítico. O senso
comum é a compreensão do mundo real e imaginário, por meio de
um conjunto de opiniões, hábitos e formas de pensamento, que são
utilizados diariamente pelos indivíduos, como forma de orientação
para suas vidas. Portanto, é comum a todos os seres, e nesse sentido,
não é investigado os seus fenômenos, e por esta razão é chamado de
conhecimento superficial, sem base científica, e sem comprovações
pelos métodos que a fundamentação teórica exige (GARNICA,
2004).
Por outro lado, o conhecimento crítico, ou como geralmente
é denominado de metódico-crítico, não se contenta com a
superficialidade das informações (comuns), nem muito menos se
satisfaz com as impressões. Ou seja, o indivíduo que encara a
empreitada de investigar (pesquisar) cientificamente, busca além
daquilo que é consenso no seu dia-a-dia. Por esta razão, a
aprendizagem superior é importantíssima no esclarecimento sobre o
1 Epistemologia é uma palavra que se originou do grego: epistéme (ciência) e logia (lógica). Significa um conjunto de conhecimentos que têm por objeto o conhecimento científico, visando a explicar os seus condicionamentos (sejam eles técnicos, históricos, antropológicos, sociológicos, matemáticos, linguísticos e etc.) de modo a sistematizar as suas relações, esclarecer vínculos ou antagonismos, para em seguida avaliar os seus resultados e aplicações.
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papel de um método científico, ou ainda, da disciplina metodologia
científica, que neste caso, discute no paradigma matemático.
O saber adquirido pelo método científico, proporciona ao
pesquisador, segurança, estímulo, criatividade e eficiência nas suas
ações acadêmicas e extra-acadêmicas, possibilitando-o distinguir nos
fenômenos, a aparência e a essência, a sua razão de ser, as
características e suas definições (SEABRA, 2003).
Em outras palavras, o que diferencia o conhecimento
comum, do conhecimento científico, é simplesmente o caráter
crítico, suas significações e interpretações. Este último aspecto
merece destaque, pois os estudantes geralmente tendem a repetir o
que lêem, sem nenhum senso crítico que possa torná-los capazes de
interpretar. Portanto, quando o conhecimento dos fatos (e das
leituras) exige alguma interpretação, surgem então os
questionamentos, que fundamentam a capacidade crítica.
Nesse contexto é que o (s) significado (s) permite (m) o
emprego da ciência. Por sua vez, a facilitação da compreensão dos
fenômenos ocorre com a aplicação de um método científico. É por
isso que não existe conhecimento científico sem critério
metodológico, que torna a aprendizagem sistemática e possível de
demonstrar resultados verdadeiros. É por conta desses fatores que
todo tema a ser estudado (e pesquisado) deve se basear no método
científico, e suas respectivas regras de pensamento, para ser digna de
ser chamada de ciência (OLIVEIRA, 2004).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 69
3.2 Uma breve abordagem sobre o método
A matemática tem um potencial riquíssimo em matéria de
pesquisa e descobertas. Por esta razão, se faz necessário que os
educadores saibam despertar o senso crítico nos alunos (de
graduação), para que o processo de investigação ocorra de maneira
prazerosa, rompendo com os mitos (negativos) que geralmente as
pessoas internalizam sobre aquisição de saberes, sob o viés
metodológico. Diferentemente do que a maioria dos estudantes
imaginam, a pesquisa científica não se encerra apenas em rigores e
sistemas simbólicos e normativos.
A pesquisa científica é um trabalho desenvolvido a pouco a
pouco, de forma artesanal e experimental, como um jogo de quebra-
cabeças. A metodologia científica apenas clareia o procedimento a
ser seguido pelo aluno, na construção dos eixos principais de uma
pesquisa: problema, hipóteses, objetivos e fundamentação teórica.
Sem esses elementos, qualquer estudo será inviável, principalmente
quando a investigação busca ressaltar o paradigma interdisciplinar,
onde a matemática pode ser trabalhada de vários modos, através de
várias ideias e com originalidade (OLIVEIRA, 2004).
O aprender/fazer no âmbito do ensino superior não pode
deixar de colocar na pauta de discussão, as dificuldades da realização
de pesquisas científicas, principalmente em relação aos estudantes de
matemática, que conforme a abordagem deste artigo vivencia uma
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 70
aprendizagem plural, sob o ponto de vista das novas linguagens e dos
novos códigos. Conforme a discussão deste conteúdo, somente
dialogando com os estudantes, na perspectiva da visão ampla
formativa, será possível prepará-los para encarar os desafios de
novas descobertas (científicas).
Ao mesmo tempo, despertá-los para os fatores que
favorecem uma investigação que simbolicamente representa a
conclusão do seu curso universitário, como por exemplo, o Trabalho
de Conclusão de Curso (TCC). Portanto, é simples o processo
investigativo de uma pesquisa acadêmica, seja ela de caráter
monográfico, integrada ou interdisciplinar. É uma experiência
exploratória, que geralmente é denominada de ciclo, pois envolve
etapas consecutivas: escolha do assunto (tema), delimitação do tema,
identificação do problema (pergunta), as teorias pertinentes, a
metodologia apropriada e um recorte empírico, caso seja pertinente
(OLIVEIRA, 2004).
Por exigência das Instituições de Ensino Superior (IES), que
obedece a um critério técnico-científico do Ministério da Educação
(MEC), todo estudante de graduação deve apresentar uma pesquisa,
cujos resultados serão apresentados como monografia, que por sua
vez, fecha o ciclo da graduação. No caso da matemática, adquire o
título (grau) de licenciado. Sem dúvida é de fundamental importância
o fomento à pesquisa na área de formação de professores de
matemática.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 71
Educação Matemática, Educação em Matemática, Formação
em Matemática, são várias conotações que implicam na dimensão da
aprendizagem contemporânea interdisciplinar, com um olhar nas
pesquisas, ou melhor, na realização de pesquisas. Portanto, existem
muitos enfoques metodológicos para a pesquisa nesta área de
conhecimento, e que devem ser exploradas e valorizadas.
Definitivamente não se pode conceber a ideia ultrapassada de que o
matemático é essencialmente lógico e intuitivo.
O pesquisador (estudante) de matemática é reflexivo e
investigativo, e consequentemente tem dado sua contribuição ao
ensino e a aprendizagem, em qualquer nível de modalidade que atue.
Fica evidente, no entanto, que existem barreiras a serem superadas, e
a principal delas é aproximar a educação dos números, da capacidade
de fazer leituras plurais, críticas, transversais e interdisciplinares
(BRANDÃO, 2003).
Todos esses fatores, sem dúvida alguma contribuirão com a
formação cidadã e ampla, que segundo a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), deve fazer parte dos princípios da aprendizagem
superior. Ressalta ainda, a importância da comunicabilidade, para
além dos números e dos símbolos, ou seja, o discente que passa pela
experiência de se habilitar como licenciado em matemática deve
resignificar o conceito de aprender/fazer, posto que a formação de
licenciado se respalda numa proposição qualitativa de aprendizagem
que contempla um conjunto de novos paradigmas: pesquisar,
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 72
analisar, argumentar, compreender, (re)significar, discutir, dialogar,
de modo a torná-lo partícipe da conjuntura social e cultural.
Portanto, método, pesquisa, ideias, perguntas, investigação,
interdisciplinaridade, dentre outros conceitos colocados ao longo
deste artigo, são fatores intrínsecos à capacidade de se aprofundar em
conhecimento científico, que se baseia em uma, ou várias teorias,
outro elemento que geralmente causa estranheza aos estudantes.
É comum ouvirmos a palavra teoria “pra lá e pra cá”, mas
nem sempre se sabe ao certo o que implica uma teoria, sob o ponto
de vista metodológico. A teoria se baseia ou corresponde ao
conhecimento anterior, construído por outros pesquisadores. Essa
palavra vem do grego theoreim, cujo significado é ver (verificar). É
na relação (associação) entre o ver e o saber, que se constitui as bases
da ciência ocidental (BRANDÃO, 2003).
É pela sua dimensão científica, que uma teoria para ser
considerada como válida, deve ser apoiada em fatos observados e
provados, como resultado de uma pesquisa criteriosa. Ademais, a
teoria é um conhecimento que se adquire por meio da investigação,
sendo fundamentada em um sistema organizado de proposições que
orientam a obtenção e a análise dos dados, que, por conseguinte,
estruturam os conceitos, os quais sintetizam os fenômenos
processados no mundo real.
Por conta de existirem suposições e/ou conclusões errôneas
sobre a aplicabilidade da matemática, sua linha de investigação e sua
relação com a pesquisa, é que este trabalho veio à tona, no sentido de
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 73
desmitificar que o estudante não sabe pesquisar (ou refletir
cientificamente). Quanto às dificuldades de escrever coerentemente
sobre teorias e aspectos epistemológicos ou fenomenológicos, essa
falta de habilidade é encontrada em vários segmentos de
aprendizagem, ou melhor, em várias áreas de conhecimento.
É nesse sentido que as publicações podem (e devem)
contribuir para o esclarecimento desses aspectos, pois no geral, antes
de se buscar respostas para dúvidas, o indivíduo tende a formar ou
internalizar pontos de vista arcaicos, como é o caso de achar que a
metodologia científica é tão somente enfadonha e arcaica.
Pelo contrário, a aprendizagem da matemática, na atual
conjuntura, tem sido ressaltada como uma área de pesquisa
importantíssima, e como tal, deve contribuir com a sociedade
brasileira, seja no âmbito da educação, da tecnologia, da cultura, do
meio ambiente, e etc. afinal, para que o conhecimento (científico)
matemático alcance uma amplitude de discussão, se torna
imprescindível que se enfatize alguns aspectos pontuais de produção
científica na matemática (SEABRA, 2001):
• fazer uso do conhecimento científico e tecnológico que
possam suscitar alternativas sobre questões sociais e
ambientais;
• associar conhecimento científico com a realidade sócio-
cultural e econômica (produtiva);
• reconhecer a perspectiva histórica da matemática, sem perder
de vista o seu papel na vida humana, e mais precisamente, na
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capacidade humana de transformar o meio social em que
vive;
• entender que a matemática está associada ao desempenho
tecnológico, ao processo produtivo da vida social e do
conhecimento.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo abordou um dos aspectos cruciais na formação
superior acadêmica, que diz respeito à pesquisa científica, e que
representa um dos eixos elementares do ensino superior brasileiro,
por se tratar de uma perspectiva que pode servir de estímulo à
realização de pesquisa (investigação) acadêmico-científica, e
certamente, desenvolver ciência e tecnologia, paralelo à criação e
difusão da cultura, para desse modo, contribuir com o entendimento
do homem e do meio social em que vive (LDB, 1996).
Partindo do princípio de que esses fatores condizem com
uma aprendizagem contemporânea participativa e interdisciplinar,
este trabalho alcançou seus objetivos, tendo em vista que discutiu a
importância da pesquisa científica na matemática, sob o ponto de
vista das novas linguagens e dos novos códigos e ressaltou os
aspectos (formativos) essenciais para produção de saberes na
graduação da matemática, que licencia os discentes a desenvolverem
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papéis de educadores, capazes de concretizar o conhecimento de
várias gerações de alunos.
Ademais, enfatizou a importância dos aspectos
metodológicos no ensino superior (da matemática), enquanto
excelência de aprendizagem, que dentre outros papéis, viabiliza a
realização de pesquisas que exercem influência significativa nos
educandos, de modo que os mesmos sintam-se estimulados a
investigarem temas, de modo a se aperfeiçoarem profissionalmente,
ou seja, integrar a visão e proposição intelectual com a difusão dos
benefícios que a criação científica pode oferecer à sociedade.
Em outras palavras, a aprendizagem matemática (no âmbito
superior de ensino) deve favorecer o debate sobre teorias,
informações, dúvidas e questionamentos que possam contribuir com
a compreensão do processo histórico da vida social, acadêmica,
produtiva e evolutiva da vida, contemplando o caráter prático,
dialético, abstrato, crítico, participativo e científico. Este último,
sempre na perspectiva investigativa, pois somente a pesquisa
favorece o conhecimento individual e coletivo à medida que encontra
sugestões palpáveis para interrogações e inquietações, seja dentro
das faculdades, ou fora de seus muros.
REFERÊNCIAS BORBA, M. C; ARAÚJO, J. L. Pesquisa qualitativa em educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
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BRANDÃO, C. R. A pesquisa a várias mãos: a experiência da pesquisa no trabalho do educador. São Paulo: Cortez, 2004. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). MEC: Brasília, 1996. D’AMBROSIO, Ubiratan. História da matemática e educação. Campinas: Papirus, 2002. Cadernos CEDES, Nº 87 FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade de A a Z. Disponível em: <http://www.educacional.com.br>. Acesso em: 21 jun. 2010. GRAYLING, A. C. A Epistemologia. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br>. Acesso em: 23 maio 2010. GARNICA, A. V. M. História oral e educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. LUCKESI, Cipriano C. et. al. Fazer universidade: uma proposta metodológica. São Paulo: Cortez, 2002. MIGUEL, A; MIORIM, M. A. História na educação matemática: propostas e desafios. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. OLIVEIRA, Silvio L. de. Tratado de metodologia científica. São Paulo: Pioneira, 2002. SORDI, Mara Regina L. de. Ensino, pesquisa e extensão são desafios nas IES. Disponível em: <http://www.universa.com.br>. Acesso em: 13 jun. 2010.
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UM ESTUDO SOBRE LOGÍSTICA REVERSA NA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PNEUS NO DF
David Vieira de Souza1
Resumo: O presente estudo teve como objetivo principal verificar as dificuldades enfrentadas pelos empresários do setor pneumático, para implantação e prática da logística reversa. Para tal, foram analisadas as informações colhidas em pesquisa de campo realizada no Distrito Federal, na qual foram entrevistados administradores de empresas do setor pneumático que atuam na indústria, importação e comercialização. Por meio de um questionário, os entrevistados completaram as informações necessárias para que seja retratado o real cenário vivido pelas empresas que atuam neste setor. Além disso, muitas informações relacionadas aos pneus foram obtidas por meio de pesquisa bibliográfica, informativos institucionais e em órgãos fiscalizadores e reguladores ligados ao meio ambiente. O estudo procurou mostrar a importância da logística reversa como diferencial competitivo para as empresas e a preservação do meio ambiente como responsabilidade social. A preocupação com o meio ambiente pode não estar presente em todas as organizações, mas o estudo procura revelar a sua existência em todos os níveis da cadeia produtiva do setor pneumático, o que representa um grande avanço em direção ao equilíbrio ambiental. Palavras-chave: Logística reversa. Diferencial competitivo. Meio ambiente. Responsabilidade social.
1 Especialista em Metodologia do Ensino Superior (FAE). Bacharel em Administração (FAE). Professor e Diretor Administrativo e Financeiro (FAE).
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1 INTRODUÇÃO
Com os constantes avanços tecnológicos e a globalização,
aliado ao crescimento da demanda por produtos cujo ciclo de vida é
cada vez menor, é imprescindível que as indústrias adotem medidas
que minimizem os impactos que tais produtos possam causar ao meio
ambiente após o seu uso. O descarte desses produtos pela
obsolescência ou quando perdem a utilidade por estarem danificados,
tem sido motivo de preocupação de toda população mundial. E neste
momento marcante de globalização de mercados, as empresas
pressionadas pela concorrência buscam novas formas de conseguir
competitividade (LEITE, 2009).
Neste contexto, surge a necessidade de políticas voltadas à
retirada desses produtos, do meio ambiente. Segundo Martins e Alt
(2009), para que se possa vencer a batalha da globalização, é
necessário que sejam delineados objetivos, ferramentas e
componentes estratégicos, táticos e operacionais do jogo logístico.
De acordo com Bowersox e Closs (2010, p.51) “Em algumas
situações, o fluxo normal de trânsito de estoque em direção aos
clientes tem que ser invertido”. Nesta perspectiva, tem-se a Logística
Reversa, (o retorno do produto à sua origem) como objeto de
pesquisa deste trabalho no qual serão abordadas as dificuldades e
peculiaridades desse processo. Serão apresentadas ainda, as
iniciativas de algumas organizações que mostram a preocupação com
a reciclagem e com a destinação correta dos produtos do setor
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pneumático após o final do seu ciclo de vida, que se refletem como
responsabilidade social. Além disso, este estudo revela também, o
nível de preocupação dos consumidores, com a destinação dos
resíduos do setor pneumático.
Para a realização do presente trabalho, considerou-se como
problema as questões ligadas à logística reversa e as dificuldades
enfrentadas pelas indústrias, importadores e comerciantes de pneus,
para o recolhimento e nova destinação, ecologicamente correta, deste
produto ao fim do seu ciclo de vida. Neste contexto, quais as
dificuldades relacionadas à implantação da logística reversa no setor
pneumático?
O objetivo deste artigo é estudar os fatores que geram
dificuldades para que as empresas do setor pneumático façam a
coleta de seus produtos após serem usados, para que não sejam
lançados, de forma inadequada, no meio ambiente.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Histórico da logística
Na época do Império Romano, do Império Grego e do
Império Bizantino existia um tipo de profissional que era chamado
de logistikas cuja função assumia a responsabilidade sobre as
atividades de distribuição física e financeira desses impérios. Apesar
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de ser uma época em que não havia os meios de transporte que hoje
se conhece e na qual o principal meio era o cavalo e cuja
comunicação só era por carta ou pelo envio de recado, já existiam
profissionais responsáveis pela distribuição. Tal função era
desempenhada de forma racional e lógica na realização das tarefas.
Entende-se, portanto, que a logística é uma atividade que implica o
uso da razão, de uma lógica para sua execução, essas são afirmações
de Pires (apud BARTHOLOMEU; CAIXETA-FILHO, 2011).
Seguindo a mesma linha de pensamento de outros autores,
para Novaes (2007), o conceito de logística teve a sua origem nas
operações militares nas quais os generais tinham sob suas ordens,
equipes que providenciavam o deslocamento de munição,
equipamentos, viveres e socorro médico para o campo de batalha.
Nas empresas, foi isso mesmo que ocorreu durante muito
tempo, pois as indústrias precisavam transportar e armazenar matéria
prima para garantir a fabricação de seus produtos e em seguida, da
fábrica para os depósitos ou para as lojas de seus clientes. Essas
atividades eram consideradas operações de apoio e os executivos
acreditavam que elas não agregavam nenhum valor aos seus
produtos. Atualmente a logística é reconhecida como um setor que
agrega quatro tipos de valores à cadeia produtiva.
Segundo Bowersox e Closs (2010), antes da década de 1950,
as funções que hoje são conhecidas e aceitas como logística, eram
geralmente, consideradas como serviço de apoio ou facilitação.
Nessa época vários setores da empresa eram responsáveis pelos
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 81
serviços de logística. Ainda de acordo com este autor, não existia
coordenação inter-funcional, gerando, duplicações e desperdícios.
Além disso, as informações eram distorcidas e chegavam atrasadas.
2.2 Conceitos de Logística
Quando a logística é mencionada ao acaso, pensa-se logo em
transportes, pois essa é uma das principais atividades logísticas.
Entretanto, a logística exige muito a prática de todas as funções da
administração e a cada conceito elas vão sendo mais evidenciadas. É
o que se pode confirmar com a definição de Leite (2009, p. 2):
A logística pode ser entendida como uma das mais antigas e inerentes atividades humanas na medida em que sua principal missão é disponibilizar bens e serviços gerados por uma sociedade, nos locais, no tempo, nas quantidades e na qualidade em que são necessários aos utilizadores.
Ainda de acordo com Leite (2009), a logística como
atividade empresarial tem sido introduzida gradativamente ao longo
da história das empresas, de uma simples área de estocagem de
materiais até uma área estratégica no atual cenário de concorrências.
A logística agrega valor aos produtos e serviços, pois seu
objetivo é disponibilizá-los no local onde são necessários, no
momento em que são desejados. No entanto, apesar de existir desde
as antigas civilizações, a implementação da logística moderna
representa um grande desafio para gestores, tanto do setor público
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como do setor privado, pois sua área de atuação envolve o fluxo de
informações, estoques, transporte, manuseio de materiais,
armazenamento e embalagem gerando um alto custo em sua criação
(BOWERSOX; CLOSS, 2010).
2.3 Logística reversa
Nas últimas décadas pode-se perceber grande movimentação
para o lançamento de modelos e produtos em todos os setores
empresariais no mundo inteiro. Preocupadas em atender diferentes
segmentos de clientes e em diferentes aspectos, as empresas fabricam
produtos e modelos específicos. Além das cores, tamanhos,
capacidades e especificações diferenciadas, esses produtos são
segmentados por idade e sexo, etnia dos clientes e outros aspectos.
Por outro lado, percebe-se que o tempo de vida
mercadológico e útil dos produtos está sendo cada vez mais
reduzido, devido à introdução de novos modelos, tornando os
anteriores ultrapassados em consequência do seu próprio projeto,
pelo uso de materiais de menor durabilidade ou pela dificuldade
técnica para consertá-los.
A consequência é uma grande quantidade de produtos ainda
sem uso ou já consumidos, que retornam ao ciclo de negócios ou de
produção. Alguns produtos com defeito ou dentro da garantia, não
consumidos ou com pouco uso, voltam ao ciclo de negócios na busca
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pela recuperação de valor. Outros produtos, cuja vida útil chega ao
fim ou reutilizáveis e os resíduos industriais, quando não interessam
ao proprietário, retornam ao ciclo de produção ou de negócios com
objetivos idênticos aos do primeiro, porém por outros caminhos
(LEITE, 2009).
Observa-se que é necessária a criação de canais que
possibilitem o retorno desses produtos, aos ciclos mencionados
anteriormente. Tais canais já haviam sido objeto de estudo em
décadas anteriores com enfoque mais restrito. O ciclo de vida de um
produto, do ponto de vista logístico, não termina com a sua entrega
ao cliente. Ao se tornarem obsoletos, danificados ou deixarem de
funcionar, deverá retornar ao seu ponto de origem para ser reparado,
reciclado ou descartado de maneira adequada e obedecendo as
normas vigentes no país onde foi comercializado.
Padrões de qualidade, cada vez mais rígidos, exigem maior
capacidade de retirada de produtos de circulação, quando estes
trouxerem consequências negativas para a organização. Com relação
a isso, Bowersox e Closs (2010 p.51) fazem a seguinte afirmação:
O aspecto mais significativo da logística reversa é a necessidade de um máximo controle quando existe uma possível responsabilidade por danos à saúde (por exemplo, um produto contaminado. Nesse sentido, um programa de retirada do mercado é semelhante a uma estratégia de serviço máximo ao cliente que deve ser executado independentemente do custo.
Do ponto de vista financeiro, além dos custos com matéria-
prima, produção, armazenagem e estocagem, o ciclo de vida de um
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produto inclui os custos de todo o gerenciamento do seu fluxo
reverso. No entanto, incluir tais custos nesta fase de produção pode
significar um desafio ainda maior para o administrador.
De acordo com Leite (2009, p.15), “os primeiros estudos
sobre logística reversa são encontrados nas décadas de 1970 e 1980,
tendo seu foco principal relacionado ao retorno de bens a serem
processados em reciclagem de materiais, denominados e analisados
como canais de distribuição reversos.
Na década de 1980, o conceito de logística reversa era tido
apenas como um movimento contrário do fluxo direto de produtos na
cadeia de suprimentos. A partir da década de 1990 surgiram novas
abordagens que aos poucos foram introduzidas e passaram a fazer
parte do conceito que evoluiu impulsionado pelo crescimento dos
movimentos relacionados à preservação ambiental e a constante
preocupação das empresas com a redução de custos e com sua
imagem perante a opinião dos consumidores. Embora a logística
tradicional já trouxesse em sua base a preocupação com a satisfação
dos clientes.
2.3.1 Logística reversa pós-consumo
Bens de pós-consumo são os produtos ou materiais cujo ciclo
de vida útil chegou ao fim e não podem mais ser comercializados em
canais tradicionais de vendas. No entanto, isso não quer dizer que
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 85
não possam ser reaproveitados. Isso é possível graças à adoção da
logística reversa e de seus canais de distribuição reversos (CDRs).
Neste caso a sigla ganha mais duas letras e se torna CDR-PC (Canais
de Distribuição Reversos de bens de Pós-Consumo) cujas etapas
envolvem o retorno de produtos considerados bens de pós-consumo.
Essas etapas formam o processo de logística reversa a qual é bem
parecida com a logística direta. Esses canais cuidam do fluxo de bens
de usados desde a sua coleta até a sua reintegração ao ciclo produtivo
como matéria-prima secundária (LEITE, 2009).
Uma abordagem sobre o ciclo de vida do produto se faz
necessária para melhor compreensão do processo. Uma definição
bastante difundida é dada por Leite (2009, p. 38) que afirma que:
A vida útil de um bem é entendida como o tempo decorrido desde a sua produção original até o momento em que o primeiro possuidor se desembaraça dele. Esse desembaraço pode se dar pela extensão de sua vida útil, com novos possuidores, quando existe o interesse ou a possibilidade de prolongar sua utilização, ou pela disponibilização por outras vias, como a coleta de lixo urbano, as coletas seletivas, as coletas informais, entre outras, passando-o à condição de bem de pós-consumo.
Compreende-se então que um produto ou material torna-se
bem de pós-consumo quando sua vida útil é encerrada, mas mesmo
assim ele ainda pode ser aproveitado para algum fim por outro dono
ou como matéria-prima secundária para a fabricação de outro bem.
O retorno desse bem de pós-consumo ao ciclo produtivo
constitui a principal preocupação da logística reversa (LEITE, 2009).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 86
O descarte de um produto é que dá início ao processo de logística
reversa. “Para a logística o conceito de ciclo de vida do produto vai a
partir de sua concepção até o destino final dado a este produto, seja o
descarte, reparo ou reaproveitamento” (TRIGUEIRO, 2003, p. 1).
Quanto ao ciclo de vida do produto a Lei 12.305 de 2 de
Agosto de 2010 no art.3º inciso IV, define que: “ciclo de vida do
produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do
produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o processo
produtivo, o consumo e a disposição final” (BRASIL, 2010).
Os canais de distribuição reversos no pós-consumo referem-
se aos produtos adquiridos, usados e descartados pelo consumidor.
São produtos, cuja vida útil chegou ao fim, ou que foram descartados
devido a imperfeições e defeitos ocasionados pelo excesso de uso, ao
longo do tempo, cujo conserto é considerado inviável pelo seu alto
custo, ou por não servirem mais às conveniências iniciais do
consumidor. Os canais de distribuição reversos de pós-consumo
(CDR-PCs) são responsáveis pelo fluxo inverso de produtos ou
materiais constituintes que surgem no descarte dos produtos depois
de encerrada a vida útil e que retornam ao ciclo produtivo (LEITE,
2009). Esses canais podem ser de reciclagem ou de reuso.
A reciclagem como atividade econômica movimenta grande
parcela da sociedade devido ao seu impacto ambiental e social, pois
além de beneficiar as empresas que a adotam como estratégia de
minimizar custos e aumentar a competitividade, absorve a mão-de-
obra de milhares de pessoas em todo o país. Essas pessoas,
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 87
geralmente, iniciam nessa atividade com a perspectiva de tirar seu
sustento e obter alguma renda em caráter temporário, mas depois de
algum tempo tornam-se profissionais do ramo.
De acordo com Leite (2009) reciclagem é o canal reverso
que dá um novo valor aos materiais que constituem os produtos
descartados e são extraídos industrialmente, transformando-se em
matérias-primas secundárias ou recicladas que serão reincorporadas à
fabricação de novos produtos.
O exemplo mais comum desse tipo de canal reverso é o
comércio de metais, como alumínio, cobre e outros metais que são
extraídos de diversos tipos de produtos descartados e de resíduos
gerados pelas indústrias. Esses metais retornam ao ciclo produtivo
como matéria-prima secundária, fechando o ciclo de reciclagem.
Outra maneira de tentar o reaproveitamento de produtos de
pós-consumo é através do desmanche, onde diversos materiais
podem ser obtidos através da desmontagem desses bens, para depois
serem reaproveitados e retornar ao ciclo produtivo. Segundo Leite
(2009, p. 9), desmanche pode ser definido como: um sistema de
revalorização de um produto durável de pós-consumo que, após sua
coleta, sofre um processo industrial de desmontagem no qual seus
componentes em condições de uso ou de re-manufatura são
separados de partes ou materiais para os quais não existem condições
de revalorização, mas que ainda são passíveis de reciclagem
industrial. Os primeiros são enviados, diretamente ou após
remanufatura, ao mercado de peças usadas, enquanto que os
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materiais inservíveis são destinados a aterros sanitários ou são
incinerados.
O processo de desmanche é típico de bens de pós-consumo
duráveis, geralmente veículos e máquinas de diversos tipos. Esta é
uma atividade rentável cuja exploração é feita, principalmente por
pequenos comerciantes.
Os canais de distribuição reversos são responsáveis pelo
retorno de bens de pós-consumo ao ciclo produtivo, impedindo assim
que haja acúmulos de materiais descartados em ambientes urbanos.
De acordo com Leite (2009), produtos ou materiais de pós-consumo
podem ocasionar grandes quantidades acumuladas, resultando em
problemas ambientais, se não retornarem ao ciclo produtivo.
Na legislação brasileira a logística reversa também tem uma
definição semelhante às demais acrescentando apenas alguns termos.
Na Lei 12.305 (2010), em seu artigo terceiro, inciso XII, a logística
reversa é definida como:
Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).
Do exposto até aqui, pode-se concluir que bens de pós-
consumo são aqueles cuja vida útil chegou ao seu final, produtos que
já foram usados, mas que ainda reúnem características que os tornam
reutilizáveis e os resíduos industriais em geral.
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Na figura número 1, pode-se observar o fluxo dos produtos
nos canais de distribuição diretos, desde as matérias-primas até o
mercado primário dos produtos. Segundo Leite (2009, p. 7) “Esse
fluxo direto pode se processar por meio de diversas possibilidades
conhecidas como etapas atacadistas ou distribuidores, chegando ao
varejo e ao consumidor final”. Nela observam-se também os canais
reversos.
Figura 1: Canais de distribuição diretos e reversos. Fonte: Leite (2009).
2.4 Logística reversa como diferencial competitivo
Com os movimentos ambientalistas que surgiram nas últimas
décadas e a preocupação, cada vez maior, com o aquecimento global,
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 90
levam consumidores a refletir sobre quais os tipos de produtos que
devem comprar. Neste contexto, os produtos reciclados e
reaproveitados que as empresas comercializam podem demonstrar o
seu nível de preocupação com o meio ambiente tornando-se um
diferencial para os consumidores. Os riscos à imagem corporativa e à
reputação da organização crescem proporcionalmente, pela má
utilização dos produtos e embalagens após o uso, de garantia de
destinação correta dos produtos com validade, de garantia de
reaproveitamento adequado e certificados (LEITE, 2009).
Ainda de acordo com Leite (2009, p. 32), “na perspectiva do
fabricante, os ganhos competitivos poderão provir de produtos de
pós-venda e de pós-consumo, desde que possam ser encontrados
meios de reintegração ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo”.
Tal afirmação indica que se um produto puder ser revendido ou re-
manufaturado, então ele terá um custo menor, pois não será usada
nenhuma ou quase nenhuma matéria-prima para sua produção e,
portanto, poderá ser comercializado por um preço menor o que
poderá significar maior competitividade para a organização.
Na figura 2 pode-se observar como a logística reversa pode
transformar-se em diferencial competitivo, tanto quando praticada na
pós-venda quanto no pós-consumo.
A existência de um sistema logístico reverso bem gerenciado
é muitas vezes essencial na decisão de compra de produtos ou
serviços, dependendo da especificidade destes. Um bom exemplo
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disso são as empresas que vendem por catálogos e garantem a
devolução do dinheiro, se a satisfação do cliente não for atendida.
Figura 2: Logística reversa agregando valor. Fonte: Leite (2009)
Assim, a logística reversa pode gerar vantagem competitiva
através da elevação do nível de serviço oferecido ao cliente pelo
marketing de relacionamento após a venda. Ela estabelece uma rede
confiável de retorno de produtos através de uma estrutura de
atendimento ao cliente que necessita do canal reverso para solução
de um problema com um produto por algum motivo.
2.5 Logística reversa de pneus
Como foi descrito anteriormente, a logística reversa é
atualmente uma importante área da logística empresarial e agrega
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 92
valores ao produto, alavancado tanto pela economia de matérias-
primas como pela percepção do consumidor em relação às políticas
adotadas pelas empresas no contexto ambiental.
O crescimento econômico, o desenvolvimento industrial e o
aumento do consumo têm como resultado o crescimento na geração
de resíduos de diversas naturezas e de diferentes características.
Neste contexto, a gestão da logística deve viabilizar o
reaproveitamento e a reciclagem a fim de reintroduzir parte desses
resíduos no ciclo produtivo.
Ao atingir o fim de sua vida útil, o pneu passa a ser um
resíduo inerte e seu descarte deve ser feito de forma correta, pois ele
constitui fonte de preocupação ambiental devido à elevada
quantidade descartada nos últimos anos e ao longo do período
necessário para sua decomposição (ainda inserto, sabe-se apenas que
é superior a 100 anos) (BARTHOLOMEU; CAIXETA-FILHO,
2011).
Percebe-se que no setor pneumático, a logística reversa tem
uma importância ainda maior por tratar-se de um produto que leva
muito mais tempo para ser absorvido pelo meio ambiente. Tal
peculiaridade foi observada pela Lei 12.305 (2010) que institui a
Política Nacional de Resíduos Sólidos, na qual fica claro a
obrigatoriedade de implementação de logística reversa de pneus e o
classifica como resíduo perigoso. No art. 33, citado por Bartholomeu
e Caixeta-Filho (2011, p.69, sem grifo no original) resumido da
seguinte maneira:
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[...] Ficam obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de resíduos e embalagens de agrotóxicos; pilhas e bateria; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz misto; e produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
2.5.1 Um pouco da história do pneu
Segundo informações disponíveis no site da Associação
Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), o pneu, um dos
principais componentes dos veículos, passou por várias etapas de
evolução desde sua origem, no século XIX, até chegar à tecnologia
conhecida atualmente. A invenção do pneu ocorreu há mais de um
século e possui fatos curiosos que até causaram a falência de alguns
empresários. A borracha, por exemplo, não passava de uma goma
“grudenta” utilizada para impermeabilizar tecidos e apresentava sério
risco de se dissolver quando exposta a temperaturas elevadas.
Com o objetivo de resolver esse problema, o americano
Charles Goodyear iniciou uma série de experimentos, por volta de
1830, que culminaram com a confirmação acidental, de que a
borracha cozida a altas temperaturas, com enxofre, mantinha suas
condições de elasticidade no frio ou no calor. Tal descoberta resultou
no processo de vulcanização da borracha que, além de dar forma ao
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 94
pneu, aumentou a segurança nas freadas e diminuiu as trepidações
nos carros.
Alguns anos mais tarde, em 1845, os irmãos Michelin foram
os primeiros a patentear o pneu para automóvel. As etapas iniciais de
desenvolvimento dos pneus ainda passaram pelo feito do inglês
Robert Thompson que, em 1847, colocou uma câmara cheia de ar
dentro dos pneus de borracha maciça. A partir de 1888, com a
utilização do pneu em larga escala, as fábricas passaram a investir
mais em sua segurança.
De acordo com a revista Quatro Rodas (2011), antes do feito
de Thompson, as rodas eram feitas de madeira ou ferro, revestidas de
borracha, mas mesmo assim eram muito duras e foi apenas depois de
alguns anos que Thompson criou a câmara de ar, mas por falta de
matéria-prima desistiu da ideia e voltou a cobrir os aros com
borracha.
Cronologia da evolução dos pneus:
• Em 1844, Charles Goodyear inventou a borracha
vulcanizada, posteriormente utilizada para criar o pneu;
• Em 1888, John Dunlop inventou o pneumático, porém,
foram para suas bicicletas;
• Em 1895, André Michelin foi a primeira pessoa a usar pneus
em um automóvel, porém, não teve êxitos;
• Em 1911, Philip Strauss inventou o primeiro pneu, com
sucesso. Foi uma combinação de um pneu e um tubo no
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 95
interior, cheio de ar. A empresa de Strauss Hardman Tire &
Rubber Company comercializou os pneus;
• Em 1903, P.W. Litchfield da Goodyear Tire Company
patenteou o primeiro pneu tubeless, no entanto, nunca foi
explorado comercialmente até 1954;
• Em 1904, foram introduzidas rodas removíveis que permitiu
aos motoristas, arrumar seus próprios pneus;
• Em 1908, Frank Seiberling inventou pneus com ranhuras
para melhor tração na pista;
• Em 1910, BF Goodrich Company inventou pneus com vida
mais longa através da adição de carbono à borracha;
• Em 1937, Goodrich também inventou o primeiro pneu de
borracha sintética feita de uma substância chamada
Chemigum, segundo informações disponíveis no site
(<http://www.pneusfacil.com.br>, 2011).
A figura número 3 mostra o momento em que um operário
faz a montagem de uma roda de um veículo automotor com uma
técnica bastante rudimentar. Nota-se que esta roda não oferecia tanto
conforto ao usuário desses veículos, pois apenas a capa era de
borracha.
Ainda segundo a revista Quatro Rodas (2009), foi em 1988
que o escocês John Boyd Dunlop adaptou pneus no triciclo do seu
filho (um tubo cheio de ar atado ao aro por fitas), e fez tanto sucesso
que fundou a primeira fábrica de pneus do mundo. Os pneus ainda
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 96
eram muito frágeis e por isso foram usados inicialmente em
bicicletas por não suportar muito peso.
Figura 3: Operário cobre roda com borracha. Fonte: Quatro Rodas (2009).
Foram muitas as etapas de evolução dos pneus, mas mesmo
assim ele é o componente do setor automobilístico que evolui mais
rapidamente desde a sua invenção. Outro fato importante nessa
evolução está relacionado à cor do pneu que inicialmente era branca
(cor natural da borracha), mas era frágil e foi 1908 que a BF
Goodrich adicionou fuligem (negro-de-carbono, derivado de
petróleo) à borracha, criando um material mais resistente e durável.
No entanto, os pneus com lonas de algodão continuavam a ser frágeis
e a esquentar muito, o que levava a estouros. A fuligem criou
também uma moda, pois devido ao alto custo passou a ser usada
somente na banda de rodagem. Por isso, apenas os pneus mais caros
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 97
eram totalmente pretos, o que significava status até a década de 30.
Logo depois o pneu faixa branca conquistou a preferência dos
consumidores e passou a equipar os carros mais sofisticados até os
anos 70.
O surgimento dos pneus de borracha fez com que fossem
substituídas as rodas de madeira e ferro, usadas desde os primórdios
da História. Esse grande avanço foi possível graças ao norte-
americano Charles Goodyear quando inventou o pneu ao descobrir, o
processo de vulcanização da borracha que trouxe significativas
mudanças para o setor automobilístico em todo o mundo.
Entre as suas potencialidades industriais, além de ser mais
resistente e durável, a borracha absorve melhor o impacto das rodas
com o solo, o que tornou o transporte muito mais prático e
confortável. No entanto, juntamente com essas mudanças no setor
dos transportes, a utilização dos pneus de borracha trouxe consigo
preocupações relacionadas ao impacto que esse produto iria causar
no meio ambiente, depois de alguns anos.
Esta preocupação justifica-se atualmente porque a maior
parte dos pneus usados é descartada em locais inadequados,
causando grandes transtornos para a saúde e a qualidade de vida dos
seres humanos. Eles servem, por exemplo, de depósitos de água
possibilitando o surgimento de larvas de mosquito transmissor da
Dengue que já causou muitas mortes em todo o Brasil.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 98
Além disso, os pneus levam mais de 100 anos para se
decompor na natureza, segundo afirmação de Bartholomeu e
Caixeta-Filho (2011).
De acordo com organizações internacionais, estima-se que a
produção de pneus novos chega a cerca de dois milhões diários em
todo o mundo. Ao passo que o descarte de pneus inservíveis chega a
atingir, anualmente, quase 800 milhões de unidades.
A ANIP afirma que a produção brasileira de pneus iniciou
em 1934, quando foi implantado o Plano Geral de Viação Nacional.
No entanto, esse plano só se concretizou em 1936 quando foi
instalada a Companhia Brasileira de Artefatos de Borracha,
opularmente conhecida como Pneus Brasil, no Rio de Janeiro, que
em seu primeiro ano de funcionamento fabricou mais de 29 mil
pneus.
Entre 1938 e 1941, outras grandes fabricantes do mundo
passaram a produzir seus pneus no País, elevando a produção
nacional para 441 mil unidades. No final dos anos 1980, o Brasil já
tinha produzido mais de 29 milhões de pneus. Desde então, o Brasil
conta com a instalação de 15 fábricas de pneus, das quais cinco
internacionais: Bridgestone, Continental, Goodyear, Michelin e
Pirelli.
Atualmente, de acordo com o portal Ambiente Brasil,
estima-se que são produzidos cerca de 40 milhões de pneus por ano e
quase metade dessa produção é descartada nesse período
(<www.ambientes.ambientebrasil.com.br>, 2010).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 99
3 METODOLOGIA
3.1 Método
Segundo Creswell (2007), um projeto de levantamento dá
uma descrição quantitativa ou numérica de tendências, atitudes ou
opiniões de uma população ao estudar uma amostra dela e a partir
dos resultados obtidos na amostragem, o pesquisador faz suas
alegações acerca da população. Tal afirmação é corroborada por
Roesch (1999) que afirma que quando a pesquisa é descritiva e as
técnicas de coleta são entrevistas e questionários, na qual as análises
são por meio de métodos estatísticos, tem-se um método
quantitativo.
Com base nestas informações, pode-se afirmar que nesta
pesquisa foi usado o método quantitativo, com dez perguntas
fechadas inerentes ao setor pneumático e suas características.
De acordo com Gil (2009), o tipo de pesquisa realizada pode
ser definida como uma pesquisa descritiva, pois nela busca-se
descrever os aspectos de empresas que foram selecionadas para
compor uma amostra para análise de aspectos relacionados ao
gerenciamento dos seus canais de distribuição reversos.
Considerando os meios de investigação utilizados nesta pesquisa
pode-se classificá-la como sendo de campo, pois os procedimentos
utilizados coincidem com a definição de Gil (2009, p.53) na qual ele
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 100
afirma que: “Tipicamente, o estudo de campo focaliza uma
comunidade, que não é necessariamente geográfica, já que pode ser
uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer ou voltada para
qualquer outra atividade humana”. Ainda no entender do mesmo
autor a pesquisa de campo é feita por meio de entrevistas com
membros do grupo estudado, os quais dão informações sobre o que
ocorre em tal grupo e pela observação direta das atividades por ele
realizadas.
3.2 Universo / Amostra
Com a perspectiva de chegar-se a resultados que
representasse a realidade vivenciada no setor pneumático do DF, a
pesquisa foi realizada no período de março a junho de 2011, cuja
amostra foi composta por 40 empresas escolhidas aleatoriamente,
dentro do segmento de comércio e reparação de veículos
automotores e motocicletas. O total de empresas, cadastradas até o
final de 2009 neste segmento, é de 36.133 segundo estimativa do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2011). Como
as 40 empresas pesquisadas fazem parte deste universo, a amostra foi
formada por meio do cálculo estatístico descrito abaixo, seguindo a
mesma linha de raciocínio de Boff (2003), que aponta os seguintes
parâmetros estatísticos para o cálculo do tamanho da amostra:
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 101
• Grau de confiança de 95,5%
• Margem de erro de, mais ou menos, 10%
Tais parâmetros possibilitaram que se chegasse a uma
amostra de 40 entrevistas com profissionais que trabalham em
importadoras de pneus, centros automotivos, borracharias e lojas do
ramo utilizando a seguinte fórmula:
n = N . p . q . z²
(N-1) . e² + p . q . z²
Na qual:
n = tamanho da amostra
N = tamanho da população
p = probabilidade de sucesso da hipótese
q = probabilidade de fracasso da hipótese
z = variável representativa da normal padronizada
e = margem de erro considerada no cálculo
Ainda de acordo com Boff (2003), quando não há o
conhecimento total de uma estimativa para p, utiliza-se p= 0,50 e q
=0,50, o que maximiza o tamanho da amostra, tornando-a mais
segura. Com a aplicação desta fórmula, chegou-se a seguinte
amostra:
n = 36.133 x 0,50 x 0,50 x 2,00² = 33,13
(36.132) x 0,05² + 0,50 x 0,50 x 2,00²
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 102
A amostra foi formada por 40 empresas do setor pneumático
que atuam em quatro regiões do Distrito Federal, havendo assim um
acréscimo de 21% em seu tamanho, para aumentar o grau de
confiança.
A fórmula usada no cálculo facilitou a formação da amostra
e proporcionou maior confiabilidade nos resultados obtidos na
pesquisa.
3.3 Coleta de dados
Na ocasião foi apresentado ao respondente um questionário
com perguntas fechadas com duas, três e quatro opções de escolha,
relacionadas às dificuldades enfrentadas pelo setor, quanto à
destinação dos pneus usados, cujas respostas foram usadas para
formação de tabela estatística.
A realização dessa pesquisa de campo foi necessária para
fazer uma avaliação do nível de preocupação dos empresários, dos
funcionários do setor e dos clientes quanto ao descarte, recolhimento
e reciclagem de pneus. Essa pesquisa foi feita in loco, para que se
possa ter a real noção das condições físicas das empresas
eventualmente escolhidas. A coleta de dados se deu em diferentes
ocasiões e em reunião em diferentes locais proporcionando maior
variedade possível de respostas e tornar o estudo mais confiável.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 103
O questionário teve natureza impessoal para assegurar
uniformidade na avaliação de uma situação para outra, como
propõem Cervo e Bervian (2002, p.48) que afirmam ainda que o
questionário “possui a vantagem de os respondentes se sentirem mais
confiantes, dado o anonimato, o que possibilita coletar informações e
respostas mais reais”.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO
Logo no início da pesquisa, percebeu-se que o conceito de
logística reversa no setor pneumático é ainda desconhecido pela
maioria das pessoas entrevistadas. Entretanto, quando é explicado ao
entrevistado, que a logística reversa é a área da logística empresarial
responsável pelo retorno de bens ao ciclo de negócios ou de
produção, eles rapidamente compreendem o significado e alegam
que já a praticam.
Esse é um fator que confirma a necessidade deste estudo,
pois a falta de informação sobre o assunto é até maior do que se
imaginava antes do início da pesquisa. Observou-se ainda que, há
indícios de má formação profissional, considerando-se que mesmo
nos casos em que o entrevistado é o gerente da empresa, apenas 5 %
dos entrevistados responderam que já ouviram falar de logística
reversa.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 104
Os dados colhidos preocupam não só pela formação
profissional, mas pela falta de conhecimento das normas sócio-
ambientais, tendo em vista que a logística reversa exerce um papel
fundamental para a preservação do meio ambiente. Através da Lei
12.305 (2010), citada por Bartholomeu e Caixeta-Filho (2011), os
empresários em diferentes níveis do setor pneumático ficam
obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa,
mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor,
independente do serviço de limpeza urbana e de manejo de resíduos
sólidos.
Os resultados mostram que as empresas consideram o
incentivo ao recolhimento de pneus usados algo que pode ser mal
interpretado pelos clientes. Tal receio deve-se ao fato de que, quando
o cliente compra pneus novos para o seu veículo, geralmente ele
supervaloriza seus pneus usados e questiona a intenção do vendedor
quanto à destinação dos usados. Isto porque os pneus substituídos,
quase sempre não estão totalmente inservíveis, despertando no
consumidor a desconfiança de que a empresa terá algum tipo de
lucro extra com o produto usado.
Neste caso, fazer com que os clientes deixem os pneus
inservíveis poderia gerar um custo muito alto para a empresa.
Embora Bowerssox e Gloss (2010) afirmem que o ciclo de vida de
um produto inclui os custos de todo o gerenciamento do seu fluxo
reverso, este é um fator inibidor de campanhas para coleta de pneus
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 105
usados, pois as indústrias não prevêem tais custos para o setor de
varejo.
A pesquisa revelou que quase todas as empresas possuem um
local para armazenarem os pneus usados, porém observou-se que os
espaços são provisórios e não podem ser considerados, canais de
distribuição reversa (CDR’s), pois ocupam um pequeno espaço em
um canto da loja. No entanto, todas elas afirmam que a destinação
final do produto é feita por empresas terceirizadas com as quais
firmam contratos, que nem sempre são formalizados por escrito.
Neste contexto, a preocupação passa a ser com a eficiência
desses processos reversos, tendo em vista que a falta de registro
desses contratos, atenua a responsabilidade do contratado para o
cumprimento de suas obrigações. Mesmo assim, os entrevistados
afirmam que os contratados são motivados pelos lucros que obtêm,
pois os pneus usados são praticamente doados à esses integrantes da
cadeia reversa.
Em alguns casos, o recolhimento é feito pelo serviço de
limpeza urbana ou por caminhões das Administrações Regionais.
Entretanto, isto configura um descumprimento da Lei 12.305 (2010),
que atribui aos fabricantes do setor pneumático, a responsabilidade
do recolhimento e destinação correta desses resíduos, como já
mencionado anteriormente. Mesmo assim, o recolhimento dos pneus,
feito pelo SLU ou pelas AR’s, é visto pelos entrevistados, como uma
obrigação do governo para prevenir as consequências da falta de
limpeza das cidades.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 106
Quando esclarecidos sobre os principais conceitos de
logística reversa, alguns respondentes conseguem vislumbrar
vantagens competitivas que podem ser alcançadas com a implantação
desse tipo de logística. No entanto, a maioria ainda acredita que a
logística reversa não contribui para criar diferencial competitivo.
Nesse caso, a falta de conhecimento das teorias relacionadas à
logística reversa pode ser a causa dessa inversão de valores e
impedem que administradores do setor pneumático implementem
ações que culminem em ganhos de competitividade. Para se
compreender melhor tal inversão recorre-se a afirmação de Lacerda
(2003), na qual o autor diz que os clientes valorizam empresas que
possuem políticas de retorno de produtos, pois isso lhes garante o
direito de devolução ou troca de produtos.
Ressalta-se que embora esta pesquisa tenha sido feita com
gerentes e proprietários, nota-se que os funcionários têm o
conhecimento empírico de que o descarte desses pneus no meio
ambiente é criticado pela sociedade e reprimido pelos órgãos de
fiscalização ambiental, o que desgasta a imagem da empresa.
Por outro lado, a pesquisa revelou que a preocupação da
sociedade com as questões ambientais ainda é pequena e que os
clientes do setor pneumático não demonstram tanta preocupação
dentro de uma perspectiva ecológica. Tal conclusão deve-se ao fato
de que grande parte dos entrevistados afirmou, com bastante
convicção, que a maioria dos clientes quer levar o pneu inservível
para casa com a intenção de auferir algum tipo de lucro ou
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 107
reaproveitá-lo de alguma maneira. No entanto, esses pneus acabam
sendo abandonados em lugares inadequados, como nos quintais de
suas casas, onde se transformam em verdadeiros criadouros de
insetos e transmissores de doenças como a dengue, afirmam os
entrevistados. Essa atitude dos clientes demonstra a necessidade de
campanhas que promovam maior conscientização da sociedade sobre
a importância de tratar este resíduo de forma diferenciada.
O transporte foi apontado como o fator que mais dificulta o
descarte de pneus. Neste caso, considerou-se apenas o descarte de
pneus inservíveis e cujo ciclo de vida útil tenha chegado ao fim. Tal
resultado reflete a falta de implantação de canais de distribuição
reversos apropriados. Sobretudo porque todas as empresas
pesquisadas dependem de canais externos, pois os pneus inservíveis
só são armazenados por elas durante um curto período e em
pequenas quantidades o que as tornam dependentes de terceiros para
o transporte a destinação correta destes produtos.
Outro dado preocupante é a falta de incentivos do governo,
tanto federal como distrital, à prática da logística reversa no setor
pneumático, pois apenas dois, de quarenta entrevistados afirmam
recebê-los. Vale ressaltar que os dois respondentes que afirmam
receber incentivos, referem-se à coleta sistemática dos pneus pelos
caminhões da administração da cidade onde estão localizadas as
respectivas empresas.
O resultado demonstra que a posição do governo é de
reservar-se no direito de apenas fiscalizar o cumprimento da Lei
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 108
12.305 (2010), que o isenta da responsabilidade de implantação da
prática da logística reversa de resíduos sólidos. No entanto, as
empresas afirmam que uma maior participação do governo no setor,
criando incentivos que visem aumentar a coleta de pneus inservíveis,
daria bons resultados. Segundo alguns entrevistados, existem várias
maneiras do governo incentivá-los, como exemplo, o desconto no
valor de impostos, proporcional à quantidade de pneus recolhidos;
consideram que tais incentivos aumentariam significativamente o
número de pneus recolhidos, bem como sua destinação correta e
reduziria a presença desse resíduo no meio ambiente.
Quanto ao tipo de incentivo considerado vantajoso pelas
empresas, foi feita uma simulação de escolha entre condecoração;
privilégios em licitações; e redução de tributos, cujo resultado
mostrou que as empresas não querem apenas um título que reconheça
as suas boas ações e nem mesmo consideram como vantagem os
privilégios em licitações. Sendo assim, ficou evidenciado que
maioria nem hesitaria em optar pela redução e descontos em tributos.
Vale ressaltar que qualquer tipo de imposto ou contribuição é tido
como tributos. Além disso, alguns respondentes duvidam que o
governo possa dar descontos, mas afirmam que este incentivo
poderia acabar com o descarte inadequado de pneus inservíveis, e
ainda resultaria na redução de gastos em várias áreas da
administração pública. Com este resultado a preocupação das
empresas com a redução de carga tributária, e qualquer ação do
governo que tenha como resultado esta redução.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 109
A pesquisa aponta ainda, a ausência de agentes do governo
para dar orientações, aos empresários e seus colaboradores, sobre os
impactos que este resíduo inerte pode causar ao meio ambiente. Não
cabe aqui, fazer crítica ao governo, pois este não é o objetivo deste
trabalho, porém é necessário lembrar que o Estado deve cuidar para
que as leis sejam cumpridas. Além disso, as empresas que operam
dentro da legalidade e de forma transparente não se importam com a
presença de agentes fiscalizadores que podem atestar a sua
capacidade de ser competitiva com responsabilidade social.
Vale ainda ressaltar que a ausência a que se refere este
estudo é apenas da fiscalização, pois o governo está presente através
dos serviços de coleta e armazenamento dos pneus nas unidades de
tratamento do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), como já
mencionado anteriormente. Portanto não há omissão do governo
quanto à prestação do serviço de limpeza urbana e de ações
preventivas relacionadas ao acúmulo de resíduos em locais
inadequados.
5 CONCLUSÃO
Foram detectados alguns fatores que dificultam a
implantação efetiva da logística reversa neste setor, a começar pela
falta de conhecimento dos entrevistados, dos conceitos logísticos
reversos e seu potencial de agregar valores aos produtos e serviços
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 110
que podem se transformar em diferencial competitivo melhorando a
imagem da empresa. Este fator contribui para que as empresas não
realizem campanhas para a coleta de pneus inservíveis, como foi
verificado por meio da pesquisa.
Os locais de armazenamento que as empresas afirmam ter
são, na verdade, os depósitos do SLU. Diante disso, entende-se que
tais empresas são dependentes deste serviço público para
recolhimento dos pneus usados, cujo cronograma nem sempre
coincide com a sua demanda, ocorrendo muitas vezes, o acúmulo
excessivo do produto inservível em suas lojas. Notou-se que a
afirmação de que a maioria de seus funcionários se preocupa com o
descarte correto dos pneus usados é uma tentativa de preservar a
imagem da empresa e evitar pressões externas.
A falta de preocupação dos clientes em relação à destinação
correta dos pneus inservíveis surge como um fator determinante na
implementação da logística reversa no setor pneumático, pois as
atitudes descritas anteriormente impedem o recolhimento de todos os
pneus substituídos e essa parte restante acaba sendo lançada ao meio
ambiente. Isto ocorre pela falta de incentivos alegada pelos
entrevistados que acreditam ter condições de reverter esta
dificuldade, caso recebam incentivos fiscais do governo. Além disso,
a falta de monitoramento por parte do governo é vista como descuido
pelos que se preocupam com o meio ambiente.
As ações implementadas pelas cinco maiores indústrias de
pneus são louváveis, pois se tratam de estratégias que estruturam a
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 111
cadeia de coleta e destinação de pneus inservíveis envolvendo a
sociedade e o poder público em todo o país.
Por meio deste estudo foi possível constatar que no Distrito
Federal, não há complexidade na estratégia usada para romper as
dificuldades enfrentadas pelo setor pneumático em relação à logística
reversa, pois as empresas simplesmente seguem a estratégia das
indústrias, mencionadas no parágrafo anterior. Tais ações, que
consistem na coleta dos pneus inservíveis por meio do Serviço de
Limpeza Urbana, são facilitadoras para as empresa do DF.
É importante ressaltar que apesar de ter sido observado que
as indústrias promovem a coleta dos pneus inservíveis, a ação delas
torna-se mais evidente no transporte do produto recolhido, a partir
das unidades do SLU. Portanto, os empresários do DF precisam
tomar conhecimento e refletir sobre a importância da logística
reversa no setor pneumático, como responsabilidade social.
As informações que foram obtidas nesta pesquisa mostram
que existe preocupação com a preservação do meio ambiente, porém
ela é impulsionada muito mais pela pressão das leis do que pela
consciência ambiental. Tal constatação é preocupante, pois se abre o
pressuposto de que novas perspectivas só serão criadas se houver a
aprovação de novas leis que regulem a cadeia reversa.
Com as informações reunidas neste estudo, conclui-se que os
conceitos de logística reversa ainda são pouco conhecidos entre os
gerentes e proprietários de lojas que revendem pneus, fator que gera
dificuldade em sua plena implantação.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 112
Neste contexto, é recomendável que sejam apresentados a
estes profissionais os conceitos mencionados para criar uma nova
perspectiva para o setor, pelo menos no nível comercial. Conhecendo
melhor a logística reversa, estes profissionais poderiam usá-la como
forma de agregar valores aos produtos e serviços, transformando este
processo em um diferencial competitivo da empresa.
As indústrias podem assumir a responsabilidade de
conscientizar a sociedade dos impactos que os pneus inservíveis
causam ao meio ambiente, por meio de campanhas publicitárias que
estimulem os consumidores a deixarem o produto usado nas lojas e
centros automotivos, no momento da sua substituição por novos. Por
outro lado, o governo pode oferecer incentivos fiscais às empresas,
proporcional a quantidade de pneus coletados, como forma de
aumentar as campanhas para tal coleta e fazer parcerias com o
objetivo de orientá-las e monitorá-las. Com isso, haveria a
diminuição deste resíduo inerte descartado de maneira irregular no
meio ambiente. Com estas ações, também é possível diminuir os
gastos públicos com a limpeza do meio ambiente, com doenças e
com reconstrução de áreas devastadas por enchentes resultantes de
descartes inadequados.
Por fim, diante dos resultados, infere-se que as dificuldades
encontradas no setor pneumático podem ser superadas com poucas
ações dos empresários, do governo e da sociedade. Além disso,
percebe-se que algumas medidas, tomadas pelas indústrias, já
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 113
minimizam bastante os impactos no meio ambiente, as quais
representam um grande avanço em direção ao equilíbrio ambiental.
REFERÊNCIAS E FONTES BARTHOLOMEU, Daniela B.; CAIXETA-FILHO, José V. (Orgs.). Logística ambiental de resíduos sólidos. São Paulo: Atlas, 2011. BOFF, Rubem J. Planejamento estratégico: um estudo em empresas e instituições do Distrito Federal. 2003. 156 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. BOWERSOX, Donald J.; CLOSS, David J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Lei Nº 12.305, de 2 de Agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Pearson. Prentice Hall, 2002. CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. LACERDA, Leonardo. Logística reversa: uma visão sobre os conceitos e as práticas operacionais. In: FIGUEIREDO, Kleber Fossati; FLEURY, Paulo Fernando; WANKE, Peter. (Orgs.) Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 114
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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 115
O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL FRENTE AO COMPORTAMENTO DA ECONOMIA EUROPEIA NO
PERÍODO DE 2000 A 2010
Carlos Alberto Francisco de Sousa; Danilo da Costa e Silva; Tiago Trindade1
Luiz Batista Alves2 Resumo: A Europa usufruiu durante várias décadas de uma economia sólida, com taxas de inflação, desemprego controlado e crescimento econômico constante. Tal período ficou conhecido como bem-estar social, entretanto tal fase parece ter chegado ao final. Contudo este artigo objetivou de maneira geral verificar o estado de bem estar social nos dez maiores países da zona do euro em termos de PIB, inflação e nível de desemprego no período de 2000 a 2010. A metodologia utilizada foi a pesquisa de revisão bibliográfica em livros, revistas cientificas, teses e dissertações, que contenha informações e dados relevantes ao assunto. A análise dos dados foi feita utilizando números-índices. Conclui-se que o estado de bem-estar europeu acabou, fato que fica evidente ao constatar que na maioria dos países as taxas de inflação e desemprego aumentaram e o crescimento econômico sofreu reduções significativas. Palavras-Chaves: Crescimento Econômico. Bem-Estar social. Europa. Números Indices. 1 Acadêmico do 4º ano de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Goiás (UEG-UnUCSEH). 2 Professor e Pesquisador (UEG-UnUCSEH).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 116
1 INTRODUÇÃO
Em 2008 o mundo foi afetado pela crise econômica mundial,
vários países entraram em recessão, outros tiveram demissões em
massa, além da falência de grandes corporações. Neste contexto, os
países desenvolvidos apareceram no núcleo do problema sendo os
mais afetados e as economias em desenvolvimento não tiveram
grandes impactos, principalmente se comparados aos países
desenvolvidos.
Assim tanto a Europa como os Estados Unidos foram
fortemente afetados pela crise, que causou pânico em toda a zona do
euro. Tais países passaram a viver situações que nunca antes haviam
passado, com as altas taxas inflacionárias, crescimento negativo,
desemprego em massa e enormes dívidas principalmente no caso
grego. Tal situação levou a uma constante onda de revoltas por toda
a Europa, a população antes acostumada com o estado de bem-estar
econômico e social agora passa por constantes dificuldades
financeiras.
Contudo é importante analisar a economia europeia para
verificar quais foram os impactos da crise na sua economia. Assim
este artigo objetivou de maneira geral verificar o estado de bem estar
social nos dez maiores países da zona do euro em termos de PIB,
inflação e nível de desemprego no período de 2000 a 2010. E
especificamente analisar a teoria do crescimento e desenvolvimento
econômico.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 117
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Na análise econômica é necessária uma diferenciação quanto
a relação crescimento e desenvolvimento econômico, o crescimento
abrange uma dimensão quantitativa, enquanto o desenvolvimento
econômico se refere a avanços qualitativos. O crescimento
econômico possibilita a produção de mais bens, já o
desenvolvimento implica no aperfeiçoamento na qualidade de vida,
nas qualidades dos bens disponíveis ou em como a produção se
organiza (BYRNSJR, 1995).
O estudo do desenvolvimento econômico e social partiu da
constatação da profunda desigualdade, de um lado, entre os países
que se industrializaram e atingiram elevados níveis de bem estar
material, compartilhados por amplas camadas da população, e de
outro, aqueles que não se industrializaram e permaneceram em
situação de pobreza e com acentuados desníveis sociais. Durante o
século XIX, a industrialização de muitos países da Europa e América
do Norte reduziu os demais países na condição de colônias políticas
e/ou econômicas destes primeiros (PRZEWORSKI, 1993).
A partir da Segunda Guerra Mundial, a busca ao
desenvolvimento foi quase sempre precedida por profundas
mudanças políticas, especialmente a conquista da independência
política e a formação de governos que colocavam o desenvolvimento
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 118
nacional como principal objetivo, fortalecendo ainda mais o aspecto
nacionalista de sua população dando papel fundamental a esta
característica no processo de progresso social, a partir daí firma-se a
ideia de “desenvolvimento”, um processo de transformação estrutural
com o objetivo de superar o atraso histórico em que se encontravam
esses países e alcançar, no mais curto prazo possível, o nível de bem-
estar dos países considerados “desenvolvidos” (BATISTA JÚNIOR,
2007).
Como verificado por Furtado (1969), o desenvolvimento de
todo e qualquer país depende de suas características próprias,
situação geográfica, passado histórico, extensão territorial,
população, recursos naturais e principalmente sua cultura. No
entanto, as mudanças que caracterizam o desenvolvimento
econômico estão fortemente relacionadas no aumento da atividade
industrial em comparação com a atividade agrícola, migração da
mão-de-obra do campo para as cidades, redução das importações de
produtos industrializados e das exportações de produtos primários e
menor dependência de auxilio externo.
A Organização das Nações Unidas usa os seguintes
indicadores para classificar os países segundo o grau de
desenvolvimento: índice de mortalidade infantil, expectativa de vida
média, grau de dependência econômica externa, nível de
industrialização, potencial científico e tecnológico, grau de
alfabetização, instrução e condições sanitárias. (Disponível em:
<http://www.carlosescossia.com/2009/09/o-que-e-crescimento-e-
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 119
desenvolvimento.html>). Entre os muitos obstáculos ao
desenvolvimento pode-se destacar os seguintes, disponíveis em
(http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/viewFile/452/411):
• Dificuldade de toda a população integrar-se na economia
nacional.
• Isolamento social, cultural ou econômica, representado por
barreiras linguísticas e religiosas entre diferentes setores da
população e por subsistemas econômicos alienados do
conjunto da economia nacional.
• Dificuldade de encaminhamento do excedente potencial da
economia para os setores prioritários de cujo crescimento
depende todo o processo.
• Desperdício de recursos (sob a forma de exportação de
capitais, consumo supérfluo, gastos militares excessivos,
especulação financeira) que, investidos, poderiam
reproduzir-se e ampliar.
Cardoso (1995) apresenta que no período da década de 1960
o desenvolvimento ainda era identificado essencialmente como o
progresso material, como o crescimento econômico, admitia-se que
era o centro do processo social e, para alguns, o processo material
levaria espontaneamente à melhoria dos padrões sociais. Com o
tempo, deixa-se de ter um conceito tão unificado para uma análise
fragmentada, fala-se de desenvolvimento humano, desenvolvimento
social, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento com equidade.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 120
O crescimento de uma economia é um elemento de um
processo maior, e seus resultados não se traduzem automaticamente
em benefícios na área social e/ou ambiental. Evidentemente políticas
de desenvolvimento devem ser estruturadas por valores que não são
apenas os da dinâmica econômica (CARDOSO, 1995).
Haberle (1976) destaca que com o começo de uma nova
ordem mundial os governos colocam seus esforços para o
crescimento e desenvolvimento de suas nações, e se no apogeu da
revolução keynesiana o objetivo era o emprego e a estabilidade
econômica, a ênfase agora é outra, a saber, o problema do
crescimento. Todas as políticas econômicas são voltadas no sentido
de fomentar o crescimento econômico, as altas taxas de crescimento
viraram uma maneira de se fazer campanha eleitoral nos países
democráticos, os governantes desses países têm o seu sucesso ou
fracasso frequentemente julgado pelo nível de crescimento das suas
econômicas.
Contudo, retrocedendo nota-se que os economistas sempre se
preocuparam com o crescimento, embora não utilizassem o termo
crescimento, percebe-se que o próprio Smith (1988) trata justamente
sobre crescimento e desenvolvimento, apesar de não utilizar o termo.
Para alcançar o crescimento econômico, várias teorias são
propostas, entre elas está a teoria neoclássica que postula que o livre
mercado irá conduzir o país ao crescimento econômico e
posteriormente o desenvolvimento, o que atrapalha são as
imperfeições que o Estado causa a interferir no mercado, portanto o
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 121
Estado não consegue corrigir as imperfeições de mercado, ele é o
criador de tais imperfeições (PRZEWORSKI, 1993).
Já Keynes (1996) chega a conclusão que o Estado tem que
intervir diretamente na economia de forma a gerar investimento e
assim contribuir para o crescimento econômico, portanto esse autor
rejeita completamente os postulados da escola neoclássica, não aceita
mais a noção de racionalidade ilimitada dos indivíduos, e agora
trabalha com a ideia de racionalidade limitada.
Assim, a noção de Keynes (1996) é contrária aos autores
neoclássicos, pois ele vê a necessidade de intervenção por parte do
Estado no sistema econômico, o mercado não conseguirá sozinho
regular-se e propiciar o desenvolvimento econômico. Contudo, a
melhor maneira de intervenção do Estado é através do investimento,
que tem uma importância fundamental no modelo Keynesiano, pois
para ele o investimento através do seu efeito multiplicador é a mola
propulsora do sistema.
O modelo keynesiano recebe muitas críticas por o
considerarem estático, e alguns escritores escreveram teorias de
crescimento sobre as bases keynesianas onde é atribuída uma
dinâmica ao modelo e até mesmo teorias de crescimento em longo
prazo.
Outros autores ainda se propõem a estudar o
desenvolvimento dentro de uma estrutura subdesenvolvida entre eles
está Celso Furtado (1969) que aborda a questão do desenvolvimento
econômico dentro dos países periféricos. Ele analisa todo o processo
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 122
histórico que os levaram a ser dependentes e os motivos que fazem
com que esses países permaneçam nesta condição de dependência.
Este autor não acredita que o subdesenvolvimento seja uma etapa a
ser superada por esses países, que fatalmente encontrariam o
desenvolvimento no futuro, para ele os países subdesenvolvidos
estão nesta situação por ser de vital importância para o capitalismo
mundial essa relação de dependência imposta aos países periféricos.
Portanto, Furtado (1969) é pessimista quanto ao desenvolvimento
que não acontecerá enquanto não superada a relação de dependência,
contudo tal relação de dependência tende a ser intensificada
impossibilitando que os países subdesenvolvidos se tornem
desenvolvidos.
Kuznets (1969) também faz uma discussão interessante nesse
sentido, ele mostra claramente ao tentar comparar a situação dos
atuais países subdesenvolvidos com os países desenvolvidos do
século XVIII, que não necessariamente um país tem que passar por
uma situação de subdesenvolvimento para chegar ao
desenvolvimento.
Na tentativa de teorizar o desenvolvimento econômico
Rostow (1974) também faz importantes contribuições, ele aponta
cinco etapas de desenvolvimento econômico: a sociedade tradicional,
que é uma espécie de sociedade feudal onde existe um teto no nível
alcançável de volume de produção per capita, este teto origina do
fato do progresso técnico estar incipiente; as precondições para o
arranco, esta etapa do desenvolvimento engloba as sociedades que
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 123
estão em processo de transição, tal fase surge principalmente por
interferência de outras sociedades principalmente por meio de
invasões; o arranco, as antigas obstruções e resistências ao
desenvolvimento regular são afinal superadas, o desenvolvimento
passa a ser uma situação normal; a marcha para a maturidade, nesta
fase a economia está em firme ascensão e começa a estender a
tecnologia moderna à frente de sua atividade econômica, com o
aperfeiçoamento de técnicas novas, indústrias se aceleram e as
antigas se estabilizam; a era do consumo de massa, agora a renda real
per capita elevou-se a um ponto em que maior número de pessoas
consegue como consumidor ultrapassar as necessidades mínimas,
começa então um surto do estado de bem-estar social, manifestação
de uma sociedade que caminha para além da maturidade técnica.
Percebe-se que diferentemente de Furtado (1969) e Kuznets
(1969), Rostow (1974) trata da questão do desenvolvimento como
etapas a serem superadas pelas sociedades, assim pode cada país ver
tendências que devem ser seguidas a fim de conseguir o
desenvolvimento econômico.
Com parte importante para compreensão e estudo do
crescimento/desenvolvimento econômico surge a necessidade da
evidenciação de mais variáveis macroeconômicas relevantes para
nosso estudo, como a constituição do PIB, emprego e inflação.
Enquanto definição do Produto Interno Bruto pode-se
destacá-lo como a sintetização do valor monetário dos bens e
serviços finais produzidos dentro das fronteiras nacionais de um país
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 124
durante um dado período, conforme expõe Stiglitz, 2003, o PIB é a
medida padrão daquilo que é produzido na economia, independente
se a produção tenho lugar no setor privado ou no setor público ou se
os bens e serviços seja adquirido por famílias, governos ou setor
externo.
Os componentes que constituem o PIB são consumo (C),
investimento (I), as aquisições do governo (G), as exportações (X) e
as importações (M): PIB = C + I + G + X – M; PIB é igual a
consumo mais investimentos mais aquisições do governo mais
exportações menos importações (STIGLITZ, 2003).
Sendo uma medida de atividade agregada, o PIB é
certamente a principal variável macroeconômica, no entanto, o
desemprego e a inflação são também aspectos importantes do
desempenho de uma economia.
Conforme apresenta Blanchard (2007), emprego é definido
como o número de pessoas que tem trabalho, e desemprego o número
das que não tem, sendo a força de trabalho a soma de emprego e
desemprego. Já a taxa de desemprego é a razão entre o número de
pessoas desempregadas e o número de pessoas na força de trabalho,
tal variável é de alta relevância por sinalizar se a economia está
fazendo uso de seus recursos de forma eficiente.
A inflação é definida como o aumento generalizado dos
preços ou como preços crescentes, não simplesmente como preços
elevados, assim a inflação é um estado de desequilíbrio e deve ser
analisada dinamicamente, suas causas são consideradas por três
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 125
diferentes situações, como inflação de procura, de custos ou de
remarcações, cada qual estabelecida com sua própria dinâmica e
características específicas; a taxa de inflação é a taxa à qual o nível
de preços se eleva (ACKLEY, 1978).
3 METODOLOGIA
Para satisfazer os objetivos deste trabalho será feita uma
análise comparativa entre as variáveis, Produto Interno Bruto,
inflação e desemprego, através de números índices. O método
utilizado será o hipotético-dedutivo que segundo Gil (2002) envolve
as seguintes etapas: elaboração do problema para o qual quer uma
resposta, construção de hipóteses supostamente capazes de responder
ao problema, dedução de consequências particulares da hipótese
proposta, tentativa de refutação ou falseamento das consequências
deduzidas, por meio da observação e experimentação, corroboração
da hipótese, no caso de não ser possível seu falseamento ou
refutação.
Em termos técnicos o índice é uma variação relativa entre
valores de alguma medida. Por exemplo índice de liquidez, índice de
lucratividade e índice de endividamento. Para o nosso entendimento
número-índice é a relação entre o valor da variável em duas datas
diferentes. Assim, o valor posicionado no numerador é chamado
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 126
valor considerado, o valor no denominador, é chamado valor-base ou
referência, conforme fórmula (1) (MILONE; ANGELINI, 1995).
��,� =������� ����������� �����
������� á��������������∙ 100 (1)
onde;
I é o número-índice; b é o valor na data-base e; c é o valor na data
considerada.
Por convenção os números-índices são dados na forma de
porcentagem, entretanto não tem nenhum indicativo de porcentagem.
Assim, as variáveis analisadas serão Produto Interno Bruto
(PIB), inflação, taxa de Desemprego. Dos principais países europeus,
a saber: Alemanha, França, Itália, Espanha, Países baixos, Bélgica,
Áustria, Grécia, Finlândia e Portugal.
4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quando a taxa de crescimento a Tabela 1 apresenta os dez
principais países europeus, em termos de PIB.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 127
Tabela 1 – Taxa de crescimento do PIB
Taxa de crescimento real do PIB - volume (variação percentual em relação ao ano anterior)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Bélgica 3,7 0,8 1,4 0,8 3,3 1,8 2,7 2,9 1,0 -2,8 2,2 1,9
Alemanha 3,1 1,5 0,0 -0,4 1,2 0,7 3,7 3,3 1,1 -5,1 3,7 3,0
Grécia 3,5 4,2 3,4 5,9 4,4 2,3 5,5 3,0 -0,2 -3,3 -3,5 -6,9
Espanha 5,0 3,7 2,7 3,1 3,3 3,6 4,1 3,5 0,9 -3,7 -0,1 0,7
França 3,7 1,8 0,9 0,9 2,5 1,8 2,5 2,3 -0,1 -3,1 1,7 1,7
Itália 3,7 1,9 0,5 0,0 1,7 0,9 2,2 1,7 -1,2 -5,5 1,8 0,4
Áustria 3,7 0,9 1,7 0,9 2,6 2,4 3,7 3,7 1,4 -3,8 2,3 3,0
Portugal 3,9 2,0 0,8 -0,9 1,6 0,8 1,4 2,4 0,0 -2,9 1,4 -1,6
Finlândia 5,3 2,3 1,8 2,0 4,1 2,9 4,4 5,3 0,3 -8,4 3,7 2,9
Holanda 3,9 1,9 0,1 0,3 2,2 2,0 3,4 3,9 1,8 -3,5 1,7 1,2
Fonte: Eurostat (2012)
Para uma melhor análise, utilizando-se dos números-índice
foi feito o índice de crescimento desses países. Nota-se que na
Tabela 2, no caso da Bélgica o índice caia significativamente no ano
de 2008 (-35,7143), ano da crise econômica financeira que atingiu o
mundo, em 2009 a queda é mais acentuada (-127,273) verifica-se
então o aprofundamento da crise financeira, apenas em 2010 nota-se
uma reação com um índice 115,7895. Na Alemanha percebe-se a
mesma tendência no ano da crise 2008, o índice de crescimento
econômico caiu significativamente (-21,5686) permanecendo em
queda mais acentuada no ano de 2009 (-137,838), reagindo apenas
em 2010. Todos esses países tiveram a mesma tendência, alguns com
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 128
quedas mais acentuadas, até porque cresciam mais anteriormente,
outros com quedas mais amenas.
Tabela 2 – Índice da Taxa de Crescimento do PIB na Europa
Indices de Crescimento
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Bélgica 462,5 57,1 175,0 24,2 183,3 66,7 93,1 290,0 -35,7 -127,3 115,8
Alemanha 206,7 0,0 0,0 -33,3 171,4 18,9 112,1 300,0 -21,6 -137,8 123,3
Grécia 83,3 123,5 57,6 134,1 191,3 41,8 183,3 -1500,0 6,1 94,3 50,7
Espanha 135,1 137,0 87,1 93,9 91,7 87,8 117,1 388,9 -24,3 3700,0 -14,3
França 205,6 200,0 100,0 36,0 138,9 72,0 108,7 -2300,0 3,2 -182,4 100,0
Itália 194,7 380,0 0,0 0,0 188,9 40,9 129,4 -141,7 21,8 -305,6 450,0
Áustria 411,1 52,9 188,9 34,6 108,3 64,9 100,0 264,3 -36,8 -165,2 76,7
Portugal 195,0 250,0 -88,9 -56,3 200,0 57,1 58,3 0,0 0,0 -207,1 -87,5
Finlândia 230,4 127,8 90,0 48,8 141,4 65,9 83,0 1766,7 -3,6 -227,0 127,6
Holanda 205,3 1900,0 33,3 13,6 110,0 58,8 87,2 216,7 -51,4 -205,9 141,7
Fonte: Elaborada pelos autores
Gráfico 1 – Índice da Taxa de Crescimento do PIB na Europa
Fonte: Elaborada pelos autores
-4000,00
-2000,00
0,00
2000,00
4000,00
2000 2002 2004 2006 2008 2010
Holanda
Finlândia
Portugal
Áustria
Itália
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 129
Através da representação gráfica (gráfico 1) pode-se ver
com mais clareza, que nos anos de crise há uma tendência a
recessão da maioria dos país europeus. Sendo que os que não
apresentaram índices de crescimento negativo tiveram seu PIB
reduzido significativamente
Outra variável analisada foi à taxa de inflação, esta
apresenta dados mais inconstantes.
Tabela 3 – Taxa de Inflação
Taxa de Inflação (Taxa de variação média anual (%)
200
0
200
1
200
2
200
3
200
4
200
5
200
6
200
7
200
8
200
9
201
0
201
1
Bélgica 2,7 2,4 1,6 1,5 1,9 2,5 2,3 1,8 4,5 0,0 2,3 3,5
Alemanha 1,4 1,9 1,4 1,0 1,8 1,9 1,8 2,3 2,8 0,2 1,2 2,5
Grécia 2,9 3,7 3,9 3,4 3,0 3,5 3,3 3,0 4,2 1,3 4,7 3,1
Espanha 3,5 2,8 3,6 3,1 3,1 3,4 3,6 2,8 4,1 -0,2 2,0 3,1
França 1,8 1,8 1,9 2,2 2,3 1,9 1,9 1,6 3,2 0,1 1,7 2,3
Itália 2,6 2,3 2,6 2,8 2,3 2,2 2,2 2,0 3,5 0,8 1,6 2,9
Áustria 2,0 2,3 1,7 1,3 2,0 2,1 1,7 2,2 3,2 0,4 1,7 3,6
Portugal 2,8 4,4 3,7 3,3 2,5 2,1 3,0 2,4 2,7 -0,9 1,4 3,6
Finlândia 2,9 2,7 2,0 1,3 0,1 0,8 1,3 1,6 3,9 1,6 1,7 3,3
Holanda 2,3 5,1 3,9 2,2 1,4 1,5 1,7 1,6 2,2 1,0 0,9 2,5
Fonte: Eurostat (2012)
A Bélgica em 2009 apresentou inflação nula, contudo seu
índice subiu para 65,71429 em 2010. Na Alemanha a situação repete-
se, entretanto no seu caso a inflação não foi nula, contudo foi baixa,
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 130
apresentando significativa alta no ano de 2010, entretanto menor que
o índice do ano de 2008. A inflação Grega também teve um grande
aumento apresentando índice de 151,6129. Na Tabela 4, nota-se que
todos os países tiveram uma tendência a elevação da taxa de inflação
no ano de 2008, configurando os efeitos negativos da crise
econômica financeira nestes países.
Tabela 4 – Índice da Taxa de Inflação
Indice da Taxa de Inflação
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Bélgica 112,5 150,0 106,7 78,9 76,0 108,7 127,8 40,0 0,0 0,0 65,7
Alemanha 73,7 135,7 140,0 55,6 94,7 105,6 78,3 82,1 1400,0 16,7 48,0
Grécia 78,4 94,9 114,7 113,3 85,7 106,1 110,0 71,4 323,1 27,7 151,6
Espanha 125,0 77,8 116,1 100,0 91,2 94,4 128,6 68,3 -2050,0 -10,0 64,5
França 100,0 94,7 86,4 95,7 121,1 100,0 118,8 50,0 3200,0 5,9 73,9
Itália 113,0 88,5 92,9 121,7 104,5 100,0 110,0 57,1 437,5 50,0 55,2
Áustria 87,0 135,3 130,8 65,0 95,2 123,5 77,3 68,8 800,0 23,5 47,2
Portugal 63,6 118,9 112,1 132,0 119,0 70,0 125,0 88,9 -300,0 -64,3 38,9
Finlândia 107,4 135,0 153,8 1300,0 12,5 61,5 81,3 41,0 243,8 94,1 51,5
Holanda 45,1 130,8 177,3 157,1 93,3 88,2 106,3 72,7 220,0 111,1 36,0
Fonte: Elaborada pelos autores.
O gráfico 2 mostra a tendência da inflação nos países
europeus, nota-se uma inconstância no comportamento dessas
variáveis, onde alguns países apresentam um índice negativo e outros
um índice positivo. Contudo, o comportamento da inflação perante a
crise dependerá da realidade econômica de cada país.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 131
Gráfico 2 – Índice da taxa de Inflação
Fonte: Elaborada pelos autores
Tabela 5 – Taxa de desemprego (%), 2000-2011
Taxa de desemprego (%)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Bélgica 6,9 6,6 7,5 8,2 8,4 8,5 8,3 7,5 7,0 7,9 8,3 7,2
Alemanha 7,5 7,6 8,4 9,3 9,8 11,2 10,3 8,7 7,5 7,8 7,1 5,9
Grécia 11,2 10,7 10,3 10,0 9,7 7,9 5,9 4,7 5,5 13,8 16,9 12,5
Espanha 11,1 10,3 11,1 11,1 10,6 9,2 8,5 8,3 11,3 18,0 20,1 21,7
França 9,0 8,3 8,6 9,0 9,3 9,3 9,2 8,4 7,8 9,5 9,7 9,7
Itália 10,1 9,1 8,6 8,4 8,0 7,7 6,8 6,1 6,7 7,8 8,4 8,4
Áustria 3,6 3,6 4,2 4,3 4,9 5,2 4,8 4,4 3,8 4,8 4,4 4,2
Portugal 4,0 4,1 5,1 6,4 6,7 7,7 7,8 8,1 7,7 9,6 11,0 12,9
Finlândia 9,8 9,1 9,1 9,0 8,8 8,4 7,7 6,9 6,4 8,2 8,4 7,8
Holanda 3,1 2,5 3,1 4,2 5,1 5,3 4,4 3,6 3,1 3,7 4,5 4,4
Fonte: Eurostat (2012)
-3000,00
-2000,00
-1000,00
0,00
1000,00
2000,00
3000,00
4000,00
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
Bélgica
Alemanha
Grécia
Espanha
França
Itália
Áustria
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 132
Analisou também a taxa de desemprego (Tabela 5) desses
mesmos países europeus, nota-se que a maioria dos países teve
alguma alteração na taxa de desemprego durante o período da crise
financeira internacional.
Entretanto os números índice nos fornecem uma melhor
visualização dos dados, como observa se na Tabela 6.
Tabela 6 – Índice da taxa de desemprego
Índice da taxa de desemprego
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Bélgica 104,5 88,0 91,5 97,6 98,8 102,4 110,7 107,1 88,6 95,2 115,3
Alemanha 98,7 90,5 90,3 94,9 87,5 108,7 118,4 116,0 96,2 109,9 120,3
Grécia 104,7 103,9 103,0 103,1 122,8 133,9 125,5 85,5 39,9 81,7 135,2
Espanha 107,8 92,8 100,0 104,7 115,2 108,2 102,4 73,5 62,8 89,6 92,6
França 108,4 96,5 95,6 96,8 100,0 101,1 109,5 107,7 82,1 97,9 100,0
Itália 111,0 105,8 102,4 105,0 103,9 113,2 111,5 91,0 85,9 92,9 100,0
Áustria 100,0 85,7 97,7 87,8 94,2 108,3 109,1 115,8 79,2 109,1 104,8
Portugal 97,6 80,4 79,7 95,5 87,0 98,7 96,3 105,2 80,2 87,3 85,3
Finlândia 107,7 100,0 101,1 102,3 104,8 109,1 111,6 107,8 78,0 97,6 107,7
Holanda 124,0 80,6 73,8 82,4 96,2 120,5 122,2 116,1 83,8 82,2 102,3
Fonte: Elaborada pelos autores
Através da analise dos números índice observa-se que o
desemprego nesses países europeus teve um grande aumento em
2010, reflexo da crise financeira, os únicos países que mantiveram
índices que ficaram abaixo de 100 foram o da Espanha e de Portugal,
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 133
a provável causa é que estes países já apresentavam altos níveis de
desemprego.
Pode-se observar melhor esses a tendência do desemprego
nesses países através do gráfico 3.
Gráfico 3 – Índice da taxa de desemprego
Fonte: Elaborada pelos autores
Fica evidente que após 2008,o desemprego começa a
subir em todos os países europeus. Apenas Grécia, Bélgica,
Alemanha e Espanha matem o desemprego em patamares
parecidos com os anteriores. Sendo que a Alemanha continua
com as sua taxa controlada, enquanto Espanha e a Grécia
continuam com altas taxas de desemprego.
0,00
50,00
100,00
150,00Bélgica
Alemanha
Grécia
Espanha
França
Itália
Áustria
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 134
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a Europa foi fortemente afetada pela
crise de 2008, passou por grande período recessão. Suas taxas
de crescimento reduziram significativamente e sua inflação
teve consideráveis aumentos. A taxa de desemprego também
aumentou, ou seja, o estado de bem estar social que vigorava
na Europa desde a década de 1970, não existe mais.
A situação econômica da Europa no geral não é
favorável à população. A população europeia sofre agora com
altas taxas de desemprego e inflação, com taxas de crescimento
mais modestas. Alguns países apresentam economias mais
sólidas como e o caso da Alemanha, mas outros países estão
totalmente debilitados como Portugal, Espanha e Grécia.
A Europa precisa esquecer o passado, e tomar medidas
para controlar a sua situação econômica. Não da para viver do
passado de glórias.
REFERÊNCIAS ACKLEY, G. Teoria macroeconômica. 2. Ed. São Paulo: Pioneira , 1973.
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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 137
A LOGÍSTICA REVERSA DE LIXO ELETRÔNICO DE COMPONENTES DE COMPUTADORES
Thiago dos Anjos Vigilato Sousa1 Resumo: O presente artigo tem como objetivo principal estudar a importância socioeconômica da Logística Reversa de componentes de computadores para as organizações, e como elas podem ter benefícios a partir desta atividade. Para isso, foram analisadas informações relativas à Logística Reversa, como os fatores determinantes para implantação de um canal reverso, as importâncias ecológicas e sociais da atividade e os benefícios e oportunidades que a Lei 12.305 pode proporcionar àquelas que venham a fazer a Logística Reversa. Também foram explanadas informações relativas ao nicho de mercado, com o objetivo de mostrar que a atividade é economicamente viável, e também citar os desafios e gargalos inerentes à atividade. Palavras-chave: Logística Reversa. Socioeconômico, pós-consumo. Competitividade.
1 Bacharel em Administração (FAE).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 138
1 INTRODUÇÃO
O mundo tem passado por grandes transformações, e estas
transformações, segundo Robbins (2002, p. 7-8) podem ser divididas
em três ondas. A primeira foi a onda da agricultura, que teve os seus
primórdios na era Egípcia, quando o homem deixou de ser nômade e
passou a se instalar nas margens dos rios, onde a terra era mais fértil;
esta onda durou até o fim do século XIX. A segunda foi a onda da
industrialização, quando os países desenvolvidos, liderados pela
Inglaterra, deixaram de ser sociedades agrárias para serem
sociedades movidas a máquinas; esta onda perlongou até os anos
1960. A terceira onda está sendo da informação, onde as pessoas
passam a tratar a informação de forma mais rápida e precisa, graças a
equipamentos de tecnologia da informação.
E foi a partir da Revolução Industrial que o nível de
consumo de bens duráveis foi crescendo a passos largos, e foi se
criando, principalmente nos Estados Unidos, uma cultura de
consumismo justificado pela alavancagem da economia, que tem
como resultado, um alto descarte destes produtos, por exemplo, no
Japão, o tempo de vida útil de uma geladeira é de apenas 1 ano, e nos
Estados Unidos, quanto mais velho é o automóvel, maior será o
imposto (IPVA) a ser pago.
Todo esse avanço tem proporcionado facilidades e
comodidades nas atividades rotineiras, rapidez e maior qualidade no
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 139
acesso a informações e entretenimento, e maior qualidade de vida
das sociedades ao redor do mundo.
Além das facilidades e comodidades, os avanços
tecnológicos foram de suma importância para as organizações no que
diz respeito à redução de custos de produção, qualidade dos
produtos, atendimento ao consumidor, inovação, entre outros. Em
virtude disso, as empresas se tornaram altamente dependentes da
informação, tanto para realização das tarefas diárias quanto para
projeções de planejamentos estratégicos.
Em virtude do rápido desenvolvimento tecnológico, aliado
ao crescimento econômico dos países e blocos emergentes, dentre
eles o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), tem-se
presenciado nos últimos anos, principalmente a partir da abertura da
China para o mercado, um vertiginoso crescimento da produção de
eletrodomésticos, veículos automotores, equipamentos de
comunicação e de informática em geral, ou seja, bens duráveis.
Com isso, os consumidores passaram a ter uma grande
variedade de produtos e marcas das mais diversas localidades do
mundo (China, Taiwan, Japão, Estados Unidos, Alemanha, entre
outros), fenômeno que tornou os clientes cada vez mais inconstantes
e exigentes, mudando a maneira como o mercado tem reagido ao
comportamento de compra dos consumidores, fazendo com que o
tempo de vida útil dos produtos seja reduzido gradativamente.
Diante de tal cenário, tem-se observado que grande parte
destes produtos, principalmente os equipamentos de informática, tem
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 140
o seu tempo de vida útil encurtado pela obsolescência precoce ou
devido ao apelo de fabricantes para troca por versões mais
atualizadas, gerando uma grande quantidade de resíduos que em sua
grande parte é descartada de forma errada em aterros sanitários,
lixões a céu aberto, incinerados ou jogados em canais fluviais,
causando um impacto ambiental ainda mais preocupante.
O lixo proveniente do descarte de computadores junto ao
meio ambiente têm como consequência o risco à saúde humana, pois
muitos de seus componentes têm em sua composição metais pesados
como o chumbo, o cádmio e mercúrio que em contato com o solo
contaminam os lençóis freáticos ou quando queimados poluem o ar.
Quando este tipo de contaminação passa a ser de
conhecimento da população, e a constatação de que os recursos,
principalmente os naturais, são finitos e escassos, aliado a crescente
preocupação mundial com o meio ambiente, novas formas de
planejamento das atitudes relacionadas ao desenvolvimento
sustentável estão surgindo e ganhando cada vez mais força no
cenário mundial.
Para tanto, repensar o destino dos resíduos sólidos,
principalmente os componentes de computadores, tem sido um
desafio para ambientalistas, engenheiros ambientais e
administradores, pois a nova realidade do mercado é a de
consumidores cada vez mais preocupados com as questões
ambientais, que em sua essência, influencia diretamente as
estratégias competitivas das empresas.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 141
É com o intuito de estudar soluções viáveis do ponto de vista
social, ambiental e financeiro, e analisar os fatores determinantes,
para que um processo e canal de Logística Reversa dos resíduos dos
componentes de computadores sejam instalados, nas organizações
que atuam na produção, na revenda e manutenção destes produtos
para o mercado consumidor, que este artigo é constituído.
O objetivo deste artigo é estudar a importância
socioeconômica da Logística Reversa de lixo eletrônico para as
organizações.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Logística
O conceito logístico surgiu durante a Segunda Guerra
Mundial para definir as atividades realizadas sequencialmente com o
intuito de organizar e suprir as necessidades militares em meio à
batalha, como: alimentação, armamento, transporte, reparação, entre
outros. As atividades logísticas eram de tal importância que uma
guerra era ganha ou perdida em função de sua organização logística
de suprir o exército em batalha.
A logística passou por várias transformações e etapas em
suas atividades até chegar ao layout em que se encontra atualmente.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 142
Novaes (2001, p. 41) e Ballou (1993, p. 28) classificam o processo
evolutivo da logística em quatro fases distintas.
A primeira fase surgiu após a Segunda Guerra Mundial, a
qual Novaes (2001, p. 43) cita que as empresas para atender a
demanda da época, formavam lotes econômicos com produtos
padronizados, buscando utilizar um modal de transporte mais barato,
com veículos de maior capacidade de carga, ou buscando terceirizar
o serviço com empresas que cobravam um frete com preço reduzido,
sem se preocupar com custo e tamanho dos estoques gerados com
estas atividades.
A segunda fase pode ser divida em duas partes, antes da
crise do petróleo (1973) e depois da crise. Antes da crise há um
despertar de desejos por produtos diferenciados nos clientes
incentivados pelo marketing, com isso, os automóveis e
eletrodomésticos produzidos na época passaram a ser ofertados com
cores e modelos variados, causando assim, segundo Novaes (2001, p.
44) e Ballou (1993, p. 30) um crescimento vertiginoso dos níveis de
estoques e, consequentemente, maiores custos para manutenção dos
mesmos.
Com a crise do Petróleo que ocasionou o aumento do preço
dos combustíveis afetando diretamente os custos de transporte e
distribuição. Estes custos tiveram que ser repassados para o
consumidor final. Isso fez com que as organizações começassem a
despertar para diversificação nos modais de transporte e
posteriormente para os níveis de estoque tanto de produtos acabados,
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 143
quanto para matéria-prima, visando manterem-se competitivas no
mercado.
A terceira fase é marcada pela utilização dos meios de
comunicação e integração entre os participantes (fornecedores e
acionistas) no processo produtivo. Neste processo a comunicação
entre elementos da cadeia foi otimizada com o uso do Eletronic Data
Interchange (EDI), sendo definida por Novaes (2001, p. 79) como
“transferência eletrônica e automática de dados entre os
computadores das empresas participantes, dados estes estruturados
dentro dos padrões previamente acertados entre as partes”. Com
isso, os processos puderam ser ajustados com maior rapidez e
precisão, visando a maior satisfação dos consumidores, coisa que era
desconsiderada anteriormente.
A quarta fase é caracterizada pelo avanço da logística,
passando a ser considerada como elemento estratégico para tomada
de decisão. Nesta fase há a intensa formalização de parcerias entre
empresas com maior interação e troca de informações, visando
soluções para problemas existentes, para juntas, tornarem-se mais
competitivas no mercado. Este tipo de parceira era inimaginável na
primeira e metade da segunda fase.
Para Universidade Católica de Brasília (2007)
Logística é definida como o processo de planejar, programar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços de informações associadas, cobrindo desde o ponto de
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 144
origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender as necessidades do consumidor.
No Brasil, a Logística teve o seu nascimento na década de
1980, com a explosão da informática, e acerca desta época Santos
(2007) afirma que:
Surgiram algumas entidades dando enfoque a Logística, como: ASBRAS (Associação Brasileira de Supermercados), ASLOG (Associação Brasileira de Logística), IMAM (Instituto de Movimentação e Armazenagem), entre outras, que tinham a difícil missão de disseminar este novo conceito, voltado para as organizações. (SANTOS, 2007, p. 1)
Para enfatizar o fator econômico da Logística, Ballou (1993)
vem dizer o principal problema a ser resolvido por ela é reduzir o
gap entre a produção e a demanda, pois os consumidores e os
recursos estão dispersos em uma área geográfica muito ampla, por
exemplo, parte da carne bovina produzida no Brasil é consumida na
Europa e Rússia.
O controle do processo logístico é de suma importância para
a gestão financeira das empresas, pois segundo BOWERSOX e
CLOSS (2001), este processo é “responsável por uma das maiores
parcelas do custo final do produto (5% a 35% do valor das vendas),
sendo superado somente pelo custo dos materiais consumidos na
produção e dos custos dos produtos vendidos no atacado ou no
varejo”. Sendo assim, o controle do processo logístico influencia
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 145
diretamente nos ganhos das empresas, aumentando ou diminuindo o
seu percentual de lucro.
2.2 Logística Reversa
Com o tempo, o termo logística ganhou algumas
ramificações, uma delas é a logística reversa, conceituada por Leite
(2003) como área da logística empresarial que planeja, opera e
controla o fluxo e as informações correspondentes, retorno dos bens
pós-vendas e de pós-consumo ao ciclo de negócios (reutilização) ou
ao ciclo produtivo (reciclagem), agregando-lhes valor de diversas
naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem
corporativa, entre outros, por meio de canais de distribuição reversos.
Os processos e atividades de Logística Reversa existem há
muito tempo, mas não eram tratados como tal, como por exemplo, o
recolhimento dos resíduos sólidos pelos sistemas de coletas de lixo
urbano e o retorno de vasilhames em geral às empresas. Apenas no
final da década de 80 (coincidentemente com o surgimento das
primeiras leis ambientais que tratavam do destino dos resíduos pós-
venda e pós-consumo) que teve início o estudo aprofundado e a
sistematização dos processos inerentes à logística inversa, tal como
ela é nos dias atuais.
Como afirma Stock (apud RODRIGUES et al. 2002, p. 2),
nos anos 90 o termo ganha novas abordagens que incrementam o
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 146
conceito inicial, nas quais estão a “logística do retorno dos produtos,
redução de recursos, reciclagem, e ações para distribuição de
materiais, reutilização de materiais, disposição final dos resíduos,
reaproveitamento, reparação e remanufatura de materiais.”
Em 1998, Carter e Ellram definindo a Logística Reversa,
incluíram a questão da eficiência ambiental.
A Logística Reversa trata do caminho inverso do fluxo
convencional, que é da fábrica em direção ao consumidor final. Leite
(2003, p. 15-29) apresenta de modo sintético, a evolução dos
conceitos de logística reversa:
• CLM – Council of Logistics Management “define Logística
Reversa como um amplo termo relacionado às habilidades e
atividades envolvidas no gerenciamento de redução,
movimentação e disposição de resíduos de produtos e
embalagens” (CLM, apud LEITE, 2003, p. 15).
• Stock (apud LEITE, 2003, p.15) “define Logística Reversa
em uma perspectiva de logística de negócios; o termo refere-
se ao papel da logística no retorno de produtos, redução na
fonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de
materiais, disposição de resíduos, reforma e remanufatura”.
Para Rogers e Tibben-Lembke (1999) Logística Reversa:
[...] é o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e de baixo custo de matérias primas, estoque em processo, produto acabado e informações relacionadas, desde o ponto de consumo até o
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 147
ponto de origem, com o propósito de recuperação de valor ou descarte apropriado para coleta e tratamento de lixo (ROGERS E TIBBEN-LEMBKE, 1999)
Pode-se fazer a junção de todos estes conceitos e chegar à
definição mais atualizada que segundo Leite (2006):
Logística Reversa é uma área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo, ao ciclo de negócio ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros (LEITE, 2006, p. 16-17)
O termo logística reversa, como o próprio nome já diz, trata
do fluxo inverso ao da logística, pois este trata do retorno dos
produtos ou seus resíduos para a fonte produtora, ou seja, faz com
que os produtos que não servem mais para os consumidores, ou os
resíduos por este produzidos retornem à fabrica para que seja dado o
devido descarte ou, se possível, fazer a reciclagem dos materiais
constituintes.
2.3 Lixo Eletrônico
Lixo eletrônico são RAEE (Resíduos de Aparelhos Elétricos
Eletrônicos), chamados popularmente no Brasil de “sucata de
informática” ou “lixo tecnológico”. Como explicita WIDMER (apud
HORI, 2010, p. 18), estes são originários de uma crescente gama de
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dispositivos eletrônicos que utilizam energia elétrica, desde grandes
utensílios domésticos de uso corriqueiro como geladeira e ar-
condicionado, até aparelhos de pequeno porte, que em sua maioria
possui um aporte tecnológico digital maior, como netbooks e
smatphones, que seus usuários consideraram que tenha chegado o
final de seu ciclo de vida, e por isso, optaram por descartá-los.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC,
2009) classifica lixo tecnológico e cita os seus potenciais riscos da
seguinte forma:
Lixo eletrônico são os resíduos resultantes do descarte de equipamentos como TVs, celulares, computadores, geladeiras, entre muitos outros que passaram a fazer parte de nossa vida como sinônimos de bem-estar. Jogados em lixões, são um sério risco ao meio ambiente, pois contêm metais pesados altamente tóxicos, como chumbo, mercúrio e cádmio. Em contato com o solo, contaminam o lençol freático. Quando queimados, poluem o ar. Também são um grave risco à saúde, pois se acumulam no corpo, podendo causar doenças como o câncer (IDEC, 2009, p. 27)
Compõem o lixo eletrônico os seguintes equipamentos:
• Informática e comunicações (monitores, PC’s, impressoras,
telefones, fax)
• Eletrônica de entretenimento (televisores, aparelhos de som,
leitores de CD)
• Equipamentos de iluminação (sobretudo lâmpadas
fluorescentes)
• Grandes aparelhos caseiros (fogões, geladeiras)
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• Pequenos aparelhos caseiros (torradeiras, aspiradores)
• Esportes e lazer (brinquedos eletrônicos, equipamentos de
ginástica)
• Aparelhos e instrumentos médicos (máquinas de Raio-x)
• Equipamentos de vigilância (câmeras e monitores)
Produtos da área de tecnologia podem ser uma fonte valiosa
para a reciclagem de matérias primas, quando tratados
apropriadamente; caso contrário, são altamente tóxicos. Devido ao
fato de aparelhos elétricos e eletrônicos conterem muitos
componentes considerados tóxicos e não biodegradáveis, desde 2003
na União Europeia, os fabricantes passaram a ser responsabilizados
pelo recebimento e reciclagem (constituindo a logística reversa) dos
seus produtos, sem custo para o consumidor final.
A União Europeia implementou em janeiro de 2003 um
sistema de responsabilidades ambientais, conforme citado por Hori
(2010), o chamado Waste from Eletronics and Electronic Equipment
(WEEE), originário da Diretriz 2002/96/EC da União Europeia, que
regula sobre a prevenção, reuso, reciclagem e outras formas de
recuperação de resíduos eletroeletrônicos, e que foi adaptada e
efetivada em leis de muitos países. No Brasil leis semelhantes foram
aprovadas com incentivo para a reciclagem de sucata de informática,
e que desde 2010 se culminaram na Política Nacional dos Resíduos
Sólidos.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 150
Na mesma época a União Europeia implantou a Restrição ao
Uso de Substâncias Nocivas (RoHS – Restriction of Hazardous
Substances) na fabricação de equipamentos eletrônicos, pela qual os
fabricantes são obrigados a retirar (ou reduzir ao mínimo) da
composição de seus produtos os elementos: chumbo, mercúrio,
cádmio, cromo com valência 6, bifenilas polibromadas (PBB) e éter
difenilo polibromado (PBDE), estes dois últimos empregados como
agentes retardantes de chamas em peças plásticas.
Com a institucionalização da política Nacional dos Resíduos
Sólidos em 2010, a responsabilização dos fabricantes para a
reciclagem do lixo eletrônico ganhou escala, para isso, empresas
especializadas foram criadas para receberem os equipamentos
obsoletos entregues pelos consumidores, promovendo uma parceria
para o reaproveitamento dos materiais contidos nos componentes de
computadores.
2.4 Importância da Logística Reversa
Com a crescente preocupação com o meio ambiente e com o
futuro do planeta, o conceito de Desenvolvimento Sustentável está
sendo bastante difundido nas mídias (televisão, jornal, rádio e
principalmente internet), baseando-se na ideia de crescimento
econômico sem comprometer as gerações futuras em seus
abastecimentos, principalmente em recursos naturais. De acordo com
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 151
Rodrigues et al. (2002), as razões para a Logística Reversa podem
ser divididas em: sensibilidade ecológica, pressões legais, redução do
ciclo de vida dos produtos, imagem diferenciada e redução de custos.
A sensibilidade ecológica pode ser definida como a
preocupação com aspectos do equilíbrio ecológico. De acordo com
Leite (1998), alguns destes aspectos afetam os canais de distribuição
como: disposição do lixo urbano devido aos efeitos nocivos, baixa
porcentagem de reciclagem das embalagens descartáveis e
produtos/materiais passíveis de serem reciclados ou reutilizados –
como é o caso do lixo orgânico, que pode ser transformado em
composto (fertilizante) para utilização na agricultura.
As pressões legais são advindas das legislações ambientais
sobre resíduos sólidos que têm suas origens na reação aos impactos
ao meio ambiente que podem ser causados, por exemplo, pela
dificuldade de desembaraço dos resíduos até a sua disposição final.
O que era de responsabilidade dos Governos Estadual e Federal,
agora passam a ser responsabilidade dos fabricantes e consumidores
finais, ou seja, a ideia de que a cadeia industrial de produtos que, de
certa forma, agridem o ambiente, deva se responsabilizar pelo que
acontece com os mesmos após o seu uso original (LEITE, 1998).
Outra razão para a implantação da Logística Reversa é o
fato de que o ciclo de vida dos produtos vem se tornando cada vez
mais curto, devido ao desenvolvimento tecnológico aliado à rápida
obsolescência dos bens, gerando um grande volume de resíduos
sólidos e produtos ultrapassados.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 152
A imagem diferenciada está relacionada à boa imagem que a
empresa pode alcançar por ser ecologicamente correta, por meio de
políticas mais liberais e eficientes de devolução de produtos, como
também por meio do marketing ligado à questão ambiental, por
exemplo, a obtenção de selo verde, ISO 14000, entre outros.
A redução de custos encontra-se em economias obtidas na
utilização de embalagens e componentes retornáveis e no
reaproveitamento de materiais para produção, como é o caso da
utilização de fibras de garrafa PET na fabricação de tecidos que pode
ser empregado em vários setores, entre eles, o de vestuário como o
usado nas camisas da Seleção Brasileira de Futebol.
Por todos estes motivos é que a Logística Reversa se faz
importante, seja na questão da sensibilização ecológica da atividade,
na redução de custos de produção, no ganho de imagem corporativa
diferenciada, no cumprimento de leis ou outros motivos mais.
3 METODOLOGIA
Como os objetivos visam a verificação, demonstração e
listamento de fatores e importâncias, a metodologia empregada neste
estudo foi a pesquisa bibliográfica que segundo Vergara (2000,
p.48), “é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material
publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é,
material acessível ao público em geral”.
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Por se tratar de um tema relativamente novo e ainda pouco
estudado, grande parte dos materiais estudados consta em livros,
artigos e publicações na internet e em revistas especializadas no
assunto estudado. Quase todos os documentos bibliográficos datam
dos anos 2000 até os anos atuais, enfatizando ainda mais a
precocidade do estudo do tema.
Segundo Trujillo (apud LAKATOS; MARCONI, 2001, p.
44) a pesquisa bibliográfica tem por finalidade “colocar o
pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre
determinado assunto, com o objetivo de permitir ao cientista o
reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de
suas informações”. É com base nesta afirmação que o presente artigo
se estrutura, buscando informações de várias fontes relativas ao
tema, para compor os dados necessários para comprovar a
importância do objeto de estudo.
Para Manzo (apud LAKATOS e MARCONI, 2001, p. 44) “a
bibliografia pertinente oferece meios para definir, resolver, não
somente problemas já conhecidos, como também explorar novas
áreas, onde os problemas ainda não se cristalizaram
suficientemente”. Por isso que o artigo empregou como método de
investigação a pesquisa bibliográfica, pois o problema não será
analisado de forma isolada, mas serão considerados todos os tipos de
influência sobre o problema de estudo.
A principal vantagem de se fazer uma pesquisa bibliográfica
segundo Gil (2010, p. 30) é o fato de “permitir ao investigador a
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 154
cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que
aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se
particularmente importante quando o problema de pesquisa requer
dados muito dispersos pelo espaço.” Como os dados analisados são
quantitativos e de várias pesquisas já realizadas no setor (dados
primários), ou seja, utilização de dados primários para gerar dados
secundários, mas que tem ligação entre eles, então a vantagem de
cobrir uma gama de fenômenos muito ampla toma ainda mais
importância ao se analisar o problema.
Em relação aos livros e autores utilizados para pesquisar o
tema, o autor que foi mais consultado é o Paulo Roberto Leite com
sua obra “Logística Reversa: meio ambiente e competitividade” em
sua primeira edição, pois se trata de um livro recente, com vários
dados e ilustrações interativas que facilitam a compreensão do leitor,
facilitando a montagem do presente trabalho.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas (2001):
Métodos quantitativos constituem os fundamentos matemáticos da ciência da administração que instrumentam a estruturação e sistematização dos processos de análise e de tomada de decisão na administração de empresas. Mensurando fenômenos através de escalas qualitativas e quantitativas. Descrevendo, sumarizando e apresentando dados qualitativos e quantitativos. Medindo graus de certeza: cálculo de probabilidades. Estimando parâmetros populacionais com base em amostras. Testando hipóteses acerca de parâmetros populacionais. Analisando problemas de tomadas de decisão (FGV - FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2001).
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O método a ser utilizado para análise dos dados é a pesquisa
exploratória de dados quantitativos, pois segundo Miranda (2008) “a
investigação quantitativa caracteriza-se pela atuação nos níveis de
realidade e apresenta como objetivos a identificação e apresentação
de dados, indicadores e tendências observáveis”. Assim sendo, o
estudo apresentou tendências de mercado, indicadores de
rentabilidade e opiniões de especialistas, fazendo do presente artigo
um estudo de dados quantitativos.
Com o intuito de se chegar a resultados que instigasse as
empresas e consumidores a promover a Logística Reversa de
componentes de computadores, o presente artigo buscou dados de
iniciativas bem-sucedidas no Brasil e no exterior, que traduzissem
em números as vantagens de se realizar tal atividade.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO
A partir da descrição do cenário atual sobre o esgotamento
dos recursos naturais e a insustentabilidade do modelo de produção e
de consumo capitalista, além da preocupação com o meio ambiente,
foram apresentados dados e informações que explicitam a
necessidade de se reformular o modelo de consumo, produção e
descarte de produtos oriundos da tecnologia da informação,
principalmente os componentes de computadores.
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Mas, como foi mostrado, grande parte dos consumidores não
sabem como dar a destinação correta para este tipo de lixo, fazendo
com que este resíduo tenha destinos que não são os mais
recomendáveis do ponto de vista ambiental, social e econômico.
Estão, de que maneira os consumidores (sejam eles pessoas físicas
ou jurídicas) podem se desfazer de seus computadores, sem que
estejam comprometendo as gerações futuras? É por meio da
Logística Reversa que consumidores podem destinar tais produtos
sem serventia, tanto para reuso (aumentando o seu tempo de vida útil
e viabilizando a inclusão e ensino digital para pessoas carentes),
quanto para reciclagem (no caso de empresas, podendo obter
vantagens econômicas por meio deste tipo de atividade).
A Logística Reversa é praticada em pós-venda e pós-
consumo, mas o foco de estudo deste artigo trata apenas dos
componentes de computadores de pós-consumo, pois se trata de
produtos que, mesmo com pouco uso, tiveram serventia e foram
utilizados pelos consumidores.
4.1 Logística Reversa de pós-venda
Logística Reversa de pós-venda é o caminho seguido por
produtos que tiveram pouco ou nenhum uso, e que por motivos
diversos, os consumidores consideram estes inúteis.
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Este tipo de canal é de tal importância que segundo Leite
(2003, p. 18), nos Estados Unidos, este é responsável por
aproximadamente 0,5 % do Produto nacional Bruto (PNB), com forte
tendência a crescimento.
Segundo Vialli (2007), há estimativas de que o comércio de
resíduos industriais movimente em torno de R$ 250 milhões ao ano
no Brasil, mas tem potencial para chegar a R$ 1 bilhão ao ano. E
para estimular esse mercado, a FIESP (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo) criou a Bolsa de Resíduos Industriais, onde
pelo site, as empresas podem negociar 200 diferentes tipos de
resíduos industriais, desde plástico a silicones industriais.
4.2 Logística Reversa de pós-consumo
Um item de pós-consumo é classificado por Leite (2003)
como um produto ou material de vida útil encerrada e, mesmo assim,
ainda podem retornar ao ciclo produtivo, ou serem enviados a
destinos tradicionais, como a incineração ou os aterros sanitários,
sendo esses últimos, os mais impactantes ao meio ambiente.
Sendo assim, a Logística Reversa de pós-consumo trata de
coordenar as atividades de retorno de bens e suas partes integrantes
ao seu ponto de origem para serem reaproveitados ou descartados de
maneira adequada, recebendo cada qual um tratamento adequado ao
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grau de complexidade e de contaminação, agregando-lhes valor
econômico, ecológico e logístico.
4.3 Fatores determinantes da Logística Reversa
Existem inúmeros fatores que são determinantes ou exercem
grande influência para implementação de um canal reverso. Leite
(2003) diz que tais fatores interferem na organização e estruturação,
e por consequência, no equilíbrio entre as quantidades de bens de
pós-consumo que são descartadas e as reintegradas ao ciclo
produtivo e que justificam o grau de inserção da Logística Reversa
na estratégia empresarial.
4.3.1 Fatores Econômicos
Fatores econômicos segundo Hori (2010, p. 46), referem-se a
benefícios obtidos por meio do reaproveitamento de matéria-prima,
materiais e produtos com os quais a empresa possa tirar proveito na
revenda de produtos em mercados secundários, recuperação de
produtos para posterior revenda e redução de custos no que tange o
descarte.
Estes benefícios são tangíveis, pois os materiais provenientes
de produtos de pós-consumo são relativamente mais baratos para a
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 159
produção de novos produtos, porque a exemplo do ouro, é
socialmente mais responsável, financeiramente menos oneroso, e
ecologicamente mais sustentável reaproveitar o que já existe nos
produtos de pós-consumo que explorar este material na natureza.
As empresa são motivadas a fazer a Logística Reversa de
componentes de computadores, porque ao realizar esta atividade, elas
podem gerar renda a partir da revenda destes materiais, reciclagem e
utilização destes no processo produtivo (proporcionando economias
de produção), ganhos de imagem corporativa por meio da sociedade,
e até benefícios fiscais por meio de programas governamentais.
4.3.2 Fatores Ecológicos
Este fator é então entendido como uma ação sustentável, pois
as empresas que praticam estas ações evitam que os produtos
provenientes do pós-consumo de computadores contaminem o meio
ambiente, visto que a sociedade tem se tornado cada vez mais
ecologicamente sensibilizada e tem preferido consumir produtos de
empresas sustentáveis do ponto de vista ecológico.
É possível que o fator ecológico seja aliado ao fator
econômico, pois as organizações que realizam a Logística Reversa de
componentes de computadores com fins ecológicos também se
beneficiam do fator econômico, pois a sua imagem corporativa ganha
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 160
robustez, resultando em maior fatia de mercado, fazendo com que a
empresa tenha maiores lucros.
4.3.3 Fatores Legislativos
“Um dos principais fatores estratégicos da Logística
Reversa é o crescente número de legislações ambientais que têm
surgido em todo mundo” (ROGERS e TIBBEN LEMBKE 1999, p.
26), por isso, as empresas se viram pressionadas a se adequarem aos
novos parâmetros impostos pelas legislações, influenciando na forma
com que a empresa lida com a produção e, principalmente, com o
retorno dos produtos à mesma.
Com isso, conclui-se que se as empresas não se enquadrarem
à “nova ordem mundial” de sustentabilidade e preservação do meio
ambiente, certamente sofreram duras represarias por parte da
sociedade e do Estado.
4.3.4 Fatores Logísticos
O fator logístico é a parte mais sensível na organização do
canal reverso de pós-consumo, pois, segundo Leite (2003) “diz
respeito à existência de condições de organização, localização e
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 161
sistemas de transporte entre os diversos elos da cadeia de
distribuição reversa”.
É por meio da formatação da logística que os produtos e
materiais potencialmente recicláveis vão do consumidor final
(empresas e consumidores em geral) até a fonte produtora (empresas
fabricantes de peças de computadores), podendo passar por
intermediários (ONG’s, recicladores e/ou revendedores) ou não.
Quando bem formado, este canal proporciona competitividade para
as empresas, tornando-as mais lucrativas e mais ágeis, mas se este
canal não for cuidadosamente estudado e estruturado, poderá
inviabilizar a atividade.
5 CONCLUSÃO
A partir das informações apresentadas, constatou-se que a
Logística Reversa de componentes de computadores no Brasil é uma
atividade ainda pouco praticada, pois não há informações suficientes
sobre o que é feito e para onde vão esses resíduos, apesar de ser uma
atividade que pode melhorar a imagem corporativa da organização,
proporcionando ganhos financeiros relacionados à prática da
reciclagem ou ganhos relacionados à prática da responsabilidade
sócio-empresarial, além de educar os clientes sobre a forma mais
adequada de consumir produtos que têm impacto direto no meio
ambiente.
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Verificou-se que para uma empresa instituir um canal
reverso, alguns fatores são decisivos para o sucesso da atividade. O
fator legislativo é, em muitos casos, o primeiro a ser levado em
consideração, após a sanção da Lei 12.305/10, por causa da
obrigatoriedade das empresas em fazer a coleta e dar a correta
destinação para certos produtos que podem ser nocivos ao meio
ambiente e à humanidade.
O fator econômico é o que mais salta aos olhos, pois se
verificou que a reciclagem dos componentes de computadores que
tiveram o seu tempo de vida esgotado é financeiramente atrativa,
além de ser ecologicamente correta e socialmente responsável, pois
promove a inclusão digital e o ensino profissionalizante de muitas
pessoas de baixa renda, dá a destinação adequada para este tipo de
produto, e serve de matéria-prima para a produção de novos
computadores, reduzindo o custo de produção dos mesmos.
O fator ecológico refere-se à preocupação da empresa com a
contaminação do meio ambiente por meio da má destinação e
tratamento dos resíduos de componentes de computadores, fazendo
com a organização além de proteger o meio ambiente, ainda desfrute
dos benefícios que a atividade proporciona (seja de imagem
corporativa ou benefícios tributários).
Já os fatores logísticos e tecnológicos são os que dão
sustentação à Logística Reversa, pois se referem à existência de
condições de organização, localização, sistemas de transporte entre
os diversos elos da cadeia de distribuição reversa e informações
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relativas à atividade que auxiliam e melhoram o processo de
produção e descarte dos componentes de computadores.
Assim como esta atividade pode proporcionar ganhos
financeiros, ela também contribui com a sociedade ao viabilizar a
inclusão digital de pessoas carentes, proporcionando também a
capacitação profissional dos mesmos, gerando empregos das mais
diversas qualificações e amenizando o impacto ambiental do descarte
dos produtos provenientes de computadores.
Portanto, como considerações finais, é possível constatar
que a atividade de Logística Reversa no pós-consumo de
componentes de computadores é altamente benéfica às organizações,
pois pode gerar ganhos nas várias fases do elo reverso, a saber: às
organizações que reaproveitam os materiais para a produção de
novos computadores ou outros produtos e, com isso, diminuem os
custos de produção; às organizações que fazem a (re)distribuição dos
componentes de computadores usados, lucrando com o transporte e a
revenda a empresas reciclagem ou mercado de segunda-mão; às
organizações que se beneficiam com o marketing de
responsabilidade sócio-empresarial, ou seja, empresas que fazem a
Logística Reversa, ou empresas que apenas montam postos de coleta,
todas se beneficiam deste marketing; e, por fim, todas as
organizações supracitadas se beneficiam com o consumo consciente
por fazer com que a sustentabilidade seja estabelecida.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 164
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A NAVEGABILIDADE E O TIPO DE JULGAMENTO
Sergio Luis dos Santos Lima1 Leila Amaral Gontijo2
Resumo: Esta pesquisa teve por objetivo identificar a influência do tipo de julgamento na navegabilidade. Adotou-se a abordagem da Ergonomia Cognitiva. Os resultados obtidos demonstraram que tipo de julgamento modula a percepção da pessoa e que aqueles que possuem preferência pelo julgamento passo a passo apresentaram um melhor desempenho na navegabilidade. Palavras-chave: Tipo de Julgamento. Navegabilidade. Ergonomia Cognitiva.
1 Doutor em Engª da Produção (UFSC). Mestre em Engª da Produção (UFSC). Graduado em Psicologia (UnB). Professor (FAE). 2 Pós-Doutora (Lund University, Suécia). Doutora em Ergonomia (Université Paris, França). Metre em Ergonomia (CNAM). Graduada em Desenho Industrial (FUMA). Professora (UFSC).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 168
1 INTRODUÇÃO
A Internet é um meio de comunicação que causa um impacto
importante na sociedade ao revolucionar a forma e a amplitude de
como nos comunicamos e interagimos. É um ambiente não linear que
tem uma cultura peculiar. Em consonância com Filho (2000) é
possível assegurar que a Internet representa um clássico exemplo de
tecnologia de rompimento e, como toda a inovação desta magnitude,
provoca uma reorganização da humanidade, o que atualmente está a
acontecer.
Assim sendo, organizações têm se interessado em se integrar
a essa nova modalidade de comunicação e interação estabelecendo
suas estratégias competitivas no universo virtual. Entretanto, as
variáveis que interferem no processo decisório e na resolução de
problemas dos internautas, ou seja, em suas estratégias operatórias,
ainda não foram mapeadas. Esta pesquisa analisou uma delas: o tipo
de julgamento que a pessoa afere ao objeto.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Abrahão (1993) a Ergonomia é uma área do
conhecimento que visa transformar o trabalho, adaptando-o às
características das pessoas, bem como às características de sua
atividade, almejando uma otimização do conforto, da segurança e da
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 169
eficácia. Seu objetivo é humanizar o trabalho defendendo a premissa
de que este deve ser adaptado às características das pessoas em
articulação com as exigências sócio-técnicas das tarefas, aos
objetivos a serem cumpridos e as condições de trabalho efetivas que
lhes são dadas. Em consonância com Abrahão, Silvino e Sarmet
(2005), trata-se de uma abordagem mediadora entre a pessoa e a
tecnologia como forma de assegurar que a lógica que guia a ação da
pessoa seja contemplada tanto no processo de concepção quanto de
reformulação das interfaces em geral.
A Ergonomia possui como pressuposto epistemológico: o
antropocentrismo, e como principal pressuposto metodológico: a
Análise da Atividade. Esta Análise considera a conduta humana em
situação real, as estratégias operatórias que a pessoa efetivamente
utiliza para executar a atividade. Utiliza-se o termo conduta em
detrimento de comportamento porque o conceito de conduta, como
salienta Daniellou (2004), introduz uma noção de “motivos” ou de
“intenção”. Dessa forma, trabalhando em uma perspectiva
antropocêntrica, a Ergonomia, além de aumentar a produtividade,
contribui para uma redução da carga de trabalho tanto em seu
componente psíquico, que determina as vivências de prazer da
pessoa, quanto em seu componente físico, minimizando os esforços
biomecânicos e fisiológicos, como também em seu componente
cognitivo, diminuindo suas exigências, como a memória, resolução
de problemas, processos decisórios, dentre outros.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 170
De acordo com Abrahão, Silvino e Sarmet (2005), a
Ergonomia Cognitiva - EC é um campo de aplicação da Ergonomia
que tem como objetivo explicitar como se articulam os processos
cognitivos face às situações de resoluções de problemas nos
diferentes níveis de complexidade. Para Silvino (2004), a EC
frequentemente está associada à demanda de novos conhecimentos e
instrumentos que permitam explicar as ações das pessoas e os
mecanismos subjacentes a elas. Assim sendo, o ergonomista busca as
informações emitidas pelas pessoas, seja em forma de
comportamento, seja em forma de verbalização, buscando formar um
‘quadro cognitivo’ claro sobre a pessoa. Este quadro irá subsidiar
decisões de como ajustar e/ou conceber a interface à pessoa.
A conexão entre a atividade e as representações disponíveis e
utilizadas origina um delineamento da estratégia operatória
desenvolvida pela pessoa para resolver um problema posto ou tomar
uma decisão (SANTOS-LIMA, 2003).
A estratégia operatória é compreendida como o processo
cognitivo de categorização, resolução de problemas e tomada de
decisão que resulta em um modo operatório adotado pela pessoa.
2.1 Tipo de Julgamento
De acordo com Allen (2000), quando pessoas avaliam um
objeto, seja ele um produto ou um serviço, elas podem realizar dois
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 171
tipos de julgamento, a saber: (1) julgamento passo a passo das
características do objeto, utilizando um raciocínio procedimental
(atributo por atributo). Dessa forma, o objeto tem uma função
psicológica funcional, instrumental; (2) julgamento afetivo,
“holístico”, tendo uma função psicológica expressiva.
Esses processos descritos por Allen (2000, 2001) são
alicerçados nos conceitos de Mittal (1988) e Fiske & Pavelchac,
(1986, apud Allen & Ng, 1999). Para Mittal (1988), o julgamento
afetivo possui três características principais: é holístico, é
influenciado pelo o que denominou de self da pessoa e é de difícil
explicação. O outro modo de julgamento está baseado na avaliação
dos atributos tangíveis e funções utilitárias de um determinado
produto. Já para Fiske & Pavelchac, as pessoas podem avaliar um
objeto por meio de uma resposta afetiva passo-a-passo, ou seja, a
atitude com relação ao objeto é resultado de uma combinação
algébrica do afeto associado a cada atributo; ou por meio de uma
resposta afetiva baseada na categoria do produto, ou seja, o objeto é
comparado ao seu exemplar e quando são compatíveis, os afetos
associados ao exemplar são transferidos ao objeto. Dessa forma,
Allen & Ng (1999), propuseram os dois tipos de julgamento, o
passo-a-passo, que se relaciona ao modo do processo cognitivo
avaliativo dos atributos de Mittal (1988) e à resposta afetiva passo-a-
passo descrita por Fiske & Pavelchak (1986), e o julgamento afetivo
relacionado ao modo afetivo de escolha de Mittal e à resposta afetiva
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 172
baseada na categoria do produto de Fiske & Pavelchak (ALLEN &
NG, 1999).
3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
O percurso metodológico adotado foi inspirado na
Tecnologia de Avaliação e (re) concepção de Interfaces – TAI
(SILVINO, 2004). Assim, a pesquisa foi realizada em quatro fases
que consistiu de: (a) Planejamento; (b) Avaliação; (c) Confrontação;
e (d) Análise dos Resultados e Conclusão.
A fase do planejamento é a que orienta os procedimentos da
pesquisa. Apoiou-se na análise da demanda que, neste caso, foi
construída utilizando a interface de um Sistema de Turismo Social: o
SBTUR – Sistema Brasileiro de Hotéis, Lazer e Turismo. Nesta
análise da demanda, consta também uma análise contextual da
organização e do serviço de Turismo.
A fase da Avaliação foi composta pelas etapas de
identificação dos dados demográficos dos respondentes e preferência
por tipo de julgamento sobre o objeto. Para tanto foi utilizado a
Escala de Preferência por Tipo de Julgamento de Allen e Ng (1999)
traduzida para o Brasil por Nepomuceno & Torres (2005).
A etapa de Avaliação também se constituiu de uma análise
da navegabilidade na interface do sistema SBTUR e posteriormente
de uma confrontação da pesquisa junto aos respondentes por meio de
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 173
entrevistas. Por fim, a quarta fase consistiu da análise dos resultados
da pesquisa e conclusão. Estas etapas serão explicitadas
detalhadamente nos procedimentos.
Foram escolhidos dois níveis de tarefa, A primeira tarefa
apresentada consistiu no respondente buscar a informação sobre o
que é um título do Sistema SBTUR. Esta tarefa visou avaliar tanto o
desempenho quanto identificar qual das representações técnicas
presentes na interface da página inicial do SBTUR atraem a atenção
do respondente: a representação técnica simbólica (Figura 1) ou a
representação técnica utilitária (Figura 2).
Figura 1 – representação técnica simbólica.
Figura 2 – representação técnica utilitária.
A segunda tarefa de navegabilidade consistiu no respondente
realizar uma reserva de hospedagem no Fluminense Hotel, situado
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 174
em Rio do Sul em Santa Catarina. A cidade e o hotel são fictícios,
foram inseridos no sistema do SBTUR justamente para atingir os
objetivos desta pesquisa. Esta tarefa tem por objetivo avaliar o
desempenho do respondente. O critério de desempenho é medido em
termos da eficiência e da eficácia na interação. A eficácia é medida,
neste estudo, como o cumprimento da tarefa proposta ao
respondente, ou seja, eficaz é quando o respondente consegue, ou
não, realizar a reserva de hospedagem no hotel. A tarefa era
considerada executada assim que o respondente clicava em ‘Efetuar
Reserva’ na tela de confirmação da reserva.
A eficiência, por sua vez, foi medida pelo numero de passos
que o usuário utilizou em seu modo operatório de navegação; e pelo
enfrentamento, ou não, de um problema de usabilidade na resolução
do problema proposto. Trata-se de um problema de usabilidade
qualquer interferência na navegabilidade, em relação ao
desempenho, gerando conseqüente insatisfação e/ou desconforto para
o usuário. Segundo Cybis (2002) a taxonomia dos problemas de
usabilidade é classificada, em relação à estrutura, como: (a) Barreira,
quando o usuário esbarra sucessivas vezes e não suplanta um
problema de usabilidade; (b) Obstáculo, quando o usuário esbarra em
um problema de usabilidade, contudo aprende a suplantá-lo; e (c)
Ruído, quando um aspecto da interface, sem que se constitua em
barreira ou obstáculo, causa uma diminuição do desempenho do
usuário sobre a tarefa.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 175
A amostra foi definida pela precisão da estimativa de mais
ou menos 10% em um nível de confiança e 95% e consistiu de 96
(noventa e seis) respondentes. O perfil da amostra consistiu em
pessoas residentes no Distrito Federal (44,2%), Porto Alegre (34,2%)
e Florianópolis (21,7%), que possuem acesso a Internet, uma conta
corrente em banco e que costumam viajar pelo menos uma vez por
ano. O método de amostragem foi o não probabilístico do tipo
acidental.
O recrutamento dos respondentes para a pesquisa foi
realizado por meio dos associados (n= 16) e colaboradores (n=36) do
Sistema de Turismo Social SBTUR, alunos do desenho industrial da
Universidade de Brasília (n=10), alunos da disciplina de Interfaces
Homem Computador da UNIREAL (n=6), pessoas do círculo de
relacionamento do pesquisador (n=31), bem como por os outros
respondentes que foram recrutados aleatoriamente (n=21).
4 RESULTADOS
O desempenho foi medido por meio da eficácia e da
eficiência. Na variável eficácia, 65,6% dos respondentes
conseguiram realizar a tarefa. A variável eficiência foi verificada por
meio de duas estratégias: (1) processo decisório de navegação (2)
resolução de problema de usabilidade.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 176
4.1 Processo decisório de navegação
No processo decisório de navegação, o respondente possuía
algumas oportunidades de desempenhar, entretanto 97,3% dos
respondentes restringiram-se a: iniciar a navegação pela
representação técnica de login do associado, 22,7%, apontado pela
seta azul na figura 2, ou iniciar a navegação pela representação
técnica de Reservas on line que totalizou 74,7% (seta verde). Outras
condutas perfizeram 2,7%.
Figura 2 – Escolha de Navegabilidade
A navegabilidade dos respondentes na tarefa 2 apresentou
um tempo médio de interação de 3’03’’(três minutos e três
segundos), sendo o desvio padrão de 103,82 . O tempo médio de
navegabilidade foi de 3’02’’ (três minutos e dois segundos). Sendo
que o menor tempo foi de um minuto, no entanto esta navegabilidade
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 177
foi realizada justamente por um dos profissionais responsáveis pela
confecção do sítio eletrônico do SBTUR, possuindo assim, bastante
experiência e familiaridade com o sítio. Ou seja, este é o tempo
ótimo para a resolução desta tarefa.
Na navegabilidade, 46,7 % dos respondentes se defrontaram
com um problema de usabilidade obstáculo. Outros 17,3% dos
respondentes defrontaram-se com um problema de usabilidade
barreira antes mesmo de conseguirem alcançar esta etapa da
interação com o sistema. Para os 36% restantes, não ocorreu
qualquer tipo de problema de usabilidade.
A barreira verificada na navegabilidade está representada na
tela de confirmação da reserva, onde o respondente não encontra o
link de efetuar a reserva, justamente por estar abaixo da barra de
rolagem, conforme ilustrada na figura 3.
Figura 3 – Problema de usabilidade: Barreira
Quanto ao tipo de Julgamento, 60 % da amostra preferem o
tipo de Julgamento passo-a-passo, provavelmente amparado em um
tipo de raciocínio algoritmo. Os dados encontrados na amostra
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 178
surpreendem na medida em que aguardava-se que o turismo eliciasse
a preferência pelo julgamento afetivo. Conforme Allen (2000),
“férias” é um produto de valor hedônico, caracterizado por desejos
emocionais, por uma representação mental imaginativa.
Uma relação significativa é demonstrada na relação entre
preferência por tipo de julgamento e a preferência pela representação
técnica (Chi Square=.000; Spearman=.000). Dos respondentes que
possuem o julgamento afetivo, 70,8% preferem a representação
técnica do tipo simbólica enquanto que 62,5% daqueles que utilizam
um julgamento passo a passo preferiram a representação técnica do
tipo utilitária. Essa relação significativa corrobora com a hipótese do
pesquisador de que aqueles que têm um julgamento afetivo preferem
a representação técnica simbólica, bem como aqueles que têm um
julgamento passo a passo preferem a representação técnica do tipo
utilitária. Pode ser que haja uma espécie de atenção seletiva, ou seja,
aqueles que preferem utilizar um julgamento afetivo só perceberiam
a representação técnica do tipo simbólica. Uma representação técnica
utilitária não atrairia a atenção desta pessoa. Entretanto, tal afirmação
necessita de estudos que corroborem esta hipótese, na medida em
que esta correlação é baixa e inversa (-3,754).
Ao relacionar a eficácia e a eficiência com experiência no
sítio do SBTUR, percebe-se que 76,9% dos respondentes que se
defrontaram com o problema de usabilidade barreira, são
inexperientes no sítio do SBTUR, como também 71,4% daqueles
defrontaram-se com o problema de usabilidade obstáculo são
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 179
inexperientes. Na mesma tendência, 63,0% daqueles que realizaram
a navegabilidade sem ruídos são experientes e 77,1% daqueles que se
defrontaram com o obstáculo na navegação são inexperientes na
interface. Aqui se percebe a interveniência desta variável na
navegabilidade.
Quanto à relação entre eficácia e preferência pelo tipo de
julgamento, os respondentes que realizam um julgamento passo a
passo do objeto obtiveram maior eficácia, dado que 71,7% destes
conseguiram completar a tarefa, enquanto que aqueles que realizam
um julgamento afetivo do objeto obtiveram 57,5% de êxito. Mesmo
sendo uma relação não significativa (Chi Square=.154; R;
Spearman=.157), pode-se concluir que aqueles que utilizam o
julgamento passo a passo são mais eficazes na navegabilidade.
Ao relacionar o tipo de julgamento com a eficiência, 70,4%
daqueles que obtiveram uma navegação sem ruídos são os
respondentes que possuem preferência pelo tipo de julgamento passo
a passo, enquanto que 60,6% daqueles que se defrontaram com
obstáculo no decurso da interação possuíam preferência pelo tipo de
julgamento afetivo. Apesar desta relação não ser significativa (Chi
Square=.087; Spearman=.235) e a magnitude da correlação ser baixa
(1,427) , pode-se concluir, mesmo assim, que aqueles que utilizam
um julgamento passo a passo, utilizando um raciocínio
procedimental, possuem um melhor desempenho na navegabilidade,
já que demonstraram ser mais eficazes e eficientes.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 180
5 CONCLUSÃO
Ao realizar a regressão linear foi possível observar que o tipo
de julgamento apresenta nível se significância confiável para esta
amostra que Este dado corrobora com os achados quando ao
relacionar eficácia e preferência pelo tipo de julgamento, concluiu-se
que aqueles que utilizam o julgamento passo a passo são mais
eficazes na navegabilidade. Ao relacionar o tipo de julgamento com
a eficiência, conclui-se, também, que aqueles que utilizam um
julgamento passo a passo, utilizando um raciocínio procedimental,
possuem um melhor desempenho na navegabilidade, por
demonstrarem serem mais eficazes e eficientes.
Corroborando com os achados de Allen (2000), pessoas que
possuem preferência pelo tipo de julgamento afetivo tendem a
perceber estímulos visuais (representação técnica simbólica), bem
como as pessoas que demonstram preferência pelo tipo de
julgamento é passo a passo, a representação técnica que ativará a
representação psicológica no modelo mental da pessoa, é de natureza
verbal (representação técnica utilitária). Esta relação é confirmada
aqui nesta pesquisa, mesmo tendo uma magnitude de correlação
pequena. Isto implica afirmar que o tipo de julgamento modula a
percepção da pessoa e caso seja necessário realizar uma interface
respeitando a variabilidade dos usuários finais, o designer deve
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 181
colocar numa mesma representação técnica tanto elementos verbais
quanto visuais.
REFERÊNCIAS ABRAHÃO, Júlia I.; SILVINO, Alexandre M.S.; SARMET, Maurício M. Ergonomia, Cognição e trabalho Informatizado. Psicologia: teoria e pesquisa. v. 21, n. 2, maio/ago. 2005. p. 163-171. ABRAHÃO, Julia.I. Ergonomia: modelos, métodos e técnicas. Em 2º Congresso Latinoamericano e 6º Seminário Brasileiro de Ergonomia, UnB/IP, 1993. ALLEN, M. W. & NG, S.H. The direct and indirect influence of human values on product ownership. Journal of Economic Psychology, 20 (1), 1999. p. 5-39. ALLEN, Michel W. The Atribute-Mediation and Product Meaning approaches to the influences of human values on consumer choices. Advances in Psychology Research, 1, 2000. p. 31-76. ALLEN, Michel W. A pratical Method for Uncovering the direct and indirect relationships between human values and consumer purchases. Journal of Consumer Marketing, 18 (2), 2001. p. 102-120. CYBIS, Walter A. Ergonomia de Interfaces Homem-Computador. Apostila para o curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção -Universidade de Santa Catarina, 2002. Florianópolis. Disponível em: <http://www.labiutil.inf.ufsc.br>. Acesso em: 12 dez. 2008. DANIELLOU, F. Introdução. Questões epistemológicas acerca da ergonomia. Em: DANIELLOU, F. (Org.). A ergonomia em busca de seus princípios. São Paulo: Edgar Blücher, 2004.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 182
FILHO, A.A.S. Comércio Eletrônico: Marketing, Segurança, Aspectos Legais e Logística. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção e Sistemas, UFSC, 2000. MITTAL, B. The Role of Affective Choice Mode in the Consumer Purchase of Expressive Products. Journal of Economic Psychology, 9, 1988, p. 499-524. NEPOMUCENO, M.V.; TORRES, Claudio V. Validação da Escala de Julgamento e Significado do Produto. Estudos de Psicologia, v. 10, nº 3. Natal, 2005. SANTOS-LIMA, Sergio L. Ergonomia cognitiva e a interação pessoa-computador: análise ergonômica da urna eletrônica 2002 e do módulo impressor externo. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção e Sistemas, UFSC, 2003. SILVINO, Alexandre M. D. Ergonomia Cognitiva e Exclusão Digital: a Competência como elemento de (re)Concepção de Interfaces Gráficas. 2004. Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. UnB, Brasília. Disponível em: <http://www.unb.br/ip/labergo/sitenovo/imgprod/AlexandreMagnoCompetenciaElemento.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2008.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 183
COMUNICAÇÃO E CONSUMO: o jornal goiano no Século XXI
Adriano Salles Amadeu1 Ludimila Stival Cardoso2
Resumo: Comunicação e consumo caminham juntos, promovendo diferenciação social e status, mas o ser humano não está inerte a essa realidade e reinterpreta as mensagens midiáticas segundo sua realidade. Exemplo disso é o jornal, que precisa ser reavaliado, não porque corra o risco de ser extinto, porém sofre um processo de adaptação e mudança, ao qual se deve ater o pesquisador da mídia, especificamente no estado de Goiás, em que se faz necessário analisar a dinâmica destes jornais e, em especial, um caso ainda pouco considerado: o jornal Daqui. Palavras-Chave: Jornal. Consumo. Comunicação.
1 Mestre em Ciências Empresariais (ULBRA). Especialista Gestão Empresarial (ULBRA). Especialista em Gestão Financeira (Universo). Especialista Gerenciamento Empresarial (Universo). Bacharel em Administração (ULBRA). Professor e Diretor Acadêmico (FAE). 2 Mestre em Comunicação (UFG). Graduada em Relações Internacionais (PUC/GO).
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1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem por finalidade o estudo dos jornais goianos
da atualidade, fazendo esta investigação por meio da ótica da
comunicação e do consumo. Espera-se que com a realização do
mesmo, estudantes e interessados pela área de comunicação social,
bem como os profissionais da área, tenham mais um instrumento
para conceber suas análises e ponderações.
Um dos objetivos contidos na realização deste material está
substanciado na possibilidade de verificar se aquilo que autores
colocam como acontecimentos atuais e intervenientes no cotidiano
dos jornais, ocorrem da mesma forma no estado de Goiás.
Compreender o comportamento dos leitores de jornais em
Goiás é de grande importância para profissionais deste meio, pessoas
interessadas, para a sociedade goianiense e, em especial, para
professores e estudantes de comunicação social ou marketing.
O método para a realização do trabalho envolveu a pesquisa
bibliográfica, a estruturação de instrumentos qualitativos tais como,
roteiros de entrevistas, roteiros de observação e roteiros para a
mediação de grupos de discussão. Por fim houve a comparação entre
os dados de origem bibliográfica com as pesquisas qualitativas,
primárias, feitas a campo.
O resultado do trabalho envolveu importantes constatações
acerca da forma como acontecimentos, tidos como globais, estão
ocorrendo em Goiás.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 185
2 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA
A história da humanidade, seguindo as orientações de
DeFleur e Ball-Rokeach (1993) é melhor compreendida quando se
estuda o desenvolvimento da comunicação, já que esta forja
realidades e confere poder a quem a detém. Além disso, os meios de
comunicação são instrumentos de suma importância para a cultura,
no sentido de construção e disseminação da mesma.
Assim, a comunicação está inserida nas relações sociais que
são, inerentemente, desiguais e, já que baseadas no poder. Logo, a
comunicação representa uma forma de expressão dos interesses das
elites do poder, pois se estabelecem verdades que são internalizadas
pelos sujeitos enquanto verdades absolutas.
Ao mesmo tempo em que a comunicação, quando bem
utilizada, proporciona o domínio de uma classe sobre outra, pode
trazer a consciência da importância de se ter acesso às informações.
Ou seja,
Na medida em que afirmamos que informação é poder – informação no sentido mais amplo de know-how e tecnologia – a era já iniciada dos sistemas de satélites, a “infosfera” de Toffler, propiciará conhecimento e poder a todos os povos e a todos os homens, que reclamarão, com justa razão, seu direito à informação e à participação nas grandes decisões em que é interessada a Humanidade inteira. (BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 186).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 186
A expansão dos meios de comunicação processou-se em
diferentes fases resultando no status que possuem hoje como
elementos determinantes das representações da sociedade. Houve
períodos de desenvolvimento dos sinais, da fala, até o aparecimento
dos veículos de massa, sejam eles o jornal, o cinema ou a televisão.
Durante muito tempo utilizou-se o conceito de ‘comunicação
de massa’ como se este se fundamentasse, unicamente, em uma
indústria cultural alienante, indiferente às realidades das populações
que a recebem. Estas análises determinavam que ocorria uma
uniformização cultural que minava a capacidade criativa dos
homens, ou seja, privilegiava-se a produção em detrimento da
criatividade.
Partindo de tal pressuposto é, coloca-se que,
Em se tratando da comunicação massiva e seus respectivos veículos, manipulados no mundo ocidental, em sua maioria, pela iniciativa privada voltada para o lucro, está claro que das três funções atribuídas às artes por Kelly – criativa, lúdica e comunicativa – a primeira deve ceder lugar às duas últimas. A mensagem de massa, mesmo a estética (ou que tenha pretensões a sê-lo) deve ter um “sentido”, caso contrário: 1) dificilmente decodificável, ou vazada em símbolos herméticos, não atingiria a massa que, mesmo alfabetizada, não teria refinamento ou capacidade para entendê-la; 2) a mercadoria-mensagem não teria colocação no mercado consumidor e estaria fadada ao insucesso. (BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 82).
Este discurso tornou-se ainda mais corrente a partir do
surgimento da televisão, quando a imagem e a linguagem apareceram
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 187
de formas múltiplas fazendo com que muito de suas essências fossem
perdidas, o que dificultou a percepção do mundo, dividindo-o entre
os que têm acesso à alta cultura (teatro, ópera e literatura clássica) e
os que são engendrados pela indústria da diversão, fundamentada no
mercado de massas, sobretudo na televisão.
Contudo, as populações que recebem estas mensagens da
mídia não são, como se pensava, passivas, ao contrário, elas
reinterpretam os conteúdos segundo suas realidades culturais. Há, na
verdade, para Denys Cuche (1999), uma uniformização da
mensagem, mas não, necessariamente, o mesmo ocorre com a
recepção.
A crença na passividade dos indivíduos diante do conteúdo
da mídia era sustentada pela ideia de que esta lógica se aplicava aos
meios populares, o que não se confirma, pois, ainda segundo Cuche
(1999), a comunicação de massa usufrui de maior penetração nas
classes médias, já que os populares possuem uma grande capacidade
de seleção das mensagens, porque são muito céticos em relação a
tudo que não vem de sua realidade social.
Esta perspectiva também está presente em Beltrão, que
coloca em sua tese que,
(...) “teimosa, obstinadamente, o povo conserva a sua inteligência e, através dela, passam os episódios e fatos gerais que julgamos comuns e irresistíveis”. Teimosa e obstinadamente, resiste ao imperialismo cultural, defende “as características julgadas nacionais contra o nivelamento pela cultura internacional, dirigida e comum”, facilmente
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vitorioso nas classes altas e médias (BELTRÃO, 2001, p. 62).
A ideia de que o “povo” resiste à dominação cultural,
embora para muitos pareça equivocada, pode ser sentida também na
comunicação de massa, preceito defendido tanto por Denis Cuche
(1999), nos parágrafos acima, quanto por Beltrão, o qual assevera
que,
Na comunicação coletiva, porém, o órgão comunicador só exerce uma espécie de atividade – a comunicativa. Não há, portanto, interrupção do circuito ou perda de contato entre os dois elementos – o agente e o paciente do processo. Assim, embora a comunicação coletiva seja, tecnicamente, unilateral, os receptores na verdade alimentam o diálogo, utilizando outros meios mecânicos para manifestar a sua reação, que não se reclama seja necessariamente em palavras (BELTRÃO, 2001, p. 55).
Não só as classes populares são afetadas por essa
‘comunicação de massa’, embora não sejam dominadas pela mesma
e utilizem outras formas para dialogarem com o mundo, assim
também o são diversos outros setores, por isso Beltrão e Quirino
colocam que,
São afetados pela Comunicação de Massa, evidentemente, além do receptor, o sistema de comunicação social e o próprio comunicador institucionalizado, na medida em que este, alternando-se no diálogo iniciado com o feedback especial, passa a assumir o papel de receptor para recolher o eco das suas mensagens industrializadas, constantemente reelaboradas, premido como se encontra pela concorrência sem tréguas na sociedade de consumo (BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 191).
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 189
Embora todos sejam afetados pela comunicação de massa,
esta atua em prol dos que a detém, ou seja, os veículos de massa são
realizadores de uma função que se volta à permanência do sistema,
por isso, atuam no sentido de “fornecer mensagens que estabeleçam
a realidade das instituições sociais e facilitem o seu controle”
(GERALD, apud BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 138) e, impedir
grandes mudanças em seus componentes, sobretudo, na audiência.
Esta perspectiva é corroborada ainda por Warren Breed, quando
escreve que,
Os media tradicionais (...) e, também, os media emergentes reforçam a tradição e, ao mesmo tempo, explicam novos papéis pela expressão, dramatização e repetição de padrões culturais. Assim os membros da sociedade permanecem integrados na estrutura sócio-cultural. Entendidos como forma de socialização adulta, os media surgem como garantia de que um conjunto de valores básicos permanece visível, constituindo fonte contínua de consenso, não obstante a introdução de mudanças. (GERALD apud BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 140).
Por ter o objetivo, primeiro de manutenção da audiência e,
consequentemente, de prender a atenção desta, acaba-se utilizando o
que muitos intelectuais chamam de ‘conteúdo de mau gosto’
(violência, pornografia, músicas de baixa qualidade, entre outros).
Contudo, deve-se considerar que esta é uma realidade não só das
classes populares, pois, segundo Beltrão e Quirino (1986), existem
determinados assuntos pelos quais o homem, de forma geral,
demonstra mais interesse. Estes temas foram enumerados por Fraser
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Bond, em seu livro “Introdução ao jornalismo” (1962), em lista
contendo onze itens:
1) o interesse próprio; 2) o dinheiro; 3) o sexo; 4) a violência (luta ou agressão); 5) o culto ao herói ou à fama; 6) o incomum ou sensacional; 7) a expectativa (“suspense”); 8) o interesse humano; 9) acontecimentos que afetam grandes grupos; 10) a disputa (emulação); 11) o crime. (BOND apud BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 199).
Contudo, o conteúdo da comunicação midiática não é
escolhido arbitrariamente apenas no sentido de garantir a estabilidade
do sistema. Ele faz parte, segundo DeFleur e Ball-Rokeach (1993),
de um sistema social concernente às condições culturais do contexto
do qual faz parte.
Dessa forma, os veículos de massa são analisados enquanto
realizadores de uma função que, na maioria das vezes, se volta à
permanência do sistema, por isso, trabalham no sentido de impedir
grandes mudanças em seus componentes, sobretudo, na audiência.
Assim, procuram produzir um divertimento que capte a atenção dos
receptores, engendrando-os na lógica do consumo, já que se depende
muito da publicidade.
Partindo de tal perspectiva, pode-se dizer que tudo se coloca
enquanto consumo, inclusive a ideia que se tem de cultura e
felicidade, ou seja, o ser humano se realiza como um consumidor e
assimila os mercados à terra de Canaã, por isso estes locais
produziriam satisfação completa, por meio de uma banalidade
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cotidiana, carregando em si os preceitos de milagre, poder e graça
divina.
Contudo, deve-se ressaltar que o consumo não é um bem
universal, que todos desfrutam em igual proporção, existe uma
desigualdade que é fruto da própria história humana, o que
demonstra seu significante social específico: não se consome o
objeto em si, mas a distinção social produzida por este. Desse modo,
o consumo atua como processo de significação e comunicação, como
um sistema de troca e; como sistema de classificação e diferenciação
social.
Este é realizado enquanto fato social e não por simples
fruição do prazer, sendo, ao mesmo tempo, código, instituição e
sistema de organização, por isso visa assegurar determinado nível de
comunicação, não se fundamentando na necessidade e no prazer, por
si próprios, embora isto seja importante, já que vivemos segundo a
maximização do prazer e a curiosidade da experimentação.
Assim, dentro das massas, o indivíduo é requerido no seu
papel de consumidor, já que o consumo é percebido como um mito
de felicidade, o que, no futuro, coloca profeticamente Baudrillard
(1981), levará (muitos consideram que já leva) ao apogeu do sistema
de valores individualistas. Neste processo de consumo, o indivíduo
sofre a pressão de duas forças: enquanto força de trabalho, ele
(homem) é um ser coletivo, pois a exploração se dá sobre essa
dinâmica; por outro lado, como consumidor ele é uno e se reconhece
sua soberania, mas isto não significa, necessariamente, ação social.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 192
Esse processo é fortalecido pelo sistema através da produção
industrial das diferenças, o que parece ser contraditório quando se
pensa na tendência à homogeneização de que fala Stuart Hall (1989).
Todavia, essa produção da diferença nada mais é do que a adoção de
determinado modelo e a renúncia a toda diferença real, visto que
todos são iguais perante os objetos em seu valor de uso, mas não
como signos e diferenças, estas, por sua vez, são profundamente
hierarquizadas. As diferenças são, então, passíveis de serem
consumidas, os indivíduos são diferentes, mas estão em
conformidade com modelos gerais.
Nesse momento já nos é possível afirmar que comunicação,
sobretudo a de massa, e consumo caminham juntos, o que afeta todos
os meios, seja a televisão, fato já várias vezes debatido pela
academia; a internet, com considerável crescimento através de
programas de inclusão digital ou as conhecidas lan houses e; o jornal
que, como se verá, vem passando por grandes transformações, sendo
questionado, mas sobrevivendo, o que nos caberá discutir na
sequência.
2.1 Jornal: do início até o século XXI
De acordo com DeFleur e Ball-Rokeach (1993), os
precursores do jornal começaram a surgir em 1621, quase um século
e meio depois da introdução da impressão na Inglaterra, no final do
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 193
século XV, com o nome de Corantos, concentrando-se em
informações sobre o estrangeiro, reguladas pelo governo. Contudo,
os “jornais de verdade” só surgirão com o declínio das monarquias
feudais e o surgimento de conceitos como democracia política, o que
levará ao princípio da liberdade de imprensa e à tradição do jornal
como “uma arena de debate público, protesto dos partidos e debate
político” (p. 65).
Já no século XVIII, segundo os mesmos autores, pequenos
jornais foram publicados, abaixo de mil exemplares de circulação.
Nas colônias norte-americanas havia cerca de trinta e cinco jornais
desse tipo na época da Declaração de Independência. Exemplo
desses pequenos jornais foi o New York Sun, de Benjamin H. Day,
iniciado em 1830, salientando temas que, como já vimos, mobiliza o
ser humano de uma forma geral. Assim, focava em noticiário local,
estórias de interesse humano e descrições sensacionalistas de fatos
chocantes, ou seja, para ele notícia relacionava-se a “relatos de
crimes, estórias pecaminosas, catástrofes e outras desgraças” (p. 68),
o que o levou a vender, em 1837, 30.000 exemplares, sendo
reconhecido como um grande sucesso financeiro, atraindo muitos
imitadores e anunciantes.
Percebe-se, pois, certa ressonância da “notícia” entre os
primeiros jornais, os “jornais de tostão” (vendidos por um penny) e
os jornais populares do século XXI, que aderem ao sensacionalismo,
à narrativa de crimes e outras desgraças, em busca de leitores e
anunciantes, ou seja, em função do consumo, o que no caso brasileiro
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 194
é bastante problemático, pois a educação pública de massa, que nos
Estados Unidos atinge, geralmente, a todos, no Brasil e, de maneira
similar, na América Latina é bastante deficitária, fazendo com que a
população passe da fase da oralidade para o audiovisual, sem uma
entrada na escrita.
Isto se constitui em um problema, pois, segundo Michel de
Certeau (1994), nessas passagens é que se encontraria o progresso,
sobretudo quando se fala de escrita, pois o desenvolvimento
contemporâneo seria de modo escriturístico, porque escrever é “uma
atividade concreta que consiste, sobre um espaço próprio, em
construir um texto que tem poder sobre a exterioridade da qual foi
previamente isolado” (CERTEAU, 1994, p. 225).
De tal definição distinguem-se, segundo o autor supracitado,
três elementos básicos concernentes à escrita: a página em branco,
espaço “próprio” de produção para o sujeito, em que este está
afastado das ambiguidades do mundo e diante de um objeto; um
texto, produzido na página em branco e visando construir uma ordem
e; essa construção não é apenas um jogo, pois este é distinto das
práticas sociais efetivas e o que se busca no jogo escriturístico é a
formalização de um sistema que se remete à realidade da qual se
distinguiu com o objetivo de modificá-la.
Portanto, o ato de escrever coloca-se como iniciação a uma
sociedade capitalista e conquistadora, porquanto transformou a
relação com a linguagem, visto que não há mais apenas um locutor
(Deus), que exigia somente a capacidade de ouvir, mas várias vozes
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 195
que nos levam à necessidade de fazer e exclui tudo que é oral ou está
ligado às tarefas não verbais, já que há um novo poder, o “burguês”,
o poder de fazer a história fabricando linguagens, o que estratifica a
sociedade e “funciona como a lei de uma educação organizada pela
classe dominante”, definindo “o código da promoção sócio-
econômica” (CERTEAU, 1994, p. 230), por dominar, controlar ou
selecionar, de acordo com suas normas, todos os que não possuem
esse domínio da linguagem.
A explicação de Michel de Certeau (1994) acerca da relação
escrita/progresso joga luz sobre o desenvolvimento da América
Latina como, intrinsecamente, contraditório, porque foi um progresso
concomitante a uma cultura oral, que, segundo o mesmo autor,
emperraria qualquer tipo de avanço. Ou seja, foi um crescimento
moroso, “preguiçoso” e débil, podendo ser uma das explicações para
os problemas de rentabilidade e venda de jornais numa realidade que
não privilegia a escrita e, dessa forma, todos os meios que dela
dependem.
2.2 Desafios dos jornais na atualidade
Embora a debilidade educacional possa explicar em parte o
declínio do jornal, outras realidades se apresentam com diferentes
elementos que caminham no mesmo sentido. Voltemos aos Estados
Unidos. Segundo DeFleur e Ball-Rokeach (1993), a partir de 1920
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 196
observou-se queda constante da venda de jornais em relação ao
acréscimo do número de residências norte-americanas, mesmo com o
aperfeiçoamento da tecnologia, a coleta de notícias e a alfabetização.
Isto se explica, prosseguindo com os mesmos autores, em função de
outras formas de veículos que atendem as mesmas necessidades que
o jornal (revistas, cinema, televisão, internet).
Pode-se dizer, portanto, que a debilidade na educação e as
novas tecnologias da comunicação permitem uma primeira
explicação sobre o declive do jornal, o qual, ao contrário de muitas
análises apressadas e, por isso, apocalípticas (que pensam no fim
deste meio), sobreviverá, para DeFleur e Ball-Rokeach (1993), com
alguma queda na fatia de mercado, mas aderindo a uma “realidade
líquida”, baseada na velocidade, na síntese, premida de mudanças
aceleradas, como enuncia Bauman (2007).
Em função disso, o jornalista Lorival Sant’Anna, em
entrevista concedida por e-mail à Tribuna do Planalto, diz que o
jornal impresso apresenta algumas tendências visando garantir sua
continuidade, tais como: a diminuição do número de páginas;
investimento na análise, interpretação e narrativa de alguns fatos,
aspecto que vem da função tradicional do jornal; diminuição em
formato, deixando o standard para o tablóide, maximizando a
portabilidade e, por fim, a mesma tendência de diminuição de
leitores observada anteriormente (SANT’ANNA, 2008).
Junto a todas essas tendências, a concorrência com outros
meios pode, segundo Sant’Anna, levar o jornal a investir na
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 197
contextualização (narrativa), interpretação e análise da notícia, em
uma periodicidade de 24 horas, isto porque os leitores dos grandes
jornais são, sobretudo, de um poder aquisitivo maior – classes A e B
– e têm acesso á notícia por outros meios, antes do jornal, o que faz
com que este não possa se reduzir a simplesmente dar a notícia.
3 METODOLOGIA
Como forma de contextualizar empiricamente essa realidade
do jornal percebida até o momento nas perspectivas teóricas,
realizou-se entre os meses de janeiro e dezembro de 2011, análises
qualitativas, exploratórias, de hábitos de compradores de jornais. No
caso específico da cidade de Goiânia1, ocorreram observações de
comportamento nos pontos de venda, observações de hábitos de
leitura e entrevistas em profundidade envolvendo 92 amostras para
cada uma destas modalidades. A amostra foi definida por
conveniência dos pesquisadores e encerraram-se as pesquisas de
campo quando foi observado que não ocorriam novas hipóteses ou
diversidade de hábitos e comportamentos.
4 DISCUSSÃO DE RESULTADOS
1 Escolha realizada pelos autores em função do interesse pessoal dos mesmos por esta realidade da qual são atores participantes.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 198
Logo de início observou-se que tanto leitores quanto
vendedores de jornais valorizam a “isenção” dos “grandes jornais de
fora de Goiás”, a exemplo da Folha de São Paulo e outros com a
mesma notoriedade, entretanto criticam a ausência das notícias
regionais, que obviamente não estão presentes nos mesmos. Em
contrapartida consideram que todos os jornais regionais são
demasiadamente vinculados a grupos políticos, em especial a aqueles
que estiverem no poder momentaneamente. É interessante observar a
contradição entre a busca do regionalismo e, ao mesmo tempo, a
crítica ao vínculo político nos veículos regionais. As críticas ocorrem
em todas as classes sociais e abrangem todos os jornais regionais.
Tomando, particularmente, o caso de um jornal de cunho
mais “popular”: o Daqui, observou-se que o mesmo tem uma
penetração maior nas classes de menor poder aquisitivo e que seus
“leitores” o percebem não exatamente como um “jornal”, sendo mais
próximo ao hábito de colecionar figurinhas (os selos para troca pelo
brinde), com desembolso diário de quantia considerada irrisória
(gostam também da rotina, do hábito diário).
Em segunda instância os consumidores do Daqui gostam do
entretenimento barato, que não qualificam como notícias, mas como
“entretenimento” durante o ócio, no transporte coletivo, ao aguardar
os clientes da loja, no horário do lanche, etc. Outro aspecto bastante
valorizado pelos consumidores foi sua “excelente” portabilidade,
aspecto já considerado na análise do jornalista Lorival Sant’Anna.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 199
Além do que, o jornal Daqui estabelece a política de brinde1,
o que para Sant’Anna seria como um “anabolizante”, com prazo de
validade por falta de sustentação financeira, que visa atrair novos
leitores e criar neles o hábito da leitura, para que continuem
usufruindo do jornal após o fim dos brindes. O que no caso
trabalhado, não se confirma, já que essa prática se coloca como
estrutural, algo que está, mesmo, na essência do consumo desse
produto.
De mais a mais, no Daqui observa-se a mesma noção de
“notícia” que se tinha nos “jornais de tostão”, voltada ao noticiário
local e descrições sensacionalistas de fatos chocantes, como crimes e
catástrofes, deixando de lado a função tradicional do jornal: o debate.
Com esse tipo de jornalismo coadunamos comunicação e
consumo, sendo este o seu grande fim, isto é, o ato de comunicar
com o objetivo de consumir, daí se explica a tiragem considerável
desse jornal se comparado a outros considerados como tradicionais,
mas com menor venda, como O Popular e Diário da Manhã.
Por outro lado, percebeu-se, ainda, que os leitores de
qualquer um dos jornais goianos pesquisados, não possuem o hábito
frequente de acessar online as edições dos seus jornais, mesmo para
assinantes que possuem acesso gratuito ao O Popular e entre os
leitores do Diário da Manhã (este disponibiliza gratuitamente o
acesso). Como entusiastas do meio eletrônico, encontraram-se
1 Brinde que advém do ato de comprar o jornal e juntar os selos para a troca por uma mercadoria específica, após o término da promoção.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 200
basicamente jornalistas e outras pessoas envolvidas com imprensa.
Alguns acessam apenas a página principal e “passam o olho na
manchete principal” sem, entretanto, fazer a leitura pormenorizada
da edição.
Outra importante constatação foi a evidente substituição
gradual da leitura de jornais por notícias de portais, reduzida a
“olhar” manchetes ou fotos-legendas, sem profundidade nos fatos,
análises ou comentários.
Notaram-se, ao mesmo tempo, duas outras tendências: a
especialização dos jornais a exemplo dos jornais de concursos, a
valorização dos classificados, como o do O Popular por parte da
população mais jovem e; a busca – como já verificado no caso do
Daqui – da portabilidade, visto que muitos criticaram os jornais em
formato standard pelas dificuldades de manuseio, aspectos que
Sant’Anna já percebia, aos quais agregou outros: a diminuição de
páginas, o formato tablóide e o investimento em contar estórias, sem
uma análise e interpretação da notícia.
Enfim, percebeu-se a partir da pesquisa com “leitores” de
diferentes jornais goianos, que estes possuem algumas perspectivas
acerca do produto que estão consumindo e são críticos em relação ao
conteúdo desse meio de comunicação, sendo possível afirmar que,
provavelmente, houve uma melhoria – upgrade – da qualificação dos
leitores. Além do que há outros diagnósticos: a portabilidade como
uma exigência do consumidor, a busca pelo regional e pela
identificação com a notícia, a noção de que há vínculo entre
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 201
comunicação e poder – político institucional –, que é criticado pelos
entrevistados, os quais o percebem de forma mais evidente.
Contudo, essas críticas e constatações advindas da pesquisa,
não invalidam o fato de que existe uma relação de simbiose entre
comunicação e mercado/consumo, ao contrário a confirma,
sobretudo no que se refere ao jornal Daqui, que utiliza da política de
brindes para garantir venda, o que não se percebe, ao menos com
tamanha ênfase, em outros veículos.
Muitos dos leitores de jornais que iniciaram seu hábito com o
Daqui buscam, agora, por aquilo que consideram jornais mais
elaborados, mas admitem que não teriam iniciado o consumo de
jornais sem o incentivo existente neste jornal. Cabe notar neste
discurso a necessidade de ascensão social, por meio de sofisticação
do consumo, de criticidade, amadurecida e aguçada somente após
algum tempo de permanência na leitura deste que foi seu primeiro
acesso efetivo a jornais e a educação que este proporcionou.
E, embora pareça contraditório, esse consumo não ocorre de
forma passiva, pois como enunciado por Denys Cuche (1999), as
classes populares são muito refratárias a tudo que não sai da sua
própria realidade – e o Daqui é um exemplo disso. Ou seja, as
pessoas que o consomem têm a exata noção de suas debilidades e da
razão de assim procederem, não sendo inertes ao que o jornal
apresenta, mesmo que o ato de consumir signifique a elas
diferenciação social.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 202
5 CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES
O presente estudo atingiu seus objetivos ao sondar a
realidade dos jornais de Goiás, segundo a perspectiva da
comunicação e do consumo. Explorou, em sua etapa de campo, o
comportamento dos consumidores, obtendo resultados que foram
bastante significativos, em especial ao estabelecer comparação entre
a realidade apontada por autores, com a realidade regionalizada (de
Goiás).
Espera-se que, para estudos futuros, sejam abordados os
apontamentos deste artigo, no intuito da realização de outros estudos
descritivos.
Os principais apontamentos estiveram concentrados no
Jornal Daqui, por sua relativa desconexão com a realidade e casos
apontados pelos autores pesquisados. Trata-se de um jornal que se
utiliza de algumas das fórmulas adotadas em outros lugares, mas
agora, com adaptações em sua estrutura financeira e de marketing,
que o tornam bastante diferente. Este mesmo jornal apresentou-se
como forma de acesso ao mundo da leitura e da cultura por uma
classe que, até então, não tinha contato com esta realidade.
Outra constatação que se mostrou bastante intrigante, foi
verificar que muitos dos leitores deste jornal, que tiveram o acesso ao
mundo da leitura por meio deste veículo, agora buscam, também, por
outras leituras e cobram deste, melhorias em sua escrita e conteúdo.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 203
O fato demonstrou que, mesmo sendo, na ótica de alguns dos
consumidores, um entretenimento barato e não aquilo que
classificariam como um jornal, este cumpre com um importante
papel de acesso cultural.
A cobrança e valorização da cobertura de fatos regionais por
parte dos jornais goianos, quando contrastada com a exigência de
isenção e imparcialidade mostram um desafio para as redações destes
veículos.
Por fim, acredita-se que o estudo demonstrou que diante das
necessidades da atualidade, os jornais estão se reinventando
(adaptando-se), para suprir as necessidades de um mundo
extremamente mutável, onde quem não se adequar, estará fadado ao
fracasso e a obsolescência.
REFERÊNCIAS BANDEIRA, Marcos. 24 horas é ideal para dar sentido à notícia. Entrevista com Lorival Sant’Anna, publicada originalmente no jornal Tribuna do Planalto (14/09/2008). Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=504IMQ006>. Acesso em: 9 maio 2011. BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1981. BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2007.
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BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de ideias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. (Coleção Comunicação, 12). BELTRÃO, Luiz; QUIRINO, Newton de Oliveira. Subsídios para uma teoria da comunicação de massa. São Paulo: Summus, 1986. (Novas buscas em comunicação, v. 13). CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. (v. 1: artes de fazer). CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EUDSC, 1999. DEFLEUR, Melvin Lawrence; BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da comunicação de massa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1993. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2002.
Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 205
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA FAE-Ciência Categoria do Artigo
1. O texto (artigo) poderá ser produzido como: a) Revisão bibliográfica; b) Relato de pesquisa; c) Análise crítica.
2. No caso de revisão bibliográfica e relato de pesquisa, no texto deve constar o objetivo, descrição da pesquisa, metodologia utilizada, análise dos resultados e conclusões. A análise crítica deverá conter objetivo, descrição do tema, análise e conclusão.
Características do Texto
1. Empregar normas atuais da ABNT. 2. Artigos deverão conter entre 12 a 15 páginas, incluindo as
referências. 3. Utilizar Referências apenas obras citadas e não Bibliografia. 4. O texto deverá ser gravado em Word for Windows, digitado
em Times New Roman, corpo 12, entrelinhado 1,5, parágrafos com entrada de 1,25 cm, sem espaços adicionais entre parágrafos.
5. As folhas deverão ser em papel branco, formato A4. 6. Margens de 3 cm (superior e esquerda) e 2 cm (inferior e
direita), com texto regular, inclusive à direita. 7. Títulos em negrito, junto à margem esquerda, em caixa alta. 8. Subtítulos em negrito, juntos à margem esquerda, apenas
com a inicial em caixa alta; idem para os demais subtítulos. 9. Títulos e subtítulos numerados, com apenas um espaço entre
o nº e o título e sem qualquer outro sinal. 10. Páginas numeradas na parte superior à direita. 11. A primeira folha deverá conter: título do artigo; resumo,
incluindo a versão em inglês; palavras-chave de três a cinco, incluindo a sua versão em inglês; nome do(s) autor(es);
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resumo de sua titulação e experiência profissional, em até três linhas; entrelinhado 1.
12. O texto deve iniciar na segunda página. 13. Citações deverão constar no corpo do texto e deverão adotar
o sistema autor-data-página. Exemplo: (SILVA, 2003, p. 55). Citações com mais de três linhas devem iniciar isoladas, a partir de 4 cm da margem esquerda, com entrelinhado simples ou 1.
14. Notas deverão ser remetidas ao rodapé de cada página, e redigidas em corpo 10.
15. Ilustrações e fotografias devem ser incluídas em anexo ao trabalho, numerado e claramente identificado.
16. Tabelas e gráficos devem ser numerados, possuir título e fonte, quando for o caso.
17. Desenhos, ilustrações e fotografias devem ser identificadas por suas respectivas legendas e pelo nome dos autores.
Critérios para Publicação
1. Os trabalhos serão entregues em meio eletrônico à coordenação da Revista.
2. Entre os critérios de avaliação, incluem-se: atendimento às exigências do documento, clareza, atualidade, originalidade, contribuição à área e adequação às características da publicação.
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4. Os artigos assinados, quando aceitos e publicados, são de responsabilidade dos respectivos autores.
Rubem José Boff Diretor Geral
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