HISTÓRIA DA GATA BORRALHEIRADE SOPHIA DE MELLO BREYNER
EXPLICAÇÃO DO TÍTULO O título desta história sugere, de imediato, o
conto tradicional que faz parte do mundo imaginário das crianças, “A Cinderela”…De facto, é evidente a analogia desta personagem – Lúcia – com o imaginário infantil – a Cinderela…
A grande diferença é que, para a Cinderela, o sapato simboliza o início da sua felicidade(uma recompensa) e para Lúcia esse objecto representa o seu fim (um castigo).
SIMBOLOGIAPERSONAGENS
Lúcia assume uma dupla função: antes do 1º baile e depois desse momento.
Processa-se uma mudança à medida que o tempo evolui: a ambição atinge o seu auge, simbolicamente, com os sapatos de brilhantes, por oposição ao anterior sapato roto e com manchas de bolor.
SIMBOLOGIA
A Tia de Lúcia é o símbolo da fada madrinha (pois possibilita que ela vá ao baile), mas, ao mesmo tempo, é o símbolo da fada da tentação (representa a riqueza e, consequentemente, o caminho que Lúcia irá escolher , mas que a irá conduzir a um fim trágico)
SIMBOLOGIA
O Rapaz surge como símbolo de uma criatura diabólica, com quem Lúcia, sem saber, faz um pacto e que, no final, vem pedir-lhe o pagamento de um favor concedido.
SIMBOLOGIA
A Rapariga do vestido rosa representa, simbolicamente, a fada boa que adverte Lúcia para ela não olhar os espelhos nem lhes dar importância, representa, por isso, o caminho do Bem (mas Lúcia opta pelo caminho do Mal de modo a atingir os seus objectivos…)
SIMBOLOGIA
VESTIDO…
1º Baile 2º Baile. Antiquado, o que . Deslumbrante condicionou a sua o que
simboliza ovida futura seu triunfo e
a sua. É o elo com o seu riquezapassado simples, doqual nunca se livrou
SIMBOLOGIA
SAPATOS…
1º Baile 2º Baile. Simbolizam a sua .
Simbolizampobreza, a sua miséria o seu
triunfo, riqueza
SIMBOLOGIA
ESPELHO
(é referenciado 29 vezes…). Indício do terror que o conhecimento de nós
mesmos provoca. Mostra a Lúcia a sua verdadeira identidade.Representa dois mundos(duas opções de
vida): o mundo de cá (que se conhece, real,
natural) e o mundo de lá (deslumbrante, sedutor, artificial, poderoso e, aparentemente, inofensivo…)
TEMPO
Tempo cronológico (é um tempo linear, que não permite regressar ao passado nem avançar para o futuro, corresponde ao desenrolar dos acontecimentos tal e qual ocorreram na realidade, referências concretas e objectivas)
Tempo da Narração ( é deixado ao critério e vontade do narrador, visto que este pode controlar o tempo, fazendo regressos e avanços temporais ou omitir períodos de tempo se assim o entender)
TEMPO – exemplos no conto
Tempo cronológico “1ª noite de Junho”, “agora ali”, “a partir do
dia da escolha”, “nesse 20º ano, em certa manhã de Maio”, “no 1º dia de Junho, à noite, depois do jantar, antes do baile”, “ao clarear do dia”
Tempo da Narração “oito dias antes do baile”, “Naquele ano, no
dia em que fizera dezoito anos”, “daí a dias”, “assim passaram vinte anos”, “daí a tempos”
Relativamente ao tempo da narração, temos duas situações distintas:
- Uma tem a ver com o recuo no tempo, que serve para explicar elementos necessários à compreensão do momento presente, ANALEPSE
- Outra diz respeito à omissão de períodos mais ou menos longos da narrativa, ou seja, o narrador não nos dá nenhum tipo de informações pormenorizadas acerca do que se passou durante um determinado período de tempo, ELIPSE
Será também de salientar que a passagem do tempo é um elemento importante no conto, pois Lúcia sente fluir o tempo a seu favor: fica mais rica, mais bela, mais ambiciosa…
Para além das duas analepses já mencionadas (nos exemplos) há mais duas analepses importantes no conto: o tempo vivido com o pai e irmãos, repudiado por Lúcia e o tempo de preparação para o baile, em que a personagem encontra a expectativa (o convite para o baile), mas também a impossibilidade(não poder escolher os sapatos, o vestido é-lhe imposto).
Como conclusão, poder-se-á dizer que essa impossibilidade de escolher o que queria/ gostaria de levar à festa vai ser marcante na construção do seu percurso, o determinismo cego irá levá-la a enveredar por um destino que, à partida, não era o seu…
ESPAÇO
Espaço físico (onde decorre a acção) : - casa do pai: 1ª casa de Lúcia - sótão - jardim/ varanda (espaço aberto,
exterior, calmo e livre) - casa cor-de-rosa: entrada - primeira
sala - sala do baile - quarto de vestir - sala dos espelhos (espaço fechado, na generalidade, símbolo de desprezo, humilhação e solidão)
- casa da tia (quarto dos armários - segunda casa de Lúcia)
Espaço Social ( meio social a que a personagem pertence ou gostava de pertencer e onde se desloca, comporta os ambientes onde actua a personagem)
- na casa do pai 18 anos vida pobre, simples mas feliz
- na sala do 1º baile 18 anos vida pobre e humilhada
- na casa da tia + 20 anos vida rica, ambiciosa, de poder e triunfo
- na sala do 2º baile 38 anos riquíssima, (felicidade aparente), humilhada e morta
Espaço Psicológico ( espaço vivenciado pela personagem de acordo com o seu estado de espírito, é constituído pela consciência da personagem e manifesta-se em determinados momentos)
Com efeito, este conceito de espaço aplica-se neste conto, visto que Lúcia é influenciada negativamente pelo espaço que a rodeia, nomeadamente, a casa luxuosa e a grande sala do 1º baile, espaço esse que habitará para sempre na sua mente, na sua memória…
QUAL A ESCOLHA DE LÚCIA …
Lúcia tem um dilema para resolver: permanecer do lado de cá ou
passar para o lado de lá e pagar por essa
passagem um preço elevado …
A ESCOLHA DE LÚCIA… Apesar de todos os indícios, Lúcia
decide entrar no mundo do brilho e do poder…
Através do vestido e dos sapatos cheios de brilhantes, procura vingar-se da humilhação sofrida há 20 anos atrás…
É devido à sua ambição e vaidade desmedidas que Lúcia vai morrer…
MENSAGEM / MORAL DO CONTO Mundo natural Mundo do poder
(liberdade) (prisão)
puro, espontâneo falso, artificial, ilusório
Mundo do Bem Mundo do Mal
(vida simples com o pai (vida luxuosa com a madrinha)
e irmãos) (= perdição)
Escolha de Lúcia: a ganância e o desejo do poder cegam-na
e fazem com que ela corra atrás da ambição
a morte no final funciona como um castigo
SÍNTESE FINAL …
O conto relata a história de Lúcia, a rapariga que
deseja mudar de estatuto social, mas, na realidade, esta personagem representa a condição humana e os caminhos que se entrecruzam na vida de todos os homens que, ao longo das suas vidas, têm que tomar decisões e seguir o caminho que acham mais conveniente de acordo com a sua consciência…
Neste conto, a agonia da pobreza, o facto de ser motivo de troça da sociedade e de sentir a diferença dos outros, levam Lúcia à escolha da morte da sua alma. Abandona a família para ficar com a madrinha que lhe oferece o outro lado do espelho: a riqueza mas, ao mesmo tempo, a estranheza de si própria…
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