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EX-CRÔNICAS DE UMA EX-ABORRESCENTE
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PRISCILLA JOHNSON
EX-CRÔNICAS DE UMA
EX-ABORRESCENTE
Primeira edição
Aracaju
2014
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AGRADECIMENTO
À todos aqueles que, de alguma maneira,
puderam ajudar-me, compreender e dar forças
para levar esse projeto adiante. E à todos os
brasileiros.
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DEDICATÓRIA
Há 4 anos atrás, ainda poderia “ouvir”
minha avó, embora falando menos do Seu
Manoel e muito mais com vontade de voltar a
poder andar e ser independente como sempre
foi.
Viúva cedo, a minha Santa protetora,
trabalhou na 1ª fábrica de tecidos da capital, a
Ribeiro Chaves e, assim, dona-de-casa e viúva
de um homem lindo, olhos claros, aparência
séria, responsável, batalhador, primor de pai -
senso comum dentre os 4(quatro) filhos - ,
educou-os sozinha, apenas com a ajuda da
irmã mais velha e as lembranças do marido.
Nascida antes da 1ª e 2ª guerras mundiais,
nossa avó conseguiu ficar viva a tempo de
educar-me e passar-me seus sábios
ensinamentos. É um verdadeiro poço de
sabedoria, embora muitos a menosprezem.
Uma senhora carinhosa, altruísta, sem
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instrução e que, mesmo assim, sabe muito
mais da vida que qualquer um possa imaginar.
Alguém assim merece todo respeito,
carinho, amor e consideração daqueles que,
um dia, tiveram ou tenham a oportunidade de
estar próximo a uma pessoa tão sensacional,
quanto corajosa.
Alguém que viveu sua vida em função dos
outros, abrindo mão da própria vida, só merece
uma coisa: todas as homenagens que o mundo
possa lhe oferecer. E, se hoje, já não mais pode
contribuir é porque já fez muito por muitos.
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SUMÁRIO
Apresentação ..................................................... 8 Aos leitores ..................................................... 10 Recomeço ....................................................... 13 Amor para toda vida .......................................... 14 Dan: encontros e des(encontros) .......................... 16 10 horas: Para quê conhecer Toquinho? ................ 18 A atendente do consultório ................................. 21 Homem que é homem ........................................ 24 A atendente do consultório II .............................. 26 Como foi saber da doença de Etelvina ou como 28 perdi definitivamente qualquer interesse pela nicotina ................................................................... O que te faz gostar de uma música? ...................... 30 Acarajé .. mas cadê o dendê? ............................... 32 Guerra do Vietnã .............................................. 33 Minha melhor amiga ......................................... 34 Com você eu aprendi ......................................... 36 Dançar forró e Pedagogia: hã? ............................. 38 As meninas de Renoit ........................................ 41 O reportório musical brasileiro é de uma 44 criatividade impressionante .................................. O primeiro axé sem classe .................................. 46 Gira. Gira. Gira e não sai do lugar ........................ 48 Vitória ............................................................ 50 Ana em busca de ajuda ...................................... 54
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A cachaça ....................................................... 56 Pizzaria .......................................................... 59 Decoração ....................................................... 62 Estourar balões ................................................. 63 Como religião e pizza 65 se relacionam ......................................................... A senhora do vestido ......................................... 67 Um novo horizonte ........................................... 70
As irmãs Valerianas .......................................... 73
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APRESENTAÇÃO
O livro trata-se de uma coletânea com
crônicas; sendo muitas baseadas em momentos
reais, outras elaboradas para distração do
leitor. Cada uma delas se mistura, seguindo
diferentes estilos, umas são bastante
cotidianas, outras levam o leitor a pensar um
pouco mais.
As crônicas começaram com uma simples
ideia de fazer algo para ocupar o tempo e
foram evoluindo para um trabalho menos
amador e mais profissional.
A presente obra pode ser lida de maneira
seqüencial ou até mesmo, pulando de um
crônica no início para uma do final. Não é
absolutamente necessária seguir uma ordem
cronológica durante sua leitura, porém a
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mesma pode ser mais interessante para leitores
exigentes.
Apesar do título, este é um livro feito para
todas as idades.
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AOS LEITORES
Escrever: Meus Deus, o que é isso hein?
Para mim, sempre foi maravilhosa
a arte de escrever. A arte da palavra escrita. Mas não, não é tarefa fácil transcrever
sentimentos reais ou que sequer existem...
coisas para quem realmente gosta de quebrar a
cabeça. Não, não é 'bater a cabeça' que estou falando!... É de pensar que falamos nesse momento...
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Algumas vezes, escrevemos em 1
a pessoa...
outras, procuramos imaginar como tal
pessoa estaria se sentindo ou pensando
ou até mesmo identificamos os sentimentos
e daí surge um novo texto. Mas, nesse momento, é preciso muito cuidado,
porque precisamos “sentir-passando”
aquilo que estamos transmitindo é nesse sentir, nesse ir e vir,
que poderemos sofrer, chorar,
sorrir, temer, brincar...
é realmente muito complicado entrar nesse
mundo de emoções e de sentimentos...
mas trazer isso ao papel ou traduzir à
linguagem escrita nos humaniza e podemos
estar em contato com diversas realidades,
ajudando de alguma maneira a transmutá-las.
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Bem, queridos leitores, boa leitura.
Um abraço,
a autora.
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Recomeço
Acabar... Foi o fim do que seria um começo.
Mas foi o começo do que nem eu sabia: o começo de me reencontrar...
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Amor para toda vida
Nunca mais havia chorado tanto...
hoje, com dores, chorei como criança
e chorei também por ELA, que me
ensinou tantas coisas boas, ELA me pediu e estou fazendo o que
pediu-me.
... Quantas noites não ficamos juntas,
aguardando ansiosas a chegada do papai. Ele
agora era para ELA, um pedaço do Seu
Manoel e sempre soube disso. Sabia também
que ELA, com seu imenso amor e carinho,
queria me confortar, me consolar. E nós
aguardávamos, ansiosas,
mas pacientes, numa cumplicidade,
onde ELA me ensinava seu amor incondicional e eu fazia arte...
arte por ser pequena, arte para distraí-
la, arte por gostar de ser espontânea.
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Mas, nos meus momentos mais frágeis,
era em seu colo que caía aos prantos... E, em sua meiguice ou sabedoria, sei
lá, ocupava-me com suas histórias.
Ou, quando doente, cuidava de mim, sem querer nada, além da
minha companhia, em troca. E os meus pés "eram tão gelados", mas eram
"bonitos". E as mãos delicadas. Assim ela
me dizia... Quantas saudades de você,
minha fortaleza!! Te amo!
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Dan: encontros e des(encontros)
Não esqueço nunca o dia que chamo a
turma aqui. Colocamos o videokê. E ele
começa a cantar, completamente desafinado,
uma música do Cazuza. Era “Exagerado”. Algumas amigas já haviam chegado e eu,
completamente sem graça, pensei “putz!, meu
rolo!? tá me fazendo pagar um micaço”. De
repente, me vejo envolvida com aquele rapaz
como eu, por debaixo disfarçando quem
realmente era. São coisas que não dá para
explicar. Mas, sei lá, ele me lembrava meu
irmão mais novo? Que adoro!? Não, não sei o
que é. Nós teríamos algo em comum? Talvez a
maneira de ver o mundo.
A festa foi ótima. Enchemos a cara, todos
nós, estudantes da Federal, grande parte. Nossa relação continua, mas a realidade me
impõe obrigações. Precisava buscar “meu
futuro”. Na minha mente, feminina e imatura,
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isto queria dizer: acabe com qualquer
sentimento, seja fria. Já tinha percebido que
duas faculdades mais outras coisas era
humanamente impossível. Além de tudo, a
influência das amigas “Aquele menino é
meio bobo!”. Sinceramente? Não achava,
nem acho isso! Nunca achei. Pelo contrário,
ele é mais esperto do que parece.
Inteligente....
Mas um coração ferido e que se permitiu
ferir, “tem medo de água fria”. Pra acabar
com toda dor, precisava não ter vínculos com
ninguém, não gostar nem um “tantinho” de
alguém... Não queria fazer amigos...
Dan, bobo?! Onde? É uma das pessoas
mais inteligentes que conheço, sem a
necessidade de demonstrar isso a todos
imperiosamente.
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10 horas: Para quê conhecer Toquinho?
Estudei numa escola onde disciplina era
base de tudo. Até hoje meu relógio biológico
se assusta quando bate as 10 da matina.
Dos 4 aos 10 anos: 8 horas estar,
pontualmente, na escola. Educação Física, no
mínimo, duas vezes por semana. Não era o
exército, mas era similar.
Quase tudo sempre às 10 horas
Toda semana, pelo menos, uma vez às
10 hs: “alarme de incêndio”. Toca a sirene
do colégio. Pânico geral. Sério, pânico na
pirralhada!!! Todo mundo corria
desesperado...
Todos os alunos em fila, hora de hastear a
bandeira e cantar o Hino Nacional. A
professora sai olhando se está tudo em ordem,
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todos em seus lugares, o tempo corre contra
nós e precisamos estar prontos e a postos. Mão
direita no peito, postura ereta, mão esquerda
estendida ao lado do corpo.
Todos em coro: é um orgulho saber a
letra inteira do Hino.
Achando pouco o reportório musical
Aprendemos também “Aquarela”, do Toquinho, nas aulas teóricas. E ainda,
tínhamos que pintar igualzinho à música.
Se lembro!? Lembro sim! Lembro de tudo!
Nossa!!!
Certo dia, a professora nos chega com
“O Caderno”. Perguntei ao meu pai:
− Pra quê aprender essa música? É muito
grande, não vou conseguir.
Ele disse: “Um dia você vai saber” e veio
ensinar-me como cantava e o quê
significavam aquelas palavras.
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Dúvidas ? Sim. ainda assim não entendi
o real significado.
Ano seguinte:
− Mãe, preciso do meu primeiro diário. MÃEEEEE, preciso urgente!!!!!!!!!!!!!!
“É onde estariam meus segredos.
Ah, sim. Agora entendi”.
“sou eu que vou ser seu colega, seus
problemas ajudar a resolver... quando
surgirem seus primeiros raios de mulher...
só peço a você um favor, se puder, não me
esqueça num canto qualquer” (O Caderno,
letra de Toquinho)
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