8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
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( . t .P I / / o /
A bruxaria é fn
fenômeno
orgâni o
e hereditário
I
Os Azande acred itam que certas pessoas são bruxa,; e podem Ih fazer m J m
virtude de
uma
qualidade intrínseca.
Um
bruxo não pratiu nto
nau
pr r
encantações e não possui drogas mágicas. Um ato de bruxaria e um aí J>\
quico. Eles crêem ainda que os feiticeiros podem fazé-Ios adoecer por meIO d.t
execução
de
ritos mágicos que envolvem drogas maleficas. O Azande do Ín-
guem claramente entre bruxos e feiticeiros. Contra ambo empregam :iI
nhos, oráculos e drogas mágICas. O objeto deste li, ro são a
R , a _ o ~
entr
essas crenças e ritos.
Descrevo a bruxaria em primeiro lugar, por
se
tratar de uma base ind
pensável
para
a compreensão das demais crenças.
Quando
o Azande
alD.Sill-
tam os oráculos, sua preocupação
maior
são os bruxos. Quando empreg m
adivinhos, fazem-no com o mesmo objeti,"o. O curandemsmo e a confrana
que o praticam são dirigidos contra o mesmo inimigo:
Não tive dificuldade em descobrir o que pensam os Azande
sobre
a
bru-
xaria, nem em observar o que fazem pa ra combatê-la . Tai - i d e i ~ e
prau
.a5
J.l-
7em à superfície de sua vida; elas são a c e s s í n i ~ a quem quer que vi, a om d
em suas casas por algumas semanas.
Todo
zande e uma autoridade
em
brm .I-
ria. Não ha necessidade de consultJr s p e c i a l i . ~ t a s . ' \em me. mo e pre ci - ÍD-
terrogâ -Ios sobre esse
a s ~ u n t o , porque
as i n f o r m a ç õ e ~ tluem li\Temen > d
situações recorrentes em sua "ida social, e
tudo
o que \e tem a faz r ob ~ f \ a r
e ouvir. Mangll "bruxaria", (01 uma das p n m e l r a ~ p.l Jwa que oun na
t
rr.
lande, e continuei a OU\ i 1 1 dia após dia no correr do:. m e .
Os
Alanue
acreditam que. brux.ni.1 é um.
\Ulh(.'in i.1
e i tt'nt n . rp<
d ( ) ~ b r u \ ( ) ~ Fsta t: uma
cren
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,fifi 11\ r Ir \ jU I I ~ \ 1 ~ l l l I l \ ll.I' (\
1.1111.11
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hun n I n u ti III 1.11 til'
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form.l , m
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do
br,l\ u I1l' 1011.1.10. l' lju.lI1do dl'\l H'\'l'm
~ U , I
ln 111
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m I Ir.\llI
,I Jrc.1 10gll
.lh,lixo d.1 lartilagl'm xifoide.I,' que. di/l'Jll,
r ohr uh 1.1Ilu.1 hruxar la , l'gllndo eles: I ' ~ , t . í prc\,1 :1 beir.1
do
flg.ldo,
)uando
..
br
1 h.lrrig.l, h.lsl,1 fur,lr ,I subslalllia-brux.lri,I, ljUl'
da l'\plllde
\m
um I: tal
I,
)U\ I 0.1 dlzc:rem que
doi
,lpresent,1
U f
,I\'crmclhada l'
conlem
se-
m nt d ahubora,
g
rgelim
ou
quaisquer outras plalllas ljue lenham sido
d
\orada por um
bruxo nas roças de \eus vizinhos,
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Il\n: hrll '.trI.i • .lO t. prcn.l\·ej quI.' oulras p e S ~ ( I . h .Ileltem lal .Irgll-
11 nlo
mJ' na
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,eoutr.IS pô (l.l · o n h ~ u : ,el11 os nomes ll.Jqueles q U?
c.lI
rJm \'Jtilll ,h d,]
m,l ',] de \ IIl gJn \J. h1do o proCÔSIl tai,l SU,l
p r e ~ - J n e d a d e
exposta C,h O
.;ouhes,e que a morte de um homem \ fOI nngada sobre Ulll b
nl\o
) , entao
todo
o
pnKe .
so e
tana
redUZIdo ao
absurdo,
porque a m orte de )
esl
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D
de cedo a Cn.1lh,aS fi':,lm ahendo ~ o h r e
bruxaria.
o n \ e r ~ a n d o com
memna c
m
ninos pequeno,
.1te
me,mo de : > e l ~ anos, constatei
que com
preendem
o
que
o
mal
\"e1hos
('\tao
dizendo quando
talam
d J ~ s o .
Disse
ram-me
que,
numa briga,
uma criança pode
vir a
mencionar a ma
r
ep utação
do pai de outra cnança.
Entretanto,
as pessoas
não
compreendem a
verdadei
ra
naturv.a da
bruxaria
até
que sejam
capazes de operar
com ~ e g u r a n ç a os
oraculo ,de agir em ~ i t u a ç õ e ~ de
IOfortúmo
conforme
as re\'e1açoes
oracula
res e
de praticar
a magIa. O
conceito
se
expande
junto com
a
experiéncia so
cial de wda
indivíduo.
Homem e
mulheres podem igualmente ser
bruxo >.
Os primeiros po
dem
ser vítimas
de bruxaria praticada por homens
e
mulheres, mas
estas ge ral
mente são atacadas
apenas
por membros
de
seu próprio sexo. Um
home
m
doente de hábito consulta
os oráculO >
sobre
seus vizinhos homens, mas
se
os
consulta
por causa de uma esposa
ou
parenta doente, normalmente pe rgunta
sobre
outras
mulheres.
Isso porque a
animosidade tende
a surgir
mais
en
tre
homem
e
homem,
e
mulher
e
mulher, do que entre homem
e
mu l
her.
Um homem
está em
contato regular apenas
com
sua
esposa e
parentas,
tendo
portanto pouca oportunidade de despertar
o
ódio de outras mulheres. Provo
cana
uspeitas se,
em seu próprio
benefício, consultasse
os oráculos sobre
a
esposa de outro homem. O marido
e r i a levado
a
presumir um
adultério,
pe
r
guntando
se que contato
teria tIdo
sua mulher
com o
acusador
que
pudesse
ter
levado ao desentendimento. ontudo, um homem freqüentemente con
sulta 05
oráculos sobre u a ~ próprias
esposas, pois
pode ter
certeza
de
que as
desagradou alguma
vez, e é comum elas o
detestarem.
Nunca soube de casos
em que um homem fosse
acusado
de
ter
feito
bruxaria para
sua esposa. Os
Azande
dizem que ninguém
faria uma
coisa
dessas,
pois ninguém
quer matar
ou faler adoecer
a esposa,
Já
que
o
próprio marido
seria
o
prinCIpal
prejudica
do.
Kuagbiaru
disse-me
que ele nunca seJUbe de um homem
ter pago
indeni
zaçao pela
morte da
esposa.
Outro motivo pelo qual nunca
se
ouve talar em
asas
de
galínha
cndo
apresentadas
a
maridos,
wmo c u s a ~ ã o de bruxaria li -
gada
aos
males
de
suas i p o < ; a ~ , e que uma mulher ná() pode consultar
direta
mente o oráculo de
ve
lleno
,
geralmente confiando
essa tarefa
ao
marido
. Ela
pode pedir ao irmao que faça a cOllSulta
em
~ e u benefício. mas
este provavel
mente não apn:sentará
o nOllle
de
seu cunhado
diante do oráculo,
porque
um
mando
jamais
de.'>eja
a
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da
espo,a.
l o u ne
't
undo M t. ,peltJ d, l.rUX d,
pedu
de r'flno ,,, lo .... ou fIl.1
f 'ljUe/l'clllCJlIl' ,I ,eu
1 19') lU (/ U II.
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de d\'<
JO
pr' UI 11 cll·rUK/J < t,lIIdo 0
tive notiCIa de
um
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00 lIdltos
contra a
bruxaria
durante
lima
gUerra.
A 1110rt
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7/49
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,
POdl f.llc-Ins r e ~ p o l 1 d c r
por 1 , , 0 , i,\
que eles 11,10 a protegeram
COll1
uma
COI1-
\ult . 1 t l ~ ,lr.íl l o ~ \llbre
,eu
bcm e,tar.
Qu,l11to m,llS di,tal1k de quai\quer
,ülllhos
estl\'t?r 1 resldênLl,\ de um
homem, maIs a \ ' o ele estar,j de n I ~ a r i a . Qu,mdo os Azande do ~ u d , i o allglo
cglpuo tÍ1ram forçados a ,i\'er em aldeamentos
à
beira das estradas, eles obe
deceram com
mUlt,1
apreemao, e mUItos fugiram para o Congo Belga para
e\ itar l.ontato tao estreito com ,eus \'Izinhos. Os Azande afirmam que IlJO
go\t am de vi\'cr mUIto prÓXInlO,
um
dos outros, em parte porque convem t
er
uma boa faixa de terra entre
,uas
esposas e os possí\'eis amantes, em parte
porque, quanto mais perto de um bru:\o, maior o perigo.
o
é o
erbo
zande c o r r e ~ p o n d e n t e ao "embrlLxar"; em seu único outro
contexto de emprego, traduZlríamo, essa palana por "atirar". Ela é usada
para designar o ato de atirar com arco-e-flecha ou com uma arma de fogo.
Com
um movimento brusco
da
perna, os adi\"inhos atiram (/la) pedaços de
osso nos outros d i y j n h o ~ , de longe. Deve-se notar a analogia ent re esses dife
rentes "atIrar" a partir de um fator comum, a ato de fazer mal a distância.
6
Ao falarJe bruxos e bruxaria,
é
p r e c i ~ o esclarecer que os Azande
normalmen
te pensam em bruxaria de uma forma mUIto i m p e ~ ~ o a l , sem reterenCla a
q u a l ~ q u e r
bruxo
ou
bruxos em particular.
Quando
um
homem
diz
que
não
pode \'l\'er em certo lugar
por
causa de bruxaria , isso significa que os oráculos
alertaram-no
contra
esse lugJr, dec larando que, se ele for
morar
lá, será ataca
do por bruxos, e ele assim «)ncebe este perigo como um risco geral ligado à
b r u x a r ~ a . Por isso está sempre falando de mangu bruxaria. Essa força não
eXIste
fora dos indivíduo;
,10
contrário, ela é uma parte orgânica de alguns
deles. MJS quando indivlduos em particular não são especificados e
não
se
procura I d e n t i f i ~ á - I o s , a bruxaria l · ~ t á sendo concebida como uma força gene
ralIzada. Bruxana, p ortant o, SIgnifica alguns bruxos - q u . l Í ~ q u e r
um.
Quan
d?
um L.lnde COllll'nta
um
reves dIZendo "isto
é
bruxaria", ele est.í
querendo
dl7er que ISSO se de\'e a algum bruxo. mas nao sabe eXiltamente qual. No mes
mo enlido ele dirá, numa encantal,Jo, que morra a brux,\ria", refeIindll-se
a quem
quer que
tente embrux,l lo. O conceIto de brux, fi" n,lo é o
de
uma
força Impes oal
que
pode \incular-se a pe5SO,15, ma, Itim I1II1J
for\
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9/49
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L
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h r l l ) . O ~ se tr,l11sfo r
l11JIll
em l " l ' l l t l ) ~ malignos
(agm,a).
Aforo.
dos
mortos
C 0 1 l 1
n ~ ,
~ ã o ,e rô benc\ okntes, pclo m e n o ~ tanto quan to pode digamos, um p.li
de
famlli,} ZJndc. e
sua partlupação
oc,lsional no
mund
o que
deixaram é tran
quil,1 e \ olt.ld.l pMa o bem-estar de seus d e ~ c ( ' l l d e s . Os agirisfl, ao co
nt r
á
rio. demonstram um ódiO mortal pela humamdade. As sombram viajantes no
mato e
l.lusam
estados tramitórios de dissociação
mental.
8
A existéncia
de
substáncia-bruxaria numa pessoa viva é conhecida por meio
de \eredictos
orawlares.
Nos mortos,
ela é descoberta pela abertura do ven
trc
, e é este
segundo
método
de
identificação
qu
e interessa
para
a
prcse
nt e
descrrç.lO da base física da bruxaria. Sugeri an ten o rm ente que o órgão em qu e
acha a ~ u b s t . i n c i a - b r u x a r i a está localizado no intestino delgado.
São
obscuras
as
condições
de
realização de
uma
a
utópsia
na
época
pré-européia. ~ e g u n d o
um informante,
Gbaru, elas
eram
um
antigo costu
me
dos Ambomu,
e dificuldades
~ ç , H a
a aparec
er 'l penas no tempo de
Gbudwe.
E provável que se a t a s ~ e de UIlla prática antiga, que
desapareceu
quando o
controle
po lítico exerc ido pelos Avongara aumentou, para
reapare
cer com todo vigor depois da
conquista curopéia
. O rei Gbudwe
desenco
raJava
sua prática,
segu
nd
o m
I.
dis s
eram tudos
os
informantes
.
Co n
t
udo,
quando um
bru
xo era
executado
sem
sanção
real, por \'e7eS
realizavam se. Ocasionalmente os a r e n t e ~ de um homem morto agiam con
forme o vcredido de seu
pr
óprio oraculo de veneno , i n g a n d o de um bru
xo
sem esperar confi
rm
ação d o or á
culo
de veneno real. Em tai s casos , a açao
deste parente era II
/Ira
VI
res,
e se os pa
rente
s da vÍUma
da
vin gan
ç..
l c
on
se
gUI sem provar que nào havia sub stância- bru xari a em seu ve nt re, podiam
exigir rompemaçao, na
co
rt e do rc
i,
por parte
do
grupo
qu
e fi za a jus t iça
co
m
a propnas
mao
.
Por
sua vez, as
aut
ó psia s
de
stinadas a
limpai
o
11
0me de
uma
linhagem que. um mcmbro a L u ~ a d o dc atos menurcs de bru xan a,
sem
lmplic. r
inde
nl l.açao ,
dcve
m
ler Sid
o
bem fr
eq
Lient
es
,1Ille
s
d" L0 11 l) LJ
ls ta
europeia, tonJO
()
foram com certl'za de
pOI
S
dd
a.
Um home
m
que cm
vida tlveSSl' Sido fre
qLi
c
nt
t'
lIl
ent e
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u
sa
do de brux,l
ria. JII.da
que a m < i i ~
de
11llJll ic
ldlo , tinh a o d ir
ei
to de
sentir \e 1I1s lI
II.1do
sem
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1ZJU de
(onsidt ra r
que
o nome d
L SU J
1
Il
11ílIa fo ra .lrra'l.ldo a 1
II11a.
I:111 \ ' l ~
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morrer, po
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l' \ ' e r i f i l a
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se t ra/ll J u ~ t l f I < . a d a
qu
cI ai
1
o
1
lo n tra a honra da linhagem . Pod eria t,
ll11bém
l'XeLutclrC'i op rJ.Ç.Io nu f
lho
pre
m at
uramente.
Poi s a m ent alidade l.ande é
lóg.ll I. . ,
I
I
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10/49
enterro, ele
se torna
pl'lo ato seu
irmão
de sangue. Sendo encontr,lda a subs
t ~ n c i a - b r U \ , l r i a ,
o
operador
de\ erá ser regiamente pago
por
seus serviços.
Ha\'t'ndl) substáncia-bru \ana ou não, ele precisa submeter-se a uma purifica
ção ritual após a operação. Carregado nos
ombros
de
um
parente do morto, é
saudado com gritos cerimoniais e
bombardeado com
torrões de terra e
com
frutos vermelhos de
l1011ga Amo1nU/1I korarima , pa ra que
a friagem o
abandone .
É
ievado em seguida a
um
curso de águ
a, onde
os parentes
do
morto lavam-lhe as mãos e lhe
dão de
beber
uma
infusão feita de raízes, cascas
ou folhas de várias árvores. Antes da punficação, esse homem não pode co
mer ou beber, pois está
contaminado, como
uma
mulher
cujo
marido mor
reu. Finalmente, se não foi
encontrada
a substância-b ruxaria,
prepara-se uma
festa na qual o homem
que
fez os cortes e
um
parente do morto partem ao
meio uma cabaça de cerveja. A seguir os parentes do morto e os do operador
trocam presentes:
um homem
de
cada
grupo a\
'ança até o
outro
e
atira seu
presente ao chão, e assim sucessivamente.
I
I
( ' \ ' I I
l ILO
II
A
noção
de bruxaria
omo
explicação
de
infortúnios
I
Da forma como os Azande os
concebem, bruxos
não podem
evidentemente
existir.
N
o
entanto,
o conceito
de bruxaria
fornece a eles
uma
filosofia
natural
por meio da
qual
explicam para si mesmos as relações entre os homens e o
in
fortúnio,
e
um meio
rápido
e
estereotipado
de reação aos
eventos
funestos.
Ao;
crenças sobre bruxaria compreendem, além
disso, um sistema
de
valores
que
regula a conduta humana.
A
bruxaria
é onipresente. Ela
desempenha um
papel em
todas
as
ati\
ida
des
da
vida zande: na agricultura, pesca e caça; na
ida cotidiana dos g r u p o ~
domésticos tanto quanto na
vida
comunal do
distrito e da corte.
É
um
topico
importante
da
vida mental,
desenhando
o h
orizonte
de um , as to panorama
de oráculos
e magia; sua influência está
claramente estampada
na lei e na mo
ral,
na etiqueta
e na religião ; ela sobressai na tecnologia e na
linguagem • 50
existe
nicho
ou recanto da
cultura
zande
em que não
se
insinue.
Se
uma praga
ataca a colheita
de
amendoim, foi
bruxaria;
se o
mato
é batido em ão
em
blb
ca
de
caça, foi bruxaria; se as
mulh
eres esvaziam
laboriosamente
a água de
uma
lagoa e
conseguem
apenas uns míseros peixinhos, foi
bnn:aria; se
as t ~ r
mitas não aparecem
quand o era hora
de
sua revoada, e uma
noite
fria é
perdi
da à espera
de
seu vôo, foi bruxaria; se um a esposa está mal-humorada e trara
seu
marido
co m
indif
erença,
foi
bruxaria; se
um príncipe e ~ t á
frio e dist..lme
co m seu
súdi
to , foi bruxaria; se
um
rito
mágico
fracassa
em eu proposito,
roi
bruxaria; na verdade, qualqu
er
insucesso
ou infortúnio que se
ab.u.1 :obre
qualquer pessoa, a
qualquer hora
e em relação a
qualquer
das
múltiplas
atiú
elades da vida, ele
pode
ser atribuído
à
brm::aria.
O
l.1nde
atribui todo-
e
'e
infortúnios
à bruxaria, a
menos que
haja forte e\'idenCla, e
s u b ~ e q u e n t e con
firmação
oracu
lar, de
que
a feitIçaria ou
um
outro agente 111.1ligno 't3\am
envolvidos, ou a
menos que
e s v e I l t u r , l ~ possam ser cbramenre .ltribUl
d a ~ à incompelência, quebra
de
um
tabu,
ou
ao
não-cumpruuelltü
de
uma
r '
gra
moral.
Dizer que a bruxaria estragou
,\
colheIta d,' amend'Hll1,
que
esp.lIlhlU
,\
caça,
que
fez fulano (il.lr
doente
elj l l l \ l lc.l dIzei, em
tal1h , ti I1th
a
propri,l
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t
t l
(
Lultura, quc .1 Ú 1Ih'1t.\ de .\llle.'llduim fl.K.I\'I'lI por CJusa tI.IS pr.lg.IS, que .1
c.1
.1
CC l,bS.ll1C' .1 '-'P\k.1 e qUI tul.mo peg,lllullla gripe.
t
brU'\.ln.1 partlcip,1
de
todo o
Il1fllrtUIll
.,
e é
\I Idwl11. 10'111
quc'
m
Az.lnde.' fllJI11 ,obre ele,
I.
por meio d qu.ll
de,
,ao cxpliLJdm. PJr.1 nos, bru'\Jria é
.l
lgo que prmocav.
pa\or
(
rC'pugnancia em nos,>os crédulO'> antepJssado". I\las o zande es pera
ruzar
COI11
a bruxaria a qu,IJqucr
hora do
dia ou da noite. hcari,1 tJO surpreso
, 11.10.1
enlontr.\"e.' diarialllente quanto no\ o Jlcanamos se.' I
Or,1\se1110S CO Il1
da.
P.lra d ,nada
lü de
milagroso a ,eu fl'spCiln. E de se esperar
que
Ulll,1ca
ç.1da ,eja pn:judicad.
por
bruxos, e () zande dispi)e
de
llll'ios p,lra l'nfr
e.
n
ta los. Quando ocorrl'm infortunios,
de
nJO tica paralisado de.' lllcdo diante
da a ao dc f o r ç a ~ truída pelo f o ~ o na
noite
anterior.
O
propriet
ár
io es tava JCJbrunhado, poi > ela abriga\a a len eld
que estava preparando para uma fes ta mortuária.
Ele
nos contou que na noite
do acidente fora até lá exa min
ar
a cerveja. Acendeu
um punhado
ue palha
e
Ievantoll -o so
br
e a cabeça para iluminar os potes, e com isso incendIOU o te
lhado de palha, Ele - assim como meus c o m p n h e i r o ~ - e ~ t a \ 3 clllwen.:id
de qu e () desas tre fora causado por brux. na.
Um de meus principais informantes,
ki
anga, era hábil entJlhauor,
um
dos melhores em todo o reino de Gbudwe. De \·ez em quando, como bem
po de imaginar naq uele clima, gamelas
l
bancos que ~ . : u l p i a rachavam du
rante a operação, Embora se escolham as madeiras mais duras, e l J ~ a, "ezes
rach
am dura
nte o enta lhe ou no processo de acabamento, mesmo qu.mdo o
ar
lesão é cuidadoso e esta bem familiarizado com
as
regras tecnica
deua
ar t
e,
Qua ndo isso ocorria com as gamelas e bancos desse artesão em par ticu
lar, el e at
ribU
la o acidente
J
bruxaria, e ostumava reclamar comIgo sobre u
despeito e \.iúme de seus
v i z i n h ( ) ~ . Quando
eu re'plllldla que '1I.havJ e,tar
ek
engdnado, que as pesso.ls go,t,l\
nll
dele, br,lndi,\ o b.lJlco ou gamel.l ra had .
em millh,1 dlleçao,
como
pnw,1 conLreta de
SU.IS
c o n d u ~ ó e , .
e
n. iü ti\e.
genle
embruxando
seu tl,lb,\lho, llHllO eu Iria e'\phcar
q u i l o ~
- \ S ~ I : l tJmbem
um
oll'lrtl ,lInblllra
,I
quebr,1 de
~ e . ' u s
poles dur,lIlte ,lloLedur.l ii bru .ln.l.
Um
oleIro expl'nenll' n,lt) p r e u ~ LUllel que pote\ raLhem pllr
cm,.\
lle ~ r r
'.
I
Il'
sl'Il'Clon,1
a argrl, 'ldequ,ld.1,
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
12/49
,
Ao
(,OI1\"l.:r'.lI·(ol11 II Az.ll1,k sohrL'
hrux,ni.l, e llbscr".lIldn
SlI.IS rCd(11CS
em
si
tU.1Úh? dI : infortúnio, tllrIlOU-SC úb\
io
par.1mim que eles não pretendi.lIl1 e.
p l J C ~ 1 a existênCl.l de fenômenos, nu mcsmo
a
ação de
fenómcnm,
por uma
íduo a acontecimentos n.ltur.lis que
de
sofreu dano.
O
rapa7 que deu
uma (0p.lda no toco de ár\'nre não justificou o toco por
referenLl
gamelas e
b.1I1cos
nao racham como os
produtos
de artesãos iná
beIS;
portanto,
por
que em certas r a r a ~ oCJsioes
as
gamelas e hancos racham,
se usualmente i,so não dcontele e .se ele tinha exerl ido
todo
seu cuidado e co
nheClfllento usuais? ,lr, Jogar lU
faler
algum tr ba
lho manual. Portanto, pode acontccl'r que haja
pc,>soas
senwda, d banco do
celeiro
quando
ele deslllorona ; e
e l a ~ madlLlC.1m.
pOIS trJta-5e
de uma eo;
tru tu
ra
pes,lcla,
fei ta
dc grossa\ viga \ e de harro. que pode alem di w e.,tarur-
regada de eleusina.l\las por que estariam e s s a ~
p e ~
oa') em pJrtiwldr sentadJ
debaixo des5e celeiro cm particular, no exato
momento
em qu e ele
desabou'
E facilmente inteligível que ele tenha
desmoronado
- mas
por que
ele
un
que desabar exatamente naquele
momento, quando
aquelas pessoas em
p
rtl
cular estavam sentadas ali em baixo?
Ele
já poderia ter caído
há
anos -
por
que, então, tinha que cair justamente
quando
certas pessoas bu cavam seu
abrigo acolhedor? Diríamos que o celeiro desmoronou
porque
os esteio fo
ram
devorad os pelas térmitas: essa é a causa que explica o desabamento do ce
leiro.
Também
diríamos q ue havia gente ali sentad a àquela
hora
porque era o
período mais quente do dia, e acharam que
ali
seria um bom lugar para com'er
sar e trabalhar.
Essa
é a causa de haver gente
~ o b
o celeiro
quando
ele
desabou.
Em nosso
modo
de ver, a única relação entre esses dOIS fato) independente
mente
causados é sua coincidência e paço-temporal. 1\ão somos capazc de
explicar por que duas cadeias causais interceptaram-se em determinado mo
mento
e determinado
ponto
do e paço, já que elas não são interdependent e-.
A
filosofia
za
nde pode acrescent.u o elo que f.l ta.
O
zande sabe que
e -
teios foram
minado
s pelas térmitas e que
as
pessoas estavam ~ e n t a d a ~
d e b a i . ~ o
do celeiro para escapar ao calor e
à
luz ofuscante do sol. ~ 1 a s
também
sabe
por
que esses dois even tos ocorreram precisamente no mesmo
momento
e
no
m
es
mo
lu
gar: pela ação da bruxari.1.
Se
náo tivcs,e havido bm:-..aria,.lS
pe 'oO.E
es tariam ali sentadas sem que o celeiro lhes C
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
13/49
, I
/ I \t1 \t l til rtlilCUI
.HlsJ, • U.\ íilt)
1111.\
LXi'hL il.\,
11I.\s n.1I1 Il1l'11I.\111l('nle
.llirll1.\d.\ lIlIlHl
Ull1,1
dllutrm.\.
l'mz.mde n,1O
dlri,\:
"A'lnlll\l
H.I L.ws.\\.ll) l l.lIm.ll,
111."
n.lI)
.Idw
qu d.\ t' pli'lul mltir.lIlwntc . I ~ lOlllutlCIlLi.b, C mc p.lICLC quc .1 teoli.1 d,1
brllx.ma
lorntL
UIlU C:-..phL.I\
.
IO ,,11 i,C.\llll" ia ~ o b r e d.ls", Fll1 \1.'1 di\ \ol ' \pn
nll' 'lU
pCI1
,lIncnto cm tcrnllh dc.
itu,IÇ(lCS
rL\lI, c partllld.1rc,. fie
dl :
"um
bufa n .\t,k.t ",
"um.l .In OIC L.li , ",I'
tcrmit,ls \l.lo
C , t ~ l O I:llendo
scu \
(111,.1/0
n,11
lju,\Ildo (k\ 'l .'rJ.lll1", l .\s,im pm di,l11ll', I
·s
. \ sc prnnunLi.1l1do sobrc f.l to,
emplrllamente t c ~ t . l J ( ) s . M,I'
t,lInbém
dll' L
m bul.llo at.ILOlle
t\:riulu
l.1l1o"
.
"um,\ .lrH)(l
L.tiU n,1
ubcc,.a dl' ,IG,lIlO e
o
Jl1,lIou",
"minh.l'
tL'nnil,ls H
LlI
-
an1- . \O,lr l'm ljuJ\ltid,lde
sulillcntl"
111,1\ outra, pesso,b
I:'st,lO
Lolet,l11do.IS
110rm.llmentl''',
e
.1S,im
por
di,lI1te.
I:k
\.lI dizeI' que
e,S,IS
loi"IS dele Jl1 se
.1
bruxaria, cO/llent,lI1do, para cada l'\'l'nto:
·'Ful.lno
foi cmbnr\ado". Os 1lt os
n,1O" e placam a
SI mesmos,
ou fazem
no
apl'n.l' parei.11mel1tL', Eles
so
p
o
dem ser
integralmente
expIaLad()\ Ie\ando· se el11 comider,l.;,j()
.1
br u\clfi.\.
Podemo,
(,lpt,lr.1
e temão
total d,1S idéicls
dl' uI111,1l1dl'
sobrl Lausalida
e
apena se () delxnrmm
pr
l'n,her
ao,
1,ILUI1.lS
sozinho; (aso cont
r
úio
nos
perdell,unos
l'/Il
(om
n ~ o l ' , Illlgli"ta';h
I I
diz: "I'ulano Illl embruxado e
matou" Ou, n \ . l Í ~
,imple >lllente:
"lul,uIO fOI
morto por
bruxan,I,"
d e
('stá
ai ndo d,1 cau .1
ultlllla d.1 mortl dl'
fulano
,
nao
d,l, e , l m , l ~ "cLund.
ui"s,
\'OCl- pode perguntar:
"Como
cI e matou?' ,e
seu II1tCrlocutor
did
q ue ful.
no
wml'lcu uic idlO enfürcand, , niJm g.llho
d
árnlft.:'.
Você pode
t,lmbém
inquinr:
"Por
que
ele e
matou? ,e de
dlra que foi porqul.' fulano esta\
,1
zan
gado lom
IfIl lJO
. A c a u ~ a da
mort
l'
fOI enforcamento
numa
o 1Il,lt.ILlIl1. "l
11m
hl)lIlL' l\ III (,1
)Ut
o , m
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
14/49
unt.llun\Jd.1
11.1
guerra,
o hOlllllld.1 t'.1
pnmllr,1
1.11\\.1.
.1
hruxa
li. l'.1 ' C 1 ~ U l l l l . 1 ;
I u n l , ~ , a ~
dUJ' o
TI
Ilal
1111.
<
omo A l ~ l I 1 d e ret.{Inhetem a plllrJhd.lde da, l.\lI'.1 ,e e.1 ' 1 I u . I ~ " . 1 1 l 0
tI.11
que
II1dK.1 qual , l l . I l I ~ . 1 rdl'\.lIlle, r O d l l J 1 ( l ~
enlcndl'1 por qlle.1
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IllO. AS\IIIl.
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pnllclp e e de )lOherlo, lIao
pode
l (.lpar.l punh •H)
dlll'fldo
que t01emhru-
.Ido. A doUlnna
1.lI1dedld.lraenf.lli
menlequl "bruxaria II.HI fú IIm.1 pc,·
,oa dller
r n e n t l l a ~ ,
"llIu .Ifld 11.10 I,tl um.1 pe""d ("meter
.Idulterio".
"A
hruxaria
11.\0 tolo a o .Idulteuo delllro d UI11 h. rnel11; e".1
hrll\.lri.I'
e,tü em
\ ( lU: m e ~ r n o
(VOU
o
rcspon
.lHO, i ~ t o e,
>cu
J1eni,
fila Ul'to; \ê 0
ca
helo, da
' ~ p O ~ d um hornl'lJ1 L fiL.t l reIO, porque a UllIt.1 ·brlL'"lrl.I' l' ele Illes-
1110" ('bruxal la' JlJUI esla sendo u ~ J d . l metdfof (JIllCnl ) "BIlI"ana n.lo
l ~ l Z
Ullla pe,so.1
wuh.lr";
"bru).,ana
nao
101 na urna pe"oa
.ksleal". Apen.l'
ull1a \ 0
oU\'i Ulll l ~ / I d t legar quc nl.I\J
cmbfllx.ldo
quando h.1\ iJ
(Olllelido
uma
ofem,I,l
I ~ S O 101 qUJlldo
'TI
nliu para mim, e ~ l 1 \ o
n L ~ ~ , 1
( K . l ~ I . I O , l o d l l ' m
pre
sente
ruam dde e
lhe lr.lm
hruxauJ
n.Hl
taz Illllguclll
dl/cr
l l e n l i r a ~ .
':li' um homem J S.I ~ 1 I 1 . 1 outro membro tribo 0111 hn\.1 ou faLa. ele e
l) . , llll,ldo.
'UIIl O dlmo t,
nao
e pre,iso
prOtur,lr
um hruxo,
poi,
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tem o ah \I (OIhr . o
qual
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\ ing.ln\-a pode
ser
dlrlgld.1 C, por Olll ru latiu, t um
membro de uma outrJ tnbo qUl I.II1CloU um
hor'lem, seus
p a r c n t e ~ ou
'cu
pnn':l)le
tOl11arao m e d l d . l ~ rar d c.ohrir () bruxo respomj\ el
pelo
fato.
'ol r1,1
tr.llçJo firm...r que um homem exec utado por ordem dc
~ e u
rci,
por orem.1 a .lUtoridadc rL.I fOI
mono
por bruxari.l. e um homl"lll (OI1sul
tils >e
or
ulo
p.l r. l
deSlolmr. urux. I respoma
'c1
pela 1110rt e dl
um p.1
rCII
te 'lU 101 eXtllJt.IJo
I
()/' orJem do reI, l'SI,InJ l rrendo o
n,c()
de Sl'r ele
propno xuulJdo. POI .Iqlll ,I '>ltUdÇJO
sOllallxdUl .1
IWÇJll brux,ui,l,
tomo em outr.1 Ol,1 I. l Iltghgclllla o a g e n t e ~ Ilatur.li t.
10(.1117.01
.lpcn,IS ,I
11rux•
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morto
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dls t ralllljlll: era um hru IJ l" , I ~ s a mara
outro
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Inu
.Iria, enlao
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ll.lrUIIt: n.lo poder,1O dlll r qUl til' Illll\lorto por hlu .If1J
A
doutrlll 1 ~ 1 I 1 d t Idl
de
lflllle l'
pecado,
porque ,lqUI CI.IS
cnlr.lnl
em confhto
lOll1
,I
lei e
,I moral,
que S.IO .1.\I0ll1aticas.l) lande .ILell.IUl11a (XphC3\-JO mbt;
ca d,l' ( , l l I ~ . S
de inforlunlO\
,
docnç.ls
c
mortes, m.15
reCU'.1l:,sa cxpli ..
açao
t
cl.1
'L'
Lh
dllenç.ls, m.b
,IS doell\.1'i n.lo
os tl'1'l,1l111110rtO
~ l ' . 1 brU\.JrI.1
n,IO
l'.,tl\l"Sl' agindo
t,lmbcm.
t'
,I
brU".lfI,11I.10
estl\e'i'l'
prl'\L1ltt' lOlllO
"sl'gullda
I,lll\a
,de.,
tl'ri,lm
tido le
bre l'lepr.1
do
lllc,>nlll
lllndo,
111.ls 11.\0
nlllrren,llll
por 1,.,0. ~ l ' e ~ e"l'mplo
h.1 du.l,> L . I U ~ , I S SOLl,llml'lIlL' signifil.lnks: qUl'br.1
de
labu l' bru".lfl.I, ,1I11hJ
rL'1.lIi\',h
.1
lillL'rcntl'S Prull""ll\ '>llêiú" l' l,ld.1
lima
sublinh.ld.l por ~ l l , h
di e
rl' n te"
l\1.1' qu,lndo h,í qucbr,1
dl'
Ul1ll, lHl L I 11llHIl' n,llll)Lllne, ,I blllx.ln.1 n.h'
Sl'r.l JIll'l1lion.ld,lull1111l,llIS.1
d,'
inl\ll tUI1I\l. Sl'
UIll
hOI11l'lllltlllll'
Ulll,llimcn·
tu pllllhldll t1l'plll,> de
tl'l Il"dl/,I d,) Ulll' podt'rll.,.1
m . l ~ i , 1
punitlv,I,
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1.1/.1<
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morte L'
(onhúid.1 de .lIlt m,IO, P' I l.I
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t.ll,)lItld,1 I l . I ~ (Ondl\lll,
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.,ilu.I\.1O ell ljUl' l'le l1llHreU,
me,mo
'lU '.1 bru
MI I t 1111 bc III
e'>t
I ' S ~ l ' opu ,Illdo.
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l110er r.1 '-)
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
15/49
qUt' me\ 11.1\ el1111'nte ~ u L e d e r < i ~ qUl'
I
dll)g,1 m,lgica que de prep,lnH1 dei",ara
de iUJlllO\ur Lontr,)
ii
pt 0,1 ,1 qUl'
~ l '
d e ~ t in;l\ ,I, Lde, e ~ e r dest ru Id,) ,oh pen,1
dc
'L ,oh,H
LOlltr,ll) Ill.lgo
qUL
J emiou. O t r a ( , I ~ ~ O da drog.1
em
,1linglr ~ l : U
ob,t.'t"
l)
dc,"l'-'
,I
quehrJ de um t,lbu L
Jl,10
a bruxana. um ho mem ten : re
I.I\ôe,
"exllal'
u1111 a e'posa e no
dl,1
\egull1te
consu
lta o
oran
do d e ven eno ,
c ~ t e
não re\ dará a verdadl', e \UJ elldClJ oracular l'stara
per
manent emente
preludILad,l. Se Ulll
tabu
llJO t i \ l ' ~ , e sido
quebr.ldo,
d i r - ~ e - q ue a bru",ariJ
fez o
nraculo mentir,
ma,
o
e,tado
d,1
peS,OJ
que
assistiu
a
se por
br u
xa
ria, ou , me smo que d a Jceitar ,\
possibilidade
da
bruxa na,
\.on
si
deram
a
estupid
e/ ,\
G1U >J
prinCipa
l.
Ade mais, o
zande
n.w e ingcnuo
cl
pon
lo
de
culpJr a bruxan a pela qu ebra de um pO le durante a cozedura se me
posterio
res revelam
qu
e um seixo
f
OI delxdd o na argila; ou pel.l fuga
de um
,
111 i mal de
armadi
lha se alguém o
n t o u
com
um movimento ou
baru
lho. As pessoas não culpam a bruxaria se um a mulher
queima
()
mingau,
ou se
o serve cr u
ao
marido . E
quando um art
esão
l i d o ~ o
faz um banLO ~ r o 5
seiro , o u que racha, isso é
atribuíd
o
à
sua inexperiência.
Em todos esses casos, o ho m em qu e sofre o infortúnio possnelmente
di r
á que e le se
deve
à bruxaria ,
l 1 1 a
os o u tros n
ão
farão o
mesmo.
Devemo
lemb rar
co
ntudo que
um inf
o
rtúni
o
séno, especialmente
se r e ~ u l t a em morte,
é no rmalm
ente
atribuído por todos a
ação
da bruxaria - e e ~ p e c i a l m e n t e
pela ví ti ma e seus pdrent es, por mais que tal desgraça tenha ~ i d o causada pda
incom pe téncia ou falta de aut oco ntrole. Se
um
homem cai
no
fogo e se qUet
m a seriamente, ou cai
num
fOlo e quebra o pescoço
ou
a perna, isso será auto
m aticamente
atribu
ído à bruxaria. Assim,
quando
seis ou sete filho\ do
prínc i
pe
Rikita
fi
car,
lm
encu rralados
num anel de
fogo ao
caçar
a t o ~ do
bre
jo ,
morr
e
nd
o
qu
eim ad os, suas mortes foram indubitavelmente
a u ~ a d a por
bruxaria
.
Desse modo, vemos q ue ,I bruxana tem sua
propria
lógica, . uas
próprias
regras de pens
am
ento, e
qu
e estas nJO
excluem
a causalidade natural. A
cren
ça na bru
xar
ia
é
baS la
nt
e
consistente com a
rc pon abilidade
humana
e
com
um ,\ aprec iação rac i
ona
l
da
1l,llurelJ. Ante de mais nada, um homem de\e
d
e\e
l11 pe
ll
h,lr qua lquer .1lividade
conforme
as regras técnicas tradicionai ,
q ue
c o n s i ~ l e m
no con heLllllento teslado por ensaio e erro a c.ld,1
geração.
E
,1penas q Ucllldo ele
fraGISS,I,
,lpeS,\f
de
sua ,ldesdo a ÔS,h regras,
que
\ J I I I l1pU-
lar a falt,1 de
S l l c e ~ s o ii
bnr\.Il"IJ.
s
h eqlll'l1telllenll' ind,lg,l-se
Sl '
os pO\ lh primiti\'os
disungu 1\1
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
16/49
1 ]C I I pHu 1Il1
1 11ll
I ' l l . h t I l l I lOS
.1
Olll'd,ldl i
lllnIU,1J11l11l('
rt I lOI I
11'1
ttllO
. I ~ ' lUl
n.1O
I' delll
Cl lIl.I
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
17/49
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ou
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d.l Mas se
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doente,
e a doenç,1 promet e SLI
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d.l, então se us
parentes
hU\lJm o bruxo r e ~ p o m . I \ l 1 P,H,I que.l
balançil pese ma Is do 1ldo
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U, lI1l l o r.1Cldos. Aq ui
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8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
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Cabe observar qu e, quando
um
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está e
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pode
estar
mentindo
. Co m o n
ão
se L'spcra
que
alguem
cumpra um a o brigação se isso
acarretar
desastr e, o jeito mal fácil de fugIr
dela
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ze
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qu
e os oráculos in
formaram
que vo cê m o rrerá se insi tir na em
pr
esa. Ninguém pode es pera r
que
vocé corra o
ri
sco.
Em vI,ta disso
, as
vezes
abusa-se
da bo
a- fé a lheia. Se
você
não
quer
m and ar seu
fi lho pa
ra
,er
pa jem
na cor te real, aco mp anh a r u m amigo até os Bo ngo, da r sua filha em
casamen
to ao
ho m
em a
qu
em você a prometeu , ou deixar sua esposa i ~ i t a r os pJren
tes, bas ta- lhe alegar q ue os oráculos pr essagiam a morte como resultad o
desses e
mp r
ee
ndim
entos.
Esses circ
unl
ó
qu
ios, p
orém, permitem-lhe
a
di
ar,
m as não fugir definitivamente de suas o bri gações; as pessoas com quem
VO Le
está co
mp
ro m et ido - o re
i,
o a mi go, o
futur
o genro, os sogros - , todas ela ,
irão con s
ult
ar
os
própri os orâculos para venficar a alegadas declaraçãe do
seu orác ulo.
E
m e
smo que
as declara
ções
dos
orácu
lo delas
concordem
com
o qu e você mentirosam ent e afirmo u serem as declarações do seu oráculo, is,o
o lib
erará
de suas obrigações ap enas por alg
um
tempo . As
~ o a s
em oh idas
l
ogo
tomarão providênc
ia
s
para
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escobri
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bruxo que
ameaça
seu futur
o,
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iver
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co
nve ncido esse
bruma re
t irar
a influência
, você \a i te r q ue
inve
ntar
o ut ra descul pa. Assi m ,
que
os oráculos são m ei
os
de l
mpor
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o
rtam
ent os,
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s a
ut ondade pode ser impropriamente u ~ 3 d a
pJ.rJ.
Sl'
fugir
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Não
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te, nen
hum
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afirman.l
que
um
oráculo
di sse
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go di f
ere
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do
q ue rea lme nt L' d Isse. Se um
ind" idu o
qu er J11tntir,
prete nd e te r obt ido uma ded araçüo orJCUI,lr
sem
ter dL' fato \.o
mult .l
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ora
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Em geral o land e comulta m orautlos ,1 respeito de lU prnpna SJlId
'entr,l
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bru\o
s
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o Lcrt,ls etap,
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a famtli,1
de
um Lh)cntL' dL"Lohnl,Jl) qucm (l es t 1 emb ru\,md o e \OIILlt,H,io do
bru o
que (e"l
' ' ·U I'llKl'dimcnto.
l\ la,
mUitos Aza llde qu c est,jo
em pu telt,1
',JULie co tumam llltl\ult,lr um
do,
or,lllllos no inICIOde cada
me, p.1I
,I b c r
LIHl1,le,t,lr,1
'>ua
\,Iude n'lqude período; pu de no tar que,
em
cada
lomu
lta,Jo
or:Jculo de atrito, um
homem
l l ' \ ~ e im an J \'elmente pergunt,1 \e mor rer,l
cm futuro próximo "e o
1l1,icu
lo d
l\\e
r q ue alguém esta ame.lç,llllio , lI ,1
,J
ud e
e quc ele morrer,i em breve, o
home
m \o har,l para c a ~ a ab,ltl
do
, p o i ~ m A7.1 n
dc n.1O dissimulam ,ua ansiedade em a l ~ circun stâncias. O maib alegre de
mcu\
amigos lande
fiL
ilfia depfJJl1ido até
que
tivesse
anulado
o veredicto do
oráculo,
t ~ z e n d o com
que o
bruxo
que o am ea
ça
va se aqulet,lsse. D uv
id
o,
contudo, que jamais algum zande tenha morrido ou fic,ldo séria e demorada
mente perturbddo pelo
conhecimento
de que
es
ta\a
embruxado; nunca
depa
reI com um caso de morte por sugestâo desse tipo.
Um zande que está doente ou fo i informado pelos oráculo\ de qu e
es
ta
prestes a (air
doente
\empre dispôe de meios para enfrentar a situaçâo. Co nsi
dcremc):, a atitude de um homem que est,) perfeItamente bem de saú d
e,
ma s
qu(' , abe de antemão quc irá adoecer, a menos
que
reap à bru \ ana . Ele n
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continual.1O
ignorJnJo
~ \ I . I idcntid.lde.
() d b C u r ~ ( l
e
pronunciado
cm cslilo
dr,1Il1.ltlco, logn JLl'oi, do
pór -d
l1
'010\1
ao
Jlvorecer.
O orador ,oh\.' num ni
n11l)
de t\.'nnitJs e 1.1Il\-a
um gnto
agudo: J
ia
H.li Hail", P,H,) atr,1II ,I
alenl,-'lO
d o ~
\
lI111ho,.
T o J o ~
acorre m il11cdialamente,
pOIS e ~ , c
grito
é
O mcsmo que
se
d.1 qu.lJ1du
dlgul11 anim.11 é a\"l >tado,
nu
quando
um
homcm
.1rm.ldo
é
desco
berto dL' L'mhn'Lad.1 no matagal
O orador
repete seu gn lo v,lrias veles e
en te
e on j
dcrado
o
n1.1l
' (hgno de con fiança, e cm ger,II
a
denúnc.la
de
r u x ( J ~
o e
feita a
pall1r de s
ua
s declaraçôes.
O
orác.ulo
de
veneno pode
apontar um ou
ano
bruxos
como r e s p o n s á v e pel.1
doença,
m a ~
o procedim ento e o
me
mo, eJa
qual
for
o
número
de acu,ados. Corta-se
a a ~ a
da ave que
morreu
qu,lOdo
e
enunciou
o
nome
de um bruxo e e s p r t a - ~ e ela
num
grdveto
pontudo,
arru
mando
as
p e n a ~
em forma de um leque, que
os
consulentes levam para
Cd>J.
,IPÓ\ a
sessão.
Um
dos
p 3 r e n t
do doente Ir\'3 a a\a entao ao delegado
de um
príncipe - nem sempre um pn ncipe e tã
ace >sível;
alias, ele não go taria
de
ser
importunado
com qualquer pequeno caso desse tipo. Um delegad
nào o;e
importa
de ser de vez em
quando
assediado com tais pedido\. Embora
OJ.O
re
ceba
honorários
por
esse trabalho , as solicitaçõessão um
tributo à ~ u a impor
tância, e assim ele tem prazer em atendê-Ias.
O mensageiro deposita
a
asa aos pés do delegado e agacha-se
para mfi
r
m
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\.erteza e\te \ aI r e L U p e r J l - ~ c , pOHluC' do fundo de ,eu cora.;,\() ele
deseja
toda
.Illdc e feh(ld.lde para o doC'nte; c (.(lmo ,inal de ~ u a bOa-\Ol1l.ldc
~ ( ) p r a r á
agua. Pede.1 e ~ p o ' J um.1
l a h , l ~ a
de agua,
tOll1a
um gole, enxagua a boca com
eI.1
e
dcpoi\ o p r a - a em cl1U\
ciro fino ,obre a ,I'a de galinha a
e u ~
pés. Em se
guida declara
em
\'oz alta, para que < men ageiro ou\-a e comunique suas pa
lanas, que se ele e um bruxo. ignora\J tal condição, e que não está fazendo
mJI ao doente
pur
querer.
Di,
qut' esta interpelando .1 bruxaria em seu pró
pno
ventre,
u p l i l a 1 1 d o - l h e
que
'e
lornL' fria (inativJ),
num
apelo
que
parte
de
seu c u r a ~ . j ( l . e 11.10 .Ipcna de
SUIS
lablus.
O m e n ~ g e i r o uJl.1O retorna ao delegado, conta-lhe o que foi feito e o que
t ~ t e m u n h o u , e o delegado informa 10 parentes
do
doente que a tarefa de
que o incumbiram foi de empenhada.
O
mensageiro não recebe pagamento;
seu sen'iço é (011 iderado um ato de cortesia
com
o delegado e os parentes
do
doente. A \ Itima e seus l J l l l g l l ~ esperam .111 iosamente alguns dias até saberem
efcitoda entrega da a .1 de galinha ao bruxo. Seo doente mostra sinais de re
Lupera'rao, eks
enaltecem
()
orac ulo de veneno
por
sua presteza em revelar o
II 0111 e do bruxu . assun, ter pemlilldo o restabelecimento do doente. Mas
sea
doença per oiste, ele illlClam urna no\ a rodada de con ultas ao oráculo. Agora
desejam s.lber o hruxu estava apena simulando arrependimento e conti
nua
tdO
hostil (omo ant •ou M , n e ~ s e meio tempo. outro bruxo entrou QJ1
..
ena pdrJ uKo11.udar eu paren te e agravar-lhe a doença. Em ambos ' ~ f 9 l ~
a aprcsc11tafrdO formal de asas de galinha continua sendo C l t a c o m a m t J d ' . ~
do delegado
de um
prmLip . '
. Embora 110 pa sado os pnncipes por vezes tenham toIQadomrdidN II)8IS
dra tlcaS para garantir própria e g u r a n ç a . o s p r P C e d , " l e a t O l a d m i J ~ -
tos ao de uso rotineiro em cada
seçao
d
soa
. . MltaçOe de
doenÇ. chances de uma açlo vioJenr. do
e.ofenno
~ a o oulllml7.ada pela
rotina
FeRdo
cues mo-
dos de agir e tabelecido e de valor _u....
_
_ · · , N 1VO
mUIto raramente,
em atuar
de outlQ
••
.
Além do comportamento
cor
umetra, tendo
portanto a natureza compulillhiule .ldehabilu.t.exiStem outro fato-
res que contnbuem para ........... • srandt autoridade do orálUlo
de veneno
mútil
P declarações; o mprego
de
inter
medaanos entre ,.....
de
encontrarem nu decorr r de
todaaq deumpnn Ipe,
~ t o q U t UIJIIl l-
l / I d,' ,r rlllll/OS busca ,,, bruxo mtre m
su to a seu mensageiro
é
um insulto ao
própno
prlnclpe;eas
l n o l C l l Ç l Ç . , e e , . z _ ~ . ·
bruxaria, que tornam o procedimento vantajoso para ambas s pai
Mas, se o veredicto do oráculo de veneno é sufiCiente p r dia•• r.
antemão qualquer negativa ou oposição. é precIso ser capaz de
pro+m
declaração oracular válida. e um homem acusasse outro de bruxaria scat
sear
sua
denúncia num veredicto do
oráculo
de veneno,
ou
pelo metJ05 110
oráculo das
térmitas,
todos zombariam
da tentativa. e talvez ele até
sal
ma-
chucado da história.
Por
isso, os parentes de
um
enfermo em ger l
conma
m
alguém
que
nao seja da família para estar presente quando consultam o ora
culo de veneno.
Essa
pessoa poderá. assim, atestar que o
oráculo
foi rca1mcnte
consultadoda maneira correta.
~ ; l m l l ) a s
as
partes não criar animosidade recíproca
O l = U i 4 ~ ~ : Y e r K i o j u n t a s . ,
como
vizinhas,
~ n c de mteresse mútuo que
eYÍ
_epltiB'lenl:Opor uma razão mais imedi ata e direta..
) I Q j ~ i o é
colocar o bruxo em boa disposição de ânimo
t M J : . ~ u n e n 1 t o cortês.
O
bruxo.
por
sua vez, deve sentir-se agra
~ I d ~ , o
às pessoas que o preveniram
tão educadamente
do perigo
. â t 4 l ~ U T e n d Q . Devemos lembrar
que, como a
bruxaria
não
tem
existência
~ ~ 1 1 Q I h 4 J m l e m não
sabe
que
embruxou
outrem,
mesmo
quando
tem cons
_da
de que lhe quer
mal. Ao mesmo tempo, acredita firmemente na exi -
tência da bruxaria e na precisão
do
oráculo de veneno, de forma que,
quando
o oráculo diz que ele está matando um homem por bruxaria, ficará pro
vavelmente agradecido
por
ter sido avisado
ii
tempo. Se o deixassem matar o
homem,
ignorando o que fazia, ele inevitavelmente seria vítima de uma
vingança fatal. Pela polida indicação de um veredicto oracular, feito pelos
parentes do
enfermo
ao bruxo que o fez ficar doente, salva-se d
\ida tanto
do enfermo quanto do bruxo. Daí o afllrismo lande: "Aquele
que sopra
agua
não morre.
Essa máxi ma refere-se a açao de
um bruxo
qUdndo sopra
um
jorro
d'agua
de sua b ( ) ~ a sobre a de g,llinh.1 coloc.lda
.1
scus pés pelo mensageiro de um
delegado.
Quando
o
bruxo
sopra .ígua, ele "esfria" sua brux.uia. Em razão
desse rito simples, garante que o enfermo recobrará
t'
que ele me
mo
e -a
p.mí
d.1
ving,I1I\.l. Porém os A/.l1Ide ~ u s t e n t . l I l 1 firmL'lI1ente que a merd. \-3 )
de sopr,lr água n.\o tem v,llllr
ClIl
si, (aso () bruxo
11.10
deseje si 11cerd mente que
o doente
SL
reLupere. (,OJl1 I'SO ,ISse\'L'r,lIl1
()
l.u.íter
l1Ior.11
e volitho 1I.1 bruxa
I
ia. I )i/l'llI: "Llu)
homem
de\'l'
\oprar .ígll.) ~ O I 1 l
II lora ao. nao
.Ipt:
11.1 lO11l o
láhios", e que "slJl'r.1r .lgll.l d.1 hOL.I 11.\0 eIlLL'rr.lll,lssunto;
111.1
se
,\
agu.1 \ m
d,1 barrig.l.
eI.
esfri.1 o (Or.I,.ltl , (' L·,te e o \'c ld.ldciro soprM .Iglld."
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
22/49
I
1.11 proLe"o
de umlr. .11 q u ~ a bruxaria que de.;cre\l e Illlrm.llmenle
ulllllado em -illia oe de d o e n ~ a . ou qu.mdo l or.1ullo prcdll docn J p.lr.1
um homem
qUI:
no momcnto Iode c,lar em
perfeila ,
aude.
l le 1lm h
C
m e
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clOnÚm l
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..eu r . l c a ~ s o
,lI1le(i
rad.l1nenle
....
em dU\'lda .1 grandt'
m.liona
de s , l ~ de g,llinha .11 1 e,cnl.ld.h .10s
b r u x o ~ \ ln
por
moll\ o de L.\,O de docll\a. Enqualllo l do cnle (llnlll1u,1 , '1\ o,
sem
parente, ratem t o d o ~
os t : , f o r ç ( 1 ~
polido, par,l p
er, Sob
multo J peLto ,
mmha \'Ida
era Igual
a
deles: Lontra l suas
doen".l usei de ua fonl d Jlimen to e adotei
ao
nJáxlmo pmsíw l seus
prtlpnos padro s de comportamento,
0111
as resultanles anllzade in im
ilJ
de. Mas
foi
na ~ f e r J
da
bruxan
.l que ti ve
mais
ucesso em
"pt'mar como ne
gro",
ou melhor dll.endo,
..
enllr Gomo negro : Eu tambem me
Jcos
tumei
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an. t' trequentemlnle
preei,t'1 mI:
t'S
forç.a l pJIJ Lontrolar meu ln)\
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atritos
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doméstico.
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co
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pode
ter
um
rival
dispuI.\nd
o
o,
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l"Ü[
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S
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prlncipe
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r.
n1.lIdos,l,
alo
pena,o ou immUaLJO
SJO
gu,lrda
dm
na me m ó ria
p.Hol
posler
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retali.1\Jo . B.lst.l que
um pnnLlpe
demo nstre
favoritismo por
um
de se
lb (ortesaos,
um marido por
uma
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e p l ) , J ~
p.
\r
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qu e 0 desp rezados deteslem n escolhido.
lnuml
r.l' lt , ~ o n s t . l t e i .qu e b.
ht .l
Vl CU ~ e n e r o s o o u
apenas
multo amig.l\'el
(om
um
dc meu,
\'I711lhos p.l ra
~ I e
fj
ca'ise imedl.lt.1men IC .lpret'nsinl qu.1nlo
,I
b r u ' , H e qUJIl.}uer
1m
pre\,\ ,to qu
C
o atlllgl sse er.l ,lInbllldo.lll Llllmc qUl mm h .l am l l .llit' dt'sl'cr t.lfJ
no
( O r a ~ , H l
do.
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FIl1 gl'l.ll, no ('nt,mlO,
um
ho mem que ,lcre:dit.1 que:
os \Hltrtls
sentem
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me, dl'le
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faz n,ld. .
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ontinu .l a ' l'I
pnlidnlllll1
todlb e pfllLlIf.l m .
lI1t
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.lmi,tllsO. H.1st.l, porem , que ,urra um infllrtul1lo
p.lr.1
,ILrl'Lht.1r que Ulll da
quek, homens li
embrll'l.oll . l' .Iprt',
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,010L .1 h.lIl te
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nr ,l,ulo os nllme, d,lq lIl'lcs que II pOlkn.lI11 1, 1 pr l) 11.1
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.lulllh'CIIl1l'IlI\) t1l' terll1in.ldo que , em \11.1 Opll1."lll . 1110 11
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4
\ l i l l l l l t l de Inlo JÚfl I u
iCltn
< rll II r--
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
23/49
6
Uma el que ,1 , l L u ~ . l ç 0 e > de bruxaria 5:10 sw,litad,ls por inimizades p c s ~ o a i s ,
e eViUl'l1tl a
ra7dO
pela qual certas pessoa" nem cheg
am
a ~ e r u)nsidcrada;"
quando um
doente
p,lssa
em
re\
is
ta os
l 1 o m daqueles
que lhe poderi,lJll es
lar fatendo mal
de
forma a apre;,ent á- Ios ao o ráculo. Não se
a c u ~ a l 1 1
os
nobres
de bnL\,lria, e rar3t11t?nte se pk be
ll"
i n t l u e n t e ~ ; não
apenas porque
não
~ e r i a
a c o m e l h á \
e l l l 1 ~ u l t a - o s ,
co
m o t,lll1bém p o
rque
o
cantata
social das
pessoas comum com gente e S a ~ catego rias limita-se a situações em que o
comportamento recíproco esta deter minado por
noções
de stalus. Um ho
mem briga com seus iguaIS e deles
sente
iIweja. Um nobre está socialmente
t.lO
separado dos plebeus que, se um desk s fosse brigar com ele, o caso seria
antes de traição. Plebeus detestam plebeus, pnncipes
odeiam
pnJ1cipes.
Da
mesma forma, um plebeu rico fun ciona como patrão de um plebeu pobre; di
ficilmente surgirão o incentivo e as
op
o rtunidades para haver suspeita entre
eles. Um plebeu rico inveja rá out ro ple
beu
rico, um pobre terá
ciúmes de
ou
tro pobre.
f
muito m a i ~ fácil Jlguém sentir-.,e ofendido por palanas ou atos
de um
igual
qu
e
de um
supe
rior
ou inferior.
Do
mesmo
modo,
as
mulheres
entram
em con ta to c
om
outras mulheres, e
não C0111 homens,
salvo seus
ma
ridos e parente s, de forma que é a respeito de outras mulheres que elas pedem
que se co nsultem os oráculos; desde quI.' não há
intercursll
social entre ho
mem e mulheres não-aparentadas, é diflcil surgir inimizade entre eles. Igual
me nt
e, como já vimos, crianças não embruxam
adultos.
Isso significa que
uma crian ça não costuma ter relações com outros adultos, além de seus pais e
pare
nt es, capazes de
despertar
rancor em
seu
coração. Quando um adulto
e
mb
ruxa uma criança, é geralmente por ódio ao pai dela.
A
maior
oportuni
da de de surgirem conflitos da-se entre líderes
de
grupos d o m é ~ t i c o que
man têm contatu cotidiano, e são essas pessoas as que maIs freqüentemente
ap
r
l se
nt
am os
nomes umas
das
u t r a ~
diank
oráculos, quando um
deles
ou um membro da família está doente.
<
ollludo,
as noçoes de
bruxaria
são evocadas fundamentalmente por
Cl
ma infortúnios, e não dependem inteiramente de ll1imizadl s,
Quando
um homem sofre
um
infortúnio, ele sabe que foi embruxado, e é so aI que lisa
a
memória
para descobrir quais
bruxos
lhe delicjam mal e poderi,lm té-Io e111 -
bruXddo. Se ele
não
consegue
lembrar-se
de nenhum incidente que tivesse le
.Ido alguém a udiá-Io, e se nao tem
nenhum
inimigo em espelÍdl, ainda a s ~ i m
deve LOmuJtar o
oráculo para
encontrar um
bruxo.
Por isso, até um prl1Jcípe
lrJ por vezes acusar plebeus de
bruxaria,
pois seus infortúnios
devem
ser e:>
plil.adm e evitados,
mesmo
quando
.Iqudes
que ele acusa de bruxari, nJ,li, serio, l
demos sugerir que a ra7âo dessa crença se deve
ao
fato de que
pe; d a ~
outra
s não têm conta tos souais suficientt"i para de-,prr
tar
ódio mútuo,
ao
passo
que
há
ampla
s possibilidades
de
at rito
en
tre pes;'O.b
que
têm
.
suas
casas e rf\ças
em contigüidad
e.
Os
Azande
te
ndem a
en
tía r
em
disputa com
aqueles
que estão mai5 próximos quando essa proximidade naoe
atenuada por sentimentos
de
parentesco
ou
torn
a
da
i
rr
ele\'a
nt
e
por
di l 1 l r l o l
nobre
é
sempre um nobre, t' LOlll0 t,lll' tratado
('111
hl t J , .1'
,I1lhlÇ"nc
; nu n,
hl
ha semelhante nitidel ou lon,t,illlla qu.llltt) .1 l ' d , ~
n . l h , l . l d 'lld,ll
k tlm
bruxo,
poi,
t',te
só
t'
Lllllsílkr.ldo
bw\o l l ~
LCrI,l' 'llll,IL ll
.'
n l\'
le,
.l
z,md
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
24/49
I IdO eu I ~ m í i c d d o depende em
t 11
medldJ de contexto
P,IS
3 g e l r o ~ que
um
homtm dlllulmente e enc.dr,ldo
como
bruxo qUdndo d itudção
que pro·
\ ou umJ .leu leão ontra ele
i 1
de apJreas. Ma se
um
homem não so
freu
agressão alguma, então não deve mostrar
hostilidade
para com o
outros.
Igualmente o
ciúme
e a inveja são mal es, a menos que seJam cuI u·
ralmente aceitos, como no ea,o da rivalidade entre príncipes, ddn-mhos ou
cantores.
Todo
comportamenro que se choca com a IdéIas azande sobre o
que
e
direito
e próprio,
embora
não seia por si bruxaria, é o Impulso que esW
por
trás dela, e as pessoas que infringem as regras
de conduta as mal frequen
temente
acw,adas. Se
e x a m i n a r m o ~
as situações
que
e\·ocam
no.
ões
de
bru.n
ria e o método
de
identificação de
bruxos.
fica claro que
ele. irnplteam
caráter \'oliti\"O e
moral
da
bruxaria.
A condenação moral e prt:determuu a,
pois quando
um homem
sofre
um
infortúnio, ele medna obre ')ua m a ~ a e
comidera quem, dentre seus \'izinhos, lhe
demomtrou ho
tilid d
imerectda
ou
ressentimento
injustificado.
Es
as pessoas o prejudiCaram
e
lhe
querem
mal, e portanto ele
deduz
que 1 a ~ o embruxaram - p o i ~ um
homem não
ma
embruxá-lo e não o d e t e ~ t a s ~ e .
As IHH,OeS morais aLande, em
ua
i ~ ; a o da onduta em boa e m nâ
são muito diferentes das n o , ~ a s , mas, como elas não >e exprimem em tcrm
lei tielh, sua semelhança com os o d i g o Ja rehgioes mal> \.onheoru nao e
aparente de
IIllt:JiJto.
O,
ópmto
do,
morto
n30
podem
er on do
como
árbitros da Illoral e
annonadores
da conduta,
I
rqu
I
bro
de
grupos de parente,co e so ~ x e r em
autondade
d ntro d
obre.1 me nu pe soas que
lhe,
e tJ\am submetida· quand r am ,
~ e r 'lupremo
ê
Ullld IIItluent..l.l mUIto "aga,
n.lO
. endo nado rei z:ande
.01110 gu,lrdl.lo de um.1 lei moral que de\'a ser ob decida Olpl m
nt
r
que Ile
: o eu
autor. no
Idioll1.l
da hruxana que
o 7.and :pnm m d re
grJ
morai
que e'>L.lpam J t:sfera da lei < 1 11 e Lnmll1,ll 10 r
lauSd da bru aria; um homem 1m eio o pode matar algu m d
1m falam também de outro nUmento dnli- 1.11
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
25/49
h l fl 11
e
,/(lrIJlIIII
I : . I
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
26/49
l're nda UIll.1 rt'l.lh.I\.io. 'llr , . 1 I l . l i ~ p r l \ L n t ( l ~ . cnnt l
.1
O r e ~ p o n ~ . 1 \ li
\)oen
~ J . OU
Ira,.I'
II Cllll'llll're,.h
lll)JWJl1IC.l' n.ío ,.10
(on'lder.u
ln , lllnHl d.lJlo,.1
n o ~
1 I 1 t 1 l p d o ~
por
nutr.
jll'''O.I,. um hOJl1elll lai
l 'nfamo ou SU.l
e l l 1 p r e ~
\.11
.1
f.11.:110.1,
de
nan pode m.lr
de
rctJhaç.1o contra nl11guem. C0\l10 poderia
l U relógIO tl\"C,
.
e ~ I d ( ) roubado ou se ele f o s ~ e
agredido.
t-.las
no p.lb
I.1 Jlde
•
h,do,
lb I l 1 f ( ) r t ú n I O ~ 'c
devem
à
bruxana. permitll1dn que a p e ~ s o . 1 que \nfreu
t d.mo
empreenda
rt'l.1ltJçao por Lanai., costumetnh, porquc o d.lno é .1tri
btlldo ii uma
pe oa.
Em .,ituaçoe\ (01110 roubo, .Kiultc::rio, nu homiLldlO com
\ iolência
já
eXI.,te
uma
pessoa el1\ oh Ida,
que
collvid,1à ret,lliaçáo; se ,ua iden
tidade
é conhecida, o
culpado
e le\'ado
am
tribunais;
a ~ o contrario, ele e pcr
\L'gUldo por magia puniti\'a.
Quando
essa pes.,oa e ~ t , i ausellte, porém, as
no\oes
de
bruxaria oferecem um al\"o alternativo. Todo infortunio supôe
bruxarIa, e
toda
inmllzade ~ u g e r e um autor.
Considerando
a
questáo
por este lado, fica
mais
facil entender
C01110 os
Alande deixam
de observar
e explicitar o fato
de
que não só qualquer pessoa
pode ,er UI11 bruxo
- o que eks admitem facilmente - 11as que a
maioria
dos
plebeus é comtituída de
bruxos.
Se \'ocê disser que a I11aior parte das pes
~ o a s
e formada por bruxos, lh Azande negam imedia tamente tal afirmação.
Porem,
na minha experiência,
todos,
exceto n o b r e ~ e
plebeus influentes
d,1
corte.:,
foram
uma
\ 1. 1
ou outra acusados
pelos
oráculos de terem embruxa-
do l . b
VIzinhos - e portanto
sao
bruxos. Isso tem necessariamente de ser as
Slm,).í que
todos os
homens
sofrem infortúnios,
e que todo mundo é sempre
mllTIlgo
de
alguem. Mas. em geral, a p e n a ~ aqueles que se fazem detestados
pela
maioria dos vizinhos são acusados com frequência de bruxaria, adquirin-
do
reputação de b r u x o ~ .
Se fi
armm
atentos
ao iglllticado dinámico
da bruxaria,
reconhecendo
portanto sua
uni ersalidade.
cntl'ndl'remos
mdhor por
que
os
bruxos não
~ a o p e r ~ l g u l d ( h
nem sofrcm
ostr,ILlsmo:
pois
o que é uma
fu nção
de
estados
passagellos e é LOl11Um
I
multO', n,IO pude ser tratado com sC\'Crtdade. A
pm l
çao
de um bruxo nada
tem
de ,lllalogo a
do
Lrtl11mOSO cm
nossa sociedadc;
ele
c.ertalllCllte não e um pari,1 ,Illngido pela desgr,lça e cvitado pelo,
vi,inhm.
Pelo
contráno, bruxos
relonheudus,
fal11(hus
como
lal
por
n:giül's Inteira"
\ Ivem C0l110 C1dadaos col11uns. Podem ser pais c
m.llidos
respelt,ldos, visi
tantes blff i · nndos
as reside J)C ,ls ,
convidado, a >
fest,ls e
,IS
Wles melllbros in
fluent
do
comclho informal da
Lmle
de
um
príllupe. ,\lgullS de llleu,
lOl lh( Lidos
eram bruxu,> lIot,'JlJ( IS
l m bruxo pode g()l.lr de
lerto
prl'stlgio em ralao
de
seus poderes, pOIS
'oti
J
~ l I d , l l n
de nao oknJt lo - ningucll1 prolur,1 ddiberadallll'lItl' o de
trL. I
pur
1
so qUt I
hdn de um grupo domestico que
C,H,.I
UllI ,Inlllhd
malld.\
um
pUUlO
da .Ime
L01110 pn
.
sl'nte p.tra os velho s qu\:' vi\l'1I1 1l0S
, í t l < ) ~
\ III Ilho >. grat,-a para
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
27/49
\1'. Il l ) 1\
l \05
tt 1ll c lccié
llcia
tit'
CU
S
lltO
S
I
l ma da a r a c t ri ll1.l i. n t.1\ \?I' da bruxaria eurl'pei,1
l f
a .I t:1Cilidade
~ o m que o br uxo. as \ el e
~ o n k ,
a\"
am ,ua
-:UlP,l ~ e l 1 1 uso
de
tort ur.] e torne
uam longa. de criçõe
dc
eu crime e
de
llrganila,J tl. Tudo indi-:a que,
em algum gra u pelo meno , a ~ pe. oa. que \wem n um .l comunidade onde o
fato da bnLu na n u n ~ a e po,to cm dúvida ,ão (ap.lle, de ({lll\"t:n(er de que
po
uem o poder que
o
outro lhe .ltribucl11 "e,a (omo
for.
eria interessante
abcrmo
e o
\z
,mde lamal . cOllfe' 'am qllL , l O h
rux
o ,.
Par.I o ALlndt:. a q u e ~ t d o da LUlp.l
nao
, e colo -:a da Illoma forma que
rara no . Como
ja
expliquei.
eu
I I 1 t e r e ~ e p
da
b rux.lria
só é
dôpertado em
c a s o
e ~ p e d f i c o
de
infortunio e .lpena perdura e nquanto perdurar o infor
t i
O. Ol\ r d dificulda de sU< Litdda
por . to
slsll
J LClIlsuhJ\ or L 1 U d r e .Ifll C
i
en
t,lÇ lW
'"
de
.IS,I'"
de
l h n h
alousado pelo ora
8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande
28/49
~ u n t , \
n,h1
era tt.'lt,\ ü p l i ~ i t . \ l 1 l e l 1 k
..
\Ituaç,lo e,>peLi,llem qUe ach,lv,\1l1
Ill
o(h
fi
C,l\ ,1 \ u a ~ , l i i r l l 1 a \ i ) e ~ e colon. \U,h opllllúes.
, 'o decorrer de d l s ( u ~ s o e .
\obre
outros assunto\, comt.lkl que IS C 7 e ~
o. mlornl.lntes
admitiam que
alguns
b r u : > . o ~ , em
certas
L l r c u n ~ t < l n L i , l s ,
po
diam
Ignor,u' condição. Essa ignorância era
geralmente
aceita
nm
, I s m
de
LrJ,ln\,ls -bruxas e de ,1dultm ,ILusados apenas
uma ou duas
\'e7e . na \ ida .
Quando
a bruxaria de
um homem L;
fna",
como
dizem os Azande, Isto
é,
qu,lI1do ela
nao
é
operatl\a,
ele
pode
mUIto
bem
ignorar sua LOndiç,'io.
Penso que , na \ erdade, não seria demais
descre\er
as
i d é l , l ~
z,lIlde
sobre
osa questão da seguinte forma: um
homem não
pode entar ser um bruxo;
nao é
por
sua culpa que nasccu
com
oru:>.aria na barriga, Ele pode ser perfeita
mente ignorante dc que e bruxo c inocente de atos de bruxaria. Nesse estado
de mocênCla, pode fazer mal a .lIguem sem querer; quando já foi várias
\'e7es e>..posto pelo oráculo de \eneno, entao está conscien te de seus poderes e
começa a usá los
com
malícia.
Quando
um
homem
fica doente, ou alguém de sua família ou parentela,
ele fica profundamente Irritado. Para
quc entendamos
seus sentimentos a res
pello da responsabilidadc moral do hOlllem II1dicado pelo oráculo como ge
rador
dd
doença,
é
preLlso
Icmbrarmos que
o
consulente apresentou
ao
oráculo o nome a ~ p e ~ s o , h que mais detesta, de forma que o bruxo será pro-
,'a\'dmentL .lIguem com quem ja linha é ~ ~ i m a ~ reiaçôes, A velha animosida-
de
é
reforçada
por um
no\'o
re entimento.
E
portanto
inútil
wgerir
ao
I l 1 t e r e 5 ~ a d o que
o
bruxo
não
tem
cnnsClencia da
bruxana,
pois ele
não
está
in-
clinado a considerar tal possibilidade, uma vez que sabe há muito tempo
do
ódio do acusado e de seu de,elo de ~ 1 7 c r - I h L mal.
Numa
situação como esta, a
re ponsabilidade moral
dos
b r u x o ~ é pressuposta
incondicionalmente;
está
~ o n t l d a nos pro.:esws de
sc el,.Hl
e Jcus,l\ào,
não prcusa
ser explicitada
M,IS
a mesmas pe,>so.ls ljUL', quando preJudiLadas, afirmar,lm
\'ecmente-
menk a I1lallL1J delibérada dos outros,
bIJm
de outra forma quando ,.10 elas
a
rn,dler
as
aS.ls de
galinha, Pude mUIt.ls veles obStrv.lr as me mas pessoas
em
amh.l as
s i t u a ç o e ~ .
Tendo
des(
nto
,IS
(Ipinioes usuais
dos
A/ande
sobre
a
responsabilidade
dos
bruxos, e conll) sua rea.,.ao ao IIlfortunio 1,11\(
;,\
111,10 da
nO\JO
de
re ponsabiliJ.lde ell1 sua forma
m;m
intranSigente, devemo'i agol'tl
oh en.lr Lomo o bruxo re ponde.1 ulIla .lcu açao.
')e
elt
for
uma
pessoa
Lllm pOULO autocontrole,
Pllde
1 l/el uma
Lena
quando d
.Isa
de g,Jlinha c
(010
dda a seus pés. Pode dizer .10 lllens.lgeiro qUl' a
lt'\e emhora, dmaldH,oilndo 'Iljueles
que
a
enviaram, dell.lrando
ljue IjUtlell1
Jpula hUITIllhà
lo
por
ITIdldaut'.
rals
tenas são raras, 1ll.IS .IS
1St
I
ou
soul.e
dt
afias, t sabe se de gente
que
atacou o mensageiro. Um
homem
que UI I I
porta d
modo
esta IOdo contri o
lostume,
ao insultar o delegado do Lhcfe
J ruxo l
que
ordenou 1 , I p r c , e n t c l ~ . i ( ) dd 1 a.
He ser obJeto
de 1 mb
na
I °0 om I
UIll prm InuallO Ignora nte dcls manei ras da sl)uedadc t'.duc.sda e pode d I
rir a reputaç..io de bruxo empedernido
que
admite sua bruxana ,u amen e
pela raiva que demonstra ao ser denunciado. O que ele devena fazer era )
prar
ngua e dizer: "Se
possuo bruxaria em meu
ventre, dis o
nao tenho \.0"1
ciê ncia; quI' ela c ~ f r i e ,
Por
ISSO,
~ o p r o
água."
t. difícil perceber os sentimentos reais de
um homem
partIr de
.ua
rei
ção
pública quando
reLebe a asa, pois
mesmo que
ele
~ t e j a certo.de rua
II
cência, realilará a
cerimonia,
ja
que i ~ s o
é o que
um
cavalheiro deve fazer.
O
costume
não apenas prescreve que se sopre água, mas
a i
frases com que
acusado deve exprimir sua contrição são mais ou menos estereotipadas; e o
tom mesmo, desculposo e sincero, em que ele as profere é determinado
pela
tradicão
Quanto eu tinha oportunidade,
falava
com um
acusado o mais
rapida-
mente possível
depois
da
apre
entação da asa,
para ter
suas impressocs. Mm-
tas vezes era
um
de
meus
criados,
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