Vírus da hepatite B é 50 a 100 vezes maisinfecciosodo que o VIH
A hepatite B é a maisperigosa das hepatitese uma das doençasmais frequentes domundo. Estima-se queexistam 350 milhõesde portadores cróni-cos do vírus. Estetransmite-se atravésdo contacto com osangue e fluídos cor-porais de uma pessoainfectada, da mesmaforma que o vírus daimunodeficiência hu-mana (VIH), que pro-voca a Sida. Só que ovírus da hepatite B é 50a 100 vezes mais infec-cioso do que o VIH.O Ministério da Saúdetem em preparaçãouma estratégia para ocombate à doença.Mas saiba também oque está nas suasmãos fazer, desde já,para prevenir. |Pags. 3 e 4
“A promoção do planeamentofamiliar e a garantia do acesso amétodos contraceptivos mo-dernos é essencial para que seassegure o bem-estar, a autono-
mia das famílias e o impacto daredução da pobreza”. A afirma-ção é do ministro da Saúde, LuísGomes Sambo, no Dia Mundialda População celebrado em Ju-
lho, em Luanda.Também para a representan-
te da UNFPA em Angola, Flor-bela Fernandes, os cuidadoscom a saúde reprodutiva, in-cluindo o planeamento familiarvoluntário, geram impactos po-
sitivos nas economias globais econtribuem para “as mulheresconcluírem os seus estudos, se-rem mais produtivas em seusempregos, ganharem saláriosmais altos, aumentarem as suaseconomias,…”. |Pag. 13
O 4º Congresso de Ciênciasda Saúde, agendado para 6 a9 de Novembro, em Luanda,organizado pela clínica Mul-tiperfil, já tem o seu vastoprograma científico pratica-mente fechado. Entre outras novidades, ofe-rece um simpósio e cursosnas áreas da oftalmologia egastroenterologia. Serão as-sim, ao todo, 12 simpósiosnas especialidades de anes-tesiologia, hematologia e he-moterapia, patologia clínica/ medicina laboratorial, fi-sioterapia, radiologia, enfer-magem, cardiologia, ortope-dia, gestão em saúde, pedia-tria e neonatologia, ao queacrescem os dois referidosde oftalmologia e gastroen-tereologia. De salientar também osworkshops de cirurgia e demedicina intensiva, o En-contro de Educação Médicae a Expo Multiperfil com apresença das empresas far-macêuticas e de equipamen-tos mais empenhadas no de-senvolvimento e moderni-zação da saúde em Angola.Os cursos – à data do fechodesta edição contam-se já 60confirmados – abrangeminúmeras áreas e serão di-vulgados em breve. Estejaassim atento à comunicaçãoda Multiperfil e ao site do Jor-nal da Saúde de Angola.
O Caminho do BemEuropean Society for
Quality ResearchLausanne
EUROPE BUSINESS ASSEMBLY
OXFORD
jornalAno 8 - Nº 81Junho/Julho2017Mensal Gratuito Director Editorial: Rui Moreira de Sá
MINISTÉRIO DA SAÚDEGOVERNO DA REPÚBLICA DE ANGOLA aude
a saúde nas suas mãosA N G O L A
da
O ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo, procedeuà entrega simbólica de diplomas a quatro dezenasde médicos, num total de 52, que concluíram, em2016, as especializações de cirurgia geral, medici-na interna, ginecologia/obstetrícia, cirurgia pedia-tra, anestesia e reanimação, infecciologia e psi-quiatria, provenientes das unidades hospitalaresdas províncias de Luanda, Benguela e Huambo. O ministro salientou que os recém-formados es-tão prontos a contribuir para a solução dos mais
complexos problemas de saúde nas suas áreas deformação e reconheceu que se deve formar maismédicos especialistas para dar maior resposta àsnecessidades da população, de acordo com o po-tencial humano e tecnológico existentes.O acto teve lugar em Julho, em Luanda, por oca-sião da reunião consultiva sobre os internatosmédicos. Angola conta actualmente com 550 médicos es-pecializados. |Págs. 6 e 8
Multiperfil organizao maior evento científico de 2017
4º Congressode Ciências da Saúde inclui12 simpósios e mais de meiacentena de cursos
Angola conta com maismédicos especialistas
Planeamento familiar e contraceptivos promovem o bem-estar e reduzem pobreza
Dia Mundial da População
2 oPINIão Junho/Julho 2017 JSA
Orientação editorial: Dr. Eduardo Magalhães (MINSA)Conselho editorial: Prof. Dr. Miguel Bettencourt Mateus,Dra. Adelaide Carvalho, Prof. Dra. Arlete Borges, Enf. Lic.Conceição Martins, Dra. Filomena Wilson, Dra. Helga Frei-tas, Dra. Isabel Massocolo, Dra. Isilda Neves, Dr. JoaquimVan-Dúnem, Dra. Joseth de Sousa, Prof. Dr. Josinando Te-ófilo, Prof. Dra. Maria Manuela de Jesus Mendes, Dr. Mi-guel Gaspar, Dr. Paulo Campos.Director Editorial: Rui Moreira de Sá [email protected]; Redacção: Francisco Cosme dos Santos; Cláudia Pinto.Correspondentes provinciais: Elsa Inakulo (Huambo); DinizSimão (Cuanza Norte); Casimiro José (Cuanza Sul); VictorMayala (Zaire)
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FICHA TÉCNICA
Parceria:
www.jornaldasaude.org
Jornal da saúde de Angola
A recente reunião consultiva
para analisar as actuais condi-
ções de formação pós-gra-
duada dos médicos e definir
uma nova estratégia com vis-
ta a garantir a formação de
mais médicos especialistas é
de suma importância para o
sector da saúde no país.
A definição das especialida-
des prioritárias, dos critérios de
ingresso aos internatos médi-
cos complementares, os novos
regulamentos e as condições
essenciais que devem reunir os
hospitais e os serviços para as-
sumirem as responsabilidades
que a formação pós-graduada
exige, são avanços que consti-
tuem uma clara aposta na for-
mação com exigência para que
se formem mais especialistas
com a qualidade desejada e que
vão certamente contribuir para
a melhoria da qualidade dos ser-
viços de saúde.
Por esta razão, damos desta-
que neste número a esta inicia-
tiva do ministério da Saúde que
conta com o apoio e empenha-
mento sério e competente da
Ordem dos Médicos de Angola,
cujo bastonário sempre se ba-
teu por um ensino especializa-
do da medicina no país e que
instituiu os colégios de especia-
lidade, responsáveis, entre ou-
tras funções, pela validação e
homologação das formações
pós-graduadas.
Assinalamos também a cele-
bração do dia mundial da popu-
lação com um amplo debate so-
bre o planeamento familiar e o
acesso a métodos seguros de
contracepção para a saúde e o
bem-estar das gerações presen-
tes e futuras.
Finalmente, registamos igual-
mente com satisfação a apre-
sentação pelo INE dos resulta-
dos definitivos do “Inquérito de
indicadores múltiplos e de saú-
de” que confirmou a redução
da taxa de mortalidade infantil
de 81 mortes por 1.000 nados-
vivos em 2001-2005 para 44
mortes por 1.000 nados-vivos
em 2011-2015 e a mortalidade
infantojuvenil que reduziu de
145 mortes por 1.000 nados-vi-
vos em 2001-2005 para 68
mortes por 1.000 nados-vivos
em 2011-2015, entre outros da-
dos importantes para medir os
níveis do desenvolvimento so-
cioeconómico e da qualidade
de vida do país que permitirão
aos decisores políticos e aos
responsáveis técnicos avaliar os
programas e políticas de desen-
volvimento.
A melhoria da qualidade da formação médica especializadacontribui para um melhor atendimento dos pacientes
Rui MoReiRa de Sá
Director [email protected]
n A informação consta deuma nota de imprensa doMinistério da Saúde (MIN-SA), com referência ao DiaMundial da Hepatite, que seassinalou em Julho.Na nota, o MINSA subli-
nha que foi constituído umgrupo técnico nacional, paraas hepatites virais, que está aconcluir o documento quevai orientar a estratégia decombate à doença, e que es-
tão a realizar investimentosem meios de diagnóstico etratamento.A Organização Mundial
da Saúde (OMS) consideraque a hepatite pode ser elimi-nada até 2030, com o empe-nho de toda a sociedade nasua prevenção e tratamento.Para que a eliminação da
hepatite seja possível em An-gola, as autoridades sanitá-rias têm como estratégia a
prevenção da transmissãomaterno-infantil da hepatiteB, a administração generali-zada da dose da vacina aosrecém-nascidos, a garantiade sangue seguro, assegurarque 90% das pessoas com he-patites B e C sejam testadas e80% dos pacientes ilegíveistenham acesso ao respetivotratamento.Recentemente, a diretora
do Instituto Nacional de San-
gue, Antónia Constantino,informou que metade dosangue doado no país, na suamaioria assegurado por fa-miliares dos doentes, não éaproveitado porque está in-fetado, principalmente porhepatite B.A nota sublinha que, en-
quanto o vírus da hepatite Acausa quadros de hepatiteaguda e tem transmissão pe-las secreções orais e fecais,
estando diretamente relacio-nada com as condições desaneamento, o vírus das he-patites B e C preocupam pelopotencial em causar hepati-tes crónicas.As hepatites virais podem
ser causadas por diferentestipos de vírus, estando atual-mente identificados mais decinco, sendo os principais ovírus das hepatites A, B, C, De E.
n De acordo com a médicado Instituto Nacional de LutaContra a Sida (INLS), que in-tegra o Grupo Técnico Nacio-nal para o Controlo das He-patites Virais, Graça Manuel,as hepatites em Angola têmregistado uma tendênciapreocupante, principalmen-te do tipo B e C. A especialista falava na pales-tra “As hepatites, prevenção econtrolo” que o Jornal daSaúde acompanhou no Ins-tituto Médio de Economia de
Luanda (IMEL), em Luanda,por ocasião do Dia Mundialda Hepatite, a 28 de Julho, nu-ma promoção do InstitutoNacional de Luta contra a Si-da (INLS) em parceria com ainstituição académica públi-ca, onde participaram estu-dantes, professores, profis-sionais de saúde e técnicosda OMS.Para o controlo desta situa-ção o Instituto Nacional deLuta Contra a Sida, que é o ór-gão tutelado pelo MINSA rei-tor das políticas e estratégiaspara o controlo destas doen-
ças, criou um grupo técnicopara a elaboração de um pro-tocolo para a sua prevenção,diagnóstico e tratamento,conforme noticiamos nestapágina. Graça Manuel advertiu que,para se prevenir a hepatite, énecessário que se vacine ascrianças, cumprindo o calen-dário de vacinação, que se fa-ça o teste durante a gravidez,lavar bem e cozinhar os ali-mentos crus, cuidar da águade beber, manter a higiene domeio ambiente, usar sempreo preservativo nas relações
sexuais ocasionais, ter cuida-do com os objectos de higie-ne pessoal, como as escovasde dentes e lâminas de bar-bear, e não partilhar objectoscortantes ou perfurantes.Afirmou que já existem algu-mas vacinas eficazes contra ahepatite B que as criançasdevem tomar apanhar aos 2,4 e 6 meses de idade, assimcomo os adultos, e pessoascom comportamentos de ris-cos, como os profissionais desaúde e outros.A médica realçou que Angolaainda não dispõe de estatísti-
cas da doença, nomeada-mente o número de pessoasque estão infectadas com ovírus da hepatite. Neste mo-mento decorre o levanta-mento de dados para a ela-boração do protocolo de nor-mas de diagnósticos etratamento, para se saberconcretamente quantos pa-cientes padecem da doença.Assim que estiverem prontosserão divulgados pelo Minis-tério da Saúde.Disse também que não sãoconhecidas no país as zonasde maior risco de contrair he-
patites, mas sabe-se que a B émais fácil ser contaminadocom o vírus da hepatite B doque o VIH. Em Maio de 2016, a OMSapresentou à AssembleiaMundial da Saúde a primeiraestratégia mundial para osector da saúde sobre a hepa-tite viral cujo objectivo é a eli-minação da doença. No mes-mo mês e ano, os Estadosmembros da região africanaadoptaram um quadro de ac-ções (2016-2020) para pôrem prática a estratégia mun-dial.
3ACTuAlIdAdeJunho/Julho 2017 JSA
Ministério da Saúde prepara estratégia contra hepatites
Palestra
As hepatites, prevenção e controloFrancisco cosmE Dos santos
Um grupo técnico está a fina-
lizar um trabalho com vista à
eliminação das hepatites em
Angola, onde são mais fre-
quentes as infecções pelo ví-
rus da hepatite A e B.
A directora do INLS, Lúcia Furtado, acompanhada pela médica, Graça Manuel, que integra o Grupo Técnico
Nacional para o Controlo das Hepatites Virais
Os participantes - que lotaram o auditório - ficaram a saber
como evitar as hepatites
4 ActuAlidAde Junho/Julho 2017 JSA
Hepatite: o que é e como evitar
nAs Hepatites virais podemser causadas por diferentes ti-pos de vírus (actualmente es-tão identificados mais de cin-co), sendo os principais o ví-rus da Hepatite A (ou, VHA),o vírus da Hepatite B (VHB), ovírus da Hepatite C (VHC), ovírus da Hepatite D (VHD) e ovírus da Hepatite E (VHE).Em Angola, como na maioriados países africanos, são maisfrequentes as infecções pelovírus da Hepatite A e B.
Enquanto o vírus da Hepa-tite A causa quadros de hepa-tite aguda e tem transmissãopelas secreções orais e fecais(estando portanto directa-mente relacionado com ascondições de saneamento), ovírus das Hepatites B e C preo-cupam pelo potencial emcausar hepatites crónicas.
O perigo das hepatites vi-rais crónicas B e C consiste nofacto de que certa pessoa po-der estar infectada por váriosanos, sem apresentar sinto-mas que a façam procurartratamento. Contudo, a pes-soa infectada, mesmo semsintomas, vai transmitindo ovírus de que é portadora.
Além disso, sem conhecero seu diagnóstico e sem trata-mento, o portador de Hepati-te B e ou C pode progredir pa-ra fibrose hepática (cirrose)ou mesmo cancro primáriodo fígado. De acordo com aOrganização Mundial daSaúde, o VHB e o VHC oca-sionam 96% das mortes queocorrem no mundo devido àshepatites virais.
As formas de transmissãodas hepatites virais B e C, ape-sar de não serem idênticas,são semelhantes. A transmis-são dos referidos vírus podeocorrer através do sanguecontaminado (transfusãosanguínea, instrumentos per-furo-cortantes) ou relaçõessexuais desprotegidas.
Hepatites viraisAs hepatites virais consti-tuem um grave problema de
saúde de nível mundial. Se-gundo dados da OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS),aproximadamente 325 mi-lhões de pessoas estão infec-tadas pelo vírus da hepatite Bou C em todo o mundo, den-tre as quais 70 milhões vivemem África. As estatísticas pu-blicadas pela OMS indicamainda que até finais de 2015,apenas 9% das pessoas infec-tadas pela hepatite B e 20%das pessoas infectadas pelohepatite C tinham sido testa-das e diagnosticadas. Do totalde pessoas diagnosticadascom a hepatite B a nível mun-dial, 8% (ou seja, 1,7 milhãode pessoas) estavam em tra-tamento, enquanto 7% dasque tiveram um diagnósticopositivo para a hepatite C (is-to é, 1,1 milhão de pessoas),havia iniciado o tratamentoem 2015.
Para evitar a transmissãoda Hepatite A, o Ministérioda Saúde orienta a lavagemregular das mãos, a higiene esalubridade dos alimentos,que devem ser cuidadosa-mente lavados quando comi-dos crús ou bem cozidos, osaneamento e o acesso à águapotável.
Para a prevenção das he-patites virais B e C, deve-seutilizar os instrumentos cor-tantes (agulhas, seringas, ali-cates de unha, etc.) descartá-veis ou somente depois de es-terilizados, utilizar somentesangue testado e usar preser-vativos nas relações sexuais.Para a Hepatite B, existe umavacina que está disponível nocalendário nacional e que de-ve ser administrada logo ànascença e, posteriormente,aos dois, quatro e seis mesesde idade, para uma protecçãomais eficaz.
De realçar que principal-mente a Hepatite B pode sertransmitida de mãe para fi-lho, e para que se possa evitarisso, é preciso diagnosticar amãe durante a gestação.
Eliminação até 2030Tal como considera a Organi-zação Mundial da Saúde(OMS), a hepatite pode sereliminada até 2030 caso hajao necessário empenho de to-da a sociedade na sua pre-venção e tratamento. Paraque a eliminação da hepatitepossa ser possível em Angola,impõe-se como desafio a pre-
venção da transmissão ma-terno-infantil da hepatite B, aadministração generalizadada dose da vacina aos recém-nascidos, a garantia de san-gue seguro e assegurar que90% das pessoas com comhepatites Be C devem ser tes-tadas e 80% dos pacientes ele-gíveis devem ter acesso aorespectivo tratamento.
Para cumprir com este ob-jectivo, Angola constituiu umGrupo Técnico Nacional paraas Hepatites Virais e está a fi-nalizar um documentoorientador para uso nacional,assim como a investir emmeios de diagnóstico e trata-mento.
Sob o lema «Eliminar a He-
patite até 2030», a 28 de Ju-
lho de 2017, Angola juntou a
sua voz à celebração do Dia
Mundial contra a Hepatite,
como forma de despertar a
atenção da sociedade para a
necessidade de uma maior
prevenção, diagnóstico e tra-
tamento desta doença.
Hepatite ALavagem regular dasmãos, higiene e salu-bridade dos alimen-tos. Estes devem sercuidadosamente la-vados quando comi-dos crús, ou entãobem cozidos. Sanea-mento e acesso àágua potável.
Hepatites virais B e CUtilizar os instru-mentos cortantes(agulhas, seringas, ali-cates de unha, etc.)descartáveis ou so-mente depois de es-terilizados. Utilizarsomente sangue tes-tado. Usar preserva-tivos nas relações se-xuais. Para a Hepatite Bexiste uma vacinaque está disponívelno calendário nacio-nal e que deve seradministrada logo ànascença e, poste-riormente, aos dois,quatro e seis mesesde idade, para umaprotecção mais efi-caz.
Como prevenir
n A hepatite B, provocadapelo Vírus da Hepatite B(VHB), descoberto em1965, é a mais perigosa dashepatites e uma das doen-ças mais frequentes domundo. Estima-se queexistam 350 milhões deportadores crónicos do ví-rus. Estes portadores po-dem desenvolver doenças
hepáticas graves, como acirrose e o cancro no fíga-do, patologias responsá-veis pela morte de um milhão de pessoas por ano em todo o planeta.Contudo, a prevenção con-tra este vírus está agora aonosso alcance através davacina da hepatite B quetem uma eficácia de 95 por
cento. O vírus transmite-se através do contacto com o sangue e fluidos corpo-rais de uma pessoa infecta-da, da mesma forma que o vírus da imunodefi-ciência humana (VIH), queprovoca a Sida. Só que o vírus da hepatite Bé 50 a 100 vezes mais infeccioso do que o VIH.
O vírus da hepatite B é 50 a 100 vezes mais infeccioso do que o VIH
6 FORMAÇÃO Junho/Julho 2017 JSA
Formação de médicos especialistas vai ser acelerada
nO ministro Gomes Sambosublinhou ainda que os mu-nicípios são a base do siste-ma de saúde, onde deve-riam ser resolvidos cerca de60% dos problemas de saú-de da população. Por isso “aabordagem aos cuidadosprimários, as intervençõesessenciais de medicina pre-ventiva e a promoção dasaúde são e devem conti-nuar a ser prioridades abso-lutas a nível de todos os mu-nicípios”.
Disse ainda que na reu-nião analisou-se a situaçãoactual dos internatos a níveldo país, tendo sido sugeri-das as especialidades priori-tárias no âmbito do contex-to demográfico e epidemio-lógico. Definiram-se oscritérios de ingresso aos in-ternatos médicos comple-mentares e abordaram-se ascondições essenciais quedevem reunir os hospitais eos serviços para assumiremas grandes responsabilida-des que a formação pós-gra-duada exige.
O titular da pasta da saú-de assegurou que o ministé-rio assume em conjunto ocompromisso das acçõesassistenciais académicas ede investigação, a favor daqualidade dos médicos es-pecialistas formados no
país, de acordo com os pa-drões universalmente esta-belecidos, porque reconhe-ce a necessidades de se for-marem mais médicos paraexercerem em Angola, noquadro dos investimentospúblicos em prol da saúde.
Entrega de diplomasNa ocasião, efectuou-se aentrega simbólica de diplo-mas a quatro dezenas demédicos, num total de 52,que concluíram, em 2016, asespecializações de cirurgiageral, medicina interna, gi-necologia obstetrícia, cirur-gia pediatra, anestesia e rea-nimação, infecciologia epsiquiatria, provenientesdas unidades hospitalaresdas províncias de Luanda,
Benguela e Huambo. A formação especializa-
da do médico tem como ob-jectivo habilitar o profissio-nal para o exercício autóno-mo e tecnicamentediferenciado na respectivaárea do saber.
A cerimónia de encerra-mento foi efectuada peloministro da Saúde, Luís Go-mes Sambo, acompanhadodo presidente do conselhode especialização de pós-graduação, Jorge Dupret,entre outros convidados.
O titular da pasta da saú-de garantiu que os médicosespecialistas formados es-tão prontos para contribuirpara o sistema nacional desaúde e resolver os proble-mas de saúde complexos
nas suas respectivas áreasde intervenção.
Encorajou-os a aceita-rem, com serenidade e inte-ligência, os desafios que irãoenfrentar pois “estão pron-tos e bem preparados paraassumirem este grandecompromisso com sucesso”.
O papel da Ordem dos MédicosO bastonário da Ordem dosMédicos de Angola, CarlosAlberto Pinto de Sousa, lou-vou a iniciativa do Ministé-rio da Saúde e salientou quese introduziram melhorias eelaboraram novos regula-mentos que irão favoreceros cursos de pós-graduaçãomédica em Angola, no sen-tido de caminharem para a
melhoria da qualidade dosserviços de saúde que têmevoluído positivamente nosúltimos anos. Lembrou queno período pós-indepen-dência formavam-se nopaís, anualmente, entre 80 a100 médicos, e, actualmen-te, são cerca de 590.
Carlos Pinto de Sousaafirmou que, hoje, a Ordemjá conta com 5 400 médicosinscritos, em diversas espe-cialidades, “mas há quecontinuar a fazer-se umagrande aposta na formaçãocom forte exigência paraque se formem mais espe-cialistas com a qualidadedesejada e que sejam reco-nhecidos internacional-mente”.
Disse também que a Or-dem, enquanto parceira doMinistério da Saúde, estácomprometida com o ensi-no pós-graduado e a espe-cialização, motivo pelo quala instituição que dirige par-ticipou em todos os traba-lhos que culminaram com arealização da reunião con-sultiva mais abrangente,“com vista a melhorar a saú-de junto das populações ecriar nova legislação, face ademanda demográfica e doquadro epidemiológico dopaís”, afirmou.
Alegou ainda que se pre-tende melhorar a qualidadeda especialização médicaque potencialize a formaçãointerna nos hospitais e per-mita aumentar a capacida-de assistencial dos serviçospara que o resultado sejauma considerável melhoriana assistência às popula-ções.
Para o bastonário a qua-lidade dos médicos no paísé satisfatória, “mas tem quese primar na formação con-tínua porque o curso nãotermina com a licenciatura,nem com internato médico.É necessário que o médicocontinue a estudar porque amedicina é evolutiva e dinâ-mica, dia após dia surgemnovas abordagens técnicase o médico deve estar ac-tualizado para poder pres-tar um serviço com qualida-de”.
Francisco cosme dos santos
“Acelerar a formação das es-
pecialidades médicas, de
acordo com as necessidades
e o potencial humano e tec-
nológico existente no país” é,
segundo o ministro da Saúde,
Luís Gomes Sambo, uma ne-
cessidade consensual entre
os participantes da reunião
consultiva sobre os interna-
tos médicos que decorreu
em Julho, em Luanda. Os téc-
nicos consideraram também
que maior atenção deve ser
dedicada a saúde pública e clí-
nica geral, independente-
mente das outras especiali-
dades.
“Os municípios são a base do sistema de saúde onde deveriam ser resolvidos cerca de 60% dos problemasde saúde da população. Por isso, a abordagem dos cuidados primários, as intervenções essenciais de medicina preventiva e a promoção da saúde são e devem ser prioridades absolutas a nível de todos os municípios”
O ministro da Saúde, Luís Sambo, no uso da palavra;
Jorge Dupret e Carlos Pinto de Sousa entregam diplomas
aos novos especialistas
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8 FORMAÇÃO Junho/Julho 2017 JSA
“Sempre fui muito curioso”
Domingos Manuel JacintoCirurgião geralHospital Josina Machel
Fiz a especialidade de cirurgia geral no hospital Josina Ma-chel.Escolhi esta especialidade porque, durante todo meu perío-do estudantil, sempre fui muito curioso, queria sempre co-nhecer as coisas por dentro, e também pelo défice que se re-gista com a falta de profissionais nesta especialidade.A importância desta especialidade para Angola, como emqualquer país, é a de resolver qualquer problema de saúdeque ultrapassa os aspectos clínicos, sendo uma das áreas in-separáveis da medicina interna.
O que é a cirurgia geralA cirurgia geral é a especialidade base de toda a cirurgia, daqual derivaram as diversas especialidades cirúrgicas. É a es-pecialidade que se dedica ao tratamento cirúrgico de doen-ças de vários órgãos e sistemas, como por exemplo as doen-ças oncológicas do aparelho digestivo, endocrinológicas,metabólicas ou da obesidade e defeitos anatómicos comoas hérnias, utilizando técnicas de abordagem clássicas, ouminimamente invasivas, como a laparoscopia.A cirurgia geral mantém-se hoje como uma especialidadenuclear em qualquer hospital e distingue-se pelo seu vastocampo de intervenção, sobretudo na área da medicina cu-rativa, mas também nas áreas da medicina de emergência edo trauma.Esta especialidade trata ou colabora no tratamento dasdoenças benignas e malignas de vários órgãos, aparelhos esistemas, nomeadamente as doenças do aparelho digestivo,da mama, das glândulas endócrinas, da pele e dos tecidosmoles, do metabolismo, as resultantes de defeitos anatómi-cos ou funcionais e as resultantes de acidentes e outros trau-matismos.A evolução tecnológica dos últimos vinte anos trouxe gran-des novidades no campo das técnicas cirúrgicas. Os cirur-giões gerais souberam acompanhar e promover esta inova-ção e utilizam hoje, para além das técnicas de abordagemcirúrgica clássica, técnicas modernas, minimamente inva-sivas.
A palavra aos nossos novos especialistas
“Quando era pequena,gostava de brincar comomédica e enfermeira”
Angélica Calandula InternistaHospital Militar Principal
Fiz a minha especialidade no hospital Militar Principal.Escolhi esta especialidade por gosto. Quando era pequena,brincava fingindo ser médica e enfermeira. Assim que ingres-sei no IMS, actual Escola de Formação de Técnicos de Saúdede Luanda, fiz a licenciatura em medicina. A medicina interna é de extrema importância porque analisa eaborda todos os órgãos do paciente sem os particularizar paraque se restabeleça a saúde do mesmo. A medicina internaaborda o doente no seu todo, mas, pode-se recorrer ao auxíliode uma outra especialidade quando for necessário, para se as-sistir qualquer paciente. Por exemplo, para a substituição deum rim, deve-se, obrigatoriamente, chamar um nefrologista.
O que é a medicina internaA medicina interna centra a sua abordagem na avaliação ecompreensão do doente como um todo, estudando as intera-ções entre os vários órgãos e sistemas. É uma especialidadepredominantemente hospitalar, abrangendo a patologia doadolescente e do adulto.Dado englobar as patologias dos vários órgãos e sistemas, amedicina interna constitui o pilar clínico de qualquer unidadehospitalar, uma vez que tem a capacidade de "gerir" o doenteinternado, e de se articular com as outras especialidades.Esta "gestão" clínica é exercida pelo Internista, em qualquerárea do hospital: serviço de urgência, internamento, cuidadosintensivos e consulta externa.Dada a sua formação abrangente, os especialistas de medici-na interna dedicam-se, não só à prevenção, mas também aodiagnóstico e tratamento de situações não cirúrgicas, bem co-mo situações críticas onde a falha de vários órgãos domina.Estes últimos são os doentes de cuidados intensivos onde osinternistas com subespecialidade de medicina intensiva exer-cem a sua atividade.Em paralelo com as situações emergentes, a medicina internaestende a sua atividade aos cuidados paliativos em doentescom doença crónica.
Paixão em devolver o sorriso às crianças e famílias
Pedro Paxi Cirurgião PediatraHospital Neves Bendinha
Fiz a especialidade de cirurgia pediátrica no hospital Pediá-trico de Luanda David Benardino.A cirurgia pediátrica trata da correcção de más formaçõescongénitas que surgem em crianças à nascença.Escolhi esta especialidade, em primeiro lugar, por paixão.Em segundo, por carência de médicos nesta área, e em ter-ceiro por ser nova e por ver frequentemente muitas criançasa serem observadas por cirurgiões gerais que não são espe-cialistas e não conhecem as patologias congénitas. A cirurgia pediátrica para Angola tem bastante importânciaporque contribui para evitar muitas mortes prematuras.Devolve o sorriso às crianças e às suas famílias, em momen-tos difíceis, que poderiam ser trágicos…
O que é a cirurgia pediátricaA cirurgia pediátrica dedica-se ao tratamento cirúrgico dedoenças, lesões ou deformidades de várias partes do corpona criança. Engloba a maior parte das doenças cirúrgicas dacriança nas várias fases do seu desenvolvimento, desde o re-cém-nascido até ao adolescente. Os especialistas abordam áreas como a cirurgia de correçãodas malformações congénitas do recém-nascido, a criançae adolescente vítima de trauma e outras situações, como tu-mores benignos ou malignos, complicações infeciosas oucomplicações resultantes de mau funcionamento de um ór-gão ou conjunto de órgãos.
9INVESTIGAÇÃOJSA Junho/Julho 2017
Rotavírus e gastroenterite em crianças em África
nDe Agosto/2011 a Novem-bro/2012, foram colhidas 464amostras fecais de criançasmenores de 5 anos, com gas-troenterite aguda (GEA),atendidas em hospitais ecentros de saúde da ilha deSão Tomé (ST). O mesmo ti-po de amostras foi colhido,durante 2012/2013, ememergências pediátricas em4 províncias de Angola(Huambo, Luanda, Zaire eCabinda) (n=334). Num estudo transversal
autónomo, foram ainda co-lhidas 342 amostras no Hos-pital Geral do Bengo, Caxito,Angola, entre Setem-bro/2012 e Dezembro/2013.As amostras positivas paraRV (RV+) por ensaio imuno-cromatográfico rápido foramtipificadas para G e P por PCRmultiplex hemi-nested. Os genes VP4 e VP7 de um
subconjunto de amostras fo-ram sequenciados para aná-lise filogenética. A taxa de de-teção de RV foi de 30%
(203/676) e 37% (172/464)nas amostras de Angola e ST,respetivamente. Em Angola, G1 foi o tipo G
mais comum (84%), enquan-to P [8] (50%) e P [6] (36%) fo-ram os tipos P mais frequen-tes. A combinação G1P [8] foi
identificada em 49% dasamostras RV+, enquanto G1P[6] representou 29% e G2P [4]8%. Outros genótipos, comoG8P [6], G12P [6] e G9P [6], fo-ram identificados, mas comfrequências muito baixas (1-4%). Em ST, os genótipos G8P
[6] e G2P [4] foram identifica-dos em 38% e 44% das amos-tras RV+. Porém, G8P [6], de-tetado em 71% das amostrasem 2011, constituindo assima estirpe dominante nos pri-meiros 5 meses de estudo, foimaioritariamente substituí-
do, em 2012, por G2P [4], cujaprevalência superou 93%. Denota que o genótipo G1P [8],dominante à escala global, te-ve aqui uma representativi-dade marginal (4%). Estes estudos, realizados
em Angola e São Tomé, antesda introdução da vacina noprograma nacional de vaci-nação, revelaram uma altaprevalência de infeção porRV, bem como a circulaçãode uma grande diversidadede genótipos virais.
Instituições 1GHTM, Instituto de Hi-
giene e Medicina Tropical, Universi-
dade NOVA de Lisboa, Portugal; 2
Div. of Molecular Virology, Dep. of
Clinical and Experimental Medicine,
Linköping University, Suécia; 3 Cen-
tro de Investigação em Saúde de An-
gola; 4Direção Nacional de Saúde
Pública, Angola; 5Instituto Marquês
de Valle Flôr e Ministério da Saúde,
São Tomé e Príncipe; 6 Centro de In-
vestigação em Saúde de Angola, Es-
cola Superior de Tecnologia da Saú-
de de Lisboa, Portugal
Alta prevalência em Angola, antes da introdução da vacina
Cláudia istrate1; J. Piedade1;
J. nordgren2; C. gasParinho3;
F. Fortes4; e. neVes5; M. Brito6;
a. esteVes1
A infeção por rotavírus (RV) é
considerada a causa principal
de diarreia moderada a grave
em crianças menores de 5
anos em países em desenvol-
vimento.
Água e saneamento: implicações socioculturais e de saúde pública José Manuel Pereira Vieira
Professor Catedrático da universidade do
Minho Presidente da Feani – Federação
europeia das associações nacionais de en-
genharia
n A estreita relação da saúdee bem-estar das comunida-des com o acesso a água se-gura para consumo huma-no e com eficazes sistemasde saneamento constituium factor determinante pa-ra o desenvolvimento eco-nómico e social da socieda-de.
Durante muito tempo não sereconheceu que muitas dasepidemias registadas ao lon-go da história da humanida-de (a primeira epidemia re-gistada no Egipto remonta a3180 AC) eram causadas pelaágua. O conhecimento, em-piricamente pressentido oucientificamente comprova-do, da íntima conexão deágua afectada por contami-nação fecal com a transmis-são de doenças, tem induzi-
do a uma constante procurade tecnologias para o abaste-cimento de água segura parao seu consumo. Os grandes desenvolvi-
mentos científicos registadosnos séculos XIX e XX, princi-palmente os relacionadoscom avanços na medicina enas ciências microbiológicas,que identificaram e isolarammicrorganismos patogéni-cos, as suas rotas de trans-missão e os efeitos na saúdehumana, foram determinan-tes para as inovações tecno-lógicas e as alterações radi-cais no enfrentamento do fla-gelo das epidemias deorigem e veiculação hídrica. Com a introdução da de-
sinfecção em sistemas públi-cos de abastecimento daágua destinada ao consumohumano, no final do séculoXIX, reduziu-se considera-velmente a propagação dacólera e da febre tifóide,abrindo-se caminho para odesenvolvimento de tecnolo-gias de tratamento de água e
para a adopção de políticassanitárias e sociais que cons-tituíram avanços civilizacio-nais formidáveis.
Esgotos sem tratamentoNo entanto, apesar destasinovações, as epidemias dedoenças transmitidas pela
água continuam na actuali-dade, em parte porque, emcontraste com o abasteci-mento de água, pouca aten-ção tem sido dada a garantiradequados sistemas de dre-nagem e tratamento de esgo-tos, os quais estão directa-mente relacionadas com a
saúde pública como fonte decontaminação. Esta é a razão por que,
aprendendo com o passado,devemos aproveitar os novosavanços científicos na desco-berta de microrganismos pa-togénicos e na caracterizaçãode emergentes e re-emer-gentes doenças veiculadaspela água. O reconhecimento, em
2010, pela Assembleia Geraldas Nações Unidas, da águapotável segura e o saneamen-to adequado como um direi-to humano essencial para go-zar plenamente a vida e todosos outros direitos humanos,constituiu um acto político deelevado significado estratégi-co, contribuindo, decisiva-mente, para um novo impul-so a nível mundial para ga-rantir o acesso universal aestes serviços fundamentais.Este acontecimento, aliadoao compromisso político es-tabelecido nos “ODM - Ob-jectivos de Desenvolvimentodo Milénio” determinou, por
parte de governos e institui-ções internacionais, investi-mentos assinaláveis na cons-trução e manutenção de sis-temas infra-estruturais deabastecimento de água e sa-neamento. Ao concluir-se, em 2015, o
prazo estabelecido para osODM, pode fazer-se um ba-lanço geral muito positivo so-bre os avanços civilizacionaisconseguidos no combate àpobreza e na melhoria dasaúde e bem-estar das popu-lações. No entanto, apesardos enormes progressos ha-vidos, continuam a registar-se grandes assimetrias tantoregionais como nacionaisque se materializam nos nú-meros impressionantes de663 milhões de pessoas semacesso a água potável segurae de 2,4 mil milhões de pes-soas sem acesso a sistemasde saneamento adequado,com todas as suas implica-ções negativas em termos so-ciais, económicos e de saúdepública.
11SAÚDE MENTALJSA Junho/Julho 2017
CONFERÊNCIA
Bullying – Agressividade em contexto escolar
n A prática do bullying provo-ca um grande mal-estar nascrianças, acarretando conse-quências nefastas durante ajuventude, visto que originatranstornos de personalidadecom impacto ao nível da pro-jecção social que se manifes-tam na forma de comunicar ede lidar com as pessoas, in-clusive a tentativa de suicídioiminente em determinadassituações. Acresce que, com a glo-
balização, tem surgido cadavez mais o bullying ciberné-tico nas redes sociais, mani-festado através de fotogra-fias, injúrias e outros co-mentários. Com vista à sua análise e
debate – por profissionais desaúde, técnicos e professores– a Direcção Nacional de Saú-de Pública / Ministério daSaúde perspectiva a realiza-ção, em Outubro, de umaconferência de elevada im-
portância a actualidade sobreo bullying no contexto esco-lar. A oradora principal é aprofessora Luísa Carrilho,doutorada em psicologia pe-la Faculdade de Psicologia eCiências da Educação daUniversidade do Porto, mes-tre em Psicopatologia e Psi-cologia Clínica pelo InstitutoSuperior de Psicologia Apli-cada de Lisboa, especialistapela Ordem dos PsicólogosPortugueses em psicologiada educação, psicologia clí-nica e da saúde, psicoterapiae psicologia da Justiça.
DESTINATÁRIOS-Clínicos gerais-Encarregados de educação-Enfermeiros-Farmacêuticos-Jornalistas-Pais-Professores-Psicólogos-Psiquiatras-Responsáveis públicos-TécnicosInscrições através do e-mail: [email protected] Massoxi VigárioDNSP / Programa Nacional de Saúde Mental e Abuso de Substâncias
10 INVESTIGAÇÃO Junho/Julho 2017 JSA
Combate à tuberculose e VIH em África –o que sabemos e o que não sabemos
nSendo limitadas as opçõesterapêuticas nestes casos eespecialmente em casos detuberculose extensivamenteresistente (XDR-TB), onde obacilo é também resistenteaos anti bacilares de segundalinha, quinolonas e aminogli-cosídeos, existe hoje uma ur-gente necessidade de inter-romper este ciclo vicioso deaquisição de resistências aopequeno arsenal terapêuticodisponível para combater atuberculose. Os programas nacionais
de luta contra a tuberculose,os programas de distribuiçãoe toma direta observada dosmedicamentos anti tubercu-
lose e o laboratório de mico-bacteriologia desempenhamhoje um papel primordial nocontrolo e prevenção da tu-berculose e em particular dassuas variantes resistentes àterapêutica, sobretudo empaíses com elevada preva-lência de VIH, como os paí-ses africanos.
Conhecer a dinâmica epidemiológicaMas, para tal, é necessário
conhecer a dinâmica epide-miológica das estirpes infe-tantes e o seu perfil de resis-tências. Dado que, em Africa, a
maioria dos doentes com tu-
berculose procura o serviçode saúde quando a infeção éaguda e sintomática, muitasvezes bacilífera, é necessárioobter em tempo útil a maio-ria dos exames complemen-tares de diagnóstico necessá-rios à confirmação da suspei-ta clínica, com base nos quaisse instituirá a terapia antibió-tica convencionada por dife-rentes organizações médicasinternacionais sob a coorde-nação dos programas nacio-nais de controlo e sobretudosaber se se trata de um casode MDR ou XDRTB.
Programas de controle de tuberculose e VIHAqui urge saber, conhecer ecombinar a informação dosprogramas de controlo de tu-berculose e VIH e de umapoio laboratorial eficaz e efi-ciente. Só através de uma in-terligação plena entre os pro-gramas de controlo, dos da-dos laboratoriais eepidemiológicos com umaacção clínica eficaz e um pro-grama de toma direta obser-vada eficiente, pode-se evitaro desenvolvimento de novasresistências e a transmissãode estirpes ainda mais resis-tentes motivada por opçõesterapêuticas inadequadas. Acapacidade técnica para de-terminar com precisão a re-sistência de cada estirpe deM.tuberculosis é essencial.
Só assim se poderá escolhero esquema terapêutico efeti-vo na eliminação da doençae prevenir a transmissão debacilos resistentes e assimcontrolar a propagação destadoença que nos acompanhadesde as origens da civiliza-ção humana e que agora ad-quire novas formas mais difí-ceis de controlar e que é hojeum dos pilares de interven-ção do Programa END-TB(2015-2035) da OMS.
mIguel VIVeIros
unidade de microbiologia médica, global
health and tropical medicine, Instituto de hi-
giene e medicina tropical, universidade No-
va de lisboa (Ihmt/uNl)
Sabemos que, em todo o
mundo, e em particular em
Africa, a epidemia e pande-
mia de tuberculose caracteri-
zada por uma intima associa-
ção à coinfecção pelo VIH, e é
hoje complementada pelo
alarmante aparecimento e
disseminação de estirpes de
M. tuberculosis multi-resis-
tentes (MDR-TB), resistentes
aos dois antibacilares mais
poderosos, a isoniazida e a ri-
fampicina.
As parasitoses intestinais oportunistas em Moçambique
Autor Augusto José NhAbombA
Centro de Investigação em saúde de ma-
nhiça, moçambique
n As parasitoses intestinaisoportunistas contribuempara a morbidade e morta-lidade significativas dos in-divíduos imunocompro-metidos. No geral, as infe-ções oportunistas sãocausadas por organismosoriginalmente reconheci-dos como patogénicos ape-nas quando a resistência dohospedeiro é enfraquecidapor diferentes factores am-bientais e naturais, poden-do não causar alteraçõespatológicas graves em indi-víduos imunocompetentes.
O fardo das infeções opor-tunistas está associado àsduas principais causas de de-pressão imunológica: desnu-trição e HIV / AIDS. No entan-to, a epidemiologia e os resul-tados da infeção oportunistatêm sido muito afetados pelasinfeções VIH / SIDA. Após mais de 30 anos da
epidemia do vírus da imuno-deficiência humana (HIV), osparasitas têm sido uma dasinfeções oportunistas maiscomuns e uma das causasmais frequentes de morbida-de e mortalidade associadasaos pacientes infetados peloHIV. Em Moçambique, estima-
se que as taxas de co-infeçõespor HIV e de parasitose opor-tunista intestinal sejam eleva-das. No entanto, existem pou-cos relatos sobre a associaçãode parasitose oportunista in-testinal em indivíduos infeta-dos pelo HIV com imunossu-pressão. As principais parasi-toses intestinais oportunistasrelatadas em Moçambiquesão limitadas em termos glo-bais por fraca capacidade dediagnóstico, mas incluem:Cryptosporidium parvum,Isospora belli, Entamoebahistolytica, Giardia lamblia,Toxoplasma gondii. Strongy-loide stercoralis é o principalparasita helminta oportunis-ta que causa envolvimento
sistémico relatado em pa-cientes infetados pelo HIV.
Clinicamente estas infe-
ções parasitárias oportunis-tas intestinais apresentamcomo diarreia aguda e cróni-
ca, como sua característicaprincipal. Sendo diarreia, oprincipal marcador de infe-ções intestinais parasitáriasoportunistas em imunocom-prometidos, é relatado queocorrem na maioria de pa-cientes HIV/AIDS em Mo-çambique. A prevalência deinfeção por parasitas oportu-nistas intestinais e diarreia ésignificativamente maior en-tre indivíduos HIV positivoscom contagens de CD4 + in-feriores a 200 células /uL. Aredução das infeções não es-tá associada ao tratamentoantirretroviral para o VIH / SI-DA, mas sim com o aumentodo estado imunológico dodoente.
Decorreu recentemente no
Instituto de Higiene e Medi-
cina Tropical, em Lisboa, o 1º
Encontro Lusófono de Sida,
Tuberculose e doenças
oportunistas, em simultâ-
neo com o 4º Congresso de
Medicina Tropical.
O Jornal da Saúde de Angola
acompanhou o evento e re-
produz, a seguir, alguns resu-
mos de comunicações que,
pela sua actualidade e perti-
nência, interessam certa-
mente aos nossos profissio-
nais de saúde que não pude-
ram participar.
1º EncontroLusófono de Sida, Tuberculosee DoençasOportunistas
“Só através de uma interligação plena entre os programas de controlo, dos dadoslaboratoriais e epidemiológicos com uma acção clínica eficaz e um programa de toma direta observada eficiente, pode-se evitar o desenvolvimento de novas resistências e a transmissão de estirpes ainda mais resistentes motivadapor opções terapêuticas inadequadas”
12 formAção Junho/Julho 2017 JSA
IHMT-UNL com candidaturas abertas para mestrados e doutoramentos
nEncontram-se abertas ascandidaturas aos mestradose doutoramentos do Institutode Higiene e Medicina Tropi-cal da Universidade Nova deLisboa (IHMT-UNL). OIHMT-UNL oferece progra-mas de mestrado e de douto-ramento com especificidadesúnicas em Portugal e no espa-ço lusófono e aposta forte-mente na oferta de formaçãonão presencial.O Instituto é reconhecido,
a nível internacional, pela suahistória mas também pelaqualidade científica do ensi-no pós-graduado, investiga-ção e contributo na coopera-ção para o desenvolvimentoda saúde nos PALOP e Timor-Leste. Fique a conhecer a oferta for-mativa do IHMT-UNL:MESTRADO EM CIÊNCIASBIOMÉDICAS Principais benefícios:+ Permite desenvolver com-petências na área da preven-ção e diagnóstico de doençasglobais com o auxílio de no-
vas abordagens biomédicas;+ Contribui para uma visãointegrada da ligação funcio-nal entre o laboratório dediagnóstico microbiológico,a prática clínica e decisão te-rapêutica.
MESTRADO EM SAÚDEPÚBLICA E DESENVOLVIMENTOPrincipais benefícios:+ Capacita para a gestão efi-ciente de instituições e deprojetos em saúde;+ Habilita à implementaçãode soluções adequadas que
visam medir, vigiar e avaliar oestado de saúde das popula-ções.
MESTRADO EM PARASITOLOGIA MÉDICAPrincipais benefícios:+ Capacita para o desenvolvi-mento de investigação funda-mental e translacional nasáreas da genética, imunologiae coevolução dos agentesetiológicos e vetores dasdoenças parasitárias e arbo-víricas;+ Permite integrar redes deinvestigação nacionais ou in-
ternacionais, agências gover-namentais, ONG e indústria.
MESTRADO EM ESTATÍSTICA PARA A SAÚDEPrincipais benefícios:+ Permite adquirir compe-tências práticas necessáriaspara aplicar os métodos esta-tísticos mais comumente uti-lizados na área das ciênciasda saúde;+ Concede a oportunidade deestudar num ambiente de in-vestigação muito rico e varia-do, onde os diversos tipos de
estudos e análises de dadosvão poder ser utilizados paramelhorar a saúde e a qualida-de dos cuidados de saúde daspopulações.Em regime de eLearning
MESTRADO EM SAÚDE TROPICALPrincipais benefícios:+ Permite o conhecimentoteórico e prático das patolo-gias e grandes questões daSaúde e Medicina Tropicais;+ Permite a aprendizagem demétodos de investigação epi-demiológicos e laboratoriais.
DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Principais benefícios:+ Capacita para a formulação,implementação e análise crí-tica de projetos de investiga-ção a nível internacional;+ Possibilita a especializaçãoe o desenvolvimento de com-petências de investigação nasáreas de Parasitologia e Mi-crobiologia.
DOUTORAMENTO EM GENÉTICA HUMANA E DOENÇAS INFECIOSASPrincipais benefícios:+ Permite a consolidação decompetências nas compo-nentes de Genética, Biologia
Molecular e Celular e Doen-ças Infeciosas;+ Possibilita desenvolver tra-balho ou investigação na áreaemergente da Medicina Per-sonalizada. Em colaboração com NOVAMedical School/Faculdadede Ciências Médicas
DOUTORAMENTO EM DOENÇAS TROPICAISE SAÚDE GLOBALPrincipais benefícios:+ Consolida as competênciasnas diferentes componentesdas Doenças Tropicais e Saú-de Global, com padrões inter-nacionais de qualidade;+ Possibilita a mobilidade e otrabalho em rede. Em colaboração com Funda-ção Oswaldo Cruz, no Brasil.
DOUTORAMENTO EM SAÚDE INTERNACIONALPrincipais benefícios:+ Oportunidade para traba-lhar com organizações inter-nacionais e de saúde pública;+ Fornece capacidades de in-vestigação autónoma na áreada saúde internacional.
Para mais informações:www.ihmt.unl.pt [email protected] +351 213 652 600
O Instituto oferece progra-
mas de mestrado e de douto-
ramento com especificidades
únicas no espaço lusófono e
aposta fortemente na forma-
ção não presencial
Nestlé promove palestra
Alimentação infantil em debate
Francisco cosme dos santos
n A Nestlé Angola promo-veu, em Julho, em Luanda,uma palestra sobre o papelda proteína na promoçãoda saúde a longo prazo, oca-sião em que também lançouuma nova receita de fórmu-las infantis, o Optipro.
A palestrante do hospital doKilamba Kiaxi, Silvina Ma-nuel, sublinhou a importân-cia das proteínas dado cons-tituir um nutriente essencialpara o corpo humano res-ponsável pelo crescimento,manutenção e reparação dosórgãos, tecidos e células doorganismo. Explicou que as
proteínas são constituídaspor unidades mais pequenasdenominadas aminoácidos.Estes podem ser aminoáci-dos não essenciais, quando onosso organismo é capaz deproduzi-los, ou aminoácidosessenciais que têm que serfornecidos pela alimentaçãojá que o nosso organismo nãoos sintetiza. Para que a crian-ça evolua para um adultosaudável necessita de ingerirdiariamente uma dose equi-librada de proteínas, de ori-gem vegetal e animal.Afirmou que a proteína
ideal é a proveniente do leitematerno – o alimento exclusi-vo da criança nos primeirosseis meses de vida, sem a in-trodução de outros alimen-
tos, inclusive a água. Após oso 6º mês pode dar-se gradual-mente alimentos que contémproteínas como ovo e outrosque são consumidos pela fa-mília. A ingestão excessiva de
proteína na idade pré-escolar(4 anos) está associada amaior índice de massa corpo-ral aos 7 anos de idade. Nosrapazes, uma maior ingestãoproteica associa-se ainda amaior adiposidade (gorduracorporal) e a níveis superioresde insulina. Assegurou que não é
aconselhável dar leite de vacaa crianças menores de umano, porque contém elemen-tos prejudiciais ao crescimen-to e faz com que ganhe peso
excessivo em pouco tempo,enquanto que o leite maternopossibilita que a criança du-plique o seu peso, a partir do5º mês de vida.O evento contou com a
presença de mais de 170 par-ticipantes, entre os quais téc-nicos de pediatria, puericul-tura, consultas pré-natal, far-macêuticos e representantesde várias unidades de saúdeda capital.
Simpósio sobre amamentaçãoEm Agosto, o Instituto NestléNutrição para África organi-za, em Luanda, um simpósiocientífico sobre amamenta-ção para cerca de 200 profis-sionais de saúde, sob o lema“Aleitamento materno: juntospara o bem comum”. De acor-do com comunicado recebi-do da organização “a discus-são pretende ampliar a cons-
cientização, defenderá o su-cesso da amamentação e pre-tende melhorar a taxa deamamentação do país”. A“nutrição materna e infantildurante os primeiros 1000dias, da gravidez até à idadede dois anos, será outro tópi-co a discutir, com as informa-ções mais recentes sobre vá-rios aspectos da nutrição pre-coce, resultados de saúde eprobióticos no leite humanocomo factor chave para pro-teção dos bebés contra infec-ções e alergias”.O encontro está a ser orga-
nizado em colaboração coma neonatalogista, Elisa Gas-par, a nutricionista EvalinaCandumba e a pediatra, Lilia-na Aragão.
Os participantes lotaram o auditório
13SAÚDE DA MULHERJSA Junho/Julho 2017
Dia Mundial da População alerta para acesso a métodos seguros de contraceptivos
nLuís Sambo disse tambémque o planeamento familiarpossibilita às pessoas fazeremescolhas informadas sobre asaúde sexual e reprodutiva, epossibilita às mulheres adqui-rirem conhecimentos para seprotegerem melhor contra asdoenças sexualmente trans-missíveis, incluindo o VIH/SI-DA. “O acesso ao planeamen-to familiar seguro e voluntáriocontribui para o bem-estardas mulheres e permite-lhesevitar as gravidezes indeseja-das, abortos inseguros e ajudaa reduzir os riscos de saúde”,garantiu.Referiu ainda que o tema
deste ano tem um particularsignificado para o Ministérioda Saúde porque foca-se nu-ma temática de grande im-portância que é a redução damortalidade materna.Para o ministro da Saúde, a
efeméride permitiu que hou-vesse um grande espaço dedebate que possibilitou reteralguns factos relevantes quedevem ser levados em consi-deração pelo Executivo, e peloMinistério da Saúde em parti-cular, para se melhorar o aces-so do planeamento familiar edar uma boa assistência desaúde para as mulheres.Relembrando o censo da
população e os indicadoresmúltiplos de saúde – que sãode extrema importância paraa definição de políticas e estra-tégias para que se garanta oacesso universal ao planea-mento familiar nas áreas pe-riurbanas e rurais – o ministrodisse que Angola conta ac-tualmente com uma popula-ção estimada em 26 milhõesde habitantes e uma taxa fe-cundidade de 6,2 filhos pormulher.Acrescentou ainda que, se-
gundo projecções estatísticas,a população total de Angolaaumentará cerca de 19% até2034, e atingirá o dobro em2050.De acordo com os estudos
SPMS, cerca de 48% da popu-lação casa ou vive em uniãode facto, antes dos 18 anos, e34% das adolescentes, entreos 15 e os 19 anos de idade, jáengravidaram pela primeiravez, facto que demonstra queas raparigas se tornam mãesprecocemente com todos osriscos possíveis sobre tudo osde saúde. Disse ainda que o Executi-
vo angolano, conjuntamentecom os outros sectores, rela-cionados com a componentedo planeamento familiar, temdesenvolvido várias acções vi-sando o melhoramento dasaúde da mulher e a reduçãoda mortalidade materna e in-fantil.
Planeamento familiar salva vidasA Representante do Fundodas Nações Unidas para a Po-pulação (UNFPA, conhecidotambém pela sigla FNUAP)em Angola, Florbela Fernan-des, lembrou no acto que, nodia 11 de Julho de 1987, a po-pulação mundial tinha alcan-çou a cifra de 5 mil milhões depessoas, e que esse marco his-tórico motivou a Organização
das Nações Unidas(ONU) acriar, dois anos depois, o DiaMundial da População.Afirmou que, actualmente,
a população mundial é esti-mada em cerca de 7,6 mil mi-lhões de pessoas, pelo que acelebração desta data serve dechamada de atenção para aimportância das questões po-pulacionais e o desenvolvi-mento sustentável.Garantiu que 214 milhões
de mulheres em países emdesenvolvimento carecem demétodos de planeamento fa-miliar seguros e eficazes, e quea resolução deste problemasalvaria muitas vidas, evitaria66 milhões de gravidezes nãoplaneadas e reduziria cerca de303 mil mortes maternasanuais. Acresceu que o tema deste
ano destaca a importância do
acesso a métodos seguros decontracepção para a saúde e obem-estar das gerações pre-sentes e futuras. Para a res-ponsável, é indispensávelprestar uma especial atençãoàs necessidades cívicas dos jo-vens, particularmente das ra-
parigas adolescentes, dadoque as complicações na gravi-dez e parto são a principalcausa de mortes das mulheresentre os 10 aos 19 anos de ida-de. A responsável disse tam-
bém que existem milhares dejovens em idade reprodutivaque carecem de conhecimen-tos, habilidades e serviços pa-ra fazerem escolhas informa-das sobre a sexualidade e con-tracepção, e que as suasnecessidades e direitos de-vem ser abordados com ur-gência pelas autoridades.
Mulheres mais produtivasSegundo Florbela Fernandes,todos os dias surgem muitasmulheres em situação de vul-nerabilidade, especialmenteas mais pobres e refugiadasque enfrentam obstáculos so-
ciais, económicos e geográfi-cos, para terem acesso a infor-mações e aos serviços de pla-neamento familiar.Salientou que os cuidados
com a saúde reprodutiva in-cluindo o planeamento fami-liar voluntário, geram impac-tos positivos nas economiasglobais. E frisou que um siste-ma de saúde efectivo contri-bui para as mulheres concluí-rem os seus estudos, unirem-se numa força de trabalho,serem mais produtivas emseus empregos, ganharem sa-lários mais altos, aumentaremas suas economias, os seus in-vestimentos e contribuírempara o desenvolvimento dassuas nações.Realçou que, além de fun-
damental para a estabilidadede igualdade do género e oenquadramento da mulher, oplaneamento familiar reduz amortalidade materna e infan-til e constitui um factor econó-mico considerável na reduçãoda pobreza. Apelou para a in-tensificação dos esforços e amobilização de recursos parao acesso a saúde sexual e re-produtiva incluindo o planea-mento familiar voluntário. Disse ainda que o UNFPA
estabeleceu uma meta ambi-ciosa e transformadora paraeliminar as demandas insatis-fatórias do planeamento fa-miliar até 2030. Nesta celebra-ção do Dia Mundial da Popu-lação enfatiza amaterialização das contribui-ções e dos apoios dos gover-nos, e de todas as entidadescolectivas e singulares para oalcance desta meta. Chamou a atenção aos 179
governos que assinaram eaprovaram o programa de ac-ção da Conferência Interna-cional no Cairo (Egipto), paraa população e desenvolvi-mento da população em1994, a cumprirem o compro-misso do acesso a saúde se-xual e reprodutiva e do pla-neamento familiar voluntário. A UNFPA em Angola é o
principal fornecedor de con-traceptivos, tem apoiado a es-tratégia do planeamento fa-miliar, as acções direcciona-das para a promoção dasaúde materna, a criação demais serviços de saúde e a de-fesa do bem-estar para osadolescentes e jovens.
Francisco cosme dos santos
“A promoção do planeamen-
to familiar e a garantia do
acesso a métodos contracep-
tivos modernos é essencial
para que se assegure o bem-
estar e a autonomia das famí-
lias e o impacto da redução
da pobreza”. A afirmação é
do ministro da Saúde, Luís
Gomes Sambo, no Dia Mun-
dial da População celebrado
este mês de Julho, em Luan-
da.
“O acesso ao planeamento familiarseguro e voluntário contribui para o bem-estar das mulheres e permite-lhes evitar as gravidezes indesejadas, abortos inseguros e ajuda a reduzir os riscos de saúde”Luís Gomes Sambo
Florbela Fernandes Cerca de 214
milhões de mulheres em países em
desenvolvimento carecem de méto-
dos de planeamento familiar seguros
e eficazes. A resolução deste proble-
ma salvaria muitas vidas, evitaria 66
milhões de gravidezes não planeadas
e reduziria cerca de 303 mil mortes
maternas anuais
14 EXERCÍCIO FÍSICO Junho/Julho 2017 JSA
Aplicações de telemóvel que contam os passos deram pistas sobre obesidade
nUm grupo de investigado-res da Universidade de Stan-ford (nos EUA) analisou ospadrões de actividade físicade 717 mil pessoas que pos-suem nos seus smartphonesaplicações que contabilizamos passos diários. A investiga-ção contou com dados reco-lhidos de indivíduos em 111países. Os investigadores analisa-
ram indicadores como a ida-de, género, peso e altura – decada um dos indivíduos –através da aplicação de activi-dade física Azumiu Argus,durante um período de 95dias. Através do cálculo entreo peso e a altura, foi possívelobter o índice de massa cor-poral de cada individuo e es-tabelecer uma relação entre onível de actividade física e aprevalência de obesidade.Apesar de incluir dados de
111 países, a equipa centrou aanálise em apenas 46 países.
Bastam duas semanas de inactividade física para reduzir massa muscularO estudo conclui que nos paí-ses em que as pessoas andamaproximadamente o mesmotempo (ou dão o mesmo nú-mero de passos diários) os ní-
veis de obesidade são meno-res. Por outro lado, nos paísesem que esta diferença é maior(ou seja, a quantidade de ac-tividade física entre indiví-duos é muito variável), os ní-veis de obesidade tendem aaumentar.A equipa de Stanford ape-
lidou esta tendência como“desigualdade de actividade”– quanto maior for a diferença
entre as pessoas mais activase as mais sedentárias, os ní-veis de obesidade daquelepaís tendem a ser mais eleva-dos. De acordo com este estu-do, o Japão, é o país que regis-ta maior número de passosdiários com 6000. À BBC, Scott Delp, um dos
investigadores afirmou que“este estudo é 1000 vezesmaior do que anteriores rela-
tivos ao movimento huma-no”. E o que diferencia este es-tudo dos restantes? Para ScottDelp um dos principais pon-tos distintivos é o "rastrea-mento contínuo da activida-de dos indivíduos". Para exemplificar a “desi-
gualdade de actividade” osinvestigadores de Stanforddão o exemplo da Suécia. “ASuécia possui um dos níveismais pequenos de desigual-dade de actividade física”, de-clarou Tim Althoff, um dos in-
vestigadores do estudo eprincipal autor do artigo pu-blicado na Nature. O facto dea Suécia apresentar um dosmenores níveis de desigual-dade de actividade física, fazcom que tenha um dos me-nores níveis de obesidade doconjunto de países analisa-dos.
Cidades amigas dos pedestresPara os investigadores, umdos factores que terá influên-cia na actividade física daspessoas é a forma como a ci-dade onde vivem está organi-zada. Para Jennifer Hicks,uma das investigadoras, as ci-dades mais “amigas” dos pe-destres, registaram um me-nor número de “desigualda-de de actividade”. “Nascidades que são mais acessí-veis para caminhar, todos [osindivíduos] tendem a darmais passos diários” inde-pendentemente do género,idade ou do peso, destacou ainvestigadora.Para Scott Delp, este estu-
do apoiado em dados forne-cidos por uma aplicação deum telemóvel “abre portaspara novas formas de fazerciência” a uma escala maisampla.
Investigadores norte-ameri-
canos usaram dados de mais
de 700 mil utilizadores de 111
países que têm apps para
contar os passos para estabe-
lecer uma relação com a obe-
sidade. O estudo foi publica-
do este mês na revista cientí-
fica Nature.
Caminhar uma hora por dia apaga riscos de estar sentado oito horas n A inactividade física está li-gada a um risco aumentadode doença cardíaca, diabetese alguns cancros e é associa-da a mais de cinco milhõesde mortes por ano.
Caminhar ou pedalar umahora por dia anula os riscospara a saúde de estar oito ho-ras sentado, revelaram umasérie de estudos que estimamem 67,5 mil milhões de dóla-res o custo global da inactivi-dade física. Divulgada pela re-vista The Lancet, a série dequatro estudos científicosconclui que foi parco o pro-gresso no combate à inactivi-dade física e hoje um quartodos adultos e 80% dos adoles-centes não cumprem as reco-mendações da OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS).No primeiro estudo a cal-
cular o peso económico globalda inactividade física, os inves-
tigadores estimam que os cus-tos desta epidemia - em cuida-dos de saúde e em perda deprodutividade - sejam pelomenos de 67,5 mil milhões dedólares, o equivalente ao Pro-duto Interno Bruto da CostaRica em 2013. A inactividadefísica está ligada a um risco au-mentado de doença cardíaca,diabetes e alguns cancros e es-tá associada a mais de cincomilhões de mortes por ano.Numa análise de 16 estu-
dos científicos que acompa-nharam mais de um milhãode pessoas ao longo de perío-dos entre dois e 18 anos, os in-vestigadores concluíram quefazer pelo menos uma hora deactividade física por dia - co-mo caminhar depressa ou an-dar de bicicleta por prazer -pode eliminar o risco acresci-do de morte associado a estarsentado durante oito horasdiárias.
"Tem havido muita preo-cupação com os riscos para asaúde associados aos actuaisestilos de vida mais sedentá-rios. A nossa mensagem é po-sitiva: é possível reduzir - ouaté eliminar - estes riscos seformos suficientemente acti-vos, mesmo sem ter de fazerdesporto ou ir ao ginásio", dis-se o principal autor do estudo,Ulf Ekelund, da Escola Norue-
guesa das Ciências do Despor-to e da Universidade de Cam-bridge, no Reino Unido.Citado num comunicado
da revista The Lancet, o inves-tigador lembra que para mui-tas pessoas, que vão de trans-portes para o trabalho e têmempregos de escritório, "nãohá como escapar a estar senta-do por longos períodos"."Para essas pessoas em
particular, não podemos su-blinhar demasiado a impor-tância de fazer exercício, sejafazendo uma caminhada àhora do almoço, seja correndode manhã, seja indo de bici-cleta para o trabalho. Uma ho-ra de actividade física por dia éo ideal, mas se isso for impos-sível, pelo menos fazer algumexercício todos os dias ajuda areduzir o risco", afirmou.
Dos inactivos aos mais activosNo estudo, os investigadoresclassificaram as pessoas emquatro grupos de dimensõesiguais, de acordo com o seunível de actividade - menos decinco minutos por dia para osmenos activos e até 60 ou 75minutos diários para os maisactivos. As pessoas que esta-vam sentadas oito horas pordia mas eram fisicamente ac-tivas tinham muito menos ris-
co de morte do que as pessoasque passavam menos horassentadas mas eram menosactivas.O estudo sugere que a acti-
vidade física é particularmen-te importante, independente-mente do número de horasque passamos sentados. Defacto, o risco acrescido demorte associado a estar senta-do oito horas por dia foi elimi-nado nas pessoas que fizeramum mínimo de uma hora deactividade física por dia e omaior risco registou-se naspessoas que ficam sentadaspor maiores períodos e sãomais inactivas.As recomendações da
OMS apontam para um míni-mo de 150 minutos de activi-dade física por semana paraos adultos, o que fica muitoabaixo dos 60 a 75 minutosdiários identificados neste es-tudo.
“O estudo conclui que nos países em que as pessoas andam aproximadamente o mesmo tempo (ou dão o mesmo número de passos diários) os níveis de obesidade são menores. Por outro lado, nos países em que esta diferença é maior (ou seja, a quantidade de actividade física entre indivíduos é muito variável), os níveis de obesidade tendem a aumentar”
Os investigadores concluíram que fazer pelo menos uma hora de actividade física por dia - como
caminhar depressa ou andar de bicicleta - pode eliminar o risco acrescido de morte associado a
estar sentado durante oito horas diárias
A gestão do stress, revitalização, reconhecimento social, gestão
do peso, aparência, agilidade e força/resistência são alguns dos
factores motivacionais que levam os angolanos aos ginásios
15A FECHARJSA Junho/Julho 2017
Maternidades de Luanda passam a registar recém-nascidos
nO Governo lançou este mêsum programa que vai permi-tir o registo de nascimento decrianças em maternidades epostos de saúde com esseserviço, prevendo inicial-mente a instalação de 17pontos para o efeito emLuanda.O programa denominado"Nascer com o Registo", queconta com o apoio financeirode 16 milhões de euros daUnião Europeia, foi lançadona Maternidade LucréciaPaim.Para o secretário de Esta-
do da Saúde, Eleutério Hivi-likwa, “é importante que ospais façam o registo de nasci-mento das crianças logoapós o parto, porque garantea protecção dos seus direitos,o que permite o seu acessoaos serviços de educação, en-tre outros”, frisou.
O sistema nacional desaúde é uma porta de entra-da para que as famílias e a co-munidade consigam fazervaler os direitos das crianças.Eleutério Hivilikwa garan-
tiu que o Ministério da Saúdecontinuará a envidar esfor-ços para criar condições paraa instalação dos serviços deregisto civil nas unidades sa-nitárias, com serviços de ma-ternidade, de modo a conti-nuar a disseminar informa-ções às gestantes, durante asconsultas pré-natal e após oparto, sobre a importânciado registo de nascimento, pa-ra que as crianças tenham osseus direitos respeitados.“Esta iniciativa reforça o
papel que os hospitais po-dem desempenhar, a fim detomar o registo civil de nasci-mento universal e obter deinformações consistentes e
fundamentais para a formu-lação de políticas públicas,adequadas para melhoratendimento da populaçãoinfantil e para a garantia dodireito de cidadania de todasas crianças” concluiu.Segundo o diretor nacio-
nal dos Serviços de Registo eNotariado do Ministério daJustiça e Direitos Humanosde Angola, Claudino Filipe,está previsto o posterior alar-gamento deste serviço a todoo país, inicialmente com 10postos em cada uma das 17restantes províncias."A inovação desta unida-
de que temos aqui é que ospais levam logo consigo odocumento após fazerem oregisto do filho", disse esteresponsável, acrescentandoque o registo deverá ser rea-lizado em cerca de cinco mi-nutos.
Governo Provincial de Luanda eONUSIDA discutem mecanismos para impulsionar a luta contra o Sida
nO Director do ProgramaConjunto das Nações Uni-das para o combate aoVIH/Sida (ONUSIDA), emAngola, Michel Kouakou, foirecebido em audiência peloGovernador Provincial deLuanda, General HiginoCarneiro, a quem solicitouapoio pessoal para se impul-sionar o combate contra apandemia do Sida a níveldesta província.«Sendo Luanda uma das
maiores cidades africanas,com mais de 7 milhões dehabitantes, acreditamos quetodo o trabalho que aqui forfeito terá um grande impactocontra o Sida, a nivel nacio-nal», considerou MichelKouakou que aproveitoutambém a oportunidade pa-ra transmitir os melhores
cumprimentos do directorexecutivo do ONUSIDA, Mi-chel Sibidé.Por sua vez, o general Hi-
gino Carneiro assegurou queestá disponível a continuar atrabalhar conjuntamente onovo director do ONUSIDApara que os objectivos já pro-gramados para o combateao VIH/Sida sejam alcança-dos. «O nosso compromissomantém-se», salientou ele. Durante o encontro, Mi-
chel Kouakou sugeriu ainda
um maior envolvimento dosadministradores municipaise da sociedade civil angola-na na prevenção do VIH/Si-da. «Sabemos que a preva-lência do Sida em Angola ébaixa, mas este é o momentocerto para agirmos e evitarque a epidemia cresça, so-bretudo entre os jovens», su-blinhou.A audiência no Governo
da Província de Luanda ser-viu ainda para o ONUSIDAapresentar uma proposta desubscrição da «Declaraçãode Paris para o fim doVIH/Sida», uma iniciativadas Nações Unidas que pre-vê erradicar o Sida comoameaça de saúde pública,até ao ano 2030, em linhacom os Objetivos do Desen-volvimento Sustentável.
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