Download - Eu, smartphone, coluna publicada n'O Diário do Norte do Paraná

Transcript
Page 1: Eu, smartphone, coluna publicada n'O Diário do Norte do Paraná

O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ Domingo, 19 de abril de 2015 CULTURA D3

TAVARES

[email protected]

Sérgio Tavares

O smartphone conseguiu submeter seu criador. Não uma inteligência artificial, e sim uma superior. A consciência suprema para todas as questões, da teoria de Birkhoff à receita do quiche de queijo brie com tomate-cereja

Eu, smartphone uando eu era adolescente, perdi minha carteira. Foi terrível. Não por conta de alguma soma em di-nheiro (longe disso!), mas pelos do-

cumentos. A expedição, naquela época, podia levar meses, um ano. Tinha de agendar, mati-nar na fila, uma burocracia danada. Durante esse tempo, eu seria um forasteiro. Um indiví-duo ilegal em seu próprio país. Tive receio até de sair de casa. Hoje se tira a segunda via com a agilidade de alguns cliques. Perder a carteira já não é tão grave. O temor agora é perder o celular, o smartphone. Pois tudo (tudo mesmo!) está ali. Os contatos pessoais e os profissionais, os compromissos, as conversas, as fotos, as mú-sicas, os livros, o supermercado, o banco... O smartphone é a caixa-preta da vida. O aces-so para um mundo que se superpõe ao plano existencial que se entendia como realidade. Faz algum tempo, eu assistia a um programa, num canal de tevê fechada, que listava as 100 principais invenções da História. Era uma rela-ção em curso decrescente e, para meu total es-panto na época, o smartphone ficou em primei-ro lugar. Como poderia vencer o ultrassom, a pólvora, o televisor, a aeronave?, me questiona-va. Agora entendo. O smartphone é o maior,

pois conseguiu submeter seu criador. Não uma inteligência artificial, e sim uma superior. A consciência suprema para todas as questões, da teoria de Birkhoff à receita do quiche de queijo brie com tomate-cereja. Um exemplo latente desse domínio está num estudo da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos, que apontou que o uso do smartphone está tomando o tempo do sono. Ou seja, as pessoas estão deixando de dor-mir para não se exilarem do plano virtual. Óbvio que é um esforço inútil, já que é huma-namente insuportável não adormecer. Não obstante, segundo outra pesquisa da AG2 Pu-blicis Modem, 61% dos entrevistados correm de volta para o smartphone, em menos de um minuto após acordarem. Uma relação de total dependência, anteparada por um espe-lho no qual transluz o egoísmo e a solitude. Todos queremos uma vida moldada a nosso gosto, povoada somente por pessoas queridas e úteis, aptas a irem embora quando nos ape-tecer, ao toque de um comando. Algo que a so-ciedade comum não possibilita. O smartpho-ne, sim. Nesse dispositivo psicoativo, tudo parece/é permitido, inclusive burlar as leis de espaço e tempo. Você é capaz de estar em vários locais

ao mesmo instante, em fusos distintos, comum número inestimável de pessoas. Em trêssegundos: num cinema em Maringá, num bis-trô em Paris, numa praia nas ilhas Fiji. E maispresente que todos ao redor, na enorme maio-ria dos casos. Há vinte anos, você só podia estar num únicolugar. Há vinte anos, não existia celular e terum telefone residencial era supercaro e demo-roso. Caso precisasse pedir um livro empresta-do ou falar com um amigo, era necessário iraté a casa dele. Hoje todos estão sempre dispo-níveis. Tudo é urgente, emergencial, catastró-fico. Um minuto que a mensagem fica sem res-posta, o remetente está absolutamente certode que você teve um colapso, foi achado poruma bala perdida ou abduzido por extrater-restres. O escritor Isaac Asimov, em seus romances econtos de ficção científica, previu um futurodistópico governado pelas máquinas. Estamosnesse futuro, a distopia tornou-se agravo. Nãoé necessário um exército de robôs para seques-trar o controle; a não percepção do controle é amaneira mais eficaz de se estar sequestrado. Aessa altura do texto, quantas vezes você paroupara checar o smartphone ou, ao menos, ficoutentado? A vida é um botãozinho verde.

Q

Ícones do rock rural, Sá & Gua-rabyra se apresentam com en-trada grátis, em Campo Mourão, no dia 26 de abril. Além deles, sobem ao palco Zezé Di Camar-go & Luciano, ao lado de uma or-questra. Os shows serão no Par-que de Exposição GetúlioFerra-ri, na BR-158, e a abertura dos por-tões será às 16h30. O evento, que conta com a Lei Rouanet, é produ-zido pela Ihara, em parceria com a Prefeitura, apoio da Coamo e re-alização do Ministério da Cultu-ra Federal e Marolo Produções.

Sem se apresentar em Marin-gá há um bom tempo, Sá & Gua-rabyra lançaram mais de dez ál-buns, como o fabuloso “Quatro” (1979), e emplacaram diversos sucessos. “Dona”, “Espanhola” - composta com Flávio Venturini - e “Verdades e Mentiras” são suas músicas mais conhecidas.

Alexandre Gaioto [email protected] y

SHOWS

Sá & Guarabyra, grátis

A Rádio Cadillacs Café Cultu-ral completa um ano no dia 25 de abril. Para comemorar o aniversário, a casa organizou uma maratona de shows e dis-cotecagens especiais, a partir de desta segunda-feira.

Vocalista da Fabulous Ban-dits, de Londrina, o cantor Tiro Williams (não confudir com a banda Tiro Williams, de Brasília) mostra músicas de Johnny Cash e Hank Williams, além de repertório próprio, na segunda-feira, às 21h. As reser-vas de mesas (R$ 50, consuma-ção total) devem ser feitas com antecedência.

Ícone do punk rock marin-gaense, com passagens por di-versas bandas, o músico Clé-riston Teixeira, mais conheci-do como Gótico, mostra seu lado DJ. Na terça-feira, ele co-mandando as pick-ups, a par-tir das 19h, mandando roc-kabilly, psychobilly e, claro, muito punk rock. No dia em que Gótico vira DJ, as cerve-jas artesanais da Rádio Cadil-lacs chegam à mesa com pre-ços mais em conta.

Na quarta-feira, às 19h30, Ji Ramos, uma das proprietári-as da rádio, mostra seus dotes como DJ, disparando clássi-

Larissa Bezerra [email protected] y

Sete dias de som na caixaMÚSICA/AO VIVO

Com maratona de shows e discotecagens, Rádio Cadillacs comemora aniversário de um ano na cidade Os guarapuavenses dos Kingargoolas e o cantor londrinense Tiro Williams são alguns dos destaques

cos do blues entoados por mu-lheres. As artistas plásticas Andressa Andrielli e Andres-sa Modolo farão pinturas no local. É necessário reservar a mesa (sem custo).

A programação da casa ainda conta com discoteca-gens de Elise Savi (23/4), saxo-fonista da banda maringaense Brian Oblivion E Seus Raios Catódicos, e do baterista Bart Silva (24/4), integrante da pau-lista Baleia Mutante. O surf music rola solto com os guara-puavenses dos Kingargoolas, nos dias 25 (já com mesas esgo-tadas) e 26 deste mês .

PARA CURTIR XANIVERSÁRIO DA RÁDIO CADILLACS Onde: Rua Arthur Thomas, 288, Centro Telefone: 3305-1312 Cantor Tiro Williams, de Londrina: 20/4, às 21h Gótico: 21/4, às 19h Ji Ramos: 22/4, às 19h30 Elise Savi: 23/4 , às 19 Bart Silva: 24/4, às 21h Kingargoolas: 25/4 (mesas esgotadas) e 26/4, às 17h

SÓ MUSAS. Ji Ramos, da Rádio Cadillacs, mostra seus dotes como DJ: clássicos do blues entoados só por mulheres —FOTOS: DIVULGAÇÃO

FOLK-SE . O cantor Tiro Williams, da banda londrinense Fabulous Bandits: Johnny Cash e Hank Williams no repertório

LENDA PUNK. O músico Cléristo Teixeira, mais conhecido como Gótico: figura lendária do punk rock maringaense vira DJ

SURFISTAS MASCARADOS. Os Kingargoolas, de Guarapuava: banda de surf music toca nos dias 25 e 26 deste mês